livro logisticaempresarial

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sistemas l ogsticos de t ransportes

O smbolo de percentagem (%), comumente usado pelos profissionais dos segmentos de administrao e custos, empregado nesta obra para representar o grupo de disciplinas que tratam dessas reas.

sistemas l ogsticos de t ransportes

Obra coletiva organizada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Informamos que de inteira responsabilidade do autor a emisso de conceitos. Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Ulbra. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo art. 184 do Cdigo Penal. A edio desta obra de responsabilidade da Editora Ibpex.

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Sistemas logsticos de transportes / [organizada pela] Universidade Luterana do Brasil . -Curitiba : Editora Ibpex, 2009. 170 p.: il. Bibliografia. isbn 978-85-7838-253-7 1. Competio 2. Logstica (Organizao) 3. Logstica empresarial 4. Transportes 5. Transportes - Brasil I. Universidade Luterana do Brasil. 09-01149ndices para catlogo sistemtico: 1. Logstica de transportes 388 2. Transportes : Logstica 388

cdd-388

pdi Ulbra 2006-2016Plano de Desenvolvimento InstitucionalMantida pela Comunidade Evanglica Luterana So Paulo (Celsp), a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) tem uma histria de conquistas. Desde a primeira escola, fundada em 1911, at hoje, a Ulbra caracteriza-se por ser uma instituio voltada para o futuro, buscando sempre o melhor em todas as suas reas de atuao. Assim, disponibiliza para acadmicos, profissionais e toda a comunidade servios de qualidade em todas as reas. Misso A Ulbra assume como Misso Institucional desenvolver, difundir e preservar o conhecimento e a cultura por meio do ensino, da pesquisa e da extenso, buscando permanentemente a excelncia no atendimento das necessidades de formao de profissionais qualificados e empreendedores nas reas de educao, sade e tecnologia. Viso Ser uma instituio de referncia no ensino superior em cada localidade em que atua e estar entre as dez melhores do Pas. Valores Busca permanente da qualidade em educao, sade e tecnologia; Preocupao permanente com a satisfao das pessoas que fazem parte do Complexo Ulbra; Foco primordial no aluno e na qualidade acadmica; Foco no ser humano e na qualidade de vida em sade e cultura; Vivncia e difuso dos valores e da tica cristos; Cultivo do convvio social em termos de mtuo respeito e cooperao, bem como da conscincia crtica da sociedade; Promoo do bem-estar social por todos os meios legtimos; Fidelidade ao lema: A Verdade Vos Libertar; Formao integral da pessoa humana em conformidade com a filosofia educacional luterana, cuja existncia se desenrola na presena de Deus, o Criador; Desenvolvimento do senso crtico e da autocrtica, sem perda dos valores legtimos do amor, dos sentimentos, das emoes. Informaes sobre PDI Telefone: (51) 3477-9195 E-mail: [email protected]

Dedico este livro minha amada esposa e companheira Karina Barbi Schlter.

Qualquer obra realizada pelo ser humano possui contribuies diretas e indiretas que conduzem e auxiliam o autor (ou autores) na busca do melhor resultado possvel. No que tange a esta obra, agradeo a todos os meus professores pelo seu comprometimento na minha formao intelectual, a meus colegas de profisso pelas suas sugestes, aos meus queridos alunos pelos seus infindveis questionamentos em sala de aula e, principalmente, aos meus pais, professor Gnther Horst Schlter e Hedy Blumm Schlter.

apresentao

Desde o surgimento da logstica empresarial e sua respectiva implementao como novo mtodo de gesto das operaes empresariais, nos anos 1950, houve certa ambiguidade na sua compreenso. Aspectos inerentes sua competncia no organograma empresarial e sua abrangncia ainda no esto sendo aplicados integralmente nas empresas, mesmo no exterior. Em muitos casos, nota-se a presena de uma forte rejeio gerada pelas possveis alteraes de poder, originada principalmente pela falta de conheci-

mento acerca dos aspectos filosficos que embasam o conceito de logstica empresarial. Como decorrncia desse cenrio, a gesto das operaes de transporte e distribuio afetada, especialmente em relao a resultados que devem ser alcanados em convergncia com os objetivos da logstica empresarial. A sobrevivncia das empresas, em um ambiente cada vez mais competitivo, passa obrigatoriamente pela otimizao das suas operaes de forma sistmica, compreendendo todas as reas que as compem. A inobservncia desses conceitos acarreta em imperfeies do sistema logstico de transportes do pas, gerando prejuzos para a competitividade brasileira no ambiente mundial. Este livro aborda, num primeiro momento, as questes relativas ao surgimento da logstica empresarial, sua viso sistmica e como ela deve ser implementada nas empresas. A partir do conhecimento das bases que motivaram oxii Sistemas logsticos de transportes

surgimento e aplicao desta, ser abordada a logstica de transportes mostrada a partir do conjunto de atores que interferem na sua gesto, tanto no aspecto interno como no aspecto externo s empresas. Numa segunda etapa, so apresentados os fatores que interferem no sistema logstico de transportes do pas e, principalmente, como as decises de formao da rede e escolha dos operadores logsticos de transportes da empresa podem afetar a competitividade logstica de transportes do pas. Nos captulos finais, h a aplicao de ferramentas de planejamento das operaes de transporte e do modelo de apoio deciso em vrios cenrios que comumente ocorrem nas empresas do pas. O objetivo final deste livro o de proporcionar bases para que o leitor possa construir o seu conhecimento de forma a decidir de maneira adequada sobre a melhor escolha de operador, a qual proporcione o menor custo logstico total dentro do sistema analisado.

s umrio

( 1 ) Fundamentos da logstica empresarial, 171.1 Fundamentos da logstica, 20

( 2 ) Evoluo da logstica empresarial, 312.1 2.2 2.3 2.4 2.5 Uso de tcnicas de logstica militar no meio empresarial, 34 O conceito de logstica empresarial e sua caracterizao, 35 A evoluo da logstica empresarial, 36 Anos 1970: logstica transporte, 37 Anos 1980: incorporao do suprimento, 38

2.6 2.7

Anos 1990: a logstica um sistema, 39 Anos 2000: a logstica incorpora os servios de utilizao e a

reverso, 40 2.8 2.9 A aplicao prtica da gesto logstica, 41 O papel do ensino de logstica na sua aplicao prtica, 44

( 3 ) O processo logstico e as redes logsticas, 473.1 O processo logstico e o diagrama da rede, 50

( 4 ) Os custos e as perdas do processo logstico, 614.1 4.2 A teoria do custo logstico total, 64 Custos logsticos, 66

( 5 ) A logstica de transportes e seu funcionamento, 775.1 5.2 O sistema logstico de transportes, 81 A tomada de deciso logstica pelo usurio, 85

( 6 ) Os fatores que afetam os custos de um cenrioxiv Sistemas logsticos de transportes

logstico, 916.1 6.2 Fatores de demanda, 94 Fatores de oferta, 101

( 7 ) Anlise de oferta do operador e indicadores de desempenho, 1097.1 7.2 7.3 7.4 7.5 Investigao da oferta do operador, 112 Ajuste demanda/oferta, 115 Prognstico quantitativo, 115 Indicadores e contigncias, 116 Exemplo de aplicao na rea logstica, 118

( 8 ) Clculo de custo logstico total em redes logsticas de transportes, 1238.1 8.2 8.3 Adaptao do modelo da funo logstica, 126 Formulao de cada varivel, 127 Os custos considerados no planejamento do projeto, 133

( 9 ) Exemplos e exerccios de aplicao, 1359.1 9.2 Exerccio I, 138 Exerccio II, 141

( 10 ) Exerccio de custo logstico total de redes de transferncia, 14910.1 Exerccio III, 152 Referncias numricas, 161 Referncias, 163 Apndice, 165 Gabarito, 169

xv Sumrio

(1)

f undamentos da logstica empresarial

Mauro Roberto Schlter formado em Administrao (1995) pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), possui mestrado em Engenharia da Produo (1999) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutorando em Engenharia de Produo pela mesma universidade. No mbito cientfico, fez parte do Grupo de Estudos em Logstica (Gelog) da Ulbra, onde promoveu diversos encontros acadmicos sobre o tema. Possui diversos artigos publicados em revistas acadmicas e encontros nacionais e internacionais. Participou como coautor de livros da rea de logstica e de transportes editados no pas. o criador da teoria do processo logstico e do modelo da funo logstica, que se constituem um marco prtico de aplicao da teoria do custo logstico total. Atua como incentivador da disseminao da cultura de logstica atravs de aes concretas, como a elaborao de projetos pedaggicos de cursos de logstica no nvel tcnico, implementao da disciplina de logstica em cursos superiores de Administrao em universidades do Rio Grande do Sul, criao e implementao de cursos superiores especficos em logstica (Tecnolgicos), alm da criao e coordenao de cursos de ps-graduao em logstica empresarial em universidades desse mesmo estado. Atua tambm como consultor em projetos logsticos que envolvem abordagens tcnicas e quantitativas de elevada complexidade.

Mauro Roberto Schlter

(

)

d esde os seus primrdios at os dias atuais, a logstica sempre fez parte da vida do homem. A sua concepo bsica est diretamente ligada ao gerenciamento das operaes em qualquer campo, seja pessoal ou institucional. O seu surgimento subjetivo, como elemento de sinergia operacional no meio militar e sua adaptao ao meio empresarial, gerador de vantagem competitiva.

(1.1) f undamentos da logsticaNo mbito de instituies empresariais com fins lucrativos, podemos encontrar operaes em vrias reas, como a administrativa, a mercadolgica, a financeira etc. Verificamos, porm, que as empresas possuem uma rea cuja intensidade de ocorrncia de operaes grande, composta pelos elementos que executam a transformao de matrias-primas em produtos acabados (suprimento, produo e distribuio), a qual tem sido apontada como a rea de logstica de uma empresa.

