linguagens e códigos

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Anotações 1 E2-PT ed i to r Produção Textual Tópico 01 O TEXTO POÉTICO A palavra “poesia” vem do Grego, poiesis: criar, no sentido de imaginar. Os latinos chamavam a poesia de oratio vincta: linguagem travada, ligada por regras de versificação, em oposição a oratio prorsa: linguagem direta e livre. Prorsa torna-se prosa. A criação literária “Literalmente, poema é a concretização, em versos, de ex- pressão poética, ou seja, a apresentação individual, subjetiva, abstrata. A leitura da poesia exige o exercício da capacidade interpretativa, uma vez que as imagens devem ser decodificadas pelo leitor, para que ele entenda o que representam. Por isso, ler poesia significa estar disposto a realizar um exercício contínuo de reflexão sobre imagens e metáforas.’’ Massaud Moisés O Eu Lírico Convencionou-se chamar de eu lírico a “voz” que fala no poema. Ele é uma entidade literária criada para desvincular o autor do texto poético do “eu” que nele se manifesta. Texto 01 Texto para as questões de 01 a 13 Uma decisão singular de um juiz da Vara de Execuções Criminais de Tupã, pequena cidade a 534 km da cidade de São Paulo, impondo critérios bastante rígidos para que os estabelecimentos penais da região possam receber novos presos, confirma a dramática dimensão da crise do sistema prisional. A sentença determina, entre outras medidas, que as penitenciárias somente acolham presos que residam em um raio de 200 km. Segundo o juiz, as medidas que tomou são previstas pela Lei de Execução Penal e objetivam acabar com a violação dos direitos humanos da população carcerária e “abrir o debate a respeito da regionalização dos presídios”. Ele alega que muitos presos das penitenciárias da região são de famílias pobres da Grande São Paulo, que não dispõem de condições financeiras para visitá-los semanalmente, o que prejudica o trabalho de reeducação e de ressocialização Sua sentença foi muito elogiada. Contudo, o governo estadual anunciou que irá recorrer ao Tribunal de Justiça, sob a alegação de que, se os estabelecimentos penais não puderem receber mais presos, os juízes das varas de execuções não poderão julgar réus acusados de crimes violentos, como homicídio, latrocínio, sequestro ou estupro Além disso, as autoridades carcerárias alegam que a decisão impede a distribuição de integrantes de uma quadrilha por 1 4 7 10 13 16 19 22 Questões Propostas 25 28 diversos estabelecimentos penais, seja para evitar que continuem comandando seus “negócios”, seja para coibir a formação de facções criminosas. Com um deficit de mais de 40 mil vagas e várias unidades comportando o triplo de sua capacidade de lotação, a já dramática crise do sistema prisional de São Paulo se agrava todos os dias. O mérito da sentença do juiz de Tupã, que dificilmente será confirmada em instância superior, é o de refrescar a memória do governo sobre a urgência de uma solução para o problema. Estado de S. Paulo, 13/1/2008, p. A3 (com adaptações). 31 34 Com referência às ideias do texto, julgue os itens de 01 a 13. 01. (CESPE) De acordo com o texto, não ocorrem crimes violentos, como homicídio, latrocínio, sequestro e estupro, na cidade de Tupã. 02. (CESPE) Depreende-se do texto que a crise do sistema prisional de São Paulo pode ser resolvida com a adoção de medidas que restrin- jam o deslocamento dos presos e dos seus familiares. 03. (CESPE) Infere-se do texto que o juiz mencionado, ao proferir sua sentença, se preocupou com a reabilitação dos presos. 04. (CESPE) Subentende-se da leitura do terceiro parágrafo que o governo de São Paulo considera inviável cumprir a sentença e recorrerá à instância superior. 05. (CESPE) De acordo com o terceiro parágrafo do texto, o en- carceramento de criminosos em diferentes penitenciárias possibilita a desmobilização de quadrilhas. 06. (CESPE) Segundo o autor do texto, a sentença salienta a neces- sidade de uma solução para a grave situação do sistema prisional de São Paulo. 07. (CESPE) O texto caracteriza-se como texto descritivo devido à sua complexidade e à apresentação de fatos que ocorreram com personagens reais. Julgue os itens seguintes, referentes às estruturas linguísticas do texto. 08. (CESPE) As palavras “singular” (ℓ.1) e “dramática” (ℓ.5) qualificam, respectivamente, os substantivos “decisão” (ℓ.1) e “dimensão” (ℓ.5). Linguagens e Códigos.indb 1 25/3/2010 08:58:04

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Tópico 01O TExTO POéTicO

A palavra “poesia” vem do Grego, poiesis: criar, no sentido de imaginar. Os latinos chamavam a poesia de oratio vincta: linguagem travada, ligada por regras de versificação, em oposição a oratio prorsa: linguagem direta e livre. Prorsa torna-se prosa.

A criação literária “Literalmente, poema é a concretização, em versos, de ex-pressão poética, ou seja, a apresentação individual, subjetiva, abstrata. A leitura da poesia exige o exercício da capacidade interpretativa, uma vez que as imagens devem ser decodificadas pelo leitor, para que ele entenda o que representam. Por isso, ler poesia significa estar disposto a realizar um exercício contínuo de reflexão sobre imagens e metáforas.’’

Massaud Moisés

O Eu Lírico Convencionou-se chamar de eu lírico a “voz” que fala no poema. Ele é uma entidade literária criada para desvincular o autor do texto poético do “eu” que nele se manifesta.

Texto 01

Texto para as questões de 01 a 13

Uma decisão singular de um juiz da Vara de Execuções Criminais de Tupã, pequena cidade a 534 km da cidade de São Paulo, impondo critérios bastante rígidos para que os estabelecimentos penais da região possam receber novos presos, confirma a dramática dimensão da crise do sistema prisional. A sentença determina, entre outras medidas, que as penitenciárias somente acolham presos que residam em um raio de 200 km. Segundo o juiz, as medidas que tomou são previstas pela Lei de Execução Penal e objetivam acabar com a violação dos direitos humanos da população carcerária e “abrir o debate a respeito da regionalização dos presídios”. Ele alega que muitos presos das penitenciárias da região são de famílias pobres da Grande São Paulo, que não dispõem de condições financeiras para visitá-los semanalmente, o que prejudica o trabalho de reeducação e de ressocialização Sua sentença foi muito elogiada. Contudo, o governo estadual anunciou que irá recorrer ao Tribunal de Justiça, sob a alegação de que, se os estabelecimentos penais não puderem receber mais presos, os juízes das varas de execuções não poderão julgar réus acusados de crimes violentos, como homicídio, latrocínio, sequestro ou estupro Além disso, as autoridades carcerárias alegam que a decisão impede a distribuição de integrantes de uma quadrilha por

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Questões Propostas

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diversos estabelecimentos penais, seja para evitar que continuem comandando seus “negócios”, seja para coibir a formação de facções criminosas. Com um deficit de mais de 40 mil vagas e várias unidades comportando o triplo de sua capacidade de lotação, a já dramática crise do sistema prisional de São Paulo se agrava todos os dias. O mérito da sentença do juiz de Tupã, que dificilmente será confirmada em instância superior, é o de refrescar a memória do governo sobre a urgência de umasolução para o problema.

Estado de S. Paulo, 13/1/2008, p. A3 (com adaptações).

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Com referência às ideias do texto, julgue os itens de 01 a 13.

01. (CESPE) De acordo com o texto, não ocorrem crimes violentos, como homicídio, latrocínio, sequestro e estupro, na cidade de Tupã.

02. (CESPE) Depreende-se do texto que a crise do sistema prisional de São Paulo pode ser resolvida com a adoção de medidas que restrin-jam o deslocamento dos presos e dos seus familiares.

03. (CESPE) Infere-se do texto que o juiz mencionado, ao proferir sua sentença, se preocupou com a reabilitação dos presos.

04. (CESPE) Subentende-se da leitura do terceiro parágrafo que ogoverno de São Paulo considera inviável cumprir a sentença e recorrerá à instância superior.

05. (CESPE) De acordo com o terceiro parágrafo do texto, o en-carceramento de criminosos em diferentes penitenciárias possibilita a desmobilização de quadrilhas.

06. (CESPE) Segundo o autor do texto, a sentença salienta a neces-sidade de uma solução para a grave situação do sistema prisional deSão Paulo.

07. (CESPE) O texto caracteriza-se como texto descritivo devido à sua complexidade e à apresentação de fatos que ocorreram com personagens reais.

Julgue os itens seguintes, referentes às estruturas linguísticasdo texto.

08. (CESPE) As palavras “singular” (ℓ.1) e “dramática” (ℓ.5) qualificam, respectivamente, os substantivos “decisão” (ℓ.1) e “dimensão” (ℓ.5).

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09. (CESPE) O trecho “pequena cidade a 534 km da cidade de São Paulo” (ℓ.2-3) encontra-se entre vírgulas por exercer a função de aposto.

10. (CESPE) A correção gramatical do texto seria mantida se, na linha 3, a palavra “bastante” fosse flexionada no plural, para concordar com o substantivo “critérios”.

11. (CESPE) No trecho “para visitá-los semanalmente” (ℓ.15), o pro-nome refere-se a “presos” (ℓ.13).

12. (CESPE) As orações subordinadas “que as penitenciárias somente acolham presos” (ℓ.7), “que tomou” (ℓ.9) e “que irá recorrer ao Tribunal de Justiça” (ℓ.18) desempenham a função de complemento do verbo.

13. (CESPE) Na linha 17, o emprego da conjunção “Contudo” esta-belece uma relação de causa e efeito entre as orações.

Texto 02

Texto para as questões de 14 a 17

Se perguntarmos hoje a um homem de cultura media-na o que ele entende por arte, é provável que na sua resposta apareçam imagens de grandes clássicos da Renascença, um Leonardo da Vinci, um Rafael, um Michelangelo: arte lembra-lhe objetos consagrados pelo tempo, e que se destinam a provocar sentimentos vários e, entre estes, um, difícil de precisar: o senti-mento do belo. Essa resposta fere, sem dúvida, alguns aspectos impor-tantes da obra de arte. A objectualidade: um quadro, por exemplo, é um ser material. E o efeito psicológico: uma obra é percebida, sentida e apreciada pelo receptor, seja ele visitante de um museu ou espectador de um filme. Mas, é necessário convir, o nosso interrogado é sempre um homem do seu tempo, alguém que nasceu e cresceu entre os mil e um engenhos da civilização industrial, e que tende a ver em todas as coisas possibilidades de consumo e fruição. Ter ou desejar ter uma gravura, um disco ou um livro finamente ilustrado é o seu modo habitual de relacionar-se com o que todos chamam de arte. Tal comportamento, embora se julgue mais requintado que o prazer útil de usar um bonito liquidificador, afinal também está preso nas engrenagens dessa máquina em moto contínuo que é o consumo, no caso o mercado crescente de bens sim-bólicos. Constatar, porém, o uso social da pintura e da música, ou a sua função de mercadoria, não deve impedir-nos de ver antropologicamente a questão maior da natureza e das funções da arte. É preciso refletir sobre este dado incontrolável: a arte tem representado, desde a Pré-História, uma atividade fundamental do ser humano. Atividade que, ao produzir objetos e suscitar certos

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estados psíquicos no receptor, não esgota absolutamente o seu sentido nessas operações. [...]

[...] A arte é um fazer. A arte é um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura. Nesse sentido, qualquer atividade humana, desde que conduzida regularmente a um fim, pode chamar-se artística. Para Platão exerce a arte tanto o músico encordoando a sua lira quanto o político manejando os cordéis do poder ou, no topo da escala dos valores, o filósofo que desmascara a retórica sutil do sofista e purga os conceitos de toda ganga de opinião e erro para atingir a contemplação das Ideias. A arte é uma produção: logo, supõe trabalho. Movimento que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o ato da potência, o cosmos do caos. Techné chamavam-na os gregos: modo exato de perfazer uma tarefa, antecedente de todas as técnicas dos nossos dias. A palavra latina ars, matriz do português arte, está na raiz do verbo articular, que denota a ação de fazer junturas entre as partes de um todo. Porque eram operações estruturantes, podiam receber o mesmo nome de arte não só as atividades que visavam a comover a alma (a música, a poesia, o teatro), quanto os ofícios de artesanato, a cerâmica, a tecelagem e a ourivesaria, que

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aliavam o útil ao belo. Aliás, a distinção entre as primeiras e os últimos, que se impôs durante o Império Romano, tinha um claro sentido econômico-social. As artes liberales eram exercidas por homens livres; já os ofícios, artes serviles, relegavam-se a gente de condição humilde. E os termos artista e artífice (de artiflex: o que faz a arte) mantêm hoje a milenar oposiçãode classe entre o trabalho intelectual e o trabalho manual. O pensamento moderno recusa, não raro, o critério hierárquico dessa classificação. O exercício intenso da criação demonstra, ao contrário, que existe uma atração fecunda entre a capacidade de formar e a perícia artesanal. No pintor trabalham em conjunto a mão, o olho e o cérebro. No mais humilde dos trabalhadores manuais, adverte Gramsci, há uma vida intelectual, às vezes atenta e aguda, dobrando e plasmando a matéria em busca de novas formas, ainda que, no jogo social, o artífice não receba o grau de reconhecimento prestado ao artista. Platão viu luminosamente a conexão que existe entre as práticas ou técnicas e a metamorfose da realidade: “Sabes que o conceito de criação (poiesis) é muito amplo, já que seguramente tudo aquilo que é causa de que algo (seja o que for) passe do não ser ao ser é criação, de sorte que todas as atividades que entram na esfera de todas as artes são criações; e os artesãos destas são criadores ou poetas (poietés)” (O Banquete). O conceito de arte como produção de um ser novo, que se acrescenta aos fenômenos da natureza, conheceu alguns momentos fortes na cultura ocidental. E tomou feições radicais na poética do Barroco, quando se deu ênfase à artificialidade da arte, ou seja, à distinção nítida entre o que é dado por Deus aos homens e o que estes forjam com o seu talento. No século XX, as correntes estéticas que se seguiram ao Impressionismo levaram ao extremo a convicção de que um objeto artístico obedece a

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princípios estruturais que lhe dão o estatuto de ser construído, e não de ser dado, “natural”. Matisse, abordado por uma dama a propósito de um quadro seu com o comentário “Mas eu nunca vi uma mulher como essa!”, replicou, cortante: “Madame, isto não é uma mulher, é uma tela”.

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. 7. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 7-14. (Série Fundamentos).

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14. (UFBA) No texto, o autor:01. define como arte as obras clássicas e consagradas, capazes de

despertar o sentimento do belo.02. critica a concepção de arte que não considera o aspecto material

da obra artística nem seu aspecto psicológico.04. conceitua a arte como representação, ação, produto e criação.08. valoriza a atividade artística em detrimento do trabalho artesanal.16. afirma que, ao criar uma outra realidade, o artista distancia-se do

contexto social que lhe é próprio.32. distingue o objeto não-artístico do artístico através do grau de talento

de seu criador.64. questiona a distinção entre arte e artesanato, uma vez que se fun-

damenta em uma discriminação econômico-social.

15. (UFBA) De acordo com o texto, pode-se afirmar:01. O suposto entendimento da arte atribuído ao “homem de cultura

mediana” (ℓ. 1-2), no primeiro parágrafo, é discriminador, por ser um julgamento que privilegia um certo tipo de arte.

02. A obra de arte deve ser vista de maneira objetiva, evitando-se rea-ções sentimentais, o que está evidente nos parágrafos segundo e terceiro.

04. O valor utilitário da arte, referido no terceiro parágrafo, atende a uma sociedade que ignora anatureza do objeto artístico, vendo-a em outra direção: a do consumo.

08. O vocábulo “arte” (ℓ. 46), no sétimo parágrafo, estabelece com os termos “música, poesia, teatro” (ℓ. 50) e “cerâmica, tecelagem e ourivesaria” (ℓ. 51) uma relação classe-elementos.

16. A ideia de que a obra de arte deve ser fiel à realidade está trabalhada no último parágrafo.

32. A fala de Matisse, no último parágrafo, deixa entender que, para ele, uma obra de arte constitui em si mesma um objeto extra, que deve ser examinado como algo singular.

16. (UFBA) Estão coerentes com o texto as seguintes proposições:01. O autor contesta o pensamento de Platão no que concerne à dis-

tinção entre arte e ofícios.02. O quinto parágrafo inicia-se com uma afirmação cuja justificativa se

estende ao parágrafo seguinte.04. Os gregos valorizavam a técnica com a qual o artista construía sua obra.08. Os romanos ressaltaram a atividade de composição das partes, que

o artista realiza para criar sua obra.16. As ideias são desenvolvidas, no texto, seguindo uma sequência

temporal que vai do passado ao presente e retorna ao passado.32. O autor parte de uma generalização sobre a arte, apresenta, em

seguida, argumentos particulares historicamente consolidados e finaliza seu texto com um raciocínio que destaca a atividade de criação na arte.

17. (UFBA) Constitui uma afirmação que se relaciona adequadamente com o texto:01. O autor, no primeiro parágrafo, apropria-se do ponto de vista de um

enunciador hipotético.02. A declaração do segundo parágrafo pressupõe uma dupla valoração

para a obra de arte: a material e a espiritual.04. A expressão “objetos consagrados pelo tempo” (ℓ. 5) constitui

uma referência a “imagens de grandes clássicos da Renascença” (ℓ. 3).

08. A palavra “Mas” (ℓ. 13) não refuta o que se enuncia nos dois primeiros parágrafos; contextualiza o que antes foi declarado.

16. A expressão “não só” (ℓ. 49) e a palavra “quanto” (ℓ. 50), no contexto da frase, introduzem ideias que se excluem.

32. Os termos “Aliás” (ℓ. 52) e “ou seja” (ℓ. 79) equivalem-se no contexto e antecedem uma retificação de enunciados.

64. Os verbos abordar e replicar, nas respectivas formas “abordado” (ℓ. 84) e “replicou” (ℓ. 86), antecedem falas referidas no texto.

Texto 03

Em seu excelente “A China Sacode o Mundo”, de 2006, o jornalista britânico James Kynge pontificou: “A China é como um elefante numa bicicleta. Se for mais devagar, pode cair, e aí a Terra poderá tre-mer”. Na época, o país atordoava o Ocidente com seu crescimento anual de dois dígitos, com sua enorme competitividade alimentada por mão de obra barata e financiamento estatal e pela força de seu capitalismo da alma socialista. Ao mesmo tempo em que assustava, a prosperidade chinesa significava mais riqueza para boa parte do resto do mundo. O Ocidente abraçou a China e deixou-se abraçar por ela. Soou ingênuo, portanto, quando certos analistas defenderam que a China, com 2 trilhões de dólares de reservas e mercado potencial de 1,3 bilhão de habitantes, passaria incólume pela crise. Com sua economia espelhada numa América enfraquecida, a China reduziu as pedaladas do crescimento. O governo de Pequim insiste num aumento de 8% no PIB de 2009 - número tido como irreal. A pergunta hoje é: a gigantesca China conseguirá equilibrar-se na bicicleta e voltar a crescer mais à frente?

(Claudia Vassallo, Revista Exame, 25/02/2009)

18. (IBMEC) O texto acima possui elementos coesivos para estabe-lecer a linha temática. Assinale a afirmação correta:a) a conjunção “como” (linha 2) traduz ideia de comparação e pode ser

substituída por “conforme” sem prejuízo de sentido.b) o vocábulo “aí” (linha 3) traduz ideia de lugar, no caso a China.c) a expressão “ao mesmo tempo” (linha 7) estabelece ideia de conco-

mitância, uma vez que une dois conceitos afins.d) a conjunção “e” (linha 11) estabelece ideia de oposição, equivalendo

a “mas”.e) a conjunção “portanto” (2o parágrafo) estabelece ideia de conclusão

e pode ser substituída por “pois” sem prejuízo semântico.

19. (IBMEC) No contexto, a frase “O Ocidente abraçou a China e deixou-se abraçar por ela.” significa que:

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a) Entre o Ocidente e a China passou a haver confraternização diplo-mática, até então nunca presenciada.

b) Entre o Ocidente e a China iniciaram maiores laços de amizade, fato inédito na história.

c) Entre o Ocidente e a China desencadeou-se intensa reciprocidade comercial.

d) O Ocidente se rendeu às ideologias socialistas da China, para facilitar as relações comerciais.

e) O Ocidente convenceu a China sobre a necessidade do capitalismo, para iniciar as relações comerciais.

20. (IBMEC) Segundo o texto, não é correto:a) A imagem da bicicleta é confirmada pela expressão “América enfra-

quecida”.b) A imagem da bicicleta é confirmada pela expressão “mãode- obra

barata”.c) A imagem do elefante é confirmada pela expressão “crescimento

anual de dois dígitos”.d) A imagem do elefante é confirmada pela expressão “2 trilhões de

dólares de reservas”.e) A imagem do elefante é confirmada pela expressão “mercado potencial

de 1,3 bilhão de habitantes”.

21. (ESPM) A graça da tira decorre:a) da redundância na explicação (2o quadrinho) sobre a condição gro-

tesca (não conseguir descer) em que se encontra o rei.b) da pergunta retórica (1o quadrinho) feita por Hagar por já ter percebido

a situação vexatória do rei.c) do contraste entre a 1a fala (aviso com conotações político- revolu-

cionárias) e a explicação (motivo fútil) no 2º quadrinho.d) do uso pelas personagens de uma linguagem coloquial, incompatível

para se dirigir a uma majestade.e) da reiteração involuntária (1o quadrinho) praticada pela personagem,

proclamando a circunstância constrangedora do rei.

(escoladeanimais.com/blog/2007/04/cartum.htm)

Conteúdo próprio para tirar força do YouTube

No final de março, foi lançado mundialmente o www.southpa-rkstudios.com. Elaborado pelos criadores do desenho “South Park”, Matt Stone e Trey Parker, o site permite que se assista às 12 temporadas da animação — por streaming e de graça. Ainda não existe algo desse calibre no Brasil, mas o pessoal já está se preparando. A Rede Record possui o site “Mundo Record” (www.mundore-cord.com.br), que exibe os principais programas da emissora. Novelas são disponibilizadas 25 horas após serem exibidas na TV. A Globo Vídeos (video.globo.com) também coloca no ar grande parte da programação que vai para a TV. Mas, para ter acesso a esse conteúdo, é preciso ser assinante da Globo.com — na Record é tudo liberado. Procurado pelo reportagem, o site global não se manifestou. O “Mundo Record”, assim como a “Globo Vídeos”, não exibe seus telejornais, folhetins e atrações em uma tacada só — um vídeo de 50 minutos, por exemplo. Tudo é “picotado” para ganhar o tal “tempo de internet”.(...) DUAS TELEVISÕES — O YouTube é o grande responsável pela popularização dos vídeos online, afinal dá para achar tudo nele — conteúdo legal e ilegal. Segundo dados do Nielsen/NetRatings, o serviço tem 8,6 milhões de usuários domiciliares no Brasil. De acordo também com dados do próprio Google, a cada minuto dez horas de vídeo são colocadas no site. Então como concorrer com esse gigante? A resposta: conteúdo próprio para a web. Multishow e MTV têm, hoje, seriados — importados e bra-sileiros — que são transmitidos apenas em seus sites. O ESPN 360 (www.espn.com.br/360), canal de vídeos da ESPN Brasil, também vem ganhando material próprio. Na Olimpíada de Pequim o site terá um videorrepórter especial para o evento. É como se, aos poucos, as emissoras começassem a criar duas TVs diferentes: a tradicional e a da internet. “Cada vez mais vemos que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria MTV”, explica Zico Goes, diretor de programação da emissora. Para Goes, outro fato que aos poucos vai se relevando é que a MTV está ganhando dois públicos distintos: aquele que só vê o Overdrive (serviço online de vídeos da emissora) e o que só acompanha o canal pela própria televisão tradicional. Outra tendência, que já acontece muito, é os canais colocarem em seus sites algo que ficou de fora da TV. “É pegar o material bruto que foi ao ar e readaptá-lo para a web. Pode ser desde os melhores momentos de um programa ou cenas de bastidores dele”, diz Daniela Mignani, gerente de marketing do Multishow. “Chamamos isso de conteúdo de degustação.” A ESPN usa desse mesmo recurso em seus principais programas diários, como o noticiário SportsCenter, que vai ao ar à noite. Algumas horas depois, já de manhãzinha, é possível ver, editado, o “best of” do jornal esportivo no canal online 360. A produção de material próprio para a rede ainda não é popular. Segundo Goes, os videoclipes correspondem a 40% da audiência do Overdrive. No ESPN 360, na Terra TV e na UOLTV, as reportagens são os campeões de visitas.

(http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo_virtual/2008/05/28)

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Tópico 02A grAmáTicA dE TExTO

Fenômeno relativamente recente, a evolução dos estudos linguísticos nos meios acadêmicos vem propiciando uma acentuada valorização do aspecto comunicacional da linguagem, em detrimento de sua abordagem meramente gramatical.

A tradicional “Gramática de Frase” vai sendo superada pouco a pouco pela “Gramática de Texto”. Convictos de que um texto não é simplesmente uma sequência de frases isoladas, mas uma unidade linguística com propriedades estruturais específicas (Koch,1993). Os cursos universitários, os professores e muitas bancas examinadoras de concursos públicos e vestibulares já não se contentam mais com rotineira análise de um período, de uma oração ou de um vocábulo.

“É preciso ensinar-lhes a gramática do discurso, para que eles possam, com mais eficiência, interpretar e redigir textos”.

(Fiorin, 1989).

Norma culta: Ontem e Hoje

Cinquenta anos atrás, nas cidades mais importantes do país existiam no mínimo três colégios: um do governo, gratuito, abrigava os filhos dos políticos, dos que estavam bem de vida, e os filhos da-queles que tinham “pistolão”; o outro era dos pobres e o terceiro, das madres. Os alunos oriundos de elite, bem vestidos, asseados e bem alimentados não apresentavam o problema da variedade linguística ao professor de português. Todos diziam, “Nós vamos, isto é, falavam a norma culta. Ninguém dizia “Nós vai” e Nóis cheguemo”. Frequentavam a escola quem podia, quem tinha posses. Os pobres não estudavam. A escola elitizava ainda mais. De uma elite saía outra, mais refinada. Os professores, educados na gramática normativa para o ensino da norma culta, educados a considerar os gramáticos tradicionais como seres infalíveis e as gramáticas como compêndios que não contêm erros, nem suspeitavam da existência de variedades não cultas no país.

Os tempos mudaram. As escolas foram multiplicadas. As elites continuam matriculando os filhos nos colégios pagos. Do morro, porém, descem os meninos descalços à procura da escola pública. Das favelas saem as crianças subnutridas em busca da escola que distribui merenda. A maioria dessa nova população estudantil diz “Nóis vai”, “Nóis cheguemos”. Sente que a sua linguagem é altamente estigmatizada. Para o professor não pode haver dúvidas: deve ensinar a norma culta. Esta é uma abstração. Permite uma grande variedade

22. (IBMEC) Relacionando o texto com o cartum, assinale a alter-nativa correta.a) Cada vez mais, a programação própria da rede televisiva vem ga-

nhando espaço na internet.b) A qualidade da programação própria das redes televisivas abertas é

inferior àquela disponibilizada pelos canais a cabo.c) Com a ascensão do Youtube, a produção do material próprio para a

internet popularizou-se nos últimos anos.d) Para atender à grande demanda de usuários que acessam a internet,

a programação das emissoras de tevê vem sendo “picotada”.e) A qualidade da programação das emissoras de tevê não tem melho-

rado a despeito de sua disponibilidade na internet.

23. (IBMEC) A distinção entre a veiculação de imagens pela internet e pelas redes televisivas residea) exclusivamente no tipo de programa que pode ser transmitido pelas

duas, de acordo com a demanda do público interessado.b) no tempo e no conteúdo que pode ser transmitido pelas duas, de

acordo com o interesse do público que as utilizam.c) no fato de o conteúdo da internet ser selecionado previamente pelos

assinantes dos provedores.d) no fato de as redes televisivas abertas não disporem de tecnologia

suficiente para a transmissão dos conteúdos veiculados na internet.e) no fato de que a transmissão do conteúdo televisivo na internet é

inviável devido ao tempo requerido na rede virtual.

24. (IBMEC) Levando em consideração as normas da língua, ao transformar-se o discurso direto abaixo em indireto, ter-se-ia:“Cada vez mais vemos que dá para fazer uma MTV própria na rede sem

depender da própria MTV”, explica Zico Goes, diretor de programação da emissora.

a) Zico Goes, diretor de programação da emissora explica que cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria MTV.

b) Zico Goes, diretor de programação da emissora, explica que cada vez mais vemos que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria MTV.

c) Zico Goes, diretor de programação da emissora, explica que cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria MTV.

d) “Cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria MTV”, explica Zico Goes, diretor de programação da emissora.

e) Zico Goes, diretor de programação da emissora que “cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria MTV”, explica.

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Anotações

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01. Leia a publicidade abaixo:“Câncer de mama: A cura pode estar em suas mãos.”I. “em suas mãos” está empregado no sentido apenas denotativo.II. “em suas mãos” está empregado no sentido apenas conotativo.III. “em suas mãos” está empregado no sentido denotativo e conotativo.IV. não há no anúncio efeito de sentido.V. “câncer de mama” é uma metáfora.

Está CORRETA a alternativa:a) I b) II c) III d) IV e) V

02. Em “Dedetizadora Veneza. E você não encontra mais barata.”, temos:a) uma metaliguagem.b) uma polissemia.c) uma intertextualidade.d) ausência de ambiguidade.e) paralelismo sintático.

Questões Propostas

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03. (FAAP) “Quincas Borba ganiu INFINITAMENTE..” A palavra em maiúsculo é exemplo de:a) Hipérbole b) hipérbato c) antítese.d) sinédoque e) pleonasmo

04. (AFA) Tomando como base o texto não-verbal abaixo, assinale a opção CORRETA.

a) O texto, propositadamente, apresenta falta de coesão.b) Não há coesão, mas apenas coerência no texto.c) A coerência do texto é garantida pela expressão “a gente”.d) A aparente incoerência visa a chamar a atenção do leitor.

