livros e documentos de arquivo, conservação e preservação - françoise flieder, michel duchein

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  • 7/14/2019 Livros e documentos de arquivo, conservao e preservao - Franoise Flieder, Michel Duchein

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    LIVROS E DOCUMENTOS DE ARQUIVO PRESERVAO E CONSERVAO

    FRANOISE FLIEDERMICHEL DUCHEIN

    Apresentao da traduo portuguesa

    A presente traduo, da obra publicada originalmente pela UNESCO, uma iniciativa doGrupo de Trabalho em Preservao e Conservao da BAD e assinala o seu primeiro aniverso.A falta de bibliografia em lngua portuguesa faz-se sentir profundamente neste sector de actividade. No est em causa s a barreira lingustica mas os aspectos que se pendem com a necessidade de criar e normalizar vocabulrio prprio e a urgncia reconhecida de elaborar manuais que possam ser largamente difundidos nas nossas bibliotecas e arquivos.A situao em matria de Preservao e Conservao nas bibliotecas e arquivos portuguesa mal conhecida. H a convico de que tudo est por fazer mas, como em muitas outras s da biblioteconomia e da arquivstica, no h dados objectivamente recolhidos. A publicao deste Manual tem como preocupao despertar junto dos profissionais, diariamenteem contacto com esta realidade, um maior interesse e uma curiosidade mais bem fundamentada que lhes permita ganhar conscincia para a dimenso do problema que tm entre mos.O Grupo de Trabalho identificou outros ttulos cuja traduo se justificaria, mas as s

    uas capacidades so limitadas e um plano editorial mais ousado obrigar a compromissos mais pesados que o Grupo ainda no teve nimo de assumir, mas de que no desistiu.O texto ora traduzido tem uma data, isto , em certos aspectos est ultrapassado e destes o mais curioso tem a ver com o carcter de novidade atribudo a uns estudos emcurso sobre papel neutral... Como se evoluiu! No entanto, as questes gerais levantadas que permanecem verdadeiras so tantas que, no temos dvida, o saldo conseguido positivo. Um aspecto que no poderamos deixar passar em claro prende-se com o prpro suporte desta edio e mal ficaria a um Grupo desta natureza se a obra no fosse impressa em papel desacidificado o que se garantiu.Ao texto original apenas se acrescentaram algumas notas de traduo julgadas indispensveis e o Anexo v referindo as instituies portuguesas que desenvolvem trabalho na ea da Preservao e Conservao.O nosso pedido UNESCO foi imediatamente aceite e pelas facilidades concedidas de

    vemos uma palavra de agradecimento.O outro obrigado vai para os elementos do Grupo de Trabalho que se empenharam com entusiasmo na traduo e na reviso cientfica, respectivamente Maria Manuela C. MatoCorreia, Maria Teresa do Vale de Matos e Conceio Alencoo, Lus Casanovas, Glria Esla e Vtor Milheiro.

    Maria Lusa CabralCoordenadora do GT P&C

    Prefcio

    O presente caderno tcnico consagrado preservao e conservao de livros e documarquivo. Trata da tecnologia dos materiais, dos diversos agentes de destruio, da i

    mportncia de dispor de edifcios adequados bem como mtodos de proteco. Tambm aqui rdados os tratamentos de urgncia e os princpios de restauro.Este caderno tcnico o sexto de uma srie que visa dar directrizes prticas e tcnicaobre a conservao e o restauro de bens culturais.Destinada a contribuir para a difuso e para a troca de conhecimentos e experinciasde especialistas, esta srie dirige-se em particular aos servios de museus e de monumentos cujos recursos materiais so limitados e que devem encontrar para os seusproblemas de conservao solues medida dos seus meios. Esperamos que os ensinamentcontidos nestas pginas lhes sejam teis.Os autores, Franoise Flieder, responsvel de investigao do CNRS (Centre National de

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    echerche Scientifique), e Michel Duchein, inspector geral dos Arquivos de Frana,so especialistas da preservao e do restauro de livros e documentos de arquivo e tm rande experincia neste domnio.Os autores so responsveis pela escolha e pela apresentao de factos que figuram nestcaderno tcnico bem como pelas opinies que so expressas, que no so necessariamenteda UNESCO e no vinculam a Organizao.

    Introduo

    Desde os primeiros tempos da Histria, o homem sentiu necessidade de registar a sua actividade deixando, para tanto, sinais carregados de significado simblico sobre superfcies virgens. H mais de quinze mil anos que os habitantes das cavernas deLascaux e de Altamira descobriram o segredo dos pigmentos de origem mineral, animal ou vegetal, graas aos quais uma parede rochosa ou uma omoplata de rena pode tornar-se suporte de uma mensagem pictrica transmissvel de gerao em gerao.Mais tarde, enquanto os habitantes da Mesopotmia gravavam os seus sinais cuneiformes sobre as tbuas de argila, os egpcios, os hindus, os chineses, dedicam-se ao fabrico de folhas de papiro, de fibras de palmeira e de cascas diversas, at ao pergaminho da sia Menor e, mais tarde, o papel dos chineses e dos rabes, onde o juncocortado, depositava traos de um lquido que o negro de fumo, diludo em goma e nos solventes, transformava em grafismos indelveis.Deste modo comeou, nos beros da civilizao que foram os vales do Nilo, do Indo e do io Amarelo, a grande aventura da escrita, cuja evoluo prosseguiu sob os nossos olh

    os com uma rapidez sem precedentes ao longo dos sculos passados.Mas a membrana vegetal ou animal, a tinta base de carbono ou de substncia curtida, em resumo todos os materiais aos quais o pensamento humano confia a sua sobrevivncia, so frgeis. Multides de inimigos surpreendem-nos, atacam os materiais de suprte na sua prpria estrutura, ouapenas sua superfcie, quer se trate de agentes qumicos, fsicos ou biolgicos. As fas vegetais conhecem a hidrlise da celulose, a aco corrosiva dos cidos, as modificafotoqumicas devidas aos raios solares. Os insectos e Os roedores devoram as matrias orgnicas. O fogo destri tudo o que combustvel. As tintas empalidecem e apagam-seos papis reduzem-se a p, os pergaminhos e os couros enrugam e rasgam-se.As agresses do mundo moderno multiplicam os perigos a que se expem os documentos,no prprio momento em que as necessidades da produo de massa diminuem, em muitos casos, a resistncia dos materiais, por consequncia natural da introduo de componentes

    umicos perigosos para a conservao.Felizmente, as descobertas da Qumica e da Biologia conduziram, em contrapartida,desde h um sculo a aperfeioamentos espectaculares nas tcnicas de proteco e de trato de documentos. Seguramente os egpcios conheciam j os leos aromticos que afastavaos insectos dos papiros sagrados; os monges da Idade Mdia transmitiam de convento para convento receitas para conservar a flexibilidade do pergaminho e o brilhodas miniaturas; as caixas de madeira asseguravam o isolamento das cartas contraa humidade e os fungos. Mas no seno no sculo XIX que as grandes descobertas em maia de insecticidas e de fungicidas comearam a encontrar a sua aplicao prtica nos aruivos e bibliotecas.Hoje, o progresso da investigao cientfica to rpido que, de ano para ano, novas taparecem, so experimentados novos produtos. Institutos de investigao, em todas aspartes do mundo, consagram-se ao estudo da proteco de documentos e livros. Publicae

    especializadas difundem os seus trabalhos em todas as lnguas da comunidade cientfica mundial.Seria intil, a menos que se tentasse uma enciclopdia internacional e pluridisciplinar, procurar reunir numa s obra os resultados de todas as pesquisas e de todas estas experincias. Porm, pareceu-nos til, no interesse dos arquivistas e bibliotecris resumir os dados essenciais neste manual de formato fcil de manusear, e, esperamos de leitura tambm fcil.O principal problema que se nos punha era definir os limites do nosso empreendimento.Tendo em conta as normas de extenso exigidas pela coleco na qual este livro aparece

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    , impuseram-se escolhas severas.A primeira consistiu em limitar a nossa exposio aos documentos e livros escritos sobre materiais tradicionais: papiro, pergaminho e, sobretudo, papel. Exclumos ossuportes "novos", pelculas fotogrficas, bandas e discos magnticos, que so sem dvidcada vez mais numerosos nas bibliotecas e nos depsitos de arquivos, mas cuja conservao obriga a interveno de tcnicas que s por elas merecem uma obra particular.Pela mesma razo, no se punha a questo de expor em pormenor todos os processos de tratamento e de luta contra todos os elementos de destruio de documentos. Escolhemosvoluntariamente privilegiar os que fizeram prova e que so universalmente reconhecidos como sendo os melhores e os mais seguros.De facto, neste domnio mais que em qualquer outro, a prudncia e a modstia impem-seForam muito numerosas as experincias desastrosas do passado, os ensaios no concludentes. Quer produtos, quer tcnicas consideradas durante algum tempo eficazes paraa proteco de documentos revelaram-se a longo prazo ineficazes e at nocivas. por isso que no quisemos descrever aqui os processos de restauro de pergaminhos,de papis e de couros cuja complexidade exige a interveno de especialistas qualificados, falta dos quais os remdios so muitas vezes piores que o mal; limitamo-nos a expor princpios de base e a assinalar os principais perigos a evitar, com excluso de qualquer "receita" especfica, cuja escolha do domnio do especialista.As tcnicas da proteco de documentos grficos contra os seus inimigos, so, evidenteme, universais, mas as condies climatricas de pases tropicais e subtropicais tornam sua utilizao mais indispensvel que noutro lugar em razo da agressividade particulado ambiente. Tambm os problemas prprios destes climas so especialmente evocados neste pequeno livro.

    Apesar de tudo, as tcnicas modernas, por mais perfeitas que sejam, no sabero resolver todos os problemas. Antes de tudo, a conservao do patrimnio escrito pressupe o rspeito pelo documento, o cuidado no manuseamento, o rigor na aplicao de regras desegurana. Bom senso tambm: evitando expor um documento de forma prolongada luz, efectuando uma limpeza frequente aos locais para eliminar as poeiras e os germes nocivos, fazendo circular nos depsitos um ar devidamente filtrado, faz-se j muito para a salvaguarda dos arquivos e dos livros. Nenhum produto qumico, nenhum dispositivo tcnico pode por si s assegurar a bom estado dos documentos. Mas tambm, nenhumprocesso ser eficaz se no for aplicado com discernimento e prudncia. Este manual ter atingido a sua finalidade se tiver convencido os leitores.

    Tecnologia dos materiais

    Toda a superfcie vegetal ou animal suficientemente grande e fcil de polir pode ser, em geral, considerada como suporte de documentos grficos.Desde a Antiguidade, as principais substncias utilizadas para este fim foram a pedra, o bronze, a madeira, a terracota, a cera, o tecido, o papiro, as cascas de rvore, o couro, o pergaminho e, finalmente, o papel.Na realidade, dado o custo, o peso e a dureza de certos materiais, empregou-se,na Antiguidade, sobretudo o papiro, o couro, depois o pergaminho enquanto suporte da escrita. S muito mais tarde que o papel utilizado.

