livro p.gildasio correcoes cores 100 digital - missão salesiana · n v vens sumário nada é mais...

40

Upload: vulien

Post on 07-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

3

Copyright © 2016 - Inspetoria Salesiana de Campo Grande - MSTodos os Direitos Reservados

Esta publicação está protegida por direitos autorais e distribuídasob licença restringindo cópia, distribuição e descompilação.

– Periodicidade:Edição Única

– Revisão: Maria Helena Silva Cruz

– Criação, Diagramação e Produção Gráfica:Arte Brasil Publicidade

R. Dr. Osvaldo Cruz, 700 - CEP: 13076-260Jd. Nossa Senhora Auxiliadora - Campinas - SP

– Atendimento:Izabel Cristina Macedônio

Tiragem: 1.000

4

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Sumário Nada é mais próprio de Deus do que o amor ............................................................................... 5

O amor não tem idade, tem história ......................................................................................................9

Quando vai amadurecendo, o amor chama para a entrega da vida .......................15

Nossa história de amor está povoada por milhares de pessoas ..............................21

Quem ama sai de manhã à procura do Amado .......................................................................25

Dom Bosco – uma história de amor completamente povoada de jovens .......31

5

uem ama é naturalmente atraído pela pessoa amada. Como Deus é amor, quem O busca e O conhece, vive no amor. Todas as cria-turas de Deus gravitam em torno do amor do Criador. Entre todas as suas maravilhas criadas, o amor é a maior delas. Por isso, somos cria-dos no seu amor. Todos nós somos fruto do amor d’Aquele que é Amor.

6

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Cada um de nós sente o palpitar do amor no coração. Viver é seguir a voz do coração que tem fome de amor. Vivemos para amar. Trabalhamos porque somos impulsionados por uma força para viver a que nominamos chama do amor. Às vezes sofremos porque perdemos a rota de um coração que ama. Até mesmo quando temos incerteza se amamos ou somos amados de verdade, o amor renasce do mais pro-fundo do nosso ser e grita pra nós que ele está vivo, que somos amor.

Na pessoa humana, o amor de Deus é visível e sensível. O livro do Gênesis diz que “Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança” (Gn 1,27). Homem e mulher: obras de arte do amor de Deus. Uma obra que expressa esse amor do Criador e O torna visível a todos. O seu amor resplandece nas suas criaturas. Cada pessoa hu-mana é a glorificação do amor de Deus.

O místico Belga Ruysbroeck (1293-1381) descrevia com muita verdade e beleza a largueza e profundidade do amor que ama e se transborda em Deus:

“Ame o amor que o ama duradouramente, pois quanto mais amá-lo, mais Ele o amará... E quanto mais a alma rende-se à atração de Deus, mais se anseia por amá-Lo”

7

Deus em sua essência é Amor generoso e ávido, que dá e ao mesmo tempo atrai a si o amor de quem é amado. Jesus Cristo viveu esta intimidade amorosa com o Pai, sua referência espiritual afetiva. É o próprio Jesus que afirma e confirma que Ele é amado pelo Pai. São João Evangelista, no seu maravilhoso e profundo capítulo 15 sobre a espiritualidade do amor descreve como age o amor de Deus no cora-ção daquele que está unido a Deus.

“Assim como o Pai me ama, assim Eu vos amo. Per-manecei no meu amor. Se guardardes os meus man-damentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vos-sa alegria seja completa”. (Jo 15, 9-11)

O chamado de Deus em nossa vida é um chamado de amor. Ele nos ama. Cada chamado é uma resposta ao pulsar desse amor. O coração – morada do amor – nos guia na resposta a esse amor. Dizemos sim a Deus porque somos amados. Ele, o Amor, nos chama e nos alimenta desse amor. Livremente, respondemos a Deus que é Amor. Desta profunda relação, nasce a nossa história de amor com o Amado: Deus.

8

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Uma história se constrói no dia a dia, em todos os instantes. Uma história de amor se constrói com o tempo; a resposta ao Amado na-quilo que Ele, pelo Seu Espírito, nos concede como graça e nos orienta a realizar neste mundo. Somos a pura expressão da nossa história de amor com Deus e com as pessoas.

