linguagens, códigos e suas tecnologias - português ensino médio, 2ª ano a literatura engajada

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Português Ensino Médio, 2ª Ano A literatura engajada.

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Page 1: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Português Ensino Médio, 2ª Ano A literatura engajada

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Português

Ensino Médio, 2ª Ano

A literatura engajada.

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LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino MédioA literatura engajada

O escritor é um produtor de ilusões, um animador de sonhos, um mágico

das palavras cujas ideias expressas em simples papel podem denunciar as injustiças sociais.

Será que o papel do escritor também é esse, o de denunciar as injustiças?

Até que ponto é responsabilidade sua envolver-se nos problemas sociais?

Engajados na luta ao lado dos mais fracos podem mudar a sociedade?

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A obra literária é para ser lida profunda e atentamente para que o leitor encontre o seu sentido e descubra nas entrelinhas

as intenções reais de seu produtor.

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Em todas as fases da literatura brasileira, encontramos exemplos de escritores

preocupados com os problemas sociais, com injustiças, muitas vezes sofridas por eles

próprios, que utilizam seus dons literários como meio de luta e de denúncia, algumas vezes, de forma discreta

devido à perseguição por parte dos poderosos.

Façamos um passeio em cada estilo literário no Brasil e conheçamos alguns de seus representantes.

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Barroco

Na época do Barroco, encontramos o “Boca do Inferno”, Gregório de Matos Guerra.

Ele, através de suas sátiras, denunciou problemas na sociedade baiana,

como a fome que houve na Bahia no ano de 1691 pelo desgoverno. Precisou

ser exilado em Angola para manter-se calado.

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JULGA PRUDENTE E DISCRETAMENTE POR CULPADOS, EM UMA FOME GERAL QUE HOUVE NESTA CIDADE NO ANO DE 1691, PELO DESGOVERNO.

“Toda a cidade derrotaEsta fome universal,E uns dão a culpa totalÀ câmara, outros à frota.A frota tudo abarrotaDentro nos escotilhões,A carne, o peixe, os feijões;E se a câmara olha e ri,Porque anda farta até aqui,É cousa que me não toca.Ponto em boca!

[...]

A fome me tem já mudo,Que é muda a boca esfaimadaMas se a frota não traz nada,Por que razão leva tudo?Que o povo por ser sisudoLargue o ouro, largue a prataA uma frota patarata,Que entrando com vela cheia,O lastro, que traz de areia,Por lastro de açúcar troca!Ponto em boca!

[...]” Gregório de Matos

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Arcadismo

Na fase árcade, destacamos Tomás Antônio Gonzaga, cujo poema “Cartas Chilenas”

faz uma crítica a Luís da Cunha de Menezes, governador da Capitania das Minas (1783

a 1788), pelas suas arbitrariedades. Gonzaga também fez parte do grupo

de escritores que se envolveu na Inconfidência Mineira.

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Cartas Chilenas refere-se ao abuso de poder, à corrupção palaciana e aos desmandos apoiados na militarização do governo

Trecho da Carta Terceira“[...]Que é isso, Doroteu, tu já retirasOs olhos do papel? Tu já desmaias?Já sentes as moções, que alheios malesCostumam infundir nas almas ternas?Pois é, prezado amigo, muito fraco,Aprende a ter o valor do nosso chefeQue à janela se pôs e a tudo assisteSem voltar o semblante para a ilharga.E pode ser, amigo, que não tenhaEsforço, para ver correr o sangue,

Que em defesa do trono se derrama.Aos pobres açoitados manda o chefeQue, preso nas correntes dos forçados,Vão juntos trabalhar. Então se entregamAo famoso tenente que os governaComo sábio inspetor das grandes obras.Aqui, prezado amigo, principiamOs seus duros trabalhos. Eu quiseraContar-te o que eles sofrem, nesta carta,Mas tu, prezado amigo, tens o peito,Dos males que já leste, magoado,Por isso é justo que suspenda a história,Enquanto o tempo não te cura a chaga.” Tomás Antônio Gonzaga

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Romantismo

No Romantismo, época de “cantar o amor”, também houve espaço para a poesia social.

