limites de pontos de rami ca˘c~ao de curvas planas, usando ... · usamos a seguinte nota˘c~ao:...

59
Instituto Nacional de Matem´ atica Pura e Aplicada Limites de Pontos de Ramifica¸ ao de Curvas Planas, Usando Folhea¸ c˜oes allace Mangueira de Sousa Tese de Doutorado Orientador: Eduardo Esteves 2017

Upload: others

Post on 16-Sep-2019

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Instituto Nacional de Matematica Pura e Aplicada

Limites de Pontos de Ramificacaode Curvas Planas, Usando

Folheacoes

Wallace Mangueira de Sousa

Tese de Doutorado

Orientador: Eduardo Esteves

2017

Page 2: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

A conversacao enriquece a compreensao, mas

a solidao e a escola do genio. Edward Gibson

Page 3: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

RESUMO

Desenvolvemos um metodo para calcular o limite de curvas duais planas

de alguns tipos de famılias. Alem disto, fazemos um comparativo entre a

formula do limite de curvas duais planas dada por Katz [9] e o metodo aqui

introduzido.

O nosso principal resultado e calcular o limite de curvas duais da famılia

de Zeuthen de qualquer tipo, isto e, da famılia de curvas planas F =

E2A+F1(X,Y, Z)t+F2(X,Y, Z)t2 + · · · ∈ k[X,Y, Z][[t]] cuja fibra generica

e reduzida, E e um polinomio homogeneo irredutıvel, A um polinomio ho-

mogeneo livre de quadrados e gcd(E,A) = 1.

Em termos concretos, mostramos que

limt→0

F ? = 2E? +A? + [∆n · E]? + (4− n)[E ·A]?,

onde n e um inteiro positivo e ∆n e um discriminante definido de forma

recursiva. Usamos a seguinte notacao: seja C uma curva plana. Denotamos

por C? para a curva dual de C. Sejam D1, D2 duas curvas planas sem

componentes em comum. Denotamos por [D1 ·D2]? a uniao dos pencils de

retas que passam por cada um dos pontos de D1 ∩ D2, contados com as

mesmas multiplicidades de intersecao que o correspondente ponto tem no

0-ciclo [D1 ·D2].

De fato, calculamos algo um pouco mais geral: o 0-ciclo do limite do

esquema de ramificacao generico sobre a fibra generica da famılia de Zeuthen

de qualquer tipo de um sistema linear geral. Para tanto, desenvolvemos um

metodo de recorrencia de tal forma que as condicoes impostas sobre a fibra

generica implicam que este metodo de recorrencia finalize.

Page 4: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

AGRADECIMENTOS

Imensamente grato a Deus pelo dom da vida e conquistas alcancadas.

Forca motriz da minha existencia e responsavel por fornecer toda a firmeza

necessaria ao enfrentar de cada dia, assim como, todo o acalento e amor de

um Pai ao seu filho. E ao Senhor que primordialmente dedico cada caractere

deste trabalho.

A minha mae, sımbolo de coragem e amor impecavel, pela constancia e

incessante apoio aos meus projetos e educacao. Ao meu pai, por mostrar-me

que a determinacao pode nos levar a caminhos inacreditaveis.

As minhas irmas e sobrinho, por todos os momentos de descontracao e

alegria.

Aos meus avos, Cesar, Ana e “Amigao”, exemplos de fraternidade, que

com a superacao de inumeras adversidades fizeram dos meus pais pessoas

de bem e hoje, mesmos carregando os sinais da elevada idade, expoem com

orgulho as marca do labor, distribuindo ternura e sabedoria a todos que os

circundam.

Em especial, ao meu primo “Marcinho”, que embora nao nos regue mais

com o balsamo da sua alegria, irmandade e perseveranca, plantou como

semente no ıntimo dos nossos coracoes tudo o que de bom pairava sobre si,

essa, que germinou e a cada dia cresce como quem foi plantada em terreno

fertil, fornecendo doces frutos, porem, com o talo amargo da saudade.

A toda a minha famılia pelo apoio e incentivo dados.

A minha namorada, Princesa, pelo companheirismo, paciencia e genuıno

amor que me foi ternamente fornecido ao longo de todos esses anos, tambem

por acreditar nos meus sonhos e como fiel amiga agir em proveito das suas

realizacoes.

Ao padre “Ze” Sinfronio e “Dona Bidia”, pelos seus ensinamentos e todo

o vigor em sempre impulsionar-me a seguir pelos melhores caminhos. Que

em fim possam repousar ao lado do Senhor.

Aos docentes da Universidade Federal da Paraıba, aqui especialmente

representados em nome dos professores Fernando Xavier, amigo e primeiro

a orientar-me pelas veredas da matematica e Roberto Bedregal, orientador

no mestrado, com o qual desfrutei de bons momentos conversando sobre

Algebra Comutativa.

Aos antigos amigos dos cursos de Fısica e Matematica da UFPB, dos

quais lembro com nostalgia. Assim como, as mais recentes, mas nao menos

Page 5: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

importantes amizades com parte do alunado do Instituto de Matematica

Pura e Aplicada, destacadamente Cayo e Rick, que muito ajudaram dentro

e fora “das quatro linhas” desta instituicao.

A todo o corpo docente do IMPA pelos ensinamentos prestados, espe-

cialmente ao professor Karl-Otto, pelas produtivas conversas que tivemos,

e Eduardo Esteves pela paciencia, apoio e brilhante orientacao, esta, indis-

pensavel na conclusao deste ciclo.

Por fim, agradeco tambem a Capes pelo essencial apoio financeiro.

v

Page 6: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Contents

Introducao 1

1 Wronskianos e esquemas de ramificacao 7

1.1 Wronskianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.2 Derivacoes equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1.3 Esquemas de ramificacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2 Famılias infinitesimais e limites 17

2.1 Famılias e limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.2 F-Derivacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.3 F-Derivacoes reduzidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.4 Adaptacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3 Aplicacoes 28

3.1 Famılias de Zeuthen de “primeiro tipo” . . . . . . . . . . . . 28

3.2 Famılias de Zeuthen de “segundo tipo” . . . . . . . . . . . . . 31

3.3 Outros tipos de famılias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4 Famılias regulares 38

4.1 Polıgono de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

4.2 Discriminante formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4.3 Famılias nao-regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

5 Famılias de Zeuthen de tipo n 43

Page 7: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Introducao

As curvas planas de grau d sao parametrizadas por um espaco projetivo de

dimensao N =(d+2

2

)− 1. Supondo que a caracterıstica do corpo e 0, entao

as condicoes para uma curva “passando por um ponto” p e “tangente a uma

reta” L sao representadas por um hiperplano Hp e uma hipersuperfıcie HL

de grau 2d − 2 em PNk , respectivamente. Para propositos enumerativos os

seguintes numeros caracterısticos sao importantes:

Nd(s) := Numero de curvas suaves planas de grau d tangente a

s retas e passando por

(d+ 2

2

)− s− 1 pontos,

onde as retas e os pontos sao escolhidos em posicao geral. Ou seja, se

p1, ..., pN−s e L1, ..., Ls sao pontos e retas gerais, entao Nd(s) e o numero

dos pontos na intersecao Hp1∩· · ·∩HpN−s∩HL1∩· · ·∩HLs que correspondem

as curvas suaves. Se s < 2d− 1, o Teorema de Bezout garante que

Nd(s) = (2d− 2)s.

De fato, o conjunto S das curvas com componentes multiplas satisfazem

todas as condicoes de reta e as curvas do tipo CL2, onde C curva plana

e L linear, formam a maior componente deste conjunto, com codimensao

2d − 1. Assim, se s < 2d − 1 as condicoes gerais nos pontos implicam que

este conjunto S nao intersecta Hp1 ∩ ... ∩HpN−s . Logo, todos os pontos da

intersecao Hp1 ∩· · ·∩HpN−s ∩HL1 ∩· · ·∩HLs correspondem as curvas suaves

e, por tanto, podemos computar Nd(s) usando Bezout. Por outro lado, se

s ≥ 2d− 1, entao esta formula deve ser corrigida.

A determinacao destes numeros caracterısticos para todos os graus e

complicado e ainda e um problema em aberto. Para contextos historicos,

veja, por exemplo [10]. Zeuthen [20] contribuiu em seu trabalho calcu-

lando heuristicamente os numeros N3(s) e N4(s); Kleiman e Speiser [12]

confirmaram o resultado obtido por Zeuthen no calculo de N3(s); Vakil [15]

tambem confirmou os resultados de Zeuthen para o caso N4(s).

Aluffi [1] mostrou que os numeros caracterısticos Nd(2d − 1) e Nd(2d)

podem ser calculados usando “blowups”. Por outro lado, diferente de Aluffi,

Gastel [16] mostrou que os numeros Nd(2d − 1) e Nd(2d) podem ser calcu-

lados usando limites de conormais de curvas planas e afirmou que possivel-

1

Page 8: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

mente este seja um melhor caminho para calculo dos numeros caracterısticos.

Seja F0 e uma curva plana lisa, entao o conormal de F0, denotado por

C(F0), e o conjunto

C(F0) := (p, L) ∈ P2k × (P2

k)∨ | p ∈ F0, TpF0 ⊆ L,

onde (P2k)∨ e o espaco projetivo dual e TpF0 e a reta tangente a F0 no

ponto p. Alem disto, a curva dual de F0, denotada por F ?0 , e a imagem da

segunda projecao, ou seja, e a imagem do mapa C(F0)π2−→ (P2

k)∨. Notemos

que a condicao de uma reta L ser tangente a F0 em um ponto de F0 e

equivalente a condicao da reta L pertencer a curva F ?0 . Desta forma, os

numeros caracterısticos tem relacoes com as curvas duais.

Seja F = F (t) =∑

i≥0 Fi(X,Y, Z)ti ∈ k[X,Y, Z][[t]] uma famılia de

curvas planas a um parametro cuja fibra generica e lisa. Assim, temos que

para quase todo c ∈ k, a curva F (c) e lisa. Podemos nos perguntar para

qual curva plana a curva dual se degenera quando c converge para 0.

O limite de curvas duais de qualquer famılia de curvas a um parametro

e muito difıcil de determinar. Mas, para termos teoremas significativos,

precisamos de formulas de uma forma geral.

Precipuamente, o calculo dos limites de curvas duais foi abordado por

Zeuthen, com o objetivo de computar os numeros caracterısticos. Ele mostrou

que se F (X,Y, Z, t) = 0 e uma famılia a um parametro de curvas planas que

satisfazem algumas condicoes, “primeiro tipo”, “segundo tipo”, ..., termi-

nologia usada por Zeuthen, entao o limite de curvas duais depende somente

dos primeiros termos da expansao em series formal para F em termos de

t. Foi mostrado por Gastel que em algumas dessas famılias, como a de

“primeiro tipo”, as formulas resultantes valem para graus arbitrarios. Katz

[9] mostrou que se a famılia e regular, entao o limite pode ser expresso em

termos do discriminante formal de F .

Por outro lado, sejam F0 uma curva plana lisa e (V,L) um sistema linear

sobre F0, ou seja, L e um feixe invertıvel sobre F0 e V ⊆ H0(F0,L) e um

espaco vetorial com dimV = r + 1. Para cada ponto p ∈ F0 e cada inteiro

nao negativo l, seja V (−l · p) ⊆ V o subsistema linear das secoes de V

que se anulam em p com multiplicidade pelo menos l. Um ponto p tal que

dimV (−(r + 1) · p) ≥ 1 e dito ser um ponto de ramificacao de V . Podemos

ver o conjunto dos pontos de ramificacao do sistema V como um subesquema

2

Page 9: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

de F0. Denotamos este subesquema por RF0(V,L).

Sejam F0 uma curva plana lisa e π : F0 → P1k o morfismo definido pela

projecao de um ponto geral o ∈ P2k. Seja RF0(V,L) o esquema de ramificacao

sobre a curva F0 de (V,L), o sistema linear associado ao mapa π. Neste caso,

o divisor de ramificacao deste mapa, como em ([8] Cap.IV pg.301), e igual

ao esquema de ramificacao RF0(V,L). Alem disto, um ponto p esta no

suporte de divisor de ramificacao deste mapa se, e somente se, a reta que

liga o a p, denotada por op, e tangente a F0 no ponto p. Isto implica que a

curva dual F ?0 e completamente determinada pelos divisores de ramificacao

das projecoes de pontos gerais. Logo, podemos calcular os limites de curvas

duais atraves do calculo dos limites de esquemas de ramificacao. Em resumo,

podemos dizer que os esquemas de ramificacao tem relacoes com o calculo

dos numeros caracterısticos. Assim, chegamos ao tıtulo deste trabalho.

Esta tese apresenta uma outra abordagem para o calculo dos limites

de curvas duais: atraves do calculo do limite de esquemas de ramificacao.

A teoria aqui introduzida, na verdade, e um trabalho de E. Esteves e N.

Medeiros.

Esteves e Medeiros calcularam os pontos de ramificacao de um sistema

linear sobre uma curva plana usando folheacoes singulares.

