livro i - das pessoas - civil 2013

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27 LIVRO I DAS PESSOAS ` TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS ` CAPÍTULO I – DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 1. BREVES COMENTÁRIOS O importante deste artigo é compreender bem o conceito de sujeito de direito, dis- tinguindo-o dos conceitos de personalidade e capacidade. Denomina-se sujeito de direito o titular de interesses juridicamente protegidos, qualificado como tal por uma norma jurídica que lhe imputa direitos e deveres com a finalidade de disciplinar relações econô- micas e sociais. Para o Direito, conforme anota Fábio Ulhôa Coelho, não apenas homens e mulheres, mas também alguns seres ideais de natureza incorpórea são titulares de direitos e deveres na ordem civil (Curso de Direito Civil, vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 138), uma vez que o atributo da personalização não é condição essencial para figurar numa relação jurídica. A personalidade jurídica significa uma autorização prévia e genérica do ordenamento jurídico para a prática de qualquer ato jurídico que não seja proibido pelo Direito. As- sim, sujeitos de direito despersonificados só podem praticar atos quando expressamente autorizados por lei e desde que tais atos sejam inerentes à sua finalidade, enquanto os sujeitos de direito que são pessoas podem fazer tudo a que não estejam proibidos no campo das relações privadas, conforme assegura a Constituição Federal, art. 5º, inciso II. Desse modo, é possível estabelecer diferenças entre as categorias sujeito de direito (gênero) e pessoa (espécie); além disso, deve-se ter em vista que a personalidade, na acepção aqui empregada, é um atributo jurídico e não uma característica imanente ao ser humano, pois ao lado de homens e mulheres que nasceram com vida (pessoas naturais), o Direito confere titularidade de direitos e deveres a pessoas jurídicas, entes não huma- nos, incorpóreos, mas dotados de aptidão para a prática de atos jurídicos em geral. Torna-se difícil em nosso sistema jurídico estabelecer a distinção acima, pois a perso- nalidade jurídica é atribuída pelo próprio sistema, e de acordo com a legislação vigente (art. 2º, CC/02), a pessoa já nasce com o direito a ser sujeito de direitos. Apesar do exposto acima, deve-se registrar que a doutrina tradicional não concebe tal distinção, referindo-se à pessoa como sendo sinônimo de sujeito de direito, o que causa dissensos terminológi- cos, em especial quando do estudo da capacidade jurídica.

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Page 1: Livro I - Das Pessoas - Civil 2013

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LIVRO I

DAS PESSOAS

` TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS

` CAPÍTULO I – DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O importante deste artigo é compreender bem o conceito de sujeito de direito, dis-tinguindo-o dos conceitos de personalidade e capacidade. Denomina-se sujeito de direito o titular de interesses juridicamente protegidos, qualificado como tal por uma norma jurídica que lhe imputa direitos e deveres com a finalidade de disciplinar relações econô-micas e sociais. Para o Direito, conforme anota Fábio Ulhôa Coelho, não apenas homens e mulheres, mas também alguns seres ideais de natureza incorpórea são titulares de direitos e deveres na ordem civil (Curso de Direito Civil, vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 138), uma vez que o atributo da personalização não é condição essencial para figurar numa relação jurídica.

A personalidade jurídica significa uma autorização prévia e genérica do ordenamento jurídico para a prática de qualquer ato jurídico que não seja proibido pelo Direito. As-sim, sujeitos de direito despersonificados só podem praticar atos quando expressamente autorizados por lei e desde que tais atos sejam inerentes à sua finalidade, enquanto os sujeitos de direito que são pessoas podem fazer tudo a que não estejam proibidos no campo das relações privadas, conforme assegura a Constituição Federal, art. 5º, inciso II.

Desse modo, é possível estabelecer diferenças entre as categorias sujeito de direito (gênero) e pessoa (espécie); além disso, deve-se ter em vista que a personalidade, na acepção aqui empregada, é um atributo jurídico e não uma característica imanente ao ser humano, pois ao lado de homens e mulheres que nasceram com vida (pessoas naturais), o Direito confere titularidade de direitos e deveres a pessoas jurídicas, entes não huma-nos, incorpóreos, mas dotados de aptidão para a prática de atos jurídicos em geral.

Torna-se difícil em nosso sistema jurídico estabelecer a distinção acima, pois a perso-nalidade jurídica é atribuída pelo próprio sistema, e de acordo com a legislação vigente (art. 2º, CC/02), a pessoa já nasce com o direito a ser sujeito de direitos. Apesar do exposto acima, deve-se registrar que a doutrina tradicional não concebe tal distinção, referindo-se à pessoa como sendo sinônimo de sujeito de direito, o que causa dissensos terminológi-cos, em especial quando do estudo da capacidade jurídica.

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2. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTARNão se confundem o estabelecimento empresarial, dotado de personalidade jurídica, e a massa falida, titular de personalidade judiciária e de pretensões específicas à sua peculiar condição. (STJ, REsp nº 438013, Min. Rel. Herman Benjamin, DJE 04/03/2009).

Doutrina e jurisprudência entendem que as Casas Legislativas – câmaras municipais e assem-bléias legislativas – têm apenas personalidade judiciária, e não jurídica. Assim, podem estar em juízo tão-somente na defesa de suas prerrogativas institucionais.Não têm, por conseguinte, legitimidade para recorrer ou apresentar contra-razões em ação envolvendo direitos estatutários de servidores. (STJ, AGREsp nº 949899, Min. Rel. Arnaldo Esteves Lima, DJE 02/02/2009).

3. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (PGM/VITÓRIA/2007) A respeito da pessoa natural e jurídica, julgue os itens que se seguem.– Ter capacidade de fato é ter aptidão para praticar todos os atos da vida civil e cumprir valida-

mente as obrigações assumidas, seja por si mesmo seja por assistência ou representação.

02. (AUX/JUR/MGS/2007/ESPP – ADAPTADA) Em relação à personalidade e à capacidade jurídicas das pessoas naturais, analise os seguintes itens:

II. Toda pessoa natural é detentora de capacidade jurídica para ser titular de direitos, mas nem todas detêm capacidade de fato para exercê-los.

03. (FINEP/ANALISTA/2009/CESPE – ADAPTADA) Acerca de capacidade e emancipação no direito brasi-leiro, assinale a opção correta.

– A capacidade de fato é inerente a toda pessoa, pois se adquire com o nascimento com vida; a capacidade de direito somente se adquire com o fim da menoridade ou com a emancipação.

