mansano. transformações da subjetividade no exercício do trabalho imaterial

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512 ISSN: 1808-4281 ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICOLOGIA, UERJ, RJ, ANO 9, N.2, P. 512-524, 2° SEMESTRE DE 2009 http://www.revispsi.uerj.br/v9n2/artigos/pdf/v9n2a15.pdf ARTIGOS Transformações da subjetividade no exercício do trabalho imaterial Subjectiveness transformations in the practice of the immaterial work Sonia Regina Vargas Mansano * Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Paraná, Brasil Resumo É perceptível que as relações de trabalho sofreram diferentes transformações nas últimas décadas, alterando a maneira como cada trabalhador implica-se com suas atividades. Uma dessas mudanças pode ser notada na crescente demanda por um conjunto de novas habilidades, mais centradas no conhecimento, na inventividade e nas relações sociais. Trata-se do chamado trabalho imaterial, cujo resultado não culmina na produção de bens palpáveis nem quantificáveis, mas na elaboração e na experimentação de saberes, afetos e relações sociais. Investigar quais as novas exigências subjetivas que essas transformações trazem para a vida do trabalhador, tanto no que se refere ao seu local de trabalho quanto na vida que acontece para além dele, é o objetivo deste estudo. Palavras-chave: Trabalho imaterial, Subjetividade, Resistência. Abstract It is noticed that the work relationships suffered different transformations in the last decades, changing the manner which each employee involves with his activities. One of these changes can be verified on the rising demand for a series of new abilities, more focused on the knowledge, on the innovation and its social relationships. It deals with the entitled immaterial work, whose result does not achieve the top of the production of neither specific nor quantified properties, but the elaboration and experimentation of acknowledgements, affects and social relationships. Investigate what the new subjective requirements which these transformations bring to the employee’s life are, as much according to his job place as the life which happens beyond him, is the goal of this studying. Keywords: Immaterial work, Subjectiveness, Resisting.

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    ISSN: 1808-4281 ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICOLOGIA, UERJ, RJ, ANO 9, N.2, P. 512-524, 2 SEMESTRE DE 2009

    http://www.revispsi.uerj.br/v9n2/artigos/pdf/v9n2a15.pdf

    ARTIGOS

    Transformaes da subjetividade no exerccio do

    trabalho imaterial

    Subjectiveness transformations in the practice of the immaterial

    work Sonia Regina Vargas Mansano * Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Paran, Brasil

    Resumo perceptvel que as relaes de trabalho sofreram diferentes transformaes nas ltimas dcadas, alterando a maneira como cada trabalhador implica-se com suas atividades. Uma dessas mudanas pode ser notada na crescente demanda por um conjunto de novas habilidades, mais centradas no conhecimento, na inventividade e nas relaes sociais. Trata-se do chamado trabalho imaterial, cujo resultado no culmina na produo de bens palpveis nem quantificveis, mas na elaborao e na experimentao de saberes, afetos e relaes sociais. Investigar quais as novas exigncias subjetivas que essas transformaes trazem para a vida do trabalhador, tanto no que se refere ao seu local de trabalho quanto na vida que acontece para alm dele, o objetivo deste estudo. Palavras-chave: Trabalho imaterial, Subjetividade, Resistncia. Abstract It is noticed that the work relationships suffered different transformations in the last decades, changing the manner which each employee involves with his activities. One of these changes can be verified on the rising demand for a series of new abilities, more focused on the knowledge, on the innovation and its social relationships. It deals with the entitled immaterial work, whose result does not achieve the top of the production of neither specific nor quantified properties, but the elaboration and experimentation of acknowledgements, affects and social relationships. Investigate what the new subjective requirements which these transformations bring to the employees life are, as much according to his job place as the life which happens beyond him, is the goal of this studying. Keywords: Immaterial work, Subjectiveness, Resisting.

