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Magistratura Judicial Guia de Boas Práticas – 2º Ciclo e Estágio de Ingresso –

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Magistratura Judicial

Guia de Boas Práticas

– 2º Ciclo e Estágio de Ingresso –

Título: Magistratura Judicial – Guia de Boas Práticas – 2º Ciclo e Estágio de Ingresso Autor: CEJ – Direcção-Adjunta – Magistratura Judicial

Ano de Publicação: 2013 Série: Direcção-Adjunta

Edição: Centro de Estudos Judiciários Largo do Limoeiro 1149-048 Lisboa

[email protected]

Centro de Estudos Judiciários

Magistratura Judicial – Guia de Boas Práticas – 2º Ciclo e Estágio de Ingresso 3

Índice

ÍNDICE ......................................................................................................................................... 3

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................... 5

1.1 CONTEXTO LEGAL .................................................................................................................. 6 1.2 ORIENTAÇÕES GERAIS DA FORMAÇÃO INICIAL ............................................................................. 7 1.3 FORMAÇÃO COMPLEMENTAR E ESTÁGIOS DE CURTA DURAÇÃO ...................................................... 8 1.4 ACÇÕES DE FORMAÇÃO .......................................................................................................... 9 1.5 TRIBUNAIS E INSTALAÇÕES ..................................................................................................... 10

2. O 2º CICLO NA MAGISTRATURA JUDICIAL ......................................................................... 11

2.1 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO 2º CICLO DE FORMAÇÃO ................................................................ 12 2.2 REGIME ............................................................................................................................. 14 2.3 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA LISTA DE TRABALHOS .................................................................... 15 2.4 PARTICULARIDADES DA FORMAÇÃO NO 2º CICLO ...................................................................... 17

3. O ESTÁGIO DE INGRESSO NA MAGISTRATURA JUDICIAL ................................................... 19

3.1 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 20 3.2 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO .............................................................................. 21 3.3 REGIME E DINÂMICA DO ESTÁGIO DE INGRESSO ......................................................................... 23

4. JUÍZES FORMADORES ........................................................................................................ 25

5. COORDENAÇÃO DE ESTÁGIOS ........................................................................................... 29

NOTA: É possível clicar nos itens do índice de modo a ser redirecionado automaticamente para o capítulo ou subcapítulo em questão. Ao logo do texto existem igualmente hiperligações que redirecionam igualmente para a página Web em questão.

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1. Considerações Gerais

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1.1 Contexto Legal

• Lei n.º 2/2008, de 14 de Janeiro – Regula o ingresso nas magistraturas, a formação de

magistrados e a natureza, estrutura e funcionamento do Centro de Estudos Judiciários (alterada

pelas Leis n.os 60/2011, de 28 de Novembro, e 45/2013, de 3 de Julho).

• Regulamento n.º 339/2009 – Regulamento Interno do Centro de Estudos Judiciários, publicado

em obediência ao disposto no n.º 2 do artigo 115º da Lei n.º 2/2008, de 14 de Janeiro, no Diário

da República n.º 150, II Série, de 5 de Agosto de 2009 (alterado pelo Regulamento n.º 62/2011,

publicado no Diário da República n.º 15, II Série, de 21 de Janeiro de 2011).

• Lei n.º 21/85, de 30 de Julho - Estatuto dos Magistrados Judiciais.

• Lei n.º 12-A/2008, de 27 de Fevereiro - Estabelece os regimes de vinculação, de carreiras e de

remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas.

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1.2 Orientações Gerais da Formação Inicial

A formação inicial de magistrados para os tribunais judiciais compreende um curso de formação

teórico-prática, organizado em dois ciclos sucessivos, e um estágio de ingresso.

No âmbito da magistratura judicial o 2.º ciclo do curso de formação teórico-prática e o estágio de

ingresso decorrem nos tribunais, nos quais a formação dos Auditores de Justiça é assegurada por

Coordenadores Distritais e Juízes Formadores, tendo como destinatários Auditores de Justiça e Juízes

Estagiários, respectivamente.

A qualidade da formação depende, em grande parte, da forma como estes intervenientes se

relacionam e interagem, bem como da organização dos estágios, da sua concretização no terreno e da

pronta e eficaz resolução dos problemas que possam surgir, quer funcionais quer pessoais.

É particularmente importante um conjunto de directivas e aconselhamentos que permitam o maior

aproveitamento possível do tempo de estágio disponível, a igualdade de tratamento e de oportunidades

para todos os formandos e a melhor preparação destes, não apenas nos aspectos técnicos mas também

humanos, designadamente no relacionamento com os demais intervenientes processuais e no respeito por

todas as regras deontológicas e profissionais.

Pretende-se que os Auditores de Justiça e Juízes Estagiários interiorizem que vão prestar um

serviço público de grande importância social, dependendo a sua legitimação perante os cidadãos e do

respeito por todos os direitos que lhes são concedidos pela Constituição da República Portuguesa e pelo

direito nacional e comunitário.

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1.3 Formação Complementar e Estágios de Curta Duração

A formação junto dos tribunais não se limita às jurisdições civil e criminal, em tribunais de

competência genérica ou especializada.

Para complemento da formação ministrada nesses tribunais, tanto os Auditores de Justiça como os

Juízes Estagiários devem realizar estágios, de duração variável, designadamente em tribunais de

competência especializada, como os de Família e Crianças, Instrução Criminal, Trabalho e Comércio.

No 2.º ciclo (e já não no estágio de ingresso, desde as alterações introduzidas pela Lei n.º 45/2013 )

estão previstos estágios de curta duração junto de entidades não judiciárias (n.º 2 do art.º 51.º da Lei do

CEJ).

Todos estes estágios são organizados de acordo com as necessidades específicas de cada um dos

formandos e nos períodos do ano que se revelem mais adequados, preferencialmente com base no

consenso entre os respectivos Juízes Formadores e os Coordenadores Distritais.

