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Agosto 2003 | Galileu | 45 N o começo é só uma árvore, um pouco de capim, um caramujo ou um coelho. Aos poucos eles se multiplicam e, de repente, tomam conta do ambiente. Assim, de forma silen- ciosa e, em alguns casos, devastadora, ocorre a in- vasão biológica de espécies exóticas, considerada hoje uma das principais causas da extinção das na- tivas. Isso ocorre quando animais, plantas ou mi- croorganismos de um determinado lugar são leva- dos para outro onde não há predadores para limitar sua população. Sem esse controle, eles afetam o ambiente, a economia e a saúde do homem. Algu- mas das pragas que mais infestam o Brasil são a árvore pinus, o caramujo gigante africano, trazido ao país como iguaria, e o mexilhão, que é transpor- tado na água de lastro dos navios. LARA LIMA D O S S I Ê

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No começo é só uma árvore, um pouco decapim, um caramujo ou um coelho. Aospoucos eles se multiplicam e, de repente,

tomam conta do ambiente. Assim, de forma silen-ciosa e, em alguns casos, devastadora, ocorre a in-vasão biológica de espécies exóticas, consideradahoje uma das principais causas da extinção das na-tivas. Isso ocorre quando animais, plantas ou mi-

croorganismos de um determinado lugar são leva-dos para outro onde não há predadores para limitarsua população. Sem esse controle, eles afetam oambiente, a economia e a saúde do homem. Algu-mas das pragas que mais infestam o Brasil são aárvore pinus, o caramujo gigante africano, trazidoao país como iguaria, e o mexilhão, que é transpor-tado na água de lastro dos navios.

LARA LIMA

D O S S I Ê

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D O S S I Ê

Livres de seus predadores n

ALGUNS ANIMAIS E PLANTAS “ALIENÍGENAS” NO PAÍS

EucaliptoEspécie plantada para

fornecer madeira ecelulose infesta áreas

das plantas nativas

FAUNA ORIGEMCaramujo gigante africano (Achatina fulica) ÁfricaCarpa (Cyprinus carpio) Japão, China e Ásia CentralTilápia (Oreochromis mossambicus) ÁfricaRã-touro (Rana catesbiana) Estados UnidosJavali (Sus scrofa) EuropaMosquito da dengue (Aedes aegypti) Áreas tropicais e subtropicais do mundoMexilhão dourado (Limnoperma fortunei) China e Sudeste da ÁsiaCamarão gigante (Macrobrachium rosenbergii) Malásia

FLORA ORIGEMPinus spp. Estados UnidosAcácia-negra (Acacia mearnsii) AustráliaTojo (Ulex europaeus) Europa OcidentalLeucena (Leucaena leucocephala) México, América Central e CaribeEucalipto (Eucalyptus spp. ) AustráliaCapim annoni (Eragrostis plana) ÁfricaUva do Japão (Hovenia dulcis) China e JapãoNim (Azadirachta indica) Índia

Desde que o mundo é mundo, plantas eanimais são carregados de um ambiente paraoutro na natureza, seja por meios naturais, sejapelas atividades inventadas pela civilização. E,na maioria das vezes, essa troca de espécies éinofensiva. Quem se incomoda em ter no fun-do do quintal um inocente pé de maçã? Cer-tamente, ninguém. Originária da China, a ma-cieira é uma das tantas espécies exóticas quese adaptaram “silenciosamente” no Brasil,sem provocar danos. Ocorre que, com o usocada vez mais intenso dos meios de transpor-te, um pequeno, mas significativo, percentualde espécies exóticas resultou em “barulhen-tas” invasões biológicas.

Também chamada de poluição biológica, acontaminação ocorre sempre que uma planta,um animal ou um microorganismo de um ou-tro hábitat ocupa determinado ambiente e ex-pulsa espécies nativas. Esta definição é da en-genheira florestal Sílvia Renate Ziller, douto-ra em conservação da natureza, que há seisanos atua no diagnóstico, prevenção e contro-

le de invasões biológicas. “Uma porção bempequena das exóticas faz um estrago muitogrande. Esta não é uma questão de número, esim de capacidade de invasão e ocupação deterritório”, esclarece a especialista.

As espécies exóticas com potencial invasorsão mais competitivas que as nativas porque,entre outros fatores, estão longe de seus pre-dadores naturais. Além disso, elas têm alta ca-pacidade reprodutiva e se adaptam facilmen-te a outros ambientes, alastrando-se de formarápida e devastadora.

Em todo o globo, a contaminação biológi-ca é a segunda maior causa de extinção de es-pécies, atrás apenas da destruição direta dehábitats pelo homem — ou seja, é uma forteameaça à biodiversidade. E mesmo com aexistência de leis (Lei de Crimes Ambientaise Código Florestal), além da fiscalização doIbama (Instituto Brasileiro do Meio Ambientee dos Recursos Naturais Renováveis), asações de controle são isoladas e insuficientes.