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    O desenvolvimento recente das sociedades capitalistas, particularmente acelerado nas ltimas dcadas pela produo tecnolgica e informacional, colocou em destaque a emergncia de todo um conjunto de categorias de trabalhadores cuja produo no pode mais ser caracterizada como exclusivamente material. Resultante desse processo, a prestao de servios passou a ser recorrentemente utilizada para definir este campo composto por profissionais que integram diferentes formas de produo distintas da material. Trata-se de trabalhos que envolvem outras dimenses da atividade humana, particularmente aquelas voltadas para a educao, a cultura, a gerao de conhecimento, a sade, o afeto e a sociabilidade. A emergncia de novas categorias profissionais, cujo centro no se encontra na produo material, afirma-se at os dias de hoje, fazendo surgir novos modos de subjetivao entre os trabalhadores e, acreditamos tambm, novas relaes com o prprio trabalho. Nesta perspectiva, autores como Antonio Negri (2001),Michael Hardt (2001), Maurcio Lazzarato (2001) e Andr Gorz (2005) buscam delinear as tendncias emergentes no mundo do trabalho, denominando e caracterizando essas atividades como trabalho imaterial. Para Negri e Hardt, esse tipo de atividade produz um bem imaterial, como servio, produto cultural, conhecimento ou comunicao (2001, p. 311). Podemos notar, ento, que um dos objetivos desses autores, ao recorrerem categoria de trabalho imaterial, consiste em circunscrever um conjunto de atividades que guardam certa vizinhana com aquilo que at ento era denominado como prestao de servios. No entanto, este apenas um ponto de partida. Efetivamente, a noo de trabalho imaterial envolve a complexidade de um humano profundamente transformado pela aquisio de conhecimento e pela interao com o meio social, tambm ele transformado, que tem sua disposio equipamentos de alta tecnologia, tornados impensveis em algumas reas profissionais. Esta noo tambm permite compreender o movimento histrico atual, no qual um contingente cada vez maior de indivduos dedica-se a trabalhar com outros seres humanos,fazendo da relao com eles,ou seja, fazendo dos vnculos afetivos construdos nos encontros sociais, o prprio objetivo do trabalho. Destacam-se na explicitao do trabalho imaterial proposta por Negri e Hardt (2001), trs campos de atividade distintos. Primeiramente, o trabalho imaterial poderia ser pensado como produo no campo de servios simblico-analticos (p. 312), sendo que este engloba a resoluo de problemas, a identificao de problemas, e atividades estratgicas de intermediao (p. 312). Nesse campo, o trabalho imaterial efetua-se ao tomar em anlise a complexidade presente nas

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    sociedades contemporneas, convocando o trabalhador a identificar, resolver e mesmo criar novos problemas. Trata-se de uma atividade que busca fazer a mediao entre as diferentes esferas de produo material, criando condies para uma organizao descentralizada, mas que, ainda assim, mantm articulaes precisas junto ao produto final. O trabalho imaterial envolve, nesta primeira caracterizao, as capacidades de anlise e de abstrao, a partir das quais os trabalhadores percorrem diferentes domnios do conhecimento, cada um deles associado a um componente do produto final. Com isso, o trabalhador solicitado a conhecer todo o processo de produo e a colaborar para aperfeio-lo, expondo suas percepes e opinies, ainda que elas no tenham a sofisticao de um saber tcnico. Percebe-se que o conhecimento baseado na experincia ganha importncia atualmente e passa a ser valorizado como um diferencial. Alm disso, tanto a capacidade para tomar decises quanto a habilidade para enfrentar situaes que so inditas e imprevisveis demandam a articulao direta entre o fazer e o pensar, exigindo uma implicao subjetiva do trabalhador para com o processo produtivo. Numa segunda perspectiva, o trabalho imaterial j no mais aquele que se responsabiliza por integrar diferentes conhecimentos sobre o produto em questo. O que se pretende agora intervir no sentido de intermediar a relao entre o produto material e o mercado consumidor. Aqui, novas funes so incorporadas no trato com o produto. Pode-se considerar, em princpio, que esta vertente ocupa-se da anlise e da produo da demanda. Isso envolve uma estrutura complexa que vai desde a pesquisa sobre as preferncias, crticas e sugestes dos consumidores, no que diz respeito s mercadorias j disponibilizadas, at aquelas que podero vir a ser criadas. Aqui entra em cena a indstria do marketing. Seu trabalho consiste em abrir diferentes canais de comunicao com os consumidores ou usurios e, partindo das opinies coletadas, criar campanhas publicitrias que facilitem a identificao do consumidor com a mercadoria em questo. Temos aqui um trabalho minucioso e estratgico. Tanto que, para Lazaratto (2004), o setor de marketing hoje fundamental para a permanncia das empresas e/ou dos profissionais no mercado. Ele responsvel pela criao de mundos idealizados, a partir dos quais as mercadorias entram em circulao e conseguem atrair a ateno do consumidor, facilitando a sua identificao com o produto e com a marca. Assim, j no basta simplesmente colocar uma nova mercadoria em circulao. Antes, preciso empreender todo um trabalho imaterial de pesquisa. A partir desses dados, so elaboradas as estratgias publicitrias que procuram tornar as mercadorias mais facilmente vendveis. A rea de marketing, conforme vimos com Lazaratto (2004), ocupa-se de criar mundos subjetivos, que sero veiculados s

