manifesto pela sabedoria em gestão de pessoas

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Manifesto pela sabedoria em Gestão de Pessoas Flavio Farah* Este texto é um resumo do estudo principal. Introdução As organizações e seus problemas de Gestão de Pessoas A finalidade deste texto é alertar os membros da CBGP Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas para o seguinte: a) As organizações enfrentam rotineiramente problemas de Gestão de Pessoas; b) Essas mesmas organizações adotam práticas de Gestão de Pessoas que não solucionam tais problemas. Causas de permanência dos problemas A permanência dos problemas de Gestão de Pessoas, que resulta da adoção de práticas ineficazes na área, tem causas próximas e remotas. Causas próximas de permanência dos problemas Decisões baseadas em crenças do senso comum e falta de conhecimento científico. O conjunto de co- nhecimentos dos gestores sobre Gestão de Pessoas é constituido de crenças do senso comum que, em ge- ral, revelam-se falsas. É comum os gestores tomarem decisões equivocadas por falta de base científica. Falta-lhes não apenas conhecimento científico, mas também a consciência de que seu conhecimento sobre Gestão de Pessoas é constituído de crenças do senso comum geralmente inservíveis. Deficiências no processo de solução de problemas. Os gestores têm se mostrado pouco competentes ao enfrentar os problemas de Gestão de Pessoas. O processo de solução de problemas é relativamente bem conhecido e sua primeira etapa é a definição do problema. A etapa de definição do problema, porém, in- clui uma importante atividade, bem menos conhecida, denominada questionamento das premissas. Os gestores, porém, não costumam questionar as premissas subjacentes ao problema; a consequência é que o processo se torna menos eficaz e mais difícil. Na sequência, a segunda etapa do processo é identifi- car as causas do problema. Os gestores, porém, muitas vezes combatem os efeitos ou sintomas do pro- blema em vez de buscar suas causas. O resultado é a produção de consequências indesejáveis. Equívocos conceituais. Entre gestores é comum o embaralhamento e o uso equivocado de termos técni- co-científicos que têm significado preciso. Falta de senso crítico. Outra causa dos problemas em gestão de pessoas é a falta de senso crítico dos ges- tores. Esses profissionais não têm o hábito de analisar criticamente o discurso técnico dos especialistas, acreditando que, se um especialista é famoso, então ele é necessariamente competente. Imediatismo. Uma terceira causa das dificuldades em gestão de pessoas é a visão imediatista dos dirigen- tes, que tendem a buscar resultados de curto prazo. Causas remotas de permanência dos problemas Falta de tempo. Em razão de seu ritmo de trabalho intenso, os gestores tendem a rejeitar as leituras e os estudos científicos mais longos como método de aquisição de conhecimento, dando preferência à comuni- cação face-a-face quando desejam adquirir informação.

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Page 1: Manifesto pela sabedoria em Gestão de Pessoas

Manifesto pela sabedoria em Gestão de Pessoas Flavio Farah*

Este texto é um resumo do estudo principal.

Introdução – As organizações e seus problemas de Gestão de Pessoas

A finalidade deste texto é alertar os membros da CBGP – Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas –

para o seguinte: a) As organizações enfrentam rotineiramente problemas de Gestão de Pessoas; b) Essas

mesmas organizações adotam práticas de Gestão de Pessoas que não solucionam tais problemas.

Causas de permanência dos problemas

A permanência dos problemas de Gestão de Pessoas, que resulta da adoção de práticas ineficazes na área,

tem causas próximas e remotas.

Causas próximas de permanência dos problemas

Decisões baseadas em crenças do senso comum e falta de conhecimento científico. O conjunto de co-

nhecimentos dos gestores sobre Gestão de Pessoas é constituido de crenças do senso comum que, em ge-

ral, revelam-se falsas. É comum os gestores tomarem decisões equivocadas por falta de base científica.

Falta-lhes não apenas conhecimento científico, mas também a consciência de que seu conhecimento sobre

Gestão de Pessoas é constituído de crenças do senso comum geralmente inservíveis.

Deficiências no processo de solução de problemas. Os gestores têm se mostrado pouco competentes ao

enfrentar os problemas de Gestão de Pessoas. O processo de solução de problemas é relativamente bem

conhecido e sua primeira etapa é a definição do problema. A etapa de definição do problema, porém, in-

clui uma importante atividade, bem menos conhecida, denominada questionamento das premissas.

