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Luz sobre o México – ii PentagramA Revista Bimestral d o Lectorium Rosicrucianum 2006 número 1 O HOMEM TEM A RELIGIÃO NO SANGUE OS GRANDES PERÍODOS A TUMBA DE PACAL VOTAN O JOGO DE BOLA DOS MAIAS A CRONOLOGIA DOS MAIAS OS MAIAS MODERNOS O MISTÉRIO DO CHAC MOOL QUETZALCOATL

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Luz sobre o México – ii

PentagramARevista Bimestral do Lectorium Rosicrucianum 2006 número 1

O HOMEM TEM A RELIGIÃO NO SANGUE

OS GRANDES PERÍODOS

A TUMBA DE PACAL VOTAN

O JOGO DE BOLA DOS MAIAS

A CRONOLOGIA DOS MAIAS

OS MAIAS MODERNOS

O MISTÉRIO DO CHAC MOOL

QUETZALCOATL

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PENTAGRAMA

SUMÁRIO

2 O HOMEM TEM A

RELIGIÃO NO SANGUE

7 OS GRANDES PERÍODOS

14 A TUMBA DE PACAL

VOTAN

18 O JOGO DE BOLA

DOS MAIAS

22 A CRONOLOGIA

DOS MAIAS

25 OS MAIAS MODERNOS

29 O MISTÉRIO DO

CHAC MOOL

31 QUETZALCOATL

ANO 28NÚMERO 1

Tema deste número:

Luz sobre o México – 11

Os maias conheciam 17 calendários que, na maioria,

eram baseados no curso das estrelas e planetas.

Esses calendários cíclicos eram sincronizados,

pois ajustavam-se como as engrenagens de um relógio…

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Acredita-se que o desenvolvimentoda humanidade seja presidido porgrandes forças espirituais. O esoteris-mo moderno fala de seres sublimespossuidores de uma força espiritual ex-cepcional que, ao guiar certos povosem seus empreendimentos, estão, porsua vez, evoluindo. Outrora já se sabiadisso, e esse conhecimento se expressa-va numa fé positiva: cada povo tinhaseu próprio deus e obedecia à sua von-tade e às suas leis. Assim também foino México. O Popol Vuh tambémaborda esse tema.

odemos lamentar o fato de nós, ho-mens atuais, encontrarmo-nos tãovoltados para o exterior, privando-nosassim da inspiração direta das forçasespirituais. Na maioria das vezes, tu-do aquilo que experimentamos inter-namente – se é que isso acontece – nãopassa de uma reação àquilo que noscerca.

Do nosso interior mesmo provémmuito pouco, porque todos os nossosórgãos dos sentidos estão voltadospara absorver o meio-ambiente. Alémdisso, nossa capacidade de “dar”, deirradiar, encontra-se muito latente.Conseqüentemente, a fonte de Amore de verdadeiro auxílio não podeainda fluir em nós.

Contudo, há um impulso que po-deria às vezes aflorar à consciência dohomem atual, independente de seumeio, uma “voz” provinda de umapura atmosfera de paz que poderia

tocá-lo com suas expressões de har-monia e liberdade.

Desenvolvimento nem sempre é progresso

Em nossos dias, considera-se primi-tivos os povos que admiram Deuscom ingenuidade infantil e cujosmembros são fortemente ligados porsua religião. Os ensinamentos da reli-gião cristã contribuíram grandementepara isso. O homem ocidental tam-bém conhece a religiosidade, mas suaatitude é diferente perante sua igrejaou sua fé. Para ele, elas não constituemuma necessidade vital, mas somentesecundária. Muitas vezes ela é mantidasomente pelo desejo de assegurar umcerto modelo social, uma cultura ele-vada e o amor por uma conduta reta.Para essas pessoas, o que conta antesde tudo é o desenvolvimento indivi-dual. Contudo, o que traz esse desen-volvimento? No melhor dos casos,uma boa educação e, portanto, umaboa capacidade de raciocínio, inteli-gência e habilidades sociais. Amizadese bom gosto são importantes. Ou seja,o que demonstramos exteriormente, oque queremos que os outros vejam. Ooutro lado, as preocupações e dificul-dades, não é bem vindo e, evidente-mente, é negado. No entanto, ele estápresente e desempenha, de modoinconsciente, um grande papel.

Tudo está em desenvolvimento, eisto é encorajador para o futuro. Masnão somos sonhadores. Desenvolvi-

P

Escada com

cabeça de serpente,

na pirâmide de

Quetzalcoatl

O homem tem a religião no sangue

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mento, sim, mas, e progresso? Quan-to progrediu o homem interiormente?Terão “seus sentimentos e emoções”se transformado no decorrer dos sécu-los e dos milênios? Será que ele se tor-nou mais nobre, menos egoísta, maishumano? Será que, nas entrelinhas deuma discussão, o ouvido percebe osuspiro não expressado de seu próxi-mo? Será que os olhos vêem no outroa dor, não a dor do desconforto, mas ador que provém da negação do verda-deiro ser humano?

De todos os sentimentos e emoçõesque, desde sempre e em incessantealternância, afetam o homem, absolu-tamente nada desapareceu. Todasessas emoções se tornam sucessiva-mente ativas por turnos; compulsivase exigentes diante da consciência, sub-jugam o homem, que suporta tudoisso. Ele é ainda bastante passivo.Uma emoção surge em uma fração desegundo. O sangue ferve, o sentimen-to cresce até o paroxismo, depoisdesaparece e é relegado a segundo pla-no, antes que uma nova comoção oinvada. Às vezes, uma ligeira pertur-bação passa como uma nuvem, semque ele seja abalado. Mas, freqüente-mente, sobrevém um temporal, ou atémesmo um furacão. E, tal como oscampos e as planícies, a paisagem daalma humana aguarda até que a tor-menta se acalme, não sem antes sofreras conseqüências. E toda vez que issoacontece o sangue deve assimilar no-vas energias, o fluído nervoso deve a-paziguar-se, e tudo isso até que a facul-dade de regeneração esteja esgotada.Então, a vida é novamente devolvida àgrande vida, de onde ela se originou.Em quê isso faz o homem avançar?

O sangue é mágico

Todos nós conhecemos e experi-

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Tornar-se gnosticamente consciente é realizaruma pura unidade da alma renascida com oEspírito. Tal é a idéia central verdadeira. Desse sangue, o sangue de Jesus, o Cristo, é que deveis viver. Esse sangue deve ser recolhido pelo fígado. Esse sangue deve ser inalado por vós. Desse sangue deveis ser e viver.Esse sangue é a Gnosis, que vos chama. Esseprincípio é denominado sangue porque ele deveser absorvido pelo coração na qualidade deforça-luz, fazendo que o sangue mude.Esse sangue, essa força-luz, deve, em seguida,substituir o princípio de vida central, a fim deque, dessa força-luz, um homem totalmentenovo se eleve no campo da ressurreição.

Catharose de Petri, O Verbo Vivente

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mentamos essas emoções que têmsuas raízes no sangue. Por isso é dito:o sangue é a alma. Ou ainda: a almareside no sangue. Basta perdermosdois litros e meio de sangue para ren-dermos a alma. Nosso corpo contémde cinco a seis litros de sangue ao quala vida está intimamente ligada. Pormeio dessa “seiva especial” que carre-ga as qualidades hereditárias dos paise avós expressa-se também o caráter ea história do indivíduo sob a forma detalentos e limitações. Aquele que de-seja influenciar positivamente sua vi-da no sentido de um desenvolvimen-to espiritual deve transformar-se até osangue. Isso é algo fácil de dizer, po-rém difícil de fazer, porque o sangue écomo um espelho que reflete na cons-ciência tanto o mundo exterior comoo interior. O mundo exterior é, pois, oreflexo daquilo que está no homem.Não poderia ser diferente. Quando avoz da energia original ressoa nohomem, uma das funções do sangue éa de intensificá-la. Portanto, tudodepende de sua orientação. Se ele sevoltar para a energia original, todas asqualidades divinas poderão se mani-festar! Ao lado das funções biológi-cas, o sangue possui uma função má-gica: assimilar tanto a energia espiri-tual positiva como a energia negativae transformá-las em impulsos saluta-res ou nefastos.

A Escola Espiritual da RosacruzÁurea fala acerca de uma força miste-riosa. O próprio cristianismo primiti-vo servia-se da expressão “o sanguepurificador de Jesus Cristo”. O indi-víduo que estava profundamente liga-do a esse sangue vivia uma vida desabedoria e de serviço ao próximo,voltada para o reino dos céus. Cristoé o símbolo do homem que aceita, atéas últimas conseqüências, ser inspira-do pela força do Espírito e que dá a

sua vida para segui-la. A partir daí,cada um pode participar da liberdadeinterior. À medida que a nova forçaatua, as eventuais barreiras se afastam,de modo a apagar do sangue até mes-mo as reações negativas.