“Há pouca pesquisa científica e, para agra-

A INVASÃONO BRASIL

Fontes: IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza), Grupo Especialista em Espécies Invasoras e Instituto Hórus deDesenvolvimento e Conservação Ambiental

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s naturais, espécies proliferam rapidamente nos ecossistemas

var a situação,o governo incentiva o cultivo dealgumas espécies exóticas. Se houvesse umprograma de fomento paras as nativas, muitagente plantaria araucária, cedro, embuia”,lamenta Sílvia Ziller, que, por meio do Institu-to Hórus de Conservação Ambiental,de Curi-tiba, está formando um banco de dados sobreas invasões no Brasil (veja quadro à esquerda).

Do vírus à tilápiaAlém de afetar o meio ambiente, a contami-

nação biológica tem impactos na saúde huma-na e na economia. O vírus da pneumonia asiá-tica é o mais recente exemplo mundial de mi-croorganismo causador de doenças e que sealastrou para vários países a partir de regiõesda Ásia. No Brasil, os vírus da dengue (trans-mitido pelo mosquito Aedes aegypti) e da febreaftosa (que afeta bovinos, caprinos e suínos)são invasores capazes de provocar doenças eabalar diversos setores econômicos.

Na flora brasileira são inúmeros os casos

de invasão biológica. Um deles é o do capimannoni (Eragrostis plana), de origem africana,que já devastou grandes áreas de pastagem naRegião Sul e deu prejuízos à pecuária gaúcha(veja texto na página 53). O cultivo de peixesexóticos como tilápia (África) e carpa (Japãoe China), que leva à redução de populações depeixes nativos, é suficiente para dar uma no-ção dos estragos na fauna. Mas não é precisovir de tão longe para incomodar.

As fronteiras de cada ecossistema são maissuscetíveis a invasões do que se imagina. Peloseguinte motivo: uma espécie pode se tornarinvasora não apenas quando originária de ou-tro continente ou país, mas quando transpor-tada de um ambiente natural para outro. Porexemplo, “o nosso tucunaré, peixe nativo daAmazônia, tornou-se invasor quando introdu-zido na bacia do rio Paraná, causando a mor-te de peixes daquele ecossistema”, destaca obiólogo Euclides Tom Grando, coordenadorda ONG Liga Ambiental.

CarpaImportado doJapão, peixecausa estragos à fauna local

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ONGS ORGANIZAMBANCO DE DADOS

No nosso país, a falta de um diagnóstico dasespécies exóticas invasorasdificulta a definição de açõesde controle e prevenção dacontaminação biológica.Numa iniciativa inédita, as ONGs Instituto Hórus de Desenvolvimento eConservação Ambiental e The Nature Conservancy(TNC) trabalham para aformação de um banco de dados sobre plantas,animais e microorganismosexóticos invasores no Brasil.Quem tiver informaçõessobre espécies invasoraspode ajudar nesta importantetarefa. Basta ligar para (41) 9613-4171 ou (41) 336-8777 ramal 239. O endereço eletrônico doInstituto Hórus éwww.institutohorus.org.br

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UMA AMEAÇAMUNDIALD O S S I Ê

Para as Nações Unidas, e

Entre controle de invasões e prejuízoseconômicos, a Nova Zelândia gasta mais deUS$ 740 milhões por ano. Esse número incluitanto as espécies invasoras da flora quantoas da fauna. Para se ter uma idéia do graude contaminação biológica na NovaZelândia, basta dizer que nesse país apopulação de espécies exóticas já é maiorque o de nativas. Entre os inúmerosexemplos, um dos mais graves é o tojo (Ulex europaeus): arbusto europeu que, por ser denso e espinhento, impede a passagem de animais e dificulta atémesmo as ações de controle.

Entre as espécies da fauna uma dasinvasoras é a ave conhecida comoestorninho (Sturnus vulgaris), que viroupraga nacional na Nova Zelândia e tambéminvade os Estados Unidos, África do Sul eAustrália. Oriunda da Europa, Ásia e norte daÁfrica, essa espécie compete com as avesnativas e ainda provoca danos à agricultura.Bastaram 17 estorninhos, levados para aNova Zelândia em 1862, para dar origem auma superpopulação dessas aves exóticas.

NOVA ZELÂNDIA

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Arbusto tojo, da EuropaAglomerados densos eespinhentos da planta

(verde escuro) impedem apassagem de pessoas e

animais na Nova Zelândia

A contaminação biológica atinge todo oplaneta. Esse problema foi contemplado pelaConvenção sobre Diversidade Biológica, assi-nada por diversos países no Rio de Janeiro,em1992. Somente dez anos depois disso o Bra-sil encaminhou a criação da Política Nacionalda Biodiversidade (decreto 4.339/2002),que, quando implementada, deverá impedir aentrada de espécies exóticas invasoras, alémde controlar e erradicar as já existentes.

