mais uma de amor
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Pergunto-me o que você está fazendo nesse instante... se sentado na beira da cama lendo algum
livro, se junto aos seus amigos rindo despreocupado, se dormindo com a mente cheia de sonhos,
se agarrado a algum lugar do passado tocando fogo em seus vestígios. Do alto de uma colina
qualquer, você estava de olhos fechados acenando para mim. Assim eu te vi na minha cabeça.
Vejo-te em vários cantos. Você chega sem avisar. Chega sorrindo, tapando meus olhos, chega
em silêncio, mas não importa como você chega, eu sempre te sinto se aproximar. Lamento por
você ter que ver a força dentro de mim queimando. Lamento por me ver virar cinzas. As
memórias são tudo o que tenho. O maior presente e o maior veneno. A lembrança que me faz
rir. A lembrança que embarga minha garganta e empurra as lágrimas para fora. Onde está você
agora? Eu sei que você não pode fazer de tudo, sei que não pode aguentar todas as dores do
mundo. Você é um ser humano como outro qualquer. Estamos ligados a esta terra pela mesma
matéria-prima. O barro que ganha vida por um sopro, um sopro que se assemelha a um sussurro
divino: “venha viver, meu filho”. Não temos asas que nos leve a lugar algum e nem existe paraíso
para onde fugir. A vida é isto aqui. A dor que antecede a alegria. A alegria que anuncia a dor. Eu
estou tentando. Eu estou de joelhos, mas as vezes é difícil de me enxergar. Com todo os
problemas em nossa mente, ficamos na solidão de nossos quartos imaginando o outro seguindo
em diante. Imaginando o quão perfeito seria se tivéssemos a coragem de arriscar. Mas não
temos! Eu perdi as forças, menino. Eu te amei tanto. Nunca pensei que o amaria como o amo.
A todo instante em que penso em motivos para te esquecer, mais se apresente diante de mim
motivos para te abraçar forte e dizer “eu ainda estou aqui, cara”. Eu tentei tanto não desistir de
ti. Agarrei-me a todo sentimento que existia. Ele era forte o suficiente para carregar a mim e a
você. No entanto, meu corpo é frágil e ele se despedaça a todo instante. O silêncio é a amargura
dos amantes. Não há coisa pior que o silêncio que anuncia o vazio. Eu queria que você
enxergasse também que às a única coisa que eu queria era um abraço ou uma mensagem de
carinho. Fico aqui na solidão do quarto olhando você dormir. Sim, você está aqui do meu lado,
vivo, sempre vivo em meu coração. Todos os dias, antes de dormir, eu te abraço forte, dou-te
um beijo e digo mais uma vez que te amo para você não esquecer. Tem dias que eu estou muito
cansado e acordo no dia seguinte com minha boca molhada e uma voz sussurrada ao ouvido
dizendo “dorme bem, rapaz, eu te amo”. Queria que você fosse um ser imaginário. Queria que
você fosse apenas uma coisa criada pela minha cabeça anunciando sua loucura. Ah!, mas você
está vivo. Quando penso que aquilo que conheci de ti era uma farsa, uma mentira, meu coração
diz não adiantar justificar sua ausência, você foi justamente o que eu imaginei. Enquanto as
horas passam bem devagar, eu sei que pela manhã eu tenho que deixá-lo partir e você será
apenas o cara mais doce que eu conheci. Por mais distante que você esteja, seja com quem um
dia esteja, seus passos ainda estarão marcados ao meu redor: “você esteve aqui”. Lembro de
quando você me olhava sem medo. Você sorria um riso feliz. Talvez porque você se permitiu
esvaziar um pouco o peito. O suspiro antes do mergulho. Aquele suspiro me permitiu ver por
dentro de ti e depois tracei uma luta para fazê-lo voltar para fora, ele não precisava se esconder.
“Vem cá, garoto, não tenha medo de mim. Conte-me quem é você e de onde vem”. Se tiver
esperando alguém, espera aqui nos meus braços. Se tiver de chorar, faça-o aqui do meu lado
para que eu te enxugue as lágrimas. Se tiver que se lamentar do amor, lamente aqui debaixo da
lua e das estrelas. Mas não faça nada disso sozinho. Você não está sozinho, nem precisa carregar
este fardo sempre sozinho. Se tiver que partir, acorde um pouco mais cedo e sinta o sol nascer
e queimar a sua pele. Você está vivo! Se tiver de falr algo, fale como se cada palavra fosse única,
fosse a última. Se um dia morrer, morra sabendo que a sua vida foi a melhor parte da minha. Há
um amor entre nós ainda. Entretanto algo mudou. Fomos feridos pela frieza do passado, mas
não sei por que tudo o que eu quero fazer é ir para casa com você, tirar o sapato dos pés e te
abraçar como um dia eu fiz. Se dissemos adeus, por que ainda estamos aqui sentamos na
fronteira de nossos corações? Eu sei que estou fora da sua vida, que seu coração talvez já tenha
encontrado refúgio em outro canto, que cheguei atrasado para receber minha porção de amor,
mas há uma história que ecoa de um passado. Não duramos muito tempo, mas me pergunto
ainda hoje: por que aqueles poucos dias foram tão fortes ao ponto de nos trazer até aqui com
tanto sentimento preso ao peito? Será amor? Será se foi real? Por que ele não morre? Minha vó
diria: “as pessoas morrem na hora certa”. Acredito que isto também valha para os sentimentos.
Eles morrem quando tem de morrer. Se não morreu, provavelmente não chegou a sua hora.
Hoje à noite, eu só quero ouvir o que você tem a dizer, se você vai seguir sem mim. Eu só quero
ouvir o que você quer. Apenas quero ser os ouvidos que sempre te ouviram e te escreveram na
minha alma. Se meu corpo diz que já não tenho forças para insistir, resistir, persistir, meus
sentimentos continuam fortes, vibrando a cada vez que ouço o teu nome ou quando você
destrói as barreiras que criei e vem me visitar nos sonhos. Você é meu presente que guardo com
amor. Você é o veneno que bebo sem medo. Você é o meu amor...