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ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca da Capital 2ª Vara Cível Endereço: Rua Gustavo Richard, 434, Fórum, Centro - CEP 88010-290, Fone: 48, Florianópolis-SC - E-mail: [email protected] Autos n° 0899439-82.2013.8.24.0023 Ação: Procedimento Ordinário/PROC Autor: SIND. LABORATÓRIOS ANÁLISES CLÍNICAS, PATOLOGIAS CLÍNICAS, ANATOMO-CITOPATOLOGIA DE SANTA CATARINA ¿ SINDILAB e outro Réu: UNIMED FLORIANÓPOLIS ¿ COOPERATIVA DE TRABALHOS MÉDICOS LTDA Vistos, etc. SINDICATO DOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS, PATOLOGIAS CLÍNICAS, ANATOMO-CITOPATOLOGIA DE SANTA CATARINA – SINDILAB-SC e SINDICATO DOS ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DA GRANDE FLORIANÓPOLIS ajuizaram a presente AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR DE CONCESSÃO DE TUTELA contra UNIMED FLORIANÓPOLIS – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. Os autores objetivam a antecipação dos efeitos da tutela, para que a ré seja compelida a suspender os efeitos dos ofícios circulares 030/2013/DIRE e 028/2013/DIRE, que determinou a aplicação aos prestadores cooperados de serviços de imagem e laboratórios de análises clínicas um teto no valor do CH (coeficiente atualmente utilizado para remunerar o custo operacional dos exames) de até R$ 0,20, a partir da competência de abril de dois mil e treze; determinar à ré que se abstenha de oferecer desconto de 50% (cinquenta por cento) da coparticipação exclusivamente aos usuário/pacientes que optarem pela realização de exames de imagem e laboratoriais nos chamados serviços próprios, concedendo tratamento isonômico em relação aos laboratórios e clínicas filiados aos autores; determinar à ré que se abstenha de exigir o novo fluxo para autorização de exames, que estabelece formalidades não previstas nos contratos, autorizando a realização de exames de imagem e laboratoriais da forma pactuada e praticada até o dia 15 do mês de junho do corrente ano, ou seja, por meio de seu sistema de autorização on-line ou pelo seu Call Center, sem a necessidade/exigência de contato pessoal do paciente/usuário com a UNIMED para suposta obtenção de senha ou de prazo de análise e autorização não previsto no contrato; determinar que a ré se abstenha de impor, no futuro, quaisquer outras modificações contratuais de forma unilateral, tanto em relação às imposições que são objeto da presente demanda, como outras que venham a afrontar o que está ajustado contratualmente entre as partes; obstar qualquer tentativa de rescisão contratual e/ou descredenciamento por parte da ré para com os filiados dos autores,durante o trâmite desta ação, eis que tal artifício traria maiores prejuízos às partes e ao público consumidor. Se impresso, para conferência acesse o site http://esaj.tjsc.jus.br/esaj, informe o processo 0899439-82.2013.8.24.0023 e o código A22B24. Este documento foi assinado digitalmente por FERNANDO VIEIRA LUIZ. fls. 566

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Liminar concedida na Comarca de Florianópolis contra a Unimed.

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ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca da Capital2ª Vara Cível

Endereço: Rua Gustavo Richard, 434, Fórum, Centro - CEP 88010-290, Fone: 48, Florianópolis-SC - E-mail: [email protected]

Autos n° 0899439-82.2013.8.24.0023

Ação: Procedimento Ordinário/PROC Autor: SIND. LABORATÓRIOS ANÁLISES CLÍNICAS, PATOLOGIAS CLÍNICAS, ANATOMO-CITOPATOLOGIA DE SANTA CATARINA ¿ SINDILAB e outro Réu: UNIMED FLORIANÓPOLIS ¿ COOPERATIVA DE TRABALHOS MÉDICOS LTDA

Vistos, etc.

SINDICATO DOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS, PATOLOGIAS CLÍNICAS, ANATOMO-CITOPATOLOGIA DE SANTA CATARINA – SINDILAB-SC e SINDICATO DOS ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DA GRANDE FLORIANÓPOLIS ajuizaram a presente AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR DE CONCESSÃO DE TUTELA contra UNIMED FLORIANÓPOLIS – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO.