    O Papiro e as Cascas de rvore

    A origem do suporte que admitido nesta categoria o Cyperus papyrus, vulgarmente

    chamado papiro. um junco de grande porte, outrora abundante no Egipto nas margens do Nilo, que j no se encontra hoje seno na bacia alta deste rio, na Nbia. Encontrvam-se tambm, antigamente, culturas de papiro na Siclia, mas os ltimos campos desapareceram no fim do sculo XVI. O papiro foi explorado desde a mais alta Antiguidade.Nesta poca, as utilizaes desta planta eram diversas (fabrico de vasos, barcas, esteiras e cordame). Mas sobretudo pela sua utilizao directa como Planta de papel queeste vegetal conhecido.Foi Plnio quem descreveu com mais pormenores os processos tcnicos do fabrico do suporte de escrita fabricado a partir deste junco. Cortavam-se os talos superiores

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    no sentido da altura. Formavam-se assim tiras que se dispunham sobre tabuinhashumedecidas com a ajuda de gua terrosa do Nilo, em que a terra servia de aglutinante. Colocavam-se ento transversalmente, Por cima destas tiras, uma segunda camada de tiras, de modo a obter uma rede, Esta rede era prensada, depois seca ao sol. Depois era s polir as folhas assim obtidas, col-las umas s outras e junt-las sob forma de um rolo designado por volumen. Obtinham-se muitas qualidades de papirosegundo as partes de talos superiores utilizadas. O mais antigo volumen conhecido data de 2400 a. C. Os papiros deste tipo provinham, na sua maioria, dos tmulosegpcios; os sacerdotes tinham, de facto, o hbito de depositar, no tmulo dos mortos, textos sagrados extrados do Livro dos Mortos; outros eram, alm disso, ornamentados com finas pinturas. Fechados assim ao abrigo do ar e da humidade, estes documentos conservam-se melhor que os outros.As desvantagens do papiro eram o seu preo elevado e a sua fragilidade. Contudo, no tempo do Imprio Romano, em que o pergaminho tinha feito j o seu aparecimento, era preferido para escrever os actos oficiais. A utilizao de papiro desapareceu, contudo, completamente, no sculo XII para ser substitudo pelo pergaminho. Apesar da sua extrema fragilidade, alguns textos escritos sobre papiro conservam-se ainda nas reservas de certas bibliotecas e arquivos, mas no representam seno uma nfima parte dos antigos papiros.Foram utilizadas outras partes da rvore como suporte da escrita, tais como a casca das rvores de diversas espcies: tlia, oliveira, btula, palmeira. Todavia, estas sbstncias no podem ser usadas com frequncia, devido dificuldade do seu emprego.

    O Couro e o Pergaminho

    Histria

    Nos primrdios da Histria, o Prximo Oriente abrigava j uma civilizao tcnica avanscrita ia fazer o seu aparecimento. O couro foi um dos seus suportes mais antigos: a primeira meno de um documento escrito sobre couro data da IV dinastia egpcia (2900-2750 a. C.). Infelizmente, poucas espcies chegaram at ns; os mais antigos documentos so dois rolos de couro egpcios do II milnio a. C. e um tratado de matemticasproveniente igualmente do Egipto e datando do sculo XVII a. C.O fabrico do couro, conhecido desde h milnios, apareceu nas civilizaes e nos stiosis diversos. Deste modo, os fragmentos de couro encontrados sobre os arcos num l

    ocal pr-histrico do nordeste da Europa e que o mtodo do carbono 14 permitiu datar de 2690 a. C. seriam contemporneos do documento escrito sobre couro no perodo da IVdinastia egpcia.O couro, conheceu empregos mltiplos e variados e, o curtidor deve ter exercido toda a sua arte para responder s diferentes necessidades. Aperfeioou numerosas tcnicas cuja escolha judiciosa lhe permitiu obter um determinado tipo de couro. Deve ter mesmo recorrido produo industrial, que era a nica a poder satisfazer uma procursempre crescente.O pergaminho apareceu muito mais tarde e os historiadores situam em pocas diferentes os comeos da sua utilizao. Alguns autores adiantam que os Assrios, no primeiro ilnio a. C. sabiam j fabric-lo, ainda que, segundo Plnio, o seu fabrico tenha sido escoberto no sculo II a. C.A palavra "pergaminho" do latim pergamena, derivou do nome de Pergamo, cidade an

    tiga da sia Menor. Mas pergamena s se tornou de uso corrente no sculo IV d. C.Largamente utilizado pelo mundo grego e romano, o pergaminho, torna-se para os escribas da Idade Mdia o principal suporte da escrita, at introduo do papel na Eurdesde o sculo X ou XI. Mas, principalmente a partir do fim do sculo XIV que o pergaminho foi pouco a pouco substitudo pelo papel, de que a imprensa multiplicou asnecessidades. O pergaminho continuou, contudo, a ser utilizado para certos manuscritos e algumas impresses de luxo, para os documentos de arquivo, os diplomas ea encadernao.Fabrica-se ainda nos nossos dias, se bem que o seu uso seja muito restrito. utilizado sobretudo em restauro, algumas vezes para a encadernao e pouqussimas vezes pa

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    ra a escrita. Serve tambm para a construo de instrumentos de msica, como tambores, anjos e para a confeco de quebra-luzes.

    Tcnicas de preparao

    O couro e o pergaminho so materiais completamente diferentes, ainda que provenhamambos da derme da pele. A obteno de um ou de outro depende de tratamentos que sefazem pele. Esta compe-se de duas camadas muito diferentes: a epiderme, membranafina cujo constituinte qumico a queratina, e a derme (ou corium) camada mais espessa que essencialmente um tecido de fibras de colagnio, entrelaadas. A derme repousa sobre o tecido subcutneo, ou hipoderme, que a separa dos rgos de movimento subjacentes.O comeo do fabrico, que se chama "trabalho de barrela", comum aos dois materiais,pois tem como finalidade reduzir a pele derme. Primeiro a "depilao" que desembara pele da epiderme e dos plos que a cobrem. A "depilao" pode fazer-se por diferentes mtodos baseados no ataque s queratinas epidrmicas poupando a integridade da derme:

    a) a depilao bioqumica obtida pela aco de enzimas libertos nas fermentaes de svegetais (cereais, folhas) ou de substncias animais (urina, excrementos). A destruio de camadas de base da epiderme provoca o relaxamento dos plos, que sero eliminaos facilmente por frico. o processo mais antigo;

    b) a depilao qumica provocada por alcalis (cal, cinzas de madeira e, recentementesulfureto de sdio). Estes reagentes no se limitam destruio das camadas vivas da eerme, atacam tambm as queratinas velhas que formam a parte exterior dos plos, e podem mesmo em certos casos provocar a sua dissoluo. A primeira meno conhecida do empego de cal para depilar uma pele figura num manuscrito do sculo VIII encontrado em Lucca, na Itlia.Depois do plo ter sido arrancado, retiram-se os fragmentos de carne que podero ainda existir - a descarnagem. Depois as operaes diferem segundo se trate de prepararo couro ou o pergaminho.TRANSFORMAO DA PELE EM COURO: O curtume propriamente dito a operao que vai transfar a pele em couro, isto , numa matria que no apodrea e seja resistente hidrlisereaco qumica irreversvel entre o colagnio e um tanino.As matrias para curtume utilizadas so muito numerosas: podem ser de origem orgnica

    (gordura, formol, taninos vegetais, taninos sintticos) ou mineral (almen, crmio, ferro, enxofre). Esta enumerao no exaustiva, e no compreende seno os taninos de usrente. Cada matria tanina permite obter um couro que possui propriedades particulares.O couro bruto assim obtido deve ainda sofrer uma srie de operaes mecnicas e qumicaTrata-se primeiro de alimentar o couro, que consiste em incorporar neste matriasgordas depois de ter sido humedecido. Depois da secagem, os couros so tingidos. Vmem seguida as diferentes operaes mecnicas de superfcie: acetinao, polimento, lusm e granulao quando o gro no suficiente.TRANSFORMAO DA PELE EM PERGAMINHO: Depois de ter permanecido vrios dias na cal, a pele lavada e os plos so arrancados. em seguida colocada num bastidor e raspada coum cutelo especial de modo a eliminar os ltimos resduos de carne. Hoje, estas operaes so muitas vezes substitudas pela abertura mecnica da pele que lhe d, desde o

    , uma espessura igual. A pele seca assim sob tenso: apertam-se de tempos a temposas cordas que a mantm, de modo que ela fique bem esticada.O facto de esticar a pele enquanto ela est ainda molhada modifica profundamente aestrutura da derme. Produz-se um novo arranjo das fibras de colagnio, que se dispem em camadas lamelares, paralelamente superfcie da pele, no sentido das foras detraco exercidas sobre ela durante a secagem. O fabrico do couro, pelo contrrio, no odifica a estrutura original da derme: as fibras entrelaam-se como num tecido, como se estivessem vivas.A secagem do pergaminho tem, de facto, cuidados especiais. Numerosas receitas medievais descrevem o uso do cr, da cal ou de pastas feitas de cal ou de gesso. Est

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    as substncias que tm a propriedade de absorver a humidade, tm um efeito simultneo ddesengordurar; por causa da reaco entre os sais de clcio que contm e as gorduras, roduzem-se sabes facilmente dispersos na gua. Ao mesmo tempo que a pele seca e desengordurada, preciso poli-la para amaciar a superfcie. A pedra-pomes, pedra vulcnica muito dura, passou a ser usada recentemente. Todavia, nos pases em que no era facilmente encontrada, foi substituda por outras pedras duras (como o Kieselgur) ou por folhas rugosas.O pergaminho, como o couro, pode ser fabricado de qualquer pele animal, inclusive, pela humana. As peles mais correntemente utilizadas so a de cabra, a de carneiro e a de vitela; o velino um pergaminho extremamente fino e liso fabricado compele de animal recm-nascido, a vitela, na maioria dos casos, que tem um gro muitopouco marcado. As peles de burro, lobo, coelho, gamo, gazela podem ser igualmente utilizadas.Ainda que sejam ambas preparadas a partir da derme da pele, o couro e o pergaminho so materiais completamente diferentes, possuindo as suas caractersticas prprias.O pergaminho, que no foi estabilizado pelo curtume, muito higroscpico e, por estefacto, est muito sujeito s variaes dimensionais. Em compensao os produtos utilizna altura do seu fabrico conferem-lhe uma certa reserva alcalina que lhe permiteresistir melhor que o couro acidez que o circunda.

