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Rio Branco - Acre 2010 Livro Temático | Vol. 2 C o l e ç ã o T e m á t i c a d o Z E E RECURSOS NATURAIS: GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E SOLOS DO ACRE Secretaria de Estado de Meio Ambiente Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO ACRE FASE II - ESCALA 1:250.000

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  • Rio Branco - Acre2010

    Livro Temático | Vol. 2C o l e ç ã o T e m á t i c a d o Z E E

    RECURSOS NATURAIS: GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E SOLOS DO ACRE

    Secretaria de Estado de Meio AmbientePrograma Estadual de Zoneamento Ecológico -Econômico do Acre

    ZONEAMENTO ECOLÓGICO -ECONÔMICO DO ACRE FASE II - ESCALA 1:250.000

  • Livro Temático | Vol. 2 COLEÇÃO TEMÁTICA DO ZEE

    RECURSOS NATURAIS: BIODIVERSIDADE E AMBIENTES DO ACRE

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Acre. Secretaria de Estado de Meio AmbienteRecursos naturais: geologia, geomorfologia e solos do Acre. ZEE/AC, fase II, escala 1:250.000 /

    Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre. - Rio Branco: SEMA Acre, 2010. 100 p. _ (Coleção Temática do ZEE; v. 2).

    1. Resíduos sólidos – Solos – Acre (Estado). 2. Geomorfologia – Acre (Estado). 3. Ge-ologia – Acre (Estado). 4. Solos – Formação – Acre (Estado). I. Título. II. Acre, Governo do Estado do.

    CDD. 551.41098112

    Bibliotecária responsável: Maria do Socorro de O. Cordeiro – CRB 11/667.

    Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA

    Rua Benjamin Constant, 856 – Centro | CEP. 69900-160 - Rio Branco – Acre – Brasil

    Fone: 55 (0xx68) 3224-3990/7129/8786 | Fone Fax: 55 (0xx68) 3223-3447

    E-mail: [email protected]

    ©2010 SEMA

    ORGANIZAÇÃO DA PUBLICAÇÃO

    Conceição Marques de Souza Coordenadora do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental/SEMA

    Edson Alves de Araújo Assessor Técnico de Gabinete/SEMA

    Magaly da Fonseca S. T. Medeiros Coordenadora do Escritório em Brasília/SEPLAN/EAB

    Átila de Araújo Magalhães Técnico/SEMA

    Diagramação e Arte FinalMX Design | Antonio Queiroz

    ImpressãoGráfica Imediata

  • Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República

    Izabella Teixeira Ministra do Meio Ambiente

    Arnóbio Marques de Almeida Júnior Governador do Estado do Acre

    Carlos César Correia de Messias Vice -Governador

    Fábio Vaz de Lima Coordenador da Área de Desenvolvimento Sustentável

    Gilberto do Carmo Lopes Siqueira Secretário de Estado de Planejamento

    Eufran Ferreira do Amaral Secretário de Estado de Meio Ambiente

    Cleísa Brasil da Cunha Cartaxo Diretora -Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre

    Felismar Mesquita Moreira Diretor -Presidente do Instituto de Terras do Acre

    Carlos Ovídio Duarte da Rocha Secretário de Estado de Floresta

    Nilton Luiz Cosson Mota Secretário de Estado de Extensão Agroflorestal

    e Produção Familiar

    Mauro Jorge Ribeiro Secretário de Estado de Agropecuária

    João César Dotto Diretor -Presidente da Fundação de Tecnologia

    do Estado do Acre

    Roberto Barros dos Santos Procurador Geral do Estado

    Maria Corrêa da Silva Secretária de Estado de Educação

    Osvaldo de Souza Leal Júnior Secretário de Estado de Saúde

    Mâncio Lima Cordeiro Secretário de Estado de Fazenda

    Márcia Regina de Sousa Pereira Secretária de Estado de Segurança Pública

    Marcus Alexandre Médice Aguiar Diretor -Geral do Departamento Estadual de Estradas de

    Rodagem, Hidrovias e Infra -Estrutura Aeroportuária

    Paulo Roberto Viana de Araújo

    Diretor -Presidente Instituto de Defesa

    Agropecuaria e Florestal

    Cassiano Figueira Marques de Oliveira

    Secretário de Estado de Esporte, Turismo e Lazer

    Aníbal Diniz

    Secretário de Estado de Comunicação

    Eduardo Nunes Vieira

    Secretário de Infraestrutura, Obras Públicas e Habitação

    Petrônio Aparecido Chaves Antunes

    Diretor do Departamento de Águas e Saneamento

    Laura Keiko Sakai Okamura

    Secretária de Estado de Desenvolvimento

    para Segurança Social

    Daniel Queiroz de Sant’ana

    Diretor -Presidente da Fundação de Cultura e Comunicação

    Elias Mansour

    Mâncio Lima Cordeiro

    Secretário de Estado de Gestão Administrativa

    Ilmara Rodrigues Lima

    Diretora -Presidente da Companhia de Habitação do Acre

    Carlos Alberto Ferreira de Araújo

    Secretário de Estado de Articulação Institucional

    Irailton Lima de Souza

    Diretor -Presidente do Instituto Estadual de

    Desenvolvimento de Educação Profissional

    Dom Moacir Grechi

    Francisco da Silva Pinhanta

    Assessor Especial dos Povos Indígenas

  • Comissão EditorialPresidente: Eufran Ferreira do Amaral - SEMA | EMBRAPA/AC

    Vice -Presidente: Edson Alves de Araújo - SEMA/SEAP

    MembrosAdriano Alex do Santos e Rosário - SEMA

    Antônio Wilian Flores de Melo - UFAC

    Átila de Araújo Magalhães - SEMA

    Carlos Edegard de Deus - FEM | Biblioteca da Floresta

    Claudenir Maria Ferreira da Rocha - SEMA

    Conceição Marques de Souza - SEMA

    Jakeline Bezerra Pinheiro - SEMA

    Janaina Silva de Almeida - SEMA

    Judson Ferreira Valentim - EMBRAPA -Acre

    Jurandir Pinheiro de Oliveira Filho - SEMA

    Magaly da Fonseca S. T. Medeiros - SEPLAN/EAB

    Maria Aparecida de O. Azevedo Lopes - SEMA

    Marília Lima Guerreiro - SEMA

    Marta Nogueiro de Azevedo - SEMA

    Mónica Julissa De Los Rios de Leal - SEMA

    Nilson Gomes Bardales - SEMA

    Renata Gomes de Abreu - SEMA

    Roberto de Alcântara Tavares - SEMA

    Rosana Cavalcante dos Santos - SEMA

    Sara Maria Viana Melo - SEMA

    RevisoresGEOLOGIA DO ESTADO DO ACRE

    Pedro Edson Leal Bezerra, Dr. em Geologia | UFPA

    Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA

    - Revisão Técnica

    GEOMORFOLOGIA DO ESTADO DO ACRE

    Carlos Ernesto G. R. Schaefer, Dr. em Solos e Nutrição

    de Plantas | UFV

    José Eduardo Bezerra da Silva, M.Sc.. Geografia | IBGE/RJ

    Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA

    - Revisão Técnica

    BASES GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS DA

    FORMAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS SOLOS NO ESTADO

    DO ACRE

    Paulo Guilherme Salvador Wadt, Dr. em Solos e Nutrição

    de Plantas | Embrapa -Acre

    Luciana Mendes Cavalcante, M.Sc.. em Geologia

    e Geoquímica | PETROBRÁS

    Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA

    - Revisão Técnica

    FORMAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

    GEOGRÁFICA DOS SOLOS DO ACRE

    José Ribamar Torres da Silva, Dr. em Ciências

    do Solo | UFAC

    João Luiz Lani, Dr. em Solos e Nutrição de Plantas | UFV

    Paulo Emílio Ferreira da Motta, Dr. em Ciências do Solo |

    EMBRAPA -Solos

    Manuel Alves Ribeiro Neto, M.Sc.. em Ciências

    do Solo | UFAC

    João Martiniano Pereira, M.Sc.. em Solos | Embrapa -Acre

    Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA

    - Revisão Técnica

  • O Zoneamento Ecológico ‑Econômico (ZEE) tem como atribuição fornecer sub‑sídios para orientar as políticas públicas relacionadas ao planejamento, uso e ocu‑pação do território, considerando as po‑tencialidades e limitações do meio físico, biótico e socioeconômico, tendo como eixo norteador os princípios do Desenvol‑vimento Sustentável. É uma ferramenta essencial para a definição de estratégias compartilhadas de gestão do território en‑tre governo e sociedade.

    No território acreano, a elaboração par‑ticipativa do ZEE envolveu estudos sobre sistemas ambientais, potencialidades e li‑mitações para o uso sustentável dos recur‑sos naturais, relações entre a sociedade e o meio ambiente e identificação de cená‑rios, de modo a subsidiar a gestão do terri‑tório no presente e no futuro, num grande pacto de construção da sustentabilidade a partir de uma economia de base florestal com foco na melhoria de qualidade de vida da população.

    O Zoneamento Ecológico ‑Econômico do Acre Fase II – Escala 1:250.000 foi elabo‑rado a partir da contribuição de inúmeros especialistas, em diferentes campos do co‑nhecimento cujos subsídios foram incor‑porados ao Documento Síntese. São estu‑dos inéditos, elaborados especificamente para subsidiar nas decisões a serem toma‑das sobre o território do Acre.

