0504639-15.2016.8.05 - blogdogusmao.com.br · autos do procedimento administrativo simp n....

Ilhéus / 1º Vara da Fazenda Pública

0504639-15.2016.8.05.0103 JUSTIÇA GRATUITA

Classe : Ação Civil Pública Assunto principal : Classificação e/ou Preterição Competência : Fazenda Pública - Atos Administrativos Valor da ação : R$ 1.000,00 Volume : 1 Autor : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA

BAHIA Réu : Município de Ilhéus Distribuição : Sorteio - 24/11/2016 11:36:12

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:18.

fls. 1

8ª Promotoria de Justiça de Ilhéus – BA

Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito da 1ª Vara

da Fazenda Pública da Comarca de Ilhéus, Bahia;

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA , pelo Promotor

de Justiça que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, legitimado nos termos dos artigos 127, caput, e 129, II e III

da Constituição Federal c/c art. 25, IV, ‘a’, da Lei nº 8.625/93 c/c art. 1º, IV e VII, e

art. 5º, I, ambos da Lei 7.347/85 e com respaldo nas inclusas peças extraídas dos

autos do Procedimento Administrativo SIMP n. 001.0.153631/2016 e seu Anexo 2

(SIMP n. 001.0.176204/2016), propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de medida liminar inaudita altera

pars e preceito cominatório de OBRIGAÇÃO DE FAZER e NÃO FAZER

em face do MUNICÍPIO DE ILHÉUS, pessoa jurídica de direito público inter-

no, com sede na Rua Prado Valadares, n. 147, Centro, Ilhéus/BA, pelos fundamen-

tos fáticos e jurídicos a seguir expendidos:

Promotoria Regional de Ilhéus/BA Sede: Avenida Vereador Marcus Paiva, 480, Cidade Nova, Ilhéus/BA, CEP:45.652-050

Telefones: (73) 3231-8091 | (73) 3634-8096 | (73) 3634-6556

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1 – BREVE SÍNTESE DOS FATOS

No dia 30 de junho de 2016, foi realizada reunião entre a alta cúpula da Administra-

ção do Município de Ilhéus e membros do Ministério Público do Estado da Bahia e Ministério

Público do Trabalho, com a finalidade de ajustar o processo de substituição dos servidores

precariamente contratados pelos aprovados no concurso público de 2016, tendo em vista a

necessidade de preservar a continuidade dos serviços públicos prestados.

A fim de promover o acompanhamento e fiscalização do referido processo à luz do

quanto deliberado naquela oportunidade, instaurou-se o incluso Procedimento Administrativo

SIMP n. 001.0.153631/2016, organizado em Anexos para racionalização dos trabalhos a se-

rem desenvolvidos.

Assim, no curso do mencionado procedimento administrativo de acompanhamento,

foi protocolada a Representação SIMP n. 001.0.176204/2016, reportando suposta ilegalida-

de no ato de nomeação da Advogada MARIA STELLA MENEZES CARILLO SILVA para o

cargo de Procurador do Município (Procuradora Tributária), sem que a mesma tivesse logra-

do aprovação no aludido concurso público, fato que estaria violando diversos princípios ju-

rídicos regentes da Administração Pública e preterindo o direito dos candidatos regularmen-

te aprovados no certame.

Referida notícia ensejou a expedição, pela 8ª Promotoria de Justiça de Ilhéus, da Re-

comendação n. 06-09/2016, exortando a Administração Pública a rever, no exercício do seu

dever de autotutela, o impugnado ato de nomeação.

Respondendo aos termos da sobredita Recomendação, a douta Procuradoria Geral

do Município de Ilhéus emitiu Parecer defendendo a legalidade e manutenção do ato questi-

onado, aduzindo, em suma, que: 1) O art. 37, incisos II e V da CF, prevê a coexistência, sem

qualquer relação de primazia entre si, de cargos de provimento efetivo e de provimento em

comissão; 2) Induzido a erro por uma histórica deficiência na estrutura administrativa da

PROGER, o membro do Ministério Público confundiu a prerrogativa do Chefe do Poder Exe-

cutivo de nomeação para cargo em comissão previsto em lei anterior com direito subjetivo


Telefones: (73) 3231-8091 | (73) 3634-8096 | (73) 3634-6556

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daquele aprovado em concurso público para provimento de cargo efetivo; 3) O quadro de

pessoal da PROGER é atualmente composto: 3.1) de 04 (quatro) advogados ingressos em

1985, na iminência da aposentadoria; 3.2) 07 (sete) cargos em comissão criados pela Lei

Municipal n. 3.633/2012, a saber: Procurador-Geral, Sub-Procurador Geral, Procurador Ad-

ministrativo, Procurador do Contencioso, Procurador Tributário, Procurador do Meio Ambien-

te e Trânsito e Procurador Trabalhista.

A partir deste ponto, o douto Procurador Geral parece mudar a orientação de seu opi-

nativo, conduzindo-o no sentido de justificar a manutenção, até o presente, de uma estrutura

reconhecidamente inadequada (e, inclusive, objeto de estudos pela própria PROGER para

sua correção em anteprojeto de lei supostamente ainda em fase de conclusão para posterior

encaminhamento ao Gabinete do Prefeito…).

Diante da resposta do douto Procurador Geral, vislumbrou-se uma situação de irre-

gularidade ainda maior e mais grave do que aquela contida na representação inicial, o que

motivou a ampliação do objeto investigado na forma do já mencionado Anexo 2 ao procedi-

mento principal.

