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[email protected] @jornallona Ano XIII - Número 724 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, segunda-feira, 28 de maio de 2012 O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Médicos do Hospital de Clínicas fazem paralisação Contra medida provisória, médicos do HC realizam paralisação. A medida prevê uma redução no salário. De hoje até quinta-feira, apenas aemergência do hospital estará funcionando. Pág. 3 Divulgação/ABC DA MEDICINA lona.redeteia.com ESPECIAL POLÍTICA LITERATURA COLUNA Noite chuvosa. Que tal um filme? Pág. 7 Amor ao futebol, a Copa de 58 foi a primeira namorada Pág. 8 MP explica como funcionam os processos civis e criminais Pág. 6 Mulheres são 52% do eleitorados brasileiro Págs. 4 e 5

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO

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Curitiba, segundaa-feira, 28 de maio de 2012

[email protected] @jornallona

Ano XIII - Número 724Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade PositivoCuritiba, segunda-feira, 28 de maio de 2012

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Médicos do Hospital de Clínicas fazem paralisação

Contra medida provisória, médicos do HC realizam paralisação.A medida prevê uma redução no salário. De hoje até quinta-feira,

apenas aemergência do hospital estará funcionando.

Pág. 3

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A

lona.redeteia.com

ESPECIAL

POLÍTICA

LITERATURA

COLUNANoite chuvosa. Que

tal um filme?

Pág. 7

Amor ao futebol, a Copa de 58 foi a primeira

namorada

Pág. 8

MP explica comofuncionam os processos

civis e criminais

Pág. 6

Mulheres são 52% do eleitorados brasileiro

Págs. 4 e 5

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Curitiba, segundaa-feira, 28 de maio de 20122

ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Admi-nistração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação So-cial: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orien-tadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editora-chefe: Suelen Lorianny |Repórter: Vitória Peluso | Pauteira: Renata Pinto| Editorial: Redação

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universi-dade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.

Há anos a obrigatoriedade do diploma de jornalista é causa de polêmica e muita discussão, não só dos pro-fissionais do meio, mas da população que consome os produtos. Na semana passada um exemplo de mau jorna-lismo foi amplamente divulgado pela internet. A repór-ter Mirella Cunha, do Brasil Urgente, sucursal da Bahia, debochou e humilhou abertamente um suspeito de crime sexual. Quebrando várias regras que são extremamente exaltadas e reforçadas no curso de jornalismo.

Levada pelo dito “jornalismo sensacionalista”, Mi-rella humilhou o homem ao entrevistá-lo, rindo da sua maneira de falar e os erros de português. O vídeo, que veicula no You Tube e já possui pouco mais de 900 mil visualizações, é de revoltar qualquer pessoa que assista, principalmente os jornalistas. Já começando com uma exaltada acusação - “não estuprou, mas queria estuprar” - a repórter da Band quebra uma das maiores regras que aprendemos no curso de jornalismo: a imparcialidade.

Esse caso serve apenas para reforçar a necessidade da obrigatoriedade do diploma jornalístico. Se seguido a risca o que nos é ensinado na faculdade de jornalismo, veremos muitos erros que ela cometeu são ensinados desde o primeiro ano. Além da formação profissional há o lado ético da questão, que é extremamente desrespei-tado pelas risadas da repórter. Entretanto, o erro não é só dela, dá para perceber os cortes da gravação e que sim, a matéria foi montada para enfatizar os erros do suspeito e com propósito de humilhá-lo.

Ao defender a obrigatoriedade do diploma, não ape-nas queremos a valorização da profissão, mas também produtos de qualidade para o nosso público, que não pre-cisam presenciar uma cena como esta.

OpiniãoEditorial

Educação, como fazer? Paula S. Nishizima

O sistema de ensino atual está ultrapassado. Tanto é que dados divulga-dos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) em 2010 indicam que dentre os alunos matriculados no ensino médio no Paraná, 11,7% reprovaram e 6,7% abandonaram os estudos. No ensino fundamental, esses números eram de 9,2% e 2%, respectivamente.

