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Políticas Públicas e Organização da Educação Básica 2014

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  • Polticas Pblicas e Organizao da Educao Bsica

    2014

  • Editorial

    UniSEB Editora Universidade Estcio de STodos os direitos desta edio reservados UniSEB e Editora Universidade Estcio de S.

    Proibida a reproduo total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrnico, e mecnico, fotogrfi co e gravao ou qualquer outro, sem a permisso expressa do UniSEB e Editora Universidade Estcio de S. A violao dos direitos autorais

    punvel como crime (Cdigo Penal art. 184 e ; Lei 6.895/80), com busca, apreenso e indenizaes diversas (Lei 9.610/98 Lei dos Direitos Autorais arts. 122, 123, 124 e 126).

    Sum

    rio

    Comit EditorialMagda Maria Ventura Gomes da Silva

    Rosaura de Barros BaioGladis Linhares

    Lucia Ferreira Sasse Marina Caprio

    Autores dos OriginaisMarlia Gomes Godinho

    Marlia Scorzoni

  • Sum

    rio

    Polticas Pblicas e Organizao da Educao Bsica

    Captulo 1: Educao, Estado e Sociedade ... 7Objetivos da sua aprendizagem ................................. 7

    Voc se lembra? ................................................................ 71.1 Educao, Estado e Sociedade ....................................... 8

    Atividades .................................................................................. 23Reflexo .......................................................................................... 23

    Leituras recomendadas ........................................................................ 24Referncias .............................................................................................. 26

    No prximo captulo ................................................................................... 27Captulo 2: A Trajetria da Legislao Educacional no Brasil ................ 29

    Objetivos da sua aprendizagem ......................................................................... 29Voc se lembra? .................................................................................................... 29

    2.1 A evoluo da educao como um direito. ...................................................... 302.2 A educao como direito do cidado e como dever do Estado .......................... 34

    Atividade .................................................................................................................... 39Reflexo ....................................................................................................................... 41

    Leituras recomendadas .................................................................................................. 41Referncias .................................................................................................................... 42No prximo captulo ...................................................................................................... 44Captulo 3: As Reformas Educacionais e a Transio Democrtica na Educao ... 45Objetivos da sua aprendizagem ..................................................................................... 45Voc se lembra? ............................................................................................................ 453.1 O papel do Estado nas reformas educacionais: Um breve histrico ................... 463.2 A poltica educacional dos anos 90 - neoliberalismo e

    suas implicaes na educao no cenrio internacional e brasileiro ...................... 553.3 Primeiras reflexes sobre o papel da educao ............................................ 58

    Atividades ........................................................................................................ 60Reflexo ........................................................................................................ 61

    Leituras recomendadas ............................................................................. 61Referncias ............................................................................................ 62

    No prximo captulo ........................................................................ 64

  • Apr

    esenta

    oCaptulo 4: LDB: Contexto e Contribuies para a Educao Nacional .................. 65Objetivos da sua aprendizagem ...................................................................................... 65Voc se lembra? ............................................................................................................. 654.1 Estrutura do sistema escolar ................................................................................... 664.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9394/96) .............................. 664.3 A estrutura e a organizao da educao brasileira segundo a LDB(Produo Nova) ..................................................................................................... 674.4 A Estrutura Administrativa da Educao Brasileira, segundo a LDBEN ................ 91Atividades ....................................................................................................................... 94Reflexo .......................................................................................................................... 95Leituras recomendadas .................................................................................................... 96Referncias ...................................................................................................................... 97No prximo captulo ...................................................................................................... 98Captulo 5: O Plano Nacional de Educao e a Educao no sculo XXI ................ 99Objetivos da sua aprendizagem ...................................................................................... 99Voc se lembra? .............................................................................................................. 995.1 A construo do Plano Nacional de Educao ....................................................... 1005.2 Recursos financeiros para educao brasileira ...................................................... 106Atividade ....................................................................................................................... 112Leituras recomendadas .................................................................................................. 114Referncias .................................................................................................................... 114

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    o Prezados(as) alunos(as)Nesta disciplina, voc est convidado a

    fazer algumas leituras e discusses sobre a educao bsica brasileira, analisando aspectos

    de sua organizao, da sua estrutura e das polticas pblicas que orientam o cotidiano das nossas escolas,

    a partir das novas concepes educacionais propostas pela LDBEN 9396/96. Esta a nossa Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional, que est em vigor e que deve oferecer os rumos, os fundamentos, os princpios, as finalida-

    des, os objetivos e a organizao e o funcionamento dos sistemas de ensino e da educao escolar no Brasil. Esperamos que esses

    conhecimentos contribuam para a sua formao mais consciente e crtica, preparando-o melhor para a tarefa de promover uma educao

    democrtica e de qualidade no Brasil.

    Bons estudos!

  • Cap

    CtuCoC

    Educao, Estado

    e Sociedade Neste primeiro captulo, vamos refletir sobre

    os fins da educao. Pensar a educao como um ato social o incio de qualquer reflexo acerca desse

    assunto. Ato social porque nas relaes sociais, ou seja, na interao entre os homens que se consolida a educao.

    Ento,vamos conversar um pouco sobre isto?Vamos partir da anlise da escola por meio de uma concepo

    sistmica, ou seja, da compreenso da escola como um conjun-to de elementos que interagem e se influenciam mutuamente, na

    forma de troca com o meio em que ela se insere.

    Objetivos da sua aprendizagemVoc ir analisar as relaes entre Estado, escola e a sociedade, bus-

    cando compreender de que maneira os elementos, de um e de outro, interagem entre si e refletir sobre as consequncias desta interao para as instituies escolares. Voc compreender que o sistema escolar um subsistema do sistema social.

    Voc se lembra?Qual o ltimo filme a que voc assistiu? Voc costuma ir ao teatro ou as-sistir a apresentaes de dana ou peas musicais? Essas so importantes mostras do desenvolvimento cultural de um povo e esto relacionadas com o funcionamento do sistema escolar.

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    C.C Educao, Estado e Sociedade A educao um processo mltiplo e variado, do qual emergem de-

    safios e compromissos cada vez mais complexos e urgentes, que precisam ser defrontados com conhecimentos, competncia profissional, deciso, vontade e criatividade. A busca de respostas alternativas e inovadoras, que contribuam para o desenvolvimento da pessoa de um modo integral, com a formao de competncias de diferentes tipos, adequadas s ne-cessidades e expectativas educativas existentes na comunidade, um dos grandes desafios dos educadores, no contexto de uma sociedade globali-zada.

    Os fins da educao esto totalmente relacionados com esta ideia, isto , os fins polticos se justificam na medida em que se afirma que todo indivduo vive em sociedade, e todos os seus atos, ao mesmo tempo em que sofrem influncia dela, tambm nela interferem e ao inferir procura formar um determinado tipo de homem e de sociedade.

    A escola o espao providencial para a realizao dos objetivos de ensino, uma vez que se situa entre as polticas educacionais, as diretrizes curriculares, as formas organizativas do sistema e as aes didtico- -pedaggicas na sala de aula.

    As polticas e as diretrizes do sistema de ensino podem influir de modo direto e at mesmo controlar a formao das subjetividades de pro-fessores e alunos. As formas de organizao do sistema, incluindo suas diretrizes curriculares e polticas, carregam significados sociais e polti-cos que influem sobremaneira tanto nas ideias e nas atitudes de professo-res e alunos quanto nas prticas pedaggicas e organizacionais.

    Disponvel em: .

    As relaes entre decises do sistema de ensino e sua efetivao nas unidades escolares indicam que as formas de organizao exercem um papel educativo, uma vez que oferecem uma conformao s ideias e modos de agir de professores e alunos. Portanto, de grande importncia que os professores identifiquem e compreendam as relaes imbricadas entre o espao escolar, o sistema de ensino e o sistema social mais amplo. A escola integra o todo social e tambm afetada pela estrutura econ-mica, pelas decises polticas, bem como pelas relaes de poder vigentes na sociedade.

    Por isso, fundamental compreender a vinculao das polticas p-blicas, em especial as polticas educacionais, com o cotidiano da escola e,

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    As polticas pbli-

    cas so de responsabilidade do Estado e sua implementao

    e manuteno ocorrem a partir de um pro-cesso de tomada de decises que envolvem rgos pblicos e diferentes organismos e

    agentes da sociedade relacionados poltica implementada.

    consequentemente, com a determinao e o alcance de seus fins educati-vos. Polticas pblicas so todas as aes desencadeadas pelo estado, em qualquer de seus mbitos, ou seja, no mbito Federal, Estadual ou Muni-cipal, que visem o bem coletivo. De acordo com Hfling (2001), podemos dizer que as polticas pblicas so o Estado em ao, ou seja, o Estado implantando um projeto de governo, concretizado atravs de diferentes programas e aes voltadas para setores especficos da sociedade.

    necessrio que se esclarea a diferena entre estado e governo para continuarmos essa discusso. Ainda de acordo com Hfling (2001), Estado pode ser considerado como o conjunto de instituies permanen-tes, como os rgos legislativos, tribunais, exrcito e outras que no for-mam um bloco monoltico necessariamente e que possibilitam a ao do governo. J governo o conjunto de programas e projetos que uma deter-minada parte da sociedade (polticos, tcnicos, organismos da sociedade civil e outros) prope para a sociedade como um todo, configurando-se a orientao poltica de um determinado governo que assume e desempenha as funes de Estado por um determinado perodo.

