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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO

ESTADO DO PARANÁ

Emília Maria do Carmo Gomes

LEITURA: UM DESAFIO PARA ENSINAR

Campo Mourão 2011

1

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO

ESTADO DO PARANÁ

Emília Maria do Carmo Gomes

LEITURA: UM DESAFIO PARA ENSINAR

Produção Didático-Pedagógica, na forma de Unidade Didática, apresentada como um dos requisitos para a participação no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, 2010/2011, ofertado pela Secretaria de Estado do Paraná (SEED), em parceria com Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM), sob a orientação da Profª Drª Valéria Sanches Fonseca.

.

Campo Mourão 2011

2

Dados de Identificação

Professora PDE: Emília Maria do Carmo Gomes

Área do PDE: Língua Portuguesa

NRE: Núcleo Regional de Educação de Campo Mourão

Professora orientadora IES: Valéria Sanches Fonseca

IES vinculada: Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo

Mourão

Escola de Implementação: Colégio Estadual José Sarmento Filho

Ensino Fundamental e Normal de Iretama

Público objeto de Intervenção: Professores de Língua Portuguesa do

Colégio José Sarmento Filho Ensino Fundamental e Normal de Iretama

Tema de Estudo do Professor do PDE:

Ensino e Aprendizagem de Leitura

Título:

Leitura: um desafio para ensinar

3

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

A UNIDADE DIDÁTICA

1 Fundamentação teórica para uma nova práxis de leitura..........................6

1.1 A Concepção de Linguagem Sócio-interacionista...................................7

1.2 As contribuições de Mikhail Bakhtin......................................................10

1.3 As contribuições da Análise do Discurso francesa...............................13

1.4 Contribuições da Linguística Textual: texto e sequência

Tipológica.........................................................................................................15

2 Breve estudo sobre gêneros do discurso.................................................16

2.1 Definição de Crônica.................................................................................16

2.2 Poesia.........................................................................................................17

2.3 Parábola......................................................................................................18

2.4 Carta............................................................................................................20

3 Atividades de leitura.....................................................................................21

Texto 1 – Leitura da crônica “No aeroporto” de Carlos Drummond de

Andrade............................................................................................................22

Leitura silenciosa

Questionamento sobre as condições de produção do texto

Questionamento sobre o gênero

Exploração dos recursos lingüísticos

4

Texto 2 – Leitura do poema “Receita para se fazer um herói” de Reinaldo Ferreira..............................................................................................................25

Leitura silenciosa

Questionamento sobre as condições de produção do texto

Questionamento sobre o gênero

Exploração dos recursos linguísticos

Texto 3 – Leitura da parábola “A parábola do cego que guia outro cego” leitura tirado do livro de São Marcos 4, 10-12...............................................27

Leitura silenciosa

Questionamento sobre as condições de produção do texto

Questionamento sobre o gênero

Exploração dos recursos linguísticos

Texto 4 – Leitura da carta “Carta a D. Pedro I”.............................................28

Leitura silenciosa

Questionamento sobre as condições de produção do texto

Questionamento sobre o gênero

Exploração dos recursos linguísticos

CONSIDERAÇÔES FINAIS..............................................................................31

REFERÊNCIAS.................................................................................................32

5

Apresentação

Esta Unidade Didática será desenvolvida com os professores de Língua

Portuguesa do Colégio Estadual José Sarmento Filho de Iretama. Trata-se

de uma proposta que objetiva trabalhar a formação leitora dos professores,

a partir do aprofundamento teórico sobre leitura e de atividades de leitura

propriamente. Nesse sentido, objetivamos uma nova práxis de leitura.

Teoricamente, abordaremos com os professores as concepções de

linguagem, de leitura e ensino, levando-os a refletir sobre o funcionamento

da língua. Defendemos a concepção de linguagem sócio-interacionista, e

nos sustentaremos nas contribuições de Mikhail Bakhtin, acerca, dos

gêneros do discurso, do dialogismo e da ideologia, e também nas

contribuições da Análise do Discurso de linha francesa e nas da Linguística

Textual.

Consideramos fundamental debater com os professores a importância

de se trabalhar na sala de aula com textos nos seus mais variados gêneros.

Tomaremos os gêneros dos discursos que encontramos em nossa vida

diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos,

definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos.

É importante que o leitor perceba que a linguagem expressa em gênero

do discurso é a relação mediadora entre o sujeito do discurso, da história e

a prática social.

6

1 Fundamentação teórica para uma nova práxis de leitura

Defendemos a concepção de linguagem como processo de interação por

ser a forma mais adequada para os propósitos dessa Unidade Didática, pois ao

adotar essa concepção de linguagem, tomada como interação, colocamo-nos

em relação às condições reais de sua produção: a história, as práticas sociais

e a ideologia. É importante que o estudante perceba que a linguagem não é

transparente e neutra. Todo discurso traz consigo as marcas ideológicas da

esfera que o produziu.

Assim, para um bom exercício da prática em sala de aula é

importantíssimo que o professor tenha clareza sobre o papel da concepção da

linguagem que norteará sua práxis educativa em sala. Ao optar por uma

concepção de linguagem, o professor também estará optando por uma nova

forma de ensinar. Tem-se, assim, uma opção teórica metodológica e política de

ensino de Língua Portuguesa.

