livro serio - controle de estímulos e comportamento operante. uma (nova) introdução

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série trffl>as Controle de estímulos e comportamento operante Uma (nova) introdução . T. M. Sério P. S. Gioia ©dUC M. A. Andery N. Micheletto

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Livro Serio - Controle de Estímulos e Comportamento Operante. Uma (Nova) Introdução

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  • srie trffl>as

    Controle de estmulos e comportamento operante

    Uma (nova) introduo. T. M. Srio P. S. Gioia

    d U C M. A. Andery N. Micheletto

  • CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    Uma (nova) introduo

  • T ereza Maria de A zevedo Pires Srio. Foi feito o depsito legal

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouva kfouri/PUC-SP

    Controle de estmulos e comportamento operante / Tereza Maria de Azevedo Pires Srio et al. - 3 ed. revisada, 1 reimpr. - So Paulo : EDUC, 2010.206 p.; 18 cm. - (Serie Trilhas)ISBN 978-85-283-0376-6

    1. Comportamento operante. 2. Comportamento humano. 3. Discriminao. 4. Estimulao sensorial. 5. Comportamento verbal. 6. Linguagem. 7. Conhecimento - Teoria. I. Srio, Tereza Maria de Azevedo Pires.

    CDD 121, 150, 152.1 153, 392,401

    I a edio: 2002 2a edio: 2004; Ia reim presso: 2003

    3a edio revisada: 2008

    EDUC - Editora da PUC-SP

    Direo Miguel Wady Chaia Produo Editorial

    Magali Oliveira Fernandes Preparao e Reviso

    Sonia Rangel Editorao Eletrnica

    de miolo e capa Waldir .Antonio Alves

    Capa Maril Dardot

    Secretrio Ronaldo Decicino

    e d u eRua Monte Alegre, 971 - sala 38CA

    05014-001 - So Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558

    E-mail: educ pucsp.br - Site: www.pucsp.br/educ

    http://www.pucsp.br/educ

  • SUMRIO

    OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAO............................................................ 7

    DISCRIMINAO E GENERALIZAO:ALGUMAS EXTENSES..................................................... 27

    Estudo experimental dos processos de discriminao e generalizao:alguns exemplos....................................................31Discriminao e generalizao:extenso e aplicao..............................................46

    DISCRIMINAO E GENERALIZAO:COMPORTAMENTO HUMANO COMPLEXO.....................57

    Percepo e ateno...............................................60Conhecimento, formao de conceitos e abstrao.............................................................. 74

    DISCRIMINAO CONDICIONAL................................... 871) Fase de teste..................................................... 1102) Fase de treino....................................................1143) Ps-teste............................................................ 115

    COMPORTAMENTO VERBAL......................................... 127Por que comportamento verbal?........................130A definio de comportamento verbal...............135Operantes verbais.................................................143Comportamento verbal secundrio................... 148A multideterminao do comportamento verbal..................................................................... 150

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    Reitor. Dirceu dc Mello

    EDUC - Editora da PUC-SP

    Conselho Editorial Ana Maria Rapassi

    Cibele Isaac Saad Rodrigues Dino Preti

    Dirceu de Mello (Presidente) Marcelo Figueiredo

    Maria do Carmo Guedes Maria Eliza Mazzilli Pereira Maura Pardini Bicudo Vras

    Onsimo de Olh eira Cardoso Thiago Lopes Matsushita

    Associao Brasileira das Editoras Universitrias

  • TEREZA MARIA DE AZEVEDO PIRES SRIO MARIA AMALIA AN DER Y

    PAULA SUZANA GIOIA NILZA MICHELETTO

    CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    Uma (nova) introduo

    3a edio - revisada

    e d u eSo Paulo

    2010

  • COMPORTAMENTO VERBAL E O CONTROLE DO COMPORTAMENTO HUMANO.............................. 153

    ROTEIROS DE LEITORA..................................................181Os conceitos de discriminaoe generalizao..................................................... 181Discriminao e generalizao:algumas extenses...............................................184Discriminao e generalizao:comportamento humano complexo..................188Discriminao condicional.................................192Comportamento verbal.......................................197Comportamento verbal e o controle do comportamento humano..............................200

    NOTA SOBRE AS AUTORAS.......................................... 205

  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAOTereza Maria de Azevedo Pires Srio Maria Amalia Andery Paula Suzana Gioia Nilza Micheletto

    Em 1938, B. F. Skinner publicou seu primeiro livro: The Behavior o f Organisms: An Experimental Analysis. Desde 1930, Skinner vinha realizando experimentos de laboratrio com sujeitos animais; quase todos os experimentos tinham como objetivo o estudo de relaes operantes. Em The Behavior o f Organisms: An Experimental Analysis, Skinner apresenta a sistematizao desses resultados experimentais, organizados a partir de um conjunto de conceitos; essa apresentao pode ser considerada como uma primeira verso do sistema explicativo construdo por ele e seus colaboradores.

    Nessaprimeiraverso.estavamjpresentes conceitos que so, at hoje, bsicos para anlise do comportamento, como, por exemplo, comportamento operante, reforamento, extino

  • 8 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    e conceitos relacionados com o que hoje denominado controle de estmulos do comportamento operante.

    O estudo do controle de estmulos constitui uma rea de pesquisa muito importante dentro da anlise experimental do comportamento. Essa rea de pesquisa vem se desenvolvendo bastante e tem produzido resultados promissores no que se refere compreenso de comportamentos humanos complexos, como o caso dos comportamentos envolvidos no conhecimento do mundo e de si prprio. As pesquisas sobre controle de estmulos tm produzido tambm resultados promissores com relao s possibilidades de atuao do analista do comportamento, por exemplo, na alfabetizao de crianas e adultos, no desenvolvimento de programas de ensino e no desenvolvimento de estratgias para lidar com os mais diversos tipos de distrbios de comportamento.

    Para iniciar nosso estudo dos conceitos envolvidos no controle de estmulos do comportamento operante, vamos recorrer ao livro The Behavior o f Organisms: An Experimental Analysis. Foi assim que Skinner apresentou a questo do controle de estmulos, em 1938:

    Uma conexo entre um operante e um estmulo reforador pode ser estabelecida independentemente de qualquer estimulao especfica que esteja agindo antes da resposta. (...) com aten-

  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAAO E GENERALIZAAO 9

    o constante, possvel reforar uma resposta (...) sob muitos conjuntos diferentes de foras estimuladoras e independentemente de qualquer conjunto especfico. Na natureza, entretanto, a contingncia de reforamento para uma dada resposta no mgica; o operante deve operar sobre a natureza para produzir seu reforamento. Embora a resposta seja livre para ocorrer em um nmero muito grande de situaes estimuladoras, ela ser efetiva na produo de reforamento somente em uma pequena parte delas. Usualmente, a situao favorvel marcada de alguma maneira e o organismo faz uma discriminao (...). Ele passa a responder sempre que estiver presente o estmulo que estava presente na ocasio do reforamento anterior e a no responder em outras situaes. O estmulo anterior (...) meramente estabelece a ocasio na qual a resposta ser reforada.Em um mundo no qual o organismo um ser isolado e errante, as necessidades mecnicas de reforamento requerem, alm da correlao da resposta e do reforamento, essa correlao adicional com a estimulao anterior. Portanto, trs termos devem ser considerados: um estmulo discriminativo anterior (SD), a resposta (R) e o estmulo reforador (S1). A relao entre eles pode ser afirmada como se segue: somente na presena de SD a R seguida por S'. Um exemplo conveniente o comportamento elementar de fazer contato com partes especficas do ambiente estimulador. Um certo movimento do meu brao (R) reforado pela estimulao ttil do lpis sobre minha escrivaninha (S1). O movimento no sempre reforado porque o

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  • 10 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    lpis no est sempre l. Em virtude da estimulao visual do lpis (Su), fao o movimento exigido apenas quando ele for reforado. (Skinner, 1966, pp. 177-178)

    Vamos examinar detalhadamente esse trecho de Skinner, verificando tudo que podemos aprender com ele.

    A descrio do comportamento operante envolve pelo menos duas relaes: a relao entre a resposta e sua conseqncia e a relao entre a resposta e os estmulos que a antecedem. Essas duas relaes so caractersticas de todo comportamento operante. Skinner (ibid.) afirma essa dupla relao como caracterstica do comportamento operante quando menciona que na natureza, a contingncia de reforamento no mgica, a resposta s opera no ambiente em determinadas situaes, em determinadas ocasies. Em outras palavras, uma resposta produzir reforo apenas na presena de determinados estmulos, ela no ser efetiva em outras situaes. Para Skinner (ibid.), essa relao da resposta operante com a estimulao que a antecede to caracterstica do comportamento operante que apenas em condies propositalmente arranjadas (com ateno constante, c possvel reforar uma resposta (...) sob muitos conjuntos diferentes de

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  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAO

    foras estimuladoras e independentemente de qualquer conjunto especfico) essa relao pode ser rompida, pode deixar de existir.

    Dizer que essa dupla relao caracterstica do comportamento operante supor que a sensibilidade aos estmulos que antecedem a resposta produto evolucionrio. Isto , a histria de cada uma das diferentes espcies (como voc deve lembrar, histria de variao e seleo) selecionou organismos com condies de responder aos estmulos que antecedem a emisso de uma resposta em funo das conseqncias dessa resposta na presena desses estmulos. isso que Skinner est dizendo quando afirma que em um mundo no qual o organismo um ser isolado e errante a produo do reforo por uma determinada resposta exige a emisso da resposta (correlao de resposta e reforamento), mas exige mais, exige tambm que a resposta seja emitida em determinada situao (correlao com estimulao anterior). F,m outros textos, Skinner enfatiza esse aspecto; por exemplo, em Science and Human Behavior' (1965), ele diz:

    Se todos os comportamentos tivessem a mesmaprobabilidade de ocorrncia em todas as ocasies, o resultado seria catico. A vantagem

    I Traduzido para o portugus com o ttulo Cincia e Comportamento Humano. So Paulo, Martins Fontes.