GAB 1 E 2 C 3 E

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

1. BREVES COMENTÁRIOSO início da personalidade é marcado pela respiração, sendo irrelevante até mesmo

a ruptura do cordão umbilical ou a viabilidade da vida extrauterina para aquisição da personalidade. Basta a entrada de ar nos pulmões do recém-nascido, sendo indiferentes suas perspectivas de sobrevivência e evolução, para a preservação de todos os seus direitos, desde a concepção.

Se toda pessoa natural (física) possui o atributo da personalidade, o mesmo não acontece com a capacidade jurídica, atributo relacionado à possibilidade de o indivíduo praticar, por si, atos jurídicos, ou seja, de modo direto, independentemente de auxílio de outra pessoa. Ser capaz significa reunir condições de discernimento e autodeterminação, isto é, apresentar possibilidades físicas e psíquicas de compreender as consequências dos seus atos, distinguindo o lícito do ilícito, e dirigir sua atuação de acordo com seus interesses.

Atenção para não confundir capacidade de direito (ou de gozo, aquisição) e capaci-dade de exercício (ou de fato). A primeira, para Sílvio Rodrigues, seria a “capacidade de ter direitos subjetivos e contrair obrigações” (Direito Civil. Parte Geral, vol. 1, 32ª. ed. São

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Paulo: Saraiva, 2002, p. 39), pelo que é equiparada por Orlando Gomes à própria noção de personalidade, não podendo ser recusada (Introdução ao Direito Civil, 12ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 165); enquanto a capacidade de exercício estaria relacionada ao poder de praticar pessoalmente os atos da vida civil, sem necessidade de representação ou assistência.

Vale advertir que os conceitos expostos no parágrafo anterior, apesar de comumente empregados pela maioria da doutrina, não consideram a distinção entre sujeito de direito e pessoa, pois a aptidão genérica, para ter direitos e deveres (= capacidade de direito), conforme já demonstrado, não é privativa dos sujeitos personificados, uma vez que tam-bém é conferida pelo sistema jurídico aos grupos despersonalizados em situações espe-cíficas. Nada obstante, por ser usual na doutrina tradicional, será empregada nesta obra.

Barros Monteiro adverte que a capacidade de exercício pressupõe a de direito, mas esta pode subsistir sem aquela, uma vez que, por exemplo, uma pessoa pode ter o gozo de um direito sem ter o seu exercício, em face de sua incapacidade absoluta, hipótese em que seus interesses serão protegidos por um representante legal (Cf. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito Civil. 24ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 147).

• Necessita primeiro da capacidade de direito

• Apresenta diversas gradações, analisa-das na Teoria das incapacidades

• Toda pessoa possui

• Não apresenta degradação

CAPACIDADE CAPACIDADE CAPACIDADE DE FATODE FATODE FATO

CAPACIDADE CAPACIDADE CAPACIDADE DE DIREITODE DIREITODE DIREITO ≠≠

A proteção que a lei confere ao ser humano em gestação no útero materno merece atenção especial. O nascituro já é sujeito de direito, embora ainda não possa ser conside-rado pessoa, o que justifica que a proteção concedida aos seus interesses fique condicio-nada ao seu nascimento com vida. A discussão doutrinária acerca do assunto é acirrada e pode ser resumida, em linhas gerais, na reunião das teses conflitantes em dois grupos distintos: (A) corrente natalista e (B) corrente concepcionista.

Os natalistas advogam a tese de que ao nascituro não deve ser reconhecida perso-nalidade, embora lhe seja permitido o exercício de atos destinados à conservação de di-reitos, consoante disposto no art. 130 do CC/02, na condição de titular de direito eventual, por se encontrar pendente condição suspensiva (nascimento com vida). Os concepcionis-tas, por outro lado, criticam a interpretação literal com que os partidários da perspectiva natalista enxergam a questão, sustentando que com a concepção (fecundação do óvulo pelo espermatozoide) surge uma vida distinta, que por ser independente organicamente de sua mãe biológica, merece proteção.

Antes de prosseguir nos comentários sobre tal embate de teorias, necessário es-clarecer que a pacificação do tema ficou um pouco mais distante com os avanços da

LIVRO I – DAS PESSOAS Art. 2º

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engenharia genética. Introduziram-se novos aspectos ao debate, pela necessidade de considerar a distinção entre o nascituro e o embrião, já que a concepção de um novo ser humano tanto pode ocorrer in vivo, isto é, dentro do corpo da mãe biológica, como in vitro, mediante utilização de técnicas de fertilização artificial.

O termo nascituro (nasciturus, aquele que está por nascer) deve, por conseguinte, ser empregado para designar o ser já concebido que se encontra em desenvolvimento no ventre de sua genitora (existência intrauterina), enquanto embrião é expressão utilizada para designar existência ultrauterina, concebida artificialmente.

Embora alguns não estabeleçam nenhuma diferença de tutela jurídica entre as men-cionadas figuras, deve-se ressaltar que, independentemente da forma de fecundação (natural ou artificial), apenas com a nidação do zigoto, ou seja, implantação da célula ovo (óvulo fecundado) na parede do útero é que se considera a existência de um nascituro. Trata-se de momento que serve de marco para o início da discussão acerca de várias questões bioéticas, como, por exemplo, a manipulação genética de embriões e a utiliza-ção de métodos contraceptivos como a “pílula do dia seguinte”.

Há de se envidar esforços para a busca constante de meios de efetivação e facilitação da proteção legal ao nascituro, redirecionando a discussão para os problemas pertinen-tes ao embrião, em face das implicações éticas que encerram, já que o art. 2° do CC/02 não trata da proteção jurídica deste.

Importante destacar a existência de respeitáveis opiniões contrárias à distinção en-tre nascituro e embrião aqui proposta. Para Silmara Juny Chinelato, deve-se adotar um “conceito amplo de nascituro”, abarcando o embrião pré-implantatório, ou seja, aquele que se encontra fora do ventre materno. Para a referida autora, nestes casos, “concepção já existe, não havendo distinção na lei quanto ao locus da concepção” CHINELATO, Silmara J. Estatuto Jurídico do Nascituro: O Direito Brasileiro, in Questões controvertidas. Parte Geral do Código Civil. São Paulo. Método, 2008, p. 52).

