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  • INFORMAES AGRONMICAS N 158 JUNHO/2017 1

    INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASILAvenida Independencia, n 350, Edifcio Primus Center, salas 141 e 142 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - CEP13419-160 - Piracicaba-SP, Brasil

    Website: http://brasil.ipni.net - E-mail: [email protected] - Twitter: @IPNIBrasil - Facebook: https://www.facebook.com/IPNIBrasil

    INFORMAESAGRONMICAS

    No 158 JUNHO/2017

    ISSN 2311-5904Desenvolver e promover informaes cientficas sobre o manejo responsvel dos nutrientes das plantas para o benefcio da famlia humana

    MISSO

    LocaLizao do fsforo EM cuLturas anuais na aGricuLtura nacionaL:

    situao iMportantE, coMpLExa E poLMica

    Lus Igncio Prochnow1lvaro Vilela de Resende2

    Adilson de Oliveira Junior3

    1 Engenheiro Agrnomo, Diretor do IPNI, Programa Brasil, Piracicaba, SP; email: [email protected] Engenheiro Agrnomo, Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.3 Engenheiro Agrnomo, Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR.4 Engenheiro Agrnomo, Diretor Adjunto do IPNI, Programa Brasil, Rondonpolis, MT.5 Engenheiro Agrnomo, Engenheiro Florestal, Diretor Adjunto do IPNI, Programa Brasil, Piracicaba, SP.6 Engenheiro Agrnomo, Professor Doutor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP, Piracicaba, SP.

    Este artigo foi escrito em linguagem simples, sem referncias literatura cientfica, com a inteno de facilitar a transmisso da mensagem aos profissionais que atuam no campo e tambm queles que tomam decises sobre os rumos da poltica agrcola brasileira. Pretende-se, nessa discusso, alinhar algumas perspectivas acerca das formas de otimizar a loca-lizao do fsforo (P) na adubao das culturas anuais no propsito de buscar maior eficincia na agricultura sob os pontos de vista agronmico, econmico, ambiental e social. So oferecidas, ainda, sugestes sobre o melhor manejo do P na tentativa de conciliar as necessidades a curto, mdio e longo prazos.

    preciso esclarecer que a presente discusso no tem o intuito de desmerecer qualquer posio sobre o assunto. Entende-se que a localizao do P deve ser feita com base no conhecimento adquirido por meio da pesquisa e nas novas tendncias impostas no campo advindas de novos desafios agrcolas e ambientais.

    fsforo: nutriEntE dE uso coMpLExo

    amplamente conhecido que o P um nutriente para as plantas, sem o qual o sucesso da atividade agropecuria torna-se limitado, principalmente na regio tropical. Em solos de baixa fer-tilidade, a aplicao de fertilizantes fosfatados se faz fundamental na viabilizao da atividade rural.

    No solo, o P tem atuao complexa, pois sofre interaes com os microrganismos e as partculas de solo, em especial aque-

    las com propriedades coloidais (orgnicas ou minerais de argila). Quando na soluo do solo, o P pode ser precipitado por ctions (principalmente nas formas de P-Ca, P-Fe, P-Al), absorvido pelas plantas e microrganismos e adsorvido s partculas coloidais do solo. Inmeros livros e artigos cientficos abordam esse assunto de forma detalhada, porm, consideram diferentes aspectos, os quais podem ser divididos em dois grandes grupos: os fatos e as consequncias.

    As plantas absorvem o P da soluo do solo como ons HPO4

    2- e/ou H2PO4-. O fato principal a ser destacado que o P

    um elemento qumico com grande probabilidade de ser modificado na soluo do solo, passando da forma inica para formas menos disponveis s plantas, dificultando, assim, a absoro pelas razes. A preferncia seria para que a planta prevalecesse como dreno principal do nutriente e no os componentes do solo, mas no assim que ocorre, por razes qumicas e biolgicas.

