maio 2008 ministério leva debate sobre mudanças ... cnma_web.pdf · um dos pontos defendidos por...

8
A III CNMA recebeu das etapas esta- duais mais de cinco mil propostas que envolvem áreas como aquecimento global, exploração predatória dos ativos florestais, preservação da bio- diversidade agropecuária, energia, resíduos, indústria, transporte, saú- de, recursos hídricos, assentamentos humanos, ecossistemas naturais, desenvolvimento tecnológico, entre outros. As proposições são sistema- tizadas, isto é, agrupadas por seme- lhança de conteúdo, para facilitar os debates na plenária nacional. Zélia Franklin, representante da ONG Terra Azul, disse durante a etapa estadual do Ceará que as Conferências cumprem papel importante no fortalecimento das organizações. “Hoje os mo- vimentos sociais se mobilizam para participar das conferências em todo país e se fortalecem tanto em suas organizações internas, quanto sua força na so- ciedade, conquistando, assim, uma nova forma de emancipação social”. Na opinião de Nathan Potiguara, representante dos povos indígenas na Conferência da Paraíba, a socie- dade está pensando no futuro das gerações. “Essa preocupação deveria ter acontecido antes dos des- matamentos das florestas e de outros problemas am- bientais. Agora a ferida no planeta se agravou. Talvez não vamos conseguir sarar a ferida, mas vamos con- seguir parar seu crescimento”, alerta Potiguara. Um dos pontos defendidos por ele foi a preservação das nascentes dos rios que abastecem o estado. “A M ais brasileiros tiveram oportunidade de deba- ter a questão ambiental durante o processo da III Conferência Nacional do Meio Ambien- te. O ciclo de conferências preparatórias (municipais, regionais, estaduais e distrital) mobilizou cerca de 115 mil pessoas, entre julho de 2007 e abril desde ano. Foram mais de 750 conferências, sendo 566 mu- nicipais, 153 regionais, 26 estaduais e uma distrital, além de cinco seminários regionais e distritais. Au- mento expressivo, tendo em vista que a II CNMA, em 2005, mobilizou 86 mil pessoas, e a primeira edição, em 2003, 65 mil. Os números revelam que a Conferência está conse- guindo envolver a sociedade e estimular a democracia participativa. O significativo número de municípios que estão incorporando a Conferência em suas agen- das é uma demonstração clara de que o processo está ganhando capilaridade e que está se consolidando. Nessas conferências, foram eleitos os 1.104 delegados que participarão da plenária nacional. O critério para a eleição de delegados respeita a respectiva porcenta- gem: sociedade civil, 50%– sendo assegurados 5% a comunidades tradicionais e 5% a povos indígenas –; setor empresarial (30%); e do setor governamental (20%). população urbana e rural tem que se conscientizar sobre a necessidade de preservar a água, pois há muito desperdício e também o uso do agrotóxico nas plantações que poluem os rios”, defende. A delegada da Conferência de Meio Ambiente da Região Metropolitana de Belo Horizonte pela ONG Centro de Ecologia Integral, Conceição Pimenta, es- treou em conferências e falou das expectativas. “É minha primeira conferência e a expectativa é muito grande, pois queremos ver o resultado de tantas dis- cussões. Eu participei do grupo de trabalho que trata da Agricultura e levantei propostas que incentivem a agroecologia, a agricultura familiar, a compostagem e o combate aos transgênicos”. Ministério leva debate sobre Mudanças Climáticas a mais de cem mil pessoas BOLETIM DA III CNMA MAIO 2008

Upload: duongngoc

Post on 11-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A III CNMA recebeu das etapas esta-duais mais de cinco mil propostas que envolvem áreas como aquecimento global, exploração predatória dos ativos florestais, preservação da bio-diversidade agropecuária, energia, resíduos, indústria, transporte, saú-de, recursos hídricos, assentamentos humanos, ecossistemas naturais, desenvolvimento tecnológico, entre outros. As proposições são sistema-tizadas, isto é, agrupadas por seme-lhança de conteúdo, para facilitar os debates na plenária nacional.

