revista galileu agosto 2015

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LIVRO LANÇADO NO BRASIL MOSTRA COMO A CONSTRUÇÃO DE HÁBITOS E DE AMBIENTES AJUDA VOCÊ A SER MAIS CONTENTE — E DAMOS DICAS PRECIOSAS DE COMO CHEGAR LÁ 24 GALILEU ANOS COMO FAZER UMA HORTA EM CASA – PODE SER NO APÊ! A BRIGA ENTRE DOIS CAÇADORES DE AURORA BOREAL NOVAS PROVAS MOSTRAM QUEM ERA, AFINAL, JESUS COMO MUDANÇAS NO TRABALHO PODEM MELHORAR SUA VIDA O GUIA ANARQUISTA

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Revista Galileu de agosto de 2015

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Page 1: Revista Galileu Agosto 2015

LIVRO LANÇADO NO BRASIL MOSTRA COMO A CONSTRUÇÃO DE HÁBITOS E DE AMBIE

NTES

AJUDA VOCÊ A SERMAIS CONTENTE — E DAMOS DICAS PRECIOSAS DE COMO CHEGAR LÁ

24GALILEU

ANOS

COMO FAZER UMAHORTA EM CASA –PODE SER NO APÊ!

A BRIGA ENTREDOIS CAÇADORESDE AURORA BOREAL

NOVAS PROVASMOSTRAM QUEM

ERA, AFINAL, JESUS

COMO MUDANÇAS NOTRABALHO PODEM

MELHORAR SUA VIDA

O GUIA ANARQUISTA

289capa.indd 1 20/07/2015 15:58:26

Page 2: Revista Galileu Agosto 2015

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Page 3: Revista Galileu Agosto 2015

A casa da internet no BrasilA pArtir de r$ 12,90/mês*

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Page 4: Revista Galileu Agosto 2015

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Page 5: Revista Galileu Agosto 2015

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Page 6: Revista Galileu Agosto 2015

30DOSSIÊ TRABALHOOque precisa serfeito para que seuexpediente se adapteao século 21

64O HOMEM JESUSRegistros históricosajudamarqueólogosa buscar detalhesda vida de Cristo

70É E-SPORT, AMIGO

Equipes profissionais jogamtorneios de games e lutampor prêmiosmilionários

38SÓ ALEGRIAA felicidade já podesermedida emlaboratório—e issomudará nossa vida

50DESAPARECIDOSAhistória dos43 estudantesmexicanos que nuncamais foramvistos

76.Avolta dos que não foram79.Osucesso nonsense de 40 anos80.OnovoQuarteto Fantástico81. LIVROS:Os cliques do Instagram82. FLUXOS: Oursinho doGoogle

FEED ETC8.Não compre, plante!11. Como fazer uma composteira12.DNApara desenhar suspeitos12. BUZZ14.Odrone do aborto15.Adespedida deRosetta

16.Asmulheres e o trabalho17. Cigarro é coisa do século 2018. PAPOCABEÇA20.OCORPOFALA21.Bactérias e nosso humor22. Sua conta de luz é umestouro

23. Ser legal no trabalho é bom24. SEMDÚVIDA26. ELEMENTAR27. Racismohereditário28. PANORÂMICA29. SÓ+ 1MINUTO

#FELICIDADE GUIA

BACTÉRIAS

SÉRIES

TRABALHO

COMPOSTEIRA

BRASIL

INSTAGRAM GOOGLE

ATUALIDADE

DNA

MÉXICOMULHERES

ROSETTA

NARCOTRÁFICO

AURORA BOREAL QUADRINHOS

PRECONCEITOJESUS HISTÓRIA E-SPORTSGAMES ORGÂNICOS

58CRÔNICAS DE GELOOsmaiores caçadoresde aurora boreal doBrasil travamumaguerra particular

56“NÃO SE CALEM!”Pesquisadora lutapara acabar comopreconceito contramulheres na ciência

AGOSTO DE 2015

ED.289ÍNDICE

289Indice.indd 4 15/07/2015 15:49:51

Page 7: Revista Galileu Agosto 2015

VENHA CONHECERUMA COMPETIÇÃO

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O SENAI e a CNI trazem para o Brasil a WorldSkills São Paulo2015, a maior competição de educação profissional do mundo.Realizada pela primeira vez na América Latina, jovensdo mundo inteiro vão mostrar suas habilidades em diversasprofissões da carreira técnica nesse megaevento. Inúmerasatrações esperam por você.

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Page 8: Revista Galileu Agosto 2015

MOTIVODEFESTANo último ano, aequipe de GALILEUalcançou conquistasno digital. Agora,quer surpreendertambémna revista

24 com corpinho de 18

O mês de agosto é quando nós, da reda-ção de GALILEU, paramos para comemo-rar o aniversário da marca, que completa24 anos em 2015. Junto com a festa, apro-veitamos para analisar como foram os úl-timos 12meses e planejar o que queremosno período que se inicia. Quero começareste balanço olhando para trás. Ao longodesse período, GALILEU inovou ao publi-car conteúdo numa série de plataformas:dois especiais digitais (25 anos da quedadoMuro de Berlim e 70 anos do fim da Se-gundaGuerraMundial), três ebooks (Si naoaprovas nao a condenaçao,AUcrânia ardee Lisboa ultrassecreta), um podcast (WebNation) e um programa diário de culturanerd no aplicativo Periscope (Planeta Diá-rio). Não conhece algumdesses conteúdos?Se eu fosse você, correria para o nosso site.Essas conquistas só foram possíveis

por causa da força que a marca ganhouna internet no último ano. Sob o comandoda editora Luciana Galastri, os númerosdo site e dos perfis de GALILEU em redessociais explodiram. Para ficar em apenasdois exemplos (não quero abarrotar otexto com estatísticas), a quantidade depessoas que visitam o site aumentou 7,5vezes, e o número de pageviews cresceumais de 30%. Não é pouca coisa.

OCom a casa em ordem na internet, é hora de voltar as baterias

novamente para a revista. Há doismeses, começamos a trabalharemumnovo projeto gráfico e discutir o que queremos fazer comaedição impressa.Muitos podemdizer que não é umbommomentopara falar sobre o assunto, já que omercado passa por uma crisesemprecedentes.Mas aqui na redação (e aposto que você também,caro leitor) adoramos o papel e queremos tirar o maior proveitopossível do que ele tem a oferecer. Numa época cheia de notíciasruins, queremos inovar e surpreender você. Essamudança, espero,começa já napróximaedição. Acredite: você nãoperdepor esperar.Enquanto trabalhamos na nova cara da revista, não deixe de

ler algumas reportagens imperdíveis desta edição. A começarpela capa. Depois de tratarmos de dois temas duros, polêmicose espinhosos (a redução da maioridade penal e a política, quenos rendeu um post visto por mais de 4,5 milhões de pessoas noFacebook), optamos por discutir um assuntomais leve: felicidade.O editor Nathan Fernandes mergulhou na leitura de um livrorecém-lançado no país cujo mote é jogue os livros de autoajudafora e construa a sua felicidademudando seus hábitos. Como essetipo de dica não faz mal a ninguém, corra para a página 38 paraler O guia anarquista da felicidade científica. Uma boa leitura!

A G O S T O / 2 0 1 56

CARTA AO LE ITOR POR • GUSTAVO POLONIDiretor de redação [email protected]

289CartaLeitor.indd 6 14/07/2015 22:01:02

Page 9: Revista Galileu Agosto 2015

HOUSEOFCUNHAPolítica também é ciência. Achoque o povo brasileiro deverialer mais, e lamento que o ódioesteja cegando a opinião demuitos. A matéria da GALILEUmostra com que o deputado estácomprometido e que interessesele tem de defender.Rosangela SV, pelo Facebook,comentando a reportagem de capaEles não te representam

Está mais que na hora de essesdados auxiliarem a populaçãoa fazer uma reflexão. Porém,quem tem a real capacidade deinterpretá-los ? Com a qualidadeda educação deste país, seriaimportante apontar soluçõesjunto a críticas e fatos.Cassiano Prado, pelo Facebook

Essa GALILEU é f...!! Merececada centavo que pago. AMO!! <3Allan Negromonte, pelo Facebook

Como são tendenciosos...Por isso cancelei essarevista esquerdosa.André Patrício, pelo Facebook

QUÍMICA DO BEMAi meu Deus!!! Já amo a GALILEUpor ser autêntica e entendero ponto de vista da sociedadebrasileira. Mas quando abro arevista e vejo elementos químicos,fórmulas, estruturas molecularese tudo ligado à química, mederretomais ainda. Obrigado porme fazer me apaixonar mais aindapela minha futura profissão!Lucas Lima Luhran, comentandoa seção mensal ElementarMuito obrigado pelos elogios, e podedeixar que vamos caprichar naspróximas edições para o Elementarficar ainda mais bacana!

E OMELHOR ESTÁ POR VIRGostaria de parabenizar a equipepela construção dessa revista:reportagens rápidas e precisas,com linguagem fácil, sem seróbvias. Amatéria de capa daúltima edição é um primor dojornalismomoderno: toca todosos pontos sobre nosso sistemapolítico demaneira imparcial e élevemente divertida, algo que nãoexiste mais no jornalismo.Ricardo Gazulha, por e-mail

NOTÍCIASEXTRAORDINÁRIASDOPLANETADIÁRIODica tecnológicadomês: lançadopelo Twitter, oPeriscopeéumaplicativoque realiza transmissõesdevídeoaovivo comocelular epermiteinteração comopúblicoapartir demensagens emtempo real.Nossoprimeiroprograma feito apartir doappéoPlanetaDiário,umaseleçãodasprincipais notícias de culturadodia, apresentadopelo editorNathanFernandes. ParaquemaindanãobaixouoPeriscope, bastaficar ligadonoslinkspublicados emnossoTwitter enossoFacebook!Boanerdicea todos! =)

JULHO 2015

Avenida Jaguaré, 1.485,4º andar, 05346-902,São Paulo, SP

11.3767.7000

[email protected]

FALE CONOSCO/revistagalileu

DIRETOR-GERAL: Frederic Zoghaib KacharDIRETORDEMERCADOANUNCIANTE:Alexandre BarsottiDIRETORDEASSINATURAS: Luciano Touguinha de Castro

DIRETORADEGRUPOCASAECOMIDA, CASAE JARDIM, CRESCEREGALILEU:Paula Perim

DIRETORDEREDAÇÃO:Gustavo PoloniEDITORES: Cristine Kist, Gabriela Loureiro, Luciana Galastri e Nathan Fernandes

REPÓRTERES:André Jorge de Oliveira, Thiago TanjiEDITORDEARTE:Rafael Quick

DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu), Gabriela OliveiraESTAGIÁRIOS: Fernando Bumbeers (texto), Ricardo Napoli (design)

COLABORADORESDESTAEDIÇÃO:Amarilis Lage, André Bernardo, Bia Granja,Daniel TellesMarques, Elaine Guerini, Evandro Furoni, Humberto Abdo, JacquelineLafloufla, Marcelo Gleiser, Mariana Zylberkan, Marília Marasciulo, Mia Alberti,

Mila Oliveira e Victor Affonso (texto). Adams Carvalho, André Toma, Denis Freitas,Eduardo Arruda, Érika Onodera, GuilhermeHenrique, Rubens Gomes, SamuelRodrigues (ilustração). Camila Fontana, StefanoMartini, Sérgio Zacchi, Tomás

Arthuzzi (foto). Denise Gutierres Pessoa (revisão).CARTASÀREDAÇÃO: [email protected]ÇÃO:Gabriela NogueiraCONSULTORADEMARKETING:Mayara Petrow

PESQUISA: Cedoc/Globopress

MERCADOANUNCIANTEUNIDADEDENEGÓCIOS—PEGN,GR,AE, GALILEU

DIRETORDENEGÓCIOSMULTIPLATAFORMA:Renato Augusto Cassis SiniscalcoEXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA:Diego Fabiano, João CarlosMeyer,

Priscila Ferreira da Silva e Cristiane Soares Nogueira.

UNIDADEDENEGÓCIOS—DIGITALDIRETORA:Renata Simões Alves de Oliveira

EXECUTIVASDENEGÓCIOSDIGITAIS:Bianca Ramos Piovezana,Lilian Ramos Jardim e Andressa Aguiar Bonfim.

CONSULTORADEMARCASEGCN:Olivia Cipolla Bolonha

UNIDADEDENEGÓCIOS—ESCRITÓRIOSREGIONAISGERENTEMULTIPLATAFORMA: Sandra Regina deMelo Pepe

EXECUTIVAMULTIPLATAFORMA:Alexandra Caridade da Silva Azevedo

UNIDADEDENEGÓCIOS—RIODE JANEIROGERENTEMULTIPLATAFORMA:Rogério Pereira Ponce de Leon

EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos,Suellen Silva de Aguiar, Daniela Nunes Lopes Chahim, Katia Cilene Pinto Correia,

Maria CristinaMachado e AndréaManhãesMuniz.

UNIDADEDENEGÓCIOS—BRASÍLIAGERENTEMULTIPLATAFORMA: Fernanda de Queiroz RequenaEXECUTIVASMULTIPLATAFORMA:Barbara Costa Freitas Silva

e Camila Amaral da Silva.

DIRETORESTÚDIOGLOBO:Rafael KenskiGERENTE: EduardoWatanabe

GERENTEDEEVENTOS:Daniela ValenteCOORDENADORESDAOPECOFF-LINE: José Soares,

Carlos Roberto Alves de Sá e Douglas Vieira Da Costa.

INOVAÇÃODIGITALDIRETORDE INOVAÇÃODIGITAL:AlexandreMaron

GERENTEDEESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL: Silvia BalieiroGERENTEDETECNOLOGIADIGITAL: Carlos Eduardo Cruz Garcia

DESENVOLVEDORES:Bruno Agutoli, Everton Ribeiro, JefersonMendonça,Leonardo Turbiani, Marcio Esposito, Tcha-Tcho e Victor Hugo Oliveira da Silva.OPECON-LINE:Rodrigo Santana Oliveira, Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes,

Henrique Firmino, Rodrigo Pecoschi e Thiago Previero.

MERCADOLEITORDIRETORDEMARKETING: Cristiano Augusto Soares Santos

GERENTEDEVENDASDEASSINATURAS:ReginaldoMoreira da SilvaGERENTEDEOPERAÇÕESEPLANEJAMENTODEASSINATURAS: Ednei Zampese

ATENDIMENTO AO ASSINANTEDisponível de segunda a sexta-feira, das 8 às 21 horas; sábados, das 8 às 15 horas.

INTERNET:www.sacglobo.com.brSÃOPAULO: 11 3362-2000

DEMAIS LOCALIDADES: 4003-9393*FAX: 11 3766-3755

*Custo de ligação local. Serviço nãodisponível em todooBrasil.Para saber dadisponibilidadedo serviço emsua cidade, consulte sua operadora local.

PARAANUNCIARLIGUE: SP: 11 3767-7700/3767-7500RJ: 21 3380-5924 E-MAIL:[email protected]

PARASECORRESPONDERCOMAREDAÇÃO: endereçar cartas ao Diretor de redação,GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo, SP. FAX: 11 3767-7707

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GALILEU reserva-se odireito de selecioná-las e resumi-las para publicação.EDIÇÕESANTERIORES: o pedido será atendido pormeio do jornaleiro pelo preço da

edição atual, desde que haja disponibilidade de estoque.Faça seu pedido na bancamais próxima.

OBureauVeritas Certification, combasenosprocessos eprocedimentos descritos no seuRelatório deVerificação, adotandoumnível de confiança razoável, declara queo InventáriodeGases deEfeito Estufa—Ano2012, da EditoraGloboS.A. é preciso, confiável e livre deerro oudistorção e éuma representação equitativa dos dados e informações deGEE sobreoperíodode referência, para o escopodefinido; foi elaborado emconformidade comaNBR ISO 14064-1:2007eEspecificações doProgramaBrasileiroGHGProtocol.

GALILEUéumapublicaçãodaEDITORAGLOBOS.A.—Av. Jaguaré, 1.485, SãoPaulo, SP,CEP05346-902. Tel. 11 3767-7000.Distribuidor exclusivo para todooBrasil: Dinap—DistribuidoraNacional dePublicações. Impressão: Log&Print Gráfica e Logística S.A.Rua JoanaForestoStorani, 676, Distrito Industrial, CEP 13280-000, Vinhedo, SP.