    Ao longo do tempo ficou claro que o P, embora seja exigido pelas plantas em quantidades menores que outros macronutrientes (N, K, S, Ca e Mg), precisa normalmente ser aplicado em quantidades maiores do que os demais. Complicado para os leigos entender que, sendo menos exigido, ele deve ser aplicado em maior quantidade. No entanto, isto mesmo que ocorre! O fsforo tem desvios importantes que o retiram do dreno planta e o levam para outros drenos do solo que diminuem a eficincia agronmica da adubao fosfatada.

    Em funo dessa realidade, a pesquisa agronmica foi esta- belecendo mecanismos para aumentar a eficincia da aplicao

    Eros Artur Bohac Francisco4Valter Casarin5

    Paulo Srgio Pavinato6

  • 2 INFORMAES AGRONMICAS N 158 JUNHO/2017

    INFORMAES AGRONMICAS

    NOTA DOS EDITORES

    Todos os artigos publicados no Informaes Agronmicas esto disponveis em formato pdf no website do IPNI Brasil:

    Opinies e concluses expressas pelos autores nos artigos no refletem necessariamente as mesmas do IPNI ou dos editores deste jornal.

    N0 158 JUNHO/2017

    CONTEDO

    Localizao do fsforo em culturas anuais na agricultura nacional: situao importante, complexa e polmicaLus Igncio Prochnow, lvaro Vilela de Resende, Adilson de Oliveira Junior, Eros Artur Bohac Francisco, Valter Casarin, Paulo Srgio Pavinato ...............1

    Aumento da produtividade de carne via adubao de pastagens Eros Artur Bohac Francisco, Edna Maria Bonfim-Silva, Rafael Andrade Teixeira ..6

    Divulgando a Pesquisa ...........................................................................13

    IPNI em Destaque ..................................................................................14

    Painel Agronmico .................................................................................16

    Evento do IPNI .......................................................................................17

    Cursos, Simpsios e outros Eventos .....................................................18

    Publicaes Recentes .............................................................................19

    Ponto de Vista .........................................................................................20

    Publicao trimestral gratuita do International Plant Nutrition Institute (IPNI), Programa Brasil. O jornal publica artigos tcnico-cientficos elaborados pela

    comunidade cientfica nacional e internacional visando o manejo responsvel dos nutrientes das plantas.

    COMISSO EDITORIAL

    EditorValter Casarin

    Editores AssistentesLus Igncio Prochnow, Eros Artur Bohac Francisco,

    Silvia Regina Stipp

    Gerente de DistribuioEvandro Luis Lavorenti

    INTERNATIONAL PLANT NuTRITION INSTITuTE (IPNI)

    Presidente do Conselho Norbert Steiner (K+S)

    Vice-Presidente do ConselhoTony Will (CF Industries Holdings, Inc.)

    TesoureiroDmitry Osipov (Uralkali)

    PresidenteTerry L. Roberts

    Vice-Presidente, Coordenador do Grupo da sia e fricaKaushik Majumdar

    Vice-Presidente, Coordenadora do Grupo do Oeste Europeu/sia Central e Oriente Mdio

    Svetlana Ivanova

    Vice-Presidente Senior, Diretor de Pesquisa eCoordenador do Grupo das Amricas e Oceania

    Tom Bruulsema

    PROGRAMA BRASILDiretor

    Lus Igncio Prochnow

    Diretores AdjuntosValter Casarin, Eros Artur Bohac Francisco

    PublicaesSilvia Regina Stipp

    Analista de Sistemas e Coordenador AdministrativoEvandro Luis Lavorenti

    Assistente AdministrativaElisangela Toledo Lavorenti

    SecretriaJssica Silva Machado

    ASSINATuRAS Assinaturas gratuitas so concedidas mediante aprovao prvia da diretoria. O cadastramento pode ser realizado no site do IPNI:

    http://brasil.ipni.netMudanas de endereo podem ser solicitadas por email para:

    [email protected]

    ISSN 2311-5904

    COMUNICADO

    Prezados leitores,

    Como medida de modernizao e seguindo a tendn-cia mundial, a direo do IPNI Brasil informa que, a partir da edio de Junho de 2017, o jornal Informa-es Agronmicas ser publicado exclusivamente na verso on-line. Pretende-se, com essa medida, tornar o Jornal mais interativo para os nossos leitores.