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    mercadorias, favorecendo assim sua venda. Dessa maneira, o consumidor identifica-se primeiramente com esses mundos, para que, aderindo a eles como um ideal a ser conquistado, absorva tambm as mercadorias. Os mundos que as empresas criam devem ser produzidos a partir do horizonte ideal dos trabalhadores e dos consumidores. Lazzarato (2004, p. 230) diz ainda que atualmente vivemos uma verdadeira guerra esttica entre os mundos criados pela indstria domarketing. Em tais guerras, j no so os produtos que se destacam, mas as formas de vida a eles veiculadas. Essa modalidade de trabalho imaterial tem por objetivo investigar e criar necessidades de consumo e, para tanto, dedica-se a uma outra tarefa bsica: conhecer, do ponto de vista da subjetividade, quem o consumidor, quais so as suas opinies e os seus desejos. Os diferentes instrumentos de pesquisa elaborados com o objetivo de conhecer o humano e, mais especificamente, de engendrar nele a necessidade e/ou o desejo por uma determinada mercadoria, localizam-se precisamente aqui. Uma terceira vertente foi includa por estes autores na caracterizao do trabalho imaterial. Ela diz respeito a uma extensa gama de servios prestados por uns, que so os trabalhadores, e utilizados por outros, que so os consumidores. O predominante neste contexto a relao afetiva estabelecida entre as empresas, os profissionais e os usurios. Assim, o trabalho imaterial tambm trabalho afetivo, e a rea de sade, da qual a Psicologia tambm faz parte, oferece um conjunto de exemplos visveis, como podemos constatar nas palavras dos autores: Servios de sade, por exemplo, baseiam-se essencialmente em cuidados e em trabalho afetivo, e a indstria do entretenimento est, da mesma forma, centrada na criao e manipulao do afeto. Esse trabalho imaterial, mesmo quando fsico e afetivo, no sentido de que seus produtos so intangveis,um sentido de conforto, bem-estar,satisfao, excitao ou paixo (HARDT; NEGRI, 2001, p. 313). Em face dessa breve caracterizao, pode-se notar que o trabalho imaterial algo que est presente em todas as profisses, desde aquelas que exigem maior habilidade para a criao, produo de conhecimento e contatos sociais at aquelas que demandam majoritariamente a fora fsica dirigida para atividades repetitivas e rotineiras. H entre esses dois extremos uma diferena proporcional, visto que atualmente qualquer tipo de atividade profissional exigir um trnsito entre o trabalho material e o imaterial. Uma vez que temos claro quais so os diferentes tipos de trabalho que podem ser denominados como imateriais, passamos a refletir sobre as implicaes do crescimento desta modalidade profissional na sociedade contempornea. Para isso, vale ressaltar que a noo de trabalho imaterial, tal como utilizada por esses autores, envolve um meio de produo que confere especial destaque subjetividade, a qual est muito