289FaleConosco.indd 7 15/07/2015 16:27:26

Page 10: Revista Galileu Agosto 2015

FEEDEDIÇÃO • CRISTINE KIST E GABRIELA LOUREIRO

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Page 11: Revista Galileu Agosto 2015

No início dos anos 1990, LucianaCury,designer de 43 anos, deixou Assis,sua cidade natal, no interior de SãoPaulo, para estudar arquitetura nacapital. Saiu de uma casa com umparreiral e várias árvores para um

apartamentopequenosemvaranda. Sentiasaudadedasplantas,massó resolveusemu­dar ao cheirar um pé de rúcula nomercadoe sentir o odor de pesticida. Pouco depois,umanotícia sobreousoexageradodeagro­tóxicos nos alimentos chamou sua atenção.Ela parou de comprar frutas, verduras e le­gumes no mercado e passou a frequentar

feirasorgânicas, novidadenaépoca.Atéquefinalmente semudouparaumapartamentocomvaranda e começou aplantar a própriarúcula, orgânica e cheirosa. Foi o começodeummovimento semvolta que extrapolou avaranda e foi parar nas ruas de São Paulo.Aos poucos, Luciana começou a plantar

osmaisdiferentes temperos, passandoparahortaliças e frutas. Hoje, ela, o marido e osdois cachorros se alimentam só de orgâni­cos. Luciana tambémpassoua fazerpartedecoletivosemovimentos comoHortelõesUr­banos, que reúne pessoas interessadas emmanterhortasempraçasnacapital paulista

De onde vemessa rúcula?CANSADOSDE DESCONHECER A PROCEDÊNCIADE SEUS ALIMENTOS, “FAZENDEIROSMODERNOS”BUSCAMALTERNATIVAS DENTRODE CASA PARACONTROLAROQUE EXATAMENTE ESTÃO COMENDO

TEMPEROSAPARTAMENTO

HORTA URBANADIY

ORGÂNICOS

92 0 1 5 ∕ A G O S T OILUSTRAÇÕES: Samuel Rodrigues/EditoraGlobo

289FEEDabreCompostagem.indd 9 15/07/2015 15:36:51

Page 12: Revista Galileu Agosto 2015

eoutros locais. “Umacoisaédizer ‘compreorgânicoporquevaleapena, émaisgostoso’.Outra é mudar o paladar, o jeito de ver acadeiadeproduçãoeperceberaabundânciada sua horta”, disse ela a GALILEU.Luciana faz parte de um movimento de

“fazendeirosmodernos”quecrescenoBrasile no mundo. Quando ela entrou no Horte­lões Urbanos, havia 700 integrantes. Hoje,o grupo no Facebook tem 17 mil membros.Em São Paulo, a crise hídrica tem impulsio­nado as hortas urbanas e outros projetosde sustentabilidade, como a compostageme a coleta de água da chuva. “A procura pornossaoficinade coleta deáguada chuva foiquatro vezes maior este ano por causa dacrise hídrica”, afirma Karine Faleiros, enge­nheira ambiental e idealizadora da Iandé,empresade consultoriade sustentabilidadeque dá cursos para interessados.

BRÓCOLIS COM IPSaber exatamente o que estão comendo éuma motivação forte para os fazendeiros,mas nem de longe é a única vantagem. “Oprimeiro benefício é o contato da pessoacom os ciclos naturais, o cuidado com o servivo, é o resgatedeumaculturaqueprecisaserpreservadanumasociedadeque sedes­vinculou desse tipo de relação”, diz Karine.Em maior escala, a horta própria contribuipara a biodiversidade do bairro, que passaaatrair diferentes insetos eoutros animais,alémdeajudarna infiltraçãodaáguanosolo,diminuindoa impermeabilidadedas cidades,que provoca enchentes e alagamentos.

Saber a origem dos alimentos, aliás, éuma ideia bastante em voga nos EstadosUnidos. Tanto que existe um laboratório noInstituto de Tecnologia deMassachusetts(MIT), considerado amelhor universidadedo mundo, focado em criar uma espéciede “Facebook das plantas” — o Open Ag,uma plataforma digital que disponibilizarátodas as informações necessárias sobretodos os legumes, vegetais e frutas à dis­posição, desde acidez da água da plantaaté os pesticidas utilizados. “Às vezes olhopara trás e penso: como queria ter vividoo começo da era da internet, poderia terfeito coisas malucas naquela época. Sevocê se sente assim, este é o começo dainternet da comida; parece estranho, masé o que estamos fazendo”, disse Caleb Har­per, idealizador do projeto e pesquisadordo laboratório City Farm, do MIT.Provavelmente a decisão de tirar a eti­

queta de “transgênico” do rótulo dos ali­mentos, como recentemente determinoua Câmara dos Deputados, não cairia bempor lá. Por aqui, o movimento é mais o deum retorno à terra do que uma revoluçãotecnológica das plantas, mas parece terfuturo. “Vejo cada vez mais jovens que re­tornam para a terra, e não é um pessoalsimples, como o estereótipo do agricultor.Agora, quemestudou, fezMBAe fala inglêse francês vê que é uma volta que faz todoo sentido emmeio a crise ambiental, criseeconômica, degradação da terra, enfim,essa consciência está vindomesmo, e forte,para ficar”, diz Luciana. GABRIELALOUREIRO

“VEJO CADA VEZ MAIS JOVENSVOLTANDO PARA A TERRA, E NÃOÉ UM PESSOAL SIMPLES. É QUEMFEZ MBA, FALA INGLÊS E VÊ SENTIDONISSO EM MEIO À CRISE AMBIENTAL”

—Luciana Cury, designer

A G O S T O / 2 0 1 510

FEED

Mudança de hábitoPARA VOCÊ QUE QUER TERMAIS AUTONOMIA NO CON-SUMO DE ÁGUA, COMIDA OUELETRICIDADE, UMA BOA

NOTÍCIA: HÁ VÁRIOS PROJE-TOS FÁCEIS QUE PODEM SERCOLOCADOS EM PRÁTICA JÁ

HORTA URBANAAté num apartamento vocêpode, aos poucos, cultivartemperos. Decida onde vaiabrigar as plantas e o tipo de

horta que quer fazer.

CISTERNAÉ um pouco mais complexa,mas um bom investimentoem tempos de seca. Trata--se de um reservatório quecoleta água da chuva.

AQUECEDOR DE ÁGUAReduz o consumo de ener-gia elétrica e permite quevocê tome seu banho quen-

tinho gastando nadae utilizando a luz do Sol.

COMPOSTAGEMMinimiza o gás metano

(do efeito estufa) nos lixõese evita desperdícios decomida. Aprenda a fazersua composteira ao lado.

289FEEDabreCompostagem.indd 10 15/07/2015 15:36:52

Page 13: Revista Galileu Agosto 2015

Manual da compostagem caseiraTRANSFORMAR O PRÓPRIO LIXO EM ADUBO PARA PLANTAS E DIMINUIR PELO MENOS UMPOUCO O ACÚMULO DE SUBSTÂNCIAS TÓXICAS NOS ATERROS SANITÁRIOS NÃO É TÃODIFÍCIL QUANTO PARECE: BASTA TER UMA CAIXA DE PLÁSTICO, MINHOCAS CALIFORNIANASE RESTOS DE COMIDA E CASCAS DE FRUTAS. COM UMA COMPOSTEIRA DOMÉSTICA, VOCÊ ÉO CHEFE DAS MINHOCAS — E DO SEU CONSUMO. APRENDA COM O PASSO A PASSO

REFLITA1º MÃOS NA TERRA2º

2.Sevocênão tempaciênciaparaesperarquemicrorganismosfaçamotrabalho, compreminhocascalifornianas, queaceleramoprocesso. Forreo fundodacaixadecima (A) comasminhocasea terraquevemjuntocomelas.Senãoquiserminhocas, serveumaduboorgânico, cheiodebactériase fungos.

4.Ummêsdepois, quando a caixade cima (A) estiver cheia de resíduosorgânicos ematerial seco, passe-apara o andar debaixo e coloque acaixa vazia domeio (B) emcima.Passadosmais 30dias, a caixa domeio (A) já terá virado adubopuro.Quandoestiver vazia, coloque-a emcimadenovo e repita o processo.

1.Asduascaixasdecima (AeB) sãopara resíduosorgânicoseprecisamter furinhosde0,5centímetrodediâmetro.Adebaixo (C) éparaolíquidoquevai sobrardesseadubo,umaespéciede “chorumedobem”.Fureo fundo, apartedecimadaslateraisea tampadasduasprimeirascaixas (AeB)paraqueentrear.

3.Coloque restos de comida ecascas de frutas e legumes emcimadasminhocas com terra oudoadubo. Emseguida, cubra tudo comalgo seco, como serragem, palha,papel ou folhas secas. O segredoda compostagemsemmau cheiroé o equilíbrio entre carbonoenitrogênio (o seco eomolhado).

LIMÃODeixa o ambiente ácido

demais para que seres vivoscomo fungos ebactériaspossamprosperar felizese reciclar seus resíduos.

CARNESContêmbactérias queprovocammau cheiro.

ALIMENTOSCOMSALOsalmata osmicrorga-nismos “adubadores”(alô sobras do almoço!).

Material necessário3 caixasdeplásticoouumacomposteirapronta (custa emmédiaR$250)Minhocas californianas na terra ou adubo orgânico prontoRestos de comida e cascas de frutasMaterial seco (ex: serragem, palha, papel ou folhas secas)

O líquido na caixa debaixoterá biofertilizantes.Misture-o comáguae

regue as plantas comele.Elas agradecem, e omeio

ambiente também.

LISTA PROIBIDA

CHORUME DO BEM

A

B

C

A

B

C

A

B

C

B

A

C

112 0 1 5 ∕ A G O S T O

MINHOCASRECICLAGEM

ADUBO CASEIRO

INFOGRÁFICO: GabrielaLoureiro,GabrielaOliveiraeSamuelRodrigues

Pense sobre a granaque você gasta no

supermercado: quantovocê realmenteconsomeequantodesperdiça?Oque épossível fazer paradesperdiçarmenos?

Aprendaasepararo lixocomumdoreciclável edoorgânico.Edescubraquepartedoorgânicoserveparasuacomposteira:vegetais, frutas,

legumes,borradecafé,saquinhodechá...

Pense no que vai fazercom esse adubo. Vaicolocar nas plantas?Doar? Jogar fora? Denada adianta tanto

esforço para depois serdesperdiçado.

289FEEDabreCompostagem.indd 11 15/07/2015 15:36:53

Page 14: Revista Galileu Agosto 2015

Cena do crime. Uma simples bituca de cigarro repousa emumcanto escuro da rua. Investigadores forenses levam-napara o laboratório e descobrem que a bituca só pode tersido deixada no local por volta da hora do crime.Moléculasde DNA são coletadas nas partículas da saliva, e imedia-tamente são delineadas as características físicas capazes

de identificar o criminoso. Parece enredo de seriado policial, masserá o processo de praxe da tecnologia forense brasileira até 2017.Esse novométodo de investigação é capaz de isolar segmentos

genéticos que codificam traços fenotípicos, como a cor dos olhos.Mas, para que o processo funcione por aqui, será preciso produziruma espécie de mapeamento da ancestralidade da populaçãopara determinar as sequências padrão de tipos faciais. Uma vezconcluído, o mapa servirá de base para futuras comparações.“ComooBrasil é umpaísmiscigenado, as informações disponíveisem laboratórios europeus e norte-americanos não servem de re-ferência”, diz a coordenadora do Laboratório deGenéticaHumanaeMolecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do

Sul (PUC-RS), Clarice Sampaio Alho.O projeto é desenvolvido em parceria

com pesquisadores da Universidade Cató-lica de Leuven, naBélgica, que recentemen-te criaram um método capaz de construirum rosto a partir do DNA. O genoma wideconsegue mapear o rosto humano com1.200 pontos e descobrir quaismarcadores

CSI é aquiUSO DE TESTES DE DNA EM INVESTIGAÇÕESFORENSES ESTÁ PRESTES A DECOLAR NO BRASIL

No final de junho, a prefeitura de São Paulo proibiu o Uber na cidade sob a alegaçãode que o aplicativo criaria uma concorrência desleal no setor de táxis. Os usuáriosadoram o serviço, mas o Uber também enfrenta problemas com a legislação emPortugual, França, Espanha, Alemanha e Holanda. GALILEU convidou três espe-cialistas para opinar sobre qual deveria ser a posição da justiça brasileira no caso.

“É simplista afirmar queoUber não pode existirporque a lei não permite;se a lei não está adequada, quemude,não para proibi-lo, mas para validá-lo.Cabe ao poder público buscar formasde colocar os novosmodelos denegócio dentro dos padrões legais.”

FlaviaPenidoéespecialistaemdireitodigital

FOTOS: Divulgação

HORADOTESTEDEDNABanco brasileirojá temmais de2.500 amostrasgenéticas eauxilia eminvestigações

A G O S T O / 2 0 1 512

FEED

DO QUESE FALOU

NESTE MÊS

POR • JACQUELINE LAFLOUFABUZZ

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Page 15: Revista Galileu Agosto 2015

RodrigoNovaes éconsultordoSenado IbrahimCesaréempreendedor

“O problema é queo Uber pode retirardomercado ostaxistas tradicionais aomantertaxas artificiais sustentadaspor dinheiro de investidores.As leis devem corrigir o curso eestimular a competição sadia.”

“A Constituiçãogarante o direito delivre-iniciativa para oserviço demotorista particular,e a lei estabelece a autorizaçãode qualquer interessado nosmercados de táxi. Seja uma coisaou outra, o Uber não é ilegal.”

Fontes:NewAmerica, Federação Internacional daIndústria Fonográfica e GoEuro Beer Price Index

QUEMÉ VOCÊ?VEJA O PASSOA PASSO PARAIDENTIFICAR UMSUSPEITO A PARTIRDE SUA SEQUÊNCIAGENÉTICA

AMOSTRAGEMVestígioquepoderevelaroDNA—umamanchadesangueemumlençol, porexemplo—é localizadoecoletado.

EXTRAÇÃOMicropipetas ouumrobôdeextraçãousammicroesferasmagnéticas que aderemaoDNApara isolá-lo deoutroscomponentes celulares.

PURIFICAÇÃOODNAé retiradodointerior das células.

QUANTIFICAÇÃOAamostradaetapaanteriorésubmetidaaumareaçãoquímicapararevelar secontémDNAhumanoemquantidadeequalidadeadequadas.

AMPLIFICAÇÃOODNAencontradoésubmetidoaoutrareaçãoquímicaqueproduzbilhõesdecópiasdassequênciasque interessam.

DETECÇÃOAsmoléculas sãodetectadasemequipamentos espaciais,e o perfil genético é traçado.

genéticos são comunsadeterminados tiposfísicos. A partir das conclusões, a equipe doLaboratório de Genética Humana e Mole-cular da PUC-RS fará o caminho oposto:isolará as sequências genéticasmais recor-rentes no estudo belga para então cruzá--las com fotos de voluntários brasileiroscom essas mesmas sequências e apontarquais são as características determinan-tes. “O que lá pode indicar uma pessoa comnariz largo aqui pode fazer referência a al-guém comnariz arrebitado, por exemplo”,afirma a pesquisadora Clarice.O estudo promete revolucionar o uso

do DNA na esfera forense, ainda limitadono Brasil. Hoje, sua eficácia é mais evi-dente em casos de estupro, com a coletade material genético do agressor a par-tir de fluidos trocados com a vítima, e naidentificação de cadáveres. Em ambasas situações, a identificação é possívelsomente a partir da confrontação com oDNA de suspeitos ou de parentes, no casode desaparecidos. Uma vez coletado nacena do crime, omaterial biológico é inclu-ído na Rede Integrada de Bancos de PerfisGenéticos, implantada em2013 e que reúneDNAde julgados e condenados por crimeshediondos, de cadáveres não identificadose de familiares de pessoas desaparecidas.Com 2.584 amostras, segundo relatóriodivulgado em março, o banco auxiliou 71investigações criminais em todo o país atéo final de 2014. MARIANA ZYLBERKAN

Tudo culpa da Taylor SwiftAmúsica digital já representa 46% dototal do lucro obtido com a venda de

faixas e álbuns nomundo todo

Lucro obtido comavendademúsicas

04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14

22,3 bilhões

0,4

14,9

6,9

Total Digital

Ilusão de ópticaDesde os atentados de 11 de

setembro, 74 norte-americanosforammortos por extremistas— sóque os extremistas (surpresa!) nem

sempre erammuçulmanos

Assassinatoscometidos

por extremistas

48

Pormuçulmanos26

Índice happy hourEmnenhum lugar domundo a cervejaé tão barata quanto na Cracóvia, naPolônia. Já emGenebra, melhor ficar

na águamineral mesmo

1,66 1,96 2,58 3,12 3,50 6,32

Cracóvia(POL)

US$

Berlim(ALE)

Rio deJaneiro

Veneza(ITA)

Cidade doMéxico (MEX)

Genebra(SUI)

GENÉTICAUBERCRIMES

POLÍCIADNA

PORQUE ÀS VEZES UM GRÁFICOVALE MAIS QUE MIL PALAVRAS

INFOMANIA

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Page 16: Revista Galileu Agosto 2015

Ainternet e o drone têmmuito em co-mum. Ambos foram desenvolvidospara fins militares, abertos ao usocomercial e acabaram sendo usadospara os mais diversos objetivos, in-clusive humanitários. Omais recente

uso do drone é o de facilitar o aborto paramulheres que vivem empaíses onde a inter-rupção voluntária da gravidez é proibida. Nofinal de junho, o grupo Women on Waves,que luta pelo direito ao aborto no mundo,levou embalagens de pílulas abortivas daAlemanha para aPolônia, umdos três paíseseuropeus— junto aMalta e Irlanda—quenãodão acesso ao procedimento às mulheres.Na verdade, o uso dos robôs para fins

mais nobres que entrega de pizza é cadavez mais comum. No ano passado, a ONUanunciou que usou a tecnologia para ajudarsuas forças demanutenção da paz na Repú-blica Democrática do Congo, com o objetivode identificar onde havia civis na linha defogo de milícias. Há também um casal rico

deMalta que quer financiar drones para aju-dar os refugiados que cruzam oMediterrâ-neo em busca de asilo na Itália. E a startupMatternet testou seus drones levando me-dicamentos para conter a epidemia de aidsno Haiti e na República Dominicana.Outras empresas querem usar os drones

para procurar vítimas em tragédias naturaise até para resgate de pessoas que se afo-gam no mar. Só falta uma grande barreirapara os pequenos robôs: a Coreia do Norte.Ativistas têm asmais inusitadas ideias paracontrabandear informação e entretenimen-to para os norte-coreanos, que não podemconsumir nada do exterior. Sem recursospara comprar drones, eles já usarambalões,panfletos e até um cordão com pendrivespendurados. Entre os dados que são repas-sados ao lado norte da península estão pá-ginas daWikipedia sobre cultura ocidental,informações sobre as injustiças da dinastiade Kim Jong-un, novelas coreanas e até epi-sódios de Friends. Que falta faz um drone!