    Para ser notificado via e-mail sobre as novas edies do jornal fundamental estar cadastra-do em nossa base de dados. Caso voc ainda no esteja cadastrado, favor inscrever-se por meio do link: http://brasil.ipni.net/article/BRS-3400.

    No caso de qualquer dvida, favor entrar em contato com o IPNI Brasil pelo telefone (19) 3433-3254 ou e-mail: [email protected].

  • INFORMAES AGRONMICAS N 158 JUNHO/2017 3

    de P. Alguns dos principais mecanismos se referem escolha da fonte de fertilizante, tamanho de grnulos e localizao do adubo em funo do pH ideal do solo. Por exemplo, como regra geral, verificou-se que os fertilizantes fosfatados acidulados, tais como superfosfato simples, superfosfato triplo, MAP e DAP, de elevada solubilidade em gua, devem ser aplicados preferencialmente em solos com pH em gua variando de 6,0 a 6,5, na forma granulada e de maneira localizada (em sulcos). Detalhes de cada uma dessas recomendaes poderiam ser abordados aqui, bem como vrios outros mecanismos, no entanto, o objetivo principal deste artigo discutir a localizao do P e suas implicaes, tendo em vista diferentes aspectos da cadeia produtiva.

    Por dcadas, as recomendaes gerais de adubao fosfatada no Brasil indicavam aplicar o P de forma localizada, incorporado ao solo no sulco de semeadura, visando maximizar o contato on-raiz e aumentar a eficincia da adubao. Atualmente, essa proposta est se modificando em algumas situaes, muito especialmente em propriedades com extensas reas de produo de culturas anuais.

    tEndncia da apLicao dE fsforo a LanoO mundo moderno se tornou muito competitivo. No

    diferente na agropecuria. Procura-se eficincia e lucratividade. Neste contexto, o agricultor procura se adequar, otimizando as suas atividades. Na rea de nutrio das culturas comerciais, uma das possibilidades, a princpio, fazer mais e mais rpido. E neste particular reside a tendncia de se aplicar os fertilizantes, inclusive as fontes de P, a lano, na superfcie do solo (sem incorporao). Ganha-se rendimento operacional tanto na aplicao dos nutrientes quanto na semeadura das culturas de gros, e tempo dinheiro. Porque perder tanto tempo aplicando o P em sulco, na semeadura, quando eu posso aplic-lo em rea total na superfcie do solo, antes da semeadura? Esse , atualmente, um dos maiores questionamentos na rea de nutrio de plantas por onde se passa neste Pas. Ele vem normalmente na forma de Posso aplicar P a lano? ou Posso continuar aplicando P a lano?. interessante notar, entretanto, que, na maioria das vezes, a pergunta feita com um vis muito claro de quem quer concordncia com a frase. Na realidade, bem mais complicado que uma simples resposta Sim ou No.

    Independentemente de qualquer discusso mais apro-fundada sobre o assunto, o fato que grandes propriedades, localizadas em sua maior parte no Brasil Central, se adaptaram para realizar a aplicao de P a lano em superfcie, passando por grandes mudanas tecnolgicas. Mquinas foram substitudas, funcionrios foram treinados e operaes foram ajustadas para esse propsito.

    Com o tempo, o assunto se tornou polmico, provocando debates entre defensores e crticos dessa forma de manejo. Ambos os lados defendem suas posies com base em recomendaes fundamentadas pela pesquisa. No entanto, preciso saber em que condies o manejo ser mais adequado. Alm disso, o assunto precisa ser estudado com base em objetivos de curto e longo prazos. Quer-se dizer com isso que, para alguns, notadamente os agricul-tores, provvel que a curto prazo o melhor manejo seja aplicar o P a lano. No entanto, dentro da perspectiva de uma viso mais ampla e futurista, a generalizao da aplicao de P a lano poder acarretar problemas ambientais de eutrofizao dos mananciais, os quais podero denegrir a imagem dos produtos agrcolas brasileiros no mercado internacional. Tal viso de longo prazo normalmente no est no foco dos profissionais que tomam decises no campo, mas deve estar na perspectiva daqueles que tem viso sistmica da cadeia de produo agrcola, do campo comercializao, em mbito internacional. Isso ser visto com detalhes mais frente.