Tal polêmica ganha intensidade apenas entre os autores que não fazem distinção dos conceitos de sujeito de direito e pessoa, tampouco entre embrião e nascituro, equipa-rando-os. Uma vez percebida a distinção, torna-se mais fácil observar que independente-mente de o sistema jurídico ter ou não ter conferido personalidade jurídica ao nascituro, sua condição de sujeito apto a figurar numa relação jurídica garante a titularidade dos direitos mencionados no parágrafo anterior.

Ainda se deve ressaltar que os arts. 1.799, inciso I e 1800, § 4°, do CC/02 tratam da possibilidade de nascimento de uma pessoa natural que não está concebida no momen-to da criação de um ato jurídico que se produz para o caso de seu nascimento. Está-se diante do testamento em favor de prole eventual, ou seja, hipótese de deixar benefício para alguém que nem sequer foi concebido, comumente denominado concepturo (non-dum conceptus), o que só produzirá efeito se for concebido em até dois anos contados da morte do testador.

2. ENUNCIADOS DAS JORNADAS

ÊÊ Enunciado 1º – Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.

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ÊÊ Enunciado 2º – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.

3. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIAS

STJ/360 – Acidente de trabalho. Pensão mensal. Nascituro. Dano moral.

Prosseguindo o julgamento, a Turma decidiu ser incabível a redução da indenização por danos morais fixada em relação a nascituro filho de vítima de acidente fatal de trabalho, consideran-do, sobretudo, a impossibilidade de mensurar-se o sofrimento daquele que, muito mais que os outros irmãos vivos, foi privado do carinho, assim como de qualquer lembrança ou contato, ainda que remoto, de quem lhe proporcionou a vida. A dor, mesmo de nascituro, não pode ser mensurada, conforme os argumentos da ré, para diminuir o valor a pagar em relação aos irmãos vivos. REsp 931.556-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/6/2008. 3ª T.

STF/508 – ADI e Lei da Biossegurança

Prevaleceu o voto do Min. Carlos Britto, relator. Nos termos do seu voto, salientou, inicialmente, que o artigo impugnado seria um bem concatenado bloco normativo que, sob condições de incidência explícitas, cumulativas e razoáveis, contribuiria para o desenvolvimento de linhas de pesquisa científica das supostas propriedades terapêuticas de células extraídas de embrião humano in vitro. Esclareceu que as células-tronco embrionárias, pluripotentes, ou seja, capazes de originar todos os tecidos de um indivíduo adulto, constituiriam, por isso, tipologia celular que ofereceria melhores possibilidades de recuperação da saúde de pessoas físicas ou natu-rais em situações de anomalias ou graves incômodos genéticos. Asseverou que as pessoas físi-cas ou naturais seriam apenas as que sobrevivem ao parto, dotadas do atributo a que o art. 2º do Código Civil denomina personalidade civil, assentando que a Constituição Federal, quando se refere à “dignidade da pessoa humana” (art. 1º, III), aos “direitos da pessoa humana” (art. 34, VII, b), ao “livre exercício dos direitos... individuais” (art. 85, III) e aos “direitos e garantias individuais” (art. 60, § 4º, IV), estaria falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa. Assim, numa primeira síntese, a Carta Magna não faria de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva, e que a inviolabilidade de que trata seu art. 5º diria respeito exclusivamente a um indivíduo já personalizado. ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 28 e 29.5.2008. Pleno.

STF 661 ADPF e interrupção de gravidez de feto anencéfalo

Prevaleceu o voto do Min. Marco Aurélio, relator. De início, reputou imprescindível delimitar o objeto sob exame. Realçou que o pleito da requerente seria o reconhecimento do direito da gestante de submeter-se a antecipação terapêutica de parto na hipótese de gravidez de feto anencéfalo, previamente diagnosticada por profissional habilitado, sem estar compelida a apresentar autorização judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado. Desta-cou a alusão realizada pela própria arguente ao fato de não se postular a proclamação de inconstitucionalidade abstrata dos tipos penais em comento, o que os retiraria do sistema jurídico. Assim, o pleito colimaria tão somente que os referidos enunciados fossem interpre-tados conforme a Constituição. Dessa maneira, exprimiu que se mostraria despropositado veicular que o Supremo examinaria a descriminalização do aborto, especialmente porque existiria distinção entre aborto e antecipação terapêutica de parto. Nesse contexto, afastou as expressões “aborto eugênico”, “eugenésico” ou “antecipação eugênica da gestação”, em razão do indiscutível viés ideológico e político impregnado na palavra eugenia. Na espécie, aduziu inescapável o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respei-tada sua dignidade e, de outro, os de parte da sociedade que desejasse proteger todos os que a integrariam, independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. Sublinhou que o tema envolveria a dignidade humana, o usufruto da vida, a liberdade, a

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autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais, especificamen-te, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. No ponto, relembrou que não haveria colisão real entre direitos fundamentais, apenas conflito aparente. Versou que o Supremo fora instado a se manifestar sobre o tema no HC 84025/RJ (DJU de 25.6.2004), entretanto, a Corte decidira pela prejudicialidade do writ em virtude de o parto e o falecimento do anencéfalo terem ocorrido antes do julgamento. Ressurtiu que a tipificação penal da interrupção da gravi-dez de feto anencéfalo não se coadunaria com a Constituição, notadamente com os preceitos que garantiriam o Estado laico, a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e a proteção da autonomia, da liberdade, da privacidade e da saúde. ADPF 54/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11 e 12.4.2012.(ADPF-54)

4. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTAR

Desnecessária a intervenção de representante do Ministério Público como curador de nasci-turo, no ato de celebração de pacto antenupcial em que os nubentes estabelecem o regime de bens de seu futuro casamento. (STJ, REsp nº 178254, Min. Rel. Aldir Passarinho Júnior, DJ 06/03/2006).

5. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (AUX/JUR/MGS/2007/ESPP – ADAPTADA) Em relação à personalidade e à capacidade jurídicas das

pessoas naturais, analise os seguintes itens:

I. A personalidade jurídica é adquirida a partir do nascimento com vida, mas os direitos do nas-cituro são resguardados desde a sua concepção.

02. (MP/AM/Promotor/2007 – ADAPTADA) A respeito das pessoas naturais e jurídicas, assinale a opção correta.

– Aquisição da personalidade jurídica da pessoa natural opera-se desde a sua concepção. Por isso, embora ainda não nascida, a pessoa tem capacidade jurídica e pode ser titular de direitos e obrigações.

03. (ANALISTA/TRT/17ª REGIÃO/2009/CESPE) Os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos de idade são destituídos da personalidade jurídica, razão pela qual são absolutamente incapa-zes de exercer pessoalmente os atos da vida civil.

