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Banksters Homenagem a Vasco Graça Moura Ópera de câmara - Excertos em versão de concerto

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Banksters Homenagem a Vasco Graça MouraÓpera de câmara - Excertos em versão de concerto

3.4 Abril 2015Pequeno Auditório / dia 3 às 17h / dia 4 às 21h / M/6Duração: 2h10 c/intervalo

Apresentação no Teatro-Cine de Torres Vedras, no dia 5 de abril, às 16h

Banksters | Homenagem a Vasco Graça MouraÓpera de câmara - Excertos em versão de concerto

Agradecimentos: Orquestra Metropolitana de Lisboa, Teatro Nacional de São Carlos, Companhia Nacional de Bailado

Luís Rodrigues SantiaGo MalpaGo

Mário João Alves anGelino RiGoletto

Dora Rodrigues MiMi KitScH

Maria Luísa Freitas Médico

Job Tomé acioniSta / pReSidente da aSSeMbleia GeRal

Pedro Louzeiro pRiMeiRo SeGuRança / MaGiStRado

Gustavo Lopes SeGundo SeGuRança

Luís FerreiraDESENHO DE Luz

Nuno Côrte-Real COMPOSiçãO, DiREçãO MuSiCAL E CONCEçãO CéNiCA

ensemble darcosNuno inácio FLAuTA

David Costa OBOé

Luís Gomes CLARiNETE Roberto Erculiani FAGOTE

Gilbert Farràs TROMPA

Paulo Carmo TROMPETE

André Conde TROMBONE

Elmano Pereira TuBA

Nuno Sá GuiTARRA ELéTRiCA

Coral Tinoco HARPA

Helder Marques PiANO

Gabor Szabo ViOLiNO i

Paula Carneiro ViOLiNO ii

Reyes Gallardo ViOLA

Mats Lidström ViOLONCELO

Pedro Wallenstein CONTRABAixO

coro RicercarePedro Teixeira MAESTRO DO CORO

SopranosAna Beatriz MenezesAna Catarina ConceiçãoCatarina ReisCatarina Silvainês Lamasinês SantosJuliana BrancoMariana AlmeidaMariana LamasSara Ramalhinho

altosAdriana AlvesÁgata GonçalvesAna ProençaAntónio MenezesCélia SalesDiana CruzMónica CalçadaTeresa Almeida

tenoresAlberto AraújoBruno SalesDavid AlvesJoel SignesPedro Louzeiro

baixosAntónio LopesGustavo LopesJoão VicenteRomeu GomesTomás Freire

Marta VicentePRODuçãO

Banksters, a ópera de Nuno Côrte-Real (n.1971), apresenta-nos uma sátira do mundo atual, um mundo esvaziado de valores e referências espirituais e metafísicas, um mundo cada vez mais dominado pela razão material e instrumental. Nesta época dessacralizada, na qual todos os ideais se parecem dissolver nos imperativos económicos, o homem parece perder o seu espaço cósmico interior. Vivemos anestesiados, na busca urgente da felicidade material, e perdemos de vista o essencial, o sentido do mistério, o olho que olha o invisível. Plena de simbolismo e de ressonâncias metafísicas, mas também de ironia e humor, Banksters põe em confronto dois mundos: o da vida material e o da vida espiritual, o mundano face ao divino.No centro da obra está um curto episódio do Antigo Testamento que se refere à luta de Jacob com o Anjo do Senhor. Segundo a narrativa bíblica Jacob domina o Anjo e obriga-o a abençoá-lo. O Anjo abençoa-o e dá-lhe o nome de israel (isto é, lutador de Deus). Jacob ficará coxo da perna em que o Anjo tocou. O episódio é ambíguo, e com certeza suscita diferentes interpretações teológicas, mas é claro o simbolismo do confronto e proximidade do homem com o divino. Não sendo dos mitos bíblicos mais populares teve contudo algumas representações na história da arte. Rembrandt, Delacroix e Gauguin

abordaram-no. Na música, Schönberg utilizou a mesma personagem na sua oratória A escada de Jacob. Na literatura, este mito bíblico será uma referência na obra de José Régio, e constituirá o motivo central da sua peça Jacob e o Anjo (1940), o mistério dramático que serviu de base a Vasco Graça Moura para a realização do libreto de Banksters. No início de Banksters vemos um homem encurralado, aterrorizado. «Socorro!», grita. Podia bem ser o começo da Flauta Mágica, mas aqui, ao contrário da ópera de Mozart, o homem que grita apavorado não vem perseguido por uma serpente. Quem grita por socorro é um poderoso banqueiro, Santiago Malpago, que é assombrado pela súbita aparição de um anjo. O banqueiro e o anjo lutam, numa evocação da luta de Jacob e o Anjo, mas, ao contrário do episódio bíblico, o anjo domina facilmente o homem. A partir daqui sucedem-se em cadeia os acontecimentos infelizes que levarão à decadência de Santiago, o banqueiro. Angelino Rigoletto, isto é, o anjo agora disfarçado de jornalista, insinua-se na vida do banqueiro, que fragilizado pela poderosa incandescência divina que dele dimana vai perdendo o domínio de si e a lucidez. Aproveitando a sua fragilidade a mulher, Mimi Kitsch, e o irmão do banqueiro, um poderoso acionista, tecem uma série de intrigas e traições

A educação espiritual«E se, de súbito, algum Anjo me levasse para junto do seu coração:eu sucumbiria perante a sua natureza mais potente.Pois o belo é apenas o começo do terrível, que só a custo podemos suportar,e se tanto o admiramos é porque ele, impassível, desdenha destruir-nos.Todo o Anjo é terrível.»

(Rainer Maria Rilke)

que conduzirão à queda e à prisão do banqueiro. Só, humilhado, enlouquecido, o banqueiro permanece cego ao horizonte espiritual e divino que Angelino procura desvelar-lhe. Considerando-o responsável pelo seu destino, manda assassiná-lo. Então, caído na mais profunda degradação material e moral, o banqueiro tem por fim a epifania, que o vai aliviar do que resta da sua mundanidade. A sua morte será a libertação, a irradiante luz do espírito derramada sobre o homem decaído. Eis em traços gerais o argumento de Banksters. Mas este sobrevoo sinóptico não permite perceber totalmente a dimensão ambígua e paradoxal que subjaz ao conteúdo simbólico da obra. De facto, ela permite uma grande variedade de leituras e interpretações. Desde logo podemos perguntar se assistimos à queda ou, pelo contrário, à ascensão espiritual de um homem. Punição ou redenção? Sagrado ou profano? Ou não será antes uma espécie de Fausto invertido, um anti Fausto?O mito bíblico da luta de Jacob com o Anjo funciona como marcador simbólico fundamental, representando o confronto entre o homem e o divino, o material e o espiritual, ou o físico e o metafísico. Mas a luta é também sinal de proximidade. Há qualquer coisa muito forte, ainda que ténue, que liga o banqueiro ao anjo. Só ele vê o anjo onde todas as outras personagens veem um jornalista. é como se houvesse um drama espiritual dentro do drama material. E assim, essa luta bíblica pode simbolizar também a luta do homem consigo próprio, a fuga de si próprio, a sua resistência e a sua cegueira às coisas do espírito. O homem-carne contra o homem-espírito. Esta é, aliás, uma dualidade cara ao pensamento poético de Régio, o corpo como lugar de drama entre as forças antagónicas da carne e do espírito. Com a luta o anjo vem trazer ao banqueiro a educação espiritual. Vem mostrar a fragilidade e o relativismo da vida material em relação à suprema realidade do espírito.

Ao libertá-lo de todas as correntes que o prendem à vida material, uma vida vazia de sentido, vivida num enleio de poder, dinheiro, e corrupção, ele procura curá-lo da cegueira espiritual, despojá-lo de todo o supérfluo, para que possa atingir o essencial, seja ele a sua interioridade, o Ser, a transcendência, ou Deus. A sua ruína será, pois, a sua salvação. A derrota material será a vitória espiritual. Eis a ambivalência. «Pois a pobreza é um grande clarão que vem do interior», diz-nos Rilke no Livro de Horas. Mas, mesmo depois de tudo ter perdido, o poder, a mulher, o banco e até a lucidez, o banqueiro ainda resiste, e apesar dos esforços do anjo/jornalista, ele permanece cego à luz do espírito, continua a agir dentro dos padrões da mundanidade e da mesquinhez humana. Só depois de mandar matar o anjo, um crime a que assiste, caído na maior abjeção moral, o banqueiro tem, por fim, a sua epifania. E aí, inicia-se a libertação. A morte como redenção. Para Régio, como para Dostoievski ou Kierkegaard, a derrota e a angústia mais profunda podem ser instrumentos de progresso moral. O indivíduo despe-se do que é mesquinho, algo de si morre, e ascende a um outro grau de vida: a do espírito. A morte surge assim como a metáfora da redenção, e da libertação. Esta ambiguidade confere ao final de Banksters um cunho trágico mas paradoxalmente radioso. Eis a intenção de Côrte-Real: iluminar a morte. Para o compositor Banksters é uma ópera sobre a redenção, e uma alegoria crítica ao mundo atual, com a sua conceção materialista, o seu consumismo, os jogos de poder, a hipocrisia. Tudo isto funciona como uma metáfora do próprio sistema que funciona mal, e do modo pouco autêntico como vivemos. Como foi acima referido, o libreto de Vasco Graça Moura é inspirado na peça de Régio Jacob e o Anjo, mas é adaptado a um contexto mais atual. Originalmente a peça de Régio passa-se numa corte não especificada geográfica ou temporalmente. A personagem principal é um Rei,

símbolo do poder na terra, ao qual aparece um Anjo, um anjo/bobo. Em Banksters a ação é transposta para o mundo da finança, ou seja, centro de poder e decisão nos dias de hoje, por analogia à corte régia de outrora. O rei de Régio transforma-se no banqueiro. A prosa dramática de Régio é vertida virtuosisticamente num português vicentino, popular e musical, que molda perfeitamente o registo predominantemente satírico e cómico. Toda a teologia e simbolismo religioso vigentes em Régio são, de certa forma, atenuados. Banksters evoca o mistério e o divino, mas apesar de conter algumas referências católicas ou símbolos cristãos, não pretende ser uma ópera religiosa, pelo menos no sentido dogmático das religiões. Aspira, antes, a ser transversal a todas as formas de espiritualidade, seja laica ou religiosa. A força e a profundidade das dimensões simbólica e metafórica, bem como jogo dos elementos antagónicos, permitem uma grande variedade de leituras. é, inclusive, possível ver a obra como uma inversão do mito de Fausto, um anti Fausto. Em lugar do pacto demoníaco que promete todas as realizações terrenas e mundanas em troca da perdição da alma, temos aqui uma inversão na qual Angelino, o anjo mefistofélico, oferece o espírito e a luz em troca da renuncia à vida material e mundana.

A disciplina da liberdadeNo essencial, Banksters é uma ópera que segue os princípios e as convenções da tradição, que não procura inovar ou reinventar o género. Mas, «será preciso avançar sempre? Não chega a oportunidade de fazer boa música para bom teatro, ou melhor, fazer tão boa música que apesar disso possa acontecer bom teatro?». A interrogação de Alban Berg, nos seus comentários a Wozzeck, parece pertinente. Para Nuno Côrte-Real, a ópera, enquanto forma narrativa, assenta num conjunto de referências e significados que devem ser explícitos e compreensíveis. Pressupõe, por isso, uma clareza discursiva que permita o reconhecimento de ideias e de sinais, de modo a poder concretizar-se plenamente enquanto espetáculo de comunicação. E neste sentido, o compositor recusa uma atitude desconstrutiva ou experimental, e recusa o pensamento estrutural que encara a arte como um exercício linguístico. Para ele compor é uma aposta no sentido, na comunicação, na possibilidade de transcendência. E por isso a linguagem não pode ser um dado prévio. Ela é, antes, uma ferramenta expressiva ao serviço de uma finalidade que a transcende. A conceção musical de Côrte-Real é holística e abrangente. A sua escrita revela uma progressiva demarcação de todos os dogmas estéticos e ideológicos, e uma recusa de todas as interdições academicamente instituídas. A liberdade é a sua única disciplina. Assumindo uma relação aberta com a tradição e com outros mundos sonoros, a sua música cria um feixe de contaminações que são assimiladas e incorporadas no seu próprio estilo. Mais do que inovar, diríamos que a sua música pretende renovar através dessa capacidade de sintetizar elementos dispersos e os

submeter a uma nova intenção expressiva. Não é tanto um ecletismo, é mais uma síntese estilística, através da qual o compositor convoca na sua escrita todas as caligrafias, num diálogo permanente e descomplexado com todas as músicas e todas as tradições. Por isso podemos encontrar em Banksters, perfeitamente fundidos no tecido musical, um fado ou um funk, sem que música perca a coerência ou a «dignidade» porque o material musical, a técnica, e, enfim, a linguagem não têm um valor em si mesmos, não garantem a qualidade da peça, antes, submetem-se a uma vontade construtiva e a uma intenção expressiva.