FOTO:WomenonWaves

Tecnologia do bemAERONAVES NÃO TRIPULADAS SÃO CADA VEZMAIS USADAS PARAFINS HUMANITÁRIOS. A ÚLTIMA É O CHAMADO “DRONE DOABORTO”

RÁPIDOESEGUROEmbalagensde pílulasabortivasviajaram daAlemanhaà Polônia

AlertafluorescenteJovens desenvolvemmétodo brilhante paradetectar doenças sexual­mente transmissíveis

Na horaH, se o pênisbrilhar de umamaneiranada natural, cuidado:pode ser infecção sexual.Aomenos se o projetoS.T.EYE, de três adoles-centes de 13 e 14 anos,realmente vingar. Elesinventaramuma camisi-nha quemuda de cor aodetectar umaDST.

Funciona assim: umaleve camada de subs-tâncias químicas na

superfície da camisinhareage com bactérias evírus que estão ligadosàs doenças. A reaçãofaz a camisinha emitiruma luz fluorescenteque muda de cor de-pendendo do tipo deinfecção: amarelo paraherpes, verde para cla-mídia, azul para sífilise roxo para HPV.

O objetivo dos jovensnão é o constrangi-mento durante o sexo(embora esse seja umefeito colateral), e simpromover a consciênciaa respeito das DSTssem que as pessoasprecisem ir aomédico.Não que a consulta sejadesnecessária — a ideiaé aumentar a probabili-dade de que os examessejam feitos, já quemui-ta gente evita o consul-tório. O projeto rendeuaos garotos o prêmioTeen Tech Awards.

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Page 17: Revista Galileu Agosto 2015

OBURACONEGROÉMAISEMBAIXOGaláxia pode mudar a perspectiva de astrônomos sobre o universoA recente descoberta de uma galáxia com um buraco negro com 10% do seu tamanhocolocou em xeque as teorias atuais sobre como as galáxias evoluem. Quase todas têmum enorme buraco negro que corresponde a apenas 0,5% de sua massa total. Só quena mais nova galáxia do pedaço, chamada CID-947, o buraco cresceu bem mais rápidoque o normal. Dois bilhões de anos mais jovem que o Bing Bang, é o maior buraco negrojá encontrado. A revelação, publicada na revista Science, pode apoiar a teoria de queos buracos negros cresciam mais no começo do universo e derrubar a ideia de que aradiação emitida por buracos negros em expansão limita a criação de novas estrelas.

Há um ano, a Rosetta tor-nou-se a primeira sondaa orbitar e pousar emum cometa. Criada pelaAgência Espacial Euro-peia (ESA), a sonda levou

dez anos para alcançar o come-ta Churyumov-Gerasimenko,conhecido como 67P, que está

a 500 milhões de quilômetros da Terra. Como se não bastasse, avelocidadedoalvo erapoucomais de 135mil quilômetros por hora,oquedificultoubastanteopousodomóduloPhilae, quede fato teveproblemas e parou em uma área escura. Depois, sem receber a luzsolar necessária para recarregar sua bateria, o módulo hibernou.

Agora, a Rosetta volta a criar expectativa. Em junho, o Philaefinalmente restabeleceu contato (é provável que tenha acordadoquando o cometa se aproximou do Sol) e descobriu buracos enor-mes e profundos, que mostram variações na estrutura internado 67P e podem servir para novas teorias sobre sua formação.Masomaior alvoroçomesmoenvolveadecisãoa respeitodofim

daRosetta. ÉqueaAgênciaEspacial Europeiaquerqueasondabatade frente comocometa. Parece trágico,masnãoé.Aoseaproximardo 67P, a Rosetta poderia enviar imagens ainda mais detalhadasde sua superfície. A alternativa é mais interessante que a opçãooriginal, de desligá-la e deixá-la orbitando o cometa para sempre.E, já que está difícil decidir, agora os cientistas pelo menos ga-

nharam tempo para pensar: a missão, prevista para terminar emdezembro, foi estendidaatésetembrode2016. MARÍLIAMARASCIULO

OPÇÃO1Namedida emque seaproximasse do cometa,aRosetta entraria emumaórbita espiral. Issopermitiria que suascâmeras capturassemimagensmais detalhadasdo corpodo cometa.Segundoos cientistas, estaé aúnica formadeadquiriras imagens.Nofim, ela iriacolidir comocometa.

OPÇÃO2Neste caso, ospesquisadoressódeixariamaRosetta comoestá,orbitandoo cometa.O67Pacabariase distanciandomuitodoSol, eliminando a fontede combustível da sonda.

Sol

ÉHORADEDARTCHAUAgência EspacialEuropeia quer colidira sondaRosettacomo cometa 67P

Cometa67P

Cometa67P

Rosetta

INFOGRÁFICO: Feu eRicardoNapoli/EditoraGlobo. ILUSTRAÇÃO:M. Helfenbein, YaleUniversity /OPAC 152 0 1 5 ∕ A G O S T O

ASTRONOMIAESPAÇO

SEXO DRONES

Ouvai, ou racha (literalmente)Entendaodilemadospesquisadores quedevemescolher comoencerrar amissão

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Page 18: Revista Galileu Agosto 2015

Escolarizadase mal pagasQUEMACHAQUENÃO EXISTEMAISDIFERENÇA ENTRE OS SEXOS PRECISADE UMDESCONTODE 30%NO SALÁRIO

Asmulheres estudammais, sãomaioria nosmestrados,mas continuamganhando 30%menos que os homens, no Brasil e no resto domundo.E ainda são maioria entre aqueles sem carteira assinada. Segundouma pesquisa recente do Cempre (Cadastro Central de Empresas),elas ocupam 43% dos postos de trabalho formais no Brasil, um au-mento de 1,1% em relação a 2013. Nas empresas, ainda estãomenos

presentes: representam 37,7% dos funcionários, contra 62,3% de homens.Ou seja, as mulheres vêm avançando cada vez mais no mercado, mas emum ritmo lento de progresso e enfrentando muitas barreiras. Entenda porque ainda está tão distante a igualdade de gêneros nomercado de trabalho.

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A G O S T O / 2 0 1 516

E, quantomais alto na hierarquia,maior a diferença.

Apenas

2,6%das empresas brasileiras têmao menos uma mulher em seuconselho de administração.

Isso está ligado aos fatorespara promoção.

Mulheres sãopromovidascom baseem suas

realizações.

Homens sãopromovidoscom baseem seu

potencial.

ENTRE OS EXECUTIVOSMAIS BEM PAGOS,ELAS REPRESENTAM

SÓ 7,5%.

Na carreira acadêmica,os desafios são semelhantes.

Elas precisam ser

2,5 vezes maisprodutivas que os homens

para ganhar bolsas de estudo.

Asmulheres emgeral têmumnível de educaçãomais

alto que os homens.

* com 25 anos oumais, diplomados.

Mulheres*

Homens*

9,9%12,5%

ENSINO SUPERIOR

MESTRES BRASILEIROS

Mulheres*53,5%

Homens*46,5%

Esse avanço todo nãoresulta emmelhorescondições de trabalho.

Essa é uma realidadeque se repete

ao redor domundo.

Os homens recebemmaisque as mulheres nos

38países analisados pela OIT.

EM MÉDIA, AS MULHERESRECEBEM 30% MENOSQUE OS HOMENS.

MAIS DA METADE DASMULHERES JÁ FOI

ASSEDIADA SEXUALMENTENO TRABALHO.

Isso é um problemapara omundo todo,já que uma redução de

50%nas disparidades de gênero

nomercado de trabalho levaria aum aumento de

6%no PIB de qualquer país até 2030.

Umdos principaismotivosdessa diferença é a duplajornada de trabalho.As mulheres gastam

2 vezes maistempo que os homensem tarefas de casa e

4 vezes maistempo cuidando dos filhos.

SE CONTINUAR ASSIM,A IGUALDADE SALARIALENTRE OS GÊNEROS NÃO

ACONTECERÁ ANTES DE 2085.

Segundo a organização, paraequilibrar as contas, seria

precisoum“prêmiosalarial”de

10% a maisno salário dasmulheres no

Brasil, na Rússia, na Dinamarca,na Suécia e na Lituânia.

Um fator que prejudica orendimento salarial das

mulheres é a área de trabalho.As brasileiras se formam emmaior proporção em áreas derendimento mensal mais baixoque a média, como educação,

humanidades e artes.

Mas, até quando se formamnasmesmas áreas que

os homens, elas continuamrecebendomenos.

Mulheres diplomadas emciências sociais, negócios e

direito recebem

66,3%do salário dos homens.

83%dos formandos na área deeducação são mulheres,e o salário médio é de

R$ 1.811.

Fontes: OIT, Nature, OCDE, IBGE, McKinsey

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Page 19: Revista Galileu Agosto 2015

CAUSASEMEFEITOLegalização damaconha não aumenta consumo entre os jovensEnquanto no Reino Unido os médicos tentam barrar o cigarro, nos Estados Unidos foi publi-cado na revista especializada Lancet um estudo que mostra que a legalização da maconhanão aumentou o número de usuários da droga por lá. Foram avaliados questionários feitoscom adolescentes nos 23 estados que liberaram a Cannabis para uso medicinal. A hipótesedos pesquisadores era que o consumo entre os jovens aumentaria, mas não: a porcentagemde usuários continuou a mesma antes e depois da mudança nas leis. No Brasil, o ConselhoFederal de Medicina autoriza o uso de canabidiol, uma das substâncias encontradas naCannabis, por portadores de epilepsias cujos tratamentos convencionais não surtiram efeito.

aos cigarros encoraja os jovens a começarem a fumar”, disseem nota um representante da associação.Mas, apesar das boas intenções, a sugestão de proibir o ci-

garro não foi muito bem recebida pelos especialistas do restodo mundo. “É uma ideia sem pé nem cabeça, uma ingenuidadeachar que o consumo vai diminuir com a proibição”, diz o psiquia-tra Luis Fernando Tófoli, professor da Universidade Estadual deCampinas. “Atualmente nenhuma droga causa tanto impacto nasaúde quanto o tabaco, mas isso não significa que devemos proi-bir. É preciso controlar de outras formas, como já fazemos, porexemplo, com a restrição a propagandas.” MARÍLIAMARASCIULO

Enquantopolíticas quebuscamnovasformas de lidar com as drogas sãodebatidas e adotadas emdiferentespaíses, umposicionamentodaAsso-ciação deMédicos Britânicos (BMA)causa, no mínimo, estranhamento:

a entidade quer proibir a venda de tabacopara pessoas nascidas após o ano 2000.O principal argumento é que, embora ocigarro esteja cada vez menos popularentre as novas gerações, um em cada cin-co ingleses fuma, e o custo disso para oSistema Nacional de Saúde (NHS) chega acerca de US$ 4,15 bilhões por ano.Os dados do Cancer Research UK, insti-

tuto de pesquisas relacionadas ao câncer,mostram a redução do consumo: em 1948,quando o país registrou o maior índice deconsumo, 65% dos homens e 41% das mu-lheres fumavam; em 2012, os índices eramde 22% e 19%. O problema é que, mesmoassim, todos os dias 122 britânicos sãodiagnosticados com câncer de pulmão.“Os médicos veem os efeitos devastado-res do vício em tabaco, e o fácil acesso

ÉPROIBIDOFUMARBritânicos propõem quevenda de tabaco seja ilegalpara pessoas nascidasdepois de 2000

172 0 1 5 ∕ A G O S T O

CIGARROSAÚDEMERCADO DE TRABALHO

MACONHA

MULHERES

LEGALIZAÇÃO

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Page 20: Revista Galileu Agosto 2015

Aos 36 anos, Moisés Naím foi nomeado ministro na Vene-zuela. Estava em uma posição de poder e sabia disso, masnão conseguia dar andamento a projetos importantes.A princípio, atribuiu a dificuldade ao momento crítico daVenezuela—mas logo descobriu que a sensação de impo-tência era comumentre políticos poderosos. Para escrever

O fim do poder (Leya), Naím entrevistou dezenas deles, inclusiveo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que na época afir-mou ficar surpreso ao ver o poder que as pessoas lhe atribuíam:“Se soubessem o quanto é limitado o poder de um presidente...”O livro foi o primeiro indicadodo criador doFacebook,MarkZucker-berg, no projeto A Year of Books (veja ao lado), que propõe umanova leitura a cada duas semanas, e depois disso virou best-seller.GALILEU conversou comoautor, que falou sobre a importância derecuperar os partidos e a situação do Brasil. INÊS ALBERTI

“O que está em crisenão é a democracia,são os partidos”PARAMOISÉS NAÍM, LULA TERIA DE ENFRENTARMUITOS DOS CONSTRANGIMENTOS QUE DILMAENFRENTA SE FOSSE PRESIDENTEMAIS UMAVEZ

AG O S T O / 2 0 1 518

P: Por que o poder está acabando?Em muitas áreas, os poderosos têm du-

as forças contra eles: uma são os rivais,

as pessoas que querem tirar-lhes o po-

der, e a outra é a resistência por parte

dos que estão sujeitos ao poder — se eu

mandar você fazer alguma coisa e você

for forçada a fazê-la, vai haver sempre

uma resistência. Os poderosos precisam

ter uma espécie de escudo que os prote-

ja dessas duas coisas. E esses escudos

estão ficando cada vez mais fracos. As

barreiras que protegem os poderosos

estão ficando mais fáceis de contornar

ou ultrapassar, e isso abre a porta para

outros atores que têm poder de vetar,

de combater e de limitar a margem de

manobra dos grandes atores. Quando

as pessoas são mais numerosas, mais

educadas e têm mais recursos, fica mui-

to mais difícil controlá-las.

P: OBrasil é um dos países em que opoder parece estar migrando da sededo governo para as ruas. Qual a suaopinião sobre o caso particular do país?O Brasil é um país que tinha tudo para

ter sucesso, mas não tem. É muito,

muito triste a escalada da corrupção

durante os mandatos de Lula da Silva

e de Dilma Rousseff. Os números são

assombrosos, bem como o número de

pessoas implicadas que pertencem a

altos níveis do governo. O presidente

FEED PAPO CABEÇA

Lula é amado no Brasil e sob o seu

governo muitas pessoas saíram da

pobreza e o país alcançou uma po-

sição de prestígio no mundo. Mas

agora sabemos que por trás desse

sucesso estava uma elite corrupta e

podre de políticos do PT muito pró-

ximos do presidente Lula e da presi-

dente Dilma Rousseff. E isso, claro,

é muito frustrante e problemático.

P: Em seu livro, o senhor diz queos líderes de hoje em dia pagamum preço mais alto por seus erros.Acha que Lula pagou um preço maisbaixo do que Dilma está pagandopor erros igualmente graves?

FOTO: NeilsonBarnard/Getty Images

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Page 21: Revista Galileu Agosto 2015

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Sim, Lula teve sorte. E, na política, é

muito importante ter sorte. Lula foi

presidente quando o preço dos pro-

dutos que o Brasil exportava era bem

alto. Por isso ele tinha muito dinheiro,

que era resultado de uma prosperi-

dade que não tinha nada a ver com

ele. A Ásia, especialmente a China,

tinha grande apetite pelas matérias-

-primas e os produtos culturais que

o Brasil exportava, e isso criou uma

bonança econômica da qual Lula tirou

proveito. Por isso, se ele fosse presi-

dente novamente, teria de enfrentar

muitos dos constrangimentos que

Dilma está enfrentando agora, que a

economia está mais fraca. Pior: boa

parte do dinheiro que resultou desse

boom econômico foi para consumo,

não foi investido, e agora está na hora

de lidar com as consequências dessa

enorme expansão monetária, do enor-

me crédito — muitas pessoas no Brasil

têm dívidas e problemas fiscais. Esses

motivos fizeram que inevitavelmente

a festa acabasse. E agora é hora de

arrumar a casa, de pôr tudo novamen-

te no lugar. É isso que Dilma tem de

fazer. E se Lula estivesse na posição

dela, ele também seria menos amado.

P: No livro, o senhor diz que em 1960apenas 5% da população brasileiraera pentecostal, e que em 2006 essepercentual já alcançava 49%. Por queas pessoas estãomudando de igreja?É um fenômeno global. A Igreja cató-

lica está perdendo espaço no mercado

das almas. E isso está acontecendo no

Brasil, na Ásia e na África. Há uma va-

riedade de razões. Acredito que agora,

com o papa Francisco, essa tendência

diminua ou mesmo seja revertida e a

Igreja católica volte a ser atraente.

P: É omomento de tentar aperfeiçoaros mecanismos da democraciarepresentativa?A democracia é o melhor sistema que

conseguimos imaginar. O que está

em crise não é a democracia, são os

partidos políticos, que viraram casa

de oportunistas, não de idealistas. É

muito importante formar partidos que

voltem a atrair as pessoas, que atraiam

pessoas que estão nas ruas e que ade-

rem a movimentos não governamen-

tais. Os idealistas que querem um país

melhor, um mundo melhor, precisam

juntar-se a partidos políticos e mudá-

-los. Os partidos são vistos — correta-

mente — como corruptos, velhos, abor-

recidos e não muito interessantes. E

por isso é muito importante torná-los

atrativos outra vez, ou criando novos

partidos políticos, ou assumindo o

controle daqueles já existentes.