05. Observe a sequência abaixo, extraída de O Estado de São Paulo: A sequência pode ser considerada:

NEW YORK

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(O Estado de São Paulo, 12/09/2001)

a) uma metáfora b) um eufemismo c) uma apóstrofed) uma hipérbole e) uma gradação

06. (ITA) Há algum tempo, apareceu na imprensa a notícia de uma controvérsia sobre a Lei de Aposentadoria, envolvendo duas teses que podem ser expressas nas sentenças abaixo:I. Poderão aposentar-se os trabalhadores com 65 anos e 30 anos de

contribuição para o INSS.II. Poderão aposentar-se os trabalhadores com 65 anos ou 30 anos de

contribuição para o INSS.Aponte a alternativa que apresenta a interpretação que NÃO pode ser feita a partir dessas sentenças:a) de acordo com (|), para aposentar-se, uma pessoa deve ter simulta-

neamente, pelo menos, 65 anos de idade e, pelo menos, 30 anos de contribuição para o INSS.

b) de acordo com (II), para aposentar-se, uma pessoa deve ter simul-taneamente, pelo menos, 65 anos de idade e, pelo menos, 30 anos de contribuição para o INSS.

c) de acordo com (II), uma pessoa que tenha 65 anos de idade e 5 anos de contribuição para o INSS poderá se aposentar.

d) de acordo com (II), para aposentar-se, basta que uma pessoa tenha 65 anos de idade, pelo menos.

e) de acordo com (II), para aposentar-se, basta que uma pessoa tenha contribuído para o INSS por, pelo menos, 30 anos.

de pronúncias. As pessoas cultas do Maranhão não falam cem por cento igual às pessoas cultas de São Paulo e Rio de Janeiro. Pelo fato de ser uma abstração, a norma culta realiza-se de várias maneiras. Todas aceitáveis. Na norma culta escrita são realizados os negócios importantes da nação. Nela são regidos a constituição, os acordos, os contratos com o BNH e as orientações para o preenchimento do imposto de renda. A linguagem dos contratos recorre, em geral, a uma terminologia extremamente sofisticada, que só os técnicos entendem. O próprio Celso Cunha (Jornal do Brasil, 04. 08. 1985, p. 39), gramático de renome, achou a redação do termo aditivo do Sistema Financeiro de Habitação “muito complicado e difícil de ser entendido”.

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07. (AFA) Assinale a alternativa em que há incoerência.a) Em todas as gerações, os jovens criaram gírias para que os mais velhos

não pudessem entendê-los. A gíria é também uma maneira de sentir-se parte de um grupo, algo muito importante para os adolescentes.

b) Nós últimos 500 anos, o português usado no Brasil desenvolveu-se de forma distinta do idioma falado em Portugal. Isso não quer dizer que os bra-sileiros falem errado. Falam de acordo com uma gramática brasileira.

c) À medida que as pessoas começaram a usar o email em vez de falar pessoalmente ou pegar o telefone, os mal-entendidos foram se multiplicando. Isso aconteceu porque muita gente que usa internet não estava habituada a escrever antes do surgimento dela.

d) O governo brasileiro deveria tomar medidas para proteger os idio-mas dos índios da Amazônia. Pois, se não há mais resquícios da sociedade indígena, se eles estão numa favela bebendo cachaça o dia inteiro, seria mais útil ensinar a eles o português, para ajudá-los a conseguir um emprego.

08. (AFA) Assinale a passagem em que a coerência temporal encontra-se comprometida.a) “Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe.”b) “Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto

é tempo.”c) “Saiu atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe

correndo, em pós.”d) “Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que

a mamãe me mandou”.

09. (AFA) Leia o período abaixo.Fita-verde resolveu tomar esse caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.Assinale a alternativa em que as ideias acima estão organizadas num só pe-ríodo coerente e coeso e expressam relação de causa e consequência.a) Assim Fita-verde resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não

o outro, encurtoso, encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.b) Fita-verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores, posto que re-

solvesse tomar esta caminho de cá, louco e longo, e não outro, encurtoso.c) Ainda que Fita-verde resolvesse tomar este caminho de cá, louco

e longo, e não o outro, encurtoso, encontraria borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.

d) Na medida em que resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso, Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebleiínhas flores.

Texto 1As condições para aprender a ler

Assim como para aprender a língua materna ou um idioma estrangeiro, aprender a ler exige estar integrado num grupo que de fato já utiliza a escrita para viver e não para aprender a ler. A primeira condição é, portanto, a heterogeneidade do grupo. Um grupo homo-gêneo de nãoleitores dificilmente poderá oferecer a seus membros as condições de um uso real da escrita. Para aprender a ler, o não-leitor deve se relacionar com os textos que leria se soubesse ler, para viver o

que vive. O ambiente deve comportar-se com o não-leitor como se elejá possuísse os saberes que deve adquirir. A defasagem entre o estatuto de destinatário de textos e seu não-saberfazer atual abre para ele as possibilidades de invenção de estratégias novas. Todo aprendizado é uma resposta a um desequilíbrio. Na fase de aprendizado, o meio deve proporcionar à crian-ça toda a ajuda para utilizar textos “verdadeiros” e não simplificar os textos para adaptá-los às supostas possibilidades do aprendiz. Não se aprende primeiro a ler palavras, depois frases, mais adiante textos e, finalmente, textos dos quais se precisa socialmente. Aprende-se a ler aperfeiçoando-se, desde o início, o sistema de interrogação os textos de que precisamos, mobilizando o “conhecido” para reduzir o “desconheci-do”. As intervenções remetem, portanto, à organização e ao uso desse “conhecido”. Para aprender a ler, enfim, é preciso estar envolvido pelos escritos os mais variados, encontrá-los, ser testemunha de associar-se à utilização que os outros fazem deles, quer se trate dos textos da escola, quer se trate dos textos do ambiente social, da imprensa, dos documentários, das obras de ficção. Ou seja, é impossível tornar-se leitor sem essa contínua interação com um lugar onde as razões paraler são intensamente vividas.(Jean Foucambert. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, p. 31. Adaptado)

10.(FAVIP) O Texto 1 apresenta as características formais e discur-sivas de um texto:a) narrativo, envolvendo cenário (a escola) e personagens (professores

e alunos).b) descritivo, em torno de dados e informações subjetivamente anali-

sadas.c) de comentário, desenvolvido aleatoriamente, sem um plano bem

definido.d) expositivo, de divulgação científica e de orientação didática.e) de ficção, a realidade é, imaginariamente, pensada e projetada.

11. (FAVIP) O objetivo do autor com a publicação do Texto 1 foi:a) ressaltar a importância da imprensa e da divulgação de documentários

para os aprendizes da leitura.b) defender a integração do aprendiz de leitura com um ambiente em

que a escrita já constitui uma prática regular.c) alertar os não-leitores para as dificuldades existentes na escola

relativas ao processo de aquisição da escrita.d) propor a simplificação do processo de leitura, para o que é fundamental

o contato inicial do aluno com palavra e frases.e) advertir os alunos em relação à importância de recorrerem às obras

de ficção, como forma de alcançarem o equilíbrio desejado.

12. (FAVIP) O Texto 1, no tocante ao processo de aquisição da leitura, atribui uma relação muito pertinente entre:a) os textos apresentados na escola e os textos divulgados pela imprensa.b) os textos “reais”, em circulação, e os textos simplificados.c) o futuro leitor e sua vivência de leitura no meio em que está inserido.d) a sequência ordenada de palavras, de frases e, afinal, de textos.e) a língua materna e uma ou outra língua estrangeira.

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13. (FAVIP) “Assim como para aprender a língua materna ou um idioma estrangeiro, aprender a ler exige estar integrado num grupo que de fato já utiliza a escrita para viver e não para aprender a ler”. O trecho em questão é formulado a partir de:a) uma comparação entre aprender uma língua (materna ou estrangeira)

e aprender a ler.b) uma relação de causa e efeito entre aprender uma língua e aprender

a ler.c) um paralelo entre aprender a língua materna e aprender uma língua

estrangeira.d) um contraste entre adquirir a competência em leitura e adquirir a

competência em escrita.e) uma constatação acerca da realidade dos grupos que já sabem utilizar

a escrita.

14. (FAVIP) Analise o trecho: “Todo aprendizado é uma resposta a um desequilíbrio”. Nesse trecho, podemos admitir o seguinte:1. Trata-se de uma generalização; numa linguagem contundente, por

sinal.2. O ‘desequilíbrio’, aqui, corresponde à defasagem entre o ‘conhecido’

e o ‘desconhecido’.3. Há incoerência em se estabelecer uma relação entre ‘aprendizado’

e ‘desequilíbrio’.4. ‘Todo aprendizado’ equivale a ‘qualquer aprendizado; os termos são

equivalentes.5. Existe ambiguidade na afirmação, uma vez que o texto não define de

que aprendizado se trata.Estão corretas:a) 1, 2 e 3 apenas b) 1, 2 e 4 apenas c) 1, 4 e 5 apenasd) 3, 4 e 5 apenas e) 1, 2, 3, 4 e 5

15. (FAVIP) “Um grupo homogêneo de não-leitores dificilmente poderá oferecer a seus membros as condições de um uso real da escrita”. Com essa afirmação, o autor pretende significar que:a) ninguém alcança o sucesso na leitura se não pratica o uso real da

escrita.b) a aprendizagem da leitura supõe um grupo em condições homogêneas.c) será difícil alguém aprender a escrever e ler em um grupo onde todos

sejam analfabetos.d) os não-leitores terão dificuldade de aprender a ler caso não estejam

no mesmo nível.e) o uso da escrita envolve dificuldades que podem ser vencidas por

todos.

16. Analise o seguinte trecho: “Para aprender a ler, enfim, é preciso estar envolvido pelos escritos (...), quer se trate dos textos da escola, quer se trate dos textos do ambiente social, da imprensa, dos documen-tários, das obras de ficção”. O segmento sublinhado, além de outros aspectos:1. concorre para a coesão do texto, pelo paralelismo de sua estrutura

sintática.2. representa uma característica discursiva da oralidade informal.3. deixa o texto menos pertinente pela repetição notória das palavras.4. constitui um recurso de reiteração enfática, o que concorre para

coerência do texto.

Está(ão) correta(s):a) 1 apenas b) 2 apenas c) 3 apenasd) 1 e 4 apenas e) 1, 2, 3 e 4

17. (FAVIP) No trecho: “A primeira condição é, portanto, a heteroge-neidade do grupo”, a palavra sublinhada é um conectivo que:a) poderia ser substituído pelo outro ‘entretanto’.b) equivale em sentido a ‘posto que’.c) pode ser empregado também com um valor explicativo.d) expressa um sentido de adição, de acréscimo.e) tem um valor semântico de conclusão.

Texto 2

A leitura é atribuição voluntária de um significado à escrita

Todos sabem que há diferença entre ver e olhar, ouvir e es-cutar... Ler não é apenas passar os olhos por algo escrito, não é fazer a versão oral de um escrito. Quem ousaria dizer que sabe ler latim só porque é capaz de pronunciar frases escritas naquela língua? Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é. Um poema ou uma receita, um jornal ou um romance, pro-vocam questionamentos, exploração do texto e respostas de natureza diferente; mas o ato de ler, em qualquer caso, é o meio de interrogar a escrita e não tolera a amputação de nenhum aspecto.

(Jean Foucambert. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, p. 5).

18. (FAVIP) Os Textos 1 e 2 têm em comum a compreensão da leitura, como:1. uma competência advinda de textos homogêneos, isto é, de gêneros

homogêneos e similares.2. uma oportunidade de se encontrar respostas que venham ampliar

nosso repertório de informações.3. uma atividade em que ocorre uma espécie de tradução do escrito

para o oral.4. uma competência que se desenvolve no contato comparativo com

línguas estrangeiras.Está(ão) corretas:a) 1 apenas b) 2 apenas c) 1 e 4 apenasd) 2 e 3 apenas e) 1, 2, 3 e 4

19. (FAVIP) A concordância verbo-nominal constitui, em geral, uma exigência da adequação do texto aos contextos formais da comunicação pública. Nesse sentido, identifique a alternativa em que essa concor-dância foi inteiramente respeitada.a) Nenhuma das obras indicadas para leitura deixaram de agradar os

alunos e os professores.b) Um terço dos alunos costuma cumprir com toda a regularidade os

programas de leitura.c) Acerca da leitura, o resultado das pesquisas são taxativos: atualmente

se lê mais no Brasil.d) Qual dos autores propostos para estudo representam, com mais

propriedade, a primeira fase do Modernismo?e) Foi apresentado, na reunião da escola, várias propostas pedagógicas

para se promover um maior gosto pela leitura.

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Tópico 1rOmANTiSmO (PrOSA)

“As contradições profundas do Romantismo encontram nesse gênero o veículo ideal. A emoção fácil e o refinamento perverso; a pressa das visões e o amor ao detalhe: os vínculos misteriosos, a simplificação dos caracteres, a incontinência verbal – tudo nele se fundiu, originando uma catadupa de obras do mais variado tipo, que vão do péssimo ao genial. É característica do tempo que esta escala qualitativa se encontre frequentemente no mesmo autor, como Victor Hugo, Balzac, Dickens, Herculano, Alencar, os escritores mais irregulares que se pode imaginar numa certa ordem de valor.”

(Antônio Candido)

Origem

O romance substituiu a epopeia que desapareceu no século XVIII com a ascensão da burguesia industrial e comercial. Segundo Hegel “a epopeia burguesa moderna”, que “pressupõe uma realidade já prosaica e no domínio do qual procura, na medida em que este estado prosaico do mundo o permite, restituir aos acontecimentos, assim como às personagens e aos seus destinos, a poesia de que a realidade os despojou”. Por suas origens populares, o romance identificava-se com o gosto da burguesia, pois narrava a vida comum, diária, carregada de imaginação e aventuras. Na Europa, o romance surgiu na estrutura de folhetim, divul-gação diária de capítulos em jornais. Esse modelo foi seguido no Brasil: primeiro foram publicadas as traduções de produções europeias, depois foram publicadas as obras de autores nacionais até o século XX, quando desapareceu. O folhetim tinha como público principal as mulheres, seguido de estudantes, funcionários públicos e comerciantes, com histórias adaptadas ao gosto do leitor.

Tópico 2

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O FOLHETim NO BrASiL

Com o Romantismo tem-se início a ficção brasileira, que foi responsável pela di-fusão do sentimento nacionalista que dominou o Brasil pós-Independência, contribuindo para a definição da cultura brasileira, pois se voltou para a realidade nacional de forma ufanista, tendo como intérpretes desse pensamento os artistas e intelectuais brasileiros, que es-creviam sobre a terra, a natureza, lugares, costumes e fatos nacionais, criando, inclusive, o herói nacional, na figura do índio (destaque para José de Alencar). Primeira Capa do Livro

A Moreninha

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“O Filho do Pescador”, de Teixeira e Sousa, publicado em 1843, é cronologicamente o primeiro romance brasileiro, mas por apresentar qualidade literária sofrível, a crítica adotou, oficialmente, “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, 1844, como primeiro romance publicado no Brasil.

características gerais da Prosa romântica

O romance romântico brasileiro seguiu a estrutura básica das narrativas europeias, com paixões intensas, amores sofridos e difíceis, ciúmes obsessivos, conflitos, separações, mortes, mas o cenário, e os costumes eram nacionais, e apresentava os seguintes traços:

• linguagem adjetivada, metafórica.• sentimentos e comportamentos nobres, como: justiça, re-

núncia, honra, verdade, força, ações virtuosas, idealismo, coragem, os apelos do coração em primeiro lugar, valorização e vitória do bem em oposição à maldade, puni-se o mal com efeito moral.

• personagens idealizadas, belas, perfeitas, (herói/heroína) lineares, previsíveis, descritas com comparações grandio-sas.

• descrição pormenorizada.• interação da natureza com os sentimentos das persona-

gens.• o arrependimento através do amor.• o conflito amoroso é a base do enredo nos romances român-

ticos, a união final é adiada pela ação do vilão (antagonista), que pode ser uma personagem ou um comportamento, ou ainda, impedimentos como: preconceito social, intrigas fa-miliares, a religião, a moral. Só o amor é capaz de redimir o herói ou o vilão. A superação total dos obstáculos permitirá o final feliz. Em caso contrário, a punição – o final trágico.

No Brasil, o romance romântico apresenta quatro variantes:

• Romance Urbano

Também denominado romance de costumes, tinha como cenário a corte, Rio de Janeiro. Constitui a captação dos costumes, dos valores morais do Brasil tendo como referência a elite brasileira que imitava os costumes europeus, principalmente franceses. Aqui se vivia, de forma medíocre, “à francesa”. Joaquim Manuel de Macedo é o criador dessa variante no Brasil, mas o destaque é para José de Alencar que criou seus perfis femininos (Diva, Lucíola e Senhora) e através deles estabeleceu uma relação conflitante e a crítica entre o indivíduo e os valores da sociedade. O casamento impossível entre o burguês e o marginal (Lucíola) e o casa-mento por interesse (Senhora).

• Romance Regionalista

Nesse romance, os autores procuram retratar os costumes, os aspectos peculiares, como: a geografia, as crenças, a linguagem, a

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cultura e a natureza de determinadas regiões do país. Dentro de uma visão nacionalista, idealiza-se as belezas naturais e omite-se o atraso, a miséria das regiões do Brasil. Bernardo Guimarães escreveu as primeiras obras regionalis-tas, “A Escrava Isaura” e “O Seminarista”. Considerado o criador da literatura do Nordeste, Franklin Távora escreveu “O Cabeleira”. Visconde de Taunay, em Inocência, deu destaque ao falar do sertanejo.

• Romance Histórico

Tem como referência a selva e pequenos núcleos habitacionais dos séculos XVI-XVII e XVIII. Uma volta ao passado, que traz como referências fatos e personagens do Brasil Colonial com a intenção de reconstituir o passado de forma gloriosa e triunfante, cuja preocupação é essencialmente nacionalista, passando uma imagem falsa do passado e que não corresponde ao que de fato ocorreu.

José de Alencar

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Destacam-se José de Alencar com “As Minas de Pratas”, “Guerra dos Mascates” e “O Guarani” e Bernardo Guimarães com “Lendas e Romances” e “Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais”.

• Romance Indianista

Esse romance funciona com afirmação do nacionalismo, principal característica do Romantismo. Ressalta de forma idealizada o índio, suas lendas, mitos, cos-tumes, mas é um índio estereotipado, como afirma Sergius Gonzaga, “em sua psicologia, esses índios são heróis europeus, cavaleiros medievais, perdidos em bravias florestas, com um destino épico a cumprir. Assim, os leitores orgulhavam-se de uma pretensa origem indígena, formulando para si mesmos uma identidade positiva”. José de Alencar - Iracema

PRINCIPAIS ROMANCES DO ROMANTISMO

1844 * A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo)

1845 * O Moço Loiro (Joaquim Manuel de Macedo)

1852/53 * Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)

1856 * Cinco Minutos (José de Alencar)

1857 * O Guarani (José de Alencar)

1862 * Lucíola (José de Alencar)

1865 * Iracema (José de Alencar)

1872 * Inocência (Taunay); O Seminarista (Bernardo Guimarães)

1874 * Ubirajara (José de Alencar)

1875 * Senhora e o Sertanejo (José de Alencar); A Escrava Isaura (Bernardo de Guimarães).

1876/78 * O Cabeleira / O Matuto (Franklin Távora).

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José de Alencar (1829/1877)Principais obras:

Cinco Minutos; A Viuvinha; Sonhos D’Ouro; Encarnação; Senhora; Diva; Lucíola; A Pata da Gazela (romances urbanos); As Minas de Prata; A Guerra dos Mascates; Al-farrábios (romances históricos); O Sertanejo; O Gaúcho (romances regionalistas); Til; O Tronco do Ipê (romances rurais); Iracema; O Guarani; Ubirajara (romances indianistas); A Noite de São João; O Crédito; Demônio Familiar; Verso e Reverso; As Asas de Um Anjo; Mãe; O Jesuíta (teatro). José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana (CE), era filho do senador José Martiniano de Alencar. Foi jornalista, deputado pelo Ceará e Ministro da Justiça, deixou a política quando foi rejeitado por D. Pedro II para o Senado. Estreou com o livro “Cinco Minutos” . Escreveu também peças de teatro, crônicas e críticas. Polêmico, são famosas suas discussões com Gonçalves de Magalhães sobre o poema “A Confederação dos Tamoios”, com o português Antônio Feliciano de Castilho fez uma defesa exacerbada da “língua brasileira” e com Franklin Távora sobre o regionalismo. É considerado o grande romancista da literatura, tinha como projeto construir, através de sua obra, um painel da cultura brasileira. No romance indianista, embora tivesse pesquisado sobre o indígena, não deixou de idealizá-lo. É um índio puro, ingênuo, o primitivo torna-se herói, superior, pela força e grandeza, estava criado o mito do herói nacional. Sua trilogia indianista mostra que Alencar buscou o passado na sua fase mais primitiva, o índio pré-cabralino em “Ubirajara”, depois o primeiro contato do primitivo com o europeu em “Iracema” e, finalmente, o nativo em harmoniosa convivência com o colonizador, inclusive cate-quizado em “O Guarani”. Dos três destaca-se “Iracema”. Nos romances históricos, utilizou fatos e personagem da história embora muito longe da realidade dos acontecimentos, com o objetivo de mostrar um Brasil de passado heroico vencedor, com pro-porções épicas, como em “As Minas de Prata”. Com os romances regionalistas desenvolve o projeto mais ambicioso, com intenção nacionalista, não há interesse em desvendar o Brasil real, mas de forma superficial unificar, destacando as belezas naturais. Nos romances urbanos, além de enredos com amores impos-síveis, aventuras, intrigas, Alencar traça uma análise de temas, como casamento por interesse – Senhora – e prostituição – Lucíola -, mesmo utilizando-se de uma postura idealizada e conservadora, elabora um perfil psicológico através das personagens femininas.

Alencar e seu projeto nacional O conjunto da produção de Alencar reflete o desenvolvimento de um projeto: a nacionalização da literatura brasileira, pois constituiu um panorama histórico-geográfico do Brasil (passado/presente; selva/campo/cidade).

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No prefácio do livro “Sonhos D’Ouro”, Alencar traçou um perfil de sua produção/projeto. “O período orgânico desta literatura conta já três fases: a primitiva, que se pode chamar aborígine, são as lendas e mitos da terra selvagem e conquistada; são as tradições que embalaram a infância do povo e ele escutava como o filho a quem a mãe acalenta no berço com as canções da pátria, que abandonou. Iracema pertence a essa litera-tura primitiva, cheia de santidade e enlevo, para aqueles que venceram na terra da pátria a mãe fecunda – alma mater – e não enxergam nela apenas o chão onde pisam. O segundo período histórico: representa o consórcio do povo invasor com a terra americana, que dele recebia a cultura, e lhe retribuía nos eflúvios de sua natureza virgem e nas reverberações de um solo esplêndido (...). É a gestação lenta do povo americano, que devia sair da estirpe lusa, continuar no novo mundo as gloriosas tradições de seu progenitor. Esse período colonial terminou com a Independência. A ele pertencem O Guarani e As Minas de Prata. Há aí muita e boa messe a colher para o nosso romance histórico; mas não exótico e raquítico como se propôs a ensiná-lo, a nós beócios, um escritor português. A terceira fase, a infância de nossa literatura, começada com a Independência política, ainda não terminou; espera escritores que lhe dêem os últimos traços e formem o verdadeiro gosto nacional, fazendo calar as pretensões, hoje tão acesas, de nos recolonizarem pela alma e pelo coração, já que não o podem pelo braço. Nesse período, a poesia brasileira, embora balbuciante ainda, ressoa não já somente nos rumores da brisa e nos ecos da floresta, senão também nas singelas cantigas do povo e nos íntimos serões da família. Onde não se propaga com rapidez a lua da civilização, que de repente cambia a cor local, encontra-se ainda em sua pureza original, sem mescla, esse viver singelo de nossos pais, tradições, costumes e linguagem, como um sainete todo brasileiro. Há não somente no país, como nas grandes cidades, até mesmo na corte, desses recantos, que guardam intacto, ou quase, o passado. O Tronco do Ipê, o Til e O Gaúcho vieram dali, embora no primeiro, sobretudo, se note já, devido à proximidade da corte e à data mais recente, a influência da nova cidade, que de dia se modifica e se repassa do espírito forasteiro. Nos grandes focos, especialmente na corte, a sociedade tem a fisionomia indecisa, vaga e múltipla, tão natural à idade da adolescên-cia. É o efeito da transição, que se opera, e também do amálgama de elementos diversos (...). Dessa luta entre o espírito contemporâneo e a invasão es-trangeira, são reflexos Lucíola, Diva, A Pata da Gazela, e tu, livrinho, que aí vais correr mundo com o rótulo de Sonhos D’Ouro.”

Textos

IRACEMA (Lendas do Ceará)

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

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Iracema - José de Medeiros

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O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite.(...) Rumor suspeito quebra a harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela, e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais da alma que da ferida. O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão, que rápida ferira, estancou e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.

O guerreiro falou: — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas que nunca viram outro guerreiro como tu? — Venho de longe, filha das floresta. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus. — Bem-vindo seja o es-trangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.

Iracema é considerada a obra-prima de Alencar, apresenta vo-cabulário indígena, Machado de Assis disse: ... “é um verdadeiro poema em forma de prosa”.

O guarani

A cúpula da palmeira, embalançando-se graciosamente, resvalou pela flor da água como um ninho de garças ou alguma ilha flutuante, formada pelas vegetações aquáticas. Peri estava de novo sentado junto de sua senhora quase inanimada; e, tomando-a nos braços, disse-lhe com um acento de ventura suprema: — Tu viverás!

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Cecília abriu os olhos e vendo seu amigo junto dela, ouvindo ainda suas palavras, sentiu o enlevo que deve ser o gozo da vida eterna. — Sim!... murmurou ela; viveremos!... lá no céu, no seio de Deus, junto daqueles que amamos!... O anjo espanejava-se para remontar o berço. — Sobre aquele azul que tu vês, continuou ela, Deus mora no seu trono, rodeado dos que o adoram. Nós iremos lá, Peri! Tu viverás com tua irmã, sempre!... Ela embebeu os olhos nos olhos do seu amigo, e lânguida reclinou a loura fronte. O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores e lânguidos sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o vôo. A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia... E sumiu-se no horizonte...

Romance histórico – indianista, une o histórico com o mito na-cional, o nativo, primeiro sucesso de Alencar, projetando defini-tivamente o autor na literatura nacional. Foi publicado em forma folhetim no Diário do Rio de Janeiro em 1857.

Senhora ― O senhor não retribuiu meu amor e nem o compreendeu. Supôs que eu lhe dava apenas a preferência entre outros namorados, e o escolhia para herói dos meus romances, até aparecer um casa-mento, que o senhor, moço honesto, estimaria para colher à sombra o fruto de suas flores poéticas. Bem vê que eu distingo dos outros, que ofereciam brutalmente mas com franqueza e sem rebuço, a perdição e a vergonha. Seixas abaixou a cabeça. ― Conheci que não amava-me, como eu desejava e merecia ser amada. Mas não era sua a culpa e só minha que não soube inspirar-lhe a paixão, que eu sentia. Mais tarde, o senhor retirou-me essa mesma afeição com que me consolava e transportou-a para outra, em quem não podia encontrar o que eu lhe dera, um coração virgem e cheio da paixão com que o adorava. Entretanto, ainda tive forças para perdoar-lhe e amá-lo. A moça agitou então a fronte com uma vibração altiva: ― Mas o senhor não me abandonou pelo amor de Adelaide e sim por seu dote, um mesquinho dote de trinta contos! Eis o que não tinha o direito de fazer, e o que jamais lhe podia perdoar! Desprezasse-me embora, mas não descesse da altura em que havia colocado dentro de minha alma. Eu tinha um ídolo; o senhor abateu-o de seu pedestal, e atirou-o no pó. Essa degradação do homem a quem eu adorava, eis o seu crime; a sociedade não tem leis para puni-lo, mas há um remorso para ele. Não se assassina assim um coração que Deus criou para amar, incutindo-lhe a descrença e o ódio. Seixas que tinha curvado a fronte, ergueu-a de novo, e fitou os olhos na moça. Conservava ainda as feições contraídas, e gotas de suor borbulhavam na raiz de seus belos cabelos negros. ― A riqueza que Deus me concedeu chegou tarde; nem ao menos permitiu-me o prazer da ilusão, que têm as mulheres enganadas.

Quando a recebi, já conhecia o mundo e suas misérias; já sabia que a moça rica é um arranjo e não uma esposa; pois bem, disse eu, essa riqueza servirá para dar-me a única satisfação que ainda posso Ter neste mundo. Mostrar a essa homem que não me soube compreender, que mulher o amava, e que alma perdeu. Entretanto ainda eu afagava uma esperança, Se ele recusa nobremente a proposta aviltante, eu irei lançar-me a seus pés. Suplicar-lhe-ei que aceite a minha riqueza, que a dissipe se quiser; mas consinta-me que eu o ame. Essa última consolação, o senhor o arrebatou. Que me reserva? Outrora atava-se o cadáver ao homicida, para expiação da culpa; o senhor matou-me o coração; era justo que o prendesse ao despojo de sua vítima. Mas não desespere, o suplício não pode ser longo: este constante martírio a que estamos condenados acabará por extinguir-me o último alento; o senhor ficará livre e rico.

manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

Principal obra: Memórias de um Sargento de Milícias Manuel Antônio de Almeida formado em Medicina, apesar da origem pobre. Fez traduções e conseguiu emprego no jornal “Correio Mercantil”, organizou o suplemento literário “A Pacotilha” no qual publicou com pseudônimo de “Um Brasileiro” as “Memórias de um Sargento de Milícias”. Escreveu tam-bém crônicas e críticas que ficaram dispersas e não há estudos e divulgação das mesmas. “Memórias de um Sargento de Milícias”, publicado na forma de folhetim entre julho de 1852 e julho de 1853, no suplemento “A Pacotilha” do Correio Mercantil. Obra que apresenta características que fogem do padrão romântico da época. É considerada pré-realista e precursora do Modernismo porque tem como protagonista um herói malandro, o “anti-herói”, não um vilão, mas simpático, não há idealização da mulher, da natureza e do amor, procurou retratar os costumes, comportamento e tipos característicos da burguesia periférica à época de D. João VI. Um universo até então inédito na literatura. Apresenta uma linguagem simples e direta, aproximando-se da oralidade, da presença do humor, da ironia, dão um tom de crônica jornalística ao texto. “O sentido profundo das ‘Memórias’ está ligado ao fato de elas não se enquadrarem em nenhuma das racionalizações ideológicas reinantes na literatura brasileira de então: indianismo, nacionalismo, grandeza no sofrimento, redenção pela dor, pompa do estilo etc. Na sua estrutura mais íntima e na sua visão latente das coisas, elas exprimem a vasta acomodação geral que dissolve os extremos, tira o significado da lei e da ordem, manifesta a penetração recíproca dos grupos e das ideias, das atividades mais díspares, criando uma espécie de terra-de-ninguém moral, onde a transgressão é apenas um matiz na gama que vem da norma e vai ao crime.”

