redondi, pietro. galileu herético

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  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

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    11 I

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    ~)L~,:;~Mob m i (;lloj~.:J;\

    ati:.

    :> r .

    ;;~.: O

    OOI'.DV,.c'

    P/ETRO REDOND/

    G LILEU HERTICO

    Traduo:

    JLJA MAINARDI

    ~~

    CUMPANH IA

    DA S

    LETIZ,\S

    ~ O14 . ~

    ~~: ;-,~i

    ~

  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

    2/234

    Dados de Catalogao na Publicuof CfP) Internacional

    C;1I11araHra~iltoir,: du Livro. SP, Brasil)

    Redoudi. Pictro. [l)::-(j

    (~alilcll hcrvuco , Pictro Redor-di tr.lih~?t Julia

    Mnina rdi.

    'i.'\,.

    i',wl,.: Compauh a d,,~ Letras.

    jJ.

    I.

    I Ci~nl'la- l-ilovoia - Hrstutia 2. Cincia renuscvn-

    h~a

    l-ilo-

    ,Iftil

    .1. Calih:i, Galih:o ISb4-lb-12 I. I ituio.

    NDICE

    '110320

    CUL'SO J.2

    501.

    ndices para catlogo sis temnco:

    1. Cincia : Filo,oria : Histria SOl

    2. Cientistas: Biografia e obra ~.2

    3. Eilosofia c cincia: Histria SOl

    - ' o

    Renascena: Cinciar : H i: o tr i, da~ id'~~~SUl

    Introduo .

    O olhar do inquisidor,

    7.

    Questes e intenes, 11.

    .0 1. Substituio de teoria r,.

    : 1 - ' ~ ' ~ ' . ' ~ ~ . .r.: .:.:

    ~'.:~~.... . 1S

    A matria da luz, 15.

    Minimi quanti

    e tomos sem quan-

    tidade, 20. Hypotheses non fingo , 27.

    Copyright 1%3, 1988 . Giulio Einaudi Editare s.p.a .. Torino

    2. Cometas: pressgios de desventura . ;~::,':I:.,~/..

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    - -

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    ~.;,I(/ (,;

    ',:'

    -,

    ,l... r

    l'xt'gticas. 17

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    e. em primeiro plano. um singular reflexo da colunata da praa nos

    escuros vitr ai s da sala das Audincias Gerais.

    No interior do aposento havia. por outro lado, um reflexo

    oe

    tons prpura: um ~:..o. Era um retrato cie dimenses notveis,

    ele so ~9~erto Bcllarmino, por tanto tempo cardeal inquisidor entre

    - . .. _

    aquelas paredes. Nuiricerto sentido. era como .;:e o dono (L casa

    tivesse aparecido para receber-me (figura 16).

    A pequena figura do cardeal era ali repre.ientada de p, as

    mos juntas sobre um volume aberto em cima de uma escrivaninha

    atulhada de livros abertos e fechados. conxtelar.os de sinais - a

    imagem da fabulosa erudio de Bellarmino.

    '. Retrato;do cardeal Bel lannTno 'existem muitos. e clebres.

    Aquele que eu tinha diante de mim, no entanto, era praticamente

    desconhecido. Produzia uma estranha sensao perceptiva. O qua-

    dro parecia.

    COI11

    efeito. conter uma imagem escondida: um outro

    retrato. id ntico a este e impresso em minha memria. mas dissi-

    rnulado por qualquer coisa que

    :1:.::

    impedia de reconhec-to

    pri-

    mei ra vist a.

    A luz da aurola que coroava a cabea do cardeal serviu para

    es c l ar ec er tal s ens a~i o.

    Aquela aurola declarava. de modo no menos vistoso

    l/UC

    um

    anncio em non, que o quadro era uma obra m.rito recente. Uma

    cpia. Remontava provavelmente aos anos 20, poca em que ikllar-

    mino fur:~ rumorosarnente beatificado, em 1923, (~ep;Jis de um pro-

    cesso sem precedentes pela durao, adiamentos, importncia dos

    reCUrSI)S e polmicas.

    Lu me lembrava da fotografia do original do qual se fizera

    aquela cpia. Qualquer um por.e encontr-Ia Ia-ilmente, pois ela

    .lusrr.:

    anip.ll Roherto Hcilarmu,o da clebre Enc.clopedia italiana,

    \ Iegc'nda

    clu quela fOIO

    diz: de u.n

    quadro de F'ietro

    d.. Corrona.

    i:Ollla.

    Cri:l

    ; er a

    da Com p a n h i.t ele JeSIs .. t ( Iigrra 17)

    No me perguntem mais nada porque. at onde sei. tudo o que

    cxisu. do rct ra

    to

    original

    aq uela foto e a sibili

    .ia

    legenda que a

    acompanha. Todo o resto um en igma, que fico ':lem feliz em con-

    liar aos cllegas histori.rdorcx de arte.:

    l'.,de'.'>l' )K1S,;r ',;r

    urna

    ''.I:JlJiii') deruasi.ido gcncnsa, de

    ,ida t;;lVC ao uo de C.Ul: um Be'Iarmino muito velho, como aquele

    reprouuzido I:a oto (k retrato original, teria sid um ObJU privi-

    kgiad,) rar a 11m Pictro da Cort. -n a em incio de carreira na corte

    rorn ana , Ou t a l vez pruque ,

    C0l110

    em outras obras

    juvenis

    (1:-Pictro

    ':a Cortona, (; il11bm este quadro

    parece.

    pela foto. -er '1 1 \1 iL l rinro.

    .,

    , , '

    .,

    A

    R

    , ' 1

    I

    t

    como se diria no sculo XVI I , ou seja. com uma predominncia

    de reas escuras. Ou at porque,

    '.'0 11 10

    os outros raro s retratos de

    Pietr o da Cortona, tambm este parece bastante

    verdadeiro.

    Como se disse, aquele retratado um Bellarmino muito velho,

    que chegou, atravessando doenas e penitncias, ao respeitvel li-

    miar dos oitenta anos. Mal': ainda do que o branco dos cabelos e da

    barba, so as dimenses f.elrnente desproporcionais do nariz e da

    orelha os sinais reve.adores de uma idade muito avanada.

    No muito diferente disso o cardeal devia parecer a ~~~ ....

    na manh de 26 de fevereiro de 1616, quando o cientista foi convo-

    cado s salas do Paraso no palcio do Vaticano - residncia oficial

    de Bellarmino -

    para

    receber o comunicado da condenao de/

    Coprnico,

    CA-')'1e'Y~t.~ . , .

    -X'~teno excepcional daquela audincia privada era uma

    prova da profundaCi;lererr~d() .

    ( Um o lha r digno de um grande cardeaL ~ass~lodas

    1

    as congrch;lc~ fOl 1.ills.--.; ,C_Jiln...i. l~

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    - ,

    Em sntese, aque le do ret rato original um olhar impressio-

    nante, digno do grande homem de Estado : do gr-.nde inquisidor

    que Bellarmino foi em seu tempo. u~ma p allela~ (I)

    O

    olhar do careal IkJ;'trmno mudou porque mudou o olhar

    .

    . ._ _

    .---- ..

    __

    ..- -- - _ _ . .. --- _ . . .

    de guem o retrata .

    . --- '-~\'~;te

    d~'~1 l

    copista pode, por uma virtude secreta, chegar a

    imitar exatamente um desenho original. Esta cpia, ao contrrio,

    exibe um empenho e um fascnio diversos

    e

    m enos secretos.

    A

    inten-

    o era provavelmente

    reproduzir

    o original para

    camufl-Io,

    para

    obte r assim um resul tado ao mesmo tempo

    idntico

    e irreconhecvel.

    No se sabe quem encomendou a cpia, mas perfeitamente

    verossmil que tenha sido movido pelas mesmas razes celebratrias

    e propagandsticas de toda ., r.quissima oleogra lia bellarminiana

    que floresceu nos

    unos 20 e :1 0. Depois

    da

    feliz concluso do

    contro-

    ver tido processo de beatific ico patrocinado pela Companhia de

    Jesus durante t rs sculos,

    Belarmino

    aparecia obviamente sob uma

    nova luz, a

    da aurola

    que o CCT0a\a.

    A campanha

    de propaganda visava a

    rpida consolidao

    da-

    quele sucesso por meio de uma brilhante carreira de Bellarrnino, de

    beato a santo e a doutor da Igreja, no espao de poucos aIlOS_O que

    compensava seus s.pologistas das frustraes

    I:

    das recusas polticas

    e intelectua is encontradas r.o passado, mas tambm de algumas

    observaes formuladas acercr, do hero smo das vi rtudes teo logai s

    de Bellarrnino.

    A propaganda foi assi

    ITI

    cen t rada na imagem de Bellarrnino

    doutor imaculado . evidente, porm, que, para impor aquela

    imagem e obter um efeito convincente de i r .contestvel beatitude

    10

    i

    nutrida de mansido e ascese. no era suficiente colocar uma au-

    rola nurr- retrato f iel:'

    Para fazer transparecer vis ivelmente a9. l. el- .p~tit lJde, agora

    oficialmente re;onhec~J~ ..ovi:se-mrrquira:r~queles olhos ou pinta r

    naquele olhar um daqueles-l'ngs-monlt~nis'de~tse 'que '- no

    :;:: .dlWOs-pri tf i6iosngigrfos - tinglarn sempre mais freqente-

    , mente o ancio estadista, em seus ltimos tempos, com uma mode-

    I'iad ~~~i

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    i

    1

    SUBS'J7TUIO DE TEORIA

    rl,

    Ai/d

    rI 'W

    philosophy calls ali

    in

    doubt,

    Tl:e e lement of fire is quite put OUI:

    The SUIi is IUSI , an d th 'earth, and no mQII 'swit

    Can well direct him where to look fo r it .

    And freely men confess that this world J ' spent,

    Wi/efl

    in lhe

    planets

    and

    lhe firmament

    They seek so muny

    new;

    they see that this

    Is crumbl d out again to his atomies.

    John Dorme. An anatomy of the world. The

    ji rslanniversury( I611), 20512 .

    :i

    .4

    MATRIA DA LUZ

    Inicialmente, minha pesquisa tivera como ponto de partida o

    problema das id ia s de Gali leu sobre a natureza da luz . Na verdade,

    Galileujamais formulou uma teoria geral a respeito desse fenmeno

    fundamental, e sobre cal problema escreveu ou publicou apenas

    breves declaraes. Entretanto, ele havia apresentado oficialmente,

    no fina l de sua viagem d Roma na primavera de 1611, uma memo-

    rvel exper incia cientf ica de tica f s ica que impress ionara profun-

    dameute

    S\::JS

    imerlocurores aristotlicos .

    (*)

    E r.ova filosofia pe tudo em dvida, O e lemen to do fogo e st c omplet a-

    mente extinto.v' O sol est perdido, e a terr a, e nenhuma inteligncia Humana/ Pode

    ind icar- lhe onde o procura r. / E li vremente os homens conf essam que este mundo

    est morto, Quando nos p lane tas e no firmamento/ Eles procuram tan tas novidades;

    Doise les vem que este/ S e f ragmenta d e novoem s eu s tomos .

    15

    I

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    Ga lileu levara a Roma, alri

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    - -

    .

    .

    .

    .

    conc luses natu rais de que anteriormente o sentido mani festo ou as

    demonst raes necess rias nos tenham tom ado certos e seguros .