    As polticas pblicas sociais so, portanto, aes governamentais de-senvolvidas em conjunto por meio de programas que proporcionam a garantia de direitos e condi-es dignas de vida ao cida-do. So elas que asseguram populao o exerccio de direito de cidadania: educao, sade, trabalho, assistncia so-cial, previdncia social, justia, agricultura, saneamento, habitao popular e meio ambiente.

    Como vimos, a educao uma das po-lticas pblicas sociais, assim determinadas pela Constituio Federal de 1988:

    Art. 6 So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a mora-dia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio.

    Neste artigo a educao considerada como um direito, e todos tm este assegurado por esta lei. Neste sentido, toda e qualquer lei da educa-

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    o deve assegurar que este direito seja cumprido. A educao neste par-grafo compreendida como direito de todos.

    As discusses que se ressaltam quando se fala em educao esco-larizada na atualidade levam em considerao os questionamentos que articulam poltica, cultura e economia e como o sujeito se constitui nessa articulao. Desta forma, entendemos que a escola no pode ser entendida dissociada, separada da sociedade em que ela est inserida.

    Para iniciar esta reflexo, precisamos compreender que o sistema escolar est inserido em um sistema maior: a sociedade e todos os seus componentes (famlia, religio, organizaes, empresas etc.). A escola recebe da sociedade diversos elementos e devolve os produtos de sua atuao (DIAS, 1998). Desse modo, o sistema escolar um subsistema do sistema social. Geralmente o sistema escolar produz dentro de si as condies da sociedade.

    A educao em seu sentido pleno realiza-se por meio de uma mul-tiplicidade de agncias sociais e no apenas na escola. Veja o que diz Brando (1981, p.13) sobre isto:

    A educao existe onde no h escola e por toda parte podem haver redes e estruturas sociais de transferncia de saber de uma gerao a outra, onde ainda no foi sequer criada a sombra de al-gum modelo de ensino formal e centralizado. Porque a educao aprende com o homem a continuar o trabalho da vida. A vida que transporta de uma espcie para outra, dentro da histria da natu-reza, e de uma gerao a outra de viventes, dentro da histria das espcies, os princpios atravs dos quais a prpria vida aprende e ensina a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser.

    Mas, neste curso, nosso objetivo estudar e compreender a educa-o escolar, isto , a escolarizao e seus elementos constitutivos.

    As expresses sistema de educao, sistema de ensino e sistema escolar tm sido, muitas vezes, empregadas indistintamente. Podemos distinguir essas trs expresses? Claro que podemos. E um dos critrios para essa distino o grau de abrangncia de cada uma delas.

    Sistema de educao a expresso que tem o sentido mais am-plo de abrangncia, pois se confunde com a prpria sociedade. Em ltima

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    anlise, a sociedade que educa, atravs de todos os agentes sociais: pes-soas, famlias, grupos informais, escolas, igrejas, clubes, empresas etc.

    Sistema de ensino a expresso de abrangncia intermediria. Alm das escolas, inclui instituies e pessoas que se dedicam sistemati-camente ao ensino: cursos ministrados de vez em quando, conferncias, organizaes no governamentais, catequistas, professores particulares etc.

    Sistema escolar a expresso que tem abrangncia mais limi-tada, pois compreende a rede de escolas e sua estrutura de sustentao.

    As escolas e sua estrutura podem ser consideradas um sistema, na medida em que formam um conjunto de elementos interdependentes, como um todo organizado.

    De acordo com Dias (1998), o sistema escolar tem como objetivo proporcionar educao, considerando, porm, a educao como um as-pecto especfico, sinnimo de escolarizao, com carter intencional e sistemtico, enfatizando o desenvolvimento intelectual assim como o f-sico, emocional, moral e social. Mas por que intencional e sistemtico? Intencional porque o sistema escolar tem como objetivo a transmisso dos conhecimentos e da cultura historicamente construdos, a formao humana etc.; e sistemtico porque est organizado em nveis de ensino, em sries (ou anos) e em disciplinas distintas, isto , organizado. Por ou-tro lado, a educao proporcionada pelos demais agentes sociais (aquela que o indivduo geralmente obtm fora da escola) quase sempre infor-mal e assistemtica.

    Cabe considerar que o sistema escolar, sendo um sistema imerso em um sistema maior, a sociedade, deve ser compreendido como parte dessa sociedade e com objetivo de formao integral do homem (que vive nesta sociedade). Todo sistema escolar montado para cumprir uma funo social. Desse modo os seus objetivos devem, necessaria-mente, expressar os anseios, as aspiraes, os valores, os conceitos e as tradies da prpria sociedade.

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    De acordo com Dias (1998), a sociedade contribui com a escola atravs de 5 elementos:

    o contedo cultural; os recursos humanos; os recursos financeiros; os recursos materiais; os alunos.

    Contedo cultural A sociedade possui um cabedal de conhecimentos, adquiridos no transcorrer de sua histria, incluindo sua cultura, suas descobertas cientficas, seu patrimnio histrico-social e suas conquistas tecnolgicas, que transformam continuamente o mundo. dessa massa de conhecimentos que a escola retira o contedo de seus currculos e programas.

    Recursos humanos O funcionamento do sistema escolar depende de pessoas com diferentes graus e tipos de qualificao: administradores escolares, tcnicos, professores, auxiliares etc. da sociedade que o sistema escolar retira esses recursos

    Recursos financeiros Os sistemas escolares so organizaes de enormes propores, absorvendo considervel parcela dos oramentos pbli-

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    cos e particulares. Em relao ao sistema escolar pblico (federal, estadual ou municipal), grande parte dos recursos financeiros so oriundos dos impostos recolhidos. Impostos que todos ns pagamos, isto , quem mantm as escolas pblicas so os cidados que consomem, produzem, transitam. Sem recursos financeiros suficientes e sem o uso adequado desses recursos, o sistema es-colar no pode funcionar. Para que esse sistema tenha condies de atender sempre mais, e melhor, a uma parcela sempre maior da populao, necess-rio que sejam destinados educao recursos compatveis com a importncia fundamental que ela tem para o desenvolvimento social.

    Recursos materiais A indstria produz artigos utilizados pelo sistema escolar: material didtico, mveis, artigos de escritrio, materiais para manuten-o e limpeza etc. Gravadores, projetores, mquinas de calcular, computadores e outros recursos tecnolgicos podem provocar transformaes no trabalho es-colar. Todos esses materiais produzidos pela sociedade so fundamentais para o funcionamento das escolas.

    Alunos Sem alunos no existem escolas, sem escolas no existem professores. Os alunos so a razo de ser dos sistemas escolares. Quanto mais numerosa a populao em idade escolar, maior a presso da socieda-de para que se ampliem as oportunidades educacionais, pois a educao um direito de todos. Precisamos refletir sobre a questo da ampliao das oportunidades educacionais, aliadas qualidade do ensino, isto , atender a mais alunos da melhor forma.

    Assim como a sociedade contribui com a escola, a escola tambm con-tribui (e muito! Ou deveria contribuir!) com a sociedade como um todo. So quatro, de acordo com Dias (opus cit.), as principais contribuies do sistema escolar para a sociedade:

    1. melhoria do nvel cultural da populao; 2. aperfeioamento individual;3. formao de recursos humanos;4. inovaes cientficas e tecnolgicas.

    Sobre a melhoria do nvel cul-tural da populao, o sistema escolar tem como objetivo que seus egressos tenham o seu universo cultural am-pliado, de forma a alterar diferentes aspectos de sua vida social, modifican-do estilos de vida, valores, interesses, prticas etc.

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    Em relao ao segundo aspecto, o aperfeioamento individual, o sujeito com mais escolaridade, alm de estar capacitado, conse-gue compreender as diferentes relaes sociais, ampliar sua viso de mundo e, consequentemente, tornar sua vida mais significativa e com maiores chances de realizao pessoal/profissional.

    Sobre o terceiro item, formao de recursos humanos, h de con-siderar-se a grande contribuio do sistema escolar para o mercado de trabalho com a qualificao de trabalhadores para os diferentes setores da economia. Entretanto, cabe salientar que h duas formas de qualifi-cao que necessariamente devem ser pensadas dentro do sistema es-colar: a qualificao tcnica e a qualificao educacional/cultural. A primeira tem como objetivo instrumentalizar o indivduo para que ele esteja apto a desenvolver determinada atividade, e a segunda, com um carter mais amplo, visa a, atravs do trnsito entre os diferentes conhecimentos elaborados historicamente, capacit-lo para a atuao enquanto ser social.

    Por fim, sobre o quarto item, o sistema escolar, especificamente as universidades e os centros de pesquisas, responsvel pelas inova-es cientficas e tecnolgicas atravs de pesquisas realizadas.

    Como afirma Luckesi (1990, p.89):

    No h ato individual nosso que no tenha repercusso no social, desde que com ele estejamos comprometidos, constitutivamente. A ao do educador escolar, nesta perspectiva, uma ao poli-ticamente comprometida. Seus atos no so isolados e atmicos, mas articulados com determinada direo do processo social, na medida em que o ato educativo nasce da prtica social, ao mesmo tempo em que a direciona. Sofre a ao da prtica social existente, mas, dialeticamente, tambm exerce a ao dentro de uma nova direo para a sociedade. A prtica educativa con-dicionada, mas tambm condicionante do processo histrico-social, ao lado de mltiplos outros fatores.