    O Papel

    Histria

    O termo papel vem do grego ou do latim papyrus. Contudo, o papel constitui uma matria completamente diferente deste ltimo. De origem vegetal, a sua inveno data da ra crist.O papel propriamente dito originrio da China e podem ser seguidas as suas etapasno percurso para o Ocidente.Foi em 195 da nossa era que chineses da regio de Canto encontraram o segredo do papel. Utilizavam canas, bambs, cascas de amoreira para produzir papel. Trituravamesses materiais com gua e com a ajuda de uma pedra grande; recuperavam em seguidaesta pasta sobre um crivo de bambil entranado, enxugavam e secavam a folha assimformada sobre uma pedra lisa, ao sol. Durante muitos sculos, a China guardou o segredo do papel; o seu fabrico modernizou-se com a inveno dos moinhos de papel, mas as matrias primitivas ficaram quase as mesmas, com a juno, contudo, de caules de

    linho ou de cnhamo, ou de palha de arroz. O papel obtido era aglutinado com colade amido de arroz e alisado com uma pedra dura.Os papis chineses eram exportados para o mundo rabe, mas a transmisso do segredo defabrico s teve lugar em 751, quando dos ataques mongis aos territrios orientais.Prisioneiros chineses espalharam o segredo na Prsia, em Samarcanda, e, desde a, apartir do fim do sculo VIII, em todo o Mdio Oriente, principalmente na Sria (Damasco), na Mesopotmia (Bagdade) e em todo o Islo, at ao Egipto.O papel permaneceu desconhecido na Europa at s Cruzadas, que teve particularmentecomo consequncia mais notvel dar o domnio do Mediterrneo aos portos italianos e fraceses. O comrcio fazia-se pelas cidades com os portos do Oriente. A Espanha escapou a este movimento comercial, mas as invases muulmanas trouxeram o conhecimento do papel a partir do sculo X.O fabrico do papel na Europa surgiu em Espanha no sculo XI: tem-se como provvel a

    data de 1056 para um moinho em Xativa e a de 1085 para um moinho em Toledo.Em Itlia, os mais antigos moinhos so os de Fabriano (1276) depois os de Pdua, Treviso e Milo.Em Frana, o fabrico de papel ter vindo de Espanha e, julga-se que os primeiros moinhos apareceram em Brie e em Champagne (Troyes, 1338; Essonnes, 1356).A mesma poca viu a implantao de moinhos em Lige, Bruges, Anturpia, Mainz (1320), Nmberga (1390).A indstria papeleira foi introduzida em 1494 em Inglaterra e em 1690 na Pensilvnia(Amrica do Norte).

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    Tcnicas de fabrico

    At cerca de 1800, utilizava-se, para transformar o linho e o cnhamo, baterias de piles que esmagavam e separavam as fibras. Estas baterias foram em seguida substitudas por "piles holandeses" espcie de lminas entrelaadas. Foi apenas cerca de 1799e foi construda a primeira mquina para fabrico de papel de grandes dimenses. Pertode 1840, deu-se conta de que a quantidade de trapo disponvel para o fabrico de papel era insuficiente. Foi preciso recorrer a outras fibras tais como cordame, palha e at madeira. Na mesma poca, graas s descobertas de Berthelot, foi possvel bruear estas fibras novas. Chegou-se rapidamente ao fabrico do papel tal como ns oconhecemos actualmente.Os materiais que constituem o papel so diversos: fibras contidas nas diferentes pastas de papel, produtos aglutinantes, cargas e, finalmente, em certos casos, corantes.A degradao do papel d-se de acordo com a sua composio. Se todas fibras vegetais, cendo celulose, podem, em princpio, ser empregadas para o seu fabrico, a sua resistncia varia com a qualidade e a percentagem de celulose pura que elas contm. Acontece o mesmo no que respeita qualidade de produtos aglutinantes.

    As pastas de papel

    Distinguem-se: As PASTAS DE TRAPO: Estas so "pastas qumicas obtidas a partir de re

    sduos de txteis vegetais". Estes txteis so na maior parte das vezes compostos de firas de algodo, linho ou cnhamo. Os papis resultantes tm ento uma celulose muito puque resiste muito aos atentados do tempo. Infelizmente, o seu preo de custo extremamente elevado e por conseguinte so cada vez mais substitudos por papis fabricados a partir de pastas de madeira.AS PASTAS DE MADEIRAS: Utiliza-se a madeira proveniente de vrias espcies de rvores:resinosas (pinheiro, abeto) ou folhosas (choupo, btula, faia, castanheiro). Segundo o tratamento aplicado, obtm-se diferentes tipos de pastas.AS PASTAS MECNICAS: Estas so "as pastas obtidas a partir da madeira por meios unicamente mecnicas". Preferir-se-o madeiras finas (abeto, choupo, btula). Em todos estes casos, estas madeiras contm dois grupos de substncias muito diferentes: a celulose, e as matrias encrustantes, compreendendo entre outras a lenhina, as matrias pcticas e as matrias cerosas.

    No fabrico de pasta mecnica, no se procura separar estes dois grupos. claro que umpapel assim fabricado no contendo seno 50% de celulose pura e 50% de impurezas, nopode ter as caractersticas de durao indispensveis para a sua boa conservao.AS PASTAS QUMICAS: Estas so "pastas obtidas depois de cozimento com a ajuda de agentes qumicos provocando a eliminao de uma parte importante de constituintes no celuicos do vegetal.AS PASTAS QUMICAS CRUAS: So "pastas qumicas que no sofreram qualquer tratamento supementar de branqueamento". So superiores s pastas mecnicas mas tm o inconveniente dser de um tom bege-castanho que as torna inutilizveis para o fabrico de bons papis de impresso.AS PASTAS QUMICAS BRANQUEADAS. So "pastas cujo branqueamento foi obtido pela eliminao da colorao natural por meio de produtos qumicos". Estes so, em geral, o cloreclcio, o cloro gasoso e gua oxigenada.

    Os papis fabricados deste modo, so muito brancos, podem, em certos casos, substituir as pastas de trapo, mas sem jamais as igualar.Excepto as fibras celulsicas, constituintes essenciais do papel, outras substnciasentram no fabrico destes, entre elas, citemos os principais:

    Produtos de colagem

    A colagem torna o papel utilizvel para a escrita e a impresso. A colagem com amidoou com gelatina dos Antigos foi substituda desde o fim do sc. XVIII, pela resina,

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    que ainda o procedimento mais utilizado nos nossos dias.A resina ou pez-louro (extracto da seiva do pinheiro) no estado de emulso na gua precipitada sobre as fibras pela adio de sulfato de alumnio em meio cido. uma boa agem que produz contudo um papel cido.Para a conservao a longo termo de arquivos, procurou-se ento outras substncias suscptveis de produzir um papel neutro. Este existe desde h muito tempo nos Estados Unidos da Amrica e, fez recentemente a sua apario noutros pases particularmente no Reno Unido.

    As cargas

    Para melhorar a opacidade, a brancura e a estabilidade do papel, juntam-se elementos minerais. Estas so substncias finas geralmente brancas, tais como o caolino,o talco, o carbonato de clcio, o sulfato de brio.

    Os corantes e azuladores pticos

    Para colorir o papel, junta-se-lhe corantes ou pigmentos de cor. A fim de melhorar a brancura de papis brancos, introduzem-se na pasta produtos de azulamento ptico, fluorescentes aos ultravioletas.O seu emprego formalmente desaconselhado para os papis destinados aos arquivos, porque aceleram o amarelecimento.

    As Tintas Manuscritas

    At ao sculo XIX, duas grandes categorias de tintas foram utilizadas: as tintas decarbono e as tintas metaloglicas. Esta classificao no deve, contudo, ser tomada de aneira muito rgida, porque h numerosas variantes entre as duas categorias (A designao "tintas ferroglicas" e mais corrente que a de "tintas metaloglicas").

    As tintas de carbono

    Os mais antigos traos de tinta foram descobertos nos hipogeus egpcios, sobre papir

    os escritos cerca de 2500 a. C. No temos, um facto, conhecimentos sobre a composiodestas tintas, mas, a partir de anlises que teriam sido efectuadas no princpio dosculo, pensa-se que as tintas egpcias desta poca continham o negro de carbono misturado com goma arbica ou mel. Na China, a inveno da tinta remontaria a um perodo sitado entre 2673 e 2597 a. C.Do sculo III ao sculo V d. C., sempre se comeou a fabricar na China (dinastias Weie Chin) tinta com negro de fumo produzido pela combusto da laca e da madeira de abeto. Misturavam-se ento estas partculas com um produto aglutinante que podia sera cola fabricada a partir do como do rinoceronte, do como de veado, da pele de boi, da pele de burro, ou ainda melhor da cola de peixe. Esta tinta vendia-se soba forma de bolas.No Ocidente, para alm dos textos de Plnio, Dioscrides e Vitrvio, encontram-se muitopoucas referncias ao fabrico de tintas de carbono. Estes trs autores falam de uma

    tinta feita base de sebo.Mais tarde, no sculo XI, na frica do Norte, as tintas ditas da ndia, de Koufa, da Psia, do Iro, eram preparadas em geral a partir da combusto de substncias vegetais,ligadas com goma arbica, com branco de ovo ou leos.Em Frana, no sculo XV, serviam-se de uma suspenso de gua gomada, com negro de fumo roveniente da combusto de velas ou de candeias. Contudo, a tinta da China era rara na Europa at ao sculo XVII.De uma maneira geral, constata-se que, se as tcnicas de fabrico de tintas variaram pouco atravs dos tempos, os constituintes de base so numerosos: negro de fumo, obtido a partir da combusto de substncias vegetais e por vezes de gorduras animais;

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    aglutinante glucdico (goma, mel) protenico (cola, branco de ovo) ou lipdico (leo);solvente (geralmente gua). O conjunto podia ser aromatizado com cnfora, almscar, madeira de sndalo, e cravinho-da-ndia.

    As tintas metaloglicas

    O princpio de fabrico destas tintas era j conhecido no sculo II antes da nossa era.Com efeito, Flon de Bizncio, no seu tratado intitulado Veteres Mathematici, davaa frmula de uma tinta simptica (Tinta simptica, isto , tinta incolor ao escrever-semas que posteriormente se torna visvel quando submetida aco de certos agentes.), tilizando a mistura de noz-de-galha. e vitrolo: a escrita invisvel era traada com uma soluo de noz-de-galha, revelada posteriormente com uma soluo de vitrolo.Muito mais tarde, nos sculos VII e VIII da nossa era, utilizaram-se tintas fabricadas com vitrolo azul, levedura, borra de vinho, cascas de rom. De facto, precisoesperar pelo sculo XII, com a apario da obra De diversis artibus, do monge Tefilo, ara encontrar a primeira receita de tinta base de tanino e de sulfato de ferro.Tratava-se de um cozimento, em gua, de casca de madeira de castanheiro.Na frica do Norte, na mesma poca, utilizava-se como tanino noz-de-galha e o vitroloproveniente de regies afastadas como o Egipto, o Chipre, a Prsia, etc...No Ocidente, desde o sculo XIV, quase todas as receitas descrevem tintas metaloglicas.As tintas metaloglicas so assim uma combinao de sais metlicos (sulfato de cobre ourro) e taninos vegetais (borra de vinho, casca de rvores, noz-de-galha, bolota),

    um aglutinante (goma arbica, mel), um solvente (vinho, vinagre, gua) e adjuvantesdiversos.As substncias tanantes secas e muito finamente trituradas so dispersas em gua pura.Deixa-se macerar o cozimento assim obtido durante algumas horas, a quente ou afrio, depois junta-se uma soluo diluda de sal metlico. Forma-se um complexo metalogco colorido castanho que se precipita. Em contacto com o oxignio do ar, esta colorao intensifica-se progressivamente at se tornar negra escura. Incorpora-se ento o roduto aglutinante, que d uma certa coeso ao precipitado e aumenta a viscosidade do meio.Pouco a pouco, o fabrico destas tintas passou do estdio artesanal ao estdio industrial.A partir do sculo XVIII, estabeleceram-se indstrias em Dresden, Amesterdo, Berlim,Paris e, na primeira metade do sculo XIX, nos Estados Unidos.