    Tornar acessíveis, na íntegra, os es‑tudos temáticos do ZEE é o objetivo da Coleção Temática do ZEE Fase II. O tema interessa não somente àqueles que estu‑dam a realidade acreana ou amazônica, mas também aos que vêem o zoneamento como instrumento estratégico primordial

    Apresentação Geral

    de ordenamento do espaço, dos recursos e das atividades econômicas.

    A presente Coleção Temática do ZEE Fase II é dividida em Livros Temáticos, compostos de vários artigos específicos que permitem a visão de temas como: Concepção filosófica e metodológica da construção do ZEE; Geolo‑gia, geomorfologia e Solos do Acre; A biodi‑versidade do Acre; Os ambientes do Acre e a Vulnerabilidade Ambiental; Situação Fun‑diária e Conflitos; Aspectos socioeconômi‑cos; Uso dos Recursos Naturais; M.Sc..ória, Identidades e Territorialidade; As Cidades e as fronteiras; Aspectos Político e Institucio‑nal e a percepção social; A Gestão Territorial do Acre e outros temas a serem inseridos no decorrer do processo de implementação do ZEE, se mostrando uma coleção aberta para novas atualizações e temas.

    Com essa iniciativa o Governo do Estado do Acre busca reafirmar seu compromisso com um futuro do Acre e da Amazônia, cons‑truído por todos e pautado no conhecimen‑to da realidade, no planejamento das ações e na permanente ampliação dos benefícios do desenvolvimento sustentável para toda a sociedade. É a Florestania que vai além da cidadania dos povos da floresta. É o embasa‑mento cultural de um projeto de desenvol‑vimento sustentável que deseja colaborar e ter a cooperação de parceiros para constru‑ção da Sociedade do Século XXI.

    É uma pequena contribuição de quem está vencendo uma realidade desfavorável de conservar a floresta e criar esperança para seus povos. Muito ainda há por se fazer neste varadouro da sustentabilidade, porém o conhecimento do território é a base para tornar realidade o sonho de viver em um mundo sustentável.

  • Sumário

    Capítulo 1. Geologia do Estado do Acre .....................................................................101. Introdução .................................................................................................................. 10

    2. Descrição Metodológica ........................................................................................... 10

    2. 1. Material Utilizado ...................................................................................... 10

    2. 2. Estudos Preliminares.................................................................................. 11

    2. 3. Estudo Temático ........................................................................................ 11

    3. Geologia do Acre ....................................................................................................... 11

    4. A Geologia nas Regionais do Acre ........................................................................... 19

    5. Potencialidades de Uso e Aplicação ........................................................................ 24

    6. Neotectônica no Acre ............................................................................................... 27

    7. Considerações Finais .......................................................................................................

    Capítulo 2. Geomorfologia do Estado do Acre ............................................................321. Introdução .................................................................................................................. 32

    2. Descrição Metodológica ........................................................................................... 32

    2. 1. Material Utilizado ...................................................................................... 32

    2. 2. Estudos Preliminares.................................................................................. 33

    2. 3. Estudo Temático ........................................................................................ 33

    2. 4. FundamentaçãoTeórica ............................................................................ 33

    3. Geomorfologia da Área ............................................................................................ 34

    4. A Geomorfologia nas Regionais do Acre ................................................................ 40

    Capítulo 3. Bases Geológicas e Geomorfológicas da Formação e Distribuição dos Solos no Estado do Acre .......................................................................................44

    1. Introdução .................................................................................................................. 44

    2. O Papel da Geotectônica do Acre na Formação dos Solos ................................ 45

    3. O Papel da Geotectônica do Acre na Formação dos Solos ................................ 56

    4. Considerações Finais .................................................................................................. 62

    Capítulo 4. Formação, Classificação e Distribuição Geográfica dos Solos do Acre .........641. Gênese dos Solos do Acre ........................................................................................ 64

    2. Principais Classes de Solos ........................................................................................ 65

    3. Considerações Finais .................................................................................................. 91

  • O uso adequado dos recursos naturais de forma sustentável não pode e nem deve ser mais um sonho efêmero e passageiro. Tem que ser real em razão de se garantir a pró‑pria existência da raça humana. Os recursos naturais não podem ser, na visão financista, simplesmente um dos fatores de enrique‑cimento e de uso infinito. Eles são, na sua maioria, finitos, vivos, interdependentes e carecem de cuidados de forma a serem utili‑zados com sabedoria. Nos dizeres da ordem divina referentes a Adão e Eva: é preciso cuidar, amar e não destruir o que nos foi le‑gado e se agirmos de maneira irresponsável seremos expulsos, como aqueles, do “paraí‑so”. Foi a primeira missão dada ao homem. Cuidar da Terra.

    Conscientes disso e desejando tornar rea‑lidade nossos sonhos, sabemos que é preciso AGIR, com temor e de forma sensata e sábia. Lavrar e guardar a terra. Usar de forma que atenda as nossas necessidades, mas também, que permaneça para os outros ‑ sustenta-bilidade. Mas como cuidar bem e adequa‑damente se não conhecemos os princípios, as inter ‑relações da natureza de forma que possamos planejar as ações adequadas? Não podemos mais nos aventurar ou como dizem: “atirar no escuro”. Não há mais tem‑po para erros grosseiros ou irresponsabili‑dades, até porque os recursos naturais estão cada vez mais escassos e o tempo de agir se esvai apressadamente.

    Diante desses desafios a serem enfrenta‑dos para o bem da humanidade o Governo do Acre num esforço integrado, amadureci‑do e com todo o respeito à natureza e acima de tudo com o desejo de acertar, disponibi‑liza a sociedade esta coleção temática que faz parte dos produtos oriundos dos estudos do PROGRAMA ESTADUAL DE ZONEAMEN‑TO ECOLÓGICO ‑ECONÔMICO DO ACRE – FASE II. O objetivo é trazer à sociedade os

    conhecimentos atuais a respeito do Acre para o seu melhor uso. Terra amazônica, dis‑tante dos grandes centros brasileiros, dife‑rente, com gente valente, altaneira, vibrante e disposta, a exemplo de Chico Mendes e tantos outros e com um ambiente peculiar do resto da Amazônia. Terra de solos férteis e ricos, cujos rios corriam para o oceano Pa‑cífico e atualmente para o Atlântico. Talvez nesta inversão, ocorrida há tantos anos a natureza nos lega um grande ensino: DA NE‑CESSIDADE DE PROCURAR NOVOS CAMI‑NHOS. Vencer cordilheiras intransponíveis, entremear entre opiniões diversas, povos e críticas, mas à semelhança dos rios, procu‑rar sempre os caminhos mais baixos – o da humildade. Vencendo no tempo e no espa‑ço as barreiras aparentemente difíceis ou impossíveis de serem superadas. Mas, a se‑melhança dos rios que encontraram novos caminhos, o povo acreano talvez tenha um “destino, uma grande responsabilidade, uma dádiva” de mostrar para o mundo os novos caminhos de uso da natureza: de viver na floresta e com a floresta.

    Diante de tantos desafios talvez também os rios Acre, Juruá, Purus e tantos outros que banham esta terra nos ensinem a ter tempo de cheia e de vazantes. Abundância e escassez. Transportar riquezas pelas suas águas e deixar nas vazantes os seus leitos férteis para a produção de alimentos à hu‑manidade. Nos seus leitos meândricos talvez uma grande lição: é preciso tempo, paciência para se chegar ao destino, mas nem por isto, na demora, deixar de sermos úteis. Banhar com as suas águas os solos férteis e deixar as argilas nas suas barrancas. Ao mesmo tempo caminhar e deixar ser caminhado. Re‑ceber, às vezes, o pior do ser humano, lixo, descaso, mas no seu silêncio tentar levar tudo isso adiante. Morrer silenciosamente, mas nunca deixar de tentar vencer.

    Apresentação

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  • Assim, são as palavras aqui contidas, nos seus diversos capítulos, que o Governo coloca a disposição da sociedade de forma simples, de fácil compreensão tanto para es‑pecialistas como para leigos.

    A Geologia – que trata da origem das ter‑ras do Acre. Como foi formada? Quais são os seus constituintes?

    A Geomorfologia – como foram esculpi‑das as suas formas, seu relevo. O que eles nos indicam?

    As Bases geológicas e geomorfológicas da formação e distribuição dos solos no Estado do Acre – como estas bases influen‑ciaram a formação dos diferentes tipos de solos existentes?

    Os Solos – a sua formação (gênese), clas‑sificação e sua distribuição geográfica no Estado do Acre.

    É um exercício. Não é, com certeza, um trabalho acabado e plenamente correto ain‑da que feito por especialistas. Oxalá fosse. Foi o melhor de cada um. O possível. Talvez aos leitores, a semelhança dos olhos d’água, nascentes, igarapés que na sua pequenez, mas que são a origem dos grandes rios, juntem ‑se a nós, com as suas críticas, su‑gestões e possam ao longo do tempo, aper‑feiçoar, melhorar, e assim no transcurso da vida, como partículas de um todo, possamos cuidar de forma melhor o legado que nos foi dado e chegarmos ao destino final a se‑melhança dos rios, a foz, belos e essenciais a vida.

    João Luiz Lani

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  • 1Capítulo

    Livro Temático | Volume 2 Coleção Temática do ZEE

    Recursos Naturais Geologia, Geomorfologia e Solos do Acre

    Geologia do Estado do Acre

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    A gestão territorial consiste na ocupa-ção racional do território e uso eco-nômico e sustentável dos recursos naturais. Portanto, o Zoneamento Ecológico-Econômico é um instrumento de or-denamento territorial para orientar o planeja-mento de uso e ocupação do território confor-me os condicionantes do meio físico, biótico e socioeconômico (SAE, 1991).