O surgimento subjetivo da logsticaA sobrevivncia de um ser vivo de um determinado ecossistema est intimamente ligado sua capacidade de competitividade ante os demais seres que fazem o uso do mesmo ambiente. A histria do universo, desde o seu surgimento at os dias atuais, um exemplo claro de evoluo dos elementos da natureza. O domnio do homem, no princpio limitado ao ambiente em que vivia, baseado na evoluo natural do seu raciocnio lgico, que o levou a utilizar os elementos disponveis na natureza como ferra20 Sistemas logsticos de transportes

mentas no auxlio da sua sobrevivncia em um ambiente hostil. Essas ferramentas, utilizadas para a obteno de alimentos, por meio da caa, foram as primeiras a comprovar as teorias de evoluo do raciocnio humano. O aperfeioamento das ferramentas para a melhoria do desempenho das funes de garantia da sobrevivncia a evidncia de uso do raciocnio em convergncia com as

suas necessidades bsicas. O constante aperfeioamento e criao de novas tcnicas que garantissem a sua sobrevivncia em um meio hostil desencadeou o domnio da agricultura. Esse momento foi crucial no desenvolvimento da humanidade, pois, pela primeira vez, o homem utilizou-se de ferramentas e tcnicas, em intervenes que estimulavam o uso dos elementos naturais em proveito prprio, alterando o ciclo natural baseado nos algoritmos e aleatoriedades presentes na natureza. Esse conjunto de fatores que foram administrados e utilizados pelo homem no princpio da civilizao para intervir na natureza e us-la a seu favor, pode ser chamado de logstica. A partir da descoberta, pelo homem, de que as suas operaes de interveno na natureza poderiam, alm da sobrevivncia, garantir-lhe outros produtos atravs de trocas de excedentes, a humanidade nunca mais foi a mesma. A base da economia estava plantada de forma inequvoca, sendo esta o elemento estruturador da sociedade moderna. Assim, a logstica esteve presente desde o uso de ferramentas que operacionalizavam melhor a caa, passando pelo uso de ferramentas e tcnicas agrcolas, at o transporte de produtos para os pontos de escambo e armazenamento dos excedentes em locais apropriados, a salvo de predadores. De todos os seres vivos do planeta, o homem se tornou o mais competitivo e, dessa forma, sobrevive at hoje; e em todos os momentos a logstica esteve presente, ainda que de forma subjetiva.21 Fundamentos da logstica empresarial

O surgimento objetivo a logstica militarO uso da logstica de forma objetiva, isto , embasada conceitualmente no fundamento de que a sobrevivncia

depende, em boa parte, da competitividade das operaes e da clareza dos objetivos a serem alcanados, remonta s campanhas militares das guerras de conquista. O termo logstica surgiu do francs loger, cujo significado o de suprimento, deslocamento e acantonamento de tropas, e cujo objetivo o de manter e conquistar territrios ao menor custo possvel, tanto de recursos materiais quanto de recursos humanos.1 Uma das primeiras menes sobre utilizao de tcnicas de logstica militar ocorreu em 392 a.C., quando Epaminondas utilizou o sistema de requisies ante os povos conquistados ao invs de saques, preservando, dessa forma, a integridade fsica, material e moral desses povos.2 Desde os tempos remotos, as estratgias militares de conquista e de defesa de territrios estavam baseadas no conhecimento prvio do territrio que demandava conquista, mediante espionagem e posterior supremacia entre a oferta de tropas necessrias para suprir as demandas de conquista verificadas. A partir do sculo XV, a organizao formal das foras militares se classificava em quatro armas: infantaria, artilharia, cavalaria e marinha. De todas essas foras disponveis, a maior era a infantaria, que por ser uma estrutura de defesa e conquista de territrios de menor custo de manuteno em relao as22 Sistemas logsticos de transportes

demais, predominava em termos quantitativos. Porm, ela possua limitaes de capacidade de carga individual dos combatentes, o que poderia, inclusive, afetar a velocidade de deslocamento e disposio fsica para a efetividade do combate, em proporo inversa ao volume de peso carregado pelos soldados em suas mochilas. Por sua vez, os locais onde se centravam os combates se classificavam em dois grandes grupos: os protegidos por amuradas e os

desprotegidos ou abertos. Os locais protegidos requeriam cerco e, por consequncia, maior dispndio de tempo na sua conquista; os desprotegidos demandavam saturao de fogo, porm a sua conquista era mais rpida. Baseado nessas condies, o estudo estratgico da conquista levava em considerao as necessidades que garantiriam a vitria final. O estudo ttico de conquista examinava o tipo de percurso dos territrios que demandavam conquistas parciais e provia as foras de infantaria com condies ideais de combate, considerando as restries de capacidade de carga de cada soldado em relao velocidade de deslocamento desejada. As condies ideais de logstica para o combate levavam em considerao um estudo de compensaes entre o tipo de suprimento que os soldados deveriam levar nas suas mochilas e a distncia que seria percorrida at o local do combate, bem como o tipo de batalha que seria travada. Dessa forma, se o local a ser conquistado demandava cerco, a maior parte dos suprimentos se constitua de alimentos e a parte menor suprida com munio. Caso a conquista demandasse saturao de fogo, as mochilas dos soldados eram supridas, na sua maior parte, com munio e o restante com alimentos. Essa ttica evoluiu ao longo do tempo, na razo direta das necessidades de competitividade das tropas. Gustavo Adolfo, rei da Sucia no sculo XVII, instituiu comboios de suprimentos fortemente escoltados, cuja funo era proporcionar apoio logstico s tropas de combate. Assim, a infantaria era abastecida no decorrer dos conflitos, o que proporcionava maior velocidade de deslocamento e maior disposio de combate das tropas, em razo do baixo peso que cada soldado transportava. Napoleo Bonaparte, imperador francs, foi um caso23 Fundamentos da logstica empresarial

clssico de utilizao de tcnicas de logstica em campanhas militares. Durante a sua primeira campanha como comandante de tropas de artilharia francesa na Itlia, sofreu forte presso ocasionada por falta de suprimentos, utilizando o saque organizado como forma alternativa de atendimento s demandas por suprimentos das suas tropas. Como as conquistas de competitividade podem ser assimiladas rapidamente pelos demais atores envolvidos na competio, Napoleo, que fazia uso do saque nos locais conquistados como canal de suprimentos s frentes de combate, teve a sua ttica frustrada a partir da tentativa de conquista da cidade de So Petersburgo. Os comandantes militares que gestionavam as defesas da cidade, percebendo que a sua queda era iminente, ordenaram que toda a populao abandonasse seus lares, levando todo o suprimento que pudessem carregar e inutilizando o restante, ateando fogo. Napoleo chegou cidade e a encontrou abandonada e sem suprimentos que pudessem garantir o seu avano. Adolf Hitler, ditador alemo, tambm utilizou tcnicas de logstica, durante a Segunda Guerra Mundial, como forma de alavancar a competitividade de suas tropas ante s necessidades de conquista. Percebendo que a Primeira Guerra Mundial fora travada sob a forma de trincheiras e que os avanos de territrio eram insignificantes, ele24 Sistemas logsticos de transportes

criou as tropas aerotransportadas da sua fora area. A estratgia logstica estava baseada no princpio de que um territrio que demandava conquista ou defesa deveria ser suprido pelo menor custo possvel de vidas humanas para manter a capacidade de combate. Um dos vrios conceitos de logstica militar foi formulado pelo Coronel Campos3, do Exrcito Brasileiro, em 1952, para o qual a logstica militar era a parte da administrao

militar que compreende em particular a direo e a execuo do suprimento, da hospitalizao, da evacuao, do transporte, da circulao e do controle do trnsito, da manuteno, das comunicaes, das construes, em proveito de aes militares. Segundo Campos4 ao final da Segunda Guerra, o exrcito americano definiu a logstica militar como a arte de planejar e executar o movimento, a evacuao e o suprimento militar4. J o Estado Maior das Foras Armadas do Brasil, citado por Cruz5, a define como o conjunto de atividades relativas proviso de meios materiais e recursos humanos necessrios s Foras Armadas na guerra e na paz. A estratgia de aplicao da logstica militar estava centrada no comando sistmico das operaes de todos os recursos de capacidade de combate disponveis, com o objetivo de apoiar as aes de conquista e defesa de territrios.

A logstica empresarialA logstica empresarial surgiu como uma adaptao dos conceitos da logstica militar, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial. O fato que marcou essa adaptao foi o cerco terrestre a Berlim, realizado pela Unio Sovitica, logo aps o fim desse conflito. Nesse momento, a disputa poltica mundial entre as filosofias econmicas capitalista e comunista era intensa e Berlim era um enclave capitalista cercado pelo territrio da Alemanha comunista. Os Russos cortaram os acessos da parte oriental atravs das autobahns (autoestradas alems), sob o pretexto de reconstruo das pontes e tneis das estradas, restando apenas o acesso por via area. Durante aproximadamente um ano, os aliados capitalistas transportaram 2.323.067 toneladas de suprimentos diversos em 276.92625 Fundamentos da logstica empresarial

voos provenientes da Alemanha ocidental. A partir desse momento, verificou-se o uso do aparato de logstica militar com a finalidade de suprir necessidades de consumo da populao civil. A intensidade do esforo logstico utilizado nessa operao sugere ser este o primeiro fato histrico de transposio das tcnicas da logstica militar para a logstica empresarial.6 A adaptao dos conceitos militares para o meio empresarial ocorreu de forma intensa, como j mencionado antes, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial e esteve intrinsecamente ligado s aes das grandes empresas que participaram dos esforos de reconstruo das reas atingidas pelo conflito. As urgncias em suprir adequadamente as necessidades bsicas da populao atingida pelo flagelo da guerra levaram as empresas a implementarem aes operacionais para garantir o bem-estar social e econmico. Consequncia da competitividade que as empresas necessitam para sobreviver em um ambiente hostil de mercado globalizado onde os melhores padres mundiais de eficincia e eficcia precisam ser alcanados para garantir esta sobrevivncia a logstica empresarial, tal qual a logstica militar, busca embasar as suas aes dentro de um contexto de viso sistmica, isto , utilizando todos os recursos operacionais disponveis com o objetivo de apoiar as aes mercadolgicas de conquista ou defesa26 Sistemas logsticos de transportes

de mercados ante os competidores. Inicialmente, os conceitos adaptados tratavam somente de aspectos relativos a transportes de produtos, sendo posteriormente incorporado tambm o armazenamento dos produtos transportados. A evoluo das operaes de transporte e armazenamento demonstrou aos estudiosos do assunto que a distribuio (transporte e armazenamento) de uma empresa pode ser entendida como

suprimento da prxima empresa integrante de uma cadeia produtiva, o que levou incorporao da rea de suprimentos como mais um elemento da logstica empresarial. A partir da dcada de 1990, surgiram os primeiros indcios de que o planejamento da produo tambm seria uma rea de abrangncia da logstica. Dessa forma, entendeu-se que a logstica o sistema operacional de uma empresa, proporcionando, assim, a viso sistmica das suas partes, no somente no aspecto de gesto operacional, mas incorporando a gesto ttica e estratgica das partes do sistema logstico. Os conceitos de logstica empresarial So muitos os conceitos de logstica empresarial. O conceito bsico do qual evoluiriam vrios outros constitui-se, segundo Ballou7, em colocar o produto certo, na hora certa, no local certo e ao menor custo possvel, desde as fontes de matria-prima at o produto acessar o consumidor final. Embora esse conceito seja excessivamente genrico, reflete a necessidade de sinergia das aes dos vrios sistemas de uma empresa para que estes garantam a sua sobrevivncia no mercado. Esse mesmo conceito repetido nos livros de qualidade total e de marketing disponveis. Existem outros que proporcionam um entendimento mais preciso do que vem a ser logstica, seus objetivos e sua abrangncia, emitidos por vrios pensadores mundiais dessa rea. Um dos melhores conceitos, mencionado por vrios autores em livros, artigos, dissertaes e teses, foi elaborado pelo Council of Logistics Management (CLM), com o auxlio de vrios estudiosos norte-americanos. Para o CLM, segundo Novaes8, o conceito de logstica empresarial seria o processo de planejamento, implementao e controle do fluxo e armazenagem eficientes e de baixo27 Fundamentos da logstica empresarial