Zélia Franklin, representante da ONG Terra Azul, disse durante a etapa estadual do Ceará que as Conferências cumprem papel importante no fortalecimento das organizações. “Hoje os mo-vimentos sociais se mobilizam para participar das conferências em todo país e se fortalecem tanto em suas organizações internas, quanto sua força na so-ciedade, conquistando, assim, uma nova forma de emancipação social”.

Na opinião de Nathan Potiguara, representante dos povos indígenas na Conferência da Paraíba, a socie-dade está pensando no futuro das gerações. “Essa preocupação deveria ter acontecido antes dos des-matamentos das florestas e de outros problemas am-bientais. Agora a ferida no planeta se agravou. Talvez não vamos conseguir sarar a ferida, mas vamos con-seguir parar seu crescimento”, alerta Potiguara.

Um dos pontos defendidos por ele foi a preservação das nascentes dos rios que abastecem o estado. “A

Mais brasileiros tiveram oportunidade de deba-ter a questão ambiental durante o processo da III Conferência Nacional do Meio Ambien-

te. O ciclo de conferências preparatórias (municipais, regionais, estaduais e distrital) mobilizou cerca de 115 mil pessoas, entre julho de 2007 e abril desde ano. Foram mais de 750 conferências, sendo 566 mu-nicipais, 153 regionais, 26 estaduais e uma distrital, além de cinco seminários regionais e distritais. Au-mento expressivo, tendo em vista que a II CNMA, em 2005, mobilizou 86 mil pessoas, e a primeira edição, em 2003, 65 mil.

Os números revelam que a Conferência está conse-guindo envolver a sociedade e estimular a democracia participativa. O significativo número de municípios que estão incorporando a Conferência em suas agen-das é uma demonstração clara de que o processo está ganhando capilaridade e que está se consolidando.

Nessas conferências, foram eleitos os 1.104 delegados que participarão da plenária nacional. O critério para a eleição de delegados respeita a respectiva porcenta-gem: sociedade civil, 50%– sendo assegurados 5% a comunidades tradicionais e 5% a povos indígenas –; setor empresarial (30%); e do setor governamental (20%).

população urbana e rural tem que se conscientizar sobre a necessidade de preservar a água, pois há muito desperdício e também o uso do agrotóxico nas plantações que poluem os rios”, defende.

A delegada da Conferência de Meio Ambiente da Região Metropolitana de Belo Horizonte pela ONG Centro de Ecologia Integral, Conceição Pimenta, es-treou em conferências e falou das expectativas. “É minha primeira conferência e a expectativa é muito grande, pois queremos ver o resultado de tantas dis-cussões. Eu participei do grupo de trabalho que trata da Agricultura e levantei propostas que incentivem a agroecologia, a agricultura familiar, a compostagem e o combate aos transgênicos”.

Ministério leva debate sobre Mudanças Climáticas a mais de cem mil pessoas

BOLETIM DA III CNMAMAIO 2008

2 Boletim da Conferência Nacional do Meio Ambiente

Mensagem da Ministra

Neste ano, damos mais um passo importan-te na construção da cidadania brasileira ao combinarmos o processo de Conferência

Nacional do Meio Ambiente com o do enfrenta-mento às mudanças globais do clima.

As Conferências Nacionais estão incorporadas ao ambiente político brasileiro e já representam novos momentos, nos quais a sociedade civil organizada contribui para a efetiva implementação das políticas públicas, tanto em âmbito local quanto nacional.

O enfrentamento às mudanças globais do clima, por sua vez, é o maior desafio que a humanida-de enfrenta, não só na área ambiental – embora nela esteja a raiz do problema –, mas em todas as áreas do desenvolvimento humano, passando pela ciência, pela política e, o mais importante, pela ética. De forma resumida, a crise expressa na mudança do clima é uma crise ética que se inter-põe aos interesses legítimos de gerações atuais de seres humanos e aos interesses também legí-timos e fundamentais das gerações futuras.

