processo civil iii - resumo do livro

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INTRODUÇÃO Atualmente vivemos o período do processo sincrético, em que o cumprimento da sentença passou a ser mera fase processual e não mais um feito autônomo, já que a citação passou a ser dispensada e a liquidação de sentença tornou-se incidente processual, fase do processo. Se for feita uma digressão histórica veremos que as sociedades vêm evoluindo e de acordo com tal acontecimento também os feitos processuais. Na Roma antiga, o inadimplemento do devedor o tornava escravo do seu credor, que podia vendê-lo como se fosse um objeto. Com o passar do tempo, a exigência do débito deixou de recair sobre a pessoa física do devedor e passou a atingir o patrimônio do devedor e desta forma seria necessário um novo feito judicial para permitir que o bem do devedor fosse atingido, pois o direito de propriedade era um direito absoluto. Diante desta situação o credor acabava sendo colocado em posição de desvantagem, pois passava por um longo período de espera para ver declarado o seu direito com a condenação do devedor e ainda teria de esperar por muito tempo a possibilidade de receber o real valor devido, pois uma nova ação se iniciava com a execução. Em 1994, na primeira reforma do CPC, a possibilidade de cumprimento imediato da decisão judicial, quanto às obrigações de fazer e não fazer foi permitida, tornando a decisão executiva lato sensu, ou seja, exigível nos próprios autos- art. 461 do CPC, sendo possível ao magistrado utilizar-se de vários meios coercitivos para garantir a efetividade da decisão. Já em 2002, com a nova onda da reforma, também foi possível a exigência imediata para as obrigações de entrega de coisa certa e incerta - art. 461 A do CPC, nos mesmos moldes do art. 461 do CPC. Contudo, as regras facilitadoras da exigência do cumprimento da decisão não chegaram a atingir o principal meio de execução, qual seja a obrigação de pagar quantia certa. Logo, o credor de dinheiro continuou a ter de esperar pelo término de um novo processo e de seus recursos para ver concretizada a possibilidade de recebimento do valor ao qual faz jus. Ocorre que outro fato surgiu, ou seja, em 2004 entrou em vigor a Emenda Constitucional 45 que inseriu o inciso LXXVIII ao artigo 5°, que tornou direito fundamental a duração razoável do processo. Em sede de execução por quantia certa, como atingir a meta constitucional se era necessário esperar término de um novo processo? Diante desta nova realidade foi preciso adequar a execução por

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Page 1: Processo Civil III -  Resumo do livro

INTRODUÇÃO

Atualmente vivemos o período do processo sincrético, em que o cumprimento da sentença passou a ser mera fase processual e não mais um feito autônomo, já que a citação passou a ser dispensada e a liquidação de sentença tornou-se incidente processual, fase do processo.

Se for feita uma digressão histórica veremos que as sociedades vêm evoluindo e de acordo com tal acontecimento também os feitos processuais. Na Roma antiga, o inadimplemento do devedor o tornava escravo do seu credor, que podia vendê-lo como se fosse um objeto.

Com o passar do tempo, a exigência do débito deixou de recair sobre a pessoa física do devedor e passou a atingir o patrimônio do devedor e desta forma seria necessário um novo feito judicial para permitir que o bem do devedor fosse atingido, pois o direito de propriedade era um direito absoluto.

Diante desta situação o credor acabava sendo colocado em posição de desvantagem, pois passava por um longo período de espera para ver declarado o seu direito com a condenação do devedor e ainda teria de esperar por muito tempo a possibilidade de receber o real valor devido, pois uma nova ação se iniciava com a execução.

Em 1994, na primeira reforma do CPC, a possibilidade de cumprimento imediato da decisão judicial, quanto às obrigações de fazer e não fazer foi permitida, tornando a decisão executiva lato sensu, ou seja, exigível nos próprios autos- art. 461 do CPC, sendo possível ao magistrado utilizar-se de vários meios coercitivos para garantir a efetividade da decisão.

Já em 2002, com a nova onda da reforma, também foi possível a exigência imediata para as obrigações de entrega de coisa certa e incerta - art. 461 A do CPC, nos mesmos moldes do art. 461 do CPC.

Contudo, as regras facilitadoras da exigência do cumprimento da decisão não chegaram a atingir o principal meio de execução, qual seja a obrigação de pagar quantia certa. Logo, o credor de dinheiro continuou a ter de esperar pelo término de um novo processo e de seus recursos para ver concretizada a possibilidade de recebimento do valor ao qual faz jus.

Ocorre que outro fato surgiu, ou seja, em 2004 entrou em vigor a Emenda Constitucional 45 que inseriu o inciso LXXVIII ao artigo 5°, que tornou direito fundamental a duração razoável do processo.

Em sede de execução por quantia certa, como atingir a meta constitucional se era necessário esperar término de um novo processo?

Diante desta nova realidade foi preciso adequar a execução por quantia certa ao princípio da duração razoável do processo e ainda torna homogênea a forma de execução por título judicial, haja vista os modelos de cumprimento de sentença das obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa.

Assim, acertadamente, o legislador, em 2005, trouxe a alteração para as obrigações de pagar quantia certa, tornando exigível o cumprimento da sentença nos próprios autos como uma fase processual e não como feito autônomo, o que garantiu maior celeridade e efetividade para o cumprimento das decisões judiciais.

Importante frisar que o cumprimento das obrigações de pagar trouxe uma nova realidade jurídica, mas não foi uma novidade processual, haja vista as possibilidades de exigência das outras modalidades de obrigação.

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Desta forma o presente trabalho tem por finalidade auxiliar os estudantes e profissionais do direito a compreender os institutos processuais acerca da execução, bem como suas novas interpretações.

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Unidade I - TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO

Capítulo I - Noções Básicas

O CPC traz as normas inerentes à execução forçada, já que o devedor se tornou inadimplente, ou seja, deixou de satisfazer um direito.

Como ocorre o inadimplemento, surge uma sanção executiva, para que, através da presença do Estado-Juiz, seja o direito do credor satisfeito.

1- Conceito de Execução:

“É o conjunto de medidas com as quais o juiz produz a satisfação do direito de uma pessoa à custa do patrimônio de outra, quer com o concurso da vontade desta, quer independentemente ou mesmo contra ela.” (Cândido Range Dinamarco).

OBS: Atualmente a execução divide-se em:

Procedimento por Título Extrajudicial

Procedimento por Título Judicial: Cumprimento de sentença e Execução (Quantia certa contra devedor solvente).

2 - Modos de Executar ou Técnicas Executivas

2.1 - Execução Tradicional:

Realizada através da constrição de bens (penhora, busca e apreensão), mediante decisão judicial em abstração à vontade do obrigado.

2.2 - Execução Específica ou Imediata:

Realizada através de coerção, busca e apreensão, remoção de pessoas ou coisas, multas periódicas. Para a entrega de coisa certa diferente de dinheiro, obrigação de fazer e não fazer.

Específica: Entrega de coisa certa diferente de dinheiro.

Imediata: Execução é a continuação do processo de conhecimento para obrigação de fazer e não fazer.

3 - Execução, Execução Civil e Execução Forçada

3.1 - Execução:

Ato pelo qual o obrigado, por vontade própria ou por decisão judicial, cumpre um dever ou obrigação.

3.2 - Execução Civil:

Medidas propulsoras da efetividade da execução, porque se destina a fazer com que um preceito contido na lei, contrato ou sentença, produza efeitos.

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3.2 - Execução Forçada:

Ocorre quando o Estado-Juiz atua sobre os bens e sobre o espírito do obrigado (sobre sua vontade).

4 - Natureza Jurisdicional da Execução Forçada

Jurisdição:

Função estatal de, substituindo a atividade das partes, atuar a vontade concreta da lei.

Assim, não se pode negar que a execução tenha natureza jurisdicional, pois temos o Estado substituindo a vontade das partes (executado/obrigado) para satisfazer o direito do exeqüente.

5 - Tutela Jurisdicional Executiva

A tutela jurisdicional executiva consiste na satisfação do credor e de seu direito. Visa solucionar crise de inadimplemento, que nada mais é do que a pretensão de alguém a receber um bem e a resistência do outro, que negada ou não a obrigação, não entrega o bem.

Sem o inadimplemento não haveria insatisfação e, desta forma, não existiria a necessidade (interesse de agir) do processo de execução.

6 - Limites à Tutela Jurisdicional Executiva

Como a tutela executiva tem a única finalidade da satisfação do credor, alguns limites foram criados para reduzir a potencialidade satisfativa da execução forçada.

a) Limites Políticos:

Surgem, do binômio Equilíbrio X Valor, pois o crédito deve ser satisfeito sem sacrificar de modo demasiado o devedor. Existem limitações políticas e naturais.

As limitações políticas referem-se:

a pessoa do devedor :

Significa que, ao contrário da Roma antiga, o devedor não pode responder com o seu próprio corpo pela dívida ( na Roma antiga, o devedor perdia parte de seus membros e depois passava a ser tratado como escravo ).

Exceção:

A Constituição Federal prevê, em seu Artigo 5º, inciso LXVII, que é possível a prisão civil do depositário infiel e do devedor de alimentos.

Com relação ao devedor de alimentos, não há discussão quanto à

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possibilidade e a constitucionalidade de sua prisão. Já em relação ao depositário infiel, persiste discussão com posicionamentos distintos no STJ e no STF.

Para o STJ:

Em razão do Pacto de São José da Costa Rica, não cabe a prisão civil do depositário infiel, visto ser contrária às normas de tratado internacional, do qual o Brasil é signatário.

Para o STF:

Cabe a prisão civil do depositário infiel, pois os Tratados Internacionais ingressam no ordenamento jurídico com força de lei ordinária. Assim, lei ordinária deve obedecer aos preceitos constitucionais; logo, permanece a possibilidade da prisão civil do depositário infiel.