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    mais operacionalizada no cotidiano laboral, sendo por vezes tratada como um de seus produtos. Aqui partimos de uma concepo de subjetividade que, segundo Feliz Guattari, essencialmente fabricada e modelada no registro do social (1996, p. 31). Essa produo, de acordo com os estudos da Psicologia Social, envolve um movimento vivo, pelo qual diferentes componentes subjetivos so constantemente postos em circulao na esfera social e, uma vez acolhidos, participam da construo dos modos de viver que so compartilhados por uma coletividade. importante considerar que a prpria automatizao do trabalho, com a introduo de mquinas comandadas por computadores, operou, ao longo das ltimas dcadas, uma transformao significativa nos modos de subjetivao dos trabalhadores, bem como uma reduo dos postos de trabalho ligados produo material. Assim, proporcionalmente, o trabalho imaterial torna-se mais significativo e amplamente disseminado, ao mesmo tempo em que declinam as atividades braais. Isso porque a automatizao solicita permanentemente a contratao de profissionais ultra-capacitados, detentores de ampla gama de conhecimentos, capazes de conectar-se a sistemas complexos de informaes e gerenci-los. E tais habilidades ajudam a circunscrever o prprio trabalho imaterial. Do trabalho material ao trabalho imaterial Se, como dito anteriormente, novos modos de subjetivao emergem no exerccio do trabalho imaterial, cabe analisar, ainda que brevemente, quais as diferenas que existem entre esses dois tipos de produo. No sentido mais clssico, o trabalho material envolvia, e envolve at nossos dias, relaes de poder que so centradas na promoo da disciplina sobre os corpos, cujo objetivo est em torn-los, como considerou Michel Foucault, corpos dceis (1998, p. 117). Trata-se de relaes que demandam a imitao de atos encadeados, como a cpia de um modelo ou de um procedimento, exigindo-se, para isso, o esforo fsico repetitivo. Nesse contexto laboral, praticamente tudo j conhecido de antemo: o plano de trabalho, o modelo a ser seguido, as estratgias para facilitar a adaptao do indivduo s tarefas rgidas, aos equipamentos, s regras disciplinares e ao respeito s hierarquias. No trabalho material, o trabalhador avaliado positivamente aquele que tem condio de colocar disposio da fbrica um corpo saudvel e forte, capaz de utilizar os seus msculos e sua coordenao motora para realizar, de maneira rpida e eficaz, uma dada atividade, que foi minuciosamente prescrita. Todo o esforo exigido est concentrado na repetio de movimentos encadeados e na disciplina dos indivduos.

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    Como podemos compreender o modo de subjetivao dominante nesse cenrio? Temos aqui um indivduo largamente submetido a uma srie de regras padronizadas e elaboradas por um nvel hierrquico superior, que impe condutas e procedimentos a serem reproduzidos num espao de tempo determinado, o que garante empresa o ndice de produo pretendido. Em certa medida, cada ao individual facilmente mensurvel e amplamente controlada. Assim o trabalhador disciplinado pode ser concebido como uma parte da mquina e est submetido cobrana de metas quantitativas de produo. Gorz entende que esses trabalhadores s se tornam operacionais depois de serem despojados dos saberes, das habilidades e dos hbitos desenvolvidos pela cultura do cotidiano, e submetidos a uma diviso parcelada do trabalho (2005, p. 19). Esse despojamento facilitou a construo de corpos dceis e obedientes. Um outro ponto a ser considerado que esse modo de subjetivao disciplinar priorizava a posse de uma identidade a partir da qual era possvel fixar cada indivduo em uma instituio, em um setor de trabalho e em um papel social bem definido. Em larga medida, isso facilitava a sua localizao na estrutura institucional. Nesse sentido, Negri e Hardt comentam:

    As subjetividades produzidas nas instituies modernas eram como as peas de mquina padronizadas nas fbricas: o detento, a me, o operrio, o estudante e assim por diante. Cada parte desempenhava um papel especfico na mquina montada, mas era padronizada, produzida em massa, e portanto substituvel por qualquer parte do seu tipo (HARDT; NEGRI, 2001, p.353).

    Cabe dizer que, conforme passa o tempo em que o trabalhador permanece ligado a certa ocupao, o seu corpo j no responde da mesma maneira s exigncias que lhe so impostas. Assim, em havendo uma queda de produo, ele pode ser facilmente substitudo por um outro trabalhador, cuja energia fsica ainda esteja inexplorda. Encontra-se a a importncia dos estudos de Karl Marx sobre o exrcito de reserva de mo-de-obra gerada por essa orgnizao econmica que, em muuito, contribuiu para aumentar o contingente de indivduos que so recorrentemente excludos do mercado de trabalho. J no trabalho imaterial, cujo foco est na produo de conhecimento, de imagens e de afetos, uma outra configurao da subjetividade ganha relevncia, passando a ser exigida e operacionalizada no cotidiano. Essa nova configurao produtiva busca extrair da vida habilidades que vo alm da fora fsica e envolvem dimenses subjetivas que se tornam indispensveis para garantir a preferncia dos clientes e a permanncia das empresas no mercado. Assim, segundo Pelbart (2003), as novas