    A prtica educativa precisa ser sempre pensada como um ato po-ltico, e mesmo que o educador no seja consciente desse impacto, ele toma decises e assume falas que interferem na sociedade.

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    Para tanto, Luckesi (1990) ainda defende que o educador, para o exerccio organizado de sua prtica, precisa dar conta de esclarecer, ao menos para si mesmo, trs grandes questes:

    1. Que direo a sociedade d prtica educativa?2. Qual a crtica do educador em relao a esta direo, ou seja, o educador concorda ou discorda desta direo e por quais razes?3. Qual direo vai assumir na sua prtica educativa?

    a partir dessa reflexo inicial que todo planejamento ou discusso deve ocorrer na escola. Os fins polticos da ao educativa referem-se ao desenvolvimento da trama das relaes sociais que constituem a atual prtica educativa, assim como criao de novas condies para que essa prtica seja coerente com os objetivos. As transformaes que tm ocorrido nas so-ciedades em geral, nas ltimas dcadas, vm redesenhando o papel da escola, impulsionando para que as modificaes sejam realizadas de forma eficaz no que diz respeito ao seus processos de ensino e aprendizagem. Em uma sociedade dominada por um grande volume de informaes e pela superficia-lidade do conhecimento, a educao tem um papel importantssimo de formar cidados e pessoas comprometidas com a construo de uma sociedade mais justa e democrtica.

    Buscamos a construo de uma sociedade capaz de pensar sobre seus problemas e de resolv-los de maneira livre, cria-tiva e independente. A escola, como uma das vrias instncias sociais, tem gran-de responsabilidade na formao de uma sociedade, e mais especifica-mente na formao do homem en-quanto ser social. Cabe escola oferecer, atravs do seu currculo, as condies de acesso e de apro-priao cultural a cada membro da sociedade, condies estas que nos possibilitaro a formao enquanto sujeitos humanos.

    Portanto, a escola tem um papel fun-damental como instncia educadora, buscando ga-rantir, atravs de uma prtica pedaggica consciente, as condies necessrias para que os educandos, nos diferentes nveis de ensino, recebam e assimilem

    O currculo a instncia onde se explicitam o

    conjunto de processos e procedimentos que incluem a seleo de contedos e as

    diferentes experincias de aprendizagem que permitiro ao homem chegar ao estado humano.

    (HOKAMA, 2000)

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    criticamente o legado da cultura, compreendendo e reelaborando interpreta-es sobre o seu cotidiano e seu estar no mundo. (HOKAMA, 2000).

    evidente o fato de que vivemos numa poca de mudanas so-ciais aceleradas e esta uma situao que afeta a todos os pases de um modo geral. O sculo XX diferencia-se, notadamente, por constituir-se de sociedades majoritariamente urbanas, de completa estrutura econ-mica, social, ocupacional, e principalmente, pela rapidez das mudanas de valores.

    Esse dinamismo excessivo tende a criar um mal-estar generaliza-do, tpico de nosso tempo e que provocado pela inconfundvel sensa-o de incapacidade de compreend-lo. O mundo no mais um todo visvel e organizado, explicvel e coerente, mas, ao contrrio, sua carac-terstica parece ser a fragmentao, ou, como afirma Rossi,

    Os caracteres mais salientes e visveis do mundo moderno so a necessidade de agitao incessante e de mudana contnua; a dis-perso numa multiplicidade no mais unificada; a anlise levada

    ao extremo; a fragmentao indefinida; a desagregao de todas as

    atividades humanas; a no aptido sntese e a impossibilidade de qualquer concentrao. (ROSSI, 1992, p.20).

    As transformaes no mundo do trabalho, bem como o avano tecnolgico, que configuram os meios de informao e de comunicao, incidem na escola, aumentando o desafio de torn-la efetivamente de-mocrtica. Transformar as prticas excludentes da escola tarefa para todos, mas especificamente dos profissionais da educao. Temos o desafio de educar nossos alunos, propiciando-lhes um desenvolvimen-to humano, cientfico e tecnolgico que lhes favorea na aquisio de habilidades e competncias para enfrentar as exigncias do mundo con-temporneo.

    De acordo com Costa (2009), quatro fatores determinam a mudan-a social a que assistimos:

    a automatizao e a informatiza-o dos processos produtivos;

    o aumento explosivo da oferta (e procura) de servios;

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    a tecnicizao da administrao das pessoas, das coisas e dos processo;

    a elevao educacional das populaes, acrescida da amplia-o do acesso formao.

    O resultado, segundo o autor, a mudana da nfase no capital fsico para o capital humano e intelectual. Costa afirma que

    a vantagem competitiva de uma empresa deixou de ser o capital fsico e a fora da produo, passou a ser o capital humano e a rapidez de adaptao. Numa poca de preocupao coma preser-vao dos recursos e de grande volatilidade das tecnologias, rapi-damente tornadas obsoletas,o nico fator permanente de riquezas o homem, a sua capacidade intelectual e o seu conhecimento. (COSTA, 2009, p1).

    Isto o que hoje se entende por sociedade da informao e do co-nhecimento. Esta mudana traz uma grande implicao para as escolas.

    Um outro aspecto importante de se destacar com relao s mu-danas na contemporaneidade a globalizao.

    Espera-se, assim, que as elites sociais e econmicas, principais responsveis pelo desenvolvimento e pela competitividade, sejam for-madas para serem capazes de se movimentarem bem no jogo internacio-nal da globalizao.

    O fim poltico da ao educativa crtica trabalhar no sentido de que todos os cidados tenham acesso e permanncia no processo escolar, sendo-lhes garantida uma apren-dizagem satisfatria e significa-tiva dos contedos cientficos e culturais, sistematizados atravs dos currculos. Todo cidado tem direito de acesso aos conhecimen-tos e habilidades necessrios a viver bem em sociedade.

    com base nessa defesa que os planos escolares so escritos, ou seja, as palavras acima destacadas vo aparecer em quaisquer projetos poltico-pedaggico ou planos de ensino, no entan-

    Entendida como a mundializao dos mercados, a

    mundializao na realidade transcende o econmico e o tecnolgico e abrange o de-

    senvolvimento humano, o ambiente, as condies de vida, as expectativas e os valores individuais e

    societais. A globalizao traz em seu bojo os riscos de excluso e, para se contrapor a este efeito perverso, requer elites dispostas a criar condies de apren-dizagem e domnio do conhecimento para todos.

    ressaltando a urgncia de mentes preparadas para este novo ordenamento das sociedades

    e do mundo.

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    to, resta-nos saber se os educadores tm conscincia do que estes termos significam na prtica.

    Ter conscincia desses pressupostos envolve investimentos em educao, no somente de ordem financeira, mas tambm intelectual, cultural, social e individual.

    Do ponto de vista social, importa que os poderes constitudos efetivamente atuem como representantes dos interes-ses do povo e, do ponto de vista individu-al, importa que os educadores efetivamente invistam na aprendizagem dos educandos e no em sua promoo ou no promoo de uma srie para a outra do processo escolar.

    preciso que tanto a sociedade como os educadores, atravs de sua atuao profissional, estejam atentos ao fato de que cada cidado, como educando, necessita desenvolver-se e tornar-se independente, para que, individual e coletivamente, da maneira mais satisfatria possvel, possa viver de forma democrtica. Nesses princpios, esto os fins da prtica educativa.

    Se o objetivo poltico da prtica educativa trabalhar na perspecti-va da construo de um processo de democratizao da sociedade, do ponto de vista educativo seu objetivo trabalhar na perspectiva da construo do desenvolvimento e da independncia do educan-do, tendo em vista sua possibilidade de reciprocidade e, consequen-temente, de organizao social, tendo como meta a equalizao. (LUCKESI, 1990, p.90).

    A escola a instituio por meio da qual transmitida, de forma intencional, a herana social. , ao mesmo tempo, instituio responsvel pelo desenvolvimento de novos conhecimentos. ainda local de encon-tro e de convivncia entre educadores e educandos: grupo que se rene e trabalha para que ocorram as condies favorveis ao desenvolvimento humano em diferentes reas: cognitiva, afetivo-emocional, motora, social e profissional (portanto, intencional).

    Conexo:

    O gelogo Milton Santos trata deste assunto em seu livro Por

    uma outra globalizao: do pensa-mento nico conscincia universal. Nessa

    obra, o autor prope uma interpretao multi-disciplinar do mundo contemporneo, em que

    reala o papel ainda atual da ideologia na produo da histria e mostra os limites

    do seu discurso frente realidade vivida pela maioria das naes.

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    A instituio escolar o espao socialmente aceito e designado para o desenvolvimento global do educando, motivando-o e capacitando-o para um bom desempenho social.

    STOCKBYTE / GETTY IMAGES

    A escola surge historicamente como fruto da necessidade de se preservar e reproduzir a cultura e os conhecimentos da humanidade, crenas, valores e conquistas sociais, concepes de vida e de mundo, de grupos ou de classes. Ela permaneceu e se modernizou medida que foi capaz de se tornar instru-mento poderoso na produo de novos valores e crenas, na difuso e sociali-zao de conquistas sociais, econmicas e culturais desses grupos ou classes.