  • 12 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    de que uma resposta s ocorra quando tem certa probabilidade de ser reforada evidente, (p. 108)

    O estabelecimento do controle dos estmulos antecedentes sobre a emisso da resposta , por sua vez, produto de uma histria especfica de reforamento. Uma histria na qual a resposta foi seguida de reforo quando emitida na presena de determinados estmulos e no foi seguida de reforo quando emitida na presena de outros estmulos. Dito de outra forma, uma histria de reforamento diferencial (reforamento de algumas respostas e de outras no) tendo como critrio os estmulos na presena dos quais a resposta emitida (a produo de reforo para determinada resposta depende no simplesmente da emisso da resposta, mas tambm dos estmulos presentes quando a resposta emitida). Como resultados dessa histria: a) a resposta ser emitida dependendo dos estmulos presentes e b) a apresentao de determinados estmulos alterar a probabilidade de emisso da resposta.

    Isso significa que, se a histria de reforamento diferencial for conhecida, possvel prever quando a resposta ocorrer e, mais, possvel aumentar a probabilidade de ocorrncia de uma determinada resposta apresentando os estmulos antecedentes que a controlam.

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  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAO 13

    Chamamos de discriminao o controle de estmulos assim estabelecido. O estmulo que aumenta a probabilidade de a resposta ocorrer (portanto, o estmulo na presena do qual a resposta foi reforada) chamado de estmulo discriminativo (S1 ou S'). Os estmulos que diminuem a probabilidade de a resposta ocorrer (portanto, os estmulos na presena dos quais a resposta no foi seguida de reforo) so chamados de estmulos delta (S ou S'). Vamos utilizar, pelo menos nos textos introdutrios, a terminologia Sn e S\ embora alguns estudiosos da rea ressaltem que outra terminologia seria mais adequada. Como afirma Matos (1981),

    [...] como, na realidade, diferentes estmulos podem estar associados a diferentes probabilidades de reforamento, e no apenas a zero ou 100%, seria melhor dizer, simplesmente, estmulo discriminativo St, S2, S3 etc, para indicar essas diferenas, (p. 1)

    O processo de estabelecimento de uma discriminao envolve experincia com, pelo menos, uma classe de respostas e dois conjuntos de estmulos: aqueles que devero assumir uma funo de SD para essa classe de respostas e aqueles que devero assumir uma funo de S1 com relao a essa classe. No caso de estabe-

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    lecimento de discriminaes simples, h pelo menos dois procedimentos pelos quais os estmulos podem ser apresentados:

    1. Os estmulos Sn e S' podem ser apresentados em sucesso, um aps o outro. Na presena do SD, o responder seguido de reforo e, na presena do S\ o responder no reforado. Suponha, por exemplo, uma situao de labora- torio com sujeitos infra-humanos. Nesse caso, um pombo deve bicar um disco de plstico para produzir alimento. O disco pode ser iluminado ou no. Se o pombo bicar o disco quando ele est iluminado, tem acesso a alimento, se bicar o disco quando este est apagado, nada acontece. No caso de um procedimento de discriminao sucessiva, o disco ficaria iluminado por um certo perodo e ento seria desligado por um outro perodo. A exposio a intervalos sucessivos de apresentao desses estmulos, com reforamento diferencial da resposta de bicar, produz um responder discriminado: o pombo passa a bicar o disco quando este est iluminado e faz qualquer outra coisa quando este se apaga.

    2. Os estmulos SD e SA podem, em um procedimento que chamado de discriminao simultnea, ser apresentados ao mesmo tempo. No caso do nosso pombo, haveria dois discos presentes simultaneamente, um iluminado e um apagado, e o pombo teria acesso a

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  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAAO E GENERALIZAAO 15

    alimento apenas quando bicasse o disco iluminado. Tambm nesse caso, a experincia de ter o responder reforado diante de um estmulo (disco iluminado) e no reforado diante de outro (disco apagado) produz um responder discriminado.

    importante notar que, nos dois procedimentos descritos, outros aspectos do ambiente ocorrem junto (de maneira consistente) com o estmulo de nosso interesse: aqui, a luz iluminada/apagada. Esses aspectos podem ser aqueles que passam a controlar o responder e, portanto, em qualquer desses procedimentos, certos cuidados precisam ser tomados antes que se possa afirmar que o responder diferencial - do nosso pombo, por exemplo - est sob controle dos estmulos que foram deliberadamente manipulados, neste exemplo, a luz iluminada/apagada. No caso da discriminao sucessiva, um aspecto crtico o tempo de apresentao dos estmulos; no caso da discriminao simultnea, a posio dos estmulos que se torna uma dimenso crtica. Suponha que, no nosso exemplo de discriminao sucessiva, os perodos de luz acesa e luz apagada se alternem em perodos de 60 segundos. Nesse procedimento, o desempenho final do nosso pombo pode estar sob controle da passagem do tempo, ficando apenas aparentemente sob controle da luz iluminada/apagada. No caso de

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  • 16 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    um procedimento de discriminao simultnea, se o disco iluminado estiver sempre na mesma posio (por exemplo, esquerda do disco apagado), nosso pombo pode passar a responder sob controle da posio do estmulo. Por isso, no caso de uma discriminao sucessiva, a apresentao e/ou durao dos perodos de Su e S' deve variar e, no caso de uma discriminao simultnea, a posio em que os estmulos aparecem deve ser randomizada.

    Mesmo esse exemplo simples revela um aspecto importante. Chamamos de estmulo qualquer evento do mundo que afeta o comportamento. Um estmulo tem mltiplas dimenses (caractersticas, atributos, propriedades). A luz a que nos referimos, por exemplo, pode variar em relao a brilho, cor, intensidade, posio, tamanho, etc. Por isso, se h interesse em saber exatamente qual a propriedade do estmulo que exerce controle sobre uma resposta, precisamos recorrer a procedimentos que permitam manipular cada uma dessas propriedades.

    Afirmamos at aqui que, como resultado do procedimento de discriminao, simultnea ou sucessiva, o sujeito passa a responder diferencialmente a diferentes classes de estmulos: diante da classe de estmulos que chamamos SD, o responder ocorre; diante da classe de estmulos que chamamos SJ, o responder no ocorre. Entretanto, os resultados experimentais

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  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAO 17

    tm mostrado um aspecto bastante importante e curioso. Junto com o processo de discriminao, ocorre sempre o processo que chamamos de generalizao. Em Science ami Human Behavior, Skinner (1965) afirma:

    Uma vez que colocamos o comportamento sob o controle de um dado estmulo, freqentemente descobrimos que outros estmulos tambm so efetivos. Se um pombo foi condicionado a bicar um ponto vermelho na parede da cmara experimental, a resposta tambm ser evocada, ainda que no com a mesma freqncia, por um ponto laranja ou mesmo amarelo. A propriedade vermelho importante, mas no de maneira exclusiva. Pontos de tamanhos ou formas diferentes ou pontos colocados em fundos de cores diferentes tambm podem ser efetivos. Para avaliar a extenso total da mudana ocasionada pelo reforamento precisamos investigar os efeitos de um grande nmero de estmulos. A extenso do efeito a outros estmulos denomina-se generalizao (...). O processo sugere que a noo de um estmulo discreto to arbitrria quanto a de um operante discreto. (...) Se reforamos uma resposta a um ponto vermelho redondo de um centmetro quadrado de rea, um ponto amarelo da mesma forma ou tamanho ser efetivo em razo das propriedades comuns de tamanho e forma; um ponto quadrado vermelho com a mesma rea ser efetivo por causa de sua cor ou tamanho; e um ponto redondo vermelho de

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    meio centmetro quadrado de rea ser efetivo por causa das propriedades comuns de cor e forma. (p. 132)

    Assim, com base em um procedimento de discriminao, podemos identificar duas classes de estmulos que aumentam a probabilidade de ocorrncia de uma resposta: a classe de estmulos na presena da qual ocorreu o reforamento e a classe de estmulos que, a partir dessa experincia, efetivamente passa a controlar o responder. A extenso dessa ltima classe de estmulos no pode ser descoberta de antemo. Essa descoberta s ser feita na prtica, testando diante de que estmulos o responder ocorre.

    Recorrendo novamente a Science and Human Behavior (Skinner, ibid.):

    Ns verificamos a importncia de qualquer dimenso de um estmulo examinando o efeito de diferentes valores. Depois de construir uma forte tendncia para responder a um ponto vermelho, examinamos a taxa de respostas, durante a extino, a um ponto vermelho-ala- ranjado, laranja, amarelo-alaranjado, laranja- avermelhado e amarelo. Um experimento deste tipo produz um gradiente de generalizao (...). (p. 133)

    Um relato experimental auxiliar a compreenso de como vm sendo feitas, de uma

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  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAO 19

    maneira geral, as pesquisas sobre generalizao. Em um trabalho considerado clssico na rea, Jenkins e Harrison (1974) utilizaram oito pombos como sujeitos experimentais. Depois de modeladas, bicadas em um disco passaram a ser consequenciadas em intervalo varivel, com 4 segundos de acesso a alimento. Ento, os oito sujeitos experimentais foram divididos em dois grupos. Para um grupo (Grupo 1 ), formado por trs dos oito sujeitos, um tom de 1000 ciclos por segundos era apresentado 25 vezes por sesso e respostas de bicar o disco eram reforadas em esquema de intervalo varivel. Decorridos 33 segundos de apresentao do tom, este era desligado e a caixa era escurecida por 7 segundos, chamados pelos autores de intervalos de blackout, nessas condies, as respostas de bicar caracteristicamente no so emitidas. O outro grupo (Grupo 2), formado pelos cinco sujeitos restantes, foi submetido a um procedimento diferente: a cada sesso, tal como no grupo anterior, um tom de 1000 ciclos por segundo era apresentado 25 vezes por perodos de 33 segundos; respostas de bicar o disco na presena do tom eram reforadas em esquema de reforamento de intervalo varivel (esses perodos se caracterizavam, portanto, como perodos de S). Entretanto, diferentemente do grupo anterior, os perodos de tom eram intercalados com perodos de

  • 20 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    33 segundos, nos quais o tom estava ausente, mantendo-se a caixa iluminada; respostas de bicar nesses perodos no eram reforadas. O nmero de perodos de ausncia de tom variou, nas sesses, de 25 a 125 perodos (esses perodos se caracterizam, portanto, como perodos de S4). Os perodos de Sn e S4 se alternavam em uma seqncia aleatria. Para os dois grupos, concluda essa etapa do experimento, foi feito um teste de generalizao. Nesse teste foram apresentados 8 perodos de 33 segundos com tons de 300, 450, 670, 1000, 1500, 2250 e 3500 ciclos/segundo, alm de perodos sem nenhum som. A ordem de apresentao dos estmulos foi aleatria. Durante o teste, respostas de bicar foram registradas, mas no eram consequencia- das. Os resultados do teste so apresentados nas Figuras a seguir (Figura 1 e Figura 2), que mostram a porcentagem de respostas em cada um dos tons, para cada um dos sujeitos.