Falta de incentivo, problemas pessoais e situação socioeconômica são alguns dos fatores que levam a uma avalanche de desinteresse pela escola. Por outro lado, as necessidades são outras: inserção social, reconhecimento cultural, além de conhecimento teórico que possa ser usado na prática.

A violência se instala no ambiente escolar das mais variadas formas. Seja a física, por meio de perseguições e brigas incentivadas por redes sociais na internet, ou simbólica, na própria forma de ensinar, transformando os alunos em seres passivos e conformados com a sociedade.

Uma alternativa inovadora seria uma escola sem turmas classificadas por faixa etária (como se fosse um lote de fabricação), sem disciplinas desco-nexas da realidade e com pouco uso prático, que admitisse as várias formas de aprender e não apenas uma. Utopia? Nem tanto, um exemplo de ensino diferenciado é o da Escola da Ponte, em Portugal, que possui todas as ca-racterísticas acima.

A educação precisa ser uma porta que conecte os estudantes com o mun-do “real”, ao invés de aliená-los desse processo, por meio de isolamento em salas fechadas e uma série de outros mecanismos como a fragmentação dos conteúdos em disciplinas sem relação aparente entre si. Porque aprender deveria ser um prazer, não um fardo.

Mau jornalismo xdiploma obrigatório

Segurança falsa paga por obrigaçãoThiago Falat

Os flanelinhas – aqueles caras que juram cuidar de seu carro estacionado na rua enquanto você faz o que precisa no centro da cidade – têm cada vez mais estipulado a gosto e a necessidade próprios, diferentes valores pelo estacionamento de veícu-los em ruas públicas (PÚBLICAS!). Alguns são mais acessíveis e deixam por conta do consumidor definir o valor que deve e “merece” ser pago. Mas de uma forma ou de outra, eles cobram. E se você não paga, seu carro pode por coincidência ganhar uns riscos na lataria. Resumindo, ou você paga por uma suposta segurança – que você tem plena noção de que não existe –, ou os próprios seguranças abnegados te causam prejuízo.

Alguns defensores da parcela prejudicada e desfavorecida da sociedade argu-mentariam a favor desse serviço não legalizado, de modo a justifica-lo com a falta de estudo e emprego a serem disponibilizados a essas pessoas – e que assim elas recorrem aos estacionamentos públicos para ganharem seu dinheiro. Compreen-sível seria se estivesse realmente faltando emprego no mercado atual. Hoje – nós sabemos! – existem vagas disponíveis nas mais variadas áreas de serviço. E posso afirmar que os usuários desses estacionamentos segurados pelos flanelinhas não se importariam se eles deixassem as ruas e trabalhassem em algum lugar com teto e paredes.

Em diversos locais de Curitiba, além do valor pago ao estacionamento regula-mentado – o EstaR – você é praticamente obrigado a dar uma taxa adicional aos tais flanelinhas. Que por muitas vezes te ameaçam e cobram pelos seus serviços com tamanho embravecimento que você se sente intimidado – intimidado pelos indiví-duos que irão cuidar de seu próprio carro, deve-se acrescentar. Sendo eu um dos inúmeros usuários do estacionamento público, finalizo afirmando que sinceramente não sei a quem atribuo maior receio: aos assaltantes ou aos próprios flanelinhas.

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Médicos do HC fazem paralisação devido à medida provisóriaCom a paralisação os profissionais de saúde querem o fim da medidaprovisória. Existe a possibilidade da classe entrar em greve

Começa hoje e vai até quinta-feira a paralisação dos médicos do Hospital de Clínicas (HC), com a intenção de sensibilizar o governo em relação a medida provisória 568/12 decretada este mês.

No HC trabalham 327 médicos e durante o pe-ríodo da paralisação ape-nas o setor da emergência continuará funcionando com 27 médicos a dispo-sição.