Os gestores, porém, não costumam questionar as premissas subjacentes ao problema; a consequência é

que o processo se torna menos eficaz e mais difícil. Na sequência, a segunda etapa do processo é identifi-

car as causas do problema. Os gestores, porém, muitas vezes combatem os efeitos ou sintomas do pro-

blema em vez de buscar suas causas. O resultado é a produção de consequências indesejáveis.

Equívocos conceituais. Entre gestores é comum o embaralhamento e o uso equivocado de termos técni-

co-científicos que têm significado preciso.

Falta de senso crítico. Outra causa dos problemas em gestão de pessoas é a falta de senso crítico dos ges-

tores. Esses profissionais não têm o hábito de analisar criticamente o discurso técnico dos especialistas,

acreditando que, se um especialista é famoso, então ele é necessariamente competente.

Imediatismo. Uma terceira causa das dificuldades em gestão de pessoas é a visão imediatista dos dirigen-

tes, que tendem a buscar resultados de curto prazo.

Causas remotas de permanência dos problemas

Falta de tempo. Em razão de seu ritmo de trabalho intenso, os gestores tendem a rejeitar as leituras e os

estudos científicos mais longos como método de aquisição de conhecimento, dando preferência à comuni-

cação face-a-face quando desejam adquirir informação.

Page 2: Manifesto pela sabedoria em Gestão de Pessoas

Preconceito contra o conhecimento científico. Existem inúmeras pessoas, entre elas os gestores, que va-

lorizam exclusivamente a prática. Essas pessoas defendem a ideia de que é fazendo que aprendemos a fa-

zer. Para essas, a própria prática fornece o saber. Por esse motivo, tais pessoas acreditam que não há solu-

ções a buscar nas teorias, que seriam ideias abstratas e distantes dos problemas reais.

Falta de consciência em relação ao saber conceitual. Parece existir uma falta de consciência geral so-

bre a finalidade e a importância dos conceitos.

Importância do conhecimento científico

É frequente as pessoas expressarem o preconceito contra o conhecimento teórico dizendo “isso é só uma

teoria”, como se teoria fosse apenas uma ideia maluca que está na cabeça de alguém, como se fosse uma

especulação sem sentido, sem ligação com a realidade. Nada mais falso. Uma teoria é a explicação de um

aspecto da própria realidade. Na verdade, formulamos e usamos teorias, e aplicamos o método científico

a todo momento, sem perceber. A ciência faz parte da vida de todos nós.

Importância dos conceitos

Conceitos são a base de todo conhecimento, tanto teórico como prático. São as ferramentas mentais que

tornam possível o conhecimento, são a essência do pensamento. Consequentemente, eles são cruciais para

processos psicológicos como classificação, inferência, memória, aprendizagem e tomada de decisão. Do

ponto de vista lógico, conceituar uma coisa significa identificar suas características essenciais, significa

delimitar essa coisa, significa saber o que a coisa é bem como o que a coisa não é. Conceituar um objeto

concreto ou abstrato é imprescindível para que possamos reconhecê-lo quando o vemos. Ao projetar um

processo organizacional, é indispensável definir de forma clara e precisa suas variáveis, bem como des-

crever detalhadamente os processos de medição de seus valores, para que todos os envolvidos na coleta

de dados sobre uma dada variável compreendam e meçam essa variável do mesmo modo, evitando discre-

pâncias de entendimento ou de procedimento capazes de causar confusão ou conflito.

Importância do senso crítico

Senso crítico é a tendência de investigar criticamente a validade de uma proposição, recusando-se a acei-

tá-la sem questionamento. Reflexão crítica ou pensamento crítico, por sua vez, é o próprio processo de in-

vestigação crítica. O resultado do processo pode ser a aceitação, a rejeição ou a colocação em suspenso da

proposição. A finalidade da reflexão crítica é reconhecer os erros a que somos submetidos no dia-a-dia,

impedindo que sejamos manipulados ou enganados pelas inúmeras informações confusas, contraditórias

ou mesmo falsas que recebemos diariamente, tanto em nossas atividades profissionais como nas ativida-

des pessoais. A tendência do indivíduo que possui senso crítico é questionar tudo aquilo que lê ou ouve.

Conclamação

Por todo o exposto, ressalta-se aos membros da CBGP – Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas –

a urgência de valorizarem o conhecimento científico e conceitual, bem como de adquirirem senso crítico.

*Flavio Farah é Mestre em Administração de Empresas, Professor Universitário e autor do livro “Ética na gestão de pessoas”. Contato: [email protected] .