AS ESCOLHASDE ZUCK

QUAIS FORAMOSLIVROS INDICADOSPELO FUNDADORDOFACEBOOK

Ofimdopoder,MoisésNaím

CriatividadeS.A.,Ed Catmull

GangLeader foraDay*, Sudhir

Venkatesh

RationalRitual*,Michael Chwe

Orwell’sRevenge*,PeterHuber

Sapiens—Umabrevehistóriada

humanidade, YuvalHarari

Osanjosbonsdanossanatureza,

StevenPinker

Estruturadasrevoluções

científicas, ThomasKuhn

OnImmunity*,EulaBiss

DealingwithChina*,HankPaulson

Muqaddimah*,IbnKhaldun

TheNewJimCrow*,MichelleAlexander

ThePlayerofGames*, IainBanks

Política Ciência Ensaio

FicçãoFilosofiaNegócios

COMPORTAMENTOPODER

CORRUPÇÃOBRASILPOLÍTICA

*Sem edição no Brasil.

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Page 22: Revista Galileu Agosto 2015

1.Oálcool atingediversas partes docorpopela correntesanguínea. Umadelas éjustamente o cérebro,onde asmemórias sãoformadaspormeio dassinapses—processoemqueumneurôniotransmite informaçõespara outro através deimpulsos nervosos, semcontato físico.

2.Osresponsáveispela liberaçãodessesimpulsossãoosneurotransmissores,hormôniosqueagemcomomediadoresnassinapses.Os impulsosatravessamumespaçoconhecidocomofendasináptica,queseparaoaxônio(partedoneurônioqueenviaosinal)dodendrito (queorecebe).

3.Os principaisneurotransmissoressão a dopamina,a serotonina, anoradrenalina e o ácidogama-aminobutírico(Gaba). Asmoléculasde álcool quechegamao cérebroalteram a liberaçãodesses hormônios,estimulando uns einibindo outros.

4.A consequênciaé uma espécie depane nas sinapses. Asmensagens tornam--se confusas (por issovocê pode acabardescobrindo que opríncipe encantadoda noite anterior naverdade era umsapo) e,às vezes, simplesmentedeixamde existir, daí aamnésia nodia seguinte.

A branquinha que dá brancoACORDOUDEPOIS DABALADA EDEUDE CARA COMUMESTRANHONOWHATSAPP? UMDOS EFEITOSMAIS COMUNSDA INTOXICAÇÃOPORÁLCOOL ÉOAPAGÃODAMEMÓRIA—NODIA SEGUINTE, OSUJEITOQUE EXAGEROU TEMAPENASUMAVAGA LEMBRANÇADANOITE ANTERIOR. ENTENDAPORQUE ISSOACONTECE MARÍLIAMARASCIULO

Jeansapertadospodem fazermal à saúdeBritânica desmaiouporque sua calça

apertada causou umacompressão extremados músculos da coxa

Umamulher de 35 anosacordou em um hospitaldo Reino Unido enquan-to tinha suas calçasjeans skinny cortadaspelos enfermeiros

depois de ter desmaia-do nomeio da rua. Amoça contou que tinhaajudado na mudança deum amigo e ficara muitotempo de cócoras. Navolta para casa, elacomeçou a se sentirmal e caiu. Os médicosdisseram que o desmaiofoi consequência de

“neuropatias bilateraisfibulares e tibiais”, umaparalisia do nervo queleva à perda de sen-sibilidade nas pernase que, nesse caso, foicausada pela calça

muito apertada. Depoisdo incidente, a mulherlevou quatro dias paravoltar a andar nor-malmente. O caso foirelatado pelos médicosno Journal of Neurolo-gy, Neurosurgery andPsychiatry, uma publi-cação especializada doReino Unido. Esse foi o13º caso de problemade saúde causado porjeans apertadosna história.

fendasináptica

moléculasde álcool

receptores

vesículascontendoneurotransmissores

sinapse

neurônio

axônio

dendrito

neurotransmissores

1

2

3

O CORPO FALAFEED INFOGRÁFICO • ÉRIKA ONODERA, FEU, MARÍLIA MARASCIULO

Fonte: Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)

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Page 23: Revista Galileu Agosto 2015

COMETUDO,MEUFILHOEstudo mostra como comportamento de crianças à mesa variaQuem nunca teve dificuldade para fazer um filho ou sobrinho comer? Cientistas daUniversidade de Illinois reuniram 170 crianças entre dois e quatro anos (metade delas difícilpara comer) a fim de entender por que algumas dão trabalho na hora de se alimentar.Durante duas semanas, os pais as alimentaram com uma refeição fornecida pelos cientistas,que gravaram suas reações. As consideradasmais difíceis se recusaram a sentar à mesa,demonstraram nojo e engasgaram. Os cientistas identificaram duas categorias de criançasdifíceis: algumas não tinham desenvolvido o gosto pelo alimento, e outras mostram àmesafrustrações por outros motivos, como ter a brincadeira interrompida para jantar.

ILUSTRAÇÃO: EduardoArruda/EditoraGalileu

O cientistaMark Lyte e seu time de especialistas da Universidade deTecnologia do Texas têm feito experimentos para demonstrar comoalguns micróbios intestinais influenciam o cérebro imitando drogaspsiquiátricas. O grupo estuda os compostos psicoativos encontra-dos em fezes de macacos, para então transferir os micróbios de umprimata recém-nascido para outro intestino e assistir à mudança doneurodesenvolvimento do segundo animal. A hipótese é que diferentestranstornos neurológicos, inclusive autismo e hiperatividade, estãorelacionados com problemas gastrointestinais. E alterar as bactériasno organismo de uma pessoa é mais fácil que mudar seus genes. Pa-rece que os cientistas vinham olhando para o lado errado até agora.

Imaginequevocêesteja comsintomasdedepressãoe, emvezde ir aumaconsultacom um psiquiatra, possa simplesmen-te fazer o número 2 em um potinho delaboratórioparadescobrir se estámes-mo comadoença. Parece insano,mas o

avanço dos estudos sobre a relação entreas bactérias do intestino e o nosso humoraponta exatamente para esse caminho.Há trilhões de bactérias e vírus no or-

ganismo humano, povoando diferentespartes do corpo. Essas bactérias produ-zemvitaminas e quebrama energia dos ali-mentos que consumimos.Mas não só. Tam-bém produzem várias outras substânciasquímicas — inclusive neuroquímicas —, e certos cientistasacreditam que entre elas estão algumas responsáveis pelacomunicação dos neurônios e a regulação do humor, como adopamina e a serotonina. Não por acaso, essas substânciastambém estão ligadas a doenças intestinais, que muitasvezes coincidem commales como depressão e ansiedade.Ou seja, pormais estranhoquepareça,microbiologia eneu-

rociência têmtudoaver.As causasmais comunsdadepressãosão predisposição genética, desequilíbrio hormonal ou deneurotransmissores, traumasde infância ou acontecimentosda vida. No futuro, bactérias podem entrar nessa lista.

212 0 1 5 ∕ A G O S T O

ÁLCOOL

ABACTÉRIADADEPRESSÃOSuas fezes, quem diria,podem explicar seuestado psicológico

ALIMENTAÇÃOSAÚDE

289FEEDBacteriaPICKYeaters.indd 21 14/07/2015 20:59:18

Page 24: Revista Galileu Agosto 2015

Nos últimos seis meses, metade daFifa foi presa, um piloto suicida jo­gou um avião comercial contra osalpes franceses, o príncipe Georgeganhou uma irmãzinha, e a contade luz dos moradores de São Paulo

aumentou 75%—nomesmoperíodo, a infla­ção foi de 7,4%. A situação não émuito dife­rente da do resto do país, mas, como cadaregião temaprópria distribuidora, não épos­sível fazer umamédia nacional significativa.A tarifa é calculada com base nos custos

para gerar, distribuir e comercializar a ener­gia, alémdosgastos com impostos epolíticaspúblicas. Em março, a Agência Nacional deEnergiaElétrica (Aneel) já tinhaaprovadouma“revisão extraordinária” que resultou em umaumento médio de 32% em todo o Brasil.Depois, no início de julho, a conta subiu denovo: mais 17,04% em São Paulo. Na prática,

o sujeito que pagava R$ 86,99 em dezembropassouapagarR$ 151,94em julho.A situaçãoé tãocríticaqueaenergiadeve responderpor1,5% dos 9% de inflação previstos para 2015.Aculpa, segundoasdistribuidoras, éda fal­

ta d’água. “O aumento se deve principalmen­te aos custos com compra de energia. Com aescassez, a energiageradapelashidrelétricasnãoésuficiente.Por isso, asusinas termelétri­cas sãoutilizadas commais frequência,masaenergia gerada por elas é mais cara”, diz Ro­drigod’Elia, gerentedaAESBrasil, queatendeaos consumidores de várias regiões do país.A temporada de chuvas promete ameni­

zar a crise temporariamente, mas a tendên­cia é que as hidrelétricas realmente come­cem a perder espaço para fontes de energiamais caras. Na dúvida, é melhor preparar obolso — e deixar umas velas e um isqueiroguardados para casos de emergência.

ILUSTRAÇÃO: Denis Freitas/EditoraGlobo

Caso, ou pago a conta de luz?PREÇODA ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL SOBE (MUITO)MAIS QUEA INFLAÇÃO, E OPERADORAS COLOCAMA CULPANA FALTA D’ÁGUA

FEED

Rumo àpresidênciaTrês cursos para quemadora física, se interessapelo Egito ou simples-mente gostou muito danossa matéria de capaLUCIANA GALASTRI

FÍSICA PARA FUTUROSPRESIDENTES

Ser presidente deve serum negócio complicado.Além das óbvias ques-tões políticas, o candi-dato precisa sacar um

pouco de física. Será quea ameaça nuclear daque-le outro país faz sentido?Quais são as alternativasviáveis para a geraçãode energia? O curso

explica a matéria usandomanchetes dos jornais,como se fosse voltadomesmo aos candidatos à

presidência.Plataforma: Veduca

A PSICOLOGIA DAFELICIDADE

Curtiu a capa deste mês?Quer se aprofundar maisno assunto? O curso

Psicologia da Felicidadereúne palestras de diver-sos especialistas sobretemas que permeiam onosso bem-estar. Porque amamos? Por quetraímos? Quais são asorigens do prazer? E,finalmente, por que so-mos felizes ou infelizes?Plataforma: Veduca

EGIPTOLOGIAÉ fascinado por pirâ-mides, múmias e tudoo que remete ao antigoEgito? Então esse cursoé para você. São analisa-das a língua, a arquite-tura e a cultura da civili-zação, além da geografiada região, responsávelpelo desenvolvimentoda sociedade ao redordo Nilo. Garantimosque você vai aprendermais que nas aulas dehistória do colégio.Plataforma: Coursera

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A G O S T O / 2 0 1 522

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Page 25: Revista Galileu Agosto 2015

GENTIL&PROMOVIDOPESQUISAMOSTRAQUE,MESMOQUANDOVOCÊÉSACANEADO,OMELHORÉPERDOAR

ELETRICIDADECOMPORTAMENTO

TRABALHO GENÉTICA

Amáxima “bonzinho só se ferra” pode estar com osdias contados. Uma pesquisa do Laboratório deCooperaçãoHumana daUniversidadeYale chegouà conclusão de que ser gente boa no trabalhocompensa, e muito. De acordo com a teoria dereciprocidade indireta, quando as pessoas notam

que alguémé do bem, formamuma opinião positiva sobreele e acabam tratando-omelhor que o normal. Claro queisso funciona mais quando os chefes incentivam o com-portamento cooperativo, e não a competição.Segundo umexperimento desse laboratório, você deve

ser legal com alguém mesmo que essa pessoa tenha teapunhalado pelas costas. É que é difícil saber quandoalguém realmente está puxando o tapete ou te prejudi-cando sem querer. Por exemplo, se um colega fala sobreuma ideia que você teve emuma reunião importante semdar o crédito, é impossível saber se foi proposital ou não.Ao concluir que foi por maldade e se vingar, você corre orisco de destruir uma relação por umerro. Então émelhorfazer o buda e deixar a pessoa te sabotar algumas vezes.As descobertas do laboratório de Yale vão ao encontro

de uma tendência apresentada em uma pesquisa de lide-rança feita no ano passado pela Ketchum. A ideia é queexiste um “movimento sísmico de distanciamento domo-delo ‘macho’ eultrapassadode liderança—aabordagemdecomando e controle centralizada emuma retórica demãoúnica, come-mails compulsivos e controladores e tomadadedecisõesunilateral—paraumarquétipomais feminino”.Em outras palavras, ser babaca está fora de moda.

OCOCÔDEUS$2MILHÕESEmpresa émultada por testar DNA de funcionáriosEm 2012, uma distribuidora de alimentos norte-americana sofria com um problema, digamos,incomum: volta emeia aparecia um cocô humano no almoxarifado. Para descobrir o responsávelpelos “presentinhos”, a companhia resolveu testar o DNA de dois funcionários. O teste deunegativo, mas os empregados decidiram processar os patrões. Agora, um juiz determinou quenenhuma empresa do país tem autorização para testar o DNA de seus funcionários e fixouemUS$ 2milhões amulta para quem descumprir a lei. E, numa prova de que o crime alheiotambém compensa, os dois homens acusados injustamente já receberamUS$ 1milhão cada um.

ILUSTRAÇÃO: RubensGomes/EditoraGlobo 232 0 1 5 ∕ A G O S T O

289FEEDserLegalnoTRABALHO.indd 23 14/07/2015 18:43:11

Page 26: Revista Galileu Agosto 2015

Espero que a notícia não estrague o horóscopo de ninguém, mas esse tipo de fe-nômeno celeste nunca acontecerá: casos como a aproximação de Vênus e Júpiterem junho e julho deste ano são considerados pelos cientistas meras coincidênciasgeométricas. Afinal, como cada planeta gira ao redor do Sol com uma determina-

da velocidade e suas órbitas não estão no mesmo plano, o alinhamento não é possível. “Mesmoquando alguns planetas estão aproximadamente nomesmo rumo, não há uma linha reta que passeestritamente por seus centros”, diz Rubens Machado, do departamento de astronomia da USP.

Fabio Leão, via Facebook

R:TODOSOSPLANETASPODEMFICARALINHADOS?

A dor de cabeça para de-finir mudanças de datacomeçou no século 16,quando os sobreviventes

da expedição inicialmente liderada peloportuguês Fernão de Magalhães retorna-rampara a Espanha, em 1522. Após passarmais de três anos no mar e atravessar oglobo terrestre, a tripulação notou que otempo registradopelos quepermaneceramem terra firmenão coincidia com suas ano-tações. Opossível caso de viagemno tempotinha umaexplicação: por conta da rotaçãoda Terra, quando já era manhã no Oriente,ainda era noite na Europa. Questões comoessa só foram definitivamente resolvidasem1884, quando representantes de 25paí-ses se reuniramna cidade norte-americanade Washington para a Conferência Inter-nacional do Meridiano. “Até esse período,não havia consenso sobre qual referênciautilizar nas viagens, ficando cada país res-ponsável por aderir ao sistema que aten-desse a suas necessidades”, diz Paulo deMelo Cotias, gestor do curso de história daUniversidade Estácio de Sá. Na reunião, asnações estabeleceram o observatório in-

Qual é a história da LinhaInternacional de Data?LaF. Oliveira, via Facebook

R:

glês de Greenwich como omarco zero da con-tagem de tempo. Exatamente no lado opostodo globo está a Linha Internacional de Data,e todos os viajantes que cruzam a linha dooeste para o leste devem adiantar um dia noscalendários. Essa convenção, no entanto, geradistorções para os territórios próximos à linhaimaginária. “Entre as ilhas de Samoa e Tonga,distantes 900 quilômetros uma da outra, hádiferença de um dia na data”, explica Cotias.

Não é das expe­riências mais agra­dáveis ver a pessoaque está ao seulado falar sozinhaenquanto dorme,mas não há motivopara preocupação.De acordo com adra. Lia Bitten­court, médica doInstituto do Sono,apesar de a origemdo fenômeno aindanão ser conhecida,essa é uma variaçãonormal do sono queocorre na infância etende a desaparecercom o passar dos

anos. “Antigamente,isso era classificadocomo um compor­tamento anormal,porém os estudosnão demonstraramprejuízos, e hoje issoé considerado umfenômeno benigno”,afirma a especialista.

Carla Santos,via Facebook

R:

Por quealgumaspessoasfalamenquantodormem?

A G O S T O / 2 0 1 524

SEM DÚVIDAFEEDEnvie suas perguntas para [email protected] ouuse#semduvidagalileu

POR • THIAGO TANJI

SAÚDE

HISTÓRIAUNIVERSO

289FEEDsemduvida.indd 24 14/07/2015 19:03:30

Page 27: Revista Galileu Agosto 2015

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Page 28: Revista Galileu Agosto 2015

AMÔNIASubstância líquidaalcalina que tendea abrir a cutícula docabelo, permitindoo clareamento eagindo comoumcatalisador quandoacor permanente dosfios entra emcontatocomoperóxido.

N7

H1

QUERATINAEstruturabioquímicaquedábrilhoaocabelo, formadaporplacasque sedispõemdemodoorganizadoe refletema luz—umamudançanaorganizaçãopode reduzirobrilhodosfios.

CURIOSIDADEPesquisa doTargetGroup Index, dogrupo Ibope, revelouque26%dapopulaçãobrasileiraaplica tintura nos cabelos, sendoque asmulheres representampoucomais de80%desse total.

PERÓXIDODEHIDROGÊNIONome técnico daáguaoxigenada;quantomaior seuvolume,maior aquantidadedeenxofre que éremovidado cabelo,o que endurece osfiosmas tambémreduzo seupeso.