    6

    A carta ao padre Castelli teve um grande eco. No incio de

    115 ela ocasiona uma denncia de Gal il eu endereada ao cardeal

    Sfondra ti, supervisor da Congregao do Index, por parte do domi-

    nicano florentino padre Lorini, Este julgava que a nova exegese pro-

    posta por Gali leu equival ia a 'quere r explica r ar;Santas Escritu ras a

    seu modo e contra a expl ic . o habitual dada pelos Santos Padres . 7

    Ser ..tg recordar como, depois do Concl io de Trento, o res-

    peito ao princpio de autoridade da tradico teolgica e exegtica

    ~ra para Roma um ponto estabelecido, Se Gali leu e Caste ll i se insp i-

    ravam no De Genesi ad l it tcram , de santo Agostinho, o padre Lorini

    inspirava suas lamrias nos Loci theologici do grande telogo triden-

    tino, o dominicano Melchior Cano. Por outro lado, tambm inter-

    locutores cient fi cos favorveis a Galil eu, ccrno o padre Cri stoforo

    Grienberger , matemtico do Colgio Romano e sucessor de Clavius ,

    haviam expressado algumas reservas, dado que nenhuma experin-

    cia ou demonstrao permitia tornar certa e segura a verdade

    copernicana. Se as coisas estavam nesse pon to, como se podia pre-

    tender que a exegese catlica oficial se curvas se concordncia entre

    a Escr itura e a f ilosof ia natural reivindicada por Galileu?

    Galileu entra ento em campo com um ensaio sobre essa con-

    cordncia que valorizava sua nova filosofia do ponto de vista reli-

    gioso: a carta muito conhecida a rnonsenho: Pietro Dini, telogo e

    referendriu apostlico em Roma.

    Galil eu falava como cient ista , mas um cienti st a inspirado, e se

    propunha a um papel explcito de exegeta e

    :W

    de expositor de uma

    teologia msti ca : um mist ici smo especula tivo que evocava acentos

    agostinianos e recorria explici tamente ao neoplatonismo de so Dio-

    n sio Areopagita , uma fonte que a nova teolog ia de so

    JO0

    da Cruz

    tornava atual.

    Gali leu no fornecia verdade iramente as demonstraes ne-

    cessrias do heliocentrismo, mas defendia a metafsica do Sol colo-

    cado no cent ro do universo de que Coprnico fa la ra no primei ro l ivro

    do De revolutionibus, Celebrava assim um verdadeiro triunfo da

    lL1Z , com refe rnc ias textua :s criao descri ta no livro da Gnese,

    aos salmos e aos profetas: ' Deus colocou no Sol o seu tabernculo

    l...I

    Ele , tal qua l o esposo

    cuc~

    sai do prprio tlamo, sa ltou como

    um gigante para escapar . (]al il eu,. ~ob a escol ta de Bionsio Areo-

    pagita, mostrava a sugestiva concordrn;ia entre eSSes.JNt:.ti~ ver-

    SO:'i.

    do Salmo

    XV II

    e as id':ias sobre a emanas..o da luz cel~~ ~~e

    ts

    terrestre q:le a pedra

    c , . :

    Bolonha , a cinti lao das estr elas e as man-

    ha~ares lhe h~ugerido como alternativa fsica aristot-

    lica da luz' sugeriria , prope Galileu, que isto dito do Sol irra-

    diante, ou seja. da luz e do j mencionado esprito que aquece e

    fecunda todas

    LS

    substncias corpreas, o qual partindo do

    c 0 1 J ? P

    solarpropaga-se com enorme velocidade pelo mundo inteiro .

    - O que podia harmonizar-se melhor c~~lvina &.L-.alumi- (

    nador da razo dei que esta luz, esprito do mundo, s\ hs1.ncia

    . espi ritual ssima . sut il ssima e velocssima que difundindo-se ~ * '

    t i'nive rso pene tra tudo sem resistnc ia, aquece, vivi fica e torna fe-

    'cundas todas as 'ria tura~ vhreutes ? 8

    . .

    - valor hermenuticop~_a~~critura~.e_Q. misticism_~~~ol-

    gico associados por Gali leu f si ca substancia li st a da luzeram ape-

    i-~~ma ju stiicativadefensiva de ocasio, ou este fundamentalis.mo

    bblico era uma arma para difundir e para impor a Roma as novas

    raies de U.I l1af ilosfiaarifiar is totlica? Eram arnbes as c(\ jsas:u~

    r>

    ~ Slor o de le itima . uma filosofia ort vo

    r

    J ed~s~' ~

    espu:ltuals, cori mplti~os. ,. ~.~ .

    De fato, 9..}e rdade lro destinatrio daque la cartaaberta a mon- ., ,:~. ~

    - . . .

    senhor Dini era o ambiente teolgico

    e

    ec lesisti co romano, que

    r~~~rd-a-vafavoravelmeit-a-bertura d~ ~~ltura eclesi~tica do papa

    Clemente

    VIII,

    no final do sculo, quando Francesco Patrizi, com

    sua fi losofia hermt ica, neoplatnica, ant ia ristotli ca e copernicana '

    entrara na Sapienza e fizera com que se considerasse a luz como

    um corpo imaterial, de que o mundo participava e pelo qual era

    fecundado ,

    O herrnetismo neoplatnico de Patrizi fora condenado. Paulo V

    no era Clemen .e Vl

    l. Mas a filosofia da luz tambm no estava /

    mais no mesmo ponto: ~lileu .dispunha agora

    .ce

    experincias e l

    o~~

    Q,

    p~~ara u~a. fisia ~:u?stancialista ~luz ed.o.ca ~r, capaz de ~, ,\ .

    *

    opor-se a meta fsica trad icional das.qual idades aristotl icas e de su-

    (k/Y'vtC, .~ .

    . -_0 .-

    s: I / .. v t ' o - v

    Q.erar_~m~Jafsicas hermticas.

    P l J ' ' / Y Y : - : ~ .

    I A~~e~,eI(~)~,an~n ~loso~ia e~ nome da concgi l~g,.S~ algu- Y~I '

    I

    mas passagens d.a Escrjtura e no calor de um arrebatamento con-

    . ~prat~() d~pertava, sob uma nova l~z, a exignci~ ~e um na~u.ra- ~

    ,mlsmo cristo como aquele do humamsmo neoplatomco de

    ~~g, ~

    '

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    I

    eori;:s

    ele Coprni:o e a

    ll:lV;1

    Iilosoii., da

    luz

    para

    It.zcr

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    - - .

    li

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    li

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    I

    I

    v

    ,~

    , 't'

    I ~ .

    . .

    diferenciados para cada elemento natural

    f

    a de

    pzrticulas

    de uma

    matria-prima homogneo C11 f estar iam m..is prximas da hiptese

    atmica tradicional.

    Galileu

    na real idade, adota a rribas as id ias:

    o calor, por exemplo, explicado como o movimento dos corps-

    culos de uma substncia agitados pelo movimento de tomos de fogo

    homogneos e p

    c

    nctrando tudo.

    O Saggint:lre

    anunciava

    de maneira ..:.l}ician

    1 : . J . lJ e

    _-'liU95.Q.fi,a_

    est escrita no livro ~2 .u..E1.iY

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    . . .

    1

    1

    . . .

    . . . .

    . . .

    . . .

    N:IO

    lhes escapava, todavia, uma certa oreocupaco e algumas

    incoerncias

    tra das por uma

    srie

    ( 1 < ; obscuras

    osc ilaes de pensa-

    mcnto.

    que

    pro.vorcionaram

    ao ajornismo de

    G;..

    me; uma dura-

    doura fama de confuso. '--.-.- .

    S mais recentemente os especialistas e ,T I Galileu sublinharam

    que, na real idade, a lguma coisa de SUbSt:Uicial havia mudado na-

    quele quadro ap .renternente idntico. Um detalhe da teoria anter ior

    fora substitudo por

    um

    outro, 1l1

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    o professor Licet i t inha uma cul tura inigu alrivcl em LOdosos

    campos da medicina, erudio em literatura e an.ueologia e tambm

    em astronomia e f ilosof ia natural . Conhecia pelo menos 22 hipteses

    sobre os cometas e todas as teorias dos comentar is tas de Aris tteles

    sobre a na tureza da luz.

    23

    N~--' l~~ : syunos~eIl1pre, -)10Yle~m~ss3Pt~A discusso

    entre

    Galileu

    e Liceti~e

    foia

    ltima interveno ientJicJuolca

    /.l , ./ . .-/ - -~-----, -.------_____-. -- --.- --.-.-- --

    y~Gali1eu,. t inha como obje to prec isamente o. [enmeno da pedra

    , 91;;i~~S~t:il1e d~~()IOllh(l,QJ ~~~ Q.~ ~p()ntO:~~~~a-

    O nrotessor Liceti havia publicado. em 16'10, dois l ivros sobre

    a

    Li;

    um de carter geral. c outro especialmente consagrado ao

    lU'.U f,:lICl111l:11U revelado trinta anos

    antes

    por Ga

    lileu

    c, d,' Iuto ,

    inurulado

    Litheosphorus sive de lapide bononier.si,

    Liceti tivera

    su-

    cesso na tarefa de adaptar o fenmeno h teoria aristotiica da luz,

    e entre os muitos argumentos acumulados em sua obra havia tam-

    bm aquele relativo luz lunar secundria que i.umina a parte obs-

    cura do planeta, durante os quartos da Lua.

    Liceti

    pensava que

    podia tratar-se de um fenmeno de luminescnc.a como o da pedra

    de Bolonha e no do efeito da luz solar refletida pela Terra, como

    Gali leu havia sustentado desde o Sidereus

    Nunc

    'us, em 1610, favo-

    recendo a teoria heliocntrica d Coprnico.

    O livro do professor Licet : re lembrava tambm as clebres su-

    gestes corpusculares galileana-

    sobre

    a naturezr

    d luz, divulgadas

    no rela trio da memorvel experincia da pedra urninesce me rea li-

    zaria em Roma, como sabernos.F' O autor envicu um exenplar da

    obra a Galileu.

    Mal acabou de pereci r-l

    .i,

    Gahleu di tou __seu a luno Viviani

    uma carta que tinha

    0

    inesperado sabor de um ,iesmenlldLJ preven-

    t ivo. d issociando-se de modo

    enftico

    de qual quer

    in te rpre tao

    materialista da luz, e at do calor, que lhe pudesse outrora ter sido

    atribuda,

    A

    carta, de 23 de junho de 1640, proclamava que Galileu

    estiv~;; sI11i;i=enas trevas /sobre a questo d, essncia da luz

    e que se alguma vez tivesse sido capaz de ter unta idia sobre q .1C

    coisas fossem o fogo e a luz teria podido entender fenmenos de

    admirvel fora e velocidade como a exploso da plvora ern um

    disparo, um fenmeno ci tado como problema nos Discorsi.

    A esse gnero de audc ia especulat iva ele havia preferido < :

    verdade do fato e o exame-da exper inc ia que , em todos os efe i-

    tos da natu reza [ ... ], assegura-me do ar;sit, mas nao me

    - e r a > '

    nada

    sobre o

    quo modo .

    Galil

    j

    u declarava, em outras

    ;);11a\(

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    Convm acrescentar neste ponto que aquela correspondncia

    com Liceti destinava-se a ser

    divulgada e

    discutida

    na Llia e

    que,

    antes de desmentir

    asimputaes filosficas

    de L

    .et i, Galileu rnani-

    Iestara sua preocupao e sua desconfiana.

    Desconfiana em relao a, seu interlocuto. que ten: sempre

    adornado meu nome com t tulos especiosos, mas em segi.id., rem ao

    contrrio tornado obscuros meus pensamento' e

    preocupao

    quanto experincia, trgica ta .vez, com disputas cientficas an-

    teriores em que as censuras feitas s proposies e s opinies da

    parte em causa, procurando demonstrar sua falsidade e erro, no

    so das menos graves e dolorosas .

    .14

    '-. Quanto gravidade destas ltimas conseoncias. devemos

    recordar que G~_ se enco_ntrava na condio .e condenado no

    _.~,lUrcrizad~)

    a falar, de modo algum, sobre os motivos da sua con-

    ~den.o,

    - Sob esses diversos ponu.s de vista, a virtude da prudncia e da

    dissi-nulno

    podia

    sei

    mais

    que

    admirvel.