A construção musical de Banksters faz-se em total submissão ao texto. A música assume uma função semântica complementar à palavra, dá-lhe uma profundidade psicológica e estabelece um fundo a partir do qual ela irradia. Além disso, é fundamental na explicitação dos conteúdos simbólicos. Côrte-Real explora o poder sugestivo da música, e atribui a cada personagem elementos musicais que a caraterizam e lhe dão espessura psicológica. Cada personagem tem a sua música própria, o seu tom próprio, que a distingue das demais. Curiosamente, o compositor atribui uma pulsação diferente a cada personagem, de modo que cada uma delas tem também um tempo próprio. A unidade da construção musical é conseguida graças a uma série de elementos estruturais que aparecem associados às personagens ou a determinadas ideias dramáticas. Logo no Prólogo aparece um motivo estrutural determinante, a vários níveis. Trata-se de uma série de 12 notas com uma função de ground bass, que surge como uma evocação do mistério, e define o tom indecifrável ou inefável que perpassa toda a peça. Desta série são extraídos vários elementos. Por exemplo, ela determina o percurso de «centros tonais» ou as transposições que o material vai sofrendo ao longo de cada ato.

As últimas cinco notas desta série formam um importante motivo ligado ao banqueiro, um motivo instrumental grave que sugere recorrentemente o mistério que o envolve. Como personagem principal, o banqueiro possui outros motivos recorrentes que o caraterizam e definem psicologicamente. O «motivo do chicote» simboliza o poder e a prepotência da personagem, e aparece sempre que ele utiliza a expressão «isto só vai à porrada, só o chicote dá leis!». No final este motivo transforma-se no arrependimento, e na redenção. Há um outro leitmotiv similar mas com uma função simbólica oposta: é o «acorde do grito» e aparece sempre que o banqueiro grita por socorro, representando a sua fraqueza face ao divino. Este acorde, que permanece sempre sem resolução, é finalmente resolvido na transição para o Epílogo, no momento da morte do banqueiro. Angelino Rigoletto é uma personagem ambígua, não só pelo facto de se desdobrar em dois, anjo e jornalista. Ao longo da peça a personagem vai-se transfigurando numa série de atitudes, assumindo diferentes posturas. Ele é bobo, severo, sedutor, ameaçador, dócil e amigo. Enquanto entidade divina ele possui essa plasticidade de se adaptar a todas as situações humanas. Tem tanto de angélico como de diabólico, é uma espécie de Anjo Mefistófeles. Ligado a esta personagem há um motivo melódico-harmónico a partir do qual Côrte-Real faz derivar grande parte da sua música. Este acorde (7ªM-3ªm-7ªM) dá origem ao motivo melódico de quatro notas que representa o divino e que surge para o banqueiro como algo assustador. Tal como a personagem, este motivo vai assumindo várias faces e diferentes características expressivas. A sonoridade de Angelino está muito ligada ao intervalo 11, isto é a 7.ª Maior, e à sua inversão, a 2.ª menor, mas essa sonoridade não é necessariamente dissonante, é sobretudo misteriosa e perturbadora. Há também o «motivo do rei dos cegos» que representa

a superioridade do espírito e a resistência do banqueiro em aceitar essa verdade. Angelino tem ainda dois instrumentos que caracterizam a sua personagem: o saxofone e a guitarra elétrica, dois instrumentos estranhos numa formação orquestral ortodoxa, o que pode sugerir simbolicamente a condição outsider da personagem. Por outro lado a guitarra elétrica sugere também essa energia diáfana que habita a personagem. Por sua vez, Mimi Kitsch, a mulher do banqueiro, é retratada como uma mulher fatal. Sedutora, ambiciosa e hipócrita, ela executa sem escrúpulos o plano para derrubar o marido. Todo o seu material musical é derivado de um único acorde de sete notas, o «acorde da volúpia», que confere uma sonoridade muito particular à personagem. O acorde é utilizado em diferentes versões, maior ou menor, para retratar estados de espírito mais positivos ou mais negativos.Há outros elementos musicais que estão mais ligados a ideias e funcionam como marcadores simbólicos. Por exemplo, o «tema da luta», um tema fortemente rítmico que aparece nas cenas de luta entre o banqueiro e o anjo, simbolizando o confronto do humano com o divino. Ou ainda, uma segunda série dodecafónica que o compositor utiliza ligada às situações de falsidade, mesquinhez e traição. Esta série está construída melodicamente em movimento contrário, tem um sentido de fechamento, percetível graficamente na partitura ou no espaço auditivo. A escolha do material musical obedece a uma ideia de síntese. Encontramos, por isso, uma grande variedade de materiais, desde o acorde perfeito à série dodecafónica. O mesmo acontece com a escrita vocal que recorre a técnicas variadas como o canto lírico, a voz falada, o estilo recitativo ou o sprechgesang (canto falado). O pensamento de síntese está também presente no que diz respeito à estrutura formal. Em geral, Banksters segue as convenções formais da tradição operática, mas dentro da sua estrutura encontramos uma grande variedade de formas estranhas a essa tradição. O 2.º ato é muito claro neste aspeto. um pouco à maneira de Alban Berg,

ele é constituído por várias formas musicais: a habanera, o fado, a valsa e o funk. A introdução destas formas é, de certa forma, legitimada pelo contexto dramático. Vejamos, o 2.º ato é dramaticamente dominado pela figura de Mimi Kitsch, a mulher do banqueiro, que engendra um plano para derrubá-lo, e vai usar o seu poder sedutor para obter apoios. Mimi recebe primeiro o irmão do banqueiro, um importante acionista, com o qual teve um caso amoroso no passado. Entre a sedução e conspiração surge então a Habanera cantada pelo acionista rendido aos encantos de Mimi. De seguida ela tenta obter o apoio de três importantes individualidades. é neste contexto que surge o Fado, enquanto Mimi, num enlevo de astúcia e hipocrisia, desfia um rol de lamentos e queixas. A Valsa, por sua vez, surge quando Mimi usa todos os recursos e encantos para conquistar o anjo/jornalista. A dança sugere, neste contexto, sedução elegante e erotismo. Mas o jornalista não se deixa deslumbrar pelos encantos da carne. A fechar o 2.º ato surge o Funk, que é utilizado para acentuar a violência da cena em que o banqueiro, transtornado e exaltado, troca acusações com a mulher e descobre a sua vil maquinação para o despedir. O banqueiro tem então um brusco acesso de loucura e o 2.º ato termina quando Mimi, já senhora da situação, o manda prender. Fica, assim, clara a abertura de Nuno Côrte-Real a todos os géneros, até aos mais recentes como o funk. Este é, aliás, um procedimento muito comum ao longo de toda a história da música. Veja-se por exemplo Beethoven, apropriando-se das marchas revolucionárias ou dos temas russos de Razumovski. Veja-se Mahler, Ravel ou Alban Berg. Ou o jazz em Stravinski. Enfim, os exemplos multiplicam-se. Na verdade a pureza estilística foi uma utopia do modernismo, ou melhor, de uma certa fação do modernismo. No caso da ópera, espetáculo total, teatro das paixões humanas, o problema nem se põe. A narrativa dramática exige coerência, adequação, isto é, exige uma resposta musical em correspondência.

SinopseO texto em itálico e sublinhado corresponde a cenas que não serão executadas

PrólogoNum luxuoso gabinete na sede do Banco,

Santiago Malpago (o Banqueiro), dorme

um sono irrequieto numa poltrona,

com um livro aberto sobre o peito,

que parece dominar-lhe os sonhos.

No peitoril da janela aparece, em silhueta,

a figura de um Anjo que, de um salto,

se abate sobre a poltrona e assusta

o Banqueiro; aterrorizado, este grita

por socorro. Os dois travam uma luta

feroz; estrangulado pelo Anjo, o Banqueiro

ouve um coro cujo canto parece

acompanhar a vida que se esvai

do seu corpo.

Acto Icena 1O Banqueiro desperta com o próprio

grito. Dois Seguranças irrompem, mas

assim que o Banqueiro se apercebe de

ter sonhado, desfaz-se da presença dos

Seguranças. De costas, não se apercebe

da presença furtiva do Anjo, agora

reconfigurado em Angelino Rigoletto,

um Jornalista, e volta a gritar pelos

Seguranças que, desta vez, tardam

em aparecer. Angelino aterroriza de novo

o Banqueiro e, de novo, desaparece;

ao chegarem, os Seguranças são

recebidos pelos insultos do Banqueiro.

Saem os Seguranças reaparece Angelino.

Desta vez, o Banqueiro tenta gritar,

mas as mãos à volta do seu pescoço

impedem-no de o fazer e é o próprio

Angelino quem vai até à porta chamar

pelos Seguranças. O Banqueiro escapa-se

para o corredor.

cena 2Sente-se crescer um tumulto enquanto

Angelino espera ladeado por dois Seguranças.

O Banqueiro entra seguido do Presidente

da AG e do Médico, e ameaça os Seguranças

de despedimento sumário. Angelino revela

a sua missão: explicar-lhe a luta de Jacob e o

Anjo, que o Banqueiro leu sem entender.

Angelino que tudo vê e adivinha, apercebe-se

da desmesurada ambição que obceca

todos os que rodeiam o Banqueiro.

cena 3Entra Mimi Kitsch (Mulher do Banqueiro),

acompanhada de amigas. Cínica e

empertigada, ironiza a agressão levada

a cabo pelo monstro de um Jornalista.

cena 4É então que surgem três altas figuras:

o Advogado, o Magistrado e a Porta-Voz.

Esta dirige-se ao Banqueiro e informa-o

da enorme preocupação que os assolou

ao saberem da agressão. O Banqueiro

descreve a luta com Angelino enquanto

Mimi ironiza a situação; ele acusa

Angelino de ter artes do Diabo, mas

este a todos diz que o Diabo não existe,

«Apenas existe Deus», e denuncia as

suas almas apodrecidas pela ganância.

A discussão continua e é dirigida para o

tema da impotência sexual do Banqueiro,

denunciada pela Mulher. Muito a

propósito, Angelino oferece-se para

preencher o vazio deixado por Santiago

Malpago e acusa-a de ter a cama sempre

aberta. Ofendida, a Mulher retira-se

com o séquito de acompanhantes.

cena 5O Banqueiro desculpa a Mulher junto

dos presentes. Entram os Seguranças

que rogam pelos seus empregos, mas

são despedidos no ato. Angelino a todos

recorda a sua ascendência. irritado por

não o conseguir intimidar, o Banqueiro

contrata-o para mais tarde poder exercer

a sua autoridade.

Acto IINuma sala de reuniões do Conselho de

Administração, a Mulher, languidamente

recostada nas almofadas de um divã,

entretém-se a desfolhar uma rosa

( «uma rosa é uma rosa é uma rosa...»)

cena 1Entra o Acionista, irmão do Banqueiro,

e uma secretária. O Acionista troca

um diálogo tão ardente como calculista

com Mimi, sua cunhada. Ambos desejam

vingança: ele por ter ciúmes do irmão, casado

com a rainha que devia ser sua, e para mais

presidente do banco; e ela por ter sido

acusada de ir para a cama com todos,

frente aos quadros da empresa.

cena 2A sós, a Mulher vê-se ao espelho,

compõe o vestido e toma um ar

imponente e frio. De súbito, larga

um dos seus risos agudos. Angelino

surpreende-a, saltando por detrás

do divã, e abraça-a. Ela insulta-o, mas ele

avisa-a de que conhece as suas intenções.

cena 3Voltam-se ambos para a porta. Angelino

desaparece atrás do divã. A Mulher

retoma o seu ar imponente e frio.

Entram o Advogado, o Presidente da AG

e o Magistrado. Já todos sabem que é

intenção demitir o Banqueiro. A Mulher

insinua problemas de saúde do marido

que todos aceitam como pretexto

para atingir o objetivo lançado.

cena 4Angelino reaparece e, cínico, dá os

parabéns à Mulher pela trama urdida;

os três altos personagens manifestam

a sua indignação temendo serem

denunciados. Angelino ameaça-os, agarra

a Mulher, mas é cercado pelo Advogado,

o Presidente da AG e o Magistrado.