04. (TRE/MA/2009/CESPE – ADAPTADA) Considerando o que dispõe o Código Civil a respeito das pes-soas naturais, das pessoas jurídicas e do domicílio, assinale:

– A personalidade civil liga-se ao homem desde seu nascimento com vida, independentemente do preenchimento de qualquer requisito psíquico.

05. (TJ/SP/2009/VUNESP – ADAPTADA) Assinale a alternativa correta.

– Quando o artigo 2º do Código Civil afirma que a lei põe a salvo os direitos do nascituro, o legis-lador reconhece que a personalidade civil da pessoa começa da concepção.

06. (MPE/PR – Promotor Substituto/2011). Assinale a alternativa correta:

(A) a capacidade de direito não é atribuída àqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil.

(B) a incapacidade de exercício não afeta a capacidade de direito, que é atributo de todo aquele dotado de personalidade jurídica.

(C) a antecipação da maioridade derivada do casamento gera a atribuição de plena capacidade de direito àquele menor de 18 anos que contrai núpcias, embora nada afete a sua capacidade de fato.

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(D) o reconhecimento da personalidade jurídica da pessoa natural a partir do nascimento com vida significa afirmar que, antes do nascimento, a pessoa é dotada de capacidade de fato, mas não tem capacidade de direito.

(E) a interdição derivada de incapacidade absoluta enseja a suspensão da personalidade jurídica da pessoa natural, uma vez que a capacidade é a medida da personalidade.

GAB 1 C 2 E 3 E 4 C 5 E 6 B

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I – os menores de dezesseis anos;

II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discerni-mento para a prática desses atos;

III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O sistema jurídico brasileiro tem como regra geral a capacidade das pessoas naturais. A incapacidade é algo excepcional, que depende de prévia previsão legal (rol taxativo). Ressalte-se que em nosso país não existe incapacidade de direito, pois, conforme pres-creve o art. 1° do Código Civil, toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, ainda que apresente alguma deficiência física ou tenha idade avançada. Esta restrição legal ao exercício dos atos da vida civil destina-se a proteger a pessoa do incapaz. Não se trata de limitação à personalidade jurídica. A incapacidade pode ser absoluta ou re-lativa, dependendo do grau de imaturidade, da saúde e do desenvolvimento mental e intelectual da pessoa. As hipóteses de incapacidade absoluta estão neste dispositivo, e os sujeitos aqui relacionados, sob pena de nulidade do ato (art. 166, inciso I, do CC/02) devem ser representados.

Comumente, costuma-se afirmar que “o menor de 16 anos não tem vontade”. Melhor seria sustentar que, embora existente, tal manifestação de vontade não é relevante para o Direito, devendo os pais e, na falta destes, os representantes legais, praticar, mediante representação, todos os atos relativos àquele. Incapacidade não se confunde com falta de legitimação, ou seja, a proibição legal para a prática de determinados atos jurídicos destinada a proteger interesses de terceiros em situações que configurem conflitos de interesses (vide arts. 1.749, I; 1.647, 580 do CC/02). Da mesma forma, não deve ser confun-dida com vulnerabilidade. Embora ambos sejam protegidos por lei, ao vulnerável não é negada a prática direta do ato, como ocorre com o incapaz.

Os menores absolutamente incapazes (art. 3°, I, CC/02) são também denominados menores impúberes, enquanto os menores relativamente incapazes (art. 4°, I, CC/02) são conhecidos como menores púberes. Aqui se dispensa qualquer pronunciamento judicial para sua configuração, sendo, pois, desnecessário o processo de interdição. Os dispositi-vos referidos acima tratam da chamada “incapacidade natural”, justificada pela falta de maturidade intelectual ou psicológica. Ela cessa com a maioridade civil ou emancipação (art. 5°, CC/02).

Nosso sistema jurídico não mais admite o instituto do benefício de restituição (resti-tutio in integrum), que permitia o desfazimento de um negócio válido apenas por ter sido

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prejudicial aos interesses do menor. No entanto, em várias passagens do Código Civil é possível detectar dispositivos a prescrever comandos que protegem os incapazes, ou seja, que conferem tratamento jurídico mais vantajoso às pessoas indicadas nos arts. 3° e 4° do CC/02 (art. 198, I c/c art. 208, art. 181, art. 588, art. 814 e art. 2.015)

O elemento central para a configuração das situações tratadas no inciso II do art. 3° do CC/02 é a desorganização mental, vale dizer, a ausência de discernimento. Carlos Roberto Gonçalves adverte que a redação genérica dos dispositivos em análise abrange todos os casos de insanidade mental, provocada por doença ou enfermidade mental, congênita ou adquirida, permanente e duradoura, desde que em grau suficiente para acarretar a privação do necessário discernimento à prática dos atos da vida civil (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. I. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 87).

A total impossibilidade, ainda que transitória, de expressão de vontade é tratada no CC/02 como hipótese de incapacidade absoluta. Ressalte-se que os requisitos men-cionados são cumulativos: deve-se verificar impossibilidade total e temporária para sua configuração. A doutrina aponta casos de hipnose, coma, embriaguez acidental, contusão cerebral, dentre outros, como situações que acarretariam a incapacidade absoluta.

Com a edição do CC/02, a ausência deixa de ser causa de incapacidade absoluta e passa a ser tratada de modo autônomo pela atual legislação, uma vez que a curadoria incide apenas sobre os bens do ausente e não sobre sua pessoa.

2. ENUNCIADOS DAS JORNADASÊÊ Enunciado 40 – Art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária

ou excepcionalmente como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas sócio-educativas ali previstas.

ÊÊ Enunciado 138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.

ÊÊ Enunciado 155 – Art. 194: O art. 194 do Código Civil de 2002, ao permitir a declaração ex officio da prescrição de direitos patrimoniais em favor do absolutamente incapaz, derrogou o dispos-to no § 5º do art. 219 do CPC.

ÊÊ Enunciado 203 – Art. 974: O exercício da empresa por empresário incapaz, representado ou assistido somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte.

3. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIASSTJ/385 – Pensão. Incapacidade Permanente.