    O

    que pode surpreen-

    der-nos que Gaiileu no aplicasse aque la vi rtude tambm em re la-

    o a outras convices antigas, Nessa correspondnc ia e em outras

    c.artas sucessivas, Galileu podia permitir-se defender com menor

    escrpulo e at os limites das mais elementares regras de prudncia

    o sistema de Coprnico, mesmo que sua condenao se devesse

    quela defesa. Com o mnimo de dissimulao necessrio, no to-

    ~e.deliCa.d.ssimprobell1a, Gali leu mantivera-se fiel a suas

    'antigas convices. No

    acon

    tecera

    o

    mesmo em fsica. As antigas

    convicesd., fsica galileana

    haviam sido abandonadas sem expl i-

    cac-s. mesmo cientficas.

    Ainda hoje, o abandoru. silencioso da fsica corpuscular, que

    Saggictore esboara e que parece aos historiadores to promissora

    de

    antecipaes mecarucistas

    fecundas, um problema crt ico com-

    plexo.

    como se

    limites

    e

    obstculos

    se tivessem oposto quela con-

    fiante fi losofia natural impregnada de idias atomistas, a ponto de

    convencer Galile ., a dissociar-se dela mais tarde com uma alterna-

    tiva radical, uma

    teoria

    puramente matemtica da estrutura e da

    matria,

    t

    com uir.a escolha metodolgica de prudente fenomenismo

    materr ti.:o.

    ,)s

    historiadores

    que ~;

    ocuparum

    com esse

    problema

    chega-

    ram, por nu.io d, um cx amc mcrumeute interno das idias e das

    obras de Galileu, 1ust.ficauv.is rigorosas e convincentes dessa con-

    verso

    episte rn o lg ica . ru as n : s , )

    reconstruo exata de suas etapas

    consciente'; e necessrias, uma vez que estas no so documentadas.

    Por

    c.ue essa mudana ver.iadcirarnente

    surpreendente, como

    pergur..a um

    dos mais I

    eccute..

    estudos sobre

    o

    atomismo do comeo

    do

    sculo

    XV ?

    JS

    TO(ll

    mundo

    reccihece

    :gora nas contradies de uma fsica

    atornis.ic., corno a

    00

    Scggiaio. e, a oportunidade

    implcita

    de aban-

    don-h, Mas essa constatao razovel no consegue sozinha elimi-

    nar do silncio de Galileu sobre a questo todo o seu problemtico

    ascnic.

    Na realidade, a substituio de teoria e de significado de seus

    , , - - - i ,

    (ermos9Cci'ITrterizaaTngu~g~~'~t~~ista 'da fsica de Galileu

    ~:;>->

    t;'e dos historiadores rcertesOilerentes interpretaes. Alguns se

    limitaram a constatar :'; profundas modificaes daquela histria

    primir a doutrina e propaiar

    .ninha igno inc i.: ,

    mas

    co rivm -r .ie

    engol ir os escrnios, as mordacidades e as injr ia-: .:'.1

    Era um exerccio de subedori a e de picda c ~ aquela re ticricia

    imposta pelas calnias, as fraudes.

    llS

    cvtrat agc mus e

    os

    ::nganos

    qu. s()h urna

    simulada

    mvcar ,'c religio n s

    o

    tinham arrui-

    n.:o.

    l1:1~:

    continua-nente o

    :1

    .sediavn m . No

    ipcrias

    o

    Dialogo;

    con.cnado

    pela sentena de

    16:;3,

    era proibido,

    mas tambm todas

    as outras

    obras impressas

    j

    11 ; 1

    muitos anos

    eram

    obscuramente

    condenadas.

    ordem tendo sido dr.da a todos os

    Inquisidores

    de

    no

    admi t i r a reimpresso de nenhuma de minhas obras .

    lcito

    pensar que para

    muitos contemporneos

    de

    Gnlleu,

    que no tinham nossos

    refinados

    instrumentos de identificao epis-

    tcrnolgica. aquela profisso d-: l pcripattica. qJC hoje se pode

    ,'l :lma:-

    Ienomcmxmo

    mu tcrn

    ticr devia

    parecer :IITI

    de;',oik'crtul\te

    :lrt,ciiJ

    da virtude intelectual de dissimular

    cons.go

    mesmo

    e

    com

    os

    outros, Que Galileu quisesse dissimular, quando desmentia que lhe

    pudessem

    ,,;1

    atribuic as as opinics publica das ~)b

    (l

    nome ~k Gui-

    ducci. deixa, porm. .nesmo a nossos olhos bem pouca muruem para

    d .idas

    Renegar ter

    av..nado, privadarnente e em pblico,

    hipteses

    r~orpusculares sobre a luz e o calor, ter oposto unia metafsca mate-

    : rialista metafsica aristotlica,

    ocultar o passado com ':Ie:a:'aes

    de matcmatismo e

    de

    experirnentadsmo destituid ,s de qualquer sus-

    :lei

    t: J de vontade

    cogr.it iva

    sobre

    a constituio r,'

    ai dos

    kE(H,jenn~

    lId

    \sn devia,

    compreensivelmente,

    parecer um desmenti-to 'urna

    s nru.lncin tanto dissimulada QLUli.1 silr-nciosa sobre SlUS

    prprias

    raz:~)cs.

    33

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    ~

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    longas e

    cativantes

    dibresses e citaes literr ias que de. iciavam os

    hun ian istas e

    os

    re t r i ros

    das academias literria,

    Seguramente,

    o

    livro reunia todos os

    requisi tos necessrios

    para ser lido e para merecer a aclamao do tino de pblico que

    pode

    fazer de

    um livro um acontecimento

    l iterrir e intelectual .

    :\S:-;lll l

    foi. e o

    :,Yaggiatore ;.:nfOOU

    a cabea de Gal.Ie u com a

    .ru rco a da ap rovac o elo pblico culto. elos curivso-. . dos virtuo-

    sos e dos inovadores , e, ainda mais importante.

    C(\lTl I.)

    favor

    oficial das mais altas autor idades ecles ist icas, Nern mesmo ;)~mais

    ardentes e ot imistas promotores romanos da publ icao do Suggi,,-

    tor

    haviam inicialmente ousado prever um triunfe, dessas dimenses,

    Gali)(;ldDi a Roma pouco depois para

    coh-Io

    e encontrou

    .oda

    ;t

    solidariedade, I) estimulo e

    O

    prestgio que e1':1pcssive: dar-

    lh e,

    Foi o

    ponto mais alto na parbola de Galileu

    COIi,O

    homem

    pblico e

    j)

    momento

    deter

    minr.n te de seu destilo,

    foi

    de

    fa to

    na

    onda desse

    t riunfo sobre os adversrios

    e

    c 0_cOI~~.22ilie2uido

    junto

    aos vrti ces da hiera rquia eclesist ica ~._c;al ileu Ju lgou, cal -

    e~ influeuciudo

    posi tiv.uncn tc demais.

    que ser ia

    IJossvd

    :',';lbnr SU:l

    ' ; lJ i1~1ZIj]haestratgica no front copernicano.

    Escreveu-se muito sobre o

    Saggiatorc .

    51:

    ore

    Sli,,:;

    pginas

    mai

    clebres foram,

    inclusive,

    vertidos rios

    de

    ti:

    ta episteruologica.

    Mas

    os hist9Iia ores est'ldararn sol(.ret:-ld~_s~.u~l. fieten~ ~

    eJa,:J

    1

    ll , a mais cificil nol'l1'.a en2;Jjilda..nur~1~'L.-

    A

    nu:;-

    .r

    : . - . -.

    - , F - - . . . . . .- / , '- / '- /

    ~_>-., ._ ., -,.

    _~y ~_ > , . . / \ - ~

    :;Ul'l:cuva sua - COl\tGt)L.t?~ireGr,assl,

    Jesulta~J:ll lenWllU)

    do

    Lu

    I

    ,,,--

    rr '- ~ U~- ~l .

    7,

    d

    cg.l Q~~lLl,

    ma p.i ermca

    scbrC IT

    natureza e

    '.'S

    movuncutos us

    .,;~:;~., ljLl' o

    r::gf:iaiUrC

    C(l;1r:\ ::. vito r io sam ent . 1'1:1:> ::l1 c? , mais

    por sua vcrve literria. sua ironia sem, jogos de p lavras

    .q1flferll\.

    plll'Sl:i de suas alegorias , . ,ua iniin it a paixo intelecrual

    (I -.jlh:

    pela

    \rl::t iirr.',;i~;l\t_~1 de arglln1l' 1tu I

    t{.'i{)~las_

    Ma x o

    reSU1\:1

    tO , ra (1

    :~e'~: I. ,..

    L . .

    d

    ? I\ .I~

    M ~ I' d .

    ,,,;:;ta;[1I1

    a t~~r. l'l(J-.~ta:1to, a ustora o

    SL SS

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    ~

    ~

    -

    -

    ~

    ~

    ~

    t

    i ,')\ f\) de

    Pisa

    desacredi. .ulo

    por

    Kepler

    por seus erros

    astron-

    IIlIl'P\,

    c citado impruden.ernerue por Galileu nu .sugRllore, em

    1>tlIdicip ( I < . :

    sua pr pr ia Cln() descartou outras

    e xp lic a e s tr ad iciona is,

    P , ~,:J~. ~ J '\.~M.J ~ .; ,' ~N,,,-;.i>S)..)f~_.~:,~.;.;~.-.J~)~

    '_ ...,

    ;'V' ''

    Uma vez que a falta de ph.j~~e era o mais forte argumento' ,r' (

    p..ra colocar os cometas a uma gr iide al tura nos cus, al iJ._~- ,,,I' f ': .

    ginou umaproposi~,j gen~l. J.>rogs negara re.liQadJ;:jsi.c~a dos

    * - \ : . '~ : '~1.t->9 ,

    ~C::'1leras?ste~j.,~ram5

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    A p a ralaxe tem valor '4

    U

    .m do ~,e

    t

    ra ta de obje tos lu minosos

    reais e

    permanentes ,

    como a Lua, que

    aparece prxuna

    do hori-

    zonte vista de um lugar, .nas ,~,', znite vista de outro. Mas a faixa

    cintilante que se estende

    s' '-,re o

    mar ao

    crepsculo no

    parece

    sempre dir ig ida para o Sol, orvdr quer que se e.rcontre o observador,

    com o efeito de anular a paralaxe?

    O

    prob'erna estava quando muito

    na cauda, dado que a do cometa aparecia invaiavelmente oposta ao

    50 . Galileu propunha explicar sua natureza como uma reflexo

    luminosa sobre evaporaes atmosfricas, elevando-se alm do cone

    da sombra terrestre como uma aurora borea.

    A diminuio da grandeza e da velocidade do fenmeno tor-

    navam-se plausveis se se admitia que estes v.ipores deslocavam-sc

    corn UIll

    movimento rctilineo. numa direo radial em rcla o ,\

    superfcie da Terra: uma soluo idntica quela j proposta por

    Galilcu para a estrela nova de 1604.

    Convencido de que o cometa estava mui t: baixo, e ure.xupado

    cm mant- o distncia do -:('U de Coprnico. Galileu propunha

    .' assim uma teoria co rnet ria que no> era mais ioq-e 'J I:1 a variante

    (,::ca da explicao dada por

    Ans,0teIe'~-;{~-Wt'I~

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    mente com o remorso de Viv.ani, r..as ele no ofe rec ia provas e os

    autores jesutas podiam justamente denuncia I em Montucla uma

    reforrnulao iluminista das

    odiosas

    insinua

    es con

    tra seus ir-

    mos do sculo X V I

    I.lIJ

    A denncia de Montuc la , assim como o re-

    morso de V i vi an i, h av ia m sido esquecidos pelos historiadores de Ga-

    ileu. Colocados lado a lado propunham um en.grna completamente

    irrcsolvido a propsito do

    Saggiatore ,

    com uma srie de re fu taes. A polmica arrasta-se, mas no tem

    hixtori a, Observe-se que ta.. to os detr atores como o defensor de Ga-

    lileu ccncorc.a:n

    qi..e

    pc rfeitarnente admissvel aproximar suas

    id ias das de Demcri to .

