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0 LUCIANA VIEIRA MAGALHÃES UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE TRABALHO PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA APÓS A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 GOIÂNIA-GO 2012

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LUCIANA VIEIRA MAGALHÃES

UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE TRABALHO PARA A PESSOA C OM

DEFICIÊNCIA APÓS A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

GOIÂNIA-GO 2012

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LUCIANA VIEIRA MAGALHÃES

UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE TRABALHO PARA A PESSOA C OM

DEFICIÊNCIA APÓS A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, como pré-requisito parcial para a obtenção do título de Mestra em Sociologia.

Orientadora: Prof(a) Dr(a). Eliane Gonçalves.

GOIÂNIA-GO 2012

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MAGALHÃES, L.V. UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE TRABALHO PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA APÓS A CONSTITUIÇÃO BRASILEI RA DE 1988. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, como pré-requisito parcial para a obtenção do título de mestra em sociologia.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof(a) Dr(a) Eliane Gonçalves [orientadora].

__________________________________________________

Prof. Dr. Jordão Horta Nunes [convidado interno]

__________________________________________________

Prof(a) Dr(a) Berlindes Astrid Küchemann [convidada externa]

GOIÂNIA (GO) - 2012

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DEDICATÓRIA

A Deus, com profunda gratidão por tudo...

Especialmente ao papai, Sr. Manoel Alves

Magalhães (in memorian), pelos exemplos de

trabalho e dedicação, e à mamãe, Maria Vieira

Magalhães, pelo amor e apoio.

À minha família querida, pelo estímulo de todas as

horas.

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AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia (UFG), pela inesquecível experiência

acadêmica proporcionada.

À Professora Doutora Eliane Gonçalves, orientadora, cujas críticas e sugestões,

sempre estimulantes e com um bom senso mesclado em energia e suavidade, que

enriqueceram sobremaneira esta dissertação, meus sinceros agradecimentos, carinho e

respeito, pela compreensão de minhas limitações, pela sabedoria e elegância em me conduzir

não só nesta composição, mas em descobertas preciosas sobre minha relação com a

encantadora área das pessoas com deficiência, sobre as relações de poder da academia, e

sobre mim.

Aos docentes do Programa pela orientação, exemplo de dedicação à educação e,

principalmente, por facultar a construção do conhecimento que tornou possível a realização

deste trabalho.

Um especial agradecimento ao senhor Adelson Alves Silva, homem simples e com

bela história de liderança na defesa de direitos das pessoas com deficiência, cuja competência,

e sensibilidade, sabedoria e humildade sempre foram dignos de exemplo em meu trabalho.

Aos meus colegas de mestrado, pelo companheirismo e momentos agradáveis

vividos durante esses anos de intensa vida acadêmica.

À Daisy Caetano, secretária da Pós-Graduação que me acompanha desde a

graduação em ciências sociais, profissional eficiente, que sempre me estimulou no mestrado.

À minha Família, pela presença feliz em minha vida e constante incentivo.

Finalmente, agradeço a Deus, fonte da minha força, pela graça de mais uma vitória.

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“É mais fácil ensinar um aleijado a desempenhar uma tarefa útil do que sustentá-lo como

indigente”. (Aristóteles, 322 a.C.)

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RESUMO ______________________________________________________________________ MAGALHÃES, L.V. UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE TRABALHO PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA APÓS A CONSTITUIÇÃO BRASILEI RA DE 1988. Faculdade de Ciências Sociais. Universidade Federal de Goiás. 2012. Dissertação (mestrado em sociologia). .

Nesta dissertação apresento os resultados da pesquisa sobre a oferta de trabalho para as

pessoas com deficiência (PCDs) no período compreendido entre a promulgação da

Constituição Brasileira de 1988 a 2010, analisando mudanças e permanências no que tange à

empregabilidade dessas pessoas no mercado de trabalho. Analiso historicamente como foi

possível o enfrentamento de obstáculos resultantes do preconceito e estigmas culturais

imputados a essa parcela da sociedade brasileira, que no censo demográfico de 2000

correspondia a 14,5% da população total. Inspirada nas perspectivas teóricas de Pierre

Bourdieu (1930-2002) e Erving Goffman (1922-1982) utilizo os conceitos de habitus, campo

e violência simbólica de Bourdieu, e o conceito de estigma de Goffman, em diálogo com

outras teorias sociais contemporâneas, buscando compreender a problemática nos âmbitos

formal, legal e estrutural.

Palavras-chave: pessoa com deficiência; trabalho; inclusão social.

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ABSTRACT ______________________________________________________________________ MAGALHÃES, L.V. A LOOK ON THE LABOUR SUPPLY FOR PEOPLE WITH DISABILITIES AFTER THE BRAZILIAN CONSTITUTION OF 19 88. Faculdade de Ciências Sociais. Universidade Federal de Goiás. 2012. Dissertação (mestrado em sociologia).

In this thesis I present the results of research on labor supply for people with disabilities in the

period between the enactment of the Brazilian Constitution from 1988 to 2010, analyzing

changes and continuities regarding the employability of these people into work. I analyze

historically how it was possible to cope with obstacles of prejudice and cultural stigmas

allocated to that portion of society, that the 2000 census accounted for 14.5% of the total

population. Inspired by the theoretical perspective of Pierre Bourdieu (1930-2002) and Erving

Goffman (1922-1982) I use the concepts of habitus, field and symbolic violence from

Bourdieu and the concept of stigma from Goffman, in dialogue with other contemporary

social theories, trying to understand the question in formal, legal and structural areas.

Key-words: person with disability; work; social inclusion.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

BPC - Benefício de Prestação Continuada.

CAP - Centro de Apoio Pedagógico para Pessoas com Deficiência Visual.

CAPD - Coordenação de Atenção à Pessoa com Deficiência.

CAS - Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez

CEID - Coordenadoria Estadual para a Integração da Pessoa com Deficiência

CIDID – Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens

CIES - Centro Integrado de Educação Especial.

CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

CONADE - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência.

CORDE – Coordenadoria Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência

NAAH/SD - Núcleo de Atividades para Altas Habilidades/Superdotação.

PCD (ou PCDs) – Pessoa (s) com Deficiência.

PPD (ou PPD’s) – Pessoas Portadoras de Deficiência

SICORDE - Sistema de Informação sobre Deficiência.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LISTA DE TABELAS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11

1. ABORDAGENS E PARADIGMAS HISTÓRICOS APLICADOS ÀS PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA .................................................................................................................................. 21

1.1. Panorama e Paradigmas Norteadores da Abordagem Histórica da Pessoa com Deficiência ..... 21

1.2. A Criação Social do “Ser Deficiente” e o Estigma Presente na Terminologia .......................... 23

1.3. Terminologia .............................................................................................................................. 26

2. APONTAMENTOS SOBRE TRABALHO E O VALOR SOCIAL ATRIBUÍDO À MÃO-DE-

OBRA COM DEFICIÊNCIA ............................................................................................................ 41

2.1. A Teoria Social e o Clássico Direito Humano ao Trabalho ....................................................... 41

2.2. Teoria Clássica do Trabalho ....................................................................................................... 46

2.3. A Teoria Social Contemporânea sobre as PCDS. ...................................................................... 53

3. MARCO LEGAL .......................................................................................................................... 57

3.1. O Reconhecimento da “Diferença” por via do Princípio da Igualdade, como Corolário de

Justiça Social ..................................................................................................................................... 57

3.2. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC): MARCO PARA A

SOBREVIVÊNCIA E DIGNIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. .................................... 58

3.3. A Legislação Vista a Partir do Princípio de não Retrocesso Social, como Fonte Essencial de

Progresso Coletivo ............................................................................................................................ 59

4. CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988, BASE DEMOCRÁTICA ÀS CONQUISTAS

TRABALHISTAS PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA ......................................................... 68

4.1. A Constituição Cidadã ................................................................................................................ 68

4.2. A Constituição e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência .. 75

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5. A INSERÇÃO DA PCD NO MUNDO DO TRABALHO ........................................................... 80

5.1. Por que Criar a Lei de Cotas....................................................................................................... 80

5.2. A Política de Educação Profissional e Geração de Emprego e Renda para Pessoas Com

Deficiência Do Estado De Goiás ....................................................................................................... 81

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 88

ANEXOS ........................................................................................................................................... 95

ANEXO I - DECLARAÇÃO DE GOIÁS......................................................................................... 95

ANEXO II - SUGESTÕES DE PROFISSÕES COMPATÍVEIS COM CADA DEFICIÊNCIA .... 97

ANEXO III – SUGESTÃO DE ENDEREÇOS NA INTERNET: .................................................. 111

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INTRODUÇÃO

Os resultados preliminares do censo demográfico de 20101 do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil tem 45,6 milhões de pessoas com

deficiência (PCDs)2. Sendo que 23,9% do total da população brasileira informou ter

deficiência visual, auditiva, motora ou mental. Ao compararmos este percentual com os

14,5% do censo de 2000 nos deparamos com um significativo aumento e com o desejo natural

de um olhar mais atento a este fragmento populacional, que seja capaz de atender às

reivindicações básicas do respectivo movimento de defesa de direitos, em seu clamor nacional

por acessibilidade plena e efetiva inclusão social nas políticas públicas em voga.

Segundo estimam a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização

Mundial da Saúde (OMS) 500 brasileiros se tornam deficientes diariamente, seja através de

acidentes ou doenças que deixam sequelas. A questão torna-se então imperativa, posto que

homens ou mulheres, adultos ou crianças, a qualquer momento estão sujeitos a adquirir uma

deficiência e também passar a fazer parte desta estatística, seja pela possibilidade de se

envolver em um acidente de trânsito, em incidentes com armas de fogo ou objetos cortantes

como consequência da violência urbana, acidentes domésticos, acidentes de trabalho,

incidentes cirúrgicos, ou mesmo por contrair determinadas doenças presentes em uma extensa

lista na qual sempre são acrescidos novos riscos pela medicina. Em Goiás, as PCDs somam

cerca de 700 mil, e em Goiânia, 170 mil (IBGE, 2000).

O movimento de defesa de direitos das PCDs subsidiou a construção de legislação

nacional que faculta aos governantes e à sociedade a adoção de ações necessárias ao pleno

exercício de direitos básicos dessas pessoas, norteando o proceder da sociedade como um

todo centrado no atual paradigma da abordagem social da deficiência fundado na inclusão

social.

1 Em 2010, haviam 45,6 milhões de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas (visual, auditiva, motora e mental), representando 23,9% da população. A diferença em relação aos dados do Censo 2000 (14,5% da população, mais de 24 milhões de pessoas com deficiência) se deve a um aprimoramento metodológico, que possibilitou uma melhor captação da informação. (fonte: Sala de Imprensa: Censo Demográfico 2010: Resultados gerais da amostra). 2 Será utilizada aqui a expressão em voga “pessoa com deficiência/PCD (na literatura e documentos oficiais consultados aparece referência abreviativa tanto nas formas singular/plural, como minúscula/maiúscula), fruto de décadas de estudos e debates sobre a melhor conceituação a este segmento social, capaz de definir sem estigmatizar, sendo oficializada via PORTARIA Nº 2.344, de 3 de novembro de 2010 e que substituiu assim as expressões “portador de deficiência” ou “portador de necessidades especiais”.

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Em face de tantas barreiras de acessibilidade, desde arquitetônicas até atitudinais,

impostas na estrutural social, barreiras que não só limitam como impedem as PCDs de

usufruir dos direitos universais e constitucionais. Como o direito de ir e vir, o direito ao

transporte público e acessível, à educação pública inclusiva e o direito ao trabalho inclusivo,

com oportunidades de desenvolvimento e de promoção laboral, com conquista de cargos e de

boa remuneração, desejos naturais do ser humano, mas facultados somente às pessoas sem

deficiência.

Mas quem são as pessoas com deficiência (PCDs), ou ainda, como conceber este

sujeito alvo desta investigação? A Classificação Internacional de Funcionalidade,

Incapacidade e Saúde (CIF), criada pela OMS, fornece orientações sobre a identificação das

pessoas com deficiência, relativizando o conceito de deficiência, ao reconhecer que estas

pessoas estão inseridas no contexto social, e desse modo relaciona este conceito com variáveis

como sexo e idade, entre outras. Segundo João Ribas (2007):

A CIF evidencia que deficiência é um tema que só pode ser estudado na transversalidade, é um acometimento que incide sobre crianças, e adultos, homens e mulheres, brancos e negros, ricos e pobres, ocidentais e orientais, católicos e judeus. Tem graduações que vão da amputação de dedos a estados de vida vegetativos. Cruza momentos históricos, atravessam continentes, perpassa sociedades e culturas, origina-se em acidentes e em guerras monumentais. É atenuada ou agravada pelas circunstâncias que a cercam. (RIBAS, 2007, p. 18)

Assim, para evitar o lapso comum de ao se dirigir a uma PCD, ou mesmo ao se falar

da PCD enfatizar a deficiência que a pessoa tem, tendo como base a orientação tradicional e

antiga de explicação apenas médica da deficiência, recheada assim de estigmas culturais e

sociais presentes até em níveis inconscientes, que acabam por colocar em detrimento estas

pessoas, utilizamos a abordagem sociocultural, centrado no paradigma da inclusão social com

base nos princípios de equidade e direitos humanos. Nesse contexto, serão abordadas as

especificidades destas pessoas enquanto características físicas (que se somam às outras que

elas possuem) após se discutir a raiz da questão, ou seja, as implicações culturais, estruturais e

materiais, tendo em vista que “cruzam momentos históricos e atravessam continentes,

perpassando sociedades e culturas”, como disse João Ribas (Ibid. p.18).

Nota-se que a edificação de uma sociedade inclusiva envolve o cuidado com a

linguagem. Na linguagem se expressa, voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a

discriminação em relação às pessoas com deficiências.

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Os conceitos ou termos que definem a deficiência foram se adequando à evolução da

ciência e da sociedade sendo “Pessoa com Deficiência” (PCD) o termo correto atual, definido

pela Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidades das

Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembleia Geral da ONU em 2006 e ratificada no

Brasil em julho de 2008.

Dos 23,9%, isto é, 45,6 milhões de pessoas com deficiência apontadas pelo censo

2010 do IBGE, a mais comum foi a visual, atingindo 3,5% da população. Em seguida, ficaram

problemas motores (2,3%) - chamados de deficiência física, intelectuais (1,4%) – ainda

conhecidos como deficiente mental, e auditivo (1,1%), ainda chamado por alguns de surdo-

mudo. Por estes dados, mais de 6,5 milhões de pessoas têm alguma deficiência visual no

Brasil e desse total 528.624 pessoas são incapazes de enxergar (cegos) e 6.056.654 pessoas

possuem grande dificuldade permanente de enxergar (baixa visão ou visão subnormal).

(IBGE, 2010)

Segundo a World Report on Disability,

a cada cinco segundos uma pessoa se torna cega no mundo. Do total de casos de cegueira, 90% ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos. Até 2020 o número de deficientes visuais poderá dobrar no mundo. Com tratamento precoce, atendimento educacional adequado, programas e serviços especializados, a perda da visão não significa o fim de uma vida independente e produtiva. (WORLD REPORT ON DISABILITY, 2010, s.p.)

Constata-se então a necessidade dos governos trabalharem pela inclusão das PCDs

em amplas frentes sociais, e aqui destacaremos a inserção da PCD no mercado de trabalho.

A atualidade tem sido chamada por pesquisadores das questões sociais como a era

das ações afirmativas, no sentido em que o Estado e a sociedade civil buscam uma

compensação para perdas históricas por meio da garantia de direitos e dignidade relativos às

minorias sociais, como o negro, a mulher e as pessoas com deficiência. Segmentos sociais

historicamente marcados por perdas individuais e coletivas no que se refere ao respeito, à

dignidade, ao espaço social, à acessibilidade e às benesses sociais em geral.

Atentos à necessidade de reparação histórica para com as PCDs, a pauta prioritária

apresentada por estas pessoas em cenário nacional, estadual e municipal, através do seu

movimento representativo ao longo das duas últimas décadas (expressa na mídia em diversos

documentos publicados durante este período), tem sido a inclusão efetiva dos direitos da

pessoa com deficiência nas políticas públicas, o cumprimento de legislações que dispõem

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sobre o novo paradigma inclusivo centrado no reconhecimento da diversidade humana, e a

luta por acessibilidade ampla e irrestrita, com vistas à equidade de acesso e oportunidades

para todos.

Eis que temos então um segmento social de PCDs que corresponde a 10% da

população mundial (UNESCO, 1996) e no Brasil a 23,9%, quase 25%, ou seja, quase um

quarto dos brasileiros (IBGE, 2010). No palco dos dias atuais emergem assim dois cenários

dignos de destaque. De um lado, a demanda de superarmos a pura e simples proibição de

discriminação, que possibilita tão somente a reparação de danos e, de outro lado, a demanda

desenvolvimentista governamental que motiva o Brasil, via população localizada nos

municípios, a trabalhar mais para aumentar a produção, multiplicando as riquezas do país.

Esta ação para ser exitosa necessariamente deve valorizar o capital laboral humano brasileiro,

ação que infalivelmente implica em desdobramentos altamente positivos para nosso país,

inclusive melhorando a imagem do Brasil no cenário internacional. Essa prática comum dos

Estados modernos e capitalistas não coaduna, porém, com a existência de milhões de

brasileiros com deficiência em idade laboral, aptos a gerarem riquezas para o país, todavia,

sem acesso ao trabalho. Segundo Rodrigues et all (2009):

Estima-se no planeta Terra 610 milhões de PCDs, das quais 386 milhões possuem entre 18 a 50 anos de idade, o que as qualifica como População Economicamente Ativa (PEA). Na Europa e nos Estados Unidos, cerca de 40% das PCDs estão empregadas, enquanto no Brasil apenas 2% têm trabalho regular. Pesquisa da OIT mostra que o nível de desemprego entre os deficientes tende a ser mais elevado do que a média da sociedade. (RODRIGUES et all, 2009, p.109)

O censo demográfico de 2000 elucida ainda que na época dentre os 14,5% de

brasileiros com algum tipo de deficiência 32,4% recebiam aposentadoria ou Benefício de

Prestação Continuada (BPC); 51% tinham apenas 3 anos de estudo; 78,7% não concluíram o

ensino fundamental; 36% estavam em idade produtiva; 11% exerciam alguma atividade

remunerada; sendo que somente 6% trabalhavam com carteira assinada; e 64,6% destes

últimos recebiam até 2 salários mínimos. Havia então cerca de 20 milhões de brasileiros com

deficiência em idade produtiva no Brasil e a imensa maioria fora do mercado de trabalho

(IBGE, 2000).

Sobre trabalho e as PCDs o IBGE informa:

Dos 9 milhões de PCDs que trabalhavam, 5,6 milhões eram homens e 3,5 milhões, mulheres. Mais da metade (4,9 milhões) ganhava até dois salários

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mínimos. Em relação ao rendimento das pessoas ocupadas, verificou-se que as diferenças relacionadas a ser portador ou não de deficiência eram da ordem das diferenças por gênero e ambas menores que o diferencial por cor. Por exemplo, 22,4% da população ocupada sem deficiência ganhavam até 1 salário mínimo. Entre os portadores de deficiência, esse percentual era de 29,5%. Entre homens e mulheres que não tinham deficiência os percentuais eram de 19,3% e 27,3%, respectivamente. Já a proporção de pessoas que se declararam brancas que ganhavam até 1 salário mínimo era de 18,15% e a de pessoas que se declararam pretas, 34,50%. Entre os portadores de deficiência que trabalhavam, a maior proporção (31,5%) era de trabalhadores no setor de serviços ou vendedores do comércio. Porém, enquanto uma em cada quatro pessoas portadoras de deficiência era trabalhadora agropecuária, florestal ou de caça e pesca, somente 16,4% da população sem nenhuma incapacidade exerciam essas ocupações. (IBGE, 2000)

O Brasil, através da sua Carta Magna, a Constituição Federal da República

Federativa do Brasil (CFB/1988), em seu artigo 5º, traça critérios inequívocos de princípios

isonômicos sob os quais "todos são iguais perante a lei, sem distinção". Mais adiante, no

artigo 7º, inciso XXXI, é reafirmado o princípio da “proibição de qualquer discriminação no

tocante a salários, critérios de admissão e demissão, dentre tantos outros direitos protegidos

por leis constitucionais e leis infraconstitucionais”.

Partindo das conjecturas esboçadas acima, e tendo em mente desenvolver um olhar

sobre a oferta de trabalho para a pessoa com deficiência após a constituição brasileira de

1988, as questões que nortearam o processo de pesquisa foram: houve melhoria na oferta de

trabalho para a PCD após o marco histórico e democrático brasileiro que foi a Constituição

Federal de 1988? O que mudou em relação à empregabilidade da PCD após a Lei de Cotas?

Existem barreiras que impedem o acesso PCD no mercado de trabalho? Como melhorar o

cenário da oferta de trabalho e a empregabilidade para a PCD?

Como encaminhamento metodológico nesta pesquisa qualitativa de caráter

documental nos pautamos na análise de dados secundários coletados nas seguintes fontes:

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca (IBGE), Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE), tendo como referência dados da Relação Anual das Informações Sociais (RAIS) e do

Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), com o objetivo de investigar o

cenário brasileiro.

Para acréscimo das informações aqui trazidas, foram também buscados dados junto a

instituições como a Associação dos Deficientes Físicos de Goiás (ADFEGO), a Associação

dos Deficientes Visuais de Goiás (ADVEG), a Associação dos Pais e Amigos dos

Excepcionais (APAE), a Associação dos Surdos de Goiânia (ASG). Todas foram unânimes

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em informar não terem dados sobre o encaminhamento de associados ao mercado de trabalho,

seja pela falta de hábito em registrar o que acontece na instituição, seja pela falta de

profissionais que além de atenderem às demandas rotineiras e intensas possam também se

dedicar a este ofício, seja pela cultura, que em verdade é compartilhada com todo o povo

brasileiro de dar a devida importância para o registro do que se faz, e às vezes, quando o

fazem é sem muitos critérios ou metodologia, o que interfere no produto final.

Buscamos também junto ao Ministério do Trabalho e Emprego – Seção Goiás e em

Brasília; no Sistema Nacional de Emprego (SINE/MTE) - Seção Goiás e em Brasília;

Ministério Público do Trabalho - Seção Goiás; Secretaria de Cidadania e Trabalho de Goiás;

no Conselho Estadual dos Direitos do Deficiente (CEDD-GO), e mesmo junto à Universidade

Federal de Goiás (UFG), na expectativa de agregar conteúdo ao fenômeno pesquisado.

Todavia, em poucas delas foi possível obter alguma informação, o que fez com que

desenvolvêssemos a metáfora de que para muitas instituições sociais a PCD é como o “sujeito

oculto”, que institucionalmente muitas vezes não existe como dado, logo não tem história, não

tem rosto, existe apenas fisicamente, mas tem ocultada a sua identidade.