    As pesquisas sobre tintas foram aumentando, e, paralelamente, o interesse dado sua qualidade declinou. Fabricou-se assim uma grande variedade de tintas cuja durao diminuiu.Assim, Leonhardi introduziu em 1856 a tinta de alisarina e cerca de 1860 apareceram as tintas base de anilina. Todas eram pouco estveis ao ar e luz.Cada vez mais os produtos de sntese (indigo, nigrosina, violeta de metlo) bem comonovas substncias corantes passaram a ser utilizadas a fim de reduzir o preo de custo.Actualmente, excepo de algumas frmulas de tintas de carbono ainda fabricadas seguno receitas antigas, todas as tintas manuscritas (para canetas esferogrficas e defeltro) contm, em vez das substncias vegetais utilizadas outrora, corantes de sntese. Estes produtos, cuja variedade aumentou muito rapidamente, so mal conhecidos,devido aos segredos de fabrico. So todos muito sensveis luz. esta a razo porque

    manuscritos contemporneos se arriscam a ter uma vida muito efmera se no se tomaremas devidas precaues.Do mesmo modo, as tintas empregadas para as mquinas de escrever (fita de tinta ecarbono) so de tipos muito variados; no conjunto, contudo, so menos vulnerveis aosataques do tempo.

    Agentes de deteriorao

    Todos os materiais orgnicos que entram na composio de documentos grficos so extrem

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    nte frgeis e facilmente deteriorveis por agentes fsicos, qumicos e biolgicos. A isjuntam-se os perigos de inundao e de incndio. O homem pode, igualmente, de maneiradeliberada ou consciente, estar na origem de desastres muito grandes: o roubo, aguerra ou os tumultos, as manipulaes demasiado brutais, a aplicao de tcnicas de cervao e de restauro no adequadas, so factores de destruio.Devem, pois, estudar-se com mincia, todos os problemas relativos conservao destes ocumentos. Para este fim, necessrio conhecer o melhor possvel os diferentes agentes de deteriorao, tal como os efeitos sobre as obras a conservar, de modo a melhoros conseguir combater.Distinguiremos quatro grandes classes de agentes de deteriorao:

    * o ambiente;* a m qualidade dos materiais que constituem os documentos;* os sinistros naturais;* os danos causados pelo homem.

    O Ambiente

    Os documentos, se no so conservados num gs inerte (o que no pode ser seno o caso palguns documentos de muitssimo valor histrico ou artstico) so submetidos a um ar abiente que pode, em certos casos, ser-lhe nefasto e provocar fenmenos de deterioraes fsicas, qumicas e biolgicas. Estudaremos aqui o conjunto destes factores.

    Os agentes de deteriorao fsico-qumica

    As alteraes provocadas por estes agentes so de trs tipos: fotoqumica, hidroltica,oxidao e manifestam-se muitas vezes por uma alterao de cor e uma fragilidade mais omenos pronunciada dos documentos alterados.As corroses fsicas so produzidas pela luz, pelo calor, pela humidade, enquanto as corroses qumicas so quase exclusivamente devidas poluio atmosfrica.

    A luz

    A luz formada por ondas electromagnticas comparveis em todos os pontos s utilizado

    na transmisso de rdio ou de televiso, mas de menor comprimento de onda.Se se utiliza como unidade de medida o nanmetro (nm), pode considerar-se que a vista s influenciada pelas radiaes cujo comprimento de onda est compreendido entre e 750 nm. Este campo o das radiaes visveis. Abaixo de 400 nm, temos as radiaes eis chamadas ultravioletas. Estas radiaes tm uma aco fotoqumica destrutiva sobre teriais. Acima, as radiaes igualmente invisveis, chamadas infravermelhas (trmicas)podem produzir sobre os materiais reaces qumicas do tipo de oxidao.As radiaes visveis compreendem todas as cores do arco-ris. A vista no igualmenteel a todas as cores, mas a sua sensibilidade mxima situa-se no comprimento de onda 550 nm no amarelo. Esta sensibilidade diminui de um e de outro lado.

    O MECANISMO DE DETERIORAO FOTOQUMICA: Nem todos os objectos tm a mesma sensibilidad luz. So os materiais orgnicos que sofrem as deterioraes mais rpidas. Notemos qu

    efeitos fotoqumicos da luz so agravados por um excesso de temperatura ou de humidade. So os comprimentos de onda mais curtos que so os mais nocivos, porque so os mais, energticos.No que diz respeito ao papel, o seu constituinte essencial a celulose. Esta umamacromolcula formada pela condensao de diversas molculas de glucose. Sob o efeito dreaces fotoqumicas, existe a despolimerizao e ruptura das cadeias. Cada um dos frentos, em contacto com o calor e a humidade, pode posteriormente oxidar-se e hidrolisar-se. O papel torna-se ento muito quebradio e amarelecido.O couro e o pergaminho so geralmente menos sensveis ao efeito da luz.Em compensao, as tintas metaloglicas podem desbotar em certos casos assim como algu

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    ns pigmentos orgnicos contidos na camada pictrica das iluminuras.Outros factores intervm igualmente no processo de deteriorao em particular o tempode exposio e o nvel de iluminao. De facto, se estes dois factores no podem impedices fotoqumicas, modificam-nas consideravelmente.

    As FONTES LUMINOSAS: As fontes luminosas, quer sejam naturais (Sol) ou artificiais (lmpadas incandescentes ou tubos fluorescentes) emitem uma irradiao que contm, adas radiaes visveis, uma certa proporo de ultravioletas e de infravermelhos nocivpara as matrias orgnicas.A composio da radiao emitida por uma fonte luminosa caracterizada pela sua temperra de cor que se numera em graus Kelvin (1K = 273C). a temperatura qual se deve aquecer um "corpo negro" (Chama-se corpo negro a todoo corpo capaz de absorver a totalidade das radiaes que recebe e de as transformarintegralmente em calor.) para que emita uma irradiao da mesma cor. Podem assim classificar-se as fontes luminosas em funo da sua temperatura de cor.Uma luz diz-se "quente" quando a sua temperatura de cor baixa (igual ou inferiora 3000W. a temperatura da cor do vermelho e do laranja. Inversamente, as temperaturas de cores elevadas (iguais ou superiores a 5000 K) do uma luz "fria" que produz o azul.Todavia, duas fontes de luz que tenham a mesma temperatura de cor, no tm forosamente a mesma composio espectral. De facto, um objecto colo rido iluminado por duas fontes luminosas da mesma temperatura de cor, Ma de energia espectral diferente, douma impresso colorida diferente. A isto chama-se "a restituio de cores de uma fonte luminosa" que uma caracterstica muito importante.

    Para uniformizar esta noo muito subjectiva, tomou-se um padro que utilizado para lassificar as fontes de luz e muito particularmente os tubos fluorescentes. Estepadro um branco correspondente a uma "iluminao-dia tipo". Uma fonte luminosa que em um ndice 100 deve ter uni espectro de emisso idntico ao da luz do dia para uma dada temperatura de cor.A LUZ NATURAL: podemos distinguir a irradiao solar directa, a irradiao do cu ou abceleste e a irradiao global. Em todos os casos, sabemos; que somente 50 % dos raios solares atingem a superfcie da Terra. As radiaes de comprimentos de onda inferiores a 300 nm so retidas pela camada de ozono, o vapor de gua e as impurezas atmosfricas. Tomemos em ateno que a temperatura da cor pode variar de 2000K quando o sol se aproxima do horizonte para 25 000K num lugar no poludo e com cu azul.A LUZ ARTIFICIAL: podemos considerar duas categorias de fontes luminosas cuja composio espectral muito diferente.

    As lmpadas incandescentes so de dois tipos:

    a) as lmpadas vulgares de filamento de tungstnio. O filamento aquecido a 2700C. Oinvlucro de vidro vulgar transparente ou opaco. Estas lmpadas emitem no s uma irrao repartida nos diferentes comprimentos de onda do espectro visvel, mas, alm dissounia irradiao infravermelha importante. Pelo contrrio, no difundem radiaes ultratas. A sua temperatura de cor bastante baixa 25 000K-19 000K. Esta luz muito rica em radiaes amarelas e vermelhas;b) as lmpadas "de halognio tungstnio", ditas "lmpadas de iodo". Estas so lmpadas lamentos de tungstnio aquecidas a uma temperatura superior s precedentes. (Com efeito, uma grande parte da corrente elctrica que passa atravs de uma lmpada vulgar defilamento convertida em calor, e no em luz). Obtm-se, assim, um melhor rendimentoluminoso, isto , menos potncia consumida para uma mesma capacidade de iluminao. A

    perao pode fazer-se introduzindo uma pequena quantidade de iodo (ou de um outro halognio) que equilibra a reaco.

    Os tubos fluorescentes. O tubo est cheio de um gs tal como vapor de mercrio ou vapor de azoto. A face interna do tubo est coberta de uma substncia luminescente que emite uma luz visvel quando estimulada pelos raios ultravioletas gerados no interior do tubo quando se d uma fasca elctrica. Se os materiais luminescentes tm uma espssura suficiente, os raios ultravioletas podem ser completamente absorvidos. Pelo contrrio, estas lmpadas emitem poucas radiaes infravermelhas. A sua temperatura stua-se entre 2700K e 6500K.

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    A humidade e a temperatura

    Os materiais que constituem os documentos grficos so extremamente sensveis s variae clima.O papel, essencialmente composto por fibras celulsicas, muito higroscpico. As suaspropriedades fsicas e qumicas dependem pois do teor em gua da atmosfera. Aconteceo mesmo com o pergaminho.Porm, a aco da humidade est estreitamente ligada da temperatura, porque no a qde absoluta de vapor de gua que nefasta, mas a humidade relativaQue se deve entender por humidade absoluta e humidade relativa? A humidade absoluta o peso (p) do vapor de gua contido num dado volume de ar hmido a uma certa temperatura (t). expressa em g/m.A humidade relativa a relao expressa em percentagem entre o peso (p) do vapor de ga efectivamente contido num dado volume de ar e o peso (P) mximo de vapor de gua que este volume poder conter mesma temperatura (t).

    % HR = p x 100 p

    Por este facto, se se aumentar a temperatura do ar, diminui-se a quantidade quecontm e vice-versa.Quando o ar ambiente arrefecido a uma dada temperatura, a humidade relativa aume

    nta at que se atinja uma temperatura em que a gua comea a condensar-se sob a formade finas gotculas. Esta temperatura designada "ponto de orvalho" (Em francs pointde rose. (N. T.))ou temperatura de saturao em vapor de gua do ar (% HR = 100).Esta humidade exerce uma aco muito marcada sobre as propriedades qumicas e fsicas ds materiais orgnicos. Favorece igualmente as deterioraes biolgicas.