Defendemos também que para o professor estar sempre atualizado é

necessário, além de tempo para estudo, a garantia de sua formação

continuada. É necessário que os professores participem de cursos de formação

que discutam os avanços teóricos nos estudos da linguagem. O conhecimento

é um processo inacabado, pois a ciência está em constante transformação.

Os professores que estão à margem dos estudos sobre a linguagem

terão dificuldades de compreender, os documentos que norteiam o trabalho

educativo, já que novas propostas de ensino estão sendo incorporadas, a cada

ano, ao plano de curso das escolas e que muitos professores têm se esforçado

para assimilá-las, porém estas propostas ficam inviáveis sem a formação do

professor.

7

É necessária e urgente uma ampla mudança de postura quanto ao uso

da língua, visto que os alunos têm o direito de usá-la eficientemente, e a

morosidade que verificamos na transformação para um ensino que lhes

assegure a proficiência da linguagem em situação de interação comunicativa

causa-lhes graves prejuízos perante a sociedade capitalista, exigente e

competitiva como a nossa.

1.1 A Concepção de Linguagem Sócio-interacionista

De acordo com Travaglia (2009) é fundamental para o ensino de Língua

Portuguesa a maneira como o professor concebe a língua e a linguagem, pois

o jeito como se concebe a natureza da língua altera em muito o como se

estrutura o trabalho com a língua em termos de estudos. Para um bom

exercício da prática em sala de aula, é importantíssimo ter claro para o

professor o papel da concepção da linguagem, estabelecendo, a partir dela,

uma política de ensino da língua materna.

Percebemos ainda certa resistência de colegas professores às

mudanças nas práticas docentes no processo de ensino da Língua Portuguesa

ocorrem práticas pedagógicas ligadas à concepção de linguagem como

expressão do pensamento. Em muitos casos, o professor retorna às aulas de

gramáticas convencionais, ainda que compreenda as falhas desse modelo,

justamente pela dificuldade de efetuar a prática de articular a reflexão sobre os

fenômenos linguísticos à produção de sentido, ao tratamento da norma e às

necessidades de aprendizagem dos alunos.

Para a concepção a linguagem como expressão do pensamento, a

enunciação é um ato monológico, individual que não é afetado pelo outro nem

pelas circunstâncias que constituem a situação social na qual enunciação

acontece, pois a expressão se constrói no interior da mente, portanto, o modo

como o texto se constitui não depende em nada do contexto em que se insere.

8

A língua é concebida como simples sistema de normas, acabado, fechado,

abstrato e sem interferência social.

O professor que adota essa concepção de linguagem compreende que

há regras a serem seguidas para a organização lógica do pensamento e,

consequentemente, pauta seu trabalho no ensino da gramática tradicional.

Todos os conteúdos trabalhados seguem essa direção, o texto serve como

pretexto para ensinar teoria gramatical. As atividades de leitura se restringem à

mera decodificação ou repetição. Assim, ler é reconhecer o pensamento do

autor do texto e a produção textual é para colocar o pensamento em forma de

linguagem, na busca da perfeição lógica, semântica e sintática. Nesse caso, o

professor age como avaliador, sua função é apontar os desvios linguísticos da

norma padrão.

Já na concepção de linguagem como instrumento de comunicação, a

língua é vista como um código, ou seja, como um conjunto de signos que se

combinam segundo regras, e que é capaz de transmitir uma mensagem,

informações de um emissor a um receptor. Essa concepção levou ao estudo

da língua enquanto código virtual isolado de sua utilização – na fala

(estruturalismo a partir de Saussure) ou no desempenho (pelo transformacional

ismo a partir de Chomsky). Isso fez com que a Linguística não considerasse os

interlocutores e a situação de uso como determinantes das unidades e regras

que constituem a língua, isto é, afastou o indivíduo falante do processo de

produção, do que é social e histórico na língua.

Essa é uma visão monológica e imanente da língua, que a estuda

segundo uma perspectiva formalista – que limita esse estudo ao funcionamento

interno da língua – que a separa do homem no seu contexto social. O professor

adepto dessa concepção privilegia em sua prática atividades restritas ao

aspecto material da língua e as relações que constituem o seu sistema.

9

A concepção interacionista vê a linguagem como forma ou processo de

interação humana em um dado contexto sócio-histórico e ideológico, em que o

indivíduo realiza ações por meio da linguagem, agindo e atuando sobre o

interlocutor. A linguagem uma atividade construtiva, uma forma de

compreensão dos sentidos, das relações e do mundo, atividade que se faz pela

interação comunicativa mediada pela produção de efeitos de sentido entre

interlocutores.

Geraldi (2007, p. 40) define a linguagem como a interação que, ao

constituir os sujeitos é também constituída. Assim sendo, não existe linguagem

separada do sujeito que a produz e do outro a quem se destina, isto é o seu

interlocutor. Adotar essa concepção de linguagem implica uma postura

educacional diferenciada que leva em conta o diálogo e a discussão em sala de

aula onde há espaços para a crítica, a qual irá contribuir com o processo da

formação do aluno como cidadão que reflete e que lê o seu mundo.

Assim cabe ao professor a tarefa de tornar os alunos conscientes da

natureza da interação verbal. O professor é o mediador do conhecimento é

aquele que questiona, sugere, provoca reações, exige explicações sobre as

informações ausentes no texto, contra- palavra, refutando, polemizando,

concordando e negociando sentidos mediante as pistas deixadas no texto.

Dessa forma, o diálogo em sentindo amplo é que caracteriza a linguagem.