    As figuras ilustram dois aspectos do que foi discutido at aqui.

    Primeiro, que o reforamento diferencial do responder, considerando a presena/ausncia de um estmulo, fundamental para que se estabelea um controle de estmulos sobre o responder. A Figura 1 apresenta a porcentagem de respostas emitidas pelos trs sujeitos do Grupo 1 na presena dos diferentes tons

  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAAO E GENERALIZAAO 21

    apresentados, durante o teste de generalizao; notem que diferenas no tom no afetam o responder.

    301 I I I I------1-----1 IIr-o NO. 70

    ------------- 1------------- 1-------------- i-------------- !-------------- 1__________ I_____ |j_____ L -

    300 450 670 1000 1500 2250 3500 NO

    FREQNCIA EM CICLOS POR SEGUNDO TONO

    Figura I - Gradiente de generalizao realizado aps reforamento de respostas na presena do tom 1000 ciclos por segundos. Os gradientes individuais se baseiam nas mdias de vrios testes de generalizao Fonte: adaptado de Jenkins e Harrison ( 1974, p. 142).

    Segundo, que o efeito do reforamento se estende para alm dos estmulos diante dos quais houve reforamento. A Figura 2 apresenta a porcentagem de respostas emitidas pelos trcs sujeitos do Grupo 2 na presena dos diferentes tons apresentados durante o teste de generalizao; notem que o efeito do reforamento se estende para alm dos estmulos diante dos quais houve reforamento; a porcentagem de respostas maior na presena do tom em que houve reforamento (1000 ciclos por segundo), mas ocorre tambm na presena de outros tons, sendo com porcentagem maior

  • 22 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    nas faixas mais prximas da freqncia do tom que pode ser considerado como SD (1500 e 670 ciclos por segundo). A ausncia de tom (que pode ser considerado como S') , de maneira geral, a condio na qual um nmero menor de respostas foi emitido. A distribuio de respostas nos testes de generalizao chamada de gradiente de generalizao.

    Figura 2 - Gradiente de generalizao realizado aps procedimento de discriminao com um tom 1000 ciclos por segundos como SD e com ausncia de tom como SA. Os gradientes individuais se baseiam nas mdias de vrios testes de generalizaoFonte: adaptado de Jenkins e Harrison (1974, p. 142).

    Para finalizar este texto, dois comentrios so necessrios. Para fazer o primeiro comentrio, vamos voltar ao trecho de Skinner (1966) com o qual introduzimos os conceitos de discriminao e generalizao.

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  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAO E GENERALIZAO 23

    Um exemplo conveniente o comportamento elementar de fazer contato com partes especficas do ambiente estimulador. Um certo movimento do meu brao (R) reforado pela estimulao ttil do lpis sobre minha escrivaninha (S'). O movimento no sempre reforado porque o lpis no est sempre l. Em virtude da estimulao visual do lpis (Su), fao o movimento exigido apenas quando ele for reforado, (pp. 177-178)

    O fato de que mesmo comportamentos elementares envolvem discriminao tem uma implicao importante: todo comportamento operante, do mais simples ao mais complexo, produto de um processo que envolve experincias concretas dos indivduos com o mundo. Isso faz com que mesmo o comportamento que julgamos mais elementar seja resultado de um longo e muitas vezes rduo processo de interaes. A histria Ver e no ver, relatada por Oliver Sacks (1995), sobre o caso de um homem (chamado Virgil) praticamente cego desde a tenra infncia e que aos 50 anos passa por uma cirurgia ocular, recuperando a possibilidade de ver, ilustra muito bem este fato:

    Quando abrimos nossos olhos todas as manhs, damos de cara com o mundo que passamos a vida aprendendo a ver. O mundo no nos dado. Construmos nosso mundo atravs de experincia, classificao, memria e reconhecimento incessantes. Mas quando Virgil

  • 24 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    abriu os olhos (...) no havia mundo algum dc experincia e sentido esperando-o. (p. 129)

    0 segundo comentrio decorre deste. Se, com nossa experincia concreta no mundo, adquirimos comportamentos como, por exemplo, o comportamento de ver, adquirimos tambm, por assim dizer, um mundo: o que vemos no visto simplesmente porque est presente, mas por causa de nossa histria de interao com o mundo. O ver, o que visto e quando visto so construdos na nossa histria. Como afirma Matos (1992):

    Antecedentes do comportamento podem ser os sinais de trfego, o rosnar de um cachorro, a fisionomia espantada de algum, mas, principalmente, no caso humano, so instrues, regras, leis e normas, consistentemente aplicadas e con- seqenciadas. Algumas classes de antecedentes so comuns a grandes segmentos de um grupo social, outros so idiossincrticos tpicos de uma determinada pessoa ou animal. fcil entender por que a gama de antecedentes varia tanto de indivduo para indivduo, e at mesmo para um mesmo indivduo em diferentes estgios de seu desenvolvimento: exceto pelos antecedentes determinados pela sociedade (sinais de trfego, lei, etc.), os demais raramente so planejados e, menos ainda, consistente e generalizadamente implementados. Assim, cada indivduo acaba exposto, de modo diferente, a diferentes antecedentes e conseqentes, (p. 147)

  • OS CONCEITOS DE DISCRIMINAAO E GENERALIZAAO 25

    Referncias bibliogrficasJENKINS, H. M. e HARRISON, R. H. (1974).

    Efecto del entrenamiento en discrimination sobre la generalization auditiva. In: CATANIA, A. C. (1974). Investigation Contempornea en Conducta Operante. Mxico, Trillas (Publicao original 1960).

    MAIOS, M. A. (1981). O controle de estmulo sobre o comportamento. Psicologia, n. 7, pp. 1-15.

    ____ (1992). Anlise de contingncias noaprender e no ensinar. In: ALENCAR, E. S. (org.). Novas Contribuies da Psicologia aos Processos de Ensino e Aprendizagem. So Paulo, Cortez.

    SACKS, O. (1995). Ver e no ver. In: SACKS, O. Um Antroplogo em Marte. So Paulo, Companhia das Letras.

    SKINNER, B. F. (1965). Science and Human Behavior. New York, The Free Press (Publicao original 1953).

    ____ (1966). Behavior o f Organisms: AnExperimental Analysis. New York, Appleton-Century-Crofts (Publicao original 1938).

  • DISCRIMINAO E GENERALIZAO: ALGUMAS EXTENSESTereza Maria de Azevedo Pires Srio Maria Amalia Andery Nilza Micheletto Paula Suzana Gioia

    Discriminao e generalizao so dois dos processos bsicos envolvidos no controle de estmulos do comportamento operante. A descrio do comportamento e, principalmente, do comportamento humano utilizando os conceitos de discriminao e generalizao no foi (e no ) uma tarefa simples. Muito trabalho experimental foi necessrio para que uma compreenso inicial dos dois processos fosse possvel; muito trabalho experimental continua sendo realizado e muito ainda parece ser necessrio para que possamos compreender todas as facetas, todas as sutilezas envolvidas nos processos de discriminao e generalizao. Alm disso, envolver-se no estudo desses processos e utiliz-los na descrio do comportamento parece acarretar mudanas em algumas crenas bastante difundidas e arraigadas sobre a relao organismo-ambiente.

  • 28 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    Dois exemplos podem ilustrar as mudanas exigidas; um envolve a noo de resposta e outro, a noo de ambiente.

    Ao relatar o resultado dos processos de discriminao e generalizao, comum que se diga que algum discrimina ou que algum generaliza. Esse modo de dizer sugere, nos dois casos, que alguma atividade diferente est sendo realizada e que a palavra discriminao ou a palavra generalizao descrevem tal atividade. Entretanto, no isso que acontece; discriminao e generalizao no descrevem respostas de um tipo especial ou diferente. Skinner (1965) bastante claro com relao a isso:

    [...] generalizao no uma atividade do organismo; simplesmente um termo que descrev e o fato de que o controle adquirido por um estmulo compartilhado por outros estmulos com propriedades comuns ou, colocado de outro modo, que o controle compartilhado por todas as propriedades do estmulo consideradas separadamente. (...) a discriminao (...) tambm no uma forma de ao por parte do organismo, (p. 134)

    Discriminao e generalizao descrevem relaes de controle. So termos que descrevem o fato de que uma determinada classe de respostas est sob controle de uma classe de estmulos. A distino importante porque a

    Maria FernandaRealce

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  • DISCRIMINAAO E GENERALIZAAO: ALGUMAS EXTENSES 29

    primeira forma de entender (discriminao e generalizao como tipos de atividade do organismo) faz com que nosso olhar, no momento da descrio (e da atuao, da interveno dirigida por tal descrio), esteja voltado apenas para mudanas no organismo; na segunda forma de entender (discriminao e generalizao como relaes de controle), nosso olhar estar dirigido, desde o imcio da descrio, para a relao do organismo com o ambiente. Continuando o trecho citado, Skinner (ibid.) exemplifica:

    Aqueles que trabalham com pigmentos, tinturas e outros materiais coloridos so afetados por contingncias nas quais pequenas diferenas na cor fazem grande diferena nas conseqncias do comportamento. Dizemos que eles se tornam altamente discriminativos com relao cor. Mas seu comportamento mostra apenas processos de condicionamento e extino. (p. 134)

    Talvez, uma implicao mais difcil de aceitar seja a que se relaciona com a noo de ambiente. bastante difundida a noo de que o ambiente se impe ao organismo e que as caractersticas do ambiente se refletem no organismo tal qual so; pode-se dizer que a relao organismo-ambiente vasta como se o organismo fosse uma mquina fotogrfica na qual os estmulos se imprimem. Os conceitos

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    de discriminao e generalizao sugerem uma outra concepo. Keller e Schoenfeld abordam essa mudana de concepo j no livro Principles o f Psychology (1950), o primeiro livro introdutrio aos conceitos da anlise experimental do comportamento publicado:

    Os filsofos ingleses dos sculos XVII e XVIII entatizaram duas leis por meio das quais as "idias" eram associadas: contiguidade e sem elhana. A influncia destes filsofos ainda clara em nossa fala cotidiana, como quando dizemos que uma idia puxa a outra por causa de sua semelhana ou porque elas foram associadas no tempo ou lugar; mas uma psicologia objetiva moderna no considera o conceito de associaes de idias muito til. Entretanto, consideramos que a contiguidade (...) de estmulo e resposta essencial (...) para a discriminao operante. Podemos dar um significado objetivo tambm para a semelhana?Se voc refletir sobre a questo, ver que semelhana e generalizao so a mesma coisa. No cotidiano, falamos como se estmulos pudessem ser semelhantes em si mesmos, mas na realidade sua semelhana depende de nosso prprio comportamento; eles so semelhantes quando, e somente quando, respondemos da mesma forma a eles. A semelhana no reside nos estmulos, assim como no reside nas idias. verdade que estmulos podem ter propriedades fsicas comuns e, em um sentido fsico, so, portanto, semelhantes". Mas, quando as

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    pessoas dizem que as coisas so semelhantes, elas querem dizer que tendem a reagir a elas da mesma maneira. Elas esto, na realidade, relatando esta tendncia com as palaxras elas so semelhantes". Isto bastante diferente da semelhana fsica que freqentemente, embora no necessariamente, est presente quando as respostas so similares, (pp. 123-124)

    A despeito das dificuldades contidas nessas mudanas, ou talvez exatamente por causa delas, pelo desafio que representam, muitos pesquisadores se envolveram e esto envolvidos no estudo experimental dos processos de discriminao e generalizao. A seguir, alguns experimentos importantes sobre esses processos so apresentados de forma resumida.