Em contrapartida, os países mais prejudi-cados por invasões biológicas — Austrália,Nova Zelândia, África do Sul e Estados Uni-dos, que investem pesado em ações de contro-le e prevenção — têm legislações rígidas. De-vido ao grande número de invasões, estes paí-

ses despertaram mais cedo para o problema.A contaminação biológica é reconhecida

globalmente como ameaça à biodiversidade.Por isso, a Organização das Nações Unidas(ONU) e outros órgãos internacionais cria-ram, em 1997, o Programa Global de Espé-cies Invasoras (Gisp), que integra perto deuma centena de países de todos os continen-tes, inclusive o Brasil. “Uma das orientaçõesdo Gisp é a criação de sistemas de informaçãoacessíveis sobre espécies invasoras”, diz a en-genheira florestal Sílvia Ziller, integrante doconselho do Gisp. O Brasil ainda não tem umdiagnóstico da situação.

Veja abaixo um perfil dos países maiscomprometidos pela contaminação biológica.

O país que mais gasta com espéciesinvasoras. Anualmente, são cerca de US$ 135bilhões entre ações de controle e prejuízos àagricultura, pecuária e horticultura, além dedanos em áreas naturais, como parques eregiões preservadas. Devido ao clima ameno,Havaí, Califórnia e Flórida são os Estados emque a situação é mais grave. Entre asinvasoras da flora americana figuramespécies brasileiras, como o aguapé(Eicchornia crassipes) e a aroeira (Schinustherebinthifolius), ambas listadas entre as 100piores espécies invasoras do planetaapontadas pela União Internacional para aConservação da Natureza (IUCN).

Mundo afora, o aguapé é conhecido como“flagelo verde” devido a seu poder invasor.

A região sul dos Estados Unidos foi aprimeira a sofrer invasão, depois daintrodução do aguapé na Luisiana (1884) e naFlórida (1888) para fins ornamentais.Atualmente essa espécie é chamada pelosamericanos de “erva dos cem milhões dedólares” devido às altas somas aplicadaspara tentar controlar sua expansão.

ESTADOS UNIDOS

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espécies invasoras são um perigo para a biodiversidade global

CoelhosAnimais infestaram aAustrália até metade doséculo 20 devido à falta depredadores naturais

Devido à falta de água provocada pelasespécies invasoras da flora, a África Sul criouo Working for Water, que visa restaurar ascondições originais do ecossistema. Esseprograma, idealizado por Guy Preston, gerouemprego e renda para a população além depromover a restauração ambiental. Paramuitas sul-africanas, o trabalho junto aoprograma foi a primeira oportunidade deemprego. As mulheres são 58% da força detrabalho no campo.

Mas o que levou a África do Sul à escassezde água? Segundo a engenheira florestalSílvia Ziller, foi a substituição de umavegetação baixa por outra, de tipo arbóreo.“Qualquer planta arbórea bebe mais água queuma planta pequena para crescer. E a Áfricado Sul perdeu parte da sua capacidade degerar água para consumo humano em funçãodisso”, explica. No começo do século 19, osingleses semearam mais de oito mil espéciesna região da Cidade do Cabo. “Não é poracaso que os quatro países onde as invasõessão mais numerosas foram colonizados pelaInglaterra”, observa Sílvia Ziller.

ÁFRICA DO SUL

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A Austrália investiu cerca de US$ 1, 7bilhão, em 1981, para amenizar os danoscausados por plantas exóticas no setoragropecuário. Desde então, investe de formapermanente em pesquisa e controle deespécies invasoras. Para introduzir umaexótica na Austrália é preciso provar que nãoé invasora e, além disso, responsabilizar-sepelos custos futuros de uma possível invasão.É que a Austrália já enfrentou — e aindaenfrenta — inúmeras contaminações.

Uma delas foi a dos coelhos Oryctolaguscuniculus, que durou décadas. Muitosmétodos foram usados para tentar conteresses animais de origem espanhola queforam levados da Inglaterra para a Austráliaem 1859. Em 1950, encontrou-se uma solução:uma virose que ataca coelhos brasileiros, amixomatose, foi usada e acabou com quatroquintos da superpopulação. “Esses coelhostiveram êxito porque ocuparam um territóriodesprovido de predadores capazes de limitarseu crescimento”, explica o biólogo GermanoSchüür, professor da Universidade de Caxiasdo Sul (UCS), no Rio Grande do Sul.

AUSTRÁLIA

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Certifique-se de que se tratamesmo do animal. Em caso dedúvida, procure a secretariade saúde do seu município

Cate os caramujosmanualmente, sempre comluvas descartáveis ou sacosplásticos. Assim, eles nãopassam doenças

Para matá-los, deve-sequeimá-los dentro de latas outonéis, depois quebrar suasconchas e enterrá-las.Também pode-sesimplesmente esmagá-los eenterrá-los

Não coloque os caramujosno lixo, pois estará apenastransferindo a infestação paraoutro local

Não use veneno, pois afeta omeio ambiente e não omolusco

Não deixe em seu terrenotelhas, tijolos e sobras deconstruções ou excesso deplantas. Eles servem decriadourosFonte: Secretaria de Estado da Saúde deSanta Catarina