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    Mas a escola no uma instituio neutra, abstrata. Ao contrrio, est inserida num contexto social determinado (num universo existencial), onde interagem aspectos polticos, econmicos e culturais. Ela , na realidade, um fenmeno social. Isso significa que a prtica educativa e o trabalho docente esto determinados por fins e exigncias sociais, polticas e ideolgicas.

    Tradicionalmente a escola tenta responder s questes da demanda social. Os educadores tm se dedicado, ao longo dos tempos, a buscar formas eficientes de cumprir os objetivos que so atribudos escola. As questes que tem permeado esta busca so: quais so as demandas sociais? Que finalidades, objetivos e metas a sociedade espera que a escola cumpra?

    Estas so as questes que ainda permanecem como diretrizes do questionamento dos educadores na atualidade. O diferencial, segundo os estudiosos contemporneos, que a crise atual da educao no vem especificamente da forma deficiente como ela cumpre estes objetivos sociais , mas do fato de no sabermos mais que finalidades, que objetivos a escola deve cumprir e para onde deve orientar suas aes.

    O ponto de partida para enfrentarmos esta crise, segundo Tedesco.(1998), aceitar que vivemos num processo de profunda transformao social. No se trata mais de uma das crises do modelo capitalista de de-senvolvimento, mas do surgimento de novas formas de organizao so-cial, econmica e poltica, de uma nova estrutura social. Nas palavras de Tedesco , trata-se de uma revoluo global.

    De acordo com este autor, processos importantes e radicais de mu-dana podem ser observados em trs reas:

    modo de produo; tecnologias da comunicao; democracia poltica.

    Vamos entender um pouco melhor.

    Modo de produo A partir da segunda metade do sculo XX, presenciamos a passagem do modo de produo para o consu-mo de massas e a um sistema de produo para um consumo diver-sificado, ou seja, para a produo de pequenas quantidades de artigos adaptados s diferentes clientelas. Ou

    Conexo:

    O filme FormiguinhaZ discute esta transformao, atravs de um divertido

    desenho animado. A formiguinha Z no se adapta ao modelo rgido, mecnico e hierarquizado de admi-

    nistrao do formigueiro, propondo, ao final de uma srie de aventuras, um modelo colaborativo, envolvente e coletivo. A produo do estdio: DreamWorks SKG / Pacific Data

    Images, distribuidora: DreamWorks Distribution L.L.C. / UIP. Confira no site oficial:.

    PHOTO12 / AFP

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    que se tem chamado de fbrica flexvel. Nesse modelo, valoriza-se a capacida-de da pessoa para trabalhar em equipe e adaptar-se mudana. Ocorre a uma distribuio diferente da inteligncia. No mais a organizao hierarquizada do trabalho, em forma de pirmide, onde a criatividade e a inteligncia concen-tram-se na cpula, enquanto o restante das pessoas executa mecanicamente as instrues recebidas, mas uma organizao mais plana, com poderes de deciso distribudos de forma mais homognea. Inovao e melhoria contnua passam a ser uma necessidade das organizaes modernas e o conhecimento e a infor-mao tem um papel de destaque na produo e no consumo de bens e servios.

    Novas tecnologias da comunicao A introduo das novas tecno-logias da comunicao em todos os setores da sociedade vem causando um forte impacto na produo de bens e servios e tambm nas relaes sociais. Nessa rea, h um grande potencial de transformao social, devido no s ao acmulo de informaes acessvel s pessoas de um modo geral, bem como velocidade acelerada com que so veiculadas as informaes. Esses fatores vem exigindo de todos ns a superao das limitaes espaciais at ento conheci-das, modificando conceitos bsicos como tempo, espao e realidade. Com a uti-lizao simultnea de multimeios na produo e disseminao das informaes, o que se percebe uma modificao nas ba-ses de uma cultura estabelecida, at ento, na leitura, na palavra escrita.

    Democracia poltica Presencia-mos atualmente novas discusses sobre as formas de participao cidad. Com a globalizao, as fronteiras nacionais se diluem e os espaos nos quais se exerce a cidadania tendem a ampliar-se para uma cidadania sem fronteiras ou a reduzir-se ao mbito local.

    Com estas profundas transformaes em desenvolvimento na socie-dade, a educao ganha maior nfase e a importncia do conhecimento indiscutvel. O que est em evidncia nas discusses atuais uma disputa pela apropriao dos lugares onde se produz e se distribui o conhecimento socialmente significativo, ou seja, onde se educa o cidado?

    As novas questes que permeiam os debates na rea educacional so, dentre muitas outras:

    Que conhecimentos so socialmente significativos?Que contedos devem ser selecionados?Como utilizar os conhecimentos cientficos?

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    As reflexes sobre o papel da educao na sociedade e em seu de-senvolvimento implicam abordar dois pontos fundamentais. O de definir os conhecimentos e capacidades que a formao do cidado exige e a for-ma institucional pela qual este processo de formao deve ocorrer. Hoje preciso nos perguntarmos se a escola ser a instituio socializadora do futuro e se a formao das geraes futuras exigir esse mesmo desenho institucional.

    Algumas propostas para superar esta crise vem dos defensores da escola cidad, que, segundo Tedesco (1998), a escola pblica ( para todos), estatal (na forma do seu financiamento) e democrtica e comu-nitria ( na sua gesto). A escola cidad voltada, em suas finalidades e mtodos, para a transformao social mais do que para a transmisso cultural.

    para esta nova sociedade que se exige uma nova educao, com novos objetivos, novos mtodos, novas concepes, reflexes e crticas, enfim, com uma nova didtica. Devemos estar sempre nos questionando sobre o papel que desempenhamos, enquanto educadores, no contexto social em que vivemos. Devemos nos perguntar se as nossas Instituies de ensino esto cumprindo os requisitos necessrios a uma formao de qualidade e a uma contribuio efetiva para a construo de uma socieda-de mais justa e igualitria, correspondendo s exigncias da sociedade da informao e do conhecimento.

    So os frutos desse questionamento que vm determinando a ur-gncia de se promover, em todos os nveis de ensino, a reflexo sobre os desafios da prtica docente frente a estas novas exigncias da sociedade contempornea. As novas prticas pedaggicas devem se basear no di-logo entre a realidade que est posta para cada um dos envolvidos no processo educativo e o estudos das realidades passadas, abolindo a im-posio dos conhecimentos prontos e acabados, viabilizando a reflexo, o debate, o questionamento da realidade e facilitando a compreenso e a interpretao dos fatos, para proporcionar, efetivamente as condies de transformao, individuais ou sociais, das situaes que se mostrarem necessrias.

    Discutir, no grupo de cada escola, o significado dessas mudanas e de qual perspectiva terica os educadores partilham para efetiv-las ponto de partida para a construo coletiva do projeto poltico-pedaggico e dos demais planos de ao/planejamentos que envolvem a organizao da prtica educativa.

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    Atividades

    01. Releia o material deste captulo e atente para a relao entre a escola e o contexto social. Leia mais sobre o assunto, busque novas informaes e elabore um texto acerca do papel da escola na sociedade atual.

    02. Faa uma pesquisa complementar, estude novamente as ideias aqui apresentadas e escreva a sua definio de sociedade da informao e do conhecimento.

    RefCexo

    Adentrar o espao escolar nos dias de hoje um grande desafio. A educao bsica passa por um momento de muitas crticas e os dados das avaliaes educacionais mostram que a sua proposta parece no estar alcanando seus objetivos. Se a educao se prope a ensinar pessoas a ler, escrever e contar, e, a partir destas habilidades bsicas, possibilitar aos sujeitos ler o mundo e participar da sociedade como cidados, preciso fazer algo para superar este momento de crise.

    O trabalho do professor de extrema importncia para reverter este quadro da educao brasileira atual. Esse trabalho, para produzir os obje-tivos que se pretende alcanar, precisa ser uma ao intencional, necessita de planejamento e de uma execuo direcionada para determinado obje-tivo, ou seja, no h como atingir os fins esperados pela prtica educativa intencional sem que sejam definidos os resultados esperados, assim como os meios e procedimentos necessrios para o seu atendimento.

    Nessa perspectiva, para a organizao do trabalho docente, torna-se ne-cessrio ter clareza acerca dos fins polticos da ao educativa e dos fins pro-priamente educativos; dos princpios, dos recursos cientficos e tcnicos que sustentem uma ao eficiente ante os objetivos; da execuo das atividades em coerncia com os princpios polticos, educativos e cientficos assumidos e, a partir desta discusso, fundamental a elaborao de planos de ao.

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    Leituras recomendadas

    TEDESCO, Juan Carlos O novo pacto educativo: educao, competi-tividade e cidadania na sociedade moderna. So Paulo: tica, 1998.

    Trata-se de um livro proveniente de pesquisas bibliogrficas e opinies do autor quanto prpria viso sobre a revoluo pela qual passamos hoje. O livro retrata os dias de hoje na educao, afirmando que, aps grandes evo-lues, temos tambm, ainda, grandes desafios, revelando, com intensidade, a crise gerada atravs da popularizao de aparelhos de TV, por exemplo, e frisando valores do tipo famlia, socializao e democracia.

    TAVARES, Wolmer Ricardo Gesto pedaggica: gerindo escolas para a cidadania crtica. Rio de Janeiro: Wak editora, 2009.

    Esse livro mostra que a educao no deve ser padronizada nem li-mitada a compndios traduzidos em planos de ao. Os vrios artigos tra-zem conceitos importantes que contribuem para alavancar uma educao para o protagonismo de seus agentes.