Outra situação que chamou a atenção, foi o “sentir na pele”, como diz a expressão

popular, que a pesquisa social não tem a mesma importância fora do âmbito estritamente

acadêmico. Observamos tal situação em várias vezes em que abordarmos pessoalmente, ou

até por telefone, as instituições citadas acima. Houve situações nas quais a impaciência e

desinteresse da pessoa responsável que nos atendia, eram manifestados em expressões, ou

postura corporal, antes mesmo de falarmos qual era o tema que estávamos pesquisando.

Houve até pessoas que afirmaram entender que muitas pesquisas são feitas, mas que para eles

não resultam em nada. Outras demonstraram desinteresse quando informávamos pesquisar

sobre as PCDs, denotando considerar se tratar de tema de ‘menor importância’, não

necessitando assim maior envolvimento e interesse.

Nesse contexto, houve alguns órgãos públicos que por mais que insistíssemos,

buscando-os várias vezes e até de forma oficiosa, não responderam positivamente, ora

repassando-nos a outros e outros setores, ora justificando não poder atender devido à intensa,

contínua e crescente demanda de serviço, e outros ao contrário muito solícitos e interessados,

demonstraram até pesar em não poder colaborar diante da inexistência de dados sobre a

variável ‘trabalho’ relacionada à PCD.

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Constatamos na totalidade destas instituições, um perfil presente em várias situações

brasileiras, qual seja de poucos profissionais com respectivo acúmulo de tarefas e funções, e a

“cultura de não sistematização de dados”, devido à prioridade concedida à prática imediata

das intensas ações e dos atendimentos diários aos associados/usuários, despreocupando-se e

desvinculando-se naturalmente do cuidado em documentar o processo histórico desenvolvido

até então e em constante construção.

Verificamos assim nas instituições, um contexto de despreparo, desinteresse, e

muitas vezes de carência de organização, inclusive de estrutura física e espacial. Além da falta

de hábito de sistematização, principalmente das estatísticas das ações desenvolvidas, ora

institucionais, ora dos profissionais, e ora de ambos. Esse contexto obviamente é prejudicial

não apenas aos pesquisadores, frustrando a possibilidade de mensuração estatística e de

subsídios documentais para a pesquisa científica, como é o caso desta pesquisa, mas prejudica

principalmente aos profissionais que estão submersos no contexto dos atendimentos diários.

Este, sem dúvida, foi um dado altamente significativo.

Necessário, todavia, destacar que esta falta de dados sobre as PCDs não se limita às

instituições de Goiânia ou de Goiás. O IBGE e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),

fontes primeiras para a pesquisa cientifica no Brasil na área de trabalho e emprego, ao

produzirem suas bases de dados sobre trabalho, não incluem como filtro a PCD, de modo a

facultar detalhado cruzamento de dados envolvendo o segmento social de pessoas com

deficiência e a variável trabalho, quanto mais do período aqui estudado (1988 a 2010). Ao

contrário de como aparece para qualquer ano, inclusive no IBGE, sobre as pessoas ‘ditas

normais’, ou seja, sem deficiência.

Nota-se que o Ministério do Trabalho e Emprego liberou para consultas o acesso à

variável PCD somente a partir da RAIS ano-base 2007, apesar de ser uma variável captada na

RAIS desde o ano 2000. Este fato sugere que a consideremos como uma variável

relativamente nova, carecendo assim de tempo para que tenha os desejáveis níveis de

consistência técnica e atingir um mínimo de qualidade para ser disponibilizada como dado

estatístico nos padrões tradicionais.

Essa constatação se deu ao analisarmos dados da RAIS sobre a quantidade de

empregados por pessoa com deficiência em Goiás para os anos 2010 (= 6.925), 2009 (=

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6.557), 2008 (= 7.191) e 2007 (= 31.092). Nota-se grande disparidade para o ano de 2007 em

relação à variação natural dos anos anteriores.

Neste contexto, a variável ‘PCD’ requer ser analisada com prudência, pois em sendo

nova, todo o complexo processo de identificação e coleta do dado da RAIS passa até pela

absorção do empresariado da existência de uma nova variável, a PCD, até então “sujeitos

ocultos”.

É oportuno questionar, como sugere Marcelo Medeiros (2004), se o novo esquema

do Censo de 2000, referência a quaisquer pesquisas de ordem social, é capaz de identificar a

deficiência na sociedade brasileira. Sob a ótica do novo paradigma do modelo social

inclusivista, a deficiência deve ser identificada na incapacidade da sociedade em criar

condições inclusivas para todas as pessoas, é o que propõe o autor. Nesse contexto Medeiros

afirma:

A desvantagem no mercado de trabalho experimentada pelos surdos decorre, em parte, da incapacidade dos ouvintes em utilizar a linguagem de sinais; a dificuldade de locomoção de muitos idosos está associada, também em grande parte, à má qualidade das vias de pedestres e à inadequação do sistema de transporte coletivo. Um levantamento voltado para identificar as dificuldades pessoais na realização de certas atividades abstratas, portanto, diz respeito a apenas um lado da questão. Não se pode negar, porém, que este também é um lado importante e que o esforço dos últimos levantamentos é louvável. Esses levantamentos são apenas um primeiro passo para o estudo da deficiência e sua relação com outros grupos sociais no país, mas um passo extremamente importante. (MEDEIROS, 2004. p. 118)

Nesse sentido, o primeiro capítulo trata sobre o modo pelo qual as PCDs foram vistas

e tratadas socialmente. Através de um recuo na história, recordam-se comportamentos

individuais e da família, da religião e de como foi o acesso à escola, da sociedade e do Estado,

face aos paradigmas explicativos e de concepção sobre estas pessoas até chegar ao modelo

atual de sociedade inclusiva e equânime.

O segundo capítulo traz reflexões sobre a importância do trabalho para o ser humano e

a sociedade, com destaque para a baixa valoração atribuída à mão-de-obra com deficiência.

Assim, apontamos alguns elementos da teoria social desvendando a teia de marginalização,

estigmas e preconceitos presentes no imaginário social e que envolvem o segmento social de

PCDs em rótulos de incapacidade para a vida, e para o trabalho.

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Este estereótipo negativo é questionado quando o tratamos sobre o advento da teoria

social moderna e contemporânea, fundada no paradigma inclusivista e nos princípios de

direitos humanos.

O terceiro capítulo é assinalado pela esperança dessas pessoas de serem

reconhecidas verdadeiramente como seres humanos deixando então de ostentarem uma

invisibilidade social que entrava seu acesso a bens, serviços em condições dignas e corrobora

para denegrir sua imagem. Observa-se que a negação da diferença alimenta em indivíduos e

sociedade a idéia de que no caso a PCD seja como um “sujeito oculto”, decorrendo no

planejamento de ações e desenvolvimento com alcance individual e social, especialmente

quando se trata de ações de políticas públicas sem incluir estas pessoas. Este capítulo

demonstra então os concretos passos que o país tomou no sentido de iniciar a retirada das

vendas que lhes ofusca a visão, através da construção de dispositivos legais que doravante

asseguram perante a lei um conjunto de direitos e deveres, como o dever de trabalhar.

Discute assim alguns mitos, como por exemplo, o de que as PCDs sejam

preguiçosas, o de que não queiram se qualificar para o mercado de trabalho porque recebem o

Benefício de Prestação Continuada (BPC), ou de que este benefício seja um dinheiro público

com desnecessária aplicação, dentre outros. Aborda também como o marco para o acesso ao

trabalho por parte das PCDs a criação da lei de reserva de vagas em concursos públicos e a lei

de cotas de trabalho em empresas, a serem preenchidas por estas pessoas.

O quarto capítulo aborda o advento da Constituição Brasileira de 1988. A alegria que

foi construir por várias mãos, a então chamada “Constituição Cidadã”, registrando para a

posteridade a condição de sujeito de direitos das PCDs. Decorrentes da democrática

constituição são criadas instâncias de representação, coordenação, proteção e apoio em âmbito

nacional uma primeira vez, para em efeito cascata surgirem nos estados e municípios. Os

princípios coroados com a constituição foram assim, reforçados com o advento da Convenção

Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

O capítulo cinco finaliza e fecha os raciocínios desenvolvidos sobre o avanço em

relação à conquista dos direitos das PCDs. E, por fim, apresentamos as considerações finais.

Assim, dado a importância do tema “trabalho” na tessitura social, ponto fundamental

para a dignidade humana, eu proponho aqui corroborar cientificamente para a superação da

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exclusão social historicamente imposta às pessoas com deficiência, subsidiando ações,

políticas afirmativas, e o processo de conscientização social acerca das potencialidades e

direitos desses cidadãos.

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1. ABORDAGENS E PARADIGMAS HISTÓRICOS APLICADOS ÀS

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

1.1. Panorama e Paradigmas Norteadores da Abordagem Histórica da Pessoa com

Deficiência

Não se sabe com precisão como os primeiros grupos de seres humanos na Terra se

comportavam em relação às pessoas com deficiência, na fase inicial de vida dos terráqueos.

Pode-se deduzir, entretanto, que as PCDs não sobreviviam ao ambiente natural hostil da

Terra, se considerar que não havia abrigo satisfatório para as intempéries climáticas, não era

fácil obter comida e até armazenar para o período de escassez, se proteger de predadores,

entre outros riscos, tarefas todas não muito fáceis para estas pessoas nas condições incipientes

planetárias. Os vínculos entre os humanos eram ainda embrionários e individualistas, não

caracterizando uma consciência do que poderia ser uma deficiência. Sendo o ser humano

nômade não se plantava, apenas se caçava e colhiam frutos, folhas e raízes.

Na pré-história era muito difícil a sobrevivência de uma PCD, como enuncia Gugel:

As tribos se formaram e com elas a preocupação em manter a segurança e a saúde dos integrantes do grupo para a sobrevivência. Os estudiosos concluem que a sobrevivência de uma pessoa com deficiência nos grupos primitivos de humanos era impossível porque o ambiente era muito desfavorável e mesmo hostil, posto que essas pessoas representassem um fardo para o grupo. Só os mais fortes sobreviviam e era até muito comum que certas tribos se desfizessem das crianças com deficiência. (GUGEL, 2008, p. 02)

Imperioso lembrar aqui Jesus Cristo, que ao legar à humanidade ensinamentos

inigualáveis de fraternidade e respeito, valorização da vida humana e socialismo, dentre

outros, que acabaram tornando-o divisor da história em a.C e d.C. Em relação às PCDs então

teve repercussão mais marcante. Ao curar cegos e paralíticos, fez com que estas pessoas

fossem vistas de um modo novo, pois Cristo ensinava que todo ser humano devia ser tratado

com amor e dignidade, logo, Cristo e seus seguidores passaram a tratar a PCD com este valor

humano, o mesmo a que tratavam qualquer outro ser humano. Esta foi sem dúvida, a primeira

grande conquista histórica deste segmento social.

Na história antiga da humanidade, a cultura ocidental utilizou a religião oficial à

época para explicar as deficiências, sendo estas pessoas vistas então como monstros, pessoas

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más, um castigo de Deus, ou possessão do demônio. Por muito tempo se pensou que as

causas dos problemas dos deficientes eram de origem espiritual, fato este que pode ter

influenciado a não procura de recursos para promoção do desenvolvimento do indivíduo, que

eram assim isoladas do convívio social e, dependendo do nível econômico da família, também

de seu seio. Estas pessoas ao se institucionalizarem raramente retornavam para a sociedade,

ou para a família (SASSAKI, 1997).

No Egito antigo, por exemplo, as PCDs eram exterminadas ao nascer ou durante suas

vidas. Os Hebreus consideravam que estes teriam "impureza" ou pecado, sendo a deficiência

uma punição de Deus. Na Grécia as crianças pertenciam ao Estado e cabia ao Conselho dos

Anciãos examinarem as mesmas ao nascer e julgar se poderiam trabalhar ou guerrear. As

julgadas incapazes eram jogadas num abismo perto de Esparta. Mas já nesta época Aristóteles

defendia que é mais fácil ensinar um aleijado a desempenhar uma tarefa útil do que sustentá-

lo como indigente.

A Idade Média foi marcada por posturas contraditórias em relação à pessoa portadora

de deficiência: ora considerava-se que a PCD não refletia a perfeição divina, ora era alvo da

caridade nos mosteiros, ora era mero divertimento nos castelos, ora objeto de atenção da

Inquisição. Nesse período foram criadas associações, segundo o modelo das Corporações de

Ofícios, para "reserva de mercado" de mendicância.

Retoma-se aí historicamente a preocupação com o custo financeiro para o Estado

e/ou para a Igreja com a manutenção de um segmento social que não trabalhava, mas que

precisava engrossar as fileiras da população economicamente ativa, nem que fosse para

desonerar e desobrigar estas instituições em relação à sua sobrevivência.

Na Idade Moderna, buscou-se da superar as deficiências. Surgem muitas invenções

como bengalas, muletas, coletes, próteses, cadeiras especiais. Surgiu o sistema de

comunicação Braille.

No Brasil o preconceito foi sempre disfarçado de generosidade e a questão "direitos"

era tida como sinônimo de privilégios. A atenção às pessoas portadoras de deficiência sempre

foi assistencialista. Há pouco mais de vinte anos, o tema direitos humanos no Brasil eram

considerados subversivos. Sociologicamente é sabido que ‘conceitos’ são intimamente

vinculados a dados momentos históricos e culturais da humanidade, suas crenças e seus

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valores. Logo, de acordo com o momento histórico, a sociedade acaba definindo "coisas",

"fatos" e rotulando “sujeitos”.

1.2. A Criação Social do “Ser Deficiente” e o Estigma Presente na Terminologia

Para a compreensão do contexto atual de estigma a que a PCD está inserida, e para a

análise das principais matrizes ou padrões de comportamento que permanecem nas visões

compartilhadas sobre a deficiência ao longo do tempo, convém saber que diferentes enfoques

marcaram a história das pessoas com deficiência no mundo, como demonstra a pesquisa de

Sassaki (1997), que ao analisar o ‘valor humano’ atribuído e a abordagem social dada

historicamente a estas pessoas, aponta quatro fases: exclusão social, segregação social,

integração social e inclusão social.

Na fase da exclusão social as explicações transitavam entre discursos metafísicos e o

medo em relação a seres para os quais não havia explicação mais sustentável. Diante desse

obscurantismo, uma infinidade de pessoas com deficiência foi sacrificada e queimada, pois a

sociedade os rejeitava especialmente por não trabalharem, não produzirem, nem gerarem

renda como os “normais”, os vendo como estorvos à sociedade. Mais tarde esse segmento

social de pessoas, excluídas do convívio familiar e social, foram acolhidas e atendidas por

entidades religiosas com trabalho de cunho assistencialista (SASSAKI, 1997).

A abordagem dada às pessoas com deficiência nesta análise histórica baseou-se em

sequência, em etiologias naturais e visões médicas, sendo as concepções de doença,

inadequação e insuficiência associadas à deficiência. Materializa-se nesta visão o princípio

teórico funcionalista, ao enfocar-se a dualidade eficiente/deficiente e capaz/incapaz, não se

adequando assim as pessoas com deficiência ao funcionamento da sociedade, considerada

correta e perfeita, mantendo a postura de marginalização social para os que não se

“enquadrassem”, estigmatizando-os. (SASSAKI, 1997)

Essa prática entre meados dos séculos XVIII e XIX inspira em instituições uma

atitude para educar “à parte”, a educação segregacionista gerando dois subsistemas paralelos:

a educação comum e a educação especial. Tais instituições enfatizavam em suas atividades os

processos de reabilitação, em detrimento às vezes até mesmo da finalidade maior da sua

existência: a educação. É a “fase da segregação social” (SASSAKI, 1997).

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Influenciados pelos movimentos que consideraram outras ideias como as da escola e

educação como direito universal, pais e parentes de pessoas com deficiência organizam-se

para buscar a integração social do então chamado portador de deficiência.

A década de 1960, por exemplo, testemunhou o boom de instituições especializadas, tais como: escolas especiais, centros de habilitação, centros de reabilitação, oficinas protegidas de trabalho, clube sociais especiais, associações desportivas especiais. (SASSAKI, 1997, p.31)

A última fase, inclusão social, se apresenta como um novo paradigma a nortear a

prática mais recente de que se tem notícia no Brasil e em muitos países, num processo

gradual, substituindo a prática da integração social, que há quatro décadas ocupa o lugar da

segregação e da exclusão de pessoas consideradas diferentes da maioria da população de

qualquer sociedade. Conceitua-se a inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se

adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais

e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão

social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a

sociedade buscam em parceria equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a

equiparação de oportunidades para todos. (SASSAKI, 1997).

Os praticantes da inclusão se baseiam no modelo social da deficiência no qual os

problemas da PCD não estão nela tanto quanto estão na sociedade. Assim, a sociedade é

chamada a ver que ela cria problemas para as PCDs, causando-lhes incapacidade (ou

desvantagem) no desempenho de papéis sociais em virtude de limitações da estrutura social

como, por exemplo, políticas discriminatórias e marginais; ambientes restritivos (sem

acessibilidade); atitudes preconceituosas que rejeitam a minoria, e excluem todas as formas de

diferenças; discutíveis padrões de normalidade e beleza que desrespeitam o direito do ser

humano de ser diferente ou de ter opções diferentes; objetos e outros bens inacessíveis do

ponto de vista físico; pré-requisitos atingíveis apenas pela maioria aparentemente homogênea;

quase total desinformação sobre a diversidade humana e sobre seus direitos; e práticas

discriminatórias em muitos setores da atividade humana.

Assim, cabe à sociedade eliminar todas as barreiras físicas, programáticas e

atitudinais para que as PCDs possam ter acesso aos serviços, lugares, informações e bens

necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional.

Como historicamente o preconceito e a desinformação predominaram causando a

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marginalização, a privação da liberdade, o atendimento inadequado ou a falta dele, a

mendicância, a baixa escolarização e até o analfabetismo, as PCDs tiveram e, infelizmente,

ainda na atualidade têm sua cidadania cerceada. Nesse sentido, Mattos (2002) adverte:

Observe que a sociedade possui uma visão humana padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de normalidade e nos esquecemos de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de outro modo as diferenças. (MATTOS, 2002, p.01)

Estigmatizadas, as PCDs se deparam com vários óbices tais como inadequações a

necessidades mais comuns e simples como ir e vir, não ter acesso a todos os lugares pela falta

de transporte adaptado, ou pela inexistência de ruas, praças, logradouros e prédios públicos

acessíveis. A ignorância sobre informações referentes aos seus direitos e de amparo legal, o

despreparo de funcionários de repartições de órgãos públicos para atender a uma PCD,

semelhante despreparo/desqualificação encontra-se em hospitais e demais unidades de saúde,

supermercados e comércio em geral, escolas e universidades, igrejas e templos, entre outros.

"Atitudes de rejeição (estigmas e posturas preconceituosas transmitidas culturalmente) criam

barreiras sociais e físicas dificultando o processo de integração" (MATTOS, 2002, p.03).

Pensando sociologicamente, partindo dos fatos históricos expostos, pode-se concluir

que a deficiência é um conceito culturalmente elaborado ao longo da história. As relações

sociais entre as pessoas com deficiência, e aquelas que não a têm incluem inúmeras e

complexas variáveis cujo controle nem sempre depende do desviante e dos agentes da sua

promoção. Como esse conceito é construído culturalmente, em um contexto histórico dado, e

considerando que estas pessoas estão sujeitas aos esquemas tipificadores, a sociedade pode

utilizar-se de variados artifícios para legitimar as desigualdades e segregar essas pessoas.

A grande barreira para a participação real da pessoa com deficiência no cenário

empregatício desenha-se notadamente com as cores da cultura, impactada nas atitudes das

pessoas, no olhar marginalizador que de um modo geral a sociedade ainda apresenta e faz

com que as pessoas estigmatizem até inconscientemente, devido o peso social do

condicionamento cultural, os quais precisam mudar em benefício não só destas pessoas, mas

da sociedade como um todo.

A sociedade pode observar diversos referenciais na história que comprovam que a

PCD possui competência laborativa apesar de sua limitação que pode naturalmente ser

superada dentro de condições de acessibilidade e ajudas técnicas. Exemplos vivos como

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“Aleijadinho” (suas obras embelezam a história do Brasil no mundo inteiro) ou mesmo os

anônimos trabalhadores com deficiência que com competência e motivação superam todos os

dias as inúmeras barreiras que obstaculizam seu ir e vir, o acesso ao trabalho, ou mesmo o

executar das atividades laborativas diárias, dado a existência de barreiras desde arquitetônicas

até atitudinais.

Outros exemplos também são dignos de destaque. Como é o caso de Louis Braille,

cego que inventou o famoso sistema de comunicação para cegos, ou o grande compositor

Ludwig Van Beethoven que era surdo. Ambos servem de incentivo aos heróis anônimos que

enfrentam diariamente as barreiras físicas das cidades, nas ruas, nos prédios, nos meios de

transporte, no mercado de trabalho e o que é pior, as barreiras veladas do preconceito. Faz-se

necessário escancarar à sociedade brasileira as dificuldades, o preconceito e os entraves que

os envolvidos enfrentam diariamente. Conscientizar a sociedade a viver o ideal de que somos

iguais torna-se então precípua tarefa.

1.3. Terminologia

As PCDs receberam várias denominações ao longo da história, codinomes muitas

vezes pejorativos e até agressivos centrados no realçar da deficiência em detrimento do ser

humano, como aleijado, cotó, manco para as pessoas com deficiência física, isto é, com perda

ou ausência dos membros inferiores, superiores, ou ambos. E ainda, bobo, doido, retardado,

referindo-se à pessoa com deficiência intelectual.

Nesse contexto, os anões engrossaram a ‘fila dos discriminados’ pela sociedade de

uma forma geral por terem características físicas fora dos padrões, sendo rotulados de pessoas

com uma aparência feia, são tratados muitas vezes como aberrações da natureza. Nota-se

ainda não tendo chances de empregos em igualdade de condições às das demais pessoas

muitos anões trabalham com eventos (em TV, teatro, festas, estádios de futebol, entre outros).

O ponto constrangedor do trabalho a que eles foram e ainda são relegados é que os papéis por

eles desempenhados são os de palhaço da atração, para fazerem rir através de ‘piadinhas’

geralmente envoltas em deboche, e mesmo humilhações.