    DETERIORAES FSICAS: Os materiais higroscpicos, em particular o papel e o pergaminhoincham quando absorvem humidade e contraem-se quando a libertam. Isto leva a importantes modificaes dimensionais: perda de elasticidade, de maleabilidade e de resistncia. Este fenmeno particularmente evidente no caso dos pergaminhos iluminados; a desigualdade de tenses entre o suporte e a camada pictural leva forosamente auma separao das camadas. por isso que as variaes higromtricas bruscas representaperigo importantssimo.

    Se de impedir um excesso de humidade, tambm um ambiente muito seco igualmente pernicioso. Com efeito, o papel tem necessidade de um nvel de humidade bastante importante (cerca de 50 %) para conservar a sua maleabilidade e a sua elasticidade:se este nvel baixa e se torna inferior a 40 % o papel e sobretudo as colas tornam-se quebradias e acabam por cair em p enquanto as encadernaes estalam.

    DETERIORAES QUMICAS: Do ponto de vista qumico, o calor hmido leva a uma hidrlise olculas que, por este facto, se subdividem em cadeias moleculares, mais pequenas.Este fenmeno foi j estudado por Chapman que, em 1915, comparou o estado de uma coleco de livros de que uma parte tinha sido conservada nas ndias e a outra no ReinoUnido. Sobre lotes de oito obras, os exemplares conservados na ndia, num clima hmido e quente, estavam todos atacados, ao passo que no British Museum de Londres seis estavam intactos, um estava picado e um outro descolorido.

    As mesmas constataes foram feitas no que respeita a papis conservados, em regies motanhosas (clima seco e frio), outros em regies martimas salino muito hmido). Acontece o mesmo com o colagnio, constituinte essencial do couro e do pergaminho. Este constitudo por trs cadeias polipeptdicas resultantes da condensao de aminocidos.

    A humidade combinada para um excesso de acidez leva por hidrlise a cortes destascadeias, o que modifica a resistncia mecnica e qumica dos materiais: h libertao derosos aminocidos.

    DETERIORAES BIOLGICAS: A humidade e o calor so factores essenciais de germinao de

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    ros de cogumelos e de reproduo de bactrias, sempre presentes em suspenso na atmosfea. Basta que as condies de temperatura e de higrometria sejam favorveis (temperatura superior a 22C, humidade relativa superior a 65 %) para que os esporos de cogumelos, em contacto com o papel (meio de cultura extremamente nutritivo) se reproduzam retirando o seu alimento do suporte cuja resistncia eles enfraquecem muito rapidamente.No seguimento dos trabalhos que realizmos, conclumos que as condies termo-higromtrs a respeitar variam em funo dos materiais a conservar. Neste sentido, para os livros e documentos de arquivos, a temperatura deve ser de WC com variao de lC, com ua humidade relativa de 55 % com variao de 5 %* (Trata-se de um conjunto de valoresnormativos, ideais, difceis de atingir. (N. T.))

    A poluio atmosfrica

    O problema da deteriorao das obras de arte pela poluio atmosfrica no novo: j eastlake e Faraday estudaram os meios de proteger pinturas da National Gallery. Contudo, com o desenvolvimento industrial e o aumento da circulao automvel, os fenmeos de deteriorao devidos poluio desenvolveram-se muito seriamente no decurso dos os vinte anos. Com efeito, a maior parte dos agentes poluentes provm da combusto do carvo e do fuel, do aquecimento domstico, etc.O ar viciado compe-se normalmente de uma mistura de gs e de partculas slidas disperas muito finamente. Em funo do lugar e da estao do ano, esta composio pode variarmemente.

    Os gases

    A unidade de medida utilizada u g/M3. A combusto dos produtos petrolferos libertaum nmero imenso de compostos qumicos mais ou menos volteis, tais como os cidos e osoxidantes. Entre os cidos, citaremos apenas os mais corrosivos: compostos de enxofre, compostos azotados e cloretos.O ANIDRIDO SULFUROSO OU DIXIDO DE ENXOFRE (SO): Este gs tende a associar-se com aspartculas slidas e lquidas em suspenso no ar, tornando-se assim um constituinte imprtante dos aerossis. Uma parte oxidada em trixido de enxofre (SO) que reage com o apor de gua para formar "nvoas" de cido sulfrico (HSO4). Contudo, esta reaco de ito complexa e depende das condies meteorolgicas. Todos os compostos orgnicos, em prticular o papel e o couro, so muito sensveis aco do SO2 que provoca hidrlises

    , deste modo, uma despolimerizao repentina destes materiais.OS XIDOS DE AZOTO (NO): O azoto combina-se com o oxignio a uma temperatura elevadapara dar origem a uma variedade de xidos dos quais s dois se encontram em grandequantidade na atmosfera: o monxido de azoto (NO) e o dixido de azoto (NO). Ambos somuito corrosivos. Em zona urbana, os dois teros destes xidos provm da combusto de gses de escape de veculos e formam "nuvens" espessas.OS CLORETOS: Os compostos de cloro encontram-se no estado de vestgios na atmosfera das cidades industriais. Em contrapartida, esto presentes em quantidade aprecivel nas regies martimas. O vento dispersa, de facto, finas partculas de chuviscos marimos ricos em halogeno e sobretudo em cloretos. Estas substncias so higroscpicas etornam-se ento muito corrosivas.O OZONO: O ozono provm em grande parte da estratosfera (a um altura de 20 a 30 kmda Terra) pela aco dos raios ultravioletas de comprimento de onda muito curta sob

    re o oxignio ( a razo pela qual os raios ultravioletas inferiores a 300 nm no penetam na superfcie do solo, porque so todos a[,sorvidos pelo ozono na estratosfera).O ozono um oxidante muito poderoso. Tambm a sua aco ela prpria extremamente nocara os materiais orgnicos*. (De salientar que os xidos de azoto so directamente responsveis pela presena do ozono no ambiente urbano. (N. T.))

    As partculas slidas

    Nas atmosferas industriais tal como nos aglomerados urbanos o ar est carregado departculas minerais e orgnicas muito finas.

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    Encontram-se, de facto, xidos de ferro, sulfatos de alumnio, slica, carbonatos de magnsio e uma grande quantidade de carbono, alcatro, em que o dimetro das partculas ode variar. Estes aerossis que constituem a poeira so extremamente penetrantes. Depositam-se sobre os documentos e acabam por ter, com o tempo, uma aco destrutiva.Com efeito, estas partculas so muitas vezes higroscpicas e cidas; podem ser, alm do, catalisadores de reaco. Finalmente, a poeira, muitas vezes carregada de esporosde cogumelos, uma fonte constante de contaminao biolgica.Assinalamos para concluir que, se cada uma destas substncias tem em si prpria umaaco corrosiva, este poder de deteriorao ainda maior quando todas elas se encontraresentes na atmosfera.

    Os agentes de deteriorao biolgica

    Entre os numerosos factores de alterao dos documentos grficos, so certamente os mico-organismos e os insectos que provocam os estragos mais frequentes e os mais considerveis.

    Os fungos

    Os fungos so vegetais cujo aparelho vegetativo um talo, celular ou filamentoso (miclio), desprovido de clorofila. Incapazes de assimilar o carbono atmosfrico, vivem quer em saprfitas, quer em parasitas, quer ainda em simbiose com outros organismos; contribuem deste modo para decomposio dos materiais custa dos quais se desenvolvem. Os fungos papircolas atacam muito particularmente os livros antigos, as es

    tampas, os pergaminhos, as encadernaes.Estes fungos, vulgarmente chamados bolores, segregam pigmentos que se difundem no papel deixando manchas de diferentes cores mais ou menos intensas. Mais de 600espcies foram j reconhecidas recentemente, que se repartem assim:Os Ascomicetas, cuja forma mais frequente o Chaetomium;Os Adelomicetas (Fungi imperfecti), mais particularmente representados pelo Penicillum, o Aspergillus e o Fusarium;Os Basidiomicetas, mais raramente encontrados nos materiais que constituem documentos grficos, excepo da Gyrophana lacrymans, vulgarmente designada merula ou merua carpideira, cogumelo especfico da madeira, que algumas vezes j foi isolado no papel e no couro. A merula um cogumelo resistente e muito nocivo para os materiaisem que se desenvolve; pode apresentar-se sob aspectos muito diferentes de acord

    o com as condies de ventilao, de iluminao e de localizao. As suas principais foem uma evoluo: tufos de algodo, finos filamentos enegrecidos (forma pobre) ou teia;hastes divergentes; fios brancos, ou rizomorfos compridos e bastante espessos;placas alaranjadas que so receptculos frteis. ento bastante difcil de reconhecerno-especialista.

    As bactrias

    As bactrias tm sido igualmente isoladas nos documentos grficos, mas menos frequentemente que os cogumelos; por isso que no insistiremos aqui nestes agentes de deteriorao, de que assinalaremos simplesmente as espcies mais frequentemente encontradas. So sempre bactrias aerbias que pertencem s Eubactrias e s Micobactrias.Entre as Eubactrias encontramos os Pseudomonas, os Ceulomonas, Os Bacilos (o Baff

    ilus licheniformis, isolado recentemente no pergaminho, provoca manchas castanhas e um princpio de liquefaco).Nas Micobactrias assinalamos os Streptomyces (em particular o Streptomyces cellulosa) e os Mixobacterianos, gneros Cytophaga e Sorangium (o Sorangium cellulosum forma uma geleia escura sobre o papel).

    Os insectos

    Os insectos que devastam os fundos das bibliotecas e arquivos so numerosos e pertencem a diversas espcies. Citaremos aqui apenas os que se encontram mais frequent

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    emente ou que provocam estragos muito importantes. A sua classificao ser a que se apresenta nas pginas seguintes.

    ORDEM DOS TISANUROS: S as espcies que pertencem famlia dos lepismas so prejudiciaaos documentos de arquivos, principalmente o Lepisma Saccharina, conhecido pelonome de "peixe-de-prata". Os seus alimentos favoritos so a cola, o amido; atacamsobretudo as encadernaes roendo-lhes a superfcie.

    ORDEM DOS DICTIOPEROS: Trata-se de baratas e em particular da barata alem (Phyllodroffia germanica L.) e da barata oriental (Blatta orientalis L.). Estes insectos, que fogem da luz, pululam nas zonas sonabrias, quentes e hmidas danificando principalmente as encadernaes.ORDEM DOS ISOPTEROS: So os insectos mais temveis para as habitaes, as bibliotecas eos museus. Conhecidos pelo nome de trmitas, proliferam nos pases tropicais. Encontram-se duas espcies nas regies temperadas. O Reticulitermes lucifugus Rossi mais frequente em Frana, na Charante-Martima e nas Landes, e o Calotermes flavcollis F.,cujos estragos se verificam na Provena e principalmente em Itlia.Estes insectos vivem em sociedade; distinguem-se entre eles quatro tipos de indivduos: dois tipos sexuados - o rei e a rainha, responsveis pela reproduo; o rei sre nico, mas a verdadeira rainha muitas vezes substituda por vrias "fmeas de subsuio"; e dois tipos assexuados - as obreiras, a quem incumbem os trabalhos, e os soldados, encarregados da defesa da colnia. O C. flavicollis F. no tem obreiras, estas so substitudas pelas larvas e as ninfas.Os indivduos sexuados tm asas membranosas que caem logo aps o acasalamento. O abdme

    das obreiras e dos soldados descolorido e mole; a cabea amarelo-acastanhado. Ossoldados tm uma cabea enorme (metade do comprimento total do insecto) e tm fortes mandbulas; so quase cegos.O rei tem uma forma alongada. O abdmen da rainha toma a forma de uma espiral quemede metade do comprimento do seu corpo; est cheio de ovos. As larvas so brancas,tm uma cabea volumosa e um corpo macio.Os prejuzos causados pelas trmitas so enormes sobretudo nos pases quentes, mas tambnas regies temperadas. Nas casas, os seus locais de predileco so os madeiramentos fitos de todas as espcies, os soalhos, os rodaps, as molduras dos quadros, etc. Almdisso, precisam de calor e humidade. Os prejuzos causados pelas trmitas so tanto mais terrveis quanto elas s so descobertas no ltimo momento, porque estes insectos esavam, ao abrigo da luz, profundas galerias entrecruzadas em que nada revela a sua presena para o exterior.