    BRANDO, C. R. O que educao. 12. ed. So Paulo: Brasilien-se, 1981.

    Nesse livro, que j se tornou um clssico na rea educacional, Bran-do discute a abrangncia do conceito de educao. A partir da, apresenta um histrico do desenvolvimento da educao escolarizada, culminando na afirmao de sua crena e esperana na educao. Leia, abaixo, um trecho dessa obra.

    Educao? Educaes: aprender com o ndioNingum escapa da educao. Em casa, na rua, na Igreja ou na escola,

    de um modo ou de muitos, todos ns envolvemos pedaos da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educa-o. Com uma ou com vrias: educao? Educaes. E j que, pelo menos por isso, sempre achamos que temos alguma coisa a dizer sobre a educao que nos invade a vida, por que no comear a pensar sobre ela com o que uma vez uns ndios escreveram?

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    H muitos anos nos Estados Unidos, Virgnia e Maryland assinaram um tratado de paz com os ndios das Seis Naes. Ora, como as promessas e os smbolos da educao sempre foram muito e a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos ndios para que enviassem alguns de seus jovens s escolas dos brancos. Os chefes responde-ram agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde Benjamin Franklim adotou o costume de divulg-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa:

    ...Ns estamos convencidos,portanto, que os senhores desejam o bem para ns e agradecemos de todo o corao.

    Mas aqueles que so sbios reconhecem que diferentes naes tm concepes diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores no ficaro ofendidos ao saber que a vossa ideia de educao no a mesma que a nossa.

    ...Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa cincia. Mas, quando eles voltavam para ns, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e in-capazes de suportarem o frio e a fome. No sabiam como caar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa lngua muito mal. Eles eram,portanto, totalmente ia, serviam como guerreiros, como caadores ou como conselheiros.

    Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora no possamos aceit-la, para mostrar a nossa gratido oferecemos aos nobres senhores de Virgnia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinare-mos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens.

    De tudo o que se discute hoje sobre a educao, algumas das questes entre as mais importantes esto escritas nesta carta de ndios. No h uma forma nica nem um nico modelo de educao; a escola no o nico lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar no sua nica prtica e o professor profissional no o seu nico praticante. (BRANDO, 1984, p.7-9).

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    Referncias

    BRANDO, C. R. O que educao. 12. ed. So Paulo: Brasiliense, 1981.

    COSTA, Jos Vasconcelos. A reforma do ensino superior ditada pela sociedade do conhecimento. Disponvel em: .

    DIAS, Jos Augusto. Sistema Escolar Brasileiro. In: MENESES, Joo Gualberto de Carvalho; BARROS, Roque Spencer Maciel; NUNES, Ruy Afonso da Costa (et al.). Estrutura e funcionamento da educao bsi-ca. So Paulo: Pioneira, 1998, p. 127-136.

    HOFLING,H. de M. Estado, Polticas (Pblicas) Sociais. In: Cadernos CEDES, Campinas-SP, n 55, 2002.

    HOKAMA, Marlia Godinho. Pensando (bem) na escola: o lugar das habilidades de pensamento no planejamento das atividades de ensino e aprendizagem. Dissertao de Mestrado. Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho. UNESP/ Araraquara, 2000.

    LUCKESI, Cipriano Carlos. Subsdios para a organizao do trabalho docente. In: Filosofia da educao. Cortez Ed, 1990.

    NUNES, R. A. da C. Evoluo da Instituio Escolar. In: MENESES, Joo Gualberto de Carvalho; BARROS, Roque Spencer Maciel; NUNES, Ruy Afonso da Costa (et al.). Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica. So Paulo: Pioneira, 1998.

    ROSSI, Paolo, A cincia e a filosofia dos modernos. So Paulo: UNESP, 1992.

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    SAVIANI, Dermeval. Educao brasileira: estrutura e sistema. 6. ed. So Paulo: Cortez, Campinas: Autores Associados, 1987.

    TAVARES, Wolmer Ricardo. Gesto pedaggica: gerindo escolas para a cidadania crtica. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.

    TEDESCO, Juan Carlos. O novo pacto educativo: educao, compe-titividade e cidadania na sociedade moderna. So Paulo: tica, 1998.

    No prximo capCtuCo

    Conhecer as caractersticas de um sistema escolar eficaz muito im-portante, como vimos neste captulo, mas, para que realmente seja efi-caz, ele precisa estar em consonncia com a Carta Magna, que vai ser o parmetro de validade para as normas do pas, bem como com a le-gislao educacional vigente. A evoluo histrica da educao atravs da Constituio e da legislao educacional , assim, o nosso prximo tema de reflexo. Vamos l!

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    Minhas anotaes:

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    2 A Trajetria da Legislao

    Educacional no BrasilO que uma Constituio? a lei funda-

    mental do pas. Todas as demais leis e normas tm de estar, obrigatoriamente, em conformidade

    com ela. Nela esto previstos nossos fundamentais di-reitos e deveres, a organizao do Estado e os limites dos

    poderes (Executivo, Legislativo e Judicirio).O direito Educao atualmente reconhecido como um dos

    direitos fundamentais do homem. Vamos, ento, nos debruar sobre as Constituies Federativas do Brasil e em algumas leis

    educacionais na tentativa de compreender como o direito educa-o foi se efetivando como um direito social e um dever do Estado.

    Objetivos da sua aprendizagemQue voc possa compreender a evoluo histrica da poltica educacio-nal nas Constituies. Em especial, que voc compreenda a importn-cia da nossa Constituio de 1988, bem como os direitos e deveres nela propostos, a organizao do Estado e os limites dos poderes (Executivo, Legislativo e Judicirio).

    Voc se lembra?Voc se lembra de algum filme que tratou da importncia das leis na edu-cao? Como isso era tratado nele?Essas so importantes amostras de como as orientaes disponveis nos documentos oficiais podem e devem orientar a ao docente cotidiana.

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    2.C A evoCuo da educao como um direito.

    Ao longo dos anos, de acordo com Oliveira (2007), a educao escolar se tornou um dos requisitos para que os indivduos tenham acesso ao conjunto de bens e servios disponveis e necessrios para a vida em sociedade. O direito a educao , atualmente, reconhecido como um dos direitos fundamentais do ho-mem, inclusive presente como tal em praticamente todos os pases.

    Logo, segundo Oliveira (2007):

    O direito educao consiste na compulsoriedade e na gratuidade da educao, tendo vrias formas de manifestao, dependendo do tipo de sistema legal existente em cada pas. A forma de declarao desse tipo de direito refere-se ao nmero de anos ou nveis de esco-laridade garantidos a todos os cidados. Pode ser declarado o direito educao elementar pela faixa etria da populao a ser atendi-da (educao dos 6 aos 14 anos para todos), pelo nvel de ensino abrangido (ensino fundamental) ou, de forma mais precisa, escola fundamental de nove, por exemplo (p.15).

    Diante da afirmao da educao como um direito, como podemos garantir que se torne um direito real e possvel? Devemos ter em mente que no basta a garantia de um direito apenas na legislao:

    Assim, o direito educao s se concretizar quando o seu re-conhecimento jurdico for acompanhado da vontade poltica dos poderes pblicos no sentido de torn-lo efetivo e da capacida-de da sociedade civil se organizar e se mobilizar para exigir o seu entendimento na justia e nas ruas e praas, se necessrio (HORTA, 1998, p. 10).

    O direito educao est intimamente vinculado questo da obri-gatoriedade escolar, isso porque em geral, a sociedade pode escolher ou no utilizar um direito social bem como adapt-lo segundo as suas in-tenes e necessidades, mas quando tratamos da educao temos a uma grande diferena: as crianas no podem negociar a maneira como a rece-

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    bero e se a recebero. Logo, estamos diante de um direito que deve ser tambm considerado um dever!

    2.C.C O direito educao nas Constituies Federais

    Ao olhar as diversas Constituies que vigoraram em nosso pas nem todas estabeleceram o preceito da obrigatoriedade. O princpio da obrigatoriedade da frequncia escola nasceu e se desenvolveu atravs das vrias Constituies que o Brasil adotou at hoje.

    2.C.2 O direito educao nas primeiras Constituies e Leis Educacionais

    De acordo com Piletti (1999), nossa primeira Constituio Imperial, em 1824, outorgada por D. Pedro I, no chegou a mencionar a escolari-dade obrigatria e nem a educao como um direito. Limitou-se apenas a estabelecer que a instruo primria gratuita a todos os cidados (art. 179, XXXII). Isto , estabeleceu o princpio da gratuidade, mas se esque-ceu da obrigatoriedade.

    Aps a promulgao dessa Constituio foi sancionada a primeira Lei do Ensino Primrio, promulgada em 15 de outubro de 1827, determi-nando que deviam ser criadas escolas de primeiras letras em todas as ci-dades, vilas e lugarejos e escolas de meninas nas cidades e vilas mais po-pulosas. Nessa lei podemos ver ser reafirmado o princpio da gratuidade.

    Em 1834, com a instituio do Ato Adicional, foi transferida para as provncias a competncia de legislar sobre a instruo pblica assim como sobre os estabelecimentos prprios a fim de promov-los. Desse modo, foi nas legislaes provinciais que se encontrou a reafirmao da gratuidade escolar, bem como foi acrescentada a definio da obrigatoriedade esco-lar, entendida como obrigao de frequncia escola primria.