A medida provisória 568/12 prevê que o salá-rio base dos médicos de 3 mil reais seja reduzido pela metade. A diferença salarial, os outros 1.500 reais, passaram a ser uma Vantagem Pecuniária In-dividual, a chamada VPI. Assim, quando houver reajustes, eles serão fei-tos em relação ao salário base. Além disso, quan-

do ocorrer o au-mento no salário base, acontecerá um desconto do mesmo valor do aumento na VPI, ou seja, de fato não existiria o aumento. O que aconteceria seria uma “transferên-cia” da VPI para o salário no valor do aumento.

Outra altera-ção foi na insa-lubridade dos médicos. Antes da medida pro-visória o valor da insalubridade máxima chegava até 600 reais, hoje este valor não ultrapassa 260 reais.

Quem fizer con-curso a partir de ago-ra também será pre-judicado, pois entrará com o salário inicial de R$ 1.500,00.

O cardiologista e che-fe da emergência, Edu-ardo Ferreira Lourenço, deu sua opinião sobre o assunto e afirmou que a situação “é uma medida ditatorial, um absurdo,

Daiane NogocekeFlávia ProençaJulia Willich

Daiane Nogoceke

um retrocesso para a evo-lução da saúde. A saúde pública já está com uma dificuldade enorme e ago-ra vai ser ainda mais pre-judicada”.

A diretora do Sindica-to dos Servidores Públi-cos, Cristiane Pereira de Andrade, também falou sobre a paralisação. “O sindicato vê na medida provisória uma forma de ataque ao serviço do SUS, pois o salário e o plano de carreira desinteressa mé-

dicos, mesmo os recém- formados”, afirma.

Segundo a diretora, após a medida provisó-ria ser decretada vários médicos ligaram pedindo exoneração.

Cristiane falou também sobre os objetivos do sin-dicato. “A principal luta do sindicato é pela valo-rização da classe da saúde não só os médicos como os enfermeiros, auxiliares e toda a rede de saúde”, acrescentou.

Na próxima quinta-feira (31) acontecerá uma reunião para a reavaliação das discuções com Brasí-lia.

Os médicos querem o fim da medida provisória e caso não haja um acordo entrarão em greve. Com a greve apenas 30% dos serviços irão funcionar.

Hoje acontece uma as-sembleia no hospital com os funcionários para dis-cutir a possibilidade de entrar em greve.

Cardiologista do HC, Eduardo Lourenço, fala sobre a situação dos médicos

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Representação feminina na política ainda é pequena

Atualmente, as mulheres representam cerca de 52% do eleitorado brasileiro, mas ainda têm uma representa-ção minoritária na política. Segundo o relatório “O Pro-gresso das Mulheres no Bra-sil (2003-2010)” realizado pela organização não gover-namental Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA) em parceria com a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulhe-res (ONU Mulheres), em 2010 apenas 11% das candidaturas para os governos estaduais foi de mulheres, e dessas, somen-te 7,41% se elegeram.

No Senado, 8,6% da ban-cada é composta por mulhe-res. No cenário estadual esse número cai: dos 54 parlamen-tares que compõem a Assem-bleia Legislativa do Paraná, quatro são mulheres. Em Curi-tiba, 38 vereadores - sendo so-mente seis mulheres - formam a Câmara Municipal.

“Eu acho que nós estamos num momento de avanço, mas ainda temos muito para con-quistar. O envolvimento da mulher não só na política, mas nos espaços de poder mes-mo, de decisão, ainda é mui-to restrito”, disse a vereadora Professora Josete (do PT de Curitiba). “À mulher sempre, historicamente, foi destina-do um papel secundário, de subordinação em relação ao

Luciana dos Santoshomem. Então nós temos que avançar no sentido de buscar essa igualdade de representa-ção, porque hoje nós somos mais de 50% da população brasileira e isso não é, de al-guma forma, garantido nos es-paços de representação. Esse é o nosso desafio, chegar a ocupar metade desses espaços, tanto na politica como nos outros setores da sociedade”, completou.

Um dos principais empe-cilhos para o ingresso da mu-lher na política é a própria lei eleitoral. Segundo Professora Josete, “A própria legislação eleitoral, prevê que os parti-dos tenham no mínimo 30% de candidatas femininas, mas ao mesmo tempo não garante 30% das cadeiras, das vagas nos parlamentos, então isso não garante a participação das mulheres.”

