linguagem cartogrÁfica e anÁlise do espaÇo: … · para almeida e passini (1989), é essencial...

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ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2020 LINGUAGEM CARTOGRÁFICA E ANÁLISE DO ESPAÇO: MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO BÁSICO DE SÃO JOÃO DEL- REI /MG Carolina Gonçalves da Silva Mata [email protected] Programa de Extensão Universitária (PROEXT) Patrícia Assis da Silva [email protected] Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) Silvia Elena Ventorini [email protected] Departamento de Geociências (DEGEO) Universidade Federal de São João Del-rei RESUMO Neste artigo são relatados os resultados obtidos com a elaboração de um Caderno Didático de Cartografia e Relatos cujo conteúdo é composto por conceitos e exercícios de Cartografia tendo como área de estudo o município de São João del-Rei. A pesquisa é desenvolvida por meio de um trabalho colaborativo com a participação de professores de Geografia da Rede Pública de Ensino. O procedimento metodológico tem com fundamentação teórica a perspectiva histórico-cultural por permitir indicar os lugares sociais que ocupam os participantes. Os procedimentos foram traçados em conjunto com as pesquisadoras e professores do Ensino Básico e referem-se: a) ao nível de linguagem adequada aos escolares; b) informações contextualizadas ao município; c) conteúdos básicos cartográficos; d) organização progressiva do conteúdo. Os resultados indicam que os alunos progridem sem dominar os conceitos básicos de Cartografias que deveriam ter sido adquiridos em anos anteriores. Indica, ainda, que o professor enfrenta dificuldades para trabalhar tais conceitos, por não dominá-los. Na análise dos resultados constata-se que a utilização dos lugares

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ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014

2020

LINGUAGEM CARTOGRÁFICA E ANÁLISE DO ESPAÇO:

MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO BÁSICO DE SÃO JOÃO DEL-

REI /MG

Carolina Gonçalves da Silva Mata

[email protected]

Programa de Extensão Universitária

(PROEXT)

Patrícia Assis da Silva

[email protected]

Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)

Silvia Elena Ventorini

[email protected]

Departamento de Geociências (DEGEO)

Universidade Federal de São João Del-rei

RESUMO

Neste artigo são relatados os resultados obtidos com a elaboração de um Caderno

Didático de Cartografia e Relatos cujo conteúdo é composto por conceitos e exercícios

de Cartografia tendo como área de estudo o município de São João del-Rei. A

pesquisa é desenvolvida por meio de um trabalho colaborativo com a participação de

professores de Geografia da Rede Pública de Ensino. O procedimento metodológico

tem com fundamentação teórica a perspectiva histórico-cultural por permitir indicar os

lugares sociais que ocupam os participantes. Os procedimentos foram traçados em

conjunto com as pesquisadoras e professores do Ensino Básico e referem-se: a) ao

nível de linguagem adequada aos escolares; b) informações contextualizadas ao

município; c) conteúdos básicos cartográficos; d) organização progressiva do

conteúdo. Os resultados indicam que os alunos progridem sem dominar os conceitos

básicos de Cartografias que deveriam ter sido adquiridos em anos anteriores. Indica,

ainda, que o professor enfrenta dificuldades para trabalhar tais conceitos, por não

dominá-los. Na análise dos resultados constata-se que a utilização dos lugares

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próximos à realidade do aluno o estimula a resolver os exercícios. A estimulação

ocorre porque o educando reconhece os lugares ao mesmo tempo em que se

reconhece no material.

Palavras – chave: Material Didático, Ensino Básico, Ensino de Cartografia. Eixo 15 – A

Geografia na educação básica: metodologia, tecnologia e formação docente.