    No tocante ao meio físico, partindo de uma visão holística em que todos os com-ponentes interagem entre si e são inter-dependentes, há que ser feita uma estra-tificação baseada na análise das relações existentes entre esses principais compo-nentes: rochas, relevo, solos, hidrografia, vegetação e clima para que se proceda ao diagnóstico ambiental e a avaliação da vulnerabilidade e potencialidade natural de uma dada região. É nesse contexto que o estudo da geologia do Estado do Acre, enfocada em nível regional ao longo do presente texto, se faz necessário.

    O Zoneamento Ecológico-Econômi-co do Estado do Acre, em sua primei-ra fase, apresentou dados em escala 1:1.000.000. Na versão atual os re-sultados são compatíveis com a escala 1:250.000, o que proporciona maior grau de detalhamento nos produtos gerados. Para o tema Geologia a tarefa foi a de compilar um leque de informa-

    ções dispersas e gerar mapas temáticos a partir do banco de dados do projeto SIPAM – IBGE (Sistema de Proteção da Amazônia – Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística). Os aspectos gerais da geologia retratados no mapa geo-lógico e detalhados ao longo do texto, constituem informações que subsidia-ram a elaboração do Mapa de Gestão do ZEE/AC. O mapa geológico em desta-que, portanto, informa a área de ocor-rência de determinados tipos de rochas nos domínios do Estado do Acre, agru-padas em unidades litoestratigráficas ou edafoestratigráficas, e as suas rela-ções espaciais e cronológicas. A partir disso, pode -se concluir seus ambientes de formação e seus comportamentos mediante processos físicos naturais ou antrópicos que podem afetar sua dis-posição e determinar seu grau de vul-nerabilidade, além das potencialidades em relação à concentração de bens mi-nerais de interesse econômico.

    2. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA

    2. 1. Material Utilizado

    O material em formato digital utilizado durante a pesquisa pertence ao acervo do IMAC, já os em formato analógico foram

    Geologia do Estado do Acre

    Texto:b Luciana Mendes Cavalcante1

    1. INTRODUÇÃO

    1 MestreemGeologiaeGeoquímica|Petrobrás

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    Acre

  • consultados na EMBRAPA - Amazônia Orien-tal, constando de:

    Banco de dados gráficoalfanumérico desenvolvido e alimentado pelo IBGE para o Projeto SIPAM, consistindo de mapas no formato digital de geologia com escala de entrada 1:250.000, e dados alfanuméricos sobre os diversos temas.

    1. Arquivos vetoriais contendo a hidro-grafia das cartas topográficas do IBGE e DSG na escala 1:250.000 disponíveis para a área, e das cartas planialtimétri-cas do Projeto RADAMBRASIL na mes-ma escala (Quadro 1).

    2. Imagens ETM do satélite LANDSAT 7, em formato digital com as configura-ções constantes no Quadro 1.

    Quadro 1. Materiais utilizados neste trabalho.

    Imagens de Satélite Órbita – ponto WRS*

    Base topográfica de acordo com o corte

    internacional na escala 1:250.000**

    001/067 004/066 SB18ZC SC19VD

    002/066 004/067 SB18ZD SC19XA

    002/067 005/065 SB19YC SC19XC

    002/068 005/066 SB19YD SC19XD

    003/066 005/067 SC18XA SC19YA

    003/067 006/065 SC18XB SC19YB

    003/068 006/066 SC18XD SC19YD

    004/065 SC19VA SC19ZA

    SC19VB SC19ZB

    SC19VC SC19ZC

    Fonte: *Inpe, 2006; **Radambrasil, 1976.

    2. 2. Estudos Preliminares

    Os estudos preliminares envolveram a reunião, o cadastramento e a sistematização das informações geológicas obtidas através

    de levantamentos bibliográficos, e o prepa-ro do material básico – imagens de sensores remotos - para interpretação.

    2. 3. Estudo Temático

    O procedimento de obtenção de informa-ções geológicas para o estudo temático em si compreendeu duas vertentes principais: síntese e revisão bibliográfica e elaboração de bases cartográficas através da interpreta-ção de produtos de sensores remotos.

    A síntese e a revisão bibliográfica envol-veram consultas sobre a geologia em diferen-tes escalas disponíveis na literatura sobre a área de estudo, além dos materiais cartográ-ficos e dos produtos de sensores remotos.

    Os resultados apresentados quanto à Geologia dizem respeito à delimi-tação de unidades litoestratigráficas, localização de ocorrências fossilífe-ras e minerais, além da delineação das principais estruturas tectônicas.

    O ajuste das informações geoló-gicas às bases cartográficas foi fei-to por meio de técnicas de geopro-cessamento utilizando o programa ARCGIS 9.0. Foram gerados mapas geológicos digitais e analógicos e posteriormente comparados. Isto se deu para fins de maior confiabilidade nos produtos finais.

    3. GEOLOGIA DO ACRE

    No Estado do Acre, a unidade geotectônica mais importante é a Bacia do Acre (Figura 1), que com-preende, em superfície, unidades essencialmente cenozóicas. Entre-tanto, em sua porção mais a oeste ocorrem remanescentes mesozóicos e até pré -cambrianos. Sua história geológica envolve primeiramente

    deposição pericratônica e marginal aberta no Paleozóico, resultando em sedimentos continentais intercalados a sedimentos ma-rinhos. Segundo Oliveira (1994), partindo de análises de feições sismoestratigráficas em seções sísmicas realizadas pela Petro-

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    brás, e das principais estruturas da bacia, a sedimentação inicial se deu por rifteamen-to intracontinental com possíveis incursões marinhas. Entretanto para Caputo (1973) tal possibilidade só é vislumbrada para as Bacias do Solimões e do Amazonas. Após o soerguimento do Andes, a deposição se deu em ambiente essencialmente intracontinen-tal, com a presença de lagos e posteriormen-te, de megaleques aluviais.

    O embasamento da Bacia do Acre é re-presentado pelo Complexo Jamari, sua unidade litoestratigráfica mais antiga que aflora nas cabeceiras do rio São Francisco (extremo oeste do Estado, na Serra do Ja-quirana), e compreende rochas gnáissicas, granulitos, anfibolitos, quartzo -dioritos e

    xistos. Corresponde ao Complexo Xingu citado na primeira fase do ZEE, mas aqui diferenciado deste por maior complexi-dade litológica, bem como por ambiência tectônica, posto que a Bacia ter -se -ia de-senvolvido sobre a Faixa Móvel Rondo-niana, cujo embasamento é o chamado Complexo Jamari.

    Em discordância com essa unidade ocor-re a Formação Formosa, cujos litotipos são resultantes de uma emersão do escudo bra-sileiro, conforme Caputo (1973). Após essa deposição houve manifestação ígnea alcali-na (subida de magma), causando metafor-mismo de contato na Formação Formosa. Esse evento originou corpos intrusivos de pequenas dimensões (Sienito República).

    Figura 1. Localização da Bacia do Acre no contexto geotectônico amazônico. (1) a - Formação Soli-mões, b - sedimentos terciários; (2) Formação Içá; (3) Formação Alter do Chão; (4) coberturas protero-

    zóicas; (5) rochas paleozóicas; (6) coberturas do Quaternário. Fonte: Adaptado de Bezerra, 2003.

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    Durante o Cretáceo, houve momentos de incursões e regressões marinhas sucessi-vas, resultando na deposição do Grupo Acre. De uma forma geral, houve subsidência na área, desta feita do tipo flexural em resposta à sobrecarga imposta já nesta época pelos dobramentos andinos. O Arco de Iquitos (que separa a Bacia do Acre da Bacia do So-limões) funcionava como área fonte de se-dimentos nos momentos de sedimentação clástica regressiva (momentos de saída do mar). Após o soerguimento dos Andes (Oro-genia Quéchua), o Arco de Iquitos foi rebai-xado e a Bacia do Acre tornou -se intraconti-nental ou de antepaís, com área fonte vinda do oeste. Nesse momento depositaram -se os litotipos da Formação Solimões e, pro-vavelmente, concomitantemente ou logo após a deposição da Formação Içá que foi depositada a seguir, houve a inversão dos sistemas de drenagem para leste e formação dos rios Solimões e Amazonas. Maia et al (1977), em razão de análises de sondagens e perfurações, separa o material da base da então Formação Solimões em uma outra formação, a Ramon (constituída por siltitos e arenitos de ambiente oxidante). Não há

    Quadro 2. Coluna Estratigráfica das unidades florantes no Estado do Acre.

    Era Período Época Formação Características Litológicas

    Cen

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    Aluviões holocênicos

    (QHa) depósitos grosseiros a conglomeráticos, representando residuais de canal, arenosos relativos

    a barra em pontal e pelíticos relacionados a transbordamentos.

    Coluviões holocênicos

    (QHc) material grosso disposto no sopé de montanhas em forma de leque aluvial.

    Terraços holocênicos

    (QHt) depósitos de planície fluvial, cascalhos lenticulares de fundo de canal, areias de barra em pontal e siltes e

    argilas de transbordamento.

    Areias quartzosas

    (QHaq) areais inconsolidados em interflúvios.

    Plei

    sto

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    Terraços Pleistocênicos

    (QPt) terraços fluvias antigos. Argilas, silte e areias, localmente com intercalações lenticulares de argilitos e

    conglomerados.

    registros no banco de dados do SIPAM so-bre a mesma, provavelmente porque foram descritas somente unidades que afloram em território acreano.