    A primeira Constituio do perodo republicano, de 24 de fevereiro de 1891, tambm no fez referncia nem obrigatoriedade nem gratui-dade do ensino primrio, embora a gratuidade tivesse figurado no artigo 62, item 5 da Constituio Provisria da Unio: O ensino ser leigo e livre em todos os graus e gratuito no primrio.

    Segundo Piletti, (1999), os constituintes preferiram dar liberdade aos Estados para que resolvessem as questes da obrigatoriedade e da gratuidade escolar, uma certa forma de descentralizao das aes. Desse

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    modo, os Estados deveriam ser os responsveis pela promoo da educa-o escolar e, vale a pena pensarmos que estes, no tinham condies de arcar sozinhos com os custos decorrentes de uma expanso das escolas.

    De acordo com Piletti (1999), a Constituio de 16 de julho de 1934 foi a primeira a incluir tanto a obrigatoriedade quanto a gratuidade do ensino primrio. Podemos destacar dois itens dessa Constituio: o Artigo 149 apresentou uma primeira tentativa de colocar a educao como um direito na medida em que coloca que a educao (...) deve ser ministrada pela famlia e pelos poderes pblicos; o item a do pargrafo nico do artigo 150 instituiu o ensino primrio integral e gratuito e a frequncia obrigatria, extensivo aos adultos, porm, no fazia referncia faixa etria em que o ensino primrio seria obrigatrio, embora apresentasse que ele deveria ser extensivo aos adultos. Portanto, podemos dizer que a lei no clara em relao ao seu atendimento.

    Em seu artigo 130, a Constituio de 10 de novembro de 1937 de-terminou: O ensino primrio obrigatrio e gratuito. Mais uma vez, no h nenhuma meno quanto a faixa etria, mas o que podemos pressupor que a obrigatoriedade seria de cinco anos, uma vez que essa era a dura-o do ensino primrio da poca.

    A Constituio seguinte, de 1946, apresentou uma definio ainda no muito clara do dever do Estado quanto educao, bem como do conceito de obrigatoriedade escolar. A Constituio determinou em seu artigo 168:

    I - O ensino primrio obrigatrio e ser dado na lngua nacional. II - O ensino primrio oficial gratuito para todos; o ensino oficial

    ulterior ao primrio s-lo- para quantos provarem falta ou insufici-ncia de recursos.

    Esses foram os preceitos legais, mas que, segundo Horta (1998), estive-ram longe de serem postos em prtica, isso porque embora tenha sido afirma-do o direito de todos educao, a educao no foi posta como um dever do Estado e nem se assumiu um conceito amplo de obrigatoriedade escolar.

    A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 4024), promulgada em 1961, incorporou, segundo Horta (1998), os prin-cpios do direito educao, como tambm da obrigatoriedade escolar e da extenso da escolaridade obrigatria, como podemos ver nos artigos da LDB destacados abaixo:

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    Art. 2 - A educao direito de todos e ser dada no lar e na escola;Art. 3 - O direito educao assegurado: pela obrigao do poder pblico e pela liberdade de iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma da lei em vigor;Art. 27 O ensino primrio obrigatrio a partir dos sete anos, e s ser ministrado na lngua nacional. Para os que o iniciarem depois dessa idade podero ser formadas classes especiais ou cursos suple-tivos correspondentes ao seu nvel de desenvolvimento;Art. 30 No poder exercer funo pblica, nem ocupar emprego em sociedade de economia mista ou empresa concessionria de ser-vio pblico, o pai de famlia ou responsvel por criana em idade escolar sem fazer prova de matrcula desta, em estabelecimento de ensino, ou de que lhe est sendo ministrada educao no lar;Pargrafo nico Constituem casos de iseno, alm de outros pre-vistos em lei: a) comprovado estado de pobreza do pai ou respon-svel; b) insuficincia de escolas; c) matrcula encerrada; d) doena

    ou anomalia grave da criana.

    Pilleti (1999), afirma que a Constituio de 24 de janeiro de 1967 foi a primeira a fazer referncia explcita faixa etria obrigatria de es-colarizao: O ensino dos 7 aos 14 anos obrigatrio para todos e gratui-to nos estabelecimentos primrios oficiais (art. 168, 3, Il). Entretanto,

    [...] o estabelecimento da faixa etria de 7 a 14 anos no representou uma ampliao da escolaridade obrigatria para oito anos. Vejamos por qu: o mesmo dispositivo estabelece que o ensino seria gratuito nos estabelecimentos primrios oficiais. Como, de acordo com a

    Lei n. 4024/61, o ensino primrio poderia ter um mnimo de qua-tro e um mximo de seis anos, conclui-se que a obrigatoriedade de frequncia escola estava reduzida a quatro anos (PILETTI, 1999, p.51-52).

    A Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969 estabele-ceu no seu Artigo 176 que A educao (...) um direito de todos e dever do Estado, e ser dada no lar e na escola, logo, segundo Horta (1998), essa a primeira vez em um texto constitucional, que aparece a afirmao explcita da educao como dever do Estado. Alm disso, modificou a re-

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    dao do texto legal, trocando de lugar o adjetivo primrio. Com efeito, determinou: O ensino primrio obrigatrio para todos, dos 7 aos 14 anos, e gratuito nos estabelecimentos oficiais (art. 176, 3, II).

    Para Piletti (1999):

    Na verdade, a situao parece ter permanecido inaltervel, pois a obrigatoriedade continuou em relao ao ensino primrio, ou seja, um mnimo de quatro anos. A faixa etria simplesmente parece indicar que, depois dos 14 anos, o ensino primrio deixa de ser obrigatrio.A verdadeira extenso dos anos de obrigatoriedade escolar s viria com a Lei n. 5692/71, que instituiu o ensino de 1 grau, com oito anos de durao, e, para efeito de obrigatoriedade, entendeu por ensino primrio a educao correspondente ao ensino de 1 grau (art. 1, 10.). Portanto, a partir da reforma de 1971, a obrigatorie-dade de frequncia escola passou a ser de oito anos (p.52).

    2.2 A educao como direito do cidado e como dever do Estado

    Podemos compreender a educao, em termos de polticas pblicas, a partir de duas perspectivas: como direito do todo cidado e como dever do Estado. A primeira perspectiva diz respeito ao direito subjetivo de todo indivduo de ter acesso aos processos educativos escolares. A segunda pers-pectiva, complementar primeira, traz a responsabilizao do Estado pe-rante a populao em oferecer a escolarizao. Ambas as perspectivas esto contempladas na Constituio de 1988. Essa Constituio organizada por ttulos, captulo, seo, subseo, artigos e pargrafos. No Ttulo II, Dos Direitos e Garantias Fun-damentais, o captulo II, denominado Dos Direitos Sociais, traz a primeira considerao da lei sobre a educao.

    Art. 6 - So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos de-samparados, na forma desta Constituio.

    Conexo:

    Acesse o link http://le-tras.terra.com.br/titas/91453 e oua a msica Comida. Ela pode ser entendida como uma reflexo sobre os direitos do

    cidado.

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    Ento, compete

    Unio estabelecer as normas e diretrizes para que a educao

    se organize e estruture, isto , para que os sistemas pblicos e particulares possam funcionar. E como salientado anteriormente,

    sendo a Constituio a lei mxima de um pas, toda lei que normatize a educao deve considerar que cabe Unio legislar sobre a

    educao nacional.

    Nesse artigo, a educao con-siderada como um direito, e todos o tm assegurado por essa lei. Em razo disso, toda e qualquer lei da educao deve assegurar que esse direito seja cumprido. A educao, nesse pargrafo, compreendida como direito de todos.

    J no artigo 22, o Estado assume a responsabilidade sobre a legislao da educao:

    Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre: XXIV diretrizes e bases da educao nacional;

    J o Ttulo VIII, denominado Da Ordem Social, traz um captulo que se dedica trs reas essenciais para o desenvolvimento de uma so-ciedade, a saber: a educao, a cultura e o desporto. Especificamente na Seo I, denominada Da Educao, so tratados os principais aspectos legais da educao escolar brasileira:

    Art. 205. A educao, direito de todos e dever do Estado e da fam-lia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    Nesse artigo, a educao ento compreendida como dever do Es-tado, isto , o Estado deve necessariamente oferecer condies para tal, assim como a famlia tambm tem essa responsabilidade e esse dever de zelar pela educao das crianas e dos jovens. Nele tambm encontram-se, em linhas gerais, os principais objetivos da educao escolar: pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    Ainda sobre o artigo 205, importante destacar que a escola tam-bm deve qualificar para o trabalho. Ento, a escola deve promover o desenvolvimento pleno, o preparo para o exerccio da cidadania e qua-

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    lificar para o trabalho. Essas atribuies so fundamentais para o desen-volvimento de um pas, de uma nao. Mas a escola pblica que temos atualmente deixa muito a desejar. Voc concorda? Discorda? O certo que sempre devemos compreender que a escola deve ser preocupao de toda a sociedade, pois, como o artigo 205 mesmo afirma, a sociedade deve incentivar e colaborar para o processo educativo. Ento, ns, como membros da sociedade, temos de exigir que a escola forme uma sociedade mais democrtica e mais justa.

    O artigo seguinte, 206, apresenta os princpios segundo os quais o ensino deve ocorrer.