ABSTRACT

In this article are reported the obtained results with the preparation of a Didactic

Contract Cartography and Reports which content is concepts and exercises of

Cartography about the city of São João del-Rei. The search is developed with the

collaboration of Geography teachers of public teaching. The historic and cultural

perspectives are the theoretical foundation of methodology because they permit to

demonstrate the social places where the participants are. The procedures were made

with the searchers and teachers of the basic education and they refer to: a) the level of

the appropriate language for the students b) contextualized information’s for the city c)

basic contents of Cartography d) the progressive organization of the content. The

results show that the students progressed without knowing the basic contents of

Cartography that should be learned years ago. With these results it’s possible to see

that the teachers had difficult to work with the contents because they didn’t master

them. It’s possible to see that choosing places near the students’ reality help them

doing the exercises, because they recognize the places while recognize themselves in

the material.

Key – words: Didactic Material; Basic Education; Teaching Cartography

1. INTRODUÇÃO

A palavra “Cartografia” originou-se na Grécia e significa “escrita do mapa”. Já o termo

Cartografia é definido como conjunto de estudos e operações lógico-matemáticas e

técnicas e que constrói mapas, carta, plantas e outras formas de representação,

através de observações diretas, investigações de documentos e levantamento de

dados. (MARTINELLI, 2011)

No dicionário Aurélio a palavra “mapa” é definida como “representação, em superfície

plana e escala menor, dum terreno, país, território etc.” (FERREIRA, 2001, p. 446).

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Para além de conhecer as definições das palavras Cartografia e mapa, o homem

desde os primórdios busca métodos e técnicas para conhecer e representar partes da

Terra. Desde os tempos remotos, o homem procurou conservar a memória do lugar

vivido, onde gravou detalhes em placas de argila, metal ou madeira, confeccionando

assim os primeiros esboços cartográficos. (JOLY, 1990)

Segundo Oliveira (2007 apud COSTA 2012, p.109):

A linguagem cartográfica tem um papel essencial na representação espacial da superfície terrestre e constitui uma atividade mental que conduz ao conhecimento do planeta que habitamos e do qual dependemos para sobreviver, e que teremos que habitar ainda por um longo tempo. Essa forma de linguagem permite identificar nas representações espaciais o espaço concreto.

No âmbito escolar a Cartografia é fundamental no ensino de Geografia por possibilitar

ao aluno a analise do espaço em que vive e por fornecer subsídios que atende suas

necessidades diárias de orientação e mobilidade. Por meio da linguagem cartográfica

é possível realizar a síntese de informações, como também representar conteúdos.

(COSTA, 2012).

Na mesma linha de pensamento, Lunkes e Martins (2007) destacam que por meio do

mapa o docente tem a possibilidade de instigar o aluno a refletir sobre a localização de

um determinado objeto (natural ou construído pelo homem), o “por que aqui” e não

“em outro lugar”; como é este lugar; o porquê deste lugar ser assim; por que as coisas

estão dispostas desta maneira; qual a significação deste ordenamento espacial; quais

as consequências deste ordenamento espacial etc.

Por este motivo, um aprendizado que se tem tornado usual na Escola Básica é o

estudo do meio a partir do espaço vivido pelo aluno, como a rua, a escola, o bairro, a

cidade etc. tendo como base a ideia de conjunto no qual um espaço menor está

inserido em outro maior (ex. a escola e o bairro) e no qual a criança vivencia este

espaço por meio do deslocamento e das relações sociais. Para Almeida e Passini

(1989), é essencial que o espaço vivido pelo aluno, seja sempre o ponto de partida

para as suas reflexões e possíveis transformações. Para as autoras as psicogêneses

do espaço passam por três níveis de evolução, do vivido ao percebido e deste ao

concebido:

O espaço vivido refere-se ao espaço físico, vivenciado através do movimento e deslocamento. É apreendido pela criança através de brincadeiras ou de outras formas ao percorrê-lo, delimitá-lo, ou organizá-lo segundo seus interesses. Daí a importância de exercícios

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rítmicos e psicomotores para que ela explore com o próprio corpo as dimensões e relações espaciais. O espaço percebido não precisa mais ser experimentado fisicamente. [...] Ao observar uma foto, nessa fase, a criança já é capaz de distinguir a distância e a localização dos objetos. Antes só era capaz de perceber o ‘aqui’; depois atinge também o ‘acolá’. Deu-se nessa passagem, tanto a ampliação do campo empírico da criança quanto à análise do espaço que passa a ser feita através da observação. [...] Por volta dos 11-12 anos o aluno começa a compreender o espaço concebido, sendo-lhe possível estabelecer relações espaciais entre elementos apenas através de sua representação, isto é, é capaz de raciocinar sobre uma área retratada em um mapa, sem tê-la visto antes. (ALMEIDA; PASSINI, 1989, p. 26-27).