Nesse caso, a linguagem é consequência da interação e, com ela, pode-se

tornar mais concreta à possibilidade de professor e aluno adquirirem maior

proficiência no uso da língua materna.

10

1.2 Contribuições de Mikhail Bakthin e da Análise do Discurso para a leitura

A relação que o sujeito estabelece com o texto é dialógica, na medida

em que o texto é um enunciado, um discurso produzido por um sujeito

discursivo, represente de uma determinada formação discursiva. O leitor

responderá, por meio de sua memória, a um enunciado já produzido em algum

momento.

Dialogismo é o fenômeno que ocorre em todo e qualquer discurso, pois

todo enunciado é uma resposta a um enunciado já dito, seja numa situação

imediata, seja num contexto mais amplo. Não se trata aqui do diálogo entre

falantes numa situação de conversação, mas da relação do enunciado com o

que já foi dito sobre o mesmo assunto, e com o que lhe suceder na corrente

ininterrupta da comunicação verbal. A dialogia é o confronto das entoações e

dos sistemas de valores que posicionam as mais variadas visões de mundo de

um campo de visão.

Bakhtin afirma que:

A única forma adequada de expressão verbal da autêntica vida do homem é o diálogo inconcluso. A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo: interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra, e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal. (BAKHTIN, 2003, p.348)

As relações dialógicas, noção central do pensamento bakhtiniano,

estabelecem-se a partir das esferas discursivas e dos eventos nelas

implicados. São elas que produzem os olhares, os lugares discursivos, os

sentidos e, consequentemente, o conhecimento.

Vejamos a seguir três conceitos de dialogismo. O primeiro conceito é

que todo enunciado é dialógico. O dialogismo é o modo de funcionamento real

11

da linguagem, é o princípio constitutivo do enunciado. Todo enunciado

constitui-se a partir de outro enunciado, é uma réplica a outro enunciado.

Portanto, nele ouvem-se sempre, ao menos, duas vozes. Mesmo que elas não

se manifestem no fio do discurso, estão aí presentes. Um enunciado é sempre

heterogêneo, pois revela duas posições. A sua e aquela que é sua oposição.

Em sentido restrito, todo texto faz referência a outros textos já

produzidos e que fazem parte da memória social dos leitores constituindo o

fenômeno da intertextualidade. Para Bakhtin, a maioria das opiniões dos

indivíduos é social, porém o diálogo não está totalmente sujeito aos discursos

sociais, ou não haveria liberdade, já que cada ser humano é social e individual.

O segundo conceito de dialogismo cita a incorporação pelo enunciador

da voz ou das vozes de outros no enunciado. Neste caso, o dialogismo é uma

forma composicional. Bakhtin afirma que há duas maneiras de inserir o

discurso do outro no enunciado: o discurso objetivado, o qual é abertamente

alheio e o discurso bivocal, no qual não há separação muito nítida do

enunciado citante e do enunciado citado. Nesse caso, há um dialogismo

interno.

Já o terceiro conceito de Dialogismo trata-se da subjetividade que é

constituída pelo conjunto de relações sociais das quais participa o sujeito.

Bakhtin vê o sujeito como não sendo submisso às estruturas sociais, nem é

uma subjetividade autônoma em relação à sociedade, já que a realidade é

heterogênea, o sujeito não absorve apenas uma voz social, e sim várias vozes.

Portanto, o sujeito é constitutivamente dialógico. Seu mundo interior é

constituído de diferentes vozes em relações de concordância ou discordância.

Outra questão que merece ser analisada é que na polifonia o dialogismo

se deixa ver ou entrever por meio de muitas vozes polêmicas; já, na monofonia,

há apenas o dialogismo, que é constitutivo da linguagem, porque o diálogo é

12

mascarado e somente uma voz se faz ouvir, pois as demais são abafadas.

Portanto conclui-se que há distinção entre polifonia e dialogismo polifônico e a

diaologia (monofonia ou dialogismo monofônico).

Não devemos confundir dialogismo com polifonia porque há gêneros

dialógicos polifônicos (vozes polêmicas) e gêneros dialógicos monofônicos

(uma voz que domina outras vozes). A relação entre discursos, ou seja, a

incorporação de outros discursos por um dado enunciado traz a reflexão sobre

as várias vozes que se manifestam neste enunciado. Assim, o dialogismo é

concebido como um espaço de interação entre o eu e o tu, ou entre o eu e o

outro, uma vez que todo discurso vem interpelado por outras vozes.

As várias vozes presentes num enunciado podem revelar diferentes

posições ideológicas. A Análise do Discurso considera que a ideologia se

materializa na linguagem. Ela faz parte do funcionamento da linguagem

fazendo intervir na noção de discurso. Para Bakhtin, a ideologia é social e se

constrói em todas as esferas das interações: como a expressão, a organização

e a regulação das relações histórico-materiais dos homens. Sendo assim ela

pode ser vista como uma representação. Isto porque se dá na/pela linguagem.

A ideologia é compreendida como ―condição para a constituição do sujeito e

dos sentidos‖ (Orlandi,2009 p. 46). Assim, tem-se o fato de que o indivíduo,

estando diante de qualquer objeto simbólico e incumbido de interpretá-lo, irá

questionar a sua função, o significado e propósito, utilizando-se das evidências

e relacionando-se com suas condições materiais de existência. A ideologia

traça esse propósito e se coloca como função da relação do sujeito com a

língua e a história, no intuito da construção de sentido. É a relação necessária

entre a linguagem e o mundo.