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    formas de poder que caracterizam o trabalho imaterial, tomam de assalto o pensamento, a imaginao, a criatividade, a potncia (para estabelecer conexes com pessoas e equipamentos), a sensibilidade, a sociabilidade e a afetividade. Como so solicitadas e obtidas essas exigncias ligadas subjetividade? Boa parte delas depende de uma formao tcnica que pode ser encontrada em cursos universitrios e de aperfeioamento profissional. Entretanto, Gorz (2005) destaca que algumas formas de saber no so formalizveis e, dessa maneira, no so acessveis por treinamento tcnico. Elas englobam, diz o autor, O saber da experincia, o discernimento, a capacidade de coordenao, de auto-organizao e de comunicao. Em outras palavras, formas de um saber vivo, adquirido no trnsito cotidiano, que pertence cultura cotidiana. O modo como os empregados incorporam esse saber no pode ser nem predeterminado nem ditado (GORZ, 2005, p.9). Quando analisamos a realidade brasileira, pode-se notar que existe uma hibridizao (NEGRI, 2003, p. 102) entre os modos de produo material e imaterial. O saber vivo presente nos processos de concepo, criao e inovao, no elimina as atividades repetitivas e as rotinas que organizam o trabalho das fbricas, por exemplo. Entretanto, ele serve para sofisticar a maneira como essas atividades so realizadas, aproximando cada vez mais os produtores dos consumidores. Alm disso, a marca diferencial deste tempo histrico est no fato de que os resultados do trabalho material s encontram lugar no mercado quando acrescidos da dimenso imaterial, visto que a mera disponibilizao da mercadoria j no mais suficiente para garantir a sua venda. Toda a dimenso imaterial existe para que os consumidores sejam atrados no somente pelos produtos propriamente ditos, mas tambm pelas maneiras de viver e pelas formas de se relacionar. Tais produtos, por estarem associados aos estilos de vida que so moldados e disseminados pela publicidade, possuem grande apelo subjetivo. Produo de subjetividade e trabalho imaterial Nas relaes de produo que se configuram na contemporaneidade, a subjetividade encontra-se presente nas duas extremidades do processo: do lado do trabalhador, que comparece com o seu corpo, seu psiquismo, sua linguagem, sua comunicao, enfim, com a sua vida inventiva que acionada par a produo; mas tambm do lado do consumidor, que adere aos apelos das campanhas publicitrias, consumindo formas de existncia formatadas, com as quais ele se identifica e passa a desejar para si. Ao consumir, ele convidado a expressar suas opinies, fornecendo s

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    empresas uma srie de informaes que servem para redefinir as estratgias de produo, de distribuio e de venda adotadas. E como isso se d? No que diz respeito ao trabalhador, podemos dizer que so requisitadas dele aquelas habilidades extradas da vida cotidiana que exigem a sua potncia de criao, conforme analisado anteriormente. A utilizao dessa dimenso da existncia, esse poder de criao (NEGRI; HARDT, 2001, p. 410), altamente estimulado e torna-se hoje uma das principais fintes de produo de riqueza capaz de manter o mercado sempre dinmico, com a substituio constante de mercadorias e de servios, num movimento que aquecido pelas novidades e lanamentos. O capitalismo fomenta a potncia de inveno de sues trabalhadores, estimulando a experimentao do novo e do desconhecido, seja na busca de solues para os problemas, seja na prpria inveno de novos problemas que, por sua vez, se revertero em novidades para movimentar o mercado. Ao reconhecer a subjetividade como uma fonte de produo de riqueza, as empresas estimulam o exerccio da inveno no cotidiano do trabalho com o objetivo de transformar seus resultados em novas mercadorias, que sero ento produzidas em srie e posteriormente consumidas pela populao, que engloba tambm os prprios inventores. Vejamos um exemplo: os estilistas e pesquisadores das empresas que trabalham no ramo da moda esto permanentemente atentos para detectar as invenes que se efetuam nas ruas dos grandes centros urbanos. Boa parte das tendncias difundidas por esses profissionais em grandes eventos de moda produzida no cotidiano de pessoas annimas que experimentam novas formas de se vestir. Ao detectar as invenes que a se fazem presentes, o trabalho desses profissionais consiste em copi-las, format-las num certo padro, fabric-las em srie e, posteriormente, revend-las como novidades. Em sntese, podemos dizer que se operou, nas ltimas dcadas, uma espcie de sequestro da fora inventiva presente no cotidiano. Paralelo a isso, empreendida a criao de mundos subjetivos que so agregados s mercadorias, intensificando-se a sua venda. Em qualquer um desses momentos, a prpria vida subjetiva que se encontra em evidncia, sendo tomada como uma espcie de matria-prima que serve para promover a circulao de dinheiro. Mas preciso dar um passo adiante e considerar que, atualmente, o processo aqui descrito caracteriza-se tambm por uma interveno no desejo coletivo. Com isso, tanto a produo quanto o consumo no acontecem pela simples obedincia, mas pelo desejo de, uma vez consumindo, experimentar a sensao de pertencer queles mundos glamurosos, que foram criados pelo marketing. E isso se deve, em parte, maneira como esses mundos so elaborados, atravessados pela idealizao ou pela fantasia de que existem seres completos, plenamente