No desenvolvimento do Projeto de Extensão Universidade e Escola Pública: Proposta

de Elaboração Conjunta de Material Cartográfico para o Ensino Básico de São João

del-Rei - MG1 iniciado em abril de 2012, observa-se que professores da Rede Pública

de Ensino Básico do município de São João del -Rei-MG enfrentam dificuldades para

abordar conceitos cartográficos e geográficos partindo do local vivido dos seus alunos.

Segundo relatos dos docentes as dificuldades se dão também por causa da carência

de material didático cartográfico apropriado ao nível de conhecimento dos alunos

disponível nas escolas. Os documentos cartográficos disponíveis nas escolas, como o

mapa-múndi e o livro didático, abordam lugares distantes do cotidiano do aluno, não

possibilitando o reconhecimento do aluno nos mesmos.

Desta forma, neste artigo relatam-se resultados obtidos com a elaboração de um

Caderno Didático de Cartografia e Relatos cujo conteúdo é composto por conceitos e

exercícios de Cartografia tendo como área de estudo o município de São João del-Rei.

A pesquisa é desenvolvida por meio de um trabalho colaborativo com a participação

de professores de Geografia da Rede Pública de Ensino do referido município.

2. A ELABORAÇÃO DO CADERNO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para selecionar o conteúdo do Caderno Didático de Cartografia e Relatos,

primeiramente, foi elaborado e aplicado um questionário2 com o objetivo de coletar

1 Este projeto é coordenado pela Profª Dra. Silvia Elena Ventorini, do Departamento de Geociências e recebe o apoio financeiro, por meio de uma bolsa de extensão, da Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal de São João del-Rei - MG. 2 O questionário continha as seguintes questões: a) como o professor utiliza o material cartográfico em suas aulas? b) quais os conceitos cartográficos os educandos apresentam mais dificuldades para compreender? c) qual(is) o(s) conteúdo(s) você encontra dificuldades para abordar por falta de material didático cartográfico do município de São João del-Rei? d) quais os locais de São João

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dados sobre as reais dificuldades e/ou necessidades dos professores sobre o

ensino/aprendizado de conceitos cartográficos. Seis professores que atuam em

escolas públicas responderam o questionário. Posteriormente, com base nos

resultados do questionário, iniciaram-se diálogos dirigidos com a professora Érica

Nogueira dos Santos, bem como um trabalho colaborativo com a docente na

elaboração de práticas envolvendo alunos de duas turmas do sétimo ano, sendo uma

composta por 31 alunos e outra por 28, ambas sob a responsabilidade da referida

professora que atuava na Escola Estadual Tomé Portes del-Rei. A idade média dos

educandos era de 12 anos.

Durante as práticas foram abordados conceitos cartográficos que mais geram

dificuldades no ensino/aprendizado dos alunos, segundo o resultado dos questionários

e dos diálogos dirigidos. Este procedimento foi adotado para coletar mais dados sobre

a realidade da referida escola, assim como estreitar os laços com a profissional para a

geração de um Caderno coerente com a realidade do município. Considera-se

importante destacar que a vivência no contexto escolar foi o fio condutor para a

elaboração do Caderno Didático de Cartografia e Relatos, no qual se partiu da

hipótese de que a contextualização histórico-geográfica dos conteúdos facilita o

ensino/aprendizado de conceitos básicos cartográficos. A hipótese teve como base

uma pesquisa bibliográfica na área da Cartografia Escolar, que destaca a importância

de utilizar as relações espaciais do lugar de vivência do indivíduo para abordar

conceitos cartográficos básicos.