O8

H1

COMPLEXOSDECROMOECOBALTOA fórmula dastintas varia deacordo comamarca,masalgumasutilizamesses elementospara garantir quea coloraçãonãosaia facilmentecom lavagens,gerandofixação.

Cr24

Co27

ACETATODECHUMBOReage comoenxofre dasproteínas do cabelopara cobrir os fiosbrancos e cinza.Apesar de estudosindicarembaixaabsorçãodestasubstância pelocouro cabeludo,aAnvisa diz queseunível nãodevepassar de0,6%natinta para cabelo.

O8

Pb82

H1

Acor natural do cabelohumano é definida ba-sicamente pela quan-tidade de melaninaeumelanina (fios pretose castanhos) ou feome-

lanina (loiros e ruivos) que cadaum de nós possui. Mas nem to-domundo está satisfeito com amelanina que veio de fábrica, epor isso todos os dias milhõesde pessoas recorrem a uma sé-rie de reações químicas paramudar a cor dos fios. Essas rea-ções envolvempelomenos trêscomponentes: asmoléculas docabelo, pigmentos e substân-cias como peróxido de hidro-gênio, amônia ou chumbo, quevariam conforme o produto.O processo de formação da

coloração tem início comoapli-quede águaoxigenada (o tal pe-róxido de hidrogênio), que “re-seta” a cor. A maioria tambémcontém parafenilenodiamina,ouPPD, substância proibida empaíses como França, AlemanhaeSuécia,mas permitida noBra-sil. E até o acetato de chumbo,que desde 2006 não podia serusadoemtinturas comercializa-das por aqui, voltou a ser permi-tido recentemente pelaAgênciaNacional deVigilância Sanitária(Anvisa). VICTOR AFFONSO

FOTO: TomásArthuzzi/ EditoraGlobo

Debaixo doscaracóis......DOS SEUS CABELOSTEM MUITA AMÔNIA,HIDROGÊNIO EQUERATINA. ENTENDAA QUÍMICA DAS TINTASUSADAS NOS SALÕES

AG O S T O / 2 0 1 526

ELEMENTARFEEDCr Co

Pb

HN O

289FEEDelementar.indd 26 14/07/2015 21:18:54

Page 29: Revista Galileu Agosto 2015

56

43

40

32

19

24

RACISMOVEMDECASAPesquisa mostra que jovens brancos são quase tão preconceituosos quanto seus pais

No início de julho, a jornalista cariocaMaria JúliaCoutinho foi hostilizada por centenas de usuá­rios do Facebook que fizeram comentários ra­cistas emumpost no qual ela aparecia fazendoaprevisãodo tempono JornalNacional. Amaio­ria desses usuários deletou suas contas da rede

social, e a ação está sendo investigada pela Delegaciade Repressão a Crimes de Informática (DRCI), mas ouso da internet para propagar injúrias raciais levantoua questão: seriam os jovens de hoje tão ou mais pre­conceituosos que as gerações anteriores?A General Social Survey, uma ampla pesquisa feita

anualmente pela Universidade de Chicago, nos Es­tados Unidos, dá algumas pistas. Enquanto houveuma diminuição considerável no preconceito (ou pelomenos no preconceito explícito) entre os brancos quenasceram de 1928 a 1945 e os que nasceram de 1946 a1964, a diferença entre os brancos da geração X (nas­cidos entre 1965 e 1980) e os da geração Y (depois de1981) é insignificante. Quando precisaram responderse consideravam os negros mais “preguiçosos”, porexemplo, 31% da geração Y disse sim. Pior: quandoperguntados se consideravam os negros “menos in­teligentes”, 23% da geração Y respondeu afirmativa­mente, contra 19% da geração anterior.Os números contestam a percepção de que o

preconceito diminui “naturalmente” à medida que otempo passa e mostram que, apesar da facilidade deacesso à informação e à educação, os jovens de hojeaprenderam menos do que se esperava.

QUALÉASUA IDADEBIOLÓGICA?Estudo mostra que pessoas envelhecem em ritmos diferentesA Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), fez uma série de testes para descobrira idade biológica de quase mil pessoas de 38 anos. Foram avaliados fatores como pressãosanguínea, funcionamento dos órgãos e metabolismo. A maioria tinha um organismo con­dizente com sua idade real, mas uma boa parcela dos participantes estava biologicamentena casa dos 50, e um deles — caso “extremamente raro”, segundo os médicos — tinha aidade biológica de 61 anos. A ideia agora é descobrir quais fatores levam algumas pessoasa envelhecer mais rápido que outras e como é possível desacelerar esse processo.

PORCENTAGEM DE BRANCOS ADULTOS QUE ACHAM QUE

46

35

32

NEGROSSÃOMAISPREGUIÇOSOSDOQUEBRANCOS

NEGROSSÃOMENOS INTELIGENTESDOQUEBRANCOS

NEGROSNÃOSESAEMTÃOBEMPORFALTADEMOTIVAÇÃO

GeraçãoY

GeraçãoX

BabyBoomers

Nascidos entre 1928-1945

31

24

38

272 0 1 5 ∕ A G O S T O

PRECONCEITOTINTURA

RACISMOQUÍMICA

SAÚDE CIÊNCIA

289FEEDpreconceito.indd 27 14/07/2015 21:52:26

Page 30: Revista Galileu Agosto 2015

FEED PANORÂMICA

289FEEDpanorama.indd 28 14/07/2015 21:13:54

Page 31: Revista Galileu Agosto 2015

• Tudo o que sabíamos sobre Plutão— que jánão eramuito— estavamesmo errado. Nove anosdepois de o ex-planeta perder seu status e serrebaixado a anão, a sonda NewHorizons mostrouque ele é maior e mais bonito (tem inclusiveum tom avermelhado) do que os cientistaspreviam. Informações não oficiais dão conta deque as imagens enviadas pela sonda chegaramacompanhadas de um bilhete que dizia apenas“parece que omundo dá voltas, queridinha”.•O exército norte-americano anunciou quedeve começar a aceitar soldados transgênerono ano que vem.• A Disney confirmou que vailançar em 2018 um filme que conta a história deHan Solo. E nós temos “ummau pressentimentosobre isso”.• Ellen Pao pediu demissão docargo de presidente do Reddit depois de serperseguida por trolls e sofrer ameaças de morte.Quem assumiu foi Steve Huffman, um dosfundadores do site. 30 SEGUNDOS

• E para provar que tudo que está ruim podepiorar, no que depender do Google Ellen Paonunca mais vai conseguir emprego. É que umestudo feito pela universidade Carnegie Mellonmostrou que o site exibe muito mais anúnciosde vagas bem remuneradas para homens doque para mulheres.• E agora uma mensagemde esperança para você que acha seu trabalhomonótono: cientistas que procuravam larvasde lagosta(!) na costa da Austrália acabaramencontrando por acaso quatro vulcõessubmersos de 50 milhões de anos. Ou seja, cadateste do Buzzfeed feito em horário comercialé um vulcão submerso que você deixou deencontrar.•Um time de pesquisadores lideradopor Miguel Nicolelis conectou por fio os cérebrosde vários macacos para que eles funcionassemcomo um “computador orgânico”. A intenção eraacelerar a reabilitação de pacientes com danosneurológicos e, claro, tentar encontrar umaalternativa para oWindows. CRISTINE KIST

SÓ+1MINUTO. O que aconteceuem julho e não coube na revista

OSolaindase levantaMultidão corre enquanto touros entram na praça onde todo ano é realizado oFestival de São Firmino, em Pamplona, na Espanha. A fiesta, como o evento é

chamado pelos espanhóis, acontece desde o século 14 e ficou famosaem 1926, quando foi retratada pelo escritor Ernest Hemingway na novela

O Sol também se levanta. Poucos dias antes do início do festival, representantesde associações de defesa dos animais protestaram nomesmo local.

FOTO: PabloBlazquezDominguez/Getty Images. PESQUISA : Franklin Barcelos/EditoraGlobo 292 0 1 5 ∕ A G O S T O

ANIMAISESPANHA

TOURADA

289FEEDpanorama.indd 29 14/07/2015 21:13:56

Page 32: Revista Galileu Agosto 2015

A G O S T O / 2 0 1 530

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Page 33: Revista Galileu Agosto 2015

DOSS IÊ TEXTO • THIAGO TANJIDESIGN• RAFAEL QUICK

ATUALIDADESTRABALHO

BRASILTECNOLOGIA

Se você compartilha a ideia de

que há pouca diferença entre ca-

minhar sobre espinhos e brasa

quente e acordar na segunda-

-feira para mais uma semana de

expediente, não se sinta mal: a

palavra “trabalho” tem origem

no latim tripalium, nome dado a um

instrumento de tortura utilizado para

punir escravos desobedientes. De lá para

cá, pensadores de diferentes épocas e

ideologias observavam o esforço de cam-

poneses, artesãos e operários e davam a

maior força para eles — filosoficamente,

é claro. “O trabalho poupa-nos de três

grandes males: tédio, vício e necessida-

de”, dizia o iluminista francês Voltaire.

Já o alemão Karl Marx considerava que

a produção material era responsável por

cimentar os diferentes aspectos de uma

sociedade, incluindo a própria concep-

ção de identidade dos seres humanos.

Hoje, ao mesmo tempo que a automati-

zação de processos permitiu o aumento

de produtividade, ainda convivemos com

questões de décadas passadas, como lon-

gas jornadas de trabalho, insatisfação

com o cotidiano das cidades e a ameaça

do desemprego. Governos e empresas

têm papel central nessa discussão, mas

a busca por mudanças também parte

das novas gerações, que desejam algo

além do expediente das nove às 18 horas.

Trabalhadores do mundo, uni-vos!

S

MESMO COM O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E O AUMENTODE PRODUTIVIDADE, CONTINUAMOS COM A MESMA ROTINA DA ÉPOCADE NOSSOS PAIS. MAS QUAIS MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS PARAQUE NOSSO TRABALHO ACOMPANHE AS EVOLUÇÕES DESTE SÉCULO?

HORA DE O PONTOBATERBATER

312 0 1 5 / A G O S T O

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Page 34: Revista Galileu Agosto 2015

OQUEFAZBEM? OQUEFAZMAL?

Dados da Organização Mundial da Saúde

(OMS) estimam que 7% da população

mundial — ou 400 milhões de pessoas —

sofrem de depressão. No Brasil, a doença

está na 13ª colocação entre as principais

causas que provocam afastamento do

trabalho, de acordo com dados de 2015

do Instituto Nacional de Seguridade So-

cial (INSS). Na cidade de São Paulo, a

depressão é o terceiro maior motivo que

afeta a saúde do trabalhador. “Os proble-

mas são motivados por longas jornadas

de trabalho e excesso de tarefas”, diz a

psicóloga Ana Maria Rossi, presidente

do Isma-BR (International Stress Ma-

nagement Association). Em abril deste

ano, o instituto, especializado no estudo

e no tratamento do stress, divulgou uma

pesquisa realizada com mais de mil pro-

fissionais de Porto Alegre, Rio de Janeiro

e São Paulo a respeito da qualidade de

vida no trabalho. Os resultados indicam

que em diferentes segmentos o índice

de insatisfação chega a 72% dos entre-

vistados. “As pessoas não conseguem

dar conta das atividades exigidas pe-

las empresas, e isso desequilibra a vida

profissional e pessoal, o que leva a má

alimentação, menos tempo de sono e fal-

ta de atividades físicas”, diz Ana Maria.

Para Luciana Caletti, CEO da empresa

brasileira Love Mondays, plataforma on-

-line feita para que funcionários avaliem

anonimamente suas empresas, aspectos

como salário baixo e falta de reconhe-

cimento dos chefes são algumas das

principais reclamações: “Com a crise

econômica, a perspectiva de trocar de

emprego caiu bastante, assim como a

expectativa de aumento salarial.”

NAPRESSÃONAPRESSÃO

DÁPARAMELHORAR?Commais de 60mil avaliações anônimas de empresas, a plataformaLove Mondays revela os principais aspectos levados em conta pelos

funcionários em relação à qualidade de vida no trabalho

AUMENTA NÚMERODE BRASILEIROSINSATISFEITOSCOM O TRABALHO

Tarde outra vez?Desequilíbrio entrea vida profissionale pessoal é o maiorponto negativo.

Olha eu aqui!Dificuldades doschefes para elogiare reconhecer o que éfeito pelo funcionário.

Para ontemA pressão feita demaneira excessivana hora de concluiralgumas tarefas.

Travou!Processos, sistemase ferramentas ruinstambém são umador de cabeça.

Nãodeupara omêsSalários baixos e aburocracia internadas empresascausam insatisfação.

TurmaboaO bom ambientede trabalho é um

dos principaispontos citados.

TodomundoganhaBons benefícios

corporativos, comovale-alimentação,

cursos e convênios.

No talentoCompetência

profissional doscolegas para realizarprojetos e tarefas.

EmdiaA pontualidade

no pagamento dosalário (alô, grandesclubes de futebol!).

Mais que amédiaRemuneração

competitiva emrelação ao restante

do mercado.

Ao infinito e além!Oportunidades de

progressão nacarreira também

são atrativos.

FraquinhoGestores que nãoconseguem exerceruma boa liderançaafetam o trabalhador.

OQUEFAZBEM? OQUEFAZMAL?

A G O S T O / 2 0 1 532

289DOSSIE.indd 32 14/07/2015 21:25:59

Page 35: Revista Galileu Agosto 2015

automóvel Ford T, produzido em

1913, revolucionou o capitalismo

mundial ao introduzir linhas de mon-

tagem capazes de diminuir o tempo de

fabricação dos veículos de 12 horas para

apenas 90 minutos, o que possibilitou

a diminuição dos preços e a massifica-

ção do produto. Hoje, fábricas como a

da Hyundai, na cidade sul-coreana de

Ulsan, são capazes de rolar da linha de

produção novos carros a cada 12 segun-

dos, graças à robotização de parte dos

processos. Mas, se é verdade que as 16

horas diárias de expediente dos tempos

da Revolução Industrial ficaram para

trás, ainda gastamos boa parte de nosso

dia no trabalho. “O Brasil tem uma das

maiores jornadas de trabalho legais do

mundo, com a possibilidade irrestrita de

horas extras”, diz Cássio Calvete, pro-

fessor da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS) e especialista no

assunto. Em 1988, com a nova Constitui-

ção, os legisladores ajustaram pela última

vez a jornada de trabalho, que caiu de 48

para 44 horas semanais. “O aumento da

produtividade permitiria a redução das

horas trabalhadas, mas isso não aconte-

ce por conta das empresas, que desejam

lucros cada vez maiores”, afirma Calvete.

O

BRASIL FRANÇA ITÁLIA ALEMANHA REINO UNIDO JAPÃO CHILE

67,4

57,4

47,1

46,2

37,6

38,3

56,1

35,7

33,235,1

33,9

20,4

30,3

29,1

60%

40%

20%

0%

NAATIVAMesmo sem idademínima para aposentadoria,a proporção de brasileiros commais de50 anos que continuam no trabalho é alta

FANTASMADEVOLTA?A taxa de desemprego caiu no país nosúltimos anos, mas voltou a subir no início de2015 por conta da desaceleração econômica

HOMENS MULHERES

4%

8%

12%

2003 2015201320112009200720050%

Fonte: IBGE

ATÉ14 HORAS

15 A29 HORAS

30 A39 HORAS

40 A44 HORAS

45 A48 HORAS

49 HORASOU MAIS

15 MILHÕESDE PESSOAS

0

5 MI

10 MI

16 A 24 ANOS 25 A 39 ANOS

60 ANOS OU MAIS40 A 59 ANOS

EXPEDIENTEPUXADOBrasil tem uma das maiores jornadassemanais de trabalho do mundo

JORNADA SEMANAL

10 MI

10 MI

10 MI

332 0 1 5 / A G O S T O

289DOSSIE.indd 33 14/07/2015 21:25:59

Page 36: Revista Galileu Agosto 2015

JAMAICA

EQUA

DOR

COSTARICA

MÉX

ICO

BRASIL

BOLÍVIA

URU

GUAI

ELSA

LVADOR

HONDURA

S

NICARÁ

GUA

NEPAL

PAQUISTÃO

SRILA

NKA

ÍNDIA

BUTÃO

GUINÉ

TOGO

SENEGAL

NÍGER

UGA

NDA

NIGÉRIA

ZÂMBIA

RUANDA

Título infoOs organizadores da pesquisa considera-ram que a "escravidão moderna" repre-senta a restrição da liberdade individualde um individuo feito por outra pessoa,com a intenção de explorá-la. Tráficohumano e exploração sexual tambémsão considerados formas de escravidão

MAPA DA VERGONHAMAPA DA VERGONHALEVANTAMENTO FEITO PELA ORGANIZAÇÃOWALKINGFREE FOUNDATION INDICA QUE MILHÕES DE PESSOASAINDA VIVEM EM CONDIÇÕES SEMELHANTES À ESCRAVIDÃO

AMÉRICA LATINA ÁFRICA ÁSIA

SONHOROUBADOPorcentagem de jovens de 15 a 17 anos

expostos a trabalhos pesados

Entre as 167 na-ções pesquisadas,o Brasil ocupa aposição de número143 no ranking daescravidão. De acor-do com o relatório,somos um dos princi-pais países a combateresse problema, pormeio de fiscalizaçõese investigações dedenúncias. Mas, apesardo resultado positivo,estima-se que mais de155 mil pessoas ainda se-jam exploradas, principal-mente na agricultura ena construção civil.