Isso porque já sabemos com certeza quase absolu-ta que a continuidade da emissão atualmente veri-ficada de gases de efeito estufa para a atmosfera, devida principalmente à queima de combustíveis fósseis, deixará para as próximas gerações – de nossos filhos e netos – as conseqüências já previs-tas e expressas em perdas de terras agricultáveis, de aumento das áreas favoráveis à reprodução dos vetores de doenças tropicais, como a dengue e a malária, de salinização das fontes de água potável em áreas de baixa altitude, de aumento dos even-tos atmosféricos extremos, como chuvas torren-ciais, furacões, tornados, ondas de calor, e longos períodos de seca, entre outros efeitos.

E a oposição de interesses, nesse caso, não se res-tringe ao dilema entre o hoje e amanhã, entre a nossa geração e as futuras gerações, mas coloca em lados distintos as pessoas de diferentes so-ciedades – umas mais ricas e outras mais pobres, mais próximas ou mais distantes dos pólos – ou de diferentes classes dentro das mesmas sociedades, sempre com os mais pobres em desvantagem pelo fato de terem menos recursos para se adaptarem às mudanças do clima. Ao mesmo tempo, são os países mais ricos os que mais emitem gases de efeito estufa per capita, dado seu maior acesso aos confortos e usos da vida moderna, movidos pela queima de combustíveis fósseis: os derivados do petróleo, o gás natural e o carvão mineral.

O Brasil, no contexto internacional, é um país es-pecial. De um lado, sua matriz energética é das mais avançadas, pela forte participação – de quarenta e quatro por cento – das fontes reno-váveis no suprimento de eletricidade e combustí-veis líquidos. Quase noventa por cento da eletrici-dade consumida é produzida em hidroelétricas, e quase metade do combustível dos automóveis é etanol da cana de açúcar. O Programa Nacional do Biodiesel, iniciado no governo do presidente Lula, também reproduz o sucesso do etanol, tendo já consolidado a meta de dois por cento de óleos vegetais no diesel automotivo.

De outro lado, a maior fonte brasileira de emissão de gases de efeito estufa ainda é o desmatamento. Esse desmatamento, que repete a forma de ocupa-ção territorial milenar e importada principalmente da Europa – onde as sociedades atuais foram for-madas na derrubada das florestas originais para dar lugar às terras de agricultura –, esgotou suas possibilidades na conversão das matas nativas atlântica e de cerrado em cafezais ou canaviais. Atualmente, na Amazônia, o que predomina na seqüência do desmatamento predatório é a for-mação de latifúndios para atividades econômicas de baixo retorno social.

É nesse contraste, entre o predomínio das fontes renováveis e a persistência de modelos importa-dos, antigos e reprodutores das desigualdades sociais, é que se encontram as melhores possibi-lidades de desenvolvimento da nossa sociedade. A redução de quase sessenta por cento nas taxas

anuais de desmatamento da Amazônia, para 11 mil quilômetros quadrados, conseguida por uma forte ação governamental nos últimos quatro anos, não reduziu a geração de riquezas e bene-fícios na região. Ao mesmo tempo, preservou um capital físico – em recursos florestais, genéticos, culturais e humanos – que certamente bene-ficiará as futuras gerações de brasileiros. Mas o que as mudanças globais do clima impõem é um quadro de urgência. Os relatórios do Painel Inter-governamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) – sigla em inglês – podem ser traduzidos para a política de uma forma muito simples: te-mos perto de cinqüenta anos para completar uma mudança nos nossos padrões de consumo, em direção a um mundo com menor emissão per capita de gases de efeito estufa. Dos cerca de 25 bilhões de toneladas anuais de gás carbônico que emitimos pela queima de combustíveis fósseis, deveremos emitir um máximo de 10 bilhões de toneladas anuais daqui a cinqüenta anos.