custo de matrias-primas, estoque em processo, produto acabado e informaes relacionadas, desde o ponto de origem at o ponto de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do cliente. Consolidao dos conceitos de logstica empresarial Por ser uma prtica recente, a logstica empresarial, sofreu evolues na medida em que situaes problemticas de gesto operacional emergiram no ambiente empresarial. Abrange todas as reas que tratam diretamente com a gesto do fluxo de beneficiamento das matrias-primas em produtos acabados, tanto no aspecto interno de uma organizao empresarial, quanto no aspecto externo, envolvendo todos os fornecedores de matrias-primas e partes que compem um produto, at o ponto de ocorrncia da demanda deste pelo consumidor final, bem como as informaes geradas pelo sistema e para o sistema.9 O objetivo da logstica empresarial a busca da minimizao dos custos que fazem parte da sua abrangncia, tanto no aspecto interno como no aspecto externo das empresas, bem como o aumento dos nveis de servio ao cliente, dado pelo valor agregado efetivado pelas utilidades de tempo e lugar. A no efetivao das utilidades de tempo e lugar gera perdas pelo no atendimento da28 Sistemas logsticos de transportes

demanda. No aspecto interno de uma organizao empresarial, o tratamento da gesto do fluxo dos produtos abrange as reas de suprimento, produo, distribuio, utilizao e reverso, isto , compreende a cadeia de processos por onde as matrias-primas fluem, pois elas so adquiridas, transformadas em produtos acabados e disponibilizadas ao prximo integrante da cadeia produtiva. A logstica empresarial um sistema, e como tal deve atuar de forma

conjunta na busca de seus objetivos. Dessa forma, a gesto dos subsistemas logsticos (suprimento, produo, distribuio, utilizao e reverso) no pode ser realizada de forma isolada e/ou conectada a outra funo da empresa, pois gera distores na busca de seus objetivos. Esta considerada uma viso sistmica da logstica empresarial. No aspecto externo da organizao, a cadeia de processos de um produto, a qual abrange todas as empresas extratoras de matrias-primas e transformadoras destas em produtos acabados, denominada de supply-chain ou cadeia de suprimentos. O posicionamento da competncia da logstica nas empresas tende a ser centralizado por meio de um executivo, com o comando dos subsistemas de suprimento, apoio produo e distribuio, nos nveis estratgico, ttico e operacional. Outras alternativas de gesto da competncia logstica foram apontadas por alguns autores, porm a descentralizao da gesto sob a forma matricial ainda depende de um maior incremento de cultura de logstica nas empresas. Para melhor compreenso, os quatro aspectos bsicos que formam o conceito de logstica foram consolidados e esto demonstrados na Tabela a seguir.Tabela 1.1 Consolidao dos conceitos de logstica 29

Aspectos mbito Objetivos

Consolidao Gesto do fluxo de produtos e informaes. Minimizar custos e melhorar os nveis de servio ao cliente. Das fontes de matria-prima at o produto acabado.(continua)

Abrangncia

Fundamentos da logstica empresarial

(Tabela 1.1 concluso)

Competncia

Gesto estratgica, ttica e operacional das reas de suprimento, apoio produo e distribuio.

atividades1.

Por que a logstica, que trata diretamente da gesto das operaes das empresas, ainda no foi totalmente assimilada pelo meio empresarial?

2.

Por que o conceito genrico de logstica (produto certo, na hora certa e no local certo ao menor custo possvel) no deve ser utilizado pelos profissionais de logstica?

30 Sistemas logsticos de transportes

(2)

e voluo da logstica empresarial

Mauro Roberto Schlter

(

)

d esde o surgimento da logstica empresarial,houve uma evoluo nas suas bases tericas. O meio acadmico, baseado na depurao das ideias por meio de intensos debates cientficos, permitiu uma melhor compreenso dos aspectos bsicos desta. De simples sinnimo de gesto de transportes, passando pela incorporao de sinergia na sua gesto at a sua assimilao como um sistema de gesto das operaes empresariais, ocorreram aprimoramentos no entendimento de seu significado ao longo do tempo. A evoluo da caracterizao do ambiente de logstica em uma empresa, construda pelo meio acadmico, no foi

acompanhada pelo meio empresarial. As reas que compreendem a logstica empresarial esto dispersas e so gerenciadas por funes, cujo objetivo diverso da logstica. As disfunes que ocorrem na aplicao prtica sugerem que os gestores das empresas ainda no conhecem os fundamentos da logstica moderna. Existem alguns indcios que apontam para a falta de ensino (formal ou informal) ou ensino deficiente nas escolas e demais entidades do setor, originado da escassez de professores especializados. O resultado das deficincias mencionadas anteriormente, evidenciado atravs do baixo nvel de competitividade logstica das empresas de um modo geral.

(2.1) uso de tcnicas de logstica militar no meio empresarialA motivao que levou ao uso das tcnicas de logstica militar para garantir o abastecimento de uma populao34 Sistemas logsticos de transportes

civil, no teve repetio aps o cerco a Berlim. A partir da crise do petrleo, no final dos anos 1960 e incio dos anos 1970, surgiram novas motivaes para a implementao da logstica empresarial. O aumento dos gastos com energia desestabilizou oramentos em todos os nveis: governos, empresas, famlias e pessoas tiveram os seus poderes aquisitivos achatados o que gerou uma recesso no consumo de bens e servios. Nesse perodo, houve um crescimento intenso do uso de tcnicas de marketing, que tinha como objetivo a reteno e conquista de novos clientes. Essas tcnicas surtiram efeitos positivos no contexto do cenrio

de ento, porm havia rupturas de abastecimento, pois nem sempre os produtos estavam a disposio dos consumidores no momento em que estes necessitavam. A situao tendia a um recrudescimento da ruptura e deveria ser sanada de forma efetiva. Diante disso, as empresas buscaram nas tcnicas de guerra o mtodo utilizado para entregar a munio para a tropa, no momento em que esta necessitava e essas tcnicas consistiam na logstica. Esta passou a ser utilizada para disponibilizar produtos ao mercado, dentro da qualidade de servios adequada s expectativas dos consumidores.

(2.2) o conceito de logstica empresarial e sua caracterizaoA logstica empresarial possui um conceito formal, aceito e citado em todos os trabalhos cientficos ligados ao estudo do assunto. Este foi formulado pelo Conselho de Logstica Empresarial (CLM Council of Logistics Management), atual Conselho de Profissionais de Cadeias de Suprimento (CSCMP Council of Supply Chain Management Professionals). A elaborao desse conceito contou com o auxlio de vrios pesquisadores de renome e sua traduo, conforme Novaes10, descrita como: o processo de planejamento, implementao e controle do fluxo e armazenagem eficientes e de baixo custo de matriasprimas, estoque em processo, produto acabado e informaes relacionadas, desde o ponto de origem at o ponto de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do cliente.35 Evoluo da logstica empresarial

Para Schlter e Schlter11, o conceito de logstica empresarial possui trs caractersticas bsicas:1.

O qu: Gesto do fluxo de produtos e atividades correlatas. Objetivos: Minimizar custos; melhorar os nveis de servio. Abrangncia: Desde as fontes de matria-prima at o consumidor final. A caracterizao desse conceito sugere que a gesto

2.

3.

das operaes da empresa deva ser realizada de forma sistmica na sua abrangncia, porm no isso que ocorre na prtica do dia-a-dia das organizaes.

(2.3) a evoluo da logstica empresarialA logstica empresarial passou por uma evoluo ao longo36 Sistemas logsticos de transportes

do tempo. Desde o seu surgimento como uma tcnica de gesto das operaes de transporte, at a sua compreenso como uma funo empresarial, foram travadas inmeras discusses no mbito acadmico. A depurao dessas discusses resultou no aperfeioamento dos aspectos bsicos que a caracterizam. Atualmente, a logstica compreendida como um sistema dentro das empresas, responsvel pelas aes de apoio conquista e defesa de mercados. A figura a seguir mostra a evoluo da logstica a partir da dcada de 1970.

Figura 2.1 Evoluo da logstica

Anos 1970

Transporte

Anos 1980

Suprimento

Anos 1990

Produo

Anos 2000

Utilizao Revero

A viso sistmica da logstica empresarial Suprimento + Produo + Distribuio + Utilizao + Reverso

A incluso da logstica no meio empresarial iniciou-se nos anos 1970 e evoluiu ao longo do tempo, incorporando novas reas, at a percepo de que ela era um sistema da empresa.

(2.4) a nos 1970: logstica transporteCom o surgimento da crise do petrleo e o seu impacto nos oramentos de pessoas, empresas e governos, houve o incremento de tcnicas avanadas de marketing com o objetivo de reter e conquistar mais clientes. Todavia, os objetivos de marketing eram comprometidos pelas rupturas nas operaes de entrega dos produtos nos pontos de venda. Ao perceber esse problema, as empresas buscaram

37 Evoluo da logstica empresarial

no meio blico os mtodos que propiciavam a entrega da munio, quando esta era exigida pelos soldados na frente de combate: a logstica. A incorporao da logstica militar pelo meio empresarial assumiu outros valores que, posteriormente, foram vinculados ao conceito formalizado pelo CSCMP (ex-CLM), que o de minimizar custos e melhorar os nveis de servio ao cliente. A logstica empresarial surge, no seu alvorecer, como uma tcnica mercadolgica com objetivo de erradicar perdas ocasionadas pela falta do produto. Assim, os maiores pensadores dessa rea, em mbito mundial, surgiram da rea de marketing (Donald Bowersox e Martin Christopher).