    12

    1613. A Academia dos Lincei - que desde 1611 vangloria-se

    de ter Galileu como scio e prestigioso porta-bandeira - publica em

    Roma a Istoria e

    dimostrazioni

    matematiche interno alie macchie

    solari . A academia, uma instituio privada e laica, assume assim

    inteira responsabilidade por um livro no qual Galileu entra pela pri-

    meira vez em polmica direta com um respeitvel cientista jesuta,

    o padre Cristopher Scheiner. A controvrsia, originada por uma

    questo

    de prioridade na descoberta das manchas solares, amplia-se

    sob a pena de Galileu e a gide dos Lincei at atingir os altos tons de

    urn a polmica cultural. Galileu, na terceira carta, lana um grande

    desafio: N as ciuc. 1S a a LItoridade baseada na opinio de mil vale

    menos do que LIma centelha da razo de um s .1 .1 Aquela CI telha

    alimenta -se no

    an.or do Divino Artfice [ ... ] fonte de luz e de

    verdade' ,

    Galileu denuncia a fsica aristotlica, tachando-a de puro . r

    nominalisrno. e apropria-se pela primeira vez do slogan livro da

    natureza , contraposto ao; livros de Aristteles e de seus comenta-

    dures, corno se cs,c gruudc livro do mundo no fosse escrito pela

    natureza

    para ser

    Ido

    por

    outro s que no Arist teles

    .14

    Os textos

    dto Aristteles eram descri-os como um crcere da razo. As hostili-

    dades para com a filosofia oficial jesutica tiveram assim incio.

    O

    que assinala este incio no justamente aquele provoca-

    trio chamamento j leitura direta do livro da natureza? Aquela ex-

    presso

    f igurada, c.ue

    aos nossos ouvidos modernos soa como uma

    potica m etfo ra, t i.iha de fato um som menos inocente aos ouvidos

    i OmaI,OS habituados a colier os ecos vindos do lado de l dos Alpes.

    Aquei , chamr meu } no era por acaso uma bofetada na tradio

    c'i~~li, a :scoli\stic;J e um: m o e-stendida aos hereges que haviam

    feito (:a lci tur.. dircta daLJ'l\:k livr o , avxim corno da Bblia, um de

    seus

    precei tos? A

    nuiurc za

    est

    diante ele nossos olhos corno um

    belo l.vro nu lj,Jal rodas i~ COlo as criadas so como cartas, mos-

    trundo

    o

    P

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    podia haver o risco de que esta reforma se estendesse tambm a

    outros - mais fundamentais - pontos de f e de interpretao

    tradicional.

    1616, 3 de maro. Com decreto da Congregao do ndex,

    controlada pelo cardeal Bellarmino, rat if ica-se (sem comprometer

    ofic ialmen te o Santo Ofc io com uma sentena) o parecer unnime

    dos telogos qualificadores. de 24 de fevereiro. O De revolutionibus,

    de Coprnico, e o comentrio do livro de J do telogo Diego de

    Zuiga so suspensos

    espera de urna correo de todas as refe-

    rncias ao carter real tabsolute) da doutrina condenada. O livro do

    telogo Foscarini e todos os textos exegticos

    idem docentes

    [ensi-

    nando a mesma coisa] so por sua vez condenados.

    Levada pela onda das mais recentes exigncias ela controvr-

    sia, Roma optou assim ela defesa a todo o transe da cosmologia

    aristotl ico-escolst ica e do significado literal da Bblia, reservando

    sua interpre tao tradio teolgica autoriz .ada. So assim desa-

    provadas as solicitaes agostinianas favorveis noo de senso

    figurado na exegese bblica. Quantas heresias no foram com efeito

    praticadas em nome de santo Agostinho?

    1616, setembro. Uma filosof ia nova, concorde com a filosof ia

    dos santos, a introduz ir-se nas esco las cri st s. em lugar da autori-

    dade da seita peripattica e dos f ilsofos pagos. o que repica o

    fre i Tommaso Campane lla , no incio do manuscri to da Apologia pro

    Galileo que circula agora nos ambientes do Cxsi, desafiando intern -

    pestivamente - depois da batalha - as decises romanas, com suas

    propostas de renovao herrnenutica das Escrituras e suas teses

    agostinianas sobre a natureza-livro de Deus, correspondente .].B-

    blia. A nova filosofia aquela s.ntiqissima de Pitgoras, de origem

    hebraica: uma astronomia e uma fsica mosaicus, mais ortodoxas do

    que as do pago Aristteles.

    Campanella est em priso p.~1_~a, .irn hertico pluricon-

    denadopor--suasweiS leIesraiias~ atomistas, antiaristotl icas . Ga-

    f .. ' >

    lileu no podia ganhar um patrocinador mais inconveniente e com-

    prometedor. Tanto que nem naquele momento nem depois Galileu

    querer comprometer-se, respondendo s generosas e catastrficas

    iniciativas de Campanella em sua defesa. Mas, em 1622, quando a

    Apologia se r publicada em Frankfu rt pelo luierano Tobias Adami ,

    e os nomes de-Gaiileu,' do cardea l Cusano, de Foscar'ii1r,-deBruno,

    ,

    de Kepler,

    dePatrizi,

    Telesio e Hill sero reunidos pelo autor do

    prefcio, sob a luz irenista de uma nova filosofia, que no c?nhece

    8

    fronteiras religiosas, ento Galileu estar verdadeiramente, publica-

    -mente comprometld. ----''

    -- 1618, 23de-maio. A defenestrao de Praga o sinal claro de

    uma guerra europia que queimar os lt imos sonhos de pacif icao

    cri st e pro jetara no estado de nimo dos ca tl icos mi li tantes as ima-

    gens de urna sanguinolenta cruzada redentora e de um renovado

    fervor de ortodoxia tridentina.

    Mas s a sucessiva, apavorante apario no de um mas de

    trs cometas nos cus obscuros da Europa far e loqentemen te pres-

    sagiarem todo o seu horror a bestial crueldade e a durao bblica

    daquela Guerra dos Trinta Anos.

    1619, maro.

    A

    Companh ia de Jesus publica, annima, a con-

    ferncia sobre os cornetas surgidos durante o inverno. O autor era o

    padre Orazio Grassi, de Savona, ento com 36 'anos, professor de

    matemtica no Colgio Romano.

    A

    publicao, intitulada De tribus

    cometis anniMDCXVIl/ disputatio astronomica habita in Collegio

    romano,

    merece o aval da grande universidade da Companhia de

    Jesus porque um documento com a qualidade cientfica da astro-

    nomia de observao praticada pela ordem. Grassi baseia-se nas

    modernas idias de Tycho Brahe tornadas mais precisas pela nova

    coleta de observaes sobre os cometas reali zadas pe los observa t-

    rios da Companhia de Jesus espa lhados por toda a Europa.

    assim que o padre Grassi pode comunicar de forma bri-

    lhante a confirmao da ausncia de uma paralaxe estimvel do co-

    rneta. No mesmo dia.

    10 de

    dezembro, em Roma e em

    Colf iia,

    observa-se com efeito uma ocultao estelar idntica por pr ,,: do

    astro errante.

    A exigidade

    d

    a pnralaxe ,

    o movimento constante de tipo pla-

    netrio, a ausncia de ampliao ao telescpio induzem o padre

    Qrassi a situar o corneta em urna posio compreendida entre a Lua

    e o Sol:\l..m_~ory~_(;~l_e_stem movimento sobre um crculo mximo,

    brilhante por refleti r nluzsc lar, diversamente do que pensava Aris:

    itelcs: Mais urna vez, a .astronomia. jesut ica .d

    ao

    .Colgio

    R O - \ - .

    nlan. como-'qtland 'r~c~~heera ofic ia lmente as descobertas do

    Si- \

    d e - r e s

    Nuncius e das manch as solares, um exemplo de sua despre- _

    conceituos,,1bc-~Jaeepe-sg~is~. ,

    '-'-:~W:Junho:CY-,~;-nco'~meta que Galileu observara em toda a

    sua vida remontava s recordaes da adolescncia quando, aos

    treze anos, viu em Florena o cometa de 1577.

    21

    Mas, solicitado por

    diversos lados a pronunciar-se-' e preocupado com a ameaadora

    autoridade das teses ofic ialmente adotadas pelo Colgio Romano ,

    49

  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

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    27/234

    IL

    diam deixar escapar cer tos aspectos f ilosficos ou teolgicos mui to

    comprometedores pata sua iniciativa conjunta. Com grande antece-

    dncia sobre a impresso, monsenhor Ciampoli e Vrginio Cesarini

    manobraram para que a autorizao ecler.istica fosse confiada a

    um jovem professor de teologia da Minerva, o padre dominicano

    Nicco l

    Riccardi, genovs .. galileano destin ado a faze. uma rpida

    carrei ra no Santo

    Ofcio.

    A ordem do padre Riccardi, que se con-

    frontara com a Companhia de Jesus em uma grave polmica teol-

    gica muito recente e apaixonada, no podia pedir nada melhor do

    que conceder uma licena favorvel a um livro que denegria aber-

    tamente a autoridade do Colgio Romano.

    A licena traz a data de 3 de fevereiro. O padre Riccardi, na

    realidade, no r.avia concedido ao Saggiatore uma autorizao no

    costumeiro est ilo requerido pela burocracia inquisitorial, mas dedi-

    ca ra-lhe um elogio diti rmbico, uma espcie de public idade edito-

    rial ante

    litterarn ,

    escandalosamente favor ',vel e atraente, O padre

    Riccardi, em vez de limitar-se a dizer que a obra no era contrria

    religio, como era seu dever estri to, proclamava a ortodoxia do l ivro

    e dava-lhe um reconhecimento no solici tado. Louvava tambm

    indevidamente as tantas belas consideraes concernentes nossa

    filosofia [sic] e os muitos segredos da r.atureza anunciados ao

    sculo graas sutil e f irme especulao do autor , em cuja poca

    o revisor teolgico se declarava feliz de ter nascido. A autorizao

    para o imprimatur chega mesmo a uma piscadela de cumplicidade

    com a ironia eficaz do ttulo do livro, imitando o verso com que

    Galileu colocava a

    Libra

    rr.er c de sua prpria verve.

    47

    A assinatura de um Lri lhan te telogo domincano. embaixo de

    um imprimatur to elogicso, consagrava .) sucesso do Saggiatore

    antes mesmo que fosse publicado.

    1623, fim de julho- 6 de agosto. Golpe de cenu: a Cadeira de

    Roma e s t vaga . No Vaticuno, g randes manobras de Ciampoli antes

    e do cardeal pr ..francs prncipe Maurizio :Ie Savia durante o con-

    clave.

    O

    duque Cesarini faz sua parte na praa Navona, junto ao

    embaixador da ~:;:spanhae junto aos cardeais pr-espanhis. O resul-

    tado desejado

    a eleio do cardeal Maffeo ~~d?~ni. que em 6 de

    agosto, depois cie~tenu-a-nstral:tVas-i.(lturnas .cntre os cardeais

    eleitores, torna-se Urbano VIII. ~

    . . J < ~

    A praa de

    JI SUS,

    os vrtices da companhia, tradicionalmente

    a linhados com a Espanha, avaliam com ateno as incgnitas da

    eleio do ex-nncio em Paris e de uma imprudente ambio de

    subtrair a poltica papal ncgernonia espanhola. No so exata-

    54

    mente as petulantes e

    n

    dosas manifes taes de jbilo dos liter ~s

    inovadores e dos aristocratas progress istas rffii s, galvanizadas

    pela eleio de

    Ur:l

    pap~--a-m1g~~e-Ga}} ~_e_~teleci~ jifin-ad~~-que

    procupam os jemtas. ~as uma linha~< r-Ld.(t-e 'h.lrl .cl,11t\lr. 1 e

    liol t ica imr,1 '0vis\ ldaL-~~9~~itos so contrr ios linha de reno-

    viledeMa dilirej.t contra:refQrm[sfa~li~id >.eJo i ~de

    Tr~Comp~nhia de Jesus, que o instrumento mais eficiente

    dessa linha de conduta, no uma vtima da estreita e provinciana

    viso romana dos problemas, que condiciona muitos de seus ini-

    migos na cria. O front princ ipal da luta contra -reformista no so

    os corredores da cria nem os sa les das academias, mas as planuras

    c as cidades da Hungria e da Bomia, onde os padres da compa-

    nhia , que seguem os reg imentos de iVfantaria imperi l.i s, vencem:

    eles reconquistam para Roma as igrejas profanadas pelo- .tos pro-

    testantes, iam a sua bande ira decorada com o smbolo eucarst ico

    nos rnonastrios de decadentes e corrompidas ordens re ligiosas. e os

    confiscam, para transform-Ios em colgios e centros de reeducao

    religiosa, sem incomodar-se com as reclamaes romanas dos frades.