9

ossa história de amor com Deus nasce de um sim livre e amoroso. Ele nos ama, nos escolhe, nos consagra e nos sela com a marca de Seu amor. Essa história é uma referência significativa de um amor ver-dadeiro e sempre novo. Desse encontro entre cada um de nós e Deus, concretiza-se o amor, inseparável e eterno.

10

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Essa experiência de amor entre Deus que chama e nós que res-pondemos a esse amor é um caminho que se faz de descobertas e entregas diárias. O amor de Deus é incondicional, mas a resposta a esse amor na entrega da nossa vida ao Amado, depende de nossa disponibilidade para se abrir ao encontro com Ele no tempo existencial de cada um de nós.

O amor não tem idade. A história de amor com Deus nasce em qualquer tempo da vida.

Para alguns, essa história fascinante de amor se inicia cedo na infância; para outros, na juventude ou mais tarde na vida. Na verdade, Deus nos ama ainda no útero materno. Foi esta a experiência do pro-feta Jeremias. “Antes mesmo de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que viesses ao mundo, Eu te separei e te designei para a missão de profeta para as nações!” (Jer 1,5).

Mas, nós seres humanos, temos nossa liberdade, e o despertar para o amor de Deus pode acontecer em qualquer momento da exis-tência.

Santo Agostinho, um homem profundamente tocado pelo amor de Deus, reconhece que tarde – na idade – encontrou o Amado.

11

“Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Se-guravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti.

Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha sur-dez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando--o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!”(Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29)

Agostinho confessa que tarde amou o Amado, mas o amor des-coberto se faz novo para ele. A fome e sede que sentia antes, na sua alma e no seu coração, agora são saciadas por um grande amor – pelo encontro com o Amado.

Independente de idade, o amor engrandece e ganha sentido quan-do abraçamos a fé em um Deus que nos ama e tem um plano para nós.

12

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

A história de amor com Deus é um ato de fé.

Acreditar nessa história é dizer sempre para Ele: Deus, eu renovo minha história de amor. Porque você me amou primeiro, você colocou no meu coração a semente do nosso amor. Seduziu-me, e eu me dei-xei seduzir por este amor.

Considerados os dois maiores escritores sobre Jesus Cristo, São João e São Paulo, definiram o amor como a mais bela e sublime expressão de Deus. Eles chegaram na maturidade da suas experiências espirituais e, como escritores da mensagem cristã, convencidos de que, para quem crê em Deus, amar é a expressão mais verdadeira e nobre, e quem ama está em Deus.

O Evangelista São João – o Discípulo amado - expressa com mui-ta clareza e profundidade como Jesus estabelece com seus discípulos uma relação de amor, que é selada pela entrega ao projeto do Pai.

“Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor” (Jo 15, 9).

A história de amor que os discípulos iniciam com Jesus começa com o amor do Pai. A referência ao Pai dá legitimidade e autoridade à

13

história de amor. Não é uma história pessoal, sem propósito e projeto. Ela nasce no coração do amor do Pai.

Interessante que, ao descrever sobre o amor, o discípulo ama-do, São João, refere-se ao discurso do amor relacionado com a men-sagem sobre a Videira. Jesus se proclama a videira, e aqueles que o amam, os ramos. Toda a árvore está unida ao Pai. Amor de pertença profunda. Amor de aliança. Amor de união.

Jesus continua aprofundando o amor que faz história:

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. (Jo 15; 9-27)

Assim como a videira, que para dar uvas precisa do sol e da chu-va, o amor precisa da fonte amorosa de Deus. O amor exige fé, tempo, cuidado e ternura. O amor tem suas estações. A maior delas é a esta-ção da entrega.

A estação da entrega de cada um de nós passa pelos nossos sonhos, pela escuta da voz de Deus, pela liberdade de escolher um caminho onde a nossa direção é indicada pelo coração.

14

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

São Francisco de Sales foi um dos santos que intuiu profunda-mente o lugar do amor na espiritualidade.