13

1.3 Contribuições da Análise do Discurso Francesa

A Análise do Discurso de linha francesa nos traz contribuições importantes.

Seu objeto de estudo é o discurso.

O discurso está no plano do dizer, isto é, uma enunciação em que entram os participantes e a situação sócio-histórica de enunciação. Já o texto está no plano da esquematização ou a configuração, não se trata de uma ordenação de enunciados em sequência e sim de uma configuração global que pode ter mesmo um só enunciado ou mesmo um romance inteiro. (MARCUSCHI, 2008, p. 84).

Hoje é mais complexa a distinção entre texto e discurso, pois a

tendência é ver o texto no plano das formas linguísticas e de sua organização,

ao passo que o discurso seria o plano do funcionamento enunciativo, o plano

da enunciação e efeitos de sentidos na sua circulação sociointerativa e

discursiva envolvendo outros aspectos. Texto e discurso são duas maneiras

complementares de enfocar a produção linguística em funcionamento.

O que caracteriza a relação entre discurso e texto é que eles se

equivalem, mas em nível conceptuais diferentes. Isso significa que o discurso é

tomado como conceito teórico e metodológico e o texto, em contrapartida,

como o conceito analítico correspondente. Há, portanto, uma relação

necessária entre eles. Os textos são tomados como discursos, em cuja

materialidade está inscrita a relação com a exterioridade. O que chamamos

historicidade é o acontecimento do texto como discurso, o trabalho dos

sentidos nele. Sem dúvida, há uma ligação entre história externa e a

historicidade do texto.

Sendo o texto unidade de análise, só pode sê-lo porque representa em

contrapartida à unidade teórica, o discurso, definido como efeito de sentido

entre locutores. O texto é texto porque significa. Nesse caso, para a análise de

discurso, o que interessa não é a organização linguística do texto, mas como o

texto organiza a relação da língua com a história no trabalho significante do

14

sujeito em relação com o mundo. É dessa natureza sua unidade: linguístico-

histórica.

Segundo Orlandi, o texto é considerado

... não apenas como um ‗dado‘ linguístico (com suas marcas, organização etc), mas como ‗fato‘ discursivo, trazendo a memória para a consideração dos elementos submetidos à análise. São os fatos que nos permite chegar à memória da língua: desse modo podemos compreender como o texto funciona, enquanto objeto simbólico. ORLANDI, (2009, p. 69 e 70),

Compreender como um texto funciona e como ele produz sentidos, é

compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico, é explicitar como ele

realiza a discursividade que o constitui. Todo texto é heterogêneo: quanto à

natureza dos diferentes materiais simbólicos (imagem, som, grafia etc), quanto

às posições do sujeito. Além disso, podemos considerar essas diferenças em

função das formações discursivas: em um texto não se encontra apenas uma

formação discursiva, pois ele pode ser atravessado por várias formações

discursivas que neles se organizam em função de uma dominante.

O texto é a unidade de análise afetada pelas condições de produção e é

também o lugar da relação com a representação da linguagem: som, letra,

espaço, dimensão direcionada, tamanho. Mas é também, sobretudo, espaço

suficiente: lugar de jogo de sentidos, de trabalho da linguagem, de

funcionamento discursivo. Como todo objeto simbólico, ele é objeto de

interpretação.

Quanto à formação discursiva Orlandi afirma que:

A formação discursiva se constitui na remissão que se pode fazer de todo o texto a uma formação ideológica, de tal forma o sentido do texto se define por essa relação. Isso quer dizer que dependendo da inserção do texto em uma ou outra formação discursiva, pode-se observar uma variação de sentido, pois há diferenças nas relações distintas que cada formação discursiva mantém com a formação ideológica. Desse modo, a formação discursiva determina o que pode e o que deve ser dito a partir de certa região da formação social, a partir de certo contexto sócio-histórico. Quer dizer, todo texto tem a sua ideologia, e podemos determinar a relação do texto com a ideologia por meio da caracterização da formação discursiva da qual ele faz parte. (ORLANDI, 1996, p. 73 e 74)

15

O texto é o lugar de circulação do discurso, mostrados ou não, e o

sujeito não é a fonte do sentido, mas o constrói no trabalho incessante com o já

dito, pois o sentido não está no texto, mas sim na memória do sujeito. Todo o

valor que o sujeito apresenta no texto está na sua ideologia, sendo assim, o

sentido do texto é de um senso coletivo.

O texto não diz nada. As condições de produções são efeitos de sentido.

Não é o texto que determina a leitura, mas a posição que o sujeito leitor ocupa,

isto é, sua formação ideológica (religiosa jurídica...). Um texto só é texto

quando ele produz sentido para o leitor.

1.3 As Contribuições da Linguística Textual: Texto e Sequência Tipológica

Todo texto é formado de sequências, esquemas linguísticos básicos que

entram na constituição dos diversos gêneros. Essas sequências são narrativas,

descritivas, injuntivas, expositivas e argumentativas. Em cada uma delas há um

conjunto de características comuns em termos de estruturação, seleção lexical,

uso dos tempos verbais, advérbios e dêiticos, que permite reconhecê- las como

pertencentes à determinada classe.

As sequências narrativas apresentam uma sucessão temporal/causal de

eventos, isto é, uma situação inicial e uma situação final, entre as quais ocorre

algum tipo de modificação de um estado de coisa. Os tempos verbais que

servem para narrar são: pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais

que perfeito e futuro do pretérito do indicativo.