Antônio de Castro Alves torna-se o “Poeta dos Escravos” e utiliza poemas

como O Navio Negreiro para denunciar as injustiças cometidas contra os afrodescendentes que viviam em situação de miséria e eram tratados

como “coisas quase inúteis”.

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O Navio Negreiro “[...] E existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!... E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia?!... Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...[...]”

Castro Alves

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No romance romântico, podemos destacar José Martiniano de Alencar,

com o livro “Lucíola”, em que se apresenta uma sociedade hipócrita que não aceita

o “erro” e discrimina as pessoas. É uma crítica social e moral ao preconceito.

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Lucíola “Lúcia, então, revela seu passado a Paulo. Conta que era uma menina feliz de

quatorze anos que morava com os pais. Um dia sobreveio a terrível febre amarela, e seus pais, os três irmãos e sua tia caíram de cama. A pequena menina, sozinha e desesperada, procura ajuda a um vizinho rico, o senhor Couto, que, em troca de sua inocência, deu-lhe dinheiro para o tratamento dos pais. A família então resiste à doença. Entretanto, seu pai, descobrindo da origem do dinheiro, expulsa-a de casa. Sozinha, Lúcia, que na verdade se chama Maria da Glória, encontra Jesuína, uma mulher que a conduz à prostituição. E aí então passa a morar com a verdadeira Lúcia. As duas se tornam amigas. Depois de pouco tempo, Lúcia morre e Maria da Glória assume a identidade de Lúcia, passando-se por morta. Depois da morte dos pais, Lúcia destinava o dinheiro que ganhava à sua irmã Ana, que era mantida num Colégio Interno. Paulo, sabendo de toda a verdade, compreende Lúcia e passa a sentir por ela uma grande ternura e um amor sincero.”

José de Alencar.

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Realismo

O estilo realista de Joaquim Maria Machado de Assis também apresenta as questões sociais

através de suas obras, com estilo tão bem trabalhado.No conto Pai contra mãe, ele, sob a aparência

de um drama familiar vivido por Cândido Neves e Clara, mostra um enredo-denúncia,

uma crítica pautada na ironia, no deboche contra as estruturas do poder dominante

e a desigualdade social.

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O senhor chama o ex-escravo Pancrácio e oferece-lhe um mísero salário:

“Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por não me escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelha, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.” Machado de Assis

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Naturalismo

O Naturalismo de Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo denuncia, de um lado, o

preconceito de raça através de seu romance O Mulato, e, de outro, as condições de miséria e

degradação social vividas pelos personagens da obra O Cortiço.

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O Cortiço

“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.” Aluísio de Azevedo

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Parnasianismo

No Parnasianismo, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, nos primeiros anos, aderiu à causa abolicionista, foi perseguido pelo governo de Floriano Peixoto e, nessa

época de atividade como jornalista político, escreveu suas Crônicas e novelas (1894), através

das quais faz críticas à sociedade. Na segunda fase, ele se entrega totalmente à temática

“Arte pela arte”.

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Haxixe – Olavo Bilac "O mais curioso", concluiu Jacques, depois de uma pequena pausa, "é que o abalo produzido por essa noite no meu organismo foi tão forte,tão brutal, que me restituiu a saúde: equilibrou os nervos e livrou-me da insônia. De modo que a canabina me curou, não pelo bem, mas pelo mal que me fez…" Houve um momento de silêncio. Um de nós disse: "Mas isso nada prova… Você sofreu assim, porque o excitante encontrou mal preparado o terreno em que devia operar. E, mesmo, está hoje provado que o haxixe nada mais faz do que exacerbar o estado normal do indivíduo: dá mais alegria a quem é naturalmente alegre, e mais tristeza a quem é naturalmente triste…" "Pode ser!", retorquiu Jacques. "Mas aconselho-lhes que não experimentem. Demais, sabem quem tem razão? É Balzac, que, apesar de fazer parte de um clube de bebedores de haxixe, nunca bebeu a droga, porque (dizia ele) o homem que voluntariamente se despoja do mais belo atributo humano — a vontade — deve ser, na escala animal. colocado abaixo do caramujo e da lesma… E vamo-nos embora, que é meia-noite!"