    Em seguida, já no Pleistoceno, alterna-ram-se momentos de quietude (em que se dá instalação dos perfis lateríticos – co-berturas detritolateríticas) com outros de movimentação tectônica. Essa nova tectô-nica (Neotectônica) gerou reativações de antigas falhas, soerguendo e rebaixando blocos e sendo a responsável pela deposi-ção do material holocênico, além de con-trolar a distribuição do relevo e da dre-nagem atuais. Na tabela a seguir (Quadro 2) estão listadas as unidades mapeadas na escala de 1:250.000, que compreendem a coluna litoestratigráfica da área. Em seguida é apresentado o mapa geológico do Estado do Acre (Figura 2). Em com-paração às unidades relatadas em escala 1:1.000.000 (na primeira fase do ZEE), verifica -se uma melhor separabilidade em função da diminuição da escala, pois as unidades do Pleistoceno eram restritas a Formação Cruzeiro do Sul e as do Holoce-no, aos aluviões.

    Continua

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    Quadro 2. Coluna Estratigráfica das unidades florantes no Estado do Acre.

    Era Período Época Formação Características Litológicas

    Plei

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    ceno Coberturas

    detrito--lateríticas

    (QPdl) material argiloarenoso amarelado, caolinítico, alóctone e autóctone.

    Cen

    ozó

    ico

    Formação Cruzeiro do Sul

    (QPcs) terraços, originados através de sedimentação fluvial, flúviolacustre e aluvial, constituídos por arenitos

    finos a médios, friáveis, maciços e argilosos, com intercalações de argilitos.

    Terc

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    o

    Plio

    ceno

    M

    ioce

    no Formação Solimões

    (TNs) sedimentos pelíticos fossilíferos (argilitos com intercalações de siltitos, arenitos, calcários e material

    carbonoso), de origem fluvial e flúviolacustre, com estratificações planoparalelas e cruzadas tabulares e

    acanaladas.

    Mes

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    ico

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    ano

    *Formação Divisor

    (Kd) arenitos brancos, amarelos e vermelhos, maciços ou com estratificação cruzada, médios, bem selecionados,

    com intercalação de siltitos.

    Cam

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    *Formação Rio Azul

    (Kra) compõe -se de arenitos finos, com intercalações de folhelhos e níveis de calcário (na base) e para o

    topo esses arenitos contêm intercalações de siltitos cinzaesverdeados.

    *Formação Moa

    (Km) conglomerados polimíticos basais encimados por arenitos finos a conglomeráticos com estratificação

    cruzada. No topo, arenitos finos a médios, estratificação cruzada e níveis conglomeráticos.

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    (PS(L))r composta por quartzo traquito pórfiro, ultramilonito, microsienito, sienito, traquito pórfiro cataclástico, sienito pórfiro, nordmarkito, quartzo

    traquito e traquito amigdaloidal, constituem corpos de pequenas dimensões.

    Form

    ação

    Fo

    rmo

    sa (PSf) quartzitos cinzaescuros, muito duros, camadas de chert cinzaclaro e esbranquiçadas, metassiltitos e arenitos quartzíticos. Apresenta metamorfismo

    de contato devido à intrusão de rocha sienítica.

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    (PIMj) rochas de alto grau de metamorfismo na forma de gnaisses, migmatitos, granitos anatéticos, granulitos, leptitos e charnockitos.

    Fonte: IBGE, 1999. *Grupo Acre

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  • Complexo Jamari (PIMj)

    Esta unidade representa a associação de rochas mais antiga da região, ocorrendo no extremo oeste do Estado do Acre. Foi desig-nada por Silva et al. (1974) como Complexo Xingu. Entretanto, Isotta et al. (1978), consi-derando que em Rondônia o Complexo Xin-gu envolveria determinadas litologias, como xistos, quartzitos e rochas intrusivas, não encontradas no embasamento da região, e ainda, que seria bastante difícil à identifi ca-ção pura e simples de Complexo Xingu, pro-puseram a denominação Complexo Jamari, a qual está sendo adotada aqui.

    Os principais litotipos são rochas de alto grau metamórfi co na forma de gnaisses, migmatitos, granitos anatéticos, anfi bolitos, leptitos e charnoquitos.

    Formação Formosa (PSf)

    A primeira citação sobre litologias desta unidade encontra -se em Moura & Wander-ley (1938); posteriormente Leite (1958) in-troduziu a denominação Formação Formosa em referência às rochas que sustentam a cachoeira homônima no igarapé Capanaua, na serra do Divisor. Esta unidade é constitu-ída de quartzitos altamente metamorfi zados

    devido à intrusão de rochas ígneas alcalinas. Com relação à idade desta unidade, vários autores atribuem a tais litologias idade pa-leozóica (MOURA & WANDERLEY, 1958; LEITE, 1958; MIURA, 1972). Caputo (1973) considerou que tais rochas seriam do Pro-terozóico Superior, uma vez que se encon-tram cortadas por rochas ígneas atribuídas ao Escudo Brasileiro, o que é considerado neste estudo.

    Sienito República (PS(L)r)

    As rochas alcalinas reunidas sob a deno-minação Sienito República ocorrem somen-te na serra do Divisor, em exposições restri-tas aos leitos dos igarapés Capanaua, Índio Coronel, Tachipá, República e Paraná João Bezerra. Essas rochas encontram -se cortan-do as litologias da Formação Formosa, nas quais produzem transformações devido ao metamorfi smo de contato, sendo constituí-das por quartzo traquito pórfi ro, ultramilo-nito, microsienito, sienito, quartzo traquito, traquito pórfi ro cataclástico, sienito pórfi ro, nordmarkito e traquito amigdaloidal. Pode--se correlacionar tal unidade com rochas graníticas que ocorrem no Estado de Ron-dônia, o que se faz crer que essas litologias sejam do Proterozóico Superior.

    Figura 2. Mapa geológico do Estado do Acre com unidades litoestratigráficas aflorantes(o Sienito República, a Formação Formosa e o Complexo Jamari não são visualizados nessa escala).

    Fonte: ZEE/Acre

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    Grupo Acre

    Sob essa denominação reúnem -se as formações Moa, Rio Azul e Divisor. Tais li-tologias sustentam as serras que ocorrem a oeste do Estado do Acre (Serra do Jaquirana, Serra do Moa, Serra, do Juruá -Mirim e Serra do Rio Branco) e estão condicionadas a uma estrutura dobrada. No flanco interno da dobra está a Formação Rio Azul, na porção central, a Formação Moa e no flanco externo e ocidental, a Formação Divisor.

    Formação Moa (Km)

    O ambiente deposicional admitido para esses sedimentos é dominantemente conti-nental (CAPUTO, 1973). Os litotipos predo-minantes são arenitos, com intercalações de camadas de argilitos e siltitos, e níveis con-glomeráticos. Sua idade baseia -se em corre-lação estratigráfica, e a maioria dos traba-lhos a posiciona no intervalo Cenomaniano – Coniaciano, ou seja, no Cretáceo Superior.

    Formação Rio Azul (Kra)Moura & Wanderley (1938) chamaram

    ao conjunto de rochas desta unidade de “Sé-rie com folhelhos e calcários”, formalizando depois o termo Rio Azul, devido às boas ex-posições nesse rio. A unidade é caracteriza-da por uma seqüência de arenitos finos a médios, ocasionalmente com disseminação ferruginosa. Na porção basal existem inter-calações de folhelhos e níveis de calcários.

    Para o topo existem intercalações de folhe-lhos e siltitos. Sua idade é dada com base em correlação estratigráfica, principalmente com relação à Formação Moa. Os trabalhos realizados até então a posicionam no inter-valo Turoniano – Campaniano, ou seja, no Cretáceo Superior (BARROS et al., 1977).

    Formação Divisor (Kd)

    Sua idade baseia -se na relação estrati-gráfica no topo do Cretáceo Superior, no intervalo Maestrichtiano. Caracteriza -se do-minantemente por um pacote de arenitos médios bem selecionados. Ao longo da se-ção contém intercalações de siltitos averme-lhados, e localmente silicificados e brecha de falha. Na porção basal esses arenitos são mais friáveis e porosos, chegando a exibir grandes cavernas. Para o topo são mais fer-ruginosos, chegando a desenvolver crostas e concreções com até 30 cm de espessura. O ambiente de deposição admitido por Ca-puto (1973) e adotado até então é flúvio--litorâneo, sendo mais fluvial para o topo.

    Formação Solimões (TNs)

    As primeiras referências aos sedimen-tos da Formação Solimões datam do século XIX e encontram -se nos trabalhos de Hartt (1870), Orton (1870, apud Oliveira & Leo-nardos, 1943), Orton (1876) e Brown (1879), entre outros.

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    A Formação Solimões é a mais exten-sa das unidades litoestratigráficas do Acre, estendendo -se além fronteira para os terri-tórios peruano e boliviano. Encontra -se, em algumas partes no lado leste, encoberta pelas coberturas detrito -lateríticas pleistocênicas, expondo -se nas áreas próximas aos vales.

    A seqüência litológica constitui -se de ar-gilitos sílticos cinza a esverdeados; siltitos ar-gilosos, localmente com concreções e lentes calcárias, concreções gipsíferas e limoníticas, e níveis ou lentes com matéria vegetal carbo-nizada (turfa e linhito) em geral fossilíferos.

    Intercalados ou sobrepostos aos pelitos ocorrem arenitos finos a grosseiros. Em deter-minadas áreas, predominam sobre os pelitos, permitindo sua individualização. Esses litoti-pos estão dispostos em seqüências cíclicas, tí-picas de ambiente continental fluvial e flúvio--lacustre, com fácies de leque aluvial (SILVA et al., 1976).