    O sucesso oos jesu tas impressionan te, no principal t eat ro da

    guerra de re ligio: nos terri trios apenas arrancados aos protestan-

    tes, populaes ir teiras so reconvert idas em massa ao catolicismo,

    por todos os meios, a qua lquer custo, mesmo que se ja prec iso pagar

    em dinheiro, como intel igentemente suger ira o cardeal Bellarmino.

    Forta lecida por essas vitrias e pe la conscincia pol ti ca e rel i-

    giosa de suas dimenses mundiais, a Companhia de Jesus sabe que a

    fide lidade ao Imprio a melhor garant ia para a Cont ra-Reforma.

    Ela desconfia das temerrias aberturas diplomticas do novo pont -

    fice dirigidas a um aventureiro sem escrpulos como Richelieu, o

    novo ast ro nascente da

    poltica

    europia. Para os jesutas um mo-

    mento delicado: arriscam ser isolados pelo novo regime e ser obri-

    gados a ceder

    SU~i

    tradicional influnc ia no Vat icano, nas questes

    poli ricas e culturais, a um novo entourage intelectual.

    1623, agJs1o. H muito temptl e -Igreje-nc .tnha um papa to

    ~R

    etOli~e~~~s. O papa Barberini florentino,

    :. ->

    poeta, esportivo. Suas cavalgadas nos jardins do Vaticano e seu s-

    ...---------~ quito de artistas florentinos excitam os aristocratas esnobes e os inte-

    ~ lectuais inovadores romanos. Os lit eratos inovadores esto em evi-

    i dncia . Seu vate, Giamhat ti st a Marino, deixa Paris, once publicou

    f com enorme esc ndalo

    (I

    Adone, para ir render homenagem com sua

    \ presena ar

    .'lOVO

    regime de Roma. As academias rese rvam- lhe uma

    l

    f acolhida triunfal.

    t

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    55

    i ~.

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  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

    28/234

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    ,

  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

    29/234

    Adone e um outro livro recentemente impresso, tambm ele hete-

    rodoxo, e que se vende bem na nova atmosfera romana: o Hoggid,

    do padre oliveta-o Second-: l.ancillotti. Como o Saggiatore, tambm

    esse ensaio de poltica, his rrria c moral desacredita o culto da tra-

    dio. Tambm ele, come o Saggiatore, dedicado ao papa Bar-

    berini.

    1624, 11 de abril. Morre Virginio Cesi.rini, um dos artfices do

    sucesso .do novo livro de Galileu. Funerais oficiais no Capitlio,

    l24 23 de ab~il. A Roma, onde se sucedem as chegadas de

    artistas e intelectuais ilustres, como o poeta classicista Gabriele

    Chiabrera, o cavaleiro Marino e Nicolas Poussin, chega tambm Ga-

    lileu, o mais ilustre cientista da Europa. Ele fora precedido de Mar io

    Guiducci, tambm protagonista, se bem que com menor participa-

    o, da vitoriosa polmica sobre os cornetas que fora a causa de seu

    triunfo . No dia seguin te , 1 ) . - P J l P . , a Barberin i recebe Galileu em au-

    ~vada. o pr imeiro de ~srie-ae ell-ontr~s muito afe-

    tuosos entreos dois florentinos, Foram ainda mais calorosos os en-

    contros com o cardeal -sobrinho. Galileu S2ooreia novamente o su-

    cesso de 1611, ainda que desta vez os jesutas do COlgio Romano se

    afastem do coro de aplausos com um embaraado silncio oficial.

    1624, maio . Galileu aprovei ta as festas e os convites para entrar

    em contato com vrios cardeais, a fim de sondar as reais possib il i-

    dades de poder recomear a falar de Coprnico, como sugerem al-

    gumas vozes na cr.a. Nenhum desmentido oficial da condenao

    de Coprnico, mas muitas afirmaes benevnlentes.'?

    .U>24,--8-G--jtH 'l-ho . Com muito encoraiarnento .e felicitaes. a

    promessa de uma penso para si e para se.l filho, presentes e bn-

    os, Galileu retoma a Florena, com a cabea no novo Trattato dei

    flusso e dei riflusso . Leva a Fernando II de Mediei um elogioso breve

    do papa (escrito pelo amigo Ciampoli). Um reconhecimento of icial:

    G~UJ~.l.l

    ali defj.llido~~~@~? dileto'

    56

    c?papa Barberini.

    Galileu parte, mas, desconfiando 'da: .. vagasgarantias recebi-

    das e do rumor dos festejos. deixa em Rorra ~\o1ar:,oGuiducci, seu

    aluno e amigo devotado. A sombra de Gulileu, Guiducci j est

    introduzido nos ambientes romanos que contam. Com quarenta

    anos, advogado c l itera to , cavalhei resco , de.sernbaraado. Guiducci

    um homem de mundo: sabe falar e sabe cultivar relaes sociais.

    Galileu conf ia-lhe. por isso, dois encargos delicados. Em pr i-

    meiro lugar, ele dever receber e fazer circular discretamente em

    Roma, no outono, registra lC:J as reaes, um manuscr ito um pouco

    delicado. depois que os amigos Lincei o t iverem revisado palavra por

    51 i

    i

    t

    I

    ,

    / I.

    I

    (

    I

    II

    . / 1 ..

    I

    I

    palavra. Ser a resposta a monsenhor Ingoli, uma apologia coper-

    nicana em tom comedido, para tatear os verdadeiros sentimentos

    romanos.

    O segundo encargo confiado a Guiducci por Galileu era in-

    Iorm-Io. em tempo h'bi l e regularmente, sobrelOoo gue sucedia

    ~ma em torno do S i l i g i a t - ~ r . - T r - t . ~ ~ - ~ e ' ~ ; b r e t u d ode-~sPi~n;'r

    s reaes dos j f,mi ts~prt icularmente as do padre Gr: si, para

    saber em que bases ele estava preparando secretamente a sua res-

    ~osta que, como \erernos, e le havia imediatamente planejado.

    Espiona-

    hoje

    urna

    profisso comum, paga pelas instituies

    competentes. No sculo XVII, em Roma, onde tudo era .~eg~e.do a

    espionagem er uma arte sem preo:

    u~a~. ~_9-llt~[.,p.ara.ss-

    c : o r t r - - s e m

    ser descoberto as intenes di~si~~ta

  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

    30/234

    Pouss in e de Lorruin abrian- para o mundo todos os ser.tidos. A per-

    cepo sensorial do calor ,

    :10 ,

    cheiros, das cores, do tato e~aum

    pr61emu queaavacesso

    irue

    diuto u um

    det

    ue

    de

    fsivn.

    Na Libra, Sarsi conduzira todo c seu discurso para a fsica

    do ca lor, a fim de demonst r-ar contra Galilet. que, ainda que os co-

    metas no fossem evaporaes inflamadas pelo atrito de seu movi-

    mento contra as esferas celes tes, a explicao aristotlica do calor

    era exata.

    Para desacreditar seu adversrio , Gali leu, como era costume

    fazer, conduzia seu ataque para o flanco da fsica e da filosofia.

    A natureza - diziam os professores aristotl icos de f ilosof ia

    - falou pela boca de Aristteles, Qual era a gramtica dessa lin-

    , . , A - ~

    guagem? p~~Y. .J ~~~t~~< j::..sk.a.J ....l~Ji.cia.da.naju-

    F\ ')

    L . )reza , era o estudl' das mudanas

    e

    dos movimentos das coisas ma-

    I \ f. . . \ ,)TL'iCLi

    U\ teriais.

    O

    mundo terrestr-{telt(le-n:i~tri~. 'O~da(j:osdo~ sertidos

    ,i,s~ prirnerrosqueSe

    pod.m

    conhecer e os mais

    dignos

    de

    f

    para

    '''penet rar a rea lidade do mundo que est diante de ns.

    A

    real idade apresenta aos sent idos diferenas in finit as de cor,

    calor , odor, fluidez, dureza. No entanto, todas as coisas tm em

    comum entre si pelo menos algumas qualidades ou formas funda,

    mentais: as coisas so quentes ou frias, secas ou midas, por exem-

    plo. Para a c incia

    aristorlica

    h quatro ele

    .11(,11

    tos

    fundamentais:

    tcrra:a. , Toguegua , q~~ se comperndeuma mesma matria

    c -POdc;l;convi te ;:, -sceciprocamente eru UII;,:o

    da

    U .I

    daquelas

    qualidades.

    A natureza ~ara um aris totlico estav. escrita e:n termos de

    qualid~2~.?~ ?:~v~i~ ~- io daSessas-quala.d;:s: o c',,:o:. ;:.- dureza,

    ,tCf. o cheiro er.:

    Ii1

    incren te~;a urna subst uc ia, eram qualidades

    reais ou formas substancia is ~) um milagre f. oderia Iazer uma qua-

    y'

    lici~i e sl Q.sisti :separada da

    ; ; 0 p r D l - s d 1 m 1 C ~ T . . .. . .

    '-- Tambm q~'anao os ,;lcrnentas seccmbinarr. para formar

    substncias mais complexas, as qualidades que os acompanham

    combinam-se par formar a. qual idades dos .:orr.postos resultantes.

    A

    matria era concebic a corno uma maneira de ser e a gram-

    t ica da linguagem cient fica ':

    uc

    descrevia

    Cl

    a uma corupiexa com-

    binao de nomes

    de

    q

    L :.U

    lidr..lc s

    reais.

    As regras d- ssa

    grum .it ca

    eram

    as

    da 19?ica de Aristteles:

    uma linguagem formada unicamente de nomes ligad(;s '~afiveis

    conceituais, Enuncia r um a vemonst rao

    cientfica ..

    n. i linguagem

    _a~i~lotlic_aJ.nsistT--;mpi:c

    , . s ,

    u-l:na-i;r:Jp;;si(:i~(:,;r ;l ~ ';;lsujeito

    ~ss~ciadoa_~rjlp~i~i.g_() '-P')fli~e

    o

    mu-r;,J e~taves:;ri,,; ~m cante-

    / J . . . . . .

    ~

    teres qualitativos, c-ada um desses sinais era redutvel a um con-

    ceito

    qualitativo.

    Assim. um corpo

    em

    movimento rpido aquecia-se

    porque, movcn

    do-st-,

    recebia do ar

    quente e mido a qualidade

    de ser quente.

    J por si mesrr.a esta gramtica das formas substanciais e das

    qual idades rea is era muito complexa. No sculo XVII foi-lhe acres-

    centada a inda lima srie de novas qualidades ocultas, como a atra-

    o magn tica, a viscosidade, a afinidade qumica, que as pesquisas

    de alquimia e de f sica haviam int roduzido na l inguagem cient fica.

    ,A

    m atria lida

    empregando-se essa gramtica de nomes ou

    lgica de nomes no era jamais a lgo independente em relao a suas

    propriedades. Era constantemente uma maneira de ser: ser quente

    ou fria, cheirosa ou colorida. Por sua vez. tambm o calor. os chei-

    ros ou u >cores r esult avarn de maneiras reais de ser .