No seu famoso escrito “Tratado do Amor de Deus” ele narra com muita sabedoria o que podemos chamar de espiritualidade do coração. A fonte da espiritualidade está no coração livre e generoso, que se doa com alegria para os outros. Rezar é amar. Trabalhar é amar. Educar é amar. Ele dizia: “Tudo por amor”.

No céu estrelas a brilhar.Um sonho pode tudo transformar.Seguir uma voz sem mesmo compreender.Atravessar a dor de qualquer sofrer.Seguir em frente além do que se vê.Deixar então o amor guiar você.Seguir uma luz que sempre há de brilhar.Um coração repleto de amor pra dar.Tudo por amor!

E toda nossa travessia é feita na liberdade do amor que nasce de Deus e nos faz ser amados e amar n’Ele.

15

ar a vida por seus amigos, pelos outros, é a expressão mais ple-na desse amor.

A intimidade do amor de Deus na vida daquele que é chamado por Ele amadurece com o tempo, com as experiências, com as dores e alegrias. O amor se amadurece na entrega aos outros, assim como uma árvore que vai crescendo, amadurecendo, vai se tornando abrigo para os pássaros.

16

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

O Discípulo amado, ao escrever sua Primeira Carta, coloca com muita clareza que a pessoa que ama conhece a Deus. São João cer-tamente vivenciou um amor muito real, terno e profundo no seu rela-cionamento de discípulo de Jesus Cristo. Por isso soube narrar esse amor de modo tão singelo e claro.

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor”. (1 Jo 4, 7-8)

Depois de escrever várias cartas sobre o mistério da cruz e da ressurreição e do que significa ser um cristão autêntico e verdadeiro, também o Apóstolo São Paulo chega ao final da vida amadurecido na sua fé e convicto de que o amor é a expressão mais genuína, autêntica e transformadora da mensagem de Jesus Cristo. Sua descrição sobre o amor é uma verdadeira profissão de fé. (1 Coríntios 13:1-13)

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos an-jos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

17

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sus-tento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”.

Depois desse início emocionante de descrição do amor, que su-pera profecias e dons divinos e da ciência, São Paulo passa a descre-ver o que é amor.

“O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus inte-resses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

E, ao chegar ao ápice da descrição do amor cristão, ele se refere à história humana, que começa na infância, e mostra com simplicidade que o amor amadurece com o tempo. E aponta para uma outra dimen-são do amor que é maravilhosa e reveladora da força e durabilidade do amor: ele é eterno. Com lucidez e espírito poético de grande enverga-dura, afirma que vamos experimentar o amor na sua totalidade e com-pletude, no encontro com o Autor do Amor – o Amado – na eternidade.

18

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas en-tão veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Ago-ra, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” (1 Coríntios 13:1-13)

Que sabedoria esta revelação de São Paulo sobre O amor! Sim, o amor é forte e eterno porque nasce de Deus e se expressa na relação nossa com os outros.

O outro é o lugar onde o nosso amor cresce e amadurece.

Somente encontramos o significado da vida pessoal se estamos em comunhão com os outros e quando nos colocamos a serviço dos outros. Através da relação e do encontro com o outro, vivenciamos a grandeza da vida e entramos na dimensão da fraternidade.

Sem o outro, empobrecemos nossa humanidade como pessoas. Sem o outro, vemos somente uma parte da vida, enxergamos somente um lado da existência. E a vida é, então, vivida pela metade.

19

Na interioridade cristã, o outro é fundamental. A espiritualida-de cristã é trazer o outro para dentro de nós através da fé e do amor. Jesus nos ensina que, ao olharmos, escutarmos, dialogar-mos e acolhermos o outro, estamos entrando na casa da vida, no coração nosso e do outro. Esta é a essência do cristianismo: eu e o outro. Nós. Comunidade.

Quem ama a Deus verdadeiramente? Quem habita no outro. Vi-ver é estar em comunhão amorosa com o outro. Por isso que nossa história de amor com Deus está povoada de jovens, crianças, homens e mulheres, doentes, pessoas com quem nos encontramos e que fa-zem parte de nós.

20

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Amar o outro é um exercício de abrir-se para o amor que

se expande e cresce. Quem ama vai ao encontro do outro. Sabe

que a dor da descoberta e da entrega faz parte da arte de amar.

