Tpicos sobre os quais nos iremos debruar:

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Linhas de Fora Anlise de Poemas de Jos Rgio

Jos Rgio, pseudnimo de Jos Maria dos Reis Pereira, nasceu a 17 de Setembro de 1901 em Vila do Conde. Filho de Jos Maria Pereira Sobrinho (um ourives com gosto pelo teatro) e de Maria da Conceio Reis Pereira (com alguma responsabilidade pela vocao literria do filho), Jos Rgio passou maior parte da sua infncia na sua cidade natal.

A casa onde nasceu o Poeta (o prdio mais alto na foto). A casa ao lado ( direita na foto) herdou-a da sua madria e hoje a sua casa-museu.

Frequentou a primria na cidade a natal e terminou o liceu no Porto. Ele e o irmo, Jlio (Saul Dias), sempre foram bons alunos.

A Escola Acadmica, no Porto, onde Rgio viveu como semi-interno, enquanto foi aluno do Liceu Rodrigues de Freitas.

Aos dezoito anos, foi para Coimbra para frequentar a Faculdade de Letras. Colaborou com jornais e revistas e consolidou as suas qualidades literrias, atravs dos livros e do convvio com intelectuais. Em 1925 licenciou-se em Filologia Romnica com a tese As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa,

Dois anos depois lana-se, juntamente com Joo Gaspar Simes e Branquinho da Fonseca, na fundao da revista Presena, marco do segundo modernismo portugus, que teve como principal impulsionador e idelogo, Jos Rgio.

Seguiu a carreira do ensino secundrio, passando fugazmente pelo Porto (1928/29) e sendo colocado no Liceu de Portalegre a partir de 1930, onde permaneceu mais de 30 anos, at se reformar em 1962.

Nessa cidade a sua existncia fluiu, solitria e tranquila, entre o liceu, os cafs - Rgio gostava de ir ao caf - e a casa onde foi acumulando uma enorme coleco de peas de arte sacra (sobretudo Cristos).

1947

Jos Rgio acaba por no terminar o seu livro, vitima de doena cardaca a 22 de Dezembro de 1969.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_R%C3%A9gio ;

(onde diz Obras publicadas)

Um dos grandes vultos da moderna literatura portuguesa. Dominou todos os gneros literrios. A sua obra reflecte o seu grande ser. Dedicou-se especialmente ao ensaio, poesia, ao texto dramtico e prosa, reflectindo durante toda a sua obra problemas relativos ao conflito entre Deus e o Homem, o indivduo e a sociedade. Usa sempre um tom psicologista e misticista, analisando a problemtica da solido e das relaes humanas, ao mesmo tempo que levava a cabo uma auto-anlise.

Jos Rgio, in Biografia'

Desde que tudo me cansa, Comecei eu a viver. Comecei a viver sem esperana... E venha a morte quando Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco, Sempre esperara: s vezes, tanto, que o meu sonho louco Voava das estrelas mais rara; Mas, com isto, que tm as estrelas? Outras, to pouco, Que ningum mais com tal se conformara. Continuam brilhando, altas e belas. http://www.youtube.com/watch?v=NjzTrqSYJ0c

Hoje, que nada espero. Para qu, esperar? Sei que j nada meu seno se o no tiver; Se quero, s enquanto apenas quero; S de longe, e secreto, que inda posso amar... E venha a morte quando Deus quiser.

O narrador cansou-se de lutar, deixou de desejar, de pensar no futuro. Mas apesar de tudo sente-se vivo. Esperou tanto para concretizar os seus sonhos at que um dia estes desapareceram. Agora, no espera por nada. Nada lhe pertence se no o tiver. Se espera, s enquanto desejar algo. Tem um amor contemplativo. J no receia a morte.

As estrelas so como os nossos sonhos. As nossas guias. Por isso a vida/ o sonho continua.

Poema com mtrica irregular, logo, tem versos livres.

Rima, estrofe:Desde que tudo me cansa, -a Comecei eu a viver. -b Comecei a viver sem esperana... -a E venha a morte quando Deus quiser b Dantes, ou muito ou pouco, -c Sempre esperara: -d s vezes, tanto, que o meu sonho louco -c Voava das estrelas mais rara; -d Outras, to pouco, -c Que ningum mais com tal se conformara. -d A estrofe uma quadra.

abab- rima interpelada em a e b.

A estrofe uma sextilha. cdcdcd- rima interpelada em c e d.

Rima, estrofe:

Hoje, que nada espero. -e Para qu, esperar? -f Sei que j nada meu seno se o no tiver; -b Se quero, s enquanto apenas quero; -e S de longe, e secreto, que inda posso amar... -f E venha a morte quando Deus quiser. -bMas, com isto, que tm as estrelas? -g Continuam brilhando, altas e belas. -g

A estrofe uma sextilha. efbefb- rima interpelada em e, f e b.