Destarte, a partir do cotejo analítico das provas documentais já carreadas aos autos

com as informações colhidas no sítio eletrônico da Transparência Municipal de Ilhéus, deli-

neou-se o panorama retratado na planilha que se segue:

N° SERVIDOR Matrícula CargoNaturezado1 Cargo

Naturezado Vínculo

AtualLotação

Remuneração

1Otávio Augustus

Carmo003433

ADVOGADO

(Procurador-Geral)

Cargo deNaturezaPolítica

ServidorEfetivo

(admitidoantes de

1988)

PROGERR$

11.196,86

2Marco AurélioLelis de Souza

019680Sub-

ProcuradorGeral

CargoComissiona

do

CargoComissiona

doPROGER R$ 7.150,00

3Itallo Assunção

Cavalcante019647

ProcuradorJurídico

Cargo deNatureza

Técnica deProvimento

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

1 Classificação conforme a Lei Municipal n. 3.728/2015, que, em nosso entendimento,inequivocamente revogou a Lei Municipal n. 3.633/2012, citada pelo douto Procurador Geral comoum dos fundamentos jurídicos do seu Parecer.


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Efetivo

4Maria Stella

Menezes CariloSilva

021271Procurador

Jurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitida

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

5Mesaque

Barboza Soares020683

ProcuradorJurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

6Ricardo Actis

Zaidan021106

ProcuradorJurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

7Silvana Vieira

Lins019671

ProcuradorJurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

8Thiago Nogueira

Lino019664

ProcuradorJurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

9Waldir Franco deCamargo Junior

020744Procurador

Jurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER R$ 4.500,00

10Célia Maria Costa

Passos001251 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

ServidorEfetivo

(admitidoantes de

1988)

PROGERR$

11.555,99

11Eileen Maria T.Lacerda Paixão

001364 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

ServidorEfetivo

(admitidoantes de

1988)

PROGERR$

13.326,64

12Lúcia MargaridaPassos Dórea

001904 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

ServidorEfetivo

(admitidoantes de

1988)

PROGERR$

17.152,54


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13Jair Vicente de

Paula Neto020800 Advogado I

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES R$ 1.500,00

14Daniel Luz

Nabuco020586 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES R$ 2.113,64

15Enio Felipe Daud

Lima020221 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES R$ 1.500,00

16Luciana

Nogueira Lino020928 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES R$ 1.500,00

17Rozana MárciaSantos Silva

020836 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES R$ 1.500,00

18Suzana Beatriz

Almeida O.Gomes Furtunato

020203 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES R$ 1.500,00

19Edvaldo da Silva

Soares050626 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

Secretariade

Administração

R$ 8.884,87

Prosseguindo com as análises, constatou-se que – apesar do compromisso assumi-

do na reunião de 30 de junho de 2016 - o Município seguiu contratando pessoas para car-

gos comissionados, boa parte deles de muito questionável constitucionalidade no que diz

respeito a sua classificação legal como sendo reservados a atribuições típicas de direção,

chefia e assessoramento (Art. 37, inciso v, da CF). Eis a síntese das novas contratações


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para cargos em comissão ocorridas no período de 01 de julho de 2016 e 23 de novembro

de 2016:

N° Servidor Cargo Data de Publicação doAto

1VALDELENITA DE FIGUEIREDO ESPINHEIRA

Dirigente Pedagógica da Escola Municipal Princesa Isabel

22/11/2016

2JANE EVA NASCIMENTO SANTOS DA HORA

Vice-Diretora do CAIC –Darcy Ribeiro

22/11/2016

3FABIO ANTONIO DOS SANTOS BOMFIM

Chefe de Seção de Transporte Escolar

27/10/2016

4GILBERTO DO VALLE BADARÓ Gerente de Serviços

Públicos26/10/2016 e18/10/2016

5JOSÉ FELIX MACHADO JÚNIOR* Chefe de Seção de

Limpeza Pública26/10/2016 e18/10/2016

6NILTON CONCEIÇÃO PEREIRA Chefe de Seção de

Políticas para Fomento da Pesca

26/10/2016

7ANTONIO RAMALHO DOS SANTOS Chefe de Seção de

Segurança do Gabinetedo Prefeito

26/09/2016

8

MARCIA SOUSA DA SILVEIRA Chefe de Setor de Média e de Alta Complexidade Hospitalar