(2.5) a nos 1980: incorporao do suprimentoEnquanto nos primrdios de sua implementao a logstica era uma tcnica que visava erradicar as rupturas de fluxo38 Sistemas logsticos de transportes

de entrega, notadamente junto s empresas que industrializavam produtos de consumo final, nos anos 1980 houve um acrscimo de abrangncia. Esse acrscimo se deu por conta das empresas que industrializavam partes e conjuntos de produtos de consumo final. Elas perceberam que a logstica tambm poderia ser utilizada para erradicar rupturas nos fornecimentos das matrias-primas. A gesto dos transportes e estoques de produtos acabados foi ampliada para a rea de suprimentos de matrias-primas, envolvendo a gesto de transportes e estoques de matrias-primas, pois a logstica de distribuio de uma empresa que

faz uma parte de um produto de consumo final, a logstica de suprimentos das empresas que fazem o produto de consumo final. Ao final dos anos 1980, algumas empresas de vanguarda perceberam que a rea de compras tambm fazia parte da logstica, atravs das compras de matriasprimas. Embora isso seja entendimento pacfico no meio acadmico, algumas empresas ainda no incorporaram esse conceito, assim como alguns livros, cujas primeiras edies remontam os anos 1970, como, por exemplo, o livro Logstica Empresarial de Ballou12. Foi a partir dessa dcada que a vanguarda do meio acadmico avanou nos estudos e distanciou-se do meio empresarial, criando um hiato entre a teoria desenvolvida e a sua respectiva aplicao prtica.

(2.6) a nos 1990: a logstica um sistemaNos anos 1990, a produo foi incorporada logstica empresarial. Os pesquisadores sugeriram que a logstica no poderia ser administrada de forma isolada (logstica de entrada de matrias-primas e logstica de sada de produtos acabados). Essa incorporao se deu de forma tmida, atravs da incluso do planejamento e controle da produo (PCP) de forma clara por alguns autores de renome. Os argumentos utilizados para justificar a incluso da produo remetiam teoria dos sistemas, criada pelo bilogo Ludwig Von Bertalanfy e adaptada para as cincias empresarias. Segundo Novaes13, essa teoria preconiza que39 Evoluo da logstica empresarial

um sistema possui uma srie de caractersticas e, dentre as mais importantes, destacam-se: um sistema um conjunto de partes que agem de forma coordenada; as partes possuem um objetivo comum ao do sistema; um sistema parte de um sistema maior; a otimizao de uma parte do sistema no significa que ele todo esteja otimizado; se uma parte do sistema for afetada, repercute nele como um todo. As principais caractersticas de um sistema, quando transpostas para o ambiente empresarial, evidenciam que as reas compreendidas pelo fluxo de transformao de matrias-primas em produtos acabados devam ser gerenciadas de forma conjunta.

(2.7) a nos 2000: a logstica incorpora os servios de utilizao e a reversoA partir dos anos 2000, a logstica incorpora mais duas reas que, apesar de estarem implcitas no contexto das operaes, ganharam fora pela sua elevada significncia. Os servios, que garantem a boa utilizao dos produtos acabados e que compreendem assistncia tcnica, instalao e treinamento de utilizao (quando for o caso), devem ser conduzidos pela logstica, que utiliza esse contato com o usurio como forma de aprimoramento do produto. Essa

40 Sistemas logsticos de transportes

nova rea tambm denominada de logstica de servios. Alm disso, foi incorporada mais uma rea, denominada de logstica reversa, a qual possui grande importncia no contexto da gesto ambiental, muitas vezes comparada prtica da gesto ambiental. Tudo o que no possuir utilidade de forma nos processos logsticos de uma cadeia produtiva deve ser reinserido no mesmo processo, em outros processos da mesma rede ou de outras redes, ou em outros processos de redes de outros sistemas logsticos. Embalagens, unitizadores, veculos, sobras e avarias precisam ser reutilizados e, se possvel, de uma forma que no afete o meio ambiente. Nesse contexto, a rea de logstica reversa assume a posio de staff em um organograma logstico.

(2.8) a aplicao prtica da gesto logsticaO hiato da aplicao da gesto logstica existente entre as pesquisas desenvolvidas pelo setor acadmico e a respectiva aplicao prtica pelo setor empresarial, iniciou-se na dcada de 1980 e ampliou-se a partir da dcada de 1990. Esta ltima foi marcada pela incorporao da produo como mais uma rea de abrangncia da logstica. A existncia de um hiato entre teoria e prtica algo considerado normal, uma vez que cabe ao meio acadmico a busca pela vanguarda, atravs do estabelecimento de bases tericas slidas que garantam a sua aplicao prtica. No entanto uma nova metodologia de gesto que altere as41 Evoluo da logstica empresarial

relaes de poder estabelecido nas empresas quase sempre rejeitada, pois a transformao da teoria em prtica comprometida pelas pessoas que detm o poder, principalmente aquelas que sero afetadas negativamente pelos novos padres de distribuio deste. O desenho dos organogramas das empresas mostra que as reas compreendidas pela logstica esto dispersas. De forma geral, o desenho do o rganograma organizado conforme a figura seguir:Figura 2.2 Organograma empresarial conservador

Diretor geral Finanas Compras Recursos humanos Transporte MP Industrial Almoxarifado PCP Engenharia de produo ManufaturaFonte: Schlter; Schlter, 2005b.

Marketing Distribuio CDs Ps-vendas

42 Sistemas logsticos de transportes

Pesquisa recente, realizada pelo Instituto de Pesquisa e Ensino em Logstica (Ipelog) do Rio Grande do Sul, junto s grandes empresas (com mais de 500 funcionrios), no ano de 2004, teve como objetivo constatar como essas empresas aplicavam a gesto da logstica. Dentro do contexto da pesquisa, era solicitada a vinculao das reas de compras, almoxarifado (ou estoque de matrias-primas), produo e distribuio, que so as mais significativas sob o ponto de vista da gesto sistmica da logstica. O perfil

dos profissionais entrevistados consistia em gestores responsveis pela logstica, compras, distribuio e produo. A pesquisa apurou que, na maior parte das empresas, as reas compreendidas pela logstica ainda estavam dispersas e sem um comando unificado de gesto. As respostas fornecidas pelos entrevistados para justificar a falta de viso sistmica para a logstica foram as seguintes: a rea de compras consumidora voraz de recursos financeiros e, portanto, necessita estar vinculada rea financeira; a rea de produo complexa e gasta a maior parte dos recursos de operao (mo-de-obra, equipamentos, energia, ferramentas etc.) portanto, necessita de uma diretoria separada das demais reas; a distribuio precisa garantir que no faltaro produtos para entrega junto aos clientes, sendo vital para a rea comercial. Constatou-se tambm que os gestores das reas compreendidas pela logstica (suprimento, produo e distribuio) apontaram a existncia de problemas no fluxo do produto, relacionados aos objetivos conflitantes entre as diretorias as quais estavam subordinados. Na tentativa de sanar o problema, muitos buscavam canais informais de comunicao entre seus pares para executar o planejamento de fluxo de operao com razovel eficincia e eficcia. Embora essa forma de comunicao seja uma soluo parcial para a falta de viso sistmica, pode ser comprometida a partir de um turn-over entre os seus integrantes. O posicionamento ideal para a gesto logstica nas empresas mostrado na figura a seguir.43 Evoluo da logstica empresarial

Figura 2.3 Posicionamento correto da competncia logstica em uma empresa

Gestor de logstica

Diretor Logstica reversa

Suprimentos Compras Almoxarifado

Produo PCP Eng. produo Manufatura Qualidade

Distribuio Transporte Armazenagem

Servio ao cliente Ass. tcnica Treinamento

Fonte: Schlter; Schlter, 2005b.

Na figura acima, a logstica mostrada como um sistema da empresa, com todas as suas reas sob o comando de um nico gestor no nvel de diretoria. O hiato entre a teoria e a prtica sugere a ausncia de conhecimento sobre logstica entre os gestores de alto escalo das empresas.

(2.9)44 Sistemas logsticos de transportes

o papel do ensino de logstica na sua aplicao prticaA pesquisa realizada pelo Ipelog, constatou uma correlao entre o ensino da logstica e sua aplicao prtica nas empresas da amostra. A maior parte dos entrevistados participou de cursos informativos sobre logstica, mas apenas cinco informaram possuir cursos de formao em logstica (ps-graduao) e nenhum diretor, presidente ou

superintendente fez algum tipo de curso de gesto estratgica nos ltimos cinco anos. Cursos informativos (de curta durao) so convenientes em situaes onde a dinmica de um determinado assunto impe atualizao constante (legislao tributria, tecnologia da informao etc.), mas no para uma rea de tamanha importncia e complexidade como a logstica empresarial. Cursos de formao especfica em logstica so especialmente importantes para os gestores envolvidos nas reas subordinadas a ela e cursos de gesto e estratgia empresarial so importantes como fonte de atualizao de diretores das demais reas da empresa (inclusive o diretor-presidente). Se todos conhecerem as verdadeiras competncias da logstica empresarial, a sua aplicao prtica se tornar mais efetiva e ocorrer em tempo mais curto.

atividades1.

A logstica evoluiu consideravelmente a partir dos anos 1970, culminando com a compreenso de que sua competncia a gesto das operaes empresarias. O que faz com que ainda exista resistncia quanto sua implementao de forma sistmica?45 Evoluo da logstica empresarial

2.

A inexistncia de uma diretoria de logstica pode levar a empresa a cometer erros na gesto das suas operaes. Que erros podem ser visualizados?

(3)

o processo logstico e as redes logsticas

Mauro Roberto Schlter

(

)

e ste captulo abordar o conceito de processo logstico, tomando como base a existncia de um sistema logstico, composto pelas reas vinculadas s operaes. A partir dessa conceituao, ser apresentada a elaborao da rede logstica e como esta desenhada.

(3.1) o processo logstico e o diagrama da redeO conceito de logstica empresarial utilizado para descrever a sinergia proporcionada pelas operaes entre as funes das empresas, porm necessrio que se busque, baseado nesse conceito, a descrio do que realmente um processo logstico. Este deve estar conectado ao conceito da logstica e compreender as reas operacionais (suprimento, produo e distribuio), desde as fontes de matria-prima at o produto acabado chegar s mos do consumidor final, buscando a minimizao dos custos envolvidos e garantindo a melhoria dos nveis de servio. A forma encontrada para descrever um processo logstico, baseada no conceito da logstica e seus objetivos, utiliza, por analogia, a tica de fornecedor e cliente internos descrita nos conceitos de qualidade total preconizados50 Sistemas logsticos de transportes

pelo professor Campos. Segundo esse autor14, todos os processos de uma organizao possuem clientes e fornecedores internos, alm dos fornecedores e clientes externos organizao.