OQUEÉESCRAVIDÃOMODERNAOs organizadores da pesquisa con-sideramque um ser humano vive emcondições análogas à escravidão quandotem sua liberdade restringida por outrapessoa, com a intenção de explorá-la.Tráfico humano e exploração sexualtambém fazemparte desse conceito.

MAPA DA VERGONHAMAPA DA VERGONHALEVANTAMENTO FEITO PELA ORGANIZAÇÃOWALKINGFREE FOUNDATION INDICA QUE MILHÕES DE PESSOASAINDA VIVEM EM CONDIÇÕES SEMELHANTES À ESCRAVIDÃO

AMauritânia tem amaiorconcentração de escravosdomundo, com 4% de suapopulação obrigada a tra-balhar nos campos do país.

No Haiti, país mais pobre das Américas,crianças vão trabalhar para outras famí-lias porque seus pais não têm condiçõesde criá-las. Muitas estão expostas atrabalhos pesados e exploração sexual.

A G O S T O / 2 0 1 534

289DOSSIE.indd 34 14/07/2015 21:26:00

Page 37: Revista Galileu Agosto 2015

CAMBO

JA

LAOS

VIETNÃ

BANGL

ADESH

INDONÉSIA

0%.

10%.

20%.

30%.

40%.

PROPORÇÃO DA INCIDÊNCIA DE ESCRAVIDÃO POR PAÍS

BAIXA ALTA SEM DADOS

Os últimos dados do IBGE indicam que

8,2 milhões de brasileiros estão desem-

pregados. A desaceleração econômica

deste ano, responsável por liquidar 240

mil postos de trabalho, motivou o gover-

no federal a criar o Programa de Prote-

ção ao Emprego, que propõe a redução

temporária de até 30% das jornadas de

trabalho de setores produtivos fragili-

zados, com diminuição proporcional da

remuneração dos funcionários. A medi-

da, que espera poupar pelo menos 50

mil empregos, não é a única discussão

travada entre governo, empresários e

trabalhadores. Em abril, a Câmara dos

Deputados aprovou um projeto de lei

que amplia a terceirização, permitindo

às empresas subcontratar todos os seus

serviços. “Isso permitirá o aumento da

rotatividade de empregos, a diminuição

de salários e a precarização do mercado

de trabalho”, afirma o professor Cássio

Calvete. O projeto, criticado pelas prin-

cipais centrais sindicais do país, será

votado agora no Senado. Outra questão

política diz respeito à discussão da pre-

vidência social: de acordo com dados

das Nações Unidas, até 2050 o Brasil

terá 22,5% de idosos em sua popula-

ção, o que faz o país repensar seu atual

modelo de aposentadoria. “Com essa

tendência, teremos cada vez mais be-

neficiários e menos contribuintes”, diz

Ana Amélia Camarano, pesquisadora

do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea). Em junho, a presidente

Dilma Rousseff sancionou uma medi-

da provisória para um novo cálculo da

aposentadoria, baseado na soma de

idade do contribuinte com o tempo

trabalhado. Inicialmente, mulheres

poderão pedir a aposentadoria quan-

do a soma chegar a 85, e homens, a 95.

Um dosmaiores produtoresde algodão domundo, oUzbequistão explora suamãode obra durante a colheita doproduto, e crianças são coagi-das a trabalhar nas lavouras.

No levan-tamento de2014, 65,8%dos casos deescravidão es-tão concentra-dos na regiãoda Ásia, porconta dasindústriaslocais.

NO OLHODO FURACÃOEmmeio à grave crise econômica, decisõespolíticas afetamo futuro dos trabalhadores

Existemmaisde 14milhõesde escravosem territórioindiano. Mulheresestão expostas àexploração sexuale a casamentosforçados.

Mais de3 milhões depessoas são

exploradas naChina, principal-mente nas zonas

econômicasespeciais, ondehá uma série debenefícios paraa instalação de

indústrias.

352 0 1 5 / A G O S T O

289DOSSIE.indd 35 14/07/2015 21:26:01

Page 38: Revista Galileu Agosto 2015

ão é preciso ser um grande observa-

dor para perceber que as principais

cidades brasileiras precisam resol-

ver em caráter de urgência a questão da

mobilidade urbana. São Paulo e Rio de

Janeiro são líderes mundiais no tempo

de deslocamento da residência para o

trabalho — 42,8 e 42,6 minutos, res-

pectivamente. “Os postos de trabalho

estão concentrados em regiões centrais

e afastados da periferia, obrigando o

trabalhador a percorrer uma grande

distância em um sistema de transpor-

te que não é integrado”, afirma Vitor

Mihessen, que realizou um estudo so-

bre mobilidade urbana e mercado de

trabalho no Rio de Janeiro em pesquisa

da Universidade Federal Fluminense

(UFF). “As empresas também têm um

papel fundamental nessa questão, por-

que já temos o aparato tecnológico para

trabalhar a distância, além de mudar

horários de expediente para conseguir

uma fluidez melhor no trânsito”, diz.

Para Giancarlo Bonansea, líder de ino-

vação digital da consultora Accenture,

as companhias devem se adaptar a essa

flexibilização, sob o risco de perder jo-

vens funcionários que não concordam

com modelos rígidos de expediente.

“Se é possível contratar parceiros que

prestam serviços remotos a partir de

outros países, por que não agir da mes-

ma maneira com os profissionais da

sua empresa?”, questiona o especia-

lista. “Há um receio plausível sobre se

o profissional estará produzindo ou

não, mas o que se deve considerar é o

resultado final do trabalho entregue.”

Reunir alguns amigos de faculdade, es-

crever linhas de código, criar um apli-

cativo ou serviço de internet inovador

e faturar alguns bilhões de dólares em

pouco tempo. Com a massificação da

tecnologia, criar grandes negócios a

partir do zero não é mais uma realidade

tão distante para jovens empreendedo-

res de diferentes partes do mundo. “Um

empreendedor pensa incansavelmente

em melhorar algo. Mas, se antes era ne-

cessário construir uma fábrica, hoje o

aumento da capacidade produtiva per-

mite adaptar ideias de maneira rápida

e sem mobilizar muito capital”, afirma

Newton Campos, professor da Funda-

ção Getulio Vargas (FGV) e especialista

em startups, nome dado às empresas

de tecnologia que propõem métodos

horizontalizados e menos engessados

de organização corporativa. No Brasil,

cada vez mais jovens estão dispostos a

deixar de seguir uma carreira formal

para criar o próprio negócio: dados da

Associação Brasileira de Startups re-

gistram 3.515 jovens empresas cadas-

tradas em seu banco de dados. Mas um

levantamento realizado pela escola de

negócios Fundação Dom Cabral indica

uma realidade difícil: 25% das startups

fecham as portas antes de completar um

ano de vida, e metade delas encerra suas

atividades em menos de quatro anos.

VOCÊ É O CHEFE MAIS JOVENS DECIDEM EMPREENDER, MASO CAMINHO PARA O SUCESSO NÃO É FÁCIL

PARADESAFOGARAS CIDADES

PARADESAFOGARAS CIDADESDISTRIBUIÇÃODEPOSTOSDETRABALHOEMUDANÇASDEROTINAAJUDARIAMARESOLVERATÉPROBLEMASURBANOS

N

R$ 130MILHÕES

VALOR DEINVESTIMENTORECEBIDO PELA99 TÁXIS EM 2015

US$ 50BILHÕES

VALOR DE MERCADOQUE O UBER QUERALCANÇAR COMINVESTIMENTOS 25%

DAS STARTUPSENCERRAMAS ATIVIDADESANTES DE UM ANO

TempinhobrasileiroQUANTOSMINUTOS SÃO GASTOS PARASE DESLOCAR DE CASA PARA O TRABALHO

XANGAI

LONDRES

DISTRITOFEDERAL

BELOHORIZONTE

SÃOPAULO

ESTOCOLMO

NOVAYORK

SYDNEY

PARIS

RIODE JANEIRO

RECIFE

TÓQUIO

SALVADOR

MADRI

1

3

5

7

9

11

13

2

4

6

8

10

12

14

10 MIN. 20 30 40 50

A G O S T O / 2 0 1 536

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Page 39: Revista Galileu Agosto 2015

NOVO EMPREGO NOVO AQUI O CLIMA É BOM

CONTEXTUALIZAÇÃODEDADOSDevido ao volume de dados que serãocriados por causa da internet das coisas.

FILÓSOFODECRIPTOGRAFIADEMOEDASCom a crescente desconfiança emrelação aos bancos, serão criadas novasmoedas digitais.

DESENVOLVEDORDETINTADE IMPRESSORA3DPorque, né, vamos imprimir residências,comida e, eventualmente, armas.

GERENTEDERELAÇÕESESTUDANTISPara tentar diminuir os casos debullying nas escolas de todo o mundo.

RESTAURADORDEEXTINTOSPessoas que se dedicarão a restaurar aexistência de animais que sumiram do planeta.

GURUDECLASSIFICAÇÃODEDRONESLeis serão aplicadas de acordo como tipo de aeronave não tripulada.

NANOMÉDICOSOs problemas médicos serão rastreadosa partir de uma única célula do corpo.

SEGURANÇADEBIOHACKINGPor causa do aumento de produtoscom componentes transgênicos.

GERENTEDEDESPERDÍCIODEDADOSQuem nunca guardou dados dobradosno computador de casa?

DESIGNERDEMEMORIALCom o aumento da expectativade vida, guardaremos mais lembranças.

GOOGLEOrganiza as informações da

internet e torna-as úteis.

GAZINGrupo formado por dez empresasem áreas como varejo e atacado.

KIMBERLY-CLARKBRASILProduz itens do setor de

higiene e bem-estar.

SASBRASILLíder de mercado em soluções eserviços de business analytics.

CATERPILLARBRASILLíder mundial de

equipamentos de construção.

MAGAZINE LUIZAA companhia figura entre asmaiores varejistas do país.

JWMARRIOTEmpresa de hospedagem commais de 3.800 propriedades.

LABORATÓRIOSABINÉ o maior laboratório de análisesclínicas da região centro-oeste.

TICKETO Ticket Restaurante é o seu

serviço mais conhecido.

ACCORBRASILO grupo trabalha com hotelaria,

agências de viagens e restauração.

Com o avanço e a popularização de tecnologiascomo internet das coisas, drones e impressoras3D, novas profissões deverão surgir nomercado

Conheça as dezmelhores empresas paratrabalhar no Brasil, segundo o ranking do Great

Place toWork Institute (GPTW)

0101

0505

0303

0707

0909

0606

0404

0808

1010

0202

0101

0505

0303

0707

0909

0606

0404

0808

1010

0202

Fonte:UniversidadeOxford

372 0 1 5 / A G O S T O

289DOSSIE.indd 37 14/07/2015 21:26:01

Page 40: Revista Galileu Agosto 2015

A G O S T O / 2 0 1 538

NEUROCIÊNCIA

PSICOLOGIA

FILOSOFIA

ECONOMIA

COMPORTAMENTO

289MATcapaFELICIDADE.indd 38 14/07/2015 22:05:20

Page 41: Revista Galileu Agosto 2015

392 0 1 5 / A G O S T O 392 0 1 5 / A G O S T O

289MATcapaFELICIDADE.indd 39 14/07/2015 22:05:23

Page 42: Revista Galileu Agosto 2015

A G O S T O / 2 0 1 540

COLE AQUI!

UI!COL

289MATcapaFELICIDADE.indd 40 14/07/2015 22:05:34

Page 43: Revista Galileu Agosto 2015

412 0 1 5 / A G O S T O 412 0 1 5 / A G O S T O

COLE AQUI!

COLE AQUI!

COLE AQUI!

COLE AQUI!

289MATcapaFELICIDADE.indd 41 14/07/2015 22:05:36

Page 44: Revista Galileu Agosto 2015

Os Estados Unidos eram, em 1967,

uma mistura de Mentos com Coca-

-Cola. A Lei dos Direitos Civis, re-

cém-aprovada, garantia o fim oficial

da segregação de raças. Era o mo-

mento do “parece que o jogo virou,

não é mesmo?” para a comunidade

negra do país. Mas, na vida pessoal,

a atriz afro-americana Nichelle Ni-

chols estava desencantada. Ela havia

acabado de interpretar a persona-

gem Uhura, a oficial-chefe de comu-

nicações da nave USS Enterprise, na

série de ficção científica Star Trek.“Eu estava muito emocionada com

a oportunidade”, confessou Nichelle

ao TheWall Street Journal, referindo-

-se à conquista do papel. Mas a emo-

ção se esvaiu quando, depois da pri-

meira temporada de uma das séries

mais icônicas da TV, ela percebeu

que seu papel tinha sido reduzido à

condição de coadjuvante.

Foi nessa época que ela se encon-

trou com um fã ilustre: o dr. Martin

Luther King. Ao ouvir da atriz os

seus planos de abandonar a série, o

líder do movimento dos direitos ci-

vis dos negros não demorou a inter-

rompê-la: “Você não pode sair. Esse

não é um papel feminino, ele poderia

ter sido feito por uma mulher ou um

homem de qualquer cor. É um papel

único em um momento que respira a

vida pela qual estamos lutando: a da

igualdade. Nunca imaginamos que

veríamos algo assim na TV”.

O discurso de Luther King teve o

efeito de um coquetel molotov para

a atriz, que se via apenas como uma

funcionária sem reconhecimento.

Ela então resolveu ficar — e foi a

protagonista do primeiro beijo in-

ter-racial da TV norte-americana.

Anos depois, Nichelle foi intercepta-

da por outra fã. “Com nove anos, as-

sisti a Star Trek e comecei a correr

pela casa dizendo: ‘Vem ver, gente!

Tem uma mulher negra na TV, e ela

não é uma empregada’. Soube na-

quele momento que eu poderia ser

quem quisesse”, confessou a atriz

Whoopi Goldberg, nas palavras de

Nichelle ao astrofísico e apresenta-

dor Neil deGrasse Tyson. Mais que

garantir a existência de Mudança de

PSICOLOGIA, NEUROCIÊNCIA, ECONOMIA E FILOSOFIA AJUDAMAENTENDER TUDO O QUE É NECESSÁRIO SOBRE ESSE SENTIMENTO

FELICIDADE CIENTÍFICA

• O GUIA •

DA

A G O S T O / 2 0 1 542

TEXTO • NATHAN FERNANDES ILUSTRAÇÕES • GUILHERME HENRIQUE DESIGN • FEU

289MATcapaFELICIDADE.indd 42 14/07/2015 22:06:01

Page 45: Revista Galileu Agosto 2015

- 6 -4

hábito 1 e 2, Nichelle foi um espelho

para pessoas que não tinham nin-

guém em quem se espelhar.

Não que a atriz tenha ganhado

mais destaque que o Dr. Spock. Mas

sua percepção do próprio trabalho

mudou, e com isso ela voltou a se

sentir mais satisfeita, mais feliz.

Em outras palavras, ela recuperou

o propósito em uma atividade que

oferecia apenas prazer — ou a emo-

ção inicial de ter sido escolhida. Pa-

ra o economista britânico Paul Do-

lan, professor da London School of

Economics, é desse equilíbrio entre

propósito e prazer através do tempo

que é feita a felicidade. Essa é a ideia

central de seu recém-lançado Felici-dade construída (Objetiva).

“Com base em séculos de discus-

sões éticas, cheguei a essa definição.

Mas, se você sabe que tipo de felicida-

de procura, não precisa segui-la”, dis-

se o autor a GALILEU. O livro é uma

espécie de antimanual de autoajuda, já

que critica a forma generalista como

as obras dedicadas ao tema tratam do

assunto (veja dicas de como construira felicidade ao longo da reportagem).

“Nossas preferências podem ser di-

ferentes. Assistir a Arquivo X talvez

o faça feliz, mas prefiro The X Factor.Permitir que coisas diferentes o afe-

tem de maneiras diferentes é algo que

falta em livros ‘tamanho único’. Você

precisa descobrir o que funciona para

você”, afirma Dolan no livro.

O autor questiona uma corrente fi-

losófica bastante tradicional, a de que

a felicidade se baseia na procura pelo

prazer e em evitar a dor a qualquer

preço, mais conhecida como hedonis-

mo. Não que a cerveja da sexta-feira

deva ser abolida. Mas, segundo o

economista, pensar só em atividades

que garantam prazer como fonte de

felicidade pode ter o efeito contrário,

porque a alegria que encontramos em

um copo de cerveja é passageira. A

mesma lógica serve para atividades

que envolvam uma noção de propó-

sito muito elevada, como trabalhar,

estudar, criar os filhos. A solução

seria manter o pêndulo entre propó-

sito e prazer no meio — indo sim ao

PRAZER-PROPÓSITO[MANHÃ]

P R AZER -PROPÓS I TO [NOI T E]

-2 0 2

-4-2

02

-4-6

• PESSOASEQUILIBRADAS • • MÁQUINASDE

PRAZER •

• MÁQUINASDEPROPÓSITO •

Escrevanoquadroabaixoduas atividades: umarealizadanoperíododamanhãeoutra ànoite.

Cada atividade temuma combinação de prazere propósito. Estipule uma nota de zero a seispara cada item, sendo zero “nemumpouco” eseis “muito intenso”.

Emseguida faça a conta: propósitomenosprazer. Posicioneosdois númerosnoquadroedescubraemque categoria você seenquadra.O ideal é atingir oquadrantedo “equilibrado”.Aqueles que se revelarem“máquinasdepropósito” devemprocurar realizar atividadesquegeremmaisprazer, e vice-versa.

1 .

2 .

3 .