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    satisfeitos, sem conflitos ou dificuldades e, principalmente, pela disseminao da idia de que esses mundos so acessveis apenas a algumas pessoas que so financeiramente selecionadas. Jurandir Freire Costa destaca que os atores escolhidos para atuar nas campanhas publicitrias so geralmente avaliados pela populao como belos e aparentam estar satisfeitos o tempo todo. Da o fato deles serem chamados de celebridades (COSTA, 2004, p.170). Por intermdio dessas imagens impecveis de satisfao e prazer, vende-se a promessa ilusria de que consumir tais mercadorias aproximaria o sujeito da possibilidade de pertencer a esses mundos e de tambm alcanar uma ideal, uma vida isenta de conflitos. Pode-se pertencer que toda uma nova poltica de incluso e excluso sociais toma forma. como se a possibilidade de consumir funcionasse como uma oportunidade para sair do anonimato. Trabalho Imaterial e Resistncia Quando analisamos estas relaes de produo que, na contemporaneidade, procuram explorar a vida em sua dimenso mais criadora, corremos o risco de achar que est ltima encontra-se totalmente subjugada e controlada por um processo sistemtico de expropriao da vitalidade e da criao coletivas. Entretanto, esta uma concluso demasiadamente rpida. Com a Psicologia Social, aprendemos que qualquer dimenso da vida humana encontra-se em movimento de construo e de desconstruo. Isso se evidencia tambm nos trabalhadores envolvidos com a esfera das atividades imateriais. Existe a uma dinmica singularizada que apresenta grande potencial para operar mudanas no cenrio do trabalho. Esta dinmica pode ser descrita com uma troca intensa dos mais diferentes tipos de conhecimentos. Por meio dessas trocas, os trabalhadores deixam de ser meros executores de funes rgidas, agregando gradativamente conhecimentos e competncias que so produzidos em reas adjacentes sua. Tal movimento conta ainda com o auxlio de uma rede mundial de computadores e cria condies para que o trabalhador redefina sua carreira profissional com base no conhecimento adquirido nesse complexo processo de aprendizagem. Assim, a expanso do trabalho imaterial torna-o ao mesmo tempo social, comunicativo e afetivo, podendo aumentar a potncia de ao e de expanso dos agentes que o executam. Nessa direo, Negri e Hardt (2001) assinalam que um outro ponto fundamental para a compreenso do trabalho imaterial e suas repercusses para a vida do trabalhador