Mesmo os ensinamentos mutiladosque restaram do Novo Testamentofalam “da liberdade do Evangelho”.Podemos ver o que os séculos poste-riores fizeram desses ensinamentos:embora a força libertadora tenha seligado à terra pelo sacrifício simbólicodo sangue de Jesus, é-nos dito que, nofundo, somos pervertidos e que éprova de impiedade confiarmos emnossa própria força – isto é, na forçaoriginal em nós –, nós que, na condi-ção de “pequenos mundos”, fomoscriados à imagem de Deus!

Essa essência espiritual chegou àatmosfera simultaneamente no Ori-ente Médio e na América Central,destinada a tocar o sangue e o coraçãodos homens. Há alguns milhares deanos, a lembrança dos grandes envia-dos da época atlante ainda vivia namemória dos povos das Américas.Eles deram ao homem uma edificantereligião do coração: “Eleva teu cora-ção ao mundo divino, tenta manter-tesempre sob a inspiração e o exemplodos grandes enviados; não mergulhesapenas na vida terrestre e aprende co-mo teu coração pode crescer e desen-volver-se, mediante a assimilação, emteu sangue, das energias divinas”.

Essa colaboração fornecia, acimade tudo, alimento aos deuses, pois opoder radiante do sangue, mantidopelos antigos sacerdotes, era a princi-pal fonte de sustentação dos deuses;eles viviam de todas as manifestaçõesda vida de sentimentos e emoções dosseres humanos. Contudo, as energiasdivinas originais passaram para se-gundo plano devido à perversão dos

Fonte interior

de um edifício

governamental na

praça Zócalo,

Cidade do México.

Ela é ornada de um

cavaleiro que cavalga

um cavalo alado.

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sacerdotes e às suas artimanhas. Seualvo maior degenerou em pura auto-conservação, com a conseqüente lutapelo poder.

Talvez assim tenham surgido ossacrifícios humanos, a imolação decrianças, de escravos e de prisioneirospolíticos, de quem, segundo os espa-nhóis, eram retirados o coração e osangue. Se essas práticas execráveiseram reais, então elas constituem ooposto sinistro daquilo que simboli-camente aconteceu no Gólgota.

De alguns sacerdócios posteriores –até mesmo nos dias atuais – é dito quedesfiguraram intencionalmente a es-sência do mistério do Gólgota, e as-sim diziam: “Nós, que somos a exten-são dos deuses, tomamos teu coração,se preciso literalmente, e dele fazemosuma oferenda”.

A transformação do sangue

A oferenda simbólica que o ho-mem faz de si mesmo torna supérfluatoda magia que liga à terra.

Essa oferenda purifica a atmosferade vida e torna a força crística sempremais operante.

Lentamente, a terra se transforma:o novo impulso espiritual na atmosfe-ra ligado a Cristo já não cessará deatuar. É possível que sobrevenhamperíodos em que os homens esque-çam seu nome e tudo quanto sucedeuoutrora. Contudo, a mudança atmos-férica teve início. O homem estápronto para a liberdade interior, e aalcançará.

Não existe verdadeira mudançasem que o sangue, a base da consciên-cia, também mude. E essa modifica-ção da qualidade sanguínea, do cará-ter da pessoa e de sua alma, requertempo. Primeiro faz-se necessária aintervenção de um impulso que, co-

mo o fermento na massa do pão, acio-ne o processo. Esse impulso não pro-vém de nossa natureza. Se esse fosse ocaso, a humanidade sem dúvida játeria há muito tempo realizado odesenvolvimento da alma. Esse era omistério cristão que o cristianismognóstico original conhecia e que man-teve em segredo. O sangue de Cristotransformou o coração da terra e,portanto, transformou, de modo po-sitivo e para sempre, a humanidadeinteira. Isso está se tornando visívelno mundo todo. Quem volta sua aten-ção para esse impulso participa, emsentido absoluto, da vida universal queestá sempre associada a ele, Cristo.

Esse é um impulso puro, proveni-ente do campo de vida original, que osangue com vida espiritual irradia. Es-se impulso se opõe diametralmente ànatureza da própria força de autocon-servação. Ele é um princípio de radia-ção, de propagação de Luz e de Amor.Então, é possível falar de um choquequando o homem, pela primeira vez,experimenta essa força!

Caso ele reaja positivamente, ini-cia-se um processo extraordinárioque denominamos “mudança funda-mental”, ou, ainda, a “grande revolu-ção”, processo esse totalmente inde-pendente das condições externas ousociais. Trata-se de uma profundamudança interior, uma mudança no“sangue do coração” do homem.

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Os grandes períodos

m nossos dias, a ciência adota aidéia de que um big bang primordial,ocorrido há aproximadamente 13,7bilhões de anos, deu origem ao Uni-verso. Certos ramos da ciência mo-derna presumem que por detrás doUniverso visível existam outros Uni-versos diferentes. As descrições e nar-rativas esotéricas falam de sete Uni-versos concêntricos que são a mani-

festação das sete energias criadorasoriginais do Logos. A Bíblia tambémfala dos sete dias simbólicos da Cria-ção, do Espírito que pairava acima daságuas, do caos antes da manifestação edo Verbo que era no princípio.

A verdade nos mitos e lendas

É numa linguagem simbólica que

Pintura mural

de Diego Rivera

(1886-1957), no

Palácio Nacional

em Zócalo, a

principal praça da

cidade do México,

representando

cenas históricas.

No meio, vemos

dois dos três

principais animais

dos mistérios: a

águia segura em

seu bico uma

serpente.

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E

Quase todas as narrativas sobre a Criação, as lendas, os mitos e as pesquisasesotéricas que se referem à Criação do Universo fazem referência às diferentesondas de desenvolvimento, às eras, aos imensos períodos e às civilizações.

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as narrativas e mitos apresentam aCriação. Os aspectos materiais daCriação, em suas diversas gradações –que para a ciência materialista são oponto de partida – são, em certamedida, nesses mitos e lendas, o resul-tado final. Nesses mitos ocorremestágios preliminares de desenvolvi-mento em que elementos ainda maissutis que o gás penetram com suaradiação ou seu efeito magnéticotodos os átomos materiais.

No Popol Vuh é dito: “Outrora,havia somente o Universo em repou-so... Só existia o céu... Nada havia

ainda sido ligado. Ainda nada havia seerguido. Só existia a serenidade daágua, a tranqüilidade do oceano, soli-tário, silencioso.... Na escuridão danoite, os criadores encontraram-se epronunciaram a palavra”.

Uma canção polinésia sobre aCriação diz o seguinte: “No princí-pio, havia somente o vazio. Nem astrevas, nem a luz, nem o mar, nem osol, nem o céu existiam. Tudo eraum grande vazio silencioso e imóvel.Em seguida, o vazio se pôs em movi-mento...”

A epopéia mesopotâmica da cria-

Mapa detalhado

de Tenochtitlã,

capital do reino

asteca, 1475 d.C.

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ção exprime-se da seguinte forma:“Quando, no alto, o Universo aindanão havia sido nomeado e, embaixo, aterra ainda não tinha nome, sozinhos,Apsu, o Ancião, o genitor, e Ti’amat,a matriz, que tudo gerou, mesclaramsuas águas; quando ainda não haviasido formado nenhum pântano, nemencontrada nenhuma ilha, e nem sur-gido e nem sido nomeado um só deus,nem designado a eles um destino,então de seu seio os deuses foramcriados...”

Em uma narrativa da Criação noCorpus Hermeticum está escrito:

“Um dia, estando eu refletindo sobreas coisas essenciais e tendo o meucoração se exaltado ... me pareceucomo se visse um impressionante ser,de contornos indeterminados, cha-mar-me pelo meu nome e dizer-me:‘Que é o que queres ouvir e ver, e oque queres aprender e conhecer emteu Nous?’ Perguntei: ‘Quem és?’ Erecebi como resposta: ‘Sou Pimandro,o Nous, o Ser que é de Si mesmo’. ...Com essas palavras o seu aspecto mu-dou, e logo a seguir tudo se tornouimediatamente claro para mim; e tiveuma visão prodigiosa; tudo se trans-

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formou numa serena e deleitosa Luz,e eu me deliciava sobremaneira à suavisão. Pouco depois, surgiu, numaparte dela, horrível e sombria escuri-dão, que se movia para baixo e giravaem espirais tortuosas, tal como umaserpente, segundo me pareceu. Então

essa escuridão transformou-se numanatureza úmida e indizivelmente con-fusa, da qual se levantou uma fumaçacomo a que provém do fogo, ao passoque ela produzia um som como deum indescritível gemido. ... Então, daúmida natureza ressoou um grito, umchamado sem palavras, ... enquantoque da Luz se propagou um santoVerbo ... ‘Dirige agora o teu coraçãopara a Luz e conhece-A’. Com essaspalavras, Ele olhou por algum tempofixamente no meu rosto, de modo tãopenetrante, que tremi sob o seu olhar.E quando Ele novamente levantou acabeça, vi em meu Nous como a Luz,composta de inumeráveis potências,converteu-se num mundo realmenteilimitado ... E estando eu completa-mente fora de mim mesmo, falou-meEle novamente: ‘Viste em teu Nous abela forma humana original, o Arqué-tipo, o princípio primordial anteriorao começo-sem-fim’. Assim me falouPimandro”.