Atualmente, estão em tra-mitação no Congresso Nacio-nal três projetos de lei que buscam incentivar e garantir o envolvimento da mulher na política. Proposto pela então senadora Gleisi Hoffmann, o Projeto de Lei nº295/2011 de-terminará que 50% das vagas de deputados federais, estadu-ais, distritais e de vereadores sejam reservadas para mulhe-res.

Já o Projeto de Lei Nº 1699/2011, que tramita na Câ-mara dos Deputados proposto pela deputada Flávia Morais, pretende obrigar o eleitor a votar em dois candidatos de gêneros diferentes para cargos de deputado federal, deputado estadual e vereador.

O Projeto de Lei nº 263/2010, proposto pelo sena-dor Marcelo Crivella, preten-de obrigar a inclusão de pelo menos uma mulher nas chapas que concorrerem ao Senado nas eleições. Todos os proje-tos ainda estão em tramitação, sem data definida para vota-ção.

Mas não é só a legislação que impede uma maior parti-cipação feminina na política. A deputada estadual Luciana Rafagnin (PT) aponta também a questão financeira. “Quando você se envolve numa campa-nha, sabe que envolve a ques-tão financeira, os recursos,

e o financeiro sempre foi um grande empecilho para que as mulheres aceitassem ser candidatas. Por que logo ela pensa: como que eu vou fazer campanha, como que eu vou sustentar essa campanha, de onde que eu vou tirar dinhei-ro? Então isso sempre assusta e eu acredito que até hoje é o que mais dificulta a partici-pação da mulher na política”, disse a deputada.

Outro aspecto também in-dicado como obstáculo para a entrada da mulher na polí-tica é a questão cultural. “Há uma questão mais cultural, histórica, que à mulher ainda

ESPECIAL

cabe muito o papel do espaço privado, que é da casa, da sua responsabilidade no cuidado das pessoas, da sua respon-sabilidade nas tarefas domés-ticas, e isso acaba impedindo que ela participe dos espaços públicos, o espaço da política. Por isso, acaba fazendo com que ainda haja uma baixa re-presentação das mulheres”, lembra a vereador Professora Josete.

“A mulher vem de uma cul-tura onde era simplesmente vista como dona de casa, era para casar, ter filhos, cuidar dos filhos, da casa, do fogão, do tanque - essa era a visão

Divulgação Alep

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da mulher. Hoje eu vejo que a cultura está mudando aos pou-cos, mas ainda é um empeci-lho”, ressalta Luciana Rafag-nin.

Um fator que tem fortaleci-do o envolvimento das mulhe-res na política recentemente é a eleição da presidenta Dilma

Rousseff. Segundo pesquisa divulgada pelo Ibope no dia 4 de abril, a aprovação da presi-denta chegou a 77%.

Apenas 19% da população desaprova o governo de Dil-ma. “Eu acho que é positiva a eleição da presidenta Dilma, mas ao mesmo tempo, isso nos coloca um grande desafio, que é fazer com que eleitores e eleitoras possam ter a dimen-são da importância da eleição da Dilma no cenário mundial. Essa é uma tarefa que nós te-mos à frente”, afirmou a vere-adora Professora Josete.

A deputada estadual Lucia-na Rafagnin também vê a elei-

ção da presidenta como um ponto positivo. “Eu acho que a própria mulher está acreditan-do mais na mulher e a gente vê muito o eleitorado falando da importância de elegermos mu-lheres. Tanto que nós temos o exemplo da presidenta do Bra-sil. O fato de conseguirmos

pela primeira vez na história do nosso país uma mulher pre-sidenta, eu vejo que é porque o eleitorado realmente está acre-ditando também na mulher. E eu vejo que a mulher também começa a acreditar mais na mulher quando ela começa a vencer um pouco essa questão cultural de que mulher não foi feita simplesmente para cuidar da casa e dos filhos, mas sim que ela tem um papel funda-mental na sociedade. A partir do momento em que a gente está conseguindo vencer um pouco isso, eu entendo que a própria mulher começa a con-fiar mais na mulher também”.