Para sua construção, primeiramente foram estabelecidas normas de apresentação do

layout e de seleção de conteúdos cartográficos e geográficos. Os procedimentos

foram traçados em conjunto com as pesquisadoras e professores do Ensino Básico e

referem-se: a) ao nível de linguagem adequada aos escolares; b) informações

contextualizadas ao município de São João del-Rei; c) conteúdos básicos

cartográficos da linguagem cartográfica; d) organização progressiva do conteúdo.

O Caderno Didático de Cartografia e Relatos, até o momento, é composto por catorze

páginas, a) duas: a capa e a contra-capa, b) duas: a introdução e apresentação do

projeto; c) dez: com a abordagem de conceitos como orientação espacial, pontos de

del-Rei você julga importante serem representados em mapas topológicos? e) Você julga importante a elaboração de materiais cartográficos com enfoque no lugar de vivência do educando?

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vista (horizontal, oblíquo e vertical ou ortogonal), interpretação de imagem de satélite e

mapas, construção de legenda etc. e com o contexto histórico e geográfico de objetos

e lugares de São João del-Rei - MG.

Após pesquisa bibliográfica referente a outras experiências de produção de material

didático cartográfico com Le Sann (2012) e Almeida (2006) e considerando a realidade

do ensino público do município de São João del-Rei, definiu-se que a dimensão das

páginas deve ser A4 e as figuras em escala de cinza, permitindo a reprodução com

baixo custo por meio de fotocópias ou impressão na gráfica. Em relação ao conteúdo,

adotou-se o critério de aprofundamento das atividades propostas, assim como a inter-

relação entre elas. A progressão das situações problemas propostas, sempre remete o

educando e o professor a (re) lembrar conceitos abordados anteriormente.

A cada página são inseridas novas informações sobre os lugares de São João del- Rei

e atividades que possibilitam aos professores e aos alunos ampliarem seus

conhecimentos sobre o tema. A resolução das atividades, a cada avanço, solicita do

educando reflexões sobre conhecimentos cartográficos e dos lugares de São João del-

Rei já trabalhados em exercícios anteriores.

A avaliação do caderno foi realizada por alunos do Ensino Básico do Município de São

João del-Rei, na Escola Estadual Dr. Garcia de Lima, nas turmas A e B de 8º ano

totalizando 70 alunos com idade média de 13 anos. Até o presente momento foram

avaliadas seis pranchas. Os procedimentos de avaliação das pranchas foram

escolhidos pelo professor, que optou por seguir a sequência do conteúdo apresentado

no Caderno. Após a avaliação, o docente escreveu relatos sobre a experiência.

3. A EXPERIÊNCIA COM O CADERNO

3.1. Resultados obtidos com a elaboração

Os resultados dos questionários revelaram a Escala e a projeção ortogonal como

conceitos que mais geram dificuldades nos educandos. Os dados coletados indicam

também que todos os professores da pesquisa utilizam os mapas como recurso

didático para a complementação e/ou facilitação do processo de ensino/aprendizado

de temas variados da Geografia.

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Outra dificuldade constatada durante a vivência na escola é a ausência de tempo, por

parte do professor, para elaborar material didático coerente com os aspectos do local

vivido de seus educandos. Este fato, somado a utilização do mapa como recurso

visual estimula o professor a usar o livro didático como apoio ao ensino de Cartografia.

Por isso, na elaboração do Caderno Didático de Cartografia e Relatos priorizou-se a

utilização do contexto histórico-geográfico dos lugares e objetos de São João del-Rei.

A introdução do conteúdo do Caderno tem como o foco o desejo do homem em

representar os objetos de seu cotidiano desde a antiguidade e traz como exemplo

ilustrações de figuras rupestres encontradas na Serra do Lenheiro, localizada no

município (figura 1). Além disso, na introdução aparece pela primeira vez, o

personagem lúdico criado para representar o alunado e seus possíveis

questionamentos sobre o conteúdo abordado ao longo do Caderno.