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Simbolismo

João da Cruz e Sousa, conhecido como o “Cisne Negro”, procurou mostrar

através da arte a dor de existir e de ser excluído, provocada

pela discriminação social. No texto “Dor negra” retrata e denuncia a dura condição

dos homens negros no Brasil, colocando sua arte a serviço

da causa abolicionista.

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Dor negra

“Sanguinolento e negro, de lavas e de trevas e de lágrimas, como o estandarte mítico do Inferno, de signo de brasão de fogo e de signo de abutre de ferro, que existir é esse, que as pedras rejeitam, e pelo qual até mesmo as próprias estrelas choram em vão milenariamente?!

Que as estrelas e as pedras, horrivelmente mudas, impassíveis, já sem dúvida que por milênios se sensibilizaram diante da tua Dor inconcebível, Dor que de tanto ser Dor perdeu já a visão, o entendimento de o ser, tomou decerto outra ignota sensação da Dor, como um cego ingênito que de tanto e tanto abismo ter de cego sente e vê na Dor uma outra compreensão da Dor e olha e palpa, tateia um outro mundo de outra mais original, mais nova Dor.” Cruz e Sousa. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.

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Pré-modernismo

Em seus artigos para jornais e em diversos contos, Monteiro Lobato denuncia a miséria

e o estado de abandono em que se encontram os caboclos paulistas, esquecidos pelas elites

governantes e sem poder contar com uma estrutura agrária que lhes permitisse

obter terra e trabalho. Criou o Jeca Tatu, apresentado em Urupês, caricatura do caipira que sintetizava

essas mazelas.

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Urupês – Monteiro Lobato“ Na mansão de Jeca a parede dos fundos bojou para fora um ventre empanzinado, ameaçando ruir; os barrotes, cortados pela umidade, oscilam na podrigueira do baldrame. A fim de neutralizar o desaprumo e prevenir suas consequências, ele grudou na parede uma Nossa Senhora enquadrada em moldurinha amarela - santo de mascate. - "Por que não remenda essa parede, homem de Deus?" - "Ela não tem coragem de cair. Não vê a escora?" Não obstante, "por via das dúvidas", quando ronca a trovoada, Jeca abandona a toca e vai agachar-se no oco dum velho embiruçu do quintal - para se saborear de longe com a eficácia da escora santa. Um pedaço de pau dispensaria o milagre; mas entre pendurar o santo e tomar da foice, subir ao morro, cortar a madeira, atorá-la, baldeá-la e especar a parede, o sacerdote da Grande Lei do Menor Esforço não vacila. É coerente. Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem flores - nada revelador de permanência. Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque... - "Mas, criatura, com um verdozinho por ali... A madeira está à mão, o cipó é tanto..." Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha. - "Não paga a pena." Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive.”

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Imagem: Monteiro Lobato / Capa: José Wasth Rodrigues / Urupês,1918 / http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Urup%C3%AAs_capa_%281918%29.jpeg

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ModernismoO Modernismo em Graciliano Ramos

nos apresenta o homem explorado socialmente e brutalizado pelo meio e faz uma análise

dos problemas sociais que o envolvem. Deseja conscientizar o leitor do que é necessário

ser revisto para melhorar a vida das pessoas. No romance Vidas secas, apresenta o Sertão

sofrido da seca e, em São Bernardo, o latifúndio em que prospera a opressão.

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Vidas secas

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas.O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.” Graciliano Ramos.

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A literatura engajada do renomado escritor Érico Veríssimo está presente na obra Incidente

em Antares. Nessa narrativa, os mortos ficam insepultos e fazem críticas aos vivos,

denunciando toda a hipocrisia, a crise de valores e a opressão

política por que passa o Brasil da década de 1960.

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Incidente em Antares“– Ora, eu estava serena no sono da morte quando de repente vi uma luz fortíssima. Imaginei que

fosse o olho luminoso de Deus e disse-. “Aqui estou, Senhor, em Vossas mãos entrego a minha alma!”. Ouvi um grito de susto, a luz caiu e entrevi o vulto dum homem que saía disparando. ..