Trata-se de recurso que pretende afastar a condenação por danos morais imposta à re-corrente e, se mantida, a redução da indenização, bem como da idade limite para o rece-bimento da pensão por lucros cessantes para sessenta e cinco anos. Quanto ao valor da indenização, o TJ manteve a condenação da recorrente em cinquenta e dois mil reais. Para o Min. Relator, o quantum estabelecido não se evidenciou elevado, situando-se em patamar aceito pela jurisprudência deste Superior Tribunal. O limite da indenização somente é fixado com base na idade média de vida em caso de falecimento do acidentado. Na hipótese, cuida-se de incapacidade permanente, de modo que deveria ser pago à própria vítima ao longo de sua vida, durasse mais ou menos do que setenta anos. Tanto está errado o Tribu-nal em fixar setenta anos, como a ré em postular sessenta e cinco anos, porque se cuida

Art. 3º TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS .

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de vítima viva. (...). É necessário deixar assim consignada a hipótese de eventual vindicação de herdeiros ou sucessores, ao se considerar a literalidade do acórdão a quo. Diante disso, a Turma conheceu em parte do recurso e lhe deu parcial provimento. Precedentes citados: AgRg no Ag 591.418-SP, DJ 21/5/2007, e REsp 629.001-SC, DJ 11/12/2006. REsp 775.332-MT, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 5/3/2009.

4. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTARNão se admite, como causa de extinção da punibilidade, nos crimes contra os costumes, a união estável de vítima menor de 16 (dezesseis) anos, por ser esta incapaz de consentir valida-mente acerca da convivência marital (Precedentes desta Corte e do c. Pretório Excelso). Ordem denegada. (STJ, HC nº 85604, Min. Rel. Felix Fischer, DJE 15/12/2008).

5. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (PROC/MARICA/MG/2007) São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da

vida civil, EXCETO os:

(A) menores de 16 (dezesseis) anos

(B) que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos

(C) que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade

(D) maiores de 16 (dezesseis) anos e menores de 18 (dezoito) anos

(E) menores de quatorze anos

02. (AUX/JUR/MGS/2007/ESPP – ADAPTADA) Em relação à personalidade e à capacidade jurídicas das pessoas naturais, analise os seguintes itens:

– São absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil os menores de dezesseis anos, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos.

GAB 1 D 2 C

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:

I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV – os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

1. BREVES COMENTÁRIOS

Os sujeitos de direito que estão relacionados neste dispositivo devem ser auxiliados por outra pessoa (assistente), sob pena de anulabilidade do negócio celebrado, ou seja, sua opinião é relevante para o Direito e sem sua vontade (ou contra ela) o ato jurídico não se constitui. A incapacidade relativa pode ser definida como uma fase de transição entre a incapacidade absoluta e a aquisição da capacidade plena, quando atingida a maioridade civil aos 18 (dezoito) anos de idade. Para o legislador pátrio, embora já tenha atingido certo grau de amadurecimento, o maior de 16 (dezesseis) anos e menor de 18 (dezoito) ainda carece de auxílio para a prática dos atos da vida civil, devendo contar

LIVRO I – DAS PESSOAS Art. 3º e 4º

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indistintamente com a assistência do pai ou da mãe (ou tutor em sua falta), a quem com-pete o exercício da autoridade parental.

É possível encontrar no ordenamento jurídico diversas situações em que o relativa-mente incapaz está autorizado a agir independentemente da presença do seu assistente, sem que tal fato implique invalidade do ato praticado. No Código Civil vigente é permitido ao relativamente incapaz ser testemunha (inciso I do art. 228), aceitar mandato (art. 666) e fazer testamento (parágrafo único do art. 1.860). Anote-se também a possibilidade de responsabilização do incapaz por danos na hipótese descrita no art. 928 do CC/02. As ex-ceções à regra da incapacidade relativa são se limitam ao Código Civil, pois na legislação extravagante é possível ao maior de 16 anos e menor de 18 anos ser eleitor (direito de exercício facultativo – art. 14, § 1°, incisos I e II) e celebrar contrato de trabalho (vide art. 7°, inciso XXXIII, CF/88)1.

Anote-se ainda que o ECA determina a obrigatoriedade do consentimento do maior de doze anos de idade nos casos de adoção (art. 45, § 2°), o que reforça o entendimento do Enunciado n° 138 do Conselho da Justiça Federal, que dispõe: “a vontade dos absoluta-mente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3°, é juridicamente relevante na concretiza-ção de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto”. Nada obstante, o art. 180 do CC/02 veda a autodeclaração dolosa de capacidade ao prescrever que “o menor, entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.

O disposto nos incisos II dos art. 3° e 4° retrata situações em que se faz necessário um processo judicial para a interdição do incapaz, para garantia de segurança jurídica das relações privadas, uma vez que a incapacidade mental é considerada um estado permanente e contínuo, pois nosso ordenamento não admite intervalos de lucidez. Uma vez reconhecida a incapacidade, os atos da pessoa desprovida de discernimento (ou com capacidade de discernir reduzida) serão tidos como inválidos. Anote-se que a hipótese do art. 3°, inciso III, ao contrário do disposto no art. 4°, não necessita da interposição de processo de interdição para nomeação de curador.

Retomando a análise do presente artigo, vale ressaltar que o inciso II trata daque-le que é viciado na ingestão de bebidas alcoólicas ou no uso abusivo e imoderado de substâncias entorpecentes. Aqui também não se enquadram os casos de “embriaguez preordenada”, ou seja, a ingestão excessiva de bebida alcoólica com o objetivo de “tomar coragem” para o cometimento de ato lesivo. Em relação às pessoas com discernimento reduzido por deficiência mental deve-se anotar que se a limitação mental que apresen-tam impede um adequado entendimento de questões complexas, são indivíduos que compreendem questões comuns do nosso cotidiano, o que garante um mínimo de con-dições para a sobrevivência e o relacionamento intersubjetivo, pelo que não podem ser equiparados aos absolutamente incapazes.

1.. Antes dos 16 anos o trabalho do menor só pode ocorrer na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, conforme disposto na Emenda Constitucional nº 20/98 e no art. 60 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 4º TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS .

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LIVRO I – DAS PESSOAS Art. 4º

Embora o inciso III do art. 4° seja apontado como desnecessário por grande parte da doutrina (já que as hipóteses que retrata também estão inseridas no inciso anterior – discernimento reduzido), parece que o legislador pretendeu ressaltar casos que não decorrem de uma patologia psíquica ou de estados psicóticos, merecendo destaque os portadores de síndrome de Down, que mediante educação especial conseguem manter controle sobre si mesmos, permitindo o ingresso no mercado de trabalho e sua inserção no meio social.