Com a Emenda Constitucional nº 45/04, foi acrescido ao Artigo 5º da Constituição Federal o parágrafo 3º, que afirma que os Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos dos quis o Brasil é signatário e que forem aprovados com o quorum especial, exigido para a Emenda Constitucional, ingressam no ordenamento jurídico como Emenda Constitucional.

Ocorre que o Pacto São José da Costa Rica ingressou no ordenamento jurídico nacional por volta dos anos 91/92 e o STF entende que a Emenda Constitucional 45/04, alternando a visão constitucional sobre o tema.

ao patrimônio do devedor :

Significa que, em nome do Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, nenhum devedor ou sua família pode ser levado à condição de miserabilidade para satisfazer o direito de crédito do exeqüente.

Desta forma, o legislador previu que alguns dos bens do devedor ficam à salvo da responsabilidade patrimonial, chamados, assim, de bens impenhoráveis, previstos, por exemplo, nos Artigos 649 e 650 do CPC, além do bem de família previsto na Lei nº 8009/90.

aos meios processuais empregados :

Significa que, dependendo de quem seja o devedor, o legislador fez previsão de normas especiais para a execução. A exemplo, a Fazenda Pública.

b) Limites Naturais:

São limites que decorrem das leis físicas, referentes aos bens ou à vontade das pessoas. A exemplo, o perecimento da coisa.

7 - Princípios Aplicáveis à Execução Civil

a) Princípio do Devido Processo Legal: é o princípio base de todo e qualquer procedimento judicial ou administrativo, em que temos que garantir a correta aplicação das normas processuais a fim de preservar dois princípios corolários deste, quais seja, ampla defesa e contraditório – artigo 5°, LIV da Constituição Federal.

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b) Princípio do Contraditório: se dá pela garantia de permitir que as partes se manifestem sobre todos os atos processuais praticados e que essa manifestação seja suficiente a influenciar a decisão a ser proferida pelo juiz no caso concreto – artigo 5°, LV da CF.

c) Princípio da Ampla Defesa: é o princípio que permite que as partes se utilizem de todas as provas no sentido de demonstrar suas alegações e ainda se valer dos meios recursais – artigo 5°, LV da CF.

d) Princípio da Efetividade: é o princípio que busca dar as decisões judiciais os efeitos que são dela esperadas, sendo este um princípio implícito constitucional.

e) Princípio da Razoável Duração do processo: foi inserido no artigo 5°, LVXXVIII da CF, pois o tempo de julgamento passou a ser uma preocupação do mundo moderno. É o princípio que determina que o feito deve tramitar sem interferências danosas para que a prestação jurisdicional seja dada o mais rápido possível e desta forma também proteger a efetividade.

f) Princípio da Adequação e das Formas: Tal princípio significa dizer que, para a execução ser eficaz, para que satisfaça o credor, deve levar em conta determinadas formas.

Situação Patrimonial do Devedor :

Os meios executivos atingem os bens do devedor e não a sua pessoa. Deve-se saber se o devedor é SOLVENTE ou INSOLVENTE, pois variará o procedimento a ser utilizado: se o da Execução Civil ou da Insolvência Civil.

Natureza da Obrigação :

A obrigação pode ser de dar coisa certa ou incerta; de fazer ou não fazer ou de dar quantia certa.

A partir da natureza da obrigação, é definido o tipo de procedimento adequado previsto na legislação.

g) Princípio da Efetividade da Execução Forçada: baseia-se em dar, sempre que possível, todo o direito a seu titular.

Na maioria das vezes, esse princípio só é garantido através de tutela jurisdicional.

Na execução de quantia certa, a efetividade ocorre quando assegurado ao devedor a soma de dinheiro a que faz jus.

Na execução para entrega de coisa certa ou incerta, a efetividade ocorre quando a coisa lhe é entregue. Mediante a possibilidade de cumprimento da obrigação, converte-se em perdas e danos.

Na execução das obrigações de fazer e não fazer, a efetividade ocorre quando o devedor proporciona ao credor o resultado esperado com o cumprimento

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da obrigação, com a abstenção de um comportamento ou com o desfazimento daquilo que foi feito. Mediante a impossibilidade de cumprimento, pode terceiro cumprir a obrigação ou pode haver a conversão em perdas e danos.

h) Princípio da Execução Real: Significa dizer que a execução só atinge o patrimônio do devedor e nunca a sua pessoa (Artigo 591 do CPC).

A exceção encontra-se no devedor de alimentos (Artigo 5º, inciso LXVII da CF/88).

Embora a Constituição faça previsão da possibilidade da prisão do depositário infiel, o STF já firmou entendimento de que tal regra não pode mais ser aplicada em nosso ordenamento jurídico, uma vez que o Brasil é signatário, sem ressalvas, do Pacto São José da Costa Rica.

EMENTA: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. DEPOSITÁRIO INFIEL OU DESCUMPRIMENTO DE CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. ALTERAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF (INFORMATIVO/STF 531). CONCESSÃO DA ORDEM. I - O Plenário desta Corte, na sessão de julgamento de 3 de dezembro do corrente ano, ao julgar os REs 349.703 e 466.343, firmou orientação no sentido de que a prisão civil por dívida no Brasil está restrita à hipótese de inadimplemento voluntário e inescusável de pensão alimentícia. II - Ordem concedida. (STF, Rel. Min.Ricardo Lewandowski. HC 92817/SC)

i) Princípio da Satisfação do Direito do Credor: Significa o direito do credor de ver-se satisfeito, contudo apenas atinge o patrimônio do devedor, de forma suficiente para o cumprimento da obrigação, incluindo o principal e seus acessórios. O restante do patrimônio do devedor não deve ser atingido (Artigo 659 do CPC).

j) Princípio da Utilidade da Execução: A execução deve ser útil ao credor, ou seja, não pode lhe trazer vantagem desmedida e não pode funcionar como meio de vingança particular (Artigo 659, & 2º do CPC e Artigo 692 do CPC).

k) Princípio da Menor Onerosidade: Traz a idéia de equilíbrio entre os interesses do exeqüente e do executado.

O direito, a fim de garantir o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, entende que a execução não pode ser utilizada para causar a ruína, fome, miséria do devedor e de sua família.

Assim, quando a execução puder ser efetuada de mais de uma forma, deverá ser utilizada aquela que menor prejuízo trouxer ao devedor. (Artigo 620 do CPC).

l) Princípio do Ônus da Execução: A execução ocorre porque o devedor está em mora ou se tornou inadimplente, fica a cargo deste ressarcir o credor das despesas gastas com o processo de execução, inclusive honorários advocatícios, além de garantir o cumprimento da obrigação (Artigo 651 e 659 do CPC).

m) Princípio da Disponibilidade da Execução: Significa dizer que o credor não

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está obrigado a executar o título e tampouco está obrigado a levar a execução forçada até as últimas conseqüências.

No Processo de Execução, a aquiescência do devedor só é necessária se já houver oferecido defesa, ficando a cargo do credor a responsabilidade de arcar com as despesas processuais e honorários advocatícios (Artigo 569 do CPC).

Se oferecidos os embargos de devedor e estes versarem apenas sobre matéria processual, serão extintos. Se versarem sobre questão de mérito, a extinção dependerá da anuência do embargante-devedor.

Só se aplica ao título extrajudicial.

n) Princípio do Título: A ação executória sempre depende da existência de um título executivo, seja judicial ou extrajudicial.

O Professor Arakem de Assis (Manual do Processo de Execução), afirma que o título executivo “é o bilhete de ingresso” para a execução.

8 - REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA QUALQUER EXECUÇÃO

a) Condições da Ação:

São as condições necessárias ao regular exercício do direito de ação.

A doutrina afirma que existem três espécies de condições: Possibilidade Jurídica, Interesse de Agir e Legitimidade.

OBS: Há quem afirme que, atualmente, apenas duas condições são necessárias ao regular exercício do direito de ação, quais sejam , legitimidade e interesse de agir. A falta de possibilidade jurídica estaria incluída na ausência de interesse de agir.

Possibilidade Jurídica :

É determinada por critério de exclusão, ou seja, tudo que não é vedado na legislação é passível de requerimento.

É a condição executiva em que temos a abstrata possibilidade de obter, em via judicial, o acesso ao bem desejado.

É impossível a demanda quando:

1. O resultado que o demandante postula, em tese, for impossível de ser alcançado.

Ex: Prisão do devedor fora das exceções que a permitem.

2. O meio executivo for inadmissível.

Ex: Penhora de bem público.

OBS: A impossibilidade executiva está diretamente ligada às limitações políticas e naturais.

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Interesse de Agir :

É a condição da ação que está ligada diretamente à necessidade e adequação.

A necessidade é a utilidade do provimento jurisdicional pretendido pelo demandante através de via própria. Está ligada ao inadimplemento.

A adequação do provimento pleiteado, que na execução se verifica mediante a existência do título e a sua espécie.

Legitimidade Ad Causam :

É a condição que determina se a parte possui ou não qualidade necessária para ocupar o pólo ativo ou passivo da relação processual executiva.

Nomenclaturas:

Autor Credor Exeqüente

Réu Devedor Executado

Espécies de Legitimidade:

a) Ativa / Passiva:

A ativa refere-se a quem possui as características necessárias para ocupar o pólo ativo da relação processual.

A passiva, a quem ocupa o pólo passivo da relação processual.

b) Ordinária / Extraordinária:

A ordinária se faz presente sempre que alguém em nome próprio defende interesse próprio.

A extraordinária, quando alguém defende em nome próprio interesse alheio.

Os casos de legitimidade extraordinária dependem de expressa autorização legislativa (Artigo 6º do CPC). É também conhecida como legitimidade anômala ou indireta.

c) Primária / Superveniente :

Será primária quando o credor / devedor vier descrito no corpo do título executivo; decorre diretamente da obrigação reconhecida ou constituída (Alcides Mendonça Lima).

Será superveniente quando o legitimado for estranho à formação do título, estranho à formação da relação jurídica de direito material (é o caso do sucessor do crédito) e defender direito próprio por força de transmissão de direito.