É aconselhável proceder-se a uma programação de todos estes meios de formação no início do ano,

por forma a causar o mínimo de perturbação possível no decorrer dos estágios (nomeadamente em sede de

agendamentos), sem prejuízo das alterações que as circunstâncias imponham.

Para um melhor aproveitamento, mas também por respeito para com as instituições que os recebem

e para com os Juízes que se prestam a colaborar com o CEJ nas várias jurisdições, é recomendável que o

Auditor de Justiça e o Juiz Estagiário se apresentem sem trabalhos a elaborar ou completar, dedicando-se

em exclusividade aos contactos com outras entidades e tribunais.

É igualmente aconselhável o investimento numa preparação prévia, sem a qual não é viável a

máxima rentabilização destes estágios, que passará pela recolha de informação acerca da actividade

desenvolvida por cada uma das instituições a visitar e por uma revisão das matérias leccionadas no 1.º ciclo

no âmbito das jurisdições em que vão receber formação complementar.

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1.4 Acções de Formação

Está igualmente prevista a frequência de acções de formação por parte dos Auditores de Justiça e

Juízes Estagiários, sendo algumas obrigatórias e outras facultativas, destinando-se a completar e

aprofundar a formação nos tribunais.

Estas acções de formação poderão coincidir ou não com acções de formação contínua, destinadas a

Juízes já no pleno exercício de funções.

Os Auditores de Justiça e Juízes Estagiários poderão consultar no início do ano o Plano de

Formação Contínua e estabelecer o seu próprio plano individual, em articulação com o Juiz Formador e

com o Coordenador Distrital.

As opções podem recair sobre conferências, congressos, colóquios ou outras actividades formativas

organizadas por instituições alheias ao CEJ, competindo ao interessado assegurar-se da sua inscrição e

suportar os eventuais custos.

Se considerarem útil a abordagem de outros temas poderão propor à coordenação de estágios, em

conjunto ou individualmente, a organização de outras acções de formação específicas para os estágios do

2.º ciclo e de ingresso.

À semelhança dos estágios de curta duração também as acções de formação recomendam uma

preparação prévia como forma de rentabilização do tempo e actividade investidos: estudo da legislação,

doutrina e jurisprudência relacionadas com cada tema, que normalmente estarão previamente acessíveis

na página do CEJ na Internet.

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1.5 Tribunais e Instalações

O Juiz Formador é o titular do seu tribunal ou do seu juízo. Neste pressuposto é a ele que compete

decidir se permite ou não aos Auditores de Justiça e aos Juízes Estagiários partilharem o seu gabinete de

trabalho.

Sem prejuízo desta posição de princípio, do ponto de vista do Centro de Estudos Judiciários é

preferível que os Auditores de Justiça fiquem instalados no gabinete do Juiz Formador – continuamente

ou em regime de rotatividade, quando colocados em juízos de competência especializada cível e crime.

Esta preferência prende-se com uma maior facilidade na troca de impressões sobre os processos em

que trabalham e sobre as diligências a que assistem, bem como na observação da forma como o formador

se relaciona com todos aqueles com quem contacta, designadamente funcionários, advogados,

procuradores e colegas.

No estágio de ingresso estas razões encontram-se mais atenuadas, sobretudo se no 2.º ciclo os

auditores já estiveram no gabinete do formador, havendo inclusivamente vantagens que podem justificar a

instalação em gabinete próprio: o estagiário não vê o seu próprio trabalho interrompido pelo movimento

diário do gabinete do formador, mais facilmente ganha gradual autonomia no seu trabalho e dispõe dum

espaço próprio para realização das suas diligências, preservando o formador dos correspondentes

incómodos.

Sempre que possível os Juízes Estagiários devem efectuar os julgamentos nas salas de audiência e,

só não sendo de todo possível (designadamente como derradeiro recurso para evitar adiamentos gravosos

para advogados e testemunhas), nos gabinetes ou em salas avulsas que não tenham a estrutura duma sala

de audiências.

Porém, em muitos tribunais estas salas são insuficientes para imediata utilização por parte de todos

os Juízes que delas necessitam.

Sendo esse o caso, numa perspectiva de boa organização do serviço e para se evitarem adiamentos

injustificados ou a utilização de espaços menos próprios, logo no início do ano os Juízes Estagiários, em

articulação com os respectivos Juízes Formadores, devem combinar com os demais colegas os períodos da

semana (dias inteiros, manhãs ou tardes) em que terão à sua disposição uma sala de audiências.

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2. O 2º Ciclo na Magistratura Judicial

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2.1 Objectivos Específicos do 2º Ciclo de Formação

O n.º 1 do art.º49.º da Lei n.º 2/2008, de 14 de Janeiro, fixa como objectivos específicos para o 2.º

ciclo de formação teórico-prática:

• Assegurar a consolidação das exigências deontológicas inerentes ao exercício de cada

magistratura e a compreensão dos respectivos direitos e deveres estatutários;

• Proporcionar a experimentação e a compreensão concreta dos conteúdos funcionais da respectiva

magistratura e dos outros agentes do sistema de justiça, bem como o desenvolvimento de boas

práticas no relacionamento com os demais agentes judiciários;

• Apurar o espírito crítico e cultivar atitude de cooperação e de relativização do saber no debate das

questões e no processo de decisão, com progressiva aquisição de autonomia e personalização na

decisão;

• Exercitar uma prática multidisciplinar no tratamento dos casos e de realização efectiva dos

direitos fundamentais.