É evidente que se trata de uma mudança pioneira, uma vez que não há precedentes históricos para co-piarmos ou imitarmos. Considerada isoladamente,

Foto

: Mar

ia Ca

rolin

a Haz

in

Zona Costeira e Marinha

Cerrado

Pampa

3

essa redução nas emissões poderia significar uma mudança no patamar de eficiência de aproveita-mento dos recursos naturais, o que no Brasil não é algo novo no tocante à geração de eletricidade e ao consumo de combustíveis líquidos.

Entretanto, se levarmos em conta o contexto de desigualdades e diferenças em que essa emissão ocorre no mundo e, em conseqüência, o quadro político internacional em que essas reduções deverão ocorrer, veremos que a redução das emissões só é possível por meio de um esforço multilateral em que os diferentes e desiguais possam contribuir para a redução global a partir do estágio em que se encontram.

Nessa situação, mais que tecnologias de maior eficiência, o que conta são valores e princípios capazes de conduzir povos em diferentes regiões geográficas e em diferentes contextos históricos e políticos para uma mesma direção de arranjos produtivos e sistemas de produção com menos emissão de gás carbônico de origem fóssil para a atmosfera.

Portanto, vencer o desafio trazido pelas mudan-ças globais do clima significa buscar a redução nas emissões por meio de um novo modelo de civilização, no qual o acesso aos benefícios da tec-nologia seja distribuído de forma menos desigual e as diferenças entre pessoas, grupos e comuni-dades representem maior diversidade de oportu-nidades de realização para indivíduos e gerações. Hoje, o enfrentamento das mudanças globais do

Para esse processo de longa duração, pretende contribuir essa III Conferência Nacional do Meio Ambiente. A tarefa não é simples. Tampouco é uma tarefa rápida. O que podemos garantir é que é uma daquelas lutas que valem a pena. Porque não exclui. Porque não é por alguém ou ninguém tomado isoladamente. Porque é daquelas lutas em que, ao assumi-las, já nos comprometemos em nos tornarmos melhores do que somos hoje.

MARINA SILVAMinistra de Estado do Meio Ambiente

Foto

: Wigo

ld Sc

häffe

r

Foto

: Miri

am Pr

ochn

owFo

to: A

vay M

irand

a

Foto

: Migu

el Vo

n Beh

r

Foto

: Mar

ia Ca

rolin

a Haz

in

Caatinga

Pampa

Mata Atlântica

Amazônia

clima divide-se didaticamente pelo que se con-vencionou chamar de mitigação e adaptação. Pelas próximas décadas, estaremos mitigando as causas das mudanças climáticas e nos adaptando aos seus efeitos, que já hoje se mostram ao me-nos parcialmente inevitáveis.

Enfrentar as mudanças globais do clima é um processo de longa duração que irá durar gerações e, com certeza, que receberá aprimoramentos à medida que a compreensão da crise ambiental – suas causas e oportunidades – seja aumentada e compartilhada.

4 Boletim da Conferência Nacional do Meio Ambiente

Números da III CNMADados gerais

ONGs, Movimentos Sociais e Povos Indígenas garantiram maior representatividade pela sociedade civil

Respeito à questão de gênero: pelo regulamento da CNMA mulheres devem ter 30% de representatividade, número que foi superado 6,1%.

A participação em todos os setores cresceu nas Conferências Estaduais do Meio Ambiente. O setor empresa-rial, por exemplo, aumentou em 4,1% sua representividade

Região Norte

AC – 18 e 19 de marçoAP – 20 a 23 de novembroAM – 7 a 10 de abrilPA – 4 a 6 de abrilRO – 14 a 16 de marçoRR – 12 a 14 de marçoTO – 27 e 28 de março

Região Nordeste

AL – 13 a 14 de marçoBA – 16 a 18 de marçoCE – 13 a 15 de dezembroMA – 27 a 29 de fevereiroPB – 12 a 14 de marçoPE – 12 a 14 de março PI – 19 e 20 de dezembroRN – 5 a 7 de marçoSE – 12 a 14 de março