Os autores objetivam a antecipação dos efeitos da tutela, para que a ré seja compelida a suspender os efeitos dos ofícios circulares 030/2013/DIRE e 028/2013/DIRE, que determinou a aplicação aos prestadores cooperados de serviços de imagem e laboratórios de análises clínicas um teto no valor do CH (coeficiente atualmente utilizado para remunerar o custo operacional dos exames) de até R$ 0,20, a partir da competência de abril de dois mil e treze; determinar à ré que se abstenha de oferecer desconto de 50% (cinquenta por cento) da coparticipação exclusivamente aos usuário/pacientes que optarem pela realização de exames de imagem e laboratoriais nos chamados serviços próprios, concedendo tratamento isonômico em relação aos laboratórios e clínicas filiados aos autores; determinar à ré que se abstenha de exigir o novo fluxo para autorização de exames, que estabelece formalidades não previstas nos contratos, autorizando a realização de exames de imagem e laboratoriais da forma pactuada e praticada até o dia 15 do mês de junho do corrente ano, ou seja, por meio de seu sistema de autorização on-line ou pelo seu Call Center, sem a necessidade/exigência de contato pessoal do paciente/usuário com a UNIMED para suposta obtenção de senha ou de prazo de análise e autorização não previsto no contrato; determinar que a ré se abstenha de impor, no futuro, quaisquer outras modificações contratuais de forma unilateral, tanto em relação às imposições que são objeto da presente demanda, como outras que venham a afrontar o que está ajustado contratualmente entre as partes; obstar qualquer tentativa de rescisão contratual e/ou descredenciamento por parte da ré para com os filiados dos autores,durante o trâmite desta ação, eis que tal artifício traria maiores prejuízos às partes e ao público consumidor.

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Endereço: Rua Gustavo Richard, 434, Fórum, Centro - CEP 88010-290, Fone: 48, Florianópolis-SC - E-mail: [email protected]

Juntaram os documentos de fls. 36/564.

Vieram-me conclusos para o controle de admissibilidade da ação e da pretensão de tutela antecipada.

DECIDO.

Ab initio, os autores trazem à baila argumentos que demonstram a sua legitimidade para o feito, porquanto se constituem em entidades sindicais patronais, dotadas de personalidade jurídica própria, cujos estatutos prevêem a possibilidade de representarem os interesses coletivos e individuais dos integrantes da categoria.

Ademais, o art. 8º, III, da Constituição Federal reconhece a legitimidade dos sindicatos, verbis:

"Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:(...)III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;"

A disposição constitucional vem ao encontro dos princípios da celeridade e informalidade, para que a entidade possa representar os interesses da categoria numa só ação. Assim, o Judiciário terá menos processos e haverá segurança numa só decisão isonômica para todos os que se encontram na mesma situação.

É sabido que, para a concessão da tutela antecipada, devem estar presentes os requisitos que possibilitem o convencimento do magistrado, quais sejam, verossimilhança da alegação do autor (fumus boni juris), sustentada por prova inequívoca, e o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora).

A antecipação dos efeitos da tutela está prevista no art. 273 do CPC, in verbis:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ouII – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.

Sobre a antecipação de tutela, a jurisprudência assim tem se manifestado:

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Satisfeitos os requisitos da prova inequívoca e da verossimilhança da alegação, com a possibilidade de ocorrência de prejuízo em face da demora da prestação jurisdicional, correta a decisão judicial que concede a antecipação da tutela. (AI n.º 05.010297-6, de Blumenau, Rel. Des. Pedro Manoel Abreu, j. em 6/09/05).

No caso em apreço, os autores objetivam proteger interesse de seus filiados, decorrente de ato perpetrado pela acionada, ou seja, a alteração unilateral do Coeficiente de honorários – CH (valor expresso em reais, utilizado para apurar o preço dos serviços prestados pelas contratadas), para o teto limite de R$ 0,20 (vinte centavos).

É de sabença ser a Unimed uma operadora de planos privados de assistência à saúde, um direito constitucionalizado em nosso sistema jurídico. No entanto, para que possa bem desempenhar a função que lhe cabe aos consumidores finais, é mister contratar com as sociedades comerciais ou pessoas físicas, cooperativas, dentre outros, que dão efetividade aos direitos assegurados nos diversos planos de saúde da Unimed. Isto, porque seu plano não é daqueles que limita os atendimentos nos estabelecimentos da Unimed, mas sim possibilita aos segurados o acesso a diversos hospitais, a médicos (as), a psicólogos (as), a clínicas, a laboratórios, dentre outros.