21

amor é relação. Através do amor aos outros fazemos novas ami-zades, damos vida ao que falamos, ajudamos as pessoas a abrirem novos horizontes, encontramos inspiração e força para educar e evan-gelizar, superamos obstáculos que encontramos na vida, celebramos com alegria encontros e momentos da nossa caminhada neste mun-do. Amar é respirar. É alimentar da essência da vida. Amar é viver!

22

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

A nossa história de amor está povoada de muitas pessoas, de gente que encontramos ao longo da nossa história. Desde os primei-ros momentos em que fomos chamados a amar e servir aos outros em nome de Deus, iniciamos a povoar nossa vida com pessoas. Foi através do nosso sim a Deus que as pessoas iniciaram a confiar para nós suas vidas e ver em nós um sinal do amor de Deus.

E, nessa longa história de amor que vamos construindo, apren-demos que o amor se faz redenção quando acolhemos quem sofre e quem padece por algum motivo na vida. Aprendemos que o amor se faz memória quando doamos tempo e nossos dons para ensinar valo-res e a mensagem do Evangelho.

Aprendemos que o amor se faz sacrifício quando sofremos com aquela pessoa que está doente, com aquele jovem que se machucou nas aventuras da vida, com aquela mãe que perdeu o filho, com aquele pai que perdeu o sonho. Na compaixão com o outro, o amor se torna misericórdia. Somos os bons samaritanos que traduzem o amor em proximidade fraterna, cuidado, carinho.

O amor doado amadurece. É como o grão de trigo exposto ao sol e chuva para amadurecer.

23

Quando amamos e colocamos o amor a serviço dos outros, amadurecemos no amor e, então, vamos deixando marcas e marcas na nossa história de amor com tantas pessoas que encontramos na estrada da vida.

Na nossa história de amor, é o próprio amor que vai desenhan-do sua história naquele sorriso dado com afeto, naquele abração dado no momento de dor, naquela palavra certa no momento de dúvida, naquele olhar de ternura quando tudo parecia escurecer, naquela voz de confiança quando a dor falava mais forte.

Quando amamos povoamos nossas vidas de pessoas que en-contramos no nosso caminho através dos anos.

E assim se traduzem realizações de entrega. Aquele sacerdote que, no altar, celebrou tantas missas e fez da liturgia uma história com o povo. Aquele sacerdote que entrou em uma casa para dar a unção dos enfermos àquela pessoa que estava muito doente. Aquele sacer-dote que criou relações de afeto e fé com a comunidade e batizou tan-tas crianças e preparou tantas outras e para sempre será lembrado.

Aquele religioso que, no trabalho com muitos jovens, resgatou vidas e ressuscitou sonhos. Aquele leigo que colocou seus dons a

24

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

serviço da sua comunidade e dos mais necessitados. Aquele jovem estudante e voluntário que cresce pensando em si, mas também colo-cando sua vida e talentos a serviço dos outros.

A história nossa como religiosos, sacerdotes e leigos é repleta de pessoas e de experiências. Como em um filme, recordamos nossos primeiros anos na formação, os nossos formadores que nos marca-ram no dia a dia da nossa vida, na sala de aula, no refeitório, nas mis-sas, nos colóquios, no pátio, no esporte, nas conversas espirituais e no trabalho. Carregamos em nossos corações as imagens e lembranças daquele encontro de jovens, daquele retiro, daquele passeio, daquela missão a serviço dos outros.

Na história daquela comunidade religiosa, com pessoas de di-versas idades, mentalidades e experiências de vida tão diferentes, o amor se fez fraternidade, partilha, missão compartilhada, uma estrada feita com os olhos nos jovens e no povo.

O amor se faz história de tantas formas. Ele vai se concreti-zando, ganhando formas e se fortalecendo. O amor é um caminho, um percurso, estações e passagens. Porque ele existe e amadu-rece, ele deve ser descoberto diariamente. O Amado se revela na busca de quem ama.