O mundo exterior segue leisinternas de radiação

A Física descobriu que o Universoé regido por diferentes leis de radia-ção. É opinião geral que a Criação, emsua totalidade, está envolta por umimenso campo energético, e existe atémesmo a tendência em considerar es-se campo não como um simples fenô-meno natural cego, mas como umainteligência oniabarcante. Este é umelemento sempre tido em conta noscírculos esotéricos: a Criação inteira éconduzida ao seu objetivo, guiada poresses campos de energia magnéticossem princípio nem fim, num eternodevir. Um provérbio diz que os moi-nhos de Deus giram lenta, mas segu-ramente. Essa imagem mostra que omundo e sua humanidade, como

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parte de um corpo solar em desenvol-vimento, são irresistivelmente impeli-dos a uma regeneração, a um soergui-mento de seu estado “decaído”, edepois à manifestação de seu espíritodivino.

A cosmogonia (o ensinamentorelativo ao nascimento do Universo) ea cosmologia (o ensinamento relativoà construção e evolução do Universo)de Max Heindel e de Helena Petrov-na Blavatsky explicam como sedesenvolveram as ondas de vida dacriação em todos os seus estágios atéos dias de hoje.

Na cosmologia dos rosacruzes, acriação do mundo (Gênesis, 1) é divi-dida em períodos designados pelosnomes de deuses gregos: Saturno (aterra era sem forma e vazia), o Sol (ehouve luz) e a Lua (haja um firma-mento no meio das águas, e haja sepa-ração entre águas e águas). Encontra-mo-nos agora no período terrestre(ajuntem-se num só lugar as águasque estão debaixo do céu, e apareça oelemento seco – a terra) em que, porum acontecimento designado comoqueda, o homem atual veio à existên-cia para adquirir consciência.

A ciência esotérica explica que emnosso atual período terrestre houveépocas de desenvolvimento conheci-das pelos nomes de Polar, Hiperbó-rea, Lemuriana e Atlante. Atualmenteo homem se encontra na época Aria-na. A passagem de uma época à outraé acompanhada de cataclismos con-forme mencionados nas tradições detodos os povos. A isso é dada umainterpretação alegórica e sua causa éatribuída ao persistente comporta-mento errôneo da humanidade. Osdeuses intervêm para corrigir e con-firmar. As tradições dos astecas e dosmaias mostram que eles tambémtinham conhecimento desses cataclis-mos cíclicos que ocasionalmente eli-minam uma grande parte da humani-dade.

Os cinco sóis

Os astecas acreditavam que o Uni-verso se desenvolvia em grandesciclos. Após o aparecimento dahumanidade já houve quatro “sóis” –por eles chamados de ciclos. O “quin-to sol” corresponde à nossa era.Numa coleção de documentos rarosde origem asteca, e sobre uma “Pedrado Sol” talhada em basalto, nos tem-pos do imperador Axayacatl (1479d.C.), esses períodos são descritos daseguinte forma:

“Aqueles que viveram durante oprimeiro sol comiam água de milho.Naqueles tempos viviam os gigantes,que finalmente foram devoradospelos jaguares... O primeiro sol foidestruído pela água. Os homens setransformaram em peixes... Alguns serefugiaram em uma velha árvore...Sete casais se esconderam numa gruta,esperando o fim do dilúvio...

Aqueles que viveram durante osegundo sol comiam frutos selva-

Cabeças de serpentes

emplumadas no

Templo de Quetzalcoatl,

em Teotihuacã.

Presumível cabeça de

Quetzalmariposa

(Quetzalpapalotl) no

palácio de Quetzalpa-

palotl com a pirâmide

de Teothiuacã, onde

ficavam os sacerdotes

da lua. Na linguagem

náuatl a mariposa é

um animal sagrado e

os índios viam o

Rei-mariposa como

almas das crianças

mortas. Por isso eles

também o chamavam

“filho do sol”.

No belo desenho de

suas asas, eles viam

imagens do rosto

humano.

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Lenda maia

No princípio, não havia nem ho-mens, nem animais, nem árvores,nem pedras. Não havia nada. Sóexistia o vasto infinito vazio...No silêncio das trevas enevoadasviviam os deuses Tepeü, Gucumatze Hurakan, nomes que preservamos mistérios da criação, da vida, damorte, da terra e de suas criaturas...Os deuses aconselharam-se e deli-beraram sobre o que deveriamfazer... e a luz preencheu a noite.

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gens... Esse sol foi destruído pelovento-serpente (tempestades e torna-dos), e os homens se transformaramem macacos... Um homem e umamulher agarraram-se a um rochedo eforam salvos...

Os descendentes do segundo solcomiam frutos chamados tzincoa-coc...

O terceiro sol foi destruído pelofogo do céu e pelo jorro da lava. Parasobreviverem ao cataclismo, oshomens se transformaram em pássa-ros...

Ao final do quarto sol, os homensmorreram de fome após um dilúviode sangue e fogo... A destruição veioem forma de dilúvio e inundações...As montanhas desapareceram e oshomens foram transformados em pei-xes...

O quinto sol é conhecido como ‘osol do movimento’, a era da sede desangue e de corações... Pelo movi-mento da terra, todos perecerão”.

Os maias, que como os astecas e osincas pertencem a um povo solar,anunciam inúmeras criações ou erassolares alternadas por períodos deobscuridade. Assim como o Popol

Vuh, uma lenda conta que já houvequatro eras solares, que podemosidentificar como sendo as épocasPolar, Hiperbórea, Lemuriana eAtlante. Em sua simbologia, essesmundos solares assemelham-se àsépocas solares dos astecas, que acaba-mos de mencionar.

O reino do primeiro sol dos maiasencontra-se sob o signo da terra; o dosegundo sol está sob o signo do ar; odo terceiro sol, sob o signo do fogo; odo quarto sol está sob o signo da água.O mundo do quinto sol está colocadosob a regência do deus Tlaloc, que,como deus da água e pólo oposto dosol, é também o deus do fogo sagrado.Tlaloc está unido à deusa da fertilida-de, o que o torna também a força cria-dora de um novo homem vindouro.Ele assenta as bases do quinto mundoao qual a humanidade atual poderápertencer. Enfatizamos a palavra“poderá”, pois o quinto mundoanuncia uma era de realização quedepende da compreensão e do estadode consciência do indivíduo. É oreino do sangue.

Os maias representaram essa reali-zação no santuário de Chichén Itzá,onde o sol que se eleva acima do Tem-plo dos Guerreiros e se põe acima doTemplo dos Jaguares tinge de verme-lho o Chac-mool. O sangue simbóli-co do coração humano é derramadoem testemunho do sacrifício do eu, afim de elevar-se numa vida espiritual.

Lenda asteca

No tempo do grande dilúvio, océu caiu sobre a terra. Quetzal-coatl e Tezcatlipoca transforma-ram-se em duas árvores que cres-ceram e cresceram tanto, queempurraram o céu para seu lugaranterior. Os dois deuses deixaramas árvores no seu lugar, nas duasextremidades da terra, e eleva-ram-se ao longo das bordas docéu. Eles uniram-se no meio daVia Láctea, e se tornaram assim ossoberanos do céu e das estrelas.

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Tumbas em forma de templos, pirâ-mides e montes sempre têem tido, emtodo o mundo, um significado simbó-lico. Elas são marcos temporais quedurante o curso da história ou expri-mem ou se tornam um símbolo pelagrande impressão que causam naque-les que os contemplam. Assim como asPirâmides de Gizé, elas podem mos-trar aos homens que praticaram assuas lições e compreenderam os ensi-namentos da escola terrena e osvivenciaram, que podem deixar estemundo com “o coração em paz”.

o curso da existência, para que aconsciência interior da alma possarenascer, a consciência natural dohomem deve “diminuir”, “reduzir-sea nada”, desaparecer. Este não é umprocesso que, por definição, estásubordinado à morte do corpo: trata-se de uma morte simbólica que podeocorrer durante a vida. O antigoEgito representa esse princípio uni-versal pelo sarcófago vazio na câmarado rei, na grande Pirâmide deQuéops. É sabido que jamais alguémfoi ali sepultado; esse sarcófago temapenas um significado simbólico. Osantigos egípcios chamavam o platô dagrande Pirâmide de “Rostau”, quesignifica literalmente: “a porta para ooutro mundo”. O cristianismo trans-mite a mesma idéia com o sepulcro deJesus, encontrado vazio, à exceção dosudário. Os rosacruzes, seguindo aspegadas de Hermes, falam do (sim-

bólico) “corpo intacto de CristianoRosacruz” que eles descobriram, poracaso, numa tumba vivamente ilumi-nada.