    Estudo experimental dos processos de discriminao e generalizao: alguns exemplos

    Um primeiro aspecto que pode ser destacado sobre a discriminao que o controle de estmulos estabelecido no precisa ficar restrito a um responder diferencial caracterizado pela ocorrncia/no ocorrncia da resposta, de acordo o estmulo presente. Podemos colocar a freqncia e o padro de respostas sob controle de estmulos, de forma que uma

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    mesma resposta ocorrer com freqncia e distribuio diferentes, dependendo do estmulo presente.

    O experimento realizado por Guttman (1974) ilustra bem esse aspecto. Guttman trabalhou com sete pombos como sujeitos experimentais e com dois estmulos: uma luz de 550mn e uma luz de 570m|i. Na presena da luz de 550mj.i (que iluminava um disco), os pombos eram reforados a bicar o disco em um esquema de reforamento VI 1 minuto (intervalo varivel de 1 minuto, isto , uma resposta era reforada, em mdia, a cada 1 minuto); na presena da luz de 570mn, bicar o disco era reforado em um esquema de reforamento VI 5 minutos. Um perodo de apresentao de cada um dos estmulos tinha a durao de cinco minutos, sendo que a cada minuto a caixa experimental era escurecida por um perodo de 10 segundos. Cada sesso experimental era composta de quatro perodos de cinco minutos, com alternao dos dois estmulos; a ordem de apresentao variava de sesso para sesso. Foram realizadas 12 sesses de treino discriminativo. Depois dessas sesses, foi feita uma sesso de teste de generalizao. Nessa sesso, foram apresentados, em ordem randmica, dez estmulos diferentes (510, 520, 530, 540, 550, 555, 560, 570, 580, 590mp); cada estmulo foi apresentado 12 vezes; cada apresentao tinha

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    a durao de 30 segundos e era separada da seguinte por um perodo de 10 segundos de escuro.

    As figuras apresentadas a seguir foram reproduzidas de Guttman (ibid.). A Figura 1 apresenta os resultados do treino discriminativo; encontramos nessa figura duas curvas, uma para as respostas emitidas nos perodos de luz de 570m^i, e outra para as respostas emitidas nos perodos de 550mn; nessa curva, duas informaes so oferecidas: a mdia de respostas nas diferentes sesses e a porcentagem de respostas. Como pode ser visto na Figura 1, os estmulos controlaram diferentes freqncias de respostas: na presena do estmulo correlacionado com VI 1 minuto, a freqncia de respostas maior e aumenta medida que o treino prossegue; na presena do estmulo correlacionado com VI 5 minutos, a freqncia menor e tende a ser mais estvel. O que esperar do teste de generalizao? A Figura 2 apresenta os resultados do teste de generalizao; nessa figura encontramos tambm duas curvas, uma com os resultados do teste de generalizao realizado no experimento de Guttman (ibid.) e a outra para o teste de generalizao realizado em outro experimento (Hanson, 1959), no qualo teste de generalizao foi realizado aps um treino discriminativo em que, na presena de uma luz de 550mn, respostas eram reforadas

  • 34 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    em intervalo varivel 1 minuto e, na presena de uma luz de 570mn, diferentemente do que ocorreu no experimento de Guttman (1974), respostas no eram reforadas. Como pode ser visto na Figura 2, o pico da curva de generalizao ocorre prximo luz de 550m|.i e o nmero de respostas baixo na presena da luz de 570mn; isso pode estar indicando que a generalizao sofre influncia das diferentes probabilidades de reforamento relacionadas com os diferentes estmulos, presentes na histria de treino discriminativo dos sujeitos (uma resposta tem maior probabilidade de ser reforada em um esquema de reforamento VI1 minuto do que em um VI 5 minutos). A comparao da curva de generalizao com a curva obtida no outro experimento (Hanson, 1959), no qual, na presena da luz de 570m|i, esteve em vigor um procedimento de extino, parece confirmar essa sugesto.

    Outro aspecto que pode ser considerado para que os processos de discriminao e generalizao sejam compreendidos em toda sua complexidade refere-se s caractersticas dos estmulos envolvidos. Em geral, os estmulos utilizados nos experimentos so eventos simples, discretos, com poucas propriedades relevantes envolvidas. Entretanto, isso no precisa ser assim. O experimento realizado por Reynolds (1961) pode ilustrar esse aspecto.

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    Figura I - Curvas de aquisio da resposta de bicar em disco na presena de dois estmulos correlacionados com diferentes esquemas de reforamento Fonte: adaptado de Guttman ( 1974, p. 147).

    Figura 2 - Gradiente de generalizao de estmulos aps esquema de discriminao [VI I minuto na presena de 550 m/v e VI 5 minutos na presena de 570m/j] e discriminao sucessiva [VI I minuto na presena de 550m/J e extino na presena de 570m/j]Fonte: adaptado de Guttman (1974, p. 148).

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    Reynolds (ibid.) trabalhou com quatro pombos como sujeitos experimentais; a resposta, tal como no experimento anterior, foi a de bicar um disco iluminado e o estmulo reforador foi 3 segundos de acesso a alimento, em um esquema de reforamento VI 90 s. assim que Reynolds (ibid.) descreve os estmulos envolvidos no experimento:

    O contnuo do estmulo foi a orientao espacial do pice cie um tringulo. Um tringulo isosceles preto, de 1,37 cm de altura e 0,68 cm de base foi montado sobre um fundo branco de 1,37 cm, atrs do disco transparente. Esse tringulo e o fundo foram ligados a um motor que vagarosa mas continuamente girava no sentido do relgio a uma velocidade um pouco menor que 0,19 graus por segundo (mais ou menos duas vezes a velocidade do ponteiro do minuto de um relgio). A rotao do tringulo ocorria em um plano perpendicular linha de viso do pombo e em torno de um eixo no centro geomtrico do tringulo. (...) Cada 36 graus de rotao foi chamado de um decant e os decants foram numerados para referncia. O primeiro decant do pice, na rotao no sentido do relgio, apontando para cima, foi chamado de 1, e nmeros sucessivos foram atribudos s rotaes sucessivas de 36 graus. (p. 289)

    A Figura 3 apresentada para ilustrar a descrio de Reynolds (ibid.) dos estmulos envohidos no experimento.

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    I 109A

    Figura 3 - As 10 posies do tringulo quando ele se encontrava no meio de cada um dos 10 decants; os nmeros indicam a ordenao atribuda a cada decant Fonte: adaptado de Reynolds ( 1961, p. 289).

    O mesmo equipamento que controlav a os estmulos tambm registrava as respostas e controlava a liberao do reforo. As sesses experimentais foram realizadas diariamente e sua durao dependeu da fase experimental em vigor. Podem ser destacadas as seguintes fases experimentais: a) instalao da resposta de bicar o disco e manuteno em VI 90 segundos, independentemente da posio do tringulo; b) treino discriminativo 1: por 42 sesses, as respostas foram reforadas apenas quando emitidas diante de duas posies do tringulo (decants 1 e 10); essas sesses duravam o tempo

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    necessrio para que o tringulo completasse duas voltas inteiras e a cada sesso variava a posio inicial do tringulo; c) treino discriminativo 2: por 14 sesses, o mesmo procedimento para reforamento das respostas esteve em vigor; entretanto, nessas sesses, perodos de escuro foram introduzidos, de forma que, durante partes do percurso do tringulo (1, 2 ou 3 decants), o disco era escurecido; o total de perodos escuros equivalia a uma volta do tringulo, assim as sesses duravam o tempo necessrio para que o tringulo completasse trs voltas; d) treino discriminativo 3: durante 43 sesses, com o mesmo procedimento de apresentao dos estmulos, o critrio de reforamento foi invertido: foram reforadas, em VI 90 segundos, respostas diante de todos os decants exceto os decants 1 e 10; nestes, agora, estava em vigor o procedimento de extino; e) reforamento em todos os decants', durante 16 sesses, com o mesmo procedimento de apresentao dos estmulos, as respostas de bicar o disco iluminado foram reforadas, em VI 90 segundos, em todas as posies do tringulo.

    So apresentados, a seguir, os resultados que descrevem os desempenhos de dois dos sujeitos experimentais. As figuras foram adaptadas e reproduzidas de Reynolds (ibid.).

    A Figura 4 apresenta a mediana do nmero de respostas em cada decant, nas cinco

  • ORIENTAO DO TRINGULO

    Figura 4 - Mediana do nmero de respostas, nas ltimas 5 sesses como uma funo dos decants de rotao para os pombos [88 e 33] em cada fase experimental (a figura original de Reynolds apresentava os mesmos dados para os quatro sujeitos)Fonte: adaptado de Reynolds (1961, p. 290).