Neste campo, a acionada firmou diversos contratos com os filiados dos autores, todos eles tendo como regra, no que tange ao preço a ser pago pelos procedimentos médicos de exames de imagem e laboratoriais, tendo como referência a Tabela de Honorários Médicos publicada pela Associação Médica Brasileira no ano de 1992, a chamada AMB/92.

A AMB/92, descreve procedimentos médicos, estabelece as respectivas codificações e também as unidades de custo operacional. Para apurar o preço dos serviços prestados, as partes utilizam o código do procedimento e sua respectiva unidade de custo operacional (CusOpe), multiplicando esta por um valor expresso em reais chamado “Coeficiente de Honorários - CH”, mutuamente ajustado entre as partes em valores que variam de R$ 0,205 até R$ 0,24, conforme acordado com cada prestador.

Porém, segundo os autores, a ré, mediante ato unilateral, alterou tal determinação, comunicando que o valor do Coeficiente de Honorários a serem pagos seriam reduzidos para o teto limite de R$ 0,20.

Assim, diz a exordial, que as clínicas de imagem e os laboratórios de análises clínicas integrantes da rede prestadora de serviços da Unimed, representados pelos sindicatos autores, sofreram, a partir do mês de abril de 2013, severa redução de preços nos contratos que mantém com a ré, que compromete a manutenção da qualidade dos serviços e a própria sobrevivência desses prestadores.

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Nesse sentido, requereram a concessão de tutela antecipada para que a ré: suspenda os efeitos dos ofícios circulares 030/2013/DIRE e 028/2013/DIRE; proceda a adequada remuneração dos serviços prestados pelos filiados dos autores, tendo como parâmetro os valores praticados até a competência do mês de março de 2013; se abstenha de oferecer desconto de 50% (cinquenta por cento) da coparticipação aos usuário/pacientes que optarem pela realização de exames de imagem e laboratoriais nos chamados serviços próprios; se abstenha de exigir o novo fluxo para autorização de exames, que estabelece formalidades não previstas nos contratos; se abstenha de praticar quaisquer atos unilaterais que visem a modificação dos contratos estabelecidos com os filiados do autores e impeça a ré de efetivar a rescisão contratual e/ou descredenciamento para com os filiados dos autores, durante o trâmite desta ação, eis que tal artifício traria maiores prejuízos às partes e ao público consumidor.

Não há que se olvidar do papel fundamental que desempenham as operadoras dos planos de saúde nos dias atuais, mormente pelas dificuldades enfrentadas pela saúde pública no país. Elas, não raro se apresentam como único meio de acesso à saúde para diversas camadas sociais.

Mas, no lado oposto da presente lide, tem-se as próprias instuições que prestam os serviços de saúde, não menos fundamentais para a materialização desse direito. E, como instituições que são, necessitam de subsídios financeiros para se manter, os quais decorrem - especialmente - dos atendimentos que prestam via plano de saúde.

Quando da avença com cada filiado dos autores, ambos os interesses foram avaliados, culminando nos contratos - fonte de obrigações e direitos - e seus termos, por meio da manifestação de vontade das partes.

Dessa forma, em homenagem à segurança jurídica das partes contratantes e do basilar da boa-fé objetiva que norteia o direito contratual, para que houvesse alteração de quaisquer direitos e ou obrigações advindos das avenças, imprescindível era o prévio ajuste bilateral.

Não sendo assim, a priori, as circulares emitidas de forma unilateral não representa os interesses e a vontade dos contratados, descaracterizando, por via direta, a própria essência do contrato que, nas palavras de Sílvio Venosa, "é um ponto de encontro de vontades". (Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 7 ed. p. 403).

Diante de tais considerações, cabe lembrar que as alterações dos contratos devem ser submetidas à apreciação dos parceiros contratuais, sob pena de caracterizar uma ofensa à manifestação volitiva das partes contraentes.

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Aí vem outro elemento essencial do contrato: o equilíbrio entre as contraprestações. É ele que dá fundamento para que o negócio não se configure em enriquecimento de um e empobrecimento do outro contratante. Este equilíbrio, outrossim, não deve ser avaliado apenas quando do celebração do contrato, devendo se manter por toda sua existência.

Infere-se da Ata da Assembléia Geral Extraordinária – 003/2013, realizada em 27/02/2013 que a readequação dos valores de Coeficiente de Honorários está entre outras ações para evitar rateio de perdas no exercício de 2013. Por esta razão, a ré alterou os valores do Coeficiente de Honorários através das circulares 030/2013/DIRE e 028/2013/DIRE.