O QUE FAZER SEENCONTRAR UMCARAMUJO GIGANTEAFRICANO

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INVASORESTERRESTRES Javali e “escargot” são as p

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Gigante africanoImportado para uso culinário, caramujo não agradou ao paladar do brasileiro e foisimplesmentejogado no ambiente

Entre as espécies invasoras da fauna, umadas mais difundidas no Brasil é o caramujo gi-gante africano (Achatina fulica).Do sul ao nor-te do país, já infestou nada menos do que 15 Es-tados — atacando plantações,destruindo matase colocando em risco a saúde das pessoas. E opior é que esse molusco terrestre,tido como umdos 100 piores invasores do planeta pela UniãoInternacional de Conservação da Natureza(IUCN),não só continua fora de controle,comoainda é cultivado clandestinamente.

Esse gigante que, quando adulto, chega amedir 20 centímetros de comprimento deconcha por oito de largura e a pesar 200 gra-mas incomoda mais do que suas dimensõespodem sugerir.Destrói plantações de mandio-ca, batata-doce, feijão, amendoim, abóbora,mamão,tomate,verduras,flores, frutas e folhasde várias espécies nativas. “O caracol nativo,que vive em harmonia com o meio ambiente,sente-se acuado na presença dele”,diz a biólo-ga Tathiana Zimmermann de Farias, mestran-da da Universidade Federal de Santa Catarina.

O que agrava ainda mais as invasões é a ra-pidez com que se reproduz. “Tem enorme fe-cundidade e começa a se reproduzir com ape-nas cinco meses. Estima-se que põe cerca de200 ovos a cada dois meses”, diz a biólogaCarla Medeiros y Araújo, professora doInstituto de Ciências Biológicas daUniversidade de Brasília (UnB).Em cada município inva-dido, os jardins, hortas emuros das casas ficam

repletos do molusco, assim como os terrenosbaldios, as árvores e os depósitos de lixo.Com a ajuda de moradores, a Prefeitura deSão Sebastião (SP) coletou 100 quilos do ca-ramujo exótico num único dia de mutirão pa-ra conter uma invasão, em 2001.

Mas, quando se trata do gigante africano,prejuízos econômicos e ambientais são ape-nas parte do problema. A saúde humana tam-bém fica ameaçada na presença dele. Hospe-deiro intermediário do verme que provoca aangiostrongilíase abdominal — doença quepode levar à morte por perfuração intestinal—, o caramujo africano pode transmiti-lo aohomem. Uma das formas de contágio é o con-sumo dos vegetais atacados, outra é o consu-mo do próprio caramujo. Aliás, é justamenteaí, no prato de uns poucos brasileiros, queessa história começa.

Substituto do escargotO caramujo africano só chegou ao Brasil

porque alguns restaurantes apostaram no seupotencial gastronômico.Em meados dos anos80, importaram a espécie para oferecer aos fre-gueses no lugar do escargot. Seria um negóciolucrativo, uma vez que a Achatina fulica —praga agrícola em vários países — é mais bara-

ta que a apreciada iguaria eu-ropéia. Mas o molusco

não agradou ao pa-ladar da fregue-

sia e foi ati-rado di-

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s pragas animais de maior impacto no país

retamente do prato para o meio ambiente.Isso mesmo, muitos comerciantes simples-

mente abandonaram centenas desses caramu-jos na natureza.Houve também quem resolveuinsistir no negócio: o número de cultivadoresmultiplicou-se, especialmente em função decursos de cultivo promovidos por instituiçõesprivadas e públicas.“É um nítido caso de negli-gência o fato de órgãos governamentais incen-tivarem o cultivo desse molusco com o argu-mento de que isso gera empregos”, critica abióloga Carla Medeiros y Araújo, da UnB.

O Instituto Brasileiro de Helicicultura (hélixsignifica caracol), instituição de pesquisa situa-da em Atibaia (SP), e a Sociedade Brasileira deMalacologia (que estuda os moluscos) fizeramcampanha contra o cultivo do caramujo africa-no.E conseguiram que o Ministério da Agricul-tura desse início a um processo que prevê a er-radicação dessa espécie exótica no país.

No entanto, os que defendem a criação docaramujo em cativeiro não desistiram.Recente-mente,o Instituto de Pesca,vinculado à Secre-taria de Agricultura do Estado de São Paulo,coordenou uma comissão que solicitou a regu-lamentação do cultivo — e recebeu parecercontrário do Ibama (expedido em janeiro).

A bióloga Vera Lobão, pesquisadora doInstituto de Pesca e coordenadora dessa co-missão, diz que “não suspeitava que a criaçãofosse ilegal quando dávamos os cursos”. Arespeito da solicitação de regulamentação jun-to ao Ibama, a bióloga explica que “o que sequeria era uma legislação que permitisse acriação responsável do molusco para poderatender a muitos desempregados, pois o queestraga são os cursos não profissionais”.