    No difcil ver que essa linguagem de qualidades reais era

    um iogo de acobana conceitual que permanecia, porm, sempre

    ligado a uma experincia sensvel . Sua van tagem consisti a na possi-

    bi liuade de evi .ar a recorrncia a imaginrias estruturas inv isvei s,

    para

    explicar os fenmenos e as propriedades dos corpos. De resto,

    a idia de

    Den .c r i to

    de que podiam existi r elementos invi svei s de

    ~m-i1sTtIic:-poi(i'irsC(5rpos,-como o

    i/ . .

    t ;nlpO, o ~;-~;on-iOvimcnteram formas-da cont inuidade poten-

    ci;-;neltesusclivelS

    d e

    linl;':'diviso ao infinito. - . . .

    - ----F:~itTmen(e absurdo e r a pretender estudar as mudanas natu-

    rais

    com

    um mtodo

    quantitativo.

    pois. embora a matemtica pu-

    desse

    Servir para

    descrever abstratamente

    alguns dados da

    expe-

    rin.iia.

    como na

    gec-mc tr ia

    ou

    na harmonia musical . no conseguia

    alcanar as

    causas do s Icnrncnos observveis,

    Como Campanella, como Cesi, tambm Galileu adotava con-

    tra .: gramtica de Aristte ies o slogan do livro da natureza aberto

    diante de 110SS0.; olhc-..

    Todos podiam

    ler

    err: torno de si as pginas desse livro fasci-

    nante.

    Ma; que

    cdigo permitia

    l-Io? A

    originalidade do Saggiatore

    consistia na proposta de

    decifrao

    dos sina is desse liv ro que , reu-

    nidos, formavam seu:

    vocbulos.

    S~-,.:. ~_~a,l;.? '.~J().'.'I~L.Pi.l l_d_~(;~frarsse_s_inais necessrio

    ~I

    v~r..l~ell>sJigura.s g~r,mtri(J.s: tringulos crculos e out ras

    igu- Q;~1,,~:'

    ra~ge~ll:tric s~f.;.m.inlenndioda .s quais impossvel compreen- ~ ',[..

  • 7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.

    31/234

    li

    I'

    I

    ,. ,''''''''1;111

    r .

    i'i'. ou Ir.t gr,lIlde

    sugesto

    ir..electual:

    evocatria

    de

    '1111.' r , 111.1,. IlIl('diat;1 conquis ta para os leitores.

    1 '.1.11111':.111)l'l'1I10X'lIl:, o sculo de ouro da cauala, da exe-

    ,.,., d ..

    iu.u-, -,

    lsticados sistemas de cifr: ..

    s

    para ocultar sob for-

    1I1I'11I ('II\VISas mais c elicadas mens-.gens diplomticas. To-

    .1., 1I,1-e-matrTa~7:pri;-d,;-~;j-;'-era

    ',.1111,I\''''iad;\ ,c cmisso ue partes muito suis de substncia.

    02

    A hiptese ~a puramente reonca. Galileu no dispunha de

    nenhuma observao sobre a perda de massa de um corpo aquecido

    pio

    atrito. Para ilustrar sua idia, ele usara no Discorso, de Mario

    Guiducci, argumentos de observao improvisados que a Libra no

    tinha nenhuma dificuldade em descartar. O autor da Libra podia

    comentar-se em

    re u t-k -s

    no plano experimental , mas no foi assim.

    :::ars. mobilizava .e fato contra os frge is exemplos ga lil eanos obti -

    dos por observao, o arpumen to da autoridade que era reconhecida

    aos autores c lssicos.

    Era o argumento forte da cul tura of icial e seus ra ios no eram

    reservados apenas aos deba tes cient ficos, mas eram lanados regu-

    J

    larmente contra os inovadores na poesia, na msica, no teatro. O . r .: ,.( .~.

    mtodo de debate que

    fazia

    escola , de apela r-se ao princ pio de auto- ~\

    V \A .f ' '' ' ' '

    ridade dos autores, era obviamente o Sio de argumentao das

    i'~',G..{'c,

    \, .o

    i

    _ . _. . f 0 ,; . -

    l, ,

    grandes controvrsias que formam o pano de fundo de toda a cul-

    ~::'A,,,7>i'j{i,

    tura do sculo

    X V)J.

    O princ pio da autoridade dos autores e ra to indiscutvel aos

    olhos do autor da Libra que o fazia esquecer mesmo a mais mnima

    prudncia crtica na citao ind ifcrenciada de suas fontes em apoio

    a suas idias em f sica. Mas aquilo que para ele era um poderoso

    argumento, mais

    autorr.ado

    do que suas prprias consideraes

    ernpiricas, era, ao contrrio, aos olhos de Galileu, o lado fraco do

    r.dversric, o mais vulnervel s armas da polmica intelectual e da

    ironia litercrra.

    Galileu nesse momento devia pensar em Maquiavel, que ensi-

    fi ara que os inimigos ou se afaga ou se elimina. Ele decide ento

    .. ~---.. ,. r

    enr runar seu auversano, descarregando com o Saggiatore a arma

    n.ais infalvel e dettrutiva para a honorabi lidade cient fica da mais ~_

    ilustre instituio

    clturrl

    da Companhia de Jesus: a arma do rid-

    culo, apontadu p..ru lidevoo

    ao princpio da autoridade da tra-

    d.o.

    Ora, para o' jesutas esse princpio era mais sagrado do que

    uma citao ;:ritic.i.vei.

    Era um

    va lor de carter rel igioso e um ponto

    undamentat da luta contra a heresia. O modelo de autoridade era

    a~ueie da tradio da Igreja docente.

    Quando Gal ileu criti cava o recurso auto ridade de uma massa '

    de autores, ob.~f\'_

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    .

    definida pelas propriedades materiais universalmente cognoscveis,

    Obje tos fsicos so ento fenmenos puramente indiv idua is como as

    sensaes

    diretas das coisas.

    sensaes

    que c.e nenhum modo eram

    suscetveis de serem medidas . Objetos f s icos so propriedades mate-

    mticas e mecn::as indicadas por palavras como figura, nmero.

    dis tncia, movimento, choque e ass im por diante.

    Quando essas propriedades no so d .re ta ruente observvei s .

    o fsico deve procur-Ias sol n aparncias macroscpicas que as es-

    condem,

    lmagim.o especulat iva?

    No. d(:mQDstrac;5es sesuras .

    O Saggiatore propunha definitlvame;t substituir a fsica aris-

    rotl ica

    traduzindo suas proposies predic .itivas que diziam res-

    peito a experincias de qualidades para urr.a nova linguagem: o

    fogo ~1S: para 0k.~~l2 d~'l:l..?r~,

    A ~dur no era

    sem

    importncia. porque- ~ pas,sava de )

    uma l inguagem c..lkada sorre o S~~~,1l de .LOdosos dias ~

    L~ma,

    linguagem

    :llalS

    eluboradu

    C

    ,malit~c:,1. mais

    rica, e

    r:i89ro~a.-,

    l1avia

    'de t,ildis riiveisde

    vobula's;-s

    nomes ,

    ou seja,

    palavras como quente, vermelho, doce, que j,~mvalor pela sensao

    individua l, mas no pelo conhecimento c ier r'Ifi co. Havia depois as

    propriedades

    materiais.

    palavras como

    figura,

    movimentos e assim

    por diante, que eram universal 'e matematicamente cognoscveis.

    Muitas so as maneiras de narrar o livre, d a. natureza - a poe-

    sia, a pintura, a

    msica -

    onde os sentidos do privilegiados. Mas

    se queremos ler esse

    l ivro

    com

    J

    est ilo da f s ica devemos usar apenas

    aquelas palavras.

    Faltava, porm,

    explicar

    com proposies Iormadas com aque-

    las palavras c com aquele contedo mater ia l

    il

    que um sensao de

    calor transmitia.

    INTUIES AT:JMSnC

    ,Li

    Para demonstrar que a: qualidades at istotl icas so apenas

    est mulos sens veis erroneamente atr ibudos ao mundo objet ivo, Ga-

    lil eu ut il izava metfo ras, Uma delas eram as

    cegas

    produzidas por

    uma pena passada sob as na. i.vas

    DU

    nas p lantas dos

    ps.

    As ccegas

    so uma sensao. A pena Ikem em si mesma essa propriedade,

    que ela produz s na proximidade de um

    rgo

    particularmente sen-

    svel. Conferir

    cor de um objeto uma realidade fsica

    n o

    ser ia to

    absurdo quanto tribuir uma virtude estimulante intrnseca e real

    a uma pena?

    66

    Como u-d

    IS

    as metforas que extas iavam os literatos naqueles

    anos, tambm essa era na verdade um argumento retrico que no

    se preocupava muito com os d irei tos da razo e da verossimilhana .

    Entre uma sensao ttil corno as ccegas e uma percepo visvel

    no existiam analogias evidentes,

    Do ponto de vista retrico, ao contrrio, a imagem era suges-

    tiva. Eliminados os narizes, as mos e os outros rgos da sensibi-

    l idade. tornava-se convincen te a possibil idade de que as sensaes

    fossem devidas ao movimento de p~ia,

    minima

    pequenssimas e mveis dotadas de forma ( minima quanti ) que

    il1lE.ressionaY;tIDJ)S:,entidos .

    - - - a s c i n co

    sentidos (tato, paladar, olfato, audio, viso) so

    a tiyados pe la pene trao nos poros e meatos dos rgos respec tivos

    de partculas em movimento mais ou menos rpido dos elementos

    materiais (te rra, gua, fogo. ar, luz ),

    Ainda uma vez, Gali leu fazia avanos sob a aparnc ia concei -

    tual de tradio hermtica. Uma id ia t radicional do hermet ismo da

    Renascena era a da correspondncia entre microcosmo humano e

    macrocosmo, que muito recen temente fora -retomado por um ilustre

    mdTcounivers itr io de Pisa. o portugus Estvo Rodrigo de Castro

    no De meteor is microcosmi, publicado em 1621, em Florena.?'

    Tradicional tambm a idia de manter os quatro elementos aristo-

    t i icos.

    A novidade estava no esquema mecnico dessa correspon-

    ~ 'dncia que

    formulava,

    ou melhor, antec ipava uma fisiologia da per-;

    cepo

    baseada no movimento da matr ia.

    ;\ . t eoria corp.i scular da ao t rmica era mais e laborada tam-

    bm em

    rel auo s ui rmues

    galileanas de dez anos antes. O calor

    procuzido pela dissoluuo de um corpo em partes finssimas. No

    c .so de sua percepo sensvel no se trata de uma modificao de

    propriedade ou de estado, mas da penetrao da carne com maior

    ou menor intensidade. Mas so os elementos mnimos de fogo ,

    distintos dos elernertos microscpicos dos diferentes corpos quentes,

    que dissolvem um -orpo. O Saggiatore no esclarece de que modo

    esses e lemen tos de fogo dissolvem os corpos, nem como residem nos

    corpos, quando estes esto em repouso. Trata-se, em todo o caso,

    de partes microscj ; icas di :urna mat ria -prima, universa lmente di -

    fu::dicta,

    .n~,

    tr : ; .1w(,, ' tJ

    'Fi-' I ' M / ' ~

    67

    )~

    ..

    /

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    ceito de dimenso inf iniir mente pequena ;: de ,.'t:lvL'ld'l.k infinita-

    mente grande apenas para as partculas bJI1 I

    incsas

    partculas infini-

    tcximais de urn, matcria :LSCO'li:1U:'. caraz de pcne;;'ar a vista.

    Essas pg: nas de. Sa:{g:afOre, nu s q ua S

    l: averuad: '1ma

    teoria

    pr-rnccanicista das scnsuces, assim como

    1S

    urcccdentes, tm sido

    longa e variadarnente interpretadas pelos historiadores .; pelos fil-

    sof os da cincia. Infalivdll:ente,'i um certo ponto surge da rena dos

    comentadores um nome p::ra explic-Ias: Lr.cke.