Região Centro-oeste

DF – 11 e 12 de marçoGO – 13 e 14 de marçoMT – 21 a 23 de novembroMS – 13 a 14 de março

Região Sudeste

ES – 13 e 14 de marçoMG – 2 a 4 de abrilRJ – 8 a 10 de abrilSP – 29 de março

Região Sul

PR – 27 a 30 de marçoRS – 8 e 9 de marçoSC – 6 e 7 de março

Conferências Estaduais e Distrital

115 mil pessoas mobilizadas

751 conferências

566 municipais

153 regionais

26 estaduais e 1 distrital

5 seminários regionais/distritais

1.104 delegados estaduais

5.132 propostas aprovadas nos Estados

Dados DATASUS

5

O Brasil já sofre consequëncias da mudança do clima?

O Brasil vem vivenciando alguns eventos climá-ticos extremos, a exemplo da seca ocorrida em 2005 na Amazônia e do primeiro furacão obser-vado no Atlântico Sul, o Catarina, que destruiu 3.000 casas no sul do Brasil, em 2004. Na verda-de, eventos extremos e a variabilidade climática têm severamente afetado a América Latina nos últimos anos. É difícil associar-se esses eventos à mudança do clima. Mas projetar freqüência, intensidade e duração desses eventos extremos pode antecipar os potenciais impactos futuros a partir dos eventos ocorridos não só no Brasil, mas em toda essa região.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), divulgado em 2007, indica algumas regiões do Brasil como par-ticularmente vulneráveis à mudança do clima. Entre essas regiões, a Amazônia e o semi-árido brasileiro merecem destaque especial. No caso do semi-árido, a vulnerabilidade resulta da pro-jetada alteração no regime de chuvas. Em caso de mudanças nom clima, haveria reflexos não só na disponibilidade de água, mas também na quali-dade dos recursos hídricos na região. O potencial deficit hídrico poderá impactar negativamente a segurança alimentar e os recursos naturais. A vegetação, por exemplo, passaria a ter caracterís-ticas típicas de áreas mais áridas.

É importante destacar que há grandes incertezas nessas projeções, particularmente no que tange a precipitação. O Brasil está buscando aprofun-dar o conhecimento das vulnerabilidades sociais, econômicas e ambientais nas diferentes regiões do país. Isso permitirá que medidas de adaptação possam ser implementadas, minimizando, dessa forma, os potenciais impactos da mudança do cli-ma nesses sistemas.

Bate-papo Entrevista com Thelma KrugSecretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental

faz com que nossas emissões no setor de energia sejam muito pequenas. Mais recentemente, o es-forço do governo em reduzir o desmatamento na Amazônia e suas emissões associadas já evitaram que emissões da ordem de mais de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono fossem lançadas na atmosfera, tomando como referência a taxa de desmatamento bruto de 2004.

Qual a importância da criação do Plano Nacional sobre Mudança do Clima?

O Plano será importante porque dará uma noção clara do conjunto de programas e ações nacio-nais, que o país espera fazer para contribuir com a mitigação da mudança do clima. Esse conjunto dará uma transparência, tanto nacional, quanto internacional, da importância que a questão da mudança do clima tem para o país e o escopo das ações passíveis de implementação, em todos os setores – energia, transporte, agricultura, flores-tas, tratamento de resíduos, saúde e outras. Tam-bém será importante para identificar os instru-mentos a partir dos quais as ações e programas serão implementadas. Isso se aplica também no suporte ao desenvolvimento de tecnologias lim-pas, que poderão viabilizar processos de produ-ção menos intensivos em carbono, por exemplo. Além disso, o Plano buscará também identificar as áreas científicas onde o conhecimento deve ser aprofundado, buscando auxiliar no processo de superação das lacunas científicas, particular-mente na identificação das vulnerabilidades do país frente a diferentes cenários da mudança do clima. Finalmente, focará também no conjunto de ações, visando a disseminação, a capacitação e a educação, essenciais para o engajamento da sociedade nesse esforço de mitigação da mudan-ça do clima.