O Ibama não apenas negou o pedido, comoplaneja medidas de controle do caramujo.“Va-mos implementar uma política de controle queensine a população a identificar o caramujo gi-gante africano e que envolva órgãos municipaise estaduais em intensas campanhas de coleta”,informa a bióloga Roselis Remor de Souza Ma-zurek, consultora da coordenação de gestão deuso de espécies de fauna do Ibama.

O começo das ações voltadas à erra-dicação parece ser apenas uma questão detempo.E quando essa hora chegar,entãocomeçará uma nova luta — esta bem maisárdua,de combate ao caramujo africano.“O controle é bastante difícil.A coleta temque ser manual e depende da participaçãodas comunidades”,explica a bióloga Car-la Araújo.“Parte do problema é a falta defiscais.O que dificulta ainda mais é o fatode as pessoas criarem o caramujo em ca-sa”, diz Roselis Mazurek, do Ibama.

Outra peste que está invadindo afauna brasileira é o javali (Sus scrofa),animal que chegou ao Brasil peloUruguai, fugido de fazendas de caçaque importaram o mamífero daEuropa. Por onde passam, as manadasdeixam rastros de destruição nasplantações e nos rebanhos. Atacamcriações de ovinos e devastamculturas de arroz e milho, entre outras,além de destruir pastagens. O primeirofoco de invasão concentrou-se naregião dos municípios de Jaguarão eHerval, no Rio Grande do Sul, nocomeço dos anos 90. Depois difundiu-se pelo território gaúcho e alastrou-sede tal forma que hoje já invade osEstados da Bahia e Minas Gerais.

Como a carne do javali é nobre,muitos viram no invasor umaoportunidade de ganhar dinheiro. Sóque a grande maioria dos criadourosfuncionava de forma irregular e foi,por isso, barrada pelo Ibama (InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis). Fazseis anos que o Ibama regularizou ascriações que, segundo entendeu oinstituto, obedeciam às normas desegurança e proibiu novos criadouros.

Muitos dos antigos criadoresabandonaram os animais,intensificando ainda mais as invasões.

No ano passado, o Ibama deu umpasso além da proibição de criar aespécie exótica: regularizou a caça aojavali, cadastrando caçadores. Os 90“colaboradores” selecionados ajudamfiscais do Ibama na difícil empreitadade caçar o mamífero, considerado umbom adversário por ser veloz e ter oolfato desenvolvido. “Assim estamosconseguindo baixar a população dejavalis”, diz o técnico em fauna doIbama Scherezino Barboza Scherer.

Novas vagas para caçadores serãoabertas em outros Estados do país emque há invasão de javalis, afirmaScherer. Isso está previsto paraoutubro próximo, quando vencem osatuais contratos de caça. Porenquanto, a ação dos caçadoresrestringe-se ao Rio Grande do Sul,que tem sérios problemas nosarredores de Porto Alegre e na regiãonorte do Estado. “Com efetivo defiscais insuficiente, o Ibama não teriacomo abranger uma área tão grandesem os nossos colaboradores”,reconhece Scherer.

CARNE NOBRE INCENTIVA CRIACÃO DA PRAGA

JavaliFugida doUruguai,espéciedestróirebanhos eplantações

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Conhecido como pinheiro americano, oPinus elliotii está entre os 100 piores invaso-res do planeta listados pela União Internacio-nal para a Conservação da Natureza (IUCN).Junto com o Pinus taeda é invasor da florabrasileira com presença significativa nas re-giões Sul e Sudeste, onde o pinheiro prove-niente dos Estados Unidos tem forte papeleconômico. A batalha de pesquisadores e am-bientalistas tem sido por uma política florestalque proteja as unidades de conservação am-biental da contaminação pela árvore.

Que essa espécie é uma das principais ma-térias-primas do mundo para a produção flo-restal, todos reconhecem.Na prática,porém,épreciso uma regulamentação que assegure oplantio adequado. “Os próprios madeireirosestão conscientes de que é preciso evitar osplantios em áreas de endemismos (com tiposde vegetação que só existem naquelas regiões)para impedir a extinção de espécies nativas”,observa o professor Ademir Reis,do Laborató-rio de Ecologia Vegetal da Universidade Fede-ral de Santa Catarina (UFSC).

Com a orientação de Reis, foi desenvolvido

no Parque do Rio Vermelho — parque catari-nense integrado à Reserva da Biosfera comoum dos núcleos de Mata Atlântica de maior im-portância do país — um projeto de restauraçãoecológica (veja abaixo à direita). Para uma áreade 500 hectares de pinus plantada há 40 anosnesse parque, outros 250 hectares de restingaforam invadidos. “O pinus é uma espécie queinvade áreas abertas, como as restingas litorâ-neas e os campos de altitude”,explica Reis.Daí

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PLANTASDEVASTADORAS Pinus e capim a

Uma estratégia para evitar o uso deespécies exóticas é apostar no potencialeconômico das nativas.