23/09/2016

9ANTONIO PENEDO DOS SANTOS Chefe de Seção de

Fomento14/09/2016

10CLAUDIO VALERIO DOS SANTOS Chefe de Seção de

Apoio ao Programa Bolsa Família

14/09/2016

11FERNANDO REIS DA SILVA Chefe de Seção de

Apoio aos Conselhos Municipais

14/09/2016

12JEZIMIEL OLIVEIRA FERREIRA Chefe de Setor de

Relações Institucionais e Comunitárias

14/09/2016

13EDSON ALVES DO NASCIMENTO Coordenador de

Estatística08/09/2016

14 RENATO VIANA MORENO JÚNIOR Chefe de Seção de Controle Interno de

08/09/2016


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Gestão

15SIMONE DE SOUZA AQUINO Vice-diretora da Escola

Municipal do Salobrinho11/08/2016 e retificada

em 08/09/2016

16JOSE FELIX MACHADO JUNIOR* Gerente de Serviços

Públicos31/08/2016

17RAIMUNDO SANTA CRUZ DE OLIVEIRA

Administrador de Bairro I

31/08/2016

18FRANCISCO SEIXAS SILVA Diretor da Divisão de

Redação30/08/2016

19MARIA ENEILE FIGUEIREDO DA ROCHA RAMOS

Vice diretora da Escola ‐Municipal do Iguape

25/08/2016

20PRISCILA GUIMARÃES COSTA Auditora de Controle

Interno de Gestão Operacional

22/08/2016

21MARIA STELLA MENEZES CARILLO SILVA

Procuradora Tributária11/08/2016 e18/08/2016

22PATRÍCIA BRITO NASCIMENTO Vice-diretora das

Escolas Nucleadas do Japú

11/08/2016

23ALBERTO BISPO DOS SANTOS SOUZA

Dirigente Pedagógico da Escola Municipal Professor Paulo Freire

11/08/2016

24ROSENILDO DOS SANTOS Administrador Regional

III25/07/2016

25ALESSANDRO CORREIA DA SILVA Administrador Regional

III15/07/2016

26WELINGTON SILVA DOS SANTOS Chefe de Seção de

Transporte Escolar12/07/2016

27CARLOS RIBEIRO BATISTA SANTOS Administrador Regional

III11/07/2016

28JOSE MANOEL MOREIRA DOS SANTOS

Chefe de Seção de Fomento

07/07/2016

29CARLOS ALBERTO FRANÇA DE OLIVEIRA

Diretor de Ação Social 06/07/2016

30CLAYTON OLIVEIRA CAMPOS Administrador Regional

III06/07/2016

31DANIEL BONE DOS SANTOS CONCEIÇÃO

Administrador Regional III

06/07/2016

32 GILSON SANTOS LEAL Chefe de Setor de

Estradas Vicinais06/07/2016

33 JOSE CARLOS DE SOUZA BARRETO Chefe de Seção de 06/07/2016


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Fiscalização das Estruturas Físicas das Unidades

34LUCAS LISBOA COSTA Administrador de Bairro

II06/07/2016

35PAULO CESAR GUSTAVO DE ARAGÃO Diretor da Divisão de

Fomento Cultural06/07/2016

36RONILDO DOS SANTOS COSTA Administrador Regional

III06/07/2016

37WALMARY PEREIRA SOUZA Diretora da Divisão de

Programas de Cidadania

06/07/2016

38

FABIO ANTONIO DOS SANTOS BOMFIM

Chefe de Seção de Fiscalização das Estruturas Físicas das Unidades

01/07/2016

39RICHARD STEIN FERRAZ Administrador Regional

III01/07/2016

Diante do entendimento esposado pelo Município de Ilhéus com fundamento no

citado Parecer Técnico da Procuradoria-Geral, no sentido de manutenção dos vínculos

jurídicos com os Advogados/Procuradores - medida que, permissa venia, reputamos

contrária ao ordenamento jurídico -, outra alternativa não restou senão trazer a questão à

apreciação do Poder Judiciário.

2 – DOS ASPECTOS JURÍDICOS

2.1 – O regime jurídico estabelecido para o provimento de cargos na Adminis-

tração Pública

Conforme já narrado, o douto Procurador Geral do Município aduz em seu Parecer

Técnico que inexiste relação de hierarquia ou precedência entre as espécies de cargos pú-

blicos para a Administração Pública, coexistindo sem primazia ou preferência os cargos de

provimento efetivo pela via do concurso público e os cargos em comissão de livre nomeação

pela autoridade administrativa competente. Permissa venia, não é o que diz o sistema nor-

mativo constitucional.


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Com efeito, em seu art. 37, incisos II e V, consagra a Constituição Federal a regra do

concurso público para o acesso aos cargos; regra, esta, apenas excepcionada pela admis-

são de cargos em comissão de livre nomeação/exoneração nas estritas hipóteses ligadas a

atribuições de direção, chefia e assessoramento. Vejamos:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali-

dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (destaquei)

III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;

IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovadoem concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira;

V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes decargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (destaquei)

Dito de outro modo: fora daquelas hipóteses excepcionais (e, portanto, de restrita in-

terpretação), o acesso aos cargos públicos deve se dar, preferencialmente, através de vín-

culo jurídico efetivo e pela via do concurso público, em obséquio aos princípios da impesso-

alidade e da moralidade previstos no caput do dispositivo transcrito como princípios nortea-

dores da Administração Pública Nacional. Esta é a conclusão que se chega a partir da inter-

pretação literal do texto constitucional, que, de rigor, encontra plena consonância com o

princípio republicano consagrado logo no primeiro artigo da Constituição Federal.

Mais: é tamanha a preocupação do Constituinte com a observância deste sistema,

que assim dispôs no § 2° do mesmo art. 37:


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“§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a

punição da autoridade responsável, nos termos da lei”.

Outro não é o entendimento da Suprema Corte Brasileira, cristalizado em diversos

julgados:

“O Supremo Tribunal Federal firmou sólida jurisprudência no sentido de

que o art. 37, II, da CF rejeita qualquer burla à exigência de concurso pú-

blico. Há diversos precedentes em que a tônica é a absoluta impossibilidade

de se afastar esse critério de seleção dos quadros do serviço público (cf. ADI

2.689, rel. min. Ellen Gracie, Pleno, j. 9-10-2003; ADI 1.350-MC, rel. min. Cel

so de Mello, Pleno, j. 27-9-1995; ADI 980-MC, rel. min. Celso de Mello, Pleno,

j. 3-2-1994); ADI 951, rel. min. Joaquim Barbosa, Pleno, j.18-11-2004), até

mesmo restringindo possíveis ampliações indevidas de exceções contidas na

própria Constituição, a exemplo do disposto no art. 19 do ADCT (cf. ADI

1.808-MC, rel. min. Sydney Sanches, Pleno, j.1º-2-1999). O rigor na interpre-

tação desse dispositivo constitucional impede inclusive formas de provimento

derivado de cargo público, por ascensão interna. [ADI 3.434 MC, voto do rel.

min. Joaquim Barbosa, j. 23-8-2006, P, DJ de 28-9-2007.] Vide: ADI 336, rel.

min. Eros Grau, j. 10-2-2010, P, DJE de 17-9-2010]”

“Ofende o disposto no art. 37, II, da CF norma que cria cargos em comissão

cujas atribuições não se harmonizam com o princípio da livre nomeação e

exoneração, que informa a investidura em comissão. Necessidade de

demonstração efetiva, pelo legislador estadual, da adequação da norma aos

fins pretendidos, de modo a justificar a exceção à regra do concurso público

para a investidura em cargo público. [ADI 3.233, rel. min. Joaquim Barbosa, j.