Aparte, revela também querer derrubar

o Banqueiro, mas a Mulher fá-lo expulsar

por dois seguranças.

AFONSO MiRANDA

cena 5A Mulher deita-se voluptuosamente

nas almofadas e pede que tragam

Angelino; ela confessa que sonha com

ele e propõe livrarem-se do Banqueiro

para ficarem os dois juntos. Porém,

Angelino não se deixa seduzir, enfurece-a

e conta-lhe a história de um homem

astuto, que enganou pai e irmão por

conta da ganância. O seu nome era

Jacob. E Deus pensou que ele poderia

ser rei da nação. A história deixa a

Mulher exasperada: ameaça derrubar o

marido e chamar a si o poder; Angelino

confirma a sua conivência. De modo a

pôr o plano em prática, Mimi manda

chamar o marido, e é quando Angelino

lhe refresca a memória, declarando que

Santiago só a ele obedece.

cena 6Desvairado, o Banqueiro entra

abruptamente e parece nem ver

a Mulher. Ameaça Angelino,

desesperado por não conseguir

livrar-se dele.

cena 7O Banqueiro parece acordar

lentamente de uma embriaguez.

Olha alternadamente para Angelino

e para a Mulher sem a reconhecer.

Ela regurgita todo o seu desprezo

e com a ajuda de Angelino procura

levar o Banqueiro à loucura e,

consequentemente, à demissão.

A Mulher chama violentamente

à campainha. O Banqueiro lança-se

para a porta, mas dois Seguranças

barram-lhe a passagem.

Acto IIIPassou um ano. Na caixa forte do

banco, Santiago Malpago, o Banqueiro,

doente e enfraquecido, está estendido

no chão. Como um fantasma, Angelino

avança e ajoelha-se a seu lado; faz um

gesto lento como se fosse acariciar-lhe

os cabelos.

cena 1Derrotado, Santiago Malpago

reconhece os seus erros, mas Angelino

mostra-se insatisfeito. Santiago já

decidiu o que vai pedir ao irmão que,

entretanto, casou com Mimi. A própria

ideia fá-lo explodir numa gargalhada

estridente como que enlouquecido.

cena 2Aproxima-se um tumulto que se torna

cada vez mais forte. Angelino pretende

saber o que Santiago quer pedir ao

Acionista, mas o banqueiro, acobardado

pela ideia traiçoeira, esquiva-se e tenta

afastá-lo incessantemente. Aparecem

dois Seguranças seguidos pela Mulher

e o Acionista.

cena 3É então que Santiago Malpago dá pelos

visitantes; ambos cessam a luta. A Mulher

e o Acionista são seguidos pela Porta-Voz,

a Médica, o Advogado, o Magistrado,

o Presidente da AG e uma Comissão de

Trabalhadores do banco. Acreditando

que Santiago Malpago perdeu as suas

faculdades mentais, todos o humilham

e insultam ao mesmo tempo que a

Médica anuncia a chegada de um

herdeiro, filho do irmão e da ex-Mulher.

Santiago explode de raiva.

cena 4Santiago insiste para que Angelino saia,

mas este nega-se mais uma vez. Furioso,

o Banqueiro lança-se sobre Angelino e

domina-o. intrigado pelo discurso de

Angelino, o Acionista desfia uma longa

dissertação sobre os bens que possui, o

amor, o herdeiro que espera e, contudo,

nada tem a não ser a consciência de ser

pobre e infeliz. A resposta de Angelino

desperta a admiração do Acionista que

o tenta contratar. Santiago opõe-se

veementemente: a vingança é sua e

Angelino deverá pagar com a vida o que

lhe fez. O Acionista sossega Santiago

ao concordar ser o braço da vingança;

os dois Seguranças flanqueiam Angelino.

Saem todos.

cena 5Santiago Malpago suplica a morte

a Deus enquanto testemunha o

assassinato de Angelino Rigoletto.

cena 6é madrugada. Santiago Malpago

tem o rosto encostado e as mãos

agarradas às grades da caixa-forte;

a Médica está de pé, imóvel. De repente,

o Banqueiro cai de joelhos com a cara

nas mãos. Coberto de sangue, surge,

devagar, a figura de Angelino Rigoletto

(o Anjo). Santiago é assaltado pela

consciência e começa a resignar-se à

sua sorte, mas tomado pelo desespero

agarra-se a uma última esperança de viver

e abraça-se à Médica, que não vê nem

ouve o Anjo. Resignado, por fim, aceita

entregar-se à morte e abandona-se ao Anjo,

preocupado apenas com a redenção

da sua alma. O primeiro raio de Sol

entra pela janela; o Anjo apanha as mãos

de Santiago e conserva-as nas suas.

Subitamente, Santiago Malpago sofre uma

convulsão e a cabeça cai-lhe para o peito.

EPílogoO Anjo larga as mãos de Santiago

Malpago e sai. O cadáver de Santiago,

iluminado pela luz do Sol, é soerguido

por um coro de anjos.

lIBrEto

BankstersTragicomédia lírica em três actos

Libreto de Vasco Graça Moura inspirado na peça Jacob e o Anjo de José Régio

Prólogo

A cena representa o luxuoso gabinete de trabalho do Banqueiro, na sede do Banco. O Banqueiro dorme alta manhã, meio estirado numa poltrona, sob o jorro de luz forte que entra pela janela aberta. Tem um livro aberto pousado sobre o peito. Aparece de pé no peitoril da janela, em silhueta, a figura de Angelino Rigoletto. De salto, o Anjo cai sobre a poltrona em que dorme o Banqueiro. O Banqueiro acorda sobressaltado, procurando soerguer-se.

Santiago Malpago (com grande terror)Socorro!

(Trava-se uma luta entre o Anjo e o Banqueiro, na poltrona. Os dois lutam primeiro de joelhos, depois de pé, ora separados, ora abraçados. Os gritos do Banqueiro devem dar uma impressão de intenso terror: como se lutasse com um monstro. Ora a luta dos dois é um bailado simultaneamente hierático, feroz e grotesco, simbólico da luta de Jacob e o Anjo. Para o fim do bailado, o Anjo dominou completamente o Banqueiro: ajoelhou-o a seus pés, e tem-lhe a garganta apertada nas mãos ambas.) coro (off-stage)Animula, vagula, blandula,Hospes comesque corporis,Quae nunc abibis in loca?

Pallidula, rígida, nudula,Nec, ut soles, dabis jocos? 1

Acto I

cena 1(o Anjo desapareceu)

Santiago Malpago Socorro!(Surgem dois seguranças com um ar de bonecos de mola que saltam. Trazem na mão pistolas. O Banqueiro corre para eles; mas voltando-se de repente vê a janela sem ninguém.)Quem vos chamou?! Sereis mudos ou sois surdos? isto só vai à porradaSó o chicote dá leis!Falo convosco, imbecis!

primeiro SegurançaÓ doutor, Quem gritou foi o senhor…Nós somos os seus humílimos guardas…

Santiago MalpagoEu gritei? Já sei! Sonhei!O pesadelo começaDe um lado pra outro ladoE acordo sobressaltado.isto só vai à porradaSó o chicote dá leis!Falo convosco, imbecis!

Segundo SegurançaDoutor, Preciosa é a existência do senhor…Nós somos os seus humílimos guardas…

Santiago MalpagoSaiam!

(Os Seguranças desaparecem. O Banqueiro está de costas para a janela. Não vê, pois, que o busto do Angelino Rigoletto, disfarçado de Jornalista, assomou ao peitoril.)

angelino RigolettoBom dia, presidente fora do baralho!

Santiago MalpagoSocorro!

(ninguém aparece à porta)

angelino RigolettoPor que gritas e te agitas?Se eu quisesse liquidar-teEsburgava até ao ossoEsse teu magro pescoço!

Santiago Malpago Socorro!(O Angelino desaparece; reaparecem os seguranças com as pistolas no ar.)Vinde já, ó seguranças,Prender o trangalhadanças!Mas gritei em pura perdaSempre que chamar-vos quis…isto só vai à porradaSó o chicote dá leis!Sereis uns guardas de merda?Sempre os mesmos imbecis…E saiam da minha vista!

os dois seguranças Sim, ó doutor…Nós somos os seus humílimos guardas…(Os seguranças desandam ambos. O Banqueiro passeia agitado. O Angelino sai agilmente de detrás da poltrona, põe-se de pé.)

angelino RigolettoVejo bem que não te fartas…

1 Alminha, vagabunda, brandinha, / Hóspede e companheira do corpo, / Onde irás agora? / Pálida, fria, nua, / Privada dos costumados passatempos? (Adriano – últimos versos).

Santiago MalpagoSocorro!(Procura fugir embaraçadamente; o Angelino avança para ele e agarra-o pelo pescoço.)

angelino RigolettoQuer’s que eu chame os seguranças?(vai à porta)Eh! Ó guardas do doutor!...(A porta abre-se imediatamente e os dois seguranças reaparecem com as suas pistolas no ar. O Banqueiro lança-se pela porta aberta.)

Santiago Malpago (no corredor)Socorro!

cena 2Sente-se crescer um tumulto, enquanto o Angelino espera entre os dois Seguranças. O Banqueiro entra seguido de amigos, criados, e secretários. Vêm também o Presidente da AG e o Médico.

Santiago Malpago (aos dois seguranças)Haveis de ir já para a rua!

Segundo SegurançaCorte no meu ordenadoPasse-me a recibo verde.Seja essa a dura lei,Já não será de somenos…Tenho três filhos pequenos,que uma vez já lhe mostrei…

Santiago Malpago Spera aí! uma cadeira!Terei de usar o chicote?Não vêem que estou de pé!Tragam já o meu capoteAi lari lari lolé(ao Primeiro Segurança)Tu que estavas a dizer?

primeiro SegurançaTenha dó, caro senhor,Eu não entrei na refregaEm tudo o meu zelo pus…E sustento uma mãe cegaDe quem sou a própria luz…

Santiago MalpagoPõe-te em pé! (ao Angelino)Em que pensas, estrangeiro?

angelino RigolettoPenso que tu fazes mal.Venho aqui como enviadoDum paraíso fiscal…No mundo não há melhorDo que entrar numa offshore…E qualquer grande banqueiroPode ter gestos iníquos,E profícuos e oblíquos,Não é um gajo porreiro,é chefe triunfador…

Santiago MalpagoTalvez sejas menos burroE eu te dê justo valor…

angelino RigolettoObrigado.

Santiago MalpagoOutro galo cantariaSe tudo quanto tensTu perdesses, ó cabrão…

angelino RigolettoPois há coisas transcendentesNas offshores metidas…

Santiago Malpagoisso é que é ser jornalista De isenção imparcial…Era só fogo-de-vista! Vou preparar-te a ruína!

angelino RigolettoAbre os olhos ó banqueiro,Não é esse o nosso arranjo!Eu vim explicar-te a lutaDe Jacob com o AnjoQue leste sem entender…

Santiago MalpagoPois quiseste estrangular-me?

angelino RigolettoEu, quando quero, não falhoEu cá nunca me atrapalho.Quero em luta ser o anjoA derrotar-te, ó Jacob!

Santiago Malpago Socorro!

(Os dois Seguranças agarram o Angelino cada um por seu ombro. O Banqueiro procura dominar a sua agitação.)

Santiago Malpago (ao Presidente da AG e ao Médico)Acham que sou bom actor?Que sei bem fingir o medo?

presidente da aG Ninguém finge tal enredoComo Você, ó meu rico!

Médico Ninguém! Eu por isso fico!

angelino RigolettoPosso falar, ó doutor?

Santiago MalpagoSim.

angelino RigolettoDiz-lhes que me tirem as patas,Faz doer as omoplatas!

Santiago Malpago (aos seguranças)Larguem-no! Eu não tenho medo!(os Seguranças largam-no)

angelino RigolettoMentes tu e os teus lacaios!Quem são eles? Nunca os vi!Vão-te adulando e entretantoJá querem mandar em ti.

Santiago Malpago (ao Presidente da AG e ao Médico)Expliquem-lhe quem são!

presidente da aGNunca tive a obrigaçãoDe responder a um cabrãoQue me insulta e afinalÀ assembleia-geralPresido por eleição,E asseguro a cotaçãoNa bolsa de Wall StreetE noutras por todo o mundo,Se me permite que citeExp’riências em que abundo!

MédicoMédico também precisaDe mostrar que hipocratizaSem nunca hipocritizar.Trato bem de financeiros,Sempre os consegui curar…Conhecem-se os meus trabalhos…

Santiago MalpagoBem palrais… não vejo réstiaDo que se chama modéstia…

presidente da aG e MédicoMas são factos, ó doutor!