Nos arredores da Reserva Biológica doIbirapuitã, no município de Alegrete (RS),essa aposta conta com o financiamento doProjeto de Conservação e UtilizaçãoSustentável da Diversidade BiológicaBrasileira (Probio), do Ministério do MeioAmbiente. A idéia é promover odesenvolvimento sustentável no entorno dareserva, onde vivem cerca de 90 famílias deprodutores rurais.

Em janeiro, começou a implantação daprimeira proposta: “A desculpa dada pelosmoradores para não usar espécies nativas éque demora muito, até 50 anos, para colhê-

las. Com o florestamento composto dediferentes espécies, esperamos fazer asprimeiras colheitas em sete anos”, afirma oengenheiro florestal Fábio Rosa, coordenadordo projeto e diretor do Instituto para oDesenvolvimento de Energias Alternativas eda Auto-Sustentabilidade (Ideaas/PR).

Ingá-macaco (Inga sessilis), louro (Laurusnobilis) e timbaúva (Enterolobiumcontortisiliquum) estão entre as 19 espéciescujo valor de mercado será especificado noplano de negócios a ser concluído emoutubro. “O objetivo é dar alternativassustentáveis para que as pessoas fiquem nocampo”, diz a engenheira florestal Sílvia Ziller,presidente do Instituto Hórus de ConservaçãoAmbiental, parceiro do Ideaas neste projeto.

ESPÉCIES NATIVAS RENTÁVEIS SÃO ALTERNATIVA ÀS INVASORAS

Matéria-primaPinus é importantepara a economia,mas precisa sercontrolado

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Capim annoni Praga devastou500 mil hectares em SC

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a necessidade de haver leis específicas paraproteger áreas como essas.

Diferente do pinus, que precisa ser contro-lado, certas espécies invasoras têm mesmo éque ser banidas. O melhor exemplo disso é ocapim annoni (Eragrostis plana),peste agríco-la que já devastou mais de 500 mil hectares noRio Grande do Sul e que continua a invadir emSanta Catarina e no Paraná. “A invasão do ca-pim annoni está fora de controle. Essa praga

ameaça a biodiversidade da região Sul”, alertao engenheiro florestal Rogério Coelho,da Em-brapa Clima Temperado/Pelotas (RS).

Uma praga com nome“É um verdadeiro desastre ecológico”, rei-

tera o engenheiro florestal José Carlos Reis,co-lega de Coelho.O capim annoni destrói e tomao lugar das pastagens naturais e, o que é pior,não serve para alimentar o gado. Os prejuízosno setor pecuário são incalculáveis. “Com raí-zes desenvolvidas, esta exótica puxa mais águae nutrientes do solo que as nativas e ainda produz um herbicida que mata outras plantas”,explica Reis.E pensar que esse capimveio parar no Brasil por acaso: na década de 50,outra espécie de capim, esta inofensiva,foi importada da África para ser usada comopastagem. “O capim annoni veio como umcontaminante e apareceu no meio do pasto”,conta Reis. Sem saber do potencial invasor daplanta, e encantado com o aspecto dela, o fa-zendeiro Ernesto José Annoni passou a multi-plicar e vender as sementes do capim, que ba-tizou com o seu sobrenome.

m annoni se alastram e expulsam espécies nativas

No lugar onde antes só existia pinus,agora renascem tanheiros, guaramirinse bromeliáceas. O reflorescimento davegetação de restinga atrai a faunaoriginal. Já é possível ver bem-te-vis ebeija-flores na área que serviu de pilotopara a recuperação do Parque do RioVermelho, em Florianópolis.

Esses sinais evidenciam o resgate davegetação nativa do parque — umaárea de 500 hectares que nos últimos 40anos teve o aspecto homogêneo dasplantações de pinus. Iniciado em abrilde 2002, esse projeto foi financiado pelaFundação O Boticário e pela CompanhiaIntegrada de Desenvolvimento Agrícolade Santa Cartarina.

Segundo o engenheiro florestalFernando Bechara, que desenvolveuesse trabalho na Universidade Federalde Santa Catarina (UFSC), o retorno dospássaros se deu antes mesmo dasespécies da flora tornarem a brotar.Bechara usou poleiros artificiais, emque varas de bambus e algumas árvoresdo próprio pinus — estas com cercade 20 metros e nas quais se promoveu a“morte em pé”, técnica que mantém aárvore na posição vertical enquantomorre lentamente — serviram de pousopara pássaros que sobrevoam a área.

"Enquanto descansavam e caçavaminsetos, esses pássaros disseminaramsementes de espécies de restinga por

meio de suas fezes”, explica. A simplesretirada do pinus na área piloto járesultou no florescimento de espéciesnativas. “Constatamos que a sombra dopovoamento de pinus impedia as plantasnativas de crescer e frutificar. A luz dosol fez com que rebrotassemrapidamente”, diz. Dezenas de espécies,entre as quais a aroeira-pimenteira e ofejãozinho da praia, foram semeadas evárias técnicas de restauraçãoecológica foram usadas, sempre com ointuito de dar condições para que aprópria natureza se recomponha.Morcegos, lagartos e cobras voltaram ahabitar o parque. “Já temos maiordiversidade biológica”, comemora.