10-5-2007, P, DJ de 14-9-2007.]”

“Violação ao art. 37, II e V, da Constituição. Os cargos em comissão criados

pela Lei 1.939/1998, do Estado de Mato Grosso do Sul, possuem atribui-

ções meramente técnicas e que, portanto, não possuem o caráter de as-

sessoramento, chefia ou direção exigido para tais cargos, nos termos


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http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=614230

http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=488660&codigoClasse=555&numero=3434&siglaRecurso=MC&classe=ADI

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347279








do art. 37, V, da CF. Ação julgada procedente. [ADI 3.706, rel. min. Gilmar

Mendes, j. 15-10-2007, P, DJ de 5-10-2007.] AI 309.399 AgR, rel. min. Dias

Toffoli, j. 20-3-2012, 1ª T, DJE de 23-4-2012.”

“O respeito efetivo à exigência de prévia aprovação em concurso públi

co qualifica-se, constitucionalmente, como paradigma de legitimação

ético-jurídica da investidura de qualquer cidadão em cargos, funções ou

empregos públicos, ressalvadas as hipóteses de nomeação para cargos

em comissão (CF, art. 37, II). A razão subjacente ao postulado do concur-

so público traduz-se na necessidade essencial de o Estado conferir efetivida

de ao princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei, sem dis

tinção de qualquer natureza, vedando-se, desse modo, a prática inaceitá

vel de o Poder Público conceder privilégios a alguns ou de dispensar trata

mento discriminatório e arbitrário a outros. [ADI 2.364 MC, rel. min. Celso de

Mello, j. 1º-8-2001, P, DJ de 14-12-2001.] ADI 2.113, rel. min. Cármen Lú-

cia, j. 4-3-2009, P, DJE de 21-8-2009”.

Por outro lado, a rigor, os precedentes utilizados pelo Procurador-Geral não se pres-

tam a sustentar a sua tese jurídica, posto que todos eles se resolvem no âmbito fático-pro-

batório das pretensões sobre as quais se debruçam.

Mas a regra do concurso público e a correlata primazia dos cargos de provimento

efetivo sobre aqueles de provimento em comissão também é – como não poderia deixar de

ser – adotada pela ordem jurídica municipal. Assim o faz a Lei Orgânica do Município em

diversas passagens. Vejamos aquela que mais de perto interessa à presente demanda:

“Art. 93 - O ingresso na carreira de Procurador Municipal far-se-á mediante concurso

público de prova e títulos, assegurada a participação da sub-seção de Ilhéus, da Or-

dem dos Advogados do Brasil em sua realização, inclusive na elaboração do progra-

ma e quesitos das provas, observadas, nas nomeações, a ordem de classificação”.

(destaquei)

Portanto, data venia, o entendimento perfilhado pelo douto Procurador Geral para

justificar uma estrutura organizacional composta exclusivamente de cargos comissionados

para o exercício de atividade de natureza técnica não encontra amparo no ordenamento


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http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1931906

http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=489862&pgI=1&pgF=100000


jurídico. Aliás, como será visto a seguir, sequer existe, no momento presente, tal estru-

tura nestes moldes defendidos pelo PGM.

2.2 – Da verdadeira estrutura jurídico-organizacional da Procuradoria Geral do

Município de Ilhéus - PROGER

No “primeiro momento” de seu Parecer Técnico, o douto Procurador Geral apresenta,

como modelo atual da estrutura organizacional da PROGER, aquele que lhe era conferido

pela revogada Lei Municipal n. 3.633/20122, composta por 07 (sete) cargos em comissão

criados, a saber: Procurador Geral, Sub-Procurador Geral, Procurador Administrativo, Procu-

rador do Contencioso, Procurador Tributário, Procurador do Meio Ambiente e Trânsito e Pro-

curador Trabalhista, quadro reforçado por outros 04 (quatro) advogados ingressos em 1985,

estes já na iminência da aposentadoria.

Como já visto, o douto Procurador Geral parte deste pressuposto – o de que os car-

gos atualmente existentes na estrutura organizacional da PROGER são de provimento em

comissão, tal como previsto na Lei Municipal n. 3.633/2012 – para sugerir um “equívoco in-

terpretativo” por parte deste membro do Parquet quando da expedição da Recomendação n.

06-09/2016.

Contudo, data venia, não houve “equívoco interpretativo” e nem “confusão” por parte

deste Promotor de Justiça envolvendo a “prerrogativa do Chefe do Poder Executivo de no-

meação para cargo em comissão previsto em lei anterior e o direito subjetivo daquele

aprovado em concurso público para provimento de cargo efetivo”.

Isto porque o douto Procurador-Geral se utilizou de uma Lei Municipal já revo-

gada para justificar o seu entendimento e orientar o Município a persistir na ilegalida-

de constatada pelo Parquet.

2 Esta Lei, composta de 73 artigos, dispunha sobre a Estrutura Organizacional da PrefeituraMunicipal de Ilhéus até ser, nos termos do art. 2°, § 2° da Lei de Introdução às normas do DireitoBrasileiro (LICC, Decreto-Lei n. 4.657/1942), totalmente revogada pela Lei Municipal n. 3.728, de22 de abril de 2015, que, a par de tratar inteiramente da Estrutura Organizacional da PrefeituraMunicipal de Ilhéus também em idênticos 73 artigos, revogou expressamente a Lei Municipal3.633/2012 em seu art. 74.