Entretanto, para alterar qualquer cláusula outrora pactuada, numa primeira leitura sumária dos autos, a Unimed deveria obter a concordância da outra contratante ou provar, na sede própria, que o pacto se tornou inviável por fato superveniente à sua assinatura, necessitando de uma revisão. Todavia, a UNIMED quedou-se na esfera de atos unilaterais, sem tomar alguma providência distante da combatida circular. Deveria antes de qualquer medida, lembrando sempre em análise inaugural deste juízo sobre o caso, demonstrar que caberia a ela a aplicação da teoria da imprevisão ou cláusula rebus sic stantibus.

Nas constatações suso referidas encontro a aparência do direito invocado na exordial, porquanto o somatório dos fatos articulados na inicial junto com documentos a ela acostados e com o direito aplicável à espécie revelam que a tese dos autores é verossímil.

Advirto que a uma das partes contratantes não pode ser a legisladora das suas próprias razões, porquanto se submete ao direito obrigacional aplicável aos contratos e que circulares não tem qualquer força normativa perante terceiros em nosso sistema jurídico.

Doutro vértice, tal fato resulta em evidente prejuízo às instituições e profissionais filiados à parte autora, afinal reduz sua receita, conforme registram os documentos juntados com a inicial.

Além de comprometer a lucratividade da atividade, há a possibilidade de interferir no atendimento prestado nas instituições de saúde, as quais podem deixar de prestar atendimentos aos conveniados da Unimed ou, se prestarem, o fazerem de forma insatisfatória frente a distorção de valores dos procedimentos médicos de exames de imagem e laboratoriais causada pela circular. Tal hipótese põe em risco a segurança jurídica do contrato, o direito de sobrevivência das instituições e pessoas envolvidas nos pactos feitos com a Unimed, e, indiretamente no sacramentado direito da saúde da sociedade em que vivemos.

Em relação à alteração do fluxo de autorização dos

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procedimentos, há nos contratos cláusula padrão, como se pode ver, por todos, às fls. 249, de que "todos os procedimentos deverão ser solicitados e firmados pelo médico cooperado assistente, e, serem autorizados previamente pela CONTRATANTE através do seu sistema de autorização online (AOL) ou através do seu CALL CENTER". Logo, estando contratualmente prevista a forma de autorização dos procedimentos a serem efetuados, não pode a parte requerida alterar unilateralmente o contratado.

O novo método, a princípio, desonera os médicos cooperados, com visível vantagem ao profissional, eis que transmite aos pacientes à comunicação de autorização dos procedimentos. Contudo, acarreta prejuízo às empresas filiadas aos sindicatos autores, eis que há maior demora no processamento do pedido e da liberação dos procedimentos. Ademais, a comunicação direta entre paciente e requerida pode fazer com que haja a modificação do local eleito para a realização do procedimento. Embora não haja direta ilegalidade neste ato, eis que o local de realização cabe ao consumidor-paciente, há captação de clientela em desacordo com o contrato fixado entre as partes. Esse é o fator de prejuízo pelo descumprimento da cláusula citada.

Assim, caso a requerida queira angariar público para seu serviço próprio, deve proceder programas de conscientização, campanha publicitárias ou comunicação, por qualquer meio, de seus clientes, entre outros. A princípio, a solução não é custosa ou de complexa realização, eis que a requerida possui em seu cadastro todos os dados necessários de seus clientes. O que não se admite é que haja, real ou potencialmente, desvio de clientela por modificação unilateral na forma de autorização dos procedimentos, em desacordo com o contratualmente estabelecido.

De tal modo, da análise da documentação trazida pelos autores com a petição inicial, tenho que os requisitos ensejadores da tutela pleiteada encontram-se presentes, a teor do artigo 273 do Código de Processo Civil.

Ante o exposto, DEFIRO a antecipação da tutela pretendida para sustar os efeitos dos ofícios circulares 030/2013/DIRE e 028/2013/DIRE e, em consequência, DETERMINO que a ré proceda a remuneração dos serviços prestados pelos laboratórios e clínicas de imagem filiados aos autores da forma como contratada, com efeitos a partir da ciência desta decisão (os efeitos patrimoniais do periodo anterior serão decididos somente ao fim).

Ainda, DEFIRO a liminar de obrigação de não fazer, ou seja, de não alterar as cláusulas do contrato unilateralmente.