Manuel Antônio de Almeida

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memórias de um Sargento de mílicias

Leonardo havia pois chegado à época em que os rapazes começam a notar que o seu coração palpita mais forte e mais apressado, em certas ocasiões, quando se encontra com certa pessoa, com quem, sem saber por que, se sonha umas poucas de noites seguidas, e cujo nome acode continuadamente a fazer cócegas nos lábios. Já dissemos que D. Maria tinha agora em casa sua sobrinha: o compadre, como a própria D. Maria lhe pedira, continuou a visitá-la, e nessas visitas passavam longo tempo em conversas particulares. Leonardo acompanhava sempre o seu padrinho e fazia diabruras pela casa enquanto estava em idade disso, e depois que lhes perdeu o gosto, sentava-se em um canto e dormia de aborrecimento. Disso resultou que detestava profundamente as visitas, e que só se sujeitava a elas obrigado pelo padrinho. Em uma das últimas vezes que foram à casa de D. Maria, esta, assim que os viu entrar, dirigiu-se ao compadre e disse-lhe muito contente: — Ora, afinal venci a minha campanha... veio ontem para o meu poder a menina... O tal velhaco do compadre de meu irmão não levou a sua avante. — Muitos parabéns, muitos parabéns! Respondeu o compadre. Leonardo deu pouca atenção a isso; há tempos que ouvia falar de tal sobrinha; sentou-se a um canto, e começou a bocejar como de costume. Depois de mais algumas palavras trocadas entre os dois, D. Maria chamou por sua sobrinha, e esta apareceu. Leonardo lançou-lhe os olhos, e a custo conteve o riso. Era a sobrinha de D. Maria já muito desenvolvida, porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça: era alta, magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpe-bras sempre baixas, e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos, como uma viseira. Trajava nesse dia um vestido de chita roxa muito comprido, quase sem roda, e de cintura muito curta; tinha ao pescoço um lenço encarnado de Alcobaça. Por mais que o compadre a questionasse, apenas murmurou algumas frases ininteligíveis com a voz rouca e sumida. Mal a deixaram livre, desapareceu sem olhar para ninguém. Vendo-a ir-se, Leonardo tomou a rir-se interiormente. Quando se retiraram, riu-se ele pelo caminho à sua vontade. O padrinho indagou causa de sua hilaridade; respondeu-lhe que não podia lembrar da menina sem rir-se. — Então lembras-te dela muito a miúdo, porque muito a miúdo te ris. Leonardo viu que esta observação era verdadeira. Durante alguns dias uma poucas de vezes falou na sobrinha de D. Maria; e apenas o padrinho lhe anunciou que teriam que fazer a visita do costume, sem saber por que, pulou de contente, e, ao contrário dos outros dias, foi o primeiro a vestir-se e dar-se por pronto.

Joaquim Manuel de Macedo

JOAQUim mANUEL dE mAcEdO (1820-1882)

Principais obras: Ficção: A Moreninha, O Moço Loiro, Os Dois Amores, Rosa, Vicentinha, A Carteira do Meu Tio, O Forasteiro, O Culto do Dever, Memórias do Sobrinho do Meu Tio, O Rio do Quarto, A Luneta Mágica, As Vítimas Algozes, Nina, A Namoradeira, Mulheres de Mantilha, Um Noivo e Duas Noivas, Os Quatro Pontos Cardeais. Teatro: O Cego, Cobé, O Fan-tasma Branco, O Primo da Califórnia, O Sacrifício de Isaac, Luxo e Vaidade, O Novo Otelo, A Torre em Concurso, Remissão de Pecados, Cincinato Quebra Louças, Vingança por Vingança, Antonica da Silva. Formado em Medicina, em 1844 publicou “A Moreninha”, considerado o primeiro romance brasileiro e deu popularidade a seu autor. Para escrever seus folhetins (dezessete ao todo) orientou-se pelos padrões do Romantismo europeu, mas ambientou-os no Brasil (A Corte de D. Pedro II – RJ), criando personagens que refletiam a ‘burguesia’ carioca, foi o mais popular dentre os autores românticos. A estrutura de seus folhetins (a maioria) apresentam: namoro difícil ou impossível, dever e desejo, intrigas, brincadeiras que envolvem jovens com linguagem que se aproxima da coloquial.

Visconde de Taunay

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Bernardo Guimarães

Mais autores:

BErNArdO gUimArÃES (1825-1884) Principais obras: O Garimpeiro; O Semina-rista; A Escrava Isaura. Poeta e romancista, destaca-se pelos romances regionalistas em que se misturam a idealização romântica com as histórias que ouviu como viajante e também pelo fato de conhecer a região oeste de Minas na fronteira com Goiás, descreve-a com detalhes.

ViScONdE dE TAUNAY (1843-1899)

Principais obras: A Retirada de Laguna e Ino-cência. Alfredo D’Escragnalle é considerado o autor que deu uma visão mais equilibrada ao Re-gionalismo Romântico, pois evitou os excessos do idealismo, aproximando-se mais da realidade, destacando a cor local, o homem do interior e seus costumes, inclusive seu modo de falar.

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FrANKLiN TáVOrA (1842-1888)

Principais obras: O Cabeleira; O Matuto e Lou-renço. Considerado o criador da “Literatura do Norte” separando-a do resto do Brasil, como podemos observar no prefácio que de “O Cabe-leira” em 1876 “As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no Norte, porém, do que no Sul, abundam os elementos para a formação de uma literatura brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Norte ainda não foi invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro”. “Temos o dever de levantar ainda com luta e esforço os nobres foros dessa região, exumar seus tipos legendários, fazer conhecidos seus costumes, suas lendas, sua poesia máscula, nova, vívida e louçã. ...”Buscou dar maior verossimilhança ao seu regionalismo.

Franklin Távora

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Martins Pena

TEATrO rOmâNTicO Gonçalves de Magalhães introduziu a dramaturgia no Brasil com a tragédia “Antônio José ou Poeta e a Inquisição” representada em 1837 pelo autor João Caetano, embora vários autores tenham escrito textos para o teatro, cou-be a Martins Pena (1815-1848) com a comédia de costumes, que satirizava os costumes rurais e urbanos, refletindo aspectos da sociedade brasileira. Com ironia, humor, sátira, atinge os

pequenos proprietários e a vida cotidiana da corte. Suas peças apre-sentam poucas cenas e são rápidas.

Textos Suplementares:• As telenovelas de hoje são originárias dos folhetins inclusive

a fórmula: amor em conflito, intrigas, vitória do bem sobre o mal e o final feliz.

Música romântica brasileira• Carlos Gomes inspirou-se no romance

“O Guarani” para compor sua famosa ópera “O Guarani”, que estreou em 19 de março de 1870, no teatro Scala de Milão.

Pintura Romântica• Os pintores românticos brasileiros, den-

tro do espírito nacionalista, retrataram fatos históricos importantes (chegam a dar uma dimensão épica aos mesmos). Destaque para Pedro Américo, Victor Meireles.

Destaque para Manuel de Araújo Porto-Alegre que além da pintura histórica, pintou a paisagem brasileira.

Cartaz de estreia em Milão (1870)

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Tópico 3

Questões PropostasTexto IEnquanto os romances românticos são, em geral, do tipo sentimental, .......... de .......... pertence ao gênero do romance de costumes. Os primeiros têm seu interesse centrado nos conflitos das personagens; o segundo na apresentação da vida cotidiana do povo, com seus hábitos, comportamentos e valores típicos.

01. Assinale a alternativa que preenche corretamente o texto I.a) O Ateneu, de Raul Pompeia.b) Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Manuel Antônio de Almeida.c) Quincas Borba, de Machado de Assis.d) Senhora, de José de Alencar.e) Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de

Almeida.

02. (UFRRJ) Sobre a obra O Guarani, foram feitas as seguintes afirmativas:I. É representante da tendência indianista no Romantismo brasileiro, que

relaciona o índio à figura do “bom selvagem”, homem puro, honesto, livre das corrupções sociais e dos vícios da civilização branca.

II. O índio é retratado, neste romance, como de resto em todo o Ro-mantismo, como um digno representante da nação brasileira, como um símbolo de liberdade e valentia.

III. O romance indianista surge como uma busca de valorização de nossas origens históricas.

IV. Essa obra se insere na vertente do romance sertanejo ou regionalista, que surge da atração pelo que há de pitoresco no interior do país.

Estão corretas:a) I, II e IV. b) I, II e III. c) I e II apenas. d) I e III apenas. e) III e IV apenas.

03. (UCP-PR) Coube a ... atingir o ponto mais alto do teatro romântico brasileiro. Numa linguagem simples e correta, retratou os variados tipos da sociedade do século XIX.a) Martins Pena.b) Procópio Ferreira .c) Joaquim Manuel de Macedo. d) Machado de Assis. e) Cornélio Pena.

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Tópico 4

Eça de Queiroz

EScOLA rEALiSTA

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: O Romantismo era a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para conde-nar o que houver de mau na nossa sociedade.”

(Eça de Queiroz)

Origem A segunda metade do século XIX, o mundo, em especial, a Europa, vai passar por uma série de transformações político-ideológica, socioeconômica e científico-filosófica que marcarão o século e os rumos da humanidade no futuro. A razão domina o homem, pois há a consci-ência de que os problemas da humanidade devem ser resolvidos pela aplicação da razão, da lógica, da inteligência.

Vejamos alguns fatos que influenciaram essas mudanças:

• II Revolução Industrial → Aperfeiçoamento e dinamismo no processo da produção, desenvolvimento da indústria quími-ca. A perspectiva de emprego na indústria (que emprega cada vez menos devido ao avanço tecnológico) gera um êxodo rural que por sua vez provoca deteriorização dos grandes centros urbanos e o aumento de áreas de segregação social (periferia).

• Revolução Comercial → Na esteira da revolução industrial promove uma transformação na estrutura econômica, os negócios familiares dão lugar aos grandes conglomerados empresariais (imperialismo burguês), enriquecendo a bur-guesia urbana, que vive o poder econômico e político em detrimento do espólio colonial.

• Teoria da Evolução → Charles Darwin aprofunda a teoria do “evolucionismo”, de Lamarck e, em 1859, publica a sua obra “Origem das Espécies”, apresentando a “teoria da se-leção natural” que, em síntese, afirma que “os mais fortes sobrevivem e perpetuam-se”.

• Determinismo → Hipolyte Taine desenvolve a concepção do comportamento do homem a partir de três aspectos básicos: o meio, a raça e o momento histórico (base da Sociologia)

• Positivismo → Auguste Comte defende o princípio da filosofia empírica, o conhecimento positivo tem origem na capacidade do homem desenvolver a ciência física, portanto válido.

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• Socialismo Científico → Karl Marx e Friedrich Engels pu-blicam em 1848 (ano em que aconteceram vários distúrbios sociais, greves na Alemanha, Itália e França), o “Manifesto Comunista” que defendiam um sistema de sociedade igua-litária sem a exploração do homem pelo homem, mostram a relação conflitante entre capital e trabalho, defendem a luta de classes e a eliminação da burguesia, responsável pelo desequilíbrio social. Essa postura opõe-se ao socialismo utópico de Proudhon e Robert Owen que defendiam uma sociedade igualitária sem lutas de classes.

Gustave Flaubert

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A ArTE rEALiSTA Portanto, para o artista, não havia mais clima para heróis/he-roínas, fantasia, mundos perfeitos e solitários, era preciso participar. A arte despede-se do sentimentalismo romântico, o artista agora interage como participante e observador do mundo e sua obra é o espelho desse mundo. A questão não é o bem x mal, mas o homem comum, com seus conflitos, problemas, limitações, mostrar as falhas e refletir sobre elas como forma de estimular as transformações do homem e dos sistemas institucionais.

Esquema Comparativo

Romantismo RealismoSubjetivo ObjetivoEmoção Razão

Individual UniversalImaginação Verossimilhança

Sentimentalismo ImparcialidadePassado Contemporaneidade

Mulher idealizada Mulher dissimuladaVirtude Ambição/egoísmo

Dignidade ImoralLinguagem culta metafórica Linguagem culta precisa

Idealismo Materialismo

Descrição idealizada detalhada Descrição objetiva pormenori-zada

Personagem plana Personagem psicológica

A “Escola Realista” apresenta três tendências literárias dis-tintas, embora tenham o mesmo princípio básico, o anti-Romantismo, apresentam estruturas formais e ideológicas distintas.

• Realismo → embora o termo generalize, pois se pode identificar o realismo artístico em todas as épocas, o Realismo da segunda metade do século XIX analisa as relações conflitantes entre homem e a mulher, a sociedade, o Estado, a família, a Igreja, destacando os aspectos psicológicos dessas relações.

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Tópico 5

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O Realismo surgiu na França com a publicação do livro “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert em 1857, no Brasil com “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, em 1881.

• Naturalismo → Assume o Realismo, acrescen-tando-lhe “uma visão cientificista da existência”. Chamado de romance de tese ou romance experimental. Teve início na França com a publi-cação da obra “Thérèse Raquin” de Émile Zola em 1867, considerado expoente do naturalismo francês, sua obra-prima é Germinal. No Brasil, teve início com a publicação de “O Mulato”, de Aluísio Azevedo, em 1881.

• Parnasianismo → é a poesia do período, retoma os valores clássicos da arte. Teve início a partir de 1866, na França com a publicação da Revista “Parnase Contemporain”, dirigida por Théophile Guatier.

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Templo positivista no Brasil (Rio de Janeiro)

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cArAcTEríSTicAS

• Temática → a preocupação do artista é com a verdade, através da observação, da análise crítica, ele interpreta o mundo, a vida cotidiana, o momento presente ligado ao contexto histórico, as relações humanas, desnudando as motivações ocultas do homem.

• Linguagem → despojada de recursos linguísticos e estilís-ticos, elimina-se o superficial e valoriza a essência, aban-donando o discurso adjetivado do romantismo. A linguagem é objetiva, concisa, direta, o artista trabalha a palavra com precisão.

• Contemporaneidade → a preocupação com real, concre-to, acontecimentos e personagens ligados ao presente, abandona-se a valorização do passado, o caos urbano substitui a natureza idealizada, os heróis folhetinescos dão lugar a homens com seus defeitos, sua pequenez, vilania e virtude.

• Verossimilhança → o artista é fiel ao real, aproximando a realidade da ficção.

• Racionalismo → investigação objetiva do indivíduo, o que favorece a análise psicológica do mesmo.

• Objetividade → o artista deve ser imparcial na narrativa. O predomínio de narrativas em terceira pessoal. Essa narrativa favorece a neutralidade do narrador diante do fato narrado, dando uma impressão de independência das persona-gens.

• Pessimismo → o artista não acredita na possibilidade de se estabelecer uma estrutura de sociedade justa, por isso apresenta uma visão amarga da existência.

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Tópico 6rEALiSmO NO BrASiL O cenário histórico das últimas décadas do século XIX é um dos mais tensos desse período. Como exemplos temos: A fundação do Clube Republicano, a Questão Religiosa, a Questão Militar, a Aboli-ção e a República, que embora não ameaçaram a solidez da sociedade agrária (a classe rural exportadora) deram margem para o despertar do “pensamento crítico” da classe média nos principais centros urbanos da época. A expansão do Positivismo no Brasil (a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro comemorava publicamente a Festa da Humanidade com 174 membros) que passava a interferir, a determinar posturas nos acontecimentos políticos da época, além da postura anti-romântica de-fendida por Sílvio Romero que afirmou sobre o romantismo: apresenta um “lirismo retumbante e indianismo decrépito”, na década de setenta, decreta a decadência do mesmo. O Realismo-Naturalismo no Brasil é pouco identificado com os princípios do movimento europeu, já que apresenta uma visão de mundo voltada para um Brasil predominantemente agrário e trabalho escravo (diferente de uma Europa industrializada, burguesa, operária) teve as primeiras publicações em 1881. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis para o Realismo e O Mulato, de Aluísio Azevedo para o Naturalismo.

Principais Romances do Realismo/Naturalismo

1881 → Mulato (Aluísio Azevedo) → Memórias Póstumas de Cubas (Machado de Assis)1884 → Casa de Pensão (Aluísio Azevedo)1888 → Missionário (Inglês de Sousa) → Ateneu (Raul Pompeia).1890 → Cortiço (Aluísio Azevedo)1891 → Quincas Borba (Machado de Assis)1893 → A Normalista (Adolfo Caminha)1895 → Bom-Crioulo (Adolfo Caminha)1899 → Dom Casmurro (Machado de Assis)1903 → Luzia-Homem (Domingos Olímpio)1904 → Esaú e Jacó (Machado de Assis)1908 → Memorial de Aires (Machado de Assis)

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Academia Brasileira de Letras

Machado de Assis

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mAcHAdO dE ASSiS (1839-1908)Principais obras:

Primeira Fase → Queda que as Mulhe-res Têm pelos Tolos (teatro, 1861); Desencantos (teatro, 1861); Crisálidas (poesias, 1864); Quase Ministro (teatro, 1864); Os Deuses de Casaca (teatro, 1866); Contos Fluminenses (1869); Felenas (poesia, 1869); Ressurreição (romance, 1872); Histórias da Meia-Noite (conto, 1873); A Mão e a Luva (roman-ce, 1874); Americanas (poesia, 1875); Helena (romance, 1876); Iaiá Garcia (romance, 1878).

Segunda Fase → Memórias Póstumas de Brás Cubas (romance, 1881); Tu, Só Tu, Puro Amor... (teatro, 1881); Papéis Avulsos (contos, 1882); Histórias Sem Data (contos, 1884); Quincas Borba (romance, 1891); Vá-rias Histórias (contos, 1896); Dom Casmurro (romance, 1899); Páginas Recolhidas (contos, 1899); Ocidentais, in Poesias Completas (1901); Esaú e Jacó (romance, 1904); Relíquias de Casa Velha (contos, 1906); Memorial de Aires (romance, 1908).

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento (hoje Morro da Providência), filho de um mulato, pintor de paredes e de uma portuguesa da Ilha dos Açores. Mulato, pobre, tímido, gago, epilético, passou a infância no Morro do Livramento, ficou órfão, após os estudos básicos, passa por vários empregos. Aos quinze anos foi trabalhar no jornal “Marmota Fluminense”, de propriedade de Paulo de Brito e lá publicou o seu primeiro soneto “A Palmeira”. Trabalhou no “Correio Mercantil”. Foi funcionário público, primeiro trabalhou no Diário Oficial depois na Secretaria de Agricultura, o que permitiu ao autor exercer de forma livre sua vocação literária. Casou-se com a portuguesa Carolina Xavier Novais, mulher culta, sua companheira por 35 anos. Machado é um autor múltiplo, além de jornalista, escreveu crônicas, crítica literária, crítica teatral, poesia, teatro, romances e contos. Dessa ex-tensa e variada produção, o autor se destaca como romancista e contista, sendo o conto (em torno de duzentos) considerado o melhor da prosa de ficção do Autor.

Sua ficção está dividida em duas fases:

Primeira Fase – Romântica

A produção literária dessa fase está relacionada com a postura idealista do Romantismo, portanto apresenta características românticas como:

• Linguagem → adjetivada, metafórica.• Personagens → lineares, previsíveis, esquematismos psico-

lógicos próprios do Romantismo.

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São dessa fase os romances: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), este considerado pela crítica como obra de transição.

Segunda Fase – Realismo

A mudança é radical, abandona a postura romântica e surge um novo autor. Machado de Assis, a partir desse momento, produziu os livros mais significativos de sua criação literária. Nessa fase não há o colorido romântico, mas uma análise complexa da essência humana, predomina a sondagem do interior da personagem, o realismo não é lúdico, desaparecem as intrigas. A narrativa é lenta e sempre revela o oculto do ser. Examina as atitudes externas, casuais para chegar ao mundo encoberto, expondo a mediocridade do homem. Descobrir nos pequenos detalhes de uma narrativa lenta a vaidade, o egoísmo, a futilidade, os equívocos, a preguiça da existência. Machado é sutil e o leitor deve estar atento às suas sutilezas, como ele advertiu numa crônica: “Eu gosto de contar o mínimo e o es-condido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita, aguda, que descobre o encoberto”. Precursor de vários aspectos do Modernismo, como: capítulos curtos, quebra da estrutura linear do romance. Cronologicamente inserido no Realismo mas Machado de Assis é um escritor peculiar, de estilo personalíssimo cuja obra apresenta um compromisso com a realidade.

CARACTERÍSTICAS DA SEGUNDA FASE

Personagens

Não são heróis, os homens são medíocres, limitados ao status social a que pertencem, egoístas.

As mulheres são tolas, vaidosas e dissimuladas, su-perficiais, mas são elas que conduzem e dominam o jogo amoroso. São manipuladoras. Mário de Andrade escreveu: “ As mulheres de Machado de Assis são piores do que os homens”.

Numa sociedade patriarcalista, usam em sua defesa a ambiguidade, a mentira, a dissimulação como armas. Ex.: Sofia, Virgília, Capitu, Rita, dona Con-ceição, dona Severina, Natividade.

Adultério feminino

Presente em vários contos e romances, às vezes, como jogo de sedução de Sofia em “Quincas Borba”. É tema central de “D. Casmurro” e importante em, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

PessimismoMachado tem uma profunda descrença dos homens, é racional, fruto de sua lucidez na análise da essên-cia do homem.

Ironia Maliciosa, sutil, elegante.

Hipocrisia Marca da segunda fase machadiana. Trata-se da capacidade do homem de agir segundo as conven-ções sociais e seus interesses pessoais.

Egoísmo

As personagens são movidas por interesses pes-soais, cobiça, orgulho, vaidade. Ninguém age com grandeza, todos são guiados pelas fraquezas. Os fracos são vencidos, aniquilados.

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Razão e Loucura

Nega o conceito de fronteira entre a razão e a loucura. Não há padrão de comportamento pré-estabelecido. O homem age e reage de acordo com as circunstâncias.

Intertextuali-dade

Machado utiliza esse recurso que permite reflexões e explicações (metalinguagem), estabelecendo múltiplos

Intervenção na narrativa

O autor estabelece um possível diálogo com o leitor e com a crítica. Analisa, questiona, responde, explica. Muitas vezes irônico, desperta para uma leitura crítica.

Para ler Machado de Assis é preciso desconstruir sua narrativa, ficar atento aos detalhes, mesmo que aparentemente não tenham significados e depois reconstruir a narrativa.

Machado desmascara as aparências do comporta-mento do homem.

APARÊNCIA REALIDADEAmor Desamor

Solidário EgoístaAutêntico Dissimulado

Moral ImoralOrdem Desordem

TextosMemórias Póstumas de Brás Cubas(fragmento Cap. XV - Marcela) Teve duas fases a nossa paixão, ou ligação, ou qualquer outro nome que eu de nomes não curo; teve a fase consular e a fase imperial. Na primeira, que foi curta, regemos o Xavier e eu, sem que ele jamais acreditasse dividir comigo o governo de Roma; mas quando a credulidade não pôde resistir à evidência, o Xavier depôs as insígnias, e eu concentrei todos os meus poderes na minha mão; foi a cesariana. Era meu universo; mas, aí triste! não o era de graça. Foi-me preciso coligir dinheiro, multiplicá-lo, inventá-lo. Primeiro explorei as larguezas de meu pai; ele dava-me tudo o que lhe pedia, sem repreensão, sem demora, sem frieza; dizia a todos que eu era rapaz e que ele o fora também. Mas a tal extremo chegou o abuso, que ele restringiu um pou-co as fraquezas, depois mais. Então recorri a minha mãe, e induzi-a a desviar alguma coisa, que me dava às escondidas. Era pouco; lancei mão de um recurso último: entrei a sacar sobre a herança de meu pai, a assinar obrigações, que devia resgatar com usura. — Em verdade - dizia-me Marcela, quando lhe levava alguma seda, alguma joia – em verdade, você quer brigar comigo... Pois isto é coisa que se faça... um presente tão caro... E, se era joia, dizia isto a contemplá-la entre os dedos, a procurar melhor a luz, a ensaiá-la em si, e a rir e a beijar-me com uma reincidência impetuosa e sincera; mas, protestando, derramava-se-lhe a felicidade dos olhos e eu sentia-me feliz com vê-la assim. Gostava muito das nossas dobras de ouro, e eu levava-lhe quantas podia obter; Marcela juntava-as todas dentro de uma caixinha de ferro, cuja chave ninguém nunca jamais soube onde ficava; escondia-a por medo dos escravos. A casa em que morava, nos Cajueiros, era própria. Eram sólidos e bons os móveis, de jacarandá lavrado, e todas as demais alfaias, espelhos, jarras, baixela, - uma linda baixela de Índia que lhe doara um desembargador.

Baixela do diabo, deste-me grandes repelões aos nervos. Disse-o muita vez à própria dona; não lhe dissimulava o tédio que me faziam esses e outros despojos dos seus amores de antanho. Ela ouvia-me e ria, com uma expressão cândida – cândida e outra coisa, que eu nesse tempo não entendia bem; mas agora, relembrando o caso, penso que seria um riso misto, como devia ter a criatura que nascesse, por exemplo, de uma bruxa de Shakespeare com um serafim de Klospstock. Não sei se me explico. E porque tinha notícia dos meus zelos tardios, parece que gostava de os açular mais. Assim foi que um dia, como eu lhe não pudesse dar certo colar, que ela vira num joalheiro, retorquiu-me que era um simples gracejo, que o nosso amor não precisava de tão vulgar estímulo. Dizia isto, metendo a mão no seio e tirando uma cruz fina, de ouro, presa a uma fita azul e pendurada ao colo. __ Mas essa cruz – observei eu – não me disseste que era teu pai que... Marcela abanou a cabeça com um ar de lágrima: __ Não, percebes que era mentira, que dizia isso para te não molestar? Vem cá, chiquito, não sejas tão desconfiado comigo... Amei a outro; que importa, se acabou? Um dia, quando nos separamos... __ Não digas isso! – bradei eu. __ Tudo cessa! Um dia... Não pôde acabar; um soluço estrangulou-lhe a voz; estendeu as mãos, tomou das minhas, aconchegou-me ao seio, e sussurrou-me baixo ao ouvido: - Nunca. Nunca, meu amor! – Eu agradeci-lhe com os olhos úmidos. No dia seguinte levei-lhe o colar que havia recusado. __ Para te lembrares de mim, quando nos separarmos – disse eu.Marcela teve primeiro um silêncio indignado; depois fez um gesto mag-nífico: tentou atirar o colar à rua. Eu retive-lhe o braço; pedi-lhe muito que não fizesse tal desfeita, que ficasse com a joia. Sorriu e ficou. Entretanto, pagava-me à farta os sacrifícios; espreitava os meus mais recônditos pensamentos; não havia desejo a que não acu-disse com alma, sem esforço, por uma espécie de lei da consciência do coração. Nunca o desejo era razoável, mas um capricho puro, uma criancice, vê-la trajar de certo modo, com tais e tais enfeites, este ves-tido e não aquele, ir a passeio ou outra coisa assim, e ela cedia a tudo, risonha e palreira. __ Você é das Arábias – dizia-me. E ia pôr o vestido, a renda, os brincos, com uma obediência de encantar.

(Fragmento do Cap. XV - Marcela.)

QUINCAS BORBA(Capítulo VI)

Para entenderes bem o que é a morte e a vida, basta contar-te como morreu minha avó. __ Como foi? __ Senta-te. Rubião obedeceu, dando ao rosto o maior interesse possível, enquanto Quincas Borba continuava a andar. __ Foi no Rio de Janeiro - começou ele - , defronte da Capela Imperial, que era então Real, em dia de grande festa; minha avó saiu, atravessou a adro, para ir ter à cadeirinha, que a esperava no Largo do Paço. Gente como formiga. O povo queria ver entrar as grandes senhoras

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nas suas ricas traquitanas. No momento em que minha avó saía do adro para ir à cadeirinha um pouco distante, aconteceu espantar-se uma das bestas de uma sege; a besta disparou, a outra imitou-a, confusão, tumulto, minha avó caiu, e tanto as mulas como a sege passaram-lhe por cima. Foi levada em braços para uma botica da Rua Direita, veio um sangrador, mas era tarde; tinha a cabeça rachada, uma perna e o ombro partidos, era todo sangue, expirou minutos depois. __ Foi realmente uma desgraça - disse Rubião. __ Não. __ Não? __ Ouve o resto. Aqui está como se tinha passado o caso. O dono da sege estava no adro, e tinha fome, muita fome porque era tarde, e almoçara cedo e pouco. Dali pôde fazer sinal ao cocheiro; este fustigou as mulas para ir buscar o patrão. A sege no meio do caminho achou um obstáculo e derribou-o; esse obstáculo era minha avó. O primeiro ato dessa série de atos foi um movimento de conservação: Humanitas tinha fome. Se em vez de minha avó, fosse um rato ou um cão, é certo que minha avó não morreria, mas o fato era o mesmo: Humanitas precisa comer. Se em vez de um rato ou de um cão, fosse um poeta, Byron ou Gonçalves Dias, diferia o caso no sentido de dar matéria a muitos necrológios; mas no fundo subsistia. O universo ainda não parou por lhe faltarem poemas mortos em flor na cabeça de um varão ilustre ou obscuro; mas Humanitas (e isto importa, antes de tudo), Humanitas precisa comer. Rubião escutava com a alma nos olhos, sinceramente de-sejoso de entender; mas não dava pela necessidade a que o amigo atribuía a morte da avó. Seguramente o dono da sege, por muito tarde que chegasse à casa, não morria de fome, ao passo que a boa senhora morreu de verdade, e para sempre. Explicou-lhe, como pôde, essas dúvidas, e acabou perguntando-lhe: __ E que Humanitas é esse? __ Humanitas é o princípio. Mas não, não digo nada, tu não és capaz de entender isto, meu caro Rubião; falemos de outra coisa. __ Diga sempre. Quincas Borba, que não deixara de andar, parou alguns instantes. __ Queres ser meu discípulo? __ Quero. __ Bem, irás entendendo aos poucos a minha filosofia; no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como a verdade. Crê-me, o Humanitismo é o remate das coisas; e eu, que o formulei, sou o maior homem do mundo. Olha, vês como o meu bom Quincas Borba está olhando para mim? Não é ele, é Humanitas... __ Mas que Humanitas é esse? __ Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível -, ou, para usar a linguagem do Grande Camões: Uma verdade que nas cousas anda, que mora no visível e no invisível. Pois essa substância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo? __ Pouco, mas ainda assim, como é que a morte de sua avó...

__ Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a ex-pansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas , rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As bata-tas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor as batatas. __ Mas a opinião do exterminado? __ Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias. __ Bem; a opinião da bolha... __ Bolha não tem opinião. Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. Repito, as bolhas ficam na água. Vês este livro? É Dom Quixote. Se eu destruir o meu exemplar, não elimino a obra, que continua eterna nos exemplares subsistentes e nas edições posteriores. Eterna e bela, belamente eterna, como este mundo divino e supradivino.

(Cap. VI.)