    Art. 206. O ensino ser ministrado com base nos seguintes princ-pios:I igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola;II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa-mento, a arte e o saber;III pluralismo de ideias e de concepes pedaggicas, e coexistn-cia de instituies pblicas e privadas de ensino;IV gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais;

    V valorizao dos profissionais da educao escolar, garantidos,

    na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso pblico de provas e ttulos, aos das redes pblicas;VI gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei;VII garantia de padro de qualidade;VIII piso salarial profissional nacional para os profissionais da

    educao escolar pblica, nos termos de lei federal.

    Pargrafo nico. A lei dispor sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educao bsica e sobre a fixao de

    prazo para a elaborao ou adequao de seus planos de carreira, no mbito da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios.

    Esse artigo muito importante e traz informaes fundamentais para que possamos compreender a educao brasileira. O primeiro item nos traz a igualdade de condies de ingresso e permanncia na escola, isto , todos so iguais e devem ter seu direito de matrcula e continuidade nos estudos. O segundo item diz respeito liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, isto , aps um pero-

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    do obscuro de ditadura militar e muita censura na educao, na imprensa e na cultura, a Constituio assegura a liberdade de aprender, ensinar, pes-quisar tanto em relao arte como ao pensamento e cincia.

    O terceiro diz respeito ao pluralismo de ideias e de concepes pe-daggicas, e coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino, ou seja, devemos considerar e respeitar a coexistncia das diferentes con-cepes de ensino, mtodos, prticas e modelos pedaggicos. No quarto item apresentado que, em todas as escolas pblicas (estabelecimentos oficiais), o ensino dever ser gratuito. O quinto e oitavo itens nos falam sobre os profissionais da educao e a sua valorizao atravs de planos de carreira, assegurando o ingresso, exclusivamente por concurso pblico de provas e ttulos, em escolas pblicas. Por outro lado, a lei tambm trata do piso salarial nacional, assegurado por lei, isto , dever existir um sa-lrio mnimo para os profissionais da educao.

    Para finalizarmos nossa anlise sobre esse artigo, devemos pensar sobre os dois itens que faltam: o sexto, que nos traz gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei, e o stimo, o padro de qualidade. Em relao ao sexto item, a lei assegura a necessidade da gesto democrtica, isto , a gesto da escola deve necessariamente passar pela participao dos envolvidos: professores, alunos, funcionrios, pais e comunidade. J em relao qualidade, esse artigo apresenta que as escolas devem ter um padro de qualidade.

    Agora, vamos pensar um pouco sobre o artigo 208:

    Art. 208. O dever do Estado com a educao ser efetivado median-te a garantia de:I educao bsica obrigatria e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (de-zessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela no tiveram acesso na idade prpria,II progressiva universalizao do Ensino Mdio gratuito;III atendimento educacional especializado aos portadores de defi-cincia, preferencialmente na rede regular de ensino;IV educao infantil, em creche e pr-escola, s crianas at 5 (cinco) anos de idade;V acesso aos nveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criao artstica, segundo a capacidade de cada um;VI oferta de ensino noturno regular, adequado s condies do educando;

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    VII Atendimento ao educando, em todas as etapas da educao bsica, por meio de programas suplementares de material didtico-escolar, transporte, alimentao e assistncia sade: 1 O acesso ao ensino obrigatrio e gratuito direito pblico sub-jetivo; 2 O no oferecimento do ensino obrigatrio pelo poder pblico, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente; 3 Compete ao poder pblico recensear os educandos no Ensino Fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou res-ponsveis, pela frequncia escola.

    Nesse artigo, temos efetivados legalmente o dever do Estado em re-lao educao. Em relao ao Ensino Fundamental e Mdio, podemos destacar os seguintes aspectos: a obrigatoriedade do Ensino Fundamental inclusive para os jovens e adultos que no conseguiram cursar no perodo regular; o aumento progressivo na oferta para o Ensino Mdio; a prefern-cia ao atendimento aos indivduos com necessidades educativas especiais na rede regular de ensino, a adequao s condies do educando, em especial no ensino noturno, e o atendimento social complementar aos educandos.

    O artigo seguinte, 209, regulamenta o ensino privado, posto que no artigo 206 h a regulamentao sobre a coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino. Essa coexistncia deve respeitar as normas da educa-o nacional, assim como a autorizao para funcionamento e a avaliao do atendimento devero ser feitas pelos sistemas pblicos de educao.

    Art. 209. O ensino livre iniciativa privada, atendidas as seguin-tes condies:I cumprimento das normas gerais da educao nacional;II autorizao e avaliao de qualidade pelo poder pblico.

    Para finalizarmos nosso estudo sobre alguns pontos da Constituio Federal, destaco as verbas que devem ser aplicadas anualmente na educao.

    Art. 212. A Unio aplicar, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municpios vinte e cinco por cento, no mnimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferncias, na manuteno e desenvolvimento do ensino.

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    Grande parte desses recursos oriunda da arrecadao de impostos que so recolhidos de todos que trabalham, consomem, transitam, enfi m, de todos os cidados brasileiros. O dinheiro que man-tm, sustenta e preserva a escola pblica proveniente de todos os brasileiros.

    Por fi m, importante destacar outro artigo da nossa Constituio, que um pas-so relevante para a conquista da educao como um direito:

    Art. 214. A lei estabelecer o plano nacional de educao, de du-rao decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educao em regime de colaborao e defi nir diretrizes, objetivos,

    metas e estratgias de implementao para assegurar a manuteno e desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis, etapas e mo-dalidades por meio de aes integradas dos poderes pblicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I - erradicao do analfabetismo;II - universalizao do atendimento escolar;III - melhoria da qualidade do ensino;IV - formao para o trabalho;V - promoo humanstica, cientfi ca e tecnolgica do Pas;

    VI - estabelecimento de meta de aplicao de recursos pblicos em educao como proporo do produto interno bruto.

    Posteriormente, discutiremos a evoluo desta normatizao e suas consequncias nas escolas.

    Atividade

    Leia a letra da msica Comida, de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Srgio Brito e, a partir dela, refl ita sobre o artigo 6 da Constituio Federal:

    Art. 6 - So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio.

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    Bebida gua! Comida pasto!Voc tem sede de qu?Voc tem fome de qu?...A gente no quer s comidaA gente quer comidaDiverso e arteA gente no quer s comidaA gente quer sadaPara qualquer parte...A gente no quer s comidaA gente quer bebidaDiverso, balA gente no quer s comidaA gente quer a vidaComo a vida quer...Bebida gua!Comida pasto!Voc tem sede de qu?Voc tem fome de qu?...A gente no quer s comerA gente quer comerE quer fazer amorA gente no quer s comerA gente quer prazerPra aliviar a dor...A gente no querS dinheiroA gente quer dinheiroE felicidadeA gente no querS dinheiroA gente quer inteiroE no pela metade...Bebida gua!Comida pasto!

    Voc tem sede de qu?Voc tem fome de qu?...A gente no quer s comidaA gente quer comidaDiverso e arteA gente no quer s comidaA gente quer sadaPara qualquer parte...A gente no quer s comidaA gente quer bebidaDiverso, balA gente no quer s comidaA gente quer a vidaComo a vida quer...A gente no quer s comerA gente quer comerE quer fazer amorA gente no quer s comerA gente quer prazerPra aliviar a dor...A gente no querS dinheiroA gente quer dinheiroE felicidadeA gente no querS dinheiroA gente quer inteiroE no pela metade...Diverso e artePara qualquer parteDiverso, balComo a vida querDesejo, necessidade, vontadeNecessidade, desejo, eh!Necessidade, vontade, eh!Necessidade...

    COMIDATits. Composio: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Srgio Britto

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    01. A partir do material estudado neste captulo, elabore uma reflexo que responda s seguintes questes: o que seria o pleno desenvolvimento da pessoa? O que a lei quer dizer com preparo para o exerccio da cidadania?

    RefCexo

    Os pontos levantados a partir dos artigos da nossa Constituio Federal nos levam a uma srie de reflexes: o que significa o pleno desen-volvimento da pessoa? O que a lei quer dizer com preparo para a cida-dania? O que esse preparo? Vamos refletir, ento: as escolas atendem a todos os brasileiros? O que voc, futuro pedagogo, faz ou far para que a educao seja melhor? As respostas a essas questes so diversas e dis-tintas, porque cada indivduo pode ter uma compreenso diferente acerca do termo qualidade. Mas o que devemos ter em mente que a escola deve necessariamente contribuir para a construo de uma sociedade mais jus-ta, com mais oportunidades e mais democrtica. Pode-se concluir, a partir da leitura e anlise da Constituio Federal, que ir orientar as normas e diretrizes educacionais, que a educao em valores d sentido e o fim da educao escolar, j que, juntamente com a aquisio de conhecimentos, competncias e habilidades, faz-se necessria a formao de valores bsi-cos para a vida e para a convivncia, bases para uma educao plena.

    Leituras recomendadas

    PARO, Vitor Henrique. Gesto escolar, democracia e qualidade do ensino. So Paulo: tica, 2007.

    Neste pequeno livro, o autor dialoga com o leitor sobre pontos im-portantes da construo de uma escola pblica de qualidade no contexto brasileiro. O autor prope a reflexo sobre o que pensam os professores, os coordenadores pedaggicos, os diretores e demais agentes escolares sobre a qualidade do ensino que praticam e da sua relao com a constru-o da cidadania.