A incapacidade relativa do pródigo diz respeito apenas a atos que possam compro-meter seu patrimônio, ou seja, atos de disposição ou oneração dos seus bens, conforme prescrito no art. 1.782 do CC/02. Logo, não existe nenhum tipo de limitação à prática de atos pessoais, como exercer poder familiar sobre seus filhos, ser testemunha, votar e até casar, desde que assistido, nesta última hipótese, na celebração do pacto antenupcial. Trata-se de um indivíduo acometido de um desvio de comportamento que dissipa seus bens com risco de se reduzir, por sua própria conduta, a estado de penúria. Merece re-gistro a ampliação do rol dos legitimados para requerer a curatela do pródigo. O art. 1.767 do CC/02 estende tal possibilidade a qualquer parente sucessível e também ao Ministério Público, a quem compete a defesa dos incapazes, uma vez que o objetivo da proteção do pródigo, dentro de uma perspectiva civil-constitucional, é a defesa de sua dignidade e não de seus bens.

O legislador do CC/02 optou por não disciplinar a capacidade dos silvícolas, remeten-do a matéria para a legislação especial, mormente o Estatuto do Índio (Lei n° 6.001/73). Dessa forma, não é mais possível considerar o índio como relativamente incapaz, deven-do a ele ser aplicado o disposto no art. 8° da Lei nº 6.001/73.

Os conceitos descritos nos arts. 3° e 4° do CC/02 dependem de realização de perícia ordenada pelo juiz, pois a existência ou não de discernimento é fato a ser atestado por um especialista (art. 1.771, CC/02). Ocorre que os estados patológicos de deficiência ou desorganização mental podem evoluir para patamares mais ou menos graves, de acordo com o tratamento dispensado ao paciente. Por isso, nada impede que havendo moti-vo superveniente, o magistrado, a pedido, reveja a extensão da interdição do incapaz, transformando declaração de incapacidade relativa em absoluta ou vice-versa (art. 1.772). Ainda sobre o tema, importante verificar o disposto no art. 1.768 do CC/02, que trata do rol dos legitimados para requerer a interdição do incapaz.

Antes de se concluir os comentários sobre este dispositivo, devem-se ressaltar as hipóteses de aparente incapacidade. Não constituem causas autônomas de incapacidade limitações físicas à locomoção; tampouco restrições a alguns dos sentidos (audição, vi-são...). Está-se diante de pessoas plenamente capazes, no sentido de que podem agir no mundo jurídico por si mesmas, mas que, no entanto, não são autorizadas à realização de atos que necessitem da utilização do sentido deficitário.

O CC/02 revogou o disposto no art. 5°, inciso III, do CC/16, que relacionava como ab-solutamente incapaz o surdo-mudo que não pudesse exprimir sua vontade, excluindo a surdo-mudez como causa autônoma de incapacidade. Contudo, isso não significa a im-possibilidade de enquadramento do surdo-mudo nas demais hipóteses de incapacidade previstas nos arts. 3° e 4° do código vigente, desde que atendidos os pressupostos legais.

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2. ENUNCIADOS DE SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIAÊÊ STJ – Súmula: 342 – No procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desis-

tência de outras provas em face da confissão do adolescente.

3. ENUNCIADOS DAS JORNADASÊÊ Enunciado 197 – Arts. 966, 967 e 972: A pessoa natural, maior de 16 e menor de 18 anos, é repu-

tada empresário regular se satisfizer os requisitos dos arts. 966 e 967; todavia, não tem direito a concordata preventiva, por não exercer regularmente a atividade por mais de dois anos.

4. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIASSTJ/273 – Servidor. Dependência crônica. Alcoolismo.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, deu provimento ao recurso por entender que o servidor que sofre de dependência crônica de alcoolismo deve ser licenciado, mesmo compulsoriamen-te, para tratamento de saúde e, se for o caso, aposentado por invalidez, mas, nunca, demitido, por ser titular de direito subjetivo à saúde e vítima do insucesso das políticas públicas sociais do Estado. RMS 18.017-SP, Rel. Min. Paulo Medina, julgado em 9/2/2006. 6ª Turma.

STJ/301 – Adolescente. Personalidade anti-social. Internação. Ofensa. Princípio. Legalidade.

Concedida a ordem na hipótese de réu menor portador de doença ou deficiência mental, visto que a medida sócio-educativa de internação imposta com o fim de ressocializá-lo é inapta à resolução de questões psiquiátricas, cabendo a submissão do menor a tratamento adequa-do. É necessária a liberação do menor, em regime de liberdade assistida, para submeter-se à tratamento com o devido acompanhamento ambulatorial, psiquiátrico, psicopedagógico e familiar. Precedente citado: HC 54.961-SP, DJ 22/5/2006. HC 47.178-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/10/2006. 5ª Turma.

5. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (JUIZ/TRT/24R/2007/I FASE – ADAPTADA) Sobre a personalidade e a capacidade:I. São relativamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os que, mesmo por

causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

02. (ANAC/2009/CESPE) Segundo o Código Civil, são relativamente incapazes os menores de dezes-seis anos e os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

03. (FINEP/ANALISTA/2009/CESPE – ADAPTADA) Acerca de capacidade e emancipação no direito brasi-leiro, assinale a opção correta.

– Os ébrios habituais são absolutamente incapazes e seus atos são considerados nulos, não competindo ao juiz convalidá-los, nem a requerimento dos interessados.

04. (FINEP/ANALISTA/2009/CESPE – ADAPTADA) Acerca de capacidade e emancipação no direito brasi-leiro, assinale a opção correta.

– Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, são considerados pessoas absoluta-mente incapazes.

05. (TRE/RN- Técnico Judiciário – Área Administrativa/2011) João, casado com Dora, possui quatro filhos: Ana, Fábio, Douglas e Mônica. Ana possui dezesseis anos e cinco meses; Fábio possui dezenove anos, mas é pródigo; Douglas possui vinte anos, mas é excepcional, sem desenvolvi-mento mental completo e Mônica possui vinte e cinco anos, mas, em razão de causa transitória, não pode exprimir a sua vontade. Nesta família, são incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer

(A) Ana, Fábio e Douglas.(B) Ana e Douglas.

Art. 4º TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS .

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LIVRO I – DAS PESSOAS Art. 4º e 5º

(C) Ana, Fábio e Mônica.(D) Fábio, Douglas e Mônica.(E) Ana, apenas.

06. (Prefeitura Municipal de Tijucas – Advogado/2011) São incapazes, respectivamente, de forma absoluta e relativa, para atos da vida civil:

(A) Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; quem por enfermidade não tiver o necessário discernimento para a prática dos atos.