No blog “Nanismo em foco”, existe um depoimento que ilustra como o anão e a PCD

como um todo podem ser melhor interpretada e absorvida pela sociedade, inclusive no

mercado de trabalho:

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Nós, portadores de nanismo, provamos que podemos trabalhar em escritórios, consultórios, construções, laboratórios, grandes e pequenas empresas. Somos analistas, gerentes, assistentes, estudantes, médicos, engenheiros, técnicos, cientistas, brasileiros. Porque não desempenhar um papel relevante em uma peça, num filme ou novela. Um papel que não seja alvo de piadinhas, xingamentos, apelidos e chacotas. Como o do ator Peter Dinklage que ganhou o Emmy por seu papel na premiada série Game of Thrones.3

A OMS (1980) divulgou uma Classificação de Deficiências para padronizar junto à

pesquisa e a prática clínica, em cuja tradução para o português (1989) foi chamado

“Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens” - CIDID. Para

melhor entender, vejamos os conceitos:

• Deficiência (impairment)

Perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. Representa a exteriorização de um estado patológico e, em princípio, reflete distúrbios no nível do órgão. (CIDID/OMS, 1989, s.p.)

• Incapacidade (disability)

Uma incapacidade é qualquer restrição ou falta de habilidade (resultante de uma deficiência) para realizar uma atividade na forma considerada normal para um ser humano. Representa a objetivação de uma deficiência e como tal reflete distúrbios na pessoa. (CIDID/OMS, 1989, s.p.)

• Desvantagem (handicap)

Uma desvantagem para um dado indivíduo, derivada de uma incapacidade ou deficiência, limita ou previne o cumprimento de um papel que é normal para esse indivíduo (dependendo da idade, do sexo e de fatores socioculturais). A desvantagem refere-se ao valor atribuído à situação ou experiência individual, quando sai do normal. Caracteriza-se por uma discordância entre o desempenho ou condição individual e a expectativa do próprio indivíduo ou do grupo do qual é membro. A desvantagem representa, assim, a socialização de uma incapacidade ou deficiência e, como tal, reflete as consequências para o indivíduo - culturais, econômicas e ambientais - que decorrem da presença da incapacidade ou deficiência. (CIDID/OMS, 1989, s.p.)

Grande polêmica surgiu com o advento da CIDID, especialmente em relação ao

conceito ‘desvantagem’, pelo entendimento de que mesmo se contextualizando socialmente, o

‘conceito desvantagem’ decorre do preconceito e exclusão que emanam do contexto no qual a

pessoa com deficiência está inserida. Esta discussão resultou na revisão feita pela OMS que

3 Disponível em: <http://www.nanismoemfoco.com/2012/02/papeis-dignos-portadores-nanismo.html>

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apresentou como produto a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e

Saúde, a CIF.

A construção de uma sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a

linguagem. Na linguagem se expressa, voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a

discriminação em relação às pessoas com deficiências.

Ao longo dos anos, os termos que definem a deficiência foram adequando-se às

descobertas da ciência e da sociedade. Atualmente, o termo correto a ser utilizado é Pessoa

com Deficiência, orientação da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos

Direitos e Dignidades das Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembléia Geral da

ONU, em 2006 e ratificada no Brasil em julho de 2008.

Todavia, as PCDs vivem até hoje em contexto de preconceito social segundo

observado em discursos do senso comum ou mesmo na mídia quando são tratados muitas

vezes em polaridades extremas opostas: ora como alguém completamente incapaz, digno de

piedade, ora com atitudes superprotetoras, supondo novamente que a PCD seja incapaz ou

despreparado para atividades laborais, no lar junto à família, e até para atividades da vida

diária. Por outro lado, casos nos quais estas pessoas são aprovadas em concursos públicos, ou

que são pai ou mãe e desenvolvam as tarefas respectivas dos cuidados infantis, e familiares,

os casos em que cozinham dentre outras atividades, já causaram espanto a muita gente, e o

desenvolvimento do mito de que a pessoa seria dotada de talentos incríveis e fora do normal.

Todas essas crenças necessitam ser desconstruídas para que se possa visualizar a pessoa com

quem nos relacionamos como uma pessoa inteira, sujeito de direitos e deveres como qualquer

cidadão.

As PCDs receberam várias denominações baseadas no paradigma médico de

explicação centrada na deficiência em detrimento da pessoa, esquecido de considerar em

primeira instância a pessoa ao invés de destacar a limitação ou deficiência que ela possui,

retratando o estigma e condição de marginalizados sociais a que são submetidos. Assim,

vários termos foram usados como: aleijado, cotó, manco, perneta, bobo, doido, retardado,

louco, cego, dentre outros codinomes entendidos como capazes de agregar todo o desprezo

que as pessoas apresentavam em relação a elas.

No Brasil, o decreto nº 5.296/04 fez importantes mudanças às Leis nº 10.048/2000

que prioriza o atendimento às PCDs, e nº 10.098/2000, que estabelece normas gerais e

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critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou

com mobilidade reduzida. No seu art. 4º fica determinado que o Conselho Nacional dos

Direitos da Pessoa com Deficiência, os Conselhos Estaduais, Municipais e do Distrito

Federal, e as organizações representativas de pessoas portadoras de deficiência terão

legitimidade para acompanhar e sugerir medidas para o cumprimento dos requisitos

estabelecidos neste Decreto.

Trazemos a definição que tipifica as deficiências, e as caracteriza. O art. 70 do

decreto nº 5.296/04, então modifica o art. 4º do Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999,

o qual passa a vigorar com as seguintes alterações:

I - Deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do

corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma

de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,

triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia

cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as

deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;

Nº DEFICIÊNCIA FÍSICA (motora)

1. Tipo Característica

2. Paraplegia Paralisia dos quatro membros

3. Paraparesia Paralisia de metades simétricas do corpo

4. Monoplegia Paralisia de um só membro ou grupo muscular

5. Monoparesia Paralisia parcial de um membro

6. Tetraplegia Paralisia dos quatro membros

7. Tetraparesia Paralisia parcial de membros

8. Triplegia Hemiplegia acompanhada de paralisia de um membro do lado oposto

9. Triparesia Paralisia parcial de membros

10. Hemiplegia

Paralisia que afeta um dos lados do corpo ou só parte desse lado e que

tem como causa uma lesão cerebral verificada no lado oposto ao lado

afetado

11. Hemiparesia Paralisia de uma metade do corpo

12. Amputação ou ausência

de membro

Perda do membro

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13.

Paralisia cerebral (PC)4.

Existem os tipos:

Espástica, Com

movimentos

involuntários e Atáxica

Qualquer desordem que altere o movimento secundário a uma lesão

não progressiva do cérebro em desenvolvimento. O tipo de alteração

do movimento observado está relacionado com a localização da lesão

no cérebro e a gravidade das alterações depende da extensão da lesão.

A PC é classificada de acordo com a alteração de movimento que

predomina. Também ocorrem formas mistas em seus tipos.

14.

Membros com

deformidade congênita

ou adquirida,

De nascimento ou adquiridas ao longo da vida.

15. Ostomia5

São várias as razões pelas quais uma pessoa necessita ser operada para

construir um novo caminho para a saída das fezes ou da urina para o

exterior. Atualmente este tipo de intervenção se realiza criando um

ostoma na parede abdominal, pelo qual as fezes em consistência e

quantidade variável ou a urina, em forma de gotas, são expelidas. Este

ostoma, ou estoma, por suas características, não poderá ser controlado

voluntariamente. Daí o uso de bolsa coletora de fezes ou urina.

16. Nanismo6

Doença genética que gera crescimento esquelético menor que a média

em mesma idade e população. Em humanos adultos alcançam por

volta de 1,40 m de altura. Morfologicamente se divide em dois

grupos: proporcionais, onde a estatura é baixa com órgãos em

tamanho proporçional; e os desproporcionais (displasias esqueléticas),

onde o tamanho é bem menor que o normal, porém alguns órgãos

mantém-se em tamanho maior em relação à altura, em comparação

com os indivíduos não-nanistas.

II - Deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total em decibéis (db) aferida

por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz, e 3.000Hz,.de:

NÍVEIS DE PERDA AUDITIVA

De 41 a 55 db Surdez moderada

4 Fonte: Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, disponível em:

http://www.sarah.br/paginas/homepage/po/index.htm 5 Fonte: Associação Brasileira de Ostomizados, disponível em: http://www.abraso.org.br/ostomias.html 6 Fonte: Site Portal do Nanismo, disponível em: http://www.portaldonanismo.com.br/

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De 56 a 70 db Surdez acentuada

De 71 a 90 db Surdez severa

Acima de 91 db Surdez profunda

Anacusia Surdez total. Perda total

da capacidade auditiva

“III – deficiência visual – cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que

0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade

visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a

somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a

ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.”

A pessoa cega irá necessitar do Sistema Braille como meio de leitura e escrita.

Pessoas com baixa visão ou visão subnormal apresentam dificuldades no dia a dia de ver

detalhes. Por exemplo, vêem as pessoas, mas não reconhecem a feição, as crianças enxergam

a lousa, porém não identificam as palavras.

A OMS é categórica ao afirmar que:

“com ações concretas para a prevenção e para tratamento, 80% dos casos de cegueira seriam evitados. Informa ainda a OMS que cerca de 40 milhões a 45 milhões de pessoas no mundo são cegas e os outros 135 milhões sofrem limitações severas de visão. Glaucoma, retinopatia diabética, atrofia do nervo ótico, retinose pigmentar e degeneração macular relacionada à idade (DMRI) são as principais causas da cegueira na população adulta. Entre as crianças as principais causas são glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade e toxoplasmose ocular congênita.” (WORLD REPORT ON DISABILITY, 2010, s.p.)

IV - deficiência mental (intelectual)7- funcionamento intelectual significativamente

inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos de idade e limitações associadas a

duas ou mais áreas de habilidades adaptativas tais como: comunicação, cuidado pessoal,

habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades

acadêmicas, lazer e trabalho.

V - deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências.

7 Em 1995 a ONU promoveu o simpósio Intellectual Disability: Programs, Policies, and Planning for the Future, que alterou o termo deficiência mental por deficiência intelectual, para melhor nominar e distinguir a doença mental (quadros psiquiátricos não necessariamente associados a déficit intelectual) da deficiência mental, que a partir daí deve ser chamada de deficiência intelectual.

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A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que hoje integra nossa

Constituição Federal, traz no seu título a indicação de como a pessoa com deficiência prefere

ser chamada. Não é correto utilizar os termos “portadores de deficiência” ou “pessoas com

necessidades especiais”. O correto é “pessoa com deficiência”. Pessoas com deficiência são

então aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental/intelectual ou

sensorial (visual e auditiva), os quais, em interação com diversas barreiras, podem entravar

sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais

pessoas (Artigo 1º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência).

E de fato ainda hoje se observa expressões de uso comum carregadas de estigma e

preconceito, verdadeiros rótulos sociais negativos, muitos encontradas em livros, revistas,

jornais, programas de televisão, no rádio, na internet, ma mídia em geral, em apostilas, em

reuniões, em palestras, ou mesmo em conversas informais, denotando como a cultura

estigmatizante é marginalizadora e excludente do sujeito ao qual se refere, trazendo prejuízos

para o cidadão, para a família e para a sociedade. Quando analisadas sob a ótica do paradigma

social inclusivista são assim facilmente desmistificadas.

A seguir destacamos uma tabela traçando o paralelo entre a terminologia utilizada

historicamente (saturada de estigma) com a terminologia atual, fundada no paradigma

inclusivista, que ilustra como é indispensável estar atento à necessidade premente de mudança

de paradigma, de hábitos e visão de mundo, em benefício de uma sociedade mais saudável e

democrática, sob o ponto de vista das relações sociais.

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TABELA 1 – PARALELO ENTRE A TERMINOLOGIA UTILIZADA HISTORICAMENTE (SATURADA DE ESTIGMA) COM A

ATUAL.

PARALELO ENTRE A TERMINOLOGIA UTILIZADA HISTORICAME NTE (SATURADA DE ESTIGMA) COM A ATUAL

EXPRESSÕES

ANTIGAS MOTIVOS DA TROCA

EXPRESSÕES

ATUAIS

Portador de

deficiência

Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência, entendendo que

a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não

portamos (por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva).

Pessoa com deficiência.

Necessidades

educativas especiais

“A palavra educativo significa algo que educa. Ora, necessidades não educam; elas são

educacionais, ou seja, concernentes à educação.” (SASSAKI, 1997). O termo necessidades

educacionais especiais foi adotado pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução nº 2,

de 11-9-01, com base no Parecer nº 17/2001, homologado em 15-8-01).

Necessidades

educacionais especiais.

Pessoas ditas

deficientes

A palavra ditas, neste caso, funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência,

o que é preconceituoso.

Pessoas com deficiência.

Pessoas ditas normais Aqui a palavra ‘ditas’ surge para contestar a normalidade das pessoas, uma redundância na

atualidade.

Pessoas sem deficiência,

pessoas não-deficientes

Inválido (referindo-se

a uma pessoa)

A palavra ‘inválido’ foi usada no passado para imputar a des-valorização social e humana

atribuída à PCD socialmente desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial,

Pessoa com deficiência.

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especialmente, porque pensava-se que estas pessoas jamais poderiam trabalhar e gerar

renda e riqueza, o que as tornavam onerosas e muitas vezes indesejadas para as famílias e

governos.

O incapacitado Termo usado com freqüência até a década de 80. O conceito normalidade vale lembrar, está

em desuso.

A pessoa com

deficiência.

Visão sub-normal

É preferível baixa visão a visão subnormal, para não dar idéia de inferioridade. Baixa visão. A rigor,

diferencia-se entre

deficiência visual parcial

(baixa visão) e cegueira

(quando a deficiência

visual é total).

Ceguinho O diminutivo ‘ceguinho’ denota que o cego não é tido como uma pessoa completa. A rigor,

diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão ou visão subnormal) e cegueira

(deficiência visual total).

Cego, pessoa cega,

pessoa com deficiência

visual, deficiente visual -

(DV).

Surdez-cegueira Este é um modo de deficiência múltipla. Surdocegueira.

“Ela é surda ou cega

mas não é retardada

mental”

Novamente o preconceito aparece expresso ao pressupor que todo surdo ou cego tem

retardo mental, como se fossem condicionais ser cega (surdo) e retardada. Retardada

mental, retardamento mental e retardo mental são assim expressões em desuso, inclusive

“Ela é surda [ou cega] e

não tem deficiência

intelectual”.

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por terem sido largamente usadas para referirem-se a alguém quando se quer agredir ou de

algum modo inferiorizar a outrem.

Surdo-mudo É importante dizer que os surdos não são necessariamente mudos, sendo que o contrário

pode também ser verdade. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva parcial (quando

há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é total).

Deficiente auditivo

(DA).

“Esta família carrega a

cruz de ter um filho

deficiente”

Para compreender o estigma embutido: ‘Filho deficiente é um peso morto para a família’,

necessário rememorar a história de exclusão social, marginalização, violência e extermínio

aludida anteriormente.

Esta família tem um filho com deficiência

Mudinho Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa, pois

como já foi dito, a pessoa com deficiência auditiva não terá necessariamente limitações na

fala, e vice-versa. Além disso, neste exemplo o diminutivo (mudinho) dá uma equivocada

idéia de que o surdo seja uma pessoa inferior, incompleta.

Surdo, pessoa surda, deficiente auditivo (DA) pessoa com deficiência

auditiva.

Deficiências físicas Está em erro quando usado genericamente para todas as deficiências. A ciência orienta para

a busca de conceitos precisos, termos que definam com clareza, para tanto, ao referir-se a

uma deficiência deve-se especificar a qual delas está se portando. Há ainda quem imagine

que ao falar ‘deficiências físicas’ engloba todas elas, entendimento derivado da premissa

em desuso, de que o corpo é um “ente” físico, logo, toda deficiência seria física por se

localizar no corpo. Trata-se de engano conceitual e avesso ao modelo social em voga que

não inova, apenas demonstra que uma pessoa com deficiência, por exemplo, visual, apenas

Deficiências

genericamente mesmo,

ao se referir a todas elas.

Somente usa-se

deficiência física ao

desejar especificar a

deficiência física,

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tem como ‘ponto limitador a visão. Suas demais funções respondem naturalmente. Um

corpo não se limita a um único órgão ou membro. Mas o ponto capital é compreender que a

pessoa não se limita a um órgão/sistema, é um ser humano macro, versátil e com uma

totalidade individual, cultural e social que rompe os limites do corpo.

conforme classificação

disposta nas normas

legais nacionais e

internacionais.

Deficientes físicos Quando em uso para referir a pessoa com qualquer tipo de deficiência. Pessoas com deficiência,

sem especificar qual tipo

Aleijado, defeituoso,

incapacitado, inválido

Em 1981, Ano Internacional das Pessoas Deficientes, foi padronizado a expressão ‘pessoa

deficiente’. Destaque para o acréscimo da palavra ‘pessoa’, passando o vocábulo deficiente

para a função de adjetivo. Doravante, oficialmente a sociedade reconhece ao deficiente a

condição de pessoa, logo, sujeito de direitos assim como a pessoa sem deficiência. Aos

poucos, entrou em uso a expressão pessoa portadora de deficiência, freqüentemente

reduzida para portadores de deficiência. Por volta da metade da década de 90, entrou em

uso então a expressão atual ‘pessoas com deficiência’, retomando o termo pessoa,

carregado de dignidade e subjetividade positiva, acrescido da palavra ‘com’, ou seja, algo

que foi somado, que é adicionado à pessoa e, ao fim da expressão, deficiência, que é uma

das características da pessoa, como a profissão, os sentimentos, as habilidades, entre outras.

Doravante, o foco fica invertido: não mais a deficiência como condição de destaque, cartão

de visitas e identificação, mas sim a pessoa, com seus diversos atributos torna-se o foco na

analise.

Pessoa presa, Os termos presa, confinada e condenada provocam sentimentos de piedade (mesmo Pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda

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confinada, condenada

à cadeira de rodas

contexto discutido acima). em cadeira de rodas; pessoa que usa uma

cadeira de rodas.

Tetraplegia,

tetraparesia.

Sempre utilizar o termo ‘pessoa’ antes, ao invés de apenas o termo tetraplégico ou o

tetraparético.

pessoa com tetraplegia (ou tetraparesia)

“ele manca com

bengala nas axilas”

No contexto coloquial, é correto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que

anda apoiada em muletas.

“ele anda com muletas

axilares”.

“ela sofre de

paraplegia”

O termo ‘sofrer’ induz o imaginário coletivo a posicionar a pessoa como vítima suscitando

equivocado sentimento de piedade. Não é de piedade que a PCD necessita, mas que os

indivíduos e a sociedade como um todo entenda, absorva, e aceite o fato de que ela também

é membro da sociedade, podendo ter participação múltiplas vezes mais ativa e cidadã, à

medida em que a sociedade se tornar mais inclusiva e acessível, mudanças que

invariavelmente beneficiam imensamente a toda a sociedade.

“ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou

seqüela de poliomielite].

“infelizmente, meu

primeiro filho é

deficiente; mas o

segundo é normal”

Além de ser delicado sob diversos aspectos falar de normalidade em relação ao ser humano,

tornando este conceito questionável e superado social e culturalmente, especialmente após

os estudos sobre etnocentrismo, a frase aqui ainda reflete que o primeiro filho ter

deficiência gerou impacto negativo para a mãe, reforçando a identificação da urgência de a

sociedade tornar-se inclusiva o mais rápido possível, corrigindo o desnecessário

constrangimento pela falta de acessibilidade plena, apoio de ajudas técnicas e eliminação de

estigmas sociais.

“tenho dois filhos: o

primeiro tem deficiência

e o segundo não”.

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lepra; leproso; doente

de lepra

A lei federal nº 9.010/95, proíbe a utilização do termo lepra e seus derivados, na linguagem

empregada nos documentos oficiais. Sugere-se o termo ’pessoa com hanseníase’ ao invés

de hanseniano.

Hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de

hanseníase.

Deficiente mental Em erro quando se quer referir à pessoa com transtorno mental (doente mental). É comum a

confusão entre doente mental e deficiente mental (hoje chamado intelectual). Esta confusão

denota o baixo valor social atribuído não só às PCDs como também às pessoas com

transtornos mentais, às quais foram de semelhante modo historicamente marginalizadas,

execradas e até mesmo odiadas pelo simples fato de devido às limitações das sociedades em

que elas nasceram, em que elas viveram ao longo do tempo não lhes facultar oportunidades

laborais, ou seja, por não produzirem e assim contribuir para a geração de riquezas a

exemplo econômicas para a sociedade.

Pessoa com doença

mental, pessoa com

transtorno mental,

paciente psiquiátrico.

Deficiência mental

leve, moderada,

severa, profunda

A Associação Americana de Deficiência Mental em 1992 publica “A nova classificação da

deficiência mental” muda definitivamente o foco. Doravante, a deficiência mental não pode

ser mais vista como um traço absoluto da pessoa que a tem, mas como um atributo que

interage com o seu meio ambiente físico e humano, que passa a ter que adaptar-se às

necessidades próprias dessa pessoa, facultando apoio intermitente, limitado, extensivo ou

permanente de que ela necessita para ação em 10 áreas de habilidades adaptativas:

comunicação, auto-cuidado, habilidades sociais, vida familiar, uso comunitário, autonomia,

saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho.

Deficiência mental ou

intelectual, sem

especificar nível de

comprometimento.

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Doente mental Em erro quando se quer referir à pessoa com déficit intelectual (deficiente mental). Daí na

atualidade, preferir-se a expressão deficiente intelectual, com o entendimento de que

exprime com maior precisão, já explicitando que a própria limitação se restringe à

aprendizagem.

pessoa com deficiência

mental, pessoa deficiente

mental. Aqui existe o

déficit intelectual. O

termo deficiente, quando

usado como substantivo

(por ex.: o deficiente

físico, o deficiente

mental), tende a

desaparecer, exceto em

títulos de matérias

jornalísticas.

Retardo mental,

retardamento mental.

São pejorativos os termos retardado mental, pessoa com retardo mental, portador de

retardamento mental etc.

Deficiência

mental/intelectual. (DM

ou DI).

“Ela é retardada

mental mas é uma

atleta excepcional”

Na frase acima há implícito o preconceito de que a pessoa com deficiência mental não é

capaz de ser atleta.

“Ela tem deficiência mental (ou intelectual) e se destaca como atleta”.

Mongolóide, mongol As palavras mongol e mongolóide refletem o preconceito racial da comunidade científica

do século 19. Em 1959, os franceses descobriram que a síndrome de Down era um acidente

Pessoa com síndrome de Down, criança com Down, uma criança

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genético. O termo Down vem de John Langdon Down, nome do médico inglês que

identificou a síndrome em 1866.

Down.

O paralisado cerebral

Indispensável sempre destacar a pessoa, para naturalmente demonstrar reconhecer que a

deficiência não está inteira na pessoa, ou seja, ela é um ser humano inteiro no qual existe

aquela limitação ‘x’.

A pessoa com paralisia

cerebral.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________

FONTE: Elaboração Própria.

NOTA: Algumas informações foram adaptadas de Sassaki (2003) e elaboradas a partir de meu envolvimento junto ao movimento em prol da defesa dos direitos das PCDs.