DOM CASMURROOlhos de Ressaca (Cap. XXXII)

Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha. __ Está na sala penteando o cabelo –

Retrato de Moça”, de Décio Villares

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disse-me –; vá devagarzinho para lhe pregar um susto. Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode ser que não fosse; era um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede, entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé. Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos, toda ela voou pelos ares, e só lhe ouvi esta pergunta: __ Há alguma coisa? __ Não há nada – respondi –; vim ver você antes que o Pe. Cabral chegue para a lição. Como passou a noite? __ Eu bem. José Dias ainda não falou? __ Parece que não. __ Mas então quando fala? __ Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por alto e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita... __ Que tem, tem – interrompeu Capitu. – E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho. __ Teimo; hoje mesmo ele há de falar. __ Você jura? __ Juro! Deixe ver os olhos, Capitu. Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade de estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalha-dos pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternida-de tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dante; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado agarrei-me definitivamente aos

cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe –, para dizer alguma coisa –, que era capaz de os pentear, se quisesse. __ Você? __ Eu mesmo. __ Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim. __ Se embaraçar, você desembaraça depois. __ Vamos ver.

Olhos de Ressaca (Cap.CXXIII)

Enfim chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem alguma lágrimas poucas e caladas... As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as delas; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os lhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

Produção literária de Machado de Assis

• Contos → escreveu mais de duzentos contos, sendo os mesmos considerados sua melhor produção na opinião dos críticos.

A estrutura concisa do conto não permite digressões, o que torna o texto mais fluente e direto sem perder características dos romances.

Destaque para → “O Alienista”, “O Espelho”, “Uns Braços”, “Missa do Galo”, “O Enfermeiro”, “A Cartomante”, “Um Apólogo”.

• Poesia → sofreu influência do romantismo, o que não combinava com a personalidade do autor, falta-lhe a sensibilidade poética. Como parnasiano buscou aprimorar a linguagem, e equilibrar forma e conteúdo.

• Teatro → construiu diálogos densos com forte tendência literária, o que dificulta a representação. Embora bem escritas, percebe-se que Machado de Assis não dominava plenamente a estrutura teatral.

• Crônicas → Machado revela-se, aqui, um observador irônico da sociedade.

Questões PropostasTexto 1 para as questões 1 e 2 No meio disso, a que vinha agora uma criança deformá-la por meses, obrigá-la a recolher-se, pedir-lhe as noites, adoecer dos dentes e o resto? Tal foi a primeira sensação da mãe, e o primeiro ímpeto foi esmagar o gérmen. Criou raiva ao marido. A segunda sensação foi me-lhor. A maternidade, chegando ao meio-dia, era como uma autora nova e fresca. Natividade viu a figura do filho ou filha brincando na relva da chácara ou no regaço da aia, com os três anos de idade, e este quadro

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daria aos trinta e quatro anos que teria então um aspecto de vinte e poucos... Foi o que a reconciliou com o marido.

(Esaú e Jacó, de Machado de Assis)

01. (ESPM) Quanto ao texto, pode-se depreender que:a) Em “o primeiro ímpeto foi esmagar o gérmen”, a personagem se

caracteriza por uma ojeriza ao marido devido às origens dele.b) No primeiro período do texto, a patologia da personagem parturiente

é nítida, pois se expõe sua deformação e adoecimento.c) No último período do primeiro parágrafo, existe uma imagem tida

como impura (“regaço da aia”) para os padrões do autor.d) É possível entender que a sensação melhor da gravidez se deu

através da reconciliação com o marido da personagem em foco.e) A maternidade que chega ao “meio-dia” é uma metáfora da meia-idade

da mulher, também chamada balzaquiana.

02. (ESPM) Considerando os aspectos histórico-literários, pode-se afirmar que o texto:a) apresenta aspectos do Barroco por mostrar os conflitos existenciais

da personagem influenciada pela religiosidade (daí o título da obra Esaú e Jacó).

b) é coerente com o padrão do Realismo ao enfocar uma crítica social à questão da rejeição da maternidade e o consequente abandono dos filhos.

c) tem afinidade com o Naturalismo ao enfatizar o Determinismo biológico e as personagens patológicas.

d) está contra o padrão do Romantismo, imediatamente anterior à obra, uma vez que não idealiza o instinto maternal e a mulher.

e) faz sintonia com a poesia do Parnasianismo, pois apresenta a obses-são pela forma no vocabulário e o tema clássico greco-latino.

03. (Unirio-RJ) Sobre o Realismo, assinale a afirmativa correta.a) O romance é visto como distração e não como meio de crítica às

instituições sociais decadentes.b) Os escritores realistas procuram ser pessoais e objetivos.c) O romance sertanejo ou regionalista originou-se no Realismo.d) O Realismo constitui uma oposição ao idealismo romântico.e) O Realismo vê o Homem somente como um produto biológico.

Lendo No Jardim, de Honoré Daumier

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EScOLA rEALiSTA PArTE 2

NaturalismoOrigem O Naturalismo é uma extensão do Realismo, pois se funda-menta nos mesmos preceitos e características do Realismo. Os Naturalistas têm como referência princípios científicos: ao dissecarem a personagem, buscam estabelecer uma relação de causa e efeito. O homem é, assim, preso às forças atávicas do inconsciente, que dão origem às doenças orgânicas, matrizes de anomalias compor-tamentais. A análise do comportamento humano — a partir da herança biológica (atavismo) e do determinismo (a raça, o meio e o momento) — permite definir e determinar as patologias. Descrevem-se sem sutileza o asqueroso, o repugnante, o bestial, o obsceno, e torna-se a personagem “matematicamente previsível”. Através do psicofisiologismo, o romance naturalista assume um caráter de tese, faz a literatura de laboratório

(onde as teorias são experimentadas) e a personagem de cobaia; daí também ser denominado de romance experimental. A personagem realista é moralmente frágil. Vaidade, interesse, egoísmo lastreiam seus atos, muitas vezes para quebrar a monotonia ou a mediocridade da própria existência: Sofia e Cristiano Palha (Quincas Borba); Virgília, Marcela e Brás Cubas (Memórias Póstumas de Brás Cubas); Ema Bovary (Madame Bovary). No Naturalismo, a personagem é imoral ou amoral, pois é movida pelo apelo da carne, do instinto: Rita Baiana e João Romão (O Cortiço); Cônego Diogo (O Mulato).

características

Visão determinista do homem: O homem é mecânico e segue as leis físico-químicas (hereditariedade, meio físico e social).• determinismo do meio – tese funda-

mental do naturalismo; o comporta-mento do homem é um reflexo do seu meio, o ambiente se projeta diante da fragilidade do indivíduo, envolvendo-o e aniquilando-o.

• determinismo do instinto – por mais racional que seja, o indivíduo não consegue domar seus instintos, o homem é considerado um animal preso a forças fatais e superiores que o impedem de reagir dos deslizes comportamentais como: crimes, taras, luxúria.

• determinismo hereditário – segundo as teorias biológicas domi-nantes na época “O homem recebia por herança o temperamento”; sendo, portanto, decisivo no desenvolvimento comportamental do homem, ou seja, o indivíduo herdava dos antepassados as anomalias psíquicas e também as físicas que, por sua, vez passavam aos des-cendentes. Daí os naturalistas criarem um universo de personagens patológicas (bêbados, devassos, incestuosos, assassinos, prostitutas, mórbidos).

Crítica social: os naturalistas têm preferência por temas associados às patologias sociais, e fazem uma crítica social direta, o que os diferenciam dos autores do realismo, que são sutis.Pessimismo: o naturalismo é fatalista, pois os autores não acreditam na capacidade do homem de agir de forma independente, pois o mesmo não é capaz de dominar, transformar e controlar a sociedade.Descrição: detalhada, precisa, minuciosa. Esse recurso é usado exaus-tivamente pelos naturalistas, o que torna a narrativa lenta e pictórica.

Quadro Comparativo

Realismo NaturalismoPsicológico Patológico

Razão InstintoPredomina a narração Predomina a descrição

Hipocrisia Anomalias comportamentais

Tópico 7

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Aluísio Azevedo (1857-São Luís - mA- 1913 - Buenos Aires/Argentina)

Principais Obras: Uma Lágrima de Mulher; O Mulato; Mistérios da Tijuca; Casa de Pensão; O Cortiço; A Mortalha de Alzira; Memórias de um Condenado; Filomena Borges; O Homem; O Coruja; O Livro de uma Sogra (romances); Demônios (contos); O Touro Negro (crônicas).

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo é considerado o maior representante da literatura naturalista do Brasil, chegou ao Rio de Janeiro com 19 anos, convidado pelo irmão Arthur Azevedo, trabalhou como caricaturista e ilustrador para alguns jornais e estudou na Imperial Academia de Belas-Artes. Iniciou na ficção em 1879 quando publicou seu primeiro ro-mance, de características românticas “Uma Lágrima de Mulher”. Em 1881 publicou “O Mulato”, que teve um lançamento planejado e anunciado em jornais, inaugurando o Naturalismo no Brasil, que foi muito bem recebido pelos críticos liberais do Rio de Janeiro e abominado pelos conservadores, principalmente em São Luís, pois a obra não só tem como cenário a própria São Luís como Aluísio mostra, criticamente, a miséria social, moral e clerical da cidade. A obra de Aluísio Azevedo é diver-sificada, pois como o autor queria viver de literatura, escreveu romances de consumo fácil, bem ao gosto popular (dramalhões românticos) os quais denominou de “comerciais” e romances naturalistas (elaborados de acordo com as novas tendências literárias de então) chamados de “artísticos”. É, portanto, com a trilogia naturalista, “O Mulato”, “Casa de Pensão” e “O Cortiço”, influenciado pelas teorias cientificistas e seguindo as ideias de Émile Zola e Eça de Queiroz que Aluísio Azevedo escreveu romances de teses, deixa o individual e volta-se para a coletividade, ob-servador e pesquisador da realidade, prioriza as classes marginalizadas, o que dá uma forte conotação social aos seus romances. Em sua obra prima “O Cortiço”, o protagonista é o próprio cortiço, cenário degradante que esmaga e anula os personagens, tornando-os figurantes. Aluísio Azevedo usa uma linguagem elaborada com sintaxe clássica.

Textos

O MULATO

“... Se Ana Rosa fazia em casa qualquer diabrura, que desagra-dasse a mãe-preta, esta a repreendia imediatamente, com autoridade; desde, porém, que a acusação ou a reprimenda partissem de outro, fosse embora do pai ou da avó, punia logo pela menina e voltava-se contra os mais. Havia seis anos que era forra. Manuel dera-lhe a carta a pedido da filha, o que muita gente desaprovou, “terás o pago!...” diziam-lhe. Mas a boa preta deixou-se ficar em casa dos seus senhores e continuou a desvelar-se pela Iaiá melhor que até então, mais cativa do que nunca. Ana Rosa, mal ficou sozinha, no aconchego confidencial ilu-minado da sua rede, na íntima tranquilidade do seu quarto, frouxamente iluminado à luz mortiça do candeeiro de azeite, principiou a passar em revista todos os acontecimentos desse dia. Raimundo avultava dentre a multidão dos fatos como uma letra maiúscula no meio de um período de Lucena; aquele rosto quente, de olhos sombrios, olhos feitos do azul do

mar em dias de tempestade, aqueles lábios vermelhos e fortes, aqueles dentes mais brancos que as presas de uma fera, impressionavam-na profundamente. “Que espécie de homem estaria ali!...”Procurava com insistência recordar-se dele em algum dos episódios da sua infância, nada! Diziam-lhe, entretanto, que brincara com ela em pequenino, e que foram amigos, companheiros de berço, criados juntos, que nem irmãos. E todas estas coisas lhe produziam no espírito um efeito muito estranho e singular. As meias sombras, as reservas, e as reticências, com que a medo lhe falavam dele, ainda mais interessante o tornavam aos olhos dela. “Mas, afinal, quem seria ao certo aquele belo moço?...” Nunca lho explicaram; paravam em certos pontos, saltavam sobre os outros como por cima de brasas; e tudo isto, todos estes cla-ros, que deixavam abertos a respeito do passado de Raimundo, todos esses véus em que o envolviam como a uma estátua que se não pode ver, emprestavam-lhe atrações magnéticas, um encanto irresistível e perigoso de mistério, uma fascinação romântica de abismo.”

(AZEVEDO, Aluísio. O Mulato. 3. ed. São Paulo: Ática, 1992. p.77. (Série Bom Livro))

CASA DE PENSãO... Ao chegar foi direito à mulher, dizendo-lhe em voz baixa, antes de mais nada: ― Olha cá, Loló... E encaminhou-se para o quarto. Mme. Brizard largou o que tinha entre as mãos e seguiu-o atentamente. ― Sabes? ― disse ele, sem transição, assentando-se ao rebordo da cama. ― É preciso arranjarmos cômodo para um rapaz que há de vir por aí domingo. ― Um rapaz! Mas tu sabes perfeitamente que os quartos acham-se todos ocupados. Se tivesse prevenido... o nº 2 ainda ontem estava vazio... Mas quem é? ― Há de se arranjar, seja lá como for! ― disse o Coqueiro. ― Mas quem é?... ― insistiu Mme. Brizard. ― É um achado precioso! Ainda não há dois meses que che-gou do Norte, anda às apalpadelas! Estivemos a conversar por muito tempo: ― é filho único e tem a herdar uma fortuna! Ah! Não imaginas: só pela morte da avó, que é muito velha, creio que a coisa vai além de quatrocentos contos!... Mme. Brizard escutava, sem despregar os olhos de um ponto, os pés cruzados e com uma das mãos apoiando-se no espaldar da cama. ― Ora ― continuou o outro gravemente. ― Nós temos de pensar no futuro de Amelinha... Ela entrou já nos vinte e três!... se não abrirmos os olhos... adeus casamento! ― Mas daí... ― perguntou a mulher, fugindo a participar da confiança que o marido revelava naquele plano. ― Daí ― é que tenho cá um palpite! ― explicou ele. ― Não conheces o Amâncio!... A gente leva-o para onde quiser!... Um simplório, mas o que se pode chamar um simplório! Mme. Brizard fez um gesto de dúvida. ― Afianço-te ― volveu Coqueiro ― que, se o metermos em casa e se conduzirmos o negócio com um certo jeito, não lhe dou três meses de solteiro! A francesa torcia e destorcia em silêncio uma de suas madei-xas de cabelo preto, que lhe caíam na testa. ― E ele terá fraco pelas mulheres? ― perguntou afinal. O estudante respondeu com um gesto de convicção, e acrescentou: ― Negócio decidido! A questão é arranjar-lhe o cômodo, e já! Tu ― fala com franqueza à Amelinha; a mim não fica bem... Olha, até me lembrou dar-lhe o gabinete... Hein? Por pouco tempo... e só enquanto não se desocupa algum dos quartos... ― O gabinete?... mas tão atravancado... e tão apertadinho!... ―Dá-se-lhe um jeito! Arranja-se! Contanto que o nosso ho-mem não deixa de vir; porque, Loló, lembra-te de que é um “filho único, com muito dinheiro e tolo”! Hoje não se encontra disso a cada passo!... Se perdermos a ocasião, duvido que apareça outra tão boa! Enfim ―

Aluísio de Azevedo

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Caricatura do autor, feita por ele mesmo – Publicada no jornal – O Fígaro RJ

13/5/1876.

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Cortiço

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resumiu ele ―, eu já fiz o que tinha a fazer; o resto é contigo! Fala à Amelinha, mas fala-lhe com jeito, tu sabes! ― pinta-lhe a coisa como ela é!... e não te esqueças de arranjar o gabinete. Até logo, tenho ainda que ir à rua, mas volto daqui a pouco.

(AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. São Paulo, Editora Scipione, 1995 (Os Clássicos Scipione)

O CORTIçO Eram cinco horas da manhã e o

cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu, de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da

última guitarra da noite anteceden-te, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, ume-decia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiram cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, forte como o marulhar das ondas, pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas des-piam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e barbas, fossando e fungando com as palmas das mãos. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

Raul Pompeia

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O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação

sanguínea, aquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo, Editora

Scipione, 1995 (Os Clássicos Scipione)

raul Pompeia (1863 - 1895)Principais Obras: Uma Tragédia no Amazonas (1880); O Ateneu (1888); Canções sem Metro (1900, póstuma); As Jóias da Coroa (1962, póstuma).

Raul d’Ávila Pompeia nasceu em Angra do Reis e aos 10 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Estudou por alguns anos no internato Colégio Abílio cujo proprietário/diretor era Abílio César Borges (o Barão de Macaúbas), essa experiência foi interpretada em “O Ateneu” (1888). Nesse período organizou a publicação de um jornal manuscrito O Archote. Cursou o secundário no Colégio Pedro II. Come-çou o curso de Direito em São Paulo e concluiu-o em Recife. No período que passou em São Paulo envolveu-se com as causas abolicionistas e republicanas. Apesar de ter escrito várias outras obras ficou famoso com “O Ateneu”. Profundamente marcado pela experiência do internato, Raul Pompeia recria artisticamente esse período, utiliza a narrativa em primeira pessoa e através da personagem Sérgio, um homem adulto, projeta suas memórias, tornando a personagem uma extensão do autor, portanto, seu alter ego. “O talento criativo operou a transubstanciação: aqui a arte não imita a vida, recria-a, desvenda-a, assim alcançando o máximo de suas aspirações”.

(Massaud Moisés)

A forma como a personagem relata fatos, situações, experi-ências, alegrias, decepções, torna a narrativa intensa, densa e extre-mamente subjetiva.

“O Ateneu é uma narrativa de arte, a fábula do menino que se perdeu nos caldeirões infernais (simplesmente por ter vindo à vida e ingressado na escola) e que se lembra, em meio a interminável agonia, da salvação que a Arte pode representar”. (Massaud Moisés)

É uma obra complexa, singular e original cuja classificação foge dos padrões estéticos da época e do modelo europeu assim como Manuel Antônio de Almeida e Machado de Assis. “O Ateneu” está além de um rótulo Naturalista/Realista.

Características da obra O Ateneu:

• Naturalismo → o determinismo do instinto na temática da sexuali-dade, mas analisada sob uma ótica da subjetividade.

• Realismo → critica os valores morais, hipocrisia das classes privile-giadas.

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• Expressionismo → precursor da arte que expressa a realidade subjetiva dando destaque ao grotesco e caricatural. O deformado é reflexo do mundo interior do artista.

• Impressionismo → a classificação mais lógica para a obra, romance impressionista, pois o relato de Sérgio é a expressão de suas emo-ções e sentimentos, ao recordar-se do passado, tudo volta com tanta intensidade que faz sucumbir o Sérgio adulto.

A linguagem é elaborada, trabalhada, usa comparações, metáforas, símiles, o que torna o texto complexo e denso.

TextoO ATENEU (CRôNICAS DE UMA SAUDADE) [...] Era hora de descanso, passe-ávamos, conversando. Falamos dos colegas. Vi, então, de dentro da brandura patriarcal de Rabelo, descascar-se uma espécie de inespe-rada Tersito1, produzindo injúrias e maldições. “Uma cáfila! Uma corja! Não imagina, meu caro Sérgio. Conte como uma desgraça ter de viver com essa gente. ”Esbeiçou um lábio sarcástico para os rapazes que passavam. “Aí vão as carinhas sonsas, generosa mo-cidade... Uns perversos! Têm pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada de pele. Fiem-se neles. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos... Sócios de bandalheira! Fuja deles, fuja deles. Cheiram a corrupção, empestam de longe. Corja de hipócritas! Imorais! Cada dia de vida tem-lhes vergonha da véspera. Mas você é criança; não digo tudo o que vale a generosa mocidade. Com eles mesmos há de aprender o que são... Aquele é o Malheiro, um grande em ginástica. Entrou graúdo trazendo para cá os bons costumes de quanto colégio por aí. O pai é oficial. Cresceu num quartel no meio da chacota das praças. Forte como um touro, todos o temem, muitos o cercam, os inspetores não podem com ele; o diretor respeita-o; faz-se a vista larga para os seus abusos... Esse que passou por nós, olhando muito, é o Cândido, com aqueles modos de mulher, aquele arzinho de quem saiu da cama, com preguiça nos olhos... Esse sujeito... Há de ser seu conhecido. Mas faço exceções; ali vem o Ribas, está vendo? Feio coitadinho como tudo, mas uma pérola. É a mansidão em pessoa. Primeira voz do Orfeão, uma vozinha de moça que o diretor adora. É estudioso e protegido. Faz a vida cantando como os serafins. Uma pérola!”

— Ali está um de joelhos....? — De joelhos... Não há perguntar; é o Franco. Uma alma penada. Hoje é o primeiro dia, ali está de joelhos o Franco. Assim atra-vessa as semanas, os meses, assim o conheço nesta casa, desde que entrei. De joelhos como um penitente expiando a culpa de uma raça. O diretor chama-lhe cão, diz que tem calos na cara. Se não tivesse calos ao joelho, não haveria canto do Ateneu que ele não marcasse com o sangue de uma penitência. O pai é de Mato Grosso; mandou-o para aqui com uma carta em que o recomendava como incorrigível, pedindo severidade. O correspondente envia de tempos a tempos um caixeiro, que faz os pagamentos e deixa lembranças. Não sai nunca... Afastemo-nos que aí vem um grupo de gaiatos. Um tropel de rapazes atravessou-nos a frente, provocando-me com surriadas.

“Viu aquele da frente, que gritou calouro? Se eu dissesse o que se conta dele... Aqueles olhinhos úmidos de Senhora das Dores... Olhe; um conselho: faça-se forte aqui, faça-se homem. Os fracos perdem-se. “Isto é uma multidão; é preciso força dos cotovelos para romper. Não sou criança, nem idiota: vivo só o vejo de longe; mas vejo. Não pode imaginar. Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Quando, sem segredo dos pais, pensam que o colégio é a melhor das vidas, com o acolhimento dos mais velhos, entre brejeiro e afetuoso, estão perdidos... Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores.”

(POMPEia, Raul. O Ateneu. SP. Moderna, 1984).

01. (COVEST) Sobre os autores do Realismo/Naturalismo, numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª.1) Machado de Assis 2) Aluísio de Azevedo

( ) Em ‘O Cortiço’, as ideias naturalistas se conjugam para revelar as misérias existentes na capital do país.

( ) O autor inova na literatura brasileira pelo seu senso de coleti-vidade, pela descrição de multidão.

( ) Escreveu um romance, em que ataca o racismo, o reacionaris-mo clerical, a estreiteza do universo provinciano e descreve a lenta e difícil ascensão social do mestiço brasileiro.

( ) Autor de obras primas como ‘Quincas Borba’ e ‘Dom Casmurro’, é irônico, pessimista e crítico. Suas tramas quebram a estrutura linear e seu estilo é refinado e elegante, esmerando-se na correção linguística.

( ) Na sua 1ª fase, estava comprometido com o idealismo românti-co. Na 2ª fase, mais maduro, fazia a análise psicológica e social de temas da burguesia da época: o adultério, o parasitismo social, o egoísmo, a vaidade, o interesse, além da confusão entre a razão e loucura.

A sequência correta é:a) 1, 1, 2, 1 e 2. b) 2, 2, 1, 2 e 1. c) 1, 2, 1, 1 e 2 d) 2, 2, 2, 1 e 1. e) 2, 2, 1, 1 e 1.

02. (COVEST) O Realismo e o Naturalismo são movimentos surgi-dos na segunda metade do século XIX, marcado por transformações econômicas, científicas e ideológicas. Sobre esses dois movimentos, assinale a alternativa incorreta.a) Para o escritor realista, a neutralidade diante do tema é imprescindível.

Para isso, usa a narrativa em terceira pessoa. O naturalista observa também esse princípio, acrescentando uma aproximação das ciências experimentais e da filosofia positivista.

b) O realismo brasileiro teve poucos seguidores e uma de suas figuras marcantes foi Machado de Assis. Euclides da Cunha, com Os Sertões, foi outra figura de destaque no movimento.

c) O Naturalismo é considerado um prolongamento do Realismo, pois assume todos os princípios e as características deste, acrescentando-lhe, no entanto, uma visão cientificista da existência. No Brasil, o Naturalismo foi iniciado por Aluísio de Azevedo, que publicou O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço.

d) Ambos, Machado de Assis e Aluísio de Azevedo, iniciaram-se na es-tética romântica. Posteriormente, o primeiro seguiu a estética realista, e o segundo, a estética naturalista.

e) A fase realista de Machado de Assis pode ser observada nos seus contos e romances. Entre eles, se destacam Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, obras em que abordou temas como o adultério, o parasitismo social, a loucura e a hipocrisia.

Questões Propostas

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Apêndice

SíNTESE dAS OBrAS

Naturalismo

Aluísio de Azevedo

O Cortiço (1890)

O mais expressivo romance naturalista brasileiro é O Cortiço, de Aluísio Azevedo, publicado em 1890. Uma ampla galeria de tipos humanos desfila pelas páginas desse romance: lavadeiras, operários, prostitutas, mascates, todos representantes de uma população marginal, que vive num ambiente degradado e corruptor. Na verdade, o cortiço parece adquirir vida pró-pria, determinando o comportamento dos que ali moram. É o caso, por exemplo, de Pombinha, menina pura e simples que, não resistindo às pressões do meio, acaba por se prostituir, ou ainda de Jerônimo, aldeão português que vem morar no cortiço com a mulher, Piedade, e a filha e é arrebatado por uma paixão sensual por Rita Baiana, abandonando a família e a vida regrada que até então levava. O narrador focaliza a ascensão do vendeiro português João Romão, dono do cortiço e de uma pedreira, cujos empregados, além de morar nos casebres alugados por ele, endividam-se ao comprar fiado em sua venda. Através dessa exploração, João Romão vai enriquecendo, auxiliado por sua amante e empregada, a escrava fugida Bertoleza, para quem ele havia forjado uma carta de alforria. O maior desejo do vendeiro é adquirir boa posição social, como a de seu patrício Miranda, que mora no sobrado encostado ao cortiço. Movido pela ambição, não hesita em usar de todos os recursos para acumular fortuna e ficar noivo da filha de Miranda. Para livrar-se de Bertoleza, que poderia constituir um obstáculo à sua ascensão, denuncia a fuga da escrava aos antigos donos, que vão buscá-la com a polícia. Ela, percebendo a traição, suicida-se. Acompanhando a evolução social de João Romão, o cortiço também se desenvolve, transformando-se na “Avenida São Romão”, com uma aparência mais cuidada e ordeira. A população mais baixa, mais miserável, reúne-se em outro cortiço, o “Cabeça de Gato”, que, como diz o autor, “à proporção que o São Romão se engrandecia, mais e mais se ia rebaixando acanalhado, fazendo-se cada vez mais torpe, mais abjeto, mais cortiço, vivendo satisfeito do lixo e da salsugem que o outro rejeitava, como se todo o seu ideal fosse conservar inalterável, para sempre, o verdadeiro tipo de estalagem fluminense, a legítima, a legendária; aquela em que há um rolo e um samba por noite; aquela em que os irmãos dormem misturados com as irmãs na mesma cama; paraíso de vermes; brejo de lodo quente e fumegante, donde brota a vida brutalmente, como de uma podridão”. Obedecendo aos princípios naturalistas de que o escritor deveria reunir a maior soma possível de informações sobre o assunto que iria focalizar, Aluísio Azevedo saía a campo para conhecer bem de perto a realidade dos cortiços e de seus moradores. Segundo seu amigo Pardal Mallet, “os primeiro apontamentos para O Cortiço foram colhidos

em minha companhia em 1884, numas excursões para ‘estudar costu-mes’, nas quais saíamos disfarçados com vestimenta popular: tamanco sem meia, velhas calças de zuarte remendadas, camisas-de-meia rotas nos cotovelos, chapéus forrados e cachimbos no canto da boca”.

(Fonte: Estudos de Literatura Brasileira, Douglas Tufano. Ed. Moderna)

O Cortiço é considerada a obra-prima do Naturalismo brasileiro:

Características: revela a miséria urbana; destaca as classes margina-lizadas; determinismo do meio; domínio do coletivo sobre o individual; desagregação dos instintos.

Personagens de destaques: João Romão; Bertoleza; Miranda; Jerônimo; Rita Baiana; Estela; Pombinha.

O Mulato (1881)

Publicada, em São Luís, Aluísio Azevedo tocou em duas questões muito polêmicas: o racismo e a corrupção dos padres. E isso bastou para que alguns setores da sociedade maranhense se sentissem ofendidos e desencadeassem seu ódio contra ele. Raimundo é a personagem central do romance. Filho de uma escrava com um português, apesar de ter uma bela aparência de homem branco, ele sofre a violência do preconceito racial da sociedade, principalmente da família de seu tio, que o impede de se casar com a prima Ana Rosa, por quem se apaixonara. Ela também o ama mas não tem como vencer a oposição da família, que conta com a ajuda de um religioso muito influente na cidade, o cônego Diogo, para convencê-la a desistir do casamento. O cônego, aliás, é uma das personagens mais odiosas do romance. Corrupto, inescrupuloso e imoral, ele desonrara o pai de Raimundo e, por isso, teme que seu passado seja revelado. Daí seu empenho em difamar o rapaz e impedir, a todo custo, que ele se case com Ana Rosa. Depois de várias peripécias, Raimundo é assassinado por um cúmplice do cônego, o caixeiro Dias. Ana Rosa, que estava grávida de Raimundo, aborta e quase morre. Ninguém consegue descobrir o assassino.No final do romance, seis anos depois da morte de Raimundo, vemos Ana Rosa casada com o próprio Dias, feliz, aburguesada e com três filhos. (Ibidem)

Tópico 8PArNASiANiSmO

Origem

O Parnasianismo surgiu na França com a publicação da antologia poética Le Parnasse Contemporain com poemas de Thédore de Banville, Leconte de Lisle e Théophile Gautier. É uma manifestação artística do contexto realista, essencial-mente poética. Os parnasianos assumiram a postura anti-romântica dos re-alistas, negando os excessos sentimentais do romantismo, ao mesmo

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tempo distanciam-se da realidade do homem e tudo o que ela representa (o cotidiano, o vulgar, o prosaico, as injustiças), e defendem uma arte bela, perfeita – A ARTE PELA ARTE.

características:

A arte pela arte: Os parnasianos defendiam uma arte que primasse pelo intelectual, imitavam os clássicos, recuperando o conceito greco-latino de arte. Rejeita-se a inspiração, o momentâneo, o estado d’alma.Objetividade: nega-se o eu. A poesia é física, impessoal, neutra.Impassibilidade: controle total da emoção, equilíbrio, serenidade.Culto da forma: destaca-se o apuro formal, construção técnica e estética do poema e valorização da beleza exterior. Para se conseguir esses efeitos, o poeta deveria seguir a “receita”.

Pigmaleão, rei da ilha de Chipre, apaixonou-se por uma estátua que ele

mesmo esculpira e à qual dera o nome de Galateia.

Rogou então à deusa Afrodite que desse vida à sua amada, no que foi

atendido.

Quadro Pigmaleão e a Imagem de Sir Edward Burne-Jones

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• Métrica: os versos deveriam ter rigorosamente o mesmo número de sílabas ou simetria.

• Rimas ricas: evitar rimas pobres (com palavras da mesma classe gramatical).

• Soneto: famosa composição poética clássica que apresenta obri-gatoriamente quatorze versos divididos em dois quartetos e dois tercetos, cujo último verso é uma síntese do poema, denominado de “chave de ouro”.