    Maia et al. (1977), com base em seu con-teúdo fossilífero, estabeleceram o intervalo de idade Mioceno -Plioceno. Latrubesse et al. (1994) admitiram para Formação Solimões um único ciclo deposicional contínuo, por meio de leques gigantes, durante o Mioceno Superior e o Plioceno, idade correlacionada à da fauna abundante e variada de mamíferos Huayqueriense montehermosense.

    Formação Cruzeiro do Sul (QPcs)

    Foi definida primeiramente por Boin & Bonatti como parte superior da Forma-ção Solimões (apud. BARROS et al., 1977), referindo -se aos sedimentos arenosos que se encontram sobrepostos aos terraços infe-riores, localizados nas imediações da cidade de Cruzeiro do Sul. Os autores do projeto PMACI II (PINTO et al., 1994) adotaram a denominação: Formação Cruzeiro do Sul para os sedimentos acima referidos, ratifica-da no presente trabalho.

    Pouco estudada em suas características específicas, devido sua recente separação a partir da Formação Solimões, a Formação Cruzeiro do Sul ocorre sobreposta a feições tipo terraço, sendo sua maior exposição lo-calizada ao sudoeste da cidade de Cruzeiro do Sul, na confluência dos rios Moa e Juruá. São sedimentos depositados por correntes fluviais, flúviolacustre e em leques aluviais, compostos por arenitos finos, friáveis, maci-ços, argilosos, com intercalações de argilitos lenticulares e estratificação cruzada; sobre-tudo em sua porção inferior.

    Coberturas detrito -lateríticas neopleistocênicas (QPdl)

    A partir da década de 60, a comunidade geológica brasileira despertou para o estu-do das lateritas da Região Amazônica devido principalmente a sua grande potencialidade mineral (Fe, Al, Au, Ti, Nb etc.). Diversos au-tores como Towse & Vinson (1959), Som-broek (1966), Costa (1985, 1988a e b e 1990a e b) e Costa & Araújo (1990) estuda-ram as lateritas da Amazônia. Costa (1991) reconheceu dois principais eventos de late-rização durante o Cenozóico: um primeiro, no Eoceno -Oligoceno, formador das lateri-tas maturas ricas em caulinita e um outro mais recente, no Pleistoceno, formador das lateritas imaturas com alto teor de ferro. A cobertura detrito -laterítica neopleistocêni-ca é, portanto, similar ao segundo evento (DEL’ARCO & MAMEDE, 1985).

    No Acre, dispõe -se sobre os sedimentos da Formação Solimões, restringindo -se a parte sudeste do Estado. Compõe -se de sedi-mentos argiloarenosos de cor amarelada, ca-

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    oliníticos, parcial a totalmente pedogeneiza-dos, gerados por processos alúviocoluviais.

    Sua delimitação é feita basicamente por interpretação visual de imagens de radar e de satélite (aspecto textural liso e homo-gêneo). Por conta disso, e em face da con-temporaneidade entre a deposição dessas coberturas e a elaboração das superfícies de aplainamento, admite -se para essa unidade a idade neopleistocênica.

    Terraços pleistocênicos (QPt)

    As antigas planícies de inundação, atu-almente definidas como superfícies aplai-nadas e possivelmente escalonadas, as quais representam Aluviões antigos, foram individualizadas sob a designação Aluviões Indiferenciadas, por Silva et al. (1976). No presente trabalho esses depósitos foram de-signados Terraços pleistocênicos.

    Mostram uma distribuição descontínua, representando diferentes comportamen-tos dos meios deposicionais, provavelmen-te ocasionados por diferentes fatores, tais como: oscilações climáticas, movimentos eustáticos, ou mesmo a ação de algum even-to de caráter tectônico, inclusive de bascu-

    lamento local. No presente trabalho estes depósitos estão diferenciados dos Terraços holocênicos devido principalmente à sua dissecação por drenagem de primeira e se-gunda ordem e pela presença de raros me-andros colmatados, os quais são mais abun-dantes nos terraços holocênicos.

    São constituídos por argilas, siltes e areias, às vezes maciços, de colorações aver-melhadas, depositados em terraços fluviais antigos e rampas terraços. Localmente en-globam intercalações lenticulares de argili-tos e conglomerados. Conglomerados com seixos de material carbonático e quantida-de expressiva de fauna fóssil pleistocênica são encontrados na região do Alto Juruá. Nas rampas terraços incluem sedimentos colúvioaluviais arenoargilosos, provavel-mente depositados em condições paleo--hidrológicas distintas das atuais; relaciona-das às variações climáticas.

    Terraços holocênicos (QHt)

    Esses depósitos mostram características típicas de depósitos de planície fluvial, isto é, são constituídos por cascalhos lenticu-lares de fundo de canal, areias quartzosas

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    inconsolidadas de barra em pontal e siltes e argilas de transbordamento. Ocorrem ao longo das principais drenagens.

    Areias quartzosas inconsolidadas (QHaq)

    Inicialmente incluídas como parte areno-sa da Formação Solimões nas imediações de Cruzeiro do Sul, Pinto et al. (1994) separa-ram as areias quartzosas que ocorriam nas áreas de campinas, posicionando -as na por-ção superior da Formação Cruzeiro do Sul.

    Esses sedimentos arenosos, resultantes de processos pedogenéticos, constituem produto de intensa lixiviação sobre sedi-mentos de porção superior da Formação Cruzeiro do Sul, tendo sua área de exposi-ção delimitada pela presença das campinas. Ocorrem, portanto, em áreas interfluviais com lençol freático elevado, sendo uma for-mação superficial edafoestratigráfica, cor-respondendo aos Neossolos quartzarênicos.

    Apresenta um relevo geralmente tabular, que representa um platô residual, desen-volvendo uma drenagem com vales de fun-do chato e planícies de inundação amplas. Encontra -se recobrindo um pacote argiloso de caráter redutor (depósito de transbor-damento), representativo de um ciclo mais antigo. Este apresenta um relevo mais mo-vimentado, com formas de topo convexo e/ou aguçado.

    Depósitos coluvionares (QHc)

    Dispõem -se no sopé dos relevos do Com-plexo Fisiográfico da Serra do Divisor, com-pondo os chamados leques aluviais com seu padrão de drenagem distributário bem característico. São compostos por arcósios, conglomerados, grauvacas e fragmentos de rocha de má classificação.

    Depósitos aluvionares (QHa)

    As acumulações mais expressivas ocor-rem nas planícies dos rios maiores, sobre-tudo daqueles com cursos meândricos e sinuosos. Os sedimentos apresentam carac-terísticas gerais semelhantes e constituem

    depósitos de canal, incluindo depósitos de barra em pontal e os depósitos residuais de canal e de transbordamento.

    Nos depósitos de canal, que formam praias de extensão variável, ocorrem areias quartzosas de granulação fina a grosseira. Os depósitos de transbordamento são cons-tituídos por silte e argila com granulometria decrescente da base para o topo. Nas seções basais são encontradas comumente areias quartzosas fina, porcentagem variável de argila e presença freqüente de muscovita e minerais pesados.

    Os sedimentos sílticos e argilosos sempre sucedem as areias da base, apresentando -se maciços ou finamente laminados. Comu-mente incluem restos vegetais de troncos e folhas parcialmente carbonizados.

    4. A GEOLOGIA NAS REGIONAIS DO ACRE

    O Estado do Acre foi divido em cinco regionais (Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Ta-rauacá e Envira e Juruá) que tiveram como base principal as bacias hidrográficas, que caracterizam identidades culturais e de pro-dução distintas. Na Tabela 1 verifica -se a distribuição das formações geológicas em cada regional.

    A predominância da Formação Soli-mões no Estado do Acre é notável (cerca de 85% da área do Estado). Sobre a mes-ma desenvolveram -se diversos tipos de solos, onde diversas tipologias vegetais instalaram -se. O porquê dessa diversidade de ambientes diz respeito à própria gêne-se geológica e geomorfológica presentes, entretanto carecem de estudos específicos. Apesar dessas lacunas de informação, al-guns direcionamentos podem ser dados.

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  • Pelos dados acima apresentados e con-forme as figuras mostradas á seguir (Figuras 3, 4, 5, 6 e 7), observa -se que a regional com maior diversidade geológica é a do Juruá e a de menor diversidade é a do Tarauacá. Pela história geológica da região é compreensível que isto ocorra, pois a parte mais a oeste do Estado está incluída na faixa de dobramentos da Cordilheira dos Andes. Com os dobramen-tos e falhas de empurrão, houve uma sobre-carga litosférica compensada por subsidência flexural periférica e formação das bacias de antepaís, onde se insere a bacia do Acre. Com a progressão da deformação da faixa andina porções do embasamento da bacia foram so-erguidas, propiciando a exposição de rochas paleozóicas e mesozóicas, normalmente enco-bertas pela Formação Solimões.

    Com exceção da regional do Juruá, há cer-ta uniformidade geológica no restante da área. As diferenciações ficam por conta da ocorrên-cia de diferentes níveis de terraços fluviais nas regionais do Purus e Baixo Acre (terraços pleistocênicos e holocênicos) (pelas falhas e fraturas analisados nesse trabalho, acredita -se que a tectônica teve um papel importante para sua diferenciação. Levando em conta dados morfométricos obtidos pelo levantamento ge-

    omorfológico realizado também nessa segun-da fase do ZEE, verifica -se nessas regionais, um posicionamento altimétrico condizente com diferenciações causadas por basculamen-tos pretéritos); e pela presença de coberturas detritolateríticas ao leste do Estado, inseridas nas regionais do Baixo e Alto Acre. A gênese desses depósitos em tais locais precisa ser estudada com mais detalhe, mas de qualquer modo, trata -se de uma possibilidade de inves-timentos para essas regionais caso seja com-provada alguma potencialidade mineralógica.