No México central, onde se encon-tram as famosas pirâmides do Sol e daLua, bem como o templo-pirâmidede Quetzalcoatl, o mesmo princípiose reflete na denominação “Teotihua-cã”, que significa: “o lugar onde ohomem se torna Deus”. Em Palen-que, Iucatã, foi descoberta, em 1773,uma cidade-templo datando de 600 a800 d.C. Ali foi descoberto, em umoutro templo funerário em forma depirâmide, o corpo do sacerdote-reimaia Pacal Votan. Nessa tumba doséculo VII, o simbolismo e a realida-de caminham de mãos dadas. Nodecorrer da exploração do Templodas Inscrições, em 1949, e após oexame do sarcófago desse príncipemaia, o arqueólogo Alberto Ruzencontrou uma pedra particularmen-te grande atravessada por duas fileirasde buracos, fechados cada um poruma cavilha de pedra. Ela dissimula-va uma abertura que dava para umaescada cheia de restos de entulho.Tendo em vista o tamanho e o pesodessa pedra (5 toneladas), é impossí-vel que ela tivesse sido introduzidano templo. Esse maravilhoso edifício,ornado com múltiplos símbolos,havia sido destinado, desde o início, aser um templo-sepulcro. A remoçãodo entulho durou quase um ano, e nabase da escada foi descoberta umacâmara fechada por uma pedra trian-

A tumba de Pacal Votan

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N

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gular. Por detrás dessa pedra haviaum corredor que levava a um grandesubterrâneo de 9 metros por 7, ondese encontrava a tumba intacta dePacal Votan. O rei-sacerdote portavauma máscara de jade verde. Na bocada máscara estava colocado um amu-leto em forma de T, sinal de sua con-dição divina, e em sua boca havia umapedra de jade redonda como símbolode imortalidade. Em suas mãos tam-bém havia pedras de jade: na mãodireita, um cubo de jade, e na mãoesquerda, um globo. Pacal Votan sig-nifica ao mesmo tempo “protetor dosol” e “aquele que pertence à linha-gem das serpentes”.

A tumba estava recoberta por umagrande placa retangular, ricamenteesculpida. Livros inteiros surgiram arespeito do personagem centralrepresentado no sarcófago, o qualcontém indicações de que os maiaspossivelmente tinham contatos extra-terrestres. Uma outra explicação, denatureza esotérica, é que esse perso-nagem seria uma deusa da fecundida-de. Em suas mãos ela segurava umafolha de lis e estava rodeada de água.Ela traz ao mundo o filho do Sol queela concebeu com seu esposo, comodeus da água e ao mesmo tempo deusdo fogo sagrado.

Outros pesquisadores encontra-ram, nessa placa, indícios da ciênciados maias, ciência concernente aomacrocosmo e aos cinco grandesperíodos de desenvolvimento daconsciência da humanidade, simboli-zados pelos cinco sóis mencionadosna história da criação dos maias,segundo o Popol Vuh. Mas esses bai-xos-relevos são, sobretudo, a expres-são do saber mítico dos maias no quediz respeito à morte e ao renascimen-to. Múltiplas expressões simbólicasforam usadas para proteger esse pro-

fundo conhecimento de olhos profa-nos.

Ao lado do Templo das Inscriçõeseleva-se o Palácio, também chamadode Torre do Vento. Diz-se que essatorre servia de observatório astronô-mico. Ela é composta de quatro pavi-mentos, e poderia significar a mesmacoisa que a câmara do rei da Pirâmidede Quéops, que também se encontrano quarto nível.

Um pouco mais distante está oTemplo da Cruz, no qual Pacal Votane seu filho estão representados, ten-do, em ambos os lados, uma grandecruz. Os maias sabiam, assim comoos primeiros cristãos, que a cruz é osímbolo da vida terrestre (o madeirohorizontal) e da ressurreição espiri-tual (o madeiro vertical). Por fim,nota-se ainda que em Palenque, noTemplo do Governador, três novastumbas foram encontradas, enquantoque em 1994, em um pequeno templovizinho do Templo das Inscrições, foifeita a espetacular descoberta de umatumba contendo o corpo paramenta-do de jade da assim chamada RainhaVermelha, a Rainha das Almas.

No México, indubitavelmente ain-da devem existir muitos vestígiosinsuspeitos de civilizações bastanteantigas, vestígios enterrados na flo-resta virgem, que testificam de modoespecial do laço eterno que une oshomens aos deuses. Todos esses tem-plos foram edificados para que oshomens jamais esquecessem que nãopertencem a este lugar e que eles sãoestrangeiros temporariamente naterra, ou como dizem os índios doMéxico: “Este mundo é um mundoonírico, do qual devemos despertar.Para tanto, é preciso vencer a simesmo”. Eis por que um índio é umguerreiro.

Páginas 34-35:

Templo de Teuchtitlã,

a morada do

primeiro e único

deus, situado a 60 km

de Guadalajara.

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Um dos mais misteriosos elementos da culturamaia é o jogo de bola. Nesse jogo, duas equipesopostas tinham de lançar uma grande bola deborracha através de vários círculos. Mais tarde,retomado por outros povos, notadamente os aste-cas, esse jogo alcançou grande popularidade, con-forme o testemunham numerosos locais encontra-dos nos sítios arqueológicos. Cenas desse jogo tam-

bém são encontradas em numerosas ins-crições maias. Tem havido muita

especulação quanto ao significa-do desse jogo. Na literaturaele é com freqüência relacio-nado a práticas sacrificais,nas quais o coração do ven-cedor era arrancado e ofere-

cido aos deuses.

O jogo de bola dos maias

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á indícios que mostram que essejogo era mais que um simples esporteou passatempo folclórico. Como naAlquimia, ele apresenta dois aspec-tos: o esotérico e o exotérico. Os lo-cais consagrados à sua prática, porexemplo, encontram-se quase sempreno recinto de um templo, como o deTonina, na cidade mexicana de Chia-pas, onde se pode chegar somenteatravessando o campo do jogo debola. No Popol Vuh, o livro sagradodos maias, a narrativa acerca dosheróis gêmeos dá a esse jogo umpapel de crucial importância. Ele écomposto de numerosos símbolos.Que significado ele teria? Seria elefruto de um conhecimento esotérico?

Um dos maiores campos de jogosencontra-se no interior do templo deChichén Itzá, na península de Iucatã.Ele é limitado por dois grandesmuros, um a oeste e outro a leste.Nos dois muros elevam-se três pórti-cos de pedra, nos pontos precisosonde o sol se eleva ou se põe, respec-tivamente no solstício de inverno (21de dezembro), nos equinócios (21 demarço e 21 de setembro) e no solstí-cio de verão (21 de junho). Sobreesses pórticos, no alto do muro, épossível ver os restos de aberturascirculares talhadas na pedra e ornadasde duas serpentes que se entrelaçam,com a cabeça e a cauda quase setocando. Era através desses círculos,a uma altura de dezena de metros,que eles deviam lançar a bola. Essabola pesava vários quilos e não podia

ser tocada com as mãos nem com ospés, mas unicamente com o corpo, oque era quase impossível. Isso explicapor que os vencedores desse jogoeram oferecidos em “sacrifício” aosdeuses. Mais tarde, os astecas e osespanhóis o interpretaram do seguin-te modo: eles acreditavam que eramos perdedores que eram oferecidosem sacrifício. Eles não compreen-diam o que esse “sacrifício” realmen-te representava. Para um guerreiromaia, esse “sacrifício” era uma honrasuprema.

O jogo dos filhos dos deuses

Esse jogo era praticado por duasequipes, tendo cada uma delas setejogadores. No muro do campo dojogo de bola ainda é possível ver anti-gos baixo-relevos representando asequipes. Cada jogador aparece tra-jando sua mais bela veste; em certoscasos, eles ostentam adornos de guer-ra. O chefe da equipe ganhadora estáajoelhado junto à bola; ele é decapita-do, e de sua coluna vertebral elevam-se duas serpentes. Na própria bolaestá desenhada a cabeça de ummorto. O jogo estava, portanto, liga-do à idéia de morte. Mas, a que tipode morte? Examinemos uma das nar-rativas mitológicas feitas no PopolVuh, onde esse jogo tem um papelimportante.

Os magos do Popol Vuh relatam oseguinte: o jogo de bola dos filhosdos deuses, cheios de força e entu-

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Anel formado por

duas serpentes,

através do qual

devia passar a bola

do jogo.