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41

2. APONTAMENTOS SOBRE TRABALHO E O VALOR SOCIAL

ATRIBUÍDO À MÃO-DE-OBRA COM DEFICIÊNCIA

2.1. A Teoria Social e o Clássico Direito Humano ao Trabalho

Pesquisando sobre o significado do trabalho na tessitura social encontramos em

Iamamoto (1998) a assertiva:

O trabalho é uma atividade fundamental humana, pois mediatiza a satisfação de suas necessidades diante da natureza e dos iguais. Pelo trabalho o ser humano se afirma como um ser social e, portanto, distinto da natureza. (IAMAMOTO, 1998, p.60)

Comparando o trabalho com o selo distintivo da atividade humana, a mesma autora

afirma que o ser humano é o único ser que realiza o trabalho, sendo capaz de projetar

antecipadamente na sua mente o resultado a ser obtido "é pelo trabalho que as necessidades

humanas são satisfeitas ao mesmo tempo em que o trabalho cria outras necessidades" (Ibid.

p.60).

As freqüentes mudanças corridas na sociedade e no mundo do trabalho fizeram

explodir com uma intensidade jamais vista o universo do não trabalho, o mundo do

desemprego. "Hoje, segundo dados da OIT, quase um terço da força humana mundial

disponível para o ato laborativo, ou se encontra exercendo trabalhos parciais, precários,

temporários, ou já vivencia as agruras do não-trabalho, do desemprego estrutural"

(ANTUNES, 2002, p.138, 139).

Com a revolução tecnológica houve trabalhadores que perderam o posto de trabalho

para máquinas e aparelhos que facultavam a mesma produção com menos custos para os

empregadores, donde muitos optaram pela demissão da mão-de-obra humana que no caso,

tornava-se onerosa a produção pelas despesas relativas à salário e demais benefícios

trabalhistas. A economia global vem exigindo assim que o trabalhador se qualifique cada vez

mais para estar apto a vencer a concorrência humana, e tecnológica (máquinas).

As transformações pelas quais passam a sociedade, em especial as concernentes ao

mundo do trabalho, têm se transformado em dilemas para a sociedade como um todo,

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sobretudo com relação à sua base estrutural, que oferece limitadas condições à qualificação

laboral para a mão-de-obra e poucas vagas de trabalho, em especial para a PCD.

É interessante lembrar que as PCDs não formam um grupo eminentemente

homogêneo. Elas podem apresentar deficiência auditiva, ou física, ou visual, ou intelectual ou

então múltipla. A origem também varia em congênita (genética) ou adquirida, em qualquer

fase da vida, podendo acometer a qualquer pessoa que até então nunca tenha tido nenhuma

deficiência. Ainda pode gerar pouco impacto sobre a capacidade laborativa da pessoa e até

discreta intervenção em sua interação social, ou um impacto significativo, exigindo

considerável apoio, acessibilidade, e assistência.

Para a sociedade contemporânea o trabalho é a usina da riqueza humana, sem o qual

as sociedades não se sustentariam, sendo que continua a ser alimentado no imaginário

coletivo o ideário de que o “trabalho dignifica o homem”.

A despeito do estigma ainda dominante sobre as PCDs, elas reivindicam através de

movimento social organizado, da mídia e na sociedade como um todo maiores e concretas

oportunidade de trabalho, sendo que muitas trabalham e contribuem em diversos níveis, como

também para a geração de riqueza. Não obstante, muitas PCDs não têm acesso à ocupação,

tendo em vista que estas se confrontam com diversas barreiras, como as arquitetônicas que

impedem a acessibilidade e o uso de prédios, órgãos e instituições públicas e privadas na

cidade; barreiras de acesso e o uso dos meios de transporte, dificultando, ou mesmo

impedindo, o ir e vir para o trabalho; e barreiras atitudinais que marginalizam a pessoa com

deficiência, deterioram-lhe a identidade de pessoa humana e restringem-lhe as possibilidades

de desenvolvimento e de relações sociais.

Para melhor compreensão sobre as relações estabelecidas socialmente no que afetam

negativamente as PCDs, trazemos o pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-

2002) e sua compreensão relacional e sistêmica da dinâmica social. Para discutir o mundo

social, este filósofo desenvolve três conceitos fundamentais: campo, habitus e capital.

Para Bourdieu, campo é um espaço de lutas pelo poder de controlar o capital

pertinente ao campo. São núcleos de atividade humana onde a meta é a conquista e

manutenção do poder simbólico, que gera e ratifica significados. Lutas estas que utilizam e

reforçam valores que se tornam admissíveis pelo senso comum. O produto vencedor desta

batalha gera o habitus e o código de aceitação social. Há então uma espécie de simbiose onde

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individuo e sociedade creem estar em uma relação mutualmente vantajosa, na qual os

interesses dos indivíduos, das instituições sociais, da cultura, enfim, de todo a complexa

estrura social são beneficiados por esta associação.

Neste contexto as PCDs que pelos históricos preconceitos sociais, carregam saeculo

a saeculo o peso do manto da invisibilidade social, dado serem vistas como pessoas

incompletas e imperfeitas devido à deficiência, o que as credencia à posição de marginalidade

social, dado o entendimento de que sejam incapazes de também produzirem para seu sustento

e igualmente corroborarem para girar a roda do crescimento e desenvolvimento econômico e

social.

Percebe-se então que a inserção das PCDs no mercado de trabalho passa a significar

não apenas o acesso a valores monetários. Cada PCD que é incorporada ao mercado de

trabalho, resulta em impacto positivo para a própria pessoa naturalmente, para o segmento

social de PCDs que começa a ver ser dissolvida a densidade do véu de obscuridade,

ignorância, e estigma que por tanto tempo pesa aos ombros de cada um e cada uma,

marginalizando o segmento ainda na atualidade, e gera impacto positivo também para a

sociedade como um todo que se liberta das prisões do preconceito oriundas de um perfil

conservador que marginaliza, pune e exclui o diferente. Bourdieu vê então o que muitos não

veem. Bourdieu subdivide o conceito de capital em: social, cultural, econômico e simbólico.

Setton (2010) em rápidas palavras, assim expressa as subclassificações de Bourdieu:

O capital econômico (renda, salários, imóveis), o capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital social (relações sociais que podem ser revertidas em capital, relações que podem ser capitalizadas) e por fim, mas não por ordem de importância, o capital simbólico (o que vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra). Assim, a posição de privilégio ou não-privilégio ocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordo com o volume e a composição de um ou mais capitais adquiridos e ou incorporados ao longo de suas trajetórias sociais. O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de um sistema de disposições de cultura (nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), denominado por ele habitus. (SETTON, 2010, s.p)

Nenhuma ação pode ser diretamente relacionada à posição social dos atores, pois esta

é sempre traduzida em função das regras específicas do campo no interior do qual foi

construída. Como um prisma, todo campo refrata as forças externas, em função de sua

estrutura interna. Nesse sentido, o sujeito se porta conforme o meio social e cultural orienta

para ele como paradigmas de pensar e agir, como conceitos e pré-conceitos. Logo, não se

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pode rotular e estigmatizar as PCDs, julgando-as em posição social inferior às das pessoas

sem deficiência, e em seqüência, as culpar por serem inferiores.

Seguindo o raciocínio de Bourdieu, observarmos que o capital cultural está ligado a

traços apreendidos na família, à herança cultural de antepassados presentes na família, o

primeiro ambiente em que o ser humano tem contato desde o nascimento, e que é

eminentemente carregado de valores coletivos, sociais, de capital cultural. Este capital é

responsável e sem dúvida, determina o processo escolar, uma das formas de capital cultural,

graças à qual o indivíduo pode ascender e adquirir conhecimento e demais condições

derivadas e necessárias para o enfrentamento das lutas. Assim, o domínio do capital cultural

facilita a fluidez da aprendizagem e desempenho escolar. A formação do capital envolve a

transmissão cultural que se dá, por exemplo, por via literária ou acadêmica.

No caso das PCDs não é difícil entender o motivo de terem tanta dificuldade em

acumular estes capitais. Ao lembrarmos que sem acesso a trabalho, à escola inclusiva capaz

de recebê-los e ofertar os apoios necessários para superar a deficiência e assim, seguir adiante

e um processo de aprendizagem produtivo, sem acesso a bens e serviços variados, pela falta

de transporte acessível, e pela falta de acessibilidade dos estabelecimentos públicos, é difícil

para o individuo desenvolver processo de capacitação profissional de qualidade,

especialmente quando se tem outras barreiras para transpor como as do preconceito.

Pierre Bourdieu, alcunhado como o “investigador da desigualdade”, é considerado

um dos intelectuais mais influentes de sua época. Observou ele mecanismos de conservação e

reprodução em todas as áreas da atividade humana, inclusive na área do trabalho,

empreendendo uma investigação sociológica do conhecimento que desvenda o jogo de

dominação e reprodução de valores.

Os conceitos criados por Bourdieu partem então de uma tentativa de superação da

dicotomia entre subjetivismo e objetivismo. Para ele, tomar isoladamente qualquer uma

dessas tendências conduz a uma interpretação restrita da realidade social. A noção de habitus,

por exemplo, procura evitar esse risco, aludindo à incorporação de uma determinada estrutura

social pelos indivíduos, sendo estes influentes em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal

forma que anuem a confirmá-la e reproduzi-la muitas vezes, de modo inconsciente. A

dominação masculina, um exemplo de aplicação da noção de habitus, se mantém segundo o

autor, não só pela preservação de mecanismos sociais, mas pela absorção involuntária, por

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parte das mulheres, de um discurso conciliador. Na formação do habitus, a produção

simbólica – resultado das elaborações em áreas como a da arte, ciência, religião e moral –

constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de modo indireto, escamoteando

hierarquias e constrangimentos (BOURDIEU, 1999).

Inspirada na linha de raciocínio de Bourdieu, ao avaliarmos nosso objeto de estudo,

notamos o habitus presente também na produção simbólica social relacionada às PCDs,

pesando-lhes assim o estigma social que as marginaliza como incapazes e inadequadas. Em

alguns casos até indesejadas, como, por exemplo, quando elas vão procurar emprego, ou em

circulação no convívio social – especialmente em se tratando das deficientes intelectuais e/ou

múltiplas – ou no desejo sempre expresso de que as crianças nunca nasçam com deficiência.

Outro pesquisador que trazemos para corroborar no desenvolvimento da análise do

contexto social das PCDs é o sociólogo Erving Goffman (1922-1982), que fez parte da Escola

de Chicago, sendo ele assim como a escola, pesquisador sobre o interacionismo simbólico.

Goffman pesquisou o dia-a-dia das pessoas, investigando minúcias da identidade

individual e social e das relações em grupo a um nível micro-sociológico, observando a

interação social em ações corriqueiras apreendendo o modo como cada um desempenha o seu

papel e absorve dentro de si o impacto da reação das pessoas em relação a elas mesmas. Sobre

o reflexo do estigma observemos então em Goffmam:

Quando normais e estigmatizados realmente se encontram na presença imediata uns dos outros, especialmente quando tentam manter uma conversação, ocorre uma das cenas fundamentais da sociologia porque, em muitos casos, esses momentos serão aqueles em que ambos os lados enfrentarão diretamente as causas e efeitos do estigma. (GOFFMAN, 1980, p.15)

Seu famoso livro “Estigma: Nota Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada de

1989 discute um tema não muito popular, ou que devida a situação de invisibilidade estendida

aos sujeitos pesquisados não chama muito a atenção da literatura comercial. O autor trata dos

rótulos negativos em relação a ‘traços’ ou ‘marcas’ presentes e até expressa nos corpos de

várias pessoas, pelas quais são identificadas e rotuladas perante a sociedade, como por

exemplo, os traços raciais, PCDs, pessoas com doenças psíquicas ou deformações de caráter,

ou com qualquer outra característica que os torne aos olhos dos outros ‘diferentes’ e até

mesmo inferiores. E que lutam diária e constantemente para fortalecer e até construir uma

identidade social.

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Sobre estigma Goffman afirma:

Um estigma é, então, na realidade, um tipo especial de relação entre atributo e conceito, embora eu proponha a modificação desse conceito, em parte porque há importantes atributos que em quase toda a nossa sociedade levam ao descrédito e a análise da sua relação com a identidade social de cada um. (GOFFMAN, 1980, p.13)

Erving Goffman inova ao se interessar em estudar cientificamente o sentir e o pensar

a identidade de uma pessoa estigmatizada sobre si e sobre a leitura que ela faz em relação ao

impacto do olhar social para pessoas assim como ela estigmatizadas. Investiga então a variada

gama das chamadas ‘estratégias de sobrevivência’ recorrentes pelos estigmatizados para lidar

melhor com a rejeição alheia, às vezes até maus tratos e violência física, e a complexidade de

tipos de informação sobre si projetada nos outros, a adaptação e aceitação na sociedade, de

pessoas portadoras milenarmente de estigmas como as PCDs. Sobre identidade Goffman

pondera:

O conceito de identidade social nos permitiu considerar a estigmatização. O de identidade pessoal nos permitiu considerar o papel do controle de informação na manipulação do estigma. A idéia de identidade do eu nos permite considerar o que o indivíduo pode experimentar a respeito do estigma e sua manipulação, e nos leva a dar atenção especial a informação que ele recebe quanto a essas questões. (GOFFMAN, 1980, p.91)

Desse modo, as reflexões de Bourdieu e Goffman reafirmam a compreensão de que

há grande dívida social e histórica da humanidade para com as pessoas com deficiência, sendo

que então é dado o momento de elaborar e materializar soluções efetivas para eliminar o peso

do estigma atribuído aos PCDs.

2.2. Teoria Clássica do Trabalho

As contínuas inovações na área do trabalho atingem o mundo como um todo. Formas

de produção consideradas superadas pelo desenvolvimento de um capitalismo do tipo

monopolista retornam com outra roupagem, reincorporadas a uma lógica de acumulação que

enfatiza a competitividade e a qualidade. O repensar as atividades produtivas incorporou

inovações tecnológicas e novas formas de gestão do trabalho, resultando em aumento da

produtividade, sensíveis mudanças no relacionamento entre as empresas (paralelo à

incorporação por parte das leis do processo de conscientização dos direitos trabalhistas), nas

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formas de organização da produção, nas relações de trabalho e no processo de negociação

com as instituições de defesa dos trabalhadores.

A modernização tecnológica foi configurada no mundo do trabalho com a separação

entre um restrito setor altamente qualificado e uma massa populacional de “desqualificados”,

no extenso e diversificado território brasileiro. Nesse cenário das relações laborativas exerce

um papel de destaque o complexo jogo entre controle, consenso e negociação na relação

capital/trabalho.

Para Marco Santana (2009) após a segunda guerra foi comum a interpretação de que

o Estado deveria se ater ao controle e regulação da economia, mas também assegurar o bem-

estar social aos cidadãos, era o chamado Welfare State, expressão inglesa que designa o

Estado-providência, que deveria se responsabilizar em prover os bens públicos, sobretudo

aqueles relacionados à educação e à saúde e, especialmente, para as minorias sociais.

Esta posição passou a ser conflituosa com a crise da sociedade industrial, onde

alguns estudiosos passaram a sugerir o ‘Estado mínimo’, onde este deveria diminuir sua

intervenção na economia através, por exemplo, da privatização de empresas, do enxugamento

de quadros administrativos da máquina pública, para que imperasse então a lógica de mercado

com a justificativa de propiciar maior agilidade e dinamismo ao processo.

Segundo Santana (2009), nos anos 1990 o Brasil também foi envolvido pela

reestruturação produtiva em curso no mundo industrializado, com novas formas de gestão do

trabalho, flexibilização, terceirização, entre outras práticas adotadas pelas empresas

brasileiras. Para ele, inclusive, “os impactos das inovações não tem as mesmas consequências

para os trabalhadores, entendidos aqui as diferenças de sexo e nacionalidade” (SANTANA,

2009, p.30).

Natural assim o raciocínio de que a PCD receba menor status laborativo do que a

mulher, perante o contexto de preconceito e segregação, exclusão e estigma a que este

segmento social foi marcado historicamente.

A pesquisadora sobre qualificação e desemprego, Márcia Leite (1997) afirma que a

perspectiva de que novas tendências da atividade produtiva exigiriam contínua qualificação da

mão-de-obra e decorrente crescimento no desemprego baseou o conceito de empregabilidade,

definido como a capacidade da mão-de-obra de se manter empregado ou de conquistar um

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novo trabalho, se ou quando demitido. Ela discorda, porém, do entendimento corrente de que

o desemprego funda-se na baixa empregabilidade da mão-de-obra ou de sua inadequação às

exigências do mercado, entendendo ser esta uma análise superficial, sendo necessário agregar

algumas reflexões para a compreensão dos cenários dos mercados de trabalho. Para Leite

(1997) a causa é um desequilíbrio entre a População Economicamente Ativa (PEA) e as

ofertas de trabalho no contexto das atuais relações de trabalho e de produção, criticando

incisivamente o que ela chama de “falso pressuposto”, como se a causa única do desemprego

fosse o inadequado perfil das pessoas às exigências de qualificação, como se houvesse oferta

de trabalho para todos, restando apenas aos indivíduos se adequarem à demanda.

Sabe-se que ao abordarmos a relação entre emprego e formação da mão-de-obra é

necessário distinguir entre as diferentes competências exigidas pelo mercado de trabalho,

sendo que as principais são escolaridade e qualificação técnica, de onde advém a ideia geral

no imaginário coletivo de que é mais valorizada a oferta de mão-de-obra com maior nível de

escolaridade possível (nível superior completo, por exemplo) e qualificação técnica.

Pode-se dizer que é quase um axioma o pressuposto de que a educação pode

positivamente mudar a realidade de um país. Nesse sentido, segundo as “Metas do Milênio”

estabelecidas no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em relação à

educação básica e de qualidade para todos, deverão os governos garantir que até 2015, todas

as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino básico e que as

crianças de todas as regiões do Brasil independentemente de cor/raça e sexo, concluam o

ensino fundamental.

Existe outro importante fator para esta análise, qual seja o perfil competitivo e

excludente da sociedade capitalista contemporânea, que requer um trabalhador cada vez mais

qualificado, capacitado e se possível sintonizado em tecnologia da informação e comunicação

(TIC), isto é, que seja “antenado” e acompanhe as inovações tecnológicas e científicas ao

máximo possível, sabendo que este nível máximo poderá garantir uma vaga de emprego em

relação aos demais concorrentes. É exigido assim não só saber lidar com a tecnologia

apresentada, mas inclusive, dominá-la.

Esta excessiva oferta de trabalhadores gerada principalmente pelo desemprego afasta

ainda mais a possibilidade de trabalho para a pessoa com deficiência, pois como é fácil supor,

seguindo a linha de raciocínio do sistema, facilmente se questionaria: para quê o empregador

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contrataria uma pessoa com deficiência (especialmente se não for deficiência discreta e

facilmente superável), se ele pode escolher dentre tantos candidatos sem deficiência, e com

isso não precisar fazer nenhum tipo de investimento em sua empresa para adaptá-la, nem

investir para capacitar o corpo de funcionários existentes - sendo estas etapas fundamentais no

processo inclusivo para receber a este (s) novo (s) empregado (s) com deficiência?

Este cenário contemporâneo do mundo do trabalho dificulta ainda mais a inserção da

pessoa com deficiência. É nesta árdua fase que associações de defesa de direitos buscam junto

à sociedade a ampla inclusão social das pessoas com deficiência, inclusive dentro da

amplitude de políticas públicas voltadas para a geração de trabalho, emprego e renda.

Nesse ínterim, surge o pressuposto básico: a inserção da pessoa com deficiência no

mercado de trabalhado é dificultada pelo preconceito, estigma e ignorância sobre as

capacidades, características e limites concernentes às PCDs, especialmente, sobre seu

potencial laborativo. Estes fatores causais e preponderantes são ainda presentes nas relações

culturais, sociais e empregatícias estabelecidas com essas pessoas, gerando um movimento

cíclico de causa e conseqüência, a baixa escolaridade com a decorrente qualificação

profissional limitada destas pessoas.

Leite (1997) aponta que este fato tem implicação na lógica da produção terceirizada,

ou seja, no contínuo processo de enxugamento das grandes empresas e na expulsão de seus

trabalhadores para os fornecedores, geralmente de porte menor, que investem muito menos

em sua mão-de-obra, não só porque têm menos recursos econômicos, mas também porque se

dedicam em geral à produção de partes do processo produtivo de menor valor agregado, que

exigem uma mão-de-obra menos qualificada. Nesse contexto, enquanto diminui

vertiginosamente o número de trabalhadores empregados nas grandes empresas industriais,

onde se concentra a mão-de-obra mais qualificada, aumenta o emprego precário e pouco

qualificado ao longo da cadeia produtiva.

Interessante notar que esse quadro conflita claramente com as propostas geralmente

apresentadas para solucionar as questões relacionadas ao mercado de trabalho, seja no que se

refere ao combate ao desemprego ou às tentativas de melhoria dos empregos existentes. Pode-

se então questionar alguns mitos correntes sobre as PCDs especialmente sobre sua relação

com o trabalho, quando se diz que estas pessoas são acomodadas, ou não gostam de trabalhar,

não querem se capacitar no ensino formal, ou são refratárias às ofertas de qualificação.

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Nota-se que o acesso às ofertas de trabalho não é algo assim tão simples como pode

parecer, especialmente para as minorias sociais, com destaque para as PCDs, para quem a

vontade pessoal, a intenção individual, além de ser naturalmente influenciada social e

culturalmente não é tão ouvida ou respeitada como pode parecer. Assim, não depende

somente da vontade da PCD perceber como é fácil o acesso, por exemplo, à escola para se

qualificar.

Em Goiás, por exemplo, é recente a proposta de escolas acessíveis para as pessoas

com deficiência, mais exatamente no ano 2000, com decorrentes ofertas para a capacitação do

corpo docente de escolas dentro do novo paradigma inclusivista. Como, por exemplo, em

relação à comunicação específica necessária aos tipos de deficiência, a exigência nos

currículos de alguns professores de apoio à inclusão do conhecimento de LIBRAS, a

acessibilidade e as ajudas técnicas.

Ora, em Goiânia, por exemplo, é recente a circulação de transporte coletivo adaptado

(apesar de ainda insuficiente para a demanda de pessoas com deficiência), mas que já é um

avanço se imaginamos, por exemplo, que se esta cidade tem precário e pouco transporte

coletivo acessível para a população como um todo, como se desloca para as escolas de ensino

formal e para os cursos profissionalizantes a PCD que mora no interior? Pode-se imaginar a

dificuldade para ir e vir à escola vivenciada pelas PCDs e o estímulo negativo criado para a

família dessa pessoa em não fazer questão de estimular que ela estude, dado as concretas

barreiras de acessibilidade, arquitetônicas dos prédios públicos, escolas regulares de ensino ou

escolas de ensino profissionalizante, barreiras geradas pela ignorância sobre o que envolve as

ajudas técnicas ou o apoio que o aluno com deficiência possa necessitar.