Figura1:Exemplos de figuras rupestres encontradas na Serra do Lenheiro.

Figura 2: A utilização do personagem para relacionar um assunto ao outro.

A primeira prancha do Caderno contém figuras humanas e de objetos que devem ser

recortados e utilizados ao longo da resolução dos exercícios. As figuras representam:

a) dois bonecos (um menino e uma menina) que ilustram o/a aluno/a; b) objetos que

fazem parte da realidade do aluno, como o coreto, a igreja, a escola, as palmeiras e o

teatro e c) uma rosa dos ventos (Figura 4). Na segunda prancha é trabalhado o

conceito de orientação pelos pontos cardeais. Todas as figuras recortadas da prancha

anterior serão utilizadas para a elaboração dos exercícios desta prancha. As

representações dos objetos coreto, escola, palmeiras, igreja e teatro devem ser

colados sobre os seus respectivos nomes (Figura 5A). Na terceira prancha,

continuando no mesmo conceito, a orientação, é relembrado o que foi visto na prancha

anterior e a partir disso dá-se início ao tema pontos colaterais. A rosa-dos-ventos

recortada na primeira prancha é usada também na elaboração dos exercícios dessa

página (5B).

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Figura 4: Representações humanas (A), de objetos (B) e da rosa dos ventos (C)

Na prancha 4, o conceito abordado é sobre ponto de vista e para introduzir esse tema

foi utilizada, primeiramente, a figura de um sofá, partindo do pressuposto que esse

objeto faz parte do cotidiano do educando (figura 7). A partir da figura, são

exemplificados os pontos de vista horizontal (frontal), oblíqua e vertical (de cima) e

proposto um exercício no qual o aluno deve indicar as diferenças observadas nos três

pontos de vista. Ainda na mesma prancha, após o referido exercício é apresentada

outra atividade abordando o tema ponto de vista, porém utiliza-se como objeto de

referência a Igreja São Francisco, construída em 1774 e importante monumento

histórico do município de São João del-Rei. Logo após essa atividade é proposto que

os alunos observem os objetos que estão na sala de aula e os desenhem adotando os

três pontos de vista trabalhados anteriormente (figura 8).

Figura 5: Exercícios que utilizam as representações recortadas

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Figura 7: objeto representando em três pontos de vista distintos

Figura 8: Exercício sobre pontos de vista

Na prancha número 5 relembra-se o que foi trabalhado na prancha anterior (prancha

4), não perdendo o foco do conceito ponto de vista, porém iniciando agora a

interpretação de imagens de satélite e elaboração de mapa a partir de imagem. Nessa

prancha é proposto que o aluno observe uma imagem de satélite de uma parte do

centro da cidade de São João del-Rei, na qual a Igreja São Francisco está localizada.

Nessa prancha é retomado também o conceito de orientação por meio do uso da rosa

dos ventos recortada na prancha 1. O último exercício apresentado na prancha 5

consiste em solicitar ao aluno que: a) observe a imagem; b) localize alguns objetos; c)

pinte os objetos localizados com as cores pré-estabelecidas e elabore a legenda. Nas

pranchas 6, 7, 8 e 9 ainda utilizando a imagem de satélite do município são

aprofundados conceitos dos pontos de vista, de orientação e localização de objetos e

elaboração de mapas e suas respectivas legendas. A figura 9 ilustra um dos exercícios

propostos com imagens.

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Figura 9: Exercício com imagem de satélite

Como já destacado, o Caderno foi avaliado por 70 alunos que frequentam os 8ºs anos

A e B na Escola Estadual Doutor Garcia de Lima. A aplicação das atividades do

Caderno foi realizada pelo professor de Geografia, conforme descrito a seguir.

3.2. Resultados da avaliação do caderno

O professor optou por avaliar o Caderno conforme a disposição crescente das

pranchas (1,2,3 etc.) e por abordar a parte conceitual antes da aplicação das

atividades. Os resultados indicam que os exercícios sobre orientação apresentados

na prancha 2 foram respondidos corretamente por, aproximadamente,76,1% e 19,7%

dos educandos responderam incorretamente os exercícios. Dos 70 alunos, 4% não

realizaram os exercícios por considerá-los desestimulantes e cansativos,

principalmente no que se refere a pintar e recortar os bonecos.