O n.º 2 do mesmo preceito legal, ao nível das competências técnicas, estabelece os seguintes

objectivos específicos:

a. Prosseguir a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos técnico-jurídicos necessários à

aplicação do direito, mediante intervenção concreta e simulada em actos processuais e outros da

actividade judiciária apurando a técnica de elaboração de peças e agilizando os procedimentos

processuais, com destaque para a recolha, produção e valoração da prova;

b. Proporcionar o conhecimento concreto da missão, actividade e capacidade de resposta das

instâncias judiciárias e não judiciárias intervenientes na administração da justiça;

c. Apurar o domínio do processo de decisão, mediante o desenvolvimento das capacidades de

análise e de síntese, do poder de argumentação e da ponderação de interesses e das consequências

práticas da decisão;

d. Desenvolver as competências de organização e gestão de métodos de trabalho, com relevo para a

gestão do tribunal, do processo, do tempo e da agenda e para a disciplina dos actos processuais;

e. Exercitar as técnicas de comunicação para uma boa prática judiciária, incluindo o recurso

optimizado às tecnologias da informação e da comunicação disponíveis.

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Para a prossecução deste conjunto de objectivos específicos, que constituem o desenvolvimento dos

objectivos gerais consignados no art.º 34.º da Lei n.º 2/2008, compete aos Auditores de Justiça, sob

orientação dos respectivos Juízes Formadores, designadamente:

• Elaborar projectos de peças processuais;

• Intervir em actos preparatórios do processo;

• Coadjuvar o formador nas tarefas de direcção e instrução do processo;

• Assistir às diversas diligências processuais, em especial no domínio da produção de prova, da

audição de pessoas e da realização de audiências;

• Assistir às deliberações dos órgãos jurisdicionais.

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2.2 Regime

No decurso desta fase de formação pretende-se que os Auditores de Justiça, sob orientação e

assistência permanente dum Juiz Formador, adquiram e aprofundem os conhecimentos necessários à

aplicação prática do Direito no exercício da actividade judicial em diversas jurisdições.

Para a prossecução de tais objectivos a actividade do Auditor de Justiça centrar-se-á na assistência a

julgamentos e outras diligências, normalmente presididas pelo próprio Juiz Formador, e na simulação de

sentenças e despachos judiciais de todo o tipo, com especial atenção à organização e gestão do expediente

diário e da agenda.

Visa-se desta forma garantir que o Auditor de Justiça, no final do 2.º ciclo de formação, esteja apto

a assumir competências próprias enquanto Juiz Estagiário, já dotado de conhecimentos teóricos e práticos

que lhe permitam, de imediato, desempenhar funções como juiz em todas as vertentes da intervenção que

lhe é própria.

Constitui objectivo de idêntica importância o conhecimento e assimilação de regras éticas e

deontológicas, que permitam ao futuro Juiz o exercício da magistratura com perfeita noção das

responsabilidades que assumem perante a sociedade e os cidadãos, actuando sempre com sentido de

responsabilidade, isenção, imparcialidade e respeito pelos direitos fundamentais.

A intervenção nas diversas áreas e nos diferentes processos deverá acontecer, sempre que possível,

em simultâneo, com a finalidade de fomentar um contacto tão constante quanto possível com as

jurisdições civil e criminal, obedecendo a um esquema de rotatividade quinzenal ou mensal entre uma e

outra jurisdição, sem prejuízo da conclusão dos trabalhos pendentes.

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2.3 Organização e Gestão da Lista de Trabalhos

Todos os trabalhos elaborados – cujos números mínimos são indicados nos textos denominados

“Organização do 2.º ciclo” e “Ofício inicial sobre procedimentos” – serão organizados cronologicamente e

divididos entre decisões de fundo, decisões de questões incidentais e de mero expediente.

Depois de vistos e rubricados pelo Juiz Formador serão arquivados numa pasta – Dossier – que

permanecerá na posse do Auditor de Justiça e que ficará disponível para análise pelo Coordenador

Distrital, a qualquer momento e, designadamente, por ocasião das suas deslocações ao tribunal.

Dessa pasta constará uma listagem de todos os trabalhos, organizada à medida que forem sendo

realizados, devendo tal lista ser provisoriamente entregue ao Coordenador Distrital com cada remessa de

trabalhos e, completa, no final da fase de formação do 2.º ciclo junto da magistratura judicial.

A lista dos trabalhos deve ser organizada separadamente para os despachos de fundo, de "meio

fundo" (isto é, na falta de melhor terminologia, aqueles que envolvam a apreciação de pretensão das partes

e decisão fundamentada) e despachos de mero expediente.

Da lista devem constar, quanto aos primeiros, o número e tipo de processo (comum ou especial no

crime, forma de processo na acção declarativa comum ou tipo do processo especial, providência cautelar,

execução, oposição à execução, etc.), o tipo de despacho elaborado (na área cível: liminar, pré-saneador,

saneador, saneador sentença, sentença, decisão de incidente, decisão da matéria de facto, etc.; na área

criminal: sentença, homologação de contagem de pena, apreciação de questão incidental, pagamento de

multa em prestações, declarações de contumácia, decisões jurisdicionais em inquérito, etc.), o tipo de

questão objecto de apreciação e decisão (no caso de sentença na área cível: se foi apreciada questão relativa

a responsabilidade civil, contrato promessa, impugnação pauliana, empreitada, compra e venda,

arrendamento urbano, etc.; na área penal: o tipo de crime ou ilícito contra-ordenacional em causa ou da

questão incidental decidida) e as datas de recebimento dos trabalhos para elaboração e da entrega ao Juiz

Formador.

Quanto aos despachos de mero expediente, aqui incluídos os despachos de recebimento de acusação

ou outros meramente tabelares, bastará a referência ao tipo de processo, ao tipo do despacho e às datas de

recebimento e entrega.

Sem embargo do cumprimento do que fica dito os Auditores de Justiça só deverão despender o

tempo estritamente necessário à organização da lista, que não é mais do que um documento destinado a

avaliar a abrangência das matérias abordadas.

O Dossier é uma peça fundamental na formação.

Só cumpre a sua função se nele forem colocados todos os trabalhos realizados pelo auditor, dos

mais simples aos mais complexos, com a respectiva anotação do formador, pelo menos um simples

concordo ou discordo.