O conceito de processo logstico e sua representaoAs tcnicas de anlise e conceituao de processo so exploradas de forma mais intensa no estudo da administrao da produo, porm a sua ocorrncia evidente em toda a organizao, inclusive nas operaes de transporte entre as empresas de uma mesma cadeia. Uma descrio de um processo logstico que possa ser comum a todo o fluxo de produtos da empresa difere da descrio de um processo

de produo em um aspecto bsico: a incluso do deslocamento como parte integrante desse processo. Ao visualizarmos um ambiente logstico em toda a sua abrangncia, podemos verificar que o produto possui um padro de fluxo do tipo stop and go. No entanto, existem algumas excees a esse padro, encontradas em empresas com processos de produo contnuos, como o caso das indstrias do setor qumico ou de empresas com processos de produo em que o operador executa as tarefas acompanhando o deslocamento do produto em esteiras. Entretanto, mesmo essas excees podem ser simplificadas por ocasio da descrio de um processo logstico, assumindo-se que todo e qualquer beneficiamento exercido nos processos logsticos do subsistema de produo desse tipo de indstria, seja definido como um procedimento do tipo stop. Com relao ao deslocamento do produto entre duas paradas, no existem excees conhecidas. Um processo logstico composto, portanto, de um procedimento esttico (stop), e um procedimento dinmico (go). Esse conjunto de procedimentos deve exercer as suas atividades dentro dos conceitos da logstica: fornecer o produto certo e sem defeitos, no local da demanda do prximo processo, dentro do tempo certo, ao menor custo possvel e com garantia e/ou melhoria dos nveis de servio. Essa tica a mesma adotada pelos preceitos de controle de qualidade total mencionada anteriormente. Assume-se, com essa definio, que um ambiente logstico possui, alm de clientes externos, clientes internos portanto, os fornecedores internos e externos devem estar conectados com os conceitos e objetivos da logstica. Com base nessas premissas, possvel conceituar o processo logstico como a conjuno de um procedimento esttico (stop) e um procedimento dinmico (go), os quais buscam a minimizao51 O processo logstico e as redes logsticas

dos custos e a melhoria dos nveis de servio, utilizando as informaes da demanda para apoiar as decises que interferem no processo.15 O procedimento esttico pode ser definido como uma parada que o produto sofre em sua produo para execuo de natureza de beneficiamento ou de disponibilidade do produto para demanda futura. Como exemplos, podemos citar os procedimentos de solda (produo), estocagem no almoxarifado (suprimento) e exposio nas gndolas de um ponto de venda (distribuio). A nica diferena entre procedimentos estticos de produo e de estocagem, encontra-se na dependncia que a estocagem tem em relao demanda do prximo processo. Quando ocorre um procedimento esttico de estoque, o tempo em que o produto vai permanecer em estoque depende da demanda. Esse tipo de procedimento esttico pode ser facilmente visualizado nos estoques de produtos acabados de uma empresa qualquer: se existem 1.000 itens em estoque e o mercado possui uma demanda de 50052 Sistemas logsticos de transportes

itens por ms, conclui-se que o tempo de durao do estoque ser de dois meses. J nos procedimentos estticos de beneficiamento, o tempo de permanncia do produto ser unicamente o tempo de produo, sendo completamente independente da demanda. O tempo de pintura de um automvel em uma linha de produo depender somente da velocidade com que este procedimento ser realizado. O procedimento dinmico pode ser definido como o deslocamento do produto entre dois procedimentos estticos. Esse deslocamento poder ser realizado em qualquer dos trs subsistemas abrangidos pela logstica. Como exemplos, podemos citar o transporte de um continer (case) contendo partes de um produto para um processo logstico de montagem ou o deslocamento de matrias-

primas do almoxarifado para a produo. Esses processos, compostos por procedimentos estticos e dinmicos, permeiam os subsistemas da rea operacional de uma empresa, bem como todas as empresas que compem uma cadeia de suprimentos, desde as fontes das matrias-primas at o produto acessar o consumidor final. Um processo logstico pode ser representado de forma anloga representao de um processo de rede, conforme verificamos nas Figuras a seguir.Figura 3.1 Representao do processo logstico de estocagem

Procedimento esttico de estocagemFonte: Schlter, 2001b.

Procedimento dinmico

Figura 3.2 Representao do processo logstico de manuseio 53 O processo logstico e as redes logsticas

Procedimento esttico de beneficiamentoFonte: Schlter, 2001b.

Procedimento dinmico

Redes logsticasUm conjunto de processos logsticos pode ser representado como um subsistema logstico (suprimento, produo ou distribuio), como observamos na Figura seguinte.

Figura 3.3 Diagrama de subsistema logstico

SuprimentoFonte: Schlter, 2001b.

O diagrama anterior representa o conjunto de processos logsticos de um subsistema de armazenagem de matrias-primas, constitudo de trs processos logsticos: o primeiro constitudo pelas atividades de desembarque, conferncia etc. e pelo deslocamento at o local de armazenagem; o segundo abrange a estocagem do produto e o seu deslocamento at o picking de produo; e o terceiro compreende os procedimentos de separao de ordens de produo e deslocamento at o primeiro processo de estocagem pr-manufatura do subsistema produo. Esse54 Sistemas logsticos de transportes

subsistema desenhado sob a forma de crculo, uma vez que a competncia geral do suprimento o estoque (tempo dependente). A representao de um conjunto de subsistemas logsticos forma um sistema logstico de uma empresa. A Figura 3.4 descreve como este diagrama pode ser representado.Figura 3.4 Diagrama de um sistema logstico (empresa)

Suprimento

Produo

DistribuioFonte: Schlter, 2001b.

A figura anterior mostra a composio de um sistema logstico de uma indstria sob a tica do fluxo de produto, por meio do conjunto de subsistemas, que por sua vez composto por um conjunto de processos. A indstria possui competncia de produo e, portanto, o diagrama do procedimento esttico desenhado sob a forma de um retngulo (tempo independente). Um conjunto de empresas que produzem matrias-primas, partes, subconjuntos e conjuntos de um determinado produto de consumo final, forma uma cadeia de suprimentos (supply chain) e pode ser representado analogamente a uma rede de processos logsticos. Percebe-se que o processo logstico o componente bsico de qualquer cadeia de suprimento, mas que tambm pode ser visto em vrios nveis de agregao, como, por exemplo, um conjunto de empresas de uma cadeia de suprimentos, a qual pode ser representada por um diagrama de redes logsticas que contm vrios macroprocessos logsticos (sistemas logsticos).Figura 3.5 Diagrama de redes de uma cadeia

Suprimento Produo Distribuio Fornecedor A Sistemas Logsticos C Fabricante de bem de consumo final.

Fornecedor B

Fonte: Schlter, 2001b.

Varejo

A rede anterior reveladora no que diz respeito importncia do transporte como elemento integrador das empresas da cadeia.

Tcnicas para construir a redeA construo de uma rede deve ser precedida de uma lgica para transformar as aes que ocorrem na trajetria que o produto percorre no ambiente logstico em processos logsticos, compostos por procedimentos estticos e dinmicos. normal a ocorrncia de mais de uma ao nesses processos. medida que o profissional adquirir prtica na construo de redes logsticas e, tambm, se possuir um bom conhecimento prtico do ambiente de estudo, a rede poder ser construda sem a necessidade dessa tcnica, a qual dada a seguir: realizar uma descrio das aes que envolvem o fluxo que o produto percorre no ambiente de estudo desejado, numerando cada uma em ordem cronolgica.56 Sistemas logsticos de transportes

Utilizar a visualizao in loco para realizao desse levantamento. O nvel de detalhamento da descrio deve sempre conter as aes relacionadas diretamente ao produto e, dependendo do interesse, pode tambm contemplar outras aes que eventualmente possam ser alvo de estudos. o desenho da rede deve levar em considerao o posicionamento do produto em relao ao espao. Dessa forma, se o produto permanecer parado, constituir-se- em um procedimento esttico; se estiver sendo transportado entre dois procedimentos estticos, ser considerado um procedimento dinmico.

Exemplos de desenhos de redes logsticas de produo e de suprimentosConforme mencionado anteriormente, possvel desenhar qualquer tipo de rede de acordo com o interesse que se tem sobre um determinado cenrio, inclusive analisando redes de processos com procedimentos desmembrados de outro processo. Os exemplos mencionados a seguir serviro de base para a sedimentao dos conhecimentos sobre as tcnicas de desenho da rede, tomando como modelo o que ocorre no dia-a-dia dos usurios. Embora esses exemplos estejam vinculados s reas de produo e de suprimentos, tambm esto conectados aos servios que alguns tipos de operadores do sistema de transporte executam em indstrias, quais sejam: alimentao das linhas de produo e gesto de armazenamento de matrias-primas. Exemplo de rede de produo Imagine que exista a necessidade de desenhar uma rede de apenas um pequeno conjunto de processos logsticos de produo. Aps uma visualizao in loco dos processos envolvidos no cenrio de estudo, verificou-se que se trata de um conjunto de processos de execuo de um furo em uma pea metlica. A partir desse cenrio, o profissional deve dar procedncia aos passos das tcnicas de construo da rede, conforme demonstrado a seguir: Passo I Verificao in loco e descrio das aes envolvidas na rede, expostas em ordem cronolgica de sua ocorrncia, como consta a seguir: 1 uma caixa com peas metlicas, em dimenses previamente padronizadas, colocada ao lado do operador da furadeira no nvel do solo;57 O processo logstico e as redes logsticas

2 o operador retira uma pea da caixa de estoques prbeneficiamento, transportando-a at a furadeira; 3 o operador executa o furo na pea; 4 o operador retira essa pea da furadeira e a transporta para o estoque de produtos prontos; 5 o operador retira as sobras metlicas resultantes do procedimento de furo; 6 o operador coloca-as em uma caixa localizada atrs de si; 7 as peas permanecem depositadas na caixa de produtos acabados que est sua direita, ao nvel do solo, at o trmino do lote de processamento; 8 aps a execuo do furo em todas as peas, o operador leva a caixa com as chapas metlicas furadas at o prximo processo. Como podemos ver, so basicamente oito aes que ocorrem no ambiente de estudo. A descrio serve para obteno de domnio do cenrio em que se quer desenhar a rede, sendo o seu nvel de detalhamento suficiente para58 Sistemas logsticos de transportes

obteno das informaes. No raro ocorrem situaes de identificao de perdas somente com um exame visual dos processos. Os processos logsticos devem ser colocados em ordem cronolgica de ocorrncia. A ordem mais comum de representao de um processo logstico um procedimento esttico seguido de um procedimento dinmico. Porm, essa ordem pode ser modificada de acordo com as especificidades e interesse de estudo da prpria rede.16

A figura a seguir demonstra essa afirmao.Figura 3.6 Diagrama da rede em estudo

Execuo do furo 1 e 2 3 4 5 8 9

Estoque pr-furao 6

Estoque ps-furao Estoque de sobras

7

Fonte: Schlter; Schlter 2005b.