Santiago MalpagoEntendeste, ó analista?

angelino Rigolettoum dia lhes murcha a crista.Já sabia. Eu vejo antes e através,Seja o teu advogado ou poeta de serviçoou amigo magistrado.

Santiago MalpagoHoje só recebo aqui.

(um secretário sai)

angelino RigolettoComo vejo ao longe, seiQue a tua mulher lá vemCom as amigas lampeiras.Já isso não era pouco,Mas falaram-lhe de um loucoQue vem cá fazer asneiras.(volta-se para a porta)Ora eu caio sobre as almas…

cena 3Todos se voltam para a porta. A Mulher do Banqueiro aparece, acompanhada de amigas e secretárias.

angelino RigolettoNão tema, minha senhora.

Mimi Kitsch (atira um riso agudo e cacarejado, meneando-se.)Venho dizer-te meu qu’ridoQue é grande a minha alegriaPor não teres levado um chutoNem te terem agredido!

Santiago Malpago (irritado)Ninguém me agrediu, bem vês.

Mimi KitschNinguém te agrediu? é pena!Tinham-me dito que sim!Que fora uma bela cena Feita por monstro ruim!

Santiago MalpagoO monstro é este, aqui está.

angelino Rigoletto (apresenta-se)Angelino Rigoletto.

Mimi Kitsch (mira o Angelino)O monstro é este? PenseiFosse um outro jornalista!Angelino Rigoletto.Venha cá, chegue mais cá…

(...)

Santiago MalpagoNão é cretino!E foi ele o da agressão.Eu dormia. E de manhã,Veio em pezinhos de lã…

angelino RigolettoEu não agredi ninguém!

Mimi KitschSempre houve agressão? Pois bem!Chegue aqui, ó infractor!

(Angelino adianta-se dois passos)

Santiago MalpagoSai!

Mimi Kitsch (ri com o mesmo riso agudo e cacarejado)Não julgava o meu maridoCom medo deste palerma…

Santiago MalpagoNão é medo! Eu não te disse. Esqueci-meDesse juízo severo,Mas até parece bruxoE ter artes do Diabo!

angelino RigolettoPois já agora desembuchoE digo de cabo a raboQue não existe o DiaboNem temos vestígios seus.Apenas existe DeusQue neles se manifestaE nos põe oiro na testa…

advogado (enfaticamente)Quer pôr o Diabo em Deus!

angelino RigolettoAgora já imaginas,Rei do baralho de cartas,Que assim tanto te amofinasse Deus por mim te dá corda,Porque é que nunca te fartasDe operar fora de bordaEm busca de cotação!

presidente da aGParte-se este coraçãoQue eu tinha entregue à FinançaPra fugir ao iRS…

angelino RigolettoCoração! Coração! Mas coração de quemOu coração de quê? Ou de ninguém…Só vês investimento, hipotecas e juros,Taxas de rendimento e cotações,E falas só de puros mas duros, obscuros corações?Na carne eu sou espírito e tu és nada!Eu sou uma offshore e tu és uma alma tributada!(ao Banqueiro)Na noite em que lutámosSegundo o livro toquei a tua coxaE passaste a mancar, e feneceuO nervo em tua coxa. E tu vencesteE só pela ganância é que tresleste,Ó alma frouxa,Só é chefe no mundo quem venceuO Anjo do Senhor! Eu vim por essa obscura Nesga já morta em tua carne humana.E não podes fechá-la.

Santiago MalpagoSocorro!

(O Banqueiro compõe-se imediatamente. A Mulher solta um riso agudo e cacarejado, troçando com o medo do Banqueiro.)

angelino Rigoletto (à mulher)Posso falar? Deixais?

Mimi KitschAh, sim! Chega-te mais!

(Angelino mostra-se de todos os lados, como um manequim.)

Magistrado (solene e pretensiosamente)Perdoem a indiscretainterferência minha.Mas vim asinha

E com a alma repletaDe uma inquietaSensação ebulienteDe ouvir este insolente…

Santiago MalpagoPois muito lhe agradeço…

Mimi Kitsch (ao Angelino)De que é que se falava?

angelino Rigoletto (continua a mostrar-se de todos os lados)La donna è mobileQual piuma al vento...Larala titiri lara...(com uma intimidade crescente)Já viu que ele coxeia?Já viu a perna dele sem a meia?

Mimi KitschNem me lembro.

angelino RigolettoNão se lembra? Como pode?

Mimi KitschÓ meu caro, ele não fode,Não me assiste nem me acode…

Santiago MalpagoChega de inconveniência…

Mimi Kitsch (irritada)Meu amor, tem paciência,Todos têm a consciênciaDe que nas manobras ternasTu já não vais lá das pernas…

angelino RigolettoSei que é bela e infeliz…E eu sei ser criado, amante,

Divertido e delirante,E sei meter o nariz…

Santiago Malpago (com ímpeto)Pois se atreve este tratante?(à mulher)E a história do gerente?

Mimi Kitsch (desfigurada)Ai, ele ousa insinuar?Oiça agora toda a gente:Houve é certo esse gerenteQue um dia entrou no meu quartoPor causa de um cheque urgente.Sim, mas lagarto, lagarto!Tudo foi muito decente…E vem-me atirar este homeminjúrias que me consomem.Por me pôr nas suas mãosDeixei pais, deixei irmãos,Fiz da vida uma maçada!(ao marido)Porcalhão! Grande canalha!Ó vil caçador de ratos,Com as mulheres és bem frouxo!(aos circunstantes)Ah, sim! O banqueiro é coxoE manqueja onde se infiltre…Está velho e doido o biltre!(Sai com o seu passinho curto e corrido, soluçando violentamente mas sempre meneando-se um pouco. É bonito e ridículo. Com a Mulher saem todas as suas acompanhantes.)

cena 5

Santiago MalpagoDesculpem, caros senhores,Estes termos pouco honrosos,Ela tem tiques nervososA misturar os valores.

Eu que só lhe quero bemNão atendo mais ninguémNem estou para rancores.

(todos começam a sair)

os dois segurançasVimos pedir ao doutor,Que tenha pena de nós…

Santiago MalpagoVão-se embora! isto é atroz!Só o chicote dá leis!Não querem sair da sua,Mas amanhã… rua! Rua!

angelino RigolettoTu a mim não me despedes!

Santiago MalpagoAté te borras de medo!

angelino RigolettoMas é por ti que me interesso…

Santiago MalpagoPois olha, não te despeço,Mas hão-de cuspir-te na cara...

angelino RigolettoEstou ouvindo encantado.

Santiago MalpagoAté posso contratar-teComo técnico de imagem.Tenho de ter um palhaçoServiçal e sem coragem…

angelino Rigoletto‘Stou contigo a toda a hora!

Santiago Malpago (aos homens que ficaram)Ponham-me o gajo lá fora!isto só vai à porradaSó o chicote dá leis!Fora! Agora! Agora! Fora!

Acto IIA cena representa a sumptuosa sala de reuniões do Conselho de Administração. Há um enorme divã com montes de almofadas e um espelho, sob o qual está uma mesa com coisas de toilette e ao lado um escabelo com roupa. A Mulher está languidamente recostada nas almofadas do divã. Tem um molho de rosas ao lado, e entretém-se a desfolhá-las no colo, nos joelhos, no chão.

cena 1Uma secretária entra acompanhando o Accionista, homem novo e luxuosamente vestido.

Mimi KitschOra ainda bem que veioE deixou tudo…

accionistaCumpro as ordens que me dá…

Mimi Kitsch… A própria mulher do reiDa finança que aqui manda!Não faça pouco de mim!

accionistaNão ponho as coisas assim,Porém tudo anda e desanda,E no entanto não me atrevo…

Mimi KitschHá dez anos nesse enlevo…

accionistaNão resultou e eu me enchiPor isso de timidez…

Mimi KitschQuer dizer que envelheci?Talvez…(demora-se a olhar um botão de rosa)uma rosa é uma rosa é uma rosa…Dou-lhe uma rosa? Não dou?Dou-lhe a rosa que sobrou?A que à noite é mais formosa?A rose is a rose is a rose is a roseDou-lhe uma rosa? Não dou?(deixa cair o botão)

accionista Vossa beleza aumenta de ano em ano

Mimi KitschAumento que é engano…

accionistaO que a da rosa aumenta de hora em hora…

Mimi KitschAumento que a devora…

accionistaCorrem velas ao vento a todo o pano

Mimi KitschAh! Desengano…

accionistaSó incessante um som de flauta chora…

Mimi KitschEsses versos…

accionista… Não são meus!

Mimi Kitsché uma pena…

accionista… porémé bem meu tudo o que exprimem…

Mimi KitschEntão valem como seus…

accionistaBarca bela, inteligente,A minha cunhada ondula…

Mimi KitschE o seu irmão desregula…

accionistaEntão diga que consente…

Mimi Kitsch (afasta-o)Você não ouviuAquela tirada,O meu bom marido,E seu querido irmão,Falou de traição, Disse e repetiu,Junto de altos quadros deste banco,Das minhas complacênciasPara com contínuos…Porco da finança,O rei dos suínos,Rei das indecências…

accionistaQuer então que o demita?

Mimi KitschSeria capaz?

accionistaé questão de preço!

Mimi KitschMas é seu irmão…

accionistaMas é seu marido,isso eu não esqueço…

Mimi Kitschisto é a brincar, não é?

accionista (apaixonadamente)Claro, isto é jogo,Mas olhe, eu não brinco,Brincar com o fogoPondo nisso afincoLeva apenas cincoMinutos e ganho,Tal ódio lhe tenho.Sim, odeio o manoPorque é presidenteE casou consigo,Por isso lhe digo,Que isto é muito urgente.Claro, isto é jogo,Mas olhe, eu não brinco,Corro todo o risco,Jogo com afincoE no fim petisco!

Mimi KitschServe-se fria a vingançaE eu sirvo a minha gelada.

accionista (com entusiasmo)Anda tudo descontente,Bem sei que é tempo de criseE ele talvez preciseDe injecções de capital…

Mimi KitschVocê vai-me… você vai-me,Após tudo o que foi dito,

Dizer coisas do subprime,Ou que a finança desejeResolver cada mortgagePra restaurar confiança?‘Stamos a falar de um corno,Por acaso meu marido,E você fala em retornoAbsoluto garantido?E depois quer que eu o beije?Essa é a sua boa nova?

accionistaSó lhe pedia uma prova…(procura-lhe a boca)

Mimi Kitsch (afasta a cabeça)E não basta a que lhe dou?

accionistaEra você a rainha,Não a dele, mas a minha.(sai)

(...)

cena 5A Mulher senta-se mais à vontade, deita-se, ondula nas almofadas. Espreguiça-se voluptuosamente.

Mimi Kitsch (à secretária pelo telefone)Tragam-me esse homem já.(Alarga o decote e ensaia várias posições provocantes. Fixa-se numa e espera. Surgem à porta dois seguranças com o Angelino algemado. Os seguranças retiram-se.)Aproxima-te. Vem cá.

angelino RigolettoDaqui oiço muito bem.

Mimi KitschMas tu tens medo de mim?

angelino RigolettoNenhum. E não sinto os teus encantos.

Mimi KitschE garantes que és um anjo…

angelino RigolettoSou para quem acredita.

Mimi KitschQuando chegaste, diziasumas coisas interessantesE demónio parecias.Não um anjo, não, mas antesHomem que me saciasse…Mas tu és inatingível…

angelino Rigolettoé verdade. é impossível…

Mimi KitschOu demónio, ou bruxo, ou anjo,Penso em ti, sonho contigo,E quando em sonhos me enlaças,és tu mesmo quem me apertaE nos teus braços me abraças…Devo então adormecer?

angelino RigolettoNão. Desperta. Visitou-teO Espírito do lucroE desejas afinalO seu corpo…

Mimi Kitsch… E afinalAinda te lembrarásDo que fiz quando chegaste?

angelino RigolettoFoste frívola, grosseira, estúpida, brutal…

Mimi KitschCrês que o sou?

angelino Rigolettoés dessa e de muitas mais!Fizeste esse trinta-e-umPorque eu lá estava…

Mimi KitschTu sabes tudo ó maldito!Achas que finjo ou que não,Dou o dito por não dito?Tu sabes que não finjo nunca!Os meus papéis são a minha verdade…Tudo para ti me impele.Chamo-te querido, meu querido,Sejas tu anjo ou demónioDês-me a revolta ou a leiA ti me quero entregarComo nunca me entreguei…E também sou infeliz,Ninguém sonha quanto o sou!

angelino Rigoletto (com doçura)Mais longe ou mais perto,Cada vida é um deserto...