Em geral, o aluno com deficiência em Goiânia é oriundo de família com pouco poder

aquisitivo, econômico, que “carrega nas costas” uma cultura de estigma e preconceitos

marginalizadores, não só à PCD como também à sua família. Confrontada às barreiras

atitudinais, não fica difícil compreendermos como as escolas e o mercado de trabalho em

geral não estão ainda preparados de acordo com orientação do paradigma humanista e social

inclusivista. Assim, percebe-se que não depende exclusivamente da mera vontade da PCD

que, como é dito no mito, se nega a estudar, a se qualificar e a buscar se desenvolver,

contentando-se com o salário mínimo relativo ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).

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Por um lado, a proposta de desregulamentação do mercado, defendida por alguns

analistas como forma de aumentar a oferta de emprego, tem-se mostrado altamente

ineficiente. Não só tem sido insuficiente para incentivar as empresas à contratação de mais

trabalhadores – tendo em vista que a prática empresarial de cortar mão-de-obra tem a ver não

só com questões econômicas, mas também com cálculos políticos – como a perda dos direitos

acaba favorecendo a proliferação de empregos precários.

Por outro lado, tampouco o treinamento puro e simples da mão-de-obra, conforme

procuramos demonstrar ao longo do artigo, parece ser suficiente para minorar os problemas.

Se o acesso a cursos de formação profissional deve ser um direito de todos os cidadãos, isso

não significa que ele seja suficiente para criar empregos, ou para melhorar o nível dos já

existentes. Se considerarmos que tanto a falta de empregos como o baixo nível daqueles

disponíveis relacionam-se mais com as atuais tendências do processo produtivo do que com a

formação da mão-de-obra, fica evidente como a solução desses problemas requer políticas

específicas voltadas à geração de emprego e renda que, obviamente, devem estar relacionadas

aos programas de formação de mão-de-obra. Nesse contexto, as novas teorias sobre a

qualificação da mão-de-obra, com sua confiança no fato de que basta qualificar os

trabalhadores para resolver o problema do desemprego e da baixa qualidade do emprego são

mais do que falsas.

Considerando a educação como a tábua de salvação, capaz de resolver todos os

problemas do mercado de trabalho, sem atentar para suas verdadeiras causas, ela não passa de

uma falácia da teoria do capital humano, que a história contestou e desnudou o caráter

ideológico, evidenciando sua tentativa de ocultar a lógica real por trás das mazelas do

mercado de trabalho.

Como resultado da era inclusiva desenvolvida na educação pelo Ministério da

Educação e Cultura (MEC), sob orientação do novo paradigma inclusivista, o nível escolar da

PCD aumentou. O número de PCDs com nível escolar médio completo e superior completo

aumentou. Porém, no mercado de trabalho as PCDs ocupam vagas em sua maioria

equivalentes ao ensino fundamental, com baixos salários, sendo que a pessoa com nível

superior completo encontra como única alternativa laborativa compatível com seu nível de

formação o acesso ao trabalho via concurso público. Ou seja, a lei de cotas na prática não tem

conseguido favorecer a mão-de-obra da PCD com nível superior.

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Dentro da lógica de mercado, e da intensificação na competitividade, o ciclo de

incansável exigência por maior lucro, gerado pelo desejo de maior produção, via maior

qualidade de produtos e trabalho ofertado, sustentada na contínua e cada vez mais

diversificada exigência de profissional melhor qualificado, as pessoas mais carentes

economicamente vão sendo marginalizadas das ofertas de trabalho, empurradas para o

subemprego, para o trabalho informal, e para o desemprego.

Assim, ao observar-se o processo das relações de trabalho inserido no contexto

complexo das relações sociais tocadas de estigmas e preconceitos sociais em relação à PCD,

rotulada como inferior, seu respectivo processo de qualificação laboral, e as formas

organizativas destinadas à sua qualificação e inserção laborativa são igualmente inferior ao

das pessoas sem deficiência. Por exemplo, as vagas de trabalho ofertadas pelas empresas para

as PCDs via SINE-GO são para subempregos, e em sua maioria, para nível escolar

fundamental e médio incompleto. Os salários por vezes são inferiores ao de um profissional

sem deficiência, com igual qualificação e na mesma função.

O desemprego entre os 386 milhões8 de pessoas com deficiência no mundo, com

idade para trabalhar, é muito maior do que o dos indivíduos ainda economicamente ativos9,

podendo as taxas de desemprego no primeiro grupo (PCDs) chegar a 80%.

Reitera-se a preocupação da presente pesquisa com as possibilidades concretas de

efetiva absorção do potencial laborativo das PCDs no Brasil, subaproveitado e até não

aproveitado no país. Trata-se de quase um quarto da população brasileira, conforme

resultados preliminares do censo demográfico de 2010, existindo à semelhança do “sujeito

oculto” ensinado na língua portuguesa.

É explícito o preconceito social e cultural ainda presente na sociedade em relação às

PCDs, não só em discursos coloquiais, de modo que no imaginário coletivo estas pessoas

aparecem na contemporaneidade elevadas à categoria de “cidadãos de 2º plano”, mas também

para institutos de pesquisa basilares para a temática do trabalho e emprego no Brasil, como o

IBGE, o Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) e as secretarias voltadas para as políticas

8 Cifra baseada em estimativas da Organização Mundial da Saúde, segundo as quais cerca de dez por cento da população mundial ou 610 milhões de pessoas possuem um tipo de deficiência, das quais 386 milhões encontram-se entre 15 e 64 anos de idade (World Population Prospects, 1998 Revision, UN, New York,1999). 9 As taxas de desemprego declaradas variam entre 13% no Reino Unido, o dobro da taxa de desemprego da força de trabalho de pessoas sem deficiência, 18 % na Alemanha e 80 % ou mais, de acordo com estimativas para países em desenvolvimento. (World Population Prospects, 1998 Revision, UN, New York,1999).

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públicas, sociais e do trabalho em nível estadual. Nestes institutos, que são referências para o

acesso aos dados sobre o perfil laboral da sociedade brasileira, observamos que a variável

“pessoa com deficiência” não é investigada em relação ao filtro “trabalho” com o mesmo

rigor no qual é a população sem deficiência. Vários cruzamentos são possíveis fazer, por

exemplo, no próprio portal do MTE, relativos a sexo, raça, escolaridade, contratação,

progressão, demissão, salário, tempo de serviço, e outros.

Como saída atual, tem sido apresentado pelo movimento de defesa de direitos das

PCDs a necessidade de criar sistemas de educação baseados no paradigma inclusivo,

caracterizado por ampla gama de ações, como aumentar o acesso e melhorar as possibilidades

financeiras para grupos marginalizados por meio da redução de barreiras representadas pelos

custos; ampliar direitos e oportunidades, colocando em vigor leis de combate à discriminação,

oferecendo programas de proteção social; desenvolver sistemas de coleta de dados

desagregados, para identificar grupos marginalizados e monitorar seus progressos, dentre

outras.

2.3. A Teoria Social Contemporânea sobre as PCDS.

Segundo Sassaki (1997), a menção do conceito "sociedade inclusiva" é bastante

recente nos meios especializados em assuntos de deficiência. Vem sendo crescentemente

mencionado a partir de 1995. Ele é mais recente do que os conceitos de educação inclusiva,

lazer inclusivo e empresa inclusiva, os quais começaram a ser aplicados já na década de 1980

nos EUA, na Europa e em alguns outros países.

No âmbito internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) foi

provavelmente a primeira entidade a cunhar explicitamente a expressão “uma sociedade para

todos”, pois ela está registrada na resolução 45/91 da Assembleia Geral das Nações Unidas,

ocorrida em 1990. Desde então os documentos da ONU vêm relembrando constantemente a

meta de uma sociedade para todos (entenda-se sociedade inclusiva) em torno do ano 2010.

Fletcher (1996) explica que o modelo social da deficiência focaliza os ambientes e

barreiras incapacitantes da sociedade e não as pessoas deficientes. O modelo social foi

formulado por pessoas com deficiência e agora vem sendo aceito também por profissionais

não deficientes. Ele enfatiza os direitos humanos e a equiparação de oportunidades.

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Para Westmacott (1996), o modelo social da deficiência diz que são as atitudes da

sociedade e o nosso ambiente que necessitam mudar. E, em meados da década de 80,

Clemente Filho (1985) já afirmava que a comunidade como um todo deveria aprender a

ajustar-se às necessidades especiais de seus cidadãos portadores de deficiência. Clemente

Filho afirma ainda que:

Para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros. O desenvolvimento (por meio da educação, reabilitação, qualificação profissional, etc.) das pessoas com deficiência deve ocorrer dentro do processo de inclusão e não como um pré-requisito para estas pessoas poderem fazer parte da sociedade, como se elas precisassem pagar ‘ingressos’ para integrar a comunidade. (CLEMENTE FILHO, 1996, p. 4)

A prática da inclusão social repousa assim em princípios até então considerados

incomuns, tais como: a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a

convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação. A

diversidade humana é representada, principalmente, por origem nacional, opção sexual,

religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência.

Trata-se de um processo que contribui para a construção de um novo tipo de

sociedade através de alterações pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e

externos, equipamentos, aparelhos e utensílios mobiliários e meios de transporte), nos

procedimentos técnicos e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio

portador de necessidades especiais.

Há mais ou menos dez anos em várias partes do mundo já é realidade a prática da

inclusão, sendo esse processo aplicado em cada sistema social. Daí decorre o entendimento de

que quanto mais sistemas comuns da sociedade adotar a inclusão, mais cedo se completará a

construção de uma verdadeira sociedade para todos e inclusiva. Para Werneck, "a sociedade

para todos conscientes da diversidade da raça humana, estaria estruturada para atender às

necessidades de cada cidadão, das maiorias às minorias, dos privilegiados aos

marginalizados". (WERNECK, 1997, p. 21).

Por isso a necessidade da inclusão no mercado de trabalho, na educação, no lazer e

recreação, nos esportes, nos transportes, em todo espaço. Na medida em que a sociedade vai

se tornando inclusiva temos a empresa inclusiva, a educação inclusiva, lazer e recreação

inclusivos, esporte inclusivo, transporte inclusivo e assim por diante, ou se preferirmos,

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mercado de trabalho para todos, educação para todos, lazer e recreação para todos, esporte

para todos, transporte para todos.

Em pesquisa realizada pelo i.Social em São Paulo10 revelou que “49,2% das PCDs

que responderam à pesquisa ‘Pessoas com Deficiência: expectativas e percepções do mercado

de trabalho’ têm pretensão salarial de R$ 1.501,00 a R$ 4.500,00”. Ou seja, quase 50% das

PCDs querem literalmente crescer profissionalmente, e clamam pelo acesso às mesmas

oportunidades disponibilizadas às pessoas ‘ditas normais’. (i.SOCIAL, 2012)

Esta pesquisa corrobora para fazer cair por terra o “negativo mito do BPC”,

desmistificando um dos discursos expresso no senso comum, de que a PCD que recebe o

Benefício de Prestação Continuada (BPC)11, um salário mínimo pago pelo governo federal a

apenas parte das PCDs cuja renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus

integrantes seja inferior a 1/4 do salário mínimo, se acomoda com o benefício, não desejando,

ou não se esforçando para estudar, para se qualificar profissionalmente, conforme as

demandas do mercado de trabalho.

Ainda conforme o estudo da i.Social, “três quartos dos entrevistados não receberam

nenhuma promoção no último emprego, ainda que a maior parte deles esteja (ou ficou) há

mais de um ano no atual emprego. Sobre as barreiras para a inclusão de profissionais com

deficiência no mercado de trabalho, as mais citadas pelos entrevistados foram oportunidades

ruins, foco exclusivo no cumprimento de cotas e poucas oportunidades (i.SOCIAL, 2012).

Neste sentido, para melhorar as oportunidades, 31% dos pesquisados acreditam que

deveria haver mais fiscalização da Lei de Cotas com respectiva punição, como garantia do

cumprimento da lei. Ao mesmo tempo, 25% dos entrevistados entendem que o aumento do

número de PCDs nas empresas seria uma saída e, 23% apontam o incentivo fiscal para as

empresas contratantes.

Em Goiânia, o Programa BPC fechou o ano de 2007 com 17.339 beneficiários.

(SMAS, 2008). Importante aqui frisar para refletirmos, que o BPC não se aplica a toda PCD, 10 Pesquisa “Pessoas com Deficiência: expectativas e percepções sobre o mercado de trabalho” realizada de abril a maio de 2011 pelo i.Social e aplicada em 800 pessoas com deficiências físicas, auditivas, visuais, intelectuais e múltiplas do Brasil, via questionário eletrônico no próprio site e nas redes sociais. Disponível em: <( http://www.isocial.com.br/isocial-download.php)> 11 O Benefício da Prestação Continuada consiste no repasse de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência ou ao idoso acima de 65 anos de idade, que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem tê-la provida por sua família. Entende-se por família incapacitada aquela cuja renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus integrantes seja inferior a 1/4 do salário mínimo.

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mas somente aos comprovadamente mais carentes da população brasileira. Logo, se o motivo

para este desemprego fosse a suposta acomodação ou preguiça deste usuário do benefício,

porque então há tanta PCD que não recebe o benefício federal fora do mercado de trabalho?

Um questionamento que surge em sequencia, porém não de menor importância é o de que a

atual sociedade globalizada já tanto estudada, hoje vive a era da tecnologia e da informação,

sendo chamada de sociedade do consumo, na qual a sociedade mundial é estimulada a

comprar em ritmo contínuo e crescente, conforme regras do modo de produção do próprio

sistema capitalista. A população brasileira e por que não falar da mundial, é bombardeada a

todo instante desde as formas tradicionais e populares de mídia propagandista às mais

modernas como, por exemplo, os sites de compra coletiva, ou as propagandas presentes nas

redes sociais. Naturalmente, a PCD não é poupada do compulsório bombardeio propagandista

e consumista a que está sujeita a sociedade. Logo, pode-se questionar, como poderá as PCDs

se acomodarem em pleno clímax de uma sociedade consumista? Ou ainda, como consumir na

contemporaneidade se acomodando ao BPC? Como resposta natural vem o pensamento de

que a problemática depende menos do aspecto individual, isto é, da vontade da PCD do que

das questões materiais e estruturais da sociedade, dada o seu papel condicional no cenário

social.

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3. MARCO LEGAL

3.1. O Reconhecimento da “Diferença” por via do Princípio da Igualdade, como

Corolário de Justiça Social

O censo demográfico de 201012 informa que dentre os 190 milhões de brasileiros,

45,6 milhões tem deficiência, ou seja, 23,9% do país. Este percentual se confrontado com os

14,5% do censo de 2000 permite visualizar significativo aumento de PCDs, o que desperta o

natural desejo de que sejam extintas as causas. Para que este número alarmante seja

estancado, são necessárias no país políticas urgentes de prevenção pré-concepcional (antes da

gravidez), pré-natal (durante a gestação), perinatal (no momento do parto) e pós-natal (após o

nascimento).

Acidentes na infância podem ser evitados com investimentos em políticas voltadas às

crianças e aos adolescentes, por exemplo, nas áreas de educação, lazer e cultura. Os acidentes

de trânsito podem ser prevenidos por meio de políticas que incluam educação, legislação,

sinalização das vias, dentre outras medidas de segurança como massivo uso da mídia para, por

exemplo, impedir o uso de bebida alcoólica e outras drogas durante o trânsito na cidade e

estradas. Os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais podem ser evitados também com a

legislação, fiscalização, organização sindical e redução dos ritmos de produtividade, além de

políticas salariais e aumento do índice de empregos que naturalmente evita o estresse do

trabalhador.

A sociedade e o Estado se esquecem de que a todo instante qualquer pessoa está

sujeita a se envolver em uma situação que gere para si própria uma deficiência, e

independente dos títulos acadêmicos ou políticos, ou ainda do poder econômico que possua,

não passará ileso às barreiras atitudinais de raízes culturais e sociais às quais estão expostas a

PCD, desatentos de que todos podem e devem enfrentar e participar da solução.

Sem ter acesso a bens e serviços as PCDs encontram óbices concretos e quase

intransponíveis para a ação solitária, barreiras para acessar e desenvolver seu processo de

educação formal, assim como para a qualificação profissional. Fruto de uma visão equivocada

na qual estas pessoas não são sujeitos de direitos e serviços assim como qualquer ser humano,

cegueira social esta que perpetua a invisibilidade de quase ¼ dos brasileiros.

12 Fonte: Sala de Imprensa: Censo Demográfico 2010: Resultados gerais da amostra.

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Por causa desta invisibilidade há também uma grande exclusão social, educacional,

econômica e cultural; segundo dados do Banco Mundial, 6,7% do PIB mundial é perdido pela

ausência da contribuição das pessoas com deficiência e seus cuidadores, em razão do alto

índice de desemprego desta parte da população, não porque não queiram trabalhar, mas

principalmente pela ausência de estrutura para garantir a equiparação de oportunidades.

Desatentos para o dedutível impacto positivo de discreto investimento no mercado de

trabalho brasileiro baseado em ações inclusivas para a política de trabalho, emprego e renda

que agregue a PCD ao universo laborativo brasileiro de modo oficial, paralelamente à

demanda também antiga de efetivar e implementar no país a política de educação inclusiva.

Demonstrando com isso a incipiente preocupação do Estado em relação à obrigação social do

país de acertar seu histórico débito com o segmento social das PCDs.

3.2. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC): MARCO PARA A

SOBREVIVÊNCIA E DIGNIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .

Com origem nos EUA, na época do Presidente John F. Kennedy, para tratar das

injustiças sociais em relação aos negros, as ‘ações afirmativas’ desenham para a pessoa com

deficiência a possibilidade de construção de oportunidades equânimes para qualidade de vida

a todas e todos, focadas na mobilização de grupos privados e na pró-atividade do Estado em

direção da indenização e materialização da igualdade real, concreta e objetiva. Para Santos, as

ações afirmativas são:

Medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros. Portanto, as ações afirmativas visam combater os efeitos acumulados em virtude das discriminações ocorridas no passado. (SANTOS, 2010, p. 47)

No dia 7 de dezembro de 1993 foi criada a Lei Orgânica da Assistência Social

(LOAS)13. Um claro avanço na ampliação do acesso aos direitos, através de ações conjuntas

de iniciativa governamental e da sociedade requer a afirmação de mínimos sociais, como

13 LEI Nº 8.742, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1993 - Lei orgânica de Assistência social – LOAS, dispõe sobre a organização da Assistência Social.

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garantia de atendimento às necessidades básicas. Consagrado pela LOAS, o Benefício da

Prestação Continuada (BPC) foi implantado em todo o país em janeiro de 1996 a partir do

Decreto nº 1.744/9514, e consiste no repasse de um salário mínimo mensal vigente, do governo

federal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 anos de idade ou mais que comprovem

não possuir meios de prover a própria manutenção sendo incapazes para a vida independente

e para o trabalho e nem tê-la provida por sua família caracterizando-a como família

incapacitada15 para tal.

Alcança, todavia, pequeno número do total de pessoas com deficiência (32,4% das

PCDs no Brasil16), pois são beneficiárias do BPC apenas as pessoas comprovadamente em

situação de vulnerabilidade e dependentes financeiramente de sua família, e há fiscalização

nesse sentido17.

Importante sublinhar que para a grande parte das pessoas que recebem o BPC esta tem

sido sua única possibilidade de renda estável ao longo do ciclo de vida, não obstante sofrer

critica devido à inflexibilidade da lei em relação aos casos de famílias numerosas, para as

quais esta renda ainda seria insuficiente.

O BPC se traduz assim em histórica conquista para as PCDs, ao garantir às PCDs mais

carentes economicamente do imenso território nacional condições para a sobrevivência, e a

decorrente alegria nesta ação afirmativa de finalmente ter acesso a um mínimo de dignidade

humana, o sobreviver.

3.3. A Legislação Vista a Partir do Princípio de não Retrocesso Social, como Fonte

Essencial de Progresso Coletivo

O longo Processo desenvolvido pelas PCDs de luta pela vida passa a ter maior

14 DECRETO Nº 1.744 - DE 8 DE DEZEMBRO DE 1995 - DOU DE 11/12/95 – Revogado pelo DECRETO Nº 6.214 - DE 26 DE SETEMBRO DE 2007 – DOU 28/9/2007 Nova redação dada pelo Decreto nº 4.712 - DE 29 DE MAIO DE 2003 - DOU DE 30/05/2003) Regulamenta o benefício de prestação continuada devido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso, de que trata a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e dá outras providências. 15 Entende-se por família incapacitada aquela cuja renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus integrantes seja inferior a ¼ do salário mínimo. 16 Segundo o IBGE, no Censo 2000, dos 14,5% de brasileiros com algum tipo de deficiência 32,4% recebem aposentadoria ou Benefício de Prestação Continuada (IBGE, 2000). 17 O benefício é revisto a cada dois anos para identificar eventuais falecimentos do idoso ou da PCD, ou a melhoria da renda familiar, situação que automaticamente os descredencia e faz perder este recurso federal. Assim, a PCD que se emprega perde o salário mínimo que recebia, pois em tese, esta pessoa e sua família doravante terão condições de substituir e/ou superar o benefício através de seu labor.

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visibilidade e respectivo respeito e respaldo social na medida em que se embasou em via

legal, criando dispositivos legais para garantir o acesso aos direitos inerentes a toda pessoa,

direitos cujo desfruto deveria ser entendido naturalmente como legítimo diante de sua também

condição de pessoa, de ser humano.

É necessário explicitar tratar-se desde direitos intrínsecos como o de não ser

assassinado, por exemplo, pela mão do Estado como acontecia no passado, ou o de ter acesso

a condições básicas para a sobrevivência, dado que o estigma e a posição de marginalidade

social como que compulsórios à realidade do segmento social das PCDs, criam barreiras,

óbices para a materialização de iguais condições de vida e dignidade às quais as pessoas sem

deficiência têm acesso.

Este arcabouço legal constitui marco histórico de desenvolvimento social na medida

em que subsidia o processo de conscientização das pessoas em relação ao então ideário de que

somos todos iguais, respeitadas as diferenças.

Para Fábio Konder Comparato (2004) os direitos humanos começaram a ser

enunciados nas sociedades primitivas. Fundamentos das noções de direitos humanos são

observados no período axial (entre os séculos VIII e II a.C.), com a idéia de igualdade

essencial entre todos os homens quando começa-se a questionar os mitos religiosos e aponta-

se a incipiente valorização do homem como justificativa ética para a organização social.

Séculos após a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América

(1776), destaca-se como desejo coletivo natural a “busca pela felicidade” e reforça-se a ideia

de direitos inerentes à pessoa humana. Essa declaração se constitui no nascimento dos

Direitos Humanos, reconhecendo em seu artigo 1° que “[...] todos os homens são igualmente

vocacionados, pela sua própria natureza, ao aperfeiçoamento constante de si mesmos”, e ainda

que, “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direito e permanecem nesta

condição” (COMPARATO, 2004, p. 49).