    DISCRIMINAO E

    GENERALIZAO: ALGUMAS EXTENSES

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    ltimas sesses de cada fase experimental. Encontramos nessa figura os resultados para dois sujeitos (88 e 33). Para cada sujeito, no grfico da esquerda, encontramos trs curvas, cada uma delas representando os resultados das cinco ltimas sesses das trs primeiras fases experimentais. No grfico da direita, encontramos duas curvas, cada uma delas com os resultados das cinco ltimas sesses das duas ltimas fases experimentais. Como pode ser visto na Figura 4, o responder dos dois sujeitos indica controle dos estmulos quando h reforamento diferencial, segundo a posio do estmulo; indica tambm que, na ausncia de reforamento diferencial segundo a posio do estmulo, o nmero de respostas mais ou menos o mesmo nos diferentes decants. O controle de estmulos fica evidenciado com o maior o nmero de respostas diante das posies nas quais o bicar reforado: quando o bicar reforado nos decants 1 e 10, h mais respostas diante dessas posies; quando o critrio de reforamento invertido, o nmero de respostas nesses decants diminui e aumenta o nmero de respostas nos demais, nos quais ocorre reforamento.

    A Figura 5 apresenta os resultados dos mesmos sujeitos experimentais. Esses resultados so apresentados na forma de registros cumulativos e se referem parte de uma

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    Figura 5 - Amostra do registro cumulativo das respostas do pombo 88 em cada decant (nmero sobre o registro) em uma sesso do treino discriminativo I (A), e as respostas do pombo 33 em cada decant no treino discriminativo 3 em uma sesso (B)Fonte: adaptado de Reynolds ( 1961, p. 291 ).

  • 42 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    sesso experimental. Para o sujeito 88, parte da sesso experimental de treino discriminativo 1 (curva A). Para o sujeito 33, parte da sesso do treino discriminativo 3 (curva B).

    Finalmente, mais um aspecto pode ser considerado para que se possam avaliar a extenso e a sutileza do controle de estmulos. Pode-se dizer que esse aspecto se refere tambm s caractersticas dos estmulos envolvidos; porm, diferentemente do exemplo anterior, no se refere maior ou menor complexidade dos estmulos, refere-se a sua acessibilidade. Trata-se, aqui, de analisar o controle do comportamento operante por estmulos interoceptivos ou proprioceptivos (estmulos que envolvem mudanas no organismo do sujeito que se comporta). Quando o controle do comportamento operante exercido por tais estmulos, surge uma situao aparentemente paradoxal: vemos as respostas do sujeito, mas no vemos os estmulos que as controlam, pela simples razo de que nenhum observador externo tem acesso direto a tais estmulos.

    O experimento realizado por Lubinski e Thompson (1987) bastante esclarecedor. Esse experimento envolveu cinco pombos como sujeitos e vrias fases experimentais; sero relatadas, aqui, apenas as fases diretamente relacionadas com o tpico em questo (con-

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    trole discriminativo por estmulos interoceptivos). Essas fases envolveram trs dos cinco sujeitos. Algumas informaes sobre o equipamento utilizado no experimento so importantes. A caixa experimental tinha, em uma de suas paredes, cinco discos que podiam ser bicados pelos pombos. Dois desses discos estavam relacionados com reforadores especficos (alimento e agua) e localizavam-se acima dos respectivos dispensadores. Cada um dos trs discos restantes apresentava uma letra N, D ou S. A caixa experimental tinha duas luzes, uma luz branca no teto da caixa e uma acima dos trs discos, a qual, quando ligada, era azul e piscava. Os sujeitos foram submetidos a um esquema de 28 horas de privao de alimento e quatro horas de privao de gua, alternando- se com 28 horas de privao de gua e quatro horas de privao de alimento. As sesses eram realizadas sete dias por semana. O controle de estmulo discriminativo por estmulos interoceptivos envolveu as seguintes fases:

    a) treino inicial: os sujeitos foram treinados a bicar o disco de alimento ou o disco de gua na presena de uma luz azul piscante; bicadas no disco de alimento eram consequen- ciadas com 4 segundos de acesso ao alimento, bicadas no disco de gua eram consequencia- das com 4 segundos de acesso gua; tais conseqncias eram produzidas apenas se a luz

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    azul piscante estivesse acesa. Aps seis semanas, a luz controlava consistentemente o responder dos sujeitos.

    b) treino discriminativa: vinte minutos antes do incio da sesso experimental, os sujeitos recebiam uma injeo intramuscular que poderia ser de um depressivo (pentobarbital) ou de um estimulante (cocana) ou de um placebo (soluo salina); os sujeitos eram submetidos a todas as trs condies de uma forma quase randmica, nenhum dos tipos de substncia poderia ser injetado mais do que duas vezes consecutivas. Aps receberem a injeo, os sujeitos eram colocados na caixa experimental que estava escura; passados vinte minutos, a luz do teto era acesa e os cinco discos iluminados. Bicadas no disco com a letra correspondente droga que havia sido injetada produziam, em um esquema de reforamento FR5, como conseqncia, a luz azul piscante; dessa forma, se a droga injetada tivesse sido pentobarbital, o disco correspondente era o que apresentava a letra D, se a droga tivesse sido cocana, o disco correspondente era o que apresentava a letra S, e se, finalmente, tivesse sido injetada a soluo salina, o disco correspondente era o que apresentava a letra N; na presena da luz azul piscante, bicadas no disco da gua ou do alimento produziam gua ou alimento, respectivamente. Se o sujeito bicasse

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    cinco vezes qualquer dos outros dois discos, a caixa e os discos eram escurecidos por quatro segundos.

    c) teste de generalizao: trinta minutos antes de iniciar o teste, os sujeitos receberam uma injeo intramuscular, que poderia ser de um depressivo (clorodiazepxido) ou de um estimulante (anfetamina) ou placebo (soluo salina). Segundo os experimentadores, as drogas que foram alteradas, apesar de diferenas qumicas, tm propriedades farmacolgicas semelhantes s drogas que elas substituram. Os sujeitos foram expostos seis vezes a cada uma das novas drogas (metade das vezes em privao de gua, metade em privao de alimento) e doze vezes soluo salina (seis em privao de gua, seis em privao de alimento). Em todas as ocasies, esteve em vigor um procedimento de extino.

    Lubinski e Thompson (ibid.) encontraram resultados que indicam tanto controle discriminativo por estmulos interoceptivos como extenso do controle desses estmulos para outros. Segundo eles, foram necessrios sete meses de treinamento para que os resultados indicassem um controle preciso de estmulos; ao final desse perodo, todos os sujeitos respondiam nos discos correspondentes droga injetada naquele dia com, pelo menos, 90% de acerto, independentemente da condio de

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    privao em vigor (para avaliar a discriminao, os experimentadores consideraram apenas a primeira tentativa de cada sesso experimental). No teste de generalizao, apenas um dos sujeitos, e em uma nica ocasio, bicou um disco que no correspondia droga injetada (no caso, anfetamina).

    Os exemplos de estudos experimentais apresentados at aqui devem ter dado uma amostra de toda a complexidade envolvida quando se trata de controle de estmulos do comportamento operante. So exemplos que imediatamente sugerem a extenso explicativa da anlise do comportamento (isto , quais fenmenos essa abordagem consegue descrever e explicar). Mas devem ter feito mais do que isso; possvel que eles tenham levantado questes sobre a aplicao do conhecimento produzido pelos analistas do comportamento.

    Discriminao e generalizao: extenso e aplicao

    Para iniciar a anlise das possibilidades de aplicao abertas pelo estudo dos processos de discriminao e generalizao, dois novos processos sero apresentados: encadeamento e fading.

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    Encadeamento

    Para compreender a noo de encadeamento, preciso reconhecer que um estmulo pode ter mais do que uma funo. Um estmulo na presena do qual uma resposta foi reforada torna-se, como vimos, um estmulo discriminativo, isto , um estmulo cuja apresentao aumenta a probabilidade de ocorrncia das respostas que foram reforadas em sua presena. Ao adquirir a funo de estmulo discriminativo, esse estmulo torna-se, tambm, um estmulo reforador condicionado, isto , se apresentado como conseqncia de uma determinada resposta, aumentar a probabilidade de essa resposta voltar a ser emitida. Assim, a apresentao de um mesmo estmulo produzir duas alteraes: a) fortalece a resposta que o produziu e b) ocasiona as respostas que foram reforadas em sua presena. No caso (a), o estmulo tem a funo de reforador para determinadas respostas; no caso (b), tem a funo de estmulo discriminativo para outras respostas. No experimento de Lubinski e Thompson (ibid.), encontramos um bom exemplo da dupla funo do estmulo: a luz azul piscante foi estabelecida como estmulo discriminativo para a resposta de bicar o disco de alimento ou o de

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    gua, e, logo aps, foi utilizada como estmulo reforador condicionado para a resposta de bicar um dos trs discos com letras.

    O processo de condicionamento de estmulos reforadores, dito em outras palavras, o processo que descreve a criao de novos reforadores, torna, como ressalta Sidman (1986), ilimitados os aspectos, elementos ou caractersticas do ambiente que podem funcionar como conseqncias efetivas de respostas. Tais aspectos incluem desde aqueles com bvia importncia biolgica at aqueles sutilmente condicionados, como o tom da corda de um violino (...) ou o piscar de olhos de um ouvinte (p. 221).

    Alm disso, a dupla funo de um estmulo possibilita o que chamamos de encadeamento de respostas ou de formao de cadeia de respostas.

    Uma cadeia de comportamento operante sucintamente descrita como uma seqncia de respostas operantes e estmulos discriminativos, tal que cada resposta produz o estmulo discriminativo para outra resposta. (Millenson, 1975, p. 245)

    A noo bsica do encadeamento , ento, que a emisso de uma resposta altera o ambiente, produzindo as condies que evocam outras respostas. Deve ser notado que

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    essas mesmas alteraes no ambiente so as que devem estar mantendo a resposta que as produziu.

