helena werneck - entrelinhas editora

21
Helena Werneck nu Cuiabá

Upload: others

Post on 16-Oct-2021

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

Helena Werneck

nu

Cuiabá

Page 2: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

© 2017. Werneck, Helena. Todos os direitos desta edição reservados para Entrelinhas Editora.

Editora Maria Teresa Carrión CarracedoConsultoria Lucinda Persona

Revisão Marinaldo Custódio (textos introdutórios)

Arte-finalização Maike VanniAssistente na edição Walter Galvão

Produção gráfica Ricardo Miguel Carrión Carracedo

Foto da capa “A via láctea pantaneira”, de Ernane Lacerda de Oliveira Júnior. Baía de Siá Mariana, em Barão de Melgaço, Mato Grosso (2016)

Foto da autora: Yasmin França

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Poesia : Literatura brasileira 869.1

Werneck, Helena Nu / Helena Werneck. -- Cuiabá, MT : Entrelinhas, 2017.

ISBN 978-85-7992-107-0

1. Poesia brasileira I. Título.

17-08208 CDD-869.1

Av. Senador Metelo 3773, Jardim Cuiabá | Cep. 78.030-005 | Cuiabá-MT Tel.: (65) 3624 5294 | 3624 8711

e-mail: [email protected] | www.entrelinhaseditora.com.br

Page 3: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

Para os loucos, bêbados e melancólicos, ofereço, pois apenas eles entendem do amor em sua matéria mais específica... e também a vocês que fazem parte da minha história.

Page 4: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

Criado em 2015 pela Secretaria de Estado de Cultura, o Prêmio Mato Grosso de Literatura incentiva a produção literária regional, valorizando escritores mato-grossenses em atividade e estimulando o surgimento de novos talentos.

O Prêmio integra as políticas públicas implementadas pela SEC/MT na área da literatura, previstas no Plano Estadual de Cultura (Lei 10.363/2016), que inclui o Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de Mato Grosso (PELLLB-MT).

As principais metas do PELLLB-MT objetivam a democratização do acesso ao livro; fomento e valorização da leitura, literatura e bibliotecas; formação de mediadores para o incentivo à leitura; valorização institucional do livro, leitura, literatura e bibliotecas; desenvolvimento da economia do livro como estímulo à produção intelectual e ao desenvolvimento da economia estadual; fomento à cadeia criativa e produtiva do livro; acesso aos bens culturais e desenvolvimento intelectual e promoção da cidadania.

Page 5: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

[...] E depois de acrobata o meu verso vira mágicoE eu vou tirar da cartola sete notas musicaisE tem mais:Passarinho do dia como canárioPassarinho da noite como bacurauE caminharemos pela rua do AmparoSob a lua de São JorgeNos protegendo do mal

Alceu Valença, em Cambalhotas

Page 6: Helena Werneck - Entrelinhas Editora
Page 7: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

9

Nu, à luz da poesia

Lucinda Nogueira Persona1

Helena Werneck dos Santos surge para a lite-ratura mato-grossense através do 2º Prêmio Mato Grosso de Literatura 2016, contemplada na catego-ria revelação, com seu livro Nu.

Já de início, num contexto surpreendente, des-cobrimos que a poeta, com o belo nome da heroína machadiana, conta apenas dezesseis anos de idade. E um livro de poemas nessa idade é o fiel testemu-nho de um legítimo pendor ou de uma real disposi-ção que pode ser verificada também ao longo da lei-tura. De fato, as elaborações de Helena provocam, a cada trecho, um pausado espanto, pela adolescência dos tons ao lado de uma maturidade afetiva angus-tiada. Seria o caso de se dizer que na claridade juve-nil perpassa a sombra da angústia.

O curtíssimo e sugestivo título, Nu, foi toma-do por empréstimo do poema com o mesmo nome e contém confissões da jovem poeta, sem afetação nem disfarces. É pertinente convir que tal vocábulo

1 Professora e poeta, autora de diversos livros. Cadeira n. 4 – AML

Page 8: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

10

possui reconhecida potência e um caráter múltiplo, trazendo em seu bojo infinitas convocações e deva-neios. Desse termo serviu-se João Cabral de Melo Neto para escrever o poema “As formas do Nu”, com seu particular estilo e rigor construtivo.

Vencido o desafiante pórtico em que se consti-tui o nome do livro é necessário constar que o poe-ma “Nu”, à luz da poesia, expõe um conflito em tor-no de um “poema sem tema”, um poema despojado de vários atributos e vestiduras, onde assistimos a um embate de opostos, quando o ser poético pare-ce dissolver-se em certo cansaço para, logo em segui-da transferir, possivelmente ao leitor ou seu interlo-cutor poético, a tarefa de usar a devida roupagem e adereços.

Esse legado de emoções da juventude e assuntos associados à vida comum da poeta traz à baila com-binações de muito fôlego, elaborações sérias, diver-tidas, ternas e dramáticas. Desde o poema de abertu-ra, as interações com o mundo são reveladas quan-do a poeta, em clima denso, comanda: “Sirva-se do caos”, provavelmente em alusão à música “Sirva-se do caos / que causou” (City In Flames), para depois avançar autêntica e livre:

LivreComo um pássaro negro

Aquele que adormece em seu telhadoE vigia seus passos

Page 9: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

11

As composições de Helena Werneck quase inva-riavelmente são fundadas no amor nessa estreia lite-rária, tanto que nela encontramos, confessadamen-te, um poema intitulado “É que eu gosto de escrever sobre amor”, seja um amor que não pode ter, seja um “Amor morto”, sejam “Amores repentinos”.