    ORDEM DOS PSOCOFTEROS: Entre estes, os Psoques (Tractes divinatorius), vulgarmente chamados "piolhos do livro", atacam particularmente a cola e as peles.ORDEM DOS COLEOPTEROS: Comprende:a) os Dermestidae, entre os quais o Dermestes maculatus procura especialmente ocouro e as peles;b) os Anobiidae, que so insectos xilfagos conhecidos pelo nome de "cartinchos" devido forma dos buracos que fazem na madeira; o Anobium punctatum e o Anobium paniceum so as espcies mais frequentemente encontradas nos livros;c) os Cerambucidae, ou capricrnios, que so notveis pelo desenvolvimento importantedas suas antenas; o mais nocivo o Hylotrypes bajulus L., vulgarmente chamado "capricrnio das casas". Eles procuram sobretudo a madeira, na qual as larvas escavamgalerias profundas;d) os Lyctidae, de que destacamos o Lyctus linearis que ataca especialmente as m

    adeiras, mas pode eventualmente ocasionar estragos nos couros;e) os Ptinidae, insectos activos durante a noite, que se alimentam de substnciasorgnicas, em particular de plantas secas, mas tambm de papel, de carto e de couro;a espcie mais nefasta para os arquivos o Ptinus fur.Reconhece-se a presena de insectos nos depsitos dos arquivos por diversos indcios:Estragos causados aos prprios documentos; galerias sinuosas feita pelos lepismase pelos dermestes, pequenos buracos circulares pelos carunchos, largas cavidadesescavadas pelas trmitas, e geralmente cheias de matrias orgnicas acastanhadas; Presena de larvas ou de ovos no exterior dos documentos ou no interior dos maos e registos; Presena de pequenos montes de serradura revelando a existncia de insectos x

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    ilfagos ou de pequenos montes de excrementos (poeira enegrecida) sobre os documentos ou na sua proximidade; ou ainda, matrias orgnicas segregadas pelos insectos formando unia cola ao ponto de tornar impossvel por vezes a separao das folhas; Enfim, constata-se muitas vezes a presena de insectos vendo-os circular no depsito (baratas, dermestes) ou ao abrir os maos de documentos (lepismas).

    Os roedores

    Todos os roedores podem provocar prejuzos muito importantes nos fundos das bibliotecas e arquivos. Em certos casos, os estragos podem atingir at 20 % dos documentos. Devoram com a mesma avidez os papis, os couros, os pergaminhos e as colas.Ao contrrio de certos insectos que provocam alteraes muitas vezes lentas e limitadas, os roedores so capazes de deteriorar completamente um documento em muito poucotempo.

    A M Qualidade dos Materiais que Constituem os Documentos

    O papel, outrora constitudo essencialmente por fibras celulsicas de algodo ou de linho, resistia aos danos do tempo. Como j assinalmos mais atrs, no acontece o mesmo om certos papis base de pasta de madeira, colado com pez louro em meio cido. Com efeito, a acidez inicial j elevada destes papis (pH 5-5,5) pode aumentar consideravelmente com o envelhecimento, que conduz, como no caso da poluio, hidrlise da celuose, de que advm uma despolimerizao e uma perda da sua resistncia mecnica.Os couros podem deteriorar-se quando os cidos fortes foram utilizados na operao de

    extraco da cal ou quando foram empregues substncias gordas instveis para os alimentr.Por fim, a estabilidade das tintas depende dos produtos que elas contm. As tintasde carbono, geralmente indelveis, tornam-se, por vezes, pulverulentas por decomposio do aglutinante. Podem igualmente, lascar quando so espalhadas sobre um suporteno absorvente, como o pergaminho, ao qual aderem mal. No que respeita s tintas metaloglicas, base de sulfato de ferro, podem, em contacto com a humidade, libertarcido sulfrico que corri o papel e o pergaminho e os transforma em "renda". Por outro lado, acontece que estas tintas desbotam e por vezes descoloram mesmo completamente. Este fenmeno devido a uma decomposio parcial de substncias prprias parair que no podem mais juntar-se s partculas metlicas que permanecem superfcie do ento.

    Os Sinistros de origem Natural ou de Origem Acidental

    As inundaes e ciclones

    A gua provoca muitas vezes prejuzos considerveis nos documentos grficos. A origem dste gnero de desastre pode ser ou natural (inundaes dos rios ou ribeiras, tempestades e temporais) ou acidental (ruptura de canalizaes, fendas no telhado, paredes rachadas, gua utilizada durante incndios). Em poucos minutos, dezenas de milhar de livros manuscritos e maos de arquivo podem ser assim afectados.Recordamo-nos da amplitude dos estragos causados por certos sinistros como as inundaes de Florena e de Veneza em 1966, a cheia do Tejo em Oeiras (Lisboa) que, em 1967, submergiu a totalidade das obras de arte da Coleco Calouste Gulbenkian, ou ofamoso furaco Celia que devastou uma parte do Texas em 1970, destruindo 50 000 li

    vros conservados na Biblioteca Universitria de Corpus Christi.Salvar documentos assim submersos devido catstrofe uma das principais preocupaestodos os responsveis por coleces. Esta tarefa difcil, porque preciso agir com ez e sobre uma quantidade to importante de documentos. Devem, pois, ser tomadas medidas preventivas.

    Ventos

    Em certas regies de clima muito seco, o vento transporta partculas minerais resultantes da eroso das rochas. Algumas destas partculas, compostas de minerais muito d

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    uros (slica, materiais vulcnicos) exercem sobre os documentos de arquivos e de biblioteca uma aco abrasiva que pode ir at ao apagamento da escrita.

    O fogo

    De todos os inimigos dos documentos grficos, o fogo , evidentemente, com a gua, o mais espectacular; tambm o mais temvel, porque ameaa de destruio total, rpida e iavelmente irreversvel, todos os materiais.Infelizmente, desde h uma vintena de anos, o nmero de focos de incndio no tem paradde aumentar em funo do emprego intensivo de materiais muito inflamveis e mal ou notratados. Com efeito, os materiais plsticos substituram demasiadas vezes os materiais tradicionais para o arranjo dos locais. Os sacos e os envelopes em polietileno ou mesmo em policloreto de vinilo so utilizados em substituio do papel kraft. Estas substncias, se no so tornadas ignfugas so muito inflamveis e permitem que o fe propague muito rapidamente. Alm disso, os produtos de combusto so muito txicos paa o homem.

    Os Estragos Causados pelo Homem

    Muitssimas vezes a m vontade ou negligncia do homem provoca deterioraes que podem at destruio completa dos documentos.

    O vandalismo e a falta de cuidado dos leitores ou visitantes

    Se os actos de vandalismo tendem a diminuir graas vigilncia dos conservadores e dos guardas, deve-se contudo, assinalar o caso dos manuscritos com pinturas que foram cortadas, de notas marginais manuscritas apagadas borracha, de pginas de livro e de manuscritos rasgados, folhetos mandos de gordura ou de tinta de caneta, de caneta de feltro ou esferogrfica.

    As manipulaes desastrosas

    Estas acontecem geralmente quando do inventrio, da classificao ou da divulgao dos umentos.Entre os numerosos factos verificados no decurso de inspeces dos depsitos, assinalamos as mais marcantes:* A carimbagem das coleces muitas vezes efectuada com tintas inadequadas e em stio

    mal escolhidos;* As etiquetas (em especial as etiquetas auto-adesivas) com a cota inscrita do documento, podem em certos casos, provocar uma deteriorao pontual das encadernaes;* Os livros so algumas vezes mal colocados nas estantes: os grandes formatos esmagam os mais pequenos;* Os documentos muito apertados correm o risco de se rasgar quando so retirados das prateleiras;* Quando os maos de arquivos atados esto dispostos em pilha nas estantes, a poeirapenetra no interior dos maos; e, alm disso os cordis por vezes muito esticados rasgam os papis;* As encadernaes no tratadas secam, e as pastas acabam, com o tempo, por se desprender da lombada.* Enfim, preciso no negligenciar a falta de cuidado de alguns guardas, que danifi

    cam as obras manipulando-as com demasiada fora.

    Os restauros defeituosos

    No ser demais insistir nas catstrofes provocadas pelos tratamentos de restauro inadequados. A lista ser demasiado longa para a indicar aqui. Contudo, o leitor encontrar as precaues a tomar aquando de um restauro se consultar o ltimo captulo destevro, consagrado aos "Princpios do Restauro".

    Os edifcios e a proteco dos documentos

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    A estrutura e o equipamento dos edifcios desempenha um papel essencial na conservao dos documentos de arquivos e dos livros. Com efeito, a escolha de materiais deconstruo adequados importante para assegurar a sua proteco contra os elementos cltricos (humidade, secura, iluminao solar), contra a poluio atmosfrica, contra os tos e os roedores, contra o fogo. O prprio local dos edifcios e a sua orientao deveser cuidadosamente escolhidos.Por outro lado, a boa conservao dos documentos depende em grande medida dos equipamentos tcnicos - aquecimento/climatizao, luta contra incndio.

    Localizao e Disposio Geral

    Antes de tudo, um edifcio de arquivos ou de biblioteca deve estar situado longe de toda a fonte de perigo permanente ou potencial. Evitar-se- ento os terrenos inundveis, as zonas costeiras martimas expostas s tempestades, as encostas susceptveis e deslizes de terreno. Evitar-se- tambm a vizinhana de fbricas de qumicos, de centnucleares, de depsitos de materiais inflamveis ou explosivos, de objectivos militares.

    Terrenos hmidos

    Quando o terreno hmido (zonas baixas, proximidade de uma ribeira ou de um lago, etc.) deve ter-se um cuidado particular com o controlo das infiltraes de humidade.Uma excelente soluo consiste em isolar o edifcio do solo por meio de estacaria em b

    eto; esta estacaria constitui tambm uma boa proteco contra as trmitas (na condioenvolver num fosso com redes verticais) e contra os roedores. Unia outra soluo a construo de um revestimento de proteco contra a aco das guas, impermevel, sobre senta o conjunto do edifcio. os materiais de construo devem ser escolhidos pelas suas qualidades higroscpicas. Existem cimentos especiais com forte capacidade de absoro de humidade. O tijolo tambm um material muito isolante.