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Hipóteses de Legitimidade Ativa na Execução:

a) Artigo 566, inciso I do CPC : Credor

Possui legitimidade ativa ordinária primária por excelência, pois é o titular da posição jurídica de vantagem narrada na demanda.

É previsto no título executivo e defende interesse próprio em nome próprio.

Embora seja legitimado, o credor deve ter capacidade para estar em juízo e a falta de capacidade é sanada pela assistência ou pela representação.

b) Artigo 566, inciso II do CPC: Ministério Público

Possui legitimidade ativa extraordinária, ou seja, defende interesse alheio em nome próprio.

OBS: A legitimidade do MP é traduzida da seguinte forma (Professor Marcus Destefenni): Sempre que o MP for legitimado extraordinário para a ação de conhecimento, será legitimado para a fase executiva da decisão judicial (Artigo 81 do CPC);

Em algumas hipóteses, a lei confere ao MP a legitimidade para promover a execução, de forma exclusiva, ou seja, não há legitimidade para a ação de conhecimento.

Ex: Ação Popular; Artigo 16 da Lei nº 4717/65.

ATENÇÃO - Diferença entre Substituição Processual e Legitimidade Extraordinária:

“A substituição processual é espécie do gênero legitimação extraordinária e existe quando ocorre uma efetiva substituição do legitimado ordinário pelo extraordinário, nos casos de legitimação extraordinária autônoma e exclusiva ou nas hipóteses legitimação autônoma concorrente, em que o legitimado extraordinário age em razão da omissão do legitimado ordinário, que não participou do processo como litisconsorte. Não se admite a substituição processual e litisconsórcio do legitimado extraordinário.” (Fred Didier Jr. ).

OBS: O Artigo 68 do CPP não foi recepcionado pela CF /88. Logo, o Ministério Público não tem legitimidade para propor a demanda indenizatória aos hipossuficientes. A representação cabe a Defensoria Pública ou aos Advogados (Artigo 129, inciso X e Artigo 133 da Constituição Federal).

c) Artigo 567, inciso I do CPC: Espólio, Herdeiros e Sucessores

É hipótese de legitimação ativa ordinária superveniente, pois as figuras previstas no texto legal são estranhas à formação do título executivo e podem ocorrer antes ou depois de iniciada a execução.

O credor deverá comprovar esta qualidade, mediante documento hábil.

É hipótese de sucessão causa mortis.

Espólio :

É a universalidade jurídica composta pelo patrimônio do “de cujus”,

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enquanto não ocorrida a partilha entre sucessores.

Não é pessoa, mas a lei lhe confere capacidade para ser parte.

O espólio é representado, ativa e passivamente, em juízo por seu inventariante. (Artigo 12, inciso V do CPC) ou, excepcionalmente, pela totalidade de seus herdeiros (Artigo 12, & 1º do CPC).

OBS: Por que a qualidade de legitimado é conferida ao espólio?

R: Porque o direito de ação também compõe a herança (Artigo 90 e 91 do Código Civil). Contudo, a legitimidade do espólio só se configura até a homologação da partilha, visto que, até esse momento, o monte hereditário (patrimônio do credor) é indivisível.

Herdeiro :

É aquele que recebe a massa patrimonial do autor da herança (sucessor universal).

Sucessor :

É aquele beneficiado no testamento, que recebe bem individualizado (sucessor singular).

Com a morte, os herdeiros adquirem a propriedade dos bens, inclusive do título executivo; já os sucessores, só adquirem o direito de exigir a coisa legada.

Após a partilha o herdeiro tem legitimidade, dentro do limite de seu quinhão, de promover a execução ou nela prosseguir. O sucessor apenas passa a ter a legitimidade após a entrega da coisa legada.

OBS: O Formal de Partilha constitui documento hábil para que o sucessor singular exija a entrega da coisa legada.

d) Artigo 567, inciso II do CPC: Cessionário

Cessionário:

É aquele que adquire direitos e obrigações através do negócio jurídico. É o beneficiário do ato inter vivos (cessão de crédito), seja oneroso, seja gratuito.

Possui legitimidade ordinária superveniente para iniciar a execução ou nela prosseguir, devendo comprovar sua qualidade de cessionário, exibindo o instrumento de cessão.

OBS: Créditos que não podem ser cedidos:

Créditos Previdenciários, por vedação legal;

Crédito Alimentar, por possuir natureza personalíssima;

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Por convenção entre as partes.

O devedor deve ter ciência de quem é o seu novo credor, para que pague a pessoa correta.

e) Artigo 567, inciso III do CPC: Sub-Rogado

Possui legitimidade ativa ordinária superveniente, devendo demonstrar a qualidade de credor, comprovando a existência de sub-rogação.

Sub-Rogação: Significa colocar-se no lugar de outro. O credor sub-rogado é aquele que paga a dívida de terceiro assumindo todos os direitos, ações, privilégios, garantias do credor antigo contra o devedor principal e seus fiadores. A legitimidade do credor sub-rogado existe tanto para as hipóteses de sub-rogação legal (Artigo 346 do C.C.) quanto para a sub-rogação convencional (Artigo 347 do C.C.)

Hipóteses de Legitimidade Passiva na Execução:

a) Artigo 568, inciso I do CPC: Devedor

Possui legitimidade passiva ordinária primária, por excelência.

É aquela pessoa descrita no título executivo, que assume o cumprimento de determinada prestação.

É o titular da posição jurídica de desvantagem narrada na demanda. Por força de lei, deve solver a obrigação (Marcus Destefenni).

b) Artigo 568, inciso II do CPC: Espólio, Herdeiros e Sucessores

Possuem legitimidade passiva ordinária superveniente (aplica-se a regra da legitimidade ativa).

OBS: Pode haver substituição da demanda executiva por habilitação nos autos do inventário, desde que haja concordância do inventariante ou herdeiros. Sem a anuência, instaura-se a execução, e a penhora é feita no rosto dos autos do inventário.

c) Artigo 568, inciso III do CPC: Novo Devedor

Possui legitimidade passiva ordinária superveniente, havendo necessidade de demonstrar sua nova qualidade de devedor.

A cessão de crédito é comum no ordenamento jurídico e no cotidiano das relações jurídicas, mas a cessão de dívidas não é tão comum, porque alguém está assumindo o lugar de devedor no lugar de outro (Assunção de dívidas).

Como não é comum, a lei faz previsão do consentimento do credor, para que terceiro assuma a condição de devedor, no lugar do devedor originário. Dessa

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forma, pretende-se evitar que a execução seja frustrada (Araken de Assis).

d) Artigo 568, inciso IV do CPC: Fiador Judicial

“É aquele que presta, no curso do processo, garantia pessoal ao cumprimento da obrigação de uma das partes (...). O fiador judicial responde pela execução sem ser o obrigado pela dívida e a execução contra ele não depende de figurar o seu nome na sentença condenatória.” (Humberto Theodoro Júnior).

OBS: Qual a natureza da legitimação do Fiador Judicial? Há divergência doutrinária, a saber:

1ª Corrente:

Para Cândido Rangel Dinamarco, é hipótese de legitimidade passiva ordinária, uma vez que, ao prestar fiança, o fiador se torna, como qualquer outro fiador, titular de uma obrigação acessória e subsidiária. Logo, autêntico devedor e não mero responsável.

2ª Corrente:

Para Araken de Assis, Alexandre Câmara e Humberto Theodoro Júnior, é hipótese de legitimação extraordinária, uma vez que deve ser feita a diferença entre dívida e responsabilidade. A dívida é decorrente da relação jurídica de direito material e a responsabilidade, de direito processual. Já que o fiador não assumiu a obrigação de cumprir a prestação e mesmo assim tem seus bens sujeitos à responsabilidade patrimonial, é o caso de legitimidade extraordinária.

OBS: E o Fiador Convencional?

É considerado, pela doutrina, como devedor e possui legitimidade passiva para ocupar o pólo passivo da execução, desde que tenha renunciado ao benefício de ordem e assumido a condição de devedor solidário.

Se não renunciou o benefício de ordem, continua tendo legitimidade para ocupar o pólo passivo da execução, porém pode indicar os bens do devedor originário para a responsabilidade patrimonial.

Para Sérgio Bermudes, contra o fiador convencional não cabe execução sem prévia condenação por sentença.

e) Artigo 568, inciso V: Responsável Tributário

Possui legitimidade passiva extraordinária, uma vez que o devedor principal é o sujeito passivo da relação jurídica tributária.

A lei inclui o responsável tributário como legitimado pela execução, a fim de garantir o interesse público. ( Ver Artigo 121, Parágrafo Único do CTN)

b) Pressupostos Processuais:

“São aqueles elementos, requisitos e fatores de admissibilidade do processo regular, cuja presença enseja a emanação do procedimento válido e eficaz sobre o

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mérito.”

Alexandre Câmara

Modalidades dos Pressupostos:

a) Existência:

Propositura da demanda executiva; juiz regularmente investido de jurisdição (Competência determinada pela Constituição Federal).

b) Validade:

Demanda regular; capacidade da parte; inexistência de fatores externos impeditivos; competência ( há discussão doutrinária sobre a aceitação da competência como pressuposto processual).

c) Inadimplemento:

“É a qualidade do devedor que não cumpriu, na forma, lugar e tempo devidos, a obrigação ou o direito.” Araken de Assis Artigo 580 do CPC

“É a qualidade do devedor que não satisfaz, espontaneamente, o direito reconhecido pela sentença ou a obrigação, a que a lei atribuir eficácia de título executivo.”

Marcus Destefenni

OBS: Para Cândido Rangel Dinamarco, o inadimplemento não está ligado à condição da ação interesse de agir, mas está ligado ao próprio mérito da demanda. Assim, se não configurado o inadimplemento, a demanda não deve ser extinta com base no Artigo 267, inciso IV do CPC, mas com base no Artigo 269, inciso I do mesmo Código, ou seja, a improcedência do pedido.

Para ele, a condição da ação é observada pela Teoria da Asserção.

Trata-se, pois, de corrente minoritária.