    5. POTENCIALIDADES DE USO E APLICAÇÃO

    No tocante às potencialidades de uso e aplicação a escassez de informações sobre os materiais disponíveis no Estado do Acre é fator limitante. Há litotipos presentes nas diversas formações geológicas passíveis de exploração, entretanto, não há segurança de que sua exploração seja profícua e pos-sível, visto que facultam estudos de campo, levantamentos e ensaios com os materiais. É necessário, portanto, que se verifique onde estão os afloramentos que podem ser explo-rados, a qualidade desses materiais, qual o

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    Figura 4. Mapa geológico da regional do Baixo Acre. Fonte: Acre, 2006

    Figura 5. Mapa geológico da regional do Purus. Fonte: Acre, 2006

    Figura 3. Mapa geológico da regional do Alto Acre. Fonte: Acre, 2006

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    Figura 6. Mapa geológico da regional do Tarauacá. Fonte: Acre, 2006

    Figura 7. Mapa geológico da regional do Juruá. Fonte: Acre, 2006

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    volume que pode ser explorado, que medi-das de controle ambiental precisam ser con-sideradas, etc.

    Formação Solimões

    As principais potencialidades no Estado, dentro da Formação Solimões (que é a princi-pal formação geológica em termos de área de ocorrência) são a gipsita e argilas. Ocorrências de gipsita e de argilas têm sido descritas des-de os primeiros trabalhos de reconhecimento geológico na região.

    Quanto à forma de ocorrência, são conhe-cidas três variedades de gipsita: a selenita, a gipsita fibrosa (a mais freqüente e economi-camente importante) e o alabastro. A gipsita do Acre é do tipo selenita e ocorrem predomi-nantemente, nos rios Purus, Chandless e Iaco, nas imediações de Sena Madureira e Manuel Urbano, além de ocorrências menores nas proximidades de Marechal Thaumaturgo. Nas descrições são destacadas as pequenas espes-suras de suas exposições e inibidas iniciativas exploratórias, entretanto, cabe ser ressaltado aqui os múltiplos usos desse mineral: a gipsita é consumida sob as formas bruta e beneficia-da. Sob a forma bruta é utilizada pelos setores cimenteiro e agrícola. Sob a forma beneficia-da, denominada gesso, é utilizada predomi-nantemente pela indústria da construção civil

    na forma de pré -moldados, em revestimento de paredes e como elemento de decoração ar-quitetônica e, subordinadamente, pelos seto-res ceramista, odontológico, médico e de ade-reços (joalharia). Dessa forma, por ser o Acre um local carente de matéria prima, torna -se útil uma melhor investigação sobre a ocorrên-cia de gipsita e seu volume exploratório.

    O mesmo ocorre com as argilas. Alguns testes realizados pelo IPT (Instituto de Pesqui-sas Tecnológicas) indicam boa qualidade. Pela característica litológica da Formação Soli-mões pode haver um volume compatível para exploração mesmo em nível local. Entretanto, ressalta -se a necessidade de melhor avaliação desses depósitos através de prospecção e de definições de parâmetros para controle e re-cuperação do meio ambiente, em função da fonte energética disponível na região e da de-manda do mercado consumidor (colaboraria em parte com a diminuição de matéria vinda de outros estados).

    Coberturas detrito -lateríticas pleistocênicas

    Desde os anos 80, com a investida go-vernamental para construção de rodovias, a atenção voltou -se para a necessidade de se obter material utilizado na construção civil no Acre pela ausência de rocha dura

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    no Estado. Por outro lado, a descoberta das coberturas lateríticas na região e a utilização desse material em outras regi-ões da Amazônia e em alguns locais do Nordeste, fez com que se desse á devida atenção à questão. Alguns trabalhos, como o de Azevedo (1982) e o de Costa (1985) serviram como estímulo a exploração das lateritas no Estado, além de pesquisas es-pecíficas realizadas por empresas constru-toras de rodovias.

    Costa (1985) cita a já utilização de la-terita fina na capa asfáltica e da grossa como base e sub -base e asfalto. Não se tra-ta, obviamente, de material excelente para tal aplicação, mas em face da disponibili-dade e de sua razoável qualidade, trata -se de uma boa frente de aplicação. O DERA-CRE, nas regionais do Alto e Baixo Acre, utilizam outro tipo de material. Segundo o órgão, trata -se de matéria mais resistente, entretanto em Cruzeiro do Sul, as lateritas são utilizadas, conforme dados do IMAC.

    Formação Cruzeiro do Sul

    Nessa unidade há uma grande quantida-de de areias, o que possibilita sua explora-

    ção. As atividades contam com a fiscalização do IMAC. O material retirado é de excelente qualidade, além de apresentar variedade de aplicações em função de variação granulo-métrica (as areais vão de muito finas a con-glomeráticas).

    Terraços holocênicos e pleistocênicos

    Em determinados locais do Estado, as unidades de terraços apresentam grande volume de areia. Nos municípios do Baixo e Alto Acre, são amplamente exploradas e tais atividades são regularizadas e fiscalizadas pelo IMAC, ou estão em processo de regu-larização. Há retirada regular de areia tam-bém em Feijó, Tarauacá e Manoel Urbano.

    Mais uma vez ressalta -se que toda explo-ração deve ser sustentada por avaliações preliminares onde se verificam a disponibili-dade do recurso, a possibilidade de extração, a relação custo -benefício e, principalmente, os impactos gerados no ambiente por con-ta da exploração. Em Sena Madureira, por exemplo, há retirada direta das praias no Rio Iaco sem a percepção de que a atividade promove acréscimo de movimento de mas-sa, tornando as áreas altamente instáveis do

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    ponto de vista geotécnico, além de causar degradação ambiental.

    Coluviões Holocênicos

    Em geral, os colúvios são fontes impor-tantes de recursos minerais. Na Amazônia, são importantes fontes de ouro e quartzo.

    No Acre, como se vê no mapa geológi-co, há uma ocorrência restrita desse tipo de depósito no oeste do Estado. É possí-vel a ocorrência de mineralizações nessa região em função dos litotipos presentes (Grupo Acre) e os colúvios seriam dissemi-nadores e ao mesmo tempo concentrado-res desses minérios. Entretanto, localiza--se numa área de proteção integral (Par-que Nacional da Serra do Divisor), o que inviabiliza a retomada de prospecção e de possível exploração.

    Desde o Radambrasil, as informações sobre potencialidades minerais no Esta-do do Acre continuam precárias. Algumas investidas da CPRM foram realizadas, mas nenhuma evidenciou um caráter ex-ploratório factível dessas ocorrências, o que nos leva a crer na sua inviabilidade. Entretanto, sugere -se aqui, maior grau de detalhamento a fim de se conhecer a real situação dessas ocorrências para emitir pareceres mais confiáveis.

    Paleontologia

    O Estado do Acre, sem dúvida, se desta-ca pela presença de localidades fossilíferas disseminadas, grosso modo, por todo seu território associadas em grande parte à Formação Solimões, mas também a depósi-tos desde o Cretáceo (como dentes de tuba-rões encontrados na Serra do Moa) (RANCY, 2000) até o Holoceno.

    Trata -se de sítios de grande valor cientí-fico e, passíveis de se constituir em áreas de relevante interesse científico ou de Proteção Ambiental. A presença de fósseis é fundamen-tal para o entendimento da história geológica e paleontológica do Estado, e isto torna im-prescindível a conscientização da população local sobre a importância dessas ocorrências

    no município para que se busquem formas de preservação dos locais de coleta de material fossilífero e do próprio conteúdo coletado. Não raro fósseis são descobertos pela popu-lação e perdidos em seguida por inadequação de acondicionamento.

    6. NEOTECTÔNICA NO ACRE

    Da teoria de Tectônica de Placas, sabe--se que a Terra constitui -se de um mosai-co de blocos, chamados Placas Tectônicas. Tais blocos estão em movimento, em seus limites ocorrem movimentos distensivos, compressivos ou transformantes (uma placa desliza em sentido contrário a adja-cente). Essas movimentações geram a tec-tônica (do grego tecktos = construção) da Terra e isso ocorre em ciclos. Ao ciclo de movimentações mais recente chamamos de Neotectônica.

    As questões envolvendo os limites da Neotectônica (ou seja, até quando pode-mos recuar no tempo geológico para con-siderar o prefixo “neo”) começaram a ser elucidadas a partir da análise das várias propostas disponíveis na literatura por Pavlides (1989). Este autor concluiu que o início do período neotectônico não repre-senta um marco estratigráfico na evolução da Terra, mas vincula -se às particularida-des de cada ambiente geotectônico. Outro aspecto importante nesse contexto é que os movimentos atuais, que sempre foram considerados dentro de uma categoria in-dependente, uma vez que não se admitia deformação da crosta no Holoceno, passa-ram a integrar a Neotectônica. A principal consequência desse entendimento é que: as transgressões e regressões marinhas, o desenvolvimento e a organização de ba-cias hidrográficas, além da elaboração de sistemas de relevo atuais - antes vincula-dos apenas às idéias de oscilações eustá-ticas - passaram a ser associados também aos movimentos orogenéticos e epiroge-néticos da crosta (BEMERGUY, 1997).