A estrofe um dstico ou parelha. cdcdcd- rima interpelada em c e d.

Jos Rgio, in antologias'

J, no lugar dos olhos, que eram belos Tenho um buraco atnito e apagado J rosas de gangrena me ho tocado Comendo-me as razes dos cabelos; J os dentes me caram, amarelos; J o meu nariz osso cariado; J o meu sexo um trapo amarfanhado; J o meu ventre so bichos aos novelos;

J as minhas carnes moles despegaram; J a lngua intil se me apodreceu; J a terra se fendeu por me aceitar; J milhes de ps vivos me pisaram; Filho de p, j o prprio p sou eu... Mas, ao terceiro dia, hei-de acordar! Jos Rgio, in

medida que vamos lendo este texto deparamos-mos com uma realidade bastante diferente da esperada. O ttulo irnico pois mostra a mortalidade na perspectiva de um morto. Em vez da Imortalidade o morto mostra que esta no existe. Quando morremos o nosso corpo no mantm o seu estado original, em vez disso vai-se decompondo at de p restar nada. Nas trs primeiras estrofes ele, o morto, descreve as etapas da sua decomposio comeando pela descrio dos olhos, um dos os aspectos mais valorizados pelas pessoas como sendo o espelho da alma.

Mecanismos de coeso: repetio Figuras de estilo: paralelismo Rima : emparelhada , interpolada

Jos Rgio, in Biografia

Dentro de mim me quis eu ver. Tremia, Dobrado em dois sobre o meu prprio poo... Ah, que terrvel face e que arcabouo Este meu corpo lnguido escondia!

Assim me desejei nestas imagens. Meus poemas requintados e selvagens, O meu Desejo os sulca de vermelho:Que eu vivo espera dessa noite estranha, Noite de amor em que me goze e tenha, ...L no fundo do poo em que me espelho! Jos Rgio, in Biografia

boca tumular, cerrada e fria, Cujo silncio esfngico bem ouo! lindos olhos sfregos, de moo, Numa fronte a suar melancolia!

Jos Rgio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

Marco D'Almeida para o

programa Voz.

http://www.youtube.com/watch?v=8Lu4C9q5J-0

"Vem por aqui" dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braos, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Que eu vivo com o mesmo semEu olho-os com olhos lassos, (H, nos olhos meus, ironias e cansaos) vontade Com que rasguei o ventre minha me E cruzo os braos, No, no vou por a! S vou por onde E nunca vou por ali... Me levam meus prprios passos... A minha glria esta: Se ao que busco saber nenhum de vs Criar desumanidades! responde No acompanhar ningum. Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os ps sangrentos, A ir por a... Se vim ao mundo, foi S para desflorar florestas virgens, E desenhar meus prprios ps na areia inexplorada! O mais que fao no vale nada.

Como, pois, sereis vs Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem (enumerao) Para eu derrubar os meus obstculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avs, E vs amais o que fcil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes ptria, tendes tectos, E tendes regras, e tratados, e filsofos, e sbios... (anfora e paralelismo) Eu tenho a minha Loucura ! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cnticos nos lbios... Deus e o Diabo que guiam, mais ningum! Todos tiveram pai, todos tiveram me; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que h entre Deus e o Diabo.

Ah, que ningum me d piedosas intenes, Ningum me pea definies! Ningum me diga: "vem por aqui"! A minha vida um vendaval que se soltou, uma onda que se alevantou, um tomo a mais que se animou... No sei por onde vou, No sei para onde vou Sei que no vou por a!

Poema dividido em nove estrofes, de versos e slabas mtricas desiguais resultante de uma espcie de dilogo dramatizado. Rima misturada. Poema lrico ao mesmo tempo narrativo( quase monlogo dramtico).

Tema - Conflito entre o individuo e a sociedade. Paradoxo entre os significados de Cntico e de Negro Assunto - Dilogo do eu com a sociedade (vos) mostra desejo da independncia contra um mundo que massacra a identidade pessoal.

Uso de interjeies, frases exclamativas e suspensas do expressividade e ritmo ao poema. Mostram o foco provocatrio, entusiasmado e dramtico do eu. Ironia - (h em mim ironias e cansaos). Metfora- ali e ai - trajecto dos outros pelo qual ele mantem distncia. Anfora - No sei No sei; Ningum Ningum.

Pensamento individualista e revolucionrio contra uma sociedade de ideias pr-feitas, ("mandar passear esse mundanismo-camaradismo-literatice para que no nasci.) mas humanista, consciente das suas responsabilidades. O orgulho motivador das suas aces e importncia da procura pessoal apresenta dois plos opostos morais (o bem e o mal, Deus e o Diabo). Procura do desconhecido como objectivo final.

Mafalda Gonalves, n13, Rebeca Santos, n20; Rita Monte, n22; Windjaba Insil, n26