• Linguagem: requinte vocabular (erudição) e de sintaxe, o que dá uma configuração elaborada e rebuscada ao texto.

Descritivismo: por fazer uma poesia centrada na eliminação do “eu”, os parnasianos elaboram uma poesia voltada para um universo de objetos, quadros, murais.Temática: os parnasianos voltam-se para a Antiguidade Clássica – sua história e mitologia –, fazendo uma poesia elitista e alienante.Mulher: os poetas cantavam e admiravam a beleza perfeita das formas femininas, que desperta o prazer físico, mas apenas contemplavam-na.

Quadro Comparativo

Romantismo ParnasianismoSubjetivo Objetivo

Nacionalista HelênicaPopular ElitistaExagero Sobriedade

Liberdade Culto a formaEmocional Racional

PArNASiANiSmO NO BrASiL

A primeira publicação da estética no Brasil foi em 1882, o livro “Fanfarras”, de Teófilo Dias e prolongou-se até a Semana de Arte Moderna, de 1922, que elimina, a ainda resistente, poesia parnasiana entre os nossos letrados. O Parnasianismo representou um período áureo em nossas letras, pois houve um rompimento com a “arte compromisso” ao adotar os conceitos europeus de arte “ – Beleza – Perfeição – Erudição –“, imitava-se aqui o comportamento afrancesado, promovendo a alienação, pois não interessava a elite letrada, vincular-se ao feio, pobre, decrépito da realidade brasileira. Destaque para a tríade parnasiana, formada pelos poetas Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

Tópico 9

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Olavo Bilac (1865 – 19l8)

Principais Obras: Panóplias; Sarças de Fogo; Via Láctea; Poesias Infantis; Alma Inquieta; Tarde (poesia); Crônicas e Novelas (prosa) e Tratados de Literatura. Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac iniciou o curso de Medicina, não concluiu, começou Direito mas também não concluiu. Foi jornalista e exerceu vários cargos públicos. Um dos fun-dadores da Academia Brasileira de Letras, envolveu-se em campanhas cívicas a favor do serviço militar obrigatório e do ensino fundamental. Poeta de destaque do Parnasianismo, identificou-se com as técnicas e a perfeição formal do estilo desde o primeiro livro “Panóplias”, tinha obsessão pelos versos alexandrinos e por concluir o soneto com a famosa “chave de ouro”, com uma linguagem elaborada, numa estru-tura gramatical rebuscada. A paixão pela nossa língua foi declarada no poema “Língua Portuguesa”. A objetividade e a precisão meticulosa na construção de seus poemas não o impediu de escrever versos com posturas subjetivas, pois sabia unir rigor com sensibilidade.

Principais temas de sua obra:

Greco-romana → Panóplias: temas ligados à Antiguidade Clássica (Roma) e a própria poesia (metalinguagem) destacam-se “Sesta de Nero”, Incêndio em Roma”, “Profissão de Fé”, “A um Poeta”.Amor:• Via Láctea (35 sonetos) nesse livro há uma marca forte do lirismo, amor

platônico, destaca-se o soneto XIII, o mais conhecido da obra. • Sarças de Fogo: o lirismo continua agora aliado ao sensual-erótico sem

sutilezas, no jogo de corpos, beijos e nudez feminina, destaca-se o poema “Satânia” ou comedido como em “Nel mezzo Del Camin...” e “In Extremis”.

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Nacionalismo: o poeta canta com ufanismo episódios da história e des-creve a natureza brasileira. Aqui Bilac é extremamente conservador.O épico “O Caçador de Esmeraldas” (Viagens), narra a epopeia dos bandeirantes no século XVII, tendo como referência Fernão Dias Paes Leme. Há ainda os poemas “Anchieta” e “Vila Rica” do livro Tarde, que também traz poemas com um tom melancólico, o que prenuncia o fim.

Textos

PROFISSãO DE Fé

Não quero o Zeus Capitolino,Hercúleo e belo,

Talhar no mármore divinoCom o camartelo.

Que outro — não eu! — a pedra cortePara, brutal,

Erguer de Atene o altivo porteDescomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,Que assombra a vista,

Seduz-me um leve relicárioDe fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto relevoFaz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de CarraraA pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,O onix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,Sobre o papel

A pena, como em prata firmeCorre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,A ideia veste:

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagemAzul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, limaA frase; e, enfim,

No verso de ouro engasta a rima,Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficinaSem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,Por tão sutil,

Possa o lavor lembrar de um vasoDe Becerril.

E horas sem conta passo, mudo,O olhar atento,

A trabalhar, longe de tudoO pensamento.

Porque o escrever — tanta perícia,Tanta requer,

Que ofício tal... nem há notíciaDe outro qualquer.

Assim procedo. Minha penaSegue esta norma,

Por te servir, Deusa serena,Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que avolumaDe um torvo mar,

Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma Deixa-a rolar!

Blasfemo, em grita surda e horrendoÍmpeto, o bando

Venha dos Bárbaros crescendo,Vociferando...

Deixa-o: que venha e uivando passe— Bando feroz!

Não se te mude a cor da faceE o tom da voz!

Olha-os somente, armada e pronta,Radiante e bela:

E, ao braço o escudo, a raiva afrontaDessa procela!

Este que à frente vem, e o todo Possui minaz

De um Vândalo ou de um VisigodoCruel e audaz;

Este, que, de entre os mais, o vultoFerrenho alteia,

E, em jato, expele o amargo insulto

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Que te enlameia:

É em vão que as forças cansa, e à lutaSe atira: é em vão

Que brande no ar a maça brutaÀ bruta mão.

Não morrerás, Deusa sublime!Do trono egrégio

Assistirás intacta ao crimeDo sacrilégio.

E, se morreres porventura,Possa eu morrer

Contigo, e a mesma noite escuraNos envolver!

Ah! ver por terra, profanada.A ara partida;

E a arte imortal aos pés calcada.Prostituída!...

Ver derribar do eterno sólioO Belo, e o som

Ouvir da queda do Acropólio, Do Partenon!...

Sem sacerdote, a Crença mortaSentir, e o susto

Ver, e o extermínio, entrando a portaDo templo augusto!...

Ver esta língua, que cultivo, Sem ouropéis,

Mirrada ao hálito nocivo Dos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro,Fique eu sozinho!

Que não encontre um só amparoEm meu caminho!

Que a minha dor nem a um amigoInspire dó...

Mas, ah! que eu fique só contigo,Contigo só!

Vive! que eu viverei servindoTeu culto, e, obscuro,

Tuas custódias esculpindoNo ouro mais puro.

Celebrarei o teu ofícioNo altar: porém,

Se inda é pequeno o sacrifício,Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,Porém tranquilo,

Inda, ao cair, vibrando a lança,Em prol do Estilo!

LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,És, a um tempo, esplendor e sepultura:Ouro nativo, que na ganga impuraA bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te, desconhecida e obscura,Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procela,E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceano largo!Amo-te, ó rude e doloroso idioma

Em que da voz materna ouvi: “Meu filho!”,E em que Camões chorou, no exílio amargo,O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

VIA LáCTEA

XIII — “Ora (direis) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muita vez despertoE abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquantoA Via Láctea, como um pálio aberto,Cintila, E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!Que conversas com elas? Que sentidoTem o que dizem, quando estão contigo? “

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!Pois só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas”.

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SATâNIA(Fragmento)Nua, de pé, solto o cabelo às costas,Sorri. Na alcova perfumada e quente,Pela janela, como um rio enormeDe áureas ondas tranquilas e impalpáveisProfusamente a luz do meio-diaEntra e se espalha palpitante e viva.Entra, parte-se em feixes rutilantes,Aviva as cores das tapeçarias,Doura os espelhos e os cristais inflama.Depois, tremendo, como a arfar, deslizaPelo chão, desenrola-se, e, mais leve,Como uma vaga preguiçosa e lenta,Vem-lhe beijar a pequenina pontaDo pequenino pé macio e branco.Sobe... cinge-lhe a perna longamente;Sobe... — e que volta sensual descrevePara abranger todo o quadril! — prossegue,Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavoDa axila, acende-lhe o coral da boca,E antes de se ir perder na escura noite,Na densa noite dos cabelos negros,Pára confusa, a palpitar, dianteDa luz mais bela dos seus grandes olhos.E aos mornos beijos, às carícias ternasDa luz, cerrando levemente os cílios,Satânia os lábios úmidos encurva,E da bica na púrpura sangrentaAbre um curto sorriso de volúpia...Corre-lhe à flor da pele um calefrio;Todo o seu sangue, alvoroçado, o cursoApressa; e os olhos, pela fenda estreitaDas abaixadas pálpebras radiando,Turvos, quebrados, lânguidos, contemplam,Fitos no vácuo, uma visão querida...

Alberto de Oliveira

Vaso Artístico

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3003NEL MEzzO DEL CAMIN...

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigadaE triste, e triste e fatigada eu vinha.Tinhas a alma de sonhos povoada,E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estradaDa vida: longos anos, presa à minhaA tua mão, a vista deslumbradaTive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partidaNem o pranto os teus olhos umedece,Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,Vendo o teu vulto que desapareceNa extrema curva do caminho extremo.

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Alberto de Oliveira (1857-1937)

Principais obras: Canções Românticas; Meridionais; Sonetos e Poemas; Poesias Escolhidas; Versos e Rimas.

Antonio Mariano Alberto de Oliveira cursou Medicina até o terceiro ano, forma-se em Farmácia, foi funcio-nário público, e é um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Publicou seu primeiro livro “Can-

ções Românticas” em 1878. É considerado o mais ortodoxo dos poetas parnasianos, segundo Olavo Bilac, Alberto de Oliveira era o “Mestre de todos os Mestres Parnasianos”. Foi poeta durante toda a vida e sua poesia esteve à margem dos acontecimentos sociais, políticos, econômicos. Seus temas estão limitados ao rígido padrão do estilo, uma poesia descritiva que aborda vasos, objetos, descreve a natureza de tal forma que era chamado de “paisagista” e exalta a Antiguidade Clássica. Sua linguagem é erudita e apresenta rebuscamento formal e de sintaxe.Podem-se distinguir três fases em sua obra em que prevalecem:

1ª exotismo, sentimento contido, imagens sugestivas, linguagem nobre, mas sem arcaísmos

2ª tendências às descrições, a cantar e a descrever a natureza e coisas antigas

3ª maior sentimento, melancolia, saudade, desespero.”

(Péricles Eugênio da Silva Ramos. Poesia Parnasiana)

Textos VASO GREGOEsta de áureos relevos, trabalhadaDe divas mãos, brilhante copa, um dia,Já de aos deuses servir como cansadaVinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendiaEntão, e, ora repleta ora esvasada,A taça amiga aos dedos seus tinia,Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira,Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordasFinas hás-de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga liraFosse a encantada música das cordas,Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

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Raimundo Correia

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VASO ChINÊSEstranho mimo aquele vaso! Vi-o,Casualmente, uma vez, de um perfumadoContador sobre o mármor luzidio,Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado,Nele pusera o coração doentioEm rubras flores de um sutil lavrado,Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,Quem o sabe? ... de um velho mandarim Também lá estava a singular figura. Que arte em pintá-lo! A gente acaso vendo-a,Sentia um não sei quê com aquele chimDe olhos cortados à feição de amêndoa.

ChORO DE VAGASNão é de águas apenas e de ventos,No rude som, formada a voz do Oceano:Em seu clamor - ouço um clamor humano,Em seus lamentos - todos os lamentos.

São de náufragos mil estes acentos,Estes gemidos esse aiar insano:Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano,Vejo-os varridos de tufões violentos:

Vejo-os, na escuridão da noite, aflitos,Bracejando, ou já mortos e debruços,Largados das marés, em ermas plagas...

Ah! que são deles estes surdos gritos,Este rumor de preces e soluçosE o choro de saudades destas vagas!

raimundo correia (1859 (a bordo do vapor São Luís, ancorado nas costas do maranhão) – 1911 (Paris))

Principais obras: Primeiros Sonhos; Sinfonias; Versos e Versões; Aleluias.

Raimundo da Mota Azevedo Correia, formado em Direito, sócio-fundador da Academia Brasileira de Letras.

Da famosa tríade parnasiana, Raimundo Correia também foi influenciado pelo binômio beleza/perfeição, conseguiu dar um tom mais humano a sua poesia, driblando a impessoalidade do estilo. O tom melancólico é uma marca em seus poemas, atingindo um acentuado pessimismo, resultante da influência de Schopenhauer. É marcante a presença de autores europeus na obra do po-eta, a ponto de ser acusado de plagiador. Seus sonetos mais famosos seriam plágios “Mal Secreto” tem como base textos de Metastásio e “As Pombas”, de Gautier.

Podemos observar três momentos em sua poesia:Romantismo: em “Primeiros Sonhos”, o poeta sofre influências de: Casimiro de Abreu e Fagundes Varela.Parnasiano: “Sinfonias” e “Versos e Versões”, a marca do pessi-mismo de Schopenhauer se faz presente nessas obras.Pré-Simbolista: “Aleluias” aqui o poeta é marcado por um tom de angústia, pessimismo refugia-se na religião, no transcendental.

Textos

MAL SECRETOSe a cólera que espuma, a dor que moraN’alma, e destrói cada ilusão que nasce,Tudo o que punge, tudo o que devoraO coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,Ver através da máscara da face,Quanta gente, talvez, que inveja agoraNos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigoGuarda um atroz1, recôndito2 inimigoComo invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez, existe,Cuja ventura3 única consisteEm parecer aos outros venturosa!

1. Atroz: cruel.

2. Recôndito: oculto, escondido.

3. Ventura: felicidade.

AS POMBASVai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenasDe pombas vão-se dos pombais, apenasRaia, sanguínea e fresca, a madrugada...

E à tarde quando a rígida nortadaSopra, aos pombais de novo elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais...

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01. (COVEST) Olavo Bilac foi o autor brasileiro mais representativo do Parnasianismo no Brasil. Considerando sua obra, identifique a alternativa em que não se constata adequação entre o comentário e o texto citado.a) O poeta canta - o amor platônico: E eu vos direi: Amai para entendê-las. Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e entender estrelas.b) O poeta canta - o ufanismo patriótico: Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste. Criança, não verás nenhum país como estec) O poeta canta - o erotismo: Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia /Assim! De um sol assim ! Tu, desgrenhada e fria./Fria! postos nos meus os teus olhos molhados. E apertando nos teus os meus dedos geladosd) O poeta canta - temas greco-romanos: Não quero o Zeus Capitolino/ Hercúleo e beloe) O poeta canta - o culto da forma: Torce, aprimora, alteia, lima / A frase e, enfim / No verso de ouro,

engasta a rima / Como um rubim

02. (COVEST) No Brasil, as tendências literárias de que fala o Texto 1 tiveram também seus perfis próprios. Alguns deles podem ser descritos nos termos mostrados a seguir. Analise-os.1. Entre as primeiras manifestações literárias, se destacam o registro

das impressões dos viajantes, os sermões do Padre Antônio Vieira, a poesia de Gregório de Matos e a lira dos inconfidentes árcades.

2. Já no início do século XIX, começa a afirmar-se o Romantismo: interessado em interpretar os fatos pela ótica da emoção, do sub-jetivismo, do amor idealizado, da fuga à realidade. Gonçalves Dias, Castro Alves e José de Alencar são expoentes desse Movimento.

3. Ao Romantismo, segue-se o Realismo, cujas narrativas constroem suas personagens como espelhos da realidade (assim fez o Machado de Assis realista). Mas é na literatura do Naturalismo que a classe trabalhadora surge como personagem.

4. Uma nova estética surge com o Parnasianismo, interessado, entre outras coisas, em privilegiar a perfeição da forma, pelo aprimoramento da técnica na composição do poema. Olavo Bilac e Raimundo Correia são dois destaques desse período.

5. Rompendo com estéticas anteriores, o Modernismo trouxe inovações aos temas e à linguagem, além de buscar a afirmação de nossa identidade e a valorização de nossa cultura. A primeira geração de modernistas, no entanto, não demonstrou a ousadia e a inovação esperadas.

Estão corretas:a) 1, 2, 3 e 4 apenas. b) 1, 4 e 5 apenas. c) 2, 3 e 4 apenas. d) 2, 3 e 5 apenas.e) 1, 2, 3, 4 e 5.

Questões PropostasO rEALiSmO Em POrTUgAL

“Crítica do homem, anatomia do caráter” (Eça de Queirós)

Contexto Histórico Com a consolidação do liberalismo em Portugal a partir de 1850, o País viveu um período de estabilidade política que permitiu a re-cuperação e expansão de sua economia, centrada na ideia de progresso material, favorecida pelo intercâmbio cultural e comercial com o resto da Europa, levando o País a superar, em parte, sua cultura aristocrática por uma cultura laica, burguesa. Embora a sociedade portuguesa vivesse um estilo de vida dentro dos padrões das grandes metrópoles europeias da época no campo político e cultural, não houve um desenvolvimento industrial, pois a economia se sustentava na produção agrícola, o que gerou um desequilíbrio, levando Portugal à estagnação econômica e social a partir de 1891.

Origem Os eventos que marcaram o Realismo em Portugal foram A Questão Coimbrã, episódio que ocorreu em 1865, e As Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense, em 1871.

A Questão Coimbrã A Questão Coimbrã foi uma polêmica que colocou em lados opostos os grandes mestres do Romantismo Português e jovens aca-dêmicos de Coimbra que, desde o início da década de 1860, estavam atentos às novidades dos grandes centros culturais da Europa, o que os tornaram mais críticos em relação à literatura produzida no País, chamada de Escola de Lisboa. Em 1864, o consagrado poeta Antônio Feliciano de Castilho, representante do tradicionalismo literário, escreveu um posfácio ao livro “Poema da Mocidade”, de Pinheiro Chagas, seu protegido, no posfácio fez duras críticas a um grupo de poetas de Coimbra, acusando-os de exibicionistas e obscurantistas, e citou os artistas Teófilo Braga e Antero de Quental que publicaram “Visões dos Tempos e Tempestades Sonoras” e “Odes Modernas” respectivamente. Em resposta a Castilho, Antero de Quental escreveu uma carta aberta “Bom senso e bom gosto” na qual critica a proteção e o apadrinhamento literário.

Tópico 10

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Leia fragmento da carta:

“O que se ataca na escola de Coimbra não é uma opinião li-terária menos provada, uma concepção poética mais atrevida, um estudo ou uma ideia. Isso é pretexto apenas. Mas a guerra faz-se à independência irreverente de escritores que entendem fazer por si sós o caminho, sem pedir licença aos Mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência.” (Em Hernâni Cidade. Antero de Quental. Lisboa, Arcádia. Apud

William Roberto Cereja)

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Eça de Queiroz“Para Antero, a agressão sofrida não se limitava ao plano estritamente literário ou pessoal; era, na verdade, uma reação do velho contra o novo, do conservadorismo contra o progresso, da literatura de salão contra a literatura viva e atuante exigida pelos novos tempos. Antero desejava modernizar o país, colocando-o ao lado das nações europeias mais desenvolvidas. A Questão Coimbrã durou todo o segundo semestre de 1865, com publicações e ataques de ambos os lados. Também participaram dela, dentre outros, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e Pinheiro Chagas. Eça de Queirós, embora fizesse parte do grupo coimbrão, não interveio na polêmica.”

(William Roberto Cereja e Thereza Magalhães Cochar. In. Panorama da Literatura Portuguesa)

As Conferências Democráticas A polêmica iniciada em 1865 só terminou, na realidade, em 1871 quando teve início o ciclo das Conferências Democráticas, rea-lizadas no Cassino Lisbonense, cujo objetivo era consolidar o grande projeto literário, filosófico e político que visava à reforma da sociedade portuguesa, divulgando as ideias revolucionárias de Proudhon, Taine, Comte, Renan, Hegel, Darwin entre outros. Foram previstas dez confe-rências, a quarta intitulada “O Realismo como Nova Expressão da Arte” foi pronunciada por Eça de Queirós. Nela o autor atacava o Romantismo e divulgava as ideias da arte realista, dando ênfase ao caráter social e transformador da literatura. Antero de Quental proferiu duas e o governo português proibiu cinco, devido à intervenção do Ministro do reino Antônio José de Ávila, segundo as autoridades, “atacavam a religião e as instituições políticas do Estado”, mas o Realismo estava consolidado em Portugal. A prosa de ficção dividiu-se entre o ataque à burguesia, à monarquia, ao clero, às instituições sociais, aos falsos valores e o compromisso com a doutrinação moral, social e filosófica. Destaque para Eça de Queirós.

Autor

Eça de Queiroz (1845 – 1900) Principais obras: Romance: Mistério da Es-trada de Sintra; O Crime do Padre Amaro; A Relíquia; O Primo Basílio; O Mandarim; Os Maias; A Ilustre Casa de Ramires; Cor-respondências de Fradique Mendes; Dicio-nário de Milagres; A Cidade e as Serras; A Capital; Tragédia da Rua das Flores. Conto: Contos. Jornalismo e Literatura de Viagem:

Uma Campanha Alegre; Cartas de Inglaterra; Prosas Bárbaras; Cartas Familiares; O Egito; Últimas Páginas. José Maria Eça de Queirós estudou Direito na Universidade de Coimbra, exerceu a advocacia em Lisboa, dirigiu um jornal político. Foi diplomata, exercendo a função de Cônsul, o que o levou a ausentar-se de Portugal por muitos anos. Viveu, principalmente, na França e na Inglaterra. Esse afastamento o colocou em contato com as diversificadas correntes ideológicas, filosóficas e literárias do seu tempo, contribuindo para o aprofundamento e o amadurecimento intelectual do artista. Apesar de ligado ao grupo acadêmico da Escola de Coimbra, não participou da polêmica Questão Coimbrã, porém foi um dos mais atuantes nas Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense. Eça de Queirós é considerado o maior nome da narrativa de ficção realista portuguesa. Exerceu forte influência sobre autores por-tugueses, espanhóis e brasileiros. Seu estilo é solto e sua linguagem é expressiva, incorporando a língua corrente em Lisboa.

Sua produção é vasta e está dividida em três fases:

Primeira Fase Influenciado por Victor Hugo, faz uma literatura com forte tendência do romantismo social.

Segunda Fase

Com a publicação d’O Crime do Padre Amaro, (1875), inaugura o “romance de tese”, aderindo ao Realismo-Naturalismo, com densidade e precisão artísticas reflete à sociedade portuguesa. Nessa fase destacam-se: ‘O Crime do Padre Amaro”, “O Primo Basílio” e “Os Maias”

Terceira Fase

Atinge a maturidade artística e produz uma literatura de reflexão filosófica e espiritual. Destacam-se: “A Ilustre Casa de Ramires”, A Correspodência de Fradique Mendes”, e “A Cidade e as Serras”

“(...) pintar a sociedade portuguesa e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam – eles e elas. (....) destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhe dá uma sociedade podre.” (Eça de Queirós)

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• O Crime do Padre Amaro (1875). Ambientado em Leiria (norte de Portugal) mostra a corrupção do clero através do relacionamento amoroso do Pe. Amaro e a jovem interiorana Amélia.

• O Primo Basílio (1878). Mostra o adultério feminino e a vida domés-tica da média burguesia lisboeta.

• Os Maias (1888). Focaliza a alta burguesia, a aristocracia e seu uni-verso fútil. Tema central o incesto. É considerado pela crítica como o melhor romance do autor, embora tenha provocado escândalo na época.

Essas três obras foram batizadas pelo próprio autor de “Cenas Portuguesas”.

TextoO PRIMO BASÍLIO “Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das Águas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir. [...] As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas enraivece um lobo. Fez-se má; beliscava crianças até lhes enodoar a pele; e se lhe ralhavam, a sua cólera rom-pia em rajadas. Começou a ser despedida. Num só ano esteve em três casas. — Saía com escândalo, aos gritos, atirando as portas, deixando as amas todas pálidas, todas nervosas. [...] A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar; odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril.” (cap.III)

01. (COVEST) Tomando como referência o Parnasianismo e o Sim-bolismo brasileiros, analise os enunciados a seguir.1. Na produção poética, os parnasianos e os simbolistas não se dife-

renciavam significativamente quanto ao requisito do apuro formal.2. Ao contrário dos simbolistas, que tinham uma concepção de mundo

mais subjetiva e transcendental, os parnasianos se fecharam no objetivismo da “arte pela arte”.

3. Em sua época, a produção simbolista alcançou maior aceitação e sucesso diante do público leitor que a poesia parnasiana, a qual só seria reconhecida séculos mais tarde.

Está(ão) correta(s) apenas o que se afirmar em:a) 1, 2 e 3. b) 2. c) 2 e 3. d) 1 e 2. e) 1.

TEXTO 01“Ó formas alvas, brancas, formas clarasde luares, de neves, de neblinas!Ó formas vagas, fluidas, cristalinas.Incensos de turíbulos de aras...” (Cruz e Souza.)

Questões Propostas

02. (COVEST) Do Simbolismo, se pode dizer que:

I II0 0 na prosa desse período, estão presentes o escapismo, o tédio

e o mal do século.1 1 o Simbolismo opôs-se ao Parnasianismo e ao Naturalismo, en-

quanto valorizava a realidade subjetiva, metafísica, espiritual.2 2 Cruz e Souza foi um dos poucos autores simbolistas do Brasil

e, talvez o mais representativo. Possuía em comum com os parnasianos o apuro formal.

3 3 A musicalidade não é uma das características dos poetas simbolistas, que praticaram o verso livre.

4 4 os poetas simbolistas criavam cenários espiritualizados que sugeriam dimensões estranhas à realidade.

TEXTO 02CrêVê como a Dor te transcendentaliza!Mas no fundo da Dor crê sobremente.Transfigura o teu ser na força crenteQue tudo torna belo e diviniza.

Que seja a Crença uma celeste brisaInflando as velas dos batéis do OrienteDo teu Sonho supremo, onipotente,Que nos astros do céu se cristaliza.

Tua alma e coração fiquem mais graves,Iluminados por carinhos suaves,Na doçura imortal sorrindo e crendo...

Oh! crê! Toda a alma humana necessitaDe uma Esfera de cânticos, bendita,Para andar crendo e para andar gemendo! (Cruz e Souza, in Últimos Sonetos)

03. (UPE) Considerações sobre o poema, o autor e a escola literária a que pertenceu.

I II0 0 O poema “Crê” inicia o Simbolismo no Brasil. É um verdadeiro

manifesto simbolista, graças a sua musicalidade e à própria sugestão de uma atmosfera vaga, imprecisa, nebulosa.

1 1 O Simbolismo nos versos desse poeta reflete a negação presen-te no Parnasianismo e no Romantismo da segunda geração.

2 2 O símbolo é sempre empregado em sentido misterioso pelo poeta. Por isso é que se observa nele uma permanente busca da essência das coisas, onde se encontra a dor, a revolta e a melancolia.

3 3 O poeta não permite que os sentimentos interfiram na abor-dagem da realidade.

4 4 O valor musical dos signos linguísticos é um efeito procurado pelo poeta à semelhança do que fizeram os demais poetas simbolistas.

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Tópico 11

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SimBOLiSmO

Origem

“...Inimiga do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista busca: vestir a Ideia de uma forma sensível que, entretanto, não terá seu fim em si mesma, mas que, servindo para exprimir a Ideia, dela se tornaria submissa.”

(Jean Moréas, Um Manifesto Literário, Le Fígaro 18/09/1886.

apud Gilberto Mendonça Teles)

De origem francesa, foi definido com o nome “Decadentismo” numa referência a decadência dos valores da burguesia (religião, família, costumes, justiça, tudo estava corrompido).

“Apesar do desenfreado gozo dos apetites sensuais, do luxo, do prazer e das sensações raras oferecidas pelos tó-xicos, um tédio espesso, uma histeria, um pessimismo agudo assomava em todas as consciências. Anarquia, perversões,

satanismo, neuroses, patologias, entravam em moda, dando a impressão dum caos apocalíptico.”

(Dicionário de Termos Literários, Massaud)

A denominação Simbolismo se impôs após a divulgação do “Ma-nifesto Simbolista”, de Jean Moréas que diz :

“Inimiga do ensinamento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista procura vestir a ideia de uma forma sensível”.

A arte simbolista é uma reação contrária ao rigor parnasiano, ao cientificismo, ao materialismo e ao mecanicismo do realismo. Recu-sa a racionalidade e busca captar o mundo interior do indivíduo e sua relação com o mundo exterior. Rejeita a superficialidade; as aparências da realidade burguesa e através de símbolos poéticos revela a essência do homem. Baudelaire afirmou: “As imagens não são um ornamento poético, mas uma revelação da realidade profunda das coisas.” A obra “Flores do Mal”, de Charles Baudelaire, publicada em 1857, é considerada precursora da estética simbolista.

Características O Simbolismo é um estilo que, embora recupere a subjetividade romântica e apresente uma estética formal elaborada, é inconfundível.• Subjetivo: diferentemente dos poetas românticos que analisam as camadas emocionais superficiais, os simbolistas mergulham no “eu-profundo”, buscan-do atingir o subconsciente e inconsciente, o universo do sonho, do delírio, do devaneio, do caos, da loucura. Exprimir com palavras as sensações inefáveis, o indizível, o que dá ao texto um caráter ilógico e hermético, portanto exige do leitor sensibilidade e intuição.

A Esfinge Vencedora, de Gustave Moreau

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04. (UFSCAR) A ênfase na seleção de vocabulário poético, com o objetivo de transferir ao poema o máximo de correspondência sensorial, é uma característica do:a) Romantismo, sobretudo na obra de Castro Alves.b) Barroco, principalmente em Gregório de Matos.c) Simbolismo, representado pelas obras de Cruz e Sousa e Alphonsus

de Guimaraens.d) Parnasianismo, representado pela obra de Alberto de Oliveira.e) Pré-Modernismo, principalmente em Jorge de lima.

05. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que aparecem. O Simbolismo, contrapondo-se ao ideário .........., mergulha no universo do ......... domi-nado por associações estranhas, glorifica o ......... e o ........., resgatando traços da subjetividade ......... .a) naturalista – subconsciente – misterioso – irracional – romântica.b) naturalista – sonho – corpo – espírito – romântica.c) romântico – símbolo – cientificismo – racional – realista.d) romântico – real – corpo – cientificismo – realista.e) naturalista – subconsciente – corpo – racional - realista

SíNTESE dA OBrA

O Primo Basílio (1878) “Publicado em 1878, o romance O Primo Basílio é uma análise muito bem realizada acerca do casamento e do comportamento burguês. Bastante influenciado por Madame Bovary, de Gustave Flaubert, Eça de Queirós tem em Emma Bovary o modelo para construção de Luísa, personagem frágil, sonhadora, romântica. Luísa casara-se com o engenheiro Jorge, apesar de não o amar. Tendo de viajar para o Alentejo, Jorge deixa a esposa em Lisboa, sozinha, entregue a uma vida de tédio, pois Luísa não tem nenhuma ocupação. Um dia, recebe a visita de seu primo Basílio, antigo namo-rado, recém-chegado do Brasil. Tornam-se amantes em pouco tempo, encontrando-se frequentemente em um quarto alugado especialmente para esse fim amoroso. Logo a criada Juliana descobre o relacionamento e intercepta a correspondência da patroa, escondendo as cartas comprometedoras de Luísa a Basílio. A criada passa a fazer chantagem com a patroa, e Luísa, desesperada, propõe a Basílio que fujam. Este não aceita a proposta da amante e parte sozinho para Paris. À mercê da empregada, Luísa torna-se pouco a pouco uma verdadeira presa nas mãos de Juliana: é obrigada a fazer o serviço doméstico em lugar da criada e sua situação fica insustentável. Jorge retorna do Alentejo e estranha bastante a situação da esposa. Luísa, desesperada, procura o amigo Sebastião e pede-lhe aju-da. Sebastião pressiona Juliana e recupera as cartas comprometedoras. A criada morre. Luísa fica doente em seguida. Um dia recebe uma carta de Basílio. Jorge a lê e toma conhecimento das relações entre a esposa e o primo. Quase convalescente, a moça tem uma recaída, entretanto em estado irrecuperável. Termina por falecer.”

(Fonte:Literatura, História e Texto, de Samira Yousseff Campedelli. Vol.2. Ed. Saraiva)

Apêndice

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• Sugestão: essencialmente metafórico, ambíguo. As ideias e emoções são expressas de maneira vaga. Para o artista simbolista não importa definir o fato, mas sugerir os efeitos que ele pode provocar.

“Nomear um objeto é suprimir três quartas partes do prazer do poema, que é feito da felicidade em adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo, eis o sonho... deve haver sempre enigma em poesia, e é o objetivo da literatura - e não há outro - evocar os objetos.” (Mallarmé)

• Solidão: o artista em busca do “eu-profundo”, isola-se da realidade, criando a sua “torre de marfim”. Predomínio de imagens noturnas que simbolizam o mundo íntimo do artista.• Misticismo: pratica o esoterismo, nega o mundo concreto, restabelece a Metafísica.• Linguagem: elaborada, rebuscada, recuperação do arcaísmo. Uso de recursos estilísticos como:• Musicalidade: exploração de efeitos sonoros, utilizando: • Aliteração: repetição do som representado pela consoante Exemplo: Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas, vagam nos velhos vórtices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. (Cruz e Sousa)

• Assonância: repetição do som representado pela vogal.

Exemplo : “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras” (Cruz e Sousa)

• Reiteração: repetição de palavras ou versos inteiros.

Exemplo: “Soam suaves sonolentos, Sonolentos e suaves... “ (Cruz e Sousa)

• Sinestesia: para expressar imagens e sensações. O artista simbolista . faz associação de sentidosExemplo: “A Música da Morte, a nebulosa, estranha, imensa música sombria, passa a tremer pela minh’alma e fria gela, fica a tremer, maravilhosa...” (Cruz e Sousa)

música sombria ↓ ↓ audição olfato

• Predomínio de:frases nominais, adjetivos, substantivos abstratos e letras maiúsculas em substantivos comuns para torná-los absolutos: Exemplo: Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras...

Quadro ComparativoRomantismo Parnasianismo Simbolismoeu-superficial racional eu-profundo

sensitivo objetivo sugestivo

cristão pagão místico

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Cruz e Sousa

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SimBOLiSmO NO BrASiL

O Simbolismo tem início em 1893 com as edições dos livros “Missal” (fevereiro) e “Broquéis” (agosto), ambos de Cruz e Sousa, mas não encontrou boa receptividade. Foi sufocado pelos parnasianos que foram críticos severosdo estilo, chegaram a usar o termo “nefelibatas” de forma ofensiva. As obras “Missal” (poema em prosa) e “Broquéis” (poemas) apresentam temáticas simbolistas, com destaque para o poema “Antífo-na” do livro Broquéis, considerado uma espécie de “profissão de fé” do Simbolismo. Embora o estilo não tenha repercutido em nossas letras, in-fluenciou nos primeiros momentos literários de poetas que se projetaram no Modernismo, tais como Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes e mais profundamente na poesia de Cecília Meireles.

cruz e Sousa (1861-1898) Principais obras: Missal; Broquéis; Evo-cações; Faróis; Últimos Sonetos. João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, filho de pai escravo e mãe alforriada, ambos negros puros. Recebeu uma educação refinada dada pelo Marechal de Campo Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa D. Clarinda, a quem seus

pais serviam. Quando criança era um prodígio, visto como exótico, mas adulto foi rejeitado pela elite branca. Nomeado promotor de Laguna em 1883 pelo Presidente de Santa Catarina, Francisco Luís da Gama Rosa, não assumiu o cargo por ser negro, sendo impugnado pelos políticos locais. Casou-se com Gavita e teve quatro filhos, a mulher enlouque-ceu, dois dos filhos morreram e Cruz e Sousa contraiu tuberculose, morrendo em 1898, logo depois a mulher e os outros dois filhos também faleceram. Por viver no século XIX, no Sul do Brasil, uma das regiões mais preconceituosas do Brasil, Cruz e Sousa foi considerado ousado e atrevido, por ter propostas inovadoras como intelectual. Sua paixão pelo teatro levou-o a visitar e a colaborar com as com-panhias que passavam pela cidade e para sair do ambiente que o hostilizava, em 1881, agregou-se a um grupo teatral e com ele percorreu o Brasil. Em 1885, publicou em parceria com Virgílio Várzea “Tropos e Fantasias”, narrativas e poemas sob a influência do Naturalismo e Parnasianismo. Entre 1887 e 1888 passou uma temporada no Rio de Janeiro e através de Oscar Rosas teve conhecimento da poesia de grandes nomes do simbolismo europeu, entre eles Verlaine, Baudelaire, Mallarmé e Eugênio de Castro. Em 1893 conseguiu publicar os livros Missal e Broquéis, os únicos editados em vida, pois as poucas editoras da época se recusavam a publicar suas obras. Podemos observar dois momentos em sua obra: no primeiro o poeta é marcado pela dor e sofrimento do homem negro (clara conotação

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sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,Inefáveis10, edênicos11, aéreos,fecundai o Mistério destes versoscom a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades12

que fuljam13, que na Estrofe se levanteme as emoções, todas as castidadesda alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astrosfecunde e inflame a rima clara e ardente...Que brilhe a correção dos alabastrossonoramente, luminosamente,Forças originais, essência, graçade carnes de mulher, delicadezas...Todo esse eflúvio14 que por ondas passado Éter15 nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres16,desejos, vibrações, ânsias, alentos,fulvas17 vitórias, triunfamentos acres,os mais estranhos estremecimentos...Flores negras do tédio, e flores vagasde amores vãos, tantálicos18, doentios...Fundas vermelhidões de velhas chagasem sangue, abertas, escorrendo em rio...

Tudo! Vivo e nervoso e quente e forte,nos turbilhões quiméricos19 do Sonho,passe, cantando, ante o perfil medonhoe o tropel cabalístico20 da Morte...

1. Antífona: curto versículo recitado ou cantado pelo celebrante, antes e depois de um salmo, ao qual respondem alternadamente duas metades do coro.

2. Turíbulos: vasos onde se queima incenso nos templos, incensórios.3. Aras: altares.4. Mádidas: úmidas. 5. Dolências: mágoas, dores.6. Ocaso: pôr-do-sol.7. Réquiem: parte do ofício dos mortos, na liturgia católica, que principia

com as palavras latinas requiem aeternam dona eis, “dá-lhes repouso eterno”; designação, também, da música sobre esse ofício.

8. Flébeis: chorosos, lacrimosos.9. Volúpicos: que causam prazer sensual.10. Inefáveis: que não podem ser traduzidos em palavras.11.Edênicos: paradisíacos.12. Diafaneidades: transparências.13. Fuljam: brilhem.14. Eflúvio: emanação invisível que se desprende de um fluído; eflu-

ência, exalação.

pessoal), é o “poeta da dor” que vive a hostilidade do mundo e recusa-se a aceitá-la, o preconceito não o torna um poeta menor porque ele é um aristocrata na intelectualidade, eis a diferença. Até quando escreve poemas de teor social, como “Litania dos Pobres” ou “Crianças Negras”, Cruz e Sousa é superior. No segundo momento, o tom de revolta evoluiu para um sofrimento sublimado, e o poeta busca na transcendência a superação da dor, apresentando poemas com uma linguagem difícil e elaborada e com uma presença marcante (obsessiva) de vocábulos associados à cor branca. Seus últimos poemas apresentam uma forte conotação de religiosidade sofrida. “Talvez o aspecto mais intenso da poesia de Cruz e Sousa es-teja na sua potência verbal e na sua capacidade de criar tantas imagens, que se conjugaram dinamicamente no interior de suas composições.”

(Cruz e Sousa. In Literatura Comentada, de Agnaldo José Gonçalves)

Cruz e Sousa é o poeta simbolista de maior profundidade na poesia brasileira, em seus poemas há um intenso questionamento do drama da existência influenciado pelo pessimismo de Schopenhauer.

Destaques de sua obra

•Temática → a própria poesia; angústia sexual profunda, que o poeta sublima e em outros momentos materializa; morte; conflito corpo-alma; transcendência espiritual, mistério sagrado; obsessão pela cor branca.

• Linguagem → hermética, erudita e elaborada.

• Forma → a palavra poética tem uma força intensa nos textos do po-eta, presença forte de substantivo; uso de imagens; e de maiúsculas; sinestesias; utilização de formas fixas (soneto).Textos:

ANTÍFONA1

Ó Formas alvas, brancas, Formas clarasDe luares, de neves, de neblinas!...Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...Incensos dos turíbulos2 das aras3...

Formas do Amor, constelarmente puras,de Virgens e de Santas vaporosas...Brilhos errantes, mádidas4 frescurase dolências5 de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas,harmonias da Cor e do Perfume...Horas do ocaso6, trêmulas, extremas,Réquiem7 do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,surdina de órgãos flébeis8, soluçantes...Dormências de volúpicos9 venenos...

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15. Éter: céu.16. Alacres: alegres.17. Fulvas: douradas.18. Tantálicos: relativos a, ou próprios de tântalo, figura lendária, cujo

suplício era estar perto da água, que se afastava quando tentava bebê-la, e sob árvores que encolhiam os ramos quando lhes tentava colher os frutos.

19. Quiméricos: irreais.20. Cabalístico: misterioso, obscuro.

CáRCERE DAS ALMAS

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,Soluçando nas trevas, entre as gradesDo calabouço olhando imensidades,Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandezaQuando a alma entre grilhões as liberdadesSonha e sonhando, as imortalidadesRasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadasNas prisões colossais e abandonadas,Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,Que chaveiro do Céu possui as chavesPara abrir-vos as portas do Mistério?!

BRAçOS

Braços nervosos, brancas opulências,brumais brancuras, fúlgidas brancuras,alvuras castas, virginais alvuras,latescências das raras latescências.

As fascinantes, mórbidas dormênciasdos teus braços de letais flexuras,produzem sensações de agres torturas,dos desejos as mornas florescências.

Braços nervosos, tentadoras serpesque prendem, tetanizam como os herpes,dos delírios na trêmula coorte...

VIOLõES QUE ChORAM(Fragmento)

Ah! plangentes violões dormentes mornos,soluços ao luar, choros ao vento...Tristes perfis, os mais vagos contornos,bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,noites de solidão, noites remotasque nos azuis da Fantasia bordo,vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,anseio dos momentos mais saudosos,quando lá choram na deserta ruaas cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,quando os sons dos violões nas cordas gemem,e vão dilacerando e deliciando,rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,dedos nervosos e ágeis que percorremcordas e um mundo de dolências geram,gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,mágoas amargas e melancolias,no sussurro monótono das águas,noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,volúpias dos violões, vozes veladas,vagam nos velhos vórtices velozesdos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Sonho BrancoDe linho e rosas brancas vais vestido,Sonho virgem que cantas no meu peito!...És do Luar o claro deus eleito,Das estrelas puríssimas nascido.

Por caminho aromal, enflorescido,Alvo, sereno, límpido, direito,Segues radiante, no esplendor perfeito,No perfeito esplendor indefinido...

Às vezes sonorizam-te o caminho...E as vestes frescas, do mais puro linho,E as rosas brancas dão-te um ar nevado...

No entanto, ó Sonho branco de quermesse!Nessa alegria em que tu vais, pareceQue vais infantilmente amortalhado!

LITANIA DOS POBRES(Fragmento)

Os miseráveis, os rotos

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isso ficou conhecido como “O Solitário de Mariana”. Foi noivo de Cons-tança (prima de 17 anos e filha de Bernardo Guimarães) com a morte da noiva, entrou em depressão. Casou-se com Zenaide de Oliveira em 1897 e tiveram 14 filhos e uma única filha, a qual deu o nome de Constança, a morte da filha o entristeceu profundamente, levando-o à morte. Sua poesia é marcada pelas temáticas: Misticismo, Amor (por Constança e pela Virgem Maria) e Morte, esse temas, bem como a estrutura formal, com linguagem elaborada e preferência pelo verso decassílabo se repetem no decorrer de sua produção literária, o que dá um tom equilibrado e uniforme a mesma. Marcado pelo sofrimento causado pela morte de Constança (às vésperas do casamento), profunda religiosidade e devoto da Virgem Maria, explica o misticismo exagerado do poeta que vê na morte a forma de sublimar sua dor, pois coloca a noiva morta ao lado da Virgem, o que valoriza o Amor espiritual. Observe o que diz o pesquisador Massaud Moisés: “ A contingência física pouco lhe importa: em vez da mulher-matéria, interessa-lhe a mulher-espírito. Assim se explica a ausência de erotismo, mesmo subjacente à espiritualização. Além do que o próprio fato biográfico nos pode esclarecer (Constança morreu jovem e donzela), temos de apelar para outros ingredientes da mundividência de Alphonsus de Guimaraens e do Simbolismo. A deificação da mulher, operando-se em moldes não-clássicos, desdenha os padrões mitográficos e pagãos renascentistas, organiza-se em moldes cristãos e medievais, segundo os quais a mulher, despojada de sua carnalidade, surge ao poeta como puro espírito, participante do plano das transcendências cristãs (soneto XIV, de Dona Mística)”

(Massaud Moisés, Simbolismo)

Embora a poesia de Alphonsus de Guimaraens tenha como essência temática seu drama íntimo, isso não a torna autobiográfica, pois o artista conseguiu universalizar poeticamente o que era particular.

Textos

ISMáLIA

Quando Ismália enlouqueceu,Pôs-se na torre a sonhar...Viu uma lua no céu,Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,Banhou-se toda em luar...Queria subir ao céu,Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,Na torre pôs-se a cantar...Estava perto do céu,Estava longe do mar...

E como um anjo pendeuAs asas para voar...Queria a lua do céu,Queria a lua do mar...

são as flores dos esgotosSão espectros implacáveisos rotos, os miseráveis.

São prantos negros de furnascaladas, mudas, soturnas..

São os grandes visionáriosdos abismos tumultuários.

As sombras das sombras mortas,cegos, a tatear nas portas.

Procurando o céu, aflitose varando o céu de gritos.

Faróis à noite apagadospor ventos desesperados.

Inúteis, cansados braçospedindo amor aos Espaços.

BEIJOS MORTOS

Para o frio silêncio do firmamento, para a alta sideração das estrelas, os beijos de chama que me deste outrora subiram mortos, frígidos, glaciais, sem aquele quente, inflamado clarão que os tornava apaixonados. Foram-se os beijos e tu te foste também com eles, Alma sonora, Carne de perfume e de luz, cujos olhos, de tanto incomparável amor carinhosamente me falavam. A minha boca, sequiosa e saudosa agora desses beijos que a constelaram, mal pode sonorizar as sílabas de sol – Amor – que tão inefavelmente sonorizava. Foram-se os teus beijos, sumiram-se aqueles astros, que ardiam, e agora, ei-los, já frios, lá acima, no esplendor, esparsos no arqueado Azul infinito... Que brilhem, lá, gélidos, esses beijos mortos como a serena e sagrada Via-Láctea da Paixão! Para mim, cá da terra, embaixo, eu os verei e os sentirei ainda palpitar para sempre sobre a minh’alma, purificando-a e iluminando-a, miraculosamente, contra o frio veneno negro da Dor, derramada fundo no meu peito por fulvos e inquisitoriais demônios, atropeladamente arremessados à escalada vertiginosa do Mundo!

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Alphonsus de guimaraens (1870 - 1921) Principais obras: Septenário das Dores de Nossa Senhora; Dona Mística; Kyriale; Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte; Escada de Jacó; Pulvis; Câmara Ardente; Salmos da Noite. Afonso Henriques da Costa Guimarães era o seu nome, mas passou a assinar artisticamente Alphonsus

de Guimaraens em 1894. Foi juiz em Mariana (MG) durante anos, por

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As asas que Deus lhe deuRuflaram de par em par...Sua alma subiu ao céu,Seu corpo desceu ao mar.ESTãO MORTAS AS MãOS

Estão mortas as mãos daquela Dona,Brancas e puras como o luar que velaAs noites romanescas de VeronaE as barbacãs e torres de Castela.

No último gesto de quem se abandonaÀ morte esquiva que apavora e gela,As mãos de Santa e de Madona,Ainda postas em cruz, pedem por ela.

Uma esquecida sombra de agoniasOscula o jaspe virginal das unhasE ao longo oscila das falanges frias...

E os dedos finos... ah! Senhora, ao vê-los,Recordo-me da graça com que punhasUm cravo, um lírio, um goivo entre os cabelos.

A CATEDRAL

Entre brumas ao longe surge a aurora.O hialino1 orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol2.A catedral ebúrnea3 do meu sonhoAparece na paz do céu risonho Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres4 responsos5: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz.A catedral ebúrnea do meu sonho,Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desceA tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a lua a rezar.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece na paz do céu tristonho

Toda branca de luar.E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu é todo trevas: o vento uiva.Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu.E a catedral ebúrnea do meu sonhoAfunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

1. Hialino: de vidro2. Arrebol: vermelhidão no horizonte quando o Sol nasce ou se põe. 3. Ebúrnea: de marfim.4. Lúgubres: tristes, fúnebres, sombrios, sinistros.5. Responsos: versículos rezados ou cantados alternativamente por dois coros, ou pelo coro e por um solista, depois das lições ou dos capítulos: pode ser também murmuração, maledicência.

NINGUéM ANDA COM DEUS...

Ninguém anda com Deus mais do que eu ando,Ninguém segue os seus passos como sigo.Não bendigo a ninguém, e nem maldigo:Tudo é morto num peito miserando.Vejo o sol, vejo a lua e todo o bandoDas estrelas no olímpico jazigo.A misteriosa mão de Deus o trigoQue ela plantou vai ceifando.

E vão-se as horas em completa calma.Um dia (já vem longe ou já vem perto?)Tudo que sofro e que sofri se acalma.

Ah se chegasse em breve o dia incerto!Far-se-á luz dentro de mim, pois a minh’almaSerá trigo de Deus no céu aberto...

ELA ChEGOU-SE A MIM COM MãOS DE MORTA

Ela chegou-se a mim com mãos de morta,E com uns olhares que eu desconhecia.O inverno vinha de bater à porta...— “Donde, Senhora, chegais vós tão fria?

— “Do céu, do caos, do abismo, que te importa?Andei de penedia em penedia.O hiemal frio senti que gela e corta,Fugi do luar, fugi da luz do dia...

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Os felizes julguei-os infelizes:Vi que a desgraça é a única rainhaQue impera sobre todos os países...

Entre os meus braços virginais descansa:Não pude vir, ai! Como outrora vinha,Pois eu sou a tua última Esperança!”

01. (FIS) Constituem traços característicos da estética simbolista:a) Antropocentrismo X teocentrismo.b) Racionalismo e evolucionismo.c) Crítica política e comprometimento social.d) Bucolismo e equilíbrio.e) Misticismo e intimismo.

02. (PUC) Assinale o que for incorreto a respeito da estética simbolista e da poesia de Cruz e Sousa.a) O Simbolismo brasileiro recupera de modo inequívoco os procedimen-

tos e os temas do Romantismo, valorizando o sentimento nacionalista e as ideias abolicionistas.

b) Os poetas simbolistas se opunham ao objetivismo cientificista dos realistas/naturalistas.

c) Cruz e Sousa é o maior representante da estética simbolistas no país. Porém, observa-se uma grande influência do Simbolismo nos poetas que se destacaram no Modernismo brasileiro, a exemplo de Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles entre outros.

d) Verifica-se na estética simbolista o culto à musicalidade do poema, em sintonia com a busca pela espiritualidade, um dos temas predo-minantes na poesia de Cruz e Sousa.

e) Para os simbolistas, a poesia, experiência transcendente, é uma forma pela qual se alcança o sentido oculto das coisas e das vivências.

Questões Propostas

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Tópico 01PrEPOSiTiONS

Dentre diversas preposições, é preciso dar uma atenção maior às preposições que mais são cobradas nos vestibulares. As três que mais trabalharemos podem ser aplicadas em contextos de tempo e lugar. São elas: IN, ON e AT. Geralmente muitas pessoas não sabem aplicá-las, mas veja como é fácil!

TIME - primeiramente o uso dessas três preposições em contextos de tempo.

IN - A preposição in é usada para:Months - in January, in June, in September, in DecemberSeasons - in summer, in winter, in spring, in fall/ autumnPeriods of the day - in the morning, in the afternoon, in the evening Years - in 1500, in 1875, in 1989, in 1993, in 2006Eras - in the Middle Ages, in the old times, in the 21st century

ON - A preposição on é usada para:Days of the week - on Mondays, on a Tuesday, on Wednesday afternoon, on Sunday evening, on the weekend ou at the weekendDays+months - on February 17th, on 25th July, on 1st August, on November 8th Holidays+day - on Father’s Day, on Christmas Day, on Thanksgiving Day AT - A preposição at é usada para:Time - at three o’clock, at a quarter to seven, at half past midnight, at 9:33Night - at nightHolidays - at Carnaval, at Easter, at Halloween, at Labor’s DayAge - at 17 years old, at 33, at the age of 45

PLACE - agora veremos as mesmas preposições em contexto de lugar

IN - a preposição in geralmente dá uma idéia de internalizado:Districts, cities, countries, continents - in Recife, in Brussels, in Norway, in Europe Restricted places - in the coffee shop, in the toilet, in the classroom, in the garage, in the drawer

ON - a preposição on refere-se diretamente a superfície, dentre outras funções:Surface - on the table, on the wardrobe, on the wall, on the ceiling, on the floorStreets, Avenues,Roads, Squares - on Wall St., on Time Sq., on Paulista Ave., on the highway

• Algumas expressões pedem a preposição on, como:- grandes meios de transporte – on the bus, on a plane, on that old ship, mas in the car, in the taxi- meios de comunicação – on the T.V., on the cellphone, on the radio

- on board, on foot, on vacation- on the beach, on the lake, on the river

AT – a preposição at é usada em:Addresses+number - at 2344 Copacabana Ave., at 54 Roosevelt St., at 194 Malden Ave.Places in general - at school, at church, at the club, at the park, at hospital, at home, at the cinema@ - [email protected], lê-se: allan (dot) cravo at gmail (dot) com

SOmE PrEPOSiTiONS

Vejamos algumas outras preposições e suas diferenças agora:

• ON X ABOVE/ OVEROn - em cima, com contato.Above/ Over - acima, sem contato.The airplane didn’t pass on us, but above/ over us!

• BETWEEN x AMONGBetween – entre, no meio de duas referênciasAmong – entre, no meio de mais de duas referências My cell phone may be between those 2 books on the shelf, or among all others on the floor.

• UP X DOWNUp - para o alto, para cimaDown - para baixo, abaixo To look at the stars, you can’t look down. You have to look up.

• FROM X OFFrom – de, indica origem, a partir deOf - de, indica posse, causa, composiçãoHe brought all these vegetables from the farm of his grandfather.David died of lung cancer

• UNTIL/ TILLUntil/ Till - até e se refere a tempoI kept waiting for him till dawn

• BYBy - de (para transporte e comunicação), por (autoria)After he was contacted by phone, he went to the festival by taxi and saw the new book written by Chico Buarque de Hollanda.

• TO X FORTo - para, em direção de (movimento), e é sinônimo de untilFor - para, por (motivo)My pacient had to go to São Paulo for a surgery.

Preposições de MovimentoAs preposições a seguir sempre pedirão um verbo de movimento

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Questões Propostas

Tópico 03

• INTO X ONTOInto - para dentro deOnto - para cima deThey’re putting the vase onto the fridge, not into it.

• OFF X OUT OFOff - para fora de, fora de, em outro lugarOut of - para fora, fora de, indica movimento para fora de um lugar I can’t believe you dropped him off at the pub. Get out of here and pick him up!

01. We were having dinner ____________ the living room table when the picture _________ the wall started to move and to stare ________ us. We were so frightened that _____a few seconds, everyone ran ________ to the basement and left all the food ________ the table.a) on; in; at; on; up; onb) at; on; at; in; down; onc) on; on; on; in; up; atd) on; on; in; at; down; one) at; on; on; at; up; on

02. Camila was born _______ May, _______ 4:55, ______a Sunday , _______ 1979, ________ a very small city, _______ Paraguay.a) at; at; in; in; on; inb) in; on; at; in; on; inc) in; at; on; in; in; ind) in; on; at; in; in; ine) on; on; on; in; in; in

03. -I believe we’ll get there _____ plane. I can’t stand 7 hours_____ a car- Will we leave ______ October 12th or ______ the next weekend?- We’ll go ______ October _____ the early morning!a) by; in; on; on; in; inb) on; in; on; in; on; inc) to; in; in; on; in; ind) by; in; in; on; on; ine) on; on; in; on; in; in

Tópico 02

Questões Propostas

imPErATiVE

A forma Imperative é de fácil estrutura. Não há presença de sujeito. Preste atenção:

Affirmative form - Na forma afirmativa há apenas o uso do verbo na forma de infinitivo sem a partícula to.

Pay atention to what I’m saying! (Preste atenção no que estou dizendo!).Go and tell her that I’m here! (Vá e diga a ela que estou aqui!).Buy some vegetables and bring me the receipt if you go to the ma-rket!

(Compre verduras e traga o recibo se você for ao mercado!).Make your bed before you go to school! (Faça a cama antes de ir para a escola!).

Negative form - Na forma negativa há a utilização de um único verbo auxiliar, DON’T, antes do verbo da oração.

Don’t tell me what to do! (Não me diga o que fazer!).Don´t open the window! It’s freezing! (Não abra a janela! Está muito frio!).Don’t spend your money on useless things! (Não gaste dinheiro em coisas inúteis!)Don’t leave me this way! (Não me deixe assim!)

• Há ainda a forma enfática do Imperativo, tanto na forma afirmativa como na negativa. Para isso basta usar o verbo auxiliar DO.Do make your homeork now!Do behave well in front of my parents!Do bring the whole material to class! • Os advérbios NEVER e ALWAYS podem vir antes do ImperativoNever forget where you came fromAlways tell me the truth

01. _________, Smith is here” (Dr. Smith in Lost in Space)a) Don’t fear b) Does fear c) Fear dod) Is fear e) Not fear

02. Teacher to students: “ ________ the book to page 25, _______ the text about abortion,________ these questions and after all _________ an essay about what you understood”a) Close, write, ask, not write b) Open, read, answer,do writec) Close, reading, to answer, to write d) Read, open, write, closee) Open, read, write, answer

SimPLE PrESENT

O tempo verbal Present Simple expressa uma ação de rotina, freqüência ou de verdade absoluta.- I drink milk every morning.- It rains heavily in the Northeast during July.- My parents always go to the beach on Sundays. - The moon goes around the Earth and all the planets go around the Sun.

Linguagens e Códigos.indb 42 25/3/2010 08:58:48

Anotações

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43E2-i

editor

Affirmative form

Na forma afirmativa apenas haverá conjugação verbal explícita quando o sujeito for a 3ª pessoa do singular, ou seja: he, she, it. Nesse caso, o acréscimo pode ser de S, ES ou IES. Caso o sujeito for I, you, we e they utiliza-se o verbo no infinitivo sem to.

S - o acréscimo de S será dado a todo verbo que for conjugado pela 3ª pessoa do singularShe loves that cheesecake your mother bakes for Christmas.Harold works downtown, but he lives in the suburbs.That old dog barks every time the mailman approaches and delivers the mail.

ES – o acréscimo de ES só é feito quando o verbo termina em S, Sh, Ch, X, z e O.My mother kisses me before she goes to work.Nina brushes her teeth four times a day.Allan watches a different film every week.The mechanic near my house fixes cars even at night.A bee buzzes when it feels frightened.My kid does his homework after he goes to his swimming lessons.IES – o acréscimo de IES é feito quando o verbo termina em Y, mas é precedido de uma consoante. Lawrence always tries to convince me. (to try)Your new neighbor studies with me at school. (to study)Professor DeRosa applies samples and cries out when they fail. (to apply/ to cry)

• caso o verbo termine em Y, mas for precedido de uma vogal, apenas acrescenta-se S.Alison plays the accordeon and pays for her lessons (to play/ to pay)The employee obeys every order his manager says. (to obey/ to say) • o verbo to have (ter) tem uma flexão diferente quando conjugado pela 3ª pessoa do singular: hasJorge has a great family and his grandmother has an enormous beach house.

Negative form

Na forma negativa do Simple Present sempre haverá um verbo auxiliar e o verbo principal, mesmo que conjugado pela 3ª pessoa do singular, já não recebe S, ES ou IES. Vejamos a conjugação do verbo to study;

I do not/ don’t study You do not/ don’t study He She does not/ doesn’t study It We You do not/ don’t study They

Daniel doesn’t eat red meatBrazil doesn’t have the best economy in the world

interrogative form

• antes de analisarmos a estrutura interrogativa do Simple Present, é interessante checarmos os pronomes interrogativos mais comuns:

What…? – O que? Qual? Which...? – O/ A qual? Os/ As quais? Where…? – Onde? Aonde? When…? – Quando? Why…? – Por que? Who…? – Quem? Whose…? – De quem? how…? – Como? how many…? – Quantos (as)? how much…? – Quanto (a)?

Na forma interrogativa usamos o verbo auxiliar do Simple Present, DO/ DOES antes do sujeito e o pronome interrogativo antes do verbo auxiliar.Do you know her name?Do we have any other alternative? Does she always complain about it?Where do they go on holidays?Why does he cry so much?How many brothers do you have?

Às vezes uma interrogativa pode ser feita no Simple Present sem o verbo auxiliar. É mais comum com os pronomes interrogativos WHAT, WHICH ou WHO. Nesse caso, a pergunta busca o sujeito da oração, e não o objeto, advérbio etc. Veja esses exemplos:- Who prefers thriller films? You or Jane? (Quem prefere filmes de suspense? Você ou Jane?).- What makes her so sad? (O que a faz tão triste?).- Which of those carpets matches with your couch? (Qual desses tapetes combina com seu sofá?).