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Permite, na normalidade dos casos, perceber se a formação está a decorrer de acordo com os

objectivos traçados para o 2.º ciclo. Nomeadamente permite responder às seguintes preocupações: está o

auditor a trabalhar em decisões diversificadas ou só despachos de fundo? Está a praticar pouco o despacho

de mero expediente? Está a fazer decisões sobre a matéria de facto em número suficiente? Está a simular

sentenças em número adequado?

A boa formação exige que a apreciação e anotação do dossier sejam acompanhadas duma profícua

troca de reflexões entre o auditor e o formador (debates cordiais mas profundos), ideia que se retomará

mais adiante.

É precisamente pela importância de que se revestem que o acesso ao dossier e à lista de trabalhos

deve ser disponibilizado ao Juiz Formador sempre que este o solicite.

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2.4 Particularidades da Formação no 2º Ciclo

É no 2.º ciclo que os Auditores de Justiça têm a possibilidade de testarem numa perspectiva prática

os conhecimentos que adquiriram durante a sua formação como juristas, nomeadamente no 1.º ciclo.

Também é nesta fase que se preparam para enfrentar as elevadas cargas de trabalho e a

complexidade dos assuntos que terão de apreciar e decidir num futuro próximo.

As exigências com que se vão deparar não são compatíveis com um estágio pausado e tranquilo. Se é

certo que o aumento da carga e do grau de dificuldade das matérias deve ser gradual, os formandos devem

ser incentivados desde o início a gerirem o tempo da melhor forma possível, na perspectiva de se tornarem

aptos a compatibilizarem todo o tipo de intervenções solicitadas diariamente a um Juiz.

Para o conseguirem é recomendável que os Auditores de Justiça, ao longo de todo o período de

formação, assistam aos julgamentos e diligências dos seus formadores, simulem o despacho de expediente

diário e trabalhem em decisões de fundo, com prazos a decorrerem em simultâneo.

Como regra os formadores devem fixar o prazo de execução de cada trabalho – sem prejuízo de

deixarem de o fazer a partir do momento em que se certifiquem de que o auditor cumpre invariavelmente

os prazos – que não terá de coincidir com o prazo legal mas que deve ter em conta, para além de outras

circunstâncias relevantes, a complexidade de cada tarefa.

Os trabalhos de fundo e meio fundo devem ser apreciados e anotados num prazo razoável, sem que

eventuais atrasos (nem sempre o formador disporá de tempo para uma análise rápida e imediata) possam

servir de justificação para a não conclusão de outros trabalhos ou para a ultrapassagem dos prazos fixados

(p. ex. a falta de correcção do primeiro despacho saneador não justifica que não se iniciem ou que se

atrasem idênticas peças processuais).

A anotação dos trabalhos pelo Juiz Formador não deve ser encarada como uma censura mas como

uma forma eficaz e vantajosa de assegurar a melhor formação possível. O Coordenador Distrital saberá

como está a decorrer efectivamente o estágio; o formador terá uma noção clara da evolução do processo de

formação e, porventura mais importante, o auditor, para além de “ver” a sua própria evolução com a

gradual diminuição das correcções, aperceber-se-á de que a avaliação é mais do que a simples soma dos

trabalhos realizados, que a formação e a avaliação são contínuas e diárias, que os trabalhos enviados ao

Coordenador Distrital são apenas alguns de entre os que elabora no dia-a-dia – e não “os trabalhos” – e

ficará com uma base mais fiável para consultar no futuro.

A organização desta futura base de trabalho ficará facilitada se aos Auditores de Justiça for

consentido guardarem no Dossier uma 2.ª versão dos trabalhos, que inclua as correcções do Juiz

Formador. No entanto, esta prática só será legítima se ficar a constar na primeira página de cada peça a

menção de que se trata duma 2.ª versão, conservando-se ambas até terminar o 2.º ciclo.

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Ao Coordenador Distrital será enviada apenas a 1ª versão de cada trabalho, que é sempre a única

relevante para efeitos de avaliação, sem prejuízo da sua autorização para a junção também da versão

corrigida, mas apenas por ocasião da remessa do primeiro conjunto de trabalhos – uma vez que o leque de

escolha será ainda bastante reduzido –, e desde que o Auditor de Justiça faça acompanhar tais trabalhos

duma indicação sucinta das diferenças entre ambas as versões.

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3. O Estágio de Ingresso na Magistratura Judicial

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3.1 Objectivos Específicos

Os objectivos do Estágio de Ingresso constam do art.º 69.º da citada Lei n.º 2/2008:

a. A aplicação prática e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no curso de formação

teórico-prática;

b. O desenvolvimento do sentido de responsabilidade e da capacidade de ponderação na tomada de

decisão e na avaliação das respectivas consequências práticas;

c. O apuramento do sentido crítico e o desenvolvimento da autonomia no processo de decisão;

d. O desenvolvimento das competências de organização e gestão de métodos de trabalho, com relevo

para a gestão do tribunal (do departamento), do processo, do tempo e da agenda, bem como para

a disciplina dos actos processuais;

e. O desenvolvimento do sentido de responsabilidade nos termos exigíveis para o exercício das

funções da respectiva magistratura;

f. A construção e afirmação de uma identidade profissional responsável e personalizada.

Para prossecução de tais objectivos, o art.º 71.º da Lei n.º 2/2008 estabelece que “Os magistrados

em regime de estágio exercem com a assistência dos formadores, mas sob responsabilidade própria, as

funções inerentes à respectiva magistratura, com os respectivos direitos, deveres e incompatibilidades”,

desenvolvendo-se o estágio “progressivamente, com complexidade e volume de serviço crescentes”.

Pode-se assim concluir que esta fase de formação assenta esquematicamente no seguinte:

• Auto-responsabilização;

• Dependência formativa da assistência dos Juízes Formadores;

• Igualdade estatutária com os Juízes efectivos;

• Exercício progressivo de funções, com complexidade e volume de serviço crescentes;

• Dependência pedagógica do Centro de Estudos Judiciários;

• Dependência do Conselho Superior da Magistratura em termos de gestão, avaliação e disciplina.