ATIVIDADE PRAZER (0-6) PROPÓSITO (0-6) ( - )PERÍODO

MANHÃ

NOITE

O economista Paul Dolan, professor daLondon School of Economics, foi assessordo governo britânico. Junto à SecretariaNacional de Estatísticas do Reino Unido,desenvolveu pesquisas que o ajudarama definir felicidade como sendo o equilí-brio entre propósito e prazer ao longo dotempo. As pesquisas ajudaram o gover-no britânico a entender o que as pessoaspensam sobre a felicidade e que dados po-deriam ser utilizados para embasar deci-

sões sobre como deve empregar dinheiroem serviços públicos. Uma das pesquisasé baseada no método de reconstrução dodia (DRM, na sigla em inglês), desenvol-vido pelo psicólogo Daniel Kahneman,vencedor do prêmio Nobel de economiaem 2002. Com algumas alterações noconceito, Dolan sugere em seu livro umapequena amostra do teste que define sea pessoa é “equilibrada”, uma “máquina depropósito” ou uma “máquina de prazer”.

QUE TIPO DE MÁQUINA VOCÊ É?

Napesquisafei-taporPaulDo-lan,60%daspes-soascaíramnoquadranteideal,oequilibrado.

432 0 1 5 / A G O S T O 432 0 1 5 / A G O S T O

289MATcapaFELICIDADE.indd 43 14/07/2015 22:06:02

Page 46: Revista Galileu Agosto 2015

Romênia22%

bar, mas sem se esquecer de tocar

aquele projeto pessoal ou de arru-

mar a casa de vez em quando (vejao teste na página 43).

A psicóloga Ana Maria Rossi,

presidente da International Stress

Management Association do Brasil

(Isma-BR), adicionaria um fator ao

conceito de Dolan. “Também é im-

portante considerar a autorrealiza-

ção, sem isso a pessoa não se sente

plenamente satisfeita”, ela afirma.

Segundo a psicóloga, depois das

nossas necessidades básicas, o re-

conhecimento é um dos conceitos

mais importantes para a constru-

ção da felicidade. O problema é que

nem sempre temos um holograma

de Martin Luther King para nos

incentivar. A solução para pessoas

que vivem em ambientes desfavorá-

veis no trabalho, por exemplo, seria

buscar uma forma de compensação,

seja na igreja, no terreiro, no fute-

bol de final de semana ou até nas

redes sociais. “Muitas pessoas são

consumidas por esses ambientes

estressantes, por causa do status,

da questão material, do poder ou

mesmo da sobrevivência, quando

são responsáveis pelo sustento da

família. Obviamente, quem tiver

condição de se livrar dessas situa-

ções deve sair, mas, se não for o

caso, é importante ter uma forma

de compensar”, afirma Ana Maria.

Outra linha filosófica que vai na

contramão do hedonismo e que se

adéqua mais à perspectiva da neu-

rociência e da psicologia comporta-

mental é o eudemonismo. O concei-

to, defendido por Sócrates, Platão e

Aristóteles, afirma que a felicidade

duradoura só é possível através da

prática de virtudes. Como lembra o

psicólogo João Ascenso, doutoran-

do em neurociências no Instituto

D’Or de Pesquisa e Ensino/UFRJ, a

psicologia já tem experimentos que

comprovam a eficácia de 15 estra-

tégias relacionadas às virtudes que

têm o poder de aumentar o nível de

felicidade, como cultivar o otimis-

mo e emoções positivas, expressar

gratidão e desenvolver relações de

amizade (veja a entrevista na página49). “Cada um desses pontos tem

mais de um laboratório de psicolo-

gia experimental dedicado ao estu-

do sistemático e à análise dos seus

efeitos no nível de felicidade das

pessoas”, afirma Ascenso.

Um dos laboratórios mais impor-

tantes dessa área é conduzido pela

psicóloga russa Sonja Lyubomirsky,

da Universidade da Califórnia. Na

obra Os mitos da felicidade (Odis-

seia), a especialista derruba várias

concepções errôneas sobre o tema.

RANKING DA FELICIDADE• NOMUNDO •

Feliz/satisfeito Infeliz/insatisfeito Nem feliz nem infeliz Não sabe

• NOBRASIL •

20 1420 1320 1220 1 1

53%

76%

12%

13%

31%

10%

4%

1%

20 1 1

53%

81%

13%

7%

32%

11%

2%

1%

20 12

60%

71%

12%

11%

26%

16%

2%

2%

20 13

70%

70%

6%

9%

23%

20%

1%

1%

20 14

Ilhas Fiji93%

Brasil70%

Argentina81%

Panamá83%

Colômbia89%

Marrocos78%

Nigéria89%

Azerbaijão85%

Iraque31%

Indonésia80%

Vietnã79%Filipinas79%

Finlândia80%

Alemanha16%

Irlanda21%

Grécia24%

Malásia17%

Palestina18%

Líbano28%

Israel19%

HongKong16%

ArábiaSaudita87%

Índia83%

FONTE: Barômetro global de otimismo, IBOPE InteligênciaA G O S T O / 2 0 1 544

289MATcapaFELICIDADE.indd 44 14/07/2015 22:06:32

Page 47: Revista Galileu Agosto 2015

tá sentindo agora é o resultado de

onde está a sua atenção — a briga

que você teve com o namorado na

noite passada, quão estressado você

está com o trabalho, ou com suas

férias que estão por vir. Se mudar

o foco de atenção, você muda sua

felicidade”. É o mesmo princípio da

“dor maior” aplicado na técnica do

“joelhaço”, desenvolvida pelo Ana-

lista de Bagé, personagem do escri-

tor Luis Fernando Verissimo. A ideia

consiste em dar uma joelhada nos

pacientes que se queixam de tormen-

tos subjetivos para que se esqueçam

das “dores menores” e possam vi-

venciar uma mais intensa. O concei-

to talvez crie úlceras em psicólogos

respeitados, mas ilustra muito bem

como mudar o foco de atenção pode

nos guiar a um caminho diferente.

Com isso, Dolan aprendeu que

nada é tão ruim quanto achamos

que é. E isso acontece porque ge-

ralmente temos uma concepção

errônea de nós mesmos, o que não

é ruim em todos os casos. “Nossa

autoavaliação imprecisa nos guia

em tempos difíceis e nos motiva

quando estamos bem”, explica o

escritor David McRaney no livro

You Are Now Less Dumb (“Agora

você é menos idiota”, em tradução

livre). Ele cita um experimento

da Universidade da Califórnia no

qual 25 mil pessoas, entre 18 e 75

anos, tiveram de avaliar a própria

aparência com uma nota de um a

dez. A maioria ficou acima de sete,

sendo que um terço das pessoas

abaixo de 30 anos se autoavaliou

no mínimo com nota nove. O resul-

tado é duvidoso, fica difícil acredi-

tar que um estudo científico tenha

reunido proporcionalmente mais

pessoas bonitas do que um desfile

da Victoria’s Secret. “Estatistica-

mente falando, se você fizer uma

avaliação perfeita das suas habili-

dades, verá que está na média da

maioria das coisas, mas ao mesmo

tempo vai ser muito difícil acredi-

tar que isso seja verdade”, escreveu

McRaney. Segundo o autor, os pri-

matas que tinham essa confiança

o caminho inverso. Para o filósofo

dinamarquês Søren Kierkegaard,

esse contentamento é uma forma de

tristeza: “A pessoa infeliz é aquela

que tem seu ideal, o conteúdo de sua

vida, a plenitude de sua consciên-

cia, a essência de seu ser, de alguma

maneira, fora de si mesma”. “So-

mos o resultado do que pensamos”,

afirma Ana Maria Rossi. Por isso,

a felicidade, que é mais duradoura,

depende da percepção que temos

de nós mesmos, e de para onde di-

recionamos nossa atenção.

Em sua obra, Paul Dolan mostra

como essa ideia o ajudou a melhorar

da gagueira. Ao conhecer dois fo-

noaudiólogos numa convenção, eles

o apresentaram a uma nova técnica.

“O foco passou a ser a atenção que

eu dedicava à gagueira, quase nada

se referia a minha fala. Aprendi a

prestar muito mais atenção às expe-

riências do presente”, ele escreveu.

A psicóloga Sonja Lyubomirsky é

da mesma opinião: “O que você es-

“Um dos mitos é o de que só vamos

ser felizes quando nos casarmos,

tivermos filhos ou conseguirmos

aquele emprego dos sonhos. Isso é

equivocado, por causa do que cha-

mamos de adaptação hedônica”,

afirmou Sonja a GALILEU. “Se-

res humanos se acostumam com

a maioria das mudanças positivas

de sua vida.” É essa adaptação que

faz que Mick Jagger cante “I can’t

get no satisfaction” (algo como “não

consigo me satisfazer”, em tradução

livre). Afinal, mal alcançamos uma

meta e já perdemos seu propósi-

to, como aconteceu com Nichelle

Nichols. Mas, assim como a atriz,

qualquer profissional pode encon-

trar motivação em sua atividade,

mesmo que não seja tão aparente.

“Um pedreiro pode ver a igreja que

ele constrói, por exemplo, como o

lugar em que muitas pessoas vão se

reunir no futuro”, afirma a psicólo-

ga Ana Maria Rossi.

Segundo a especialista, a con-

fusão se dá porque os seres huma-

nos são mestres — e doutores —

em confundir contentamento com

felicidade. Para ela, a diferença é

que, enquanto o contentamento é

passageiro e depende do que vem

de fora, ou da percepção que os ou-

tros têm de nós, a felicidade segue

OUÇAMÚSICA

2

3

Amúsica temgrandeefeito sobre ohumor. Se écapazde evitar tiques empessoas comsíndromedeTourette, imagine oque ela pode fazer no

seudia a dia.¹ “Amusicoterapia tambémajuda atorná-lomais feliz, e émais barato doque fazercompras”, escreveuPaulDolan emseu livro.

1

¹OliverSacks.Thepowerofmusic. 452 0 1 5 / A G O S T O 452 0 1 5 / A G O S T O

289MATcapaFELICIDADE.indd 45 14/07/2015 22:06:54

Page 48: Revista Galileu Agosto 2015

UM ECONOMISTAME SALVOU

foram aqueles que conseguiram

sobreviver em períodos difícies e

se tornaram nossos avós — e hoje

entopem todas as redes sociais com

selfies e textões. Assim, ter cons-

ciência de que alimentamos uma

imagem distorcida de nós mesmos,

para o bem e para o mal, pode ser

uma ferramenta importante para

guiar nossa própria felicidade.

mo ela influencia a vida das pessoas,

tornando-o um dos principais nomes

no estudo da felicidade.

“Muitas pessoas reconhecem que

a vida nem sempre tem a ver com

realização econômica, que é como

habitualmente medimos o progres-

so social. Quanto mais os governos

reconhecerem isso, mais poderemos

trabalhar para construir sociedades

felizes, em vez de sociedades ape-

nas economicamente poderosas”,

afirma o economista Paul Dolan,

que também trabalhou com Daniel

Kahneman e assessorou o governo

britânico com relação a como intervir

melhor em mudanças comportamen-

tais. Não à toa, o Butão, um pequeno

país espremido entre a China e a Ín-

dia, criou na década de 1970 a FIB

— felicidade interna bruta —, como

alternativa ao PIB — produto inter-

no bruto. Segundo seu criador, o rei

Jaime Singye Wangchuck, o dinheiro

sozinho já não é suficiente para me-

dir o crescimento de um país.

Muito antes disso, ainda no sé-

culo 18, o pai da economia moder-

na, Adam Smith, já se dedicava

DICAS DO BUTÃO

• TENHA

CALMA •

Paraaautora,muitaspessoasnãopercebemquandoestãoagitadasouestressadas.Eé impossível serfeliz rodeadodepreocupações.Aprenderadarmaisatençãoaoseuânimoatravésdameditaçãoéumatáticaútil.SegundooprofessorMadhavGoyal, quecoordenouumestudosobreo temanaUniversidadeJohnsHopkins, nosEstadosUnidos, apráticaé tãoútil quantoalguns remédiosusadosno tratamentodeansiedadeedepressão.

A escritora Linda Leaming precisou semudar para o minúsculo Butão parase sentir satisfeita consigo mesma.Segundo ela, não é preciso ser radical,masmudanças são necessárias. “Antesde fazer qualquer coisa, é importante,se não gostar da mudança, aprendera pelo menos estar pronto para isso.”

Umaopçãobarataparaser feliz, segundoLinda, é colocar-seno lugardosoutros.Calma,nãoprecisabancaraGlóriaPiresemSeeu fossevocê.A ideiaé tentaradotaropontodevistadealguémquetenhaumacondiçãodiferentedasuaepraticaratossimplesdegentileza.Segundoestudosdosociólogoe físicoNicholasChristakis, compaixãoegenerosidadeprovocamreaçõesemcadeiaaoredor, quedeixamoambientemaispropícioaobem-estar.

Linda afirmaqueviver noButão éfazer parte deumagrande família.Moraremumpaís com700mil habitantestorna o sentimentomais acessível.Mas, segundo ela,é possível sentir--se parte deumacomunidademesmovivendoemumametrópole, fazendoatividades emgrupo.As pesquisas doeconomistaPaulDolan confirmama ideia deque afelicidade émaisprovável empessoasque fazematividadesacompanhadas.

“Pensarnamorte comfrequêncianosdeixamais felizes”, afirmaLinda.OpsicólogoDanielGilbert,daUniversidadeHarvard, concorda.Segundoele, as coisasque fazemosquandoesperamosviversãobemdiferentesdaquelasquefaríamosse soubéssemosque iríamosmorreramanhã. Tratamosonosso futuroeucomocriança, fazendocoisasparaqueelesedêbemmaisparaa frente, sóquenemsempreestamossendofiéis aosnossosprincípios.

OS LADOS•

NAMORTE•

• OLHEPARA • PENSE

• DÊ

UMAMÃOZINHA •

A neurociência e a psicologia são as

duas grandes áreas no estudo do im-

pacto da felicidade sobre a nossa vida.

Mas não são as únicas: junto com a

economia, elas formam a santíssima

trindade das pesquisas desse tema.

Em 2002, o psicólogo Daniel Kahne-

man, da Universidade Princeton, ga-

nhou o prêmio Nobel de economia ao

misturar conceitos dessas duas áreas

e dar origem à “economia comporta-

mental”. A ideia dele é mostrar como

funciona a tomada de decisões e co-

A G O S T O / 2 0 1 546

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Page 49: Revista Galileu Agosto 2015

FUTURO EU

ao tema. Em sua primeira obra, Ateoria dos sentimentos morais, de

1759, o economista previa a impor-

tância das virtudes — que, como

se viu, vem sendo confirmada pela

neurociência. No livro How AdamSmith Can Change Your Life (“Co-

mo Adam Smith pode mudar sua

vida”, em tradução livre), o autor

Russ Roberts cita a famosa frase do

economista: “Não é pela benevolên-

cia do açougueiro, do cervejeiro ou

do padeiro que esperamos nosso

jantar, mas pela consideração de

seu interesse próprio”. Para o au-

tor, é preciso entender, porém, a

diferença entre interesse próprio

e egoísmo. “Sim, as pessoas geral-

mente agem por interesse próprio,

mas, por alguma razão, nem sem-

pre é assim. Por que muitas vezes

agimos de forma desinteressada

e sacrificamos nosso bem-estar

para ajudar os outros?”, questio-

na Roberts na obra. A resposta

poderia ser que, em geral, somos

naturalmente benevolentes, temos

compaixão e odiamos assistir ao

sofrimento de outro ser humano.

Como Adam Smith não tinha vo-

cação para Pollyana, ele acreditava

que essa benevolência toda era o re-

sultado de um “espectador impar-

cial” — uma espécie de prequel do

conceito da “mão invisível”, que viria

a ser tratado em sua obra-prima, Ariqueza das nações, de 1776. Segun-

do Roberts, o espectador imparcial

seria um ser objetivo que vê a mora-

lidade de nossos atos com clareza.

O autor afirma que as pessoas ten-

dem a pensar mais em si próprias

que nos outros. Isso explica por que

ficamos ofendidos quando pedimos

um favor por WhatsApp e não rece-

bemos resposta na hora. Você não é

bobo, sabe que o receptor visualizou

a mensagem graças aos riscos azuis.

A pessoa pode estar envolvida em um

milhão de atividades que a impedem

de dar uma resposta instantânea,

mas nada disso importa. O tempo

passa, e é aí que entra o “espectador

imparcial”, lembrando-nos de que

não somos o centro do universo. “Ele

é a voz em nossa mente que nos lem-

bra de que interesse próprio pode ser

grotesco, e de que pensar nos outros

é honrado e nobre”, afirma Roberts.

Para o autor, seja isso verdade ou

não, imaginar alguém que nos en-

coraje a sair de nós mesmos e nos

ver como os outros nos veem é uma

ótima ferramenta de autoaperfei-

çoamento. Porque, como diz Adam

Smith, “os homens desejam ser não

apenas amados, mas também amá-

veis; e temem ser não só odiados,

mas também odiosos”. Provavel-

mente, o pai da economia moderna

não conhecia os conceitos de haterse trolls. Mas a ideia é mostrar que

compaixão não é um investimento

que procura retorno. Ninguém se

casa esperando uma relação do tipo

“eu fiz isso para você, agora é a sua

vez de fazer por mim”, por exemplo.

Segundo Roberts, se o seu casa-

mento é um investimento numa re-

lação de custo/benefício, então não

é motivado pelo amor. “Isso é um

acordo mutuamente benéfico. Eu

posso ter isso com o açougueiro ou

com o padeiro, mas não com minha

mulher, porque num bom relacio-

namento você se satisfaz ajudando

seu parceiro simplesmente porque

esse é o tipo de parceiro que você

quer ser — o tipo amável.”