Seja α uma secao global nao nula de TP2k(d − 1), o feixe tangente de

P2k torcido. Dizemos que α e uma folheacao singular de P2

k de grau d. A

folheacao singular α induz, via sequencia de Euler, um campo de vetores

global sobre A3k. Este campo corresponde a uma k-derivacao homogenea ∂

de k[X,Y, Z], ou seja,

∂ = G1∂X +G2∂Y +G3∂Z ,

onde G1, G2, G3 ∈ k[X,Y, Z] sao homogeneos de mesmo grau e ∂X , ∂Y , ∂Z

sao as derivadas parciais canonicas. Dizemos que a folheacao α deixa uma

curva plana F0 invariante se F0|∂(F0). Um exemplo simples de uma fol-

heacao que deixa a curva plana F0 invariante e a folhecao induzida pela

derivacao

∂F0,H(−) := det

∂X(F0) ∂Y (F0) ∂Z(F0)

∂X(H) ∂Y (H) ∂Z(H)

∂X(−) ∂Y (−) ∂Z(−)

,onde H ∈ k[X,Y, Z] e um polinomio homogeneo.

3

Page 10: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Suponhamos que V ⊂ k[X,Y, Z]e e um k-subespaco vetorial homogeneo

gerado por a0, ..., ar. Dizemos que o determinante

W∂(v) := det

a0 a1 · · · ar

∂(a0) ∂(a1) · · · ∂(ar)...

......

∂r(a0) ∂r(a1) · · · ∂r(ar)

e o Wronskiano de v :=

[a0 · · · ar

]com respeito a uma k-derivacao

homogenea ∂ de k[X,Y, Z], onde ∂i e a i-esima iterada de ∂. Definimos

W∂(V ) := W∂(v), onde v e qualquer base ordenada de V .

Seja (V,OP2k(e)|F0) o sistema linear sobre a curva plana F0 induzido

por V , onde V e um k-subespaco vetorial homogeneo com dimk V = r + 1.

Denotamos por RF0(V ) o esquema de ramificacao sobre F0 do sistema linear

(V,OP2k(e)|F0). Seja H um polinomio homogeneo primo com F0. Com estas

hipoteses, Esteves e Medeiros mostraram que gcd(W∂F0,H(V ), F0) = 1 se, e

somente se, o esquema de ramificacao RF0(V ) e finito, ou seja, e um divisor

da curva. Neste caso, eles mostraram que o esquema RF0(V ) pode ser visto

globalmente como um wronskiano, ou seja, o esquema de ramificacao satisfaz

a seguinte expressao como divisor de Cartier da curva F0:

(W∂F0,H(V ) · F0) = RF0(V ) +

(r + 1

2

)(H · F0). (I)

Suponhamos que F seja uma famılia de curvas planas cuja fibra generica

e reduzida. Sejam V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo homogeneo de

posto r + 1 e H ∈ k[X,Y, Z] homogeneo primo com F0. Acrescentando o

sımbolo “∗” para indicar os termos sobre a fibra generica, temos que se o

esquema de ramificacao generico RF ∗(V∗) e finito, entao a Expressao (I)

tambem sera valida na otica da fibra generica desta famılia, ou seja,

(W∂F∗,H∗ (V∗) · F ∗) = RF ∗(V

∗) +

(r + 1

2

)(H∗ · F ∗). (II)

Desejamos calcular o 0-ciclo do limite do esquema de ramificacao generico,

ou seja, queremos calcular o 0-ciclo do limite de RF ∗(V∗). Para tanto,

4

Page 11: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

podemos tomar o limite da Expressao (II). Por outro lado, o limite de

(W∂F∗,H∗ (V∗) · F ∗)

nao necessariamente sera(W∂F0,H

(V (0)) · F0

), pois este ultimo termo pode

nem sequer fazer sentido. Por exemplo, basta que a fibra especial F0 seja

nao reduzida ou que uma componente de F0 divida algum elemento nao nulo

de V (0). Esteves e Medeiros resolveram este problema permitindo adaptar

as derivacoes a cada componente irredutıvel de F0. Estas adaptacoes, junto

com um estudo mais aprofundado em limites de divisores de Cartier [6],

possibilitaram calcular o limite do esquema de ramificacao generico de alguns

tipos de famılias de curvas planas cuja fibra especial e nao reduzida. Dentre

estas famılias com fibra especial nao reduzida temos as de “primeiro tipo”,

“segundo tipo” e “terceiro tipo”, terminologia de Zeuthen.

O resultado principal desta tese e mostrar que podemos calcular o 0-

ciclo do limite do esquema de ramificacao sobre a fibra generica da famılia de

Zeuthen de qualquer tipo, ou seja, da famılia F = E2A+∑

i≥1 Fi(X,Y, Z)ti ∈k[[t]][X,Y, Z]d, de um sistema linear generico V ∗. Em particular, con-

siderando V [[t]] o sistema linear induzido por V , sistema linear associado a

projecao de um ponto geral o ∈ P2k, calculamos o limite de curvas duais da

famılia de Zeuthen de qualquer tipo. Isto significa que calculamos o limite

do esquema de ramificacao e, particularmente, o limite de curvas duais de

todos os elementos de um aberto denso da maior componente do conjunto

S, onde S e o conjunto, definido anteriormente, das curvas com componentes

multiplas. O calculo do limite de curvas planas duais deste tipo de famılia

e bastante significativo, o qual foi abordado varias vezes mas sem sucesso.

• Breves apontamentos acerca dos capıtulos. No Capıtulo 1 introduzimos o

conceito de derivacoes equivalentes o qual desempenha papel fundamental

no calculo do esquema de ramificacao. Alem disso, no Lema 1.3 mostramos

que o esquema de ramificacao sobre uma curva de um sistema linear, quando

finito, pode ser visto globalmente como um wronskiano. No Capıtulo 2 in-

troduzimos os estudos com famılias de curvas planas e no Teorema 2.2 cal-

culamos o limite do esquema de ramificacao generico de um sistema linear

geral sobre uma famılia geral. Mais ainda, fazemos uma analise dos limites

de pontos de ramificacao sobre a fibra generica e concluimos que adaptando

as derivacoes a cada componente irredutıvel da fibra especial, podemos com-

5

Page 12: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

putar o limite do esquema de ramificacao generico sobre outros tipos de

famılias cuja fibra especial e nao reduzida. No Capıtulo 3 obtemos os mes-

mos resultados que Zeuthen para o limite das curvas duais de famılias de

“primeiro tipo” e “segundo tipo”. Calculamos tambem outro tipo de famılia

que, como veremos no Capıtulo 4, nao e regular, em geral. No Capıtulo 4

descrevemos o conceito de famılias regulares introduzido por Katz [9] e faze-

mos um comparativo entre o metodo de Katz de calcular limites de curvas

planas duais e o metodo introduzido neste trabalho. Finalizamos com o

Capıtulo 5 mostrando no Teorema 5.3 que se a fibra generica da famılia

F = E2A+ F1t+ F2t2 + · · · e reduzida, E e irredutıvel, A livre de quadra-

dos com gcd(E,A) = 1 e V e um sistema linear geral de posto r + 1, entao

esta famılia e de tipo n para algum n e que o 0-ciclo do limite do esquema

de ramificacao generico, denotado por [RF (V )], satisfaz

[RF (V )] = 2[RE(V (0))]+ [RA(V (0))]+

(r + 1

2

)((4− (n))[E ·A]+ [∆n ·E]

),

onde ∆n e um discriminante definido de forma recursiva.

6

Page 13: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

1 Wronskianos e esquemas de ramificacao

1.1 Wronskianos

Sejam k um anel e S uma k-algebra. Sejam ∂ uma k-derivacao de S e v :=[a0 · · · ar

]uma matriz linha com ai ∈ S. Dizemos que o determinante

W∂(v) := det

a0 a1 · · · ar

∂(a0) ∂(a1) · · · ∂(ar)...

......

∂r(a0) ∂r(a1) · · · ∂r(ar)

,

onde ∂i denota a i-esima iterada de ∂, e o Wronskiano de v com respeito a

derivacao ∂.

Notemos que a multilinearidade do determinante e a regra de Leibniz de

derivacoes garantem as seguintes propriedades do Wronskiano:

(1) Wc∂(v) = c(r+12 )W∂(v) para todo c ∈ S.

(2) W∂(vM) = (detM)W∂(v) para toda matriz quadrada M de ordem

r + 1 com entradas em k.

Se V ⊆ S e um k-modulo livre de posto finito, denotamos por W∂(V ) :=

W∂(v), onde v :=[a0 · · · ar

], para a0, ..., ar uma k-base ordenada de

V . A Propriedade (2) nos afirma que W∂(V ) esta bem definido a menos de

multiplicacao por um elemento invertıvel de k.

Suponhamos que k e um corpo e que S := k[X,Y, Z]. Para cada inteiro

d ≥ 0, considere Sd ⊂ S o k-submodulo livre dos polinomios homogeneos de

grau d, incluindo 0. Um k-submodulo V ⊆ S e dito homogeneo de grau d se

V ⊆ Sd.Sejam ∂X , ∂Y , ∂Z as k-derivacoes parciais naturais de S com respeito as

variaveis X,Y, Z. Uma k-derivacao ∂ de S pode ser expressa na forma

∂ = G1∂X +G2∂Y +G3∂Z ,

onde G1, G2, G3 ∈ S. Dizemos que ∂ e homogenea de grau d se G1, G2, G3

sao homogeneos de grau d.

7

Page 14: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Dado um polinomio P ∈ S, defina

∇(P ) :=[∂X(P ) ∂Y (P ) ∂Z(P )

].

Se Q ∈ S e outro polinomio, consideramos a k-derivacao ∂P,Q de k[X,Y, Z]

definida por

∂P,Q := det

∇(P )

∇(Q)

:= det

∂X(P ) ∂Y (P ) ∂Z(P )

∂X(Q) ∂Y (Q) ∂Z(Q)

∂X ∂Y ∂Z

:=

∣∣∣∣∣∂Y (P ) ∂Z(P )

∂Y (Q) ∂Z(Q)

∣∣∣∣∣ ∂X −∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Z(P )

∂X(Q) ∂Z(Q)

∣∣∣∣∣ ∂Y +

∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Y (P )

∂X(Q) ∂Y (Q)

∣∣∣∣∣ ∂Z .Suponhamos que k e um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0. Uma k-derivacao homogenea ∂ = G1∂X + G2∂Y + G3∂Z de grau d de S

induz um mapa racional

η′ : P2k → P2

k,

definido por η′(p) := (G1(p) : G2(p) : G3(p)). O mapa η′ induz uma fol-

heacao

η : OP2k(1− d)→ TP2

k,

onde TP2k

e o feixe tangente de P2k, no seguinte sentido: a direcao dada por

η no ponto p ∈ P2k e a reta passando pelos pontos p e η′(p). Ambos o mapa

racional e a reta nao estao definidos no subesquema V ⊆ P2k dado pelos

menores da matriz: [X Y Z

G1 G2 G3

].

Um ponto p ∈ V e chamado singularidade de η, ou singular para η. Esta

folheacao existe genericamente, ou seja, V ( P2k se ∂ nao e um multiplo da

derivacao de Euler:

ε := X∂X + Y ∂Y + Z∂Z .

Neste caso, dizemos que η e uma folheacao de grau d de P2k. Para mais

detalhes veja, por exemplo, [5].

A folheacao η deixa uma curva plana F0 invariante se, e somente se,

F0|∂(F0). Alem disso, existe uma quantidade finita de singularidades de η

sobre F0 se, e somente se, gcd(∂, F0) = 1. Aqui o termo gcd(∂, F0) e, por

8

Page 15: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

definicao, o maior divisor comum de F0 e os menores da matriz:

[X Y Z

G1 G2 G3

].

Notemos que estes menores saoW∂

[X Y

],W∂

[X Z

]eW∂

[Y Z

]. Tambem

dizemos que ∂ e primo com F0 quando gcd(∂, F0) = 1.

1.2 Derivacoes equivalentes

Sejam k um corpo infinito e S := k[X,Y, Z] com a graduacao natural. Seja

F0 ∈ S um polinomio homogeneo nao constante.

Definicao 1.1. Sejam ∂1 e ∂2 duas k-derivacoes homogeneas de S tais que

F0 | ∂1(F0) e F0 | ∂2(F0). Dizemos que ∂1 e ∂2 sao equivalentes modulo F0 e

denotamos por ∂1 ≡F0 ∂2, se existe c ∈ k−0 tal que para cada polinomio

homogeneo linear L existem uma k-derivacao homogenea ∂ e um polinomio

homogeneo N ∈ S satisfazendo:

L(∂1 − c∂2) = F0∂ +Nε. (1)

Proposicao 1.1. Sejam ∂1 e ∂2 duas k-derivacoes homogeneas de S tais

que F0 | ∂1(F0) e F0 | ∂2(F0). Se ∂1 ≡F0 ∂2 e V ⊆ Se e um k-espaco

vetorial, entao o subesquema definido por W∂1(V ) = F0 = 0 e o mesmo que

o definido por W∂2(V ) = F0 = 0.

Proof. De fato, seja v :=[a0 · · · ar

]uma base de V . Pelas propriedades

do wronskiano, sabemos que WL∂1(V ) = L(r+12 )W∂1(V ).