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3.2 Organização e Gestão da Informação

A ligação entre o 2.º ciclo e o estágio de ingresso, no que respeita aos objectivos de melhoria e

aperfeiçoamento do novo Juiz Estagiário, concretiza-se através dum documento denominado “Plano

Individual de Estágio” (PIE).

O preenchimento de cada PIE resulta da colaboração entre o Juiz Formador do 2.º Ciclo e o

Coordenador Distrital, que analisam a prestação de cada Auditor de Justiça e assinalam os aspectos que

carecem de melhoria na fase seguinte.

Após homologação pelo Conselho Pedagógico, os PIE serão enviados pelos serviços do CEJ aos

Juízes Formadores, se possível ainda antes do início do período de estágio, para que sejam considerados os

itens a melhorar logo por ocasião da distribuição inicial do serviço.

Tais itens, que se traduzem em pontos concretos que no final do 2.º ciclo foram apontados como

falhas ou, pelo menos, como pormenores que carecem de melhorias mais ou menos acentuadas, devem ser

analisados do ponto de vista da evolução perspectivada por ocasião das deslocações às comarcas dos

Coordenadores Distritais; e também devem ser contemplados nos relatórios intercalares e finais a elaborar

pelos Juízes Formadores do estágio de ingresso.

Um outro documento essencial na dinâmica do estágio de ingresso é o “Relatório Mensal”.

Será preenchido pelo Juiz Estagiário com base num formulário previamente aprovado pelo

Conselho Pedagógico, que o remeterá ao Coordenador Distrital até ao termo do prazo mensal a fixar no

início do estágio, facultando uma cópia ao Juiz Formador.

Para garantia dum correcto e completo preenchimento, o Juiz Estagiário deve ter o cuidado de

anotar diariamente os julgamentos, diligências e decisões de fundo que conclua, com menção do tipo de

processo e das matérias a que respeitam, de acordo com os itens a preencher constantes do formulário.

Trata-se dum instrumento de trabalho de grande importância na fase de estágio, na medida em que

permitirá a cada um dos agentes da formação – Coordenador Distrital, Juiz Formador e o próprio Juiz

Estagiário – avaliar a qualquer momento a produtividade e a variedade dos temas versados,

designadamente em função das metas traçadas no PIE e dos objectivos do estágio de ingresso.

Por ocasião das deslocações do Coordenador Distrital às comarcas, os relatórios devem ser objecto

de análise por parte deste com o formador e com o estagiário, por forma a aferir da produtividade do Juiz

Estagiário e da variedade de matérias abordadas, não apenas nos julgamentos mas também noutras

diligências e em peças processuais como sentenças e despachos de maior relevo.

Devem merecer particular atenção as insuficiências de determinados temas ou matérias que se

forem detectando ao longo do período de estágio, procurando-se as soluções possíveis, designadamente

através do recurso a processos de outros juízos ou secções, uma vez obtida a indispensável autorização do

respectivo juiz titular (p. ex., para realização de conferências de interessados, assembleias de credores,

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debates instrutórios e subsequente despacho, etc.) e, se necessário, através da realização de estágios

complementares de duração reduzida em tribunais de competência especializada (p. ex., instrução

criminal, comércio, etc.).

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3.3 Regime e Dinâmica do Estágio de Ingresso

Do Juiz Estagiário espera-se assiduidade, pontualidade, educação no trato com outros magistrados,

advogados, funcionários e com o público, ou seja, que transmita uma boa imagem quer para dentro quer

para o exterior do tribunal.

Falhas a este nível são consideradas faltas graves, o mesmo sucedendo com o adiamento de

julgamentos ou outras diligências sem o devido fundamento legal.

Do ponto de vista técnico espera-se que rapidamente consiga colmatar eventuais insuficiências

apontadas no final do 2.º ciclo, que exerça as novas funções com rigor, mas também com rapidez na

execução de todas as tarefas e capacidade na gestão da agenda e do tribunal, compatibilizando a realização

de julgamentos e outras diligências com o despacho de expediente diário e a prolação atempada de

sentenças e demais decisões de fundo.

Para se adaptar o mais rapidamente possível às exigências desta fase de estágio, o Juiz Estagiário

deve estrear-se logo que possível na realização de julgamentos e outras diligências, preferencialmente logo

na primeira semana se a agenda o propiciar.

O já citado art.º 71.º da Lei do CEJ determina que o estágio se desenvolve progressivamente, com

complexidade e volume de serviço crescentes.

O respeito por esta progressividade passa por uma distribuição inicial do serviço ao novo Juiz e o

seu gradual acréscimo ao longo do ano, quer ao nível dos julgamentos quer da carga processual para

despacho.

A distribuição inicial deve ter em conta o volume de serviço do tribunal (que por vezes difere

substancialmente de um para outro) e a preparação com que o estagiário transita do 2.º ciclo, a aferir pelo

PIE e pelo relatório de avaliação sempre que o Juiz Formador não seja o mesmo da fase anterior.

Após uma primeira fase de adaptação, a afectação de um determinado número de processos e de

julgamentos deve ser revista regularmente, com base no diálogo entre o Juiz Estagiário, o Juiz Formador e

o Coordenador Distrital (preferencialmente por ocasião das deslocações deste às comarcas), para que

durante todo o período de formação a carga e complexidade do trabalho sejam as adequadas à evolução

que cada estagiário vai registando.