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    que ele envolve, necessariamente, a noo de cooperao, sendo esse um requisito indispensvel para sua efetuao. Para esses autores: a cooperao totalmente inerente ao trabalho. O trabalho imaterial envolve de imediato a interao a cooperao sociais. Em outras palavras, o aspecto cooperativo do trabalho imaterial no imposto e organizado de fora, como ocorria em formas anteriores de trabalho, mas a cooperao totalmente imanente prpria atividade laboral (HARDT; NEGRI, 2001, p. 315). Por cooperao estes autores compreendem a existncia de uma multiplicidade de sujeitos envolvidos na execuo de qualquer atividade, cada um deles participando a sua maneira. Essa participao, por sua vez, conta com o exerccio de habilidades variadas que so utilizadas de maneiras e em graus distintos. Nota-se aqui que a capacidade inventiva no restrita a homens que tm grandes idias, mas o resultado da cooperao entre uma infinidade de agentes. Em geral, essas idias so annimas. Por meio das inmeras conexes entre os trabalhadores, a inveno fomentada. Assim, da cooperao e dos processos de aprendizagem, que se desdobram a partir dela, que o responsvel por executar um trabalho, seja ele material ou imaterial, pode experimentar uma relao diferenciada com suas atividades cotidianas e com os demais indivduos que dela participam. O trabalhador, neste caso, extrai diretamente da sua trajetria de vida e do conhecimento adquirido nas relaes com os outros, formas diferenciadas de insero no mundo do trabalho. em razo disso que, nas relaes de produo imaterial, o produto (em forma de conhecimento, relaes sociais ou afetos) no depende exclusivamente dos meios de produo material. Ao contrrio, para Gorz ao se difundir como bem acessvel a todos que ela engendra conhecimentos suplementares (2205, p. 53). Assim, a cooperao, a troca, a circulao de saberes tornam-se condies essenciais para que o trabalho seja executado de maneira eficiente. A essa altura j podemos questionar novamente: Quais modos de subjetivao so engendrados pela organizao do trabalho imaterial? Negri e Hardt dizem que, nesse cenrio, o sistema disciplinar torna-se totalmente obsoleto, e precisa ser deixado para trs (2001, p. 297) em favor das novas demandas mas tambm dos novos desejos que so construdos nas relaes de produo, seja na esfera do trabalhador seja naquela que envolve o consumidor. Os autores denominam esse novo modo de existir como uma subjetividade hbrida (2001, p. 353) que mais mutante, flexvel e, pode-se dizer, mais fragmentada. Essa configurao subjetiva cria condies para que o trabalhador assuma diferentes papis sociais e realize atividades variadas transitando, ao mesmo tempo, pelos mais diversificados contextos a fim de executar funes mais complexas que so voltadas para a comunicao, a criao e

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    os contatos sociais. Com isso, o trabalhador j no pode ser reduzido mais a uma identidade conhecida e cristalizada em um nico papel social. No trabalho imaterial, a vida inventiva ganha uma importncia diferencial medida que reconhecida como uma fora soberana e constitutiva do trabalho e do prpria sujeito que o executa. O que acontece que ela encontra-se s voltas, o tempo todo, com diferentes aparelhos de captura. Entretanto, ela nunca est totalmente capturada. Segundo Pelbart (2003), a existncia tornou-se, tambm ela, um capital, uma fonte de riqueza, em especial para o trabalhador. As produes imateriais que so efetuadas na contemporaneidade afirmam-se graas vitalidade da fora inventiva presenta no cotidiano e, de maneira mais especfica, nas relaes profissionais. Trata-se de uma vitalidade social que comporta a potncia de afetar e de ser afetado, o desejo de aumentar conexes e de, assim, produzir novas possibilidades de resistncia. Nessa perspectiva de anlise, a vida que nutre a produo de capital. E precisamente sobre ela que a organizao econmica capitalista tenta, o tempo todo, operar uma funo parasitria (NEGRI, 2003, p. 96) de explorao. Assim, aquilo que foi denominado anteriormente como fora inventiva no emana em primeira instncia dos poderes institudos. Ao contrrio, a fora-inveno que nutre esta forma de poder econmico. E ela atualizada pela potncia psquica e poltica que habilita em todos e em cada um dos trabalhadores. Consideraes Finais Tendo percorrido as transformaes que se vm efetuando nas relaes de trabalho, pode-se dizer que no tempo histrico atual, vrios regimes de produo coexistem e esto amplamente ativados: a disciplinarizao dos corpos no contexto laboral continua presente (especialmente em nosso pas), dividindo espao com a incitao do desejo, a vampirizao da fora-inveno e as intervenes da publicidade que geram diferentes efeitos junto populao de trabalhadores e consumidores. Desta maneira, uma anlise que envolva a mera oposio entre indivduo e capital j no d mais conta de lidar com a complexidade que ora vivemos nesta esfera da existncia. Existem diferentes movimentos de reversibilidade entre um poder que pretende controlar a vida e uma potente que capaz de produzir novas formas de resistncia medida que, tambm ela, uma fonte de conhecimento e de valor. Essa reversibilidade irredutvel que se faz presente em toda e qualquer relao de poder exige outros instrumentos de anlise, mais sofisticados do que a simples oposio entre esses dois plos.