Na prancha 3 os resultados apontam que 92,2% dos alunos responderam

corretamente os exercícios e que, apenas 2,2% incorretamente. A porcentagem de

alunos que não realizaram os exercícios foi 5,5%. Os resultados indicam, ainda, que

na prancha 4 o número de acertos foi de 86%, enquanto os erros aparecem em 6,3%

e os alunos que não responderam representam 7,7%. Nessa prancha foram

trabalhados os pontos de vista horizontal (frontal), oblíqua e vertical (de cima).

Na prancha 5 o conceito trabalhado ainda é ponto de vista, no entanto por meio da

interpretação de fotografias aéreas. O número de acertos foi de 85% do total,

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enquanto o número de erros é de apenas 8,5%. Já os alunos que não responderam

representam 6,4%. Na prancha 6 novamente é utilizada uma fotografia cujos

conceitos trabalhados nas pranchas anteriores são utilizados para a elaboração dos

exercícios . Os resultados apontam que houve aproximadamente 87,9% de acertos,

5% de erros e 7,2% dos alunos não responderam aos exercícios. A figura 10 sintetiza

os resultados relatados.

Deve-se destacar que na prancha 6 a resolução do exercício é realizada sobre uma

folha de papel vegetal, no qual o educando deve decalcar os objetos representados

em uma fotografia aérea. Nesta atividade, o professor relatou que teve dificuldades em

orientar seus educandos por não dominar os conceitos necessários para a resolução

do exercício. Por este motivo, expressou o desejo de participar de uma oficina ou

curso de formação continuada no qual fosse abordados estes conceitos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diversidade de uso do material didático para o ensino de Cartografia que abordam

lugares que fazem parte do cotidiano do aluno abrangem novas possibilidades ao

professor de elaborar aulas mais atrativas aos educandos. No entanto, a experiência

Figura 10: Síntese da avaliação do Caderno

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relatada neste artigo indica que os alunos progridem para o Ensino Fundamental II

sem dominar os conceitos básicos de Cartografias que deveriam ter sido adquiridos

em anos anteriores. Indica, ainda, que o professor enfrenta dificuldades para trabalhar

tais conceitos, por não dominá-los. Desta forma, uma das etapas previstas para a

continuidade deste estudo é a elaboração e aplicação de um curso de formação

continuada para professores da Rede Pública de São João del-Rei e Região.

Especificamente sobre a elaboração e avaliação do Caderno de Cartografia e Relatos,

constata-se que a utilização dos lugares próximos à realidade do aluno o estimula a

resolver os exercícios. A estimulação ocorre porque o educando reconhece os lugares

ao mesmo tempo em que se reconhece no material. O aprofundamento das atividades

do Caderno ocorrerá por meio da abordagem do conceito de Escala, tendo como fio

condutor a colaboração de professores da Rede Pública de Ensino. Considera-se

que a parceria, entre pesquisador e professor, diminui a distância entre o saber

produzido na academia e o saber produzido na escola básica, permitindo construir

conhecimentos coerentes ante as reais necessidades encontradas no contexto

escolar.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, F. R.; Lima, F. A. F. A linguagem cartográfica e o ensino-aprendizagem da Geografia: algumas reflexões Geografia Ensino & Pesquisa, v. 16, n.2 p. 105- 116

2012. FERREIRA, A. B. H.. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua

portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

JOLY, F. A Cartografia. Campinas: Papirus Editora, 1990.

LUNKES R.P; MARTINS G. Alfabetização cartográfica: um desafio para o ensino de

Geografia. Unioeste, 2007, p. 1-12.

MARTINELLI, M.. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto,

2011.

PASSINI, E. Y; ALMEIDA, R. D. Espaço geográfico: o ensino e representação. São

Paulo: Contexto, 1989.