Por hipotese, WL∂1(V ) = WLc∂2+F0∂+Nε(V ) ≡F0 WLc∂2+Nε(V ). Usando

inducao, podemos mostrar que para cada n existem Hj ∈ A, para j =

1, ..., n, tais que

(Lc∂2 +Nε)n(ai) = Lncn∂n2 (ai) + Ln−1cn−1∂n−12 (ai)H1 + · · ·+ aiHn

para todo ai, ou seja, WLc∂2+Nε(V ) = WLc∂2(V ). Portanto,

L(r+12 )W∂1(V ) = WL∂1(V ) ≡F0 WLc∂2(V ) = L(r+1

2 )c(r+12 )W∂1(V )

9

Page 16: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

para todo polinomio linear homogeneo L. Como k e infinito, temos

W∂1(V ) ≡F0 c(r+1

2 )W∂2(V ).

1.3 Esquemas de ramificacao

Sejam k um corpo infinito de caracterıstica zero, S := k[X,Y, Z] e F0 ∈ Sum polinomio homogeneo nao nulo de grau d > 0. O polinomio F0 define

uma curva plana C ⊂ P2k, ou seja, um subesquema fechado de dimensao

pura um. Seja IC ⊂ OP2k

o feixe de ideais de C sobre P2k. Notemos que

IC/I2C e localmente livre de posto um. Alem disto, temos que a sequencia

exata canonica de feixes sobre C,

ICI2C

d−→ Ω1P2k/k⊗OC

π−→ Ω1C/k −→ 0

induz um mapa

µ : Ω1C/k ⊗

ICI2C

−→2∧

Ω1P2k/k⊗OC ,

o qual e definido sobre um aberto afim U de C por

π|U (λ)⊗ f 7→ λ ∧ d|U (f),

onde λ e uma secao de Ω1P2k/k⊗OC sobre U e f e um secao de IC/I2

C sobre U .

O mapa µ esta bem definido pois ICI2Ce um feixe de OC-modulos localmente

livre de posto 1. Defina

ωC/k :=

2∧Ω1P2k/k⊗(ICI2C

)−1.

Tensorizando µ por(ICI2C

)−1obtemos o seguinte mapa:

ηC/P2k/k

: Ω1C/k → ωC/k.

Vejamos como descrever o mapa η := ηC/P2k/k

localmente, digamos no aberto

UZ (Z 6= 0). Defina x := X/Z, y := Y/Z e f(x, y) := F0(x, y, 1).

10

Page 17: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Como antes, temos o seguinte mapa

η|UZ: Ω k[x,y]

(f(x,y))/k→ ω k[x,y]

(f(x,y))/k,

o qual e definido por

η|UZ(π(dx))) := dx ∧

(∂(f(x, y))

∂xdx+

∂(f(x, y))

∂ydy)⊗ f(x, y)∨,

ou seja,

η|UZ(π(dx))) :=

∂(f(x, y))

∂y· dx ∧ dy ⊗ f(x, y)∨.

Analogamente,

η|UZ(π(dy)) := −∂(f(x, y))

∂x· dx ∧ dy ⊗ f(x, y)∨.

Consideramos agora os seguintes mapas canonicos:

1. A diferencial exterior OC → Ω1C ;

2. O homomorfismo η : Ω1C → ωC definido anteriormente;

3. A derivacao d : OC → ωC obtida da composicao dos dois mapas ante-

riores.

A derivacao d : OC → ωC induz localmente, digamos no aberto UZ , uma

k-derivacao:

∂ : OC(UZ)→ OC(UZ)

definida por d(UZ)(h) = (∂h) · τZ , onde τZ := dx ∧ dy ⊗ f(x, y)∨. Notemos

que

∂ = −∂(f(x, y))

∂x∂y +

∂(f(x, y))

∂y∂x,

ou seja, a k-derivacao ∂ em UZ e dada pelo determinante:

∂ = −det

[∂(f(x,y))

∂x

∂(f(x,y))∂y

∂x ∂y

].

Seja V ⊆ Se um k-subespaco vetorial com dimV = r + 1, para certos

inteiros e > 0 e r > 0. Suponhamos que o k-espaco vetorial V induz um

sistema linear(V,OP2

k(e)|C

)de posto (projetivo) r e grau de sobre C.

11

Page 18: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Para cada ponto p ∈ C e cada inteiro nao negativo l, seja V (−l · p) ⊆ Vo subsistema linear das secoes de V que se anulam em p com multiplicidade

pelo menos l. Um ponto p tal que dimV (−(r + 1) · p) ≥ 1 e dito ser um

ponto de ramificacao de V . Um ponto p ∈ C e um ponto de Weierstrass se

p e um ponto de ramificacao do sistema linear completo das secoes de ωC .

Podemos ver o conjunto dos pontos de ramificacao de um sistema V sobre

F0 como um subesquema de F0 da seguinte forma: no aberto UZ (Z 6= 0),

consideramos o subesquema de F0 definido por W∂(V ) = F0 = 0, onde ∂

e a derivacao definida acima. Facamos as mesmas construcoes nos outros

abertos canonicos para a derivacao e o subesquema dado pela intersecao

dos respectivos wronskianos com F0. Estes subesquemas de F0 definidos

localmente colam [4] e formam um subesquema de F0, o qual chamamos

de esquema de ramificacao de V sobre F0 e denotamos por RF0(V ). Alem

disto, RF0(V ) parametriza os pontos de ramificacao do sistema V sobre F0,

ou seja, o suporte de RF0(V ) e o conjunto dos pontos de ramificacao do

sistema linear V sobre F0.

O esquema de ramificacao RF0(V ) pode ser infinito. De fato,

Proposicao 1.2. O esquema de ramificacao RF0(V ) e finito se, e somente

se, C e geometricamente reduzida e o sistema linear e nao degenerado em

cada componente geometrica de C. Em outras palavras, denotando por k o

fecho algebrico de k, temos que RF0(V ) e finito se, e somente se, os fatores

irredutıveis do polinomio homogeneo F0 em k[X,Y, Z] sao distintos e nao

dividem qualquer elemento nao nulo de V ⊗k k.

Proof. Para maiores detalhes veja ([4] Prop.7.8 pg.133).

E importante considerar o fecho algebrico de k. Por exemplo, se k = R,

F0 = X2 + Y 2, V = RX + RY e ∂ = ∂X(F0)∂Y − ∂Y (F0)∂X , temos que

W∂(V ) = 2F0 e, portanto, RF0(V ) sera toda a curva, mesmo sendo F0

irredutıvel e nao dividindo qualquer polinomio linear.

Este mesmo exemplo serve para mostrar a necessidade de que os fatores

irredutıveis de F0 nao devem dividir qualquer elemento de V . Considere

k = C, F0 = (X + iY )(X − iY ) e V = CX + CY . Temos que F0 nao tem

fatores multiplos, mas seus fatores irredutıveis dividem elementos nao nulos

de V . E, como antes, o esquema de ramificacao sera toda a curva.

Se RF0(V ) e finito, entao podemos ver RF0(V ) como um divisor de

Cartier de F0. Terminaremos esta secao calculando RF0(V ) por meio de

12

Page 19: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

um wronskiano global. Antes, precisamos introduzir um pouco mais de

conceitos.

Sejam D1, D2 ∈ S polinomios homogeneos nao constantes e coprimos.

Denotamos por (D1 · D2) o subesquema de P2k definido por D1 = D2 = 0,

e por [D1 · D2] o 0-ciclo associado. Veremos tambem (D1 · D2) como um

divisor de Cartier da curva D1 ou D2.

Lema 1.3. Seja k um corpo infinito de caracterıstica 0. Considere P ∈k[X,Y, Z] um polinomio homogeneo e V ⊂ k[X,Y, Z] um k-subespaco veto-

rial de dimensao r + 1, para algum inteiro positivo r. Entao as seguintes

afirmacoes sao verdadeiras:

1. Se Q1, Q2 ∈ k[X,Y, Z] sao polinomios homogeneos nao constantes,

entao

Q2∂P,Q1 ≡P Q1∂P,Q2 .

2. Para cada polinomio homogeneo nao constante Q ∈ k[X,Y, Z] primo

com P , o esquema de ramificacao RP (V ) associado a V sobre a curva

definida por P e finito se, e somente se, gcd(W∂P,Q(V ), P ) = 1. Neste

caso,

(W∂P,Q(V ) · P ) = RP (V ) +

(r + 1

2

)(Q · P ) (2)

como divisores de Cartier da curva.

3. Se P e livre de quadrados, entao gcd(∂P,Q, P ) = 1 para todo polinomio

homogeneo nao constante Q ∈ k[X,Y, Z] primo com P .

Proof.

(1). Seja L qualquer polinomio homogeneo linear, nao nulo. Podemos

assumir sem perda de generalidade que L = Z.

Pois se L(=: L0), L1, L2 e uma k-base de k[X1, X2, X3]1, entao Li =∑3j=1 ai,jXj , i = 1, 2, 3 e, alem disso,

∂Li =

3∑j=0

bi,j∂Xj , i = 1, 2, 3.

13

Page 20: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Portanto,∂L0(P ) ∂L1(P ) ∂L2(P )

∂L0(Q) ∂L1(Q) ∂L2(Q)

∂L0 ∂L1 ∂L2

=

∂X0(P ) ∂X1(P ) ∂X2(P )

∂X0(Q) ∂X1(Q) ∂X2(Q)

∂X0 ∂X1 ∂X2

· [bi,j]T1≤i,j≤3

,

ou seja, os determinantes das duas matrizes diferem por um fator constante

nao nulo e isto nao interfere no que desejamos.

Seja

∂′P,Q :=

∣∣∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Y (P ) ε(P )

∂X(Q) ∂Y (Q) ε(Q)

∂X ∂Y ε

∣∣∣∣∣∣∣ :=

∣∣∣∣∣∂Y (P ) ε(P )

∂Y (Q) ε(Q)

∣∣∣∣∣ ∂X −∣∣∣∣∣∂X(P ) ε(P )

∂X(Q) ε(Q)

∣∣∣∣∣ ∂Y

+

∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Y (P )

∂X(Q) ∂Y (Q)

∣∣∣∣∣ εonde ε e a derivacao de Euler.

Notemos que para P,Q ∈ k[X,Y, Z] polinomios homogeneos quaisquer,

a multilinearidade do determinante garante que Z∂P,Q = ∂′P,Q. Sejam q1 e

q2 os graus de Q1 e Q2 respectivamente. Definamos

QX := q2Q2∂X(Q1)− q1Q1∂X(Q2),

QY := q2Q2∂Y (Q1)− q1Q1∂Y (Q2).

Como

q2Q2ε(Q1)− q1Q1ε(Q2) = q2Q2q1Q1 − q1Q1q2Q2 = 0,

temos que

Z(q2Q2∂P,Q1 − q1Q1∂P,Q2) = q2Q2∂′P,Q1− q1Q1∂

′P,Q2

= q2Q2

∣∣∣∣∣ ∂Y (P ) ε(P )

∂Y (Q1) ε(Q1)

∣∣∣∣∣ ∂X − q1Q1

∣∣∣∣∣ ∂Y (P ) ε(P )

∂Y (Q2) ε(Q2)

∣∣∣∣∣ ∂X−q2Q2

∣∣∣∣∣ ∂X(P ) ε(P )

∂X(Q1) ε(Q1)

∣∣∣∣∣ ∂Y + q1Q1

∣∣∣∣∣ ∂X(P ) ε(P )

∂X(Q2) ε(Q2)

∣∣∣∣∣ ∂Y14

Page 21: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

+q2Q2

∣∣∣∣∣ ∂X(P ) ∂Y (P )

∂X(Q1) ∂Y (Q1)

∣∣∣∣∣ ε− q1Q1

∣∣∣∣∣ ∂X(P ) ∂Y (P )

∂X(Q2) ∂Y (Q2)

∣∣∣∣∣ ε= −QY ε(P )∂X +QXε(P )∂Y +

∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂X(P )

QX QY

∣∣∣∣∣ ε= pP

∣∣∣∣∣QX QY

∂X ∂Y

∣∣∣∣∣+

∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Y (P )

QX QY

∣∣∣∣∣ ε,onde p e o grau de P . Isto conclui a demonstracao do Item (1).

(2). Pelo Item (1), temos Z∂P,Q ≡P Q∂P,Z . A Proposicao 1.1 e as

propriedades do wronskiano garantem que

Z(r+12 )W∂P,Q

(V ) = WZ∂P,Q(V ) ≡P cWQ∂P,Z

(V ) = cQ(r+12 )W∂P,Z

(V ), (3)

para algum c ∈ k∗. Por outro lado, como

∂P,Z =

∣∣∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Y (P ) ∂Z(P )

0 0 1

∂X ∂Y ∂Z

∣∣∣∣∣∣∣ = −

∣∣∣∣∣∂X(P ) ∂Y (P )

∂X ∂Y

∣∣∣∣∣ ,temos que, no aberto UZ (Z 6= 0), RP (V ) e a intersecao de P com W∂P,Z

(V ).

Alem disso, como gcd(Q,P ) = 1, a Equacao (3) nos diz que no aberto UZ

RP (V ) e finito ⇐⇒ gcd(W∂P,Q(V ), P ) = Zn, para algum n ∈ Z.

O mesmo raciocınio mostra que no aberto UX

RP (V ) e finito ⇐⇒ gcd(W∂P,Q(V ), P ) = Xm, para algum m ∈ Z,

ou seja, temos que

RP (V ) e finito ⇐⇒ gcd(W∂P,Q(V ), P ) = 1.