Mimi Kitsch (violentamente)… idiotia!E tu com essa utopiaEndoideces-me o maridoE a mim tratas como puta…

angelino RigolettoAgora luto eu contigoA luta que com ele vim lutar.

Mimi KitschEntão deixa-me vencerOu vence tu… dá-me ajuda…(vai para o Angelino, enlaça-o, coleia contra o seu corpo.)Ai, como tu há pouco eras tão pouco…um homem que afinal eu desejava,um sonho alvoroçado, um sonho louco.Porém aceito tudo: ai, não te vásE usa o teu poder e a tua sorteQue eu votarei contigo em maioria,Eu tenho aqui a posição mais forte, Tenho uma golden share e a mais-valia,A teus pés a deponho e dou-me a ti…Porque é a ti que eu amo hoje e aqui,E até ao fim, amor, e além da morte…E de mim nada queres? Achas-me feia?(exibe as espáduas nuas e o colo arquejante)

angelino Rigoletto (com serenidade, frieza, brandura, distância.)Sim, quero-te demais, porém a ideiaNão é querer-te como outros já quiseram…(De repente, a Mulher curva-se um quase nada e cospe-lhe aos pés.)

angelino Rigoletto Vou-te contar uma história.Talvez sirva de remédio Para a dor ou para o tédio.é a daquele homem astutoQue enganou pai e irmãoP’ra ter um ganho corrupto,Ele só, sim, ele só.O seu nome era JacobE Deus pensou dele então:Manhoso, lá isso és...Enganas pai e irmão,Vergas-me anjos a teus pés,Podes ser rei da nação...Não sei se Deus disse assim,Mas ter-me-á mandado a mim...

Mimi KitschCala essas frases que me desesperam!(tira uma rosa duma jarra e mete-a no decote)Deixaste de falar? Calas-te então?Nesse caso proponho a demissãoDo meu marido e nessa situaçãoVotam todos por mim, perdes também!

angelino RigolettoDele eu quero a desgraça mais completa,Posso dar uma ajuda ao resultado,Basta-me exasperá-lo…

Mimi KitschPois faz assim se queres… fá-lo, fá-lo…(à secretária pelo telefone)O meu marido, vai chamá-lo.

Mimi KitschMandei chamá-lo. Ele aparece.

angelino RigolettoNão. A mim é que obedece.

cena 6O Banqueiro entra abruptamente. Traz o ar desvairado e doentio a quem foge a uma contínua perseguição. Parece nem ver a Mulher. Dirige-se imediatamente ao Angelino.

Santiago MalpagoChamaste-me, cabrão?

angelino RigolettoNão dei por tal.

Santiago MalpagoEntão as pressas?Ah! RecomeçasEsse contrato, De gato e rato

Posto às avessas…isto só vai a chicote!

angelino RigolettoFazes figura de truão…

Santiago Malpago Como é que te ponho a andar?Ah, cão! (Lança-se a ele com fúria de doido. O Angelino liberta-se e domina-o com toda a facilidade.)

cena 7

Mimi Kitsch (meigamente)Não foi esse cretinoQuem te mandou chamar.Fui eu.

(O Banqueiro parece acordar lentamente duma embriaguez ou dum sonho hipnótico. Olha alternadamente o Angelino e a Mulher. Fixa a Mulher com estranheza.)

Santiago MalpagoQuem é este estafermo?

Mimi Kitsch (com ternura)Maridito, eres enfermo?Pues no te acuerdas de mi?Cha-cha-cha

Santiago Malpago (à Mulher)Tu és a víbora, a serpente…(ao Angelino)E tu decerto és um lacrau!(à Mulher)E tu entregas-te ao palhaço? Queres que ele te meta o dente?

Mimi KitschAh, se tu me insultas, passo…Prefiro falar a sério.

Santiago MalpagoSeria a primeira vez…

Mimi KitschEntão te acolhiasAqui nos meus braçosE neles diziasQue desfalecias.

Santiago MalpagoE mandaste-me chamarPara agora me excitarOu para este se excitar?

Mimi KitschEu era tão novaQuando me tomaste.Se era má não sei,Não me pus à prova.E também não seiSe me transformei.Mas sei que te amei.

Santiago MalpagoPára lá com isso!Onde queres chegar?

Mimi KitschComo me traísteE desiludisteDe ano para ano?Foi por decepção?Foi por desengano?Também te traíPor amor de ti,E ódio e rancorVêm do meu amorE da minha esp’rança

E do desesperoDe tédio e vingança…

Santiago MalpagoMas nesse ódio que me tensEu não percebo ao que vens…

Mimi Kitsch (com ferocidade)és um dejectoAbjecto!Vê-te ao espelho!Como és velho… velho!

angelino RigolettoAbre os olhos e as orelhasE verás, eu te garanto,Que, dê lá por onde der,Ofendeste essa mulher E a deitaste para um cantoComo se ela fosse lixo…E te digo também,Sem ser por capricho, Que se por ela deixaste pai e mãe,Nestes dias fataisPodes deixar tudo o maisE o nosso banco também…

Santiago MalpagoAh! Pois! Pois!Era o que queriam os dois!

Mimi KitschJá ninguém te quer aqui.

Santiago MalpagoComo é que te atreves!

Mimi KitschPede a demissão!

Santiago Malpago (cresce para ela com os punhos no ar)Ah! Víbora! Ah! Cão!

Mimi Kitsch (afrontando-o)Vais bater-me, não?(o Banqueiro baixa finalmente as mãos) Queres negociar?

Santiago Malpago Pagavas bem pouco!Eu não estou senil,Muito menos louco,Tonto ou imbecil!Nunca, víbora, nunca!E esse cabrão,Já o enfeitiçasteComo a mim fizesteE a toda a gente!isto só vai a chicote!Ah! Víbora! Ah! Cão!(A Mulher chama violentamente à campainha. O Banqueiro, subitamente, lança-se para a porta; dois seguranças barram-lhe a passagem. Continua sempre na mesma atitude de animal a que fazem cerco.)

Mimi KitschSegurem-no bem…Quer pôr isto a saque!Venha o 112!Está a ter um ataque…

Acto IIICaixa forte do banco. Grades. O Banqueiro está estirado no chão, sobre o ventre, doente e fraco. O Angelino Rigoletto entra sem o mínimo de rumor, avança como um fantasma, ajoelha ao lado do Banqueiro, contempla-o, inclina-se um pouco e esboça sobre os seus cabelos, sem lhes tocar, um lento gesto quase de carícia.

cena 1

angelino Rigoletto (com um sarcasmo brutal)Então ficaste aqui?

(o Banqueiro estremece violentamente)

Santiago Malpagoés tu?

angelino RigolettoEu, sempre eu…

Santiago MalpagoJá vi… bem vês...

angelino RigolettoEsperavas ou sonhavasQue eu havia de aparecer?

Santiago MalpagoJá sabia que aqui estavasAntes de eu adoecer!

angelino RigolettoMas que dito inteligente!

Santiago MalpagoFui leão em terra firme…

angelino RigolettoNão te fiques nesse engano.Nunca são leões na terraOs homens, sendo marcadosPelo Deus que tudo manda…São uma escória do humano…

Santiago Malpagouma escória… E eu vivi nesse terror.é esse o meu aleijão…

angelino RigolettoQual aleijão? é a glória!Serás famoso entre os teus.é a dedada de fogoMarca do dedo de Deus!

Santiago MalpagoNada te basta no jogo?Minha mulher apeou-me.Meu irmão é seu amante.Ah, e também me traíram,Todos os mais imbecis.Ah, como os homens são vis!

angelino RigolettoJá percebes a vileza,Mas nada disso me basta!

Santiago Malpago (agita-se continuamente)Comigo me desavim.Tenho vergonha de mim,De apalpar as minhas pernas,De lembrar as horas ternas,Tudo o que passei, enfim,Comigo me desavim,De ter corpo e respirar,De ter cabeça e pensar,De ter olhos e de olhar,E de ter vindo ao que vim.De ser imundície assim

Comigo me desavim.Meu irmão tem dó de mim,Dó de mim, o meu irmão,Vou pedir-lhe protecção,Casou com minha mulher,Dá-lhe tudo o que ela querE ambos me escutarão.Vou pedir-lhes uma graçaÀ mulher e ao marido...(rompe súbito numa gargalhada estridente e fria, de louco.)

angelino RigolettoE é assim tão divertido?

Santiago MalpagoFaz um ano que casaram,Hão-de conceder benessesComo a que lhes vou pedir.Tu porém não a imaginas,Nem a sonhas, nem conheces…

angelino RigolettoTalvez sonhe que enlouqueces...

Santiago MalpagoCheirou-te a podridãoE metes o nariz,Porém não sabes tudo...E eu não me iludo.Minha mulher é astutaDiz-me por mensageiroQue vou ter um herdeiroE não ficamos sós.Nem tu eras capazDe tanto imaginar!

angelino RigolettoNisso te enganas tu.Tudo, tudo imaginoDe modo a humilhar.

Santiago MalpagoQuando tudo me afastaE depois me vergasta,isso a ti não te basta?

angelino RigolettoSaíram-te na rifaBons móveis, bom colchão,Quadros e bibelotsE melhor alcatifa,Não conheces a fome,Não conheces o frio,Nem do corpo a fadiga.Tantos te invejariamO conforto e o soalhoE depois te diriamRei fora do baralho…

Santiago MalpagoNada presta o que tenho,Mas a ti não te basta…

angelino RigolettoNão me basta ao engenhoQue inda agora começa…(desata na mesma gargalhada estridente e fria, de louco.)

Santiago MalpagoNo começo? Ora essa?Então anda depressa,Emissário de Deus,Desse bezerro de ouroQue adorar é precisoLá no teu paraíso…Vê que o tempo é pouco…

angelino RigolettoNão te faças de mouco.O que sofres não presta.

Santiago Malpago (com raiva)Não estás satisfeitoE queres ver-me perderA figura de um homem…Mas roubaram-me tudoE antes quero sofrer.

angelino Rigoletto (com desprezo)A quem não te querVais render-te, ó cobarde!Vais render-te, ó insano!Nenhum anjo te guarde.

Santiago Malpago Pois a minha mulherE ao amante, meu mano,Sabes o que pedi?

cena 2Detém-se a ouvir sons ao longe de um grupo de pessoas a cantar. O som aproxima-se lentamente e torna-se cada vez mais forte, num tumulto. O Banqueiro e o Angelino quase têm de gritar para se ouvirem. angelino RigolettoA nova administração vem visitar-te?

Santiago MalpagoPõe-te a andar! Não quero que te vejam.

angelino RigolettoMas eu posso gostar…

Santiago MalpagoNão quero que me escutes a pedir…

angelino RigolettoTalvez goste de ouvir…

Santiago MalpagoMando-te pôr na rua! Fora!

angelino RigolettoPois já te disse que não vou embora.

Santiago MalpagoAh, grande cão! Grande cabrão!(Lança-se sobre ele; o Angelino foge-lhe com o corpo. Em tal jogo não reparam que dois seguranças aparecem à porta. A Mulher e o Accionista surgem também e contemplam a cena.) angelino RigolettoHomem, pare com essa excitação!

(...)

cena 4

Santiago MalpagoPodes também pôr-te a andar.

angelino RigolettoPor mim, prefiro ficar.

Santiago MalpagoPõe-te andar! Já!

angelino RigolettoPois não vouNem te vou abandonar.

Santiago Malpago Cão que aqui me vens ladrar!Resolvi que saias já!

angelino RigolettoResolve como quiseres.Eu, por mim, resolvo eu!Por isso, daqui não saio…

Santiago Malpago (lança-se a ele)Ah! Canalha de vil raça!(O Angelino agarra-o pelos pulsos; domina-o com o olhar e com os músculos.)

Santiago Malpago Socorro!

accionista (com uma certa negligência)é a mim que pedes ajuda?

angelino Rigoletto (larga os pulsos do Banqueiro)Não! é a mim!No passado e no presente,Ora daqui, ora dali,Pede ajuda contra mim,Pede ajuda contra si!

accionistaEu, a seu respeito, ouvi…

angelino RigolettoPois eu por mim sempre ouviFalar de siComo o seu braço direito,Como o seu primeiro homemDê lá por onde der…

accionista (sorri)Que é isso, o primeiro homem?

angelino RigolettoO que sempre que puderCome a primeira mulher…

accionistaChamas primeira mulherA quem?

angelino Rigoletto (faz uma reverência à Mulher)À mais jovem, à mais bela,À que é mais inteligente,

À mais séria e sem mazela,À mais sensual, mais quente!Mimi Kitsch (ao Accionista)Vê como sou insultada.

accionista (com delicadeza irónica)Não, não é nada!Eu nunca o consentiria!Piropo não arrelia,é divertido e arguto!