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Com efeito, a Lei Municipal n. 3.728, de 22 de abril de 2015, com redação quase

que idêntica à Lei Municipal 3.633/2012, tratou inteiramente da Estrutura Organizacional da

Prefeitura Municipal de Ilhéus, diferindo da lei revogada basicamente em dois detalhes: 1)

modificou a natureza jurídica de diversos cargos da Administração Pública, reade-

quando-os à normatividade constitucional; e 2) pelo fato de ter apenas um artigo a

mais que a Lei 3.633/2012, justamente o art. 74 que revoga expressamente este último

diploma legal.

Assim, ao estabelecer a nova formatação da estrutura organizacional da Procurado-

ria Geral do Município, a Lei Municipal 3.728/2015 repete integralmente o texto da revogada

Lei Municipal n. 3.633/2012 (nos mesmos artigos, inclusive: 28 e 29 em ambas)3, fazendo

remissão aos Anexos I e II, onde constam as informações sobre a quantidade e natureza ju-

rídica dos cargos. E a substancial modificação da nova lei reside justamente neste pon-

to: na correção da natureza jurídica dos cargos essencialmente técnicos da PROGER.

Deveras, não houve alteração na quantidade e denominação dos cargos, que perma-

neceram os mesmos da lei anterior, ou seja: 01 cargo de Procurador-Geral, 01 cargo de

Sub-Procurador Geral e 07 cargos de Procurador Jurídico. Modificou-se apenas a nature-

za jurídica destes últimos, que deixaram de ser cargos em comissão para se tornar

cargos de natureza técnica e provimento efetivo, a serem providos mediante concurso

público, na forma do já transcrito art. 93 da Lei Orgânica do Município.

É, data venia, a óbvia conclusão que se extrai da simples leitura dos Anexos I e II da

Lei Municipal n. 3.728/2015:

3 Art. 28. O detalhamento das atribuições da Procuradoria Geral do Município de Ilhéus será objetode regulamentação por Decreto, que deverá ser editado no prazo de 90 (noventa) dias após a entradaem vigor desta Lei.Art. 29. A Procuradoria Geral do Município de Ilhéus tem a sua estrutura organizacional definidaconforme Anexo 1 desta Lei.

§ 1º. Os cargos vinculados à Procuradoria Geral, descritos no Anexo 1, são diretamentesubordinados ao Procurador Geral do Município.

§ 2º. Os cargos de provimento em comissão da Procuradoria Geral do Município, com suasdenominações, símbolos, número de vagas e níveis de vencimentos são os constantes dos Anexos 1e 2 desta Lei.


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ANEXO I – Lei 3.728, de 10 de abril de 2015.

PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO

UNIDADE CARGO (Um) SÍMBOLO

Procuradoria Geral Procurador Geral CNP

Sub-Procuradoria Geral Sub-Procurador Geral CC-I

Procuradoria Administrativa Procurador CNT-I

Procuradoria Tributária Procurador CNT-I

Procuradoria Trabalhista Procurador CNT-I

Procuradoria de ExecuçãoTrabalhista

Procurador CNT-I

Procuradoria do ContenciosoCível

Procurador CNT-I

Procuradoria do MeioAmbiente e Trânsito

Procurador CNT-I

Procurador da Saúde Procurador CNT-I

ANEXO II – Lei 3.728, de 10 de abril de 2015.

TABELA DE SÍMBOLO E VALORES

SÍMBOLO DENOMINAÇÃO

CNP Cargo de Natureza Política

CNT-I Cargo de Natureza Técnica

CPA Cargo de Presidência na Administração Indireta

CNT-II Cargo de Natureza Técnica II

CNT-III Cargo de Natureza Técnica III

CC Cargo Comissionado

FG Função Gratificada

Ora, Excelência. Analisando a tabela de símbolos do Anexo II, verifica-se que o Car-

go de Natureza Técnica - CNT não se confunde com o Cargo Comissionado – CC, posto

que diferenciados pelo legislador municipal. Isto posto, tem-se que: 1) dispõe o § 2° do art.

29 da Lei Municipal 3.728/2015 que “os cargos de provimento em comissão da Procuradoria

Geral do Município, com suas denominações, símbolos, número de vagas e níveis de venci-


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mentos são os constantes dos Anexos 1 e 2 desta Lei”; 2) o Anexo 2 identifica os símbolos e

respectivas denominações; 3) o Anexo 1 discrimina, por órgão/unidade administrativa, a

quantidade de cada espécie de cargo que lhe compõe a estrutura. Assim, voltando ao Anexo

1 no caso da Procuradoria Geral do Município, temos em sua atual estrutura apenas 02

(dois) cargos de livre nomeação/exoneração pelo Chefe do Poder Executivo local: o cargo

de Procurador Geral, de natureza política (símbolo CNP) e o cargo de Sub-Procurador Ge-

ral, cargo comissionado (símbolo CC). Os demais cargos de Procurador Jurídico, outrora

de natureza comissionada, passaram a ser de natureza técnica, na esteira de pacífica

jurisprudência e do próprio espírito constitucional. Eis a única (porém, substancial)

mudança operada pela Lei Municipal 3.728/2015 na estrutura da PROGER; mudança ig-

norada pelo douto Procurador Geral em seu Parecer Técnico, que orientou a Administração

Municipal a manter o ato ilegal de nomeação objeto da Recomendação n. 06-09/2015.

Houve, portanto, o apontamento pelo Ministério Público, na Recomendação n. 06-

09/2016, de uma ilícita nomeação para cargo público de provimento efetivo sem prévia

aprovação em concurso público . Esta é a inafastável conclusão, data venia , a que se

chega mediante o simples cotejo entre os Decretos de exoneração e nomeação de MARIA

STELLA MENEZES CARILLO SILVA com o texto da Lei Municipal n. 3.728/2015 e seus Ane-

xos: os Decretos referem expressamente o cargo de Procuradora Tributária e o respectivo

Símbolo CNT-I , ambos em estrita consonância com a nova organização da PROGER confe-

rida pela mencionada Lei.