Decorre do exposto que a opção por um determinado tipo de distribuição de serviço – a afectação

de um ou mais números de processos é a mais usual, nunca sendo conveniente que formador e formando

despachem alternadamente no mesmo processo – não justifica que o Juiz Estagiário efectue julgamentos

de maior grau de dificuldade numa fase inicial (mesmo que o número do processo lhe esteja atribuído deve

ser o Juiz Formador a realizar o julgamento ou diligência); também não pode constituir pretexto para que

o primeiro recuse processos para despacho ou julgamento sempre que o formador, de entre aqueles que

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reservou para si, considere importante para a formação do estagiário a atribuição casuística de

determinados processos.

Apesar de actuar sob responsabilidade própria, a competência do Juiz Estagiário é sempre uma

competência derivada da atribuída ao Juiz Formador enquanto titular do tribunal ou do juízo, o que tem

algumas implicações que importa considerar.

Assim, para se assegurar uniformidade de procedimentos e igualdade de tratamento dos cidadãos

que recorrem à Justiça, é conveniente que o Juiz Estagiário procure, na medida do possível, a

conformidade de determinadas decisões com a prática da comarca, independentemente de se tratar do

formador ou de outros colegas.

Surgindo divergências inultrapassáveis em situações de maior relevância, que tenham a ver com a

liberdade de julgar e de consciência, o Juiz Formador pode - e deve - avocar o processo, em vez de impor ao

Juiz Estagiário que fundamente e decida de acordo com a sua própria posição.

Pela mesma ordem de razões - o titular dos processos e do próprio tribunal é sempre o Juiz

Formador – é vedado ao Juiz Estagiário participar disciplinar ou criminalmente de outros juízes,

procuradores da república, advogados ou funcionários judiciais.

Se entender que ocorrem situações que justifiquem tais participações, o estagiário deve limitar-se a

comunicar o mais rapidamente possível ao seu formador os factos com que se viu confrontado e as suas

suspeitas quanto à conduta dos referidos operadores judiciários.

Se a ocorrência o justificar, deve o Juiz Formador avocar de imediato o processo e proceder

conforme entender mais conveniente; e, se os anteriores desenvolvimentos assim o aconselharem, deve dar

conhecimento ao Coordenador Distrital para que este acompanhe o evoluir da situação na parte em que os

factos relatados possam afectar, de qualquer forma, o Juiz Estagiário que deles tomou conhecimento.

No estágio de ingresso é particularmente importante para a formação a participação em

julgamentos do tribunal colectivo, como forma de usufruir da experiência de Juízes mais antigos na função

e de criação de hábitos de trabalho em equipa.

Não devem, porém, integrar o tribunal colectivo com o próprio juiz formador, como precaução para

evitar que a parte vencida levante suspeitas de eventual influência do formador sobre o estagiário, pondo

em causa o sentido da deliberação.

Também é de toda a conveniência evitar a realização de julgamentos e outras diligências com

estagiários do Ministério Público, na medida em que estão ambos em início de carreira e podem-se ver

confrontados com situações difíceis ou inesperadas, em que a presença dum magistrado mais experiente

será decisiva para as ultrapassar. Ressalvam-se situações, muito excepcionais, em que o Juiz Formador

esteja impossibilitado de assegurar o julgamento e o seu adiamento resulte muito gravoso para as partes ou

testemunhas.

Embora com idêntica ressalva, não é aconselhável que o Juiz Estagiário realize julgamentos que

envolvam personalidades públicas – políticos, actores, desportistas, etc. – ou que de qualquer forma

possam suscitar o interesse da comunicação social.

Na presença das referidas excepções, o Juiz Estagiário deve tentar contactar previamente o

Coordenador Distrital para ponderação conjunta da melhor solução.

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4. Juízes Formadores

A formação nos tribunais, dividida em duas fases, constitui uma etapa fundamental no processo de

construção do futuro Juiz.

O papel do Juiz Formador reveste-se duma importância decisiva no desenrolar desse processo, na

medida em que o contacto diário lhe permite transmitir, gradualmente e de forma natural, a experiência e

os conhecimentos que adquiriu ao longo dos anos, designadamente no que respeita ao relacionamento com

os demais profissionais forenses, às boas práticas, à apreciação da matéria de facto e à aplicação do direito

ao caso concreto.

O modo de conduzir o processo de formação não obedece a regras rígidas, depende de diversos

factores como a personalidade do formador e do formando, das características de cada comarca, das

experiências anteriores e da maior ou menor necessidade de adaptação da metodologia inicial à evolução

que o formando vá registando.

A orientação do formador não se limita aos aspectos técnico-jurídicos: deve fomentar princípios

essenciais como a independência e a imparcialidade, vincar a importância do serviço que se presta ao

cidadão e incidir sobre tudo o que se espera dum Juiz no dia-a-dia do tribunal, como o bom

relacionamento com colegas, procuradores, advogados, funcionários e público, resolução de inúmeros

problemas de carácter funcional e administrativo, gestão da agenda, etc.

O Juiz Formador terá acesso a informação disponibilizada pelo CEJ que lhe faculte um prévio

conhecimento do percurso do futuro formando, dos objectivos traçados para a fase seguinte (p. ex. o Plano

Individual de Estágios para os Juízes Estagiários) e das matérias que foram leccionadas no 1.º ciclo.

Convém que o formador, ainda antes da chegada do auditor e/ou juiz estagiário, se assegure de que

estão reunidas as condições para que o formando rapidamente se instale e comece a trabalhar,

designadamente em termos de disponibilização de espaço e acesso ao Citius.

Os primeiros dias são particularmente importantes para se garantir um bom ambiente e um

relacionamento futuro leal e saudável, pautado pela cordialidade e respeito mútuos, que em muito depende

da capacidade de diálogo e compreensão entre formador e formando, tanto no início como ao longo de

todo o tempo de estágio. É um aspecto de primordial importância e que não deve ser negligenciado, pois do

empenho recíproco vai depender o futuro da relação entre ambos.

A distribuição, carga e diversidade do trabalho decorrerão de acordo com os critérios do formador e

do circunstancialismo próprio de cada tribunal, mas sempre em articulação com o Coordenador Distrital e

num clima de diálogo com o estagiário.