A sequência descritiva é um tipo de enunciado que caracteriza-se pela

apresentação de propriedades, qualidades e sua situação no espaço. Os

verbos predominantes nessa sequência são os verbos de estado e situação

que indicam propriedades, qualidades, atitudes, que aparecem no tempo

16

presente, em se tratando de comentário, e no imperfeito, no interior do relato.

Predominam articuladores espacial/situcional.

As sequências expositivas têm-se a análise ou síntese de representação

conceitual numa ordenação lógica. Os tempos verbais são: presente do

pretérito simples e composto e futuro do presente. Os tempos verbais são os

do mundo comentado e os conectores, predominantes, do tipo lógico.

As sequências injuntivas apresentam prescrições de comportamentos ou

ações sequencialmente ordenados. Vem representada por verbos no

imperativo, infinitivo ou futuro do presente e articuladores adequados ao

encadeamento sequencial das ações prescritivas.

2 Breve estudo sobre gêneros do discurso

2.1 Definição de crônica

A crônica é um texto em geral curto, que faz o registro do cotidiano – fatos,

sensações, impressões – mostrando ora seu lado pitoresco ou cômico, ora seu

lado comovente, poético. As crônicas são, em geral, escritas para colunas que

os escritores mantêm em jornais ou revistas, só depois é que costumam ser

reunidas em livro.

Tipos de crônicas

– Crônica-Diálogo – quando o cronista e seu interlocutor se revezam trocando

pontos de vista e informações (ex.: Carlos Drummond, Fernando Sabino).

– Crônica Narrativa – quando apresenta alguma estrutura de ficção,

semelhante ao conto (ex.: Ruben Braga).

17

– Crônica Exposição Poética – quando faz uma divagação sobre um

acontecimento ou personalidade, tecendo uma série de associações (ex.:

Paulo Mendes Campos).

– Crônica Biográfica Lírica – narrativa poética da vida de alguém (ex.: Paulo

Mendes Campos).

Coutinho descreve cinco:

– Crônica narrativa – quando se desenvolve em torno de uma estória ou de um

episódio, o que a aproxima do conto (ex.: Fernando Sabino)

– Crônica metafísica – quando o autor tece reflexões filosóficas sobre

acontecimentos ou homens (ex.: Machado de Assis e Carlos Drummond)

– Crônica poema-em-prosa – de conteúdo lírico, seria o ―extravasamento da

alma do artista‖, povoada de ―episódios cheios de significados‖ (ex.: Rubem

Braga, Manuel Bandeira, Raquel de Queiroz)

– Crônica-comentário – o autor chama-a ―bazar asiático‖ (usando expressão de

Eugênio Gomes), pois trata de vários assuntos diferentes (ex.: Machado de

Assis e José de Alencar)

– Crônica-informação – esse tipo se aproximaria mais do sentido etimológico,

por divulgar os fatos, comentando-os ligeiramente. Massaud Moisés comenta

dois tipos de crônica, baseado na questão da ambiguidade do gênero:

– Crônica-Poema – prosa emotiva que chega ao verso (Carlos Drummond).

– Crônica-Conto – o cronista narra um acontecimento que provoca sua atenção

como se fosse um conto. (CADERNOS DO CNLF, 26 VOL. XII Nº 07)

2.2 Receita/Poesia

A receita pertence a um gênero textual muito veiculado socialmente.

Trata-se do texto instrucional presente nas bulas dos remédios, nas receitas de

comida, nas instruções de jogos, de como usar aparelhos eletroeletrônicos, e

como utilizar novos programas de computador, etc.

18

O gênero receita tem uma estrutura bem simples, habitualmente, com

verbos no modo imperativo (misture, adicione, sirva…) ou com verbos no

infinitivo (misturar, preparar…) o que permite ao sujeito aprender a manusear

ou a fazer determinada ação a partir de sua leitura. Essa é a intenção: ensinar

a preparar um prato diferente, ensinar como tomar o remédio (bula). Daí a

importância da estrutura desses gêneros textuais, pois o modo como estão

diagramados podem contribuir para facilitar a tomada de decisões.

É essa estrutura que podemos observar no texto Receita para se fazer

um herói. O tipo textual é injuntivo, pois aprensenta os verbos que indicam

procedimentos a serem realizados. Nesse texto, a forma, geralmente, é no

modo imperativo.

O poema de Reinaldo Ferreira faz uma referência "implícita" às receitas

culinárias - a referência não é clara, direta, a nenhuma receita em específico,

mas o modo como o texto é construído lembra as tais receitas.

No texto Receita para fazer um herói, temos um gênero (poema/música

– esfera literária) com o formato de outro (receita - esfera cotidiana). Nesse

caso, temos a intergenericidade, que de acordo com Koch (2006), é um

fenômeno de hibridização, de mistura de gêneros ou de intertextualidade

intergêneros. Em outras palavras, um gênero com a função do outro. Nessa

produção textual o trabalho do autor se evidencia na mobilização de duas

formas composicionais para fazê-las funcionar simultaneamente superposta

uma à outra: uma poesia construída sob forma de receita.

2.3 Parábola

A parábola é uma narrativa curta e alegórica. Essa alegoria, por sua vez,

é um discurso que se faz, mas entende outro. Sua construção depende de

19

situações e pessoas para comparar a ficção com a realidade e por meio dessa

comparação transmitir uma lição de sabedoria, isto é, a moral da história.