    Segundo Hasui & Costa (1996) a Neo-tectônica apresenta caráter multidiscipli-nar que requer a utilização de métodos e

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    técnicas de investigação geológicos, geo-físicos e geoquímicos; as aplicações são encontradas em quase todas as frentes de utilização prática (mineração, exploração mineral; hidrogeologia, obras de engenha-ria, estudos ambientais, planejamento de ocupação do espaço, ecoturismo, etc) ou científica da informação geológica (evo-lução geológica, evolução da paisagem e outros). Também possibilita extrapolações para deduzir manifestações ou prever ris-cos naturais ou artificiais no meio físico.

    Os aspectos gerais da Neotectônica no interior da placa Sulamericana, em parti-cular no Brasil, foram abordados por Hasui (1990) e Costa et al. (1996). Desses traba-lhos conclui -se que o início da Neotectônica está sendo vinculado à mudança do regime tectônico de caráter distensivo, a que se liga a abertura do Atlântico, para um regi-me transcorrente, ora em vigor, relacionado com a rotação da Placa Sulamericana para oeste, com o pólo de rotação localizado a sul -sudeste da Groelândia. A época des-sa mudança de regime foi tentativamente fixada no Mioceno Superior, assim, a Neo-tectônica abrangeria o Neógeno (Mioceno--Plioceno) /Quaternário. A Neotectônica tem

    manifestações em termos de evolução do re-levo, sedimentação e geração de estruturas geológicas notáveis;

    Na região amazônica, Costa et al. (1996) demonstraram que a complexa coexistên-cia de extensas planícies com sistemas de serras de altitudes superiores a 2.500 m só pode ser mais bem entendida se forem con-siderados os elementos estruturais gerados pelos movimentos tectônicos do Cenozóico, sobretudo no Neógeno/Quaternário. Tais es-truturas são consideradas neotectônicas se forem geradas ou reativadas no período ci-tado. Se essas estruturas estão em movimen-tação, precisam ser levadas em conta antes de qualquer iniciativa de planejamento e ordenamento territorial, pois podem envol-ver riscos para as populações. Os trends de estruturas mais importantes são os de dire-ção NE -SW, NW -SE e E -W reativados com a instalação da faixa transcorrente do Juruá. Esta direção, aliás, promove reorganizações importantes nos principais rios do Estado, pois geralmente deslocam seus cursos para a esquerda em função dessas falhas E -W. Momentos de transpressão alternados com transtensão são responsáveis pela elabora-ção da paisagem atual.

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    No Acre, tem -se uma das mais importan-tes zonas sismogênicas do Brasil (áreas com risco de ocorrer sismos - terremotos). Os sis-mos representam alívios de tensão ao longo de falhas, em geral em ciclos recorrentes de cargas/descargas de tensão ou quiescência/manifestação de abalos, e são analisados por seus efeitos em superfícies ou registra-dos em sismógrafos.

    O Estado carece de estudos nesse senti-do. Frente aos grandes projetos de constru-ção civil, abertura de estradas, construção de pontes, etc., que estão sendo ou serão desenvolvidos, é importante que atenção seja dispensada aos efeitos da Neotectônica na determinação de áreas aptas a receber aqueles empreendimentos ou áreas com-pletamente inaptas. Isso diz respeito à vul-nerabilidade dessas áreas, de que tratamos no início do texto. É imprescindível a deline-ação de falhas ativas no território acreano e de estruturas que imprimam fragilidade aos ambientes.

    Um primeiro passo é a análise do rele-vo gerado por tectônica e da drenagem. Os

    cursos de água geralmente adaptam -se às orientações das estruturas geológicas ou são afetadas por elas, resultando no desen-volvimento de cachoeiras, ou barragens, ou deslocamentos dos canais dependendo do tipo de falha; já o relevo tectônico expressa um espectro de feições topográficas que po-dem ser empregadas como indicadoras de estilo, magnitude e taxa de movimentos tec-tônicos, destacando -se as seguintes: escar-pas de falhas; paleoterraços desnivelados; deslocamento de escarpas fluviais; mudan-ça brusca de declividade; deslocamento de construções feitas pelo homem historica-mente comprovadas; cristas, etc.

    Nesse momento, tais estruturas serão visualizadas no mapa geológico a ser publi-cado nesta segunda fase do ZEE, com base em análise de drenagem e de relevo, mas cabe aqui ressaltar a iminente necessidade de aprofundar esses estudos, determinar a gênese dessas estruturas, a cronologia dos eventos que as geraram, sobretudo em áre-as no sudeste acreano, onde a antropização é maior.

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    7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Como explicado anteriormente, a base de dados utilizada neste trabalho foi a do SI-PAM/IBGE. Entretanto alguns ajustes foram realizados, como por exemplo, a adequação da legenda geológica para o Estado do Acre e a presença de algumas lacunas de infor-mação que foram sanadas a partir da análise de imagens de satélite e de radar.

    Destaca -se o grande avanço nesta se-gunda fase do ZEE haja vista a ampliação da escala de trabalho de 1:1.000.000 para 1:250.000. Isso possibilita um maior poder de análise em todos os temas trabalhados. Os avanços no tema Geologia são notáveis. Em sua primeira fase, o ZEE apresentou dez unidades litoestratigráficas contra quinze publicadas nesse momento. Principalmente no período de tempo mais recente é impor-tante esse detalhamento. A separação dos diversos níveis de terraços, por exemplo,

    pode explicar o desenvolvimento deste ou daquele tipo de solo e suas conseqüências. A separação de depósitos de colúvio daque-les aluvionares proporciona melhor enten-dimento dos processos erosivos neste ou naquele setor do Estado, etc.

    Diante dos avanços obtidos nessa etapa do ZEE cabe ressaltar a necessidade de um deta-lhamento maior das informações geológicas, com investimentos em trabalhos de campo e análises laboratoriais dos materiais encontra-dos no Estado. No tocante a litologia (tipo de material ou rocha), a necessidade primeira é a de conhecer melhor nossas potencialidades de exploração de bens minerais e determinação/quantificação de aquíferos (rochas que permi-tem acúmulo e fluxo de água subterrânea); no que diz respeito a estruturas tectônicas, possi-bilidade de ampliar e direcionar investimentos de construção civil e planejamento ambiental como um todo a determinadas áreas menos vulneráveis tectonicamente, etc.

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    Livro Temático | Volume 2 Coleção Temática do ZEE

    Recursos Naturais Geologia, Geomorfologia e Solos do Acre

    Geomorfologia do Estado do Acre

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    O processo de Zoneamento Ecoló-gico-Econômico envolve, preli-minarmente, estudos ambientais que examinam os efeitos da inter-ferência do homem sobre os diversos am-bientes naturais, por meio de abordagens multidisciplinares. Nesse ínterim, destaca--se a análise do relevo como um dos compo-nentes básicos desse tipo de pesquisa.

    A Geomorfologia compreende a descri-ção, classificação e elucidação dos proces-sos de evolução das formas de relevo, que expressam o arcabouço litoestrutural e re-tratam a atuação de condições climáticas pretéritas e atuais. Sobre elas, desenvolvem--se os tipos de solos, os quais, por sua vez, permitem a instalação das variadas co-munidades vegetais. A partir desse ponto, vislumbra -se o emaranhado de relações existentes entre ambiente e ser humano, o modo como uma esfera atua sobre a outra e como são interdependentes.

    Dessa feita, a segunda fase do Zonea-mento Ecológico-Econômico do Acre, por meio de mapeamento em escala 1:250.000, pretende apresentar a geomorfologia do Estado do Acre. Tal ação foi realizada por meio de compilação bibliográfica e geração de mapas temáticos a partir do banco de dados ambientais do projeto SIPAM – IBGE. O grande avanço com relação à primeira fase foi a de ampliação de classes temáti-cas (três classes geomorfológicas anterio-res versus nove atuais). Esse detalhamento

    permite inferir sobre processos morfoge-néticos de maneira mais precisa e, conse-quentemente, permite melhorar a acurá-cia na determinação de vulnerabilidades/potencialidades do meio físico por meio da superposição dos mapas temáticos do eixo de recursos naturais.

    2. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA

    2. 1. Material Utilizado

    O material em formato digital utilizado durante a pesquisa pertence ao acervo do IMAC, já os em formato analógico foram consultados na Embrapa Amazônia Oriental, constando de:

    Banco de dados gráfico alfanumérico desenvolvido e alimentado pelo IBGE para o Projeto SIPAM (IBGE, 1999), consistindo de mapas no formato digital de geomorfo-logia e cartografia, com escala de entrada 1:250.000, e dados alfanuméricos sobre os diversos temas.

    Arquivos vetoriais contendo a hidrogra-fia das cartas topográficas do IBGE e DSG na escala 1:250.000 disponíveis para a área, e das cartas planialtimétricas do Projeto RA-DAMBRASIL na mesma escala (Quadro 3).

    Imagens ETM do satélite LANDSAT 7, em formato digital com as configurações cons-tantes no Quadro 1.

    PC Dell Pentium 4 com configuração de 3.2 GHz e 2 1Gb de memória RAM.

    Geomorfologia do Estado do Acre

    Texto:b Luciana Mendes Cavalcante1

    1. INTRODUÇÃO

    1 MestreemGeologiaeGeoquímica|Petrobrás

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  • Programa ARCGIS para tratamento e gerenciamento dos dados cartográficos em formato digital.