A filosofia reforça a idéia do homem como o centro das atividades sociais e

individuais, como destinatário de toda ação humana e na Europa o burguês em defesa de sua

riqueza anseia por organização social que seja capaz de responder às suas necessidades

enquanto indivíduo possuidor de direito à liberdade e à igualdade.

Importante destacar que os aludidos direitos fundamentais de primeira geração não

alcançaram todas as camadas da sociedade. Na França, em 1791, dois anos após a Revolução

Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão reforça o conceito de liberdade

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e igualdade a todos os seres humanos. Rememore-se, apesar da afirmação retórica de que os

homens nascem “livres e iguais”, a prática escravagista ainda corria solta no solo americano.

Nesse aspecto, Comparato é mais do que claro ao dizer, sem rodeios, que:

A democracia moderna, reinventada quase ao mesmo tempo na América do Norte e na França, foi a fórmula política encontrada pela burguesia para extinguir antigos privilégios dos dois principais estamentos do ancien régime – o clero e a nobreza – e tornar o governo responsável perante a classe burguesa. O espírito original da democracia moderna não foi, portanto, a defesa do povo pobre contra a minoria rica, mas sim a defesa dos proprietários ricos contra um regime de privilégios estamentais e de governo irresponsável. (COMPARATO, 2004).

Buscando a opinião quase axiomática de que a conquista de direitos sociais passa

eminentemente pela educação, encontra-se as primeiras iniciativas educacionais oficiais

voltadas às PCDs por volta de 1917, efetivadas inicialmente por instituições especializadas,

geralmente de caráter filantrópico. Aliadas às iniciativas governamentais, tais iniciativas

desempenharam respeitável papel contribuindo tanto para o atendimento direto de alunos e

familiares, como para o processo de sensibilização e informação da sociedade.

Na subsequente esteira histórica surge em São Paulo-Brasil o Decreto 5.881 de 21 de

abril de 1933 para instituir o Código de Educação do Estado de São Paulo, depois replicados

no país, que dimensionou aspectos filosóficos, sociais e técnicos, determinando a educação

especializada na Escola Pública. Surgem as classes especiais, salas de recurso e unidade de

serviço itinerante. Estes atendimentos instalados nas escolas da rede regular de ensino se

baseavam ainda no princípio da integração voltada a preparar o aluno com deficiência para

inserção em classe regular, compatível com seu nível de escolaridade.

A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos (194818), a Organização das

Nações Unidas (ONU) vem aperfeiçoando o processo de edificação dos direitos humanos, o

qual se universalizou a partir da primeira metade do século XX, para fazer frente aos abusos

ocorridos no período das guerras mundiais e aos que foram cometidos posteriormente até os

nossos dias. Influenciados pelos movimentos que consideraram outros ideários como as da

escola e educação como direito universal, pais e parentes de pessoas com deficiência

organizam-se para buscar a integração social do então chamado portador de deficiência. "A

década de 1960, por exemplo, testemunhou o boom de instituições especializadas, tais como

18 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é proclamada e aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) por unanimidade em 10 de dezembro de 1948.

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escolas especiais, centros de habilitação, centros de reabilitação, oficinas protegidas de

trabalho, clube sociais especiais, associações desportivas especiais" (SASSAKI, 1997, p.31).

A Declaração dos Direitos Humanos (chamada carta de intenções) traz

recomendações aos países, em sua organização individual, e às nações, em geral, para

estabelecer regras entre elas com vistas a uma vida pacífica e digna. Conjunto de princípios

cujo objetivo é assegurar a todas as pessoas o respeito à sua dignidade através do

reconhecimento universal garantida judicialmente.

Na década de 1970 multiplicam-se as então chamadas instituições de deficientes e/ou

para deficientes. Estas trabalhavam para que o comportamento das PCDs parecesse o mais

"normal" possível, ou seja, o indivíduo era aceito apenas se conseguisse se enquadrar aos

padrões da sociedade. A integração social era apenas para aqueles que superassem as barreiras

físicas e acadêmicas estabelecidas, permitindo apenas uma inserção parcial da PCD na

sociedade, a fase da integração social.

Nesse ínterim, surge a Declaração Universal dos Direitos do Deficiente - ONU

(1975), introduzindo o termo “Pessoa” para melhor dar o sentido de cidadania imputada às

pessoas com algum tipo de deficiência.

Na década de 1980 ocorreram grandes transformações sociais no mundo e no Brasil e

o avanço das políticas sociais no atendimento às PCDs foi significativo. "Foi nos anos 80, que

os brasileiros mais tomaram consciência das profundas desigualdades sociais que entre eles

existiam" (ALMEIDA, 1997, p.12).

A preocupação com a defesa da igualdade de oportunidades para todos, documentada

pela ONU em 1981, ratificada pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos na

Tailândia 1990, inspirou o Plano Decenal de Educação para Todos.

Em 1988 foi promulgado pela ONU o “Ano Internacional das Pessoas com

Deficiência”, todavia, é a Constituição Brasileira/1988, que disciplina no país as ações do

Estado e da sociedade no que concerne à qualidade de vida das pessoas com deficiência

(reabilitação, educação, trabalho, lazer, assistência social, medidas antidiscriminatórias e de

proteção específica).

Em seqüência é criada a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre o apoio

às pessoas com deficiência que institui a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa

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Portadora de Deficiência -CORDE, diretamente ligada á Secretaria de Estado dos Direitos

Humanos, e o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência –

CONADE, que refletindo a intensa cobrança social para ações voltadas à demanda por

trabalho das PCDs, assegura em seu Art. 2º, inciso III, às pessoas com deficiência os direitos

na área da formação profissional e do trabalho.

Para Isabel Maior, o aspecto de principal desta legislação é que ela define como

crime o preconceito contra a pessoa com deficiência e estabelece penalidades ao praticante do

delito que vão de multas até a reclusão. "Com toda certeza seu artigo 8º, 'criminalização do

preconceito', é um dos mais poderosos instrumentos de proteção dos direitos dos brasileiros

portadores de deficiência e de transformação da sociedade" (MAIOR, 1997, p 41).

Neste processo histórico de amadurecimento social e conquistas, a preocupação com

a inserção de mão-de-obra com deficiência no regime jurídico dos servidores públicos,

estabelece o percentual máximo de 20% de vagas reservadas a pessoas com deficiência

através da Lei 8112/90, que subsidiou a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara

Federal a aprovar o Projeto de Lei19 5.218/09, que define em 15% o percentual dos cargos ou

empregos públicos a serem providos, em cada concurso, por candidatos com deficiência

fundamentado no dado do Censo2000/IBGE, que indica que as pessoas com deficiência

representam 14,5% da população brasileira, de acordo com dados do Censo de 2000.

Vagas nas empresas doravante passam a ser reservadas com o advento da ‘Lei de

Cotas’ nº 8.213/91 de 24 de julho de 1991, que fixa em seu artigo 93, a obrigatoriedade de

reserva de vagas para PCDs em empresas de acordo com o seguinte percentual existentes de

empregados sem deficiência: entre 101 e 200 empregados 2%; de 201 a 500 empregados 3%;

de 501 a 1000 empregados 4%; acima de 1000 empregados 5% (Lei de Cotas - nº 8.213/91).

Esta lei significa marco significativo na ampliação do acesso aos direitos, e ainda especifica

que:

§ 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante.

§ 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por

19 A proposta ainda será analisada pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, inclusive no mérito. Depois será votada em Plenário.

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reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados. (Lei de Cotas - nº 8.213/91)

A lei de cotas inova ao determinar a abertura de postos de trabalho para as PCDs, o

que implica em inúmeros benefícios diretos e derivados sob analise individual, coletiva e

eminentemente social como, o incentivo para a saída das ruas (diminuindo a mendicância), a

agregação de valor humana a este segmento social retratado no censo 2010 como quase ¼ da

população brasileira, na medida em que lhes faculta a possibilidade de acesso a emprego,

ainda que defrontem adversas e concretas condições materiais no tecido social relacionadas à

oferta de trabalho, bem como para a conquista, permanência e progressão no trabalho, com

respectivo bom salário, sonho dourado de pessoas em todo trabalhador, esteja na condição de

desemprego ou não.

Naturalmente a Lei de Cotas estimula maior interação das PCDs com a sociedade,

na medida em que mais PCDs são inseridas na sociedade laborativamente (não obstante já

serem parte dela) gerando aperfeiçoamento sócio-cultural, forçando necessariamente a

universalização do ensino face às normativas internacionais e nacionais de educação de

qualidade e equânime para todos, incentivando a pessoa com deficiência a melhorar o seu

potencial, a aprimorar suas qualidades, a superar as barreiras que a sociedade ainda lhe impõe.

Apesar da estranheza que possa gerar ao leitor desta pesquisa, o fato é que conforme

se identifica, devido a históricos e ainda recorrentes preconceitos e estigmas alimentados pela

sociedade brasileira em relação às PCDs, nas duas ultimas décadas a sociedade foi convidada

a ir mudando suas concepções em relação à deficiência, seja pelo fato do grande aumento

percentual (de 14,5% para 23,9%, ou seja, quase 10% a mais em 10 anos)20, seja pelo medo

de nesse contexto, também passar a ter deficiência e então compulsoriamente ser forçado a

carregar o peso do estigma social que estas pessoas carregam, ou ainda, pelo medo do

enfrentamento de tantas barreiras postas pela sociedade a estas pessoas.

Assim, pode-se afirmar por dedução automática que o paradigma social inclusivo

tem sido não só a melhor como a única saída para o País, seja no aspecto de ações

governamentais ou sociais. 20 Dados dos resultados preliminares do Censo 2010/ IBGE apontam que em 2010, havia 45,6 milhões de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas (visual, auditiva, motora e mental), representando 23,9% da população. Diferença de quase 10% a mais que no Censo 2000, onde já havia 24 milhões, o que representava 14,5% dos brasileiros.

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Voltando à linearidade da análise histórica, temos o decreto Nº 914 de 06 de

Setembro de 1993 que Institui a Política Nacional para a Integração da pessoa com deficiência

e objetiva assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas com

deficiência. Em suas diretrizes estabelece no artigo 5º qualificação profissional à pessoa com

deficiência e incorporação ao mercado de trabalho, “respeitadas, as suas peculiaridades, em

todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, saúde, trabalho, à edificação

pública, seguridade social, transporte, habitação, cultura, esporte e lazer”.

A Constituição Federal de 1988 aborda diretamente questão da oferta de trabalho

para a PCD no art. 7º inciso XXXI, que assegura a proibição de qualquer discriminação no

tocante a salário e critério de admissão ao trabalhador com deficiência. A partir daí o Estado

deve assumir a obrigação de efetivar este direito assegurado, criando mecanismos que

permitam o trabalho em tais condições, materializando efetivamente este direito ao trabalho,

ao facultar aos candidatos ao trabalho a necessária qualificação, condições de intermediação,

bem como orientação ao empregador, com devido apoio para qualificação inclusiva, do corpo

de funcionários da empresa, de modo que o ambiente de trabalho seja receptivo, acolhedor e

inclusivo, garantindo assim a permanência do trabalhador com deficiência e estimulando sua

progressão na empresa, o que naturalmente, implica em maior produtividade.

Junior (2004) afirma que o processo de inclusão está intimamente ligado à Política

Nacional de Integração Social das Pessoas com deficiência, sendo a educação objeto tanto da

Lei nº 7.853/89, quanto do Decreto nº 3.298/99 que regulamenta o ensino profissionalizante

para a pessoa com deficiência, entendo-se por habilitação profissional o processo destinado a

propiciar a pessoa com deficiência, em nível formal e sistematizado, aquisição de

conhecimentos e habilidades especificamente associados à determinada profissão ou

ocupação, sendo oferecida no nível básico, técnico e tecnólogo, em escola regular, instituições

especializadas e nos ambientes de trabalho.

Em 1994 surge a Declaração de Salamanca, promovida pela UNESCO e da qual o

Brasil foi signatário, defendendo uma linha de ações sobre Necessidades Educativas

Especiais21 para a PCD.

21 A Declaração de Salamanca/Espanha em reunião realizada pela UNESCO inaugura a expressão “pessoas com necessidades educativas especiais” para designar as PCDs. Esta expressão foi substituída oficialmente por pessoa com deficiência (PCD), como referido anteriormente. Todavia, ainda é encontrada em uso no senso comum, ou na mídia, não obstante orientações de desuso.

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Para Lobato (2008), a Convenção de Guatemala de 28 de maio de 1999 (realizada na

América Latina) que prevê a eliminação de todas as formas de discriminação contra pessoas

com deficiência e o favorecimento da sua integração na sociedade, deram origem no Brasil,

ao Decreto Presidencial nº 3.956, de 08 de outubro de 2001, que pela primeira vez no país

explicitou o que é discriminar com base na deficiência. Esta convenção funda a discussão da

igualdade de direitos que é inerente a todo ser humano.

A lei 10.098, de 19/12/2000 vem estabelecer normas gerais e critérios básicos para a

promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida,

mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário

urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. No

artigo 5º desta lei, determina a observância das normas técnicas de acessibilidade da ABNT

nos projetos e os traçados dos elementos de urbanização públicos e privados de uso

comunitário, nestes compreendidos os itinerários e as passagens de pedestres, os percursos de

entrada e de saída de veículos, as escadas e rampas. Também nos artigos 11º e 13º garante

ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados de modo que sejam ou se tornem

acessíveis às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, facilitando seu ir e vir

bem como o acesso ao trabalho. Nesse contexto, Júnior afirma que “no que se refere à

empresa ela deve se preocupar com a adequação do ambiente de trabalho, garantido a perfeita

acessibilidade, adaptando o local, as instalações e desenvolver um efetivo treinamento para

que o portador de necessidade especial possa ser um empregado produtivo". (JUNIOR, 2004,

p.31)

O decreto Nº 3.956, de 08 de outubro de 2001, promulga a Convenção

Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas

com Deficiência. Proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e

direitos, e que os direitos e liberdades de cada pessoa devem ser respeitados sem qualquer

distinção e reafirma que as pessoas com de deficiência têm os mesmos direitos humanos e

liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser

submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade

que são inerentes a todo ser humano.

As PCDs precisam ser inseridas no processo político, econômico e social é o que

orientam todos estes dispositivos legais, o que demanda do Estado, instituições e sociedade a

contribuição para a formulação, desenvolvimento e implantação de políticas publicas sobre

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trabalho, emprego e renda com desenvolvimento de respectivos programas e ações que

atendam as necessidades de forma coletiva e alcance a garantia dos direitos individuais. Esta

inclusão não deve ocorrer apenas porque foi instituído regras e leis, mas sim pela mudança de

visão e comportamento da sociedade expresso em suas instituições sociais sobretudo a família

e escola, tornando pensar e agir destas inclusivo, combatendo padrões e atitudes

preconceituosas e discriminatórias.

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4. CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988, BASE DEMOCRÁTIC A ÀS

CONQUISTAS TRABALHISTAS PARA A PESSOA COM DEFICIÊNC IA

4.1. A Constituição Cidadã

A história das PCDs não se dissocia da de outras minorias sociais brasileiras, como o

negro, o índio, a mulher, a criança e adolescente e idoso, respeitadas algumas

particularidades. Após seculares esforços para conscientização e sensibilização de social, os

segmentos organizados de defesa de direitos das PCDs elegeram como estratégia para

assegurar condições mínimas de sobrevivência e conquistar visibilidade social positiva, face à

sua compulsória condição marginal à sociedade a que eles também fazem parte como seres

humanos nativos que partilham do mesmo cenário territorial e cultural, facultar a elaboração

de dispositivos legais que norteassem o proceder do Estado e sociedade no sentido de

transformar a sociedade corroborando na assimilação do paradigma inclusivo fundado nos

princípios de direitos humanos e equidade social que se tornaram populares no mundo desde

os ideais franceses de liberdade, igualdade e fraternidade.

As PCDs empreenderam uma longa batalha, de avanços e recuos, até conseguirem

conquistar um espaço na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que

transpôs para a pátria verde e amarela, a garantia legal e democrática de inclusão social e

defesa de direitos à cidadãs e aos cidadãos, inaugurando a era de equidade e justiça social, na

qual o país passa a reconhecer erros geradores de dívida social histórica para com minorias

citadas. E se a carta magna brasileira é para todas e todos, naturalmente, é também para as

pessoas com deficiência. A partir daí, a esperança é reavivada e inúmeras leis vieram semear a

inclusão.

Em vigor no Brasil desde 05 de outubro de 1988, promulgada pela Assembleia

Nacional Constituinte, o país que passou por monarquia e ditadura, mas que nos últimos anos

do governo militar sofreu diversos problemas, vislumbrou então o apagar dos rastros da

ditadura militar, o estabelecimento de princípios democráticos no país, e a incorporação de

importantes avanços no que se refere à organização política e aos direitos individuais e

coletivos, justificando ser a mais democrática de todas as que o Brasil já teve.

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Sem dúvida, o período da Nova República foi marcado pelo momento histórico, do

então presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães assinar a

promulgação da Constituição Brasileira de 198822.

A nova Carta Magna foi fruto de intensas discussões, apreciação pública para

posteriormente seguir para o executivo para assinatura. Nessa dinâmica, o texto constitucional

incorporou importantes avanços no que se refere à organização política e aos direitos

individuais e coletivos. Com estrutura inovadora, agrega novos títulos, onde se encontra:

princípios fundamentais, dos direitos e garantias fundamentais, com uma visão moderna e

muito abrangente dos direitos individuais e coletivos, além dos direitos sociais dos

trabalhadores, da nacionalidade dos direitos políticos e dos partidos entre outros. Conhecida

como a Constituição Cidadã, pois é voltada plenamente para a efetivação da realização da

cidadania, expresso já em seu artigo 5º:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, 1988, ART. 5º)

E sobre trabalho já postula no inciso XIII do mesmo artigo, “é livre o exercício de

qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei

estabelecer” (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, 1988, ART. 5º, INCISO XIII).

No quesito educação para pessoas com deficiência, em texto específico a CFB/1988

determina:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: III atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, 1988, ART. 208º, INCISO III)

Fundamentada no princípio de dignidade da pessoa humana inclui dentre os direitos

sociais, o direito ao trabalho o que significa alegria e jubilo coletivo, posto os trabalhadores

terem conquistado destacáveis direitos como: jornada semanal de 44 horas, licença-

maternidade de 120 dias. Esses fundamentos, sem dúvida, se aplicam às pessoas com

deficiência em busca de inserção no mercado de trabalho, sempre encontraram inúmeras

barreiras derivadas do preconceito social e desconhecimento de seu potencial produtivo.

22 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 doravante será aqui tratada por CFB/1988.

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A CFB/1988 é prezada também por detalhar regras sobre as ações dos três poderes e

criar no país a cultura de envolvimento da sociedade civil organizada nas questões que

definem o interesse dos brasileiros.

Seguindo essa esteira de conquistas sociais para o Brasil, surgi a Lei n. 7.853/89 que

cria a CORDE e o CONADE estabelecendo em seu art. 1º, § 2º que:

As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de deficiência as ações governamentais necessárias ao seu cumprimento e das demais disposições constitucionais e legais que lhes concernem, afastadas as discriminações e os preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria como obrigação nacional a cargo do Poder Público e da sociedade.

Contudo, foi somente por meio do Decreto n. 3.298/99 regulamentador da Lei nº

7.853/89 que os princípios de não discriminação e igualdade de oportunidades, foram

definitivamente concretizados em nosso ordenamento jurídico. Apesar do hiato de dez anos,

constitui fato histórico de grande monta posto revelar mudança institucional da condição da

PCD no Brasil. Assim o referido Decreto dispõe no art. 35:

a inserção da pessoa portadora de deficiência23 no mercado de trabalho se dará mediante três diferentes formas: inciso I - colocação competitiva; inciso II - colocação seletiva e, inciso III - por conta própria. (DECRETO N. 3.298/99, ART. 5º)

As Instruções Normativas SIT/ MTE nº 20/2001 e nº 36/2003 dispõem sobre os

procedimentos a serem adotados para fiscalização em relação aos vínculos empregatícios das

PCDs nas modalidades colocação competitiva, colocação seletiva e, apoios especiais,

orientando também sobre a oficina protegida.

Assim, na colocação competitiva o contrato de trabalho é regulado pelas normas

trabalhistas e previdenciárias, concorrendo as PCDs à vaga de trabalho em condições iguais às

de candidatos sem deficiência. Neste caso, não depende de condições de acessibilidade ou

apoios especiais, muito embora os possa ter.

Na colocação seletiva, a contratação de PCDs já é condicionada a apoios especiais,

ou seja, os meios e condições não ordinárias, dos quais dependem a PCD para trabalhar, em

razão do grau de sua incapacidade (motora sensorial ou intelectual). Algumas deficiências não

permitem que a pessoa trabalhe sem condições facilitadoras, tais como adequação do

23 À época da elaboração destas leis era usado os termos “portador de deficiência” ou pessoa “portadora de deficiência.”

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ambiente de trabalho às suas especificidades, jornada variável ou horários flexíveis de

trabalho. Apoios especiais são então a orientação, a supervisão e as ajudas técnicas. Exemplos

de ajudas técnicas são próteses (elemento artificial utilizado para substituir uma parte do

corpo), órteses (óculos, aparelho auditivo, dentre outros), equipamentos para ampliação,

suplementação e substituição das funções humanas prejudicadas.

Na colocação por conta própria a PCD trabalhará de modo autônomo, cooperativado

ou em regime de economia familiar.

Entidades ou associações poderão intermediar a contratação de PCDs no mercado de

trabalho via colocação seletiva ou conta própria. Isto se dá pela contratação dos serviços

destas pessoas por entidades públicas e privadas, ou em comercialização de bens e serviços

decorrentes de programas de habilitação profissional para adolescente e adulto e PCD em

oficina protegida de produção ou terapêutica. Como mediadora a entidade deverá junto com o

empregador, desenvolver programas de prevenção de doenças profissionais e de redução da

capacidade laboral e de reabilitação, para o caso de ocorrer estas patologias ou outras

incapacidades.

Através da análise da evolução normativa, constata-se que a proteção

infraconstitucional específica às PCDs, inclusive aquela direcionada à tutela do seu trabalho,

surgiu somente após a promulgação da Constituição de 1988.

Por estas medidas é que a CFB/1988 é chamada de “Constituição Cidadã” sendo

como que ‘divisora de águas’ para a democracia e cidadania brasileira. É inegável que ela

apresenta propostas humanistas, protecionistas e de valores importantes para a sociedade, no

entanto, muita coisa permanece apenas escrita no papel. A corrupção anda solta, não apenas

na política, mas em órgãos que deveriam proteger a população e zelar pelos bens; no mercado

de trabalho não se vê igualdade e nem oportunidade para todos; enfim, uma Constituição que

deixa brechas para a injustiça ou para a má interpretação de seus artigos não é tão cidadã

assim.