Portanto, Excelência, ao contrário do defendido pelo douto Procurador Geral

em seu Parecer, os 07 (sete) cargos de Procurador Jurídico previstos pela Lei Munici-

pal n. 3.728/2015 são de natureza técnica de provimento efetivo mediante aprovação

em concurso público, revestindo-se, a nomeação da Advogada MARIA STELLA (bem as-

sim a manutenção de todos os demais Advogados/Procuradores Jurídicos em semelhante

situação, seja daqueles vinculados diretamente à PROGER, seja daqueles destacados para

assistência jurídica na Secretaria de Desenvolvimento Social e na Secretaria de Administra-

ção, conforme tabela de fls. 03/05 deste petição), de induvidosa ilegalidade.


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Mas, como será adiante visto, a estrutura da PROGER foi incrementada pela Lei Mu-

nicipal n. 3.761/2015, que criou outros 08 (oito) novos cargos de Procurador Jurídico, como

reconheceu o próprio Procurador Geral à fl. 03 de seu Parecer.

2.3 – Dos Pressupostos para o Provimento dos Cargos de Procurador na Forma

Vindicada

É cediço que quatro são os pressupostos jurídicos necessários para legitimar o regu-

lar ato de nomeação para cargo de provimento efetivo: existência de cargos criados por lei

na estrutura administrativa, existência de candidatos aprovados em concurso com prazo de

validade vigente, necessidade (declarada ou demonstrada) da Administração Pública e pos-

sibilidade financeira/orçamentária do Ente Público. Vejamos cada um deles.

2.3.1 – Da existência de Vagas Criadas Por Lei

Consoante visto, a Lei Municipal n. 3.728/2015 (que dispõe sobre a Estrutura Orga-

nizacional da Prefeitura Municipal de Ilhéus) prevê a existência de 07 (sete) cargos de Pro-

curador Jurídico na estrutura da PROGER, todos de natureza técnica para provimento efe-

tivo.

Posteriormente, a Lei Municipal n. 3.761, de 21 de dezembro de 2015 (que dispõe

sobre a criação de cargos permanentes na estrutura do Município de Ilhéus), criou mais 08

(oito) cargos de Procurador Jurídico, consoante consignado em seu Anexo I. Portanto,

atualmente, tem-se um total de 15 (quinze) cargos técnicos de Procurador Jurídico cri-

ados por lei (além dos cargos de Procurador Geral e Sub-Procurador Geral).

2.3.2 – Da existência de candidatos aprovados em concurso vigente

Conforme lista de aprovados carreada aos autos, há um total de 129 candidatos

classificados no concurso público de 2016, homologado em 01 de julho de 2016.

2.3.3 – Da Necessidade/Demanda Atual da Administração


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Embora a Administração Pública de Ilhéus tenha declarado a necessidade de apenas

04 (quatro) vagas no Edital, certo é que a situação identificada nos autos revela/demonstra

uma necessidade real e presente muito maior.

Deveras, além do Procurador Geral e do Sub-Procurador Geral (ambos de livre no-

meação), exercem atualmente a função de Advogado/Procurador Jurídico na estrutura da

PROGER: 03 (três) Advogados estáveis (porque ingressos antes da Constituição de 1988) e

14 (catorze) Advogados/Procuradores Jurídicos, sendo que, destes, 06 (seis) exercem fun-

ções de assistência jurídica gratuita aos necessitados perante a Secretaria de Desenvolvi-

mento Social, nos termos do Art. 94 da Lei Orgânica (inserido topologicamente dentro da

Seção que trata da PROGER) e 01 (um) cedido à Secretaria de Administração.

2.3.4 – Da Possibilidade Financeira do Ente Público

No penúltimo parágrafo da fl. 03 de seu Parecer, o Procurador Geral afirma/reconhe-

ce que quatro das oito vagas criadas pela Lei Municipal n. 3.761/2015 são “passíveis de

preenchimento diante das atuais possibilidades financeiras e orçamentárias da comuna”

(destaquei).

Contudo, além dessas quatro novas vagas mencionadas pelo Procurador Geral,

foi visto no item anterior que 14 (catorze) Advogados/Procuradores Jurídicos exercem irre-

gularmente a função, ocupando ilicitamente os cargos de provimento efetivo que deveriam

ser providos pelos candidatos aprovados para o cargo de Procurador, o que evidencia não

apenas a necessidade de profissionais, mas também a disponibilidade financeira do Ente

Público de arcar com a correlata despesa.

Neste ponto, certamente o Município alegará que “a conta da substituição dos ilicita-

mente contratados pelos concursados não fecha”, pois a remuneração prevista para os con-

cursados é superior àquela paga aos contratados, o que importaria em aumento da despesa

de pessoal para além dos limites impostos na Lei de Responsabilidade Fiscal, argumento

utilizado pela Administração Pública de Ilhéus ao sabor de suas conveniências: ignora tais li-

mites quando continua contratando pessoas para os “pseudo cargos em comissão” (confor-

me tabela de fls. 06/08 desta inicial), mas os invoca como eterno obstáculo à nomeação de

candidatos concursados.


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Ademais do exposto, certo é que os limites de responsabilidade fiscal impostos pela

LC 101/2000 não precisam ser necessariamente verificados em cada órgão/unidade admi-

nistrativa do Município, que poderá (em verdade, deverá) promover os ajustes necessários à

correção da ilegalidade evidenciada nos inclusos autos através de cortes/ajustes em outras

unidades/órgãos da Administração Pública, a exemplo da Secretaria de Desenvolvimento

Social do Município de Ilhéus, que, conforme documento anexado aos autos que escoltam

esta inicial, possui uma verdadeira legião de contratados para “cargos comissionados”.