    Zonas altamente ssmicas

    Nas zonas expostas a graves riscos de tremores de terra, as construes de depsitos de arquivos e de bibliotecas devem obrigatoriamente estar em conformidade com asnormas anti-ssmicas; estrutura de beto armado de muita boa qualidade, prumos horizontais e verticais, lajes reforadas e juntas que assegurem a coeso entre as difere

    ntes partes do edifcio, limitao do alcance das vigas e tectos entre os suportes verticais. Recomenda-se que, nestas zonas, no se construam os depsitos de arquivos ebibliotecas em altura, mas que se construam edifcios que no ultrapassem dois ou trsandares.

    Zonas de ciclone

    Nas zonas expostas aos ciclones tropicais, os edifcios devem ser cobertos de lajes de beto anticiclones, e todas as aberturas (portas e janelas) devem estar munidas de dispositivos de fecho impermevel para impedir a infiltrao das guas da chuva. construo sobre estacaria particularmente recomendada. As armaes dos telhados devestar ancoradas sobre as paredes para evitar que o vento as levante.

    Proteco contra os ventos dominantes e a chuva

    Para proteger os edifcios contra a humidade, os chuviscos das ondas, a poeira oua areia que os ventos dominantes transportam (de acordo com o pas) evitar-se- colocar janelas nas paredes do lado donde estes ventos sopram. Tanto quanto possvel,escolher-se-o terrenos abrigados, principalmente junto ao mar, pelo perigo que oar salgado representa para os documentos de arquivos e livros.As aberturas sero protegidas por cortinas e estores. Nos pases sujeitos a precipitaes violentas, as armaes dos telhados devem ter grande declive, com um rebordo sufiiente para evitar o jorro de guas nas paredes. Como se trata muitas vezes tambm de

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    zonas de ciclones, observar-se- as regras anticiclnicas que dizem respeito s armade telhado sobre as paredes.O escoamento de guas da chuva deve ser assegurado por numerosos tubos de queda, de que se cuidar evitar a obstruo.Deve reservar-se um espao de arejamento entre o telhado e o tecto do nvel superiordo edifcio. Todos os materiais de construo e de revestimento sero especialmente esolhidos em funo da sua impermeabilidade e da sua resistncia humidade.

    Edifcios superfcie ou edifcios subterrneos?

    Desde h longo tempo, mantm-se a ideia de construir depsitos de arquivos e de bibliotecas subterrneos, para os proteger contra os riscos de exploso e incndio.Em particular, esta frmula de edifcios subterrneos considerada como a nica que gate uma segurana perfeita contra os riscos de guerra (nuclear ou convencional). por esta razo que o depsito de microfilmes da Sociedade Genealgica de Salt Lake City(Utah, Estados Unidos da Amrica) ocupa galerias subterrneas nas Montanhas Rochosas. exacto que a proteco contra os riscos de guerra assim garantida ao mximo, mas deconsiderar-se outros inconvenientes, que dizem respeito aos riscos de infiltrao de gua nas paredes rochosas e circulao do ar. Quando o edifcio subterrneo feitoha, no ventre da montanha ou no solo de uma plancie, devem ser asseguradas uma climatizao e uma ventilao perfeitas, na falta das quais a atmosfera do subterrneo serna hmida e estagnada, o que provoca o desenvolvimento de fungos.Se o terreno hmido e movedio, particularmente indispensvel isolar a parte subter

    por meio de um revestimento de proteco contra a aco das guas em beto hidrfugo. das estantes carregadas de documentos pe ento um problema para o equilbrio deste revestimento, o qual necessrio fazer assentar sobre pilares rgidos enterrados at ra.Estes processos de construo so dispendiosos e a manuteno dos sistemas de climatizae ventilao delicada, sobretudo nos pases fracamente industrializados. Por todas esas razes, a construo de depsitos subterrneos no recomendvel, como regra geraljustifica: para conservar documentos excepcionalmente preciosos; para economizara superfcie do terreno (no corao das cidades, por exemplo); para conservar os documentos nas zonas de alto risco em tempo de guerra (proximidade de objectivos militares, por exemplo).

    Materiais de construo

    Os materiais escolhidos para a construo de edifcios de arquivos e de bibliotecas devem garantir a proteco mxima dos documentos e dos livros contra o fogo, a humidade,o frio, o calor, a secura.Devem ento ser incombustveis e conformes s normas de segurana para a resistncia aogo, e oferecer tambm o melhor isolamento trmico e higromtrico, tanto para as paredes como para as armaes dos telhados.As paredes envidraadas ainda que tratadas com filtros de raios solares so de banircompletamente. Seria em vo procurar garantir uma boa climatizao de depsitos se as aredes e as armaes dos telhados deixarem passar o calor, o frio e a humidade do exterior. (Cada zona climtica tem as suas prprias exigncias em matria de construo, ossvel desenvolver este assunto no quadro restrito do presente manual.)

    Altura dos edifcios

    Nas grandes cidades, onde o terreno muitssimo caro, tem-se muitas vezes tendncia de elevar os edifcios de arquivos e bibliotecas at s grandes alturas (80 metros paraos Archives de la Seine-Maritime em Rouo, Frana).Do ponto de vista da segurana, esta frmula no condenvel, na condio de que as liicais (escadas, ascensores, escadas de salvao) estejam conformes s normas em vigorpara os imveis de grande altura. Por outro lado, do ponto de vista da comodidadede utilizao, evita os longos trajectos interiores que implica, para um edifcio de grandes dimenses, a disposio habitual em comprimento.

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    Todavia, quando se constri em altura, o custo das fundaes e da estrutura do edifciomuito mais elevado. Alm do mais, esta frmula de rejeitar nas zonas de forte tendnca ssmica, em razo dos riscos de desmoronamento por motivo de tremores de terra.

    Plano de conjunto dos edifcios

    Um edifcio de arquivos ou de biblioteca no compreende somente locais destinados conservao dos documentos e dos livros (depsitos), compreende tambm locais de trabalhoreservados ao pessoal (salas de classificao e de catalogao, oficinas de encadernae restauro, gabinetes de administrao, etc.) e ao pblico (salas de leitura, salas deexposies e de conferncias, etc.)Ora as caractersticas arquitecturais e climatolgicas destas duas categorias de locais - depsitos e lugares de trabalho - so totalmente diferentes. , pois, necessrio arantir a sua coexistncia e ao mesmo tempo a sua especificidade no interior de ummesmo conjunto arquitectural.A separao entre os locais de trabalho e os depsitos pode ser realizada pela sua justaposio horizontal: de um lado o "bloco depsito", do outro os locais de trabalho, separados quer por um espao vazio com uma galeria de circulao, quer por uma parede corta-fogo. (Uma parede corta-fogo uma parede de uma espessura de pelo menos 30 cm em alvenaria, 22 cm em tijolo ou 18 cm em beto armado, e cujas aberturas tm umasuperfcie inferior a 9 m e so munidas de portas em materiais incombustveis com alisres em materiais resistentes ao fogo.)Nos outros casos, os locais de trabalho so colocados por baixo dos depsitos, mas os arquitectos contemporneos tm cada vez mais tendncia a coloc-los por cima destes,

    sto , no cimo dos edifcios. Esta disposio tem a dupla vantagem de situar muito em cma a parte mais leve do edifcio (gabinetes) e garantir aos locais de trabalho umalocalizao mais agradvel, longe da circulao automvel e do barulho da rua.Em todas as circunstncias, os locais de trabalho devem dispor de uma circulao vertical (escadas e ascensores) independente da dos depsitos e das sadas de emergncia conformes s normas de segurana.

    Normas Dimensionais, Estrutura, Estantes

    Normas dimensionais

    Os locais de trabalho dos servios de arquivos ou de biblioteca no apresentam nenhuma caracterstica arquitectural diferente da dos locais administrativos em geral.

    A altura sob o tecto est conforme s normas habituais (geralmente de 3 m a 3,50 m): desejvel uma maior altura para as salas de leitura, de exposio e de conferncias tinadas a receber um pblico numeroso.Em compensao, os depsitos dos arquivos e das bibliotecas so estritamente normalizads em funo das necessidades da conservao e da segurana dos documentos e dos livros altura das estantes est limitada a 2,20 m para permitir o acesso s prateleiras superiores, sem recurso a escadote.(Por esta razo, os andares dos depsitos dos arquivos e das bibliotecas so em geral reduzidos a um p direito de 2,30 ou 2,40 m deixando precisamente o espao necessrio, por cima das estantes para a passagem das condutas de ventilao e de climatizao, e dos cabos elctricos.) A largura dos corredorescirculao entre as fileiras paralelas de estantes est fixada em 0,80 m. Com as estantes de 2,20 m de altura e os corredores de circulao de 0,80 m de largura, a capacidade de uma sala de 170 m em mdia de 1000 m de estantes.

    As estantes e a estrutura do edifcio

    Em geral, nos edifcios dos arquivos e das bibliotecas modernas as estantes so metlicas. (A norma mais corrente a folha de ao de 1 mm de espessura tratada contra a ferrugem e revestida de pintura de esmalte cozida ao forno.) As estantes de madeira, correntes nos edifcios antigos, foram durante muito tempo proibidas devido s suas propriedades inflamveis e sua vulnerabilidade aos insectos. Entretanto, as tcnicas modernas permitem torn-las praticamente incombustveis recorrendo a um tratamento dito de "ignifugao" sendo tambm tratadas com produtos insecticidas. Mediante es

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    ta dupla precauo, tm a vantagem de evitar a condensao sendo um factor aprecivel dulao higromtrica.A fim de permitir a deslocao das prateleiras em altura, os prumos verticais das estantes devem estar munidos de orifcios (entalhes) ou de cremalheiras, onde assentam as prateleiras ou os suportes que sustm as prateleiras. Os sistemas de suspensopor pernos e porcas de parafuso so de proibir devido sua falta de comodidade e aos riscos de rotura em que incorrem os livros e os documentos de arquivo.As estantes so quase sempre dispostas em fileiras paralelas sem direito, nem avesso. Para permitir uma boa circulao de ar, recomenda-se evitar as estantes com fundos chapeados; um simples sistema de barras metlicas prefervel.Devido ao peso dos documentos, cada prateleira de 1 m de comprimento deve suportar uma carga at 100 kg.

    Estantes autoportadoras

    Existe um sistema de estantes cujas peas metlicas verticais suportam ao mesmo tempo as passadeiras de circulao sobre os vrios nveis; estas so as estantes "autoportaas". Este sistema tem a vantagem de ser pouco dispendioso e de construo rpida, masos servios de segurana so-lhe hostis devido aos riscos de desmoronamento da estrutura metlica em caso de incndio. Por isso, h mais de uma dezena de anos, na maior parte dos pases, o sistema autoportador no est autorizado, seno para uma pequena altur(dois ou trs nveis no mximo). Deve ser absolutamente proibido nas zonas de alto risco de tremores de terra.A estrutura habitual dos depsitos dos arquivos ou das bibliotecas , portanto, a es

    trutura em barrotes de madeira e vigas de beto armado. Devido ao peso das estantes e dos documentos, os soalhos devem poder suportar uma carga de 1000 kg/m.