    aspEctos aGronMicos sobrE a LocaLizao do fsforo

    Como relatado anteriormente, a baixa disponibilidade de P nos solos tropicais decorrente dos seus baixos teores e baixa solubilidade nesses solos, bem como da sua imobilizao devido s fortes interaes que apresenta com os constituintes desses solos. Esse fato favoreceu, por dcadas, a recomendao da prtica da aplicao localizada de P no solo (no sulco de plantio, por exem-plo) visando diminuir o contato fertilizante-solo e aumentar a sua disponibilidade para as plantas. Alm disso, a sua baixa mobilidade no solo direcionou o manejo da aplicao, sendo agronomicamente mais eficiente, portanto, a aplicao do fertilizante em local prximo s razes das plantas.

    Durante os cursos de nutrio de plantas ministrados nas universidades de Agronomia, os alunos aprendem que existem basicamente dois tipos de adubao fosfatada: a adubao corre-tiva, aplicada em rea total e incorporada ao solo, e a adubao de manuteno, aplicada de forma localizada no solo. A adubao corretiva realizada para corrigir a baixa fertilidade e elevar os teores de P no solo a nveis adequados, enquanto a adubao de manuteno aplicada em doses menores, para nutrir a cultura no ano em questo. Publicaes tcnicas recomendam ambos os tipos de manejo, porm, no Brasil, predomina a adubao de manuteno. Alguns pesquisadores sugerem, ainda, a possibilidade de corrigir o solo para se atingir os nveis adequados de P ao longo do tempo (anos) por meio da aplicao de doses maiores do que as utilizadas na adubao de manuteno. Ultimamente, uma nova filosofia de adubao sugere a aplicao de doses de manuteno a lano, na superfcie do solo.

    Neste ponto, importante destacar dois aspectos. O pri-meiro o de que h uma ntima relao entre o local de aplicao de P e o crescimento de razes, observando-se maior proliferao de razes finas e longas nos locais onde h P externo em maiores concentraes. Resultados de vrios experimentos testando dife-rentes localizaes do P no solo confirmam esse fato, mostrando que na falta de P a raiz tem maior dificuldade para se desenvolver, tendendo a se enovelar no local onde o P foi aplicado. O segundo aspecto a se destacar que em situaes de veranico o secamento do solo ocorre da superfcie em direo s camadas mais profundas do solo. Como consequncia da interao desses dois aspectos, as aplicaes de P na superfcie do solo podem levar condio de maior estresse por falta de gua para as plantas em anos mais secos.

    Diante do exposto, recomenda-se:(1) Sempre que possvel, manter os teores adequados de

    P no perfil do solo. Isto ir proporcionar a distribuio de maior quantidade de razes em maior volume de solo e, consequentemente, melhores condies de absoro de gua e nutrientes. Em condies de sequeiro, a explorao profunda do solo pelas razes aumenta a resistncia das culturas escassez de gua.

    (2) Dependendo das condies de fertilidade do solo, ou seja, da existncia prvia de um suprimento adequado de P no solo, em anos com adequada distribuio de chuvas, de se esperar que no ocorram diferenas significativas na produtividade das culturas com o emprego dos diferentes mtodos de aplicao, ou seja, com a adubao de manuteno no sulco de plantio ou adubao a lano na superfcie. Como observado em vrios experimentos, tambm no se espera grandes diferenas na produtividade com a aplicao ou no de P no solo, j que em reas com perfil corrigido os teores disponveis no solo so suficientemente adequados para atender demanda das culturas a curto prazo.

  • 4 INFORMAES AGRONMICAS N 158 JUNHO/2017

    O que se pretende mostrar, em resumo, que no existe uma regra geral de resposta quanto forma de localizao de P. Dependendo das caractersticas do ambiente, principalmente do solo e das condies climticas, resultados de pesquisa podero indicar que a eficincia da aplicao localizada ser maior, menor ou igual da aplicao a lano. Ou seja, os trs cenrios so possveis. Dito isso, importante notar que, de certa forma, precisamos sempre minimizar os riscos e, neste sentido, sugere-se refletir sobre os conceitos gerais para tomar decises sobre localizao de P que possam levar a maior chance de sucesso.