25

livro Cântico dos Cânticos é uma das narrativas mais bonitas e profundas da relação amorosa entre Deus e a pessoa humana. Esse texto, de imensa grandeza e riqueza espiritual, foi vivenciado e apro-fundado por muitos santos, como São João da Cruz, Teresa D’Ávila, Elisabeth da Trindade, Catarina de Sena, Teresa de Lisieux. É o poema da revelação do Amado e da procura de quem ama. (Cânticos, 2, 8-17)

26

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

“Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando so-bre os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é seme-lhante ao gamo, ou ao filho do cervo; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades”.

Comparado com um esposo e uma esposa, o amor é um poema de entrega e procura da beleza do amado e da amada. Deus é beleza. A beleza atrai e encanta.

Toda história de amor com Deus passa pelo coração que ama. E o coração tem desejos profundos que ecoam em nossa alma, tornan-do-se suspiro pelo Amado. Os santos falam da intimidade amorosa ao Amado. O capítulo 2 deste texto sagrado é um poema maravilhoso da relação de intimidade amorosa e da nossa caminhada espiritual com Deus.

“O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, for-mosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; Aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figos verdes, e as videiras em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem.

27

Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”.

A alma que carrega o desejo do coração e o mais profundo do desejo do Amado, procura, sai ao encontro, porque Deus é um Deus vivo. Por isso quem ama O procura, porque o coração que ama se ali-menta no desejo, na espera, no encontro.

“Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.

O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos cervos sobre os montes de Beter”. (Cânticos 2:8-17)

O Salmo 42 confirma essa relação amorosa de quem se entrega ao Deus Amor. Esse salmo descreve a procura do mais profundo do desejo da alma e do coração por Deus:

“Assim como a corça suspira pelas águas correntes, assim suspira minha alma por Ti, Ó meu Deus”. (Sl 42, 1)

28

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

A Bíblia diz que o amor de Deus é um amor que seduz: “Senhor tu me seduzistes, e eu deixei-me seduzir” (Jeremias 20, 7). Este amor de aliança é um amor de pertença, de entrega, de intimidade com Aquele que nos alimenta no mais profundo da alma e do coração.

Também o Profeta Oséias revela essa profunda comunhão de amor de Deus que ama e não deixa jamais de amar e expressar esse amor.

“Eis que vou levá-la para o deserto e lá, a sós, falarei ao seu cora-ção”. (Os 2, 14)

O amor amadurece com o tempo do coração e o pulsar da alma. O tempo da vida vai dando formas ao coração e deixando a alma cada vez mais forte e livre. E, para amadurecer, todo amor passa pelo sofrimento e pela dor. Assim como o trigo precisa do sol e da chuva para amadurecer, o amor tem no tempo o seu amadurecimento.

Todos nós sabemos que nossa história de amor com Deus não nos isenta das cruzes da vida.

Na noite escura de todo peregrinar na fé, sabemos das inúme-ras incompreensões e críticas que passamos nas muitas fases da vida. Aquele trabalho feito com dedicação e sacrifício que depois foi esquecido e desvalorizado. Aquela pessoa que depois de ser ajudada

29

e cuidada por nós, deixou-nos na indiferença e se distanciou de nós. Aquela calúnia sofrida quando a intenção era fazer o bem. Aquele erro cometido por distração, e não por maldade, e resultou em reprovação e julgamento.

Quando vem o tempo da idade, e surgem os problemas de saú-de, os limites que se impõem fisicamente, privando-nos de fazer mais e dedicar-nos mais, o amor sustenta a caminhada porque ele é forte em si mesmo. E essas cruzes que abraçamos na fé, ajudam-nos a dar sentido à nossa vida e à nossa entrega a Deus e aos outros. Quando o amor se faz entrega, tornamo-nos livres e serenos diante dos conflitos e situações adversas da vida.

Através da fé e do amor, podemos então olhar para trás com gra-tidão e confiança, porque temos certeza que a semente lançada em tantas frentes de trabalho e dedicação aos outros, está germinando, crescendo, frutificando... Eis a nossa recompensa e nossa alegria!

O amor até parece manifestar-se na gratidão expressa e viva nos olhos das pessoas que fazem parte da nossa vida e que povoaram nossos sonhos e nossas orações. Os anos todos de entrega, de tra-balho, de dedicação pastoral e educativa são como colheitas fartas e férteis de um empenho silencioso em nome de Deus e da vocação.