A parábola evangélica é uma forma de transmissão de conhecimento,

muito utilizada na antiguidade. Baseava-se em histórias, cujo conteúdo

revelava um ensinamento moral e ético. Elas dizem respeito às histórias

contadas por Jesus para fixar os seus ensinamentos e estão inseridas no Novo

Testamento. Exemplo: Parábola dos Talentos, Parábola do Joio e do Trigo.

Esses gêneros textuais também podem ser definidos como cenas tiradas do

cotidiano para fazer compreender e fixar as verdades da vida espiritual.

Encontramos na bíblia a explicação que Jesus faz a respeito da

parábola. O texto consta no livro de São Marcos capítulo 4 versículos 10-12

com o título O porquê das parábolas:

10 Ao ficar só, os que O rodearam, junto com os dozes, perguntaram-Lhe o sentido da parábola. 11 Respondeu-lhes: ―A vós é dado conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos que estão de fora tudo se lhe propõe em parábolas, 12 para que ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, ouçam e não compreendam, não vão eles converter-se a ser-lhes perdoado. (MARCOS, 4, 12-10)

Segundo Orlandi, (1996, pp. 243 - 262), no discurso religioso a voz de

Deus fala-se no padre, ou seja, o padre é o representante que fala do lugar de

Deus e transmite Seus discursos. O poder da Palavra na religião é evidente,

pois Deus é o Sujeito que institui, interpela, ordena, regula, salva, condena,

enquanto os homens são sujeitos que respondem, pedem, agradecem,

desculpam-se, exortam, etc.

As orações, em grande parte, apresentam a seguinte construção

composicional: exortação, enlevo e salvação. Outros recursos linguísticos

utilizados nos discursos religiosos são: o uso do imperativo e do vocativo; o uso

das metáforas, sendo possíveis várias leituras; procedimento análogo a esse é

20

o das citações em latim que depois são traduzidas por perífrases extensas e

explicativas; o uso de sintagmas cristalizados (as orações), etc.

2.4 Carta

Primeiramente vale lembrar que grandes amizades foram construídas e

alimentadas apenas por meio de cartas. Essa prática de dialogicidade que se

manifesta das relações interativas entre os interlocutores; um que responde à

carta que recebe (a contra-resposta), e o que responde ao que nela sugere,

(um interlocutor que partilha de conhecimentos envolve-se afetivamente,

confidencia e é também um confidente, atribui ao que ali é anunciado um

sentido, recortado, inclusive, pelas relações de afetividade).

É nesse jogo dialógico que está subentendido essa atividade interativa:

escreve para ser correspondido. Em suma, no espaço da abertura do evento,

no qual se inclui a saudação, onde se abre o diálogo propriamente dito, dá-se a

discursividade enunciativa dos interlocutores: remetente e destinatário. Bakhtin

(2003, p. 263), considerando a carta pessoal e íntima como um gênero

primário, pelo fato de as práticas comunicativas desses gêneros dialógicos que

se originam da problemática que contempla a interação entre os sujeitos, como

o lugar da produção da linguagem e da constituição dos próprios sujeitos.

A estrutura composicional da carta pessoal possui a abertura do evento,

o corpo da carta e encerramento. Esses elementos estão ligados, sobretudo,

como sinal dialogal e dialógico desse gênero, em termos discursivos

interativos. Eles sinalizam o início ou o fim do texto. O Cabeçalho é um fator

contextualizador do evento comunicativo ou, melhor dizendo, fundamenta o

texto na situação comunicativa no que diz respeita à origem

(topológico/geográfica) e à época em que o texto foi produzido. Já a saudação

e vocativo são sequências discursivas que abrigam rotinas comunicativas que

se caracterizam como verdadeiras estratégias interativas introdutórias da

atividade de interlocução; visam, ainda, a expressar uma atitude de polidez do

21

remetente para com o destinatário e, como já visto, indicam a natureza do

relacionamento dos interlocutores.

No espaço discursivo em que são expressos os votos de saúde e paz, o

sentimento de saudade, as desculpas pela demora da correspondência; a

indicação do recebimento da carta e, muitas vezes, a explicitação da finalidade

da carta enviada indica o interesse em revelar recebimento do evento

comunicativo. Já o pré-encerramento é o espaço em que o escrevente anuncia

para o seu interlocutor que o encontro em curso está findando. Geralmente são

selecionadas fórmulas linguísticas relativamente estereotipadas, que permitem

ao destinatário identificar esse momento da interação verbal. Aí também se

caracteriza o momento da revitalização do contrato comunicativo firmado pelos

correspondentes: a demanda da contra – resposta.

Na despedida, utiliza-se de recursos linguísticos que formalizam o fecho

da interação, por meio de rotinas comunicativas que expressam uma

afetividade entre os interlocutores. Vale reiterar que tanto a despedida como a

saudação são sequências discursivas por meio das quais se podem inferir a

qualidade das relações interpessoais entre os correspondentes. Assinatura é a

unidade que, simbolicamente, pretende deixar clara a autoria do texto, que

equivale a avalidação do que foi ali enunciado, escrito.

3 Atividades de Leitura

Com base na perspectiva teórica apresentada, durante o processo de

leitura, trabalharemos inicialmente com o conhecimento prévio que o professor

tem sobre leitura para, em seguida, acrescentar conhecimento teórico sobre

aquilo que ele ainda não sabe.