O formador, sobretudo no que respeita ao estágio de ingresso, pode optar entre atribuir

determinado número de processos, escolher aqueles que o estagiário irá julgar ou enveredar por um

sistema misto que permita o equilíbrio desejável entre a quantidade e a diversidade.

Independentemente do tipo de distribuição do trabalho, quer no 2.º ciclo quer no estágio de

ingresso, a carga deve ser progressiva e adequada às capacidades de cada um, o que pressupõe uma atenta

observação inicial do formando. O formador deve ter em conta que as características pessoais e experiência

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profissional de cada um podem repercutir-se numa mais ou menos rápida adaptação à nova fase de

estágio, adaptação que deve gerir e orientar com a devida abertura, exigindo gradualmente mais em função

das respostas que for obtendo.

Também se deve certificar de que o auditor e o estagiário realizam trabalho diversificado,

abrangendo o maior leque possível de temas, quer em sede de julgamento, quer de outras diligências

(audiências preliminares, assembleias de credores, conferências de interessados, etc.), quer de sentenças e

despachos de expediente.

Para o Juiz Formador melhor se aperceber daquilo que o formando já fez e do que ainda deverá

simular ou realizar no tempo restante, sempre que o entender terá livre acesso ao dossier do Auditor de

Justiça e a todos os relatórios mensais que auditores e estagiários enviem ao Coordenador Distrital.

No que especificamente respeita ao 2.º ciclo, o Juiz Formador pode e deve encarregar o Auditor de

Justiça da realização de mais do que um trabalho em simultâneo, fixando prazo para a sua conclusão. O

prazo não tem de coincidir com o legal e nada obsta a que se abstenha de o fixar quando se aperceba de que

o formando invariavelmente o cumpre.

Todos os trabalhos concluídos devem conter, pelo menos, a menção de que foram vistos pelo Juiz

Formador, que rubricará todas as páginas como forma de prevenir eventuais alterações.

Sobretudo nas decisões de fundo é recomendável uma apreciação sucinta, na qual saliente os

aspectos mais positivos (muito importantes na medida em que constituem um incentivo comprovadamente

eficaz) e negativos, podendo sempre que o entender – e em qualquer tipo de trabalhos – proceder às

anotações e correcções que julgue pertinentes, com sentido pedagógico e contenção, mesmo na presença de

erros mais notórios e graves.

Conforme já se assinalou, a boa formação exige que a apreciação e anotação dos trabalhos sejam

acompanhadas duma profícua e cordial troca de reflexões entre o auditor e o formador.

Este deve assinalar os eventuais erros do trabalho, as deficiências na fundamentação, a falta de

profundidade e clareza do discurso argumentativo, a falta de poder de síntese e a insensatez ou erro da

decisão; mas também deve ouvir e ponderar as objecções do auditor, assinalar os pontos mais positivos do

trabalho e indicar, fundamentadamente, a forma que considera mais adequada de suprir as deficiências

apontadas.

Também ao nível da apreciação da prova em julgamento, pela natural dificuldade acrescida que os

Auditores de Justiça revelam no início, é de crucial importância o diálogo e a discussão acerca do que se

provou ou não e das razões que apontam num ou noutro sentido.

No âmbito do estágio de ingresso justifica-se que o Juiz Formador, enquanto titular do processo, se

certifique de que cada despacho ou sentença estão correctamente elaborados, fundamentados e decididos,

concedendo gradualmente maior autonomia ao formando à medida que ganhe confiança quanto à sua

evolução e acerto.

O formador não deve interferir no sentido da decisão senão ao nível da troca de experiências e

aconselhamento, dando a conhecer o seu ponto de vista para que a opção do formando seja assumida de

forma completamente esclarecida e reflectida.

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Porém, quando entender que o Juiz Estagiário envereda por caminhos manifestamente errados ou

que colidam de forma grave com aquilo que é a prática habitual do tribunal, enquanto seu titular tem o

direito de avocar o processo, desde que o estado em que se encontra o permita.

Sempre que surjam situações cuja gravidade o justifique, quer ao nível do aproveitamento quer da

postura perante o público, advogados, procuradores ou funcionários judiciais, o Juiz Formador deve

reportar o que se passa ao Coordenador Distrital para que rapidamente se tomem as medidas adequadas.

Aos Juízes Formadores, para além do que reportem verbalmente ao Coordenador Distrital, são

solicitados relatórios intercalares e finais sobre cada um dos auditores ou estagiários a seu cargo.

No preenchimento dos relatórios de avaliação, em qualquer das fases, o Juiz Formador tem ao seu

dispor os itens a avaliar nos formulários relativos a cada fase de formação. São estes itens que servem de

base e justificação para a notação final a propor para cada Auditor de Justiça do 2.º ciclo.

O Juiz Formador deve ser rigoroso e procurar justificar as conclusões a que chega, socorrendo-se de

factos concretos relacionados com os itens que balizam a avaliação, com maior premência sempre que se

depare com situações em que esteja em causa o aproveitamento final ou uma notação final aquém do que é

habitual.

Sobretudo nos relatórios do 2.º ciclo é aconselhável o aproveitamento das conclusões finais para se

salientarem os aspectos mais positivos e negativos da prestação de cada um dos Auditores de Justiça, com

indicação de pontos específicos a melhorar, que transitarão para o Plano Individual de Estágio (PIE).

O formador é sempre livre de propor a classificação que considere a mais adequada ao desempenho

do Auditor de Justiça a seu cargo, podendo previamente debatê-la com o Coordenador Distrital se assim o

desejar, não tendo, no entanto, obrigação de a dar a conhecer antes das reuniões de avaliação.

Nestas reuniões, presididas pelo Director-Adjunto para a magistratura judicial, que se realizam em

cada uma das quatro áreas distribuídas pelos Coordenadores Distritais, cada um dos Juízes Formadores

fará uma breve exposição acerca das características e aproveitamento dos Auditores de Justiça a seu cargo,

sugerindo a classificação correspondente.