(B) Quem por causa transitória não puder exprimir sua vontade; os excepcionais, sem desenvolvi-mento mental completo.

(C) Quem por enfermidade não tiver o necessário discernimento para a prática dos atos; quem por causa transitória não puder exprimir sua vontade.

(D) Os menores de dezesseis anos; quem por enfermidade não tiver o necessário discernimento para a prática dos atos.

(E) Os menores de dezesseis anos; quem por causa transitória não puder exprimir sua vontade.

07. (Procurador Judicial – Pref. Mun. Serra Negra/SP) Nos termos do artigo 4º do CC, assinale a alternativa incorreta. São incapazes, relativamente a certos atos, ou á maneira de exercê-los:

(A) Os pródigos.(B) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para

a prática desses atos.(C) Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.(D) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discer-

nimento reduzido.

GAB 1 E 2 E 3 E 4 E 5 A 6 B 7 B

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II – pelo casamento;

III – pelo exercício de emprego público efetivo;

IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de empre-go, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O dispositivo trata das formas de cessação da incapacidade. A menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, momento a partir do qual a pessoa se torna apta para a prática, por si só, de todas as atividades da vida civil que não exigirem limite especial, como nas de natureza política. No entanto, é possível ao filho maior de idade, por exem-plo, pleitear a manutenção do dever de prestar alimentos, imposto ao seu genitor, se

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demonstrar sua necessidade e a possibilidade daquele de permanecer arcando com tal ônus, enquanto conclui seus estudos.

Pode-se definir a emancipação como a antecipação dos efeitos da maioridade civil conferida às pessoas enquadradas nos casos de incapacidade natural (incapacidade em razão da idade). As causas que a autorizam estão previstas no parágrafo único do art. 5° do CC/02 e podem decorrer de concessão dos pais ou de sentença do juiz, como também de determinados fatos a que a lei atribui tal efeito. A emancipação voluntária decorre de ato unilateral dos pais de menor relativamente incapaz que independe de homologação judicial, embora exija instrumento público para sua concretização. Apesar de não consti-tuir direito subjetivo do menor, só pode ser outorgada em seu interesse. A outorga de tal benefício (ato irrevogável) depende da concordância de ambos os pais, ou de um deles, na falta do outro.

Tem-se a emancipação judicial quando o tutor deseja antecipar os efeitos da maiori-dade do tutelado maior de 16 anos. Trata-se da única espécie de emancipação que não dispensa homologação judicial, para evitar que seja concedida apenas visando livrar o tutor do ônus da tutela, em prejuízo do menor. Durante o procedimento, que é regido pelo disposto no art. 1.103 e seguintes do CPC, deverá ser ouvido o representante do Ministério Público.

Ao contrário das espécies anteriores de emancipação, que só produzem efeito após o registro, a emancipação legal produzirá seus efeitos a partir do ato ou fato que a pro-vocou. O parágrafo único do art. 5° do CC/02 relaciona as hipóteses de emancipação legal, sendo a primeira delas o casamento. Segundo o art. 1.517 do CC/02, a idade núbil é de 16 (dezesseis) anos, exigindo-se ainda autorização dos pais (=assistência) para a celebração do casamento, em face da incapacidade relativa dos nubentes. Todavia, é possível, em casos excepcionais, obtenção de autorização judicial para realização de matrimônio entre pessoas absolutamente incapazes. Concretizado regularmente o casamento civil, indepen-dentemente da idade do menor, configura-se hipótese de emancipação, que não pode ser desfeita, mesmo se verificada a dissolução da sociedade conjugal.

Dentre as outras hipóteses relacionadas no dispositivo em exame, a lei também per-mite emancipação se existir estabelecimento civil ou comercial, ou ainda relação de em-prego, desde que, em função de qualquer deles, o menor tenha economia própria. As hipóteses aqui descritas somente se aplicam ao menor púbere, ou seja, ao relativamente incapaz (maior de 16 e menor de 18 anos). Nessas hipóteses de emancipação não se ne-cessita da autorização dos pais, pois decorrem da verificação da existência de economia própria, ou seja, da possibilidade de o menor garantir, pessoalmente, o seu sustento; em outras palavras, assegurar, por seu trabalho, sua independência financeira. A existência de relação de emprego ensejadora da emancipação deve ser comprovada por documen-to escrito, registrada em carteira de trabalho, e ter caráter duradouro (não eventual), com subordinação e contraprestação. Não basta a execução de tarefas esporádicas para a sua configuração.

Vale anotar que, assim como nas demais formas de emancipação legal acima apre-sentadas, uma vez ocorrida hipótese de antecipação dos efeitos da maioridade pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, tem-se

Art. 5º TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS .

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LIVRO I – DAS PESSOAS Art. 5º

configurada situação irreversível; esta, uma vez alcançada, garante ao menor a capacida-de civil plena, ainda que o fator que a desencadeou deixe de existir.

2. ENUNCIADOS DE SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIAÊÊ STJ – Súmula: 358 – O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está

sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

3. ENUNCIADOS DAS JORNADASÊÊ Enunciado 3º – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18

anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial.

ÊÊ Enunciado 41 – Art. 928: a única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.

ÊÊ Enunciado 397 – Art. 5º: A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade.

4. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIASSTJ/313 – Execução. Alimentos. Ilegitimidade ativa. Meio processual inadequado.

Trata-se de ação de execução de alimentos em que a filha, assistida pela mãe, enquanto me-nor de idade, pleiteia alimentos do pai, ora recorrido. Durante a demanda, a filha tornou-se maior de idade e completou curso universitário, além de atualmente residir com o recorrido. Na espécie, o pai ficou inadimplente por vários anos ao não prestar alimentos constituídos por título judicial advindo de revisional de alimentos, cabendo à mãe o sustento da prole. Logo, a genitora não é parte legítima na execução dos alimentos proposta pela filha contra o pai, uma vez que apenas assistiu a menor em razão de sua incapacidade relativa, suprida pelo advento da maioridade no curso do processo. Do mesmo modo, a execução de alimentos de-vidos unicamente à filha não é o meio processual próprio para que a mãe busque o reembolso das despesas efetuadas. A Turma não conheceu do recurso. REsp 859.970-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/3/2007. 3ª Turma. (Informativo nº 313)

5. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (JUIZ/TJ/TO/2007/I FASE/CESPE – ADAPTADA) Julgue os itens a seguir, relativos à pessoa natural.IV. A emancipação concedida por sentença judicial refere-se aos casos em que o menor se en-

contre sob tutela, ou, ainda, quando o menor pretenda emancipar-se independentemente da vontade dos pais. Têm legitimidade para requerer essa emancipação o menor interessado, o Ministério Público ou o tutor.