PARQUE CATARINENSE SUBSTITUI PINUS POR BROMÉLIAS

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RenascimentoEspécies nativasvoltam a florescerno Parque do Rio Vermelho

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Quando navegam de um lugar para outrodo globo, os navios transportam milhares deorganismos aquáticos. Estes pequenos seresvivos, alguns microscópicos, viajam imersosna água de lastro — a carga que dá estabilida-de às embarcações.

Durante muito tempo, os porões dos na-vios foram abarrotados com pedras. No come-ço do século 20, diante das vantagens econô-micas e operacionais, a indústria naval passoua usar água como lastro. O que ninguém espe-rava era que, em função disso, o transportemarítimo fosse se tornar um eficiente meio decontaminação biológica. A cada troca de águanos portos, os navios descarregam um tipo demercadoria inesperada: espécies exóticas, al-gumas com potencial invasor.

Há pelo menos duas décadas a OrganizaçãoMarítima Internacional (IMO) voltou sua aten-ção para esse problema.Com o intuito de redu-zir a transferência de organismos nocivos, em1997 definiu uma série de medidas para con-trole e gerenciamento de água de lastro: “Essasdiretrizes têm caráter voluntário. O que faze-mos é repassar essa orientação aos comandan-tes dos navios”,diz o oceanógrafo Robson JoséCalixto, representante do Ministério do MeioAmbiente (MMA) para os assuntos da IMO.

Uma das recomendações é a troca de lastro emáguas profundas, e não junto à costa, onde osriscos de contaminação são maiores.

Segundo Calixto, no Brasil a troca de 95%do volume de água já é feita em alto-mar. “Masisso não significa eficiência na qualidade doprocesso”, ressalva. Além disso, a segurançadesses procedimentos ainda depende do de-senvolvimento de tecnologias que envolvemmudanças na estrutura dos navios e dos tan-ques de lastro. Para definir padrões tecnológi-cos globais, a IMO pretende implementar aConvenção de Água de Lastro, que será a nor-ma internacional sobre a questão. Em funçãodisso, criou o Programa Global de Gerencia-mento de Água de Lastro (GloBallast), que éuma espécie de preparação para a convençãovoltada a países em desenvolvimento.

Brasil pioneiroO Brasil é um dos países pilotos ao lado da

China, Índia, Irã, África do Sul e Ucrânia.“Isso é importante para que os países não to-mem medidas unilaterais, pois a indústria na-val é globalizada”, avalia Calixto. Na faseatual, a força-tarefa brasileira do GloBallastplaneja uma regulamentação transitória paraos portos brasileiros. “Em face dos problemas

D O S S I Ê

MEXILHÕESATACAM Água usada para dar estabilidade a n

Para dar estabilidade ao navio semcarga, o tanque de lastro é enchido

com água do porto

O vazio do compartimento decarga é compensado pelo peso da

água de lastro

No destino, o navio despeja água repleta de organismos estranhos ao ambiente

Praga intercontinentalEntenda como funciona o ciclo da água de lastro em navios de carga

Carga éretirada

Carga écolocada

Tanque de lastro enche Tanque de lastro esvazia

Fonte: Programa de Controle de Gerenciamento deÁgua de Lastro (www.mma.gov.br/aguadelastro)

Tanque de lastro cheio d’água

Compartimentode carga vazio

Desembarque Viagem sem carga Embarque

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emergenciais, como a invasão do mexilhãodourado (Limnoperma fortunei), precisamosde uma legislação nacional mesmo que provi-sória”, afirma Calixto.

O Ministério do Meio Ambiente coordenao GloBallast no Brasil. “A pesquisa científicae a formação da força tarefa — uma rede de in-formação que inclui universidades, institutosde pesquisas, a Petrobrás e a Marinha — são asprioridades do ministério”, destaca Calixto.Os focos principais do trabalho são: o estudoda biota, ou das espécies nativas, dos portosde Sepetiba (RJ); pesquisas sobre o mexilhãodourado, que chegou ao Brasil via água de las-tro; e o estudo da biota do porto de Paranaguá(PR), o Projeto Alarme, em parceria com aUniversidade Federal do Paraná. Para asduas primeiras ações, contou com US$ 600mil oriundos do Fundo para o Meio Ambien-te Mundial (GEF). No projeto Alarme, o Fun-do Nacional do Meio Ambiente vai aplicar R$400 mil. “É preciso conhecer bem as espéciesnativas da costa brasileira para saber identifi-car as exóticas. Hoje esse conhecimento émuito restrito”, diz Calixto.

a navios promove infestação de moluscos em vários litorais

a

Natural da China e do SudesteAsiático, o mexilhão dourado(Limnoperma fortunei) chegou àAmérica do Sul via água de lastro. NaArgentina, chegou a provocar aparalisação de turbinas dehidrelétricas na década de 90. Nãodemorou a chegar à região Sul doBrasil, onde recentemente provocouo entupimento de tubulações de águaem Porto Alegre. Devido à rápidareprodução, esse moluscoconcentra-se em altas densidades etoma conta de lagos e rios. Diante dosriscos que a espécie representa, aUsina de Itaipu (PR) instalou filtrospara impedir a entrada dessesmoluscos no sistema da hidrelétrica epassou a pesquisar a espécie.