Além dos sopros de Eros, os textos da autora destacam a amável postura da menina que caminha pela vida e conta o que acontece com o desprendi-mento, a pureza e a coragem próprios da juventude. Às vezes, chorando “Um mar inteiro” por alguém, conforme ocorre em “Mudança”. No referido poema, assistimos ao desenrolar de uma emoção (declara-da no verso inicial) e que aos poucos vai oferecen-do imagens metafóricas onde o pretenso ser orgâni-co é diluído na própria natureza e então se transfor-ma, perdendo a carnação humana e adquirindo uma inusitada geografia, mostrando o poeta (alquimista em alto grau) no resgate e na resolução estética de um sentimento.

Com as marcas de uma legítima inspiração e arrojada inventividade, a autora realiza uma jorna-da em que põe em jogo divertidos recursos de lin-guagem, a exemplo de “Dores e alegrias”:

Todas minhas dores estão aqui:Para vocês verem

São como doces estragados expostos na vitrineSão como velhas murchas vestindo biquíni

Page 10: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

12

No exercício da palavra, quando o protocolo amo-roso ganha terreno, Helena Werneck projeta confidên-cias de solidão através de imagens que espelham o eu poético e o ser amado num misto de irônico desespe-ro e terna evocação, conforme expressa em “Tabaco”:

Se você some, eu perco o rumoSe você volta, eu fumo

Fumo teus olhos de gueixaFumo tua cara de sãSó não some de novo

Que meu peito, feito rãDesatina a pular

Por vocêSem você

Na noite fria.

Frente ao mundo, a poeta exclama: “Quanta gente, / Já passou por mim” e se detém para refle-tir sobre a “Mãe solteira” que parece observar casual-mente numa viagem. No campo da memória, sente saudades de um “Primo” e engenhosamente restau-ra a figura querida. Em outro momento, para demo-ver alguém de um funesto desejo, ela escreve “12 tarefas para se fazer antes de morrer”.

Ao lado da precocidade e da fluência de seu pen-dor poético, Helena dá mostras de não ignorar as dificuldades da escrita e da árdua/arriscada condi-ção do poeta na execução de seu ofício em “Alguns escritos doem”:

Page 11: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

13

Escrever algumas coisasÉ como marcar o gado

GenteGente do céu!Como dói, né...

Na mesma medida em que a palavra “dor” reme-te ao famoso poema de Fernando Pessoa, a afirmação da autora sobre “a dor que deveras sente” reporta ao que já precocemente compreende acerca do crucial processo da escrita, ou ainda, acerca do desamparo ao qual está exposto o operário da palavra.

Em Helena Werneck, a poesia nasce da contem-plação amorosa de um universo imediato: urbano e familiar. Essa sensibilidade ao entorno humano, tra-ço saliente ao longo do livro, aparece em “Pessoas na vida da gente”:

De onde você veio?Chegou como um anseioComo brisa em centeio

E ficou.

Louvando essa belíssima imagem “brisa em cen-teio”, depositamos em dois verbos: “chegar” e “ficar”, as boas-vindas e os mais caros votos à jovem Helena Wer-neck, que chega com voz suave, otimista, cheia de vita-lidade. Chega para remoçar o entusiasmo de que tan-to necessitamos. Que ela fique/permaneça desvelando novos sonhos no território sempre novo da poesia.

Page 12: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

14

Page 13: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

15

Page 14: Helena Werneck - Entrelinhas Editora
Page 15: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

Jantar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23Amor morto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24Mudança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Ei, menina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26Medidor de dor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27Sobre amores repentinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28Mãe solteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Quero-te . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30Versinho da compaixão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31Encontro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32Desigualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33Amor de vela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Descrição do amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36Caixa de amores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Isadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Pedido de desculpas (mais um, aliás) . . . . . . . . . . . . 40Fé elitista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41Carta de amor psicografada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42Coração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43Tudo vai ficar bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44Amor que não posso ter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45Sonhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46Nu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47Cantada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Page 16: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

Cheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49Refletindo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50Todos crescemos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51Panfletagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52Entrevista de emprego . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54A vida é um barco e eu não sabia . . . . . . . . . . . . . . . . . 56Um dia em que meu queixo doeu riso de felicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58Oportunidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59Escuro é bom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60É que eu gosto de escrever sobre amor . . . . . . . . . . 61Aprendizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62Um dia ruim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63Coisas que aprendi em dois meses e meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64Vãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65Banho de chuva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66Meu presente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67Primo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68(Simples)mente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69Só . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71Mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72Amiga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73Espinhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74Fato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Riso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76Pessoas na vida da gente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78Sobre esse sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79Preciso desse emprego . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80Paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

Page 17: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

Dores e alegrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82Amores reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84Triângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86Não se acomode . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87Esqueçam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89Exercício diário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90Entretanto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91Tabaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9212 tarefas para se fazer antes de morrer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93Coisas que eu amo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95Alguns escritos doem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97(Não fede nem cheira) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98Velhas caravelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99Todo dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100Quando a gente crescer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102Brigamos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104Não sei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106People . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

Page 18: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

20

Page 19: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

21

Page 20: Helena Werneck - Entrelinhas Editora
Page 21: Helena Werneck - Entrelinhas Editora

23

Jantar

Sirva-se do caosDos sonhos imundosSirva-se de mim:ImpuraPecadoraLivreComo um pássaro negroAquele que adormece em seu telhadoE vigia seus passosSirva-se da poluição sonoraE do desespero daquele que pede esmola na ruaSirva-se de tudo que é ruimPara depoisO que é bomSer um alívio.