    2. 2. Estudos Preliminares

    Nessa fase são sistematizadas as infor-mações geomorfológicas obtidas através de levantamentos bibliográficos. Aqui também são reunidos e preparados os materiais bá-sicos (imagens de sensores remotos e ma-pas planimétricos e/ou planialtimétricos), para interpretação.

    2. 3. Estudo Temático

    Aqui são realizadas síntese e revisão bi-bliográfica e elaboração de bases cartográ-ficas por meio de interpretação de produtos de sensores remotos e de bases topográfi-cas. Para os dados de campo, uma vez que não houve ações nesse sentido, foram uti-lizados dados secundários (banco de dados do Projeto SIPAM).

    A síntese e revisão bibliográ-fica envolveram consultas sobre a geomorfologia do Estado, além dos materiais cartográficos e dos produtos de sensores remotos. Os resultados apresentados dizem respeito à delimitação de unidades morfográficas ou geomorfológicas.

    Por meio de técnicas de geo-processamento foram elaboradas as bases cartográficas (utilizando o programa ARCGIS 9.0). O re-sultado foi comparado a mapas gerados analogicamente.

    2. 4. FundamentaçãoTeórica

    A geração das bases analógi-cas pautou -se na aplicação das técnicas de fotoleitura, fotoanáli-se e fotointerpretação recomen-dadas por Soares & Fiori (1976) envolvendo a interpretação de imagens de radar e de satélite. É igualmente relevante à aplicação

    do conceito de sistemas de relevo (COOKE & DOORNKAMP, 1978), que compreende a análise das formas e dos grupos de formas de relevo e se aproxima das bases do mape-amento de land -system. Esse procedimento busca a subdivisão de uma região em áreas que tenham em seu interior atributos físicos comuns que são diferentes das áreas adja-centes. Internamente, os sistemas de relevo apresentam um padrão recorrente de topo-grafia, solos e vegetação.

    Uma breve revisão de conceitos faz -se necessária a fim de introduzir o assunto tra-tado adiante. O mapeamento geomorfológi-co permite uma ordenação dos fatos geo-morfológicos mapeados em uma taxonomia que os hierarquiza (IBGE, 1995).

    Em função da gênese e da geometria, uma forma de relevo é considerada um modelado (podendo ser resultante de acumulação (A), aplanamento (P), dissecação (D) e dissolu-ção (K)). Determinados tipos de modelado, a predominância de determinados processos morfogenéticos e a ocorrência de forma-ções superficiais diferentes de outras cons-

    Quadro 1. Materiais utilizados neste trabalho.

    Imagens de Satélite Órbita – ponto WRS*

    Base topográfica de acordo com o corte

    internacional na escala 1:250.000**

    001/067 004/066 SB18ZC SC19VD

    002/066 004/067 SB18ZD SC19XA

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    002/068 005/066 SB19YD SC19XD

    003/066 005/067 SC18XA SC19YA

    003/067 006/065 SC18XB SC19YB

    003/068 006/066 SC18XD SC19YD

    004/065 SC19VA SC19ZA

    SC19VB SC19ZB

    SC19VC SC19ZC

    Fonte: Inpe, 2006* e Radambrasil**, 1976.

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    tituem a Unidade Geomorfológica ou Mor-fográfica (classificação adotada aqui); aos grupamentos de unidades geomorfológicas que apresentam semelhanças resultantes da convergência de fatores de sua evolução chamamas aqui de Regiões Geomorfológi-cas e aos grandes conjuntos estruturais, ou conjuntos de regiões geomorfológicas, que geram arranjos regionais de relevo, guar-dando entre si relação de causa, chamamos de Domínios Morfoestruturais.

    Na primeira fase do ZEE/AC, as unidades geomorfológicas eram aquelas apresenta-das e descritas pelo Projeto RADAM (SILVA et al., 1976; BARROS et al., 1977) - Planí-cie Amazônica, Depressão Rio Acre -Javari e Planalto Rebaixado da Amazônia Ocidental. Com a ampliação da escala de mapeamento para 1:250.000, novas unidades foram inse-ridas em função do maior grau de detalhe (descritas a seguir).

    3. GEOMORFOLOGIA DA ÁREA

    Um dos objetivos do mapeamento geomor-fológico é o zoneamento do relevo e o princi-pal fator utilizado para tal é a altimetria. Entre-tanto, há na Amazônia uma relativa homoge-neidade altimétrica. Por conta disso, busca -se uma diferenciação em termos morfogenéticos e em termos texturais (analisando imagens de satélite e de radar).

    Para fins de zonea-mento, a avaliação do re-levo reporta -se, principal-mente, ao seu uso, e para tanto não basta à carac-terização da forma, mas também do grau de dis-secação, o que é função basicamente do grau de aprofundamento das inci-sões nos modelados e da densidade da drenagem.

    Este plano de informa-ção, portanto, apresenta e descreve as formas do relevo e a sua configura-ção superficial. O Estado

    do Acre mostra -se dividido em nove unida-des geomorfológicas: a Planície Amazônica, a Depressão do Endimari -Abunã, a Depres-são do Iaco -Acre, a Depressão de Rio Branco, a Depressão do Juruá -Iaco, a Depressão do Tarauacá -Itaquaí, a Depressão Marginal a Ser-ra do Divisor, a Superfície Tabular de Cruzei-ro do Sul e os Planaltos Residuais da Serra do Divisor (ver mapa geomorfológico em anexo).

    Planície Amazônica

    Unidade com altitudes variando entre 110 e 270m, situada ao longo dos principais rios. O processo de formação da planície amazôni-ca se dá por colmatagem de sedimentos em suspensão e construção de planícies e terra-ços orientada por ajustes tectônicos e acele-rada por evolução de meandros. Os padrões de drenagem nela presentes são o meândrico (Figura 1) e o anastomosado, indicando ajus-te hidrodinâmico em áreas rebaixadas. É ca-racterizada por vários níveis de terraços e as várzeas recentes contêm diques e paleocanais, lagos de meandro e de barramento, bacias de decantação, furos, canais anastomosados e trechos de talvegues retilinizados por fatores estruturais. O contato desta unidade com as demais é em geral gradual, mas com ressaltos nítidos nos contatos das planícies com as for-

    Figura 1. Padrão meândrico típico da planície amazônica, ao longo do Rio

    Juruá, oeste do Acre. Na parte superior da figura, a cidade de Cruzeiro do Sul.

    Fonte: Google Earth, 1999.

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    mas de dissecação mais intensas das unida-des vizinhas. Já os contatos com os terraços mais antigos podem ser disfarçados.

    A composição das formações superficiais é de níveis de argilas, siltes e areias muito finas a grosseiras, estratificadas, localmente interca-ladas por concreções ferruginosas, e concen-trações orgânicas, resultando em Neossolos flúvicos, Luvissolos hipocrômicos, Gleissolos melânicos, Argissolos vermelho -amarelo e amarelo e Plintossolos háplicos (Ver Figura 2).

    Apresenta -se, na área em questão, em quatro categorias distintas de modelados, São elas:

    a Terraços fluviais. São acumulações fluviais de forma plana, apresentando ruptura de declive em relação ao leito do rio e às várzeas recentes situadas em nível infe-rior, entalhadas devido à variação do ní-vel de base. Ocorrem nos vales contendo aluviões finas a grosseiras, pleistocênicas e holocênicas.

    a Planícies e terraços fluviais. São áreas pla-nas resultantes de diferentes acumulações fluviais, periódica ou permanentemente inundadas, comportando meandros aban-donados e diques fluviais com diferentes orientações, ligadas com ou sem ruptura de declive a patamar mais elevado. Ocor-rem nos vales com preenchimento aluvial contento material fino a grosseiro, pleis-tocênicos e holocênicos.

    a Planícies fluviais. Áreas planas resultantes de acumulação fluvial e sujeitas á inun-dações periódicas, incluindo as várzeas atuais, podendo conter lagos de mean-dros, furos e diques aluviais paralelos ao leito atual do rio. Ocorrem nos vales com preenchimento aluvial.

    a Planícies e terraços flúvio -lacustres. Área plana resultante de processos de acu-mulação fluvial/lacustre, podendo com-portar canais anastomosados ou diques

    marginais, com ou sem ruptura de declive em relação à bacia do lago e às planícies flúvio -lacustres situadas em nível inferior. Ocorrem em setores sob o efeito de pro-cessos de acumulação fluvial e lacustre, su-jeitos ou não a inundações periódicas, com barramentos formando lagos.

    a Depressão do Edimari -ABUNÃ. Unidade com altitude variando entre 130 e 200m, nivelada por pediplanação pós -terciária, posteriormente dissecada pela drenagem atual. Trata -se de superfície suavemente dissecada, com topos tabulares e algumas áreas planas. No trecho que acompanha longitudinalmente o rio Abunã ocorrem re-levos um pouco mais dissecados e de topos convexos (limite leste do Estado). Sedimen-tos da Formação Solimões geraram Argis-solos vermelho -amarelos, como próximo a Xapuri. Observam -se ainda Latossolos de diversas texturas. Seu contato com as unidades vizinhas é gradual. Esta unidade caracteriza -se por formas de dissecação, descritas a seguir:

    a Dissecação homogênea convexa. Gera for-mas de relevo de topos convexos, escul-pidas em variadas litologias, às vezes de-notando controle estrutural, definidas por vales pouco profundos, vertentes de decli-vidade suave, entalhadas por sulcos e ca-nais de primeira ordem.

    a Dissecação homogênea tabular. Gera formas de relevo de topos tabulares, conformando feições de rampas suavement