Além disso, DEFIRO a tutela antecipada para determinar que a ré se abstenha de exigir o novo fluxo para autorização de exames, que estabelece formalidades não previstas nos contratos, autorizando a realização de exames de imagem e laboratoriais da forma pactuada, por meio de seu sistema de

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autorização on-line ou pelo seu Call Center, sem a necessidade/exigência de contato pessoal do paciente/usuário com a UNIMED para suposta obtenção de senha ou de prazo de análise e autorização não previsto no contrato;

Para estimular o atendimento desta decisão e impedir que as (os) filiadas (os) da parte autora sofram com as consequências do seu descumprimento, adicionando-se a credibilidade da própria justiça, cabe a fixação de astreintes no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) diário para caso de descumprimento.

De outro norte, INDEFIRO o requerimento de obstar qualquer tentativa de rescisão contratual e/ou descredenciamento por parte da ré para com os filiados dos autores, durante o trâmite desta ação pedido.

É forçoso reconhecer o direito à rescisão contratual pode ser exercida dentro dos limites da lei e da forma como contratualmente ajustada entre as partes. Havendo previsão contratual das condições em que o contrato pode ser extinto, não pode uma parte retirar da outra o exercício desta opção. À liberdade de contratar está conjugada com seu revés, a liberdade de não contratar, ou, como na hipótese do pedido, a de resolução do contrato na sua forma prevista.

Como reza o art. 5º, II, da CF, "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Logo, não havendo lei que imponha a uma pessoa a continuidade do contrato que deseja ver rescindido da forma como avençado, não é viável a antecipação pretendida.

Ainda, INDEFIRO o pleito de determinar à Requerida que se abstenha de oferecer desconto de 50% (cinquenta por cento) da coparticipação exclusivamente aos usuário/pacientes que optarem pela realização de exames de imagem e laboratoriais nos chamados serviços próprios.

Isso porque não há no contrato cláusula de exclusividade em relação a qualquer procedimento, não existindo impedimento legal ou contratual na prestação dos serviços pelo próprio requerido, pelo preço que lhe convier. Da mesma forma, não há qualquer impedimento legal ou contratual que impeça a redução de coparticipação dos beneficiário no caso de utilização de serviços próprios.

Num sistema de livre iniciativa econômica (art. 170 da CF) não pode o Judiciário adentrar à gestão da atividade exercida sem qualquer comprovação de descumprimento de ato normativo ou de contrato, quanto mais para obrigar uma empresa a apresentar a seu público alvo preço mais elevado ao atualmente praticado. O risco e a lucratividade da atividade empresarial é atinente ao negócio realizado e sua mensuração e a avaliação dos ônus e bônus de cada ato é exclusividade do empresário, não devendo o estado se imiscuir nesta seara.

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Endereço: Rua Gustavo Richard, 434, Fórum, Centro - CEP 88010-290, Fone: 48, Florianópolis-SC - E-mail: [email protected]

Em relação ao pedido de que o feito tramite sob o segredo de justiça, a Constituição Federal, em seu inciso LX do artigo 5º, determina que "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem".

Ainda, o artigo 93, inciso IX, da Carta Magna define que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;”

O Código de Processo Civil, em seu artigo 155 enumera taxativamente duas exceções ao princípio da publicidade dos atos processuais, quais sejam, nos processos “I - em que o exigir o interesse público; Il - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores.”

Neste sentido é a jurisprudência:

(…) PEDIDO PARA QUE A AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO TRAMITE EM SEGREDO DE JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE. EXEGESE DO ART. 5º, XIV E LX DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 155 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REGRA GERAL CONTIDA NO ART. 93, IX DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. Em regra todos os julgamentos do Poder Judiciário serão públicos, podendo a lei limitar a presença das partes em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 2011.063743-0, de Curitibanos, rel. Des. João Batista Góes Ulysséa, j. 28-02-2012).

Portanto, não deve ser deferido o pedido de tramitação do feito em segredo de justiça sem que haja amparo legal nem circunstância relevante que aconselhe. No caso dos autos, não se discute qualquer matéria, bem assim não há qualquer documento capaz de justificar a restrição ao princípio da publicidade, por esta razão, INDEFIRO a tramitação em segredo de justiça.

Cumpre destacar, por fim, que a presente decisão somente reflete efeitos às pessoas que integram regularmente os sindicatos autores.

CITE-SE com urgência e INTIMEM-SE.

Florianópolis (SC), 30 de outubro de 2013.

Fernando Vieira Luiz Juiz de Direito

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