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    precisamente deste novo trabalhar, que age segundo uma dinmica complexa e ainda pouco conhecida, que novas demandas de pesquisa tomam corpo. Isso porque, possivelmente, uma apropriao da existncia em sua dimenso mais viva, afetiva e autnoma est presente nessa tendncia psicossocial contempornea que est em plena construo. O desfio que nos colocado numa investigao dessa natureza consiste precisamente em, implicados e mergulhados nesse novo cenrio, caracterizar estas novas dimenses subjetivas que ganham fora, em especial aquelas voltadas para a afetividade, e que so exigidas do trabalhador em sua atividade imaterial. A nfase na subjetividade e na sua potncia de criao, entretanto, pode enredar os trabalhadores em quadros psicopatolgicos que se tornam cada vez mais comuns, como o caso do stress, da depresso e do pnico emergentes a partir das relaes de trabalho. A situao fica ainda mais complexa quando algumas dimenses da existncia, outrora confinadas na esfera da vida privada, passam a ser mais tematizadas e exercitadas no cotidiano das relaes profissionais fazendo desaparecer os limites entre a vida privada e o trabalho. Ao mesmo tempo, cresce a cada dia a quantidade de trabalhadores que tem condies de trabalhar em suas prprias casas ou daqueles que, independentemente de sua vontade, acabam levando para o contexto da vida privada os problemas que dizem respeito empresa como, por exemplo, a preocupao com as metas que devem ser cumpridas, os problemas e as solues que para eles devem ser elaboradas bem como as situaes de competitividade e conflitos enfrentadas. Mas, sobre essa aproximao e sobre as repercusses subjetivas por ela desencadeadas ainda temos muito a investigar. De qualquer maneira, Gorz destaca: A experimentao de outros modos de vida e de outras relaes sociais nos interstcios de uma sociedade que se desagrega, serve para atacar e deslegitimar o controle que o capital exerce sobre os espritos e os corpos. Os constrangimentos e os valores da sociedade capitalista deixam de ser percebidos como naturais, liberando os poderes da imaginao e do desejo (GORZ, 2005, p. 71). Portanto, acreditando nessa potncia de variao e de expanso colocadas em curso no exerccio do trabalho imaterial que as relaes profissionais podem ser desnaturalizadas e abordadas como um campo vivo onde so ensaiadas as mais diferentes transformaes da subjetividade. Referncias Bibliogrficas

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    COSTA, J. F. O Vestgio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: histria da violncia nas prises. Petrpolis: Vozes, 1998. GORZ, A. O Imaterial: conhecimento, valor e capital. So Paulo: Annablume, 2005. GUATTARI, F.; ROLNIK, S. Micropoltica: cartografias do desejo. Petrpolis: Vozes, 1996. HARDT, M.; NEGRI, A. Imprio. Rio de Janeiro: record, 2001. LAZZARATO, M.;NEGRI, A. Trabalho Imaterial: formas de vida e produo de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. LAZZARATO, M. Crer des Mondes: capilalismo contemporain et guerres esthtiques. Multitudes, Montigny le Bretonneux, n. 15, p. 230-237, 2004. NEGRI, A. Cinco lies sobre imprio. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. PELBART, P. P. Vida capital: ensaios sobre biopoltica. So Paulo: Iluminuras, 2003. Endereo para correspondncia Sonia Regina Vargas Mansano Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Psicologia Social e Institucional, Rodovia Celso Garcia Cid, PR 445 Km 380, Campus Universitrio, Londrina, Paran, Brasil Endereo eletrnico: [email protected] Recebido em: 12/01/2009 Aceito para publicao em: 29/06/2009 Editor responsvel: Eleonra Torres Prestrelo Notas

    * Doutora em Psicologia Clnica pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP, So Paulo, SP, Brasil.