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    ARROYO, Miguel; BUFFA, Ester; NOSELLA, Paolo. Educao e cidadania: quem educa o cidado. 3. ed. So Paulo: Cortez, 1991.

    O livro contm trs ensaios sobre o tema educao e cidadania. Os estudos demonstram uma clara inteno de superar a viso idealista ou pedagogista nessa relao, visando ao aprofundamento crtico desse de-bate.

    Voc pode saber um pouco mais sobre a educao nas constituies brasileiras lendo o artigo de Sofia Lerche Vieira intitulado A educao nas constituies brasileiras: texto e contexto. O artigo evidencia que a presena da educao nas constituies federativas relaciona-se com o grau de importncia ao longo da histria.

    Voc pode encontrar o texto na ntegra no seguinte link:

    VIEIRA, Sofia Lerche. A educao nas constituies brasileiras: tex-to e contexto. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos. Braslia, 2007, v. 88, n. 219, p. 291-309.

    Voc pode tambm aprofundar a discusso sobre a importncia do direito educao escolar lendo o artigo Direito educao: direito igualdade, direito diferena, de Carlos Roberto Jamil Cury. O artigo estuda o direito educao escolar compreendendo-o como mais do que uma exigncia contempornea ligada aos processos produtivos e de inser-o profissional responde tambm a valores da cidadania social e poltica. Voc pode acessar esse artigo no seguinte link:

    CURY, Carlos Roberto Jamil. Direito educao: direito igualdade, direito diferena, 2002, n. 116, p. 245-262.

    Referncias

    BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei n 4024, de 20 de dezembro de 1961. Ministrio da Educao e Cultura/Conselho Federal de Educao, 1962.

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    ______. Constituies do Brasil: de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e suas alteraes. Braslia: Senado federal/Secretaria de Edies Tcnicas, v. 1, 1986.

    ______. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Contm as emendas constitucionais posteriores. Braslia, DF: Senado, 1988.

    ______. Estatuto da Criana e do Adolescente. Lei n 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispe sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias. Braslia, DF, 1990.

    ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei n 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Braslia, DF, 1996.

    BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionrio de poltica. Braslia: Editora da UnB, 1995.

    CURY, Carlos Roberto Jamil. Direito educao: direito igualdade, direito diferena. Cadernos de Pesquisa. 2002, n. 116, p. 245-262.

    DIAS, Jos Augusto. Sistema Escolar Brasileiro. In: MENESES, Joo Gualberto de Carvalho; BARROS, Roque Spencer Maciel; NUNES, Ruy Afonso da Costa (et al). Estrutura e Funcionamento da Educa-o Bsica. So Paulo: Pioneira, 1998, p. 127-136.

    DUARTE, Srgio Guerra. Dicionrio brasileiro de educao. Rio de Janeiro: Edies Antares: Nobel, 1986.

    HORTA, Jos Silvrio Baia. Direito educao e obrigatoriedade es-colar. Cadernos de Pesquisa. 1998, n. 104, p. 5-34.

    OLIVEIRA, Romualdo Portela. O direito educao In: OLIVEIRA, R. P.; ADRIO, T. (Orgs.) Gesto, financiamento e direito edu-cao: anlise da Constituio Federal e da LDB. So Paulo: Xam, 2007.

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    PILETTI, Nelson. Estrutura e Funcionamento do Ensino Funda-mental. So Paulo: tica, 1999.

    No prximo capCtuCo

    No prximo captulo voc vai refletir sobre as reformas educacio-nais que ocorreram a partir dos anos 90, no Brasil, no contexto da transi-o democrtica pela qual o pas passava.

  • Cap

    CtuCo

    3 As Reformas

    Educacionais e a Transio Democrtica na Educao

    No captulo anterior analisamos o direito Edu-cao nos textos legais, compreendendo o contexto

    das reformas educacionais da ditadura Militar que im-pulsionaram a construo do paradigma democrtico, ou

    seja, a Educao comea a ser compreendida como direito social. Neste captulo, analisaremos o papel do Estado nas

    principais reformas educacionais.

    Objetivos da sua aprendizagemEste captulo tem por objetivo subsidiar a compreenso e a reflexo

    sobre a transio do paradigma democrtico na Educao e contextu-alizar as reformas educacionais que ocorreram nas primeiras dcadas

    do sculo XX, compreendendo o papel do estado nestas reformas.

    Voc se lembra?A ditadura militar, que vigorou no Brasil entre os anos de 1964 e 1984 se caracterizou pelo autoritarismo do Estado, pautado pela represso. Com um novo regime ditatorial, o Brasil v a Educao sendo redimensionada em um sentido repressivo e reproduzida de acordo com os interesses do setor privado. Projetos de democratizao vinham se delineando frente s manifestaes e protestos cujas propostas visavam traar novos ru-mos para o pas e para a Educao.Neste contexto, iniciaremos nossas reflexes a partir desta transio

    paradigmtica que implica em um novo contexto a partir de re-formas educacionais que nos permitem pensar sobre o papel do

    Estado.

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    3.C O papeC do Estado nas reformas educacionais: Um breve histrico

    Vamos iniciar nosso estudo pensando acerca do papel desempenha-do pelo Estado nas reformas educacionais. Como poltica social perten-cente a um projeto mais amplo, a educao brasileira vem acompanhando as reformas do Estado brasileiro, posto que este o vetor das reformas educacionais (ROSAR; KRAWZYK, 2001). Portanto, faremos aqui um breve histrico das principais concepes e papis atribudos ao Estado, no sentido de esclarecer como se deu este processo.

    Embora nossa anlise diga respeito ao setor educacional no Brasil, consideramos importante situar as propostas e iniciativas neste setor da poltica social em relao s propostas mais abrangentes de reforma do Estado, tanto no prprio pas, como nos pases centrais, haja visto que a agenda da reforma em setores especficos condicionada pelo debate mais geral sobre o papel do Estado e pelas diferentes perspectivas hoje existentes a respeito da reforma do aparato estatal (FARAH, 1994, p. 193).

    A dcada de 1930 foi uma poca marcada por reformas e propostas pblicas renovadoras no campo da educao cujas razes se encontram na dcada precedente. Na dcada de 1920, havia no Brasil um desejo enorme da elite de definir uma identidade nacional para o Brasil de modo a situ-lo dentro do contexto dos pases mais desenvolvidos na poca. Caberia educao preparar a populao para viver conforme os ditames de uma nova ordem social, cujo emblema era Ordem e Progresso.

    O papel da educao, frente modernizao do pas, foi alvo de inmeras discusses entre a elite dirigente, e o que mais se propunha era a implantao de um sistema educacional que fosse capaz de atender toda a populao, e no s os filhos da elite, pois era necessrio que o povo fosse preparado para viver na nova sociedade. Na viso das elites, tal necessidade tinha um carter eminentemente poltico. A educao seria o instrumento de formao do cidado Republicano; vinculava-se, portanto, sobrevivncia e consolidao do novo regime.

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    A heterogeneidade era o signo sob o qual encontrava-se erigida a sociedade brasileira, acentuada principalmente, pela ascendncia das organizaes e mobilizaes da classe operria. Multiplicidade regional, de raas, de projetos, de interesses. Decorre portanto, a necessidade de civilizar as pessoas e acionar prticas de organiza-o, disciplinamento e controle da fora de trabalho. A educao seria uma das estratgias na grande obra de homogeneizao e conformao das massas ordem social burguesa. Tantas diferenas eram vistas como prejudiciais ao projeto de construo do Estado Nacional.

    (SOUZA, 1991, p.13).

    Segundo Souza (1991), o escolanovismo na dcada de 1920 signifi-cou um esforo de elaborao de um projeto poltico-pedaggico que pro-punha responder qual deveria ser o papel da educao numa sociedade em mudana, o que se familiarizava com os demais projetos de reforma social que estavam sendo veiculados na sociedade brasileira. Neste perodo, o ensino popular tinha o objetivo de preparar o trabalhador para o mundo do trabalho. O ensino secundrio, destinado formao de uma slida cul-tura, ficaria restrito s elites. Os reformadores fizeram de seus ideais uma questo de luta e trataram de organizar meios para divulg-los, tais como a publicao em artigos de jornais, revistas, livros, o que tambm impul-sionou a realizao de vrias reformas de ensino, como tambm a criao da ABE (Associao Brasileira de Educao) em 1924.

    O Manifesto dos Pioneiros da Educao foi um documento ela-borado por Fernando de Azevedo e assinado por mais 25 educadores e

    intelectuais da poca, entre eles Ansio Teixeira, Loureno Filho e Ceclia Meirelles. Partia do princpio de que a educao exercia um papel social emi-nentemente pblico, portanto deveria ser assegurada a todos e no somente a uma pequena parcela de privilegiados. A autonomia e a descentralizao do ensino tambm foram outras reivindicaes trazidas pelo Manifesto (GUI-MARES, 2012). Guimares, Paula Cristina David. Histria da educao.

    So Joo del-Rei, MG: UFSJ, 2012. p. 70.

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    No campo educacio-

    nal, tais propostas traduziram-se como valorizao de questes

    morais e sanitrias avanadas como dispositivos de fixao de hbitos e de erra-dicao de vcios. Tendo como denominador

    comum a implementao de um modo de vida moralizado e sanitarizado, no qual o trabalho e a famlia e