    Segundo Skinner (1965), uma cadeia de respostas

    [...] pode ter pouca ou nenhuma organizao. Quando samos para um passeio, andando sem rumo pelo campo ou passeando ao acaso em um museu ou uma loja, um episdio em nosso comportamento gera as condies responsveis por um outro. (p. 224)

    Uma cadeia de respostas pode, alm disso, apresentar-se como uma unidade organizada:

    Algumas cadeias tm uma unidade funcional, os elos ocorreram mais ou menos na mesma ordem e toda a cadeia foi afetada por uma nica conseqncia, (p. 224)

    Cadeias de respostas que apresentem tal unidade funcional merecem destaque especial. Sua unidade to marcante que fica difcil perceber que estamos diante de vrias respostas, tendemos a lidar com tais cadeias como se fossem uma nica resposta; comum desconsiderar toda a seqncia de respostas e estmulos discriminativos envolvida em atividades comuns, cotidianas, e lidar com tais atividades como se fossem uma nica resposta; como, por exemplo, amarrar um sapato. Quando descon-

  • 50 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    sideramos a existncia de cadeias desse tipo, desconsideramos tambm a necessidade de modelar e de colocar sob controle de estmulos adequados cada resposta componente da cadeia. Tal desconsiderao acarreta problemas bvios quando, por exemplo, estamos envolvidos no planejamento de desenvolvimento de repertrios. Para lidar adequadamente com o desenvolvimento de repertrios que envolvem cadeias de respostas, preciso que se reconheam todos os processos comportamentais envolvidos; com indica Millenson (1975), tais processos incluem: a) a modelagem (reforamento diferencial por aproximaes sucessivas) de cada resposta componente da cadeia,b) o estabelecimento de controle discriminativo adequado para cada resposta componente da cadeia, c) a utilizao da conseqncia de uma resposta como estmulo discriminativo para a resposta seguinte da cadeia.

    A descrio conceituai de uma cadeia de respostas oferecida pela anlise do comportamento coloca algumas questes curiosas. O caminho para construirmos um estmulo reforador condicionado , primeiro, estabelec-lo como estmulo discriminativo. Se isso estiver correto, no desenvolvimento de cadeias de respostas, primeiro devemos colocar uma determinada resposta (digamos, a resposta A) sob controle adequado de estmulo discrimi-

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    nativo; s ento poderemos utilizar esse estmulo como estmulo reforador para outra resposta da cadeia (digamos, a resposta B), que, assim, dever ser uma resposta que antecede a resposta A na cadeia, j que os estmulos reforadores da resposta B so os estmulos discriminativos para a resposta A. Isso sugere que a melhor maneira para desenvolvermos uma cadeia de respostas utilizar um procedimento que tem sido chamado de encadeamento de trs para frente. Com esse procedimento, o ensino da cadeia iniciado pela ltima resposta da cadeia, pelo ltimo elo (o que produz o estmulo reforador que deve manter toda a cadeia), colocando essa resposta sob controle discriminativo adequado; a seguir, ensinamos a penltima resposta, apresentando como conseqncia para ela o estmulo discriminativo que controla a ltima resposta, e assim sucessivamente. Esse procedimento tem se mostrado de especial importncia quando se trata de ensinar indivduos com dificuldades para seguir instrues ou quando instrues no so instrumento suficiente para a produo de novos desempenhos (por exemplo, o desenvolvimento de algumas habilidades motoras finas) (Pierce e Epling, 1999).

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  • 52 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    Fading

    Os estudos experimentais sobre controle de estmulos produziram resultados que levaram ao desenvolvimento de um procedimento que recebeu o nome de fading. O fading se caracteriza pela transformao gradual de um estmulo em outro ou pela mudana gradual de uma dimenso do estmulo. Os experimentos realizados por Terrace (1963a, 1963b) foram de especial importncia para o desenvolvimento do procedimento de fading e so descritos como exemplos de discriminao sem erro.

    O primeiro experimento relatado por Terrace (1963a) ilustra o procedimento de fading pela mudana gradual de dimenses do estmulo. Nesse experimento, entre outras manipulaes, Terrace estudou o efeito, no estabelecimento do controle de estmulos, da introduo gradual do SA. A intensidade de luz do estmulo discriminativo (disco iluminado de cor vermelha) foi mantida constante e a durao das apresentaes desse estmulo sofreu apenas trs mudanas (60, 90, 180 segundos), mantendo-se constante quando atingiu o ltimo valor. O SA (disco iluminado com cor verde) foi introduzido gradualmente, manipulando-se duas dimenses do estmulo: a intensidade (de uma chave escura para uma chave

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    iluminada com intensidade mxima) e a durao da apresentao do estmulo (aumentando gradualmente de cinco para 180 segundos).

    Os sujeitos experimentais, que passaram por esse procedimento de introduo gradual do estmulo (fading) desde o incio do estabelecimento do controle de estmulos, praticamente no emitiram respostas diante do S-\ no passando, assim, por um procedimento de extino.

    O segundo experimento de Terrace ( 1963b) ilustra o procedimento de transformao gradual de um estmulo em outro; nesse caso, a exposio de um sujeito a tais transformaes graduais leva transferncia do controle de estmulos: dos estmulos que originalmente controlavam o responder, o controle passa a ser exercido pelos estmulos que foram produzidos nesse processo de transformao. O experimento realizado por Terrace (ibid.) ilustra muito bem isso. Partindo de uma discriminao j estabelecida entre verde e vermelho, com pombos como sujeitos experimentais, esse autor produziu uma nova discriminao entre linha vertical e uma linha horizontal. O procedimento consistiu na apresentao do estmulo vermelho com uma linha vertical branca e verde com uma linha horizontal branca e na transformao gradual da cor dos estmulos de

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    vermelho e verde para preto; tal procedimento colocou o responder dos pombos sob controle da posio das linhas.

    O procedimento de fading tem sido utilizado com bastante sucesso no desenvolvimento de habilidades acadmicas, por exemplo, na alfabetizao (Inesta, 1980), principalmente com pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem.

    Referncias bibliogrficas

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    TERRACE, H. S. (1963a). Discrimination learning with and without errors. Journal o f Experimental Analysis o f Behavior, n. 6, pp. 1-27.

    ____ (1963b). Errorless transfer of adiscrimination across two continua. Journal o f Experimental Analysis o f Behavior, n. 6, pp. 223-232.

  • DISCRIMINAAO E GENERALIZAAO: COMPORTAMENTO HUMANO COMPLEXOTereza Maria de Azevedo Pires Srio Maria Amalia Andery Nilza Micheletto Paula Suzana Gioia

    O estudo experimental e o aprimoramento conceituai dos processos de discriminao e generalizao deixam claro que, na descrio do comportamento operante, duas relaes resposta-ambiente devem ser consideradas: a relao entre a resposta e suas conseqncias e a relao entre a resposta e a situao presente quando da emisso da resposta. Deixam claro, tambm, que essas relaes esto, por assim dizer, interligadas: por um lado, as conseqncias diferenciais produzidas pela resposta em diferentes situaes que estabelecero o controle da situao antecedente sobre a resposta, por outro lado, a resposta s produzir tais conseqncias se for emitida em determinada situao. Assim, quando se trata de descrever e compreender o comportamento, impossvel falar de uma dessas relaes isoladamente. Essa inter-relao to bsica para o analista

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    do comportamento que ela passa a constituir sua unidade de anlise: para analisar (isto , decompor, dividir) um episdio, o analista do comportamento procurar identificar as inter- relaes entre situao antecedente-resposta- conseqncia que o compem.

    Uma pergunta bastante freqente entre os estudantes de psicologia se, com essa unidade de anlise, podemos compreender o comportamento humano, em especial aqueles comportamentos considerados complexos e que parecem ser tipicamente humanos, como, por exemplo, os envolvidos nos fenmenos chamados cognitivos. O analista do comportamento, claro, responde afirmativamente: e mais, para ele, exatamente essa unidade de anlise com trs termos que permite tratar desses fenmenos complexos. Sidman (1986) apresenta de forma muito clara o que a ampliao da unidade de anlise de dois termos (resposta- conseqncia) para trs termos (situao ante- cedente-resposta-conseqncia) possibilitou. Nada melhor, ento, que recorrer ao prprio texto de Sidman (ibid.) para identificarmos as possibilidades dessa nova unidade de anlise na compreenso do comportamento humano.

    Como um bom analista do comportamento, Sidman (ibid.) reconhece as imensas possibilidades abertas j pela unidade de dois termos (resposta-conseqncia):

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    reconhecimento da contingncia de dois termos como uma unidade de anlise, por mais simples que ela parea, deve ser considerada como um marco no desenvolvimento da anlise comportamental. O comportamento que parecia controlado por eventos futuros, uma anomalia cientfica problemtica, poderia agora ser visto como tendo sido gerado por contingncias passadas. Uma importante rea da cognio, o propsito", foi pela primeira vez colocada em um bom arranjo cientfico. No era mais necessrio invocar expectativas, antecipaes ou intenes hipotticas para trazer os determinantes do futuro para o passado ou o presente; poder-se-ia, ao invs disso, indicar as contingncias reais que tinham j ocorrido, (p. 217)

    Para Sidman (ibid.), a unidade de trs termos s veio confirmar e ampliar as possibilidades abertas pelo desenvolvimento conceituai da anlise do comportamento:

    Ao adicionar um nico termo a sua unidade menor, a anlise do comportamento estende significativamente seu domnio. Por exemplo, a contingncia de trs termos abarca aqueles fenmenos que tradicionalmente tm sido includos no tema percepo" (...) A contingncia de trs termos tambm a unidade analtica bsica da cognio. O conhecimento inferido de observaes de controle de estmulos; diz-se que conhecemos um objeto de estudo apenas se nos comportarmos diferencialmente com relao aos materiais que definem esse objeto, (pp. 221-223)

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    Esses fenmenos citados por Sidman (ibid.), percepo e conhecimento, ao lado de outros, tais como ateno, formao de conceitos, abstrao e soluo de problemas, tm sido vistos na psicologia como envolvendo atividades especiais, mais complexas que outras atividades humanas. Do ponto de vista da anlise do comportamento, independentemente de sua maior ou menor complexidade, todos esses fenmenos envolvem a relao entre, pelo menos, uma classe de respostas e duas classes de estmulos; relao que vimos estudando com o nome de controle de estmulos e que descrita com base nos conceitos bsicos de discriminao e generalizao. objetivo deste texto apresentar, pelo menos introdutoriamente, como tais relaes so compreendidas concei- tualmente e ilustrar o trabalho experimental que tem fundamentado essa compreenso.