30

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

O amor ressoa sua voz de alegria porque nossa história é cons-truída em nome do amor de Deus. Esse amor – enriquecido pela graça de Deus – permitiu nossa mensagem chegar no mais profundo das pessoas; habitar nelas o amor de Deus através de nossa palavra e afe-to; habitar nelas a misericórdia de Deus através de acolhida e do nosso perdão. Este amor que vivemos e comunicamos através do nosso tra-balho se torna visível nas histórias de crescimento humano e espiri-tual de tantas pessoas para as quais fomos instrumentos do amor de Deus. Por isso, quem ama será sempre lembrado. Eis o nosso legado!

Dom Bosco, nosso pai e mestre, vivenciou de modo profundo a intimidade deste amor com Deus e com os primeiros salesianos e os seus jovens. O seu legado de amor agora é parte da nossa história. Somos filhos de um pai que amou muito e por isso con-tinua vivo nos seus filhos que amam e continuam sua missão de amar e educar.

31

om Bosco foi um santo de “um coração generoso e tão vasto como as areias das praias do mar”, diz uma canção. Dom Bosco aprende a amar em casa, no seio materno. Certamente com sua mamãe, Marga-rida Occhiena, recebeu muito afeto e compreensão. Na ternura do lar e no coração de sua piedosa e laboriosa mãe, fez a experiência do amor de Deus misericordioso e caridoso. O Pe. Calosso foi um verdadeiro pai para João Bosco. Este Sacerdote soube acolher, cuidar e ser uma referência afetiva e espiritual para o jovem Bosco. O jovem João Bosco e Luis Co-mollo eram como dois irmãos. (MO, páginas 102-104).

32

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Dom Bosco era um homem de uma expressividade amorosa de grande magnitude. Para Dom Bosco, amar era respirar, viver, educar, so-nhar e trabalhar. Nas suas cartas, nos seus escritos, nas suas recomen-dações aos salesianos e tantos religiosos e sacerdotes e leigos, o amor está sempre no coração da sua espiritualidade e pedagogia.

Ao observarmos as fotos de Dom Bosco, muitas delas no meio dos jovens ou dos salesianos, notamos a presença de uma pessoa amorosa, próxima, que era referência afetiva para todos.

Um dos testemunhos vivos e mais contundentes sobre como Dom Bosco amava foi dado pelo Padre Paulo Álbera, o segundo su-cessor de Dom Bosco. Em uma das cartas circulares aos salesianos (Turim, 1922), descreve como sentia o amor de Dom Bosco:

“Dom Bosco nos amava de forma única, tipicamente sua: provava-se por ele um fascínio irresistível, que a língua não consegue traduzir para fazê-lo compreender a quem não teve oportunidade de experimentá-lo”.

Continua o Pe. Álbera com muita singeleza e experiência de que foi amado e testemunha deste amor.

“Seu amor atraía, conquistava e transformava os nos-sos corações. Ele nos atraía a si pela plenitude do amor

33

sobrenatural que ardia em seu coração e que com suas chamas absorvia, unificando-as, as pequenas cente-lhas do mesmo amor, suscitadas em nossos corações pela mão de Deus”.

Dom Bosco foi um dos primeiros santos a expressar em público o seu amor aos seus caros jovens. O seu amor fazia parte do seu modo de viver e de trabalhar e rezar. Um amor amadurecido e entregue aos seus jovens, os quais nutria com um amor que se manifestava no seu olhar, na sua voz, nos seus gestos e atitudes. Sua paternidade espiri-tual se expressava com naturalidade e candura.

Uma das confissões mais bonitas de como Dom Bosco amava se manifesta na expressão:

“Meus caros jovens, eu vos amo de todo coração, basta-me saber que sois jovens para que vos ame profundamente”.

O amar profundamente significa um amor real, expresso no seu tra-balho diário e sacrificado e na sua entrega completa como pai para os seus jovens. Um amor operativo que se traduz no que ele mesmo revelava:

“Essa querida juventude que foi sempre terno objeto de minhas ocupações, dos meus estudos, do meu minis-tério sacerdotal e da nossa congregação”.