Alem disto, notemos que se gcd(W∂P,Q(V ), P ) = 1, entao a Equacao (3) nos

afirma que:(r + 1

2

)(Z · P ) + (W∂P,Q

(V ) · P ) =

(r + 1

2

)(Q · P ) + (W∂P,Z

(V ) · P ).

Desta forma, sobre o aberto UZ , temos que a Equacao (2) segue. Analoga-

15

Page 22: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

mente, a Equacao (2) tambem sera valida nos abertos UX e UY .

(3). Como k e infinito, podemos assumir que todo fator linear que divide

P nao e combinacao de apenas duas funcoes coordenadas, digamos X e Y .

Seja Q ∈ k[X,Y, Z] um polinomio homogeneo nao constante primo com

P . Seja V ′ ⊂ k[X,Y, Z] o subespaco vetorial gerado por X e Y . Como

gcd(L,P ) = 1 para cada L ∈ V ′, e P e livre de quadrados, temos, pela

Proposicao 1.2, que RP (V ′) e finito. Segue do Item (2) que W∂P,Q(X,Y ) e

primo com P e, portanto, gcd(∂P,Q, P ) = 1.

16

Page 23: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

2 Famılias infinitesimais e limites

2.1 Famılias e limites

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0 e S := k[X,Y, Z]

com a graduacao natural. Sejam k[[t]] o anel das series de potencias formais

sobre a variavel t com coeficientes em k, k((t)) := k[[t]][1/t] o anel das series

formais de Laurent (o corpo de fracoes de k[[t]]) e S[[t]] com a graduacao

induzida, onde o grau de t e zero. Os elementos homogeneos de S[[t]] sao

chamados de series de potencias homogeneas.

Para cada k-espaco vetorial V , definimos por V [[t]] o k[[t]]-modulo das

series de potencias sobre t com coeficientes em V . Dado P ∈ V [[t]], denota-

mos por P (0) o coeficiente constante. Denotamos

V ∗ := V [1/t] = V ⊗ k((t)).

Para evitar confusao, usaremos o ındice “∗” para indicar que um certo “ob-

jeto” deveria ser considerado sobre k((t)).

Seja V ⊆ S[[t]] um k[[t]]-submodulo. Dizemos que V e saturado se para

cada P ∈ S[[t]] tal que tP ∈ V , temos P ∈ V .

Observacao 2.1. Se V ⊆ Sd[[t]] e um k[[t]]-submodulo homogeneo nao

nulo, entao V e livre de posto finito, pois V e finitamente gerado, nao tem

torcao e k[[t]] e domınio de ideais principais. Digamos que V tem posto

r + 1 para um inteiro r ≥ 0. Alem disto, se V e saturado, entao V possui

uma k[[t]]-base[P0 · · · Pr

]de series de potencias homogeneas de grau d

tal que os respectivos coeficientes constantes P0(0), ..., Pr(0) sao linearmente

independentes sobre k. Denotamos por V (0) o subespaco de Sd gerado por

P0(0), ..., Pr(0).

Seja F ∈ Se[[t]] com F (0) 6= 0. Desta forma, vemos F como uma

famılia infinitesimal de curvas planas de grau e. Seja V ⊆ Sd[[t]] um k[[t]]-

submodulo. O k[[t]]-modulo V induz uma famılia infinitesimal de sistemas

lineares de grau de sobre esta famılia de curvas. Os membros genericos destas

famılias sao definidos sobre k((t)): a curva generica e dada por F ∗, a qual e

F vista como um elemento de k((t))[X,Y, Z], e o sistema linear generico e

induzido por V ∗, visto como um k((t))-subespaco vetorial de Sd((t)).

17

Page 24: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Para cada subsequema fechado R ⊂ P2k[[t]], definimos

limt→0

R := P2k ∩R ∩ P2

k((t))

P2k[[t]] .

Dizemos que limt→0R e o bordo esquematico, ou o esquema limite, ou o

limite, do subesquema R em P2k.

Suponhamos que o esquema de ramificacao generico RF ∗(V∗) ⊂ P2

k((t))

e finito. Denotamos por RF (V ) o bordo esquematico de RF ∗(V∗) em P2

k

e denotamos por [RF (V )] o 0-ciclo associado. O nosso objetivo e calcular

[RF (V )].

2.2 F-Derivacoes

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0, S := k[X,Y, Z]

com a graduacao natural e F ∈ Se[[t]] com F (0) 6= 0. Seja V ⊂ S[[t]] um

k[[t]]-submodulo nao nulo, homogeneo, saturado de posto r + 1, para al-

gum inteiro r > 0. Suponhamos que o esquema de ramificacao generico

RF ∗(V∗) ⊂ P2

k((t)) e finito.

Para computar o bordo esquematico RF (V ) do esquema de ramificacao

generico RF ∗(V∗), consideraremos k[[t]]-derivacoes homogeneas ∂ de S[[t]].

Tais derivacoes podem ser escritas em termos da base natural, ∂X , ∂Y , ∂Z

na forma

∂ = GX∂X +GY ∂Y +GZ∂Z ,

onde GX , GY , GZ sao series de potencias homogeneas com o mesmo grau,

digamos m. Definamos

∂(0) := GX(0)∂X +GY (0)∂Y +GZ(0)∂Z .

Se ∂(0) nao e multiplo da derivacao de Euler, entao ∂ induz uma famılia

infinitesimal de folheacoes singulares de grau m do plano. Dizemos que ∂

e uma F -derivacao se F |∂(F ). Geometricamente, a famılia de folheacoes

associada a ∂ deixa invariante a famılia de curvas planas definida por F .

Um exemplo simples de uma F -derivacao e

∂′ := ∂F,H =

∣∣∣∣∣∣∣∂X(F ) ∂Y (F ) ∂Z(F )

∂X(H) ∂Y (H) ∂Z(H)

∂X ∂Y ∂Z

∣∣∣∣∣∣∣ ,18

Page 25: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

onde H e qualquer serie de potencias homogenea de grau positivo. Para uma

referencia sobre derivacoes ou campos de vetores que deixam uma hipersu-

perfıcie (uma curva no nosso caso) invariante veja [5]. Se H∗ e F ∗ nao tem

componentes em comum em k((t))[X,Y, Z], podemos usar ∂F ∗,H∗ para calcu-

lar RF ∗(V∗) sobre a curva generica dada por F ∗. De fato, supondo RF ∗(V

∗)

e finito, o Lema 1.3 afirma que a expressao do divisor de ramificacao como

divisor de Cartier sobre a curva generica e:

RF ∗(V∗) = (W∂′∗(V

∗) · F ∗)−(r + 1

2

)(H∗ · F ∗).

Observacao 2.2. Alem disto, para calcular RF ∗(V∗), podemos escolher

H ∈ k[X,Y, Z] homogeneo, nao constante e primo com F (0). Neste caso,

para calcular [RF (V )], podemos tomar o 0-ciclo do bordo da expressao

acima. Por outro lado, o bordo da intersecao (W∂′∗(V∗) · F ) nao neces-

sariamente sera (W∂′(0)(V (0)) · F (0)), pois este ultimo termo pode nem se-

quer fazer sentido. Por exemplo, se uma componente irredutıvel de F (0) e

multipla ou divide um polinomio nao nulo de V (0), entao esta componente

e tambem componente de W∂′(0)(V (0)).

Concluiremos este capıtulo mostrando como tratar o caso onde F (0)

tem componentes mutiplas, mas F e uma deformacao de F (0) ao longo de

uma direcao geral, e nenhum dos fatores irredutıveis de F (0) divide algum

polinomio nao nulo de V (0).

2.3 F-Derivacoes reduzidas

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0 e S := k[X,Y, Z]

com a graduacao natural. Para cada polinomio homogeneo nao constante

P ∈ S, escrevamos

P =

n∏i=1

Eeii ,

onde E1, ..., En sao fatores irredutıveis coprimos de P . Definamos

∇(P ) := (

n∏i=1

Ei)∇(P )

P= (

n∏i=1

Ei)

n∑i=1

ei∇(Ei)

Ei.

19

Page 26: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Notemos que

∇(P ) = P∇(P )

P= (∏i

Eei−1i ) · (

∏i

Ei)∇(P )

P= (∏i

Eei−1i ) · ∇(P )

para qualquer P ∈ S homogeneo nao constante.

Seja F ∈ S[[t]] uma serie de potencias homogenea de grau positivo e

termo constante F (0) nao nulo. Definamos

H := (F − F (0))/t,

e

∂ :=

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0))

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣ .Como ∂(H) = 0 e ∂(F (0)) = 0, pois ∇(F (0)) divide ∇(F (0)), temos que

∂(F ) = ∂(F (0)) + t∂(H) = 0,

ou seja, ∂ e uma F -derivacao. Dizemos que a derivacao ∂ e a F -derivacao

reduzida.

Lema 2.1. Seja F ∈ S[[t]] uma serie de potencias de grau positivo. Seja

H := (F − F (0))/t. Considere

∂(0) =

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0))

∇(H(0))

∣∣∣∣∣∣∣ .Se gcd(Ei, H(0)) = 1, entao gcd(∂(0), Ei) = 1.

Proof. A multilinearidade do determinante garante que:

∂(0) =

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0))

∇(H(0))

∣∣∣∣∣∣∣ =

∣∣∣∣∣∣∣(∏ni=1Ei)

∑ni=1 ei

∇(Ei)Ei

∇(H(0))

∣∣∣∣∣∣∣ =

n∑i=1

ei(n∏j 6=i

Ej)

∣∣∣∣∣∣∣∇(Ei)

∇(H(0))

∣∣∣∣∣∣∣= ei(

n∏j 6=i

Ej)

∣∣∣∣∣∣∣∇(Ei)

∇(H(0))

∣∣∣∣∣∣∣+ Ei∂′i

20

Page 27: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

= ei(

n∏j 6=i

Ej)∂Ei,H(0) + Ei∂′i,

onde ∂′i e uma derivacao. Desta forma, se gcd(Ei, H(0)) = 1, o Lema 1.3

afirma que gcd(∂(0), Ei) = 1.

O proximo resultado mostra que se F =∑

i Fi(X,Y, Z)ti ∈ k[X,Y, Z][[t]]

e uma deformacao de F0 ao longo de uma direcao geral, ou seja, nenhum

dos fatores irredutıveis de F0 e fator de F1, entao podemos calcular o limite

do esquema de ramificacao generico de um sistema linear V quando este

sistema e nao degenerado sobre cada componente irredutıvel de F0.

Teorema 2.2. Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0 e F ∈ k[X,Y, Z][[t]] uma serie de potencias homogeneas de grau positivo.

Escreva

F0 =n∏i=1

Eeii ,

onde E1, ..., En sao os fatores irredutıveis coprimos de F0. Defina

H := (F − F0)/t

Notemos que H(0) = F1. Seja V ⊂ k[X,Y, Z][[t]] um k[[t]]-submodulo ho-

mogeneo (nao nulo) saturado de posto r + 1, onde r e um inteiro positivo.

Suponha que Ei nao divida F1 nem qualquer polinomio nao nulo de V (0)

para cada i = 1, ..., n. Defina Ri := REi(V (0)), o esquema de ramificacao

do sistema linear induzido por V (0) sobre a curva definida por Ei. Entao o

esquema generico de ramificacao RF ∗(V∗) ⊂ P2

k((t)) e finito, e o 0-ciclo do

bordo esquematico [RF (V )] em P2k satisfaz

[RF (V )] =∑i

ei[Ri] +

(r + 1

2

)∑i<j

(ei + ej)[Ei · Ej ]

+

(r + 1

2

)∑i

(ei − 1)[Ei · F1].

Proof. Consideremos a F -derivacao reduzida

∂ :=

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0))

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣ .21

Page 28: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Notemos que

∂F,H =

∣∣∣∣∣∣∣∇(F )

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣ =

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0) + tH)

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣ =

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0))

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣ =

∣∣∣∣∣∣∣(∏iE

ei−1i ) · ∇(F (0))

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣= (∏i

Eei−1i ) ·

∣∣∣∣∣∣∣∇(F (0))

∇(H)

∣∣∣∣∣∣∣ = (∏i

Eei−1i )∂.

Como os fatores irredutıveis de F ∗ sao distintos, pois F1 e primo com Ei,

para todo i = 1, ..., n, e nao dividem qualquer elemento nao nulo de V , a

Proposicao 1.2 garante que RF ∗(V∗) e finito. O Lema 1.3 e as propriedades

do wronskiano implicam que

RF ∗(V∗) = (W∂F∗,H∗ (V

∗) · F ∗)−(r + 1

2

)(F ∗ ·H∗)

= (W(∏

i E∗iei−1)∂∗(V

∗) · F ∗)−(r + 1

2

)(F ∗ ·H∗)

=

(r + 1

2

)(∑i

(ei − 1)(E∗i · F ∗))

+ (W∂∗(V∗) · F ∗)−

(r + 1

2

)(F ∗ ·H∗)

= (W∂∗(V∗) · F ∗) +

(r + 1

2

)(∑i

(ei − 1)(E∗i · F ∗)− (F ∗ ·H∗)).

