literatura viva por josé régio

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  • 8/19/2019 Literatura Viva Por José Régio

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    LITERATURA VIVA POR JOSÉ RÉGIO

    Em arte, é vivo tudo o que é original É original tudo o que !rovém da !arte mai" virgemmai" verdadeira e mai" #ntima duma !er"onalidade art#"ti$a A !rimeira $ondi%&o dumao'ra viva é !oi" ter uma !er"onalidade e o'ede$er(l)e Ora $omo o que !er"onali*a umarti"ta é, ao meno" "u!er+$ialmente, o que o dieren$ia do" mai", -arti"ta" ou n&o. $erta"inon#mia na"$eu entre o ad/e$tivo original e muito" outro", ao meno" "u!er+$ialmenta!arentado"0 !or e1em!lo2 o ad/e$tivo e1$3ntri$o, e"tran)o, e1travagante, 'i*arro Ei$omo é al"a toda a originalidade $al$ulada e a"tu$io"a Ei" $omo tam'ém !erten$e 4literatura morta aquela em que um autor !retende "er original "em !er"onalidade !r5!ria Ae1$entri$idade, a e1travag6n$ia e a 'i*arria !odem "er !odero"a" 7 ma" "5 quandnaturai" a um dado tem!eramento art#"ti$o So're e"ta" qualidade", o !roduto de""etem!eramento" ter8 o en$anto do raro e do im!revi"to Ae$tada", "emel)ante" qualidaden&o !a""ar&o dum truque liter8rio

    Pretendo aludir ne"ta" lin)a" a doi" v#$io" que ineriori*am grande !arte da no""a literatur$ontem!or6nea, rou'ando(l)e e""e $ar8$ter de inven%&o, $ria%&o e de"$o'erta que a*grande a arte moderna S&o ele"2 a alta de originalidade e a alta de "in$eridade A alta deoriginalidade da no""a literatura $ontem!or6nea e"t8 do$umentada !elo" nome" que maia$eita%&o !9'li$a go*am É tri"te 7 ma" é verdade Em Portugal, raro uma o'ra é umdo$umento )umano, "u!eriormente !e""oal ao !onto de "er $ole$tivo O e1agerado go"toda ret5ri$a -e diga("e2 da mai" "edi%a. morde o" !r5!rio" tem!eramento" vivo"0 e "e a o'rdum mo%o tra* !ro'a'ilidade" de !rolongamento evolutivo, raro e""e" germen" dliteratura viva "e de"envolvem

    O !edanti"mo de a*er literatura $orrom!e a" na"$ente" Su'"titui("e a !er"onalidade !eloe"tilo :a" $riar um e"tilo /8 é ter uma !er"onalidade E quem n&o tem !er"onalidade "5!ode ter um e"tilo eito, 'uro$rata, erudito, ama""ado de remini"$3n$ia" liter8ria", de auto!l8gio", e de !o're" arra!o" "o'revivente" ao naur8gio A""im "e "u'"titui a arte viva !elliteratura !ro+""ional E é $urio"o2 S5 ent&o o" $r#ti$o" !ortugue"e" $ome%am a re!arar emtal e tal o'ra2 ;uando ela e1i'e a "ua vel)i$e !re$o$e e !aramentada Regra geral, ono""o" $r#ti$o" "&o amadore" de antiguidade" Em ve* de l)e" alargar o go"to, a erudi%&amarelenta(l)e" a alma :a" e"ta é outra que"t&o, 'em digna de "er tratada menoa$identalmente Volto ao meu a""unto, e "u!on)o agora um e1em!lo talve* mai$on"olador2 O e"$ritor !ortugu3" tem e mantém uma !er"onalidade Pergunto2 É e""a!er"onalidade "u+$ientemente ri$a !ara que !rodu*a uma o'ra ri$a de $onte9do e d$ontinente, de "u'"t6n$ia e de orma< É regra geral 7 !re"to )omenagem 4" e1$e!%=e" 7o" no""o" arti"ta" terem uma mentalidade in"u+$iente0 uma "en"i'ilidade !or ve*einten"a, ma" redu*ida0 e uma vi"&o unilateral da vida E"gotado" em doi" ou tr3" livro"re!etem("e $onrangedoramente E o "eu !rogre""o é !uramente lingu#"ti$o, "u!er+$ial enegativo, !orque 'reve a l#ngua dei1a de "er um meio vivo de e1!re""&o art#"ti$a É umin"trumento qua"e in9til, que "e a!erei%oa -a !ou$a originalidade da literatura !ortugue"a, naturalmente re"ulta em grande !arte a"ua !ou$a "in$eridade Ter uma maneira, é !ara o no""o e"$ritor a$)ar um $erto n9mero de$ontraa$%=e" que "e l)e a+guram mai" dentro da "ua inde$i"&o de !er"onalidade Oe"$ritor !a""a ent&o a !rodu*ir literatura mai" ou meno" me$6ni$a É(me de"agrad8vel alade"te" !o're" e1em!lare" da no""a medio$ridade0 ma" a""im é !re$i"o2 tanto mai" que o!ro'lema da "in$eridade é )o/e $om!li$ado, $omo, de re"to, todo" o" !ro'lema$ontem!or6neo" A e1!re""&o dire$ta, "im!le", organi$amente ingénua, tenta "em d9vida arti"ta moderno0 ma" n&o !are$e "er $ara$ter#"ti$a dele O" arti"ta" de )o/e mai" dire$to"mai" "im!le", mai" ingénuo" 7 "&o(no $on"$ientemente Salvo rar#""ima" e1$e!%=e" Ora