Mimi KitschPois eu acho que ele é bruto.

accionista Meu amor quanta ironiaEm cada palavra pões,Quanta ironia cortante,Logo aqui, e neste dia…Pois agora escuta bem,Minha mulher, minha amante,Ó jóia do meu harém,Faz tempo que nos juntámosE um herdeiro se anuncia…Ah! O amor! Se o comparamosÀ doirada borboletaQue em raio de sol fugia…(suspira)Tu és poeta também?

angelino RigolettoMais ou menos como todosOs que de seu nada têm.

accionista E filósofo eras?

angelino Rigoletto«Tal qual Pedro SemQue teve navios, que teve galeras,Que teve e não tem.»

accionistaPois olha que dizes bem.Mulheres, eu tive cem,E tenho esta, e a maioriaDo capital deste bancoE um belo cavalo brancoE palácios de fidalgosE automóveis, aviões…

E afinal não tenho nada!és capaz de perceber?

angelino RigolettoPois está-se mesmo a ver…

accionistaConsegui tudo o que quisMas sou pobre e infeliz!

angelino RigolettoQueres que te diga um nome?

accionistaVais falar-me de Deus?Das palavras que dão A ilusãoDe haver coisas para lá do nadaQue sonha a nossa vã filosofia…(à Mulher)Desculpa, meu amor, esta tirada!Não fiques enfadada…

Mimi KitschEu ficar, fico. Mas a que dar valor?Tive um marido que era um predadorE este agora diz-me que é poeta!Mentirá quem disserQue algum homem é só de uma mulher?

angelino Rigoletto (à Mulher)Nenhum mortal possui outro mortal.

accionistaVejo que não tens nada de pateta…Entras ao meu serviço?

Santiago Malpago (interpõe-se violentamente e cobre o corpo do Angelino com o seu)Não! Este homem é a mimQue pertence. E só a mim.Destruiu a minha vida!Pôs-me louco!Paguei-o muito caroE pretendo vingar-me.Vampiro!

angelino Rigolettoés muito giro!Pedes-me que os convençaDe que te pertençoPara me poderes liquidarE dar cabo de mim!

Santiago MalpagoAté que enfim percebes! E eu vou-te liquidarCom faca e alguidar!

accionistaNão te mordo,Mas não estou de acordo…Custar-me-ia dar-toE também negar-to!é do que estou mais farto!Ora a pôr-to,Ora a tirar-to…

Santiago Malpago Só tenho este capricho:Aniquilá-lo!Sois todos uns ladrões…

accionistaContinuas a exceder-te.

Mas não reajo.Até penso oferecer-teEsse gajo…

Mimi Kitsch (ao Angelino)Ainda te podes salvar.

angelino RigolettoQuereis todos a almaNuma gaiola de terra.

Mimi Kitsché a tua última palavra?

angelino RigolettoTodos os salvadoresTêm de morrer.Mas ressuscitam ao terceiro dia.

Santiago Malpago Sou o dono deste banco,Homem desta profissão,

Grande senhor da Finança,Ponham fora esse cabrão!

angelino RigolettoDe certeza que me arranjoPara vir contar-te a lutaEntre Jacob e o Anjo.

(O Accionista tenta sossegá-lo, mas o Banqueiro não dá qualquer sinal. Os dois seguranças perfilam-se um de cada lado do Angelino. Saem todos.)

cena 5

Santiago MalpagoAh, vida que eu tenho agora!Perco o mundo e desperdiçoAlma, razão e vontade!

Mata-me, ó Deus! Como há-deVir um tempo que eu suporte?Antes a morte! Antes a morte!

(A um canto, o Angelino Rigoletto é assassinado; o Banqueiro assiste à cena.)

cena 6Luz de uma difusa e baça madrugada, com luar ainda misturado ao primeiro alvor do dia. O Banqueiro tem o rosto encostado e as mãos agarradas às grades da caixa-forte; de pé, imóvel, o Médico. De repente, o Banqueiro larga as grades e cai de joelhos com a cara nas mãos. Surge, devagar e sem rumor, a figura do Angelino Rigoletto; vem com o traje rasgado e coberto de sangue. Santiago Malpago (sem retirar as mãos da cara)Estás aí, Tartufo?

angelino RigolettoNão me chames Tartufo, rei dos cegos!

Santiago MalpagoNão voltes a chamar-me rei dos cegos.

angelino Rigoletto Mas é o que tu és e vim buscar-te.

Santiago Malpago (tira as mãos da cara, mas fala com a testa baixa, sem ousar olhar o interlocutor.)Pois. Esse também vive. Eu bem sabiaQue não ia morrer…

angelino RigolettoE não o visteMorrer há uns instantes?

Santiago MalpagoAh, fingiu…Enganou toda a gente, mas a mim não me engana…

angelino RigolettoPois morreu,Está morto e bem morto, rei dos cegos.

Santiago MalpagoPerdão!(estende-lhe a mão direita e vai a tocar-lhe)

angelino RigolettoEh! Não me toques.

Santiago Malpago (sem ousar fazer o mínimo gesto)Perdão!

angelino RigolettoGaranto que morreuE era como tuCom paixões e fraquezasE vai baixar à terra.Vês que trago o seu luto.Não éreis unha e carne?

Santiago MalpagoSocorro! (abraça-se ao Médico)

MédicoTenha calma, ó doutor!

Santiago Malpago (larga-o)é ele, é ele, não vê?

MédicoEle quem, meu caro amigo?

Santiago MalpagoO que está aqui comigo…E que nem morto me deixa!

MédicoQuer dizer, esse idiota?

Santiago Malpago (com um gesto como para lhe apagar as palavras)Não lhe chames idiota…

MédicoTem o castigo merecido.E você vai melhorar…

Santiago MalpagoVou viver?

angelino Rigoletto (brandamente)Ó rei dos cegos!...

Santiago Malpago Perdão!

angelino RigolettoJá ninguém me pode ver,Já ninguém me pode ouvir…

Santiago MalpagoA todos peço perdão,Porque a todos ofendi.Não posso ir tão carregado,Não aguento esta cargaPresa assim à minha ilharga.

angelino RigolettoAbre os olhos. Vai nascerO raio de sol primeiro.

Santiago Malpago (arquejante de terror)Ainda não! Venham! Socorro!Quem me acode! Agora morro

E ainda quero viver,Recomeçar a viver!(ao Médico)Chamem a minha mulher,Meu irmão, as secretárias,Chamem todos de caminhoMas não me deixem sozinho!Terei de usar o chicote...Já!

Médico (com indiferença e brandura)Mas eles não viriam agora!

Santiago Malpago (ao Angelino)Não há buraco no mundoOnde me livre de ti…

angelino RigolettoNão.

Santiago MalpagoMas eu peço-te perdão!E assim deixo de lutar…

angelino Rigoletto (docemente)E posso eu acreditar?E então por minha vezPosso pedir-te perdão?

Santiago Malpago Tu? Não, não…Perdoa se te obrigueiA vir com máscara humanaEm minha perseguiçãoE as vezes que vagueeiNos braços da maldição.A noite que me rodeiaNão me deixa saber nada,Nem ver nada e todavia,Entre os uivos da alcateia,Sempre te vi, sempre estavas A meu lado o tempo todo.

Se fiz mal, contrarieiO que me vinhas dizer,E então tu recomeçavas.E foi nesse desatinoQue só depois percebiQuanta luz vinha de tiA esta pobre humanidadeQue agora em mim recomeçaEntre mentira e verdade.Leva, leva-me depressa,Leva-me a alma a bom porto.

(Está transfigurado. Tem um pequeno tremor contínuo na cabeça. O primeiro raio de sol entra pela janela. O Angelino apanha-lhe as mãos e conserva-as nas suas. Subitamente o Banqueiro sofre uma convulsão e a sua cabeça cai-lhe para o peito. Todo o seu corpo se abate contra o chão, sobre os joelhos dobrados e os calcanhares, mas tem ainda os braços estendidos e os pulsos nas mãos do Angelino.)

EPílogoApós alguns segundos o Angelino Rigoletto larga as mãos do Banqueiro, que caem inertes; começa recuando e sai sem voltar as costas. O sol entra agora por toda a largura da janela e inunda de luz o cadáver do Banqueiro.

coro de anjos (lentamente rodeiam o cadáver e erguem-no em êxtase)Dolcissima Morte, vienni a me,E non m’essere villana,Peró che tu dei essere gentile,In tal parte se’ stata!Oi anima belíssima, Come è beato colui che ti vede! 2

FiM

2 Mui doce Morte, vem a mim, / E não me vejas mesquinha, / Pois deves de ser gentil/Tendo estado em tal parte! / Oh, alma formosíssima, / Bem-aventurado quem te vê! (excertos de Vita Nuova de Dante)

Biografias

Ensemble DarcosO Ensemble Darcos foi criado em 2002, pelo compositor e maestro Nuno Côrte-Real. O repertório do Ensemble tem como propósito a interpretação dos grandes compositores europeus de música de câmara, como Beethoven, Brahms ou Debussy, e a música de Côrte-Real; esta relação confere-lhe contornos de projeto de autor. Em termos instrumentais, o Ensemble Darcos varia a sua formação consoante o programa que apresenta, de duos a quintetos, até à típica formação novecentista de quinze músicos, tendo como base os aclamados músicos Filipe Quaresma, Reyes Gallardo, Helder Marques e Gaël Rassaert. Para o efeito convida regularmente músicos de excelência oriundos de várias regiões do globo, destacando-se, entre outros, o violoncelista Mats Lidström (solista e professor na Royal Academy of London), os violinistas Massimo Spadano (concertino da Orquestra Sinfónica da Galiza), Giulio Plotino (concertino da orquestra do Teatro La Fenice, em Veneza), Giulio Rovighi

(primeiro violino do quarteto de cordas italiano Prometeo), a violetista Ana Bela Chaves, ou o percussionista Miquel Bernat. interpreta regularmente programas líricos, onde tem convidado alguns dos maiores cantores portugueses da atualidade, tais como Eduarda Melo, Luís Rodrigues, Dora Rodrigues, Lara Martins, Job Tomé ou Sara Braga Simões. Desde 2006 o Ensemble Darcos efetua uma residência artística no concelho de Torres Vedras, tendo iniciado em 2008 a TEMPORADA DARCOS, série de concertos de música de câmara e sinfónicos. Da sua atividade concertística, destacam-se os concertos na sala Magnus em Berlim, em outubro de 2007, na interpretação do Triplo concerto para violino, violoncelo, piano e orquestra de Beethoven, na igreja de St. John’s, Smith Square, em Londres, com direção musical de Nuno Côrte-Real, e tem participado regularmente nas edições dos Dias da Música, em Belém. No verão de 2014, apresentou-se no Festival internacional de Música de Póvoa de Varzim.Em janeiro de 2010, gravou para a Rádio Televisão Portuguesa uma série de canções de Cole Porter com os cantores Sónia Alcobaça e Rui Baeta, programa apresentado em Lyon, França, em parceria com a Camerata du Rhône. O CD VOLUPIA, primeiro trabalho discográfico do grupo e inteiramente dedicado à obra de câmara de Nuno Côrte-Real, foi lançado em outubro de 2012, pela editora Numérica.

Nuno Côrte-Real compositor e maestro

Nuno Côrte-Real tem vindo a afirmar-se como um dos mais importantes compositores portugueses da atualidade. Das suas estreias destacam-se 7 Dances to the death of the harpist na Kleine zaal do Concertgebouw em Amesterdão, Pequenas músicas de mar na Purcel Room em Londres, Concerto Vedras na St. Peter’s Episcopal Church em Nova iorque, Novíssimo Cancioneiro no Siglufirdi Festival em Reiquiavique, e Andarilhos - música de bailado na Casa da Música no Porto. Dos agrupamentos que têm tocado a sua música destacam-se o Remix Ensemble, Royal Scottish Academy Brass, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orchestrutopica, e solistas e maestros como Lawrence Renes, Julia Jones, Stefan Asbury, ilan Volkov, Kaasper de Roo, Cristoph Konig, David Alan Miller, Paul Crossley, John Wallace, Mats Lidström, Rui Pinheiro e Cesário Costa.