OBS: Diferença entre Inadimplemento e Mora

Mora é o não cumprimento da obrigação pelo modo, lugar ou tempo em que deveria ter sido cumprida, mas, havendo o interesse do credor, há sempre a possibilidade de cumprimento posterior ao momento adequado, seja através da sub-rogação, por ato do devedor ou por ato de terceiro.

A mora do devedor é chamada de Mora Debitoris.

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OBS: Obrigação vencida é obrigação exigível.

Artigo 581 do CPC: Recusa do Credor

Se o devedor cumpre a obrigação, o credor não pode iniciar ou prosseguir na execução, visto haver uma das condições da ação, qual seja: interesse de agir.

Contudo, o credor não está obrigado a receber coisa diversa da acordada, conforme determina o Artigo 313 do Código Civil de 2002. É a chamada recusa de prestação diversa, não podendo o credor ficar sujeito à mora.

OBS: O credor pode recusar o recebimento da prestação diversa, porém se não existir motivo econômico ou jurídico para a recusa da prestação cumprida pelo devedor, o próprio credor estará sujeito à mora. É chamada de Mora Accipiendi.

Artigo 572 do CPC: Obrigação sujeita a termo ou condição

Condição: É o evento futuro e incerto

Termo: É o evento futuro e certo (normalmente ligado a datas).

Só é lícito ao credor cobrar o cumprimento da prestação se demonstrada a ocorrência do termo ou da condição, pois enquanto não vencido o termo ou a condição, não existe a obrigação vencida e, logo, não é exigível (não se fala em inadimplemento).

Assim, estará faltando uma condição da ação: interesse de agir, no requisito necessidade.

Se não comprovada a ocorrência do termo ou da condição, a execução é nula, conforme regra o Artigo 618, inciso III do CPC.

Artigo 582 do CPC: Contraprestação devida pelo exequente

“Ocorre quando há obrigação para ambas as partes no título único. As partes são, ao mesmo tempo, devedoras e credoras entre si.”

Araken de Assis

No Direito Civil, é a chamada Exceção do Contrato não Cumprido (Exception non Adimpleti Contractus), ou seja, só é lícita a cobrança por aquele que já cumpriu a sua parte na obrigação.

Se o exequente assumiu a obrigação no mesmo título em que outra pessoa é executada de outra obrigação, só será lícita a execução se aquele que executa já cumpriu sua prestação, sob pena de falta de interesse de agir: necessidade.

Page 16: Processo Civil III -  Resumo do livro

OBS: O Artigo 582, Parágrafo Único do CPC diz que, se o executado não quiser se opor à execução e cumprir de imediato a obrigação, poderá fazê-lo através de depósito de bem ou da prestação (coisa e dinheiro), ficando o processo suspenso e sendo permitido ao exequente receber o bem após a comprovação do cumprimento da sua parcela da obrigação.

d) Título Executivo

1- Conceito:

1.1- Teoria do Ato : Corrente Minoritária

“É um ato ou fato jurídico indicado em lei como portador do efeito de tornar adequada a tutela executiva em relação ao direito a que se refere.”

Cândido Rangel Dinamarco

1.2- Teoria do Documento : Corrente Majoritária

“É o documento a que a lei atribui eficácia executiva.”

Araken de Assis

OBS: Ato jurídico é a conduta humana voluntária, capaz de produzir, nas esferas de direitos das pessoas, os efeitos programados por aquele que o produziu.

Fato jurídico é o acontecimento da natureza ou da conduta humana em que a lei agrega os efeitos.

OBS: Eficácia jurídica é a aptidão para produzir o efeito e fazer incidir sobre o devedor a responsabilidade patrimonial (sujeição de seu patrimônio para a satisfação do direito de crédito).

2- Função:

Completar a condição da ação (interesse de agir), no tocante à adequação, possibilitando o exequente propor a demanda executiva (Artigo 580 do CPC).

OBS: Aplica-se o Princípio da Tipicidade, ou seja, o Título Executivo é sempre previsto em lei. 3- Classificação do Título Executivo:

Page 17: Processo Civil III -  Resumo do livro

3.1- Título Executivo Judicial:

É aquele formado através de um processo, mesmo que não seja judicial. Encontra-se previsto no Artigo 475-N do CPC, que possui rol taxativo.

3.2- Título Executivo Extrajudicial:

É formado fora do processo e pode ser:

a) Particular:

É aquele que surge de negócio jurídico privado celebrado entre as partes.

b) Público:

É constituído através de documento oficial, emanado pelo Poder Público. Encontra-se previsto no Artigo 585 do CPC e apresenta rol enumerativo.

4- Requisitos do Título Executivo: Obrigações previstas no Título

4.1- Substanciais: Artigo 586 e 618, inciso I do CPC.

a) Certeza:

Significa que o título deve apresentar obrigação perfeitamente identificada em seus elementos, ou seja, a obrigação deve demonstrar quem são seus sujeitos (ativo e passivo), a sua natureza e seu objeto.

b) Exigibilidade:

Ocorre quando comprovado o vencimento da obrigação, sem o seu cumprimento. c) Liquidez:

É a possibilidade de se determinar o valor devido (Quantum Debeatur), ou a coisa ou a obrigação (An Debeatur) devida, em sua quantidade ou generalidade.

OBS: O Título Executivo Extrajudicial sempre deverá apresentar os três requisitos supracitados, sob pena de nulidade da execução (Artigo 618, inciso I do CPC).

O Título Executivo Judicial poderá apresentar liquidez postergada, ou seja, a liquidez do título poderá ser aferida em momento posterior, qual seja, liquidação de sentença.

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4.2- Formais:

a) Forma prevista em lei:

O título Executivo deverá ser confeccionado conforme previsão legal. Em havendo Lei Especial que regulamente a matéria, esta deverá ser observada.

Ex: Cheque, Nota Promissória, Escritura Pública...

b) Escrito:

O Título Executivo é sempre previsto na forma de documento.

OBS: Para Teori Zavascki, existe a espécie de Título Misto, que são “aqueles que a norma jurídica individualizada tem seus elementos integrativos representados por documentação: em parte de origem extrajudicial e em parte com certificado judicial.”

Ex: Execução da obrigação sujeita a termo ou condição; que é composta por sentença a respeito da relação obrigacional e por prova extrajudicial da ocorrência do termo ou da condição; cessão de crédito constituído em sentença.

OBS: O contrato de locação verbal não é título hábil a dar ensejo à demanda executiva.

Neste caso, será necessária a propositura de demanda de conhecimento.

c) Original:

Quando se tratar de título executivo extrajudicial, na forma do Artigo 614, inciso I do CPC.

A doutrina e a jurisprudência admitem que a execução seja instruída com a cópia do título, sempre que não causar prejuízo para a defesa do executado ou não importe em insegurança jurídica ( Ver Artigo 365, Caput do CPC).

5- Modalidades de Título Executivo Judicial: Artigo 475-N do CPC

a) Artigo 475-N, inciso I do CPC: Sentença Cível

“Aquela que impõe ao vencido o cumprimento de uma prestação de dar, fazer ou não fazer.”

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OBS: A doutrina e a jurisprudência majoritária entendem que a expressão sentença, foi utilizada pelo legislador em sentido amplo, ou seja, inclui a decisão interlocutória e o acórdão condenatório, este último em razão da sua característica de substantividade da sentença de primeiro grau.

OBS: Em pese alguns entendimentos em sentido contrário, a doutrina vem afirmando que a sentença meramente declaratória não é considerada título executivo judicial, pois não impõe o cumprimento de uma obrigação. Neste sentido a decisão do STJ, no Agravo Regimental nos Embargos de Declaração do Recurso Especial 796343/PE, cujo acórdão é da lavra do Min. Celso Lomingi:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO JÁ RECONHECIDO EM ACÓRDÃO TRANSITADO EM JULGADO. EFICÁCIA EXECUTIVA DE SENTENÇA DECLARATÓRIA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER.1. É possível executar sentença declaratória com conteúdo nitidamente condenatório, como é o caso dos autos, em que foi reconhecido aos servidores o direito à percepção e incorporação da gratificação de raio-x. Isto por ser desnecessário iniciar-se uma nova ação de conhecimento para rediscutir um direito que já foi proclamado em ação anterior. Tal procedimento seria não só inútil, mas, principalmente, afrontoso aos princípios da economia e celeridade processual e à própria Jurisdição.2. Nego provimento ao agravo regimental.

b) Artigo 475-N, inciso II do CPC: Sentença Penal Condenatória

O Artigo 91, inciso I do Código Penal, diz que torna certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.

É efeito secundário da sentença penal condenatória, que deve ter transitado em julgado (sentença irrecorrível).

Para a doutrina é título executivo ilíquido, isto é, a sentença penal é levada a conhecimento do juízo cível, a fim de apurar o quantum indenizatório (mediante liquidação de sentença), para depois ser possível a prática de atos executivos.

OBS: Revisão Criminal:

É ação autônoma de impugnação, que visa desconstituir a coisa julgada e que pode ser proposta a qualquer tempo. É ação exclusiva da defesa.

Se a revisão criminal for proposta antes ou no curso da execução e se o pedido for julgado procedente, a execução deve ser extinta por falta de título executivo. A sentença meramente declaratória, não admite execução, segundo Alexandre Câmara e Cândido Dinamarco.

Com posicionamento contrário, Ernani Fidelis e Fred Didier Júnior, afirmam ser as sentenças mandamentais são executáveis.

Para a primeira corrente, a sentença mandamental é espécie de sentença condenatória.

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Se a revisão criminal é proposta após a execução, deve-se observar que:

a) Se for julgada procedente, para reconhecer fato que não exclui a responsabilidade civil, a exemplo, a prescrição, não há repetição de indébito em favor do executado.

b) Se for julgada procedente para reconhecer fato que exclui a responsabilidade civil, a exemplo, a negativa de autoria ou a legítima defesa, há a repetição de indébito em favor do executado.