  • 8/19/2019 Literatura Viva Por José Régio

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    "er $on"$ientemente ingénuo, "im!le", dire$to, /8 é $om!li$ar("e A $om!li$a%&o que /ulgver na Arte moderna !ode, !oi", tomar a!ar3n$ia de !ou$a "in$eridade2 o liri"mo, e a ironiao a'andono e a atitude, o "u'$on"$iente e a ra*&o 7 emaran)am("e na arte de v8riome"tre" $ontem!or6neo" >a# re"ulta uma novidade de !ro$e""o" e meio" de e1!re""&que "ur!reende, irrita, !ertur'a, ou !rovo$a o de"dém do" n&o ini$iado" :a" overdadeiro" n&o ini$iado" "&o o" que n&o t3m !ro'a'ilidade" de ini$ia%&o E de""e", nada ae"!erar O verdadeiro !a!el do $r#ti$o é !oi" di"$ernir e "e!arar o" "imuladore", mai" omeno" )8'ei" que ele" "e/am, do" $riadore" aut3nti$o" O" !rimeiro" e1i"tiram em todo" o

    tem!o", e "&o o" re"!on"8vei" de toda a literatura morta de qualquer tem!o O" "egundo"tam'ém e1i"tiram em qualquer tem!o, e é atravé" dele" que a arte liter8ria $)egou ate n5viva, !ortanto "u"$e!t#vel de evolu%&o O" !ro$e""o" e a" orma" que ele" de"$o'rirameram o" mai" a!to" a revelar a "ua "en"i'ilidade0 e !or $erto oram inova%&o no "eu tem!oÉ natural que a "en"i'ilidade $ontem!or6nea /8 n&o $ai'a ne""a" 5rmula", $on"agrada" !oe !ara "en"i'ilidade" dierente" ?atural é, !ortanto, que o" grande" arti"ta" de )o/e "igamo e1em!lo do" grande" arti"ta" de ontem O undo eterno, imut8vel, $ont#nuo, d)umanidade e da arte manter("e(8 !odero"amente na o'ra de todo" o" grande" E direi queé "o'retudo no" inovadore" que e""e undo a!are$er8 mai" virgem

    Ei" $omo tudo "e redu* a !ou$o2 Literatura viva é aquela em que o arti"ta in"u@ou a "ua

    !r5!ria vida, e que !or i""o me"mo !a""a a viver de vida !r5!riaSendo e""e arti"ta um )omem "u!erior !ela "en"i'ilidade, !ela intelig3n$ia e !elimagina%&o, a literatura viva que ele !rodu*a "er8 "u!erior0 ina$e""#vel, !ortanto, 4$ondi%=e" do tem!o e do e"!a%o E é a!ena" !or i"to que o" auto" de Gil Vi$ente "&oe"!anto"amente vivo", e a" $omédia" de S8 de :iranda irremediavelmente morta"0 quetodo" o" livro" de Judit) Tei1eira n&o valem uma $an%&o e"$ol)ida de Ant5nio otto0 que o""oneto" de Bam=e" "&o maravil)o"o", e o" de Ant5nio Cerreira ma%adore"0 que um!equeno !re8$io de Cernando Pe""oa di* mai" que um grande artigo de Cidelino dCigueiredo0 que )8 mai" or%a #ntima em $ator*e ver"o" de Antero que num !oemeto deJunqueiro0 e que é mai" 'elo um ad8gio !o!ular do que uma ra"e de literato

    DPre"en%a no F -F de :ar%o de FH.