A sua discografia inclui canções tradicionais portuguesas nas editoras Portugal Som e Numérica, Pequenas Músicas de Mar na editora Deux-Elles, o bailado Andarilhos na editora Numérica em co produção com a Casa da Música, e Largo Intimíssimo na austríaca Classic Concert Records. Em outubro de 2012 teve o seu primeiro CD monográfico, VOLUPIA, editado pela Numérica. No mundo da ópera e do teatro, Nuno Côrte-Real trabalhou com, entre outros, Michael Hampe, Maria Emília Correia, Paulo Matos e Margarida Bettencourt. Em junho e setembro de 2007 apresentou com grande êxito as óperas de câmara A Montanha e O Rapaz de Bronze, encomendas da Fundação Calouste Gulbenkian e da Casa da Música, respetivamente. Em março de 2011, apresentou no Teatro Nacional de São Carlos a ópera Banksters, com libreto de Vasco Graça Moura e encenação de João Botelho, espetáculo que obteve um êxito inaudito na história recente da música contemporânea portuguesa.Como maestro, Nuno Côrte-Real tem dirigido orquestras como a Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra do Norte, Orquestra do Algarve, Orquestra Filarmonia das Beiras, Orchestrutopica, Orquestra Sinfónica i Maestri (Londres), Ensemble Darcos, e Camerata du Rhône (Lyon). é fundador e diretor artístico do Ensemble Darcos, grupo de música de câmara que se dedica à interpretação da sua música e do grande repertório europeu, e assina artisticamente a Temporada Darcos,

série de concertos sinfónicos e de câmara, realizados no concelho de Torres Vedras. Tem participado em vários festivais de música, onde se destacam o Festival de Sintra e de Póvoa de Varzim, e dirigido solistas tais como Artur Pizarro, Alexey Sychev, Filipe Pinto Ribeiro, Giulio Plotino, Luís Rodrigues, Mário João Alves, Filipe Quaresma ou Pedro Saglimbeni. Compromissos futuros incluem concertos com a Orquestra Real Filharmonia de Galicia, e a Orquestra Sinfónica de Castilla y León.

Coro Ricercareé constituído por cerca de 30 jovens, muitos dos quais estudantes de música, tendo sido dirigido desde a sua fundação por Paulo Lourenço e Carlos Caires. A partir de 1998 Pedro Teixeira assume as funções de maestro adjunto, tornando-se maestro titular em 2002. Na sequência da sua política de incentivo à divulgação de repertório português através da encomenda de obras inéditas, o Coro

Ricercare tem vindo a apresentar em concerto e de uma forma sistemática música de compositores portugueses dos séculos xx e xxi, obras que são, na sua grande maioria, interpretadas em primeira audição absoluta. Neste contexto, e desde 2006, tem organizado anualmente o certame “Jovens Compositores Portugueses”, tendo interpretado, em primeira audição absoluta, obras para coro a cappella e para coro e orquestra, em conjunto com a orquestra Sinfonietta de Lisboa (Vasco Pearce de Azevedo). Até hoje, no contexto do certame, apresentou composições inéditas de Ana Seara, André Miranda, Anne Victorino d’Almeida, Antero Ávila, Carlos Garcia, Fernando das Neves Lobo, Francisco Gonçalves Tavares, Gonçalo Lourenço, João Manuel de Barros, João Nascimento, José Luís Ferreira, Lea Brooklyn, Manuel Durão, Miguel Teixeira, Pedro Faria Gomes, Sara Claro, Sofia Sousa Rocha, Tiago Derriça e Vasco Pearce de Azevedo, num total de 28 obras.O Coro Ricercare tem também uma larga experiência na realização de música a cappella de outros autores como Arvo Pärt, György Órban, Peter Aston, Morten Lauridsen, Pawel Lukaszewski, Gabriel Jackson, John Tavener e Eric Whitacre, entre outros.De 2006 até hoje, o Coro Ricercare tem interpretado, além de reportório a cappella, diversas obras para coro e orquestra: Requiem de Mozart, Messa di Gloria (Puccini), Requiem em Ré menor (Fauré), In Paradisum (Eurico

Carrapatoso), Missa Nelson (J. Haydn) e Requiem à memória de Passos Manuel (Eurico Carrapatoso), em conjunto com a orquestra da Associação Musical Ricercare – Sinfonietta de Lisboa, sob a direção de Vasco Pearce de Azevedo – e também com a Orquestra do Algarve, sob a direção de Osvaldo Ferreira.O Coro Ricercare tem-se apresentado em alguns dos mais importantes festivais de música portugueses, como Festival de Música da Costa do Estoril, Festival de Música de São Roque, Festival “A Cidade e a Música”. Em março de 1997, a convite do CCB, o Coro Ricercare participou em dois concertos realizados no Grande Auditório do CCB e na igreja da Lapa (Porto) em conjunto com o Hilliard Ensemble, no qual foi interpretada a Paixão Segundo S. João de Arvo Pärt (primeira audição em Lisboa).Das primeiras audições absolutas que realizou no passado, são de destacar as estreias de In Paradisum (coro, orquestra de cordas e quarteto vocal masculino – 1994) e Timor et non Tremor (coro a cappella – 1995) de Eurico Carrapatoso, e também de Novíssimo Cancioneiro, de Nuno Côrte-Real (coro e orquestra de cordas – 2001).No que se refere à discografia, o Coro Ricercare tem tido uma atividade regular e sistemática de gravação e lançamento de vários CD, maioritariamente dedicados à música vocal contemporânea portuguesa: em 1996 participou na gravação do 2.º CD de Rodrigo Leão e o Vox Ensemble; em 1998 grava em CD para

a etiqueta RCA/DHM, em conjunto com o Ensemble Luso-Alemão Arte Real, a primeira audição contemporânea do Te Deum (1769) de João de Sousa Carvalho; em 2001, a convite do Ministério da Cultura, o Coro Ricercare editou o seu segundo CD para a etiqueta Portugal Som/Strauss, com repertório de jovens compositores portugueses; em 2005 lançou, com o apoio do Ministério da Cultura – instituto das Artes – e da Direção Regional de Cultura dos Açores, um CD de música tradicional açoriana por jovens compositores portugueses; finalmente, em 2006 grava a convite da Antena2 um CD dedicado a Fernando Lopes-Graça, com obras para coro a cappella e também para coro e piano (Canções Heroicas), no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do compositor.O Coro Ricercare foi, em novembro de 1998, galardoado com o 2.º Prémio no Concurso ii Certamen internacional de Corales Polifónicas Ciudad de Sevilla e, em dezembro de 1999, obteve o 1.º Prémio no Concurso Certamen internacional de Villancicos, em Madrid.

Pedro Teixeira maestro do coro

Nasceu em Lisboa. Completou a licenciatura em Direção Coral pela Escola Superior de Música de Lisboa, obtendo na mesma instituição o grau de Mestre em Direção Coral em 2012. iniciou os seus estudos musicais na Academia de Amadores de Música em 1981, interessando-se mais tarde pela prática e direção de música coral enquanto elemento do Coro da universidade de Lisboa, onde se iniciou na direção como assistente do maestro José Robert. Foi precisamente com José Robert que iniciou a sua formação enquanto diretor de coro, tendo mais tarde trabalhado com Vasco Pearce de Azevedo, António Lourenço e Paulo Lourenço. Foi professor na Escola Superior de Educação de Lisboa, lecionando Educação Vocal e Direção Coral, no curso Música na Comunidade.Pedro Teixeira dirige atualmente dois grupos em Portugal: Coro Ricercare (desde 2001) e Officium Ensemble, agrupamento profissional fundado por si no ano 2000, e que se dedica à interpretação de música renascentista vocal dos

Séc. xVi/xVii. Dirigiu também o Coro Polifónico Eborae Musica de 1997 a 2013 e o Grupo Coral de Queluz de 2000 a 2012. Foi com o Officium que recebeu em 2002 o prémio The most promising conductor of Tonen 2002 na Holanda, concurso que atribuiu o 3.º prémio a Officium nas categorias de música sacra e música secular.Enquanto cantor, e tendo estudado canto na Escola de Música do Conservatório Nacional, é elemento do Coro Gregoriano de Lisboa, no qual é solista. Foi cantor no Coro Gulbenkian, entre 2005 e 2012.Pedro Teixeira tem sido reconhecido como um dos mais proeminentes maestros de coro do país, não só pela sua intensa atividade enquanto diretor de coro, como também pela sua sólida e característica interpretação da música vocal. Esse reconhecimento tem-no levado a trabalhar a um nível internacional nos últimos anos – em Barcelona, dirige juntamente com Peter Phillips, ivan Moody e Jordi Abelló o workshop Victoria400 e é responsável pelas oficinas de Ensemble Vocal e Direção Coral no Curso international de Música Medieval e Renascentista de Morella. Colabora com a Fundação Gulbenkian enquanto maestro preparador convidado do Coro Gulbenkian, tendo preparado o coro para diversos concertos desde 2011. é diretor artístico das Jornadas internacionais Escola de Música da Sé de évora, organização de Eboræ Musica – Associação Musical de

évora, que conta já com quinze edições. Pedro Teixeira é neste momento maestro titular do Coro de la Comunidad de Madrid, função que desempenha com notório reconhecimento desde novembro de 2012.

Luís Rodrigues barítono

Estudou no Conservatório Nacional com José Carlos xavier e na Escola Superior de Música de Lisboa com Helena Pina Manique. Cantou os papéis de Harlekin (Ariadne auf Naxos), Ping (Turandot), Figaro (O Barbeiro de Sevilha) e Guglielmo (Così fan tutte) no Teatro Nacional de São Carlos; Papageno (Flauta Mágica) e Sumo-Sacerdote (Sansão e Dalila – versão de concerto) na Fundação Calouste Gulbenkian; Mr. Gedge (Albert Herring) e Eduard (Neues vom Tage) no Teatro Aberto; Semicúpio (Guerras do Alecrim e Manjerona) no Acarte, Teatro da Trindade e Teatro Nacional D. Maria

ii (Prémio Bordalo de imprensa 2000 para Música Erudita); Marcello (La Bohème) com o CPO e a ONP no Coliseu do Porto, e com o São Carlos no CAE da Figueira da Foz; Tom (The English Cat) com a Cornucópia e a ONP no Rivoli e São Carlos; Guarda-Florestal (A Raposinha Matreira) com a Casa da Música no Rivoli; Yoshio (Hanjo) com o São Carlos na Culturgest; Giorgio Germont (La Traviata), o papel titular de Don Giovanni e iago (Otello) com a Orquestra do Norte; e Belcore (L’elisir d’amore), Figaro (O Barbeiro de Sevilha) e Escamillo (Carmen) com a EVi e a ON. Mais recentemente foi Arsénio em La Spinalba e Marcaniello em Lo frate ‘Nnamorato no CCB, com Os Músicos do Tejo. Participou na estreia das óperas Outro Fim, de António Pinho Vargas, e Jerusalém, de Vasco Mendonça, na Culturgest. intérprete de reconhecida versatilidade, Luís Rodrigues apresenta-se também regularmente em concerto e oratória ou em recitais de música de câmara.

Dora Rodrigues soprano

Diplomou-se no Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga, completou a licenciatura na ESART com Oliveira Lopes. Prosseguiu os seus estudos com ileana Cotrubas, Enza Ferrari e Elisabete Matos. Posteriormente, integrou o European Opera Center e, recentemente, o European network of Opera Academies em Varsóvia. Estreou-se com o CPO no Coliseu do Porto. No Teatro S. Carlos destacam-se as participações em Il Matrimonio Segreto, Echo em Ariadne auf Naxos, ópera que cantou também em Modena e Ferrara, a protagonista de Four Saints in Three Acts de Virgil Thomson sob a direção cénica de Bob Wilson, a participação na Tetralogia Anel de Nibelungo de Wagner, produção criada por Graham Vick, Magda (La Rondine), assim como em vários concertos integrados no âmbito das Temporadas Sinfónicas. Da sua atividade destaca-se a participação no Festival Les Jeunes Ambassadeur – Montreal e a sua estreia na ópera D. Chisciotte de M. Garcia

no Teatro de la Maestranza, produção lançada em CD por Almaviva. Em 2010 gravou com a Royal Liverpool Philharmonic Il Segreto di Susanna Wolf-Ferrari com Vasily Petrenko para a Avie Records. Apresentou-se com a Orquestra da união Europeia em Londres com Laurent Pillot, gravado pela etiqueta The Classical Recording Company. Foi selecionada para participar no conceituado BBC-Cardiff Singer of the World, onde se apresentou com a Welsh National Orchestra em St. David’s Hall sob a direção de Paul Daniel. integra o L’Effetto Ensemble, projeto de câmara com o guitarrista Rui Gama, onde se destaca a gravação para a Antena 2 no Centro Cultural de Belém. Trabalha regularmente com o Maestro João Paulo Santos.Cantou ao lado de José Carreras em 2003 num tributo em sua homenagem na cidade de Coimbra, sob a direção do maestro Ferreira Lobo e em 2012 com a Orquestra Fundação Estúdio de Guimarães dirigida por David Gimenez.Foi-lhe atribuído o Prémio “Ribeiro da Fonte” - 2002 pelo Ministério da Cultura.