Divulgação Alep

Um dos principais obstáculos enfrentados pelas mulheres ainda hoje para a entrada na política é justamente o fato de serem mulheres. Segundo uma pes-quisa IBOPE/Instituto Patrícia Galvão/Cultura Data, realizada em 2010 com

o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, nove em cada dez brasi-leiros afirmam que votariam em candidatas mulheres. Para 59% dos entrevistados, a possibilidade de voto em mulheres não tem restrições, mas esse número cai de acordo com o cargo. Dentre os entrevistados que se-lecionam cargos, o de prefeita é o mais in-dicado (26%), seguido de vereadora (16%), presidente (14%) e governadora (14%).

Para Maria Helena Guarezi, coordenadora do Programa Incentivo à Equidade de Gênero da Itaipu Binacional, o preconceito contra a mulher ainda está presente na política nacio-nal. “Quando o ex-presidente Lula disputou a eleição, argumentos com analfabeto, feio, barbudo, ignorante, sem dedo, enfim, foram apresentados numa tentativa de desautorizá-lo a disputar a eleição. O mesmo aconteceu com a nossa Presidenta Dilma. Sua sexuali-dade e sua forma física, por exemplo, foram pauta de debates para desqualificá-la para o cargo. Como se estes fossem elementos de interferência em sua capacidade de governar

o país.”O Anuário das Mulheres Brasileiras, publicação do Departamento Intersin-

dical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, apresenta dados sobre as con-dições da mulher em diversos setores no Brasil. Apesar de trabalhar, estudar, além de cuidar da casa e da família, elas ainda ocupam cargos inferiores, com salários inferiores aos dos homens, mesmo quando possuem mais qualificação que estes.

“Do ponto de vista das condições, quando uma mulher ousa, ou se obriga ir para o espaço público, do trabalho remunerado ou das decisões, ela ainda preci-sa ‘resolver o problema’ das crianças. Com quem deixar, onde deixar ou como levar. Precisa enfrentar preconceitos dos mais variados, desde provar compe-tência até responder sobre o cuidado com a casa e a família”, ressalta Maria He-lena Guarezi. “No Brasil, somente em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto e até agora não conquistamos o direito de decidir sobre nosso próprio corpo”, completa.

O Preconceito Contra a Mulher

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Entre a capa e o conteúdo, qual você prefere?

Beatriz [email protected]

Cultura

Já ouviu falar da Polissemia? Ela é a característica das palavras, expressões e símbolos terem mais de um significado. Isso acontece porque as linguagens são dinâmi-cas, bem como os povos que as falam. É o uso e desuso de pala-vras no dia-a-dia que gera novos sentidos, significados e variações linguísticas no idioma, que depois são oficializados pela norma culta tradicional.

No Brasil de hoje, são reco-nhecidos cerca de 180 idiomas in-dígenas, além de dialetos, libras e o português brasileiro. É uma evidência da diversidade cultural existente no país. O famoso jabá com jerimum do nordeste dificil-

mente existirá no vocábulo de um curitibano que gosta mesmo é de pinhão com Cine Gengibirra. E todos precisamos concordar que abóbora não é algo tão interessan-te de provar quanto um jerimum.

Segundo Eni Orlandi, auto-ra do livro Língua Brasileira e outras histórias, “Não falamos português, falamos brasileiro”! Isso porque a autora entende que, graças às diferentes experiências históricas e culturais, o nosso por-tuguês já está muito distante do idioma lusitano. Mais rico e mais a cara do Brasil, nossa língua hoje contempla diferentes dialetos e culturas regionais.

Alguns municípios brasilei-

ros já oficializaram seus dialetos enquanto línguas co-oficiais. Em Pomerode-SC, uma variação do alemão se tornou a pomerana; em Serafina Corrêa a língua co-ofi-cial é o Talian (derivação da lín-gua vêneta da Itália); São Gabriel da Cachoeira-AM, também fala o Tukano (língua indígena) e alguns quilombolas mantém a tradição falando o Gira da Tabatinga.