Como a CNMA vai contribuir para esse Plano?

A CNMA é um dos instrumentos de consulta pú-blica, parte integrante do decreto do presidente Lula que criou o Comitê Interministerial para propor uma política nacional e um Plano Na-cional sobre Mudança do Clima. O processo da Conferência constitui-se em um fórum de ampla discussão, permitindo que o Plano tenha um es-copo nacional, e não federal. Espera-se que o Pla-no possa, por meio das contribuições da CNMA, refletir as especificidades regionais do país, tanto nas ações de mitigação quanto nas medidas de adaptação, de forma a minimizar o impacto ne-gativo de uma parte da mudança do clima já ir-reversível. A CNMA é um processo que conta com a participação de todos os setores da sociedade, constituindo, dessa forma, um amplo processo de consulta pública.

Ainda há tempo para mudar o ce-nário que se apresenta?

Certamente, sim. Hoje o IPCC reconhece que medidas, políticas e planos podem ser imple-mentados globalmente de forma a contribuir para a mitigação da mudança do clima, por meio da redução líquida de gases de efeito estufa e de adaptação. Isto é economica e tecnicamente viável. Caso os esforços globais de redução de emissões sejam significativos, será possível esta-bilizar a concentração dos gases de efeito estufa em um nível que impeça a interferência perigo-sa do ser humano no sistema climático, que é o objetivo maior da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Isso, entretanto, requererá um grande esforço de todos os países, com suporte de tecnologia avançada e de finan-ciamento para apoiar ações mais profundas nos países em desenvolvimento.

O que os países desenvolvidos podem fazer?

Na verdade, devido ao fato de que a mudança do clima atual é resultado das emissões históricas promovidas pelos países desenvolvidos no seu processo de desenvolvimento, a liderança dos esforços de mitigação da mudança do clima deve ser deles, e esses países assim o reconhecem. Entretanto, na prática, essa liderança não vem sendo demonstrada de fato, e isso fica evidencia-do pelo aumento de mais de 11% nas emissões de gases de efeito estufa por parte das maiores economias desenvolvidas, no período de 1990 até agora. Mesmo os compromissos de redução ou limitação de emissões dos países desenvolvidos, no Protocolo de Quioto, que resultarão em uma redução média das emissões, entre 2008 e 2012, da ordem de 5% relativos a 1990, só serão atingi-dos com o uso dos mecanismos de flexibilização que foram criados no Protocolo, particularmente o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O desejável seria a realização de reduções do-mésticas, embora não se possa negar a impor-tância do MDL para alguns países em desenvol-vimento, em particular China, India e Brasil. O Brasil ocupa a terceira posição em número de projetos em vigor.

Como a mudança do clima é uma questão que afeta a todos, é natural que todos contribuam para que ela provoque o menor impacto possível, glo-balmente. Embora os países em desenvolvimento não tenham metas quantitativas de redução ou limitação de emissões no Protocolo de Quioto, têm compromissos sob a Convenção e estão contri-buindo para a mitigação. No caso do Brasil, direta ou indiretamente, projetos como o PROALCOOL, PROINFRA e PROCEL contribuem há muito para uma redução de emissões de gases de efeito es-tufa. Além disso, a própria matriz energética limpa

6 Boletim da Conferência Nacional do Meio Ambiente

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) acaba de realizar um balanço sobre a im-plementação das deliberações da II Con-

ferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), realizada em 2005. Mais de 350 deliberações de competência do Ministério, ou seja, mais de 85% das decisões da plenária foram imple-mentadas ou estão em implementação. Entre as ações, projetos para a revitalização do rio São Francisco e a ampliação do sistema de vigilância do desmatamento para outros biomas, além do Amazônico, em elaboração pelo MMA.