H

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siasmo, provoca os nove exércitos danoite, que são os habitantes domundo inferior. Eles não podiamtolerar a idéia da existência de seresmais fortes e mais belos que eles. Daí,tentam atirá-los no mundo inferior, e,a partir de então, a luta tem início. Osfilhos dos deuses descem ao mundoinferior onde, tomados de surpresa,sucumbem aos exércitos da noite.Eles são levados à morte por decapi-tação e suas cabeças são suspensas nasárvores. Então acontece um milagre:as cabeças se transformam em caba-ças. O sumo dos frutos fecunda umadas filhas dos exércitos da noite. Elatem, então, de fugir do mundo infe-rior, e ao chegar à superfície da terradá à luz os heróis gêmeos. Estes sãoos novos herdeiros divinos. Duranteuma viagem, os heróis gêmeos desco-brem as regras do jogo de bola prati-cado por seus antepassados, bemcomo a bola e suas vestes. Eles apren-dem rapidamente a jogar e retomam

o combate com os exércitos da noite.Através do jogo, uma transformaçãoespiritual se efetua. A lembrança desua verdadeira missão divina é des-pertada e eles tentam derrotar osexércitos da noite. Porém, sua vitórialeva irremediavelmente à morte.

Uma metáfora da vida

O Popol Vuh mostra que essa mor-te não é definitiva, mas significa re-nascimento para uma nova vida. Sim-bolicamente, a luz se oferece em sa-crifício às trevas, e justamente porisso ela triunfa. O contrário não épossível, pois sem o “morra para vi-ver”, a voz do divino não pode res-surgir.

Tendo um significado sagrado eprimordial, o jogo de bola era, paraos maias, uma metáfora da vidamesma. Os jogadores manipulavamuma bola que não podiam tocar, talcomo a força que se manifesta na vida

Templo da Serpente

Emplumada

(Kukulkã) em

Chichén Itzá.

Dizem que esse

grande centro

maia de Iucatã foi

fundado por

Kukulkã, a Serpente

Emplumada, vinda

do Oriente em

companhia de

vinte gloriosos

guias. No equinócio

da primavera, a

pirâmide oferece

a imagem de uma

serpente de

sombra e luz que

desce.

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do homem e que o guia, uma forçafora do alcance da consciência dialé-tica. É um estímulo interior queincessantemente nos impulsiona. Ojogo é uma escola de aprendizagem.Podemos ver a trajetória da bola e suaprecisão como o reflexo da consciên-cia. Acrescentemos ainda que, nostempos dos maias, esse jogo era prati-cado pela classe sacerdotal, que era amais elevada, e prefigurava o futurode seu povo. À primeira vista issopode parecer estranho, mas corres-ponde às leis que se repetem inces-santemente. Partindo da idéia “esta-do de consciência é estado de vida”,podemos compreender que o jogo debola e seu desenrolar é tão-somenteuma expressão do estado de cons-ciência do momento. A vida e os atosde cada indivíduo são o reflexo de suaconsciência; assim também o destinode um povo é o reflexo de sua cons-ciência.

Quando os guerreiros, após inú-meros exercícios, finalmente domina-vam o jogo e podiam dar à bola a tra-jetória divina através dos círculos,eles haviam alcançado o máximo davida aqui em baixo. Os círculos seencontravam no ponto onde o sol osatravessava em determinadosmomentos do ano. Para os maias, osol era o supremo símbolo do divino.Quando a bola passava pelos círcu-los, então o jogo, ou seja, a vida,entrava em harmonia com as leis divi-nas, e a vontade divina podia nova-mente se expressar através do homemou do povo. Daí compreende-se porque o jogador, o homem que haviaalcançado esse estágio, consideravanormal a aceitação da morte, isto é, amorte daquilo que é inferior, a mortedo eu. E isso era tão natural, que eleentrava num novo estado de cons-ciência, livre das veleidades humanas.

O sacrifício do coração dos vencedo-res, tal como o descreve o Popol Vuh,é um renascimento para a nova vida.

O Templo dos Guerreiros

Nos sítios arqueológicos vemosque a morte dos jogadores não eraalgo definitivo. Como dissemos, ojogo de bola era praticado em locaissagrados, no interior dos recintostemplários. Tomemos como exemploChichén Itzá. No templo que fazdivisa com o terreno do jogo de bola,podemos ver pinturas em que águiase jaguares trazem os corações dosjogadores em suas garras. Esses ani-mais, considerados sagrados pelosmaias, purificam o coração dos joga-dores soprando neles seu alento vital.A antiga natureza desaparece lenta-mente e é substituída por uma novaconsciência. Após a purificação docoração, o guerreiro era mergulhadona fonte santa chamada cenote. Nessafonte, todo o sistema era renovado.Os guerreiros, assim renascidos,recebiam um lugar no “Templo dosGuerreiros”, onde eram representa-dos nas colunas. A entrada do temploé orientada na direção do jogo debola. Os guerreiros permanecemenvolvidos com o jogo. O jogo nãopára jamais. A vida é uma contínuapassagem de um estado de consciên-cia a outro. As experiências feitasdurante o jogo da vida conduzem ohomem a insights que o levam a umanova consciência graças à qual ele rei-nicia o jogo. Assim o homem se elevanum caminho em espiral, em contí-nuo desenvolvimento, balizado pelasexperiências, e adquire entendimentoe consciência.

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Fascinados pelo tempo, os antigosmaias tornaram-se célebres por seusmétodos de cartografia e por sua ha-bilidade em fazer predições a partirdo estudo dos ritmos cronológicos.Seus conhecimentos fundamentaisconcernentes ao tempo não eram umainvenção deles; eles nada mais fize-ram que aperfeiçoar as elaborações depovos anteriores, como os olmecas,por exemplo. Os maias conheciam de-zessete calendários que, na maioria,eram baseados no curso das estrelas edos planetas. Esses dezessete calendá-rios cíclicos eram sincronizados, poisengrenavam-se uns nos outros comoas rodas de um relógio. A precisãosurpreendente desses ciclos deve-se aofato de que são baseados nos ritmoscósmicos.

os calendários maias alguns núme-ros desempenham um papel impor-tante. Primeiro, o número 20, que é abase de contagem da unidade, assimcomo o número 10 em nosso sistemadecimal. Os calendários maias eramsubdivididos em calendários terres-tres e calendários sagrados. Para osprimeiros, o número-chave era o 9,número esse que simboliza a humani-dade. Na Bíblia é mencionado ogrupo dos 144.000 que serão salvos,ou seja, (1+4+4=9) o 9, com o mesmosignificado. Os maias tinham cons-ciência de que a humanidade se en-contra numa condição não-divina, ca-racterizada pela dualidade, pela dialé-

A cronologia dos Maias

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tica. Assim, seu calendário terrestreprincipal baseava-se em duas vezesnove. Multiplicado pelo número-base, 20, resultava em 360 dias, aosquais eles acrescentavam ainda cincodias especiais, denominados “diasfora do tempo”, para calcular o anosolar de 365 dias.

Já com o calendário sagrado eradiferente: a base 20 aparecia neleigualmente, mas, dessa vez, multipli-cada pelo número sagrado 13, o nú-mero divino para os maias. Pensemosno papel principal representado pelonúmero 13 nos mistérios cristãos, porexemplo, Jesus no centro dos dozediscípulos. O calendário sagrado,também denominado “Tzolkin”, exis-tia a partir de uma combinação devinte assim chamados selos solares etreze tons sagrados. Isso produz 260variações (dias) no total. Cada diatinha um significado especial, depen-dendo de sua combinação.

Num período mais amplo, a vidaterrestre e a vida sagrada uniam-senuma mesma contagem. O calendáriosagrado combinado com o calendáriosolar terrestre formava um grandeciclo de 52 anos (o menor múltiplocomum de 260 e de 365). O ciclo de52 anos é igualmente construído porquatro vezes treze anos. Quatro ele-mentos, quatro direções dos ventos,multiplicados pelo o número sagradotreze, formavam desse modo um cicloperfeito. Na cultura maia, aquele quetivesse completado 52 anos de idadeera chamado de sábio.

Os maias utilizavam igualmenteum calendário lunar, que consistia emtreze meses de 28 dias por ano. Alémdo profundo significado do númerotreze, devemos admitir que esse ca-lendário maia é mais lógico que onosso, de doze meses irregulares. Sa-bemos que são treze períodos de lua

cheia num ano.Junto aos calendários que mediam

os anos, os maias se ocupavam em cal-cular períodos de tempo maiores. Omais famoso desses ciclos maias é semdúvida o dos treze grandes períodos(baktuns) que termina em 21 dedezembro de 2012. Através de desco-bertas arqueológicas foi possível pre-cisar o início desse calendário em3114 antes de nossa era.

É provável que os maias tenhamfeito uma conta ao reverso. Para eles,não era o início, mas o fim da crônicaque importava. Mas o que significaesse 21 de dezembro de 2012?