Frequency Adverbs

Alguns advérbios ou locuções adverbiais de freqüência além de ajudá-lo a identificar o tempo verbal da oração, complementam a idéia de freqüência que o Simple Present expressa. Os mais utilizados são:

always- sempre usually- usualmente often- freqüentementesometimes - às vezesseldom/ rarely - raramenteoccasionaly- ocasionalmentenever- nunca

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Anotações

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44E2-i

editor

once/ twice/ three times a week, a month, a year - uma vez, duas vezes, três vezes a semana, ao mês, ao ano.every week, weekend, month etc - toda semana, todo fim de semana, todo mês etc.

• com o verbo to be, os advérbios vem após o verboShe’s always late for workThey are never happy with the results • no Simple Present os advérbios vem antes do verboThe students rarely give in the projects in timeMy secretary sometimes has lunch with me

• no fim ou no início de frasesOnce a year my whole family gets together for a meeting or My whole family gets together for a party once a year

Um tongue-twister para você se divertir!“She sells seashells by the seashore and the seashells she sells by the seashore are seashells for sure”

PrESENT cONTiNUOUS/ PrOgrESiVE

O uso do Present Continuous ou Present Progressive ex-pressa principalmente a realização da ação no momento, mas também uma ação que acontece constantemente e uma ação planejada para o futuro. O uso dos termos now, at the moment e right now é bastante freqüente. Sua estrutura consiste em:

VERB TO BE + MAIN VERB (verbo principal) + -ING (-ando) am (-endo) is (-indo) are (-ondo)

- A formação do gerúndio varia em relação ao término dos verbos. As regras principais são as seguintes:

• Aos verbos que acabam em e, retira-se esse e, e acrescenta-se -ing:to manage- managingto write- writingto smile- smiling

exceto o verbo to be e verbos que acabem em –ee:to be- beingto forsee- forseeingto flee- fleeing

• Aos verbos que acabam em –ie, acrescenta-se –ying:to lie- lyingto die- dying

• Aos verbos que terminam em consoante + vogal (tônica) + conso-ante, dobra-se a última consoante e acrescenta-se -ing:

to sit- sittingto prefer- preferringto begin- beginningto occur- occurringto get- getting

Affirmative form - lembre-se que a forma abreviada do verbo to be é utilizada também

I am You are He is She is VERB- ing It is We are You are They are

She’s working and he’s studying right nowThey’re helping mom to move out and I’m trying to contact themIt’s raining men! (The Weather Girls)We’re going out late. Do you want to join us?

Negative form - é preciso apenas modificar o verbo to be para a negativa. Veja:

I am not You aren’t He isn’t She isn’t VERB- ing It isn’t We aren’t You aren’t They aren’t

Marianne isn´t doing her homework at this moment. She´s playing videogame

My computer is not working well. I need to call the technicianI’m not calling her tonight. The managers aren´t planning a new strategy for the workers

Interogative form - apenas inverta a posição do verbo to be com o sujeito.

Am I Are you Is he Is she VERB –ing ? Is it Are we Are you Are they

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Anotações

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45E2-i

editor

Questões Propostas

Tópico 04What are they reading?Where are they traveling in January?Am I saying stupid things?Are you always walking on the beach?

A forma de Present Continuous é também utilizada para expressar futuro planejado num certo momento. Para diferenciar os tempos, basta acrescentar, ao início ou ao fim da oração, um advérbio de tempo do futuro.

O sufixo –ing é formador de substantivos e adjetivos também.Preste atenção:

Adjectivesto interest (interessar) – interesting (interessante)to annoy (irritar) – annoying (irritante)to bore (entediar) – boring (entediante/ chato)

Nounsto write (escrever) – writing (escrita)to spell (soletrar) – spelling (ortografia)to train (treinar) – training (treinamento)

01. When she __________ (to fancy) someone, she usually _________ (to cry) when apart, ___________( to try) to be in touch all the time and ________ (to obey) the person’s order. She needs help!a) fancys; crys; trys; obeysb) fancies; cries; tries; obeiesc) fancies; cries; tries; obeysd) fancis; cris; tris; obeise) fancyies; cryies; tryies; obeyies

02. _________ team _______________ for? Manchester or Real Madrid?a) What; does he play b) Which; he plays c) Which; does he playd) What; he plays e) Which; does he plays

03. Brazil is in such a situation that the only thing it ____________ is a large and sad laugha) deserve b) deserves c) don’t deservesd) doesn’t deserves e) is deserve

04. Analyze the sentences and then choose the correct alternativeI. Who does she think she is?II. Which musical instrument Ben wants to learn?III. Who live here?IV. What makes this place so crowded?a) All are correct b) All are incorrect c) Only I and II are correct d) Only I and IV are correct e) Only III is incorrect

SimPLE PAST

O Simple Past expressa uma ação que iniciou no passado e terminou no passado. Como no Simple Present, só há conjugação verbal na *forma afirmativa, mas o verbo no Simple Past é igual para todos os pronomes. Entretanto, os verbos no passado encontram-se em forma REGULAR ou IRREGULAR. Não há uma regra fixa para os verbos irregulares, apenas vemos que os novos verbos na língua seguem a forma regular, ou seja, os verbos irregulares sempre serão os mesmos.

Verbos regulares

As formas dos verbos regulares variam dependendo de suas terminações e são utilizados para todos os pronomes. Os verbos podem ter o acréscimo de D, ED ou IED.

• D - para os verbos que acabarem em E.The kids really liked the play.In 1995 we lived in Holland.The Smiths moved away 3 weks ago.

• ED - para os verbos que não acabam em E ou em Y precedido de uma consoanteShe booked a table at a fancy restaurant.The lawyer watched the trial and matched the facts. He wanted to get to a conclusion.The French chef mixed the ingedients and prepared a wonderful dish He worked hard and his wife helped him a lot. • IED - para os verbos que terminam em Y e são precedidos de uma consoanteThe doorman carried all the luggage (to carry)My cousin studied nursery and applied for a public hospital job (to study/ to apply)

Verbos irregulares

Os verbos irregulares possuem variações diversas ou são exatamente iguais na forma de presente e passado. Ao lado segue um quadro compondo os principais verbos irregulares no infinitivo, passado e passado particípio.

Base Past Past Portuguese Form Tense Participle Translation to be was, were been ser, estar to become became become tornar-se to begin began begun começar to break broke broken quebrar to bring brought brought trazer to build built built construir to buy bought bought comprar

Linguagens e Códigos.indb 45 25/3/2010 08:58:48

Anotações

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46E2-i

editor

to catch caught caught pegar, capturar to choose chose chosen escolher to come came come vir to cost cost cost custar to cut cut cut cortar to do did done fazer to draw drew drawn desenhar to drink drank drunk beber to drive drove driven dirigir to eat ate eaten comer to fall fell fallen cair to feed fed fed alimentar to feel felt felt sentir, sentir-se to fight fought fought lutar to find found found achar, encontrar to fly flew flown voar, pilotar to forbid forbade forbidden proibir to forget forgot forgotten esquecer to freeze froze frozen congelar, paralisar to get got gotten, got obter to give gave given dar to go went gone ir to grow grew grown crescer, cultivar to have had had ter, beber, comer to hear heard heard ouvir to hit hit hit bater to hold held held segurar to hurt hurt hurt machucar to keep kept kept guardar, manter to know knew known saber, conhecer to lead led led liderar to leave left left deixar, partir to lend lent lent dar emprestado to let let let deixar, alugar to lie lay lain deitar to lose lost lost perder, extraviar to make made mad fazer, fabricar to mean meant meant significar, querer dizer to meet met met encontrar, conhecer to pay paid pai pagar to put put put colocar to read read read ler to ride rode ridden andar to ring rang rung tocar (campainha, etc.) to run ran run correr to say said said dizer to see saw seen ver to sell sold sold vender to send sent sent mandar to show showed shown mostrar, exibir to sing sang sung cantar to sink sank sunk afundar, submergir to sit sat sat sentar to sleep slept slept dormir to speak spoke spoken falar to spend spent spent gastar to steal stole stolen roubar to swim swam swum nadar to swing swung swung balançar, alternar to take took taken tomar to teach taught taught ensinar, dar aula to tell told told contar to think thought thought pensar to understand understood understood entender to wear wore worn vestir, usar, gastar to win won won vencer, ganhar to write wrote written escrever, redigir

Para a regra que vimos no Simple Present, a qual a pergunta busca o sujeito, no Simple Present, funcionará da mesma forma, ou seja, não há o uso do verbo auxiliar.- Who brought this puppy home?- What made him cry?- Which one called your attention?

NEgATiVE and iNTErrOgATiVE FOrmS

Nas formas negativas e interrogativas do Simple Past, há o uso do verbo auxiliar DIDN´T/DID. A mesma regra do Simple Present é aplicada no Simple Past. A questão é que, quando o verbo auxiliar é empregado, o verbo principal da oração volta para a forma de presente. Veja:

Affirmative form- The clerk gave the lady her moneyNegative form- The clerk didn’t give the lady her moneyInterrogative form- Did the clerk give the lady her money?Interrogative form- What did the clerk give the lady?

Affirmative form- The gang went downtown to have funNegative form- The gang didn’t go downtown to have funInterrogative form- Did the gang go downtown to have fun?Interrogative form- Where did the gang go to have fun?

Afiirmative form- You met Josephine at the parkNegative form- You didn’t meet Josephine at the parkInterrogative form- Did you meet Josephine at the park?Interrogative form- Who did you meet at the park?

Um tongue-twister para você se divertir!Peter Pipper picked up a pack of pickled pepper. If Peter Pipper picked up a pack of pickled pepper, Where is the pack of pickled pepper Peter Pipper picked?

01. Suzan is a football player, but last year she________ and _________ her leg. Fortunatelly the team ________ and she _________ the prize”a) fallen; broke; won; gottenb) fell; broke; won; gotc) felt; broke; wun; getd) feel; broak; won; gottene) fallen; broak; won; getted

02. Choose the right alternative:a) Who did discovered Brazil?b) Who discovered Brazil?c) Did who discover Brazil?d) What Pedro Álvares discovered?e) What did Pedro Álvares discovered?

Questões Propostas

Linguagens e Códigos.indb 46 25/3/2010 08:58:48

Anotações

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47E2-i

editor

03. Reescreva no presente:“She didn’t carry the heavy boxes. Either her brother carried them for her or her husband did it” __________________________________________________________________________________________________________________

04. Choose the right alternative: “ He _______ so much yesterday evening that I _________ to call his mom. He ___________ my orders so I __________ for God to make his mom get home earlier”a) cryed; tried; didn’t obey; prayedb) cried; tried; didn’t obeyed; prayedc) cried; tried; didn’t obey; prayedd) cryied; tryied; didn’t obey; prayiede) cried; tried; not obeyed; prayed

05. The negative form of the sentence : “ The members met the chairman and they all had a long meeting”a) The members didn’t meet the chairman and didn’t had a long meting.b) The members didn’t met the chairman and didn’t have a long meeting.c) The members didn’t meet the chairman and didn’t have a long meetinged.d) The members did not meet the chairman and did not have a long

meeting. e) The members not met the chairman and not had a long meting.

Linguagens e Códigos.indb 47 25/3/2010 08:58:48

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Anotações

Linguagens e Códigos.indb 48 25/3/2010 08:58:48

Apuntes

Espa

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49E2-E

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Tópico 01VErBOS - TiEmPOS SimPLES (mOdO iNdicATiVO)

El verbo es una clase de palabras o categoría léxica que presenta las siguientes características: forma, conjugación, desinencias y función. En español, existen tres conjugaciones, según la terminación del infinitivo: 1ª conjugación (-AR), 2ª conjugación (-ER) y 3ª con-jugación (-IR). La flexión verbal comprende tres modos que integran las for-mas personales del verbo, es decir, indicativo, subjuntivo e imperativo. A ellas hay que añadir las formas no personales infinitivo, participio y gerundio. Los tiempos indican las tres posibilidades temporales: pasado, presente y futuro. Comprenden formas simples y formas compuestas.En este apartado, se estudiará el modo indicativo que es el modo de la realidad. El hablante se manifiesta neutral ante la acción, limitándose a exponerla como una realidad objetiva. Las formas simples se caracterizan por la combinación de la raíz con unas desinencias. Son formas simples:

conjugación regular

Presente de Indicativo

CANTAR BEBER SUBIR

Cant-oCant-asCant-a

Cant-amosCant-áisCant-an

Beb-oBeb-esBeb-e

Beb-emosBeb-éisBeb-en

Sub-oSub-esSub-e

Sub-imosSub-ísSub-en

Pretérito Imperfecto

CANTAR BEBER SUBIR

Cant-abaCant-abasCant-aba

Cant-ábamosCant-abaisCant-aban

Beb-íaBeb-iasBeb-ía

Beb-iamosBeb-íaisBeb-ían

Sub-íaSub-íasSub-ía

Sub-íamosSub-íaisSub-ían

Pretérito Indefinido (pretérito perfecto simple)

CANTAR BEBER SUBIR

Cant-éCant-aste

Cant-óCant-amosCant-asteisCant-aron

Beb-íBeb-isteBeb-ió

Beb-imosBeb-isteisBeb-ieron

Sub-íSub-isteSub-ió

Sub-imosSub-isteisSub-ieron

Futuro Imperfecto (simple)

CANTAR BEBER SUBIRCantar-éCantar-ásCantar-á

Cantar-emosCantar-éisCantar-án

Beber-éBeber-ásBeber-á

Beber-emosBeber-éisBeber-án

Subir-éSubir-ásSubir-á

Subir-emosSubir-éisSubir-án

Condicional Imperfecto (simple)

CANTAR BEBER SUBIRCantar-íaCantar-íasCantar-ía

Cantar-íamosCantar-íaisCantar-ían

Beber-íaBeber-íasBeber-ía

Beber-íamosBeber-íaisBeber-ían

Subir-íaSubir-íasSubir-ía

Subir-íamosSubir-íaisSubir-ían

conjugación irregular (auxiliares)PRESENTE

SER ESTAR HABERSoyEresEs

SomosSoisSon

EstoyEstásEstá

EstamosEstáisEstán

HeHas

Ha (Hay)HemosHabéis

Han

Verbos de irregularidad común

• Ciertos verbos que presentan la vocal E en el radical cambian esta vocal en IE, en las tres personas de singular y en la tercera de plural del presente de indicativo.

PRESENTEPENSAR EMPEZAR

PiensoPiensasPiensa

PensamosPensáisPiensan

EmpiezoEmpiezasEmpieza

EmpezamosEmpezáisEmpiezan

Siguen esta regla: acertar, adquirir, atender, atravesar, comenzar, consentir, defender, despertar, divertir, inquirir, mentir, perder, sentar, sentir...

Apuntes

Linguagens e Códigos.indb 49 25/3/2010 08:58:49

Apuntes

Espa

nhol

50E2-E

editor

• Ciertos verbos que presentan la vocal O en el radical cambian esta vocal en UE, en las tres personas de singular y en la tercera de plural del presente de indicativo.

PRESENTEENCONTRAR PODER

EncuentroEncuentrasEncuentra

EncontramosEncontráisEncuentran

PuedoPuedesPuede

PodemosPodéisPueden

Siguen esta regla: acordar, apostar, aprobar, colgar, contar, demostrar, recordar, rogar, soltar, volar, mover, morder, oler, resolver, volver, morir...

• Ciertos verbos de la 3ª conjugación que presentan la vocal E en el radical cambian esta vocal en I, en las tres personas de singular y en la tercera de plural del presente de indicativo; en pretérito indefinido, en las terceras personas.

PRESENTE PRETÉRITO INDEFINIDOPEDIR PEDIR

PidoPidesPide

PedimosPedísPiden

PedíPedistePidió

PedimosPedisteisPidieron

Siguen esta regla: competir, conseguir, despedir, elegir, impedir, investir, medir, perseguir, reír, seguir, vestir...

• Los verbos terminados en -ACER, -ECER, -OCER, -UCIR cambian la C en ZC en la primera persona del singular del presente de indicativo.

PRESENTENACER PARECER

NazcoNacesNace

NacemosNacéisNacen

ParezcoParecesParece

ParecemosParecéisParecen

Siguen esta regla: adormecer, agradecer, aparecer, crecer, envejecer, favorecer, merecer, pertenecer, lucir, relucir, traslucir, conducir, traducir, producir, reducir...

Apuntes

Apuntes

• Los verbos terminados en -UIR toman una -Y después de la U del radical en las tres personas del singular del presente de indicativo; en pretérito indefinido, en las terceras personas.

PRESENTE PRETÉRITO INDEFINIDOHUIR HUIRHuyoHuyesHuye

HuimosHuís

Huyen

HuíHuisteHuyó

HuimosHuisteisHuyeron

Siguen esta regla: afluir, construir, constituir, contribuir, destituir, destruir, disminuir, distribuir, excluir, incluir, restituir, sustituir...

Verbos que sufren irregularidad en la 1ª persona del singular del presente de indicativo (reciben una “g”):

CAER HACER PONERYo Caigo Hago PongoTú Caes Haces Pones

Él/Ella/Ud. Cae Hace PoneNosotros/as Caemos Hacemos PonemosVosotros/as Caéis Hacéis Ponéis

Ellos/Ellas/Uds. Caen Hacen Ponen

SALIR TRAER VALERYo Salgo Traigo ValgoTú Sales Traes Vales

Él/Ella/Ud. Sale Trae ValeNosotros/as Salimos Traemos ValemosVosotros/as Salís Traéis Valéis

Ellos/Ellas/Uds. Salen Traen Valen

Los verbos TENEr, VENir y dEcirTENER VENIR DECIR

Yo Tengo Vengo DigoTú Tienes Vienes Dices

Él/Ella/Ud. Tiene Viene DiceNosotros/as Tenemos Venimos DecimosVosotros/as Tenéis Venís Decís

Ellos/Ellas/Uds. Tienen Vienen Dicen

Linguagens e Códigos.indb 50 25/3/2010 08:58:49

Apuntes

Espa

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51E2-E

editor

Practique

Los verbos dAr, ir y OírDAR IR OÍR

Yo Doy Voy OigoTú Das Vas Oyes

Él/Ella/Ud. Da Va OyeNosotros/as Damos Vamos OímosVosotros/as Dais Vais Oís

Ellos/Ellas/Uds. Dan Van Oyen

Futuro imperfecto irregular• Modelo 1

CABER HABER SABERYo

CABR

é

HABR

é

SABR

éTú ás ás ásÉl/Ella/Ud. á á áNosotros/as emos emos emosVosotros/as éis éis éisEllos/Ellas/Uds. án án án

PODER QUERERYo

PODR

é

QUERR

éTú ás ásÉl/Ella/Ud. á áNosotros/as emos emosVosotros/as éis éisEllos/Ellas/Uds. án án

• Modelo 2

PONER TENER SALIRYo

PONDR

é

TENDR

é

SALDR

éTú ás ás ásÉl/Ella/Ud. á á áNosotros/as emos emos emosVosotros/as éis éis éisEllos/Ellas/Uds. án án án

VALER VENIRYo

VALDR

é

VENDR

éTú ás ásÉl/Ella/Ud. á áNosotros/as emos emosVosotros/as éis éisEllos/Ellas/Uds. án án

• Modelo 3

DECIR HACERYo

DIR

é

HAR

éTú ás ásÉl/Ella/Ud. á áNosotros/as emos emosVosotros/as éis éisEllos/Ellas/Uds. án án

Apuntes

¡Ojo!

Los verbos irregulares en el Futuro Imperfecto presentan las mismas irregularidades en el Condicional Imperfecto.

La gramática del verbo “gustar”:

El verbo gustar es especial. Aquí tienes cómo se usa:

(A mí)(A ti)(A él/ella/Ud.)(A nosotros / as)(A vosotros / as) (A ellos/ellas/Uds)

metele

nososles

gusta

gustan

el caféel cinecantar

los calamareslos niños

01. (UFMA)Las formas verbales que com-pletan el oráculo arriba son:a) quiero, es, encontraremosb) querías, es, encontrarásc) querías, es, encontré d) quieres, sea, encontraremose) quiere, es, encontraréSolução:As duas primeiras orações tra-zem como sujeito o pronome “usted”, que leva o verbo na terceira pessoa do singular: “quiere” e “es”; a terceira oração tem como sujeito o pronome “yo”, que leva o verbo na primeira pessoa: “encontraré”;

02(UFAC) Los verbos destacados abajo están correctamente clasifi-cados cuanto al tiempo y el modo en:I. Cuentan: Presente de SubjuntivoII. Congregó: Pretérito Indefinido de IndicativoIII. Aventuraban: Pretérito Imperfecto de Indicativo

Linguagens e Códigos.indb 51 25/3/2010 08:58:49

Apuntes

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52E2-E

editor

IV. Perdían: Condicional Simple de IndicativoV. Daría: Pretérito Imperfecto de Indicativoa) Las I y II b) Las II y III c) Las III y IVd) Las IV y V e) Las II y V

03. (UPE) Observe las siguientes construcciones verbales del texto: contar cuentos, se aburre, aguza su fantasía, se deja llevar, le enseñará.¿Qué respuesta contiene alguna flexión equivocada?a) Cuento cuentos, me aburro, aguzo la fantasía, me dejo llevar, le

enseño.b) Cuentaste cuentos, te aburristes, aguzastes la fantasía, te dejastes

llevar, le enseñastes.c) Contará cuentos, se aburrirá, aguzará la fantasía, se dejará llevar,

le enseñará.d) Hemos contado cuentos, nos hemos aburrido, hemos aguzado la

fantasía, nos hemos dejado llevar, le hemos enseñado.e) Contarían cuentos, se aburrirían, aguzarían la fantasía, se dejarían

llevar, le enseñarían.

04. (UPE) Los verbos hacer, empezar y salir presentan irregularidades en la conjugación de algunos de sus tiempos. Señala la única alternativa correcta.a) Hago, empezo, salgo; hacía, empezaba, salía; haré, empezaré,

saldré.b) Hago, empiezo, salgo; hacía, empezaba, salía; haré, empezaré,

saldré.c) Hago, empiezo, salgo; hazía, empezaba, salía; haré, empiezaré, sal-

dré.d) Hago, empiezo, salgo; hacía, empezaba, saía; haré, empezaré, sairé.e) Hago, empiezo, salgo; hacía, empiezaba, salía; haceré, empiezaré,

saldré.

05. (COVEST) Los verbos en “Años atrás nos reuníamos en patios florecidos”, “Recorríamos la ciudad a pasos lentos” y “Fumábamos tran-quilos bajo la luna”, están en pretérito imperfecto de indicativo porque:

I II0 0 expresan un acción que irá a ocurrir.1 1 expresan un acción reiterada en el pasado.2 2 expresan una determinada posibilidad.3 3 expresan una determinada necesidad subjetiva.4 4 expresan estrategia de cortesía.

06. (FIS-SESST) En diferentes pasajes del texto aparecen, entre otras, las siguientes formas verbales: supondrá, persiguen, impedi-rán, incluyen. Indique qué secuencias contienen TODAS sus formas correctas correspondientes a esos cuatro verbos:1) suponga – persigan – impidan – incluyeron2) suponía – persiguieron – impedirá – incluyó3) supuso – perseguiré – impedecirán – incluian4) supone – persiguió – impedieron – incluigan5) supo – persigió – impidan – incluían.Son correctas:a) 1 y 2 solamente b) 2, 3 y 4 solamente c) 1 y 3 solamente d) 1, 2, 3, 4 y 5 e) 3, 4 y 5 solamente

07. (FAVIP) A lo largo del texto aparecen numerosas formas verbales en el mismo tiempo: trataría, intentaría, sería, relajaría, haría, etc. Con relación a tales formas, es correcto afirmar quea) están en modo subjuntivo, porque significan hipótesis o cosas irre-

alizables.b) expresan en sí mismas una condición.c) están relacionadas con acciones de un tiempo futuro.d) expresan dependencia de que se produzca una condición previa (en

este caso, irreal).e) el autor usa aquí el condicional porque no está completamente seguro

de lo que haría si pudiera vivir de nuevo.

08. (FUNESA) En diferentes pasajes del texto aparecen, entre otras, las siguientes formas verbales: tendrán, oír, negar. Indique qué secuencias contienen TODAS sus formas correctas correspondientes a esos tres verbos:1) tengan – oyan – negamos 2) tienes – oiré – nieguen3) tuve – oigan – negasen 4) ten – oye – negaba5) teño – oyo – neganSon correctas: a) 1, 2, 3, 4 y 5 b) 2, 3 y 4 solamente c) 2 y 3 solamented) 2, 4 y 5 solamente e) 1 y 4 solamente

09. (UPE) El autor del texto usa profusamente el verbo ser, que se caracteriza por poseer varias raíces (por eso se llama “polirrizo”). Señala el único conjunto de tiempos del verbo ser que posea alguna forma incorrecta.a) Presente de indicativo: soy, eres, es, somos, sois, son.b) Pretérito imperfecto de indicativo: era, eras, era, éramos, erais, eran.c) Pretérito perfecto simple de indicativo: fui, fuiste, fue, fuimos, fuisteis, fueron.d) Futuro de indicativo: seré, serás, será, seremos, seréis, serán.e) Condicional: seria, serias, seria, seriamos, seriais, serian.

10. (UFAC) De acuerdo con la clasificación verbal enumera la 2ª columna por la 1ª:1. Verbo regular ( ) Cuentan2. Verbo de irregularidad común ( ) Sabe3. Verbo de irregularidad propia ( ) Ha tenido4. Verbo auxiliar ( ) Congregó ( ) Murió ( ) Hizo ( ) Era ( ) Aventuraba ( ) Hay ( ) Abandonó ( ) Ha tenido ( ) Profirieron

a) 2 – 4 – 3 – 1 – 2 – 4 – 3 – 1 – 4 – 2 – 4 – 3b) 1 – 3 – 4 – 1 – 2 – 3 – 1 – 4 – 2 – 2 – 3 – 4c) 2 – 3 – 3 – 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 4 – 1 – 4 – 2d) 2 – 4 – 1 – 4 – 1 – 4 – 3 – 2 – 1 – 3 – 3 – 2e) 4 – 3 – 2 – 2 – 1 – 3 – 1 – 4 – 2 – 3 – 1 – 4

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53E2-E

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11. Señala opción correcta en cuanto al uso del verbo gustar:a) ¿Te gusta del cine?b) ¿Vos gustan las películas románticas?c) A ella les gustan las películas de terror.d) A mí me gusta las películas de ciencia ficción.e) A los dos les gustan mucho las películas musicales.

12. (FUNESA) Señale en cuál, de entre las alternativas siguientes, se encuentra el paradigma verbal al que pertenece la forma subrayada en me gusta acercarme a su tronco:a) gusto, gustas, gusta, gustamos, gustáis, gustan;b) me gusta, te gusta, se gusta, nos gusta, os gusta, se gustan;c) me gusta, te gusta, se gusta, nos gusta, vos gusta, se gustan;d) me gusta, te gusta, le gusta, nos gusta, os gusta, les gusta;e) me gusta, te gusta, le gusta, nos gusta, vos gusta, les gusta.

13.(COVEST) Considere el siguiente fragmento que aparece en el segundo párrafo del texto: Hay personas a quienes les gusta estar atentas. Con respecto a ella, podemos afirmar que:

I II0 0 ‘personas’ es el sujeto del verbo ‘gustar’.1 1 ‘les’ se refiere al sujeto de ‘gustar’..2 2 ‘estar atentas’ es el sujeto de ‘gustar’.3 3 ‘personas’ no es el sujeto ni del verbo ‘haber’ (hay) ni del

verbo ‘gustar’..4 4 ‘les’ desempeña una función enfática al referirse al objeto

indirecto expreso ‘a quienes’.

VErBOS dE irrEgULAridAd PrOPiA

ANDARINDICATIVO

Pretérito IndefinidoAnduve

AnduvisteAnduvo

AnduvimosAnduvisteisAnduvieron

CABERINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoQuepoCabesCabe

CabemosCabéisCaben

CupeCupisteCupe

CupimosCupisteisCupieron

Apéndice

Futuro Imperfecto Condicional (simple)CabréCabrásCabrá

CabremosCabréisCabrán

CabríaCabríasCabría

CabríamosCabríaisCabrían

hABERINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoHeHasHa

HemosHabéis

Han

HubeHubisteHubo

HubimosHubisteisHubieron

Futuro Imperfecto Condicional (simple)HabréHabrásHabrá

HabremosHabréisHabrán

HabríaHabríasHabría

HabríamosHabríaisHabrían

IRINDICATIVO

Presente Pretérito Imperfecto Pretérito IndefinidoVoyVasVa

VamosVaisVan

IbaIbasIba

ÍbamosIbaisIban

FuiFuisteFue

FuimosFuisteisFueron

PONERINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoPongoPonesPone

PonemosPonéisPonen

PusePusistePuso

PusimosPusisteisPusieron

Futuro Imperfecto Condicional (simple)PondréPondrásPondrá

PondremosPondréisPondrán

PondríaPondríasPondría

PondríamosPondríaisPondrían

Linguagens e Códigos.indb 53 25/3/2010 08:58:50

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Futuro Imperfecto Condicional (simple)TendréTendrásTendrá

TendremosTendréisTendrán

TendríaTendríasTendría

TendríamosTendríaisTendrían

VENIRINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoVengoVienesViene

VenimosVenís

Vienen

VineVinisteVino

VinimosVinisteisVinieron

Futuro Imperfecto Condicional (simple)VendréVendrásVendrá

VendremosVendréisVendrán

VendríaVendríasVendría

VendríamosVendríaisVendrían

Apuntes

TRAERINDICATIVO

Presente Pretérito Indefinido

TraigoTraesTrae

TraemosTraéisTraen

TrajeTrajisteTrajo

TrajimosTrajisteisTrajeron

VALERINDICATIVO

Presente PresenteValgoValesVale

ValemosValéisValen

ValíValisteValió

ValimosValisteisValieron

Futuro Imperfecto Condicional (simple)ValdréValdrásValdrá

ValdremosValdréisValdrán

ValdríaValdríasValdría

ValdríamosValdríaisValdrían

SABERINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoSé

SabesSabe

SabemosSabéisSaben

SupeSupisteSupo

SupimosSupisteisSupieron

Futuro Imperfecto Condicional (simple)SabréSabrásSabrá

SabremosSabréisSabrán

SabríaSabríasSabría

SabríamosSabríaisSabrían

SALIRINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoSalgoSalesSale

SalimosSalísSalen

SalíSalisteSalió

SalimosSalisteisSalieron

Futuro Imperfecto Condicional (simple)SaldréSaldrásSaldrá

SaldremosSaldréisSaldrán

SaldríaSaldríasSaldría

SaldríamosSaldríaisSaldrían

TENERINDICATIVO

Presente Pretérito IndefinidoTengoTienesTiene

TenemosTenéisTienen

TuveTuvisteTuvo

TuvimosTuvisteisTuvieron

Linguagens e Códigos.indb 54 25/3/2010 08:58:50

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Practique

Tópico 02VErBOS - TiEmPOS cOmPUESTOS (mOdO iNdicATiVO)

Las formas compuestas del verbo se caracterizan por la combinación del verbo haber con el participio de otro verbo. Son formas compuestas:

Pretérito Perfecto (compuesto) Se forma con el presente de indicativo del verbo haber y el participio del verbo que se conjuga:

He Has Ha Hemos Habéis Han

CANTADOBEBIDOSUBIDO

Pretérito Pluscuamperfecto Se forma con el pretérito imperfecto de indicativo del verbo haber y el participio del verbo que se conjuga:

Había Habías Había Habíamos Habíais Habían

CANTADOBEBIDOSUBIDO

Pretérito AnteriorSe forma con el pretérito perfecto simple (o pretérito indefinido) del verbo haber y el participio del verbo que se conjuga:

Hube Hubiste Hubo Hubimos Hubisteis Hubieron

CANTADOBEBIDOSUBIDO

Futuro PerfectoSe forma con el futuro de indicativo del verbo haber y el participio del verbo que se conjuga:

Habré Habrás Habrá Habremos Habréis Habrán

CANTADOBEBIDOSUBIDO

condicional perfectoSe forma con el condicional imperfecto del verbo haber y el participio del verbo que se conjuga:

Habría Habrías Habría Habríamos Habríais Habrían

CANTADOBEBIDOSUBIDO

¡Ojo! PARTICIPIOS IRREGULARES

1. Abrir: 9. Hacer:2. Absolver: 10 Imprimir:3. Cubrir: 11. Morir:4. Decir: 12. Poner: 5. Devolver: 13. Resolver:6. Disolver: 14. Romper:7. Envolver: 15. Satisfacer8. Escribir: 16. Ver: 17. Volver

01. Complete la oración con la forma verbal correspondiente:“Ellos ya ____________ la reunión cuando lleguemos.”a) habrás terminado; b) habré terminado;c) habrán terminado; d) habrá terminado;e) habréis terminado.Solução:Nesta questão, observa-se que se trata de um enunciado que expressa ações futuras e terminadas, anteriores a outras ações também futuras, cujo sujeito está na terceira pessoa do plural, exigindo, portanto, a forma “habrán terminado”.