    Sob a tica do agricultor, ou do tomador de deciso na fazenda, importante obter um diagnstico consistente da fertili-dade do solo em P (nvel de disponibilidade e sua distribuio em profundidade no perfil), para depois definir a estratgia de localiza-o do nutriente na adubao. Os ganhos operacionais so sempre bem-vindos, mas preciso considerar tambm a busca por maior estabilidade na produo ao longo dos anos, de forma a tornar a lavoura menos vulnervel s variaes na distribuio de chuvas. Tem-se constatado que a disponibilidade de P em profundidade no perfil assume papel relevante nesse contexto.

    aspEctos aMbiEntais rELacionados LocaLizao do fsforo E Eutrofizao dE Mananciais

    As questes ambientais tornaram-se uma preocupao mundial nas ltimas dcadas, e grande parte das naes reconhece a emergncia em se buscar solues para elas. Tudo indica que, se continuarmos no ritmo atual de explorao da natureza, teremos srios problemas no futuro.

    O mercado global est cada vez mais exigente em relao qualidade dos alimentos e s consequncias ambientais relacionadas sua produo. Existe uma presso da sociedade para a aquisio de produtos agrcolas saudveis e de procedncia sustentvel. Sistemas de fiscalizao esto sendo organizados para averiguar, na origem, como os alimentos esto sendo produzidos. Em breve, os governos devero ter um controle eficiente de todos os elos da cadeia alimentar, pois tm uma enorme responsabilidade na ques-to da segurana dos alimentos para com a sociedade. O comrcio internacional levar em considerao o rastreamento dos produtos, identificando como os derivados agro-silvo-pastoris so produzidos.

    Na agricultura, a relao entre fertilizao fosfatada e eutrofizao das guas superficiais muitas vezes desconhecida ou ignorada. Este fenmeno tem preocupado muito os ambientalistas. A eutrofizao ocorre devido s mudanas na composio da gua, por enriquecimento ou por excesso de nutrientes, as quais levam diminuio nas taxas de oxignio, com modificao significativa na qualidade do manancial. A eutrofizao pode afetar os peixes e a composio da gua, o que pode representar um grave problema para a sade pblica.

    O aumento na concentrao de P nas guas ocorre de vrias formas, incluindo a fertilizao de reas agrcolas e a utilizao de resduos orgnicos (animal, vegetal, urbano) na agricultura.

    Nos sistemas de produo agrcola, em que so utilizadas aplicaes macias e frequentes de fertilizantes fosfatados a lano, ocorre um acmulo de P na superfcie do solo, facilitando o seu transporte por escoamento superficial (Figura 1). O escoamento em terreno inclinado pode levar eutrofizao de pequenos mananciais, o que pode se expandir para mananciais maiores, dependendo do fornecimento do nutriente ao longo do tempo.

    A aplicao de P a lano, na superfcie do solo, pode aumentar a descarga do elemento nos mananciais, quando com-parada aplicao de P incorporada no sulco de plantio. Isto motivo de preocupao, considerando que esse aspecto vem sendo pouco estudado no Brasil pelos grupos de pesquisa que avaliam a eficincia agronmica da adubao fosfatada. Desse modo, devem-se inten sificar as pesquisas enfocando, entre outras, o monitoramento constante das transferncias de P dos solos para os sistemas aquticos.

    Em grande parte das situaes, o problema principal no reside na fonte de P derivada dos fertilizantes, mas sim na fonte que vem das cidades. Os dejetos e os resduos lanados na rede de esgoto so ricos em P e colaboram para a intensificao da eutro-fizao, caso cuidados bsicos de saneamento no sejam tomados. Nas regies onde h aplicao intensa de estercos, como ao redor de reas de produo de animais, o potencial de eutrofizao ainda maior.