O dia 21 de dezembro é uma datafundamental: é o dia mais curto doano, a partir do qual a luz começa aaumentar lentamente. Segundo osmaias, era neste nadir invernal que oantigo sol morria, dando nascimentoa um novo sol. Visto da terra, o sol dodia 21 de dezembro realiza, ao longodos anos, algo como um deslizamen-to, tendo ao fundo as constelações.Esse fenômeno é denominado preces-são dos equinócios, devido a um mo-vimento circular do eixo de rotaçãoda terra em torno de uma perpendicu-lar ao plano da eclíptica. O sol passapela mesma posição a cada 26.000anos aproximadamente. Os maias co-

Desenho segundo

um baixo-relevo do

calendário sagrado

maia com duas

rodas e 13 vezes 20

discos solares.

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nheciam esse processo. A particulari-dade do ano 2012 consiste em que osol do dia 21 de dezembro desse anoestará na constelação do Arqueiro(Sagitário). Quando, de noite, con-templamos o céu – com a condição deele estar limpo, e não escurecido pelapoluição – é possível ver que a conste-lação do Arqueiro coincide com ocentro da Via Láctea. Portanto, no dia21 de dezembro de 2012, a terra, o sole o centro da Via Láctea estarão ali-nhados. Para os maias, o ponto cen-tral de nossa galáxia é como umaimensa matriz cósmica, o núcleo divi-no de onde tudo se origina e ondetudo eventualmente desaparecerá.

No dia 21 de dezembro de 2012, onovo sol receberá sua energia dessecoração divino para irradiá-lo sobre aterra. Esse será um momento especialque, segundo alguns, conduzirá a

impressionantes transformações. Talacontecimento é salientado principal-mente nos meios espiritualistas oci-dentais. Alguns chegam mesmo apensar que ele significa o fim domundo. Quanto a isto, notamos queos maias não fizeram nenhuma refe-rência ao fim do mundo. Para eles,existiam apenas ciclos em que todofim engendra um novo começo; e, nocaso que nos interessa, iniciar-se-áuma nova ronda de treze períodos.Como toda fase de transição, essaépoca deverá caracterizar-se pelaafluência de novas possibilidades paraa humanidade progredir para umaconsciência superior.

Viver em harmonia consciente comos ritmos cósmicos do coração divi-no: esta é a mensagem universal que,com seus calendários, os maias noslegaram.

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Voladores: um antigoritual indígena

Trajando vestes tradicionais, cincohomens sobem ao topo de ummastro de trinta metros que termina numa plataforma ondeexecutam um rápido cerimonial,em silêncio. Ao som do tambor eda flauta, o mestre de cerimôniascomeça uma dança, voltando-separa os quatro pontos cardeais, em homenagem ao sol divino. Os outros quatro “voladores” seprendem pelos calcanhares às cordas fixadas no topo do mastro;em seguida eles oscilam no vazio,primeiro a cabeça, rodopiando em direção ao solo à medida que a corda, enrolada treze vezes, sedesenrola. Os braços ficam estendidos em sinal de veneraçãoao Sol.

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Os Maias modernos

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Se um dia empreendermos uma visita à Mérida, a capital da península deIucatã, situada ao leste do México, nós nos veremos rodeados por umamodernidade de estilo americano estranhamente mesclada à antiga civilizaçãomaia. No ônibus, jovens na última moda estão ao lado de mulheres em trajes tradicionais “huipil”. Os sinais, as inscrições e a arte metafórica dosantigos maias revestem com formas novas os arredores dos templos. Numerosos artistas asseguram sua subsistência com a venda de belos souvenires aos turistas.

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udo isso pode ser percebido exte-riormente. Mas a civilização maiaintegrou-se à vida dos habitantes doMéxico em um plano mais profundo.Cada ano, no dia 21 de março, no diaem que o sol atravessa o equador noequinócio da primavera, milhares depessoas se reúnem na cidade-templode Chichén Itzá para assistir ao espe-táculo de luz e sombra sobre a pirâmi-de de Kukulcã.

A sabedoria da serpente

Kukulcã é a figura mais marcanteda cultura maia. Ele é o símbolo dohomem que realizou o divino em simesmo. Os astecas o chamam deQuetzalcoatl, a “Serpente Empluma-da”.

A pirâmide de degraus de Kukulcãtem nove níveis. Em cada lado dapirâmide encontra-se uma escada de

91 degraus. Contando com o topo daplataforma temos 365 degraus, quecorrespondem ao número de dias doano solar. No dia 21 de março, duran-te algumas horas, após o meio-dia,podemos ver a sombra produzida deum dos lados da pirâmide sobre aparte lateral da escada que fica aonorte. O fenômeno dá a impressão deque uma serpente de luz e sombradesce a escadaria. Embaixo da escadaencontra-se uma escultura em formade cabeça de serpente, sempre ilumi-nada. Com isso podemos imaginar asoma de conhecimentos astronômi-cos e arquiteturais necessários paraalcançar tamanha precisão.

Os guias dizem, superficialmente,que essa serpente parece ser o símbo-lo da fecundidade, o que não é falso.Mas, para muitos visitantes vindosdos arredores o fenômeno tem umsentido mais profundo. A “serpente

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Um apicultor

examina um ninho

de abelhas sem fer-

rão que são tradi-

cionalmente criadas

dentro de troncos

de árvores.

O mel colhido é,

para os maias, uma

substância sagrada,

utilizada como

remédio.

T

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emplumada” era o símbolo principaldos antigos maias. A serpente dotempo, isto é, as ondas do “subir, bri-lhar e descer” características da natu-reza terrestre, traz as asas da águia daeternidade. Essa serpente desce naterra para transmitir aos homens asublime mensagem, quando os dias eas noites têm a mesma duração, omomento psicológico em que a luztriunfa sobre as trevas.

“Como está o teu caminho?”

Quando, no início do século XVI,os espanhóis conquistaram o México,a civilização maia já houvera há muitoalcançado seu apogeu. Depois deséculos ela se mesclou ou se impôs aoutros povos, como os toltecas e osastecas. Em seguida, a colonizaçãoespanhola fez numerosas vítimasentre os maias e destruiu quase todosos seus escritos, dando, com isso, aimpressão de que desejava fazer desa-parecer completamente sua civiliza-ção, da qual nada mais resta, no lestedo México, além da essência semprepresente no coração de quase ummilhão de pessoas que continuam a sequalificar de maias. Seus antigos cos-tumes mesclaram-se de modo sur-preendente à cultura ocidental. Porisso, muitas pessoas em Iucatã aindafalam uma das numerosas línguasmaias, línguas de extrema complexi-dade cujas palavras têm freqüente-mente um sentido simbólico. Quan-do, por exemplo, eles se encontram,dizem: “Biix a Bel?”, o que significaliteralmente: “Como está o teu cami-nho?”

A maior parte dos habitantes dasterras baixas ainda veneram os inume-ráveis deuses maias, que nada maissão que manifestações do único e ino-minável Hunabku. Embora indefiní-

vel (assemelhando-se ao Tao dos chi-neses), um maia moderno faz dele aseguinte descrição: “Ele é o que une,no Universo e além, o coração detodas as coisas deste mundo”. Comoos deuses maias são manifestações dadivindade única, e não a divindademesma, pouco importa a quem aspreces se dirigem. Desse modo, osmaias não encontram nenhuma difi-culdade em venerar os santos católi-cos ao lado de seus múltiplos deuses.Nisso eles não vêem nenhuma ofensa.No decorrer da colonização, eles seconverteram ao catolicismo, porémcontinuaram a praticar seus antigosritos.

A cultura maia contemporâneacaracteriza-se por uma visão univer-salista do mundo onde tudo está liga-do a tudo, e onde não existe o acaso.Assim, os maias das terras baixas sãobastante conscientes tanto da existên-cia de outras civilizações como dosritmos da natureza, e levam em contaa posição do sol, da lua e das numero-sas constelações, como a de Órion eas Plêiades. Alguns até mesmoseguem o antigo calendário maia ondecada dia tem sua coloração e caráterpróprios.

O simbolismo moderno da abelha

A vida natural de uma colméia é oreflexo das sociedades humanas. Comrelação a isso os atuais maias conhe-cem uma antiga tradição: a criação deabelhas sem ferrão, tradição essa quedesempenhou um papel importanteem longínquo passado. Muitos deseus antigos manuscritos mostram areprodução dessas abelhas, cujo deusé freqüentemente associado a Vênus.Quando os colonizadores conquista-ram o país, eles trouxeram a abelhacomum européia. Mas essa abelha,

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que ferroava, tornou-se maior e maisagressiva que em sua terra de origem.Em conseqüência de manipulaçõesgenéticas realizadas no Brasil há algu-mas décadas, nasceu o que chamamosde “abelhas assassinas”. Elas são maisprodutivas, porém tão agressivas queum enxame pode atacar um homem eferroá-lo até a morte. Essas assassinascruzam muito rapidamente com asabelhas comuns, mas não com as abe-lhas sem ferrão. Para estas últimas,elas constituem uma ameaça, atacan-do e pilhando suas colméias, tornan-do sua vida cada vez mais difícil.