Agora, como

[limt→0

(E∗i · F ∗)] = [Ei · F1] e [limt→0

(F ∗ ·H∗)] =∑i

ei[Ei · F1]

segue que

[RF (V )] = [limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)]−

(r + 1

2

)∑i

[Ei · F1]. (4)

Por outro lado, a prova do Lema 2.1 garante que

∂(0) = ei(n∏j 6=i

Ej)∂Ei,F1 + Ei∂′i, (5)

onde ∂′i e uma derivacao. Notemos que cada Ei nao divide F1 nem qualquer

22

Page 29: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

polinomio nao nulo de V (0). Assim, a Proposicao 1.2 e o Lema 1.3 implicam

que gcd(W∂(0)(V (0)), Ei) = 1. Portanto,

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = [W∂(0)(V (0)) · F (0)] =

∑i

ei[W∂(0)(V (0)) · Ei].

Usando a Equacao (5) e o Lema 1.2, temos

[W∂(0)(V (0)) · Ei] = [Wei(∏n

j 6=i Ej)∂Ei,F1+Ei∂′i

(V (0)) · Ei]

= [Wei(∏n

j 6=i Ej)∂Ei,F1(V (0)) · Ei]

=

(r + 1

2

)∑j 6=i

[Ej · Ei] + [W∂Ei,F1(V (0) · Ei]

=

(r + 1

2

)∑j 6=i

[Ej · Ei] + [Ri] +

(r + 1

2

)[Ei · F1]

=

(r + 1

2

)(∑j 6=i

[Ej · Ei] + [Ei · F1])

+ [Ri].

Portanto,

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] =

∑i

ei

[(r + 1

2

)(∑j 6=i

[Ej · Ei] + [Ei · F1])

+ [Ri]]

=∑i

ei[Ri] +∑i

ei

(r + 1

2

)[Ei · F1] +

(r + 1

2

)∑i<j

(ej + ei)[Ei · Ej ].

Substituindo esta ultima equacao em (4), obtemos o resultado desejado.

Seja C uma curva plana. Usaremos a notacao C? para a curva dual de

C. Se C,D sao duas curvas planas sem componentes em comum, denotamos

por [C ·D]? a uniao dos pencils de retas que passam por cada um dos pontos

de C ∩ D, contados com as mesmas multiplicidades de intersecao que o

correspondente ponto tem no ciclo [C ·D].

Exemplo 2.1. Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0, uma curva plana suave C ⊂ P2k e f : C → P1

k a projecao por um ponto

geral o ∈ P2k. Seja

(V, f∗

(OP1

k(1)))

o sistema linear associado a f . Assim,

o divisor de ramificacao deste sistema linear e o esquema dos zeros de uma

secao global s, a secao Wronskiana de f∗(OP1

k(1))2⊗ωC = f∗

(OP1

k(2))⊗ωC .

23

Page 30: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Ou seja, considere o mapa OC → f∗(OP1

k(2))⊗ωC induzido pela secao global

s. Este mapa e injetivo e induz um mapa dual tambem injetivo,

f∗(OP1

k(−2)

)⊗ ω−1

C → OC .

Alem disso, como f∗(OP1

k(−2)

)⊗ω−1

C = f∗(ΩP1k)⊗Ω−1

C , pois a curva e suave,

a ([8] Cap.IV Prop.2.3 pg.301) garante que f∗(OP1

k(−2)

)⊗ω−1

C e isomorfo ao

feixe de ideais do divisor de ramificacao da projecao. Logo, por ([8] Ex.2.3c

pg.305), p esta no suporte do divisor de ramificacao do sistema linear se, e

somente se, a reta que liga o a p, denotada por op, e tangente a C. Agora,

considerando C? sua curva dual e∑

p npp o divisor de ramificacao do sistema

linear, temos que

C? ∩ o? =∑p

npop?.

Portanto, sabendo∑

p npp para um ponto o geral recuperamos C?.

Corolario 2.2.1. Seja k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0. Seja F =∑

i≥0 Fi(X,Y, Z)ti ∈ k[X,Y, Z][[t]] uma serie de potencias

homogenea de grau positivo. Escreva

F0 =n∏i=1

Eeii ,

onde E1, ..., En sao os fatores irredutıveis coprimos de F0. Suponhamos que

Ei nao divida F1 para i = 1, ..., n. Entao,

limt→0

F ? =∑i

eiE?i +

∑i<j

(ei + ej)[Ei · Ej ]? +∑i

(ei − 1)[Ei · F1]?

Proof. Segue do Exemplo 2.1 e do Teorema 2.2.

2.4 Adaptacoes

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0 e S := k[X,Y, Z]

com a graduacao natural. Seja F ∈ S[[t]] uma serie de potencias homogenea

de grau positivo e com coeficiente constante F (0) nao nulo. Seja V ⊂ S[[t]]

um k[[t]]-submodulo, homogeneo, saturado de posto r+1, para algum inteiro

r > 0. Considere ∂ uma F -derivacao de S[[t]].

24

Page 31: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Se o esquema de ramificacao generico RF ∗(V∗) e finito, gostarıamos de

calcular o 0-ciclo do bordo esquematico [RF (V )] em P2k. Como vimos na

Secao 2.2, podemos escolher ∂ tal que W∂∗(V∗) seja primo com F ∗ e, assim,

computamos RF ∗(V∗). Entretanto, o k-espaco vetorial V (0) pode induzir

um sistema linear degenerado sobre uma componente irredutıvel da curva

plana definida por F (0), ou seja, esta componente divide um elemento nao

nulo de V (0). Mais ainda, ∂(0) pode conter uma componente de F (0) no seu

lugar singular, por exemplo, quando a componente e multipla e ∂ = ∂F,H

para qualquer serie de potencias homogenea H ∈ S[[t]]. Em qualquer um dos

casos, W∂(0)(V (0)) sera divisıvel por uma componente de F (0), e, portanto,

nao podemos usar o Lema 1.3 para computar o limite RF (V ).

Para contornarmos isto, permitiremos modificar as derivacoes para adapta-

las a cada fator irredutıvel de F (0).

De fato, para calcular o 0-ciclo do limite do esquema de ramificacao

generico RF ∗(V∗) em P2

k, permitimos mudar ∂ para qualquer outra F -

derivacao ∂1, tal que as derivacoes induzidas ∂∗ e ∂∗1 em k((t))[X,Y, Z]

sejam equivalentes modulo F ∗. Estas mudancas sao permitidas pois

W∂∗1(V ∗) ≡F ∗ cW∂∗(V

∗)

para algum c ∈ k((t))− 0.

Vamos realmente considerar algo um pouco mais geral e para tanto faze-

mos a seguinte definicao.

Definicao 2.1. Seja F ∈ S[[t]] uma serie de potencias homogenea de grau

positivo e com termo constante F (0) nao nulo. Sejam E um fator irre-

dutivel de F (0) e ∂ uma F -derivacao. Dizemos que ∂ e adaptada a E se

gcd(∂(0), E) = 1.

Definicao 2.2. Dizemos que uma F -derivacao ∂1 de S[[t]] e uma adaptacao

de uma F -derivacao ∂ para E, componente irredutıvel de F (0), se ∂1 e

adaptada a E e existe uma serie de potencias homogenea G ∈ S[[t]] tal que

gcd(E,G(0)) = 1 e ∂∗1 ≡F ∗ G∗∂∗.

No proximo capıtulo veremos alguns tipos de famılias em que existem

derivacoes adaptadas aos fatores irredutıveis de F (0). Nao sabemos em

geral quando tais adaptacoes existem. Mas quando estas derivacoes existem,

podemos calcular o 0-ciclo do bordo esquematico do esquema de ramificacao

generico [RF (V )] usando o Teorema 2.4, o qual e uma simples consequencia

25

Page 32: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

da proposicao abaixo.

Proposicao 2.3. Seja k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0. Sejam F,G ∈ k[[t]][X,Y, Z] series de potencias homogeneas de graus

positivos. Considere E1, ..., En os fatores irredutıveis de F (0), e e1, ..., en

suas multiplicidades. Suponhamos que, para cada i = 1, ..., n, existem series

de potencias homogeneas Li,Mi ∈ k[[t]][X,Y, Z] tais que:

1. L∗iG∗ e equivalente a M∗i modulo F ∗ em k((t))[X,Y, Z];

2. Li(0)Mi(0) e primo com Ei.

Entao F ∗ e G∗ sao coprimos em k((t))[X,Y, Z] e

[limt→0

(G∗ · F ∗)] =n∑i=1

ei

([Mi(0) · Ei]− [Li(0) · Ei]

).

Proof. Este resultado pode ser encontrado num contexto mais geral em ([6]

Thm.4 pg.9).

Teorema 2.4. Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0,

F ∈ k[[t]][X,Y, Z] uma serie de potencias homogenea de grau positivo, ∂ uma

F -derivacao e V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo saturado, homogeneo,

de posto r+1. Considere E1, ..., En os fatores irredutıveis de F (0), e e1, ..., en

suas multiplicidades. Suponhamos que para cada i = 1, ..., n o submodulo

V (0) e nao degenerado sobre Ei e que exista uma serie de potencias ho-

mogeneas Hi ∈ k[[t]][X,Y, Z] e uma F -derivacao ∂i que seja Ei-adaptada e

satisfaca:

1. gcd(Hi(0), Ei) = 1;

2. ∂∗i ≡F ∗ H∗i ∂∗.

Entao W∂∗(V∗) e F ∗ nao tem componentes em comum em k((t))[X,Y, Z] e

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] =

n∑i=1

ei[W∂i(0)(V (0)) · Ei]−(r + 1

2

) n∑i=1

ei[Hi(0) · Ei]

Proof. Definamos Li := H(r+1

2 )i , Mi := W∂i(V ) e G∗ := W∂∗(V

∗). Notemos

que:

1. Li(0) = H(r+1

2 )i (0) e primo com Ei pela Hipotese 1;

26

Page 33: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

2. L∗iG∗ e equivalente a M∗i modulo F ∗ pela Hipotese 2, pela Propriedade

(1) do wronskiano e pela Proposicao 1.1.

Assim, a Proposicao 2.3 afirma que F ∗ e G∗(= W∂∗(V∗)) sao coprimos em

k((t))[X,Y, Z] e que

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = [lim

t→0(G∗ · F ∗)] =

n∑i=1

ei

([Mi(0) · Ei]− [Li(0) · Ei]

)

=n∑i=1

ei[W∂i(0)(V (0)) · Ei)]−(r + 1

2

) n∑i=1

ei[Hi(0) · Ei)],

como querıamos demonstrar.

27

Page 34: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

3 Aplicacoes

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0, S := k[X,Y, Z]

com a graduacao natural e F ∈ Sd[[t]] uma serie de potencias homogenea

nao nula.

Proposicao 3.1. Seja H ∈ k[X,Y, Z] um polinomio homogeneo primo com

F (0). Seja

∂F,H = det

∂X(F ) ∂Y (F ) ∂Z(F )

∂X(H) ∂Y (H) ∂Z(H)

∂X ∂Y ∂Z

.Suponhamos que F (0) =

∏ni=1E

eii , onde E1, ..., En sao fatores irredutıveis e

coprimos. Assim, ∂F,H e adaptada a Ei se, e somente se, ei = 1.

Proof. Como

∂F,H(0) = ∂∏ni=1 E

eii ,H

= eiEei−1i

∏j 6=i

Eejj ∂Ei,H + Eeii ∂∏

j 6=i Eejj ,H

,

entao o Lema 1.3 informa que a F -derivacao ∂F,H e adaptada a Ei se, e

somente se, ei = 1.

Por outro lado, mostraremos que existem derivacoes adaptadas a com-

ponentes irredutıveis multiplas de alguns tipos de famılias.

3.1 Famılias de Zeuthen de “primeiro tipo”

Definicao 3.1. Suponhamos que

F = EnA+ F1t+ F2t2 + · · ·+ Fit

i + · · · ,

onde A e E sao livres de quadrados e coprimos e n ≥ 2. Dizemos que F e

de primeiro tipo se gcd(E,F1) = 1.

O nosso objetivo e encontrar F -derivacoes que sejam adaptadas a cada

componente irredutıvel de F (0) = EnA e, assim, usar o Teorema 2.4 junto

com o Lema 1.3 para poder calcular o 0-ciclo do limite do esquema de rami-

ficacao generico [RF (V )], onde V ⊂ Se[[t]] e um k[[t]]-submodulo homogeneo,

saturado, generico de posto r + 1.

Seja H ∈ k[X,Y, Z] um polinomio homogeneo primo com F (0). Como

os fatores de A aparecem com multiplicidade 1 como fatores de F (0), a

28

Page 35: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Proposicao 3.1 garante que a F -derivacao ∂F,H e adaptada para cada fator

irredutıvel de A. Por outro lado, uma F -derivacao adaptada a cada fator

irredutıvel de E e simplesmente dada por

∂′ :=1

En−1∂B1,EnA =

1

En−1

∣∣∣∣∣∣∣∂X(B1) ∂Y (B1) ∂Z(B1)

∂X(EnA) ∂Y (EnA) ∂Z(EnA)

∂X ∂Y ∂Z

∣∣∣∣∣∣∣ ,onde B1 := (F − EnA)/t. De fato, notemos que

∂′(F ) = ∂′(EnA+B1t) = ∂′(EnA) + t∂′(B1) = 0,

logo ∂′ e uma F -derivacao. Para mostrar que ∂′ e adaptada a cada compo-

nente irredutıvel de E, notemos que

∂′(0) =1

En−1∂F1,EnA = nA∂F1,E + E∂F1,A

e que E e livre de quadrados, assim a Proposicao 3.1 garante que ∂′ e

adaptada a cada componente irredutıvel de E.