Se a revisão criminal for proposta após o prazo de dois anos, em que seria cabível a propositura de ação rescisória, os efeitos da sentença penal condenatória produzirá efeitos da coisa soberanamente julgada para fins civis, logo não se fala em repetição de indébito em favor do executado, por questão de segurança jurídica.

c) Artigo 475-N, inciso III do CPC: Sentença Homologatória de Transação e Conciliação

Homologação de transação:

É o ato judicial que homologa negócio jurídico celebrado entre as partes do processo como meio de autocomposição do conflito de interesses existente entre eles, quando já existente demanda judicial.

Homologação de Conciliação:

É a forma de autocomposição do conflito alcançada em audiência, em que o acordo celebrado imponha cumprimento de prestação pelas partes ou por uma delas.

d) Artigo 475-N, inciso IV do CPC: Sentença Arbitral

É decisão proferida por árbitro, quando a solução do conflito que tenha sido levado ao juízo arbitral.

O Artigo 31 da Lei nº 9307/96, equiparou a sentença arbitral à eficácia da sentença judicial, já que não necessita de homologação pelo Judiciário, garantindo o acesso à justiça, conforme Artigo 18 da Lei de Arbitragem.

e) Artigo 475-N, inciso V do CPC: Acordo Extrajudicial Homologado

É espécie de autocomposição do conflito, em que as partes celebram acordo antes da propositura de demanda judicial e levam a conhecimento do Poder Judiciário o teor da sua manifestação de vontade.

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f) Artigo 475-N, inciso VI do CPC: Sentença Estrangeira Homologada pelo STJ

Para que a sentença estrangeira possa produzir efeitos em território nacional, é necessária a emissão de ato por parte do Poder Judiciário Brasileiro. Necessário, ainda, que a sentença estrangeira seja condenatória.

O STJ não fará juízo de mérito acerca do conteúdo da sentença estrangeira, mas apenas Juízo de Delibação, em que verificará se o processo obedeceu sua regularidade formal e se a sentença estrangeira respeita nosso ordenamento jurídico, os bons costumes e a ordem pública.

g) Artigo 475-N, inciso VII do CPC: Formal e Certidão de Partilha

O título executivo refere-se ao ato estatal da adjudicação do quinhão sucessório, já que fato jurídico.

Produz efeitos apenas para inventariante, herdeiros e legatários.

Se o bem estiver de posse de terceiro, necessária a propositura de ação de conhecimento.

OBS: Não admite a modalidade das obrigações de fazer e não fazer.

6- Modalidades de Título Executivo Extrajudicial : Artigo 585 do CPC

a) Artigo 585, inciso I do CPC: Letra de Câmbio, Nota promissória, Duplicata, Debênture e Cheque.

São títulos de crédito que dão ensejo à execução cambial, devendo ser observada a forma de constituição do título executivo de acordo com a legislação especial.

Outro requisito que deve ser observado é o prazo prescricional para a propositura da execução, previsto em legislação extravagante.

b) Artigo 585, inciso II do CPC: Instrumento Público, Instrumento Particular e Transação Extrajudicial Referendada.

É o ato de reconhecimento da existência de obrigação de qualquer natureza e direito.

OBS: O analfabeto e o impossibilitado de assinar, apenas podem utilizar a forma de Instrumento Público.

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OBS: Dependendo do Instrumento Particular, a jurisprudência vem admitindo a mitigação da obrigatoriedade de testemunhas na apresentação do título executivo.

c) Artigo 585, inciso III do CPC: Contratos de Penhor, Hipoteca, Anticrese, Caução e Seguro de Vida

A exceção do último, são contratos que envolvem direito real de garantia, que visam a garantir a responsabilidade patrimonial.

Anticrese:

É o direito real sobre coisa alheia, em que o credor recebe a coisa, ficando autorizado a perceber frutos e imputá-los no pagamento da dívida.

OBS: O Seguro DPVAT, regulado pelo Decreto Lei nº 814/69 e para a doutrina majoritária, não está incluído no rol do Artigo 585 do CPC, uma vez que deriva de mandamento legisferante e não de documento hábil à propositura de ação de execução.

O Professor Araken de Assis, de forma minoritária, afirma que o Seguro DPVAT pode ser objeto de ação de execução, por tratar-se de seguro obrigatório de vida e de acidentes pessoais.

OBS: A nova redação dada pela Lei nº 11382/06, que suprimiu o Seguro de Vida e Acidentes Pessoais, tem sido objeto de crítica da doutrina (J. E. Carreira Alvim), uma vez que os contratos de seguro são escritos e apresentam a segurança jurídica necessária e esperada do título executivo.

d) Artigo 585, inciso IV do CPC: Crédito decorrente de Foro e Laudêmio

Foro:

É a contraprestação anual devida ao proprietário do imóvel cedido em enfiteuse, que deve ser paga pelo enfiteuta (aquele que adquire o domínio útil do bem).

Laudêmio:

Valor devido em razão da transferência dos direitos de enfiteuta a outrem.

O Novo Código Civil proibiu a criação de novas enfiteuses e subordinou as já existentes ao Código Civil de 1916, até sua extinção por completo.

e) Artigo 585, inciso V do CPC: Crédito decorrente de aluguel de imóvel, encargos e acessórios.

O título executivo é o documento comprobatório do aluguel, ou seja, o contrato de locação por escrito.

Se a locação é verbal, não cabe ação de execução, mas de conhecimento.

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OBS: As despesas de condomínio só podem incluir as modalidades ordinárias, pois as extraordinárias ficam a cargo do proprietário do bem.

OBS: O contrato só é documento hábil à demanda executiva quando o sujeito ativo for locador e o sujeito passivo, locatário.

O condomínio necessita de ação de conhecimento, pelo rito sumário, conforme reza o Artigo 275, inciso II, alínea b do CPC, para cobrar o débito de cotas condominiais.

f) Artigo 585, inciso VI do CPC: Créditos dos Serventuários da Justiça

Os serventuários podem ser permanentes e eventuais. O texto da lei faz referência, apenas, ao serventuário auxiliar da justiça eventual.

OBS: A doutrina critica a classificação desse crédito como extrajudicial, uma vez que formalizado mediante decisão judicial, homologa o valor dos honorários periciais.

Logo, se formado mediante decisão judicial, deveria sujeitar-se às regras de cumprimento de sentença e não de execução forçada por título extrajudicial.(J. E. Carreira Alvim)

g) Artigo 585, inciso VII do CPC: Dívida Ativa

A inscrição da dívida ativa, com a emissão da competente certidão, dá ensejo à execução fiscal, que seguirá os moldes da Lei nº 6830/80 – LEF. A dívida ativa constitui-se na cobrança feita pela pessoa jurídica de Direito Público e suas autarquias em face do particular, tendo por objeto dívida fiscal.

h) Artigo 585, inciso VIII do CPC: Demais Títulos

Todos os documentos a que a lei atribuir eficácia executiva; a exemplo, decisão do Tribunal de Contas.

9- LITISCONSÓRCIO NA EXECUÇÃO

9.1- Conceito de Litisconsórcio:

É a pluralidade de partes, seja no pólo ativo, seja no pólo passivo da demanda.

9.2- Espécies de Litisconsórcio:

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9.2.1- Litisconsórcio Ativo, Passivo e Misto:

O ativo ocorre quando há pluralidade no pólo ativo; o passivo, quando há pluralidade de réus (executados e o misto, quando em ambos os pólos da demanda há pluralidade de partes.

9.2.2- Litisconsórcio Necessário e Facultativo:

O necessário existe quando for obrigatória a pluralidade de partes em razão de lei ou em decorrência da natureza da obrigação; o facultativo, ocorre quando a lei permite que as partes escolham formar ou não o litisconsórcio.

9.2..3- Litisconsórcio comum (simples) e Qualificado (Assistencial):

O comum ocorre quando não há possibilidade do conteúdo da sentença ser igual a todos os litisconsortes; o qualificado, possui a possibilidade do conteúdo da decisão ser o mesmo para todos os litisconsortes.

OBS: Regras do Litisconsórcio na Execução:

A doutrina admite litisconsórcio em qualquer pólo da demanda executiva, desde que exista crédito ou débito comum;

A regra é que o litisconsórcio na execução seja facultativo;

O litisconsórcio será passivo e necessário quando houver concurso universal de devedores na insolvência civil. É mais comum o litisconsórcio necessário passivo, quando a penhora atingir bem de pessoa casada.

10- INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NA EXECUÇÃO

10.1- Conceito de Terceiro:

É aquele que é estranho à demanda. Não é demandante, não é demandado. Não faz parte da relação jurídica discutida.

10.2- Conceito de Intervenção de Terceiro:

Ocorre quando o terceiro, de qualquer forma, passa a ser parte do processo, ou seja, passa a participar da relação jurídica processual.

10.3- Espécies de Intervenção de Terceiros:

Pode ser Voluntária, ocorrendo quando o terceiro, de livre vontade, ingressa na relação processual.

Será Forçada, quando o terceiro é chamado a manifestar-se na relação jurídica processual, independente de sua vontade.

10.4- Modalidades de Intervenção de Terceiros:

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10.4.1- Denunciação à Lide:

Visa garantir direito de regresso, conforme Artigo 70 e seguintes do CPC.

10.4.2- Nomeação à autoria:

Visa corrigir o pólo passivo da demanda. Depende da dupla aceitação (Autor e Nomeado), para ser possível. Encontra-se sedimentada nos Artigos 62 e 63 do CPC.

10.4.3- Chamamento ao Processo:

É o modo pelo qual se traz o co-devedor a participar da demanda, conforme Artigo 77 e seguintes do CPC.

10.4.4- Oposição:

Ocorre quando o terceiro se diz titular do direito ou da coisa em litígio. Encontra-se formalizada no Artigo 56 e segmentos do CPC.

10.4.5- Recurso de Terceiro:

Ocorre quando o terceiro não participou da demanda de conhecimento, mas foi por ela atingido, conforme reza o Artigo 499 do CPC.