Entendimento diverso significaria, permissa venia, anuir ao “círculo interpretativo vici-

oso” utilizado pela Administração Pública de Ilhéus sempre que lhe é conveniente: não pode

contratar concursados porque a medida importa elevação dos gastos de pessoal, que histo-

ricamente já ultrapassam os limites da LRF; mas também não enxuga a folha de pessoal

exonerando os comissionados na forma preconizada pelo art. 23 da mencionada LRF e art.

169 da CF, o que perpetua a alegada impossibilidade financeira de cumprimento da vontade

constitucional estampada no art. 37 da CF.

Neste sentido, confira-se trecho do voto condutor do acórdão proferido pelo STF nos

autos da Reclamação Constitucional n. 17601/DF:

“[…] Mostra-se igualmente inadequado o argumento da impossibilidade de

contração mediante concurso público, em razão do atingimento do limite pru-

dencial de gastos com servidores. Isto porque, nessa hipótese, a Constituição

e a Lei de Responsabilidade Fiscal preveem como medida emergencial a ve-

dação ao provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a�

qualquer título, ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou faleci-

mento de servidores das áreas de educação, saúde e segurança (art. 22, IV, �

da LC nº 101/2000). Ademais, a Constituição prioriza, quando ultrapassado o

limite máximo previsto na LRF, a manutenção de servidores efetivos, e não os

dos quadros comissionados, cujas despesas devem ser reduzidas a pelo me-

nos vinte por cento (art. 169, § 3º, I, da CRFB/88). Assim, não encontra qual-

quer respaldo jurídico-fiscal ou lógico a alegação de que a contratação de

servidores comissionados vem a priorizar o equilíbrio atuarial. Em verdade, a

situação narrada, se verídica, aponta para o descumprimento da LRF, já que

o limite prudencial de gastos com servidores teria sido atingido em 2013 e as

novas nomeações ocorreram no primeiro quadrimestre de 2014. […] (STF -


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Rcl: 17601 DF, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento:

11/12/2014, Data de Publicação: DJe-246 DIVULG 15/12/2014 PUBLIC

16/12/2014)”.

2.3.5 – Das Considerações Finais

Ante o exposto, Excelência, penso não haver dúvida quanto ao acerto da medida ora

vindicada, haja vista demonstrados todos os seus pressupostos: 1) a ilegalidade do vínculo

dos atuais 14 (catorze) profissionais jurídicos com a Administração Pública, que ocupam

precariamente cargos técnicos de provimento efetivo, destinados a aprovados em concurso

público; 2) a existência de 15 (quinze) cargos de Procurador Jurídico criadas por lei; 3) a

necessidade atual demonstrada de, pelo menos, 14 (catorze) profissionais concursados

(número correlato à quantidade daqueles que ocupam ilicitamente os cargos de Procurador

Jurídico); 3) a possibilidade financeira do Município, consubstanciada no dispêndio com os

contratados irregularmente e na existência de centenas de pessoas contratadas também ir-

regularmente em outras unidades administrativas; 4) a existência de candidatos aprovados

em concurso público vigente para os cargos em questão.

Ademais, para além da questão jurídica, a medida encerra igualmente forte con-

teúdo ético e se afigura, no plano teórico, fundamental para o aprimoramento da pró-

pria Administração Pública, tendo em vista as relevantíssimas funções a cargo da

Procuradoria Geral do Município. Com efeito, dotados de maior autonomia para o

exercício de suas funções em razão da estabilidade do vínculo jurídico, profissionais

concursados tendem a ser mais Procuradores do Município e menos Procuradores da

Administração ou, ainda mais lamentável, Procuradores de Administradores...

3 – DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO INAUDITA ALTERA PARS DE TU-

TELA LIMINAR

A Lei n. 7.347/85 prevê, em seu art. 12, a possibilidade de tutela liminar em sede de

ação civil pública, nos seguintes termos:


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“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem prévia

justificação, em decisão sujeita a agravo”.

Isto posto, verifica-se, no caso dos autos, a presença dos requisitos indispensáveis

ao deferimento da tutela liminar, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.

Com efeito, a demanda versa sobre questão essencialmente jurídica, encontrando-se

respaldada em prova documental suficiente e idônea à prova dos fatos alegados; ademais, a

fundamentação jurídica acima exposta demonstra o acerto da tese jurídica veiculada na ini-

cial, estando, portanto, satisfeito este primeiro requisito da tutela de urgência.

De seu turno, igualmente presente o periculum in mora, estando este evidenciado

no grave dano de dificílima reparação ao interesse público, diariamente renovado pela ocu-

pação ilícita de cargos públicos de provimento efetivo por pessoas que não tiveram sua ca-

pacidade técnica experimentada em concurso público, prejudicando a eficiência do serviço

prestado também em razão da ausência de autonomia decorrente da precariedade do víncu-

lo jurídico com a Administração.

4 – DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer o Ministério Público do Estado da Bahia:

4.1 - A concessão inaudita altera pars da tutela liminarmente pleiteada

(ou, se assim não entender este MM Juízo, que conceda a liminar após a

oitiva do representante judicial do Ente Público demandado no prazo le-

gal), para, declarando a ilegalidade dos vínculos indicados na tabela abai-

xo, determinar, sob pena de multa diária a ser arbitrada no valor de R$

10.000,00 (dez mil reais) por dia de ilícita manutenção dos vínculos ora

questionados para além dos prazos a seguir indicados (estritamente ne-

cessários à operacionalização do processo de substituição sem prejuízo

ao serviço público, tendo em vista os prazos legais de posse e exercício

previstos, respectivamente, no art. 29 e 32, ambos na Lei Municipal n.

