livro embargo e interdicao (1)

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  • 8/13/2019 Livro Embargo e Interdicao (1)

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    EMBARGO E INTERDIOINSTRUMENTOS DE PRESERVAO DA VIDA

    E DA SADE DOS TRABALHADORES

    A EXPERINCIA DA SEO DE SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR SEGUR

  • 8/13/2019 Livro Embargo e Interdicao (1)

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    Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Trabalho e EmpregoCarlos Lupi

    Secretaria de Inspeo do TrabalhoRuth Beatriz Vasconcelos Vilela

    Diretora do Departamento de Segurana e Sade no TrabalhoJnia Maria Barreto de Almeida

    Superintendente Regional do Trabalho e Emprego no RSHeron dos Santos Oliveira

    Chefe da Seo de Segurana e Sade no TrabalhoMarco Antonio Ballejo Canto

    Ministrio do Trabalho e EmpregoTiragem: 2.000 exemplaresDistribuio gratuita

    Organizadores e revisores: Iara Antonieta Valente Hudson, Lus Carlos Rossi Bernardes,Luiz Alfredo Scienza, Miguel Coifman Branchtein, Msiris Roberto Giovanini Pereira,Roberto Padilha Guimares, Roque Luiz Mion Puiatti.

    Colaboradores: Aida Cristina Becker, Ccero Farias Berndsen, Flvia Teixeira Paiva,Helosa Brando Rubenich, Humberto de Freitas Marsiglia, Jorge Luiz Lopes*,Lucio Debarba, Lusa Tnia Elesbo Rodrigues, Maria Machado Silveira,Marta Ins Dornelles Macedo, Nora Celeste Varella Correa, Oscar Luiz Seide,Paulo Antnio Barros Oliveira*, Roberto Dias Schellemberger, Roberto Misturini,

    Robinson Alonso de Oliveira, Srgio Augusto Letizia Garcia.* Revisores

    Apoio Administrativo: Aline Deveneza Ferreira Viegas, Joner Ferreira da Silva,Lucas Conti Arioli, Melissa Stangherlin Almeida, Vivian Hampe Fialho Rennhack.

    permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

    Edio e distribuioSuperintendncia Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do SulSeo de Segurana e Sade do Trabalhador/SEGURAv. Mau, 1013 Centro90010-110 Porto Alegre RSTel: (51) 3226 8730

    E-mail: [email protected]

    Capa e Projeto grficoAirton Cattani

    RevisoIarima Nunes Red

    Editorao eletrnicaMarcaVisual Editora e Projetos Culturais Ltda.

    Impresso no Brasil/Printed in Brazil

    ISBN

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    EMBARGO E INTERDIOINSTRUMENTOS DE PRESERVAO DA VIDA

    E DA SADE DOS TRABALHADORES

    A EXPERINCIA DA SEO DE SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR SEGUR

    MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGOSUPERINTENDNCIA REGIONAL DO TRABALHO E EMPREGO DO RIO GRANDE DO SUL

    2010

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    CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogao na Publicao.(Ana Lucia Wagner Bibliotecria responsvel CRB10/1396)

    B823 Brasil. Ministrio do Trabalho e Emprego. Superintendncia Regional do Trabalho eEmprego do Rio Grande do Sul.Embargo e interdio: instrumentos de preservao da vida e da sade dos trabalhadores;

    A experincia da Seo de Segurana e Sade do Trabalhador SEGUR. Porto Alegre:Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul. Seo deSegurana e Sade do Trabalhador/SEGUR, 2010

    XXX p. : il. ; 16x23cm.

    Apresentao de XXX Prefcio de Renato Barbedo Futuro.

    Cincias sociais. 2. Segurana no trabalho. 3. Proteo legal Trabalhador. 4. Embargo Interdio. 5. Trabalho Responsabilidade penal Previdenciria Trabalhista Civil Administrativa Tributria. 6. Princpio Precauo Preveno. 7. Instrumento de tutela.8. Risco. 9. Legislao internacional comparada. 10. Estatstica. 11. Ao judicial. I. Brasil.Ministrio do Trabalho e Emprego. Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego doRio Grande do Sul. II. Ttulo. III. Srie.

    CDU CDU 331.45:614.8

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    Trabalhando o salPra ver a mulher se vestir

    E ao chegar em casaEncontrar a famlia a sorrir

    Filho vir da escolaProblema maior, estudar

    Que pra no ter meu trabalhoE vida de gente levar

    Fragmento da obra Cano do Sal, de Milton Nascimento

    Aos trabalhadores,as maiores vtimas das entranhas tenebrosas do mundo do trabalho.

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    AGRADECIMENTOS

    Esta segunda publicao da Srie SEGUR/RS contou, novamente, com oinestimvel apoio da Associao Gacha dos Auditores-Fiscais do Tra-balho AGITRA. Registramos nossa profunda gratido a sua diretoriae a todos os seus associados.

    Por oportuno, tambm, necessrio agradecer a colaborao e o esforo co-letivo dos Auditores-Fiscais do Trabalho que enfrentaram as situaes de grave e

    iminente risco segurana e a sade dos trabalhadores e lavraram os competentesTermos de Embargo ou Interdio. A recuperao, a anlise, a seleo e a compi-lao dos registros histricos desses atos administrativos permitiram vencer essedesafio e oferecer sociedade essa obra.

    Estendemos nosso reconhecimento aos Agentes de Higiene e Segurana do

    Trabalho que muitas vezes acompanharam os Auditores-Fiscais em suas dilign-cias, bem como aos servidores administrativos e estagirios da SEGUR/RS, quederam suporte para a realizao deste trabalho.

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    APRESENTAO

    Esta publicao, que

    Zuher

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    PREFCIO

    Nos idos dos anos 70, a PREVENO (aes e atitudes relacionadas segurana e sade no trabalho) foi objetivo perseguido, salvo honrosasexcees, apenas pelo Estado. Trabalhadores, e especialmente o patro-

    nato, a encaravam como custo e no investimento. A incipiente conscincia pre-vencionista, mo-de-obra abundante e nus financeiro de total responsabilidadedo Estado ajudaram a delinear tal quadro.

    A evoluo legislativa experimentada desde ento, combinada com a aofirme e integrada dos rgos e poderes de Estado, redundou na responsabilizaotrabalhista, penal, previdenciria, civil, administrativa e tributria dos responsveis

    pelos danos causados aos trabalhadores, resultando numa reverso completadeste quadro.

    Hoje, a sociedade, de uma maneira geral, assume a preveno como investi-mento.

    Esta nova obra da srie SEGUR/SRTE/RS, resultado do esforo e daexperincia acumulada dos servidores do Ministrio do Trabalho e Emprego Auditores-Fiscais do Trabalho lotados na seo especializada que trata de pre-veno. E o faz de forma completa e abrangente, examinando as ferramentasEmbargo e Interdio de maneira acessvel a leigos e especialistas.

    O objetivo, continuamente perseguido, a preservao da sade e integridadefsica e mental dos trabalhadores.

    A AGITRA, mais uma vez, se sente honrada em participar deste projeto daSEGUR/SRTE/RS.

    Renato Barbedo FuturoPresidente da AGITRA

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    SUMRIO

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 17INTRODUO 19

    PARTE IFUNDAMENTOS E BASES LEGAIS DA SEGURANAE SADE NO TRABALHO

    1 A DIGNIDADE DO TRABALHADOR E O MEIO

    AMBIENTE DO TRABALHO 251.1 DIREITO VIDA E SADE NAS RELAESDE TRABALHO 25 1.2 PROTEO LEGAL DO MEIO AMBIENTE

    DO TRABALHO 29 1.3 RESPONSABILIDADES EM FACE DO MEIO

    AMBIENTE DO TRABALHO 31 1.3.1. Responsabilidade Penal 31 1.3.2 Responsabilidade Previdenciria 32

    1.3.3 Responsabilidade Trabalhista 33 1.3.4 Responsabilidade Civil 34 1.3.5 Responsabilidade Administrativa 35 1.3.6 Responsabilidade Tributria 37 1.4 PRINCPIOS DA PRECAUO E DA PREVENO 39

    2 O EMBARGO E A INTERDIO COMO INSTRUMENTOS DETUTELA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO 43

    2.1 CONTEXTO HISTRICO E BASES LEGAISDO EMBARGO E INTERDIO 43

    2.1.1 As Convenes da OIT 43 2.1.1.1 As Convenes 81 e 129 44 2.1.2 A Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) 46 2.1.3 A Norma Regulamentadora N. 03

    Embargo e Interdio 47 2.1.4 A Norma Regulamentadora N. 28 48

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    2.1.5 O Regulamento da Inspeo do Trabalho (RIT) 51 2.1.6 Delegao de Competncia aos Auditores-Fiscais

    do Trabalho 53

    2.1.7 Procedimentos de Embargo ou Interdiona SRTE/RS 54

    2.1.8 As primeiras intervenes 55 2.2 TPICOS DE LEGISLAO INTERNACIONAL

    COMPARADA 59 2.2.1 Introduo 59 2.2.2 Conveno 81 da OIT 59 2.2.3 Conveno 129 da OIT 60

    2.2.4 Concluso 68 2.3 SITUAES DE GRAVE E IMINENTE RISCO 71 2.3.1 Conceitos de Risco e Perigo 71 2.3.2 Gesto de Riscos 77 2.3.3 Riscos e Sofrimento Mental do Trabalhador 78 2.3.4 Os Riscos e as Normas Regulamentadoras 82 2.3.5 Riscos Ocultos 86

    PARTE IIA AO PREVENTIVA DOS AUDITORES-FISCAIS DOTRABALHO DA SEGUR/RS NAS SITUAES DE GRAVE EIMINENTE RISCO

    3 ESTATSTICAS DE EMBARGOS E INTERDIESENTRE 1999 E 2009 91 3.1 Embargos e Interdies Segundo o Municpio 93 3.1.2 Embargos e Interdies Segundo o Porte do

    Estabelecimento 95 3.2 Embargos e Interdies Segundo a AtividadeEconmica da Empresa 96

    3.2.1 Por seo da CNAE 96 3.2.2 Por seo, diviso e classe da CNAE 97 3.3 Embargos e Interdies Segundo o Tipo de objeto 98 3.3.1 Por classe de objeto 100 3.3.2 Anlise de cada classe: 100

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    3.3.2.1 Interdies de mquinas ouequipamento segundo a famlia 101

    3.3.2.2 Interdies de Setores ou Atividades

    segundo a famlia 101 3.3.2.3 Embargos de obra segundo o gnero 102 3.3.2.4 Interdies de Estabelecimentos

    segundo a CNAE 102 3.3.3 Objetos de embargo ou interdio

    segundo gneros 103 3.4 Embargos e Interdies segundo as medidas

    de preveno indicadas 104 3.4.1 Medidas indicadas em interdies 104 3.4.2 Medidas indicadas em embargos 105 3.5 Concluses 106

    4 ILUSTRAES DE SITUAES DE GRAVEE IMINENTE RISCO 107

    PARTE IIIAES JUDICIAIS RELACIONADAS A EMBARGOS E

    INTERDIES

    5 AES PLEITEANDO A DESCONSTITUIODE EMBARGOSOU INTERDIES 247 5.1 Resultado do Julgamento das Aes 252

    6 AES AJUIZADAS POR DESOBEDINCIA AEMBARGOS OU INTERDIES 259

    7 CONSIDERAES FINAIS 261

    ANEXOS 265

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    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ACGIH American Conference of Governmental Industrial Hygienists

    AFT Auditor-Fiscal do Trabalho

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    ART Anotao de Responsabilidade Tcnica

    ASO Atestado de Sade Ocupacional

    CF Constituio Federal

    CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes

    CIPATR Comisso Interna de Preveno de Acidentes do Trabalho Rural

    CLP Comando Lgico ProgramvelCLT Consolidao das Leis do Trabalho

    CNAE Classificao Nacional de Atividades Econmicas

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CNEN NN 3.01 Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica

    COMPROT Sistema de Comunicao e Protocolo

    CPROD Sistema de Controle de Processos e Documentos

    CTPS Carteira do Trabalho e Previdncia Social

    dB (A) Decibel, medido na escala de compensao A.dB (C) Decibel, medido na escala de compensao C.

    DIN Deustcher Industrie Normen

    DSST Departamento de Segurana e Sade no Trabalho

    EN European Norme

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    FAP Fator Acidentrio de Preveno

    FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Servio

    FISPQ Ficha de Informao de Segurana de Produto QumicoFundacentro Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho

    GcR Guarda-corpo e roda-p

    GIR Grave e Iminente Risco

    GLP Gs Liquefeito de Petrleo

    HCB Hexaclorobenzeno

    IARC International Agency for Research on Cancer

    IEC International Electrotechnical Commission

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    IN Instruo Normativa

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    IPVS Imediatamente Perigoso Vida e Sade

    ISO International Organization for Standardizationkg Quilograma

    kgf Quilograma-Fora

    LER/DORT Leso por esforos repetitivos/Disturbios osteo-musculares

    relacionados ao trabalho

    MTb Ministrio do Trabalho

    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    NBR Norma Brasileira

    NIC No identificado ou classificado

    NIOSH National Institute for Occupational Safety and HealthNM Norma Mercosul

    NR Norma Regulamentadora

    NRs Normas Regulamentadoras

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    PCMAT Programa de Condies e Meio Ambiente do Trabalho na Indstria da Construo

    PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional

    PET Permisso de Entrada e Trabalho

    POP Poluentes Orgnicos PersistentesPPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais

    PTMA Presso de Trabalho Mxima Admitida

    RAIS Relao Anual de Informaes Sociais

    RF Resultado de Fiscalizao

    RI Relatrio de Inspeo

    RIT Regulamento da Inspeo do trabalho

    RTP Recomendao Tcnica de Procedimentos

    SEGUR Seo de Segurana e Sade no Trabalho

    SESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do TrabalhoSESTR Servio Especializado em Segurana e Sade no Trabalho Rural

    SFIT Sistema Federal de Inspeo do Trabalho

    SRTE Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego

    SSMT Secretaria de Segurana e Medicina do Trabalho

    SSST Secretaria de Segurana e Sade no Trabalho

    SST Segurana e Sade do Trabalho

    TDI Diisocianato de Tolueno

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    INTRODUO

    AOrganizao Internacional do Trabalho (OIT) tem reconhecido, desdesua criao, a Inspeo do Trabalho como elemento fundamental deproteo aos trabalhadores. Suas recomendaes, nesta rea, culminaramcom a publicao da Conveno 81, em 1947, que j foi ratificada por 141 pasesdo mundo, entre eles o Brasil.1

    A Inspeo do Trabalho, em nosso pas, denominada de Auditoria Fiscal doTrabalho e enfrenta ainda variados desafios. Suas atribuies envolvem no apenaso dever de bem desempenhar o poder fiscalizatrio de Estado para intervir nasrelaes de trabalho, mas tambm de desenvolver novas estratgias que contribu-

    am para a construo de uma cultura de preveno e promoo da segurana esade para todos os trabalhadores. Essa nova cultura deve ser desenvolvida luzdas recentes demandas vinculadas modernizao dos processos de trabalho, incorporao de novas tecnologias, s novas formas de organizao do trabalho eaos riscos da emergentes, os quais vm aumentando a precariedade das condiese ambientes de trabalho.

    nesse propsito que inclumos a iniciativa de estudar e divulgar de formasistematizada os resultados de atividades tpicas da carreira da Auditoria Fiscal doTrabalho, na rea de segurana e sade dos trabalhadores.

    A meta mais ambiciosa desta proposta prover a sociedade, os trabalhadorese empregadores, sindicatos, profissionais e demais interessados, do conhecimentoadquirido nos Embargos e Interdies, de forma que possa ser utilizado paraevitar tragdias no trabalho.

    Em 2008, a Seo de Segurana e Sade no Trabalho SEGUR da Superin-tendncia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul, atravs da publicaoAnlises de Acidentes do Trabalho Fatais no Rio Grande do Sul, divulgou ma-terial tcnico a respeito de eventos, causas, modos de preveno e outros estudosacerca de acidentes do trabalho fatais analisados no perodo de 2001 a 2007, porseus Auditores-Fiscais.

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    Neste segundo volume da SRIE SEGUR/RS, vimos compartilhar o materiale a experincia adquiridos durante a atividade rotineira de fiscalizao em esta-belecimentos e locais de trabalho, quando da ocorrncia de situaes de grave

    e iminente risco vida, sade ou integridade fsica dos trabalhadores. Taiscircunstncias levam adoo de procedimentos especficos de interveno legal,denominados Interdio ou Embargo e que se caracterizam, essencialmente, pelaordem de paralisao de estabelecimento, setor de servio, mquina, equipamentoou embargo de obra em que se verifiquem as situaes mencionadas.

    As anlises de acidentes do trabalho j ocorridos destinam-se a identificar cau-sas a fim de prevenir ocorrncias semelhantes. Nos procedimentos de embargo einterdio, a interveno da Auditoria Fiscal do Trabalho pode ser entendida comoa aplicao do conhecimento adquirido em tais anlises, mas no s nelas.

    O Embargo e a Interdio, a luz do artigo 161 da Consolidao das Leis do

    Trabalho representam um ultimato da preveno de acidentes graves ou fatais, poisrevelam uma das piores situaes de desrespeito e descuido vida, segurana e asade do trabalhador. Seu resultado recompensador,do ponto de vista humano,especialmente quando o Estado consegue chegar a tempo. Agindo preventiva-mente, a Auditoria Fiscal do Trabalho contribui para evitar o acidente, a doena,a incapacidade laborativa ou a prpria morte do trabalhador, ou seja, a tempo deimpedir a ocorrncia de infortnios e, de fato, cumprir o seu papel na proteoao trabalho. Embargo e Interdio no so atos de punio empresa, no atode condenao por cometimento de infrao, mas sim um ato de proteo vida, sade e segurana dos trabalhadores.

    Atravs da divulgao do conhecimento e da experincia que est sendo com-partilhada nesta publicao, esperamos que esta ao preventiva seja ampliada,auxiliando a identificao das situaes de riscos mais freqentes e suas possveisconseqncias, e estimulando a aplicao das medidas legais cabveis, antes queos riscos produzam dor e sofrimento.

    Queremos que esta publicao seja entendida como uma colaborao para queos Auditores-Fiscais do Trabalho, os empregadores e trabalhadores, e todos ossegmentos interessados ou responsveis busquem mais intensamente condiesque garantam o trabalho decente, seguro e saudvel, para todos.

    Na Parte Idesta obra apresentamos os fundamentos e as bases legais da se-

    gurana e sade no trabalho, enfatizando o respeito dignidade do trabalhador,bem como discorremos sobre a proteo legal e as responsabilidades em face domeio ambiente do trabalho. Ressaltamos os princpios da precauo e da prevenocomo alicerces da proteo da segurana e sade dos trabalhadores. Apontamoso embargo e a interdio como instrumentos de tutela do meio ambiente dotrabalho e tecemos consideraes sobre o contexto histrico e as bases legais.Selecionamos tpicos de legislao internacional e apresentamos referenciaistcnicos e legais exemplificativos de situaes de grave e iminente risco, incluindoos fatores de risco ocultos.

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    SEGUR

    Na Parte IIdiscorremos sobre a ao preventiva dos Auditores-Fiscais doTrabalho/RS e apresentamos as estatsticas de casos de embargo e interdio no es-tado do Rio Grande do Sul, no perodo de 2003 a 2009. Divulgamos a distribuio

    desses eventos segundo variveis como municpios, porte dos estabelecimentos,atividade econmica da empresa, e tipos de objetos de embargo ou interdio,entre outros. Alm disso, elencamos itens de normas regulamentadoras vinculadosa estes atos administrativos. Ilustramos com figuras os objetos de situaes deembargo ou interdio, apontando as principais irregularidades constatadas pelaAuditoria Fiscal no momento da inspeo e tecemos alguns comentrios.

    Na Parte III analisamos brevemente as aes de Embargo ou Interdiolevadas ao Poder Judicirio, revelando que quase a totalidade das decises forammantidas a favor dos atos de embargo ou interdio.

    Nas consideraes finais, inclumos nossas sugestes quanto ao aperfeioamen-

    to da legislao de segurana e sade no trabalho no Brasil, no que diz respeitoao tema Embargo ou Interdio.No pretendemos esgotar o assunto, inclusive porque as tecnologias de produ-

    o e as formas de organizao e execuo do trabalho esto em constante mutao,controlando e eliminando muitos riscos segurana e sade dos trabalhadores,mas criando ou agravando outros.

    Acreditamos que o mais importante o desenvolvimento de uma conscinciacoletiva de que a soluo para os problemas de acidentes e doenas relacionadosao trabalho est em colocar a preveno e a precauo como princpio bsico emqualquer atividade humana.

    Os Organizadores

    Porto Alegre, agosto de 2010

    Nota

    1. Organizao Internacional do Trabalho. Disponvel em: Acesso em: 05 ago. 2009

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    PARTE I

    FUNDAMENTOS E BASES LEGAISDA SEGURANA E SADE NO TRABALHO

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    1.1 DIREITO VIDA E SADE NAS RELAES DE TRABALHO

    Aideia de valor inerente pessoa humana tem razes no pensamento cls-sico e no iderio das mais diferentes tradies religiosas. Por exemplo, nocaso do mundo ocidental, tanto no Antigo como no Novo Testamentopodemos encontrar referncias no sentido de que o ser humano foi criado imagem e semelhana de Deus, premissa da qual o cristianismo extraiu a conse-quncia de que o ser humano (e no apenas os cristos) dotado de um valorprprio que lhe intrnseco, no podendo ser transformado em mero objetoou instrumento 1.

    Na filosofia estica, a dignidade2 era tida como a qualidade que, por ser

    inerente aos seres humanos, os distinguia das demais criaturas e os tornavaiguais entre si 3.

    Construindo sua concepo a partir da natureza racional do ser humano, Im-manuel Kant aponta que o homem existe como um fim em si mesmo, no comomeio para o uso arbitrrio desta ou daquela vontade. Consequentemente, repudiatoda e qualquer espcie de coisificao e instrumentalizao do ser humano4.

    A dignidade pode ser definida como sendo a qualidade intrnseca e distintivade cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e considerao porparte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo dedireitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qual-quer ato de cunho degradante e desumano, como venha a lhe garantir as condiesexistenciais mnimas para uma vida saudvel, alm de propiciar e promover suaparticipao ativa e co-responsvel nos destinos da prpria existncia e da vidaem comunho com os demais seres humanos5.

    No mbito do direito constitucional positivo brasileiro, a dignidade reco-nhecida como princpio fundamental e esteio do Estado democrtico de Direi-to (Constituio Federal CF. art. 1, inciso III, do Ttulo I dos PrincpiosFundamentais), traduzindo a certeza de que a pessoa o fundamento e o fimda sociedade e do Estado6. Para sua efetivao, so reconhecidos direitos que

    1 A DIGNIDADE DO TRABALHADOR E OMEIO AMBIENTE DO TRABALHO

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    SEGUR

    tm por escopo, em sntese, garantir pautas relativas vida, liberdade, segurana,propriedade e igualdade.

    Dentro dessa perspectiva, a Constituio Federal de 1988 inscreve em seu

    texto uma gama considervel de direitos fundamentais, dentre os quais podemosdestacar os direitos vida (Caput do art. 5, da CF/1988) e sade (arts. 6 e 196a 200 da CF/1988) como os mais importantes, j que constituem pr-requisitospara a existncia e exerccio de todos os demais direitos7.

    Como enuncia Jos Antnio Ribeiro de Oliveira Silva8, esses direitos so torelevantes a ponto de os direitos de liberdade, ditos de primeira gerao, perderemgrande parte de seu sentido se o direito vida e sade no forem garantidos.

    A Organizao Internacional do Trabalho (OIT), na Conveno n. 1559, apre-senta um conceito amplo de sade, definindo que: o termo, sade, com relaoao trabalho, abrange no s a ausncia de afeces ou de doenas, mas tambm os

    elementos fsicos e mentais que afetam a sade e esto diretamente relacionadoscom a segurana e higiene no trabalho.No direito vida esto abrangidos os direitos integridade fsico-corporal e

    existncia. O primeiro est relacionado premissa de que agredir o corpo humano,em ltima anlise, um modo de agredir a vida; e o segundo consiste no direitode permanecer vivo, ou seja, de no ter o processo vital interrompido seno pelamorte espontnea ou inevitvel10.

    Nesse contexto, conforme Franco Filho11, o homem trabalhador deve servisto como sujeito-fim e no como objeto-meio do desenvolvimento, sendoinaceitvel que, pela atividade laboral, sofra prejuzos para sua sade, diminuio

    da sua capacidade de trabalho ou da sua expectativa de vida.A Constituio Federal de 1988, no seu art. 7, considerou como direitosfundamentais dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria da sua condio social: a reduo dos riscos inerentes ao trabalho, pormeio de normas de sade, higiene e segurana (inciso XXII), e o seguro contraacidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a queeste est obrigado quando incorrer em dolo ou culpa (XXVIII).

    Tais dispositivos so uma importante contribuio ao avano do Direito doTrabalho no Brasil, pois estabelecem aquilo que se pode chamar de ncleo intan-gvel dos direitos fundamentais do trabalhador, em que a segurana e sade so

    destacadas como pressupostos essenciais e necessrios preservao da dignidadenas relaes de trabalho12.

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    SEGUR

    Notas

    1 SARLET, Ingo Wolfgang, Dignidade da Pessoa Humana e direitos fundamentais na Constituio Federal de 1988. PortoAlegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 30.

    2O termo dignidade tem origem etimolgica na palavra dignitas, que significa respeitabilidade, prestgio, conside-rao, estima, nobreza, excelncia. Em outras palavras, aquilo que merece respeito e reverncia na busca de umavida digna.3SARLET, Ingo Wolfgang, Dignidade da Pessoa Humana e direitos fundamentais na Constituio Federal de 1988. Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2001, pp. 30-31.4Idem, pp. 31-34.5Idem, p. 60.6Idem, p. 66.7Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 8. ed. So Paulo: Atlas, 2000. pp. 61-62.8SILVA, Jos Antnio Ribeiro de Oliveira.A sade do Trabalhador na Constituio Federal e na Legislao infraconstitucional Avaliao Crtica. InDireitos Sociais na Constituio de 1988: uma anlise crtica vinte anos depois. Cludio JosMontesso, Marco Antnio de Freitas, Maria de Ftima Coelho Borges Stern Coordenadores. So Paulo: Ltr, 2008,p. 173.9A Conveno n. 155 da OIT foi ratificada pelo Brasil em 18/05/1992.10Idem, pp. 201-202.11FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. As mudanas no mundo: a globalizao, os princpios do Direito do Tra-balho e o futuro do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Porto Alegre: Sntese, vol. 66, n. 3, 2000, p. 42.12 CUNHA, Alexandre Teixeira de Freitas Bastos. Os direitos na Constituio vinte anos depois. As promessas cumpridas ouno. In Direitos Sociais na Constituio de 1988: uma anlise crtica vinte anos depois. Cludio Jos Montesso, MarcoAntnio de Freitas, Maria de Ftima Coelho Borges Stern Coordenadores. So Paulo: Ltr, 2008, p. 33.

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    1.2 PROTEO LEGAL DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

    ALei n 6.938/1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente,em seu artigo 3, inciso I, define meio ambiente como sendo o conjun-to de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica ebiolgica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

    A questo ambiental assumiu o status de norma de direito fundamentalno ordenamento jurdico brasileiro a partir da Constituio Federal de 1988,ao estabelecer, no seu artigo 225, que: Todos tm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadiaqualidade de vida1.

    Meio ambiente do trabalho, conforme a Conveno n 155 da OIT, sobreSegurana e Sade dos Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho, defi-nido como sendo todos os lugares onde os trabalhadores devem permanecerou onde tm que comparecer, e que estejam sob o controle, direto ou indireto,do empregador.

    Da mesma forma, a OIT, na conveno j mencionada, enuncia que a preven-o de acidentes e danos sade dos trabalhadores ocorrer mediante reduoao mnimo dos riscos inerentes ao meio-ambiente de trabalho.

    Diversas outras convenes da OIT relativas segurana e sade j foramratificadas pelo Brasil, refletindo o compromisso internacional do pas como assunto.

    No mbito constitucional, a proteo legal do meio ambiente laboral estprevista no direito reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio denormas de sade, higiene e segurana (artigo 7, inciso XXII) trata-se de normaincluda no rol dos Direitos Humanos Fundamentais. Alm disso, cabe observarque o Pas possui uma das mais avanadas e extensas legislaes a respeito damatria, a qual impe ao empregador o cumprimento de diversas prescriesnormativas com vistas a prevenir ao mximo os riscos de acidente e doenasocupacionais.

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    No plano infraconstitucional, a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT),aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943, traz um captulointeiro dedicado Segurana e Medicina do Trabalho2. Tais dispositivos so

    complementados por normas oriundas do Ministrio do Trabalho e Empre-go (MTE): as Normas Regulamentadoras (NR), estabelecidas na Portaria n.3.214/1978 e alteraes.

    Alm dos diplomas legais acima mencionados, normas complementares desade e segurana no trabalho podem ser estabelecidas ainda em cdigos de obras,em regulamentos sanitrios dos estados e municpios, em referncias tcnicascomo as da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), bem como emacordos ou convenes coletivas de trabalho (CF. art. 154 da CLT).

    No que tange ao cumprimento das normas, prev o disposto no art. 157da CLT e o item 1.7 da NR-01 que cabe s empresas: cumprir e fazer cumprir

    as disposies legais e regulamentares sobre segurana e medicina do trabalho;instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quanto s precaues a to-mar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais; adotaras medidas que lhe sejam determinadas pelo rgo regional competente; adotarmedidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condies inseguras detrabalho; e informar aos trabalhadores sobre os riscos profissionais que possamoriginar-se nos locais de trabalho, dentre outros.

    Tambm o art. 19 da Lei 8.213/1991, que dispe sobre os Planos de Benefciosda Previdncia Social, aponta que a empresa responsvel pela adoo e uso dasmedidas coletivas e individuais de proteo e segurana da sade do trabalhador,

    devendo prestar informaes pormenorizadas sobre os riscos da operao aexecutar e do produto a manipular.Em sntese, no resta dvida de que dever do empregador zelar por um meio

    ambiente saudvel e seguro, eliminando os agentes nocivos dos locais de trabalho,a fim de concretizar o respeito aos direitos fundamentais vida e sade, promo-vendo, em ltima anlise, o valor fundamental da dignidade da pessoa humana.

    Notas

    1MELO, Raimundo Simo de. Direito Ambiental do Trabalho e a Sade do Trabalhador: Responsabilidades Legais,dano material, dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2ed. So Paulo: LTr, 2006.2Importante ter em vista que o captulo denominado DA DURAO DO TRABALHO tambm traz regras quevisam a preservao da sade e segurana dos trabalhadores, consubstanciadas na limitao da jornada de trabalho,nos intervalos inter e intrajornadas, nos repousos semanais e nas frias anuais remuneradas. Nesse passo, como bemobserva Jos Antnio Ribeiro de Oliveira Silva, a maioria dos acidentes do trabalho ocorre no lapso de prestaode horas extras, sobretudo a partir da nona hora diria, em que maior o cansao e a fadiga e, por bvio, menora ateno e a concentrao do empregado. SILVA, Jos Antnio Ribeiro de Oliveira. A sade do Trabalhador naConstituio Federal e na Legislao infraconstitucional Avaliao Crtica. In: Direitos Sociais na Constituiode 1988: uma anlise crtica vinte anos depois. Cludio Jos Montesso, Marco Antnio de Freitas, Maria de FtimaCoelho Borges Stern Coordenadores. So Paulo: Ltr, 2008, p. 187.

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    1.3 RESPONSABILIDADES EM FACE DO MEIO AMBIENTEDO TRABALHO

    Tanto a Constituio Federal, quanto a legislao infraconstitucional, con-tm uma avanada estrutura legislativa no que se refere imposio depenalidades e reparaes pelos danos causados sade ou integridadefsica dos trabalhadores. Tais responsabilidades podem ser caracterizadas como denatureza: penal, previdenciria, trabalhista, civil e administrativa1. Acrescente-sea elas a responsabilidade tributria que incide sobre a contribuio das empresaspara o financiamento da aposentadoria especial e sobre o Fator Acidentrio de

    Preveno (FAP).

    1.3.1. Responsabilidade PenalA Lei 8.213/1991, no seu art. 19, 2, considera como contraveno penal,

    punvel com multa, que a empresa deixe de cumprir as normas de segurana ehigiene do trabalho. Isto , o simples fato de a empresa no cumprir as normasde sade e segurana, independentemente da ocorrncia de danos concretos sade e segurana dos trabalhadores, j tipifica tal figura penal.

    J em caso de acidente do trabalho, motivado pelo descumprimento de nor-

    mas de sade e segurana, podemos vislumbrar a possibilidade de configuraode tipos penais mais graves, tais como: homicdio culposo (art. 121 do CdigoPenal), em caso de morte do empregado; leso corporal culposa (art. 129, 6, doCdigo Penal), em caso de ocorrncia de danos integridade fsica do trabalha-dor; e exposio da vida ou da sade de outrem a perigo direto e iminente (art.132 do Cdigo Penal).

    O art. 132 do Cdigo Penal prev que expor a vida ou a sade de outrem a perigodireto e iminente sujeita o autor do fato pena de deteno de 3 meses a 1 ano. Ouseja, essa ao permite, em tese, a instaurao do processo criminal mesmo sem

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    ocorrer qualquer acidente ou dano, bastando para isso que ocorra uma situaode grave e iminente risco sade e/ou vida do trabalhador. Uma situao comoessa constitui um crime de perigo ou, como tambm denominado, um crime

    de periclitao da vida.Importa registrar que a motivao desse artigo, quando da elaborao doCdigo Penal, foi a de prevenir e combater os acidentes de trabalho no setorda construo civil2. Nesse sentido, na exposio de motivos do Cdigo Penal,o legislador ressaltou que o exemplo frequente e tpico desta species criminal ocaso do empreiteiro que, para poupar-se ao dispndio com medidas tcnicas deprudncia na execuo da obra, expe o operrio ao risco de grave acidente.

    Observe-se que para a configurao do referido tipo criminal, exige-se a de-monstrao de que a vida ou a sade de determinada pessoa tenha sofrido umrisco concreto, direto e iminente, tendo em vista a conduta dolosa comissiva ou

    omissiva do agente (caso em que o agente quer o perigo ou assume o risco deproduzi-lo).Assim, por exemplo, na hiptese em que o empregador se omita ao forneci-

    mento de equipamentos de proteo individual aos seus empregados, essa simplesomisso, consistente no descumprimento das normas de preveno, constituir acontraveno penal do art. 19 da Lei n. 8.213/91. Se, contudo, disso advier perigoconcreto aos empregados, a omisso ser enquadrada no tipo penal de que tratao art. 132 do Cdigo Penal3.

    Por fim, caso a exposio da vida ou da sade decorra de um transporte depessoas para a prestao de servios em estabelecimentos de qualquer natureza

    que esteja em desacordo com as normas legais, a pena aumentada de um sextoa um tero. A finalidade primordial de tal majorao tem por objetivo coibir otransporte dos trabalhadores em condies irregulares4.

    1.3.2 Responsabilidade Previdenciria

    Estabelece o art. 19 da Lei n 8.213/91 que: A empresa responsvel pelaadoo e uso das medidas coletivas e individuais de proteo e segurana da sadedo trabalhador ( 1); que Constitui contraveno penal, punvel com multa,deixar a empresa de cumprir as normas de segurana e higiene no trabalho (2);

    e que dever da empresa prestar informaes pormenorizadas sobre os riscosda operao a executar e do produto a manipular (3).

    Adicionalmente, nos casos de negligncia no cumprimento das normas-padrode segurana e higiene do trabalho, nos termos do art. 120 da Lei 8.213/1991, aPrevidncia Social propor ao regressiva contra os responsveis, com objetivode ressarcimento dos valores gastos com benefcios e servios previdencirios.Como se pode observar do texto legal, trata-se de uma imposio e no de merafaculdade do rgo oficial, que dever agir na proteo dos recursos pblicos emface da empresa ou de terceiros responsveis pelo evento acidentrio5.

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    Tal responsabilidade decorre do fato de que o risco coberto pelo seguro socialpblico e, via de consequncia, por toda a sociedade, somente o risco normal daatividade. O risco anormal, ou seja, o decorrente da falta de observncia das con-

    dies de segurana no ambiente do trabalho, enseja o ressarcimento ao errio6

    .Conforme Daniel Pulino, o seguro acidentrio, pblico e obrigatrio, no podeservir de alvar para que empresas negligentes com a sade e a prpria vida dotrabalhador fiquem acobertadas de sua irresponsabilidade, sob pena de constituir-se verdadeiro e perigoso estmulo a esta prtica socialmente indesejvel7.

    1.3.3 Responsabilidade Trabalhista

    As repercusses de natureza trabalhista em relao ao meio ambiente do tra-balho compreendem: a) o pagamento de adicional de insalubridade ou periculosi-

    dade; b) a estabilidade provisria para o acidentado; c) o recolhimento do Fundode Garantia por Tempo de Servio (FGTS) do acidentado durante o perodo depercepo do auxlio- doena acidentrio; e d) a resoluo do contrato de trabalhopor culpa do empregador.

    Cabe assinalar que, considerando os direitos fundamentais vida e sade, opagamento do adicional de insalubridade no exime as empresas de adotar todasas medidas, seja de ordem coletiva, seja mediante o fornecimento de equipamen-tos de proteo individual, seja atravs da mudana na organizao do trabalho,dentre outras possveis, com o intuito de eliminar ou neutralizar a insalubridadeexistente no ambiente de trabalho.

    O adicional de periculosidade, por sua vez, devido aos trabalhadores queexeram atividades com exposio e contato com: explosivos ou inflamveis, nostermos da NR16; sistemas eltricos de potncia em condies de risco, ou equi-pamentos e instalaes eltricas similares que ofeream risco equivalente, comoprevisto na Lei 7.369/1985 e no Decreto n. 93.412/1986; e radiaes ionizantesou substncias radioativas, conforme Portaria n. 3.393/1987.

    A estabilidade provisria do acidentado no trabalho prevista no art. 118 daLei 8.213/1991, nos seguintes termos: O segurado que sofreu acidente do traba-lho tem garantida, pelo prazo mnimo de 12 (doze) meses, a manuteno do seucontrato de trabalho na empresa, aps a cessao do auxlio-doena acidentrio,

    independentemente de percepo de auxlio acidente.Ainda com relao ao acidentado no trabalho, dispe o art. 14, 5, da Lei

    8.036/1990 que, nos casos de licena por acidente do trabalho, o empregadordever depositar o FGTS do empregado. Ou seja, os depsitos sero devidos en-quanto o trabalhador estiver gozando o benefcio de auxlio-doena acidentrio.

    Por fim, descumprindo a empresa as normas de proteo sade e seguran-a do trabalhador, seus empregados podero pleitear a resoluo do contrato detrabalho por justa causa do empregador, com fulcro no art. 483 da CLT, alneasa (quando forem exigidos servios superiores s suas foras ou defesos por

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    lei); c, (correr perigo manifesto de mal considervel); e d (o empregador nocumprir as obrigaes do contrato, entre as quais se inclui o cumprimento dasnormas de segurana e medicina no trabalho).

    1.3.4 Responsabilidade Civil

    Uma das questes de maior relevncia na atualidade a da responsabilidadecivil do empregador pelos danos sofridos por seus empregados em decorrncia dodescumprimento de normas de sade e segurana no trabalho. Tais responsabilida-des so verificadas principalmente nos casos de acidente do trabalho (incluindo-setambm as doenas ocupacionais) e podem resultar em indenizaes reparatriaspor danos de natureza material, moral e esttica. Encontram-se amparadas pelodisposto nos arts. 5, incisos V e X, e 7, inciso XXVIII, todos da CF.

    Tais indenizaes tm por fundamento o princpio jurdico segundo o qualaquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia e imprudncia, violardireito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito(ex vido art. 186 do Cdigo Civil) e fica obrigado a indenizar (ex vido art. 927do Cdigo Civil).

    As indenizaes por dano material abrangem no s o que o acidentado per-deu, mas tambm o que razoavelmente deixou de ganhar. Dessa forma, se doacidente do trabalho resultar diminuio da capacidade laborativa do empregado,a indenizao abranger uma penso correspondente importncia do trabalhopara o qual ficou inabilitado (ou da depreciao que sofreu), as despesas do trata-

    mento mdico (medicamentos, hospitais, fisioterapia, prteses, rteses, cadeira derodas, enfermeiros e acompanhantes) e aos lucros cessantes (tudo o que deixoude ganhar em razo do acidente)8,9.

    No que se refere s indenizaes por dano moral, individual ou coletivo, estasindependem da indenizao por dano material e da ocorrncia de acidente detrabalho. Nesse sentido, como observa Barbosa Garcia, O dano moral podeser direto ou indireto: o primeiro resulta da violao especfica de bem imaterial,causando sofrimento, dor psquica vtima ou desrespeitando a dignidade da pes-soa humana; o ltimo advm da leso patrimonial (do que decorre dano materialdireto), mas que acaba por causar menoscabo a direito extrapatrimonial 10.

    Assim, se o empregador, por exemplo, expuser o empregado a uma situa-o de risco no trabalho em descumprimento s normas de sade e segurana,desencadeando neste um sentimento de falta de apreo, angstia, repdio,dor e sofrimento em outras palavras, violando seu direito dignidade, oque configuraria o dano moral , ter o dever de indenizar11. Alm disso, nose exige a demonstrao (ou seja, a prova) de eventual sofrimento, aflio ououtro sentimento intimamente padecido pela vtima: basta a demonstrao dosacontecimentos causadores do dano12.

    Em relao ao dano esttico, este pode ser definido como sendo uma alterao

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    corporal morfolgica externa que causa constrangimento, repulsa e sentimentode desprezo no s para a pessoa ofendida, mas tambm para quem a observa,pela exposio da imagem alterada em razo da leso sofrida13. A respeito desse

    tema, ensina Barbosa Garcia14

    que o dano esttico abrangido pelo conceito dedano moral, embora merea, conforme o entendimento majoritrio da jurispru-dncia (inclusive do STJ), uma indenizao diferenciada e separada (a ser cumuladacom a indenizao pelo dano moral em si), em razo do direito de personalidadeespecificamente violado, como quando so verificadas sequelas, mutilaes oudeformaes fsicas, o que encontra fundamento na parte final do art. 949 doCdigo Civil de 2002.

    1.3.5 Responsabilidade Administrativa

    Nas palavras de Renato Bignami15, A inspeo do trabalho o instrumentomais eficaz que o Estado pode ter para amortecer o conflito capital versustraba-lho e dar dignidade para um grande nmero de cidados que se encontram emsituaes de extremo risco como crianas em trabalho precoce, trabalhadores emsituaes de trabalho degradante e forado, meio ambiente do trabalho sujeito ariscos extremos para a vida, apenas para citarmos os exemplos mais comuns.

    No Brasil, compete ao Sistema Federal de Inspeo do Trabalho, a cargo doMTE, assegurar, em todo o territrio nacional, a aplicao das disposies legaise regulamentares no que concerne proteo dos trabalhadores no exerccio daatividade laboral inclusive as disposies relacionadas segurana e sade no

    trabalho , s convenes internacionais ratificadas, aos atos e decises das auto-ridades competentes, e s convenes e acordos coletivos de trabalho16.

    Como ressalta Rober Renzo17, a inspeo do trabalho no inerte como oPoder Judicirio que necessita da provocao das partes atravs do exerccio dodireito subjetivo de ao. O processo de inspeo fiscal, ao contrrio, dinmicoe pr-ativo, indo a campo buscar e averiguar o fiel cumprimento das normastrabalhistas atravs da orientao a empregados e empregadores sobre a corretaaplicao das normas, a verificao in locoou atravs de diligncias indiretas documprimento das disposies legais e regulamentares de proteo ao trabalho(inclusive aquelas relacionadas segurana e sade do trabalho).

    Para realizao de tal mister, nos termos do disposto no art. 12 da Conven-o 81 da OIT18e do previsto nos art. 13, 14 e 18 do Decreto n. 4552/2002, osAuditores-Fiscais do Trabalho so autorizados:

    a) a ingressar, livremente, sem prvio aviso e em qualquer dia e horrio, emtodas as empresas, estabelecimentos e locais de trabalho, pblicos ou privados,estendendo-se aos profissionais liberais e instituies sem fins lucrativos, bemcomo s embarcaes estrangeiras em guas territoriais brasileiras;b) a proceder a todos os exames, controles e inquritos julgados necessrios

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    para assegurar que as disposies legais so efetivamente observadas;c) a interrogar as pessoas sujeitas inspeo do trabalho, seus prepostos ourepresentantes legais, bem como trabalhadores, sobre qualquer matria relativa

    aplicao das disposies legais e exigir-lhes documento de identifi

    cao;d) a expedir notificao para apresentao de documentos;e) a examinar e extrair dados e cpias de livros, arquivos e outros documentosque entenda necessrios ao exerccio de suas atribuies legais, inclusive quandomantidos em meio magntico ou eletrnico;f) a apreender, mediante termo, materiais, livros, papis, arquivos e documentos,inclusive quando mantidos em meio magntico ou eletrnico, que constituamprova material de infrao, ou, ainda, para exame ou instruo de processos;g) a inspecionar os locais de trabalho, o funcionamento de mquinas e a utili-zao de equipamentos e instalaes;

    h) a coletar materiais e substncias nos locais de trabalho para fins de anlise,bem como apreender equipamentos e outros itens relacionados com a seguranae sade no trabalho, lavrando o respectivo termo de apreenso.

    Uma vez constatada qualquer irregularidade no cumprimento das normas de sa-de e segurana no trabalho, os Auditores-Fiscais do Trabalho intervm nas relaesentre empregados e empregadores, podendo determinar as seguintes medidas:

    a) averiguar e analisar situaes com risco potencial de gerar doenas ocu-pacionais e acidentes do trabalho, determinando as medidas preventivas

    necessrias;b) notificar as pessoas sujeitas inspeo do trabalho sobre o cumprimentode obrigaes ou a correo de irregularidades e adoo de medidas que eli-minem os riscos para a sade e segurana dos trabalhadores nas instalaesou mtodos de trabalho;c) quando constatado grave e iminente risco para a sade ou segurana dostrabalhadores, expedir a notificao determinando a adoo de medidas deimediata aplicao;d) coletar materiais e substncias nos locais de trabalho para fins de anlise, bemcomo apreender equipamentos e outros itens relacionados com a segurana e

    sade no trabalho, lavrando o respectivo termo de apreenso;e) propor a interdio de estabelecimento, setor de servio, mquina ou equi-pamento, ou o embargo de obra, total ou parcial, quando constatar situaode grave e iminente risco sade ou integridade fsica do trabalhador, pormeio de emisso de laudo tcnico que indique a situao de risco verificadae especifique as medidas corretivas que devero ser adotadas pelas pessoassujeitas inspeo do trabalho, comunicando o fato imediatamente autori-dade competente;f) lavrar autos de infrao por inobservncia de disposies legais.

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    1.3.6 Responsabilidade Tributria

    A responsabilidade tributria, tanto no que se refere contribuio para Apo-

    sentadoria Especial que incide na contribuio da empresa e no do empregado, quanto no que se refere ao FAP que tambm incide sobre a contribuioda empresa, em percentual sobre toda a folha de pagamento vem suscitandoacirrado debate social, uma vez que a questo da subnotificao do adoecimentono trabalho vem sendo combatida pela Previdncia Social.

    O reconhecimento do carter acidentrio do agravo sade do trabalhadorpelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) impe custos adicionais aoempregador e o respeito estabilidade no emprego, inclusive recolhimentos doFGTS. Somando-se a isso a incidncia do FAP sobre as alquotas do Seguro deAcidentes de Trabalho (SAT), podero ocorrer grandes diferenas de tratamento

    tributrio entre os concorrentes diretos na mesma atividade econmica19.A partir da implementao do Nexo Tcnico Epidemiolgico Previdencirio(NTEP), que uma relao entre a classe CNAE e o agrupamento da Classi-ficao Internacional de Doenas, 10. edio (CID-10), construdo em baseepidemiolgica, a Previdncia Social vem utilizando mais uma ferramenta paraestabelecer os riscos que atingem a sade dos trabalhadores. Novos investimentosem preveno devero ocorrer, j que quem tiver maior nmero de registros deagravos sade, sejam acidentrios ou por fora no NTEP, pagar maiores taxasde seguro de acidentes de trabalho atravs do FAP, a ser cobrado individualmentede cada empresa.

    Para enfrentar o drama dos acidentes e das doenas do trabalho, a gesto par-ticipativa em SST no ambiente laboral deve congregar polticas, investimentos eresponsabilidades de todos os atores sociais. A participao efetiva da direo dasempresas imprescindvel para alcanar os objetivos prevencionistas.

    Notas

    Cf. MELO, Raimundo Simo de. Direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador: responsabilidades legais, danomaterial, dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 115.

    2Idem, p. 36.3CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial: dos crimes contra a pessoa, dos crimes contra o sentimentoreligioso e contra o respeito aos mortos (arts. 121 a 212), volume 2. So Paulo: Saraiva, 2003, p. 167.4Idem, p. 170.5Cf. MELO, Raimundo Simo de. Direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador: responsabilidades legais, danomaterial, dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2 ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 121.6MELO, Raimundo Simo de. Direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador: responsabilidades legais, dano material,dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 121.7Citado por CASTRO, Carlos Alberto Pereira de.Manual de direito previdencirio. 8 ed. Florianpolis: Conceito Edi-torial, 2007, p. 466.

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    8Dispe o Regulamento de Inspeo do Trabalho, no seu art. 18, inciso XIV, que compete aos Auditores-Fiscais doTrabalho analisar e investigar as causas dos acidentes do trabalho e das doenas ocupacionais, bem como as situaescom potencial para gerar tais eventos.9MELO, Raimundo Simo de. direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador: responsabilidades legais, dano material,

    dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 147.10GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa.Meio ambiente do trabalho: direito, segurana e medicina do trabalho. 2 ed. rev.atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2009, p. 89.11DANO MORAL COLETIVO. Uma vez configurado que a r violou direito trans-individual de ordem coletiva,infringindo normas de ordem pblica que regem a sade, segurana, higiene e meio ambiente do trabalho e do traba-lhador, devida a indenizao por dano moral coletivo, pois a atitude da r abala o sentimento de dignidade, falta deapreo e considerao, tendo reflexos na coletividade e causando grandes prejuzos sociedade (Ac. TRT 8 Regio,1 Turma, RO 5309/2002, Rel. Juiz Luis Ribeiro, julgado em 17.12.02., DOEPA de 19.12.02, Cad. 3, p. 1)12GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa.Meio ambiente do trabalho: direito, segurana e medicina do trabalho. 2 ed. rev.atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2009, p. 111.13Cf. MELO, Raimundo Simo de. Direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador: responsabilidades legais, dano

    material, dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 376.14GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa.Meio ambiente do trabalho: direito, segurana e medicina do trabalho. 2 ed. rev.atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2009, p. 90.15BIGNAMI, Renato. A inspeo do trabalho no Brasil: procedimentos especiais para a ao fiscal. So Paulo: LTr,2007, p. 39.16Cf. art. 1 do Decreto n. 4.552/2002, Regulamento de Inspeo do Trabalho.17RENZO, Rober. Fiscalizao do trabalho: doutrina e prtica. So Paulo: LTr, 2007, p. 78.18A Conveno n. 81 da OIT que trata sobre inspeo do trabalho foi ratificada pela Brasil em 11.10.1989.19MACHADO, Jorge; SORATTO, Lcia; CODO, Wanderlei (orgs): Sade e trabalho no brasil: uma revoluo silenciosa:O NTEP e a Previdncia Social. Petrpolis, RJ: Vozes, 2010.

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    1.4 PRINCPIOS DA PRECAUO E DA PREVENO

    Osucesso do adgio melhor prevenir do que remediar se explica emdireito ambiental pelo fato de que prevenir um dano ao meio ambiente prefervel sua reparao, primeiro porque a reparao s vezes extre-mamente custosa e, segundo, porque os danos muitas vezes so irreparveis1.

    Nesse contexto, inserem-se as chamadas regras de ouro do direito am-biental: os princpios da preveno e da precauo, que constituem os principaisorientadores das polticas relacionadas ao meio ambiente, alm de serem a basepara a estruturao do direito ambiental2.

    Esses dois princpios, apesar de possurem o mesmo significado no sentido

    de agir antecipadamente diante do risco ou do perigo, muitas vezes so tidosequivocadamente como sinnimos. Contudo, no obstante a sua aproximaosemntica, verifica-se que a preveno, etimologicamente, est relacionada com aao antecipada de sorte que evite dano ou mal, ao passo que a precauo estvinculada ao agir com comedimento, buscando evitar tudo o que se julga fontede erro ou de dano.

    Nesse sentido, a doutrina vem identificando a seguinte diferenciao entreos dois princpios: a preveno trata de riscos ou impactos j conhecidos pelacincia, ao passo que a precauo vai alm, alcanando tambm as atividades cujosefeitos ainda no haja uma certeza cientfica3.

    O princpio da preveno, posto de outra forma, entra em cena na esferatrabalhista quando houver certeza de dano ao ambiente de trabalho e, em ltimaanlise, aos trabalhadores. O nexo causal cientificamente comprovado. J emcaso de dvida e incerteza sobre as conseqncias que determinada substncia,equipamento, processo, ou aplicao cientfica causar aos trabalhadores, incideo princpio da precauo. Neste est presente a incerteza quanto potenciali-dade danosa.

    Os princpios da precauo e da preveno poderiam ser considerados osmegaprincpios ambientais, tendo em vista que os danos sade e integridade

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    fsica dos trabalhadores so inaceitveis. Sua ateno est voltada para o momentoanterior consumao do dano, ou seja, o do mero risco.

    Segundo Raimundo Simo Melo4, no meio ambiente do trabalho o homem

    trabalhador atingido direta e imediatamente pelos danos ambientais, razo por queno mbito trabalhista se deve levar risca este princpio fundamental, expressa-mente previsto na CF (art. 7, inciso XXII).

    O princpio da precauo foi destacado na Declarao do Rio de Janeiro de1992 sobre meio ambiente e desenvolvimento, nos seguintes termos: De modo aproteger o meio ambiente, o princpio da precauo deve ser amplamente obser-vado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaa dedanos srios ou irreversveis, a ausncia de absoluta certeza cientfica no deve serutilizada como razo para postergar medidas eficazes e economicamente viveispara prevenir a degradao ambiental.

    Na esfera trabalhista, a aplicao desse princpio pode ser vislumbrada emtodas as situaes de incerteza sobre a potencialidade danosa de determinadoproduto qumico ou agente biolgico cujo conhecimento sobre possveis efeitostoxicolgicos sobre a sade humana e o meio ambiente ainda seja incerto. Nessasituao, a aplicao do princpio da precauo recomenda a no exposio dostrabalhadores a tais produtos e agentes5.

    Oportuna a observao de Fbio Fernandes6no sentido de que: A efetividadedo princpio da preveno no meio ambiente do trabalho, alm de poupar vidas,transfere da sociedade e do Estado que financiam a Seguridade Social, a varivelambiental trabalhista para as empresas que devem, de uma vez por todas, inclu-la

    como prioridade e custo do seu empreendimento. Trata-se da aplicao do princ-pio da internalizao das externalidades, ou seja, uma vez que o empregador quemassume os riscos do empreendimento, dele a responsabilidade pelas despesastendentes ao fornecimento de um ambiente de trabalho sadio aos trabalhadores e,por isso, os custos dessa atuao a ele pertencem de forma exclusiva e no devemser suportadas pelo sistema de proteo estatal.

    No mbito internacional, encontramos referncia expressa preveno nodisposto da Conveno n 148 da OIT, ratificada pelo Brasil, a qual dispe noseu art. 9 que:

    ...

    Art. 9 Na medida do possvel, dever-se- eliminar todo o risco devido con-taminao do ar, ao rudo e s vibraes no local de trabalho:a) mediante medidas tcnicas aplicadas s novas instalaes e aos novosmtodos no momento de sua elaborao ou de sua instalao, ou mediantetcnicas aduzidas s instalaes ou operaes existentes, ou quando isto nofor possvel;b) mediante medidas complementares de organizao do trabalho....

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    Os princpios da precauo e da preveno refletem-se nas NRs, que tambmforam concebidas segundo uma concepo prevencionista. Dentre elas, destaca-sea NR 09, que trata do programa de preveno de riscos ambientais, cujos obje-

    tivos primordiais so a antecipao, reconhecimento, avaliao e eliminao oucontrole de riscos ambientais.Com relao ao embargo e interdio, cabe lembrar que se tratam de medi-

    das administrativas que objetivam prevenir a ocorrncia de acidentes do trabalhoe/ou doenas ocupacionais, cujo risco esteja na iminncia de ocorrer. Em casosassim, tais instrumentos so reservados para aqueles riscos que, caso no sejamimediatamente cessados, podem acarretar danos irreparveis sade e integridadefsica dos trabalhadores. Reiteramos que o embargo e a interdio no so atospunitivos empresa, mas de interveno preventiva do Estado na proteo davida e da sade dos trabalhadores em presena de situaes de grave e iminente

    risco.Assim, os critrios orientadores para implementao das referidas medidasadministrativas devem ser os princpios da preveno e da precauo, devendoser considerada a mera probabilidade do dano. Em outras palavras, no precisahaver certeza cientfica absoluta sobre a possvel ocorrncia do dano ao meioambiente ou sade do trabalhador. Basta que o suposto dano seja irreversvel eirreparvel para que no deixem de ser adotadas medidas efetivas de embargo einterdio, mesmo na dvida, porque a proteo da vida se sobrepe a qualqueraspecto econmico.

    Evidentemente o embargo e a interdio, como medidas administrativas que

    visam paralisao total ou parcial do estabelecimento, obra, setor de servio,mquina ou equipamentos, acarretam reflexos econmicos para as empresas. Noentanto, preciso compreender que o aspecto econmico no pode sobrepor-seao resguardo da vida e da sade dos trabalhadores, direitos fundamentais direta-mente relacionados com a promoo da dignidade da pessoa humana.

    Nesse sentido, o norte para a atuao fiscal deve ser sempre a proteo dapessoa humana, valor fonte de todos os valores, pelo que, em momento algum,se deve priorizar o aspecto econmico da atividade, a incerteza do dano, ou atmesmo algumas das formalidades do ato administrativo.

    Constituem exemplos aplicveis aos princpios da preveno e da precauo:

    exigncia de apreciao prvia de riscos em mquinas e equipamentos ad-quiridos pelas empresas;determinao de estudos de impacto de novas tecnologias na segurana esade dos trabalhadores;substituio de processos ou materiais que possam acarretar riscos gravesaos trabalhadores;impedimento do uso de novos produtos qumicos sem anlise dos efeitostoxicolgicos.

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    Notas

    Cf. CHAGAS, Ana Paula. O standard do custo economicamente aceitvel em Direito Ambiental Internacionale Comunitrio.In:mbito Jurdico, Rio Grande, 63, 01/04/2009 [Internet]. Disponvel emhttp://www.ambito-jurdico.com.br /site/index.php?n_link=revista_artigos _leitura&artigo_id=5932. Acesso em 15/07/2009.2Idem.3Cf. Marchesan, Ana Maria. Direito Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurdico, 2004, p.29.

    4MELO, Raimundo Simo de. Direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador: responsabilidades legais ,dano material, dano moral, dano esttico, perda de uma chance. 2ed. So Paulo: LTr, 2006, p.41.

    5 FERNANDES, Fbio.Meio ambiente em geral e meio ambiente do trabalho: uma viso sistmica. So Paulo: LTr, 2009,p. 106.

    6 ibidem p.109.

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    2 O EMBARGO E A INTERDIO COMO INSTRUMENTOSDE TUTELA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

    2.1 CONTEXTO HISTRICO E BASES LEGAIS DO EMBARGO E

    INTERDIO

    Na medida em que se consolidaram os ideais de igualdade e justia sociaisentre os povos, consagrados no prembulo da Constituio da Orga-nizao Internacional do Trabalho (OIT) de 1919 e na Declarao deFiladlfia em 1944, as legislaes da maioria dos pases passaram a prever garantiasfundamentais aos trabalhadores no que diz respeito s condies de segurana esade no trabalho, seguindo o modelo proposto pelas recomendaes e convenesdessa organizao.Assim, includos nessa perspectiva histrica, os procedimentos

    de embargo e interdio, como medidas de preveno de acidentes do trabalho,tm base legal relativamente recente e evoluram com grande rapidez.

    2.1.1 As Convenes da OIT

    A legislao de segurana e sade no trabalho apoia-se em princpios basilares,dos quais podem ser destacados dois, sem os quais todas as demais recomendaestcnicas e legais passam a ter eficcia duvidosa:

    O primeiro tem relao direta com o saber dos trabalhadores e consiste noreconhecimento legal do Direito de Recusa do prprio indivduo de expor sua

    segurana e sade a situaes de grave e iminente risco.O segundo consiste na previso de que o pessoal de servio pblico seja legal-

    mente investido do poder de determinar a paralisao de atividades que configuremsituaes dessa natureza.

    O direito de recusa est delineado em vrias convenes da OIT, entre asquais destacamos:

    Conveno 155: Sobre a segurana e sade dos trabalhadores e o meio ambiente de trabalho,adotada em Genebra, em 1981, durante a 67 Seo da Conferncia Internacional do Trabalho.Ratificada pelo Brasil em 1992.

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    Artigo 19:...

    f) o trabalhador informar de imediato ao seu superior hierrquico direto sobre qualquer situao detrabalho que ao seu juzo envolva, por motivos razoveis, um perigo iminente e grave para sua vida

    ou sua sade; enquanto o empregador no tenha tomado medidas corretivas, se forem necessrias,no poder exigir dos trabalhadores que reiniciem uma situao de trabalho onde exista com cartercontinuo um perigo grave e iminente para sua vida ou sua sade.

    Conveno 170:relativa segurana na utilizao de produtos qumicos no trabalho, adotadapela 77 Reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1990, ratificadaem 1995.

    Artigo 18

    1. Os trabalhadores devero ter o direito de afastar-se de qualquer perigo derivado da utilizao deprodutos qumicos quando tiverem motivos razoveis para acreditar que existe grave e iminente riscopara sua segurana ou sua sade, e devero indic-lo sem demora ao seu supervisor.

    Conveno 174 Sobre a Preveno de Acidentes Industriais Maiores, complementada pelaRecomendao n 181, adotadas em Genebra, em 2 e 22 de junho de 1993, respectivamente; rati-ficada pelo Brasil em 2001.

    Artigo 20...(e) nos limites de suas funes e sem correr o risco de serem, de alguma forma, prejudicados, tomarmedidas corretivas e, se necessrio, interromper a atividade onde, com base em seu treinamento eexperincia, considerem ter razovel justificativa para crer que haja risco iminente de acidente maior;

    informar seu supervisor antes, ou imediatamente depois, de tomar essa medida ou, se for o caso, soaro alarme;

    A previso de procedimentos de embargo ou interdio por parte de agentesde Estado, por sua vez, tem previso em outras convenes fundamentais, aseguir comentadas.

    2.1.1.1 As Convenes 81 e 129

    A Conveno 81 Sobre a Inspeo do Trabalho, adotada em 1947 pela OIT,indica a necessidade dos paises que a ratifiquem de manter um sistema de inspeodo trabalho em que os inspetores estejam autorizados a impor medidas destinadasa eliminar irregularidades constatadas que, a seu ver, constituam razovel ameaa segurana ou sade dos trabalhadores. Este dispositivo verificado, de formaquase idntica, na Conveno 129.

    A Conveno 81 registra textualmente em seu artigo 13:

    1. Os inspetores do trabalho sero autorizados a provocar medidas destinadas a eliminar irre-gularidades constatadas numa instalao, numa arrumao ou em mtodos de trabalho, sobre asquais possam ter motivo razovel para consider-las como uma ameaa sade ou segurana dostrabalhadores.

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    2. A fim de provocar essas ditas medidas, os inspetores tero o direito de, salvo recurso judicirio ouadministrativo que possa prever a legislao nacional, ordenar ou fazer que se ordene:...b) Que medidas imediatamente executrias sejam tomadas nos casos de perigo iminente para a sade

    e segurana dos trabalhadores.

    A Conveno 81 foi ratificada pelo Brasil atravs do Decreto Legislativon 24, de 29 de maio de 1956; depositada a ratificao em 25 de abril de 1957e promulgada pelo Decreto 41.721 de 25 de junho de 1957. Denunciada em1971, foi revigorada no pas em 1987, atravs do Decreto 95.461 de 11 dedezembro.

    Na Conveno 129, Inspeo do Trabalho na Agricultura, (ainda no ratificadapelo Brasil), verifica-se adicionalmente o texto a seguir:

    Artigo 18:1 Os inspetores do trabalho devem ser autorizados a tomar medidas destinadas a eliminar osdefeitos verificados numa instalao, num arranjo ou em mtodos de trabalho das empresas agrcolas,incluindo a utilizao de substncias perigosas, relativamente aos quais possam ter um motivo razovel

    para consider-los como ameaa para a sade e segurana.

    2 Para ficarem habilitados a tomar essas medidas, os inspetores tero o direito, sob reserva detodos os recursos judiciais ou administrativos que possam ser previstos pela legislao nacional, deordenar ou mandar:...b) Que se tomem medidas imediatamente executrias, que podero ir at suspenso do trabalho,nos casos de perigo iminente para a sade e a segurana.

    3 Se o processo descrito no pargrafo 2 acima no for compatvel com a prtica administrativa ejudicial do Membro, os inspetores tero o direito de apelar para a autoridade competente para queesta formule prescries ou mande tomar medidas imediatamente executrias.

    A referncia medida de suspenso do trabalho no caso de perigo grave eiminente segurana ou sade dos trabalhadores contida na conveno mais re-cente, a 129, considera a dificuldade dos pases de superar a oposio de algumasclasses de empregadores quanto possibilidade de agentes pblicos determinaremo embargo ou a interdio. Contudo, essa orientao representa uma afirmao

    da posio da OIT em relao ao poder inestimvel e indispensvel desse recursona preveno de mortes e adoecimentos no trabalho. Conforme publicao dessaOrganizao, os poderes de injuno dos inspetores, juntamente com o direitode visita nos estabelecimentos de trabalho, so fundamentais para a existncia deuma Inspeo do Trabalho eficaz. Nos registros do Secretariado Internacionaldo Trabalho: nos termos empregados pela legislao nacional para definir esse direito eesses poderes, bem como na maneira como so exercidos, que se revela a vontade do Estado depromover realmente uma poltica de proteo ao trabalho1.

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    O parecer da OIT sobre o assunto reforado em recente publicao denomi-nada Inspeo do Trabalho2, que analisa de forma aprofundada o modo comoas recomendaes e convenes sobre a inspeo do trabalho so postos em

    prtica no mundo. Este estudo integrou o Relatrio da 95 Sesso da ConfernciaInternacional do Trabalho realizada em 2006, e foi elaborado por um comit deperitos na aplicao de recomendaes e convenes.

    O relatrio registra:

    O Comit aproveita a oportunidade para, mais uma vez, chamar a ateno dos Membros paraa importncia que atribui ao exerccio efectivo pelos inspectores do trabalho da autoridade que lhes

    permite ordenar medidas com efeito executrio imediato a fim de eliminar perigos iminentes para asegurana e sade dos trabalhadores. Medidas tais como a suspenso da laborao ou do uso ou vendade produtos, encerramento do estabelecimento ou evacuao das instalaes, destinam-se essencialmentea garantir a proteco dos trabalhadores. Alm disso, e devido ao seu impacto sobre as actividadese lucros das empresas, as medidas tm igualmente um efeito dissuasor que tender inevitavelmente a

    promover o respeito pelos princpios de segurana.Estas medidas necessitam de ser acompanhadas por procedimentos de recurso que no suspendam asinjunes e que permitam s autoridades competentes tomarem medidas cleres.

    2.1.2 A Consolidao das Leis do Trabalho (CLT)

    Em nosso pas, a verso inicial da CLT, constante no Decreto-Lei n 5.452de 1 de maio de 1943, no continha o artigo 161,nem no formato em que oconhecemos atualmente, nem mesmo em outro com o mesmo contedo.

    Foi somente em 1967, atravs do Decreto-Lei n 229 de 28 de fevereiro que

    alterava a CLT, que passou a se verificar dispositivo nesse sentido, ainda que di-rigido a uma situao muito especfica. Assim, previa o artigo 163 que poderser embargada pela autoridade competente em matria de segurana e higienedo trabalho a construo de estabelecimento industrial novo ou de acrscimo ao j existente,quando contrariar ao disposto no presente Captulo (referia-se ao Captulo V,Segurana e Higiene do Trabalho).

    Posteriormente, a Portaria n. 15, de 18 de agosto de 1972, do DepartamentoNacional de Segurana e Higiene do Trabalho (que fazia parte do denominadoMinistrio do Trabalho e Previdncia Social), aprovou as Normas de Seguranado Trabalho nas Atividades da Construo Civil. Esta Portaria era particular-

    mente dirigida rea da construo civil e foi uma das precursoras da atual NR18, ao determinar com maior detalhamento medidas de segurana e sade aplic-veis em diversos aspectos dessa atividade tais como: armazenagem de materiais,condies de mquinas e equipamentos, ferramentas, demolies, escavaes,fundaes, andaimes, instalaes eltricas, e outras, relativas a canteiros de obras.No captulo XI dessa Portaria, denominado Fiscalizao, encontram-se os artigos166, 167 e 168 e pargrafos, cuja redao a seguir transcrita:

    Art. 166: Cabe s autoridades regionais competentes em matria de segurana e higiene do trabalhoa fiscalizao do cumprimento desta Portaria.

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    Art. 167. O infrator de dispositivo das presentes Normas fica sujeito s penalidades previstas naConsolidao das Leis do Trabalho.

    Art. 168. Independente das sanes previstas, poder ser solicitada interdio parcial ou total da

    obra, de mquinas, de equipamentos ou de reas de trabalho, quando o rgo regional competenteem segurana e higiene do trabalho constatar que o descumprimento de disposies legais importe emperigo iminente para a sade e segurana do trabalhador.

    1. A interdio ser solicitada pela Delegacia Regional do Trabalho s autoridades estaduaisou municipais competentes, conforme o caso, constando da solicitao, especificamente, os motivosdeterminantes desta medida.

    2. A desinterdio ser solicitada pelo Delegado Regional do Trabalho s autoridades estaduaisou municipais competentes, quando cessados os motivos determinantes da interdio.

    Finalmente, a Lei n 6514 de 22 de dezembro de 1977 (que alterou novamente

    a CLT e, em especial, o Captulo V, relativo segurana e medicina do trabalho)deu ao artigo 161 e seus pargrafos a redao atualmente em vigor, constante noAnexo A. Este dispositivo introduziu a expresso grave e iminente risco para otrabalhador e estabeleceu a competncia do Delegado Regional do Trabalho paraembargar ou interditar. Incluiu tambm: a necessidade de existir laudo tcnicoque caracterize o risco; a indicao das providncias necessrias para prevenodos acidentes do trabalho; e, ainda, a possibilidade de ser requerido embargo ouinterdio pelo servio competente da Delegacia Regional do Trabalho, por umagente da inspeo do trabalho ou por uma entidade sindical. Merece destaque aincluso no texto da CLT, por meio da Lei n 6.514/1977, da previso de rece-bimento de salrios pelos trabalhadores como se em efetivo exerccio estivessemdurante a paralisao de servios em decorrncia de embargo ou interdio.

    2.1.3 A Norma Regulamentadora N. 03 Embargo e Interdio

    Foi tambm a Lei n 6.514 de 1977, ao dar nova redao ao artigo 200 da CLT,que remeteu ao MTE a competncia de estabelecer disposies complementaresao Captulo V da CLT e permitiu a aprovao das Normas Regulamentadoras NR da Portaria 3.214 de 08 de junho de 1978.

    A partir deste texto, o procedimento de embargo ou interdio passou a ter

    regulamentao especfi

    ca, atravs da NR 03, denominada Embargo e Interdio.Essa normatizao trouxe progresso legislao de segurana e sade no traba-lho ao dotar as instncias locais do MTE, na figura do Delegado Regional (atualSuperintendente), de instrumento mais efetivo na preveno de acidentes gravese fatais. Ainda que observados os princpios constitucionais de ampla defesa, queas empresas possam recorrer do ato de embargo ou interdio tanto pela via ad-ministrativa, quanto pela via judicial, elas devem antes de tudoatender ao comandolegal de paralisar imediatamente a obra, atividade, setor, mquina ou equipamentointerditado ou embargado enquanto perdurar a situao de grave e iminente risco.

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    Com isso, assinala a legislao de forma indelvel que o direito humano vida e integridade fsica se sobrepe a qualquer outro.

    Finalmente, a Portaria SSMT n 06, de 09 de maro de 1983, deu NR 03 o

    texto atual, que pode ser consultado no Anexo B.Registramos, por oportuno, que h duas diferenas importantes entre a redaoda NR 03 em 1978 e de sua reviso em 1983:

    1. A definio de grave e iminente risco, de que, na verso atualmente vigente,foi suprimida a expresso de imediato no que se refere ao potencial de pro-duzir doenas ou acidentes do trabalho. Essa alterao traduz uma evoluoconceitual e tcnica importante, uma vez que inclui situaes nas quais o efeito(dano sobre a sade ou integridade fsica) da exposio ao fator de risco pode serverificado apenas muito tempo depois de cessada, como o caso da exposio

    a substncias cancergenas, neurotxicas, mielotxicas, entre outras.2. Incorpora, na verso atual, a obrigatoriedade de pagamento de salrios aostrabalhadores durante a vigncia do embargo ou interdio, refletindo o textoatualizado da CLT pela Lei n 6514/77.

    Um quadro com estudo comparativo entre o texto da NR 03 atualmente emvigor e o original de 1978 est disponvel no site:

    https://sites.google.com/a/agitra.org.br/embargo-e-interdicao.

    2.1.4 A Norma Regulamentadora N. 28O texto original da NR 28, publicado pela Portaria n. 3214 de 1978 do MTE,

    era extenso e continha diversos itens relativos a atribuies dos Auditores-Fiscaisdo Trabalho (ento, denominados agentes da inspeo do trabalho, mdicos dotrabalho e engenheiros). Os itens relativos a situaes de grave e iminente riscolimitavam-se aos seguintes:

    (sobre as competncias do engenheiro e do mdico do trabalho):...

    - item 28.2.1.7. Determinar medidas tcnicas de proteo ao trabalho, de imediato e irre-cusvel cumprimento pelo empregador, sempre que comprove a existncia de perigo iminentepara a sade ou a segurana dos trabalhadores;

    Mais adiante, determinava quanto aos agentes de inspeo, engenheiros emdicos:

    item 28.3.3. Quando o Agente de Inspeo do Trabalho da DRT verificarque o fato consignado na notificao pode ocasionar grave e iminente risco para

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    o trabalhador, dever requerer ao Delegado Regional do Trabalho o embargoda obra ou a interdio do estabelecimento, setor, mquina ou equipamentonos termos da Norma Regulamentadora (NR 3).

    Verificamos, no primeiro texto da NR 28, a explicitao de obrigatoriedadede lavratura de autos de infrao em vista do descumprimento da legislao desegurana e sade contida em algumas normas, entre elas a NR 03. As demaisnormas listadas, conforme se pode conferir pelo texto a seguir, devido naturezada atividade, dos equipamentos ou dos materiais utilizados no trabalho, tambmeram passveis de conter, com maior probabilidade, situaes de ameaa iminente vida e sade:

    Item 28.4.2. Independe de notificao, sendo desde logo lavrado o Auto de

    Infrao pelo Engenheiro ou pelo Mdico do Trabalho da DRT, quando setratar de descumprimento das seguintes obrigaes:

    NR 3 Embargo e Interdio.NR 8 Edificaes.NR 13 Vasos sob Presso.NR 18 Obras de Construo, Demolio e Reparos.NR 19 Explosivos.NR 20 Combustveis Lquidos e Inflamveis.NR 23 Proteo contra Incndios.

    A Portaria SSMT n 07, de 15 de maro de 1983, alterou a NR 28, suprimindoos itens relativos maioria das atribuies dos AFT, ento fiscais do trabalho,mdicos do trabalho e engenheiros, uma vez que tais itens j estavam contidos noRegulamento da Inspeo do Trabalho (RIT), remetendo-os a este ltimo texto.

    Essa portaria incluiu, tambm, alguns itens novos que indicavam maior rigorna legislao de segurana e sade do trabalho (SST), como a possibilidade dereiterada ao fiscal. Estes itens, transcritos a seguir, foram, mais tarde, alteradose/ou remetidos a outros textos legais:

    Item 28.1.2. Aqueles que violarem as disposies legais e ou regulamentares relativas Segurana e ou Medicina do Trabalho ou se mostrarem negligentes na sua aplicao, deixan-do de atender s orientaes, advertncias, notificaes, intimaes ou sanes da autoridadecompetente, sero passveis de reiterada ao fiscal que poder perdurar at o seu definitivocumprimento....item 28.4.7. Constatada situao de grave e iminente risco para a vida ou sade do traba-lhador, em local cuja distncia geogrfica impossibilite imediato requerimento ao DelegadoRegional do Trabalho ou Delegado do Trabalho Martimo, para efeito do embargo ou inter-

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    dio, o Agente da Inspeo do Trabalho dever solicitar cooperao da autoridade pblicalocal, com vistas a adoo de medidas de efeito imediato, objetivando a eliminao do risco.

    A Portaria SSMT n 03, de 1 de julho de 1992, por sua vez, alterou a NR 28,conferindo ao rgo de mbito nacional em matria de segurana e sade do tra-balhador a prerrogativa de determinar embargo ou interdio, alm da autoridaderegional (Delegado). Essa portaria, notavelmente, previa o embargo ou interdioindependentementede situao de grave e iminente risco. Esse texto veio a ser retiradoapenas trs meses depois, por motivos no explicados:

    subitem 28.1.3. O rgo de mbito nacional competente em matria de segurana e sade dotrabalhador ou a autoridade regional competente vista de relatrio circunstanciado elaborado pelo

    Agente de Inspeo do Trabalho, independentemente de situao de grave e iminente risco, poderinterditar a empresa, o estabelecimento, setor de servio, mquina ou equipamento, ou embargar obra,

    por descumprimento reiterado das disposies legais e ou regulamentares sobre segurana e sade dotrabalhador. (grifos nossos).

    A mesma portaria passa, tambm, a dar NR 28 um item (28.2) em separa-do, intitulado Embargo e Interdio, que sistematiza o procedimento conformetranscrito abaixo e semelhana das alteraes inseridas na NR 03:

    28.2.1. Quando o Agente da Inspeo do Trabalho constatar situao de grave e iminenterisco sade e a integridade fsica do trabalhador, com base em critrios tcnicos deverde imediato propor autoridade regional competente em matria de segurana e sade do

    trabalho, a interdio do estabelecimento, setor de servio, mquina ou equipamento, ou oembargo da obra, determinando as medidas que devero ser adotadas para a correo dasituao de risco, e noprazo mximo de vinte e quatro horas, encaminhar laudo tcnico autoridade competente para fins de ratificao. importante salientar que esse item permite que o embargo e a interdio avan-

    cem alm do legislado, desde que alicerados em critrio tcnico. Tal possibilidadeatende a recomendao da OIT. De fato, o estudo anteriormente citado2sobre aInspeo do Trabalho e que integrou o Relatrio da 95 Sesso da ConfernciaInternacional do Trabalho realizada em 2006, registra:

    O perigo pode ser consequncia, embora no necessariamente, do incumprimento da lei. Se a segu-rana e sade dos trabalhadores estiver sob ameaa iminente, no adianta investigar a existncia deuma infraco. A prioridade, numa situao dessas, eliminar o perigo. Em tais casos, os inspectoresdo trabalho prescrevem medidas que podem incluir a suspenso da laborao ou o encerramento deum estabelecimento, consoante a gravidade do perigo. A atribuio de poderes directos ou indirectosde injuno aos inspectores do trabalho destina-se, acima de tudo, a proteger os trabalhadores dos

    perigos para a sua segurana e sade. Ainda assim, procedimentos judiciais contra os empregadorespodem ser iniciados ou recomendados simultaneamente ou subsequentemente pelos inspectores do

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    trabalho, em conformidade com os Artigos 17 e 18 da Conveno N 81 e artigos 22 a 24 daConveno N 129, se ficar demonstrado que as deficincias que deram azo ao perigo resultaram deuma infraco legislao relevante. Esta distino entre os objectivos de proteco dos trabalhadores

    e os procedimentos judiciais contra infraces s leis e regulamentos sobre segurana e sade cruciale est consagrada na maioria das legislaes nacionais.A Portaria 03 tambmrepetia o texto do item 28.1.3 e esclarecia o significado

    de descumprimento reiterado, conforme se transcreve a seguir:

    28.2.3. O rgo de mbito nacional competente em matria de segurana e sade do traba-lhador ou a autoridade regional competente vista de relatrio circunstanciado elaborado peloAgente da Inspeo do Trabalho, independentemente de situao de grave e iminente risco,poder interditar a empresa, o estabelecimento, setor de servio, mquina ou equipamento,

    ou embargar obra, por descumprimento reiterado das disposies legais e ou regulamentaressobre segurana e sade do trabalhador.

    28.2.3.1. Entende-se por descumprimento reiterado a lavratura do auto de infrao portrs vezes no tocante ao descumprimento do mesmo item de norma regulamentadora ou anegligncia do empregador em sade do trabalhador, violando-as s advertncias, intimaesou sanes e sob reiterada aofiscal por parte dos agentes da inspeo do trabalho.

    A NR 28 foi novamente modificada, como j registramos, e republicada comintervalo de pouco mais de trs meses, em 05 de outubro de 1992, atravs da

    Portaria DSST n. 07. O texto vigente est transcrito no Apndice C.

    2.1.5 O Regulamento da Inspeo do Trabalho (RIT)

    Um servio nacional de inspeo de segurana e sade no trabalho j existia,teoricamente, no Brasil, desde 1923, quando foi criada a Inspetoria de HigieneIndustrial e Profissional junto ao Departamento Nacional de Sade, o qual viriaa dar origem ao Ministrio da Sade.

    Em sequncia e na mesma poca em que foi promulgada a segunda Lei de Aci-dentes do Trabalho, pelo Decreto 24.637 de julho de 1934, foi criada a Inspetoria

    de Higiene e Segurana do Trabalho, subordinada ao Departamento Nacional doTrabalho do Ministrio do Trabalho Indstria e Comrcio. No mesmo ano, esseMinistrio nomeou os primeiros inspetores mdicos do pas a fim de que elesrealizassem a inspeo de higiene nos locais de trabalho e estudos em busca deacidentes e doenas profissionais. Essa Inspetoria transformou-se, em 1938, emServio de Higiene do Trabalho e em Diviso de Higiene e Segurana do Trabalho,em 1942. Ao longo dos anos, tais servios teriam relevncia varivel dentro daInstituio e tomariam diversas denominaes, em conformidade com as polticaspblicas adotadas no pas. Uma Inspeo de Segurana e Sade no Trabalho que,

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    no passado, chegou a ser representada por uma secretaria, atualmente est restritaa um Departamento da Secretaria de Inspeo do Trabalho, contando com verbaoramentria e pessoal reduzidos.

    De qualquer forma, embora criadas com o Decreto-Lei n 6.479 de 1944, ascarreiras de inspetor do trabalho, engenheiro e mdico do trabalho no quadro doMinistrio do Trabalho, Indstria e Comrcio e apesar de ratificada a Conveno81, em 1957, foi apenas em 1965, atravs do Decreto 55.841, que foi aprovado oRIT. Esse Regulamento previa, entre outros itens, a notificao pelos Inspetoresdo Trabalho para a adoo de medidas de imediata aplicao por parte das em-presas, e a competncia dos mdicos do trabalho e engenheiros do Ministrio dedeterminar medidas tcnicas de proteo ao trabalho de cumprimento imediatoe irrecusvel pelo empregador sempre que comprovada a existncia de perigoiminente para a sade ou para a segurana dos trabalhadores. No havia meno

    aos termos Embargo e/ou Interdio, o que pode ser verificado no texto a seguir,no artigo 12:... 3. No caso de perigo iminente para a sade ou a segurana dos trabalhadores, os Agentesda Inspeo do Trabalho dirigir-se-o auto