O trabalho de levantamento das ações para dis-ponibilização ao público envolveu toda a pasta, e o resultado pode ser acompanhado no site da CNMA (www.mma.gov.br/conferencianacional). As deliberações estão divididas por temas: biodi-

MMA transforma em ações mais de 85% das deliberações da II CNMAversidade e florestas; qualidade ambiental nos assentamentos humanos; águas e recursos hídricos; elementos de uma es-tratégia nacional para o desenvolvimento sustentável; e fortalecimento do Sisnama e controle social. A partir do tema, é possí-vel selecionar o subtema e a competência.

A Conferência é um processo dinâmico e contínuo. Dessa forma, o sistema de con-sulta às deliberações será alimentado e atualizado, com encaminhamentos per-tinentes. Assim, a sociedade poderá se apropriar dessas informações, fortalecen-do o papel fundamental das Conferências na formulação de políticas públicas para o meio ambiente e como instrumento de participação e controle social.

Confira algumas ações implementadasImplantação do Programa Nacional de Ca-

pacitação de Gestores Municipais em mais de 10 estados, com assinatura de convênios com 12 es-tados, envolvendo repasse de recursos da ordem de quatro milhões de reais, capacitando seis mil gestores em 160 municípios.

O Programa de Desenvolvimento Socio-ambiental da Produção Familiar Rural (Proam-biente), entre 2004 e 2005, implantou 11 Pólos Pioneiros que envolveram 5.500 famílias de pro-dutores rurais.

Medidas adotadas para o controle de desmatamento da Amazônia: Realização de 17 grandes operações conjuntas entre Ibama e Polícia Federal que resultaram na prisão de 650 pessoas; desconstituição de cerca de 1.500 empresas; apreensão de cerca de um milhão de m3 de madeira em toras – essas ações con-tribuíram para a queda de 20% do desmata-mento em relação a 2005-2006. A criação de um Grupo de Trabalho, para a responsabiliza-ção ambiental, que trabalhará inicialmente com os 150 maiores casos de desmatamentos de 2007, visando a responsabilizar criminal, administrativa e civilmente em curto prazo, também faz parte da intensificação do Plano de Combate ao Desmatamento.

7

Fortalecimento do Fundo Nacional de Meio Ambiente:Assinatura de 401 novos convênios e 61 Memorandos de Entendimento com instituições públicas e privadas sem fins lucrativos, resultando em investimentos da ordem de mais de 114 mi-lhões de reais em projetos.

MMA transforma em ações mais de 85% das deliberações da II CNMA

Moradores de Gilbués(PI) observando a voçoroca: O Plano Nacional de Combate à Desertificação também é uma das deliberações da CNMA .

MMA publica documento com as deliberações imple-mentadas.

Créditos das fotos: Jefferson Rudy

Lançamento do Programa Nacional de For-mação de Educadores Ambientais (ProFEA), arti-culado em mais de mil instituições agrupadas em 150 Coletivos Educadores no território brasileiro.

Rio São Francisco: Ponte que liga Petrolina(PE) a Juazeiro(BA)

Comunidades Ribeirinhas também contribuem durante a CNMA para a Política Ambiental.

Execução, no rio São Francisco, do Programa de Revitalização de Bacias. Um balanço revela que estão em curso obras de esgotamento sa-nitário em 164 municípios, 147 projetos de con-trole de processos erosivos em 28 sub-bacias e a instalação de 546 estações de monitoramento de água. Para a recuperação de áreas degrada-das, foram produzidas 60 mil mudas de plantas nativas somente neste ano e 500 produtores ca-pacitados para proteção, manejo e recuperação florestal.

Apoio à criação e ao fortalecimento da Rede Brasileira de Agendas 21 Locais. A Rede foi criada em 2006 a partir da parceria MMA e Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos So-ciais (FBOMS). Para sua construção, foram re-alizados encontros em todas as regiões e um encontro nacional, em Brasília, que reuniu re-presentantes de 67 processos de agendas 21 Locais e 153 participantes de todas as regiões do Brasil. Para a sua implementação, foram realizados dois encontros regionais e 14 es-taduais. Atualmente, a Rede congrega cerca de 200 processos para troca de experiências e incentivo a novas agendas.