10.4.6- Assistência:

Ocorre quando o terceiro que tem interesse jurídico na relação, auxilia uma das partes a sair vencedora da demanda e encontra-se fundamentado no Artigo 50 e segmentos do CPC.

OBS: Qual espécie de Intervenção de Terceiros é aceita na Execução?

Em regra, nas formas de Intervenção de Terceiros, quando o terceiro é admitido na demanda, passa ele a buscar uma decisão de mérito para si.

Contudo, a Assistência ( que não é classificada pelo CPC como Intervenção de Terceiros) é a única modalidade em que o terceiro não busca decisão de mérito para si, já que não fala em nome próprio, buscando apenas auxiliar uma das partes.

Assim, para a doutrina majoritária (Araken de Assis, Alexandre Câmara, Cândido Rangel Dinamarco, Marcus Desteffeni), apenas a assistência é permitida na Execução, visto nesta, também, não haver decisão de mérito, contendo apenas decisão que reconhece direito de crédito já existente, promovendo, assim, meio de cumprimento da obrigação.

Para o Professor Humberto Theodoro Júnior (posição minoritária), a assistência apenas é permitida na execução se houver defesa do executado mediante embargos do devedor, pois este tem natureza jurídica de ação autônoma de impugnação (ação de conhecimento), que permite a participação

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de um terceiro juridicamente interessado em auxiliar uma das partes.

11- COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO

11.1- Conceito:

“È o conjunto de limites dentro dos quais cada órgão judiciário pode exercer a jurisdição. É a distribuição lógica da competência.”

Ada Pelegrini

11.2- Critérios de Fixação da Competência:

Critérios Relativos (interesse particular): Valor da Causa e Territorial.

Critérios Absolutos (interesse público): Em razão da matéria, em razão da pessoa e funcional.

11.3- Competência no Processo de Execução:

POR TÍTULO JUDICIAL:

1- Artigo 475-P, inciso I do CPC: Tribunais

Os Tribunais apresentam dois tipos de competência, a saber:

a) Competência Originária:

Para as demandas que devem ser propostas diretamente no segundo grau de jurisdição.

b) Competência Recursal:

Para apreciação de matérias já decididas em primeiro grau de jurisdição.

A norma do Artigo 475-P, inciso I do CPC, determina a competência ao JUÍZO DA CAUSA em que foi formada a relação processual.

Assim, leva a critério absoluto, em razão das atribuições do juízo (Critério Funcional) e a sua não observância leva à incompetência absoluta.

2- Artigo 475-P, inciso II do CPC: Juízo de Primeiro Grau de Jurisdição

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A norma determina a competência ao JUÌZO DA CAUSA em que foi formada a relação jurídica processual.

Assim, leva a critério absoluto, em razão das atribuições do juízo (critério funcional) e a sua não observância leva à incompetência absoluta.

OBS: O Artigo 475-P, Parágrafo Único do CPC, trouxe uma forma de mitigação da regra prevista no Artigo 475-P, inciso II do CPC. Pelo primeiro, é cabível a fixação da competência levando em consideração o local em que se encontram os bens ou o local em que se encontra o executado. Assim, criou uma hipótese de critério relativo (territorial), em relação ao segundo supracitado.

3- Artigo 475-P, inciso III do CPC: Juízo Cível, quando o título for Sentença Penal Condenatória, Sentença Arbitral e Sentença Estrangeira.

3.1- Sentença Penal Condenatória transitada em julgado:

O lesado utiliza a sentença penal para fins indenizatórios, em que o juízo cível será competente apenas para determinar o quantum indenizatório mediante liquidação de sentença.

A sentença penal condenatória cria a certeza do dever de indenizar.

A competência será do juízo cível que julgaria a ação indenizatória (ação de conhecimento), caso tivesse sido proposta.

Assim, o critério de competência é o critério geral previsto para a ação de conhecimento: critério territorial.

Se houver incompetência, esta será relativa, argüida por exceção de incompetência relativa.

OBS: Atualmente, o legislador efetuou alteração no artigo 387, IV do Código de Processo Penal, permitindo ao juiz criminal fixar início de indenização no corpo da sentença penal condenatória. O legislador teve a intenção de promover a celeridade processual evitando que maiores discussões em torno da condenação criminal sejam levadas a conhecimento do juízo cível com a propositura de nova demanda. Entretanto, tal alteração legislativa trouxe algumas repercussões no juízo cível, que serviram de fonte para uma palestra promovida pela Escola de Magistratura do Rio de Janeiro em maio de 2009, em foram palestrantes os professores Alexandre Câmara e Geraldo Prado, que abordaram os seguintes aspectos da alteração legislativa defendendo a inconstitucionalidade do novo artigo 387, IV do CPP:

a) Inicialmente o direito brasileiro adotou a divisão jurisdicional, em que a jurisdição civil não se confunde com a penal e com a administrativa e com a competência do juízo criminal para fixar indenização tal regra foi quebrada.

b) Em segundo lugar temos que o ofendido não possui legitimidade ativa no juízo criminal, já que em regra o autor da ação penal é o Ministério Público. Assim, o Ministério Público deveria ser investido de legitimidade ativa extraordinária para formular o pedido de condenação do réu ao pagamento de indenização em benefício do ofendido, sob pena da decisão condenatória que fixa indenização sem pedido ofender os princípio do contraditório e da ampla defesa.

c) Por fim, em termos de processo civil o professor Alexandre Câmara afirma que

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haverá ofensa aos limites subjetivos da coisa julgada, haja vista que o ofendido não participa do feito penal e se submeterá a coisa julgada penal.

d) Segundo o professor Geraldo Prado a nova regra do CPP trará ofensa ao sistema acusatório, pois o mesmo juiz que terá a preocupação de garantir as regras protetivas e a ampla defesa ao acusado penal deverá buscar e determinar o processo no sentido de verificar a existência de dano ao ofendido.

OBS: Em que pese os argumentos acima, o artigo 387, IV do CPP continua em vigor e assim permanecerá a te que sobrevenha decisão do STF no sentido de sua inconstitucionalidade. Defendendo a constitucionalidade do aritgo, temos o texto do Professor Daniel Hertel afirmando que a regra trouxe celeridade ao processo de um modo geral e que a competência do juízo cível não está abalada, pois o juízo penal apenas pode fixar o início de indenização podendo o ofendido (credor) buscar a complementação da indenização diretamente no juízo cível como sempre foi. Admitida a possibilidade de busca de complementação da indenização está será objeto de liquidação por artigos no juízo cível antes de ser possível a prática de atos de execução, pois será necessário a prova de fato novo, qual seja, a continuidade do prejuízo ou o prejuízo não apurado no juízo criminal.

3.2- Sentença Arbitral:

A utilização do procedimento arbitral depende de prévia manifestação de vontade das partes.

Uma vez decidida a demanda pelo árbitro eleito, as partes devem se submeter ao cumprimento da referida decisão, sem que haja manifestação do Poder Judiciário.

A sentença arbitral só é levada a conhecimento do Poder Judiciário em hipótese de não cumprimento voluntário da sentença arbitral, ou seja, para fins de execução, ou nas hipóteses de nulidade (Artigos 18, 31, 32 e 33 da Lei nº 9307/96).

Não sendo cumprida voluntariamente a decisão arbitral, esta é levada a conhecimento do Poder Judiciário para fins de execução e será competente o juízo cível que teria competência para conhecer da demanda originariamente, caso ela tivesse sido proposta perante o Poder Judiciário. O critério estabelecido é o territorial.

3.3- Sentença Estrangeira:

É aquela proferida por órgão do Poder Judiciário, estranho ao território nacional. Só produz efeitos no território nacional, após homologação do STJ.

Uma vez homologada pelo STJ, a decisão deve ser cumprida e a competência da justiça é prevista pela Lei Maior, em seu Artigo 109, inciso X, segunda parte, ou seja, a competência é da Justiça Federal de primeira instância e, em regra, leva em consideração o domicílio do réu. Logo, a competência de foro é determinada pelo critério territorial.

OBS: Para Greco Filho, a execução dos títulos extrajudiciais estrangeiros não depende de homologação pelo STJ.

Para que tenham eficácia executiva, basta que satisfaçam os requisitos

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formais do país de origem e que escolham o Brasil como local de cumprimento da obrigação.

A execução, neste caso, é da Justiça Comum. Observa, pois, o critério territorial.

POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL:

1- Artigo 576 do CPC:

Indica que a competência será determinada pelas regras do processo de conhecimento.

Em regra, é estabelecida pelo critério territorial e, por este motivo, é prorrogável, se não argüida a incompetência por via de exceção.

ORDEM:

Foro de Eleição;

Local do Cumprimento da Obrigação;

Domicílio do executado.

2- Artigo 578 do CPC: Competência para a execução Fiscal.

A execução Fiscal é a demanda proposta pelo fisco em face do particular em razão de débito fiscal.

A execução Fiscal é regulada pela Lei nº 6830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.

Como a LEF não faz previsão de competência, deve ser utilizado o CPC, que faz previsão de critério territorial, ou seja, o domicílio do executado.

OBS: A competência de justiça será determinada de acordo com o exeqüente.

Ex: Para a União, Empresa Pública Federal, Autarquia Federal, a competência de justiça é a da Justiça Federal.

12- RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL E FRAUDES

12.1- Conceito:

“É a situação que permite a sujeição do patrimônio do devedor às medidas executivas.”

Alexandre Câmara

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12.2- Diferença entre Dívida e Responsabilidade:

12.2.1- Dívida:

É o dever jurídico de realizar a prestação, objeto da relação obrigacional.

É o dever principal que pertence ao direito substancial (material).

12.2.2- Responsabilidade:

É a possibilidade de sujeição patrimonial do devedor ou de terceiro que não adquiriu a dívida, mas adquiriu a coisa litigiosa, ou está na posse do bem do devedor ou mantém relação com o devedor (sócio, cônjuge, fiador).

É elemento que pertence ao Direito Processual, conforme Artigo 592 do CPC.