No entanto, a Constituição Fe-deral deixa claro: “A língua portu-guesa é o idioma oficial da Repú-blica Federativa do Brasil”. Com excessão da Libras, sancionada como Lingua Brasileira de Sinais, o Brasil desconhece e não reco-nhece sua diversidade linguística.

Além disso, temos a péssima mania de acreditar que existe um modelo padrão formal a ser sem-pre utilizado e descartamos todos os cebolinhas e chico-bentos do mundo real.

Por isso eu me pergunto: qual o real pobrema de falar “errado” ?

Cinema

Com o tempo chuvoso de Curitiba, sem nada para fazer e sendo um bom cinéfilo, fui rapidamente recorrer a mi-nha prateleira de filmes para arranjar uma companhia para a noite. No meio de tantos filmes ótimos – sim, eu tenho bom gosto – estava sendo difícil esco-lher um em especial para rever. Deveria eu optar por algo mais clássico como Tempos Modernos ou até mesmo Ca-sablanca? Algo europeu como Amélie Poulain? Um filme mais descontraído? A dúvida era grande!

Naquele mesmo dia, eu tinha acaba-do de juntar um bocado de notícias so-bre o novo filme – que ainda vai estrear no começo do ano que vem – de Quetin Taratino, Django Unchained. Animado com a mais nova obra de um dos meus diretores favoritos, meus olhos encon-traram na prateleira Bastardos Ingló-rios. No clima Tarantinesco, eu resolvi que aquele seria meu filme da noite. E

Matheus [email protected]

meu deus do céu, eu tinha me esqueci-do de como o filme era demais.

Como em seus antigos clássicos, Tarantino também usa e abusa em usar uma de suas principais marcas, encher seus filmes de personagens e tramas complexas e interessantes, que quando você menos repara estão se juntando. Outra marca do diretor é dividir suas obras em capítulos, e em Bastardos In-glórios isso não é diferente. Conhece-mos a história por diferentes pontos de vista.

Diálogos, divagações e momentos de tensão também não são esqueci-dos. A cena em que a fugitiva, Shosan-na (Mélanie Laurent), senta na mes-ma mesa que o Coronel Hans Landa (Christoph Waltz) é de deixar qualquer um aflito. Comparado a outros filmes do diretor, os diálogos estão menos ma-çantes – nenhum nunca me incomodou -, mas continuam geniais e engraçados.

Sem falar na cena dos bastardos tentan-do se passar por italianos, muito boa.

O longa também não deve em mo-mento nenhum nas atuações. A france-sa Mélanie Laurente interpreta a judia Shosanna Dreyfus. O genial Christoph Waltz fica com o melhor personagem do filme, o coronel nazista Hans Lan-da, que mesmo sendo um antagonista nazista, consegue criar uma afeição muito grande com o telespectador. E logicamente, o sempre impecável, Brad Pitt, interpretando o líder dos bastardos, Aldo Raine.

Levando em conta alguns dos outros filmes do diretor, fica fácil de perceber que esse foi o filme mais comercial que ele fez. Alguns dizem que foi o primei-ro feito para não somente agradar a si próprio, mas também o grande público. Mas, como diria Aldo Raine: I think this just might be my masterpiece. (Acho que esta é minha obra-prima).

Com certeza valeu a pena ter revisto esse filme. Para mim é sempre uma óti-ma experiência ver Tarantino, com suas loucuras, ótimos roteiros e trilhas so-noras impecáveis, além é claro daque-

Tempos de Violência

le jeito maluco e sangrento de contar suas histórias. Depois disso fiquei ainda mais animado para a estreia de Django Unchained em Janeiro de 2013. En-quanto o filme não chega aos cinemas vou ficar com Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Kill Bill, A Prova de Morte e muitas outras belezas cinematográficas do diretor. Para mim isso é mais do que suficiente.