    Mas] ohn Lockc, corno todo mundo sabe, s formulou idias

    mais ou menos anlogas meio sculo depois do

    Saggiatore .

    diicil para ns, hojc , c.iptur plenamente o cxlot o e a novi-

    dade daquelas pginas: par.i isso, deveria mos esquecer Lockc c vol

    tal' :;0 realismo do senso coruurn. Devcriarr.os ainda juntar-lhe uma

    slida tradio de cultura cscolstica, de saoer Iilosfico e teolgico,

    e conseguir submeter-nos :10 grande poder ~ autoridade que aquela

    tradio representava.

    Se nos

    cifcil,

    se

    no

    impossvel,

    ccnpreender por

    ns

    mes-

    mos a novidade daquelas afirmaes, -no: igualmente dif cil, mas

    talvez menos inr.cessivel , nnugiuar as reaues que :1 Icit u ra do'{,f:'

    giatore

    devia privccar nos

    leitores de

    sua r o C lC : : .

    . '(Era a recusa de uma filosofia. E'esta estava iic.issoluvelmente

    ligada religio e

    mentalidade. Era tr mbrn

    :l

    valorizao de

    idias marginais. condenadas e rejeitadas.

    -- A~f~~,~~~~/~~ima.',cc.mt)

    vin~~s,

    ou

    s.

    Hoje perceber.ros com facilidade todas as diferenas entre a

    filosofia de Br rno ,~ < de Galileu e no vale nem mesmo a pena

    reccrd -lus.

    Mas aos ':lll1lln;wri'.'eu;: que liam o

    Saggiatore

    aqueles carac-

    teres

    g,ficc~;

    da

    r,:;

    tu n'z;; recordavam a

    geometria proposta por

    Brullo .: tambcm pu;' Fruncesco Pa trizi para uma Iisica do descon-

    ti nu de estilo pit agric e violentamente antiaristotlico. Para uma

    fs:t..l V)JlO a do SakilJlOre, na qual os problemas do infinito fsico-

    ge,C:'1l;'l'll'O eram apenas n.encionados , aquela geometria bastava.

    Outu

    ..oisa

    eram as idias

    de

    Bruno sobre o infinito. totalmente ina-

    dequacias do ponto de vi st a matemtico.

    Naturulrnenre. llor trs do S gRiafore, e alm de Cio' lano

    Bruno. reconheciam se durante a leitura do livro de Galileu : ueias

    de Dcmcrito citadr.s 110 De elcmentis, ele Galeno: a cor e o sabor

    eram opinies, os .uomos e () vaz io , verdades . A mesma verdade

    aparecia imediatamente tambm da pena de Galileu.

    O

    De elrmenti.:

    era lima obra entre as mais lidas

    e

    mais estu-

    dadas. Bastava ter l' do U:11 manual do cursus filosfico para ter na

    69

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    -

    ~

    ~

    ~

    ~

    ~

    -

    -

    -

    h ~ ~ _

    ponta da lngua

    J

    ncn:e de Derncrito, diar.te de uma teoria como

    aquela do calor, odor, sabor que Gali leu propunha .

    Outra

    obra

    rnuitissirno citada na

    universidade,

    e muitssimo

    lida fora dela,

    e .iuvia mui .o

    ternoo, era o

    DI'

    rerum nuura,

    de Lu-

    crcio. Ora, quando Galileu int imava o lei te ~a pensar na rea lidade

    da cor, por exemplo, quem no recordava imediatamente a mesma

    crt ica de

    Lucrc.o?

    De qualquer cor que selam impregnadosc.s corpos, no creias que

    os elementos

    de sua substncia sejam ting. Jos dessa cor [... J . Alm

    disso, se os tomos so (o'.1Imcnte incolores, se eles so dotados de

    formas diversas que lhes errnirem produzir todas as t in tas e vari-Ias

    ao infinito, pelo jogo de cornb inacs de s.uas respectivas posies,

    dos movimentos que ela s~ imprimem reciprocamente, ser -te- fcil

    explicar por que aquilo que era negro pode subi tamente tornar-se de

    uma brancur a ma rm re a, I.

    corno o

    mar

    que

    muda do

    negro

    para o branco ao aproximar-se

    uma tempestade.

    O Suggiatn:e, porm, l..ivia dito que em .losofia da natureza

    no era

    t il servir-se de in a, ens po ticas corno essa de Lucrc io.

    De fato, a teoria a tornstic.i de Galileu era tambm precedida de

    uma pgina de slida lgica, para poder refu .ar o valor objet ivo das

    qualidades sensveis. Galileu

    nau

    Queria tentar a essncia com

    \jma ontologia metafsica

    un iv er sa l

    (:omo a dos fi~)SvTSioirios

    da Renascen;Calileu er;-~m matem.ti cQ nQ sc:nente 'um f :

    *

    Queri; , portanto, distinguir aquilo que se podia conh;;e r ob je-

    t iva e quanti tat ivamente daqui lo que no pc.dia ser dito cienti fica -

    mente . Mas essa vigi lncia metodolgica , que nos faz cit ar Locke,

    devia igua lmente lembrar a seus contemporneos as indicaes

    sobre os cri trios de evidncia inteligvel qu Epicuro emitira' Se

    recusas as sensaes e no clis.ingues o que

    t;

    suposto do que evi-

    dente com base

    r.as sensae ,

    e

    nas afeie-i,

    e isto

    a

    cada ato de

    ateno da mente, perturbars tambm as

    OUI

    ras sensaces com tua

    tola opinio e recusars assim iodo critrio .

    c:

    Com os critrios que havia indicado, o :~afgiut(,re pod ia ten-

    tar a essncia fisicamente cognoscivel dos tomos Ele interpre-

    tava, com efei to, a doutrina ristotlica do movimento causa do

    calor , segundo os movimentos dos e lemento'; mnimos de fogo e da

    emisso de partici.las de substncia .

    Essa exegese tambm fazia vir imedia.amente cabea um

    livro com ttulo s'milar ao de : ucrcio, o De

    rerum

    .iatura iuxta

    '()

    propria principia, de Telesio. Tambm Telesio, com efe ito, propu-

    nha a mesma exegese da doutrina do movimento causa de calor:

    emisso de partculas de ioga e de outros elementos, tanto no cu

    como na terra.

    (,7

    Um leitor qu e t ivcs- :e a sua disposio uma biblioteca rica e

    atualizada e que tivesse tiJo a possibilidade de conhecer, por meio

    dos catlogos do mercado de livros de Frankfurt, aquilo que se im-

    primia do outro lado dos Alpes, poderia colocar o Saggiatore na

    mesma pra teleira -rn

    que

    mantinha agora, junto aos velhos mas

    insuperveis Scaliger e Zabarella.? tambm o De rerum sensu et

    magia, de Campanella, e a cativante Philosophia naturalis adversus

    Aris totelem , que o mdico francs Sebastien Basson havia publicado

    recentemente, em )621, em Genebra. Se t ivesse perdido a primeira

    edio do divertido manual de aforismos atornsticos e ant iaristot-

    licos

    ue

    Nicholas H ill , o Philosophia epicurea, democritiana, pode-

    ria encontrar

    ainda

    a segunda edio publicada em Genebra, em

    1620. Remontavam ao mesmo ano, 1620, tambm as m tis srias

    Exercitationes philosophicae

    atomst icas, de David Gorlaeus, publi-

    cadas em Leiden.

    Mas no era necess r io i r assim to longe para dispor de obras

    cheias

    de

    refe rnc ias apropriadas para entender as aluses do Sag-_

    giai~;eilOs corpsculos. Bas1ava ter comprado ou ter pedido em-

    prestado

    o recente livro publ icado em Florena, em

    1621, pelo

    pro-

    torndico

    e tsot c da Universidade de Pisa, o portugus Estvo-,,,, ~~yyJV);

    Rodrigo de Cast ro int itul ado como dissemos De meteori s micro- \ r> ,,~

    cosmi l ibri quattuor ,

    certamente conhecido at por um le itor rnode- ' \ ~.;

    . l ; _ p ~ Y - : -

    rado como Gali leu, um livro importante e injustamente negligen- \ '1 '

    \-:t.Nj~

    c iado pelos h irtoriadores. \ iI;~

    (~_>tjv-

    : I ,

    ~Jivro._d_e_._(~as5ro es_t~vam todas as referncias necessrias

    ~~~J~,J_'.

    p

    ra situar e ,')aggi (ore: ;; teoria dos tomos - elementos grficos

    ~ Cov.~

    ~liTef:'-s-

    se,t:;~nd0 a teologia de Ccero. Est~vam tQdas.as citaes / .> c + ~ . v ,

    teis

    de Lucrcio para entender como no existem qualidades sem

    ~:

    tomos. Explicava-se

    a

    direrena

    entre os tomos e os elementos /

    rninimos

    aristotlicc

    s, a

    idia

    de que o calor

    substncia e no qua-

    lid.ide e as correspondncias entre macrocosmo e microcosmo.

    Tudo, naturalmente, para demonstrar que Aristteles e Galeno ha-

    viamv atacado mas de me.do nenhum vencido a teoria atomstica

    de Demcrito.

    Mesmo para

    JD1

    leitor menos atualizado, e que tivesse feito

    apenas os estudos f ilosf icos univers itr ios normais sem continuar

    acompanhando os debates da nova moda atomstica, bastava , se ele

    t

    t

    7

    t

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    .\;.~or'L vintc ano\ dcpoi. (b condenao de Br.ino .

    ,')'uggiUlOr('

    [t'nl,)\';l d-lc novamente.

    ~ Dcmcri:o, Fpicuro. Luci cio, OCt::lIT, ,el,:SIO, Bruno, Caru-

    . pa nclla, -Coprnico: a filosor:a da natureza (., ..lggi([.,re evocava

    urnu

    galeria

    de auu .

    res

    bem pouco recomendveis. O~ .l\:e

    entre

    eles

    eram catlicos erari ainda nu-r-os recomendveis e

    cit v.iis

    em urna

    obra publicada em Roma, p,.,i~ todos haviam :,ido condenados pela

    Igreja,

    Numa poca em que c.r d.t obra de Iil o s.ii, esfo ra va-se com

    maior

    Oll

    menor sucesso para ler como defensores oficiais autores

    l'at(,licos, o SlIggia/orc exibia, ao contrrio. sob forma dissimu-

    l.ul.r mas bem visivcl aos olhos exegticos c deciradores dos contem-

    '

    ma casa de

    Bellosguardo, talvez

    j

    pensando

    em seu

    livi

    o

    DeI fiusso e de ri-

    flusso , escrev ia ao prncipe Cesi: vagueiam P' r ruinh. .mente coisas

    de alguma importncia para a repblica Iiter i.ria, pa va as quais -

    se elas no se efetuarem nesta maravilhosa ccnjuntura ...- no ser

    possvel, pelo menus no que 1'1i' diz respeito, cacontrar i.ur.ais ou trc

    0 ,-(

    .J

    semelhante. ; :,~..u/I ) .hV~\ l:L(~/\v.

    '\.

    7 ~_ ._,

    '-,

    .

    ,

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    J

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    .~ ,) ,l'I:y / , , - J J . . . J

    I.

    .' (Y-~''AI\J.' . ': .;,,.;,.,.

    , ,-:' )

    ,.

    , ,

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    \ ~ -: 7 , . -, : . ~

    71; :-,;;

    ...i, .; ,

    ..-

    . .. :

    1.v\ V~ '.0...)> , 1 .;'

    Sem ci lar nome-s. ;'(lI1HI ::mprc ness.is ocasies oficiais, o ora-

    dor cvocav.i de modo cv.dcn tc ,-,ara seus ouvintes o carter venenoso

    das reaes dos jesuita., do C rlgio Romano contra o

    Saggiatore .