Ações do MMA paraas Deliberações da

II CNMA

Açõ

es d

o M

MA

pa

ra a

s D

elib

era

ções

da

II

CN

MA

Ministério do Meio Ambiente - MMASecretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - SAIC

Departamento de Cidadania e Responsabilidade Socioambiental - DCRSConferência Nacional do Meio Ambiente - CNMA

Esplanada dos Ministérios – BL "B" – 7º andar – Sala 753Cep 70068-900 – Brasília/DF

Fone: 55 xx 61 33171500 Fax: 55 xx 61 33171193e-mail: [email protected]

www.mma.gov.br/conferencianacional

8 Boletim da Conferência Nacional do Meio Ambiente

Coletivo Jovem durante a Conferência do MS.

Coordenação da III CNMA: Hamilton Pereira (Secretário de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental/Coordenador Na-cional), Pedro Ivo Batista (Diretor de Cidadania e Responsabilidade Socioambiental/Coordenador Geral) e Geraldo Vitor de Abreu (Coordenador Executivo).Equipe de comunicação: Christiane Telles, Cimar Moreira e Suzane DurãesContato: (61) 3317 -1067 e [email protected] / www.mma.gov.br/conferencianacional

“Aspas”“Nós não formulamos leis, mas temos que nos envolver nesses

processos que contribuem para a criação das políticas públicas. “

Paulo Araújo Oliveira - participante da Conferên-cia do Piauí pelo setor empresarial. Ele, que é do Sebrae de Bom Jesus, discutiu desertificação e defendeu a criação de comissões de combate ao fenômeno.

“Na nossa comunidade ainda encontra-mos bichos e plantas, mas em muitos

lugares isso não é mais possível. Nós preservamos a natureza e podemos

ajudar outras comunidades com nossos conhecimentos.”

Maria das Graças de Almeida – representante da comunidade quilombola Mutuca na Conferência do Mato Grosso

“Nós temos que ser ouvidos, pois chegamos antes nesta terra. Com nossos conhecimentos

tradicionais, podemos ajudar a resgatar muitos cuidados que os índios têm com a floresta.”

O cacique Aikyry, da etnia Wajãpi, durante a Conferência Estadual do Amapá

“Ao participar da conferência ‘adulto’, o jovem ganha experiência para

qualificar os futuros processos de conferências do meio ambiente.”

Rui Silva é estudante e participou em 2003 da I Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Hoje, aos 18 anos, é membro do Coletivo Jovem do Meio Ambiente do AM e participou da III CEMA

“A conferência faz com que as pessoas tomem consciência de sua cidadania. A população precisa perceber que é ela

que deve fiscalizar e acompanhar as ações , pressionando o poder público para um melhor ordenamento para o

desenvolvimento sustentável da cidade.”Delegado da Conferência Estadual do RJ, José Waitz.

“Sou do ramo da metalurgia e acompanho com mais interesse a

destinação dos resíduos, que é um dos problemas mais sérios. Outros colegas

sindicalistas estiveram em grupos como o de educação ambiental e de

crescimento populacional para garantir nossa participação.”

Shakespeare Martins – Central Única dos Tra-balhadores (CUT), durante Conferência de Meio Ambiente da Região Metropolitana de Belo Ho-rizonte, realizada em Ribeirão das Neves nos dias 11 e 12 de novembro de 2007.

“Nossa organização teve uma parti-cipação madura nessa Conferência.

Nós conseguimos defender propostas de educação ambiental

e uso e ocupação do solo.”Angélica Mirinhã, delegada do RS pela Cen-tral de Movimentos Populares

Exp

edie

nte:

Foto

: Rafa

elle M

ende

sFo

to: J

orge

Mac

edo