Um maia pode ignorar os aspectosque jazem por detrás desses fatos, maspara ele a história fala. Ele conhece alei que determina que as coisas domundo exterior sejam o reflexo domundo interior. A cultura ocidentaltornou-se cada vez mais combativa,acontecendo o mesmo com as abe-lhas. As abelhas nativas do país, sím-bolo de sua cultura, desapareceramem presença da sociedade moderna,materialista e dura, que agride osmaias. Quando dizem que está nahora de aqueles que têm consciênciaprotegerem esse inseto vulnerávelpermitindo-lhe, assim, sobreviver, osmaias vêem aí uma mensagem univer-sal: se a sutil voz interior não é ouvidanem protegida, ela se perde na violên-cia e no tumulto do mundo.

Talvez seja justamente por essecontraste entre o tradicional e omoderno, entre um passado espirituale um futuro que ameaça tornar-secada vez mais materialista, que oMéxico tenha muito a oferecer aospesquisadores. É o país de uma antigasabedoria que inspira uma profundapesquisa pessoal. Se os templosconhecidos são diariamente invadidospelos turistas, naqueles que sãomenos conhecidos os mexicanos, ao

nascer ou ao pôr do sol, praticam suascerimônias ou vão até ali para meditarpor uns momentos. Esse país consti-tui ainda uma grande fonte de inspira-ção para seus habitantes.

Junto aos camponeses tradicionais,há muita gente nas cidades que carre-ga em seu coração a antiga culturamaia. Existem numerosas sociedadese movimentos ligados à mensagemoriginal dessa antiga civilização. Al-gumas pessoas se qualificam explicita-mente de gnósticas e mostram na suafilosofia como sua tradição é aparen-tada com a sabedoria oriental, o cris-tianismo original e a sabedoria deHermes Trismegisto. Porém, há ge-ralmente uma certa reserva com rela-ção a isso, visto que o México está soba influência da Igreja Católica.

Ao mesmo tempo, há cada vez maiscontatos com a herança de outras cul-turas da América do Sul, como a dosincas do Peru, com a qual a culturamaia possui muitas analogias. Osmaias foram massacrados, e seu patri-mônio cultural, atirado ao fogo, masmuitas de suas concepções permane-cem vivas. Sua mensagem é universal,atual e instrutiva. Quanto ao pesqui-sador, ele encontra na magia da antigacivilização maia uma fonte bastanterica de inspiração.

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hichén-Itzá é provavelmente omais famoso sítio arqueológico da pe-nínsula de Yucatã. Nesse local, a lesteda imponente pirâmide de El Castillo,encontra-se o Templo do Guerreiro,magnífica construção em forma pira-midal, onde jaz um dos mais famososChac Mools.

O Chac Mool é uma figu-ra humana sempre repre-sentada na posição sen-tada, com as costas in-clinadas para trás, aspernas encolhidas e acabeça virada para olado. Sobre sua barri-ga, ela segura umrecipiente de formaretangular ou circular.

Embora congeladano tempo nessa posiçãodesconfortável, ela parecerepousar tranqüila dentro deuma arca invisível que mal podeconter seu corpo.

A respeito de suas vestes, podemosdizer que ela traja uma armaduramuito similar à dos guerreiros tolte-cas e ostenta sobre o santuário docoração uma borboleta.

Ao vê-la pousada no coração doguerreiro, não podemos deixar depensar em Psique, a alma que, apóster sido tocada pelo amor divino,

enfrenta toda a sorte de atribulaçõespara renascer na imortalidade. A bor-boleta simbolizava o cosmo maia eera o emblema de Xiutecutli, o deusdo fogo cósmico.

Em sua mão direita, o guerreiroChac Mool carrega o atlatl, um arte-

fato de guerra para arremessarlanças, que em sua origem

era ligado ao elementoágua, visto que era de-dicado primordial-mente à pesca.Embora a maioria dosarqueólogos acrediteque os Chac Moolsserviam como altar desacrifícios humanos,alguns são de opinião

que, na realidade, eleseram uma espécie de

intermediário, um canal decomunicação entre os ho-

mens e os deuses. De fato, muitasculturas da América Central vêem-nocomo um deus cuja missão era conce-der o dom da verdadeira vida aosmortais.

Em cada lado do Chac Mool háuma coluna que representa a serpenteemplumada Kukulcã. Além de ser odeus da criação e da ressurreição,Kukulcã encarnava também o heróidivino que dominava os quatro ele-

C

O mistério do Chac Mool

Sem dúvida, uma das esculturas mais peculiares da arqueologia mexicana é oChac Mool. Uma das estátuas mais famosas podemos encontrar no centro doTemplo do Guerreiro. Cercada de muitas especulações sobre sua origem efunção, ela contempla indiferente a sagrada Chichén Itzá e prima pelo silêncio.Afinal de contas, o que representa essa figura misteriosa da mitologia maia?

Miguel, o guer-

reiro da luz,

Museu de Arte

e de História,

Zagorsk,

século XV.

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mentos alquímicos. Essas serpentessão as guardiãs do Chac Mool. Seuscorpos constituem as próprias colu-nas, suas bocas abertas são esculpidasna base e seus rabos formam os lintéis.

Seres alados sempre foram descri-tos em lendas de diversas civilizações.Vemo-las, por exemplo, na arte egíp-cia, onde uma figura impressionantede uma serpente alada cobre com suasasas o deus Osíris. Há várias tumbasno Egito que contêm serpentes ala-das, desenhadas em paredes opostas.

No livro do Êxodo, capítulo 25,versículo 10, lemossobre um objetosagrado que évelado por doisseres angelicais: aarca da aliança, aarca do novo con-vênio.

Segundo a tradi-ção judaico-cristã,Miguel e Gabrielsão reconhecidoscomo os guar-diães que ficamface a face sobre a arca e estendemsuas asas para proteger o tesouro divi-no.

Miguel é conhecido como o prínci-pe guerreiro que empunha sua espadaígnea para defender o povo de Israel;Gabriel, como o príncipe da água, quequase sempre aparece como mensagei-ro, como o anjo da anunciação.

Sob as asas desses seres celestiaisencontrava-se o propiciatório daarca, uma placa retangular de ouroque constituía o trono de Deus, olocal para a concessão das graças.Segundo a descrição feita em Levíti-co 16:14, o sacrifício era feito justa-mente sobre essa placa onde o sacer-

dote deveria espargir o sangue docordeiro no lado oriental, onde nas-ce o sol espiritual.

Não podemos deixar de notar asemelhança com o Chac Mool quecarrega sobre sua barriga uma placaretangular ou circular, onde tambémeram feitas as oblações.

Além disso, o Chac Mool é semprerepresentado com a cabeça viradapara o lado. Na antiguidade, o ato de“virar-se” era associado à adoração.Tanto que o termo grego que designaveneração na bíblia (proskuneo) pode

ser traduzido co-mo “virar a facepara beijar ou re-verenciar”.

Assim como oChac Mool ocu-pa uma posiçãocentral entre osdeuses e os ho-mens, assim tam-bém a arca daaliança encontra-se no ponto maisinterior do taber-

náculo, o Sanctum Sanctorum.O próprio nome Chac Mool nos

fornece subsídios sobre sua origem.Na linguagem maia, ele significaJaguar Vermelho, e uma antiga lendamaia nos conta sobre um jaguar bran-co que, por intermédio do sanguesagrado, é tingido de vermelho e, aoser iluminado pelo sol, transforma-seem um jaguar dourado.

Entre os rosacruzes, também ou-vimos falar da rosa branca de JoãoBatista que, após ser tingida de ver-melho pelo novo sangue anímico, églorificada pelos cálidos raios do solespiritual e se reveste do ouro alquí-mico da redenção.

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Quetzalcoatl

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m muitas lendas da América Cen-tral, Quetzalcoatl, a Serpente Emplu-mada, é a manifestação suprema dadivindade no mundo das formas. Osmaias o chamavam Gucumatz, ouainda Kukulcã, “o deus que é venera-do até o infinito”. A tradição diz queesse Mestre de Sabedoria teria vindodo Oriente por mar, numa embarca-ção que avançava inteiramente só,sem remos. O Oriente é a aurora, osol levante. Em todos os tempos, osbuscadores da Verdade voltaram-separa o leste para ir ao encontro da luzque renasce.

Quetzalcoatl teria, igualmente,partido para o leste com a promessasolene de voltar um dia. Conta-se queele navega numa jangada feita de ser-pentes entrecruzadas. Mais tarde, ostoltecas e os astecas representaramQuetzalcoatl com mais precisão, sobos traços de um homem branco irra-diante de luz: um personagem miste-rioso... solidamente constituído, fron-te ampla, grandes olhos e uma barbaanelada, trajando uma longa vestebranca. Ele condenava os sacrifícios,exceto os de flores e de frutos. Quan-do, diante dele, falava-se de guerra,ele tampava os ouvidos. Ele era odeus da paz...