    Galileu de fato louvado :ogu -lepois, como de costume com a com-

    parao com Cri.a v Colcunbo. E junto com Galileu celebrado,

    sem ser nomeado, um famoso alquimista calabrs que devia ser

    Campanella.

    Nesse ponto. G iu liano F abr ici lanava um ataque temerrio

    contra

    Ar ist tel cs:

    6 -

    Filosofia devcriu d

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    considerar. kgitillla,nCIlIC

    ah. s que aque la-. I,hr;,> crun:

    grande-

    f ~

    reveludor dos :r';ll:d s ;,l :10\' saber desejados pelu Academia dos

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    mente ll'nlrria, a ..~riSI\ltd, ..

    C.;:;i conxidcro.i-sc a\'isa'.,o e 11;-\0 ,eI1WU insi-ur no prnjllo de

    puhlicuc: a obra ciemificu e

    I'il.,s'lflca

    de Pcrxi

    c.in u r.oava inc.rita

    na b iblioteca do palcio Cesi. f';tas, como o cat'og fora nublicado.

    tod'h sabiam que prcsriuioso centro de pesquisa em

    IW,':. i

    losofia

    cr..

    ag\lla

    aquela biblioteca da Vi.i Maschcra dOro

    lkqualquer modo, Ior.. um fracasso. Fcderico

    e c : :

    desejara

    puhlicar Persio para revolver ;,s aguas romana:

    CO,l1

    urua operao

    1iL' dcslaxuc Illlfrul/l da cultura oficial e reduzir a presso sutocante

    do conformismo aristorlico. fi, idias de Galileu seriam beneficia-

    d;IS por a qucla dcsoprc-c.o. Mas o Santo Ofcio c as instituie-,

    oficiai~ haviam dito no. mesmo ao poderoso prncipe Ccsi. diante

    ILtquck dcsufio it cu.una ;,ri,t tlil'a.

    Dal.{uclc t n

    o

    nu-n t o cem d iun t e , ,'lllllll

    vcrrmos Ilui,

    tn rdc ,

    a

    Bib lioteca Ccx i fu i co locada na ala de ruiru das nstituiccs da C L l r . -

    tr.i-Reformu romana COi1\,' um per igoso arsenal de ULlS suspeitas.

    6 :111ll cra l o l Z: Copcruico SI ser condenado quatro ',iIlOS mais

    tarde.

    A I.',VCICL()}J(1JIA IJF

    FI-,Di'/(/CO

    CLSI

    1\ 1:;s (l priuci;: h:dericlI Ccx i agentou ir rr.c. Axxu rniu pes-

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    dc~t:II\\iVt.U

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    pr\.\.iclU de publicar

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    in a i-, or.:'lili,':\ c

    siSlt'I1l:\ti,',I,

    u m a fioxofiu da rat u rcv.a N l undu,

    I) fr:ll'assll n o Ioru ,, : to gra\e assim: pr ovav elmernc os inditos de

    Pe rsio dcvi.uu cs ta r ;: indu a iulhudos de obscuras

    noes I~S, ;uL tSI

    icas.

    Podia-se revisar e melhorar aquele projeto editcral e prepara com a

    colaborao dos

    1l0\'pS

    recrutas da academia um.i obra i.itcirumente

    nova.

    Escolheu-se um t tu lo de sabor rerascenti: 'a: 'lh

    eatru ni nutu-

    rale

    C0l110

    o Thtrc de lu nut ure que Bodin nublicara . .m 1597.

    COIllO

    a edio de P.

    rsio :

    que deveria ter come ;'a(; o com

    0

    Ira lado

    fil os fico De recte ,,)llil0.\f)phUlU;i, tambm este rovo pro .e t.: ei.ciclo-

    pdico continha na abertura um tratado Iilosfi-.o em forma de dis-

    curso pre liminar int iiulado Spcc'u um rationis, s .bre :J. a rt.. c. olhar

    e do raciocnio na experincia c.en ti fica, Este :

    .i

    se urso preliminar

    continha por outro lado um quadro

    sinpt ico

    preciso das

    matrias

    tratadas. No era ainda lima rvore do saber, er.; antes um catlogo

    lgico por matrias da biblioteca do palc io C esi. Um espelho

    (i6

    I

    I

    I

    t

    I

    f

    ~

    t

    1

    I

    Lincci.

    Conheo.mos c~~;'.'projl'lo': o discurso preliminar da enciclop-

    dia Cesi porque

    Ulll

    mn nu xcri

    t..

    de Cesi contendo o quadro das ma-

    trias e aquele discurso terminou, no se sabe como, na Biblioteca

    aciona de Npoles. \.;

    Na enciclopdia C:'si deviam figurar diversos aspectos do livro

    da natureza, correspondentes as vrias sees t Frontespcia ): a

    f i -

    s.cu iPhysico-rnut.esis), a cos.nologia (Coelispiciufll), a meteoro-

    logia (De 'uere

    1'1

    Thuun.atombas),

    a

    biologia (De mediis naturis in

    universo

    e

    De

    plantis imperfectis), todo coligado

    a

    um tratado de

    bibliografia e de bibliou.cnia t Hibliologia) e a um programa de edi-

    es acadnucas i

    Lsnveografo),

    t possvel da lar eiS\.' prourama em torno de 1615, depois da

    lrus

    ua da

    tcn

    tu tivu de

    Iazer imprimir as

    obras de Persio e depois da

    entusiasrnante

    v isita de

    Galileu

    a

    Roma.

    A Pliysico-mathesis

    CO 1-

    tinha sob seu feliz neologismo as polmicas idias e os fascinantes

    programas exper imenta is que haviam caracterizado o fulgurante in-

    gresso de Galileu na filo- oiu da natureza c na Academia dos Lincei:

    idias atornistas sobre o calor, sugestes sobre a luz e o magnetismo

    sob

    o ponto

    de vista da

    teoria

    ccrpuscular.

    AlOl110S

    o titulo de um artigo-chave da nucrofisica que

    deveria ser descnvr.ivido na enciclopdia de Cesi. mediante Ul11:' se-

    co especial imitula du J)(' ('orr'urihus invisibilibus que compreen-

    dia 11 ai', as f(ll'I;a~ niagllli,'as, ., fora muscular e os odores.

    Ou t rox tr.ll,:oS da tvvis da influncia de Gulileu sobre IIgrande

    projeto: o estudo corpuscular

    d e >

    calor. da luz quente e da luz fria

    da I;eti;.l lu.ninesccnrc d .. Iumo.a experincia romana de 1611.

    Sobre todos esses Paruuoxos fsicos que nos parecem com-

    pl euunernc contrrios aos dogmas admitidos, ns estabeleceremos

    raciocinios c cxperj,:n , :;:' u.n programu certamente muito am-

    bicioso

    [1., resto, ;\

    ei .c ic lopdi a '.'~

    Cesi queria s,~r uma obra de rup-

    tura do saber institue. -,m::l ,; a,s i ias atornistas eram as nicas capa-

    le~ de p;>r .un quext, l.Jda

    ;l

    UHlstr:i\'J,ll da lilosofi natural e da

    medic ina pcr ipatti

    ::,1.

    Um

    prcgrum.t :~'.il~ant e muito difcil para um grupo de

    cstudicsos 'luase IOd'.'s .lc Iortrao literria e filosfica: estudar

    com ex)eri;' : i;\S d,' alqu.mia, metalur gia. medicina uma teoria cor-

    puscular q, e ;:( aquele mornc.rto estivera ligada ao misticismo do

    Corpus hermcucu m, s idia s qualitativas e ocultistas de todo o

    ti

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    ; 1 . ,

    .., hlcmu da imortalidade da a'rna. Urn prograrr.a ce pesquisa atua l em

    filosofia, de erudio e de polmica contra o uteismoe o naturalismo

    categorias aristotlice.s, durante as longas discusses entre Cesarini,

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    que sc inf il trara at nos sales dos palcios ro.nanos. Aos olhos pers-

    picazcs do cardeal Bellarrr.iuo aquele tem . adaptava-se perfeita-

    mcutu intensa e melanclica sensibilidade desse Jovem crente

    intelectual.

    O duque Cesarini aplicara-se com o empenho que dele era

    esperado a recolher as informaes para esse trabalho, mas as espe-

    ranas que nele haviam sido deposi tadas em to alto grau acabaram

    ~ sendo completamente deludidas.

    Em 1616 Galileu, como sabemos, dirigira-se a Roma. Fede-

    rico Cesi organiza ciclos de conferncias c de debates a favor da nova

    ' f ilosof ia em vrios palcios romanos. Um destes era o belo palcio

    rcnascentista dos duques Cesarini. onde Federico Cesi apresentou

    Galileu a seu jovem primo prodgio.

    Galileu sabia fascinar com a palavra e corri experincias. Um

    jovem que no tivesse um prestgio acadmicc a defender no conse-

    guiria fugir fac ilmente ao encanto i rresistivel das argumentaes

    .. daquele crebro mquie to que Gal ileu era e de seu talento natu-

    . ral

    Q~

    fazer d~..::~~.l.~ra~~s ciTiCc)isas mnimas, f~ise'pten-

    tes e com outras mais difceis e ocultas , como

    r eco rda r

    o Saggia-

    tore a propsito dos emocionantes experimentos de fsica fe itos na

    casa Cesarini.

    . F~J.:am~o..b. .etud_~,~~SJ inller.irrt~I1J.9_sque.....

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    liano um texto de Fsica natural , Da alm r , Da luz~' D as artes

    definidas segundo a na tureza . Havia preenchido vrios cadernos

    com matrias de mecnica, sobre a resistncia das cordas, as bom-

    Em Roma, o prestgio intelectua l e soc ial do Colgio Romano

    dos jesutas havia tempo tinha colocado na sombra a antiga univer-

    sidade romana da Sapienza , desertada pelos filhos da aristocracia

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    bas e os planos inclinados.

    Giovanni Ciampoli mantinha relae , de. carter cientfico,

    bem antes de 1629, com o matemtico galileano padre Donaventura

    Cavaliere, da Ordem dos Jesuatos. Provavelnente devemos tambm

    a esse relacionamento uma srie de ttulos de manuscritos matem-

    ticos, seja sobre a geometria dos slidos sej a Sobre a quantidade

    e sobre o infinito .

    No mesmo perodo, Ciampoli mantinha em Roma uma rela-

    o direta com o padre Castelli, estudioso de mecnica e de fsica,

    autor de estudos sobre o calor e as manchas solares. A marca desse

    perodo de fe rvor cientfico em comum permanece ta lvez no ttulo de

    um dilogo em italiano de Ciarnpoli: Sobre o Sol c sobre o fogo ,

    que as idias corpusculares de Castelli sobre a emisso da luz e a

    absoro trmica e luminosa podiam ter inspirado.

    Os delicados encargos na cria, em respeito aos quais no

    podia provavelmente comprometer-se demais com sua nova filo-

    sofia , desviavam, porm, Giovanni Ciampoli de levar a termo epu-

    blicar as pesquisas cientficas j realizadas ou em estado de projeto.

    Por ora, aqueles apontamentos e projetos manuscr itos permaneciam

    - junto com a correspondncia cientfica e pessoa com Galileu e

    com os escritos de Virginio Cesarini - na volumosa massa dos ma-

    nuscr itos da biblioteca de Giovanni Ciampoli.

    CORRIDAS ACADMICAS E TROPEOS DIPLOMTICOS

    Esprito pragmtico e poltico, monsenhor Cianmcli preocu-

    pava-se agora sobretudo em transformar a admirvel conjuntura

    intelectual e poltica criada pe lo novo pontificado e pelo sucesso do

    Saggiatore num autntico renovamento cultura l em Roma, Toma-se

    o mecenas~lo~..Jta.Jjl~a.I1os

    em Roma

    e explora suas erivi legfadas

    reiaes com o novo poder, realizando um hbil trabalho d e - a m -

    paO do consenso e cte-lgit imao ins titucional e un