Os nmeros relativos ordem das aes esto alocados sobre os procedimentos estticos e dinmicos apenas com o propsito de melhor compreenso dessa transformao. Em geral, pode ocorrer mais de uma ao em um procedimento esttico. possvel verificar, no desenho anterior, que o fato que direciona o desenho da rede a posio do produto, ou o stop and go, conforme descrio a seguir: o primeiro processo o de estoque pr-furao, no qual os produtos ficam armazenados em caixas ao nvel do solo (procedimento esttico) e, posteriormente, so transportados um a um para a produo do furo (procedimento dinmico); o segundo processo o de beneficiamento, no qual se executa o furo na pea (procedimento esttico) e se transporta a pea furada at a caixa que est localizada do lado direito do operador (procedimento dinmico); o terceiro processo a colocao das sobras do furo em uma caixa localizada atrs do operador; o quarto processo o estoque dos produtos furados e o respectivo transporte at o prximo processo.59 O processo logstico e as redes logsticas

possvel verificar, no desenho da rede, que os estoques, por possurem tempos dependentes da demanda posterior e anterior execuo do furo, tm o seu desenho de procedimento esttico representado por um crculo. J o procedimento esttico de beneficiamento (execuo do furo), tem o seu desenho retangular, uma vez que representa um procedimento esttico com tempo de permanncia completamente independente, isto , depende apenas da rapidez com que o furo executado pelo conjunto operador x mquina. As demais representaes referem-se ao transporte de produtos entre dois procedimentos estticos. Observa-se que os processos so nominados de acordo com a competncia do procedimento esttico. O uso dessa tcnica de identificao deve-se ao fato de que o transporte de difcil diferenciao (a nomenclatura comum a todos os procedimentos dinmicos) e comum a todos os processos. Apenas para fins de esclarecimentos, o desenho dessa rede oriundo de um caso real, em que o interesse estava60 Sistemas logsticos de transportes

centrado nos custos de ergonomia (interface homem x mquina) e uma possvel soluo seria a instalao de uma esteira na altura de, aproximadamente, 1,20 metros. O objetivo era o de maximizar o rendimento do processo, proporcionando melhor bem-estar fsico ao operador.

atividades1.

Que benefcios a tcnica de desenho de processos logsticos pode trazer para o administrador da rea? Desenhe uma rede de processos logsticos de um ambiente de seu conhecimento.

2.

(4)

o s custos e as perdas do processo logstico

Mauro Roberto Schlter

(

)

a logstica empresarial

passou por um

momento marcante na dcada de 1950. Nessa poca, houve a incorporao, na logstica, do entendimento do custo logstico total. Essa teoria embasa a identificao das variveis de custos e perdas que fazem parte de um processo logstico.

(4.1) a teoria do custo logstico totalEm 1956, um trabalho acadmico realizado por trs estudantes da Escola de Administrao da Universidade de Harvard, enfocou um estudo em que o transporte areo, apesar do seu alto custo, justificava-se atravs da erradicao de outras perdas. Culliton, Steele e Lewis, citados por Bowersox e Closs17, abordaram esse assunto e concluram que os custos logsticos deveriam abordar todo o contexto da operao, inclusive as perdas inerentes ao que se deixa de ganhar. O exemplo seguinte esclarece melhor essa situao. Considere a necessidade de aquisio de microprocessadores da64 Sistemas logsticos de transportes

Malsia para uma empresa localizada no Brasil. Embora no exista urgncia, o pagamento do produto deve ser feito por ocasio do embarque. As opes de escolha modal esto restritas ao areo e ao martimo. Os dados relativos tarifa e prazos de entrega so os seguintes: Areo Tarifa: US$ 14.000,00 Tempo de entrega: 3 dias Martimo Tarifa: US$ 3.000,00 Tempo de entrega: 48 dias Qual seria a melhor opo de modal? O cenrio sugere que a tarifa seja o nico fator de deciso, porm existe um outro fator que no est expresso no cenrio: trata-se do custo do dinheiro investido no produto durante o tempo em que este se encontra em transporte.

Se a empresa embarcar o produto pelo modal martimo, deixa de ganhar a remunerao dos juros sobre o valor do pagamento do produto. Esse fato demonstrado na Figura seguinte.Figura 4.1 Exemplo de cenrio de custo logstico total

Pagamento 48 dias antes

Como a deciso deve ser tomada

Pagamento no embarque do navio

Pagamento 3 dias antesPagamento no embarque do avio

Diferena de 45 dias

Se fosse receber hoje

Fonte: Schlter; Schlter, 2005b.

A explicao simples: Se o modal escolhido fosse o martimo, o pagamento deveria ocorrer 48 dias antes do recebimento. Mas, se o modal escolhido fosse o areo, o valor do produto (US$ 2.000.000,00) poderia permanecer aplicado (a uma taxa de juros de aproximadamente 1% ao ms) e geraria uma receita financeira superior ao valor da tarifa do transporte areo. A Tabela a seguir mostra os valores que devem ser considerados na deciso desse cenrio.Tabela 4.1 Demonstrao do custo logstico total

65 Os custos e as perdas do processo logstico

Modal Martimo Areo Diferena total

Tarifa 3.000,00 14.000,00 11.000,00

Custo financeiro 30.560,00 560,00 30.000,00

Custo total 33.560,00 14.560,00 19.000,00

O custo logstico total do cenrio descrito na Tabela anterior de US$ 33.560,00 para o modal martimo e de US$ 14.560,00 para o modal areo, fornecendo uma diferena de US$ 19.000,00 favorvel ao areo. A teoria do custo logstico total demonstra que existem outros custos que no esto aparentes e que devem ser considerados na deciso de cenrios logsticos. Uma deciso meramente operacional conduz o gestor a decidir pela menor tarifa, optando pelo modal martimo; uma deciso de logstica pressupe a incluso de outros fatores e valores, promovendo sinergia entre os elementos do cenrio e direcionando para a opo area.

(4.2)66 Sistemas logsticos de transportes

c ustos logsticosApesar de a logstica empresarial ser amplamente difundida e utilizada pelas empresas, at hoje existem poucas formas de se medir quantitativamente os seus resultados efetivos no que diz respeito aos seus dois principais objetivos: a minimizao dos custos e a manuteno ou melhoria dos nveis de servio. Os modelos existentes no so sistmicos, isto , no abrangem todo o sistema do qual ela faz parte. As formas encontradas pelas empresas para avaliao das economias geradas pela aplicao dos conceitos de logstica so pontuais, compreendendo somente uma parte do sistema logstico. Esse fato pode gerar distores no objetivo de minimizao de custos logsticos totais gerado no sistema, uma vez que a economia adquirida em um determinado processo ou subsistema poder acarretar

em aumento de custos em outro componente do sistema. Os custos dos processos de uma estrutura empresarial qualquer compreendem um custo hipoteticamente puro de um processo (sem perdas) ou conjunto de processos acrescidos de uma perda. Essa tica de custo pode ser expressa matematicamente da seguinte forma: Cefe = Cnom + P Onde: Cefe o custo efetivamente despendido; Cnom o custo hipoteticamente puro; P a perda associada ao custo efetivo. O mesmo conceito de custo empresarial pode ser aplicado aos custos que ocorrem no fluxo do produto em um ambiente logstico. O custo efetivo dado pelo dispndio total de recursos em um processo logstico, includo o custo nominal, adicionado das perdas inerentes ao processo. O custo nominal representa um custo hipoteticamente puro, entendido como sendo a capacidade plena de atividade do conjunto operador-equipamento. Perda, por sua vez, o no aproveitamento das oportunidades de se capitalizar uma empresa com qualquer tipo de bem economicamente mensurvel nos processos logsticos. As perdas incluem no s o material e mo-de-obra no aproveitada, mas tambm aquilo que se deixa de ganhar, uma vez que o resultado do investimento realizado em uma estrutura empresarial no est sendo totalmente utilizado. As perdas de um processo logstico podem ser classificadas em perdas concretas e abstratas. As perdas concretas so as sobras e avarias e sofrem constante controle atravs dos programas de qualidade e produtividade,67 Os custos e as perdas do processo logstico

principalmente no subsistema produo. As perdas abstratas so divididas em dois grupos: perdas visveis (estoques e ociosidades) e invisveis (perdas ainda no-identificadas). A Figura a seguir mostra como essas perdas fazem parte dos custos logsticos.Figura 4.2 Custos e perdas logsticas

Concretas Perdas Abstratas

Sobras Avarias Visveis Estoques Ociosidades

Invisveis

As perdas, segundo esse conceito, so fontes de modificao das decises gerenciais logsticas, pois fornecem trade-offs (compensaes) entre as variveis dos custos68 Sistemas logsticos de transportes

que compem um processo. Alm disso, fornece ainda trade-offs entre os processos que compem uma rede e, comparativamente, a outras alternativas de processos. Muitas vezes, uma perda pode ser tolerada, desde que fornea um custo logstico total menor.

Os custos do processo logsticoO processo logstico descrito atravs da Figura 4.1, demonstrada no item 4.1 deste captulo, possui custos nominais e perdas. No raro, as perdas de um processo podem estar identificadas e, ainda assim, ser toleradas, em razo de minimizarem os custos logsticos totais. As variveis de custos que fazem parte de um processo logstico, segundo a tica descrita no item anterior, devem possuir caractersticas que os integrem como partes do sistema logstico. Esses custos so:

O custo de input (kI) O custo de input o custo de entrada do produto no processo logstico em estudo, podendo ser o custo logstico agregado de todos os processos anteriores, at o produto acessar o processo em foco, isto , a soma dos custos logsticos totais de todos os processos precedentes. Esse custo cumulativo e, nesse caso, o produto dever acessar o prximo processo com ele minimizado por meio das compensaes dos custos logsticos totais dos processos anteriores. Exemplos: custo de aquisio da matria-prima de um fornecedor; custo agregado do produto semiacabado entre os processos de manufatura; custo do produto acabado de uma indstria at o ponto de venda de varejo.69 Os custos e as perdas do processo logstico