“A situação é gravíssima. Hápossibilidade de a invasão atingirtoda a bacia do Rio Paraná”, alerta obiólogo Flávio Fernandes, do Instituto

de Estudos do Mar Almirante PauloMoreira. Segundo Fernandes, o rioGuaíba e o lago de mesmo nome, naregião de Porto Alegre, estãocontaminados, assim como regiõesdo Paraná, Mato Grosso do Sul e,mais recentemente, do Pantanal.

Diferente do mexilhão nativo, que éde água salgada, o mexilhão douradoé um molusco de água doce. “Nãotem competidores nem predadores, oque resulta em superpopulação”,explica a bióloga Alice MichiyoTakedo, do Núcleo de Pesquisas emLimnologia, Ictiologia e Aqüiculturada Universidade Estadual de Maringá(UEM), PR. Segundo Alice, “omexilhão dourado tem filamentos quegrudam no casco das embarcações”.Isso facilitou sua difusão, porexemplo, para o Pantanal, por meiode barcos de turismo que seguirampelo Rio Paraguai.

SUPERPOPULAÇÕES AMEAÇAM USINA DE ITAIPU

Grandes prejuízosMolusco transportadoem navios entopetubulações de água

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A engenheira florestal Sílvia Renata Ziller en-sina que a prevenção de invasões e o controlede espécies exóticas é papel de toda a popula-ção e não só do governo. Veja abaixo as dicasde Sílvia para todos os setores.

PROPRIETÁRIOS RURAIS E URBANOSNão cultivar espécies exóticas invasoras.

Não use, para fins ornamentais ou de sombra,plantas como uva-do-japão, cinamomo ou pa-raíso, pinus, eucaliptos, acácia-negra, acácia-mimosa, leucena, tojo. São difíceis de contro-lar e causam prejuízos ambientais, deslocandoespécies nativas e reduzindo a disponibilida-de de alimentos para animais.

Manter espécies cultivadas para fins econô-micos nos locais próprios de cultivo e eliminaras que nascem fora, impedindo que se espa-lhem e atinjam vizinhos ou áreas naturais.

Utilizar espécies nativas para ornamentaçãoe produção de lenha, madeira e forragem (es-pecialmente nos campos e cerrado). Fazer re-gistro de plantio de nativas no órgão ambien-tal, para poder obter licença de corte.

Não libertar peixes ou outros animais exóti-

cos na natureza. Eles desequilibram o ambien-te e contribuem para a perda de diversida-de biológica e dos recursos naturais daspropriedades rurais.

EMPRESAS FLORESTAISManter as espécies florestais que utiliza con-

finadas a talhões plantados.Traçar e executar estratégias de manejo para

eliminar invasões a partir de núcleos flores-tais. Isso melhora sua imagem pública.

Estabelecer e executar planos de limpeza derotas de dispersão das plântulas, como estra-das e margens de rios.

Adotar estratégias de fomento florestal emtalhões, fornecendo assistência técnica que in-clua controle de invasões. Não distribuir mu-das de espécies exóticas invasoras para pro-prietários que não vão estabelecer plantiosadequados e controlar invasões.

PRODUTORES E COMERCIANTES DEESPÉCIES ORNAMENTAIS

Avaliar o histórico e o potencial de invasãodas plantas que comercializa (veja referênciasnos sites no quadro ao lado).

Não comercializar plantas já consagradascomo invasoras no Brasil ou em outros locaisdo planeta.

Informar seus clientes sobre os riscos das es-pécies se tornarem invasoras e sobre a neces-sidade de serem mantidas dentro dos limitesda propriedade de cada um.

ÓRGÃOS GOVERNAMENTAISNão fomentar o uso de espécies exóticas in-

vasoras no Brasil, mas sim as nativas.Incentivar atividades educativas, de preven-

ção e controle de espécies exóticas invasoras.Impedir a importação e o fomento de espé-

cies com histórico de invasão em outros locais.Elaborar e implementar regulamentação es-

pecífica para invasões biológicas no Brasil,contemplando medidas preventivas, de con-trole, erradicação e uso de espécies utilizadaspara fins comerciais.

D O S S I Ê

COMOEVITAR Saiba prevenir e controlar invasões

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Alternativas SílviaZiller coordena

grupo que promoveo plantio de

espécies nativas

■ O Instituto Hórus(www.institutohorus.org.br)incorporando informaçõessobre muitas espéciesinvasoras, para identificaçãode impactos e controle.■ www.issg.org ■ www.hear.org ■ http://plants.ifas.ufl.edu■ www.invasivespecies.gov■ www-dwaf.pwv.gov.za/wfw

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