– Possivelmente um desses profanadores de cemitérios ...– Talvez tenha sido isso mesmo, um ladrão... – Põe-se a apalpar os dedos, o pulso, o peito, o

pescoço, as orelhas. – Ai! Fui roubada, doutor! O bandido levou todas as minhas joias! – Levanta-se. – Fui roubada! Meu Deus! Joias antigas de família...

– Desculpe-me, D. Quitéria, mas asseguro-lhe que a senhora foi posta no seu esquife sem nenhuma das suas joias, nem mesmo a aliança de casamento.

– Como é que o senhor sabe?– Simples. Fui ao seu velório prestar-lhe uma homenagem. Por sinal levei-lhe um ramo de

gladíolos vermelhos e amarelos, que eu mesmo depositei junto de seu corpo. Fiquei algum tempo a seu lado. Seu amigo Tibério Vacariano é testemunha desse fato. Conversamos a seu respeito, fizemos os maiores elogios (aliás muito merecidos) à sua pessoa. Mas repito, sob palavra de honra, que não vi no seu corpo nenhuma joia.

– Mas eu deixei com minhas filhas e meus genros disposições escritas muito claras: queria trazer comigo para a sepultura todas as joias que herdei de meus antepassados ...

– As suas disposições não foram então cumpridas.– Tratantes! Gananciosos!Ela sai a caminhar devagarinho dum lado para outro, arrastando os pés, com as mãos na cintura.– D. Quitéria, eu não os censuro. Seria um desperdício sepultar nesse caixão algumas centenas de

milhões de cruzeiros...– Mas não basta o que lhes deixo em terras, casas, títulos, dinheiro, sim, e outras joias de valor?”

Érico Veríssimo

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O baiano Jorge Amado de Faria, na sua fase inicial, de forte engajamento

político, escreve Capitães da areia, romance que conta as aventuras de crianças

abandonadas no trapiche que, sob a liderança de Pedro Bala, cometem furtos na cidade

e envolvem-se nas mais alucinantes loucuras. São crianças vítimas

das injustiças promovidas pelo egoísmo da sociedade burguesa.

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Capitães da areia

“Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do mundo, bem que é igual ao Sol, mesmo maior que o Sol: a liberdade. A cidade no dia de primavera é deslumbradoramente bela. Uma voz de mulher canta a canção da Bahia. Canção da beleza da Bahia. Cidade negra e velha, sinos de igreja, ruas calçadas de pedra. Canção da Bahia que uma mulher canta. Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.”

Jorge Amado

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João Cabral de Melo Neto, nos anos 1954-5, escreve Morte e Vida Severina, mostrando

a viagem do sertanejo Severino, que corta todo o Estado de Pernambuco até o Recife. No

Sertão, ele é maltratado pelo clima e pela violência

entre as relações latifundiárias e lavradores; na Zona da Mata, descobre que a terra

está em poder de poucos; na cidade, há privações e condições precárias das pessoas

que vivem do mangue.

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Morte e Vida Severina

“Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).”

João Cabral de Melo Neto

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O poeta maranhense Ferreira Gullar destaca-se como representante da poesia social e engajada

nas décadas de 1960 e 1970, no contexto do regime militar brasileiro. Após a morte

de João Cabral, Gullar é apontado pelos críticos como o mais importante

poeta brasileiro da atualidade.

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"Dois e Dois são Quatro"

Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena

Como teus olhos são claros e a tua pele, morena

como é azul o oceano e a lagoa, serena

como um tempo de alegria por trás do terror me acena

e a noite carrega o dia no seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2004.

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Thiago de Mello, escritor preso e exilado durante o regime militar, publicou vários livros.

Sua obra mais importante é Os Estatutos do Homem. Os temas principais de sua poesia

são a luta contra a opressão, o amor à terra e à Amazônia, a solidariedade aos oprimidos e

a alegria de viver.

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Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade. agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante haverá girassóis em todas as janelas que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. [...]

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o Sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal

[para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello Santiago do Chile, abril de 1964

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Paulo Lins, com o romance Cidade de Deus (1997), expõe o processo de

transformação da favela carioca em neofavela. É o drama da sociedade

marcada pela violência: os jovens passam “das pequenas malandragens ao crime

organizado.”