Precisamos comparar ∂′ e ∂F,H para podermos usar o Teorema 2.4. Ob-

servemos que

t∂′ = t(1/En−1)∂B1,EnA = (1/En−1)∂tB1,EnA = (1/En−1)∂F,EnA.

Assim, o Lema 1.3 afirma que

H∂′ ≡F tH∂′ = (1/En−1)H∂F,EnA ≡F (1/En−1)EnA∂F,H = EA∂F,H

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z]. Como gcd(EA,H) = 1, temos que

H∂′ e uma adaptacao de E∂F,H a cada componente irredutıvel de E.

Seja V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo saturado, homogeneo, de

posto r+1 tal que V (0) e nao degenerado sobre cada componente irredutıvel

de F (0) e que RF ∗(V∗) e finito.

Defina

∂ := ∂1 := E∂F,H ; ∂2 := H∂′; H1 := 1; H2 := A.

29

Page 36: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Segue do Teorema 2.4 que

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = [W∂1(0)(V (0)) ·A] + [W∂2(0)(V (0)) · En]

−(r + 1

2

)[A · En] (6)

Agora, como

∂1(0) = E∂EnA,H ≡A En+1∂A,H ,

temos, pelo Lema 1.3, que

(W∂1(0)(V (0)) ·A) =

(r + 1

2

)(En+1H ·A) +RA(V (0)). (7)

Analogamente,

∂2(0) = H∂′(0) ≡E HA∂F1,E .

Logo,

(W∂2(0)(V (0)) · En) = n((r + 1

2

)(AHF1 · E) +RE(V (0))

). (8)

Finalmente, as propriedades do wronskiano e o Lema 1.3 implicam que

(W∂∗(V∗) · F ∗) = (WE∗∂∗F,H

(V ∗) · F ∗) = RF ∗(V∗) +

(r + 1

2

)(E∗H∗ · F ∗).

Como

[limt→0

(E∗H∗ · F ∗)] = [E · F1] + [H · EnA],

e, por definicao, [limt→0RF ∗(V∗)] = [RF (V )] temos

[limt→0

(W∂∗(V∗) ·F ∗)] = [RF (V )] +

(r + 1

2

)[E ·F1] +

(r + 1

2

)[H ·EnA]. (9)

Desta forma, substituindo (7), (8), (9) em (6) e tomando os 0-ciclos associ-

ados, teremos

[RF (V )] =

(r + 1

2

)[En+1H ·A] + [RA(V (0))]

+n((r + 1

2

)[AHF1 · E] + [RE(V (0))]

)30

Page 37: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

−(r + 1

2

)[A · En]−

(r + 1

2

)[E · F1]−

(r + 1

2

)[H · EnA],

ou seja,

[RF (V )] = n[RE(V (0))]+[RA(V (0))]+

(r + 1

2

)((n+1)[A·E]+(n−1)[F1·E]

).

Agora, seja V [[t]] ⊆ k[[t]][X1, X2, X3]e o k[[t]]-submodulo gerado por V ,

o sistema linear induzido pela projecao de um ponto geral de P2k.

Teorema 3.2. Seja

F = EnA+ F1t+ F2t2 + · · ·+ Fit

i + · · ·

uma serie de potencias homogenea, onde A e E sao livres de quadrados e

gcd(E,AF1) = 1. Entao,

limt→0

F ? = nE? +A? + (n+ 1)[A · E]? + (n− 1)[F1 · E]?.

Observacao 3.2. Notemos que quando n = 2 e o posto de V e r + 1, o

0-ciclo do limite do esquema de ramificacao generico da famılia de primeiro

tipo e:

[RF (V )] = 2[RE(V (0))] + [RA(V (0))] +

(r + 1

2

)(4− 1)[A · E] + [F1 · E].

3.2 Famılias de Zeuthen de “segundo tipo”

Seja

F = EnA+ nEn−1F1t+ F2t2 + F3t

3 + · · ·

uma serie de potencias homogenea, onde n ≥ 2, E e A sao livres de quadra-

dos e coprimos. Suponhamos que gcd(A,F ) = 1. Notemos que

An−1F = EnAn + nEn−1An−1F1t+An−1F2t2 + · · ·

=(EA+ F1t

)n+(An−1F2 −

(n

2

)(EA)n−2F 2

1

)t2 + · · ·

=(EA+ F1t

)n+(An−1F2 −

(n

2

)(EA)n−2F 2

1 + · · ·)t2.

31

Page 38: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Definamos

∆2 := An−1F2 −(n

2

)(EA)n−2F 2

1 .

Definicao 3.2. Dizemos que a famılia F e do segundo tipo se gcd(E,∆2) =

1.

Neste caso, defina Q1 := EA+F1t e Q2 := (An−1F −Qn1 )/t2. Segue que

An−1F = Qn1 +Q2t2. (10)

Notemos que Q2(0) = ∆2. Seja H ∈ k[X,Y, Z] polinomio homogeneo tal

que gcd(H,EA) = 1. Como na secao anterior, ∂F,H e adaptada a cada fator

irredutıvel de A. Por outro lado, a derivacao

∂′ := An−1∂Q2,Q1

e uma F -derivacao. De fato, a Equacao (10) garante que

∂′(F ) = An−1∂Q2,Q1(F ) = ∂Q2,Q1(An−1F )−F∂Q2,Q1(An−1) = −F∂Q2,Q1(An−1).

Alem disto, como

∂′(0) := An−1∂∆2,EA = An∂∆2,E +An−1E∂∆2,A

e gcd(E,A∆2) = 1, temos que ∂′ e adaptada a cada componente irredutıvel

de E.

Como

t2H∂′ = HAn−1∂An−1F,Q1= HA2(n−1)∂F,Q1 +HAn−1F∂An−1,Q1

,

segue que

H∂′ ≡F HA2(n−1)∂F,Q1 ≡F A2(n−1)Q1∂F,H ,

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z].

Seja A = P1 · · ·Pm decomposicao em fatores irredutıveis. Como, por

hipotese, gcd(Pj , F ) = 1, para j = 1, ..,m, entao existe i(j) tal que Pj |Fs se

s < i(j), mas Pj 6 |Fi(j). Definamos

Pj :=EnA+ nEn−1F1t+ F2t

2 + · · ·+ Fi(j)−1ti(j)−1

Pj,

32

Page 39: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

onde j = 1, ...,m. Notemos que para cada j = 1, ...,m existem inteiros

positivos aj , bj e series de potencias homogeneas Nj tais que

Pajj A2(n−1)Q1 ≡F Njt

bj e gcd(Nj(0), Pj) = 1. (11)

Portanto,

Pajj H∂′ ≡F P

ajj A2(n−1)Q1∂F,H ≡F Nj∂F,H

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z], para j = 1, ...,m.

Seja V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo saturado, homogeneo, de

posto r+1 tal que V (0) e nao degenerado sobre cada componente irredutıvel

de F (0) e que RF ∗(V∗) e finito.

Definamos

∂ := ∂1 := ∂′; ∂l := Nl−1∂F,H , para l = 2, ...,m+ 1;

E1 := E; El := Pl−1 para l = 2, ...,m+ 1;

H1 := 1; Hl := Pal−1

l−1 H para l = 2, ...,m+ 1.

Assim, o Teorema 2.4 garante que

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = n[W∂1(0)(V (0)) · E] +

m+1∑l=2

[W∂l(0)(V (0)) · Pl−1]

−(r + 1

2

)m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0)H · Pl−1],

ou seja,

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = n[W∂1(0)(V (0)) · E] + [W∂EnA,H

(V (0)) ·A]

+

(r + 1

2

)(m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0)H · Pl−1]). (12)

Como antes, iremos calcular cada termo nao conhecido da igualdade

acima. Calculando (W∂′(0)(V (0)) · E): como

∂′(0) ≡E An∂∆2,E ,

33

Page 40: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

temos, pelo Lema 1.3, que

(W∂′(0)(V (0)) · E) =

(r + 1

2

)(An∆2 · E) +RE(V (0)). (13)

Calculando (W∂EnA,H(V (0)) ·A): como

∂EnA,H ≡A En∂A,H ,

temos que

(W∂EnA,H(V (0)) ·A) =

(r + 1

2

)(EnH ·A) +RA(V (0)). (14)

Calculando [RF (V )]: temos que

∂′ = An−1∂Q2,Q1 ≡F A2(n−1)∂F,Q1

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z], logo

(W∂′∗(V∗) · F ∗) =

(r + 1

2

)(A∗2(n−1)Q∗1 · F ∗) +RF ∗(V

∗). (15)

Notemos que

(A2(n−1)Q1)n ≡F −A2n(n−1)∆2t2n + · · · ,

e que, pela Equacao (11),

(Pajj A2(n−1)Q1)n ≡F Nn

j tbjn + · · · , para j = 1, ...,m.

Assim, a Proposicao 2.3 garante que

[limt→0

((A∗2(n−1)Q∗1)n·F ∗

)] = n[A2n(n−1)∆2·E]+

m∑j=1

n(

[Nj(0)·Pj ]−[Pajj (0)·Pj ]

),

ou seja,

[limt→0

(A∗2(n−1)Q∗1 ·F ∗

)] = [A2n(n−1)∆2 ·E]+

m∑j=1

([Nj(0) ·Pj ]− [P

ajj (0) ·Pj ]

).

34

Page 41: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Tomando limite na Equacao (15) e os 0-ciclos associados,

[limt→0

(W∂′∗(V∗) · F ∗)] =

(r + 1

2

)[limt→0

(A∗2(n−1)Q∗1 · F ∗

)] + [lim

t→0RF ∗(V

∗)],

ou seja,

[limt→0

(W∂′∗(V∗) · F ∗)] = [RF (V )]

+

(r + 1

2

)([A2n(n−1)∆2 · E] +

m∑j=1

([Nj(0) · Pj ]− [P

ajj (0) · Pj ]

))(16)

Substituindo (13), (14) e (16) em (12) e tomando os 0-ciclos associados,

[RF (V )] = n((r + 1

2

)[An∆2 · E] + [RE(V (0))]

)

+

(r + 1

2

)[EnH ·A] + [RA(V (0))]

+

(r + 1

2

)(m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0)H · Pl−1])

−(r + 1

2

)([A2n(n−1)∆2 · E] +

m∑j=1

([Nj(0) · Pj ]− [P

ajj (0) · Pj ]

))ou seja,

[RF (V )] = n[RE(V (0))] + [RA(V (0))] + (3n− n2)

(r + 1

2

)[E ·A]

+(n− 1)

(r + 1

2

)[∆2 · E].

Agora, seja V [[t]] ⊆ k[[t]][X1, X2, X3]e o k[[t]]-submodulo gerado por V ,

o sistema linear induzido pela projecao de um ponto geral de P2k.

Teorema 3.3. Seja

F = EnA+ nEn−1F1t+ F2t2 + · · ·

uma serie de potencias homogenea, onde n ≥ 2, E e A sao livres de quadra-

dos e coprimos. Suponhamos que gcd(A,F ) = 1 e que F e de segundo tipo.

35

Page 42: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Entao,

limt→0

F ? = nE? +A? + (3n− n2)[E ·A]? + (n− 1)[∆2 · E]?.

Observacao 3.3. Notemos que quando n = 2 e o posto de V e r + 1, o

0-ciclo do limite do esquema de ramificacao generico da famılia de segundo

tipo e:

[RF (V )] = 2[RE(V (0))] + [RA(V (0))] +

(r + 1

2

)(4− 2)[E ·A] + [∆2 · E].

3.3 Outros tipos de famılias

Seja

F = En +

m−1∑i=1

(n

i

)En−i(F1t)

i + Fmtm + · · · ,

uma serie de potencias homogenea, onde n ≥ 2, 2 ≤ m ≤ n + 1, E livre de

quadrados. Suponhamos que

gcd(E,Fm −

(n

m

)En−mFm1

)= 1.

Notemos que

F = (E + F1t)n −

(Fm −

(n

m

)En−mFm1 + · · ·

)tm

Definamos

Q1 := E + F1t, Q2 := (F −Qn1 )/tm,

temos que Q2(0) = Fm −(nm

)En−mFm1 e que

F = Qn1 +Q2tm.

Considere a seguinte F -derivacao:

∂′ := ∂Q2,Q1 .

Notemos, assim como na Secao 3.2, que ∂′ e adaptada a cada fator irredutıvel

de E. Seja V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo saturado, homogeneo, de

posto r+1 tal que V (0) e nao degenerado sobre cada componente irredutıvel

36

Page 43: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

de F (0) e que RF ∗(V∗) e finito. Como antes,

[limt→0

(W∂∗(V∗ · F ∗))] = n[W∂(0)(V (0)) · E],

ou seja,

[limt→0

(W∂∗(V∗ · F ∗))] = n

(r + 1

2

)[Q2(0) · E] + n[RE(V (0))].

Por outro lado, como

∂∗ ≡F ∗ ∂F ∗,Q∗1 ,

entao

(W∂∗(V∗) · F ∗) =

(r + 1

2

)(Q∗1 · F ∗) +RF ∗(V

∗).