34

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

O amor é como uma profissão de fé de Dom Bosco. Na raiz da sua pedagogia, está o amor que ele experimentou e alimentou os seus jovens e os salesianos. Esta sua capacidade de amar profundamente carregava uma força atrativa e irradiadora capaz de tocar as pessoas que o viam no seu dia a dia.

Mas o amor de Dom Bosco é uma via dupla. Ele ama e é amado. Certamente recebia muito amor porque amava de modo livre, genero-so e sempre em nome de Jesus Cristo.

Existe uma passagem na vida de Dom Bosco que retrata como os jovens o amavam e o reflexo desse amor na sua vida. Quando Dom Bosco adoece, os jovens se colocam em oração e fazem até duras penitências, ofertas a Deus para que o seu grande amigo se recupere, retorne ao pátio e fique ao lado dos seus jovens. Aqueles jovens de várias idades, sem pai e famílias, caminham com rostos tristes e incer-tos sobre o futuro de Dom Bosco. Sabem que o seu amigo está muito doente e pode não retornar ao seu convívio. O amor daqueles meninos pelo pai Dom Bosco torna-se um bálsamo que cura e restaura. Dom Bosco sabe desse amor. (MO páginas 186-189). Uma vez curado, diz:

“Meus queridos jovens, até o meu último respiro será por vocês, que são a razão da minha vida”.

35

Eis um testamento vivo de um amor que irradia e ilumina.

Com o passar do tempo, Dom Bosco vai se gastando pelos jo-vens, e seu amor é como uma vela que vai chegando ao final, depois de tanto tempo de brilho e de luz. Revela, no final da vida, com muita serenidade e convicção: “Fiz tudo quanto soube e pude pelos jovens, que são o amor de toda minha vida”.

Este amor que se entrega tem sua fonte em Deus, em Jesus Cristo e Nossa Senhora. Seu coração ama com o coração de Deus.

Seu cuidado com os seus jovens, do pátio ao confessionário, da sala de aula à oficina, era uma expressão de um amor gene-roso e serviçal, e que ao final da vida se torna uma entrega total, como o pastor que dá sua vida pelas suas ovelhas. É um amor de entrega e promessa. “Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.”

Deus é amor. Nossa história vocacional é povoada de milhares de pessoas que entram na nossa vida em nome de Deus que é Amor. O amor é como o pão nosso de cada dia. É alimento e prece. É canto de gratidão e de alegria. Que assim seja nossa história de amor com Deus: povoada de jovens. Povoada de Deus.

36

Nossa história de amor com Deus está povoada de jovens

Uma história de amorPovoada de jovens.Sou videira em florNa estação da entrega.Lá no meu coração,Ressoa uma sinfonia.Vozes que chegam aos milhares:Jovens, minha alegria!

Uma história de amor Sempre tem um saborDe vinho novo e de pão.A Ti, meu Amado e Senhor,Te entrego o que sou.Pra Ti o meu coração.

Uma história de amorSe amadurece no tempo.Um encontro, um olharPovoam meus sentimentos.Juventude meu sonho,O meu vaso sagrado.Para Ti meu perfumeEm todos os momentos.

P. Gildásio Mendes, SDBCampo Grande, 16 de Agosto de 2016.

ildásio Mendes dos Santos é sa-cerdote da Inspetoria Salesiana de Campo Grande, MSMT. É natural de Conceição da Barra, ES. Fez seus estudos de Filosofia e Teologia em São Paulo e Comunicação Social em Roma. Posteriormente, fez seu Mestrado e Doutorado em Realidade Vir-tual na Michigan State University e Wayne University, em Michigan, EUA. Foi Pró-Rei-

tor Acadêmico da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), em Campo Grande. É autor de 16 livros e artigos científicos, conferencista e pesqui-sador na área de mídia digital. P. Gildásio fez parte da Consulta Mundial de Comunicação para a Congregação Salesiana. Foi Diretor da Faculda-de Salesiana Santa Teresa - Corumbá. Em dezembro de 2013 foi eleito Presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso.