livro celso mello - capituloo conteÚdo do regime jurídico-administrativo e seu valor metodolÓgico

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  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

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    faz, ao

    trat-lo

    em suas expresses especficas consubstanciadas e tra

    duzidas nos diferentes institutos.

    4. Acredita-se

    que

    o progresso do

    direito

    administrativo e a pr

    ~ r i anlise global de suas futuras tendncias dependem,

    em grande

    parte,

    da

    identicao

    das idias

    centrais que

    o

    norteiam na

    atuali

    dade,

    assim como da metdica deduo

    de

    todos os princpios subordi-

    nados e subprincpios que descansam originriamente nas noes ca-

    tegoriais

    que

    presidem sua organicidade.

    5. O que importa sobretudo conhecer o direito

    administrativo

    como

    um sistema coerente

    e lgico, investigando liminarmente as

    noes que

    instrumentam sua

    compreenso sob uma perspectiva

    unitria.

    oportuno

    aqui

    recordar

    as

    palavras de

    Geraldo Ataliba:

    O

    carter

    orgnico das realidades componentes do

    mundo

    que nos

    cerca e o

    carter

    lgico do

    pensamento

    humano conduzem o homem

    a abordar

    as

    realidades que pretende estudar, sob critrios unitrios,

    de

    alta utilidade

    cientfica e convenincia pedaggica,

    em tentativa de

    reconhecimento

    coerente

    e harmnico da composio

    de

    diversos ele

    mentos

    em

    um todo unitrio, integrado

    em uma

    realidade maior. A esta

    composio de elementos, sob perspectiva unitria, se denomina

    sistema. l

    6. A ste sistema,

    reportado

    ao direito administrativo, designa

    mos regime jurdico-administrativo. Feitas estas consideraes preli

    minares,

    importa

    indicar quais so, em nosso entender, as pedras

    de

    toque do regime jurdico-administrativo.

    Partindo

    do universal

    para

    o particular, diramos

    que

    o direito

    administrativo, entroncado que est no direito pblico, reproduz, no

    geral, as caractersticas do

    regime de

    direito pblico, acrescidas que

    las

    que

    o especificam dentro dle. Aqule resulta da caracterizao

    normativa

    de

    determinados intersses como

    pertinentes

    sociedade e

    no aos particulares.

    Juridicamente

    esta caracterizao consiste, no direito administra

    tivo, segundo nosso modo

    de

    ver,

    na

    atribuio

    de uma

    disciplina

    nor

    mativa peculiar que,

    fundamentalmente,

    se delineia em funo da con

    sagrao

    de

    dois princpios:

    A -

    Supremacia

    do

    intersse pblico sbre

    o

    privado;

    B Indisponibilidade dos intersses pblicos.

    7. Interessam-nos, aqui, repita-se, stes aspectos porque perti

    nentes ao regime pblico especificamente

    administrativo.

    Concerne

    funo estatal,

    exercitada

    tanto

    atravs

    do corpo de rgos

    no

    perso-

    I

    Geraldo Ataliba. istema

    Constitucional Tributrio Brasileiro. 1966, p go 4.

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    -

    1 0 -

    nalizados

    que

    compem a chamada Administrao

    em

    sentido orgnico

    - coincidindo

    grosso

    modo com os rgos do

    Poder

    Executivo - quanto

    atravs

    das

    pessoas pblicas

    exclusivamente administrativas,

    desig

    nadas

    na tcnica do

    direito italiano

    e

    brasileiro

    como

    autarquias .

    8. os dois princpios,

    referidos

    acima, so

    aqui

    realados no

    em

    si mesmos

    mas

    em suas repercusses no ordenamento

    jurdico em

    geral.

    Assim, tm importncia, sem dvida, suas justificaes tericas, mas,

    para o jurista, o

    que interessa

    mais, como dado fundamental, a

    tra

    duo dles no sistema.

    Com isto se esclarece inexistir o propsito de

    lhes conferir

    valor

    absoluto -

    moda

    do que Duguit fazia com o servio pblico, por

    exemplo.

    2

    Atribui-se-lhes a importncia de

    pontos

    fundamentais do di

    reito

    administrativo,

    no porque possuam em si mesmos a virtude de

    se

    imporem

    como

    fontes

    necessrias do regime,

    mas

    porque, investi

    gando o ordenamento

    jurdico administrativo,

    acredita-se que les

    hajam

    sido encampados por le e

    nesta

    condio validados como fonte

    matriz do sistema.

    Logo, no se lhes d um

    valor

    intrnseco, perene e imutvel. D

    se-lhes importncia

    fundamental

    porque se julga que foi o ordena

    mento jurdico

    que

    assim os qualificou.

    9. Vai-se, portanto, daqui por diante,

    procurar

    examinar, do modo

    mais

    sinttico possvel,

    em

    que

    consiste a

    traduo jurdica

    daqueles

    dois princpios mencionados.

    Todo o sistema de Direito Administrativo a nosso ver se cons-

    tri sbre

    os

    mencionados princpios da supremacia

    do

    intersse p-

    blico sbre

    o

    particular

    e

    indisponibilidade

    do intersse

    pblico.

    2 Para Duguit o valor da noo de servio pblico no descansava na acolhida que lhe

    desse o sistema normativo, mas, pelo

    contrrio

    residia em si mesmo e bem por isso tinha que

    se impor aos legisladores que cedo ou

    tarde ,

    se veriam arrastados ou compelidos ao reconheci

    mento de que tais ou Quais atividades so

    por

    si mesmas servio pblico enquanto outras, tambm

    por

    si mesmas, no o so (Leon Duguit - Trait e Droit Constitutionnell 2' ed., 1923, tomo l i ,

    pgs., 54

    e segs.). Note-se

    Que

    conceito

    desta

    ordem

    antes

    sociolgico que jurldico e serve muito

    bem como fundamento politio

    para

    o direito administrativo, mas no se lhe

    adapta

    como

    critrio.

    elucidativa sua disputa com jeze, a propsito da questo.

    Enquanto Duguit

    pretendia

    reconhecer o servio pblico na

    prpria

    realidade social,

    jeze

    pretendia

    localiz-lo na Inteno dos governantes . Isto significa que ste ltimo buscava

    UI

    critrio jurdico, deduzlve1 a partir do

    regime

    atribuido

    pela

    lei;

    alis, o que faz

    questo

    de

    frisar, (vide a

    propsito as pgs.

    67 e 68 do

    Trait

    de Duguit, vol. clt. e

    as pgs. 8

    e seguintes

    e sobretudo,

    nota

    de

    rodap n9

    35 dos

    Princlpios Oenerales deI Derecho Administrativo

    de jeze,

    traduo argentina

    da

    3 '

    ed.

    francesa,

    1949, vol.

    1 .

    Infelizmente, aqui no nos podemos deter neste problema que, em nosso entender, envolve duas

    questes distintas, a

    saber:

    o problema do fundamento conveniente e adequado

    para

    o direito

    administrativo e o problema da

    prpria

    realidade jurdica, servio pblico

    adotada

    como critrio

    desta disciplina do Direito. Fica afirmado, entretanto, que preferimos a posio de

    jeze.

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    - 2

    campados pela ordem jurdica, isto

    enquanto

    realidades destas pro

    vncias do conhecimento humano.

    II

    - Contedo do Regime Jurdico-Administrativo. -

    11

    A Sn-

    premacia

    do

    Intersse Pblico Sbre

    o

    Privado. Trata-se de verdadeiro

    axioma

    reconhecvel no

    moderno

    direito pblico.

    Proclama

    a supe

    rioridade

    do intersse

    da

    coletividade,

    firmando

    a

    prevalncia

    dle

    sbre o do particular como condio,

    at

    mesmo, da sobrevivncia e

    asseguramento

    dste ltimo. pressuposto de uma ordem social es

    tvel, em que todos e cada um possam sentir-se garantidos e resguar

    dados.

    12

    No campo

    da

    administrao, dste princpio procedem

    as

    se

    guintes conseqncias ou princpios subordinados:

    a posio

    privilegiada

    do rgo

    encarregado de

    zelar pelo

    inte

    rsse pblico e de exprimi-lo, nas relaes com os

    particulares;

    b posio de

    supremacia

    do rgo nas

    mesmas

    relaes.

    13. a

    Esta

    posio privilegiada encarna os benefcios que a

    ordem jurdica

    confere

    a fim de assegurar

    conveniente

    proteo aos

    intersses pblicos,

    instrumentando

    os rgos que os

    representam

    para

    um bom, fcil, expedito e resguardado desempenho de sua misso.

    Traduz-se

    em

    privilgios

    que

    lhes so

    atribudos.

    Os efeitos desta po

    sio so de diversa ordem e manifestam-se em diferentes campos.

    No cabem aqui delongas a respeito. Convm, entretanto lembrar

    sem comentrios e precises maiores, alguns exemplos: a presuno de

    veracidade

    e legitimidade dos atos

    administrativos;

    o benefcio de pra

    zos em dbro para interveno ao longo de processo judicial; a posio

    de r, fruda pela Administrao, na maior parte dos feitos, transfe

    rindo-se ao particular a situao de autor com os correlatos nus, in

    clusive os de

    prova;

    prazos especiais para prescrio das aes

    em

    que

    parte o

    Poder

    Pblico, etc.

    14. b A

    posio

    de

    supremacia,

    extremamente

    importante

    muitas vzes metaforicamente expressada

    atravs da

    afirmao de que

    vigora a

    verticalidade nas

    relaes entre Administrao e

    particulares;

    ao contrrio da horizontalidade, tpica das relaes entre stes ltimos.

    Significa que o

    Poder Pblico

    se encontra

    em

    situao autoritria

    de comando,

    relativamente

    aos

    particulares

    como indispensvel con

    dio,

    para

    gerir

    os intersses postos em confronto, a possibilidade, em

    favor

    da Administrao, de

    constituir

    s

    privados

    em

    obrigaes por

    meio de

    ato unilateral

    daquela. Implica, outrossim, no

    direito

    de

    modi

    ficar,

    tambm

    unilateralmente, relaes j estabelecidas.

    Tal

    prerro

    gativa

    se

    expressa nas diferentes

    manifestaes daquilo que a doutrina

    francesa chama

    puissancp. publique ,

    correspondendo ao

    jus imperii.

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    - 3

    15. No Direito Pblico, em geral, esta situao se

    expressa

    bem,

    nos excelentes comentrios

    do professor Oswaldo Aranha Bandeira de

    Mello

    que merecem

    transcrio literal: A manifestao

    da vontade

    do Estado, internamente, se faz, de

    regra,

    de forma unilateral

    tendo

    em

    vista o intersse estatal, como x p r s ~ o do intersse do todo social,

    em contraposiso outra pessoa

    por

    ela

    atingida

    ou com ela relacionada.

    E,

    mesmo quando

    as situaes

    jurdicas

    se

    formam

    acaso

    por

    acrdo

    entre partes de posio hierrquica diferente, isto ,

    entre

    o Estado

    e outras entidades administrativas menores e os particulares, o regime

    jurdico a que

    se

    sujeitam de carter estatutrio. Portanto, a autono

    mia da vontade s existe na formao do ato jurdico.

    Porm,

    os

    direitos e deveres relativos situao

    jurdica

    dela resultante, a

    sua

    natureza e extenso so

    regulamentados

    por ato

    unilateral

    do Estado,

    jamais

    por disposies criadas pelas partes. Ocorrem, atravs de pro

    cessos tcnicos de imposio

    autoritria

    da sua vontade,

    nas

    quais se

    estabelecem

    as

    normas

    adequadas

    e se

    conferem

    os

    poderes prprios

    para atingir o fim estatal que a realizao do bem comum. a ordem

    natural

    do

    direito interno,

    nas relaes com outras entidades

    menores

    ou com os

    particulares.

    4

    O poder de polcia administrativa uma das expressivas

    emana

    es desta situao outoritria. Em razo da supremacia dos intersses

    pblicos sbre os privados, a Administrao, funcionando como guardi

    do bem-estar coletivo, exerce o

    chamado Poder

    de Polcia , na confor

    midade da lei.

    o que bem

    se

    v

    anotado

    em Caio Tcito ao

    conceituar

    o poder

    de polcia e expor sua convivncia com o princpio

    da

    legalidade. Diz

    o

    ilustre

    mestre:

    O

    poder de polcia , em

    suma,

    o conjunto de atribui

    es concedidas

    Administrao para disciplinar e

    restringir, em

    favor

    de

    intersse

    pblico, adequado direitos e

    liberdades

    individuais. Essa fa

    culdade administrativa

    no violenta

    o princpio da legalidade porque

    da

    prpria essncia constitucional das garantias do indivduo a su

    premacia dos intersses da coletividade. 5

    Assim

    tambm

    princpio

    do

    direito

    administrativo

    a

    pertinncia

    do poder de polcia Administrao, isto , a prerrogativa de confor

    mar

    o

    intersse

    privado aos intersses pblicos, limitando ou condicio

    nando o exerccio

    daquele

    em funo da supremacia dstes

    ltimos.

    No

    se

    deve, entretanto, perder de vista que o exerccio de tal poder

    pressupe sempre uma habilitao legal expressa ou implcita.

    16. Da conjugao da posio privilegiada (a) com a postao

    de supremacia (b)

    resulta

    a exigibilidade dos atos administrativos

    4 Oswaldo

    Aranha Bandeira

    de Mello,

    Conceito

    de Direito

    Administrativo

    in Revista da Uni-

    versidade Catlica de So Pauto

    1964,

    vol.

    XXVIJ,

    pg. 36.

    5 Caio Tcito, O Poder de Policia e seus Limites , in Revista de Direito Administrativo

    vol. 27, pg. 18.

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    - 4

    - o

    droit du prealable

    dos franceses - e a

    executoriedade

    muitas vzes

    at com recurso compulso material sbre a pessoa ou coisa, como

    a chamada execuo de ofcio.

    17. Tambm decorrem da conjugao dos preceitos mencionad03

    a possibilidade

    de

    revogao dos prprios atos atravs

    de

    manifestao

    unilateral

    de

    vontade,

    bem

    como decretao

    de

    nulidade dles,

    quando

    viciados. So os princpios

    da

    revogabilidade e anulabilidade dos atos

    administrativos pela prpria

    Administrao

    Pblica. stes ltimos

    cnones mencionados configuram a chamada autotutela.

    18. Todos os

    princpios

    expostos e que se apresentam como de

    corrncias sucessivas,

    uns

    dos outros,

    sofrem, evidentemente, limita

    es e

    temperamentos

    e, como bvio,

    tm lugar

    na

    conformidade do

    sistema normativo, segundo

    seus limites e condies, respeitados os

    direitos

    adquiridos e

    atendidas

    as finalidades contempladas nas nor

    mas

    que

    os

    consagram.

    Entretanto, o certo que existam tais cnones, reconhecveis

    no

    ordenamento

    jurdico

    e aceitos

    tranqila

    e pacificamente

    pela

    dou

    trina, ao passo

    que

    inexistem nas relaes

    que

    contemplam intersses

    privados, concernentes ao comrcio jurdico estabelecido

    entre

    par

    ticulares.

    19. B) Indisponibilidade dos Intersses Pblicos. A indisponi

    bilidade

    dos

    intersses

    pblicos

    significa

    que

    sendo intersses qualifi

    cados como prprios da coletividade -

    internos

    ao setor pblico - no

    se encontram livre disposio de quem

    quer

    que seja,

    por

    inapro

    priveis. O prprio rgo administrativo

    que

    os representa

    no tem

    disponibilidade

    sbre

    les, no sentido de

    que

    lhe incumbe apenas

    cur-los - o

    que

    tambm um

    dever -

    na estrita

    conformidade do

    que

    predispuser a

    intentio legis.

    20. sempre oportuno lembrar a

    magistral

    lio de Cirne

    Lima,

    a propsito da relao

    de

    administrao. Explica o ilustrado mestre

    que

    esta

    a

    relao

    jurdica que

    se

    estrutura

    ao

    influxo de

    uma

    fina

    lidade cogente .6 Nela no h apenas

    um

    poder

    em

    relao a

    um

    ob

    jetivo, mas, sobretudo,

    um

    dever, cingindo o

    administrador

    ao cumpri

    mento

    da

    finalidade, que lhe serve

    de

    parmetro.

    Na administrao o dever e a finalidade so predominantes,

    no

    domnio, a vontade. 7

    Administrao

    a

    atividade

    do

    que no

    se

    nhor

    absoluto .

    8

    O mestre gacho

    pondera acertadamente que

    a re-

    6 Ruy Cirne Lima, Principias de Direito Administrativo,

    3 '

    ed., 1954. pg. 63.

    7 Ruy Cirne Lima, ap.

    cit.

    pg.

    54.

    8 Ruy Cirne Lima, ap. cit., pg. 21.

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    5

    lao de administrao

    somente

    se nos

    depara,

    no plano das relaes

    jurdicas, quando a finalidade, que a atividade

    de

    administrao se

    prope, nos aparece defendida e protegida, pela ordem jurdica, contra

    o

    prprio agente

    e contra terceiros .

    9

    Em

    suma, o necessrio - parece-nos -

    encarar

    que na adminis

    trao

    os

    bens

    e os intersses

    no se acham entregues livre disposi-

    o da vontade do administrador. Antes, para ste, coloca-se a obri-

    gao, o dever de cur-los nos

    trmos

    da finalidade a

    que

    esto ads

    tritos. a ordem legal que dispe sbre ela.

    Relembre-se que a Administrao no titulariza intersses p-

    blicos. O titular dles o Estado que, em certa esfera, os protege e exer-

    cita atravs da funo

    administrativa,

    mediante o conjunto de rgos

    (chamados administrao em sentido

    subjetivo

    ou

    orgnico),

    veculos

    da

    vontade

    estatal consagrada em lei. Caio Tcito observa com pre-

    ciso

    exemplar

    que

    a

    funo administrativa

    ou

    executiva

    se realize

    dentro em

    normas

    criadas pela funo legislativa ou normativa 10

    21. As pessoas

    exclusivamente

    administrativas,

    autarquias,

    pre-

    cisamente em razo do fato

    de

    assim se qualificarem, so entidades ser

    vientes.

    Isto significa

    que

    por serem pessoas,

    podem

    - ao

    contrrio

    da Administrao -

    titularizar

    intersses pblicos, mas, apenas, na

    condio de servas

    de

    uma vontade anterior, jungidas ao

    cumprimento

    exato dos fins

    que

    aquela vontade, por lei, lhes assinalou.

    Sendo

    pessoas

    administrativas,

    sua

    provncia a

    da

    relao

    de

    ad

    ministrao e por isso mesmo, esto

    adstritas

    ao cumprimento de uma

    finalidade. Ainda a, o dever, a finalidade e no a vontade, que co

    mandam sua ao. No dispem a seu talante sbre os

    intersses

    p-

    blicos;

    no

    os comandam com

    sua

    vontade; apenas

    cumprem,

    ainda

    quando o fazem discricionriamente, em muitos casos, a

    vontade da lei.

    Esta, em tda e qualquer hiptese, lhes serve

    de

    norte,

    de parmetro

    e

    de legitimao.

    As pessoas administrativas no tm portanto disponibilidade

    sbre os intersses pblicos confiados a sua guarda

    e

    realizao.

    Esta

    disponibilidade est

    permanentemente

    retida nas mos do Estado (e de

    outras pessoas polticas, cada

    qual na

    prpria esfera) em sua manifes

    tao legislativa.

    Por

    isso a Administrao e a pessoa administrativa,

    autarquia, tm

    carter

    meramente instrumental.

    22. Exposto o contedo e significado da indisponibilidade do

    -

    tersse pblico, podem-se extrair as conseqncias dste princpio,

    que

    se vazam no regime dito administrativo, caracterizador tambm

    da

    pessoa pblica

    administrativa, autarquia.

    9 Ruy Cirne Lima,

    op

    cit. pg. 54.

    10 Caio Tcito, O Abuso do

    Poder

    Administrativo no Brasil , in Revista de Direito Admi-

    nistrativo vol.

    56,

    pg. 1.

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    9/26

    - 6

    Uma vez que a atividade administrativa subordinada lei, e

    fir

    mado

    que a

    Administrao,

    assim como

    ao

    pessoas administrativas

    (autarquias),

    no tm disponibilidade sbre os intersses pblicos,

    mas

    apenas

    o dever de

    cur-los

    nos

    trmos

    das finalidades predeterminadas

    legalmente, compreende-se que estejam submetidas aos seguintes prin

    cpios: a) da legalidade; b) da obrigatoriedade do desempenho de ati

    vidade

    pblica; c) do contrle administrativo ou tutela; d)

    da

    iso

    nomia,

    ou

    igualdade dos administrados

    em face da

    administrao;

    e) da

    inalienabilidade

    dos direitos

    concernentes

    a

    intersses

    pblicos.

    23. a) O princpio da legalidade

    explcita

    a

    subordinao

    da

    ati

    vidade

    administrativa lei 11 e surge

    como decorrncia

    natural da

    in

    disponibilidade do intersse pblico, noo esta que, conforme foi visto,

    informa

    o

    carter da relao de administrao. No Brasil

    o 2.

    do

    artigo 15 da

    Carta

    Constitucional

    de 1967 dispe: Ningum ser

    obrigado

    a

    fazer ou

    deixar de

    fazer

    alguma

    coisa

    seno

    em virtude de

    lei.

    Hely Meirelles ensina que

    A

    legalidade, como princpio de admi

    nistrao,

    significa

    que

    o

    administrador pblico est,

    em

    tda sua ati

    vidade funcional, sujeito

    aos

    mandamentos

    da lei, e s

    exigncias do

    bem comum

    e dles

    no se pode

    afastar

    ou desviar, sob pena de

    pra

    ticar

    ato

    invlido e expor-se

    responsabilidade

    disciplinar, civil

    e cri

    minal, conforme o caso . 12

    O

    autor

    citado

    no quis,

    certamente, restringir

    o

    princpio

    da

    le

    galidade

    ao agente, isto , ao

    administrador,

    embora haja

    se referido

    expressamente

    a le. O

    princpio, que formulou com tanta clareza,

    diz

    respeito

    Administrao

    em si,

    atividade

    administrativa como um

    todo,

    englobando,

    certo, seus agentes.

    Tanto

    isto

    verdade que o

    mesmo

    doutrinador

    com preciso assinalou: A eficcia e a

    validade

    de

    tda

    atividade

    administrativa esto condicionadas ao atendimento

    da

    lei.

    Na

    Administrao Pblica, no

    h liberdade pessoal. Enquanto na

    administrao

    particular

    lcito

    fazer tudo que a lei no probe, na

    Administrao Pblica s

    permitido fazer o que a lei autoriza. 1:\

    11

    Fritz Fleiner esclareceu o sentido de Administrao legal. afirmando: Administrao legal

    significa ento: administrao posta em movimento

    pela

    lei e exercida nos limites de suas dispo

    sies. Principes Onraux

    e

    Droit Administratif Allemand 1933, pg. 87.

    Forsthoff encarece as relaes entre o principio da legalidade e liberdade individual ao consi

    derar

    Que

    na lei se

    assenta

    a garantia

    da

    liberdade individual o

    Que

    se verifica por uma dupla

    maneira: por um lado atravs do expresso reconhecimento de liberdades determinadas, tanto pela

    prpria

    Constituio Quanto

    atravs da

    legislao

    ordinria; por

    outro lado

    graas ao

    princpio

    da

    legalidade da Administrao

    Que no admite maiores intervenes na liberdade e propriedade alm

    das Que se acham legalmente permitidas. este principio se baseia na diviso de podres e pressupe

    Que

    a Administrao age

    embasada

    na

    lei . . .

    Tratado de Derecho Administrativo

    pgs. 252 e 253.

    12 Hely Lopes Meirelles.

    Direito Administrativo Brasileiro

    1964, pg. 56.

    13

    Hely Lopes Meirelles, O . cit. pg. 57.

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    10/26

    -

    1 7 -

    Esta

    ltima

    frase

    sintetiza, excelentemente, o contedo do princpio

    da

    legalidade.

    A

    atividade

    administrativa deve no apenas ser exercida sem con

    traste

    com a lei, mas, inclusive, s po e ser exercida nos trmos de au

    torizao contida no sistema legal. A legalidade na Administrao no

    se

    resume

    ausncia de oposio lei, mas pressupe autorizao dela,

    como condio de

    sua

    ao. Administrar

    aplicar

    a lei, de ofcio. 14

    Em suma, a lei ou mais precisamente o sistema legal o funda

    mento

    jurdico

    de

    tda

    e

    qualquer

    ao

    administrativa.

    15 A expresso

    legalidade deve, pois,

    ser entendida

    como conformidade ao direito , 1

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    11/26

    - 8

    mentar a finalidade legal a que est jungida

    pelo

    princlplO da legali

    dade.

    Entretanto, o

    fim

    legal

    sempre

    o trmo a ser atingido pela lei.

    Vtor Nunes Leal, sempre seguro e

    oportuno,

    comenta: Se

    Administrao no a t e n d e ao fim legal a

    que

    est obrigada

    entende-se que abusou de seu

    poder.

    . . O fim legal , sem dvida,

    um

    limite

    ao

    poder

    discricionrio. Portanto, se a ao

    administrativa

    desa

    tende

    a essa finalidade, deve-se

    concluir

    que

    extralimitou

    de

    sua zona

    livre, violando uma prescrio jurdica

    expressa

    ou implcita, o que a

    transpe,

    por

    definio, para a zona vinculada. lS

    25. Do princpio

    da

    legalidade so deduzveis importantes conse

    qncias. Os atos praticados

    em

    seu desconhecimento so viciados,

    qualquer que

    seja

    o defeito que

    apresentem

    em face da legalidade.

    Inclui-se

    na

    hiptese,

    por

    conseguinte,

    o caso de excesso ou desvio de

    poder

    19

    que no seno um subprincpio

    decorrente

    do princpio

    da

    legalidade. Ensina

    Caio

    Tcito que: A

    discrio

    administrativa

    tem,

    portanto, como teto a finalidade legal da competncia 20

    sendo

    o abuso

    de poder da

    autoridade

    administrativa o reverso do princpio da lega

    lidade da Administrao Pblica 21

    26 Procede, ainda, da

    mesma

    matriz, a contrapartida

    da

    legali

    dade, isto , o princpio

    da

    ampla responsabilidade do Estado,

    atravs

    do qual,

    se transgredi-la, incorre nas

    sanes

    previstas.

    Destarte

    ficam

    assegurados os direitos dos particulares perante a ao

    administrativa.

    Com

    efeito,

    no

    teria

    sentido ou alcance jurdico algum

    o

    princpic

    da legalidade

    se

    a responsabilidade

    do Estado,

    em matria de atos ad

    ministrativos, no fsse o

    seu

    reverso.

    O art. 105

    da

    Carta Constitu

    cional

    brasileira

    dispe:

    Art. 105 As pessoas jurdicas de direito

    pblico

    respondem pelos

    danos

    que os

    seus

    funcionrios.

    nessa

    qualidade.

    causem

    a terceiros.

    Pargrafo nico -

    Caber

    ao regressiva contra o funcionrio

    responsvel, nos casos de

    culpa ou

    dolo.

    18

    Vitor Nunes Leal, Problemas e Direito Pblico, 1960, pago 285.

    19

    Jos Cretella Junior, in Desvio de Poder, 1964, pg. 36, expende excelente lio a

    prop

    sito: Ao

    contrrio

    de que julgam

    muitos

    tratadistas, a

    legalidade no

    formada

    apenas

    de -

    mentos

    externos,

    relacionados com a

    competncia, objeto

    e

    forma.

    A legalidade

    penetra at

    S

    motivos e,

    principalmente, at

    o fim do ato.

    ilegal o ato em Que o fim viciado. Sendo o desvio

    de poder o uso indevido

    ou

    vicioso

    que

    de

    suas atribuies

    faz a autoridade, tudo se resolve.

    afinal,

    num problema de excesso ou abuso de

    poder

    e ste, por sua vez, conduz incompetncia.

    Dai, dizer-se que o

    juiz do

    ato administrativo no sai

    do exame

    da

    legalidade quando

    pronuncia

    a nulidade do procedimento inquinado

    daquele

    vicio

    que

    se define por uma incompetncia, no

    formal, mas material.

    20 Caio

    Tcito, A Administrao

    e o

    Contrle

    da

    Legalidade .

    in Revista de Direito

    dmi-

    nistratil'o, vol. 37, pg.

    5.

    21 Caio Tcito, O Abuso do Poder AJministrativo no Brasil . in Rel'ista de Direito Admi-

    nistrativo,

    vol.

    56, pg. I.

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    12/26

    - 9

    27. b) O princtpw da obrigatoriedade do desempenho

    d

    ativi-

    dade pblica

    traduz

    a

    situao de dever em que

    se

    encontra

    a

    Admi

    nistrao

    - direta

    ou

    indireta -

    em

    face da lei.

    intersse

    pblico

    fixado por

    via legal no est disposio da

    vontade do administrador, sujeito vontade dste; pelo contrrio, apre

    senta-se

    para

    le sob a

    forma de

    um

    comando.

    Por

    isso

    mesmo

    a

    pros

    secusso

    das finalidades

    assinaladas longe

    de ser

    um

    problema pesoal

    da

    Administrao,

    impe-se como obrigao indiscutvel.

    Como a atividade

    administrativa

    de

    carter

    serviente,

    coloca-se

    uma situao coativa: o intersse pblico tal como foi fixado tem que

    ser prosseguido uma vez que a lei assim determinou.

    Da

    a obrigao

    das

    pessoas administrativas prosseguirem o prprio escopo

    caracte

    rstica to realada

    pelos

    autores.

    28.

    Dste princpio advm,

    como conseqncia o

    carter compul-

    srio da filiao dos mem ros

    s

    entidades pblicas

    de

    substrato cor-

    porativo.

    Com

    efeito uma vez

    caracterizado legalmente

    como pblico

    determinado

    intersse e

    sendo fixado

    que seu

    prosseguimento

    se far

    atravs

    de entidade

    corporativa cujos filiados so definidos pela lei

    ipso facto os

    indivduos

    designados

    convertem-se

    em

    membros

    da enti

    dade

    corporativa,

    na forma do que

    houver

    sido estabelecido pelo di

    ploma

    normativo

    responsvel.

    Realmente, se a

    persecuo

    do intersse pblico obrigatria para

    as

    pessoas administrativas, impe-se a adscrio

    compulsria de seus

    membros a fim de que aquelas possam

    desenvolver

    a atividade pre

    vista cujo cumprimento, na forma predeterminada pela lei obriga

    o indeclinvel.

    29.

    As

    entidades

    no-corporativas

    tambm

    so

    de

    constituio

    obrigatria, isto no se formam em decorrncia de

    um

    ato de von

    tade

    dos

    particulares, ou da prpria Administrao,

    mas

    contrria

    mente, procedem de

    uma

    determinao legal. Eis porque se

    fala

    na

    peculiaridade

    que tm

    as pessoas

    administrativas

    de

    serem constitudas

    coativamente.

    Nas

    pessoas corporativas nem

    sempre

    a obrigatoriedade

    de

    filiao

    se apresenta

    com igual

    cunho

    de

    compulsoriedade. Em alguns casos

    esta nota

    menos flagrante

    que em

    outros. Tomemos

    como exemplo

    as corporaes profissionais. Nestes casos a lei entende

    que

    tal ativi

    dade verbi gratia o exerccio

    da

    profisso

    liberal da

    medicina de

    pende

    de inscrio em entidade

    pblica

    encarregada de sua fiscali

    zao e disciplina. Em decorrncia para os profissionais dste ramo

    no

    se coloca o

    problema de

    querer

    ou no

    se

    inserir

    no

    crculo

    de

    membros da

    corporao.

    A lei quer e o quanto basta. A entidade

    se constitui desta forma, ficando compelidos a se filiar todos os que

    exercem

    0lJ querem exercer a profisso assim

    regulada. Sem embargo,

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    13/26

    - 2

    os formados

    em

    medicina que no desejam exercer

    tal

    atividade no

    esto obrigados a se inscrever

    na corporao,

    e se subordinar

    sua

    dis

    ciplina.

    Se, entretanto, pretenderem

    praticar

    a medicina so compe

    lidos a se filiar, o

    que

    condio para o exerccio da atividade em

    apro.

    Em

    outras

    corporaes pblicas

    a

    compulsoriedade

    mais

    evi

    dente, porque no deixa

    nenhuma margem

    opo.

    o que

    sucede

    nas

    corporaes

    territoriais.

    J

    se nasce dentro delas, como membro

    do grupo. A filiao, neste caso,

    prescinde

    de qualquer escolha. Na

    Europa, por exemplo, em que as pessoas locais tm, tdas elas, carter

    administrativo,

    o indivduo est

    necessriamente

    definido como

    mem

    bro de uma ou outra corporao pblica territorial.

    membro de al

    guma Comuna, isto , filiado

    compulsoriamente

    a alguma delas. Por

    conseguinte,

    sem

    oportunidade

    de concordar ou

    discordar, dentro do

    plano

    nacional, o indivduo qualifieado compulsoriamente como fi

    liado a uma autarquia

    corporativa.

    30. Outrossim, em face do princpio da

    obrigatoriedade

    do de

    sempenho da atividade pblica, tpico do regime administrativo, como

    vimos vendo, a Administrao sujeita-se ao dever de continuidade

    no

    desempenho de

    sua ao.

    O princpio d continuid de do servio p-

    blico

    um

    sub princpio ou

    se

    ~

    quiser,

    princpio derivado, que de

    corre da obrigatoriedade do desempenho da atividade administrativa.

    Esta

    ltima, na

    conformidade do que

    se

    vem expondo , por sua vez,

    oriunda

    do princpio

    fundamental da

    indisponibilidade,

    para

    a

    Admi

    nistrao,

    dos

    intersses

    pblicos , noo

    que bem

    se aclara ao se ter

    presente o significado fundamental j exposto,

    da

    relao

    de

    Admi

    nistrao .

    Com efeito, uma vez que a Administrao curadora de deter

    minados

    intersses

    que a lei define como pblicos e considerando u ~

    a defesa e

    prosseguimento

    dles , para ela, obrigatria, verdadeiro

    dever,

    a continuidade da

    atividade administrativa

    princpio

    que

    se

    impe e

    prevalece

    em

    quaisquer circunstncias.

    por isso mesmo

    que

    Jeze

    esclarecia

    que

    a

    Administrao

    tem

    o

    dever, mesmo no curso

    de

    uma

    concesso de

    servio

    pblico, de assumir o

    servio

    provisria ou

    definitivamente, no caso de o concessionrio, com

    culpa

    ou sem culpa,

    deixar de

    prossegui-lo

    convenientemente.

    O

    intersse

    pblico que

    Administrao

    incumbe zelar encon

    tra-se acima

    de quaisquer

    outros

    e, para ela, tem o sentido de dever, de

    obrigao. Tambm por isso

    no podem

    as pessoas administrativas

    deixar

    de cumprir o prprio escopo, noo

    muito encarecida

    pelos au

    tores. So obrigadas a desenvolver atividade contnua, compelidas a

    perseguir

    suas finalidades

    pblicas.

    31.

    Desta

    obrigatoriedade, logicamente, procede outro princpio,

    mero

    desdobramento

    do

    anterior

    - e

    tambm muito

    realado pela dou-

    Ijlo;h.:; ;: l:CA MAHIU

    I1t:NHIUUE S MUNstrt

    FUND O GETULW V RG S

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    14/26

    - 2

    trina conforme

    j

    se

    viu

    - qual seja a impossibilidade de dissoluo

    sponte propria das

    pessoas administrativas.

    Por

    idntica razo e den

    tro

    da mesma linha de raciocnio, os rgos administrativos, mesmo no

    personalizados, no podem ser

    extintos

    seno

    por

    lei, assim como,

    tam-

    bm,

    sem ela

    no podem

    ser

    criados. A razo bvia e

    sempre

    a mes

    ma; a Administrao desempenha atividade serviente,

    cumpre

    a lei,

    na

    forma

    do

    que

    foi estabelecido.

    A relao administrativa desenvolve-se debaixo de

    uma

    finalidade

    cogente. A Administrao no dispe dos intersses pblicos e

    seu ta-

    lante: antes, obrigada a zelar por les ao influxo do princpio da le

    galidade,

    j

    referido.

    Fritz Fleiner

    ao conceber administrao legal como aquela posta

    em movimento pela lei e exercida dentro de seus limites, projetou em

    frmula

    feliz a noo

    de que

    a lei

    que

    d

    todo o impulso

    atividade

    administrativa.

    22

    32 c O princpio do contrZe administrativo ou tutela, vincula-

    se tambm

    aQ princpio

    da

    disponibilidade dos intersses pblicos.

    Efetivamente, o Estado, atravs da chamada funo administrativa,

    procede persecuo

    de

    intersses

    que

    consagrou como pertinentes a

    si prprio. A implementao dles feita pelo prprio Estado, me

    diante os rgos da Administrao. A atividade desta

    tem

    como agente

    o prprio Estado,

    enquanto

    submetido ao regime

    que se

    especifica

    atravs

    da

    relao

    de

    administrao, nos trmos retro-assinalados.

    Subjugase, portanto, ao princpio da indisponibilidade dos intersses

    pblicos, cujo sentido se esclareceu previamente.

    Verifica-se, pois,

    que

    a funo administrativa se qualifica como

    atividade do prprio Estado, por le mesmo desenvolvida,

    tendo em

    vista a gesto de intersses pblicos, assim definidos atravs de outra

    de suas manifestaes, e

    que

    se

    lhe apresentam

    como indisponveis ao

    nvel

    de sua

    manifestao administrativa, isto , daquela que o Estado

    explicita atravs do conjunto de rgos convencionalmente chamados

    de Administrao.

    A gesto dstes intersses indispensveis, em princpio, reali

    zar-se-ia, tda ela,

    atravs

    do prprio Estado, diretamente, isto , me

    diante

    o conjunto

    de

    rgos designados,

    em sua

    inteireza, como Admi

    nistrao.

    Sem

    embargo, criando o Estado pessoas administrativas, portanto,

    entes submetidos ao mesmo regime

    de

    indisponibilidade

    de

    intersses

    pblicos, fracciona a unidade de

    sua

    manifestao admnistrativa.

    Exclui

    de si prprio a responsabilidade

    imediata

    por

    um

    conjunto

    de

    intersses indisponveis que, em tese, estariam concentrados em uma

    22

    Fritz

    F1einer, Les

    Prncipes

    Gnraux du Drit dmlnlslratif AlIemand 1933, p ~ 87.

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    15/26

    -

    nica

    pessoa e prosseguidos pela Administrao. A

    fim de manter

    a

    coerncia harmnica

    do todo

    administrativo

    e reter

    sua

    integridade,

    psto

    que

    a

    funo

    das pessoas

    autrquicas

    idntica

    que

    exercita

    em sua manifestao administrativa, mantm-nas

    sob contrle. Com

    isto

    reconstitui,

    de

    certa

    forma a

    unidade que quebrou

    - e

    que nunca

    poderia

    romper

    totalmente,

    sob

    pena

    de

    mutao

    qualitativa

    em

    a

    na

    tureza de tais

    pessoas.

    Horcio Heredia define o contrle

    administrativo

    sbre as pessoas

    autrquicas como o juzo que realiza um rgo

    da

    Administrao

    ativa sbre o comportamento positivo ou negativo de uma entidade

    autrquica ou de um agente seu com o fim de estabelecer se se con

    forma ou

    no

    com

    as

    normas

    e princpios

    que

    o regulam e

    cuja

    de

    ciso se concretiza

    em um

    ato administrativo.

    3

    o

    contrle

    administrativo ou

    tutela

    o

    poder de que

    dispe o Es

    tado exercitvel atravs dos rgos

    da

    Administrao

    de

    conformar o

    comportamento das pessoas autrquicas aos fins que lhe foram legal

    mente

    atribudos. As implicaes dste contrle e sua extenso variam

    de pas

    para pas

    dependem

    do

    tipo de entidade autrquica

    e

    apre

    sentam-se

    diversamente,

    em

    vista da

    legislao

    peculiar

    a

    cada enti

    dade. Algumas

    so

    submetidas

    a

    regime muito estrito de tutela,

    a

    outras

    atribui-se

    liberdade maior

    e conseqentemente, afrouxam-se as

    relaes

    entre

    controlador e controlados.

    Em

    tese ste poder

    de adequar

    as autarquias aos genricos obje

    tivos estatais

    tendo em vista

    confin-las ao

    exato cumprimento

    de seus

    fins envolve tanto juzos e decises

    da

    Administrao concernentes

    legitimidade quanto

    relativos ao

    mrito

    dos atos praticados.

    Pode

    abrigar a prerrogativa

    de

    exame prvio

    ou a posteriori

    dos atos das

    autarquias e chega inclusive

    em

    certos casos a

    compreender

    a fa

    culdade de

    revog-los

    uma

    vez expedidos.

    O contrle compreende ainda o poder

    de

    manter-se a Adminis

    trao

    informada

    sbre

    o

    comportamento

    das

    autarquias,

    autorizando

    investigaes e

    freqentemente,

    manifesta-se

    tambm,

    sob a

    forma de

    nomeao e demisso

    de administradores autrquicos.

    As formas

    de

    contrle

    so variveis e

    dependem

    do

    direito

    positivo.

    33.

    d)

    O

    princpio da isonomia ou igualdade dos administra-

    dores em face da dministrao firma

    a

    tese de que esta no

    pode de

    senvolver

    qualquer

    espcie de favoritismo ou desvalia

    em

    proveito

    ou

    detrimento

    de

    algum.

    Com

    efeito sendo

    encarregada

    de

    gerir

    intersses

    de

    tda

    a cole

    tividade a Administrao

    no

    tem sbre stes

    bens

    disponibilidades

    23

    Horrio Heredia, ContraIor

    Admi. istrativo so re los

    Entes Autarquicos,

    1942 pg. 29.

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    16/26

    2 3

    -

    que lhe confira o direito de tratar desigualmente queles cujos inte

    rsses representa.

    No sendo o intersse pblico algo sbre

    que

    a Administrao dispe

    a seu talante, mas, pelo contrrio, bem de todos e de cada um,

    j

    assim

    consagrado pelos mandamentos legais que o erigiram categoria de

    intersse desta classe, impe-se, como conseqncia, o

    tratamento

    im

    pessoal, igualitrio ou isonmico que deve o

    Poder

    Pblico dispensar

    a todos os administrados.

    Uma vez que os intersses que lhe incumbe prosseguir so perti

    nentes Sociedade como um todo, quaisquer atos

    que

    os rgos admi

    nistrativos pratiquem devem, necessriamente, refletir, na medida do

    possvel, a igualdade de oportunidades

    para

    todos os administrados.

    Todos so iguais perante a lei . . . , proclama o 1.0 do art. 150

    da

    Constituio federal.

    ortiori

    todos so iguais

    perante

    a Administra

    o e seus atos,

    uma

    vez

    que esta nada

    mais faz seno agir

    na

    confor

    midade das leis.

    34. Vrios institutos

    de

    direito administrativo refletem clara

    mente a importncia dste princpio. Aplicao dle encontra-se,

    por

    exemplo, nos institutos da concorrncia pblica e do provimento de

    cargo pblico mediante concurso.

    A Administrao no pode distribuir como prebenda os benefcios

    econmicos dos negcios em que

    tenha

    de

    intervir

    ou os empregos em

    seus vrios rgos.

    Justamente

    porque

    nenhum

    dstes bens tem o cunho

    de

    propriedade particular utilizvel ao alvedrio do

    titular

    a Adminis

    trao,

    que

    gere negcios de terceiro,

    da

    coletividade, compelida a

    dispensar

    tratamento

    competitivo e eqitativo a todo administrado.

    A exigncia de concorrncia pblica

    para

    a realizao de negcios

    com os particulares no traduz apenas o desejo estatal de obter o me

    lhor

    produto ou servio com menores nus. Implica, tambm, na obri

    gao de oferecer aos particulares,

    que

    se dispem a fornecer o bem ou

    o servio, a oportunidade de

    disputar em

    igualdade de condies. Assim,

    o instituto

    da

    concorrncia pblica no

    tem em

    mira, apenas, os c

    modos do Estado, mas, tambm, encarece intersses dos particulares em

    face dle.

    No basta, portanto, que a Administrao possa

    demonstrar que

    realizou operao,

    em

    tese, vantajosa

    para

    o Estado.

    Importa

    que de

    mostre, ainda, ter oferecido oportunidades iguais a todos os parti-

    culares. S assim se evidenciar o

    tratamento

    isonmico a que fazem

    jus e a ausncia de favoritismo na utilizao de podres ou na dispensa

    de

    benefcios dos quais a Administrao depositria e curadora,

    em

    nome de terceiro, por se tratar de intersses pblicos.

    tste o princpio, a

    regra

    bsica, que, evidentemente, comporta

    temperamentos e excees, sempre determinados, todavia, pelo prprio

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    17/26

    - 4

    intersse

    pblico - nunca por intersse de algum particular eventual-

    mente beneficirio - sob pena de vcio do ato praticado.

    35. O princpio da isonomia na Administrao no necessita,

    para

    seu fundamento,

    da

    invocao de cnones de

    ordem moral.

    Juridica-

    mente se estriba na convincente razo

    de

    que os

    bens

    manipulados pelos

    rgos administrativos e os benefcios

    que

    os servios pblicos

    podem

    propiciar so bens de tda comunidade, embora,

    por

    ela geridos, e bene

    fcios a

    que

    todos

    igualmente

    fazem jus

    uma

    vez

    que

    os podres pbli

    cos, no Estado de Direito, so simples rgos

    representantes

    de todos os

    cidados

    (

    1. do art. 1.

    da

    Carta de 67) .

    No Brasil o art. 95

    da

    Carta Constitucional

    de

    1967 dispe: Os

    cargos pblicos so acessveis a todos os brasileiros, preenchidos os

    re-

    quisitos

    que

    a lei

    estabelecer.

    Consagra, portanto, a igualdade

    de

    todos

    em

    face do preenchi

    mento

    de cargos na Administrao.

    Esta no

    pode distribu-los entre

    apaniguados ou protegidos. Porque esto disposio dos adminis

    trados que preencham

    as

    condies compatveis com o intersse p-

    blico e concernentes

    natureza do cargo: A nomeao para cargo

    pblico exige aprovao

    prvia

    em concurso pblico de provas ou de

    provas

    e ttulos

    ( 1.0

    do art.

    95

    da Carta) .

    Outrossim, para

    que

    se

    no

    se crie, em favor

    de

    alguns poucos,

    monoplio dos cargos pblicos:

    vedada

    a acumulao

    remune-

    rada,

    exceto:

    I a de juiz e um cargo de professor;

    a de dois cargos de professor;

    IH

    - a de um cargo de professor com

    outro

    tcnico

    ou

    cientfico

    (art. 97), desde

    que

    haja

    correlao de matrias e compatibili

    dade de horrios, conforme estabelece o 1.0 do citado artigo

    da

    Lei Magna.

    36. Com relao ao gzo ou fruio dos servios pblicos, a Ad

    ministrao est, igualmente, obrigada,

    sempre

    pelo mesmo

    funda-

    mento, a prest-lo a todos os cidados, sem discriminaes. Jeze faz

    expressa meno a ste princpio.

    24

    24

    lis, talvez

    haja

    sido Gaston Jeze quem mais se preocupou em determinar as coorde

    nadas do direito administrativo, destacando certos princpios como fundamentais. Adepto que era

    da escola do servio pblico

    reporta

    stes cinones bsicos noo que lhe

    parecia

    central Ile te

    ramo do Direito.

    Cumpre notar que

    diferena de Duguit, - e Isto Importantssimo - Jze Identlflcava

    servio pblico como aqule exercido sob um regIme determinado , o

    processo

    de direito

    pblico . Caracterizava-o precisamente pela existncia de

    regras

    juridlcas especiais, de teorIas

    jurldlcas especlals .

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    18/26

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    -

    6

    cernentes prpria atividade. Pode por isso mesmo

    ser

    avocada a

    qualquer instante

    pelo Poder Pblico como

    podem tambm

    ser modi

    ficadas as condies de

    sua

    prestao por ato

    unilateral

    da Adminis

    trao sempre que lhe

    parea

    conveniente respeitados apenas os tr-

    mos da

    equao econmica avenada.

    IH

    -

    Valor Metodolgico

    da

    Noo

    de

    Regime Administrativo.

    40. No se

    pretende seja

    exaustiva a enumerao feita dos princpios

    peculiares ao direito

    administrativo que formam em sua unidade

    sis

    temtica

    o

    regime administrativo.

    A exposio dles sbre mais foi

    como no poderia deixar de ser extremamente sucinta pois seu desen

    volvimento o

    prprio

    objeto do direito administrativo.

    Intentou-se simplesmente esboar uma rpida caracterizao da-

    quilo que

    informa

    e tipifica um

    conjunto de normas cujas

    peculiari

    dades conferem autonomia

    a determinado ramo do Direito permitindo

    se

    lhe

    reconhea

    uma

    identidade

    prpria.

    O esfro empreendido

    mera tentativa

    de localizar as linhas-mes

    tras que presidem ste setor do conhecimento jurdico imps-se como

    indispensvel ao

    preenchimento de uma lacuna

    inadmissvel e

    sur-

    preendente

    por todos os ttulos na literatura especializada.

    Com efeito

    se

    o objeto do jurista um

    sistema de normas

    e o

    tema especfico do administrativista so as regras e princpios que per-

    fazem

    em

    sua unidade o direito

    administrativo,

    a

    primeira

    tarefa que

    se

    lhe

    impe como

    patamar para

    a compreenso dos vrios institutos

    a identificao das noes radicais que os embasam.

    Tal

    procedimento sbre oferecer maior rentabilidade cientfica

    que a simples anlise

    compartimentada

    dos vrios institutos repre-

    senta outrossim condicionamento importantssimo

    para

    compreenso

    cabal

    das

    vrias figuras

    do

    direito

    administrativo. Nota-se alm disto

    que afinal ste

    definitivamente,

    o nico suporte para uma viso

    pu-

    rificada dos institutos de direito administrativo. S ste procedimento

    elimina vestibularmente

    a imiso entre os fatres jurdicos e extraju-

    rdicos.

    41. A perspectiva formal - nica

    compatvel

    com o

    exame

    orto-

    doxo da Cincia do Direito - depende em suas aplicaes concretas

    por inteiro da identificao do regime administrativo.

    De outro

    modo

    como

    surpreender

    noes tcnicas como a personalidade

    administrativa,

    por

    exemplo?

    Sem

    remisso ao

    regime norteador

    delas cair-se-ia ine

    xorvelmente,

    no

    plano instvel

    dos conceitos

    extrajurdicos.

    Se o que importa ao jurista determinar em tdas as hipteses

    concretas o

    sistema

    de princpios e regras aplicveis - quer

    seja

    a

    lei

    clara obscura

    ou

    omissa - todos os conceitos e categorias

    que formule

    se

    justificam to-s na medida em que atravs dles aprisione logica

    mente uma determinada unidade orgnica sistemtica de normas e

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    20/26

    - 7

    princIpIos. A razo de

    ser

    dstes conceitos precisamente

    captar

    uma

    parcela de regras jurdicas e postulados que se articulam de maneira a

    formar uma

    individualidade.

    O trabalho terico do jurista construdo, como , vista de apli

    caes prticas, resume-se e explica-se na

    tentativa de

    descobrir a

    r tion le

    que

    congrega e unifica um complexo

    de

    cnones e normas.

    As consideraes acima realam a importncia e a necessidade

    ine

    xorvel

    de

    fixar o contedo do regime administrativo. Demonstram

    tambm, saciedade,

    que

    a compreenso

    da

    pessoa pblica exclusiva

    mente

    administrativa, por exemplo, pressupe, quando menos,

    um

    es

    fro para

    determinar

    suas correlaes com sse regime. A mesma

    observao vale para todo e qualquer instituto

    de

    direito administra

    tivo.

    42. No h como

    formular adquadamente um

    conceito jurdico

    fora dste

    rigor

    metodolgico. Com efeito, se o conceito formulado no

    se cinge rigorosamente ao propsito de

    captar um

    determinado regime

    -

    cuja

    composio admite apenas as normas editadas pelo direito po

    sitivo e os princpios acolhidos

    na

    sistemtica dle -

    ser

    desconforme

    com

    sua prpria

    razo de

    ser

    identificao da disciplina

    que

    preside

    um dado instituto) .

    Esta deformao sucede sempre que se agreguem ao conceito traos

    metajurdicos, isto , quaisquer ingredientes ou conotaes

    que

    no

    sejam imediatamente

    derivados das prprias normas

    ou

    dos princpios

    por

    ela

    encampados. Eis

    porque

    noes como finalidade pblica, uti

    ldade pblica, intersse pblico, servio pblico, bem pblico, pessoa

    pblica, ato administrativo, autarquias, auto-administrao e quaisquer

    outros conceitos s

    tm

    sentido

    para

    o

    jurista

    como sujeitos ou obje

    tos submetidos a

    um

    dado sistema de

    normas

    e princpios;

    em outras

    ~ a l a v r a s

    a um regime.

    43. Em face do Direito as noes citadas

    nada

    mais contm em

    si alm do significado de entidades lgicas identificveis por seus re-

    gimes. Entende-se, vista disto, que pouco importa, ento, se

    uma

    ati

    vidade

    relevante

    ou

    irrelevante

    para

    a coletividade. No

    isto

    que

    lhe definir a natureza de atividade pblica ou privada, mas o regime

    que lhe houver sido atribudo pelo sistema normativo.

    Um intersse no se afirma como pblico ou

    particular

    pelo fato de

    repercutir

    intensa ou secundriamente sbre a Sociedade. Perante o

    Direito ser pblico ou privado, na exclusiva dependncia do que

    houver decidido a lei; portanto, unicamente em funo do regime que

    o disciplina.

    Um

    servio prestado pelo Estado no se

    torna

    pblico pelo fato

    de

    interessar a todos e

    estar em

    suas mos, ou

    em

    mos de pessoa sua,

    mas, pela circunstncia de se

    reger

    conformem

    ente

    ao regime

    de

    direito

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    21/26

    -

    8

    administrativo tanto que se disciplinado pelas

    regras

    de direito privado

    - e o legislador livre

    para

    assim decidir - descaber reput-lo servio

    pblico.

    Parece-nos

    ser

    esta a nica compreenso possvel em trno do pro

    blema. A entender-se

    de

    outro modo os conceitos jurdicos

    perderiam

    tda sua operatividade. foroso por conseguinte estabelecer cabal

    dissociao

    entre

    as noes substanciais

    que em nvel

    pr-jurdico in

    formam o legislador. e as que correspondem a realidades prprias do

    Direito. Estas definem-se como regimes jurdicos complexos de

    prin-

    cpios e normas.

    44. Advirta-se outrossim que

    as

    normas justamente

    por

    serem

    regrQ. expressas encontram-se imediata disposio do intrprete

    e

    em

    por isso no apresentam qualquer dificuldade

    em

    serem locali

    zadas.

    De

    extrema importncia isto sim

    desvendar os princpios

    acolhidos no sistema; isto

    os

    que se encontram vazados nas diversas

    normas administrativas informando suas disposies

    embora

    no

    se

    achem formal ou categoricamente expressos.

    ~ s t e s

    genericamente aco

    lhidos no sistema presidem tda sua organicidade e obviamente podem

    ter generalidade maior ou menor aplicando-se ento totalidade dos

    institutos ou apenas a alguns dles. So stes princpios que compem

    o equilbrio do sistema e determinam a unidade e racionalidade interna

    do regime administrativo.

    45. Formulemos por comodidade didtica uma analogia. No

    mundo

    fsico o sistema planetrio se

    rege

    por leis ou princpios

    da

    mais ampla generalidade como a lei

    da

    gravitao dos corpos.

    Outras

    leis mais especicas e particularizadas mas

    sempre em

    conexo com

    as anteriores explicam diversas espcies de fenmenos

    que

    se arti

    culam

    em um complexo.

    Tambm na Cincia do Direito em geral e no direito administra

    tivo em particular se reconhece situao anloga. Algumas noes ou

    princpios so categorias em relao a outros de significado mais res

    trito porque

    abrangentes

    de alguns institutos apenas.

    ~ s t e s

    a seu

    turno

    desempenham funo categorial relativamente a outros mais

    particularizados que os anteriores. Assim se processa uma cadeia des

    cendente de princpios e categorias at os nveis mais especicos. Al

    guns aliceram todo o sistema; outros dstes derivados dizem respeito

    ora a uns ora a outros institutos interligando-se todos no s em

    plano vertical como horizontal formando uma unidade

    um

    complexo

    lgico a

    que

    chamamos regime; no caso em tela regime administrativo.

    Obviamente cada um dos vrios institutos de uma disciplina

    jur-

    dica guarda suas caractersticas prprias concernentes gama de sub

    princpios

    que

    o regulam sem prejuzo de receber

    automtica

    influn

    cia e aplicao dos princpios mais genricos que o envolvem e inter-

    penetram pois dentro dles se acha imerso.

  • 7/26/2019 Livro Celso Mello - CapituloO CONTEDO DO REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO E SEU VALOR METODOLGICO

    22/26

    9

    46. O sistema de uma disciplina jurdica, seu regime. portanto,

    constitui-se do conjunto de princpios

    que lhe

    do especicidade

    em

    re-

    lao ao regime de

    outras

    disciplinas.

    Por

    conseguinte. todos os insti

    tutos que abarca - moda do sistema solar dentro do planetrio -

    articulam-se, gravitam, equilibram-se,

    em

    funo

    da

    racionalidade pr

    pria

    dste sistema especfico. segundo as peculiaridades

    que

    delineiam

    ri

    regime (no caso, o administrativo) dando-lhe tipicidade

    em

    relao

    a outros.

    47. Derentemente dos princpios que regem o mundo fsico, no

    campo do Direito. so livremente determinados pelos homens. O legis

    lador acolhe. no sistema normativo

    que

    constri, os princpios

    que

    de

    spja vigorantes. So bem

    por

    isso mutveis.

    Ao ser, pouco a pouco. delineado

    um

    dado sistema, pode o

    e g i ~

    lativo

    fixar

    inconscientemente

    um

    conjunto de princpios que, deseje

    ou no, estaro informando o sistema, desde

    que

    as normas postas

    tra-

    duzam sua acolhida.

    Ao

    jurista

    interessam portanto. os

    princpios consagrados haja

    ou

    no o legislador pretendido conscientemente instaur-los. :stes cno

    nes.

    entretanto

    esto sempre disposio

    da

    autoridade legislativa.

    pelo que, podem ser. a qualquer tempo. modificados, derrogados, seja

    pela substituio dos princpios bsicos, seja pela alterao dles nos

    vrios institutos particulares de uma dada disciplina. exatamente

    por

    isso que o jurista, o intrprete - a quem cabe simplesmente reconhecer

    os princpios encampados e

    identicar

    as

    derentes

    aplicaes

    em

    face

    das diversas hipteses - deve

    centrar

    sua

    investigao, raciocinio e

    construo terica.

    nica

    e

    exclusivamente no regime.

    Ao jurisperito no interessam as realidades substanciais ou infra

    -estruturais que determinaram.

    em

    nvel pr-jurdico, a opo do legis

    lador.

    est

    porque gravssimo o equvoco de firmar conceitos

    ju-

    rdicos sbre noes como intersse social, atividade que beneficiar

    tda a sociedade, finalidade de intersse coletivo e quejandas.

    As

    noes

    que importam

    ao

    jurista

    so aquelas qualificadas pelo

    sistema normativo, isto , definidas

    em

    funo de

    um

    regime.

    Por

    isso

    mesmo.

    de nada lhe adianta recorrer

    aos conceitos anteriores sbre os

    quais

    j

    incidiu o juzo do legislador. Como ste ltimo

    quem d

    entidade, perante o Direito, s noes que lhe

    serviram de

    estribo. o in

    trprete recebe conceitos novos, jurdicos, psto que os anteriores se

    desvanecem, cedendo lugar ao produto

    da

    qualificao legislativa.

    25

    ;ta UlOvannl Mlele, m notvel lio nos ensina: Nada existe para o ordenamento

    jurl-

    dico se no tem vida nle e por le, e, tOda figura, instituto ou relao com que nos encontramos,

    percorrendo as

    suas

    vrias manifestaes. tem uma realidade

    prpria

    que

    nlo

    menos real que

    qualquer outro produto do esprito humano m outros campos e drees. A realidade do

    ordenamento jurldlco no tem outro trmo de confronto seno le mesmo: donde

    ser

    Imprpria

    a comparao com

    outra

    realidade, com o fito de verificar se, porventura,

    as

    manifestaes

    do

    primeiro conferem com

    a q u ~ l e

    ou

    se se

    afastam

    das

    manifestaes do mundo

    natural

    histrico

    ou metaffslco - Glovannl Mlele, Princ/pl di Diritto Amminlstratlvo vaI. I, reimpresso da

    edl.lo, 1960, pg. 81.

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    - 3 0

    48.

    De

    todo o exposto se verifica a grande importncia

    da

    noo

    de regime administrativo cujo desenvolvimento pormenorizado o pr

    prio objeto dste

    ramo

    de Direito. a noo referida

    que

    explica cada

    um

    dos institutos de

    direito

    administrativo e permite fixar-lhes a iden

    tidade, pela compreenso das respectivas disciplinas.

    J se ressaltou, mas no demais repetir

    que

    cada instituto apre

    senta peculiaridade no

    que

    concerne aos princpios

    que

    o norteiam. Obe

    dece a

    regras

    particulares havendo

    certa

    refrangncia nos princpios

    genricos ao se encontrarem com os princpios especficos

    de cada

    ins

    tituto. Estes so tradues particularizadas dos princpios genricos, ten

    do

    em

    vista as peculiaridades de cada

    figura

    jurdico-administrativa.

    49. Outrossim, ao ser conhecido como de

    direito

    administrativo

    um dado instituto no

    h

    necessidade de enumerar e explicar pormeno

    rizadamente

    o complexo

    total de regras que

    lhe so

    pertinentes uma

    vez que,

    de antemo

    se sabe, receber,

    n

    principio.

    e

    em

    bloco, o con

    junto de princpios genricos, convindo, apenas agregar-lhe as peculia

    ridades, o sentido, a direo e a intensidade que a aplicao dos princ

    pios genricos

    tem

    em cada caso, assim como

    eventuais

    derrogaes

    provocadas pelos subprincpios ligados natureza particular do insti

    tuto examinado. Vale, ainda aqui, a analogia dantes invocada:

    quando

    se faz meno a qualquer planta do sistema solar no h necessidade

    de explicar minuciosamente o conjunto de leis que

    regem

    seu equil

    brio e entrosamento no sistema. Sabe-se, desde logo, que

    est

    subme

    tido quele complexo de leis, liminarmente considerado, isto , as do

    sistema solar e planetrio,

    em

    geral.

    50.

    Infelizmente

    a

    doutrina

    especializada

    tem

    despendido pouco

    esfro no sentido de desvendar, arrolar e organizar os princpios b

    sicos do

    regime administrativo embora

    sejam

    indiretamente

    estudados

    pelos mesmos mestres, ao

    tratarem

    dos vrios tpicos do direito admi

    nistrativo. No exame concreto das figuras jurdicas, manejam os men

    cionados cnones, pelo menos enquanto informaes subjacentes ao

    tema, sem contudo elev-los a um nvel categorial, aps indispensvel

    reconhecimento explcito dles. Com isto,

    h

    verdadeira

    atomizao

    de

    noes, que ficam subutilizadas. Cumpre ento, recolh-las, reduzindo

    as a seus denominadores comuns, articul-las para afinal, faz-las re

    fluir

    sbre todos e cada um dos institutos, o que

    permite lanar

    sbre

    les, de imediato,

    uma

    luz esclarecedora apta a instrumentar com pro

    veito considervel, uma viso

    coerente

    e ordenada de cada qual.

    51. Geraldo Ataliba com muita preciso observa que: . . . o estu

    do de

    qualquer

    realidade - seja

    natural

    seja cultural - quer em

    nvel

    cientfico, quer didtico

    ser mais

    proveitoso e seguro, se o agente

    capaz

    de perceber

    e

    definir

    o

    sistema formado pelo objeto

    e

    aqule

    maior no qual ste se insere. Se se

    trata

    de

    produto eultural ainda que

    o esfro humano

    que

    o produziu no

    tenha

    sido consciente de elal:>orar

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    -

    3 1 -

    um

    sistema,

    previamente

    deliberado neste sentido, deve procur-lo e

    apreend-lo o observador ou intrprete.

    Como se disse, poucos foram os princpios expressamente arrecada

    dos e coligidos

    para figurarem como ttes de chapitres, dos vrios ins

    titutos. Sem embargo, valiosssimo o esfro j produzido.

    Tm sido erigidos ao

    nvel de

    princpios bsicos alguns poucos,

    como o princpio

    da

    legalidade, o da prevalncia do intersse pblico

    sbre o privado, o princpio da continuidade do servio pblico,

    o princpio da igualdade de todos perante o servio pblico,27 o princ

    pio da dualidade de jurisdio (comum e administrativa) - inexisten

    te em nosso Direito - o princpio da responsabilidade do Estado e mais

    alguns poucos, esparsos e desconexos

    entre

    si e raras vzes apresenta

    mos expressamente como noes que tipificam o regime administrativo.

    52.

    Entre

    ns, Cirne Lima,

    em

    pginas de inexcedvel valor, fixa

    a noo de relao de Administrao como a . . . base ltima na cons

    truo sistemtica de nossa disciplina . . . 28 Com efeito, confere a esta

    noo o

    carter

    de princpio fundamental, pea matriz

    de

    todo o direito

    administrativo e o faz com indisputvel razo. Sobretudo na

    Introdu

    o , pargrafo segundo, e

    na Parte

    Geral , pargrafo sexto, de seus

    Princpios . .. , nunca assaz louvados, traa com inabalvel segurana e

    clareza notvel o sentido dste conceito, encarecendo-lhe a funo de

    alicerce do direito administrativo.

    53.

    Hely

    Meirelles

    enumera trs

    princpios:

    da

    legalidade,

    da

    mo

    ralidade e

    da

    finalidade, como ditames bsicos

    da

    Administrao P

    blica.

    29

    O segundo dles, desejvel por todos os ttulos, como mdulo

    de comportamento administrativo, parece-nos, todavia, deslocado, no

    servindo como critrio cientfico

    para

    o Direito,

    em

    geral, e

    para

    o

    administrativo, em particular. So, a nosso ver, impugnveis os atos

    praticados em desafio moralidade, apenas quando passveis de ful

    minao por contraditrios aos dois outros princpios

    que

    mencionou:

    da legalidade e da finalidade.

    Entendemos que a doutrina - certamente absorvida

    na

    anlise

    de outros'temas relevantes - tratou vo d oiseau ste importantssimo

    problema da fixao dos princpios fundamentais do direito adminis-

    26 Geraldo Ataliba, op. cit., pgs. 4 e 5.

    27

    Gaston

    Jeze

    formula

    nos

    seguintes

    trmos o

    citado

    prinCipIO:

    Todos

    os Indlviduos

    que

    renem determinadas condies, estabelecidas de maneira geral e impessoal pela lei orgnica

    dos servios (lei, regulamento, instrues

    gerais),

    tm o poder juridlco de exigir a

    prestao

    que

    o

    objeto

    do servio pblico: trata-se do principio da

    igualdade

    dos individuos

    ante

    os servios

    pblicos

    (Principios Oenerales dei Derecho Administrativo,

    1949,

    Buenos

    Aires, vol.

    111

    pg.

    24,

    traduo

    direta da 3- edio francesa de 1930).

    28 Ruy Clrne Lima, Principios

    de

    Direito Administrativo Brasileiro, 3 ' ed., 1954, pg. 57.

    29 Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 1964,

    pg.

    56.

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    -

    3

    trativo.

    Por

    isso mesmo,

    ainda est por ser convenientemente

    delineado

    o

    regime

    administrativo, sem embargo

    de ser

    le, afinal, o ponto me

    dular

    desta disciplina jurdica.

    54. H, na matria, verdadeira lacuna reclamando

    preenchimento

    urgente. Eis porque, no havendo a

    doutrina

    atribudo ao

    regime

    admi

    nistrativo funo categorial, poucos so os princpios diretamente qua

    lificados pela

    doutrina

    como noes articuladoras do direito adminis

    trativo. Falase

    em

    regime

    de

    direito pblico ,

    em

    processo

    de

    direito

    pblico ,

    em

    regime administrativo ,

    mas

    no

    se lhes

    expe as

    coordenadas.

    A

    espera

    de fras mais robustas

    que tratem

    da matria, aponta

    mos os princpios

    que

    nos parecem formar,

    em

    seu

    conjunto, a tipici

    dade do regime administrativo e, portanto, do prprio direito admi

    nistrativo.

    55. Resumindo o que se exps e j agora sem agregar comentrios

    ou estabelecer sucessivos encadeamentos

    entre

    os vrios princpios para

    determinar-lhes a filiao, vo relacionados abaixo todos os

    que

    pro

    manam dos dois cnones fundamentais: supremacia do intersse p

    blico sbre o privado e indisponibilidade dos intersses pblicos.

    1

    Princpio

    da

    posio privilegiada dos rgos

    da

    Administrao

    Pblica nas relaes jurdicas;

    2

    Princpio

    da

    supremacia

    dos rgos

    da

    Administrao

    Pblica

    (expressado sobretudo atravs dos seus desdobramentos contidos nos

    princpios imediatamente seguintes);

    3) Princpio do estabelecimento unilateral de obrigaes aos par

    ticulares (Poder

    de

    Polcia e atos que traduzem o imprio

    em geral);

    4) Princpio

    da

    presuno

    de

    veracidade dos atos administrativos;

    5

    Princpio da presuno de legitimidade dos atos adminis-

    trativos;

    6 Princpio da exigibilidade dos atos administrativos;

    7

    Princpio

    da

    auto-executoriedade dos atos administrativos;

    8

    Princpio da revocabilidade, pela Administrao, dos atos admi

    nistrativos;

    9 Princpio da declarao e nulidade dos atos administrativos,

    pela Administrao;

    10

    Princpio

    da

    modificao e resoluo

    unilateral

    das relaes

    jurdico-administrativas;

    11

    Princpio da legalidade;

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    3 3

    -

    12) Princpio da responsabilidade do Estado;

    13) Princpio da obrigatoriedade do desempenho da ativdade p-

    blica;

    14) Princpio da discricionariedade;

    15) Princpio da continuidade

    da

    atividade pblica;

    16) Princpio do contrle administrativo;

    17, Princpio da isonomia;

    18) Princpio da inalienabilidade dos direitos concernentes a inte

    rsses pblicos.

    A stes, deve-se acrescer, ainda,

    um princpio tcnico de organiza

    o dos rgos administrativos: o princpio

    da

    hierarquia.

    Compreende-se

    que

    o desenvolvimento, desdobramento e explicao

    dstes vrios princpios. assim como suas aplicaes concretas vista

    de cada instituto, sejam o prprio objeto do direito administrativo.

    Ento, descabe. evidentemente. neste trabalho, precises ou comentrios

    alm

    dos

    que

    se fz.

    56. No se pretende que a relao exposta seja exauriente ou que

    a articulao dos vrios princpios tenha sido exposta com suficiente

    sedimentao capaz

    de

    resguard-la de

    uma

    spera, contnua e sucessi

    va reelaborao crtica. Entretanto a audaciosa, porque singela, expo

    sio dstes princpios, assim como o tmido e incipiente resultado

    obtido no esfro de encade-los nesta abordagem, foi impsto pela ne

    cessidade de

    procurar

    uma

    trilha simultneamente nova e urgente e, por

    isso mesmo, pouco resguardada. Sua justificativa a prpria necessi

    dade de deslocar o eixo metodolgico de apreciao do direito admi

    nistrativo e seus institutos.

    57. Compreende-se. outrossim, que a afirmao dos vrios cnones

    que

    compem o regime administrativo estabelece ditames genricos

    para

    o entendimento e interpretao do direito administrativo. Todos

    stes princpios vigoram segundo

    determinadas

    condies, regulamen

    tao e limites, admitindo variantes, temperamentos e qualificaes

    particulares vista do significado singular que assumem em funo da

    legislao concernente aos diversos institutos do direito administrativo.

    Sem

    embargo, desempenham o

    papel

    de guia; norte que

    orienta

    a com

    preenso

    desta

    disciplina e radical

    que

    a unifica e

    lhe d

    organicidade

    e coeso.

    B stes

    princpios genricos so o direito comum do direito admi

    nistrativo , admitindo apenas, como foi frisado

    retro

    certas refraes

    e particularidades ao encontrarem

    n concreto

    cada

    um

    dos institutos

    em suas conformaes peculiares especificamente ditadas pelos fins a

    que tendem.