3.760/20154), medida de coerção a ser solidariamente suportada pelo

4 “Art. 29. Posse é a investidura em cargo público e aceitação expressa das atribuições, deveres eresponsabilidades inerentes ao cargo, com o compromisso de bem servir, formalizada com a


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Município e pessoalmente pelo Gestor Público responsável pelo ato

(que deverá ser pessoalmente notificado), o que deverá ocorrer na for-

ma dos subitens que se seguem:

N° SERVIDOR Matrícula CargoNaturezado5 Cargo

Naturezado

VínculoAtual

Lotação

1Itallo

AssunçãoCavalcante

019647Procurador Jurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER

2Maria Stella

MenezesCarilo Silva


Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitida

semconcurso)

PROGER

3MesaqueBarbozaSoares


Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER

4Ricardo Actis

Zaidan021106

Procurador Jurídico

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER

5Silvana Vieira

Lins019671


Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER

assinatura do termo pela autoridade competente e pelo empossando. § 1º A posse ocorrerá no prazo de 30 (trinta) dias contados da publicação do ato de

provimento, prorrogável por 30 (trinta) dias, a requerimento do interessado e a critério daautoridade competente”.

Art. 32. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições do cargo.§ 1º É de 30 (trinta) dias o prazo para o servidor entrar em exercício, contados:I – da data da assinatura do termo de posse”.

5 Classificação conforme a Lei Municipal n. 3.728/2015, que, em nosso entendimento, inequivocamente revogou a Lei Municipal n. 3.633/2012, citada pelo douto Procurador-Geral comoum dos fundamentos jurídicos do seu Parecer.


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6Thiago

Nogueira Lino019664


Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER

7Waldir Francode Camargo

Junior020744


Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

PROGER

8Jair Vicente

de Paula Neto020800

AdvogadoI

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES

9Daniel Luz

Nabuco020586 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES

10Enio FelipeDaud Lima

020221 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES

11Luciana

Nogueira Lino020928 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES

12RozanaMárcia

Santos Silva020836 Advogado

Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES

13 SuzanaBeatriz

Almeida O.Gomes

Furtunato

020203 Advogado Cargo deNatureza


Efetivo

Precário(admitido

semconcurso)

SEDES

14 Edvaldo daSilva Soares

050626 Advogado Cargo deNatureza

Precário(admitido

Secretariade


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Efetivo

semconcurso)

Administração

4.1.1) Numa primeira etapa, a Administração Pública deverá nomear

imediatamente, após a notificação da decisão, 07 (sete) candidatos apro-

vados no concurso público de 2016 para cargo de Procurador do Municí-

pio (observada a ordem de classificação) para as vagas atualmente ocu-

padas pelos Advogados/Procuradores acima indicados, cujos

contratos/vínculos (declarados ilícitos por Vossa Excelência) deverão ser

extintos de forma contemporânea à entrada em exercício de cada candi-

dato nomeado neste primeiro momento, que deverá ocorrer no prazo

máximo de 60 (sessenta) dias após a notificação da decisão liminar;

4.1.2) Numa segunda etapa, que terá início no dia seguinte à entrada em

exercício do 7° candidato nomeado ou no dia útil imediatamente posterior

aos 60 (sessenta) dias referidos no subitem antecedente, deverão ser no-

meados os 07 (sete) candidatos restantes (conforme ordem de classifi-

cação) para as vagas ocupadas pelos Advogados/Procuradores remanes-

centes, cujos contratos/vínculos (declarados ilícitos por Vossa Excelência)

deverão ser extintos de forma contemporânea à entrada em exercício de

cada candidato nomeado neste segundo momento, que deverá ser finali-

zado no prazo máximo de 60 (sessenta) dias após o segundo ato de no-

meação; 4.1.3) Para a hipótese de não-provimento da totalidade dos car-

gos disponibilizados na primeira etapa de nomeações (Subitem 4.1.1), as

vagas remanescentes deverão ser oferecidas juntamente com as vagas

da segunda etapa de nomeações (Subitem 4.1.2); 4.1.4) Ao final da se-

gunda etapa de nomeações (Subitem 4.1.2), restando cargos não provi-

dos dentre os 14 (catorze) disponibilizados, deverá haver, de forma imedi-

ata, a nomeação de candidatos na quantidade necessária ao total provi-

mento dos cargos remanescentes, obedecendo-se a mesma lógica e pra-

zos especificados nos subitens anteriores;


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4.2 - A citação do requerido na pessoa do seu Representante Judicial para,

querendo, contestar os termos da presente demanda no prazo de lei, sob

pena de aplicação dos efeitos da revelia;

4.3 - O julgamento procedente da presente demanda para, confirmando

os efeitos da tutela liminar pleiteada, determinar que o Município promova

a total substituição dos Advogados/Procuradores de vínculo ilícito e precá-

rio por candidatos concursados dentro dos prazos indicados e observada

a ordem de classificação no concurso público de 2016, e, ainda, que:

4.3.1) o Município de Ilhéus (seja através da atual, seja através da próxi-

ma Gestão) se abstenha de admitir/nomear, para Cargos de Natureza

Técnica/provimento efetivo, Advogados/Procuradores que não estejam re-

gularmente aprovados em concurso público, sob pena de multa diária a

ser arbitrada no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por dia de manuten-

ção dos vínculos ilícitos, medida de coerção a ser solidariamente su-

portada pelo Município e pessoalmente pelo Gestor Público respon-

sável pelo ato (que deverá ser pessoalmente notificado);

4.4 - a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, especial-

mente, a prova documental, pericial, o depoimento pessoal dos requeridos

através de seus representantes legais, requerendo, desde logo, seja de-

terminada a juntada, pelo Ente Demandado, de cópia dos contratos de

trabalho ou termo de posse das pessoas indicadas na planilha inserida no

item 4.1.1;

4.5 - a condenação do requerido no ônus da sucumbência.

Dá à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

I lhéus, 23 de novembro de 2016.

Frank Monteiro Ferrari

Promotor de Justiça


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