02. (JUIZ/TRT/11R/2007/I FASE/FCC) Cessará, para os menores, a incapacidade pela concessão(A) do pai ou da mãe isolada ou conjuntamente, mediante instrumento público, independente-

mente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos.

(B) dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, ou particular, firma-do juntamente com duas testemunhas, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos.

(C) dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos.

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(D) dos pais, ou de um deles, ou do tutor se o menor não estiver sob o poder familiar, dependen-do, em qualquer caso, de homologação judicial, desde que o menor conte mais de dezesseis anos de idade.

(E) dos pais em conjunto e por instrumento público, ou mediante sentença do juiz, se houver dis-cordância entre eles ou se o menor estiver sob tutela, desde que conte mais de catorze anos de idade.

03. (JUIZ/TRT/24R/2007/I FASE – ADAPTADA) Sobre a personalidade e a capacidade:II. Cessará, para os menores, a incapacidade pelo exercício de emprego público efetivo.

04. (JUIZ/TRT/8R/2007/2ª ETAPA) Diz a lei que são hipóteses em que cessa a incapacidade dos meno-res, exceto:

(A) Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial.

(B) Pelo casamento.(C) Pelo exercício de emprego público efetivo.(D) Pela existência de relação de emprego, desde que, em função dela, o menor com dezessete

anos completos detenha economia própria.(E) Pela colação de grau em curso de ensino superior.

05. (ADV/ECT/2007/CONESUL) São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exer-cer, os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos. Porém cessará, para os menores, a incapacidade

(A) pela união estável.(B) pelo exercício de cargo em comissão em órgão público.(C) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, in-

dependente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16(dezesseis) anos completos.

(D) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, mesmo que, em função deles, o menor com 16(dezesseis) anos completos não tenha economia pró-pria, permanecendo na dependência econômica dos pais ou representantes legais.

06. (ANALIS/JUD/TSE/CAD. 1/2007/CESPE – ADAPTADA) A respeito das pessoas físicas e jurídicas, assina-le a opção correta.

– A emancipação voluntária é ato unilateral de concessão realizado pelos pais, em pleno exercí-cio da autoridade parental, mediante instrumento público, independentemente de homologa-ção judicial, desde que o menor já tenha completado 16 anos.

07. (PGM/VITÓRIA/2007) A respeito da pessoa natural e jurídica, julgue os itens que se seguem.

– A emancipação voluntária se dá por concessão conjunta dos pais ou por aquele que detiver a guarda do menor ou, ainda, por sentença judicial. Exige-se, para a concessão realizada pelos pais, além do instrumento público, que estes estejam em pleno exercício da autoridade paren-tal e a anuência do emancipado. Para a emancipação do menor que se encontrar sob tutela, exige-se sentença judicial.

08. (MP/AM/Promotor/2007 – ADAPTADA) A respeito das pessoas naturais e jurídicas, assinale a opção correta.

– A emancipação voluntária pode ser revogada por sentença judicial, desde que os pais compro-vem que o filho, por fato superveniente, tornou-se incapaz de administrar a si e aos seus bens. Nesse caso, o emancipado retorna à anterior situação de incapacidade civil, e os pais podem ser responsabilizados solidariamente pelos danos causados pelo filho que emanciparam.

Art. 5º TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS .

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LIVRO I – DAS PESSOAS Art. 5º e 6º

09. (JUIZ/TRT/8R/2007/1ª ETAPA – ADAPTADA) Marque a alternativa:(A) Dentre as hipóteses legais de cessação da incapacidade para os menores estão o casamento,

o exercício de emprego público efetivo e a colação de grau em curso de ensino superior.

10. (FINEP/ANALISTA/2009/CESPE – ADAPTADA) Acerca de capacidade e emancipação no direito brasi-leiro, assinale a opção correta.

– A emancipação pela concessão dos pais ocorre mediante instrumento público, independente-mente de homologação judicial.

11. (TJ/SP/2009/VUNESP – ADAPTADA) Assinale a alternativa correta.– A incapacidade dos menores cessa com o casamento.

12. (STM – Analista Judiciário/2011) Com a maioridade civil, adquire-se a personalidade jurídica, ou capacidade de direito, que consiste na aptidão para ser sujeito de direito na ordem civil.

13. (STM – Analista Judiciário/2011) O menor que for emancipado aos dezesseis anos de idade em razão de casamento civil e que se separar judicialmente aos dezessete anos retornará ao sta-tus de relativamente incapaz.

14. (CFN – Advogado/2011) Sobre os temas Personalidade e Capacidade no Código Civil, marque a alternativa INCORRETA:

(A) Toda pessoa é capaz de direitos e obrigações na ordem civil.(B) A personalidade civil começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concep-

ção, os direitos do nascituro.(C) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discer-

nimento reduzido são incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer.(D) Os menores de dezesseis anos são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos

da vida civil.(E) Cessará, para os menores, a incapacidade, pela colação de grau em curso de ensino técnico.

GAB 1 E 2 C 3 C 4 D 5 C 6 C 7 E 8 E 9 C 10 C 11 C 12 E 13 E 14 E

Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O dispositivo em análise inicia o disciplinamento do término da personalidade civil. A morte marca o fim da existência da pessoa natural enquanto sujeito de direito. Com o desaparecimento das funções cerebrais do organismo tudo termina (mors omnia solvit), uma vez que todos os bens patrimoniais e extrapatrimoniais do defunto se transmitem aos seus herdeiros. No entanto, por determinação legal protege-se o corpo (ou restos mortais), a memória e a imagem do falecido. Se o início da personalidade depende da respiração, seu término exige verificação da cessação da atividade encefálica, ainda que os demais órgãos estejam funcionando. Encontram-se dispersos ao longo de todo o Có-digo Civil os diversos efeitos provocados pela extinção da personalidade civil: a abertura da sucessão (art. 1.784), a dissolução da sociedade conjugal (art. 1.571, I), a extinção do poder familiar (art. 1.635, I), a cessação do dever de prestar alimentos (art. 1.700) e a extinção de contratos personalíssimos. Encontram-se ainda efeitos na esfera penal, como a extinção da punibilidade (art. 107, inciso I do CP), e no campo do processo civil, como a suspensão dos prazos previstos no art. 180 do CPC.