    Percepo e ateno

    Falar em percepo significa falar de respostas operantes controladas por estmulos antecedentes. Como outra relao operante, a relao envolvida no que chamamos de percepo sofre a influncia da histria vivida pelo indivduo que se comporta e de circunstncias presentes no momento em que o indi

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  • COMPORTAMENTO HUMANO COMPLEXO 61

    vduo se comporta. Poling, Schlinger, Starin e Blakely (1990) resumem muito bem esse ponto de vista:

    Entre as variveis que controlam a percepo, no sentido de respostas controladas por um estmulo, esto: 1) as caractersticas fsicas do estmulo, 2) a presena concomitante de outros estmulos, e 3) a histria (experincia) do indivduo com relao ao estmulo, (p. 1U9)

    A descrio da percepo como resposta operante sob controle de estmulos acarreta uma mudana em relao concepo tradicional: uma vez que se assuma que percepo comportamento operante, assume-se que percepo como comportamento env olve ao em relao ao ambiente. Assim, do ponto de vista comportamental, o estudo da percepo no deve ser reduzido ao estudo das estruturas dos rgos dos sentidos ou ao estudo da forma ou estrutura dos estmulos; nenhum desses aspectos abrange o fenmeno que chamamos tradicionalmente de percepo. Alguns trechos de Skinner, retirados do captulo sobre percepo do livTO About Behaviorism (1976), representam o ponto de vista comportamental.

    Uma pessoa no um espectador indiferente a absorv er o mundo como uma esponja. (...) No estamos simplesmente cientes" do mundo ao nosso redor; respondemos a ele de maneiras

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  • 62 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    idiossincrticas por causa daquilo que aconteceu quando estivemos em contato com ele. (...) Tem sido salientado, com freqncia, que uma pessoa que percorreu um caminho quando passageiro no consegue encontr-lo to bem quanto uma que tenha dirigido por ele igual nmero de vezes. (...) Ambos foram expostos aos mesmos estmulos visuaf, mas as contingncias foram diferentes. Perguntar por que o passageiro (...) no adquiriu conhecimento do caminho perder de vista a questo importante. (...) As grandes diferenas naquilo que visto em diferentes momentos em uma dada situao sugere que um estmulo no pode ser descrito em termos puramente fsicos. Tem sido dito que o behaviorismo falhou por no reconhecer que o que importante como a situao aparece para uma pessoa" ou como uma pessoa interpreta uma situao ou que significado uma situao tem para uma pessoa". Entretanto, para investigar como uma situao aparece para uma pessoa ou como ela a interpreta, ou que significado ela tem para a pessoa, devemos examinar o seu comportamento com relao a tal situao, incluindo suas descries dessa situao, e esse exame s pode ser feito em termos de sua histria gentica e ambiental. (...) pessoas vem coisas diferentes quando foram expostas a contingncias de reforamento diferentes, (pp. 82-88)

    Do ponto de vista da anlise do comportamento, o que chamamos de ateno no difere do que chamamos de percepo; estamos, no

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  • COMPORTAMENTO HUMANO COMPLEXO 63

    caso da ateno, mais lima vez falando de controle de estmulos, portanto, de uma relao entre condies antecedentes e respostas operantes. Vamos, mais uma vez, recorrer a Skinner (1965) para apresentar essa posio:

    O controle exercido por um estmulo discriminativo tradicionalmente tratado sob o rtulo de ateno. Esse conceito inverte a direo da ao sugerindo, no que um estmulo controla o comportamento de um observador, mas que o observ ador atenta para o estmulo e, assim, o controla. (...) Ateno uma relao de controle - a relao entre uma resposta e um estmulo discriminativ o. Quando algum est prestando ateno est sob controle especial de um estmulo. Detectamos a relao mais prontamente quando os receptores esto claramente orientados, mas isso no essencial. Um organismo est atentando para um detalhe de um estmulo se o seu comportamento estiver predominantemente sob controle daquele detalhe, quer seus receptores estejam ou no orientados para produzir uma recepo mais clara. (pp. 122-124)

    Se o analista do comportamento, nos dois casos - da percepo e da ateno -, estuda e descreve os fenmenos de uma mesma maneira, isto , como controle de estmulos sobre respostas operantes, quase que inevitavelmente surge a pergunta se no est ocorrendo uma

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    grande simplificao ou, em outras palavras, por que existem dois termos se o fenmeno um s?

    possvel que a dificuldade que temos em lidar com relaes sujeito-ambiente, no lugar de lidar com eventos estanques, delimitados e com existncia independente, seja a responsvel pela existncia de dois termos que supem e, ao mesmo tempo, sugerem a existncia de dois fenmenos distintos. A dificuldade em lidar com relaes sujeito-ambiente pode fazer com que lidemos isoladamente com os elementos que compem a relao: quer enfatizando o sujeito e supondo que ele o iniciador autnomo de suas atividades, quer enfatizando o ambiente e supondo que ele se impe sobre o sujeito, que visto, ento, como receptculo das estimulaes ambientais. O primeiro caso parece estar representado no recurso ao termo ateno; no segundo caso, no recurso ao termo percepo.

    Como em outros assuntos, as proposies feitas pelo analista do comportamento acabam sendo fonte de problemas de pesquisa para o prprio analista. Assim, um primeiro desafio, no caso da percepo e da ateno, o de investigar a natureza operante das respostas envolvidas e a presena de controle de estmulos.

    Uma pesquisa historicamente importante sobre o fenmeno da ateno a Attention in

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    the pigeon (Reynolds, 1961). Para exemplificar como esse fenmeno pode ser estudado experimentalmente, ser relatado, aqui, apenas o primeiro experimento realizado. Os sujeitos experimentais foram dois pombos privados de alimento. O equipamento utilizado foi uma caixa-padro com um comedouro e um disco que podia ser iluminado com diferentes formas e cores. O estimulo reforador utilizado foi 3 segundos de acesso ao alimento. O experimento foi iniciado com o disco iluminado com um tringulo branco em um fundo vermelho; respostas de bicar o disco foram reforadas em CRF por duas sesses (cada sesso durava o tempo necessrio para que 60 reforos fossem liberados) e em VI 3 min por trs sesses, de 3 horas cada uma. O treino discriminativo foi realizado nas seis sesses seguintes. Esse treino foi realizado com um procedimento de discriminao sucessiva: durante 3 minutos, o disco era iluminado com o tringulo branco em fundo vermelho e o responder era reforado em um VI 3 min; durante 3 minutos, o disco era iluminado com um crculo branco em um fundo verde e respostas de bicar o disco no eram reforadas. As sesses duravam 3 horas, com 30 apresentaes de cada estmulo; no final da sexta sesso, foi alterada a durao de apresentao dos estmulos para 1 minuto. Na stima e na nona sesses, cada componente

  • 66 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    dos estmulos (crculo, tringulo, fundo vermelho e fundo verde) foi apresentado separadamente por um minuto, em ordem randmica, por vrias vezes, completando um total de 52 minutos para cada estmulo para o sujeito 105 e 69 minutos para o sujeito 107. Foi realizada, entre as duas sesses (8a sesso), uma sesso na qual vigorava o procecMmento do treino dis criminativo. A Figura 1 apresenta alguns resultados obtidos.

    Como pode ser visto na Figura 1, os sujeitos responderam diferencialmente, dependendo do estmulo presente: baixa a freqncia de respostas na presena do crculo sobre verde e alta na presena de tringulo sobre vermelho. Entretanto, ao separar os componentes dos estmulos, Reynolds (ibid.) verificou que o comportamento de cada um dos sujeitos ficou sob controle de diferentes aspectos do S*: tringulo para um dos sujeitos e vermelho para o outro.

    O estabelecimento da relao de controle de estmulos que descreve a relao que caracteriza os fenmenos que tm sido chamados tradicionalmente de ateno e percepo pode, primeira vista, no revelar toda a complexidade nela envolvida. Ao comentar a possibilidade de estudar experimentalmente discriminao, Skinner (1966) afirma:

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    Figura I - Taxa de respostas de cada pombo na presena de cada um dos discos de iluminao no treino discriminativo e no teste do Experimento I Fonte: adaptado de Reynolds (1961, p. 204).

    Podemos estudar essa relao em um experimento simples. Planejamos reforar um pombo quando ele bica uma chave, mas apenas quando uma pequena luz localizada acima da chave est piscando. O pombo forma uma discriminao

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    na qual ele responde chave quando a luz pisca e no responde quando ela no est piscando. Notamos tambm que o pombo comea a observar a luz. Podemos dizer que ele est atentando para ela ou que ela mantm sua ateno. O comportamento facilmente explicado em termos de reforamento condicionado. Olhar em direo luz ocasionalmente reforado por ver a luz piscar. O comportamento comparvel a procurar um objeto. (...)Uma orientao estvel dos olhos no o nico resultado possvel. O comportamento de procurar com os olhos no escuro ou numa neblina forte um exemplo de olhar com orientao para o campo visual inteiro. O comportamento de esquadrinhar o campo - ou responder para cada parte dele em algum padro exploratrio - comportamento que mais frequentemente reforado pela descoberta de objetos importantes, assim ele se torna forte. (pp. 122-123)

    Como vemos, o estabelecimento do controle de estmulo discriminativo sobre o responder envolve a emisso de um conjunto de respostas que nos colocam em contato com o estmulo discriminativo. Essas respostas so as respostas de observao. Vale a pena notar que, nesse trecho, podemos identificar mais um problema do termo ateno tal como ele usado em nossa linguagem cotidiana. Ele parece referir-se indistintamente a duas relaes comportamentais diversas: as respostas que nos colocam em contato com os estmulos

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    discriminativos e as respostas que esto sob controle desses estmulos, portanto, dependem desse contato.

    Os resultados de experimentos realizados por Holland (1966) e Schroeder e Holland (1968) ilustram de forma clara o carter operante das respostas de observao.