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Saiba como funcionam as ações civis e criminais

Daiane NogocekeFlávia ProençaJulia Willich

Entenda os diferentes tipos de ações que os órgãos públicos podem abrir contra irregularidades políticas

POLÍTICA

Os recentes escânda-los envolvendo órgãos pú-blicos, como a Câmara de Curitiba, a Procuradoria-Geral da União e a Polícia Civil, geraram na mídia uma série de reportagens que falavam em investiga-ções, crimes políticos, im-probidade e punições. Mas o que significam exata-mente esses termos e quem julga essas ações? Para es-clarecer essas dúvidas e entender melhor a situação política em que o Brasil se encontra atualmente, a equipe do Lona conversou com o Ministério Público do Paraná (MP-PR).

O Ministério Público faz a intermediação entre a população e o poder ju-diciário, que pode ser Es-tadual, Federal, Eleitoral e do Trabalho. Porém, antes que os MPs entrem com açõespedindojulgameto,há todo um trabalho de inves-tigação, que fica a cargo das Polícias Civil e Federal.

A própria Polícia Civil no Paraná está sendo in-vestigada por mau uso de recursos públicos, por isso o governador Beto Richa ordenou que uma empresa privada fizesse auditoria no órgão, e a averiguação de

No meio,Doutor Gilberto Giacoia, procurador-geral de Justiça do Paraná, cargo mais importante MP-PR.

Divulgação/MPP

i r r egu l a r i dades ficou a cargo do Ministério Públi-co do Paraná, da Assembleia Le-gislativa e do Tri-bunal de Contas.

Em situações normais, após a conclusão do in-quérito, o caso é passado para o Ministério Públi-co adequado, que pode apresentar a ação ao Tribunal de Justiça refe-rente. Depois co-meça o processo de julgamento e condenação ou não. Caso haja re-curso do acusado após a sentença, o caso passa a ser do Ministério Pú-blico Federal com o Supre-mo Tribunal Federal.

Órgãos públicos dos três poderes estão sujeitos a in-vestigações e ações, não havendo imunidade.

Em 2009, a Assembleia Legislativa se envolveu em escândalo de desvio de di-nheiro. Após investigações, o MP-PR propôs ações pe-dindo a devolução do valor desviado, o que se chama improbidade administrati-va. Segundo o Ministério Público por meio de sua as-sessoria de imprensa, isso não é crime pois é julgado em vara cível, e não crimi-nal. “Uma ação cível pode

ter vários fins, mas via de regra não leva à perda da li-berdade”, conta ela.

Basicamente, a improbi-dade administrativa é o ato praticado por agente públi-co, no exercício de sua fun-ção, e que leva ao leso do patrimônio público.

Ainda no caso Alep, houve também ação crimi-nal contra os envolvidos. Nesse caso, a acusação fo-ram de formação de quadri-lha e falsidade ideológicas, crimes previstos em lei. De acordo com Jaqueline, dife-rentemente das irregulari-dades civis, que só se apli-cam a servidores públicos,

as criminais submetem toda a população.

Um exemplo em que o Ministério Público Eleito-ral atua é a recente denún-cia do prefeito de Londrina, Homero Barbosa Neto, que fez propaganda política an-tecipada. Ou seja, tudo que envolve a esfera das elei-ções fica sob responsabida-de do MPE.

Penas

Uma vez que a pessoa (física ou jurídica) seja condenada, ela pode rece-ber penas de reclusão ou

alternativas, que variam de acordo com a irregularida-de cometida. As medidas alternativas normalmente são prestação de serviços comunitários. Já as prisões são mais comuns na área criminal, e podem repre-sentar reclusão em peniten-ciária, colônia agrícola ou residência, mas com perda de liberdade (sem possibi-lidade de saída). É possível também haver a prisão an-tes do fim do julgamento, quando há a possibilidade de fuga ou de reincidência, sendo chamadas de medidas preventivas ou cautelares.

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Curitiba, segundaa-feira, 28 de maio de 20128

Como se fosse o primeiro beijoEra um sábado, junto com os

amigos estava numa mesa de um bar no Largo da Ordem, fazia frio. O vento que batia gelava ainda mais a cerveja em cima da mesa. A batata frita e o frango esfriavam na mesma intensidade. Mas o papo era bom, muito bom para ir embora pra debaixo das cobertas.

Como sempre nós conversáva-mos sobre futebol, sobre aqueles jogos que não vimos, momentos que não presenciamos, as histórias que os livros nos contam, que a TV e o youtube nos mostram.

Sempre fui estudioso futebolís-tico, meus amigos também. No dia da cerveja de sábado sempre lemos, estudamos a fim de mostrar nossos conhecimentos durante um brinde e outro da resenha de sábado à noite.

Somos boleiros, estudiosos, aqueles que só presenciam a paixão nacional na pelada de domingo ou na conversa do bar. O papo do dia era qual foi a melhor seleção brasi-leira da história. Éramos em quatro na mesa. Mas não houve unanimi-dade no assunto.

Rolou um 3x1. Enquanto os três falavam que o escrete de 70 foi dis-parado o melhor, eu questionava

dizendo que a seleção de 58 era muito melhor. Houve risos na mesa quando fiz minha colocação.

Eles me perguntaram: a seleção de 58? Nos dê moti-vos. Ao meu ver: a seleção de 58 é a menina dos olhos do nosso futebol. Sem ela não seríamos o que somos hoje, sem ela não teríamos o posto de país do futebol. A seleção de 58 é a primeira namorada, o primeiro beijo, aquele que a gente nunca vai esquecer. A primeira noite de amor é intensa, apaixonante, inesquecível.

Tudo bem que a seleção de 70 foi aquela maravilha, mas não tinha tanto peso nas costas, só o peso de um fiasco na Copa de 66. A seleção de 58 resgatou o amor nacional, tinha o anjo das pernas tortas, a enciclopédia do futebol, o rei e seus súditos, tais como Pepe, Mauro Ramos, Djalma Santos, Didi e etc.

Era uma equipe magnífica, que venceu os donos da casa com maestria. Lutamos contra tudo e todos, in-clusive as adversidades da viagem até a Suécia. Contra o fato de não podermos jogar de amarelo e “inventar” o manto azul, que Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação, falou que era assim que ele queria jogar, com a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida.

Enquanto falava, via meus amigos atentos, entre um gole e outro ficavam boquiabertos. Minhas colocações não mudaram a visão deles, mas muitos nem tinham visto imagens do nosso primeiro mundial.

Continuei defendendo minha opinião. A seleção de 58 superou o grande time de Fontaine, aquele time da França que foi um dos melhores da história, aliás, foi a única vitória do Brasil em cima da França numa Copa do Mundo.

Tomo um gole de cerveja, respiro, e vou para a parte

final da minha fundamentação de-fendendo a seleção de 58 como a melhor da história do futebol brasi-leiro. Aquele time jogava com ma-gia, tinha um menino que só não fez chover, tinha Garrincha voando, ti-nha Nilton Santos o único remanes-cente da fatídica final da Copa de 50, o tal “Maracanazo”. O goleiro era o Gilmar dos Santos Neves, o melhor arqueiro da história do fu-tebol brasileiro. Existia raça, amor à camisa. Existia um time afim de apagar as decepções de 50 e 54 e resgatar o amor do brasileiro pelo futebol.

Eles conseguiram, fizeram com que o Brasil tivesse a magnífica equipe de 70, a famosa seleção ca-narinha de 82, que conseguíssemos o tetra em 94 e o penta de 2002. Se não fossem eles, nossos guerreiros de 58, sabe lá o que seria do nosso futebol. Sem a seleção de 58 não iria existir a de 70.

Acabei minha cerveja, abri a car-teira, tirei R$ 20, deixei em cima da mesa, levantei olhei para meus amigos e disse: pensem no que eu falei, reflitam. Saí e fui embora pensando em como seria a conversa do próximo sábado.

Como se fosse o primeiro beijoComo se fosse o primeiro beijo

Como se fosse o primeiro beijo

Danilo Georgete