A responsabilidade pode ser primária, aquela prevista ao devedor; ou secundária; prevista ao terceiro responsável (Artigo 592 do CPC).

OBS: Pode haver dívida sem responsabilidade e vice-versa.

12.3- Bens Presentes e Bens Futuros: Artigo 591 do CPC

Há duas correntes doutrinárias, a saber: 1ª Corrente:

Para Humberto Theodoro Júnior, bens presentes são aqueles que fazem parte do patrimônio do devedor no momento em que adquire a obrigação e bens futuros são aqueles adquiridos após contrair a obrigação.

É corrente minoritária.

2ª Corrente:

Cândido Rangel Dinamarco, Araken de Assis e Alexandre Cãmara, afirmam que bens presentes são aqueles que fazem parte do patrimônio do devedor no momento em que é instaurada a demanda executiva e bens futuros são aqueles adquiridos no curso do processo.

É corrente majoritária.

12.4- Fraudes:

12.4.1- Fraude contra Credores ou Fraude Pauliana:

“É a diminuição do patrimônio do devedor até torná-lo insolvente, ou seja, o devedor passa a não ter mais bens suficientes para garantir o cumprimento da obrigação.”

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Alexandre Câmara

12.4.1.1- Requisitos:

Dano Eventus Damini Diminuição Patrimonial Elemento Objetivo

Fraude Concilium Fraudis Vontade de causar o dano Elemento Subjetivo

Atos fraudulentos, que podem ser:

a) Atos gratuitos:

Presunção absoluta de fraude.

b) Atos onerosos:

É preciso que o devedor tenha, ao menos, potencial conhecimento de que seu ato o tornará insolvente.

O adquirente deve ter conhecimento (efetivo ou presumido) de que o devedor tornar-se-á insolvente.

12.4.1.2- Conseqüências:

O ato praticado é válido entre devedor e adquirente e ineficaz contra o credor (Inoponibilidade).

OBS: Ineficácia Absoluta ou Relativa?

Absoluta:

Ocorre quando o ato válido só produz efeito se presente fator extrínseco.

Ex: Testamento de pessoa viva.

Relativa:

Ocorre quando o ato válido é apto a produzir efeitos normais, contudo não produz efeitos contra terceiro estranho ao ato praticado.

É o caso da Inoponibilidade.

OBS: A regra é que apenas os bens presentes e futuros fiquem sujeitos à responsabilidade patrimonial.

Contudo, se ocorreu a fraude contra credores, o bem que deixar o patrimônio do devedor antes da propositura da demanda, poderá ficar sujeito à

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constrição judicial.

É a possibilidade de Responsabilidade Patrimonial Sob Bens Passados , desde que tenha sido intentada a Ação Pauliana (demanda destinada a atacar o ato praticado com a finalidade de desconstituí-lo.

12.4.2- Fraude de Execução:

É a modalidade de fraude na alienação ou oneração de bens, em que não há necessidade de requisito subjetivo.

Depende de expressa previsão legal.

12.4.2.1- Requisito:

Dano Eventus Damini Diminuição Patrimonial

12.4.2.2- Conseqüências:

O ato é válido entre devedor e adquirente, porém é ineficaz contra o devedor.

12.4.2.3- Hipóteses de ocorrência:

12.4.2.3.1- Artigo 593, inciso I do CPC: Demanda fundada em direito real

Tem por finalidade evitar que o demandado original se retire do processo e ingresse terceiro em seu lugar.

É inerente ao direito real o direito de seqüela, isto é, de perseguir o bem em poder de quem quer que esteja na posse.

OBS: O bem será perseguido mesmo que o devedor tenha outro em seu patrimônio; isto significa que pode haver a fraude de execução mesmo que o devedor seja solvente.

12.4.2.3.2- Artigo 593, inciso II do CPC: Existência de demanda

A mera existência de demanda, capaz de tornar o devedor insolvente. Poderá a demanda ser de conhecimento ou executiva.

OBS: Diz-se que na fraude de execução a ineficácia é originária, ou seja, pode ser verificada nos próprios autos da execução, independentemente de sentença declaratória em próprios autos.

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Assim, o bem alienado continua sujeito à responsabilidade patrimonial.

O requisito é a existência de demanda em curso e que haja alienação do bem do devedor que prejudique o credor, por não serem suficientes para o adimplemento da obrigação (Marcus Destefenni). OBS: Ponto marcante de Fraude de Execução:

A existência de demanda (litispendência): propositura da demanda antes da citação (o credor deve demonstrar que o adquirente tinha ciência.

Citação válida: a fraude se configura de pleno direito (Posicionamento de Araken de Assis: apenas nesta hipótese se configura a fraude).

12.4.3- Alienação de bem penhorado:

É a modalidade de alienação fraudulenta de bem praticada pelo devedor, após a constrição judicial do bem.

Penhora:

É o ato de apreensão judicial, que tem por finalidade determinar os bens sujeitos à execução.

Não tem o condão de retirar o bem da esfera do patrimônio do devedor, mas apenas constitui um gravame sob o bem, que limita o direito de disposição.

12.4.3.1- Conseqüências:

O ato é válido entre devedor e adquirente, porém ineficaz em relação ao credor.

13- EXECUÇÃO PROVISÓRIA

13.1- Conceito:

É a execução fundada em decisão judicial pendente de julgamento de recurso recebido só no efeito devolutivo (Artigo 475- I, & 1º c/c o Artigo 475- O, ambos do CPC).

“É a execução que ainda não possui valor de caso julgado.”

Araken de Assis

OBS: Diferença entre Execução Definitiva e Execução Provisória

Execução Definitiva:

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É aquela fundada em título executivo judicial transitado em julgado ou em título extrajudicial (Artigo 587 do CPC).

A execução pendente de ação rescisória é considerada, pela doutrina majoritária, como DEFINITIVA, contudo é cabível tutela antecipatória cautelar para suspender o curso da execução.

Execução Provisória:

Deve ser entendida como a possibilidade de os atos executivos voltados à satisfação do exequente terem início embora ainda pendente de solução, no Estado-Juiz, alguma medida voltada ao contraste do próprio título executivo ou dos atos executivos praticados com base nele.

Trata-se da autorização para que um título executivo surta efeitos concretos mesmo enquanto existem recursos pendentes de exame perante as instâncias superiores.” (Artigos 475-I, &1º, 521 e 587 do CPC).

Cássio Scarpinella Bueno

13.2- Natureza Jurídica da Execução provisória:

É forma de antecipar a atividade executiva (Pontes de Miranda): incidente processual.

13.3- Procedimento:

a) Artigo 475-O, incisos I e II do CPC:

A execução provisória inicia-se com o requerimento da parte exequente, correndo por sua conta e risco, ou seja, em caso de reforma (inclusive a anulação) da decisão que embasa a execução, responde pelos prejuízos causados ao devedor.

OBS: A responsabilidade é objetiva, isto é, não se apura a existência de dolo ou culpa do exequente.

Basta que estejam presentes os requisitos de dano e nexo de causalidade.

Vejamos abaixo a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, nos autos do Agravo de Instrumento 70030843726, da lavra do Des. Leo Lima:

EMENTA:  PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. LEVANTAMENTO DE VALOR. O art. 497, do CPC estabelece que a interposição de recurso especial não impede a execução da sentença. E, pelos arts. 475-I, § 1º e 475-O, do CPC, é possível a execução provisória da sentença, a qual correrá por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente. O art. 475-O, § 2º, inc. II, possibilita a dispensa da caução "nos casos de execução provisória em que penda

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agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação¿. Diante disso, não havendo, no caso, óbice ao levantamento, pelo credor, do valor penhorado. AGRAVO PROVIDO DE PLANO. (Agravo de Instrumento Nº 70030843726, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leo Lima, Julgado em 02/07/2009)

OBS: A apuração dos eventuais prejuízos experimentados pelo devedor em fase de execução provisória é feita nos mesmos autos, através de liquidação por arbitramento.

Sofre crítica da doutrina, visto alguns entenderem que deve haver postulação da reparação do prejuízo em autos próprios, pois exige a prática de novos atos processuais.

OBS: Se a decisão for anulada ou reformada apenas em parte, somente os termos não atingidos podem ser objetos de execução provisória (Artigo 475-O, & 1º do CPC).

b) Artigo 475-O, inciso III do CPC: Caução

O exequente deve prestar caução para garantir possível lesão ao executado em caso de reforma ou anulação da decisão que fundamenta a execução provisória.

OBS: A Caução (garantia) pode ser real ou fidejussória, sendo determinada pelo magistrado e devendo a mesma ser “suficiente”.

Se o magistrado não se sentir apto a determinar o tipo de caução, pode ser determinada a realização de perícia.

OBS: Artigo 475-O, § 2º do CPC: Dispensa da Caução

A caução pode ser dispensada quando:

Houver Estado de Necessidade: Alimentos, até salário de 60 salários mínimos.

Decisão fundada em Ato Ilícito cometido pelo devedor, até o limite de 60 salários mínimos. (Natureza de Alimentos decorrentes da Responsabilidade Civil)

Decisão que dependa de análise de Agravo de Instrumento a ser julgado pelo Tribunal Superior, tem a finalidade de viabilizar a execução em hipótese remota de reforma/anulação da decisão, desde que não cause dano irreparável ou de difícil reparação.

c) Artigo 475-O, &3º do CPC: Documentos que instruem a Execução Provisória (Carta de Sentença)

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d) Natureza da decisão:

Possui natureza de Decisão Interlocutória.

e) Proibição de Execução Provisória:

É defeso a execução provisória contra a Fazenda Pública (Artigo 100 da Constituição Federal).

Entretanto, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já proferiu decisão no sentido de que é cabível a execução provisória em face da Fazenda Pública com limitação apenas da expedição do Precatório antes do Trânsito em Julgado da decisão condenatória.

