lÓgica formal - parte escrita

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LÓGICA FORMAL “Com a Teoria da Argumentação, Perelman coloca em cheque todo um paradigma de estudo das ciências humanas e sociais, fundado em uma lógica formal de fundo demonstrativo, predominante desde o século XIX. (...) Perelman é de originalidade bastante grande ao propor não um simples retorno a uma noção de retórica própria da antiguidade, mas a formação de um novo paradigma de estudo das ciências humanas e sociais, fundado em um novo tipo de lógica, ancorada em um processo de argumentação.” (MENDONÇA, :86) Com base no exposto acima, devemos antes de tudo considerar e analisar o paradigma posto em cheque por Perelman: a Lógica Formal. Esta lógica tem por objetivo o estudo das formas do pensamento, das ideias, dos juízos e dos raciocínios, sendo uma lógica própria da demonstração. Funda-se, portanto, numa na racionalidade matemática, que visa delimitar os passos a serem percorridos para deduzir premissas de outras já existentes. Também estabelece regras imutáveis, próprias das ciências exatas e naturais, lançando mão do método dedutivo, que parte do geral para o particular. Criam-se assim, axiomas através dos quais se operam as decisões. Esses axiomas utilizam-se de uma linguagem artificial e técnica. A lógica formal entende os argumentos como encadeamento de proposições, nos quais, a partir de algumas delas (as premissas) se chega a outra (a conclusão), por meio do silogismo jurídico. Esse silogismo reduz as formas de raciocínio jurídico uma vez que se limita à seguinte fórmula: Diante desta fórmula, a nível de exemplificação, segue o caso concreto extraído do jornal O Globo, de Janeiro de 2004: Diante do caso, em que o objeto de análise diz respeito à questões sociais, é necessário que se fundamente a tese a fim de que ela seja admitida pelo grupo social a que PREMISSA MAIOR (PM) – Norma PREMISSA MENOR (Pm) – Fato CONCLUSÃO (C) Desempregado responde por matar pavão branco Homem que invadiu o Campo de Santana e estrangulou ave ornamental diz que tinha fome. A Fundação Parques e Jardins (FPJ) deu queixa ontem na 14ª DP (Central do Brasil) contra o desempregado Paulo Soares da Silva, de 39 anos, que estrangulou, na madrugada de domingo, um pavão branco no Campo de Santana. A ave, que pesava cerca de 3,9 quilos, vivia no parque há 14 anos. Paulo alegou estar passando fome e, por isso, invadiu o campo. Ele foi flagrado por um grupo de travestis da Praça da República. Os travestis o agrediram com socos e pontapés. Ao tentar fugir pulando de volta para o campo, o desempregado acabou ficando com o braço esquerdo preso nas grades de ferro. Ele foi resgatado pelos bombeiros e internado no Hospital Souza Aguiar. Se for condenado, o desempregado poderá cumprir mais de dois anos de prisão. No Campo de Santana, ficaram ainda 3 pavões coloridos.

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  • LGICA FORMAL

    Com a Teoria da Argumentao, Perelman coloca em cheque todo um paradigma de estudo das cincias humanas e sociais, fundado em uma lgica formal de fundo demonstrativo, predominante desde o sculo XIX. (...) Perelman de originalidade bastante grande ao propor no um simples retorno a uma noo de retrica prpria da antiguidade, mas a formao de um novo paradigma de estudo das cincias humanas e sociais, fundado em um novo tipo de lgica, ancorada em um processo de argumentao. (MENDONA, :86) Com base no exposto acima, devemos antes de tudo considerar e analisar o paradigma posto em cheque por Perelman: a Lgica Formal. Esta lgica tem por objetivo o estudo das formas do pensamento, das ideias, dos juzos e dos raciocnios, sendo uma lgica prpria da demonstrao. Funda-se, portanto, numa na racionalidade matemtica, que visa delimitar os passos a serem percorridos para deduzir premissas de outras j existentes. Tambm estabelece regras imutveis, prprias das cincias exatas e naturais, lanando mo do mtodo dedutivo, que parte do geral para o particular. Criam-se assim, axiomas atravs dos quais se operam as decises. Esses axiomas utilizam-se de uma linguagem artificial e tcnica. A lgica formal entende os argumentos como encadeamento de proposies, nos quais, a partir de algumas delas (as premissas) se chega a outra (a concluso), por meio do silogismo jurdico. Esse silogismo reduz as formas de raciocnio jurdico uma vez que se limita seguinte frmula: Diante desta frmula, a nvel de exemplificao, segue o caso concreto extrado do jornal O Globo, de Janeiro de 2004:

    Diante do caso, em que o objeto de anlise diz respeito questes sociais, necessrio que se fundamente a tese a fim de que ela seja admitida pelo grupo social a que

    PREMISSA MAIOR (PM) Norma PREMISSA MENOR (Pm) Fato

    CONCLUSO (C)

    Desempregado responde por matar pavo branco Homem que invadiu o Campo de Santana e estrangulou ave ornamental diz

    que tinha fome. A Fundao Parques e Jardins (FPJ) deu queixa ontem na 14 DP (Central do Brasil) contra o desempregado Paulo Soares da Silva, de 39 anos, que estrangulou, na madrugada de domingo, um pavo branco no Campo de Santana. A ave, que pesava cerca de 3,9 quilos, vivia no parque h 14 anos. Paulo alegou estar passando fome e, por isso, invadiu o campo. Ele foi flagrado por um grupo de travestis da Praa da Repblica. Os travestis o agrediram com socos e pontaps. Ao tentar fugir pulando de volta para o campo, o desempregado acabou ficando com o brao esquerdo preso nas grades de ferro. Ele foi resgatado pelos bombeiros e internado no Hospital Souza Aguiar. Se for condenado, o desempregado poder cumprir mais de dois anos de priso. No Campo de Santana, ficaram ainda 3 paves coloridos.

  • pertencemos. Sendo assim, caso fosse aplicado a lgica formal, em que se baseia a demonstrao, teramos o seguinte raciocnio dedutivo: Premissa Maior ponto de referncia: art. 29 da Lei de Crimes Ambientais (prev a priso de recluso at um ano para quem matar animais da fauna brasileira sem a devida autorizao). Premissa Menor fato concreto: Paulo Soares da Silva matou um pavo branco sem autorizao. Concluso Paulo Soares da Silva deve ser condenado pena de recluso. Por isso diz-se, como j supracitado, que a lgica formal parte do geral para o particular, ou seja, parte de uma frmula genrica a partir do qual se encaixa o fato, o caso concreto ainda no tocado pelo direito. Por essa perspectiva, muitos afirmam que esse raciocnio (se que assim pode ser chamado) lgico-formal assemelha-se a uma mquina motorizada, que ajusta o fato rigidez da letra da lei e isso, por si s, favorece a continuao dos litgios pelas partes, convencidas de ter legalmente razo. Por esse motivo, a paz judicial s se restabelece quando a soluo mais aceitvel socialmente acompanhada da argumentao jurdica, que ser tratado a seguir. Depreende-se, do supramencionado, alm da necessidade da argumentao jurdica, as consideraes, apresentadas por Paulo de Barros Carvalho, para alcanar o extrato das formas lgicas: Partimos da experincia do fato comunicacional e, pelo processo de formalizao, fomos retirando os contedos de significao das palavras, at o ponto de despojarmos o fragmento de linguagem com que trabalhamos de todo o sentido determinado. Remanesceram smbolos representativos do objeto em real, do predicado em geral, alm de partculas operatrias que exercem apenas funo sinttica. Nesse instante, atingimos as entidades lgicas, nuamente expostas, como estruturas abertas para receber qualquer tipo de objeto e qualquer tipo de predicado, o que lhes atribui status de universalidade (ATIENZA apud CARVALHO, 2006:549).