O sol procede do homem!

O significado desse deus tem raízesextremamente profundas. A mensa-gem que ele trouxe, sua visão das coi-sas em toda sua beleza, não perde em

EOs antigos diziam: aqui não é nossamorada.Não estamos destinados a permaneceraqui para sempre.Avançando mais além, em busca daoutra vida,deixarei para trás as belas flores.E, por um momento, sinto meu coração pesado,pois esses sublimes hinos não nos pertencem,eles nos são tão-somente emprestados.

Martin Auer

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Vista dos

fragmentos do

templo de

Quetzalcoatl

com cabeças de

serpente.

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nada para os outros enviados da Luz.Os índios pré-colombianos possuíamuma linguagem e uma sabedoria de-nominados nahuatl, mas não tinhamnenhuma palavra para expressar oconceito de religião, pois para elesexistia apenas a vida. A vida do índionão era nada mais que um “caminho”através do espaço-tempo, caminhoesse que conduzia à grande vida solardo outro lado da fronteira da morte.Não era o asteca um elemento do sis-tema solar? Não tinha ele em si tudoo que existia no sistema solar? Sendo,ele mesmo, uma parcela do grandeTodo, não tinha ele, também em si,uma centelha do radiante fogo solar?Eis por que ele trazia em seu coraçãoo orgulho de ser como um sol emminiatura que seguia, através do espa-ço e do tempo, oferecendo-se ao Se-nhor da Vida para fundir-se no gran-de fogo solar.

O índio não glorificava o intelecto,como o fazemos hoje. O nahuatl jáhavia descoberto há tempos que ohomem possui um centro no interiorde si mesmo a partir do qual observae experimenta o Universo. A essênciada existência reside no coração, cen-tro da alma individual, em estreitaligação com a alma cósmica: o “cami-nho” consiste na divinização progres-siva da alma humana. Esta é a razãopor que os antigos ensinamentos de

Sabedoria do México explicam que osol que dá vida a todo o Universo nas-ceu da oferenda da humanidade. Ogrande fogo cósmico no céu não podeexistir sem que os homens, os guerrei-ros no “caminho”, mantenham seucoração aberto em oferenda. É man-tendo o coração “livre” que eles reali-zam o Universo. Esse povo do Méxi-co estabelece uma relação especialentre o homem e o sol. Cada indiví-duo é determinante para a salvação doconjunto. Por conseguinte, a salvaçãopessoal é inconcebível. Não somospartes do todo? Se o todo não forlibertado, não existe nenhuma razãonem qualquer possibilidade de liber-tação para o indivíduo.

O mito de Quetzalcoatl

Para os nahuatl, Quetzalcoatl per-sonificava o homem divino ou o deushumano, um herói do Espírito que,através dos ciclos universais de sofri-mentos místicos, de mortes e derenascimentos, recebe a vida originale participa do estado de consciênciada vida solar.

Um dos mitos de Quetzalcoatl odescreve como um rei de pureza ab-soluta até o dia em que, sob a influên-cia de conselheiros duvidosos, em-briaga-se de pulque e comete um atoque o aprisiona a terra. Desesperado

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por essa conduta que ele considera amais culpável infração, ele decideinfligir a si mesmo uma punição queao mesmo tempo servirá de exemplo.Ele abandona seu reino bem-amado ese sacrifica através do fogo do sol.Enquanto seu corpo é consumido,seu coração sobe ao céu para tornar-seo planeta Vênus. A dor pelo errocometido e seu intenso sentimento danecessidade de purificação dão aomito um caráter universal, como ofogo tornando-se pura luz. O sofri-mento do deus está intimamente liga-do ao sofrimento conhecido por todaa humanidade ao longo de sua histó-ria, pelo mundo inteiro. A alma indi-vidual pode alcançar uma consciêncialibertadora mediante as experiênciasem que os aspectos tenebrosos, segui-damente dilacerantes, são tão necessá-rios quanto os aspectos espirituais eluminosos. Tal é a condição humanana qual o único erro verdadeiro residena ignorância, que torna o mundouma carga extenuante.

Quetzalcoatl ensina o caminho quese abre para a humanidade, e o per-corre; ele abandona as coisas domundo e até mesmo prepara o fogopurificador no qual mergulhará. Nãodevemos pensar, como a lenda o mos-tra, que ele tenha desperdiçado suavida: é justamente sua oferenda que ofaz alcançar a unidade eterna ao liber-

Embaixo:“Homem

na serpente”,

La Venta, México.

É sem dúvida

a mais antiga

representação

da Serpente

Emplumada,

Quetzalcoatl.

No Egito, na Índia

e na China

encontramos

também serpentes

emplumadas, ou

dragões. Elas

simbolizam as

inefáveis forças

cósmicas que

trazem os mundos

à manifestação.

É também uma

metáfora que

exprime o

renascimento da

alma e a renovação

espiritual.

Lendas de sóis

O México é um reino do sol. Pormais diversas que sejam as formassob as quais os deuses apareçam,definitivamente tudo emana dodeus sol. Confirmando isto, assimdiz um texto nahuatl:

“Minha flores não fenecerãonem meus cantos terão fim.Eles desabrocham e se expandem.

Agora, nosso pai, o Sol, declina.Drapejado em suas plumas suntuosas,ele desce em um cinerário depedras preciosas e avança, ornadode colares de turquesas, em meio a uma eterna chuva de flores...”

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tar-se do transitório e de seu corres-pondente estado de consciência.

Vênus, a beleza da alma

A maioria dos mitos da Criaçãofala de períodos anteriores em que omundo não era ainda habitado poranimais. A humanidade foi criada jus-tamente no início da era de Quetzal-coatl, ou seja, depois de o homem terdescoberto que um princípio espiri-tual vivia nele. Por essa razão, osíndios consideram Quetzalcoatl ocriador do homem e de suas obras: eleé o deus que ajuda os homens a se sus-tentarem (ele ensinou-lhes a agricul-tura). Ele é também um deus salvador,pois é o Senhor que venceu a morte.Ele é ainda o Guardião dos Mistériose, por isso, o deus dos sacerdotes.

Podemos compreender por queVênus, com suas aparições periódicas,simbolizava a ressurreição. Ela repre-senta a alma em sua aspiração ao amore à beleza. Ela está no centro de umdrama cósmico em que o homemdeve travar o combate da libertação.

Após ter brilhado no céu ocidental,Vênus desaparece no horizonte comoque “sob a terra”, e permanece invisí-vel por muitos dias para reaparecer nooriente, mais deslumbrante que antes,ao mesmo tempo em que se dá o nas-cimento do sol. Este caminho é omesmo seguido pela alma, que deixasua morada celeste para descer nastrevas da matéria, antes de ascenderem glória, ao desligar-se de seu corpo.

O mito de Quetzalcoatl simbolizao ciclo de morte e de ressurreição: aalma ressuscitada reencontra seu lu-gar no reino que abandonou há tem-pos. A absoluta pureza do rei refere-se à sua identidade planetária, quandoele ainda era pura luz, e a seu micro-cosmo em seu estado divino. Rei do

céu, Quetzal (pássaro, em nahuatl) etambém da terra, Coatl (serpente deágua), ele corresponde ao grandeplano da Criação, harmonizando-seperfeitamente com as forças naturais ecelestes. A sabedoria nahuatl deixa-seentender a partir de seus principaissímbolos: o pássaro, pela altitude deseu vôo, e a serpente que devora anatureza terrestre. Ela também incluia idéia de purificação de todo o serpelo conhecimento da paz, bem comoa de deixar-se guiar pelo ser verdadei-ro e indivisível.

Quetzalcoatl e Hermes

O deus Quetzalcoatl, com plumasígneas, eleva-se diante do homemcomo símbolo da serpente de fogopurificada e gloriosa. Na tradiçãoegípcia é o caduceu que se eleva comopoderoso símbolo do renascimentodo homem, como símbolo de sua res-surreição, quando ele se alça ao planodo homem-alma-espírito. Em auto-oferenda, ele se torna semelhante aQuetzalcoatl. Sim, ele se torna Quet-zalcoatl, o filho do Criador, o Filhodo Pai-Mãe, Itzamnó.

Assim como o sábio supera o sofri-mento e a verdadeira realeza trans-cende a justiça terrena, assim tambéma alma do peregrino, no decorrer dosséculos, se liberta das cadeias do dese-jo e se torna imortal como Quetzal-coatl, rei do céu e da terra.

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Após a purificação do coração, o guerreiro era

mergulhado na fonte santa chamada cenote.

Nessa fonte, todo o sistema era renovado.

O guerreiro, assim renascido, recebia um lugar

no Templo dos Gerreiros.

(O jogo de bola dos Maias, p. 21)