    Alm da preocupao com o ambiente e com a segurana alimentar, cresce a preocupao com a responsabilidade social do produtor rural, pois quando o processo de eutrofizao ocorre, a sociedade urbana culpa, em primeiro lugar, os agricultores. J existem precedentes mundo afora. Nesse contexto, necessrio que as entidades ligadas ao agronegcio realizem uma campa-nha de esclarecimento sociedade. Deve-se evitar ao mximo os argumentos contra o setor agrcola e proteger o ambiente de forma adequada.

    Acredita-se que os tomadores de deciso no campo no estejam preocupados com este problema. No momento, eles se ocupam em garantir a operacionalizao das suas atividades, bus-cando maior lucro. A responsabilidade, portanto, sobre as questes ambientais, que incluem viso de mdio a longo prazo, deve ser dos educadores, formadores de opinio e legisladores de polticas pblicas. O nosso papel alertar sobre esses problemas. O esforo para a ao conjunta e coordenada fundamental, de modo que cada parte cumpra suas atribuies especficas.

    dirEtrizEs GErais para a LocaLizao do fsforo na adubao dE ManutEno

    A prtica da adubao fosfatada deve ser baseada nos con-ceitos globais dos 4Cs (Figura 2), ou seja, aplicar a fonte correta, na dose correta, na poca correta e no local correto. Estes so os princpios gerais que regem o manejo correto da adubao, os quais devem ser adaptados s diferentes condies das reas de produo e de manejo do sistema de produo.

    Figura 1. Escoamento superficial devido precipitao intensa.Crdito da foto: Eros Francisco (IPNI).

  • INFORMAES AGRONMICAS N 158 JUNHO/2017 5

    (2) Antecipar a aplicao localizada. Em vrias situaes, isso pode ser vivel. As tcnicas modernas de agricultura de preciso ajudam nesse sentido, considerando que as linhas de semeadura podem ser localizadas muito prximas quelas que receberam o P no sulco no perodo de entresafra.

    (3) Atentar para a variabilidade espacial. O P talvez seja o macronutriente que apresenta maior variabilidade espacial no solo, devido sua baixa mobilidade e ao efeito residual prolongado dos fertilizantes fosfatados. Assim, todo cuidado deve ser tomado na regulagem dos equipamentos de distribuio do fertilizante visando a uniformidade da aplicao. No caso dos distribuidores a lano, com mecanismos centrfugos, a homogeneidade das partculas do fertilizante e a correta regulagem so pontos crticos, para no manchar a fertilidade nos talhes.

    (4) Investir no plantio direto de qualidade. Sistemas com maior diversidade de espcies e intensidade de aporte de resduos orgnicos (palhada) oferecem maior proteo contra os processos erosivos e o escorrimento superficial de nutrientes, alm de favorecer a redistribuio do P no perfil (incorporao biol-gica do P). Espcies como a braquiria e o milheto tm sistema radicular robusto, formam razes superficiais que absorvem o P aplicado a lano, e outras que se aprofundam no perfil. Ao longo do tempo, a dinmica de sucesso de plantas no plantio direto de qualidade contribui de diversas maneiras para minimizar o gradiente vertical de disponibilidade de P, que tende a se formar com a adubao a lano.

    (5) Monitorar a fertilidade do solo, coletando amostras nas camadas de 0-10 cm e de 10-20 cm. Essa segmentao pos-sibilita avaliar o gradiente de disponibilidade dos nutrientes assim como os aspectos relacionados acidez do solo, especialmente em reas com aplicao superficial de corretivos e fertilizantes.

    considEraEs finaisA fertilidade do solo a base para que as culturas possam

    expressar a sua gentica e a resposta aos investimentos em prticas de manejo e insumos. Portanto, negligenciar os cuidados com a manuteno do potencial produtivo do solo pode implicar em menor retorno dos demais tratos dedicados lavoura.

    A eficincia do uso do P tem significativa importncia na sustentabilidade do sistema produtivo. O aproveitamento do nutriente aplicado est associado s diferentes prticas agrcolas que podem variar de acordo com as caractersticas do solo, da cultura, da quantidade a ser absorvida, do clima, dentre outros. Estas variaes indicam que no podem ser feitas recomendaes generalizadas de doses e formas de aplicao de P ignorando-se as particularidades qumicas, fsicas e biolgicas de cada ambiente de produo.

    As pesquisas relacionadas dinmica do P no solo devem ser ampliadas, especialmente no sentido de melhorar a definio da dose e da sua forma de aplicao no solo, bem como de monitorar as transferncias de P do solo para os ambientes aquticos.

    Entende-se, ainda, que existem situaes adequadas que favorecem melhores resultados e que comprovam a viabilidade dos diversos manejos. necessrio, entretanto, refletir sobre cada caso e analisar os resultados luz dos conceitos bsicos. Dessa forma, ser possvel projetar qual a melhor forma de manejo, lem-brando, contudo, que os conceitos so gerais, mas a aplicabilidade deve respeitar as condies especficas de cada local. Alm disso, preocupe-se com o momento atual, mas tambm com a sustenta-bilidade ao longo do tempo.

    H poucas pesquisas no Brasil que conciliam os fatores discuti-dos neste artigo com as recomendaes prticas de adubao. Por isso, so sugeridos a seguir alguns princpios gerais para facilitar a tomada de deciso pelos agricultores em relao localizao do P na adubao das culturas. Tais sugestes no devem, em absoluto, ser consideradas como definitivas, mas sim como prticas a serem aperfeioadas.

    (1) Na abertura de rea para o cultivo em solo deficiente em P, os produtores que dispem de recursos podem optar pela adubao corretiva do solo. O fertilizante aplicado para elevar o nvel de P no solo at a condio tima (acima do nvel crtico), a lano e incorporado at cerca de 15 cm de profundidade, de modo a construir a fertilidade no perfil. Apesar do maior custo inicial, pois a adubao corretiva no dispensa as adubaes de manuteno, ela importante sobretudo para o bom estabelecimento do plantio direto e melhor distribuio do sistema radicular das plantas. Atualmente, considera-se a adubao fosfatada corretiva um excelente investimento, que tem efeito pro-longado sobre o potencial produtivo dos ambientes de cultivo. Com a saturao dos componentes do solo que promovem a fixao do P, as adubaes posteriores sero melhor aproveitadas pelas plantas.

    (2) No caso de se realizar a adubao corretiva gradual, caracterizada pela aplicao, por dois a trs anos, de doses superio-res s da adubao de manuteno, em solo com teor muito baixo ou baixo de P na camada de 0-20 cm, deve-se dar preferncia aplicao de P de forma localizada, no sulco de plantio.

    (3) Solos com elevado potencial para perda de P por escorri-mento superficial devem receber o P aplicado de forma localizada, no sulco de plantio.

    (4) Em solos com teores, no mnimo, mdios de P na pro-fundidade de 0-10 cm e teores baixos ou muito baixos nas camadas inferiores do perfil (10-20 cm, principalmente), sugere-se que outros fatores, como possibilidade de veranico e declividade do terreno, sejam considerados na tomada de deciso. Quanto mais intensos esses fatores, maior a necessidade de se aplicar o P de forma loca-lizada, no sulco de plantio.

    (5) Em solos com teor mdio a alto de P at a profundidade de 20 cm pelo menos, sem elevado risco de escoamento superficial do nutriente, e quando se deseja elevado rendimento operacional na semeadura, o nutriente pode ser aplicado a lano, em superfcie.

    Outras sugestes gerais incluem:(1) Intercalar a localizao do fertilizante. Da mesma

    forma que recomendado intercalar diferentes espcies de cultu-ras ao longo do tempo, pode-se perfeitamente variar a forma de aplicao de P na mesma rea. A rotao de diferentes formas de aplicao de P na propriedade uma possibilidade benfica e vivel.

    Figura 2. Esquema do manejo de nutrientes 4C.

    Fonte CorretaAdequar a fonte de fertilizantes s necessidades da culturaDose CorretaAdequar a dose s necessidades da culturapoca CorretaTornar os nutrientes disponveis quando a cultura necessitaLocal CorretoAplicar e manter os nutrientes em local acessvel cultura e sem prejuzo ao ambiente