Notemos que

Qn1 ≡F −Q2tm.

Logo,

[limt→0

((Q∗1 · F ∗))] = (1/n)[limt→0

((Q∗1n · F ∗))] = [Q2(0) · E].

Assim,

[RF (V )] = n[RE(V (0))] + (n− 1)

(r + 1

2

)[Q2(0) · E].

Agora, seja V o sistema induzido pela projecao de um ponto geral o ∈ P2k.

Teorema 3.4. Seja

F = En +

m−1∑i=1

(n

i

)En−i(F1t)

i + Fmtm + · · · ,

uma serie de potencias homogenea, onde n ≥ 2 e 2 ≤ m ≤ n + 1, E e um

polinomio livre de quadrados. Suponhamos que

gcd(E,Fm −

(n

m

)En−mFm1

)= 1.

Entao,

limt→0

F ? = nE? + (n− 1)[(Fm −

(n

m

)En−mFm1

)· E]?.

37

Page 44: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

4 Famılias regulares

Neste capıtulo faremos um comparativo entre a formula do limite de curvas

duais planas dada por Katz [9] e o metodo descrito neste trabalho.

4.1 Polıgono de Newton

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0, S uma k-

algebra e domınio integral. Seja F uma famılia de polinomios de grau n

com coeficientes em S, ou seja, por definicao

F =∑i≥0

Fi(Z)ti =∑i,j≥0

aijtiZj ∈ S[Z][[t]],

onde Fi(Z) ∈ S[Z], deg(F0) = n e deg(Fi) ≤ n para i > 0.

Descreveremos aqui a construcao da expansao de Puiseux generalizada de

F como em [9]. Suponhamos que Z2|F0, enquanto que Z - F . Consideremos

o polıgono de Newton P de F , ou seja, a envoltoria convexa do conjunto⋃aij 6=0

(i, j) + R2≥0.

Seja d o maior inteiro tal que Zd|F0. Suponhamos que o angulo α da aresta

lıder de P , ou seja, a aresta que passa pelo ponto (0, d), e −1/m. Trunque-

mos F incluindo somente os termos de F que pertencem a esta aresta para

obter

FZ(t, Z) =∑

am(d−j),jtm(d−j)Zj .

Z

t

••d P

α•

•(m(d−j),j)

•(i,j)

Aresta Lıder

38

Page 45: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Notemos que FZ(t, Z) e quase-homogenea de grau md se t tem grau 1 e Z

tem grau m. Finalmente, definamos

PFZ(s) := FZ(1, s) =

∑am(d−j),js

j .

Mais geralmente, suponhamos que F0(Z) =∏fk(Z)ek , onde fk sao irre-

dutıveis e coprimos. Fixemos k e escrevamos

Fi = fek,ik (Z)gk,i(Z),

onde fk - gk,i. Assim,

F =∑i≥0

Fi(Z)ti =∑

gk,itifek,ik .

Formemos o polıgono de Newton associado a fk: a envoltoria convexa de⋃gk,i 6=0

(i, ek,i) + R2≥0.

Trunquemos F , como antes, para obtermos

Ffk(t, fk) =∑

gk,ifek,ik ti.

incluindo somente a soma dos termos que estao na aresta lıder do polıgono

de Newton. Definamos

PFfk(s) := Ffk(1, s) =

∑gkis

eki .

4.2 Discriminante formal

Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0, S uma k-

algebra e domınio integral, f = ansn + · · · + a0 ∈ S[Z][s], ai(Z) ∈ S[Z]

(i = 0, 1, ..., n), com Z e s variaveis. Suponhamos que an 6= 0. Sejam

β1, ..., βn as raizes formais de f , ou seja, f(s) = an∏ni=1(s−βi). Lembramos

que o discriminante de f e dado por

∆A[Z](f) = a2n−2n

∏i<j

(βi − βj)2 =(−1)n(n−1)/2

anR(f, ds(f)) ∈ S[Z],

39

Page 46: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

onde R(f, ds(f)) e a resultante de f com ds(f), a derivada de f com relacao

a variavel s.

Seja F =∑

i≥0 Fi(Z)ti uma famılia de polinomios de grau n com coefi-

cientes em S e F0(Z) =∏fk(Z)ek , onde fk sao irredutıveis e coprimos.

Definicao 4.1. O discriminante formal de F com respeito a fk e definido

por

∆fk(F )(Z) := ∆S[Z](PFfk(s)).

Definicao 4.2. Dizemos que F e fk-regular se fk - ∆fk(F ). Dizemos que

F e regular se F e fk-regular para todo k.

Apartir de agora iremos supor que S := k[X,Y ].

Seja F =∑

i≥0 Fi(X,Y, Z)ti ∈ k[X,Y, Z][[t]] uma famılia de curvas

planas de grau d. Denotemos por F0 =∏iE

eii a decomposicao em fatores

irredutıveis. Katz [9] mostrou que se F for regular, entao

limt→0

F ? =∑i

eiE?i +

∑i

[∆Ei(F ) · Ei]? + 2∑i<l

(ei + el − eiel)[Ei · El]?.

Exemplo 4.1. O Corolario 2.2.1 afirma que se F ∈ k[X,Y, Z][[t]] e uma

serie de potencias homogenea de grau positivo com F (0) =∏nk=1E

eii , onde

Ei sao irredutıveis e coprimos, e se gcd(Ei, F1) = 1 para todo i, entao:

limt→0

F ? =∑i

eiE?i +

∑i<j

(ei + ej)[Ei · Ej ]? +∑i

(ei − 1)[Ei · F1]?.

Notemos que esta famılia e regular. Para mostrarmos isto, precisamos

calcular ∆Ei(F ). Como Ei - F1 para todo i, entao a aresta lıder do polıgono

de Newton formado para cada Ei e:

Ei

t

ei•

1•

Aresta Lıder

40

Page 47: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Logo, ao truncarmos F nos coeficientes que pertencem a esta aresta, teremos

FEi =(∏j 6=i

Eejj

)Eeii + F1t.

Assim,

PFEi(s) =

(∏j 6=i

Eejj

)sei + F1.

Por definicao, ∆Ei(F ) = ∆(PFEi(s)). Como ds(PFEi

(s))) = ei

(∏j 6=iE

ejj

)sei−1,

temos que

R(PFEi(s), ds(PFEi

(s))) = F ei−11 ·

(ei∏j 6=i

Eejj

)ei.

Portanto,

∆Ei(F ) = (−1)ei(ei−1)/2eiFei−11

(ei∏j 6=i

Eejj

)ei−1

o qual e primo com Ei. Assim, F e regular. Alem disto, notemos que:

[∆Ei(F ) · Ei] = (ei − 1)[F1 · Ei] +∑i 6=j

((ei − 1)ej

)[Ej · Ei].

Por Katz,

limt→0

F ? =∑i

eiE?i +

∑i

[∆Ei(F ) · Ei]? + 2∑i<l

(ei + el − eiel)[Ei · El]?

=∑i

eiE?i +

∑i

(ei − 1)[F1 · Ei]? +∑i 6=j

((ei − 1)ej

)[Ej · Ei]?

+2∑i<l

(ei + el − eiel)[Ei · El]?

=∑i

eiE?i +

∑i

(ei − 1)[F1 · Ei]? +∑i<j

((ei − 1)ej + (ej − 1)ei

)[Ej · Ei]?

+2∑i<l

(ei + el − eiel)[Ei · El]? =⇒

limt→0

F ? =∑i

eiE?i +

∑i<j

(ei + ej)[Ei · Ej ]? +∑i

(ei − 1)[Ei · F1]?,

ou seja, as formulas coincidem.

41

Page 48: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

4.3 Famılias nao-regulares

No Capıtulo 3 vimos como calcular o limite das curvas duais de alguns tipos

de famılias. Sabemos [9] que as famılias de Zeuthen de primeiro e segundo

tipos sao regulares. No entanto, a famılia descrita na Secao 3.3 nao e regular

em geral. Por exemplo, seja

F = E2 +

2∑i=1

(2

i

)E2−i(F1t)

i + F3t3 + · · · ,

onde E e irredutıvel, gcd(E,F1) = 1.

Assim, a aresta lıder r do polıgono de Newton formado para a compo-

nente E com os pontos marcados:

E

t

2•

•1

21

r

Logo PFE(s) = s2 + s(2F1) + F 2

1 e, por tanto, ∆(PFE(s)) = 0. Ou seja, F

nao e E-regular. Este mesmo raciocınio mostra que toda famılia da forma

F = En +n∑i=1

(n

i

)En−i(F1t)

i + Fn+1tn+1 + · · · ,

onde E e irredutıvel, gcd(E,F1) = 1 nao e regular.

42

Page 49: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

5 Famılias de Zeuthen de tipo n

No Capıtulo 3 mostramos como aplicar o metodo aqui descrito no calculo

do limite do esquema de ramificacao generico e, particularmente, o limite de

curvas duais para famılias de Zeuthen de primeiro e segundo tipos. Agora,

veremos como estender a aplicacao deste metodo para famılias de Zeuthen

de todos os tipos.

Seja F := E2A + F1t + F2t2 + · · · + Fit

i + · · · ∈ k[[t]][X,Y, Z]d, onde k

e um corpo algebricamente fechado e de caracterıstica 0, E e irredutıvel, A

livre de quadrados, e gcd(E,A) = 1.

Seja V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo saturado, homogeneo, de

posto r+1 tal que V (0) e nao degenerado sobre cada componente irredutıvel

de F (0) e que RF ∗(V∗) e finito.

O nosso objetivo e definir a famılia de tipo n, assim como o n-esimo

discriminante ∆n desta famılia de tal forma que:

1. Toda famılia F = E2A+F1t+F2t2 + · · ·+Fiti+ · · · com fibra generica

reduzida e de tipo n para algum n;

2. Se F = E2A + F1t + F2t2 + · · · + Fit

i + · · · e uma famılia de tipo n,

entao o 0-ciclo do limite do esquema de ramificacao generico [RF (V )]

satisfaz:

[RF (V )] = 2[RE(V (0))]+[RA(V (0))]+

(r + 1

2

)((4−(n+2))[E·A]+[∆n+2·E]

).

Comecamos definindo ∆1 := F1. Se E nao divide ∆1, entao F e de

tipo 1, ou de primeiro tipo na terminologia de Zeuthen. Caso contrario,

definimos ∆′1 := ∆1/E. Assim,

F = E2A+ E∆′1t+ F2t2 + · · ·+ Fit

i + · · · =⇒

AF = E2A2 +AE∆′1t+AF2t2 + · · ·+AFit

i + · · · =⇒

AF =(EA+ ∆′1t/2

)2− (∆′1t/2)2 +AF2t

2 + · · ·+AFiti + · · · =⇒

AF =(EA+ ∆′1t/2

)2+(AF2 − (∆′1/2)2 +AF3t+ · · ·+AFit

i−2 + · · ·)t2

Definimos, agora, ∆2 := AF2 − (∆′1/2)2. Se E nao divide ∆2, entao F e

de tipo 2, ou de segundo tipo na terminologia de Zeuthen. Caso contrario,

43

Page 50: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

definimos ∆′2 := ∆2/E. Assim,

A2·AF =(EA2+∆′1At/2

)2+(A2E∆′2+A3F3t+· · ·+A3Fit

i−2+· · ·)t2 =⇒

A3F =(EA2 + ∆′1At/2 + ∆′2t

2/2)2−(

∆′2t2/2)2− 2(

(∆′1At/2) · (∆′2t2/2))

+(A3F3t+ · · ·+A3Fit

i−2 + · · ·)t2,

ou seja,

A3F =(EA2 + ∆′1At/2 + ∆′2t

2/2)2

+(A3F3 − (A∆′1∆′2)/2 + (A3F4 − (∆′2/2)2)t+A3F5t

2 + · · ·A3Fiti−3 · · ·

)t3.

Desta forma, definimos ∆3 := A2F3− (∆′1∆′2)/2. Se E nao divide ∆3, entao

F e de tipo 3, ou de terceiro tipo na terminologia de Zeuthen. Notemos que

este discriminante e o mesmo discriminante apresentado em [16].

Alem disto, notemos que o produto de uma potencia de A com F pode

ser escrito como soma de dois termos:

1. O primeiro, que e o quadrado de

Q1(t) := EA2 + ∆′1At/2 + ∆′2t2/2,

2. e o segundo,

Q2(t) := A3F3 − (A∆′1∆′2)/2 + (A3F4 − (∆′2/2)2)t+A3F5t2 + · · ·

vezes t3.

Notemos ainda que o discriminante foi escolhido, a menos de uma potencia

da componente A, como sendo o termo Q2(0). Seguindo este raciocınio,

temos o seguinte resultado.

44

Page 51: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Lema 5.1. Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica 0

e F = E2A + F1t + F2t2 + · · · + Fit

i + · · · ∈ k[[t]][X,Y, Z] uma serie de

potencias homogeneas de grau d. Para cada inteiro n ≥ 0 temos que:

A2n+1F =(EAn+1+(∆′1A

nt)/2+· · ·+(∆′iAn+1−iti)/2+· · ·+(∆′n+1t

n+1)/2)2

+(An∆n+2 + Cn+3t+ Cn+4t

2 + · · ·)tn+2,

onde

Cn+2+k := A2n+1Fn+2+k −∑

i+j=n+2+k

∆′iAn+1−i

∆′jAn+1−j

2

∆n+2 := Cn+2/An e ∆′i := ∆i/E, para 1 ≤ i < n+ 2.