O custo de um procedimento dinmico (kd) O custo de um procedimento dinmico o custo de deslocamento do produto entre os procedimentos estticos. Esse custo tambm denominado de custo de transporte (Ktr) e ocorre com intensidades diferentes, dependendo do subsistema logstico que objeto de estudo. O custo de deslocamento no subsistema de produo, por exemplo, baixo comparado com o custo de deslocamento do subsistema de suprimento ou distribuio, o qual envolve transportes em longas distncias, que necessitam da utilizao de equipamentos mais onerosos. O custo de deslocamento do produto deve ser alocado no procedimento esttico que o gera, uma vez que responsabilidade do operador do processo

agir em conexo com os preceitos da logstica. O custo do procedimento dinmico deve ser considerado um custo hipoteticamente puro, se levarmos em conta que o conjunto composto pelo equipamento e pelo operador trabalhe a plena capacidade. Exemplos: custo do deslocamento do produto na produo; custo de transporte de produtos acabados entre uma fbrica e uma central de distribuio; custo de transporte de matrias-primas do fornecedor at a empresa produtora. Custo de um procedimento esttico (ke) O custo do procedimento esttico determinado pela ausncia de deslocamento do produto na rede logstica, mas que70 Sistemas logsticos de transportes

onera a funo logstica por intermdio de custos de manuseio, atravs da utilizao de mquinas, equipamentos ou simplesmente de espao fsico para acondicionamento ou exposio deste. Ele possui duas naturezas de ocorrncias diferentes, dependendo da forma com que o tempo do procedimento ocorre. Se o procedimento esttico de natureza de estocagem, o tempo de permanncia do produto dependente da demanda do processo anterior ou posterior; se for de beneficiamento, o tempo de permanncia independente de qualquer processo. Esse custo, da mesma forma que o custo do procedimento dinmico, ocorre com intensidade variada, dependendo do subsistema ou processo em foco. Sabe-se, por exemplo, que os custos de armazenagem, dependendo do giro do produto, so menores que os custos de manufatura no subsistema de produo. Da mesma forma que o procedimento dinmico, esse custo deve ser considerado como se operasse

plena capacidade do conjunto equipamento-operador. Exemplos: custo da manufatura de um processo; custo de parada no transporte (armazenagem, transbordo); custo de exposio do produto em um ponto de venda. Custo financeiro (kfin) dado pelo custo do capital de giro da empresa investido no ciclo operacional do produto em cada processo logstico, em funo do custo de input, durante o tempo em que o produto estiver disponvel nesse processo, tanto no seu procedimento dinmico quanto no esttico. O lead time do produto no subsistema de produo e o tempo em que um produto permanece armazenado at ser demandado para consumo so fatores que geram custos financeiros, uma vez que oneram o capital investido no produto durante o tempo em que ele permanecer no processo logstico. Da mesma forma, o tempo de transporte ou de distribuio de um produto constitui-se em fator que onera o capital de giro investido no procedimento dinmico de um processo logstico e, como tal, gerador de perdas. Exemplos: tempo de permanncia durante a manufatura e o transporte em algum processo do subsistema de produo; tempo de estoque da matria-prima no almoxarifado at ser demandado pelo subsistema de produo; tempo de exposio do produto no ponto de venda at a ocorrncia da sua demanda; tempo de transporte de produtos entre uma fbrica e uma central de distribuio.71 Os custos e as perdas do processo logstico

Custo de obsolescncia (kob) O custo de obsolescncia do produto dado pela perda de potencial de demanda, aos nveis de preos de venda, por ocasio de sua entrada no processo e durante o tempo em que o produto permanecer neste (tempo de procedimento esttico e tempo de procedimento dinmico). a perda de valor que ocorre em um produto em funo dos atributos que o depreciam perante o mercado consumidor final. Essa perda de potencial de demanda pode ocorrer em funo da proximidade do prazo de validade do produto ou em razo da entrada de produtos com novas tecnologias. O custo de obsolescncia varia de produto para produto e dado por uma funo matemtica que descreve a trajetria da perda monetria do preo de venda inicial do produto, a partir do momento em que o consumidor considerar o fator de obsolescncia e durante o tempo restante em que o72 Sistemas logsticos de transportes

item estiver disponvel no processo. Esse custo tambm se caracteriza como uma perda em um processo logstico. Exemplos: perda de valor em funo da proximidade do prazo de validade de um iogurte; perda de valor em funo da obsolescncia tecnolgica de microcomputadores; perda de valor em funo da obsolescncia de telefones celulares. Custo de oportunidade (kop) O custo da perda de oportunidade dado em funo da demanda do produto e do processo no aproveitada totalmente. Esse fato pode ser explicitado atravs das

ociosidades nos postos produtivos de cada procedimento (esttico e dinmico) que compe um processo logstico. Um exemplo de custo de oportunidade de processo em um ponto de demanda de consumo final a falta de produto quando ocorre o desejo de demanda pelo consumidor final. Nesse caso, a perda dada pelos custos de ociosidade, pela margem bruta dos produtos no demandados e pela possibilidade de perda de captao e/ou manuteno de um consumidor, da marca e/ou ponto de venda. A demanda do produto no aproveitada totalmente nos processos pode ser explicitada atravs das sobras e avarias das matrias-primas dos processos logsticos. Esse tambm um custo gerador de perdas. Exemplos: custo da no-comercializao de um lote de alimentos que est com prazo de validade vencido e no foi substitudo; custo de uma mquina e de um operador parados por falta de matria-prima; custo da perda de comercializao por atraso na entrega do produto. Custo reverso (krev) O custo do canal reverso de distribuio representado pelo dispndio que cada processo logstico possui para executar o tratamento das sobras e avarias das matrias- primas e insumos utilizados, para reinsero em novas cadeias de suprimento ou no meio ambiente. Os valores para esse custo podero ser negativos, caso haja possibilidade de reaproveitamento das sobras por outros processos, subsistema ou sistema logstico, atravs da comercializao. Existem, porm, algumas formas de73 Os custos e as perdas do processo logstico

emisso que no so oneradas explicitamente, como o caso da emisso dos gases dos escapamentos dos veculos dos diversos modais que operam a distribuio de produtos. Exemplos: sobras de couro nos processos logsticos do subsistema produo de uma indstria caladista; restos de leo lubrificante de ferramentas de corte de processos logsticos de produo de uma indstria metalrgica.

O modelo da funo logsticaA estruturao do modelo ocorre em convergncia com os conceitos e objetivos da logstica. O objetivo a minimizao dos custos temporais e monetrios dos servios74 Sistemas logsticos de transportes

de suprimento, processamento, distribuio e utilizao do produto ao longo de toda a cadeia produtiva, at ele acessar as mos do consumidor. O nvel de servio incorporado ao modelo de custos, pois a sua desconsiderao gera custos de oportunidade. Esse modelo pode ser representado por uma expresso matemtica, a qual contm em sua formulao todas as variveis, representadas pelos custos que a compem e que possam influir no seu objetivo em um processo logstico, podendo ser descrita como: (L) = min [ ki + kd + ke + kfin + kob + kop + krev ] Onde: min o objetivo da logstica, minimizar os custos;

ki o custo de input; kd o custo do procedimento dinmico ou custo de transporte (Ktr); ke o custo do procedimento esttico; kfin o custo financeiro; kob o custo de obsolescncia; kop o custo de oportunidade; krev o custo de tratamento ambiental. Esse modelo demonstra que o objetivo da logstica uma funo da minimizao dos custos de input, de procedimento dinmico, esttico, financeiro, de obsolescncia, de oportunidade e de tratamento reverso. O aspecto mais importante do modelo a possibilidade de quantificao monetria de cada processo, subsistema e sistema logstico, inclusive em funo de tempo e oportunidade. Alm disso, ele permite a minimizao dos custos atravs da anlise dos trade-offs que ocorrem no processo, entre os processos de uma rede e, comparativamente, a outras opes de incorporao de processos. Os custos da funo logstica possuem trs caractersticas que os definem como integrantes de um sistema: so comuns, cumulativos e compensatrios. So comuns porque podem ocorrer em todos os processos logsticos; so cumulativos porque o custo de input de um processo resultado da funo logstica do processo anterior; so compensatrios porque a elevao de um custo poder acarretar na diminuio de outro, reduzindo, assim, os custos logsticos totais.75 Os custos e as perdas do processo logstico

atividades1.

De acordo com o exemplo dado no texto, o valor do produto o fator decisivo na escolha do modal (meio de transporte) que ir proporcionar o menor custo logstico total. Se o produto fosse de baixo valor (considerando o mesmo cenrio do exemplo dado), a sua deciso de enviar pelo modal areo se manteria? Justifique.

2.

Como voc justificaria uma deciso de escolha modal de um produto de baixo valor em uma distncia de 1.000 quilmetros?

76 Sistemas logsticos de transportes

(5)

a logstica de transportes e seu funcionamento

Mauro Roberto Schlter

(

)

a importncia da logstica vital para aconduo da competitividade nas operaes empresariais, por meio de uma viso sistmica (suprimento, produo, distribuio, utilizao e reverso) e com foco na minimizao de custos e melhoria dos nveis de servio aos clientes e, principalmente, ao consumidor final. De certa forma, no est totalmente errado quando algum se refere a termos que incluem a palavra logstica para definir situaes em que as operaes foram planejadas buscando-se sinergia dos meios para alcanar

resultados melhores a custos mais baixos (que so os objetivos da logstica). Quando o sistema bancrio nacional iniciou o processo de implantao das operaes financeiras via internet, algumas pessoas ligadas rea mencionaram que se tratava de aplicaes de tcnicas de logstica financeira, o que est correto. Afinal de contas, as operaes bancrias que, at ento, necessitavam de deslocamento de pessoas at os caixas eletrnicos ou agncia bancrias, foram substitudas pelas operaes via internet realizadas diretamente do local de trabalho e das residncias, sem exigncia de deslocamento. Ocorreu simplesmente a desmaterializao da informao, anteriormente realizada atravs de papel, para a informao atravs de bytes. Aplicaram-se80 Sistemas logsticos de transportes

tcnicas de logstica para operacionalizar o sistema financeiro de um modo melhor e mais barato (minimizar custos e melhorar o nvel de servio ao cliente) que o objetivo da logstica. O fato de outras reas das empresas utilizarem as tcnicas de logstica para promover maior competitividade, apenas ratifica a importncia desse novo mtodo de gesto das operaes, em qualquer mbito. Por conta disso, algumas pessoas confundem ou ficam confusas com relao s competncias da logstica empresarial e acabam por deduzir que logstica tudo, como algumas pessoas tm afirmado ou lido em algumas publicaes (inclusive do setor) ao longo da ltima dcada. No se considera esse pensamento errado, mas a logstica empresarial tem o seu contexto bem definido nas empresas. As empresas formadoras das cadeias produtivas do pas possuem, no seu mbito interno, sua rea de operaes, a qual abrange o suprimento, a produo, a distribuio, a utilizao e a reverso. Esta a rea de

abrangncia da logstica empresarial de uma empresa agroindustrial, industrial e comercial. Ocorre, porm, que algumas reas especficas da logstica empresarial, por fora de exposio em mdia e/ou discusses em grandes grupos de trabalho, acabam por catalisar as atenes dos formadores de opinio nessa rea, como a logstica reversa (que aborda as questes relacionadas s operaes de gesto ambiental), a logstica fiscal (que trata sobre os benefcios fiscais (incentivos, eliso etc.) e a logstica de transportes (que trata a logstica como elo de ligao entre as empresas das cadeias produtivas do pas), alm de outras com menor expresso. Cada um dos ramos da logstica, mencionados anteriormente, so muito importantes para o contexto da logstica do pas e do mundo, porm a logstica de transportes , de longe, a mais importante. Isso acontece devido a uma srie de fatos ocorridos desde o surgimento objetivo da logstica no meio militar, passando para o fato histrico, que transps a logstica militar para o meio empresarial, at a sua prpria evoluo.81 A logstica de transportes e seu funcionamento

(5.1) o sistema logstico de transportesDas quatro reas que compreendem a logstica empresarial, a logstica de transportes (ou logstica de distribuio) a que apresenta maiores possibilidades de ganhos e, tambm, a mais complexa sob o ponto de vista da pluralidade de atores envolvidos na sua implementao. A logstica de transportes, ou simplesmente distribuio, trata dos aspectos de gesto dos estoques e armazenagem, os transportes e suas estratgias dentro do contexto das

empresas e suas cadeias. Enquanto as decises das polticas de gesto dos estoques e armazenagem permanecem sob domnio da empresa, as polticas de gesto das decises de escolha dos transportes nas redes de distribuio sofrem fortes influncias externas. Essas influncias vo desde o grau de conhecimento de logstica pelos tomadores de deciso, que so os usurios dos sistemas de transportes, passando pelo nvel competitividade de cada operador das empresas de cada modal, at a forte interferncia do governo (em todos os nveis), no que tange infraestrutura e regulamentao dos modos de transporte.

