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LÚCIO LAMPREIA DESIGN ANA SERRA

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LÚCIO LAMPREIADESIGN ANA SERRA

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LÚCIO LAMPREIA

ÍNDICE

Introdução____________________________________________ 10

CAPÍTULO 1

A estrada da Autonomia_______________________________ 18

CAPÍTULO 2

Criar a sua própria sorte_______________________________ 54

CAPÍTULO 3

Livre__________________________________________________ 92

CAPÍTULO 4

Mudar de estado_____________________________________ 112

CAPÍTULO 5

Cocktail de conhecimentos____________________________ 136

CAPÍTULO 6

De portas abertas_____________________________________156

CAPÍTULO 7

Adeus, chefe_________________________________________ 182

EPÍLOGO

Mude________________________________________________ 198

Agradecimentos_______________________________________ 209

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MUDE

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LÚCIO LAMPREIA

The Matrix

“Mais cedo ou mais tarde

irás perceber, tal como eu percebi,

que existe uma diferença entre

CONHECER o caminho e percorrer

o caminho”_

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MUDE

No futuro, as empresas vão deixar os seus palácios e viver na rua. Vão valorizar as pessoas pelos seus contributos e não pela sua posição hierárquica. Vão manter apenas as pessoas que geram valor, por tempo determinado, e pensar em rede será uma das competências mais valorizadas – ao contrário de pensar em equipa.As empresas e o trabalho do futuro serão expedições temporárias, cooperantes e desafiantes. Expedições onde não se trabalha das 9h às 18h, nem se contam os dias para o fim-de-semana ou para as férias.

Numa expedição não se está numa posição passiva a aguardar as ordens do chefe, a avaliação de desempenho ou o salário ao fim do mês. Numa expedição, trabalha-se para a construção e concretização de algo, que tenha significado e crie valor. Trabalha-se com a atenção focada no terreno e naquilo que constantemente está a mudar. Ao contrário do que acontece com as pessoas que se fixam, quem

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trabalha “em movimento” pisa diferentes terrenos, experimenta diferentes ambientes e por isso não espera que as condições se mantenham (e elas nunca se mantêm).Quem está numa expedição não pode desligar o telefone ao fim do dia, nem dizer até “até amanhã” com a sensação de dever cumprido porque até que se chegue ao destino, há sempre mais alguma coisa para fazer. O trabalho passa a ser uma constante, como o tempo, que interage com outras variáveis. Quem está numa expedição, vive-a 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. O prazer mistura-se com o dever e com a aventura. Afinal, existe mesmo a fronteira entre a vida pessoal e o trabalho?

Este livro é sobre pequenas expedições e grandes travessias: a maior, é sem dúvida a que estamos a fazer no mundo do trabalho. Entre as expedições incluo a minha, pois deixei uma grande empresa e iniciei por vontade própria um processo de mudança, uma procura, um ensaio daquilo que acredito ser o trabalho no futuro. Mas é também, e sobretudo, um livro sobre as muitas expedições organizacionais que acompanhei ao longo de 20 anos de trabalho em consultoria. O meu trabalho sempre foi justamente o de ajudar pessoas, equipas e organizações a fazerem as suas próprias travessias: da Insegurança para a Confiança, do Paternalismo para a Autonomia, da Reactividade para a Proactividade, da Certeza para a Incerteza, do Ruído para a Comunicação, do Conflito para a Cooperação, e tantas outras...

Em relação à minha travessia pessoal, muitas vezes perguntam--me (eu próprio me pergunto) porque tomei essa decisão. Afinal troquei um bom salário por uma remuneração irregular, um horário certinho pela ausência de horário, uma equipa grande, por uma grande intimidade com a máquina das fotocópias. Deixei uma carreira de sucesso para começar uma vida em que só dependo de mim e do meu talento. Naturalmente que não há um único factor

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que explique a mudança. Decisões deste género são complexas. Estava insatisfeito com o que fazia e com o que tinha? Não. Mas objectivamente precisava de mais, de muito mais. Precisava de não ter tecto para as minhas ideias e projectos. De abrir a janela, de me sentir livre.

Foi nesse contexto que comecei a observar a realidade com outros olhos, à procura daquilo que havia de ser o futuro. Recordo-me de que, por essa altura, um dos meus colaboradores entrou no escritório e perguntou: “Vai deixar-se ficar aí à espera da reforma?” E devagar (mas com uma força interior incontrolável) nasceu a vontade de fazer alguma coisa diferente. O apelo estava lá, mas era pouco claro. Queria fazer alguma coisa nova, que fosse distinta, que fosse uma extensão das minhas aspirações. Mas não sabia o quê. Estava portanto no estado de: À Procura...

Até ao dia em que recebi um telefonema. Perguntaram-me se estaria disponível para moderar um workshop com uma nova metodologia de design para fazer o rebranding de um banco. Seria dali a dois meses em Évora. Disse que sim, como se fosse apenas mais uma moderação, e preparei-me da melhor forma. No workshop passei três dias e três noites com pessoas que me eram totalmente desconhecidas e que me mostraram um outro planeta: o design e a criação de marcas. Foi uma verdadeira revelação. Tinha descoberto uma nova linguagem, uma nova forma de pensar e trabalhar. Durante aqueles dias vivi de forma intensa a criação de uma marca e percebi todas as suas perspectivas e formas, com interlocutores de diferentes áreas e ciências, muito para além dos habituais pares da minha área. A minha visão tinha deixado de ser a preto e branco e passou a ser a cores, com possibilidades infinitas: a partir daquele momento, comecei a olhar para as marcas, empresas e negócios com um novo olhar, o olhar do design. E tudo aquilo de que eu andava à procura passou a ter um nome, uma forma, a fazer sentido e a encaixar de forma perfeita.

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Foi de tal forma forte e desafiante este contacto que, ainda antes de voltar para casa, já havia decidido que nada voltaria a ser como antes. Tinha visto aquilo de que andava à procura, uma nova abordagem aos problemas no mundo do trabalho de uma forma holística, com uma enorme componente artística.

Cabe-nos sempre decidir o que fazemos com as experiências que temos, com as pessoas que conhecemos, com aquilo que aprendemos. Se vamos ou não a jogo, se decidimos arriscar ou se ficamos apenas com uma boa memória do momento. Tenho sempre presente as palavras do general Colin Powell e da sua regra P=70. Devemos tomar as nossas decisões quando a probabilidade de sucesso for igual a 70%. Porque se esperamos pelos 90% ou pelos 100% poderá ser tarde de mais.

Quando concluí o workshop não tinha muitas certezas, mas tinha a convicção de que era mais perigoso para mim continuar onde estava do que iniciar uma nova expedição ou aventura. Porque ao estar parado tornava-me num alvo fácil da monotonia, da rotina, da repetição – no fundo uma vítima de uma ilusória sensação de conforto e bem-estar.

Quatro anos passados, tenho a possibilidade de reescrever diaria-mente a minha história, de acrescentar uma página, um parágrafo ou uma palavra. E a história cresce, aumenta de volume e de interesse, anda para a frente e para trás, toma o rumo que eu lhe imprimo.

Foi por isso que escrevi este livro: um manual que vos ajudará a sobreviver à incerteza da mudança, ao medo de arriscar, à rotina diária ou à falta de confiança nas vossas próprias capacidades. E claro, a serem mais felizes no vosso trabalho.

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MUDE

Neste momento difícil que atravessamos, parece quase pretensioso falar de felicidade, sobretudo de felicidade no trabalho, pois provavelmente para alguns dos leitores o simples facto de terem um trabalho é já motivo de felicidade. A realidade, no entanto, é outra: a maioria dos portugueses, mesmo agora, não se sentem realizados profissionalmente. Convém no entanto frisar que este livro não é (de todo!) um apelo ao empreendedorismo: as pessoas são diferentes e seguem o caminho que lhes for mais proveitoso.Este livro trata de algo muito maior: o tipo de relação que vamos ter com o trabalho no futuro. Seja ele qual for, ou em que país for, na nossa empresa ou a trabalhar para terceiros. Porque a narrativa do mercado de trabalho mudou, ou está a mudar, de forma irreversível: se pensarmos por um momento apenas na dimensão da liderança, podemos observar que nas novas empresas (os consultores chamam-lhes empresas 2.0), o líder já não manda (incluo-me a mim), nem quer mandar; e o que o líder menos deseja são pessoas que queiram ser paus-mandados.

Os novos líderes querem liderar, querem ligar pessoas, sonhos, projectos, objectivos e ideias. Querem dar latitude. Trabalhar para os outros, servi-los da melhor forma.

Olhe à sua volta. O trabalho, tal como o conhecíamos, está a morrer. E um novo mundo está a ser construído, de uma forma silenciosa, mas que ganha novos contornos de dia para dia. O mundo renasce diariamente, não quer parar e não quer ser igual.No mundo do trabalho, passámos por muitos momentos diferentes: desde a era agrícola, à industrialização, até chegarmos à era digital. Para trás ficaram crises, crescimentos, guerras, invenções.Mas, curiosamente, nos últimos 20 anos, na maior parte dos sectores, os modelos de negócio mantiveram-se estáveis, fechados, entanques e agora um novo paradigma começa a surgir.

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Se durante muito tempo a segurança, o conforto e o status estavam do lado daqueles que nunca saíam do lugar e iam progredindo com o passar do tempo, neste momento tudo mudou. Podemos ver esses sinais nos símbolos de status que mudaram: hoje admira-se mais alguém que vá de bicicleta para o trabalho do que de Mercedes- -Benz, admira-se mais quem tem tempo para sair cedo e estar com os amigos e família, do que quem chega a casa exausto mas com dinheiro para pagar o prolongamento na escola e comprar o jantar feito. São acima de tudo sinais de liberdade de pensamento que se reflectem numa forma de estar desprendida de coisas e ligada a ideias.

Há duas ideias fundamentais sempre presentes neste livro e que devo desde já partilhar: a primeira é que devemos ganhar a consciência real de que estamos por nossa conta (mesmo na grande empresa). Em segundo, que os modelos de gestão das organizações (grandes e pequenas), que até agora fizeram com que vocês tivessem sucesso, estão a dar lugar a novos modelos de trabalho que valorizam o talento individual e não tanto a massificação.Estes dois pilares são críticos para se perceber a forma de lidar com as novas possibilidades profissionais, para que não esqueça esse grande valor patrimonial chamado “Eu”.

Para uma melhor compreensão do modelo aqui apresentado, será sempre utilizado o DE (sinónimo de passado) e o PARA (presente e futuro). É como se nesta expedição houvesse uma ponte De uma margem Para outra.

O livro é como um GPS que nos ajuda a fazer a viagem, De um ponto Para outro. E em cada capítulo terá oportunidade de experimentar passar a ponte, chegar ao outro lado e ver como será o futuro. E com o mesmo GPS poderá munir-se de todos os elementos necessários para a travessia e para se manter do lado de lá.

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MUDE

Vai encontrar aqui descritas situações do seu dia-a-dia e as possibi-lidades que se lhe apresentam. Vai perceber que não tem de aceitar de forma resignada aquilo que tem, porque “é assim que as coisas são”. Vai aumentar o seu poder argumentativo e olhar para o seu trabalho com uma perspectiva nova. Nem sempre terá a visão mais simpática ou cor-de-rosa, mas será seguramente a mais útil para quem acredita em si e no seu potencial.

Vai também encontrar formas para lidar com estados de apatia, tédio ou incerteza, para sentir o seu futuro como algo em que tem uma palavra a dizer, onde pode ser o protagonista. Sem facilidades, porque quando se passa a ponte nunca temos a certeza daquilo que iremos encontrar do outro lado. Por isso sugiro que vá muito bem preparado para lidar com o inesperado.

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LÚCIO LAMPREIA

Prometo não o maçar com teorias

extensas, pois acredito que a parte

mais interessante de qualquer tra-

balho é simplificar: simplificar a vida

dos leitores, a vida dos clientes, a

vida das pessoas nas organizações.

E simplificar, eu sei, é a parte dura

mas desafiante da questão.

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01 A ESTRADA

DA AUTONOMIA

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MUDE

Vamos pensar na Basílica de S. Pedro em Roma: demorou 120 anos a ser construída e implicou o trabalho de milhares de homens ao longo de várias gerações. Para ser construída, para além de dinheiro, arquitectura, pessoas e materiais, também exigiu uma entrega total das pessoas associada a um determinado tipo de mentalidade, vigente na época em Roma: caos, corrupção e nepotismo emergente. Apesar disto realizou-se uma obra extraordinária, que exibe cons-truções complexas e difíceis de replicar. Contudo, hoje já não se constrói nada assim. Hoje a construção é simples, com material pré-fabricado onde as peças encaixam umas nas outras e onde as máquinas dominam o processo. Podemos gostar muito da basílica, mas já não se faz nada semelhante, faz parte do passado.

O mesmo acontece com o anterior paradigma de trabalho pater-nalista. Era suposto as empresas cuidarem dos colaboradores como se fossem os pais deles. Os funcionários eram vistos como “filhos” que precisavam de ser guiados e não tinham grande autonomia ou insight. Todo o processo de trabalho estava definido, e as pessoas que trabalhavam na empresa foram desresponsabilizadas pelos processos que entretanto se foram criando.

O resultado foi a criação de uma geração de funcionários depen-dentes e com pouca ligação emocional ao seu trabalho – porque a partir do momento em que as empresas deixam de ter espaço para o contributo autónomo do trabalhador e lhe dizem em detalhe o que fazer, naturalmente existe uma parte importante (talvez a mais importante) do seu Eu que fica fora do processo.

Nos últimos séculos o modelo foi aperfeiçoado, fruto da formatação da Revolução Industrial no séc. xviii. O impacto de tantos anos neste paradigma é visível na actual conjuntura, onde encontramos uma enorme preocupação e prevalência de estudos sobre engagement feitos pelas maiores organizações de estudos de mercado e por governos como o State of the American Workplace:

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Employee Engagement Insights for U.S. Business Leader. MacLeod, D. & Clarke, N. (2009) e o Engaging for Success: Enhancing Performance Through Employee Engagement: a Report to Government.

Olhando para o nosso sistema educativo vemos que o velho modelo ainda prevalece: as crianças vão para a escola na expectativa de que o professor as corrija e diga tudo o que elas têm de fazer para que no final as avalie; quem sair do padrão paga por isso. O “sistema” perpetua-se depois nas organizações: quem discorda da sua chefia pode ficar em maus lençóis.

Neste enquadramento, as regalias, níveis hierárquicos a perder de vista, pessoas desmotivadas à espera da hora da saída, trabalho seguro e salário certo, são para mim a Basílica de S. Pedro: podemos admirá-la, mas como monumento do passado.

O novo modelo de trabalho já não é paternalista. Já não se espera que a empresa cuide da vida dos seus colaboradores – e não cuida mesmo, longe vai o relógio de ouro oferecido aos funcionários com 50 (!) anos de empresa.

O modelo agora é dos trabalhadores independentes

que correm o mundo à procura de projectos desafiantes,

de pessoas que querem colocar o seu talento ao serviço

dos projectos que vão integrar. As pessoas já não

querem ser espectadoras na sua profissão,

querem que o seu trabalho seja um contributo válido

para a peça final.

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Se o paradigma mudou de forma tão profunda não vale a pena insistir a reclamar aquilo que perdemos, até porque serve de muito pouco. Não é fácil fazer esta passagem, mesmo porque a transição custa: perdem-se regalias, segurança, conforto e equilíbrio, sem falar no medo do desconhecido que está à nossa espera no outro lado da “ponte”. Um alarmante número de pessoas está insatisfeito com o seu trabalho. Nos EUA o número ronda os 70%, segundo o estudo Gallup’s 2013 State of the American Workplace. Mas os funcionários optam por se manter à espera de que aconteça alguma coisa em vez de prepararem e planearem a sua mudança, ou saída. A questão é: sempre que fica à espera, passivamente, de alguma coisa está a dar o comando ao outro lado. E o que acontece a maioria das vezes é que a espera torna as pessoas opacas, sem brilho, sem contactos, acabando depois por serem despedidas e sem muitas alternativas. Muitos daqueles que se vão deixando ficar, têm medo da travessia. Mas permanecer imóvel é mais perigoso: o tempo do Eu executante terminou, porque hoje as máquinas desempenham ou vão desem-penhar esse papel na sua plenitude. Segundo Carl Benedikt e Michael Osborne (The Future of Employment: How Susceptible Are Jobs to Computerisation), 47% dos postos de trabalho nos EUA vão ser substituídos por máquinas, num estudo em que é avaliada a susceptibilidade dos trabalhos face à computorização. No estudo foram analisadas 702 funções – desde áreas como gestão, vendas, engenharia e ciência, apoio administrativo e de escritório, produção, transportação ou agricultura a educação, artes, comu-nicação, saúde e serviços.

E os empregos com mais elevado risco de informatização são:

1. Suporte administrativo e de escritório;

2. Serviços;

3. Vendas;

4. Transporte de material e logística;

5. Produção.

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Empregos com baixo risco de informatização – boas notícias para:

1. Educação, serviço comunitário, artes, comunicação

e serviços legais;

2. Gestão, negócios e finanças;

3. Técnicos de saúde;

4. Engenharia e ciência;

Durante o último século todo o esforço humano foi no sentido de automatizar aquilo que poderia ser automatizado, e assim irá continuar. Então, o que resta para nós? O Eu, o Talento, a Arte. O “põe quanto és naquilo que fazes”, citando Ricardo Reis, é o grande desafio que temos em mãos, sobretudo quando aparentemente o aquilo que fazes é cada vez mais difícil de encontrar.De há alguns anos a esta data tenho trabalhado com várias pes-soas que foram despedidas e que até certo ponto antecipavam o despedimento. Elas sabiam que não estavam a fazer tudo aquilo que podiam e sentiam que a sua hora poderia estar próxima. Elas sabiam. Mesmo de uma forma muito ténue existe sempre a noção do seu bom ou mau desempenho. A questão é que se sente que não está a dar o seu melhor, deve perguntar-se imediatamente: O que me está a bloquear e me mantém imóvel ou hipnotizado?, ou então, Se não estou comprometido com este trabalho, estou comprometido com o quê?

A investigação mostra-nos que a maioria das vezes o que nos paralisa é a crença de que vamos falhar. O medo de não sermos capazes tem amiúde a ver com um baixo autoconceito de eficácia pessoal. O psicólogo Albert Bandura definiu assim o conceito de Eficácia Pessoal1: “Crença na habilidade de fazer acontecer alguma coisa em determinado contexto.”

1 Self-efficacy: Toward a Unifying Theory of Behavioral Change. Psychological Review, 1977, Vol. 84, No. 2, págs. 191-215.

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A experiência diz-me que a nossa crença aumenta exponencial-mente quando nos sentimos preparados, quando aumentamos as nossas capacidades. Para isso temos de desenvolver novas técnicas, sair da nossa zona de controlo: podemos ter aulas de representação ou aprender uma nova língua. Nesses momentos sentimo-nos mais fortes, e, se nos sentimos fortes, sentimo-nos preparados para arriscar. Vale a pena perceber isto, porque o novo contexto vai (já está a) exigir muito de nós, e de maneira diferente. O novo contexto (tal como qualquer mudança) deixa-nos sempre perdidos, desolados, como se tivéssemos de deitar fora tudo aquilo que aprendemos.

Segundo uma investigação do Productivity Institute nos Estados Unidos, (http://www.balancetime.com/articles_online.php, Donald E. Wetmore), metade daquilo que sabemos hoje não irá servir para nada daqui a cinco anos. O que significa que, se não evoluirmos, daqui a cinco anos estaremos tão obsoletos como um “velho” telemóvel. E, diz o estudo, muitos de nós estarão a exercer profissões que ainda não foram inventadas. Interessante, não é? O que significa que as amarras que tínhamos ao passado em relação ao trabalho estão finalmente a quebrar- -se. Um novo tipo de ocupação está a surgir, que exigirá de nós as devidas actualizações, mas sobretudo vontade de as realizar (A vontade é sempre crítica).

No dia em que ler este livro, pode imaginar como será a sua profissão ou trabalho daqui a três anos e começar desde já a preparar-se para o que vai ser: de que tipo de conhecimentos irá necessitar, que línguas vai precisar de saber falar, o que tem de aperfeiçoar em termos informáticos ou de técnicas de apresentação, se precisa

E QUANDO NÓS PRÓPRIOS NÃO ACREDITAMOS QUE SOMOS CAPAZES

DE FAZER ALGUMA COISA, ALGUÉM VAI ACREDITAR POR NÓS?