AGRAVO DE INSTRUMENTOPedido de expedição de precatório indeferido.Decisão proferida em sede de embargos à e-xecução não transitada em julgado. Possibilidade de execução provisória contra a Fazenda Pública. Impossibilidade de expedição de precatório antes do trânsito em julgado.Inteligência do artigo 100, § 1°, da Carta Magna, com a redação determinada pela EC 30/2000.Manutenção da decisão guerreada. Decisão monocrática, com fulcro no artigo 557 do Código de Processo Civil, negando segui-mento ao recurso (Agravo de Instrumento, Des, Sergio Lúcio Cruz autos número 2009.002.23030)

14- LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Artigos 475-A e 475-H do CPC

14.1- Conceito:

“É o instrumento pelo qual busca-se a liquidez de obrigação prevista em Título Executivo Judicial, quando no momento da execução não era possível determinar a sua liquidez.” Araken de AssisOBS: Para o prof. Cássio Scarpinella Bueno, em sua obra Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, vol. 3, afirma que qualquer título executivo, judicial ou extrajudicial, pode ser passível de liquidação e que portanto a nomenclatura usual de liquidação de sentença está errônea, sendo o mais correto apenas LIQUIDAÇÃO

14.2- Natureza Jurídica: fase cognitiva anterior a prática de atos de execução. Leva a instauração de um incidente resolvido por decisão interlocutória. Tanto é fase cognitiva do cumprimento da decisão condenatória de pagar quantia certa que a Lei 11.232/05 transferiu a liquidação para o Livro I do CPP e revogou as regras existência acerca da matéria do Livro de execução. Nos dizeres da Lei e da doutrina, basta a intimação do executado, na pessoa do seu advogado (art. 475 A, § 1° do CPC), que dispensa novo instrumento de procuração e dispensa a regra do artigo 38 do CPC, pois a permissão de intimação é da própria lei, sendo certo que para Cássio Sacarpinella Bueno a intimação é exigível apenas para as liquidações por artigos e por arbitramento.

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OBS: Em regra o que caracteriza a liquidação como fase processual é dispensa e nova citação do devedor para responder aos termos da liquidação. Entretanto, a depender da modalidade do título executivo, principalmente o judicial, será necessária a citação do devedor, pois a liquidação será a primeira fase processual, sendo necessário garantir-se o contraditório e a ampla defesa, p.ex. sentença arbitral, sentença penal condenatória, sentença estrangeira homologada – art. 475, II, IV e VI do CPC.

OBS: Para Cássio Scarpinella Bueno, não cabe indagações acerca da natureza jurídica da liquidação, se ação, se incidente processual, se processo ou se procedimento. Na realidade a natureza é de fase processual cognitiva, em que se busca encontrar o valor da obrigação a ser cumprida, dentro do esteio do contraditório.

14.3- Princípio da Fidelidade do Provimento:

Significa dizer que na fase de liquidação é defeso alteração do julgado, ou seja, não cabe a qualquer das partes a discussão do mérito novamente (Artigo 475-G do CPC).

14.4- Liquidação provisória – art. 475 A, § 2° do CPC. “ é aquela que deve ser entendida como a possibilidade de o interessado dar inicio à fase de liquidação mesmo quando a decisão liquidanda, isto é, a decisão que reconhece o direito aplicável à espécie mas não o quantifica, pender de julgamento de recurso dela interposto.” (Cássio Scarpinella Bueno)

OBS: A liquidação provisória deve ser apresentada diretamente ao juiz da causa e, portanto, neste momento não se pode aplicar a regra do artigo 475 P, parágrafo único do CPC, sendo a competência funcional e, portanto, absoluta.

A liquidação provisória deve ser instruída com todos os documentos pertinentes, ou seja, por todos aqueles que se mostrem necessários ao seu regular desenvolvimento, equiparando-se a uma carta de sentença, pois os autos estarão no tribunal e a liquidação será requerida perante o primeiro grau de jurisdição –usar como equiparação o art. 475 O, §3° do CPC

OBS: Na visão do prof. Cássio Scarpinella Bueno a liquidação provisória pode ser iniciada ainda que seja impossível a execução provisória, ou seja, mesmo que o recurso tenha o chamado efeito suspensivo. Isto porque a fase de liquidação garante a celeridade, efetividade e não traz qualquer prejuízo ao devedor. Assim, se ao final da liquidação não houver o julgamento do recurso, fica vedado ao credor dar início a execução, e sendo o recurso julgado a favor do devedor, o credor fica responsável pelas custas da execução provisória.

14.5- Decisão que julga a Liquidação: A lei 1132/05 revogou expressamente o artigo 520, III do CPC e ainda que não tivesse revogado, sendo a liquidação uma fase processual cognitiva, penas pode ser resolvida por decisão interlocutória. Este é posicionamento legal e da maioria da doutrina.

Contudo, para aqueles que continuam a afirmar que a liquidação é uma ação com a única finalidade de prestação jurisdicional de determinação do valor a ser liquidado, a decisão teria natureza de sentença.

Para a posição acima, há um problema, pois o legislador afirmou categoricamente que o recurso cabível da decisão da liquidação é o AGRAVO DE INSTRUMENTO, que só é cabível nas decisões interlocutórias – artigo 475- H do CPC.

14.6- Espécies de Liquidação:

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14.6.1- Liquidação por Cálculos: Artigo 475-B do CPC

Faz-se possível quando a liquidação depender apenas de cálculos aritméticos, isto é, a obrigação devida é apenas pecuniária.

Para Alexandre Cãmara, não constitui espécie autônoma de liquidação. Tal entendimento não é o melhor, haja vista que houve a revogação do artigo 604 do CPC pela Lei 11.232/05, que inseriu a regra de liquidação por cálculos no artigo 475 B do CPC.

A referida alteração foi reclamada pela doutrina majoritária, uma vez que nem sempre era fácil ao credor promover os meio para a elaboração do cálculo e muitas das vezes havia discussão ferrenha acerca do valor apresentando pelo credor ou do fator de correção monetária e não havia qualquer procedimento a ser seguido.

14.6.1.1- Procedimento:

O exequente formula requerimento em juízo acompanhado de partilha de débito, sendo o executado intimado a se manifestar sobre os cálculos, na pessoa de seu advogado (Artigo 475-A, & 1º do CPC).

OBS: Não se faz necessário que o advogado tenha poderes especiais para receber intimações, na forma do Artigo 38 do CPC, uma vez que a autorização decorre da lei.

OBS: Documento em poder de Terceiros ou do devedor: Artigo 475-B, § 2º do CPC

Se a liquidação depender exclusivamente desse documento, o juiz, a requerimento da parte, determinará que o documento seja apresentado no prazo máximo de 30 dias.

Se não forem apresentados os documentos, reputam-se verdadeiros os cálculos apresentados pelo exequente, salvo prova de que a apresentação não ocorreu por justo motivo: presunção relativa de veracidade dos cálculos.

“No entanto, aplica-se a presunção, e uma vez preclusa a possibilidade de impugnação da decisão que a aplicou, o valor obtido fica coberto pela coisa julgada – trata-se de decisão interlocutória de mérito; agravável, pois. Por conta disso, será impossível ao devedor discutir esse valor em eventual impugnação à execução.”

Fredie Didier Júnior

OBS: Para C. Scarpinella Bueno a solução é contraditória: se o exeqüente depene do documento que está com o terceiro como será possível apresentar a memória de cálculo? Assim, seria necessário aplicar para o executado a mesma regra prevista para o terceiro, qual seja, a regra da exibição incidental de documentos (artigo 362 do CPC), com possibilidade de busca e apreensão, força policial e ainda a responsabilização por crime de desobediência.

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Regra:

As despesas para a formulação da planilha de débito são do exequente.

Exceção: Os cálculos serão formulados por contador judicial em casos de gratuidade de justiça, falta de condição financeira ou excesso aparente.

Na hipótese de excesso, se o exequente discordar dos cálculos do contador judicial, a execução prosseguirá de acordo com o valor inicialmente apresentado, contudo a penhora ficará limitada ao valor encontrado pelo perito.

14.6.2- Liquidação por Artigos: Artigo 475- E e F do CPC

É possível essa forma de liquidação toda vez que não foi considerado na sentença exatamente porque a sentença não o fixou; não quer dizer necessariamente fato superveniente. Pode ser anterior a sentença, mas é novo no processo, porque não serviu de fundamentação para a sentença. (Vicente Greco Filho).

14.6.2.1- Procedimento:

O exequente formulará requerimento quando se tratar de título judicial, previsto no Artigo 475-N, incisos I, III, V e VII do CPC.

Nos demais casos, é necessária a propositura de demanda executória, com fase inicial de liquidação; neste caso, o executado deverá ser citado.

Prosseguirá sob o rito comum – ordinário ou sumário – e deve desenvolver-se com base no contraditório sobre o fato novo alegado.

OBS: Natureza da Decisão:

Para Araken de Assis, é sentença, uma vez que se submete ao procedimento comum.

Para Alexandre Cãmara e Vicente Greco Filho, é decisão interlocutória recorrível por agravo, por força do Artigo 475-H do CPC. É, pois, posicionamento majoritário.

14.6.3. Por Arbitramento – art. 475 C do CPC.

É a forma de liquidação necessária sempre que o valor a ser apurado depender de perícia.

14.6.3.1 Procedimento:

O exeqüente formula requerimento quando se tratar de título judicial previsto no art. 475 N, I, III, V e VII do CPC. Nos demais casos é necessária a propositura de demanda executória, com fase inicial de liquidação – neste caso o executado deverá ser citado.

É nomeado perito, que tem o prazo a ser fixado pelo juiz para apresentar o laudo. As partes devem ser intimadas a se manifestar sobre o laudo pericial pelo prazo de

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10 dias – art. 475 D do CPC.

Se houver necessidade de esclarecimentos do Sr. Perito poderá ser designada audiência de instrução e julgamento – art. 475 D, parágrafo único do CPC.

OBS.: Se o juiz não nomear perito, entende-se que a liquidação foi rejeitada e cabe o recurso de agravo de instrumento, na forma do art. 475. H do CPC