Porém, passados mais de 23 anos da promulgação desta “Constituição Cidadã”, para

ela foram feitas algumas emendas e reformas, como o aumento da licença-maternidade de três

para quatro meses e a inovação da licença-paternidade de cinco dias, dentre outras. Mudanças

também ocorreram em relação às PCDs. A seguir destacamos uma tabela em que aparecem

transcritos trechos da CFB/1988 sobre os direitos específicos referentes às PCDs.

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TABELA 2 - LOCALIZAÇÃO NA CFB/1988 DE DIREITOS ESPE CÍFICOS REFERENTES ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

LOCALIZAÇÃO NA CFB/1988 DE DIREITOS ESPECÍFICOS REF ERENTES ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Nº TEXTO SOBRE O DIREITO LOCALIZAÇÃO

1.

“TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais - CAPÍTULO II DOS DIREITOS SOCIAIS - Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;” Art. 7º, XXXI

2.

“TÍTULO-III-Da Organização do Estado – CAPÍTULO-I-DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA CAPÍTULO II DA UNIÃO - Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;”

Art. 23, II

3. “CAPÍTULO II DA UNIÃO - Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;”

Art. 24, XIV

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4.

“CAPÍTULO VII-DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – Seção I- DISPOSIÇÕES GERAIS - Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;” Art. 37, VIII

5.

“Seção IV - DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei;”

Art. 203, V

6.

“CAPÍTULO III - DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO - Seção I - DA EDUCAÇÃO - Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

Art. 208, III

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7.

“CAPÍTULO VII - DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO MADOLESC ENTE, DO JOVEM E DO IDOSO - Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. § 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.”

Art. 227, §§ 1º e 2º

8.

“TÍTULO - IX - Das Disposições Constitucionais Gerais - Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no art. 227, § 2º.”

Art. 244

___________________________________________________________________________________________________________________________________________ FONTE: CFB/1988 e Emendas Constitucionais. Elaboração Própria. NOTAS: 1Texto na integra, extraído da Constituição Federal do Brasil de 1988. 2 Na época da elaboração de nossa Carta Magna se utilizava as expressões “portador de deficiência” ou “pessoas portadoras de deficiência”. 3 (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 4 (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 5 (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 6 (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 7 (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

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Necessário frisar que todos os artigos contidos na CF/88 abrangem às cidadãs e

cidadãos brasileiros, logo, inclui as PCDs. Todavia, dentro do perfil de “Constituição

Cidadã”, entendeu-se à época indispensável detalhar alguns itens relacionados às minorias

sociais, e no que concerne às PCDs, estão aqui elencados o atento cuidado em nominar

aspectos capitais dos direitos dessas pessoas, fornecendo substancialidade para o Brasil

resgatar um pouco de sua dívida histórica para com estas pessoas.

4.2. A Constituição e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

(doravante chamada de Convenção) promulgada pelo Decreto nº. 6.949/2009 e seu Protocolo

Facultativo imprimem grande mudança de paradigmas na vida das pessoas com deficiência

em todo o mundo é fundada no principio de equiparação de oportunidades onde todas e todos

possam acessar os direitos humanos intrínsecos à condição humana.

Foi preciso um tratado específico para as PCDs porque os demais tratados de

Direitos Humanos existentes não garantiam, na prática, a estas pessoas usufruírem os mesmos

direitos básicos e liberdades fundamentais que as demais pessoas. Isto significa que, apesar da

histórica exclusão vivenciada pelas pessoas com deficiência, a partir da Convenção fica

ratificada a condição humana e a impossibilidade de discriminação com base na deficiência. ,

como abaixo expresso:

Art. 27, 1. Os Estados comprometidos reconhecem o direito das pessoas com deficiência ao trabalho, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Isto abrange o direito à oportunidade de se manter com um trabalho de sua livre escolha, em ambiente aberto, inclusivo e acessível. (...) (DECRETO Nº. 6.949/2009).

O DIREITO ao TRABALHO em destaque legisla sobre a liberdade de escolha de

trabalho, a necessidade de adaptação física e atitudinal dos ambientes de trabalho, a formação

profissional, justo salário em condição de igualdade com qualquer outro trabalhador,

condições seguras e saudáveis de trabalho, sindicalização, garantia de livre iniciativa no

trabalho autônomo, empresarial ou cooperativado, ações afirmativas de promoção de acesso

ao emprego privado ou público, garantia de progressão profissional e preservação do

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emprego, habilitação e reabilitação profissional, proteção contra o trabalho forçado ou

escravo, etc.

A Convenção ainda trata da proibição de discriminação, a proteção aos direitos de

equidade e igualdade; o acesso efetivo a programas de orientação técnica e profissional e a

serviços como o de colocação no trabalho e de treinamento; a oportunidade de emprego e

ascensão profissional para pessoas com deficiência (segundo discursos expressos no senso

comum, quase não há notícias de casos onde PCDs foram promovidas, ou assumiram chefias

e passaram naturalmente a ganhar mais em ambientes de trabalho que não sejam formados em

sua maioria por PCDs, ou seja, há promoções, por exemplo, em células de call centers

voltadas em geral para profissionais com deficiência física).

No Brasil, a Convenção e o seu Protocolo Facultativo foram aprovados e ratificados

em quorum qualificado por meio do Decreto Legislativo nº 186/2008 do Senado Federal, com

equivalência de emenda constitucional, nos termos do artigo 5º, § 3º previsto da Constituição

Federal (EC45/2004) o que faz com que valha como norma supralegal e não como Emenda

Constitucional. Assim, a Convenção estabelece como princípios gerais:

a. O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; b. A não-discriminação; c. A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; d. O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; e. A igualdade de oportunidades; f. A acessibilidade; g. A igualdade entre o homem e a mulher; e h. O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade. (Decreto Legislativo nº 186/2008)

A Convenção embasada em sua autoridade normativa e na ratificação mundo afora,

inova ao substituir o modelo assistencial/tradicional/médico ora obsoleto e já prejudicial não

só para as PCDs, mas para a sociedade como um todo, para o Paradigma Social e de Direitos

Humanos em que a deficiência deve ser analisada através da interação das diferentes barreiras

com a individualidade da pessoa, não podendo obstruir sua plena e equitativa participação

social em igualdade de condições com as demais pessoas. As PCDs deixam de ser objeto de

caridade ou de assistência social tornando-se seres titulares de direitos humanos sem qualquer

ressalva, operosos e capazes de trabalhar e corroborarem para a riqueza do Brasil, como

inclusive já estava previsto na nossa Constituição Cidadã.

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O Paradigma Social embasa-se assim na dignidade intrínseca do ser humano,

simplesmente por ele ser humano, não obstante suas particularidades ou as diferenças

inerentes como: gênero, raça, idade, estatura, deficiência, condição social entre outras.

Decorre daí maior visibilidade às PCDs reconhecida no sistema de proteção de

direitos humanos da ONU, onde a exemplo, o tema da deficiência é questão de direitos

humanos com precípua ferramenta jurídica vinculante para garantir a exigibilidade dos

direitos destas. A atual exigibilidade internacional dos direitos tem vital importância, posto

que antes, sobre o tema da deficiência, as normas internacionais da ONU não eram

vinculantes e não obrigavam os Estados-Membros a alterarem as legislações nacionais

excludentes. Ademais a existência do Protocolo Facultativo da Convenção permite que haja

denúncias de violações destes direitos por organização da sociedade civil e também por

pessoas físicas identificadas para assegurar uma maior efetividade destas normas

internacionais.

A Convenção avança ao focar nos direitos humanos e especificamente o Brasil

avança pela internalização enquanto norma programática jurídica nacional do foco

constitucional dos direitos humanos. Interessante que ela não reconhece ou cria nenhum novo

direito humano, mas garante às pessoas com deficiência o exercício em igualdade de

condições dos direitos já reconhecidos a todas as pessoas.

Barroso descreve objetivamente os efeitos que geram as normas programáticas,

atestando a sua efetividade/concretização. Os efeitos imediatos destas normas são:

a) revogam os atos normativos anteriores que disponham em sentido colidente com o principio que substanciam; b) carreiam um juízo de inconstitucionalidade para os atos normativos editados posteriormente, se com elas incompatíveis. (BARROSO, 1993, p.113)

Quanto ao ângulo subjetivo das normas programáticas, Barroso acrescenta,

a) opor-se judicialmente ao cumprimento de regras ou à sujeição a atos que o atinjam, se forem contrários ao sentido do preceptivo constitucional; b) obter, nas prestações jurisdicionais, interpretação e decisão orientadas no mesmo sentido e direção apontados por estas normas, sempre que estejam em pauta os interesses constitucionais por ela protegidos. (Idem. p. 113)

Com a ratificação da Convenção o Brasil (doravante Estado Parte) avocou a

obrigação de modificar e/ou criar se necessário, normas nacionais para sua efetivação.

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Após o advento da Convenção, todo projeto de lei que pretenda tornar-se uma norma

legal no Brasil, tem que respeitá-la desde a sua gênese, não apenas por sua existência no

mundo jurídico, mas para respeitar a prevalência dos direitos humanos prevista no artigo 4º da

Constituição em vigor.

Ao iniciar a análise dos Projetos de Lei, que pretendem instituir um Estatuto da

Pessoa com Deficiência no Brasil, a primeira impressão causada foi a de que a pessoa com

deficiência brasileira era de outro mundo, como se não fosse parte da população brasileira

e/ou que uma super proteção legal seria suficiente para mudar esse panorama de exclusão e

invisibilidade social.

O Brasil foi reconhecido internacionalmente com um dos países com legislação mais

avançada na área da deficiência e, se as desigualdades persistem, não é por falta de

determinação legal. Ou seja, na normatização brasileira já vigora muitas das determinações da

Convenção, como exemplo temos a política nacional para a inclusão da pessoa com

deficiência, o princípio da não discriminação com base na deficiência e da garantia de

acessibilidade. Obviamente, também em razão da ratificação com equivalência constitucional,

todas as determinações da Convenção têm aplicação imediata como já ressaltado

anteriormente, mas sua eficácia social, no plano pragmático, dependerá da pressão popular

permanente para que ela deixe de ser uma “norma programa” e seja uma norma efetiva.

Há que se ressaltar ainda que a lei, no Brasil, por si só, não assegura a redução das

desigualdades sociais, regionais, econômicas e culturais existentes, pois há um distanciamento

entre a previsão legal e a vida diária dos cidadãos e das cidadãs e esses desencontros, para as

pessoas com deficiência, muitas vezes, são fatores de exclusão.

Naturalmente, não basta um instrumento legal para que se materialize um conjunto

de direitos no cotidiano da população. É preciso divulgar a convenção e suas implicações

amplamente para pessoas com e sem deficiência, rompendo a invisibilidade social. Essa

também foi uma obrigação assumida internacionalmente com o artigo 8º da Convenção, que

no Brasil já está sendo aplicado através de uma campanha de Inclusão Social das Pessoas com

Deficiência – Iguais, na diferença que utiliza tecnologias assistivas como a Libras, a

audiodescrição e a legenda dos textos.

As pessoas com deficiência, sob o ponto de vista de acesso a direitos, não têm sido

tratadas de forma igual às pessoas sem deficiência e são comuns silenciosas violações de seus

direitos humanos, que constituem um verdadeiro apartheid silencioso. Ninguém proíbe que as

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pessoas com deficiência exerçam seus direitos e deveres, mas estruturalmente são impedidas

por barreiras, muitas vezes invisíveis para os que não convivem com a deficiência.

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5. A INSERÇÃO DA PCD NO MUNDO DO TRABALHO

5.1. Por que Criar a Lei de Cotas

Sabe-se que o sistema de cotas nasceu em função dos ex-combatentes de guerra, e se

expandiu na Europa. Em 1923 a OIT recomendou a aprovação de leis nacionais que

obrigavam entidades públicas e privadas a empregar PCDs frutos das guerras. Em 1944, a

OIT aprovou uma recomendação para os países membros a empregarem também PCDs não

combatentes.

A promulgação da Lei nº 8.213/1991 - Lei de Cotas, que versa sobre a inserção de

PCDs no mercado de trabalho, pode ser considerada como garantia de estabilidade e

ampliação de oportunidades para a pessoa com deficiência, pois vem agregar direitos ao já

expresso no art. 8º da Lei nº 7.853/1989, constitui como crime punível com reclusão de um a

quatro anos, e multa o seu descumprimento, gerando alegria para os 16 milhões de brasileiros

com deficiência em idade de trabalho já inclusos no mercado de trabalho, conforme o Censo

2000/IBGE.

A Lei de Cotas determina assim reserva de 2% a 5% de cargos de trabalho para

PCDs habilitadas e/ou beneficiários reabilitados, em empresas com mais de 100 empregados,

nas seguintes proporções:

Até 200 empregados – 2%; de 201 a 500 – 3%; de 501 a 1000 – 4%; 1001 em diante – 5%, sendo que a dispensa do trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado, no contrato por prazo determinado de mais de 90 dias, e ai motivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderão ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. (Lei nº 8.213/91, artigo 93)

Via decreto 3.298/99, normatiza a contratação demais mecanismos afetos às

necessidades de apoios inerentes às deficiências. Agrega ainda e naturalmente, ao Auditor

Fiscal do Ministério do Trabalho a fiscalização das empresas em relação ao cumprimento dos

percentuais de cotas, sob pena de multa e denuncia ao Ministério Público do Trabalho, sobre

empresas que desobedecerem à lei.

Em Goiânia a mão-de-obra com deficiência se cadastra para acesso ao trabalho nos

postos de Atendimento do SINE, especialmente a UAT/PADRÃO-VAPT VUPT /CASA DO

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TRABALHADOR (criada para ser referência em acessibilidade às PCDs); junto às

associações respectivas e em sites de agências de emprego, sendo estes também os lugares

que as empresas buscam para a contratação.

É comum e até expresso na mídia, a afirmação de que empresas buscam contratar,

todavia, não encontram suficiente oferta de mão-de-obra com deficiência apta às funções

oferecidas. Em contrapartida há também o discurso de que as empresas só contratam por que

são obrigadas pela lei, e que neste caso, querem apenas pessoas que apresentem níveis de

deficiência quase imperceptíveis, de modo que evitem gastos e trabalho desnecessários para

receber o trabalhador com deficiência. Natural recordarmos então o mito de que a PCD é que

não deseja trabalhar, por ser preguiçosa ou acomodada ao BPC. Como discutimos

anteriormente24, o número de pessoas que recebem o benefício é pequeno em relação ao total

de PCDs o que desmistifica o mito de que o desemprego desse segmento social seja causado

por este benefício.

Outra oportunidade de desmistificação é a pesquisa do i.Social25 demonstrando que

quase 50% das PCDs desejam crescer profissionalmente e receber de R$ 1.501,00 a R$

4.500,00. (i.Social, 2012). Ora, uma pessoa que, apesar de vivenciar todo o estigma e

limitações a que PCDs ainda estão sujeitas na sociedade brasileira, ainda estão desejosas e

dispostas a ganhar até R$ 4.500,00, não combina com o perfil de alguém acomodado e

resignado com um salário mínimo.

Em verdade, o que se nota é que não basta abrir o mercado via lei de cotas, isso não é

suficiente, pois a PCD ainda tem a superar barreiras digamos, anteriores, como as da falta de

educação inclusiva, de qualificação profissional acessível e falta de programas para geração

de trabalho emprego e renda inclusivos nos estados e municípios.

5.2. A Política de Educação Profissional e Geração de Emprego e Renda para Pessoas

Com Deficiência Do Estado De Goiás

No ano de 2000 em Goiânia, como fruto da consultoria de Sassaki, a convite e

coordenada pelo Programa Estadual de Apoio ao Deficiente (à época sob gerência da

24 Discussão sobre o mito relacionado ao BPC, citada no cap. 2 25 Pesquisa “Pessoas com Deficiência: expectativas e percepções sobre o mercado de trabalho”, citada também no mesmo capítulo.

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competente e reconhecida dedicação do Sr Adelson Alves Silva), foi aprovada a

DECLARAÇÃO DE GOIÁS - Sobre Educação Profissional e Empregabilidade da Pessoa

com Deficiência, na abertura do Fórum “Educação Profissional & Empregabilidade: Um

Caminho para a Inclusão da Pessoa com Deficiência”.

Neste evento foram aprovados a Politica de Educação Profissional e Geração de

Emprego e Renda para Pessoas com Deficiência do Estado de Goiás e Declaração de

Goiás26, assinados por representantes da Delegacia Regional do Trabalho, Fundação

Municipal de Desenvolvimento Comunitário - FUMDEC, Ministério Público do Trabalho –

GO, Programa Estadual de Apoio ao Deficiente, Secretaria da Educação, Secretaria de

Cidadania e Trabalho, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, Serviço

Social do Comércio – SESC, Unidade Regional de Reabilitação Profissional do INSS, e com

o preciso apoio e participação na elaboração destes documentos do Conselho Estadual dos

Direitos do Deficiente – CEDD-GO, das associações e instituições de defesa de direitos da

área das PCDs. Na ocasião foi reafirmado o compromisso, papéis e responsabilidades

respectivas para a efetivação da Política ora lançada para a materialização da inclusão de

PCDs no mercado de trabalho.

Todavia, apesar de terem sido identificados no próprio documento avanços em Goiás

em relação à conscientização social a respeito dos direitos, habilidades e necessidades das

pessoas com deficiência, não temos dados que nos inspirem a fazer afirmações tão positivas

assim. Ao contrário, constata-se, por exemplo, que o próprio Fórum Permanente de Discussão

Sobre a Inclusão no Mercado de Trabalho das PCDs (uma das principais iniciativas que a

política deveria empreender) será lançado agora em 2012. Ora, se no período entre 2000 e

2012 houve entraves consistentes para a criação e efetivação do fórum idealizado para com

ampla participação e autonomia, subsidiar ações que façam fluir a contratação de PCDs, pode-

se imaginar quantas dificuldades as PCDs e seu movimento organizado têm passado nos

últimos anos.

O fato é que passado este evento, digamos histórico, e por que não dizer de

vanguarda para Goiânia e Goiás, posto que à época não houvesse notícia de nenhum estado

brasileiro com iniciativas semelhantes, de concreto se observa foram pequenas e quase

isoladas ações (em comparação às amplas diretrizes então estabelecidas) devido às mudanças

de governo naturais em processo eleitoral no curso do tempo, trocaram-se pessoas à frente dos

26 O documento “Declaração de Goiás” segue anexo.

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órgãos públicos e houve seguidas exonerações coletivas de funcionários públicos, como

medida do governador para reduzir gastos. Isto resultou em desmantelamento das equipes de

trabalho do referidos órgãos e de instituições de atendimento a PCDs sempre parceiras, onde

havia funcionários em regime de prestação de serviços. Somado a esse fato, chegaram novas

pessoas em número bastante reduzido, e em síntese, não conseguiram reunir condições para

dar continuidade a projetos impactantes e de ampla parceria como esse.

Há que se destacar, todavia, eficientes iniciativas e resultados também importantes,

fruto do trabalho de mãos que não se abateram face às limitações vivenciadas. Destacamos

assim o positivo trabalho do Conselho Estadual dos Direitos do Deficiente - CEDD-GO

(mesmo co mo equipe reduzida) realizando conferencias regionais e as estaduais nas quais se

pode não só discutir a questão do acesso ao trabalho para as PCDs dentre outras afetas aos

interesses do segmento, como produzir relatórios com as propostas/diretrizes de Goiás sobre o

tema, que subsidiaram a produção de documentos na área em âmbito nacional.

A criação da unidade do SINE – Casa do Trabalhador para atender em melhores

condições de acessibilidade, e com equipe capacitada para atender à grande demanda de

PCDs desempregados. Na atualidade, porém, esta unidade atende também a pessoas sem

deficiência.

Ações no sentido de promover igualdade e oportunidades de trabalho e eliminação da

discriminação no trabalho, desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho através da

Procuradoria Regional do Trabalho da 18ª Região/Goiás, realizadas pela Drª. Janilda

Guimarães de Lima, atuação digna de feliz destaque em todas as instituições que percorremos,

sendo unânimes as expressões de respeito, confiança e expectativa em todos os lugares

pesquisados, com os quais compartilhamos a mesma opinião e alegria. Em relação à

Procuradoria, observamos ainda que enquanto órgão, não sofreu os impactos relativos a

processos eleitorais tão comuns a órgãos ligados ao poder executivo, e que também possui

adequada estrutura física, condições de manter equipes de trabalho, e crescente

desenvolvimento (que órgãos públicos executivos da área da PCD não têm a oferecer) e que

favorece sensivelmente o desenvolvimento de ações planejadas.

Em 2009 surge o Pacto de Inclusão das PCDs, pelo Decreto nº. 6959/2009,

considerando a Declaração da ONU – 2006/2016. O pacto, com seis linhas de atuação:

acessibilidade global, rede estadual de serviços, empregabilidade, educação, saúde e vida

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política e pública, divulgado em conferencias regionais e estaduais realizadas no estado sob a

coordenação do CEDD-GO.

Pela ausência de Política estadual e municipal sobre trabalho, emprego e renda

voltada para as PCDs, tendo em vista que a política criada em 2000 não está em ação, a

principal demanda que o segmento apresenta na atualidade é a implantação da referida

política, pois como vemos, por exemplo, não há em Goiânia e nem em Goiás órgão que

coordene, construa ou tenha dados unificados para uma análise baseada do cenário de

empregabilidade, compreendendo este contexto de ofertas existentes tanto de vagas oriundas

das empresas quanto de mão-de-obra com deficiência.

Identificamos, então, que os órgãos públicos e instituições afins não conseguem

informar, por exemplo, se o candidato à vaga foi contratado ou não; se ele foi demitido após

período de experiência ou se conseguiu se adaptar; se é possível constatar que a empresa é

inclusiva; se o trabalhador conquistou promoção e decorrente melhor salário como é desejo de

qualquer trabalhador; se alcançou posição de chefia e se esta é somente em relação a PCDs ou

se é chefe de equipe heterogênea; se o trabalhador está satisfeito com a empresa; se a empresa

está satisfeita com a contratação podendo assim pensar em novas vagas e assim por diante.

Questões essas que, se respondidas, facultariam a Goiânia e a Goiás ser vanguarda nesse

sentido, capaz de produzir dados sobre o universo de oferta de trabalho para as PCDs que nem

o MTE nem mesmo o IBGE possuem, posto que também ainda não se interessaram em

construir.

A Lei de Cotas, tanto no setor público, como no setor privado é então uma medida

justificável de proteção e de combate à discriminação, devido ao grande número de pessoas

com deficiência fora do mercado de trabalho. Pelas análises percebe-se que, são muitas as

situações que afastam as pessoas com deficiência do ambiente de trabalho, como a

escolarização, a qualificação, o aprendizado e o domínio de novas tecnologias, bem como as

condutas discriminatórias por parte dos empregadores, que dificultam o total cumprimento da

lei.