É livre de divulgar ao respectivo formando a sua proposta de classificação antes ou depois da

reunião, mas nunca as que os restantes formadores apresentaram para os respectivos auditores, tal como

não devem divulgar o que se discutiu nessa ou em qualquer outra reunião, salvo mediante autorização

expressa de quem a ela presida.

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5. Coordenação de Estágios

O Coordenador Distrital, atentas as funções que lhe estão atribuídas, tem um papel central na

prossecução dos objectivos da formação, competindo-lhe orientar os estágios de ambas as fases, em

articulação com os Juízes Formadores e com outros Juízes que complementem a formação em tribunais de

competência especializada.

Sem prejuízo dos aspectos formativos e pedagógicos, tem como primeira missão assegurar-se de

que os estágios decorrem de acordo com os objectivos traçados, tendo em conta, designadamente, as

condições dos locais de estágio, o bom ambiente de trabalho entre formandos e formadores, bem como as

necessidades e particularidades de cada um dos Auditores de Justiça e Juízes Estagiários.

Para o conseguir impõe-se, antes de mais, a gestão e tratamento de toda a informação que a tal

respeito possa recolher, assim como a total disponibilidade para acompanhar e debater com os Juízes

Formadores, Auditores de Justiça e Juízes Estagiários todos os assuntos relativos à formação, incluindo os

assuntos de natureza organizativa e pedagógica.

Neste âmbito reveste-se de especial importância a deslocação regular às comarcas de formação,

privilegiando um contacto directo com formadores e formandos.

Será adequado visitar cada tribunal quatro ou cinco vezes por ano, preferencialmente nas quatro

semanas subsequentes à recepção de cada conjunto de trabalhos dos Auditores de Justiça, sem prejuízo de

se deslocar sempre que o considere necessário em função do modo como os estágios estão a decorrer.

As visitas aos locais de formação ocorrerão em datas ajustadas entre os Coordenadores Distritais e os

Juízes Formadores, que serão comunicadas a auditores e estagiários com a antecedência possível, mas pelo

menos na véspera.

O Coordenador Distrital deve aproveitar as deslocações para se informar junto do formador, em

privado, da forma como estão a decorrer os estágios do 2.º ciclo e de ingresso.

Mesmo que a informação seja no sentido de que tudo corre bem, o momento é sempre oportuno

para analisar a carga de trabalho distribuída, a previsão do seu aumento gradual, o desembaraço e

celeridade dos formandos, o modo e a oportunidade com que colocam dúvidas, a postura perante os

colegas, os demais profissionais forenses e o público; e, no caso do estágio de ingresso, convém obter

informações sobre o modo como o estagiário tramita os processos que lhe foram atribuídos, eventuais

atrasos, pontualidade no início e condução das audiências de julgamento e outras diligências, etc.

Se a informação do formador for negativa ou reticente sobre um ou mais aspectos da formação,

impõe-se de imediato uma conversa esclarecedora e a tomada das medidas que se mostrem adequadas ao

caso concreto. Para se tornarem verdadeiramente eficazes, tais medidas devem ser incrementadas com o

acordo e a participação activa do Auditor de Justiça ou Juiz Estagiário, que o Coordenador Distrital

procurará obter em conversa franca e aberta.

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As soluções encontradas devem ser monitorizadas com a regularidade aconselhável para cada caso,

no sentido de que não será o mais adequado esperar-se pela próxima deslocação à comarca do

Coordenador Distrital, sendo preferível que se estabeleça um contacto frequente entre este, o formador e

formando, através de correio electrónico e contactos telefónicos.

Independentemente do conteúdo da conversa entre o Coordenador Distrital e o Juiz Formador, o

primeiro deve sempre reunir-se em privado com os Auditores de Justiça e Juízes Estagiários, que terão

oportunidade de expor o seu ponto de vista sobre o modo como decorre o estágio, a forma de o melhorar e

suscitar quaisquer questões relativas à formação.

Na conversa o Coordenador Distrital comentará e discutirá com o Auditor de Justiça os trabalhos

que este seleccionou e enviou para análise. Pretende-se uma conversa privada, pautada pelo sentido

pedagógico e pela transmissão dos pontos de vista do Coordenador Distrital, designadamente aproveitando

a sua maior experiência para contribuir para o enriquecimento dos conhecimentos – sobretudo da prática

forense – do Auditor de Justiça.

O sentido pedagógico desta conversa privada desaconselha que se converta num interrogatório

sobre matérias alheias aos trabalhos em causa ou sobre questões suscitadas pela análise do dossier.

Também privado deve ser o contacto com o Juiz Estagiário, privilegiando-se a análise do modo

como está a decorrer o estágio, a carga de trabalho e o seu aumento progressivo, as eventuais dificuldades

na tramitação de processos ou nos julgamentos, a interacção com procuradores e advogados e tudo o mais

que possa interessar à formação.

Todas as conversas – com formadores, auditores de justiça e juízes estagiários – devem igualmente

contemplar a análise dos relatórios enviados regularmente ao Coordenador Distrital, quer no que respeita

à produtividade quer no que respeita à variedade das temáticas abordadas. Esta análise permitirá,

ressalvadas as insuficiências próprias de cada tribunal, que um leque o mais completo possível de matérias

seja objecto de aprendizagem e efectiva prática (p. ex., conferências de interessados, assembleias de

credores, primeiros interrogatórios de arguidos, etc.).

O enfoque nas conversas pessoais não significa a exclusão da discussão em grupo de quaisquer

assuntos que as circunstâncias propiciem, designadamente de natureza jurídica, organizacional, formativa,

etc. Bem pelo contrário, deve-se aproveitar a oportunidade para a discussão e teorização das questões

práticas que vão surgindo, quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista da melhor justiça para o

caso concreto.

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