02. (UFC) Complete la frase con la forma verbal adecuada:“Los alumnos __________ estudiar con mucha dedicación la lengua española.”a) has prometido; b) prometes; c) he prometido;d) prometiesen; e) han prometido.

03. (UPE) Hemos sacado es:a) presente de indicativo;b) pretérito imperfecto (o copretérito de indicativo);c) pretérito anterior (o antepretérito de indicativo);d) pretérito pluscuamperfecto (o antecopretérito de subjuntivo);e) pretérito perfecto compuesto (o antepresente de indicativo).

Linguagens e Códigos.indb 55 25/3/2010 08:58:50

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Tópico 03

10. (UFPI) Analiza el empleo del Pretérito Perfecto en las frases a continuación:1. Esta semana he escrito cartas y postales a mis amigos.2. Hoy he escuchado jazz en la radio.3. Enrique, Rafael y yo hemos trabajado mucho.4. Luisa ha tenido mucha suerte.

Están correctas:a) 1 y 2b) 2 y 4c) 1 y 3d) 1 y 4e) todas

04 . (COVEST) Esta cuestión se refiere a los participios irregulares:

I II

0 0 He escrito una carta a mi amigo Juan.1 1 Aún no han devolvido el dinero.2 2 Han descubrido al culpable.3 3 Ellos han dicho la verdad.4 4 María ha resuelto el regalo de Pepito.

05. (UFSC) Señale la forma verbal que completa la frase:“Carlos no pudo ir a la escuela hoy.¿Sabes cuál _______________ el motivo?”a) habrá sido; b) habré sido; c) habrán sido;d) habrás sido; e) habréis sido.

06. (UPE) Había perdido está conjugado en:a) la primera persona del singular del pretérito imperfecto de indicativo;b) la tercera persona del singular del pretérito pluscuamperfecto de

indicativo;c) la tercera persona del singular del pretérito imperfecto de indicati-

vo;d) la tercera persona del singular del pretérito pluscuamperfecto de

subjuntivo;e) una forma no personal.

07. (UPE) Ha dicho es la tercera persona del singular del:a) pretérito indefinido del verbo decir;b) pretérito anterior del verbo decir;c) pretérito imperfecto del verbo decir;d) participio del verbo decir;e) pretérito perfecto del verbo decir.

08. (UNICAP) Esta questão diz respeito aos tempos verbais:I II0 0 Conquistó está en pretérito indefinido.1 1 Suplantándose y ponerse, con relación a la colocación

pronominal, nos presenta la énclisis. 2 2 Habían dicho (presente perfecto de subjuntivo)3 3 Hay (impersonal de haber)4 4 Ganó (pluscuamperfecto de indicativo)

09. (UNICAP) Esta cuestión se refiere a los participios irregulares:I II0 0 resolver - resolvido1 1 romper - roto2 2 hacer - hecho3 3 escribir - escrito4 4 volver - volvido

PEríFrASiS VErBALES Las perífrasis verbales son construcciones sintácticas constituidas por dos o más verbos, es decir, un auxiliar y otro principal y se clasifican en:

1) Perífrasis de Infinitivo: la acción expresada por el infinitivo es siem-pre inminente o futuro em relación al verbo auxiliar.Ej.: Tendré que salir pronto.

2) Perífrasis de Gerundio: resalta el aspecto durativo de la acción.Ej.: Estaba bañándose ahora.

3) Perífrasis de Participio: resalta el carácter perfecto (terminado) de la acción.Ej.: Sigue enojado conmigo.

Valores de las perífrasis verbales:

1) haber de + infinitivo / tener que + infinitivo: expresan obligación:Ej.: Hemos de llegar a las diez. / Tenemos que llegar a las diez.

2) haber que + infinitivo: expresa impersonalidad:Ej.: Hay que providenciar los documentos.

3) Deber de + infinitivo: expresa suposición, creencia, conjetura:Ej.: Debe de ser las diez. / Deben de volver pronto.

4) Deber + infinitivo: expresa obligación, orden:Ej.: Deberán volver a las diez / Deben enviar la carta

5) Quedar en que + infinitivo o Quedar en que + presente/futuro/condicional/subjuntivo: indica que dos o más personas están de acuerdo en realizar una acción. Ej.: Quedó en venir a las siete / Quedaremos en que nos casaremos / Quedamos en que vendrían mañana.

Linguagens e Códigos.indb 56 25/3/2010 08:58:50

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Practique01. (FUNESA) De entre las siguientes series extraídas de varios pasajes del texto, indique en cuál de ellas todas sus formas constituyen perífrasis o locuciones verbales:a) (les) voy a hablar – (los) que hemos vivido – (nos) tenemos que

felicitarb) (si) fuera amenazada – (los) que hemos vivido – luchó y derrotóc) (les) voy a hablar – (nos) tenemos que felicitar – tenemos que agradecerd) (no) fueran atemperadas – hemos aprendido – echar por la bordae) quiero hablar – (los) que hemos vivido – (les) voy a hablar

02. (UPE) En morfología verbal, distinguimos las formas verbales compuestas (ha comprado, hemos ido, habían comprado), que se forman con un verbo auxiliar y un participio, de las locuciones verbales o perífrasis (tengo que hacer, van a venir, estamos haciendo) que se componen de un verbo conjugado y de otro en infinitivo o gerundio, acompañados o no de otras partículas. Señale la respuesta que sólo contenga locuciones o perífrasis verbales.a) Ha dado, va a estudiar.b) Se vaya a traducir, ha advertido.c) Deberán controlarlos, ha aprobado.d) Deben afrontar, trató de retrasar.e) Hayan consolidado, podrían cubrir.

03. (COVEST) En el quinto párrafo del texto, aparece la siguiente frase: “Es de destacar la amplitud de la visión sartriana de compromiso”. Si sustituimos la expresión subrayada por otra, indique cuáles de las que aparecen a continuación son correctas en español y expresan el mismo sentido que la original del texto.

I II

0 0 Hay que destacar la amplitud de la visión sartriana de compromiso.

1 1 Tiene que destacar la amplitud de la visión sartriana de compromiso.

2 2 Debe destacarse la amplitud de la visión sartriana de compromiso.

3 3 Debe de destacarse la amplitud de la visión sartriana de compromiso.

4 4 Hay de destacar la amplitud de la visión sartriana de com-promiso.

04. (COVEST) En diferentes pasajes del texto aparecen diversas expresiones que contienen perífrasis verbales (locuciones verbales) de obligación, por ejemplo: “habríamos de ser los hombres”, “la mitad habrían de ser mujeres”, “debería ir corrigiéndose ese porcentaje”. Indique cuál de las siguientes expresiones que se proponen como equi-valentes mantiene el mismo sentido de obligación en español.a) tendríamos de ser los hombresb) deberíamos de ser los hombresc) la mitad tendrían que ser mujeresd) debería de ir corrigiéndose ese porcentajee) deberían de ir corrigiéndose ese porcentaje

05. (UNCISAL) Na frase “El nuevo tejido tuvo que ser protegido masivamente” a expressão destacada indica:a) início de um processo.b) obrigação.c) fim de um processo.d) continuidade.e) intenção.

06. (FAVIP) En el segundo párrafo del texto aparece la siguiente frase: “que si el profesor ha de ser una especie de animador del aula”. En ella, la secuencia verbal subrayada, puede ser sustituida, sin cambio de sentido, por:a) hay que ser b) debe de serc) tiene de ser d) debe que sere) debe ser

07. (IFES) La expressión “siguen soñando” del texto, según la gra-mática española, esa) una perífrasis verbal de participio y expresa una idea repetida.b) un ejemplo cabal de perífrasis verbal de infinitivo e indica una acción

considerada como terminada.c) una locución verbal de valor concesivo y denota el desenlace de la

acción.d) una perífrasis verbal de gerundio y expresa la continuidad de la

acción.e) un término con valor de adjetivo. Sugiere idea de permanencia.

LOS POSESiVOS

Los determinantes posesivos acompañan al nombre indicando posesión o pertenencia. Pueden referirse a uno o varios poseedores e ir antepuestos o pospuestos al nombre.Ejemplos: Su país es muy hermoso. Nuestro computador es muy moderno. Estas carpetas son mías; aquellas son tuyas.

En español, los posesivos poseen dos formas: una tónica (o completa) y otra átona (o apocopada).

FORMAS TóNICAS (COMPLETAS)Masculino Femenino

Singular Plural Singular Pluralmío míos mía míastuyo tuyos tuya tuyassuyo suyos suya suyas

nuestro nuestros nuestra nuestrasvuestro vuestros vuestra vuestras

suyo suyos suya suyas

Tópico 04

Linguagens e Códigos.indb 57 25/3/2010 08:58:50

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FORMAS áTONAS (APOCOPADAS)Singular Plural

mi mistu tussu sus

no se apocopanno se apocopan

su sus

Esquemas de usos de los posesivosNOMBRE

Mi

Tus

zapato

zapatos

Mío

TuyosSu

Nuestras

blusa

blusas

Suya

Nuestras

NOMBRE

Ø Formas Tónicas

clasificación de los posesivos

De acuerdo con la posición que ocupan en la frase, los pose-sivos pueden ejercer la función de pronombre o adjetivo.

• ADJETIVO POSESIVO: cuando acompaña/determina a un sustantivo. Puede aparecer antepuesto o pospuesto.

Ej.: Éstos son mis libros Los libros míos son éstos. Estuvieron aquí unos amigos nuestros. Nuestros amigos estuvieron aquí.

• PRONOMBRE POSESIVO: cuando sustituye a un sustantivo. En este caso siempre se usan las formas tónicas.

Ej.: Este lápiz es tuyo. Estos instrumentos son vuestros. Las llaves son mías.

01. Completa las frases con una de las formas adecuadas de los posesivos:

1. No me gusta que utilices _________ herramientas.a) mías b) suyas c) mis d) tu

2. Cada cual tiene ________ propio estilo de trabajo.a) su b) sus c) tu d) mi

3. _________________ abuelos eran alemanes.a) tuyos b) vuestros c) nuestras d) vuestro

4. Debéis cumplir con _____________ obligaciones.a) tus b) nuestras c) sus d) vuestras

5. Hijo ___________, ¿qué te pasa?a) mío b) tuyo c) suyo d) nuestro

6. Quédate con _______ paraguas pues el _________ se rompió.a) mi/tuyo b) mis/tuyosc) su/mío d) nuestros/vuestros

7. Tú tienes _______ razones y yo tengo las _________.a) tu/mía b) tus/míasc) sus/mías d) vuestras/nuestras

8. Pasamos los mejores años de ____________ vidas en esta casaa) vuestras b) nuestras c) mía d) su

Solução:Para a resolução dessa questão, deve-se observar a posição em que aparecem os possessivos e a que pessoa eles se referem.

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Linguagens e Códigos.indb 58 25/3/2010 08:58:50

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1. Usa-se a forma “mis” porque, além de se referir a primeira pessoa do singular, vem anteposto ao substantivo “herramientas”;

2. Usa-se a forma “su” por se referir a terceira pessoa do singular e vir anteposto ao substantivo “estilo”;

3. Por estar anteposto ao substantivo “abuelos”, usa-se a forma “vuestros”;4. Nesta oração, o sujeito se refere à segunda pessoa do plural e o comple-

mento um substantivo feminino plural; exigindo, portanto, a forma “vues-tras”;

5. Por vir posposto ao substantivo “hijo”, usa-se a forma “mio;6. Os dois possessivos da frase se referem ao substantivo “paraguas”

e se relacionam, respectivamente, as primeira e segunda pessoas do singular, sendo, assim, empregadas as formas “mi” e “tuyo”;

7. A frase apresenta dois sujeitos: tu e eu. Usa-se, no primeiro caso, a forma “tus” por vir anteposto ao substantivo plural “razones”; no segundo caso, usa-se a forma completa “mías” por substituir o subs-tantivo “razones”;

8. Nesta frase, tem-se como sujeito a primeira pessoa do plural e um substantivo feminino singular a que se antepõe o possessivo; usa-se, dessa forma, o possessivo “nuestras”.

02. (UMESP) Para responder a esta questão, utilize o texto abaixo:_____ próximo día Paloma se levantará muy temprano, quizás antes de las siete. Aunque en Madrid, la ciudad donde vive, el día estará probable-mente veraniego, despejado y algo caluroso, Paloma no irá de excursión a la sierra con ______ amigos ni a la piscina. Madrugará, igual que muchos estudiantes de ______ edad, unos 300.000, para hacer el examen de selectividad que, según espera, le abrirá las puertas de la universidad.

Tecla, 2001

Indique a seqüência que preenche corretamente as lacunas do texto apresentado:a) El – sus - su b) En el – suyos – suyac) En lo – sus – suyad) En el – suyos – sue) El – suyos – suyas

03. (UFRGS) El alumno debe saber que la gramática le enseñará y ayudará a expresar mejor _________ ideas y sentimientos.a) nuestrasb) tusc) misd) suyas e) sus

04. (UESPI) Los posesivos que completan correctamente la frase son:Como eres ______ gran amiga, todo lo ______ será ______ y ________ cosas serán ________.a) mia — mí — tu — tuyas — míasb) mi — mío — tuyo — tus — míasc) mi — míos — tus — tuas — misd) mia — mía — tuya — tus — mise) mio — mi — tuyo — tus — mías

05. (PUC-RS) Traiga ____________ apoyo al hombre de la tierra que con el trabajo __________ nos alimentará.a) su - suyo b) suyo – su c) tu – tuyod) tuyo – tu e) mío – mi

06. (FAE) Oiga, don Pablo, hallé ____ libro en el segundo estante de ____ biblioteca.a) tu - tu b) su – tu c) su – su d) suyo – suya e) tuyo – tuya

07. En la frase “No fue idea suya, fue de su marido”, las palabras subrayadas son, respectivamente:a) adjetivo posesivo y pronombre posesivo;b) pronombre posesivo y pronombre posesivo;c) adjetivo posesivo y adjetivo posesivo;d) pronombre posesivo y adjetivo posesivo;e) dos términos imposibles de clasificarse.

08. (PUC-PR) Complete con los posesivos:- ____________ joyas (las tuyas y las mías)- ____________ poblaciones (del Brasil y de la Argentina)- ____________ viajes (los tuyos y los de Juan)- ____________ anís (el mío)a) nuestras, sus, vuestros, mib) mis, sus, tus, misc) vuestras, suyas, tuyos, mid) nuestras, suyas, tuyos, mise) tuyas, sus, vuestros, mi

09. (FDC) “Un colega ________ dice que _______ casa es tan limpia y moderna como _________”.A ordem correta de preenchimento das lacunas é:a) tu, suya, nuestra b) teu, su, la vuestrac) tuyo, su, la nuestra d) mío, mía, la vuestrae) mi, mía, la mi

10. (UEAP) Señor director de Siete Días

Un amigo mío, el dibujante Quino (se llama así pero cuando firma cheques pone Joaquín Lavado), me dijo que tenías mucho interés en contratarnos a mí y a mis amiguitos, Susanita, Felipito, Manolito y Miguelito, para que juntos trabajemos todas las semanas en tu revista. Aceptamos con mucho gusto (…).

Linguagens e Códigos.indb 59 25/3/2010 08:58:51

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Practique

Tópico 05

No fragmento “... para que juntos trabajemos todas las semanas en tu revista.”, TU se refere:a) a Quino.b) a uma revista qualquer.c) ao diretor da revista Siete Días.d) a um amigo de Miguelito.e) ao diário El Mundo.

LOS dEmOSTrATiVOS

Los demostrativos son elementos deícticos o señaladores cuya función es indicar la relación de distancia en el espacio y en el tiempo de algo o alguien con respecto a las personas del coloquio.

Ej.: Este mes saldré de vacaciones. Esa silla es muy cómoda. Aquel señor camina con dificultad.

Formas de los demostrativosMasculino Femenino Neutro

Singular Plural Singular Pluraleste estos esta estas estoese esos esa esas eso

aquel aquellos aquella aquellas aquello

Usos de los demostrativos

• Este (y sus variantes) señalan algo o a alguien que está cerca al hablante ya en el espacio ya en el tiempo:

Ej.: Esta casa fue de mis abuelos.

• Ese (y sus variantes) señalan algo o a alguien que está cerca al oyente tanto en el espacio como en el tiempo:

Ej.: Esa casa fue de mis abuelos.

• Aquel (y sus variantes) se usa para mostrar algo o a alguien que está alejado del hablante y del oyente bien en el espacio bien en el tiempo:

Ej.: Aquellos tiempos nos fueron maravillosos.

• Los demostrativos presentan una relación directa con los adverbios de lugar aquí, acá, ahí, allí y allá.Ej.: Permanecía allí sentado por horas. (= en aquel lugar) Aquí se vive mucho mejor. (= en este lugar) ¿Qué tal estás ahí? (= en ese lugar)

clasificación de los demostrativos

De acuerdo con la posición que ocupan en la frase, los demostrativos pueden ejercer la función de pronombre o adjetivo.

• ADJETIVO DEMOSTRATIVO: cuando acompaña / determina a un sustantivo. Generalmente aparece antepuesto al sustantivo y nunca lleva tilde.

Ej.: Este libro es interesantísimo. El libro este es interesantísimo.

Aquellos chicos son tremendos. Los chicos aquellos son tremendos.

• PRONOMBRE DEMOSTRATIVO: cuando sustituye a un sustantivo. En este caso puede llevar tilde, excepto las formas neutras.Ej.: Mis libros son éstos. Los tuyos son aquéllos. Ésta es la manera más segura de vivir. ¿Cuanto cuesta esto? No concuerdo con aquello que me has dicho.

01. Señala la alternativa correcta para completar las frases:1. __________ episodio a que te refieres no ocurrió.2. ____________ tiempos fueron muy difíciles.3. De un tiempo a _________ parte lo veo muy contento.4. En __________ tiempos éramos jóvenes y guapos.5. Ya no hablaremos más sobre ____________.

a) ese, aquelles, esa, aquello, esto;b) este, aquello, esa, esto, eso;c) ese, aquellos, esta, aquellos, esto;d) este, aquellos, estas, eso, aquello;e) ese, estos, esta, aquellos, esto.

Solução:Por se tratar de elementos dêiticos, os demonstrativos têm por função localizar espaço-temporalmente os objetos e as pessoas do discurso.1. Nesta frase, o demonstrativo acompanha um substantivo masculino

plural e se relaciona a um sujeito que está representado pelo pronome de segunda pessoa do singular, o que exige, dessa forma, o uso de “ese”;

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Linguagens e Códigos.indb 60 25/3/2010 08:58:51

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61E2-E

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2. Usa-se para este enunciado a forma “aquellos”, pois se trata de uma ação ocorrida no passado, além de acompanhar o substantivo masculino plural “tiempos”;

3. Usa-se para este enunciado a forma “esta”, pois se trata de uma ação que chega até ao momento presente, além de acompanhar o substantivo feminino singular “parte”;

4. Usa-se para este enunciado a forma “aquellos”, pois se trata de uma ação ocorrida no passado, além de acompanhar o substantivo masculino plural “tiempos”;

5. Usa-se a forma “esto” por se relacionar com o sujeito “nosotros”, além de se referir a uma ação futura.

02. (FAE) No me gusta nada ________ lapicero que tiene tu vecino; me agrada mucho _______ que llevas contigo.a) aquél – ése. b) aquel – éses. c) este – aquel d) aquel – ese. e) éste – aquel.

03. (UEA) En “Hay que intensificar los esfuerzos contra ‘estos’ incon-venientes”, la palabra destacada es la forma plural dea) eso. b) esto. c) éste.d) este e) ésto.

04. (UFMG) Complete: “____ puentes serán colocados sobre _____ río”.a) Eses – esto b) Esos – este c) Aquellas – esod) Estas – Aquel e) Aquelles – ese

05. (PUC-PR) Lo correcto es: ¿Cómo vamos a alimentar a _____ animal?a) esto b) esta c) ésted) estos e) este

06. (COVEST) “Es una gran suerte caer en un sitio como éste”(1) y “Los protagonistas de este cuento” (4) ¿Por qué éste (1) lleva acento y este (4) no lleva?

I II0 0 Se trata de un acento diacrítico;1 1 éste (1) lleva acento porque es un pronombre demostrativo;2 2 este (4) no lleva acento porque es un adjetivo determinativo

demostrativo;3 3 este (4) no lleva acento porque es un pronombre demostrativo;4 4 éste (1) lleva acento porque es un adjetivo determinativo

demostrativo;

07. (UESPI) “que éste haga fumar el próximo.” El vocablo subrayado está clasificado como:a) pronombre demostrativob) adjetivo posesivoc) adjetivo demostrativod) pronombre posesivoe) pronombre indefinido

08. (UPE) En el sintagma preposicional con esta murria dolorosa, la palabra esta es un adjetivo determinativo demostrativo. ¿Cómo se flexiona en su totalidad?a) Esto niño, esta murria, estos niños, estas murrias;b) Este niño, esta murria, estes niños, estas murrias;c) Esti niño, esta murria, estes niños, estas murrias;d) Este niño, esta murria, estos niños, estas murrias;e) Esti niño, esta murria, estis niños, estas murrias.

09. (UPE) “Esta investigación” y “ese ambiente”, puestos en plural correctamente, serían respectivamente:a) Estas investigacións y eses ambientes.b) Estas investigaciones y eses ambientes. c) Estas investigaciónes y eses ambientes.d) Estas investigacions y esos ambientes.e) Estas investigaciones y esos ambientes.

10. (COVEST) Lea el siguiente fragmento: “Pues eso ha pasado. No he sabido ver tu progresivo cansancio, tu hartazgo ante la rutina, ante la vida que, supongo, te he impuesto para poder vivir la mía. Tú tocabas tu parte y todo estaba bien así. Eso creía yo. Pero no era verdad, claro.” Con respecto a la forma destacada, eso, podemos afirmar que

I II0 0 el autor se refiere a lo que va a relatar a continuación.1 1 en este caso específico, también sería posible interpretar que

se refiere tanto a lo ya dicho como a lo que va a ser dicho.2 2 su referente textual es “todo estaba bien”.3 3 uno de sus referentes textuales es “tu propio cansancio”.4 4 la información que anticipa es “pero no era verdad”.

Tópico 06LOS iNdEFiNidOS

Los indefinidos constituyen una clase de palabras con valor de adjetivo, pronombre o adverbio, que dan al nombre al que califican o sustituyen un valor indeterminado: cuantitativo, calificativo o intensivo.

Ej.: Bebimos mucho. (Adverbio indefinido) Bebimos mucha cerveza. (Adjetivo indefinido) Muchos aprobaron el examen. (Pronombre indefinido) Alguien te llama a la puerta. (Pronombre indefinido)

Empleo de los indefinidos

• ALGUIEN y NADIE: son formas pronominales invariables, siempre se refieren a personas y llevan el verbo en singular.

Ej.: He visto a alguien detrás de la puerta. A nadie le importa lo que él dice.

• ALGO / TODO / NADA: son formas pronominales invariables, se refieren a cosas y también llevan el verbo en singular.

Ej.: Es algo interesante.

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Me gustó todo lo que vi. Que yo sepa, no ha ocurrido nada.

• QUIENQUIERA – QUIENESQUIERA: formas pronominales que sólo se usan seguido de que + subjuntivo y equivalen en portugués a quem quer que. Se flexionan en número y sólo se refieren a personas.

Ej.: Quienquiera que venga será muy bien recibido. Quienesquiera que vengan serán muy bien recibidos.

• ALGUNO y NINGUNO: son variables y se refieren a personas y a cosas. Se clasifican como pronombre o adjetivo según su posición en la frase y sufren apócope.

Ej.: - ¿Tienes algún dinero para prestarme? - No. No tengo dinero alguno. - ¿Estás con algún problema? - No. Ninguno.

• CUALQUIERA – CUALESQUIERA: son variables y se refieren a personas y a cosas. Se clasifican como pronombre o adjetivo según su posición en la frase y sufren apócope.

Ej.: Cualquiera comprende estos detalles. Cualquier día de estos, paso por tu casa. Éste no es un vino cualquiera.

• UNO: varía en género y número (unos, una, unas) y se usa también como impersonal.

Ej.: Le dieron unas camisas para el verano. Uno nunca sabe cuando él vendrá. (impersonal) A uno le dan ganas de desaparecer. (impersonal)

¡Fíjate!

01. Completa las frases eligiendo un indefinido adecuado entre los dados, apocopándolo cuando sea necesario:1. No he visto a __________________ conocido.

a) nada b) nadie c) alguien

2. Esperan a _________________ más.a) nadie b) alguien c) algo

3. No tienen ___________________ que decir.a) ninguno b) algo c) nada

4. No quiero que me hagas ______________ favor.a) ningún b) ninguno c) alguno

5. Por aquí debe de haber _______________ hotel.a) alguno b) algo c) algún

6. Tengo que decirte __________________.a) algo b) nada c) todas

Practique

7. Lo vi el ____________ día que fui a matricularme.a) tal b) igual c) mismo

8. Ante ____________ situación, decidieron abandonar el proyecto.a) propia b) tal c) misma

9. ¿Le queda _____________ entrada?a) algunas b) alguna c) algún

10. No, no me queda _________________.a) ninguna b) ningún c) ningunas

Solução:1. Usa-se a forma “nadie” por se tratar de um complemento direto de

pessoa e vir precedido da preposição “a”;2. Usa-se a forma “alguien” por se tratar de um complemento direto de

pessoa e vir precedido da preposição “a”;3. Usa-se a forma “nada” por se referir à coisa e apresentar um valor

negativo;4. Usa-se a forma apocopada“ningún” por preceder um substantivo

masculino singular;5. Usa-se a forma apocopada “algún” por preceder um substantivo

masculino singular;6. Usa-se a forma “algo” por se referir à coisa e apresentar um valor

afirmativo;7. Usa-se a forma “mismo” por vir precedido do artigo “el”;8. Usa-se a forma “tal” por se tratar de uma realidade não especificada;9. Usa-se a forma “alguna” por preceder o substantivo feminino “entrada”;10.Usa-se a forma “ninguna” por se referir ao substantivo feminino

“entrada”;

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02. (PUC-RS) Si _______________ diera más atención a los niños pobres, no habría tantos abandonados.a) cualesquiera b) ajeno c) algúnd) quienes e) uno

03. (UPE) “Los grifos que goteaban y que nadie arreglaba...”. Nadie esa) un adjetivo determinativo impersonal;b) un pronombre impersonal;c) un pronombre indefinido;d) un adverbio pronominal impersonal;e) ninguna de las respuestas anteriores.

04. (PUC-RS) O vocábulo sublinhado está corretamente empregado na frase:a) Cualquier cartas será respondidas con tarjetas.b) Quienesquiera que escriban, no quedarán sin respuesta.c) Seguramente, llegaremos a un bueno entendimiento.d) Soy tanto respetuoso cuanto alguien pueda desear.e) No consigo aprobar en ninguno examen.

05. (COVEST) Observe el uso de “cualquier” y “cualquiera”: I II0 0 Nos podemos ver cualquier día.1 1 Me sirve cualquier mesa.2 2 Yo no me conformo con un vestido cualquier.3 3 Me comería cualquier de esos chocolates.4 4 Te trató como si fuera una cualquier.

06. (UNIFOR) “No vieron a ________ ni encontraron ________, al entrar en la casa”.a) nada – nadie; b) nadie – nadie; c) nada – cualquiera;d) alguien – nada; e) nadie – nada.

07. (UESPI) La frase donde el pronombre indefinido está empleado correctamente es:a) Nada cree en esta historia.b) Lo conocí alguno mes atrás.c) Uno nunca sabe si él habla la verdad.d) Hay alguien de raro en lo que cuentas.e) Cualquier que sea el culpable, tendrá que pagar todos los costos.

08. (UFAL) Considere el siguiente pasaje, que aparece en el primer párrafo del texto: “…porque algún deslenguado ya había filtrado hasta la cuantía económica…”. Indique cuál de las siguientes opciones, en las que se sustituye la forma subrayada por otra, mantiene el mismo sentido que la original.1) porque cierto deslenguado ya había filtrado hasta la cuantía económica2) porque un deslenguado ya había filtrado hasta la cuantía económica.3) porque aquel deslenguado ya había filtrado hasta la cuantía económica.4) porque ese deslenguado ya había filtrado hasta la cuantía económica.5) porque el deslenguado ya había filtrado hasta la cuantía económicaSon correctas:a) 1, 2, 3, 4 y 5 b) 1 y 2 solamente c) 2 y 5 solamented) 3, 4 y 5 solamente e) 3 y 4 solamente

09. (UFPI) O vocábulo “algunos”, classifica-se como:a) uma conjunção explicativa.b) um pronome indefinido variável.c) uma locução adverbial.d) um pronome relativo.e) um artigo indefinido

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