Proof. Inducao em n.

Notemos que para usar o Lema 5.1 no calculo do 0-ciclo do limite do

esquema de ramificacao generico, precisamos que os quocientes ∆′i := ∆i/E

sejam polinomios. Assim, temos a seguinte

Definicao 5.1. Dizemos que F e de tipo n se E divide ∆1, ...,∆n−1 mas

nao divide ∆n.

Exemplo 5.4. Notemos que a famılia

F = E2 +

2∑i=1

(2

i

)E2−i(F1t)

i + F3t3 + · · · ,

onde E irredutıvel e gcd(E,F1F3) = 1, descrita na Secao 4.3, e de tipo 3.

Lema 5.2. Com as definicoes anteriores, temos que

E2l−2∆l ≡A cl(∆1/2)l,

onde c1 = 2 e

cl := (−1/4) ·∑i+j=l

cicj

para l > 1. Alem disto,

gcd(∆l, A) = 1 ⇐⇒ gcd(∆1, A) = 1.

45

Page 52: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Proof. Provaremos por inducao em l. Quando l = 1, temos que

∆1 = 2 · (∆1/2).

Suponhamos que o resultado segue para l = n + 1. Assim, da definicao do

discriminante, temos

E2(n+2)−2∆n+2 ≡A∑

i+j=n+2

E2n∆i ·∆j

4=

∑i+j=n+2

E2i−2∆i · E2j−2∆j

4

≡A cn+2(∆1/2)n+2.

A ultima parte segue do fato que cl 6= 0 para todo l, pois quando l e ımpar,

temos que cl > 0 e quando l e par, cl < 0.

Observacao 5.2. O Lema 5.1 e importante por duas razoes:

1. Fornece uma formula para o n-esimo discriminante ∆n de uma famılia;

2. Garante que toda famılia F = E2A + F1t + F2t2 + · · · , onde E e

irredutıvel, com fibra generica reduzida seja de tipo n para algum n.

Pois caso contrario, terıamos que A2n+1F satisfaz a expressao descrita

no Lema 5.1 para todo inteiro n ≥ 0. Portanto, no aberto UA (A 6= 0),

a fibra generica seria

F =

(EA+

∑∞i=1 ∆′iA

1−iti))2

A,

ou seja, nao reduzida.

Agora estamos preparados para o teorema principal.

46

Page 53: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

Teorema 5.3. Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0, F = E2A + F1t + F2t2 + · · · + Fit

i + · · · ∈ k[X,Y, Z][[t]] uma serie de

potencias homogeneas de grau d com E irredutıvel, A livre de quadrados e

gcd(A,EF ) = 1. Seja V ⊂ k[[t]][X,Y, Z] um k[[t]]-submodulo saturado, ho-

mogeneo, de posto r+1 tal que V (0) e nao degenerado sobre cada componente

irredutıvel de F (0) e que RF ∗(V∗) e finito. Se F e de tipo n′, entao

[RF (V )] = 2[RE(V (0))] + [RA(V (0))] +

(r + 1

2

)((4−n′)[E ·A] + [∆n′ ·E]

).

Proof. Podemos supor que n′ = n+ 2 e n ≥ 0. O Lema 5.1 afirma que

A2n+1F =(EAn+1+(∆′1A

nt)/2+· · ·+(∆′iAn+1−iti)/2+· · ·+(∆′n+1t

n+1)/2)2

+(An∆n+2 + Cn+3t+ Cn+4t

2 + · · ·)tn+2.

Definamos

Q1 := EAn+1 + (∆′1Ant)/2 + · · ·+ (∆′iA

n+1−iti)/2 + · · ·+ (∆′n+1tn+1)/2

e

Q2 :=(An∆n+2 + Cn+3t+ Cn+4t

2 + · · ·).

Assim,

A2n+1F = Q21 +Q2t

n+2.

Considere a seguinte F -derivacao

∂′ := A2n+1∂Q2,Q1 .

Como

∂′(0) = A2n+1∂An∆n+2,EAn+1 ,

entao ∂ e E-adaptada, pois E nao divide An∆n+2. Seja H ∈ k[X,Y, Z] um

polinomio homogeneo tal que gcd(H,EA) = 1. Assim,

H∂′ = HA2n+1∂Q2,Q1 ≡F H(A2n+1)2∂F,Q1 ≡F (A2n+1)2Q1∂F,H ,

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z]. Seja A = P1 · · ·Pm decomposicao

em fatores irredutıveis. Como, por hipotese, gcd(Pj , F ) = 1, para j =

47

Page 54: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

1, ..,m, entao existe i(j) tal que Pj |Fs se s < i(j), mas Pj 6 |Fi(j). Definamos

Pj :=E2A+ F1t+ F2t

2 + · · ·+ Fi(j)−1ti(j)−1

Pj,

onde j = 1, ...,m. Notemos que para cada j = 1, ...,m, existem inteiros

positivo aj , bj e series de potencias homogeneas Nj tais que

Pajj (A2n+1)2Q1 ≡F Njt

bj e gcd(Nj(0), Pj) = 1.

Portanto,

Pajj H∂′ ≡F P

ajj (A2n+1)2Q1∂F,H ≡F Nj∂F,H

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z]. Definamos

∂ := ∂1 := ∂′, ∂l := Nl−1∂F,H para l = 2, ...,m+ 1;

E1 := E, El := Pl−1 para l = 2, ...,m+ 1;

H1 := 1, Hl := Pal−1

l−1 H para l = 2, ...,m+ 1.

Segue que

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = 2[W∂′(0)(V (0)) · E] +

m+1∑l=2

[W∂l(V (0)) · Pl−1]

−(r + 1

2

)m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0)H · Pl−1],

ou seja,

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = 2[W∂′(0)(V (0)) · E] + [W∂E2A,H

(V (0)) ·A]

+

(r + 1

2

)(m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0)H · Pl−1]), (17)

Como antes, queremos calcular cada termo nao conhecido da expressao

acima. Notemos que

∂′(0) = A2n+1∂An∆n+2,EAn+1 ≡E A3n+2∂An∆n+2,E ,

48

Page 55: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

logo

[W∂′(0)(V (0)) · E] =

(r + 1

2

)[A4n+2∆n+2 · E] + [RE(V (0))]. (18)

Analogamente,

∂E2A,H ≡A E2∂A,H .

Assim,

[W∂E2A,H(V (0)) ·A] =

(r + 1

2

)[E2H ·A] + [RA(V (0))]. (19)

Substituindo (18) e (19) em (17), temos que

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = 2

((r + 1

2

)[A4n+2∆n+2 · E] + [RE(V (0))]

)

+((r + 1

2

)[E2H ·A] + [RA(V (0))]

)

+

(r + 1

2

)(m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0)H · Pl−1]),

ou seja,

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = 2[RE(V (0))] + [RA(V (0))] + (8n+ 6)

(r + 1

2

)[E ·A]

+

(r + 1

2

)(2[∆n+2 · E] +

m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0) · Pl−1]). (20)

Por outro lado,

∂′ = A2n+1∂Q2,Q1 ≡F (A2n+1)2∂F,Q1

como k((t))-derivacoes de k((t))[X,Y, Z]. Assim,

(W∂∗(V

∗) · F ∗)

=

(r + 1

2

)(A∗2(2n+1)Q∗1 · F ∗

)+RF ∗(V

∗). (21)

Notemos que (Pajj (A2n+1)2Q1

)2≡F N2

j t2bj para j = 1, ...,m

49

Page 56: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

e que ((A2n+1)2Q1

)2≡F −(A2n+1)4An∆n+2t

n+2 + · · ·

Assim, a Proposicao 2.3 garante que

[limt→0

((

((A∗2n+1)2Q∗1)2 · F ∗)

)] = 2[(A2n+1)4An∆n+2 · E]

+

m+1∑l=2

2(

[Nl−1(0) · Pl−1]− [Pal−1

l−1 (0) · Pl−1]),

ou seja,

[limt→0

((

(A∗2n+1)2Q∗1 · F ∗)

)] = [(A2n+1)4An∆n+2 · E] +m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]

−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0) · Pl−1].

Tomando limite na Equacao (21) e os 0-ciclos associados,

[limt→0

(W∂∗(V∗) · F ∗)] = [RF (V )] +

(r + 1

2

)[(A2n+1)4An∆n+2 · E]

+

(r + 1

2

)(m+1∑l=2

[Nl−1(0) · Pl−1]−m+1∑l=2

[Pal−1

l−1 (0) · Pl−1]). (22)

Pelas Equacoes (20) e (22), temos que

[RF (V )] = 2[RE(V (0))]+[RA(V (0))]+

(r + 1

2

)((2−n)[E ·A]+[∆n+2 ·E]

),

ou seja,

[RF (V )] = 2[RE(V (0))]+[RA(V (0))]+

(r + 1

2

)((4−(n+2))[E·A]+[∆n+2·E]

)como querıamos demonstrar.

Agora, seja V o sistema linear induzido pela projecao de um ponto geral

o ∈ P2k.

Corolario 5.3.1. Sejam k um corpo algebricamente fechado de caracterıstica

0, F = E2A + F1t + F2t2 + · · · + Fit

i + · · · ∈ k[X,Y, Z][[t]] uma serie de

50

Page 57: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

potencias homogeneas de grau d com E irredutıvel, A livre de quadrados,

gcd(E,A) = 1 e que nenhuma componente irredutıvel de A seja componente

irredutıvel de F . Se F e de tipo n, entao

limt→0

F ? = 2E? +A? + (4− n)(E ·A)? + (∆n · E)?.

Notemos que este mesmo raciocınio resolve o caso quando E e livre de

quadrados, E|∆i para i = 1, ..., n− 1 e gcd(∆n, E) = 1.

51

Page 58: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

References

[1] P. Aluffi, Two characteristic Numbers for Smooth Plane Curves of any

Degree, Trans. of Amer. Math. Society Vol. 329 (1992), 73-96.

[2] P. Aluffi, The Enumerative Geometry of Plane Cubics I: Smooth cubics,

Trans. of Amer. Math. Society Vol. 317 (1990), 501-539.

[3] D. Eisenbud and J. Harris, Limit linear series: Basic Theory, Invent.

math 85. 337-371 (1986).

[4] E. Esteves, Wronski algebra systems on families of singular curves, An-

nales Scientifiques de L’E.N.S. 4 serie, tome 29, n 1 (1996), p. 107-134.

[5] E. Esteves, The Castelnuovo-Mumford Regularity of an Integral Variety

of a Vector Field on Projective Space, Mathematical Research Letters 9.

1-15 (2002).

[6] E. Esteves, Limits of Cartier divisors, Journal of Pure and Applied Al-

gebra, v. 214, p. 1718-1728, (2010).

[7] E. Esteves and M. Marchisio, Invariant Theory of Foliations of the

Projective Plane, Rendiconti del Circolo Matematico di Palermo (Testo

stampato), v. 83, p. 175-188, (2011).

[8] R. Hartshorne, Algebraic Geometry, Springer, Graduate texts in mathe-

matics: 52, (1977).

[9] S. Katz, Discriminants and limits of duals of plane curves, Contemp.

Math. 123 (1991), 99-106.

[10] S. Kleiman, Tangency and Duality, Proc. Algebraic Geometry, Vancou-

ver 1984, CMS-AMS Vol. 6, Ed. Carell, etc. (1986), p. 163-226.

[11] S. Kleiman, About the Conormal Scheme, Proc. Compl. Intersections,

C.I.M.E. Acireale 1983, Springer Lect. Notes Math. 1092, p. 161-197.

[12] S. Kleiman and R. Speiser, Enumerative Geometry of Nonsingular

Plane Cubics, Contemp. Math. 116 (1991), 85-113.

[13] P. Nogueira, Limites de Sistemas Lineares em Curvas de Gorenstein,

Tese, Instituto de Matematica Pura e Aplicada - IMPA, (2003).

52

Page 59: Limites de Pontos de Rami ca˘c~ao de Curvas Planas, Usando ... · Usamos a seguinte nota˘c~ao: seja Cuma curva plana. Denotamos por C? para a curva dual de C. Sejam D 1;D 2 duas

[14] R. Speiser, Limits of Conormal Schemes, Contemp. Math. 116 (1991),

129-146.

[15] R. Vakil, The Characteristic Numbers of Quartic Plane Curves, Can.

J. Math. 51, no. 5, 1089–1120, (1999).

[16] L. Van Gastel, Characteristic numbers of plane curves, Contemp. Math.

123 (1991), 259-265.

[17] L. Van Gastel, Degenerations of Conormal Varieties, Contemp. Math.

123 (1991), 267-278.

[18] C. Widland and R. Lax, Weierstrass points on gorenstein curves, Pac.

Jornal of Math. Vol. 142, n 1 (1990), p. 197-208.

[19] H. Zeuthen, Determination des characteristiques des systemes

elementaires de cubiques, C. R. Acad. Sci. Paris 74 (1872), 521-526,

604-607,726-729.

[20] H. Zeuthen, Almindelige Egenskaber ved Systemer af plane Kurver,

Publi. Royal Acad. of Sciences, Copenhagen, Nat. and Math. Sci. 10

(1873), 287-393.

53