Atores do sistema logstico de transportesa82 Sistemas logsticos de transportes

A logstica de distribuio de produtos de uma empresa o elemento formador do sistema logstico de transportes. Isso significa que uma empresa, ao necessitar de servios de transporte, desencadeia todos os processos relacionados s operaes, envolvendo outros atores que intervm no sistema. O sistema logstico de transportes funciona, basicamente, a partir da demanda de consumo final, que dispara a necessidade de produo e/ou reposio de bens no mercado. Esse fato movimenta as cadeias produtivas, desde as fontes de matrias-primas at as empresas que industrializam os produtos de consumo final e, por decorrncia, o sistema logstico de transportes. Esse sistema formado por trs atores que intervm diretamente e um ator que atua de forma indireta, porm de extrema importncia nesse ambiente. O primeiro abrange os setores industrial, comercial e de agronegcios, tambm chamados de usurios, que disparam a primeira etapa do

a. Esse item foi baseado em Lbeck (2007).

sistema ao realizarem a escolha do operador. As empresas que compreendem o segundo grupo de atores so: Transporte rodovirio de cargas (TRC): so empresas cuja frota composta unicamente de caminhes e demais veculos do modal rodovirio; Operadores logsticos (OL): so empresas que executam pelo menos trs das seguintes tarefas: transporte de transferncia entre a indstria e uma central de distribuio, armazenagem de produtos, gesto dos estoques, processamento de pedidos e transporte de distribuio. Operadores de transporte multimodal (OTM): so empresas autorizadas pela Agncia Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) a gerenciar, de forma legal, as operaes que utilizam mais de um meio de transporte. Quarterizadores de servios logsticos (4PL): so empresas que no possuem ativos (veculos, instalaes armazns etc.) e gerenciam as logsticas de distribuio para as empresas usurias. Essas empresas executam a escolha da rede viria onde os veculos se deslocaro. Os governos municipais, estaduais e federal, tambm chamados de provedores, compreendem o terceiro grupo de atores. A parte que lhes cabe a de fornecimento de infraestrutura de vias e terminais adequados aos servios de transporte, alm da regulamentao de operao atravs das agncias reguladoras. As decises de otimizao das redes logsticas de transportes, baseadas em melhorias na infraestrutura, so objetos da esfera poltica e, portanto, de difcil influncia isolada ou cooperada de operadores e/ou usurios do sistema. J as decises dos usurios (indstria83 A logstica de transportes e seu funcionamento

e comrcio) e operadores (monomodais, multimodais e logsticos) podem ser adotadas de forma individualizada ou atravs de redes de cooperao. As escolas tcnicas, cursos superiores (tecnlogos e graduao), ps-graduao (especializao, MBA, mestrado e doutorado), instituies de ensino de extenso e de pesquisa compreendem o quarto grupo, tambm chamado de formadores (tanto de operao quanto de inteligncia). Dessa forma, obtm-se uma cadeia de aes originada de forma passiva pelo consumidor final, mas de forma ativa pelo usurio do sistema logstico de transportes. Em ltima anlise, o usurio que, atravs das suas escolhas, embasa as decises de investimento dos demais atores. O cenrio anterior apresenta uma situao de alta84 Sistemas logsticos de transportes

dependncia de organizao da competitividade do sistema logstico de transportes sobre as decises do usurio. Isso significa que, se o usurio no decide de forma competitiva, munido de conhecimento e inteligncia logstica, vai gerar perdas de competitividade para os operadores e governos, uma vez que estes investem grandes somas com horizontes de retorno baseados no longo prazo. Por outro lado, a capacidade dos gestores de logstica de distribuio de decidir com inteligncia decorrncia da construo do conhecimento, originado da pesquisa e disponibilizado pelas instituies de ensino. Diante disso, tem-se um ambiente onde a competitividade logstica do pas tem dependncia direta da pesquisa e do ensino. Afinal, se um usurio no decide de forma adequada, o operador vai investir recursos em equipamentos e estrutura de operaes inadequados e o governo vai projetar e executar investimentos em infraestrutura viria e de terminais com dimensionamento aqum ou alm das necessidades reais exigidas pelo sistema. Esse o ponto crucial

da competitividade do sistema logstico de transportes do pas (ou de qualquer pas) e o maior problema do Brasil: a baixa existncia de ensino e pesquisa em logstica.18

(5.2) a tomada de deciso logstica pelo usurioAs decises de logstica de transportes pelo usurio devem ser fortemente objetivadas na busca pela competitividade, atravs da escolha de menor custo logstico total. Ocorre que a tomada de deciso sofre influncias de muitos fatores, alguns de domnio do decisor e outros no. A melhor deciso para um determinado cenrio est baseada na obteno de informaes sobre o maior nmero de variveis sob domnio possveis e na execuo de simulaes sobre as variveis que no esto sob domnio. Diante disso, surge a necessidade de o gestor de logstica das empresas usurias do sistema logstico conhecer esses fatores, no sentido de obter a melhor soluo conjunta para o cenrio que ser objeto de um projeto e que gere resultados para o operador.85 A logstica de transportes e seu funcionamento

Formas de tomada de deciso logstica pelo usuriobOs usurios de servios de logstica de transporte executam a sua aquisio baseados em tcnicas de apoio s decises que visem a minimizao dos seus custos. A forma

b. Esse item foi baseado em Schlter (2001a).

de funcionamento dessa tcnica no unnime e nem comum a todos os tomadores desse tipo de deciso. Os decisores tendem a adotar formas de maximizar o rendimento do seu tempo em funo de uma repercusso subjetiva dos gastos envolvidos nas suas decises. Dessa forma, os usurios tomadores desse tipo de deciso adotam critrios que esto relacionados ao volume monetrio desta e o tempo que se gasta em decidir. Os fatores que orientam a heurstica da tomada de deciso por servios de transporte de cargas tendem a migrar de critrios comportamentais intrnsecos e subjetivos do tomador da deciso, para critrios puramente objetivos e apoiados em custos monetrios, em proporo direta ao volume monetrio envolvido nessa deciso.86 Sistemas logsticos de transportes

A aquisio de servios de transporte que acarretam em expressivo volume financeiro tende a receber maior ateno, sob a forma do tempo envolvido na tomada de deciso, enquanto o contrrio acontece com os servios de transporte de baixo volume financeiro. Os usurios de servios de transporte de cargas de empresas de grande porte possuem decises de grande repercusso financeira e, via de regra, suas atividades profissionais so especializadas nesse tipo de tomada de deciso. J os usurios que pertencem a empresas de pequeno porte e que, portanto, realizam a aquisio de servios em pequenos volumes, buscam otimizar o seu tempo, uma vez que suas atividades profissionais possuem um espectro amplo de decises dos mais variados tipos. Os pequenos e mdios empresrios buscam, ainda assim, organizar-se atravs das redes de cooperao, e delegam suas decises logsticas a um especialista. Verifica-se, de forma clara, uma migrao da deciso baseada em fatores subjetivos, para decises baseadas em modelos de

custos como principal elemento formador de opinio sobre o que deve ser decidido.

Fatores que influenciam a tomada de deciso do usurioUma pesquisa realizada pelo Ipelog buscou identificar os atributos desejados pelos usurios por ocasio da contratao dos servios logsticos. Embora a maior parte dos atributos citados pelos decisores entrevistados, sobre os custos da funo logstica, seja de difcil quantificao por ocasio da etapa de planejamento de um projeto de logstica de transportes, eles so facilmente quantificveis aps a realizao dos servios. O quadro a seguir demonstra os atributos em ordem de importncia de sua ocorrncia e, logo na seqncia, consta uma pequena anlise sobre as respostas fornecidas.Quadro 5.1 Atributos de escolha do operador pelo usurio 87 A logstica de transportes e seu funcionamento

ordem 1o 2o 3o 4o 5o 6o 7o 8o 9o 10o

atributo Confiabilidade Nvel de servio Custo dos servios Qualidade de infraestrutura operacional Pessoal qualificado Comprometimento com o negcio Conhecimento acerca de logstica Tecnologia de informao Viso estratgica Gesto ambiental

A contagem dos valores dados ordem dos atributos informados pelos entrevistados mostra que a confiabilidade o mais importante. A confiabilidade a certeza antecipada da execuo dos servios dentro dos quesitos previamente contratados com o operador. Isso demonstra que os entrevistados no desejam dispender esforos com acompanhamento e controle das operaes contratadas e na execuo de planos de contingncia. O segundo atributo, nvel de servio, diz respeito ao tempo de entrega e manuteno da integridade da carga. Esse atributo trata da erradicao das perdas ocasionadas pela falta de produtos na hora e local em que ocorre a demanda, determinada pelas utilidades de tempo e lugar. A importncia desse atributo conferida perda88 Sistemas logsticos de transportes

de aproveitamento da oportunidade da demanda, atravs da margem de lucro que a empresa deixa de auferir. As empresas que citaram este como primeiro item de importncia so aquelas que tm alto custo de perda de oportunidade de demanda, como a indstria alimentcia e de autopeas. O terceiro item de importncia o custo dos servios. Este tem relao direta com a percepo de reduo de custos, que o objetivo da logstica e a pretenso dos entrevistados na gesto das operaes das empresas. No entanto, a aquisio de conhecimento mais profun