    Estantes mveis

    Finalmente, preciso assinalar a existncia do sistema de estantes "mveis" ( Diz-setambm estantes densas ou compactas) armadas sobre carris no solo ou suspensas decarris areos, ou ainda girando sobre eixos que permitem economizar a superfcie dosdepsitos colocando as fileiras das estantes umas contra as outras.Contudo, estes sistemas tm inconvenientes:

    * So muito caros (aproximadamente duas vezes mais caros que as estantes tradicionais no-mveis);

    * Fazem com que o cho tenha de suportar o dobro da carga das estantes no-mveis (at2000 kg/m);* So bastante frgeis e requerem ser manobradas com o maior cuidado;* Se so movidas por um motor elctrico ou pneumtico, a manuteno deste motor bastaelicada;* Quase no deixam circular o ar no interior entre as fileiras das estantes.

    Por todas estas razes, as estantes mveis so desaconselhadas nos pases fracamente inustrializados e nas zonas de clima quente e hmido, onde a ventilao das estantes esencial.Em contrapartida, oferecem uma boa proteco contra o fogo devido sua compacidade.

    Utilizao de Edifcios Antigos

    Nem sempre possvel, seno por razes econmicas, construir um edifcio novo especialdestinado conservao dos documentos de arquivo e dos livros. Muitas vezes -se obriado a utilizar todo ou parte de um edifcio j existente e concebido, na origem, para outros fins.Em casos semelhantes, as normas acima enunciadas a propsito do local permanecem vlidas; preciso evitar utilizar edifcios situados junto de uma vizinhana perigosa ousobre um terreno inundvel ou resvaladio.Do mesmo modo, as regras de segurana relativas aos incndios devem ser respeitadas:paredes corta-fogo, materiais incombustveis.

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    A principal dificuldade, quando se trata de adaptar um edifcio antigo s necessidades de conservao dos livros e dos documentos de arquivo, reside na carga que os soalhos podem suportar (peso de 1000 kg/m). Raros so os edifcios que no seu estado deorigem tm sobrados suficientemente slidos para uma tal carga. Portanto, quase sempre necessrio reforar os sobrados por meio de vigas metlicas especiais, ou melhor ainda, de os demolir e de os substituir por sobrados em beto armado capazes de suportar o peso das estantes carregadas. A esta ltima operao (que apenas conserva do edifcio original as paredes mestras) chama-se curetage. (Curetagem, termo empregadona cirurgia. uma operao que consiste em remover com uma cureta corpos estranhos eprodutos de deteriorao. (N. T.)). tecnicamente possvel, mas em geral bastante disendiosa; por isso, est sobretudo reservada aos edifcios de certo interesse arquitectnico dos quais se pretende conservar a fachada sacrificando o interior.Contudo, alguns edifcios prestam-se facilmente sua transformao em depsitos de arqos ou de bibliotecas: o caso dos edifcios que apresentam um grande volume interior, desprovido de paredes e de andares, por exemplo as igrejas e as capelas, os entrepostos industriais ou comerciais, as entradas das fbricas, os mercados cobertos. Em casos semelhantes constri-se uma estrutura de beto armado no interior do edifcio existente (ou uma estrutura metlica de estantes autoportadoras se a altura noultrapassar 6 ou 7 metros) e age-se em seguida como se se tratasse de um edifcionovo,Pode, tambm, utilizar-se sem dificuldades os edifcios industriais ou comerciais concebidos desde a origem, para suportar grandes cargas como o antigo Mercado Central de Buenos Aires, onde est em estudo a instalao dos Arquivos Nacionais da Repblia Argentina.

    Em compensao, preciso evitar os edifcios que possuem numerosas paredes interiores ue impedem de realizar uma implantao racional das estantes, a menos que no se utilizem estas pequenas salas seno para fazer as "clulas" prova de fogo (como, por exemplo, nos novos arquivos nacionais do Mxico, antiga priso central do Mxico). Neste caso a ventilao que constitui a principal dificuldade.

    Proteco Contra a Luz

    Princpios gerais

    Os efeitos nocivos da luz sobre os documentos foram assinalados mais acima, no captulo intitulado: "Agentes de deteriorao". Para os evitar, a composio espectral minao dos raios ultravioletas e reduo mxima dos infravermelhos) ser tomada em con

    ao, depois da reduo da intensidade da iluminao e da durao da exposio dos docuproblema pe-se evidentemente de maneira diferente nos depsitos de conservao e nas alas de leitura e de exposies.

    Proteco contra a luz natural

    Os depsitosPara proteger os documentos contra a luz solar nos depsitos, construram-se, desdeh muito, edifcios cujas reas ocupadas por janelas so reduzidas, ou que so mesmo inramente desprovidos de janelas.Esta ltima soluo apresenta, todavia, inconvenientes reais porque obriga a utilizarpermanentemente a luz elctrica nos depsitos (o que representa uma fonte de despesas e de consumo de energia).

    Os depsitos sem luz natural devem estar, obrigatoriamente, munidos pelo menos deum sistema de ventilao artificial, para evitar a estagnao do ar, que favorece o desnvolvimento de fungos; exigem, quase sistematicamente, ar condicionado, a fim demanter as condies adequadas de temperatura e de higrometria (sobre este ponto remetemos para o que foi dito a propsito das construes subterrneas).De preferncia a suprimir completamente as superfcies envidraadas , pois, convenientreduzi-las. Nos pases moderadamente soalheiros, a melhor soluo consiste em evitaras janelas nas fachadas dos depsitos expostas a sul (no hemisfrio Norte) ou a norte (no hemisfrio Sul); as superfcies envidraadas no devem ultrapassar 1/10 das fachaas expostas a leste e a oeste e 3/10 das fachadas expostas a norte (hemisfrio Nor

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    te) ou a sul (hemisfrio Sul). Nos pases muito soalheiros, onde os raios ultravioletas so particularmente nocivos, estas propores devem ser reduzidas para metade.As superfcies envidraadas devem tambm, se ultrapassarem as dimenses acima indicadasestar munidas de dispositivos de proteco contra a exposio directa aos raios solare: telheiros, claustros, guarda-sis.Quando se utiliza um edifcio antigo cujas superfcies envidraadas so demasiado grands, necessrio ocultar a maior parte das aberturas com postigos metlicos ou com cortinas opacas, ou melhor ainda, com paredes de alvenaria ou com painis de fibro-cimento.Para diminuir os raios ultravioletas e infravermelhos, pode-se equipar as janelas com vidros filtrantes ou com filtros (estes filtros oferecem, no entanto, umadurao limitada. (N. T.)), comercializados sob diferentes formas. Os vidros tratados so, contudo, mais caros e do resultados variveis consoante as marcas.Quaisquer que sejam as precaues tomadas para limitar a entrada da luz solar nos depsitos dos arquivos e das bibliotecas, estas medidas devem ser completadas pela proteco individual dos documentos de arquivo (postos em mao e em pastas) e pela disposio das estantes, que devem ser perpendiculares s superfcies envidraadas, de maneque os raios solares nunca batam directamente nos documentos.As superfcies envidraadas, quaisquer que sejam as suas dimenses, devem igualmente ser protegidas contra os riscos de quebra e de arrombamento: barras ou grades serocolocadas no rs-do-cho e nos andares inferiores.

    Os locais de trabalho e de exposio

    No se trata de suprimir totalmente a luz do dia nos locais de trabalho e de leitura. Contudo preciso evitar a exposio directa aos raios solares, por meio de estores, cortinas, etc., colocadas no exterior para eliminar o efeito de estufa.Em compensao, as salas de exposio podem ser concebidas sem iluminao natural, o qu, alm disso, a vantagem de criar mais espao nas paredes. No caso das salas de exposio munidas de janelas, estas devem ser cuidadosamente tapadas durante as exposiesO tempo de exposio dos documentos deve ser limitado ao mnimo, porque est provado quos prejuzos causados aos documentos so os mesmos, quer para uma curta exposio a umfonte luminosa de forte intensidade, quer para uma longa exposio a uma fonte luminosa de baixa intensidade. Ter, portanto, interesse em praticar-se uma rotao dos documentos por ocasio das exposies de longa durao e em voltar regularmente as pginalivros e manuscritos expostos.

    Proteco contra a luz artificial

    Tudo o que segue aplica-se, particularmente, s salas de leitura e de exposio, ondeos livros e documentos esto mais expostos luz artificial.

    A composio espectral

    Os raios ultravioletas e infravermelhos, imperceptveis vista, no contribuem de modo nenhum para uma melhor visualizao do objecto. preciso, portanto, elimin-los. Todvia, necessrio manter uma boa restituio de cores, o que requer uma iluminao conttodos os comprimentos de onda de luz visvel.Se se precisar de recorrer s lmpadas incandescentes, utilizar-se-o filtros que eliminaro todos os infravermelhos.

    Para os tubos fluorescentes, usar-se-o tubos que contenham materiais luminescentes apropriados, que melhoram o espectro das cores favorecendo, especialmente, ascores quentes mais sensveis vista. Alm de que, ao aumentar a quantidade destes materiais luminescentes dispostos sobre a parede interna do tubo, eliminam-se, praticamente, todos os raios ultravioletas. As casas Philips e Mazda vendem tubos fluorescentes "de duas camas": tubos P27 e P37 para a Philips; Blanc-Confort CL, para a Mazda. As duas primeiras tm uma temperatura de cor de 2700 a 3700K e o terceiro de 2700K (As referncias actuais dos fabricantes citados j no so as indicadas hado equivalncia praticamente em todas as marcas. (N. T.)). Estes trs tubos no emitemmais ultravioletas do que as lmpadas incandescentes. Para um melhor resultado de

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    cores, dar-se- preferncia ao tubo cuja temperatura de cor for a mais elevada, ouseja o P37.Sobre os outros tubos, devem igualmente utilizar-se filtros em matria plstica contendo compostos orgnicos capazes de absorver os ultravioletas.

    A intensidade da iluminao

    Se a distribuio espectral muito importante, a intensidade luminosa qual as obras expostas deve, igualmente, ser cuidadosamente estudada. preciso que a iluminao seja suficiente para que o visitante possa ver bem estas obras, mas para isso no necessrio ilumin-las, porque se arrisca ento a deteriorar os documentos e a fatigar avista do visitante.Ficou estabelecido que uma iluminao de 150 lux aceitvel tanto para os objectos comns como para as encadernaes em pergaminho no decoradas, mas que para os objectos sensveis (aguarelas, pastis, documentos com iluminuras) preciso baixar o nvel da iluinao para os 50 lux. Este nvel de iluminao, que pode parecer a priori muito baixo,talmente suficiente na medida em que se ter preparado a vista dispondo entre o exterior e a sala de exposio um filtro em que o nvel de iluminao se situar volta a 150 lux.Portanto, primordial medir a iluminao de uma sala de exposio. Isso faz-se com um etro ou com um luxmetro, que no mede a energia directa, mas a que distinguida pelavista. Estes aparelhos devem ser suficientemente sensveis para permitir medir osnveis de iluminao inferiores a 50 lux., igualmente,