De acordo com as DCE a prática da leitura em diferentes contextos requer

que se compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos

22

e circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do

discurso. Por isso, quanto maior o contato com a linguagem, nas diferentes

esferas sociais, mais possibilidades se tem de entender o texto, seus sentidos,

suas intenções e visões de mundo. Nosso trabalho terá o foco na leitura de

alguns gêneros em diferentes esferas.

Texto 1 – Leitura da crônica “No aeroporto” de Carlos Drummond de Andrade.

No aeroporto

Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três

horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos

entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre

tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro

seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de

pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de

gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu

sistema.

Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria

para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi

secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu

sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções

para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua.

Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso

(encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.

Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários

especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados

especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências

e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor

23

das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas

horas de sono – e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia –

eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz

para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria

com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus

sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para

violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram

à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções

no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.

Objeto que visse em nossa mão, requisitava-o. Gosta de óculos alheios

(e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de

escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas

para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-

las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido

que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas

pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que

afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus

atos.

Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os

cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com

ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro

que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria

desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas

eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia

caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.

Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de

um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto

ficou vazio.

24

ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p.1107-1108. Ministério da Educação Programa de Formação de professores alfabetizadores. Coletâneas de texto. Site: WWW.scribd.com/... Programa-de-formação-de-professores.

1 Leitura Silenciosa do texto “No aeroporto” de Carlos Drummond de Andrade Questionamentos sobre as condições do texto

2 Releia o texto ―No aeroporto‖ e complete o quadro abaixo

Época que

foi produzido

Lugar de

produção

Esfera a

que

pertence

Suporte Sujeito

produtor do

texto

A quem se

destina o

texto

Questionamentos sobre o gênero

1. Como você identifica a temática desse texto?

2. O que você sabe sobre a crônica? Quais são as características desse gênero?

3. 4. Quem são os sujeitos discursivos do texto ―No Aeroporto‖?

Exploração dos recursos linguísticos

1. Por se tratar de uma crônica, predomina um tipo de sequência linguística. Com esta estrutura essa sequência predominante?

2. Como se dá a relação dialógica nessa crônica?

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3. Para compreender a crônica, é necessário ter um conhecimento compartilhado com o dizer do enunciador. Que conhecimento é esse?

4. A crônica geralmente é um texto curto e leve, escrito com objetivo de divertir o leitor e /ou levá-lo a refletir criticamente sobre a vida e o comportamento humano. Como estes dois objetivos estão presentes na crônica escolhida?

5. Pelos elementos linguísticos: TV, música, aeroporto, que situação sócio-

cultural você verifica em relação ao sujeito discursivo?

6. Analise a linguagem empregada na crônica.

7. A repetição de termos é uma forma recorrente de progressão textual. Que

função assume no texto, a repetição da palavra especial, no terceiro parágrafo?

Texto 2 - Leitura do poema “Receita para se fazer um herói” de Reinaldo Ferreira

Receita para se fazer um herói

Pega-se um homem,

Feito de nada como nós,

Em tamanho natural;

Embebe-se-lhe a carne

De um jeito irracional

Com a fome, com o ódio.

Depois, perto do fim,

Levanta-se o pendão

E toca-se o clarim...

Serve-se morto.

Reinaldo Ferreirar. Em LP do grupo Ira. In Mattos, Geraldo, Português: 2 grau,1-2/ G. Mattos & L. Megale, São Paulo: Ed. FTD, 1990, p.17.

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1 Leitura silenciosa da receita/poema “Receita para se fazer um herói” (Reinaldo Ferreira)

Questionamentos sobre as condições do texto

2 Releia o texto ―Receita para se fazer um herói‖ e complete o quadro abaixo

Época que

foi produzido

Lugar de

produção

Esfera a

que

pertence

Suporte Sujeito

produtor do

texto

A quem se

destina o texto

Questionamentos sobre o gênero

1. O autor do texto não tem como escrever sobre coisas que ele desconhece por isso a escolha do tema é fundamental. Que tema você identifica ao ler o texto?

2. Como você justifica o título desse poema?

3. Os gêneros possuem uma forma de composição. Como se constitui uma receita culinária?

4. O que significa cada etapa da receita?

5. Que relação tem a receita culinária com o poema lido?

6. Pesquise outros textos que apresentam componentes de intergenericidade e observe se apresentam características de textualização.

27

3 Exploração dos recursos linguísticos

1. Modo verbal é a atitude que o falante toma diante de uma situação comunicativa. Quando usa o modo indicativo, ele está se posicionando com certeza na situação comunicativa, quando usa o modo subjuntivo, está expressando dúvida, hipótese e quando usa o Imperativo é para expressar ordem, pedido, conselho, desejo que seu interlocutor faça algo. Releia o texto e verifique o modo verbal que foi usado e explique o explique o efeito de sentido produzido.

Texto 3 - Leitura da parábola do cego que guia outro cego – Lucas 6, 39-41

A parábola do cego que guia outro cego

39 Propôs-lhe também uma parábola: Pode por ventura um cego guiar outro

cego? Não cairão os dois num buraco? 40 O discípulo não está acima do que o

mestre; porém, se for bem instruído será como o seu mestre. 41 Por que vês tu

o argueiro que está no olho teu irmão, porém não reparas na trave que está no

teu próprio olho? 42 Como podes dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o

argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita,

tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro

que está no olho de teu irmão.