    Holland (1966) chama de respostas de observao aquelas que possibilitam a deteco de um sinal e sugere que tais respostas so respostas operantes. O experimento foi realizado com sujeitos humanos. Esses participantes deveriam detectar e relatar o movimento de um ponteiro em um mostrador. Os participantes trabalhavam no escuro e podiam iluminar o mostrador por um breve perodo (0,07s) apertando um boto; para indicar que o movimento do ponteiro havia sido detectado, os participantes deviam apertar um segundo boto. O experimentador planejou diferentes esquemas para o movimento do ponteiro, cada um dos esquemas correspondia a um esquema diferente de reforamento, por exemplo, intervalo fixo, razo fixa. Assim, quando o esquema em vigor era uma razo fixa (FR 36, por exemplo), o ponteiro era movimentado depois que 36 respostas de apertar o boto que iluminava o mostrador tivessem sido emitidas. Os resultados indicam que o padro de respostas de apertar o boto que iluminava o mostrador variou segundo os

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    diferentes esquemas utilizados pelo experimentador (por exemplo, FR 36, FR 84, FI 1 min, FI 2 min , VI 15 s, VI 1 min). Com esses resultados, Holland (1966) pde concluir que as respostas de apertar o boto que iluminava o mostrador (respostas de observao) estavam sob controle da deteco do sinal.

    possvel que o fato ae esse experimento lidar com respostas motoras arbitrrias, tais como apertar o boto que ilumina o mostrador, dificulte consider-las como respostas de observao, anlogas s que emitimos cotidia- namente. Schroeder e Holland (1968) realizaram um experimento que envolvia respostas de observao que podem ser consideradas naturais: movimentos dos olhos. Os experimentadores utilizaram um equipamento que permitia medir a freqncia e a durao de fixao dos olhos em determinados pontos, o tempo que o participante levava para indicar a deteco do sinal e a correo da deteco. Os participantes (trs estudantes universitrios) sentavam-se, confortavelmente, diante de um painel no qual os estmulos eram apresentados; esse painel tinha quatro mostradores com ponteiros que podiam ser movimentados e quatro lmpadas, todos em volta de uma foto de uma moa. A Figura 2 representa esquematicamente o equipamento de apresentao de estmulos.

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    Mostrador 1 I Luz O Foto Figura 2 - Esquema do painel de apresentao dos estmulos Fonte: adaptado de Schroeder e Holland ( 1968, p. 162).

    Apenas um dos ponteiros era movimentado a cada vez; e cada um deles se movimentava um mesmo nmero de vezes em cada sesso; a seqncia na qual cada um deles era movimentado era randmica. Tal como no experimento anteriormente relatado, os participantes indicavam a deteco do movimento do ponteiro apertando um boto; entretanto, a resposta de observao medida foi o movimento dos olhos. Para lidar com essa resposta, os autores estabeleceram reas em volta de cada um dos mostradores e definiram um movimento do olho como

    [...] a intruso da reflexo da crnea em uma rea quadrada de 4o x 4o em volta de cada mostradores. Na medida em que a reflexo perma

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    necia em uma rea, ela era contada como uma resposta. Uma nova resposta de movimento do olho era contada apenas se o sujeito olhasse para ora desta rea e de volta para ela ou para a rea de um outro mostrador. Assim, o sujeito tinha que fazer quatro fixaes para observar todo painel, ou o que poderia ser considerado, funcionalmente, uma resposta de observao, (p. 163)

    Em linhas gerais, no procedimento proposto pelos experimentadores, respostas de movimento dos olhos produziam o movimento dos ponteiros, cuja deteco podia ser indicada pelos participantes do experimento, que, diante de tal movimento, pressionavam um boto. Nas sesses iniciais, o movimento dos olhos era seguido pelo movimento do ponteiro em esquemas de reforamento simples (DRL 10 segundos,1 FR 45 e FI 2 minutos): o primeiro esquema em vigor foi o DRL 10 s (o movimento do olho s seria seguido do movimento do ponteiro se por 10 s nenhum olhar para os mostradores tivesse ocorrido). Quando a taxa de respostas nesse esquema de reforamento se estabilizou, o esquema de reforamento em vigor passou a ser o FR. Quando a taxa de res

    I DRL a sigla para o esquema de reforamento denominado differential reinforcement of low rate ; nesse esquema, so reforadas apenas respostas que ocorram aps algum tempo decorrido da resposta anterior. Ao exigir um intervalo entre as respostas, esse esquema acaba por produzir baixas taxas de respostas.

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    postas novamente se estabilizou, o esquema de reforamento passou a ser FI. Concludas as sesses iniciais, uma nova fase comeou. Nessa nova fase, os trs esquemas estavam em vigor, alternadamente, em uma mesma sesso: cada esquema ficava em vigor durante quatro minutos, perodo no qual permanecia acesa uma das quatro luzes, de forma que cada esquema de reforamento estivesse sempre relacionado a uma mesma luz (por exemplo, a luz localizada acima da foto permanecia acesa quando um dos trs esquemas estava em vigor, a da direita, quando outro estava operando e a da esquerda, quando um terceiro estava operando). Tal arranjo de esquemas (alternao sinalizada de diferentes esquemas) denominado esquema mltiplo de reforamento; nesse caso, um mltiplo DRL 10s, FR 45, FI 2 min.

    Os resultados obtidos por Schroeder e Holland (ibid.) confirmam os resultados de Holland (1966). O padro de respostas de movimentar os olhos se alterou de acordo com o esquema de reforamento em vigor: era produzida uma alterao na taxa e na distribuio das respostas quando mudava o esquema; por exemplo, de uma baixa taxa de respostas, quando estava em vigor o esquema DRL 10s, para uma taxa bem maior, quando o FR 45 estava em vigor. Os resultados indicam, tambm, que no houve relatos incorretos de

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    deteco de sinais e pouqussimos sinais deixaram de ser detectados, independentemente do esquema em vigor. Esses resultados mostram que as respostas comumente consideradas respostas naturais de observao so respostas operantes, isto , controladas por suas conseqncias.

    Conhecimento, formao de conceitos e abstrao

    Vamos iniciar a anlise desses fenmenos, novamente, recorrendo a Skinner; agora, ao captulo sobre conhecimento, do livro About Behaviorism (1976).

    Skinner (ibid.) inicia sua anlise do que chamamos conhecimento abordando diferentes situaes nas quais falamos em conhecimento:

    Dizemos que um beb recm-nascido sabe (conhece/know's] chorar, sugar e espirrar. Dizemos que uma criana sabe [conhece/ knows] como falar e andar de triciclo. A evidncia simplesmente que o beb e a criana exibem o comportamento especificado. Passando do verbo para o substantivo, dizemos que eles possuem conhecimento e a evidncia que eles possuem comportamento. nesse sentido que dizemos que as pessoas anseiam por, buscam e adquirem conhecimento, (p. 151)

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    Nesse trecho, Skinner (ibid.) afirma que sempre que falamos em conhecimento estamos falando em comportamento. Algumas vezes, falamos em conhecer (verbo) e, nessas ocasies, partimos da ao do indivduo, nosso vocabulrio enfatiza o agir. Outras vezes, falamos em conhecimento (substantivo); essa transformao no vocabulrio indica uma mudana mais extensa, transformamos a ao em uma coisa e, nessas ocasies, ento, supomos que o indivduo possui um comportamento. Em qualquer um dos casos, os mais variados comportamentos (lembrando-se que comportamento sempre uma relao) podem estar envolvidos, isto , falamos em conhecimento a partir de diferentes comportamentos. Skinner (ibid.) fornece alguns exemplos para ilustrar essa diversidade:

    Um sentido de conhecer simplesmente estar em contato com, ser ntimo de (...) Dizemos que sabemos como [conhecemos/know' how] fazer algo - abrir uma janela (...) resolver um problema - se pudermos faz-lo. Se pudermos ir daqui para l, dizemos que conhecemos o caminho. Se pudermos recitar um poema ou tocar uma msica sem l-los, dizemos que os conhecemos de cor [by heart] (...) Dizemos que sabemos coisas [conhecemos sobre/know about]. Conhecemos lgebra, Paris, Shakespeare, ou latim (...) no sentido de possuir vrias formas de comportamento em relao a eles. (...)

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    afirmamos, tambm, ter um tipo especial de conhecimento se pudermos simplesmente formular instrues, orientaes regras ou leis. (p. 152)

    Com todos esses exemplos, Skinner (ibid.) est enfatizando, mais uma vez, que conhecer implica sempre a emisso de respostas, mesmo quando essa emisso no reconhecida, quando fica, por assim dizer, escondida, quando coi- sificada pelo emprego do substantivo conhecimento. Para no deixar nenhuma dvida, Skinner (ibid.) afirma: No agimos colocando em uso o conhecimento; nosso conhecimento ao ou, pelo menos, regras para a ao (p. 154).

    Partindo da afirmao de que conhecer comportar-se, os analistas do comportamento tratam de formao de conceitos e de abstrao - comumente tidos como fenmenos que se referem ao conhecimento, cognio - tambm como comportamento.

    J em um dos primeiros livros publicados para apresentar os princpios e conceitos bsicos da anlise do comportamento, Keller e Schoenfeld (1950) afirmam:

    O que um conceito"? Este outro termo da linguagem popular introduzido na psicologia, que traz muitas conotaes diferentes. Devemos ter cuidado ao us-lo, lembrando que apenas um nome para uma determinada esp

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  • COMPORTAMENTO HUMANO COMPLEXO 77

    cie de comportamento. Rigorosamente falando, no temos um conceito, assim como no temos uma extino - ao contrrio, revela-se comportamento conceituai, atuando de certa maneira. A anlise deveria na realidade comear por uma questo diferente: Qual o tipo de comportamento que denominamos conceituai? E a resposta que, quando um grupo de objetos obtm a mesma resposta, quando formam uma classe a cujos membros se reage de modo semelhante, falamos de um conceito. (...) Mas, poder-se- dizer, isto generalizao e discriminao novamente - c assim . Generalizao intra classe e discriminao inter classes - isto a essncia dos conceitos, (pp. 168-169)

    Podemos aprender, com Keller e Schoenfeld (ibid.), que quando estamos falando de formao de conceitos estamos falando de um tipo especial de controle de estmulos que surge quando os processos de discriminao e generalizao se relacionam de forma tal que formada uma classe de estmulos que apresenta duas caractersticas bsicas: a) no fica fora da classe nenhum estmulo que deve pertencer a essa classe (generalizao intraclasse) e b) no includo na classe nenhum estmulo que no pode" pertencer a ela (discriminao interclasses). Podemos, ento, dizer que quando falamos em formar conceitos, na verdade, estamos falando em formar classes de estmulos. A expresso comportamento conceituai, utili-

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  • 78 CONTROLE DE ESTMULOS E COMPORTAMENTO OPERANTE

    zada por Keller e Schoenfeld (ibid.), refere-se relao de controle dessa classe de estmulos sobre uma determinada classe de respostas.

    Numa tentativa de indicar a extenso e abrangncia dessa maneira de olhar para a formao de conceitos, de Rose (1993) recorre a um conto de Jorge Luis Borges chamado Fmes, o Memorioso. Nesse conto, Borges descreve um personagem (I