Assim, o momento histórico atual é o de empreender contínua luta de todos e de cada

um para romper com os paradigmas sociais excludentes, segregadores e integradores, em

benefício da abordagem inclusivista que faz toda a sociedade ascender, conquistar qualidade

de vida, ser mais fraterna, equilibrada, equânime, eliminando os arquétipos atribuídos à PCD

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como incapazes, que os afasta do trabalho, ou os rotula como inaptos para quaisquer

atividades laborativa e social.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos afirmar ao final desta pesquisa, a partir do estudo desenvolvido, da

oportunidade enriquecedora de ouvir profissionais da área e os chamados ‘militantes’ do

movimento de defesa de direitos das PCDs, aprendendo com todos eles, e partindo de alguns

princípios, como os de direitos humanos, de equiparação e de oportunidades sociais que

norteiam os princípios da inclusão social sustentando ainda na noção de que todas e todos têm

direitos de não serem discriminadas, de acesso a serviços básicos para seu desenvolvimento e

vida saudável, de ter acesso e conquistar educação, saúde, trabalho, lazer, esporte, entre outros

benefícios desenvolvidos pelas políticas públicas, e garantidos em dispositivos legais, sendo

unânimes em assegurar, orientar e normatizar para a liberdade de viver, produzir, se

desenvolver e contribuir para o desenvolvimento de sua família, de sua cidade, estado e país,

independente das diferenças que o ser humano possua, de suas necessidades pessoais e de sua

condição, afirmamos que as PCDs podem ser muito melhor aproveitadas em sua subestimada

capacidade laborativa e produtiva, e assim contribuir e muito na medida em que sociedade e

Estado forem se tornando mais inclusivos.

Assim identificamos, elencamos e sugerimos ações que facilitariam a dissolução dos

problemas enfrentados pelas PCDs para acesso ao trabalho. Destacamos que estas não foram

inventadas, ou de nossa autoria, mas coletadas no respectivo movimento de defesa de direitos

durante o desenvolvimento desta pesquisa:

• Fortalecimento do Fórum Goiano de Inclusão no Mercado de Trabalho das

Pessoas com Deficiência e Dos Reabilitados pelo INSS;

• Elaboração dos Planos Estadual e Municipal para as Pessoas com Deficiência (a

exemplo do Plano Nacional “Viver sem Limite”);

• Criação das Secretarias Estadual e Municipal dos Direitos da Pessoa com

Deficiência (principal reivindicação do movimento);

• Concessão de incentivos fiscais (reduzir tributos) para empresas que necessitem

adquirir produtos e equipamentos tecnológicos para a inclusão PCDs no mercado de

trabalho (a ex. de SP que está viabilizando esta ação).

Ora, se quase um quarto da população brasileira possui algum tipo de incapacidade ou

deficiência (IBGE, 2010) nos parece mais racional estimular, desenvolver e criar condições

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para aproveitar a capacidade produtiva das pessoas que dentre esse grupo estejam em idade

laborativa, o que repetimos, faculta maior imagem positiva relativa às questões sociais de seu

povo, tanto dos governos municipal, estadual quanto federal.

Se isso não fosse já suficiente para se investir em ações para a empregabilidade das

PCDs, nos permitimos desenvolver rápido e simples raciocínio matemático, ao pensarmos que

com apenas pequenos investimentos iniciais realizados somente quando houver possíveis

necessidades adaptativas, e para os quais pode haver incentivos governamentais, será possível

fazer com que milhões de pessoas que hoje estão desempregadas apenas por terem

deficiência, possam trabalhar produzir, e gerar riquezas para os empregadores, para Goiânia,

para Goiás, multiplicando a riqueza da nação brasileira.

Se pensarmos um pouco mais longe, veremos o lucro maximizado gerado com as

contratações de PCDs, através movimentação de valores monetários e também das aplicações

na autoestima destas pessoas feitas pelo acesso ao trabalho que, replicam-se às famílias e à

sociedade como um todo, veremos que este discreto investimento (ainda mais se comparado

aos benefícios imediatos) implica em maior felicidade e harmonia individual e familiar,

equilíbrio e amplo desenvolvimento social-econômico.

É imperativo desenvolver uma política inclusiva para trabalho, emprego e renda com

decorrentes planos de ações para que através da interação de órgãos públicos, iniciativa

privada e sociedade como um todo, aconteça a transformação social necessária à inclusão das

pessoas com deficiência. A proposta aqui foi apenas fornecer alguns elementos a reflexão

com a identificação das etapas importantes que envolvem o processo de inclusão da mão-de-

obra de PCDs no mercado de trabalho. Trata-se de ação não apenas de empresários, mas

requer iniciativas positivas e contínuas do Estado e sociedade, redundando em benefícios

múltiplos para todos, inclusive a PCD.

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bourdieu/>

SOUZA, F. A. H. Direitos Da Pessoa Com Deficiência. Disponível em:

http://www.artigonal.com/direito-artigos/direitos-da-pessoa-com-deficiencia> Acesso em:

10/2011.

SOUZA, M. R; KAMIMURA, A. L. M. Pessoas com deficiência e mercado de trabalho in:

VII Seminário de Saúde do Trabalhador de Franca e V Seminário O Trabalho em Debate

“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”, 2010.

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94

WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Report on disabilities, 2010. Disponível em

whqlibdoc.who.int/publications/2011/9789240685215_eng.pdf. Acesso em maio de 2012.

YIN, R.K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman. 2001.

Page 96: LUCIANA VIEIRA MAGALHÃES UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE … · 2014-07-23 · 1 Em 2010, haviam 45,6 milhões de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas (visual, auditiva,

95

ANEXOS ANEXO I - DECLARAÇÃO DE GOIÁS 27

Sobre Educação Profissional e Empregabilidade da Pessoa com Deficiência

Reafirmando o direito de todas as pessoas ao trabalho em condições justas e favoráveis,

conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948;

Apoiando o propósito da Recomendação nº 168 e da Convenção nº 159, ambas da

Organização Internacional do Trabalho, sobre a Reabilitação Profissional e Emprego de

Pessoas Deficientes;

Recordando as diversas declarações das Nações Unidas, refletidas em Normas sobre a

Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, de 1993, documento no qual os

países-membros são instados a implementarem medidas capazes de, entre outras coisas,

incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho;

Observando, com satisfação, os avanços obtidos no Estado de Goiás no que se refere à

conscientização da sociedade a respeito dos direitos, habilidades e necessidades das pessoas

com deficiência, sendo prova disso as mais de 630 inscrições feitas pela comunidade a este

Fórum,

Nós ― as autoridades, presentes no Fórum “Educação Profissional & Empregabilidade:

Um Caminho para a Inclusão da Pessoa com Deficiência”, representando todos os segmentos

do Estado de Goiás nas áreas de educação profissional e de empregos e com a aprovação dos

participantes deste Fórum, realizado na cidade de Goiânia (GO), no dia 21 de junho de 2000

― reafirmamos, pela presente Declaração, o nosso compromisso de executar as

estratégias de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Para cumprirmos este compromisso, no âmbito de cada um dos segmentos acima

referidos, deverão ser incorporadas nesta Declaração todas as estratégias devidamente

discutidas e definidas neste Fórum.

A Declaração Goiás constituirá um instrumento de execução da Política de Educação

Profissional e Geração de Emprego e Renda para Pessoas com Deficiência do Estado de

Goiás, devidamente discutida e definida neste Fórum.

Goiânia, 21 de junho de 2000.

27 Por não encontrar esta importante e histórica declaração em referência oficial, ela foi transcrita da obra: SASSAKI, R. K. “As Pessoas com Deficiência e o Mercado de Trabalho”. Maringá-PR, 2006. Disponível em: <www.institutoparanaense.com.br/.../Curso%20Mercado%20de%20Tr acessado 29/05/12.

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96

Esta Declaração foi aprovada por aclamação do público e, em seguida, assinada pelos

representantes das seguintes organizações durante a solenidade de abertura do Fórum

“Educação Profissional & Empregabilidade: Um Caminho para a Inclusão da Pessoa com

Deficiência”:

• Delegacia Regional do Trabalho

• Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário

• Ministério Público do Trabalho

• Programa Estadual de Apoio ao Deficiente

• Secretaria da Educação

• Secretaria de Cidadania e Trabalho

• Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

• Sesc – Serviço Social do Comércio

• Unidade Regional de Reabilitação Profissional do INSS

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97

ANEXO II - SUGESTÕES DE PROFISSÕES COMPATÍVEIS COM CADA DEFICIÊNCIA

Com o desejo de facilitar a identificação de profissão ou perfil laboral mais compatível

com dado tipo de deficiência compartilhamos a sugestão abaixo, compilado pelo SENAC e

publicado em 2002 no livro Sem Limite - Inclusão de Portadores de Deficiência no Mercado

de Trabalho.

Naturalmente, com ampliação contínua do mercado de trabalho, é freqüente o

surgimento de novas profissões ou vagas no mesmo. Entende-se também que conforme seja o

nível de comprometimento da deficiência que o trabalhador tenha, e principalmente, conforme

for o nível de acessibilidade ofertado pela empresa, o trabalhador com deficiência poderá

desenvolver maior leque de atividades laborativas.

Assim, a lista apresentada não tem a pretensão de abarcar todas as possibilidades

laborativas, mas apenas sugerir, para contribuir.

TIPOS DE DEFICIÊNCIAS

● Deficiência auditiva

■ Deficiência auditiva leve

▲ Deficiência visual

♦ Deficiência visual parcial

►Deficiência física

» Deficiência física com menor comprometimento

▼ Dificuldade de aprendizagem escolar

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98

PROFISSÕES E DEFICIÊNCIAS

Abastecedor de linha de produção ● ■ ♦ » ▼

Abatedor de aves ● ■ ♦ » ▼

Abridor de fibras ● ■ ▲ »

Acabador de calçados ● ■ ♦ » ▼

Acabador de tecidos ● ■ ♦ » ▼

Acompanhante ■ ♦ » ▼

Aderecista ● ■

Administrador ● ■ ► »

Advogado ■ ▲ ♦ ► »

Afiador de ferramentas ● ■ »

Afiador de cardas ● ■ »

Ajudante de carpinteiro/marceneiro ● ■ » ▼

Ajudante de cabeleireiro ■ »

Ajudante de caminhão ● ■ » ▼

Ajudante de cozinha ● ■ ▲ ♦ ► » ▼

Ajustador de aparelhos ortopédicos ● ■ ♦ »

Ajustador ferramenteiro ● ■ ♦ » ▼

Ajustador mecânico em geral ● ■ »

Alfaiate ● ■ »

Almoxarife ● ■ ♦ »

Alvejador ● ■ ♦ »

Ampliador e revelador de fotografia ▲ ♦ ► »

Análises clínicas (laboratorista) ● ■ ► »

Analista contábil ● ■ ► »

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Analista de cargos e salários ■ ► »

Analista de pessoal ♦ ► »

Analista de sistemas ■ ♦ ► »

Analista financeiro ■ ♦ ► »

Analista de mercado ■ ♦ »

Analista de controle de orçamento ■ »

Analistade planejamento tributário ■ ► »

Apresentador de TV ■ ▲ ♦ ► »

Aprovador de crédito ► »

Arquiteto ● ■ ► »

Arquiteto de informações ■ ► »

Arquivista ● ■ »

Artesão ● ■ ♦ ► » ▼

Artesão (cerâmica) ● ■ ♦ ► »

Artesão (couro) ● ■ ♦ ► » ▼

Artesão (ferro) ● ■ ♦ ► »

Artesão (flores) ● ■ ♦ ► » ▼

Artesão (palha) ● ■ ▲ ♦ ► » ▼

Artesão (pintura estamparia) ● ■ »

Artesão (pintura de madeira) ● ■ »

Ascensorista

Assistente administrativo ► »

Assistente social ■ ♦

Atendente comercial ♦ ► » ▼

Atendente de ambulatório »

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100

Atendente de enfermagem ■ ♦ »

Atendente de lanchonete ♦ » ▼

Auxiliar de açougue ■ ♦ »

Auxiliar de contabilidade ■ »

Auxiliar de deposito ● ■ ♦ » ▼

Auxiliar de escritório em geral ■ ► »

Auxiliar de enfermagem do trabalho ■ »

Auxiliar de produção ■ »

Auxiliar de serviços jurídicos ▲ ♦ ► »

Azulejista ■ ► »

Babá ● ■ ♦ »

Balconista ■ »

Barbeiro ● ■ »

Bibliotecário ● ■ »

Bilheteiro ► »

Biólogo ● ■ ♦ ► »

Bioquímico ● ■ ♦ ► »

Bobinador de fiação e tecelagem ● ■ »

Bobinador à máquina ● ■ ▲ ♦ »

Bobinador de metais ● ■ ♦ » ▼

Bordadeira à mão ● ■ ► »

Bordadeira à máquina ● ■ ♦ »

Borracheiro ● ■ » ▼

Bronzeador de metais ● ■ »

Cabeleireiro ● ■ »

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101

Carregador ● ■ ♦ » ▼

Cartazista ■ ♦ »

Carteiro ■ ♦ »

Caldeireiro (operador) ● ■ ♦ »

Carimbador à mão ● ■ ♦ »

Carimbador à máquina ● ■ ♦ ► »

Caixa (operador) ► »

Calculista (custo contábil) ■ ► »

Camareiro ● ■ »

Carpinteiro em geral ■ » ▼

Cenógrafo ● ■ ► »

Cenotécnico ■

Cerzidor (de tecido) ● ■ ► »

Chapeador de automóveis

(lanterneiro) ● ■ » ▼

Chapeador de móveis ● ■ ♦ »

Chapeleiro ● ■ ► »

Chapista (composição tipográfica) ● ■

Chaveiro ● ■ ♦ »

Cobrador (transporte coletivo) ► »

Comprador ♦ ► »

Confeiteiro ● ■ ♦ ► »

Conferente de carga e descarga ● ■ »

Conferente de materiais ● ■ »

Consultor de sistemas ■ ► »

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102

Contador ■ ► »

Continuísta ► »

Contínuo ● ■ ♦ ► » ▼

Contra-regra ■ ► »

Copeiro ● ■ »

Cortineiro/estofador ● ■ »

Costureiro ● ■ ► »

Cozinheiro ● ■ »

Cronometrista ► »

Datilógrafo ● ■ »

Decorador de cerâmica ● ■ »

Degustador ● ■ ▲ ♦ ► »

Depilador de pele ● ■ »

Desenhista ● ■ ► »

Desenhista industrial ● ■ ► »

Desenhista publicitário ● ■ ► »

Desenhista técnico em geral ● ■ ► »

Desenhista de sistemas ► »

Despachante de documentos ▲ ♦ ► »

Digitador ● ■ ► »

Discotecário (DJ) ▲ ♦ »

Doceiro ● ■ »

Doméstica ● ■ ♦ »

Economista ● ■ ▲ ♦ ► »

Editor de videografismo »

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103

Editor de videoteca ► »

Emissor de passagens ♦ ► »

Eletricista em geral ● ■ ♦ »

Eletrotécnico ● ■ ♦ »

Empacotador industrial ● ■ ♦ » ▼

Empacotador à mão ● ■ ▲ ♦ » ▼

Encadernador à mão ● ■ ♦ » ▼

Encadernador à máquina ● ■ ♦ »

Encanador/bombeiro hidráulico ● ■ ▲ ♦ » ▼

Enfermeiro »

Enfermeiro do trabalho ■ ► »

Engenheiro ● ■ ► »

Engenheiro agrimensor ■ ♦ »

Engenheiro agrônomo ● ■ ♦ ► »

Engenheiro civil ● ■ ♦ ► »

Engenheiro de desenvolvimento ■ ♦ ► »

Engenheiro eletrônico ■ ♦ ► »

Engenheiro florestal ■ ♦ »

Engenheiro industrial/mecânico ■ ♦ ► »

Engenheiro de produção »

Engenheiro químico ■ ♦ ► »

Entrevistador ■ ♦ ► »

Escriturário »

Esmerilhador ● ■ »

Estampador ● ■ » ▼

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104

Estofador ● ■ »

Estoquista »

Etiquetador ● ■ »

Farmacêutico ■ ► »

Faturista ■ ► »

Faxineiro ● ■ » ▼

Ferramenteiro ● ■ »

Figurinista

Fisioterapeuta ▲ ♦ »

Forrador ● ■ »

Fotocopista/operador de Xerox ■ ♦ ► »

Fotografo ● ■ »

Frentista ■ »

Funileiro ● ■ »

Garagista ■ »

Garçom »

Gari ● ■ » ▼

Gravador de joalheiro ● ■ » ▼

Gravador de madeira ● ■ ► » ▼

Gravador de chapas à mão ● ■ »

Iluminador ■ »

Impresso de offset ● ■ »

Impressor de serigrafia ● ■ »

Instalador (eletricista) ■ »

Instrumentador cirúrgico ■ »

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105

Intérprete ♦ ► »

Jardineiro ● ■ ♦ » ▼

Jatista ● ■ »

Joalheiro ● ■ ► »

Laboratorista ● ■ ► »

Laminador de acrílico ● ■ »

Laminador de vidro ● ■ »

Laminador de madeira ● ■ »

Laminador de massas alimentícias ● ■ »

Lanterneiro ● ■ »

Laqueador ● ■ »

Lavador (veículos) ● ■ ♦ » ▼

Letrista ● ■ ►

Lixador de móveis à mão ● ■ ▲ ♦ » ▼

Lixador de móveis à máquina ● ■ ♦ » ▼

Lustrador ● ■ ♦ » ▼

Maçariqueiro ● ■ »

Manicure ■ »

Manobrista (veículos) ■ »

Maquiador ■ »

Maquinista ● ■ »

Marceneiro ● ■ » ▼

Marmorista ● ■ »

Marteleiro ● ■ »

Massagista ▲ ♦ »

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106

Matrizeiro ● ■ »

Mecânico ● ■ »

Mensageiro ■ ♦ » ▼

Modelista de roupas ● ■ »

Modista ● ■ ► »

Montador de caixas ● ■ ▲ ♦ ► » ▼

Montador de ferramentas ● ■ ♦ » ▼

Montador de móveis ● ■ ♦ » ▼

Motorista em geral (exceto ônibus) ■ »

Niquelador de peças metálicas ● ■ »

Notista ► »

Nutricionista ■ ► »

Office-boy ● ■ ♦ » ▼

Operador contábil ► »

Operador de reprodução sonora ▲ ♦ ► »

Operador de áudio ♦ » ▼

Operador de câmara frigorífica ● ■ » ▼

Operador de computador ► »

Operador de empilhadeira »

Operador de enfestadeira ● ■ »

Operador de estúdio de rádio »

Operador de guilhotina ● ■ »

Operador de injetora de plástico ● ■ » ▼

Operador de lixadeira ● ■ ♦ »

Operador de pantógrafo ● ■ »

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107

Operador de prensa ● ■ »

Operador de telex ♦ »

Operador de sistemas de TV »

Ourives ● ■ ♦ ► »

Overloquista ● ■ »

Padeiro ● ■ ▲ ♦ » ▼

Papeleiro (fabricação manual) ● ■ ▲ ♦ » ▼

Passadeira à mão ● ■ ♦ » ▼

Passadeira à máquina ● ■ ▲ ♦ » ▼

Parqueteiro ● ■ » ▼

Pedicure/podólogo ■ »

Pedreiro ● ■ » ▼

Pesquisador de texto ● ■ ▲ ♦ ► » ▼

Pintor ● ■ ▲ ♦ ► » ▼

Pintor à pistola ● ■ »

Pintor a pincel e a rolo ● ■ »

Pintor de automóveis ● ■ »

Plainador de madeira ● ■ » ▼

Plainador de metais ● ■ »

Plastificador ● ■ »

Porteiro ♦ »

Produtor de arte ■ ► »

Produtor de cenografia ■ ► »

Produtor de elenco ► »

Produtor de Internet ■ ► »

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108

Produtor-executivo ■ ► »

Produtor musical ♦ ► »

Professor ● ■ ▲ ♦ ► »

Programador de computador ■ ▲ ♦ ► »

Programador visual ■ ► »

Projetista de instalações »

Promotor de vendas ► »

Publicitário ► »

Radioperador »

Rebarbador à mão ● ■ ▲ ♦ » ▼

Rebarbador à máquina ● ■ »

Rebitador à mão ● ■ ▲ ♦ »

Rebitador à máquina ● ■ »

Recepcionista »

Relações públicas ■ ♦ ► »

Repórter ♦ »

Repositor ● ■ ♦ » ▼

Retificador ■ »

Sapateiro ● ■ ♦ ► »

Saqueiro ▲ ♦ ► »

Secretária ■ »

Secretária-executiva »

Serralheiro ● ■ » ▼

Servente de pedreiro ● ■ ♦ » ▼

Soldador ● ■ »

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109

Sonoplasta »

Supervisor de produção »

Supervisor técnico »

Talonador sem numeração ● ■ ▲ ♦ » ▼

Talonador com numeração ● ■ »

Tapeceiro artesanal ● ■ ▲ ♦ ► » ▼

Taquígrafo »

Tecelão de malhas à mão ● ■ ▲ ♦ » ▼

Tecelão de malhas à máquina ● ■ ♦ » ▼

Técnico de captação de som »

Técnico de computador ■ ► »

Técnico de telecomunicações

Técnico de manutenção ■ »

Técnico de segurança do trabalho ■ »

Telemarketing ► »

Telefonista ▲ ♦ ► »

Tipógrafo ● ■ ► »

Torneiro mecânico ● ■ »

Tradutor ■ ♦ »

Tratorista agrícola ■ ♦ ► » ▼

Vendedor (comércio varejista) ▲ ♦ » ▼

Vendedor ambulante »

Vidraceiro em geral ● ■ »

Vigia ► »

Webdesigner ● ■ ► »

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110

Zelador ► »

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111

ANEXO III – SUGESTÃO DE ENDEREÇOS NA INTERNET:

•Normas Técnicas de Acessibilidade (ABNT):

http://www.acessibilidade.org.br/normas.htm

• Organização das Nações Unidas (ONU):

http://www.un.org/disabilities

• Organização Internacional do Trabalho (OIT):

http://www.ilo.org; http://www.oitbrasil.org.br

•Ministério do Trabalho e Emprego (MTE):

http://www.mte.gov.br

•Ministério Público do Trabalho:

http://www.mpt.gov.br

•Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão-Ministério Público Federal:

http://pfdc.pgr.mpf.gov.br

•Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE):

http://www.mj.gov.br/mpsicorde/arquivos/template/p_noticias.asp

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•Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE):

http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conade/noticias1.asp

•Rede Saci:

http://http://www.saci.org.br/

• Acessibilidade. Siga Essa Ideia:

http://acessibilidade.sigaessaideia.org.br/

•Acessibilidade Brasil:

http://www.acessobrasil.org.br/