Centro Bíblico Católico Edição Claretiana, São Paulo: 22ª edição, Ed. Ave Maria, 1976, p. 1355. Lucas 6, 39-41.

1 Leitura silenciosa do texto - A parábola do cego que guia outro cego

Questionamentos sobre as condições de produção do texto

28

2 Releia o texto ―A parábola do cego que guia outro cego‖ e complete o quadro abaixo Época que

foi produzido

Lugar de

produção

Esfera a

que

pertence

Suporte Sujeito

produtor do

texto

A quem se

destina o

texto

Questionamentos sobre o gênero

1. O Evangelho de São Lucas narra as pregações da doutrina de Cristo aos seus discípulos. O que e quem Cristo critica nessa parábola?

2. Os recursos enunciativos para a construção do discurso são polifônicos, uma vez que a parábola ―O cego que guia outro cego‖ comporta várias vozes. Quantas e quais são as vozes presentes na parábola?

Exploração dos recursos linguísticos

1. Na composição do gênero deve-se levar em conta a forma como o texto está organizado, a distribuição das informações, a seleção lexical, o uso dos tempos verbais, etc. Comente o tempo verbal e por que predomina esses verbos na parábola escolhida.

2. Quem são os sujeitos da parábola, a quem Jesus denomina de ―hipócritas‖?

Texto 4 – Leitura da Carta a D. Pedro I (D. Pedro de Alcântara)

29

Carta de D. Pedro I

Meu querido filho, e meu imperador:

Muito lhe agradeço a carta que me escreveu, eu mal a pude ler, pois que as lágrimas

eram tantas que me impediam a ver; agora que me acho, apesar de tudo, um pouco mais

descansado, faço esta para lhe agradecer a sua, e para certificar-lhe que enquanto vida tiver as

saudades jamais se extinguirão em meu dilacerado coração.

Deixar filhos, pátria e amigos, não pode haver maior sacrifício; mas levar a honra

ilibada, não pode haver maior glória. Lembre-se sempre de seu pai, ame a sua mãe, e a minha

pátria, siga os conselhos que lhe derem aqueles que cuidarem da sua educação, e conte que o

mundo o há de admirar, e que me hei de encher de ufania por ter um filho digno da pátria.

Eu me retiro para a Europa: assim é necessário para que o Brasil sossegue, e que Deus

permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz.

Adeus, meu amado filho, receba a bênção de seu pai que se retira saudoso e sem mais

esperanças de o ver.

Ass. D. Pedro de Alcântara

Bordo da Nau Warspite

12 de abril de 1831

30

In: João Armitage, História do Brasil. Rio de Janeiro: Zélio Valverde, 1943, p. 313. OLIVEIRA, GabrielaRodella de, Português: a arte da palavra, 6º. 1ª. Ed. São Paulo: Editora AJS Ltda, 2009, p. 118.

1. Leitura silenciosa do texto – Carta a D. Pedro I

Questionamentos sobre as condições de produção do texto

2 Releia o texto ―Carta a D. Pedro I‖ e complete o quadro abaixo Época que

foi produzido

Lugar de

produção

Esfera a

que

pertence

Suporte Sujeito

produtor do

texto

A quem se

destina o

texto

Questionamentos sobre o gênero

1. Qual a finalidade da carta enviada?

2. Essa é a primeira carta trocada entre eles?

Exploração dos recursos linguísticos

1. A partir dos estudos das sequências tipológicas vamos agora identificar quais as são as sequências predominantes nessa carta pessoal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esperamos que, com essa unidade didática possamos contribuir para a

formação do professor de Língua Portuguesa do Colégio Estadual José

Sarmento Filho de Iretama. Que o professor passe a discutir com seus alunos

quais os efeitos de sentido que um texto pode produzir e quais as condições de

sua produção. É importante lembrar que os gêneros que circulam na sociedade

e estabelecem relação com determinadas esferas discursivas. As DCE

preconizam que o Conteúdo Estruturante da Língua Portuguesa é discurso

como prática social. A partir dele, advêm os conteúdos básicos: os gêneros

discursivos a serem trabalhados nas práticas discursivas em sala de aula.

32

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

COLOMER, Teresa; Camps, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Diretrizes Curriculares do Estado do PARANÁ – Língua Portuguesa – SEED/2008. GERALDI, João Vanderley. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2007.

KOCH, Ingedore G V.; Elias Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 3ª. Ed 2009.

______________ Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. As tramas do texto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça, Luiz Carlos Travaglia. Texto e coerência 5. ed. – São Paulo: Cortez, 1997.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

POSSENTI, Sírio. Os limites do discurso: ensaios sobre discurso e sujeito. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso 4ª. Ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 1996. ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos , São Paulo: Pontes, 2009.

_________ Discurso e leitura. São Paulo: Cortez; Campinas, Sp: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1996.

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ROJO, R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: Gêneros: teorias, métodos e debates. Meurer, J. L.; Bonini, A; Motta-Roth, D. (orgs.). São Paulo: Parábola Editorial, 2005, p. 184-207.

ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

ROJO, Roxane, Batista, Antonio Augusto Gomes. Livro didático da língua portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2003.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2009.

ZILBERMAN, Regina e SILVA, Ezequiel Theodoro (orgs).Leitura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1988.

www.ich.pucminas.br/posletras/05.pdf 7/8/2011 às 22h.