Mário João Alves tenor

Realizou os seus estudos canto com Fernanda Correia, Elio Battaglia e Gabriella Ravvazzi. Presença regular no Teatro Nacional de São Carlos, cantou Nemorino, Ferrando, Conte di Almaviva, Tamino, Rinuccio, Pedrillo, Candide, Ruggero (La Rondine), Fadinard (Il Cappello di Paglia di Firenze) Alfred (Fledermaus), Joe (Blue Monday), e ainda Le Clerc (Jeanne d‘Arc au Boucher), Mr. Keen, Lucien e Peter (The English Cat), ivan, (Le Nez), St. Stephen (Four Saints in Three Acts), entre outros. Colabora regularmente com a Fundação Calouste Gulbenkian, Orquestra do Norte, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Músicos do Tejo, generalidade das instituições e das salas portugueses. Com o Coro da Sé interpretou mais de uma dezena de obras.Paralelamente, tem-se apresentado nas temporadas de ópera e de concerto, em teatros como o La Fenice de Veneza, La Monnaie de Bruxelas, Regio de Turim, BAM de Nova iorque, Comunale di Bologna, Maestranza

de Sevilla, Cairo Opera House, Muscat Royal Opera House, Tóquio, Macau, Lausanne, Paris, Palermo, entre outros.No seu repertório figuram papéis como Rodolfo (La Boheme), Pinkerton (Madama Butterfly), Ernesto (Don Pasquale), Albert (Albert Herring), Alfredo (La Traviata), irmão (Outro Fim), D. Gilvaz (Guerras do Alecrim e da Manjerona), Proteu (As variedades de Proteu) ou Leandro (La Spinalba). Gravou para a BMG, Sony Music, RCA Victor e Naxos.Autor, publicou A Valsa dos sem-isqueiro (2006), Amilcar, consertador de búzios Calados (2011 - Prémio Matilde Rosa Araújo), Afonso Cabrita, meu tio, ensaísta, toureiro e melancólico (2011 -Prémio Bocage de Conto), José, será Mago? (2012) e Histórias da Música em Portugal (2013).Desenvolve trabalho com as companhias Ópera isto, All’Opera e desde 2012 dirige o Estúdio de Ópera do CMC.

Job Tomébarítono

Nasceu em 1978 em Matosinhos. iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música do Porto. Licenciado em Canto pela Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto (ESMAE). integrou o grupo dos cantores residentes do Estúdio de Ópera da Casa da Música; na componente formativa do Estúdio, trabalhou com conceituados nomes do canto, da encenação e direção. Apresenta-se em ópera, oratória e em recitais com várias orquestras em Portugal e França. Em 2007 foi premiado pela Fundação Rotária Portuguesa, com o 1.º prémio, melhor Lied e melhor canção portuguesa e no mesmo ano pela (ESMAE) obteve o prémio Helena Sá e Costa. Foi ainda premiado em 2011 com o 2.º prémio, e melhor interpretação de canção portuguesa no concurso Luísa Todi. Em 2008/09 integrou o Centre National d’Artistes Lyriques de Marselha (CNiPAL), e em 2010 a Academia do Festival de Ópera de Aix-en-Provence no qual tem sido presença

regular em ópera. Brevemente, com Com os Músicos do Tejo sob a direção de Marcos Magalhães, apresentou-se em Lisboa no papel de Eneias da ópera Dido e Eneias de H. Purcell e, seguidamente, em Aix-en-Provence, no papel de Antiloco da ópera Elena de L. Cavalli, sob a direção de Leonardo García Alarcon.

Maria Luisa de Freitas mezzo-soprano Nasceu em Luanda, e iniciou os seus estudos de canto no Conservatório de Lisboa com Jose Carlos xavier. Atualmente trabalha repertório com o maestro assistente João Paulo Santos do Teatro Nacional de S. Carlos de Lisboa.Conquistou os prémios: Bocage, no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi; La Voce, Concurso Spiris Argiris, em itália; 1.º prémio Concurso internacional de Canto Bidu Sayão no Brasil; 2.º prémio no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi. Do seu repertório destacam-se os papéis de Carmen (Carmen), Maddalena (Rigoletto), Alte None (Sancta Susanna), Marthe (Faust), zefka (Diário de um desaparecido), Marcellina (Le Nozze di Figaro), Miss Baggott (Let’s Make an Opera), Segunda Norna (Götterdämmerung), Filipievna (Evgueni Oneguin), Olga (Evgueni Oneguin), Lola (Cavalleria Rusticana), zita (Gianni Schicchi), Baronessa (Cappello di Paglia di Firenze), Nona Sinfonia (Beethoven),

Missa em si Menor (Bach), L’enfance du Christ (Berlioz), In Terra Pax (Frank Martin), Folk Songs (Berio).Trabalhou com os maestros Marc Tardue, Marko Letonja, Johannes Stert, Julia Jones, Michail Jurowski, Massimiliano Damerini, Osvaldo Ferreira, José Cur, César Viana, François xavier Roth.

Pedro Louzeirotenor

Concluiu em 2013 o Mestrado em Composição pela universidade de évora sob a orientação de Christopher Bochmann. é licenciado em Formação Musical pela Escola Superior de Música de Lisboa. Atualmente, frequenta o programa de Doutoramento em Composição da universidade de évora e, simultaneamente, o curso de Licenciatura em Guitarra Jazz da Escola Superior de Música de Lisboa. Enquanto compositor, foi distinguido com diversos prémios, como um 2.º Prémio no ii Concurso internacional de Composição para Guitarra Goffredo Petrassi, em Roma. Enquanto cantor, participou como solista na ópera Gilda das Amendoeiras (2014), do compositor Nuno Rodrigues, e tem integrado diversas formações corais como o Coro Ricercare, o Ensemble de Vozes e Cordas da Academia de Música de Lagos, o Officium Ensemble e o Coro Gulbenkian.

Gustavo Lopes baixo

iniciou os seus estudos no Conservatório de Música D. Dinis. Concluiu em 2013 a licenciatura em Direção Coral e Formação Musical na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo ingressado no mesmo ano no Mestrado em Formação Musical na mesma instituição. Atuou já no CCB, Mosteiro dos Jerónimos, Gulbenkian e ainda na Turquia, no international Ankara Festival. Fundou, com alguns colegas da licenciatura, o Ensemble Vocal Desafinados. Desde setembro de 2014, é membro do Coro Ricercare. Trabalhou com maestros como Paulo Vassalo Lourenço, Pedro Teixeira, isin Metin, Vasco Pearce de Azevedo, Eugene Rogers e Werner Pfaff. Leciona Formação Musical no Conservatório de Música da Metropolitana e na Escola Profissional da Metropolitana.

Luís Carlos de Castro Ferreira desenho de luz

Nasceu em Lisboa no ano de 1986, os seus testes psicotécnicos revelavam desde cedo o ramo a que acabou por se dedicar, as artes.iniciou estudos na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha tendo concluído a licenciatura em Som e imagem (vertente imagem) em 2011. Nesse mesmo ano foi para Lisboa estagiar na empresa Plural Entertainment – EMAV (meios técnicos TVi), na qual teve oportunidade de conhecer e integrar diferentes equipas dentro das mais variadas produções. O seu valor foi reconhecido sendo convidado a ficar na empresa. Em março de 2012, a convite do Teatro-Cine de Torres Vedras, aceitou o desafio proposto assumindo o papel de técnico de luz. Ao longo deste tempo tem conseguido estimular a sua criatividade e sensibilidade na criação de desenhos de luz. Enquanto técnico de luz do Teatro-Cine tem trabalhado e acolhido nomes e companhias como Laurie Anderson,

Adriana Calcanhoto, Jorge Palma, Pedro Abrunhosa na música, Lago dos Cisnes no bailado clássico, Romulos Neagu na dança ou João Garcia Miguel no teatro, bem como em diversos festivais.Hoje em dia, mantem a sua posição como técnico de luz no Teatro-Cine. Começa a dar bons indícios, recebendo vários convites e assinando já diversos desenhos de luz nas mais variadas áreas das artes, dos quais se destaca Yerma de João Garcia Miguel, Cellar, Minds Mausoleum de Ricardo Ambrozio, entre outros.

A seguir

PARCEiRO MEDiA APOiO À PROGRAMAçãO

24.25.26 Abril 2015

vários espaços e horários / para toda a família

dias da Música em belémLuzes, câmara... música!80 concertos | 7 salas | Coreto | Espaço Música LivreAqui Há Conversas | Concertos e Oficinas para os mais novosVenda de livros e CD | Cinema | Mercado do CCB (Edição Especial)

TODA A PROGRAMAçãO

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213 612 627 (das 11h às 20h)

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FERNANDO LuÍS SAMPAiOASSiSTENTE DE PROGRAMAçãO

RiTA BAGORROPRODuçãO

iNÊS CORREiAPATRÍCiA SiLVAHuGO CORTEzVERA ROSAJOãO LEMOSPEDRO PiRESDiRETOR DE CENA COORDENADOR

JONAS OMBERGDiRETORES DE CENA

PEDRO RODRiGuESPATRÍCiA COSTAJOSé VALéRiODiREçãO DE CENA

TÂNiA AFONSOANGiE GiL ESTAGiÁRiA

SECRETARiADO

YOLANDA SEARACHEFE TéCNiCO DE PALCO

Rui MARCELiNOCHEFE TéCNiCO DE GESTãO

E MANuTENçãO

SiAMANTO iSMAiLYCHEFE DE EQuiPA DE PALCO

PEDRO CAMPOSTéCNiCOS PRiNCiPAiS

LuÍS SANTOS

RAuL SEGuROTéCNiCOS ExECuTiVOS

F. CÂNDiDO SANTOSCéSAR NuNESJOSé CARLOS ALVESHuGO CAMPOSMÁRiO SiLVARiCARDO MELORui CROCAHuGO COCHATDANiEL ROSA ESTAGiÁRiO

CHEFE TéCNiCO DE AuDiOViSuAiS

NuNO GRÁCiOCHEFE DE EQuiPA DE AuDiOViSuAiS

NuNO BizARROTéCNiCOS DE AuDiOViSuAiS

Rui LEiTãOEDuARDO NASCiMENTOPAuLO CACHEiRONuNO RAMOSMiGuEL NuNESTéCNiCOS DE AuDiOViSuAiS

EVENTOS

CARLOS MESTRiNHORui MARTiNSTéCNiCOS DE MANuTENçãO

JOãO SANTANALuÍS TEixEiRAVÍTOR HORTASECRETARiADO DE DiREçãO TéCNiCA

SOFiA MATOS

27 jul > 1 ago 2015

Verão clássicoAcademia internacional de Música de LisboaA Academia internacional de Música de Lisboa “VERãO CLÁSSiCO” é um novo projeto pedagógico e artístico de excelência que engloba masterclasses de instrumento e de Música de Câmara, orientadas por professores das mais importantes instituições de ensino mundiais, prémios para os melhores participantes e concertos no Festival de Música de Câmara com os músicos mais conceituados do panorama nacional e internacional.

DiREçãO ARTÍSTiCA E PEDAGÓGiCA Filipe pinto-Ribeiro

PROFESSORES/MúSiCOS CONViDADOS:

Filipe pinto - Ribeiro PORTuGAL PianoSolista e Diretor Artístico do DSCH – Schostakovich Ensemble

pavel nersessian RúSSiA PianoProfessor do Conservatório de Moscovo e da universidade de Boston

benjamin Schmid ÁuSTRiA ViolinoProfessor da universidade Mozarteum de Salzburgo e da Escola Superior de Berna

Gérard caussé FRANçA ViolaProfessor do Conservatório de Paris e da Escola Superior Rainha Sofia de Madrid

Gary Hoffman E.u.A ViolonceloProfessor da Capela Musical Rainha Elisabete da Bélgica

abel pereira PORTuGAL Trompa1.º Trompa Solo da Orquestra de Washington

pascal Moraguès FRANçA ClarineteProfessor do Conservatório de Paris e 1.º Clarinete Solo da Orquestra de Paris

FiCHA DE iNSCRiçãO, REGuLAMENTO E BiOGRAFiAS DOS PROFESSORES EM www.ccb.pt