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Cidade de Deus“Poesia, minha tia, ilumine as certezas dos homens os tons de minhas palavras. É que arrisco a prosa mesmo com balas atravessando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que o seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia baleado. Dito por bocas sem dentes nos conchavos de becos, nas decisões de morte. A areia move-se nos fundos dos mares. A ausência de sol escurece mesmo as matas. O líquido-morango do sorvete mela as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco. Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase-palavra é defecada ao invés de falada. Falha a fala. Fala a bala.” Paulo Lins. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia da Letras, 1997.

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Francisco Buarque de Holanda, mais conhecido como Chico Buarque de Holanda, é músico,

dramaturgo e escritor brasileiro. Teve várias músicas censuradas. Ameaçado

pelo regime militar, exilou-se na Itália, em 1969. Suas canções denunciavam aspectos sociais

e culturais da época. Seus textos conquistaram o reconhecimento do público.

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Apesar de você

Hoje você é quem manda, falou, tá faladoNão tem discussãoA minha gente hoje anda falando de ladoE olhando pro chão, viuVocê que inventou esse estadoE inventou de inventarToda a escuridãoVocê que inventou o pecadoEsqueceu-se de inventar o perdãoApesar de você amanhã há de ser outro diaEu pergunto a você onde vai se esconderDa enorme euforiaComo vai proibir quando o galo insistir em cantarÁgua nova brotando e a gente se amando sem pararQuando chegar o momentoEsse meu sofrimento vou cobrar com juros, juroTodo esse amor reprimido esse grito contidoEste samba no escuroVocê que inventou a tristeza

Ora, tenha a fineza de desinventarVocê vai pagar e é dobrado cada lágrima roladaNesse meu penarApesar de você amanhã há de ser outro diaInda pago pra ver o jardim florescer Qual você não queria você vai se amargarVendo o dia raiarSem lhe pedir licença e eu vou morrer de rirQue esse dia há de vir antes do que você pensaApesar de você amanhã há de ser outro diaVocê vai ter que verA manhã renascer e esbanjar poesiaComo vai se explicar vendo o céu clarearDe repente, impunementeComo vai abafarNosso coro a cantarNa sua frenteApesar de você amanhã há de ser outro diaVocê vai se dar malEtc. e tal

Chico Buarque

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Além do escritores citados neste trabalho, outros da atualidade apresentam a literatura

de forma engajada com os problemas sociais. Para maior conhecimento podem ser acessados os sites:

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/literatura-engajada-433766.shtml

http://minhafilosofia.blogspot.com.br/2007/10/literatura-engajada.html

http://www.brasilescola.com/literatura/para-que-serve-a-literatura.htm

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Referências

. ABAURRE, Maria Luiza M. português: contexto, interlocução e sentido; Martia Luiza M. Abaurre, Maria Bernadete M. Abaurre, Marcela Pontara. São Paulo:

Moderna, 2008..ALVES, Roberta Hernandes. Língua Portuguesa; Roberta Hernandes Alves, Vima

Lia Martin. Curitiba: Positivo, 2010. .CAMPOS, Elizabeth Marques. Viva português: ensino médio; Elizabeth Campos,

Paula Marques Cardoso, Sílvia Letícia de Andrade. São Paulo: Ática, 2010. . CEREJA, Willian Roberto. Português linguagens: volume 3; Willian Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7. ed. Reform. São Paulo: Saraiva, 2010.português, 3º ano: ensino médio; organizador Ricardo Gonçalves Barreto.

1.ed.. São Paulo:> Edições SM, 2010. (Coleção ser protagonista). TORRALVO, Izeti Fragata. Linguagem em movimento: literatura, gramática, redação: ensino médio, vol.3 ; Izetti Fragata Torralvo, Carlos Cortz Minchillo.

São Paulo: FTD, 2008.

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Tabela de Imagens

n° do slide

direito da imagem como está ao lado da foto

link do site onde se consegiu a informação Data do Acesso

22 Monteiro Lobato / Capa: José Wasth

Rodrigues / Urupês,1918 / http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Urup%C3%AAs_capa_%281918%29.jpeg

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Urup%C3%AAs_capa_%281918%29.jpeg

12/09/2012