COMPROMETA-SE

1

3

Torne suas promessas públicas. Emseu livro,Paul Dolan afirmaquequemposta as tentativasdeperder peso noTwitter, por exemplo, tem

muitomais chancede emagrecer. “Aofimde seismeses postando, cadadezposts noTwitter eram

associados a0,5%deperdadepeso”.²2

²G.Turner-McGrievy,D.Tate.Weight losssocial support in140charactersor less:useofanonlinesocialnetwork inaremotelydeliveredweight loss intervention.

Algumas dicas sobre felicidade pa-

recem óbvias: você sabe que ficar o

dia inteiro vendo vídeos de gatinho

pode atrapalhar seu rendimento no

trabalho, mas eles são fofos demais

para não serem vistos. No fim do

dia, você está atrasado, leva uma

bronca e fica infeliz. No dia seguin-

te, está vendo vídeos de gatinho de

novo — só mais um.

Por isso, antes de realizar uma

mudança (parece bem óbvio, mas...),

é preciso querer mudar. No livro

Experimental Philosophy Volume 2(“Filosofia experimental volume 2”,

em tradução livre), o filósofo Joshua

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Page 50: Revista Galileu Agosto 2015

TIJOLOS DE HÁBITOS

Knobe, da Universidade Yale, colo-

ca uma questão desconcertante: se

a pessoa que você vai se tornar em

30 anos é completamente diferen-

te daquela que você é hoje, o que

faz essa pessoa do futuro ser você?

Impossível dizer, mas a dúvida se-

meia a ideia de que, sim, estamos

em constante evolução. O psicólo-

go Daniel Gilbert, da Universidade

Harvard, mostra como tendemos a

acreditar no contrário. “Os seres hu-

manos são obras em andamento que

erroneamente pensam estar acaba-

das. A pessoa que você é agora é tão

passageira, tão fugaz e temporária

quanto todas aquelas que você já foi.

A única constante em nossa vida é a

mudança”, escreveu no livro Stum-bling on Happiness (“Tropeçando na

felicidade”, em tradução livre).

Isso ajuda a entender por que mui-

tas vezes as pessoas se enganam em

relação à felicidade que alguma coisa

vai trazer, mesmo quando têm abso-

luta certeza de que aquele iPhone 6

ou aquela família da novela em que

todos os personagens dizem “eu te

amo” a todo instante é tuuudo de

que precisam na vida. Em Felicidadeconstruída, Paul Dolan mostra como

nossos sentimentos atuais podem nos

atrapalhar em relação ao que planeja-

mos para o futuro. Trata-se do viés da

projeção, um conceito que cientistas

comportamentais usam para mostrar

como deixamos que sentimentos do

presente afetem nossas escolhas para

o futuro. Marcar aquele encontro para

sábado parecia ser uma ótima ideia no

meio da semana passada, mas quando

chega a hora e você está em casa, com

frio, assistindo à maratona de Houseof Cards, você se contorce de contra-

riedade e arrependimento e roga aos

céus para a pessoa desmarcar.

Outro ponto importante é o cha-

mado efeito de enfoque, que faz

uma coisa parecer mais importante

No fundo, como no caso da gaguei-

ra de Dolan, tudo se relaciona com

a atenção — e depende disso mui-

to mais que de disciplina. Quando

estamos num ambiente desfavorá-

vel, não há força de vontade que

ajude. Em um artigo publicado no

American Journal of Public Health,

a médica Anne Thorndike fez um

experimento na cafeteria de um

hospital. As geladeiras, que antes

eram cheias de refrigerante, passa-

ram a dividir o espaço com garra-

fas de água. Nos três meses seguin-

tes, o consumo de refrigerante caiu

11,4%, enquanto o de água subiu

25,8%. Depois, a mesma ideia foi

SEJA AVENTUREIRO

1

2

Faça coisas diferentes, nemque sejamudar aestaçãode rádio de vez emquando. Isso ajuda adirecionar sua atençãopara outras coisas. “Queméaberto a novas experiências relata sentirmaissatisfação comsua vida e vivenciamais emoções

positivas”,³ relataPaulDolan emsuaobra.3

³K.DeNeve,H.Cooper.Thehappypersonality:ameta-analysisof137personality.

quando pensamos nela do que quan-

do de fato a vivenciamos. No livro,

Dolan sugere que as pessoas res-

pondam a duas perguntas simples:

quanto prazer você sente ao dirigir

o seu carro, em uma escala de zero

a dez, sendo zero “nenhum” e dez

“muito”? E quanto prazer você sen-

tiu na última vez que o dirigiu? Os

alunos da Universidade de Michi-

gan responderam a um questionário

semelhante, que continha também

perguntas sobre o valor de mercado

do carro do entrevistado. A ideia

era verificar se um carro mais ca-

ro proporciona mais prazer ao ser

dirigido. Mas não foi encontrada

nenhuma relação entre a última

pergunta e o valor do automóvel.

Ou seja, os pesquisadores concluí-

ram que as pessoas sentiam mais

prazer ao se imaginar dirigindo um

carro caro do que dirigindo de fato.

A G O S T O / 2 0 1 548

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Page 51: Revista Galileu Agosto 2015

Além disso, muitas vezes, pressio-

nados pela felicidade alheia nas redes

sociais, por exemplo, esquecemos

que a tristeza é parte fundamental da

felicidade. Nenhuma novidade para

quem assistiu à animação Divertidamente. “A tristeza é importante por-

que é um sinal de que alguma coisa

está errada. Assim como pessoas que

não sentem dor podem ficar feridas,

quem não fica triste não consegue re-

solver problemas”, afirma a psicóloga

Sonja Lyubomirsky. “A tristeza serve

também como um contraste para que

apreciemos mais os bons momentos.

Mas devemos ficar atentos à tristeza

crônica, essa só gera sofrimento.”

Outra fonte de sofrimento e ansie-

dade é tentar acompanhar todas as

dicas de felicidade dos manuais de

autoajuda. Quando falhamos, a frus-

tração só aumenta, e o que antes era

desejo de felicidade pode se tornar

um pesadelo digno de Stephen King.

“Aconselhar alguém que pergunta o

que fazer com sua vida está muito

próximo da egomania. Apontar um

dedo trêmulo para uma direção

correta é algo que só um idiota fa-

ria”, escreveu o jornalista Hunter S.

Thompson. Por isso, agora que você

já entende melhor o funcionamento

do cérebro e sabe que a felicidade não

é uma coisa tão subjetiva, esqueça to-

dos os conselhos, rasgue esta revista

e procure o que faz bem para você.

O CÉREBRO FALA

a amses

A CIÊNCIA TEM ESTRATÉGIAS PARA ANOSSA FELICIDADE? Sim, são 15 pontosestudados em mais de um laboratóriode psicologia experimental. Alguns delessão: expressar gratidão com regularidade;cultivar o otimismo; cultivar emoçõespositivas; evitar a comparação socialcom os outros; ajudar os outros comregularidade; desenvolver relações deamizade que tragam desenvolvimentopessoal e não apenas prazer, entre outros.

COMOANEUROCIÊNCIATEMESTUDADOO TEMA DA FELICIDADE? Os primeirosrelatos na literatura científica da neu-rociência surgiram com a explosão deestudos relacionados com o que osneurocientistas chamam de sistemade recompensa no cérebro. Depois defazer importantes contribuições no quediz respeito a diferentes mecanismoscerebrais da motivação, o professor KentBerridge, da Universidade de Michigan,um dos principais pesquisadores dos me-canismos neurais da motivação, propôsa possibilidade de já se falar em umaneurociência da felicidade hedônica, oua neurociência do prazer.

EXISTEM ESTUDOS SOBRE A NEURO­CIÊNCIADAFELICIDADEEUDEMONISTA,AQUELA RELACIONADA ÀS VIRTUDESDASPESSOAS?Oprimeiro neurocientistano mundo a relacionar as bases cerebraisdo altruísmo com o sistema de prazer no

cérebro foi o dr. Jorge Moll Neto, o quesugere que ser caridoso ativa os nossossistemas de recompensa. O trabalho deleinspirou a minha tese de doutorado, sob asua orientação, que procurava entenderquais as bases neurais de valores moraise não morais no cérebro, os seus efeitosnos processos de decisão altruísta e asua relação com os níveis de bem-estardas pessoas, com base em estudos an-teriores da psicologia que demonstramque os valores intrínsecos ao self (auto-desenvolvimento, ajuda aos outros e aqualidade das relações) estão relacionadoscom níveis mais altos de felicidade, emcomparação com os valores extrínsecosao self, como fama, dinheiro e poder, porexemplo, que demonstraram relacionar-secom níveis mais baixos de felicidade. Mas,na atualidade, a área da neurociênciada felicidade ainda está na sua infânciacientífica, damesma forma comona décadade 1980 estava a felicidade na psicologia.

aplicada à comida. Assim, os clien-

tes passaram a se alimentar melhor

sem nem perceber que o faziam.

No livro Nudge (“Cutucar”, em

tradução livre), os autores Richard

Thaler e Cass Sunstein discutem co-

mo o ambiente molda nossos hábitos.

Umas das teorias é que os itens colo-

cados nas prateleiras mais altas do su-

permercado (próximas dos olhos) têm

mais chances de ser vendidos do que

aqueles que são colocados embaixo.

A regra é clara: se você quer adquirir

um hábito que vai te tornar mais feliz,

facilite as coisas. O mesmo vale para

hábitos ruins: se quiser se livrar deles,

torne-os mais complicados. Ou seja,

se você quer comer melhor, deixe os

alimentos saudáveis sempre ao alcan-

ce e esconda os biscoitos no armário.

Se quer ir mais à academia, encontre

uma que fique no caminho de casa

para o trabalho. Se mesmo passan-

do na frente do lugar você fica com

preguiça, talvez seja melhor comprar

roupas alguns números maiores.

O psicólogo João Ascenso dedica a vidaà divulgação de estudos sobre felicidade.Doutorando em neurociências no Insti-tuto D’Or de Pesquisa e Ensino/UFRJ epresidente daSocrates andPlatoAcade-my, consultoria que aplica conceitos depsicologia positiva emempresas, ele con-versou comGALILEUsobreos avançosdafelicidadenaáreada ciência e sobre comoisso pode ser aplicado na vida prática:

y. 492 0 1 5 / A G O S T O 492 0 1 5 / A G O S T O

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Page 52: Revista Galileu Agosto 2015

43OS

VIOLÊNCIAMÉXICO

ESTUDANTES

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Page 53: Revista Galileu Agosto 2015

DESAPARECIDOSDE AYOTZINAPA

EMSETEMBRODE 2014, ESTUDANTESDEUMAESCOLAMEXICANACOMTRADIÇÃODEESQUERDASOFRERAMUMAEMBOSCADAENUNCAMAISFORAMVISTOS.QUASEUMANOSEPASSOU,EOSPAISDOSJOVENSSÓQUEREMSABEROQUEACONTECEUCOMSEUSFILHOS

NO CENTRO DE CHILPANCINGO, capital do estado de

Guerrero, no México, os barrancos são ocupados por um sem­

­fim de casas sem reboco e barracos de papelão e lona. Sair da

zona urbana não torna a paisagem mais amigável, as monta­

nhas se cobrem com uma vegetação rala, seca e acinzentada.

A impressão é que as construções irregulares são a única coisa

que cresce nos morros de uma das áreas mais pobres do país.

Quase 70% da população vive na pobreza, segundo a Secreta­

ria de Desenvolvimento Social. A área montanhosa do estado,

onde se concentram as populações indígenas, tem índice de

desenvolvimento humano (IDH) comparável ao das regiões

mais carentes da África, e a taxa de homicídios é a mais alta do

México: 40 casos por cada grupo de 100 mil habitantes — mais

que o quádruplo do que a Organização das Nações Unidas

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Page 54: Revista Galileu Agosto 2015

FOTOS:MilaPereira, Reprodução

(ONU) considera aceitável. No final do ano passado,

essa violência atingiu em cheio um grupo de alunos da

Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, localizada a

15 quilômetros dali — num caso repleto de histórias

desencontradas e envolto em grande mistério.

Para chegar à escola, é preciso pegar uma van que

parece ter saído de um filme dos anos 1970. O barulho

do velho motor é abafado pelo rádio, que toca ritmos

latinos com uma roupagem pop. As letras pouco elabo­

radas, que falam dos dissabores do amor e das alegrias

da farra, lembram o estilo sertanejo universitário.

A cada parada, sobem e descem mães carregando

crianças, idosos com o rosto castigado pelo trabalho

sob o sol, mulheres suadas com sacolas de feira, ho­

mens com roupas puídas e mãos calejadas. Durante o

trajeto sinuoso, é possível avistar propriedades rurais

abandonadas. Outra coisa que chama a atenção ao

longo do caminho são os cartazes e pichações denun­

ciando que “nos faltam 43” — uma referência aos 43

estudantes que desapareceram na madrugada do dia

27 de setembro de 2014 após terem sido detidos pela

polícia municipal de Iguala. Desde então, eles nunca

mais foram vistos por amigos ou familiares.

A FACHADA DA ESCOLA NORMAL, no vilarejo

de Ayotzinapa, está coberta com cartazes, faixas e

adesivos com frases e imagens de protesto contra o

sumiço dos jovens. Mantida pelo governo estadual, ela funcio­

na em regime de internato. Os prédios de dois andares, que

abrigam tanto salas de aula como dormitórios, carecem de

reformas. As janelas estão emperradas, e pedaços de papelão

substituem os vidros. A maioria dos sanitários não funciona.

Num descampado no terreno, as fundações de concreto e

metal de um prédio estão prontas, mas abandonadas. Pro­

fessores e alunos estão em greve desde os acontecimentos

da “noite de Iguala”, mas o espaço não está abandonado. Os

alunos continuam vivendo na escola, e alguns pais e mães

se mudaram para lá depois do acontecido. Na quadra, em

lugar de alunos praticando esportes, 43 carteiras escolares

enfileiradas ocupam o espaço — em cada uma, a foto, o nome

e a idade de um dos estudantes desaparecidos.

Ernesto Guerrero sobreviveu aos ataques daquela noite.

Normalista (como são chamados os alunos do curso de magis­

tério, ou curso normal) do primeiro ano, ele conta ter visto pela

última vez alguns dos colegas quando os policiais os obrigaram

a descer do ônibus e deitar na calçada. “O policial

dizia ‘você, você e você, para dentro’, para que eles

entrassem nas viaturas”, afirma. Além dos traços in­

dígenas, Ernesto tem em comum com a maioria dos

colegas a história de vida dura. Saiu da casa do pai,

vendedor ambulante de móveis, aos 14 anos e teve

de trabalhar para se sustentar. O rapaz de fala baixa,

porém firme, não sorri nem quando cumprimenta

os companheiros. Aos 23 anos, já tinha desistido de

estudar quando a namorada o convenceu a prestar

exame em Ayotzinapa. Para concorrer a uma das

140 vagas ofertadas pela escola, os candidatos pas­

sam por três etapas de seleção. São entre 450 e 500

inscritos, que concluíram o equivalente ao ensino

médio, em geral rapazes de 17, 18 anos, filhos de

camponeses da região. “Se você é realmente filho

de camponês — e essa é uma escola para filhos de

camponeses —, vai conseguir fazer”, diz Ernesto.

A G O S T O / 2 0 1 552

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Page 55: Revista Galileu Agosto 2015

NA NOITE DA TRAGÉDIA, outro normalista, Carlos

Perez Diaz, estava no estado de Morelos visitando

uma escola rural. Membro do diretório estudantil de

Ayotzinapa, o estudante aparenta ter mais que seus

19 anos. Articulado, fala com desenvoltura sobre a

política do país e lista com facilidade datas e nomes

dos confrontos entre os movimentos sociais e a po­

lícia. O jovem é filho de camponeses das montanhas

do estado de Guerrero, área com um dos menores

IDHs do país. Ele conta que as más notícias vindas de

Iguala se espalharam rapidamente pelo grupo, através

de telefonemas e mensagens de celular. “Um colega

pediu: ‘Venham rápido, estamos nos concentrando na

Normal. Nossos companheiros foram atacados pela

polícia’.” Os estudantes então suspenderam as atividades em

Morelos e partiram imediatamente. Aldo Gutiérrez Solano foi

a primeira vítima das metralhadoras dos policiais. “Ele levou

um tiro na cabeça; quando o vimos caído, começamos a gritar

para a polícia: ‘Somos estudantes’. Achamos que ele ia morrer,

estava vomitando sangue”, lembra o normalista. Solano, de 19

anos, segue em coma e sobrevive com a ajuda de aparelhos.

Margarito Ramirez, como muitos dos familiares dos estu­

dantes, não gosta de dar entrevistas por temer represálias da

polícia. O agricultor de 56 anos é pai de Carlos Iván Ramirez,

um dos 43 desaparecidos. Margarito ficou sabendo do acon­

tecido pelos vizinhos, no vilarejo onde mora, a três horas de

Ayotzinapa. “A família daquele menino que balearam e que

ficou em coma [Aldo Gutiérrez] mora na mesma vila que eu. A

notícia se espalhou, fiquei preocupado e vim para cá com meu

irmão”, lembra. Quase um ano após a tragédia, Margarito ainda

espera por notícias do filho. Desde então, largou sua casa, onde

moram a esposa e uma filha, e se mudou para a Escola Nor­

Na quadra,43 carteirasenfileiradas trazema foto, o nomee a idade de todosos desaparecidos

532 0 1 5 / A G O S T O

CidadedoMéxico

Acapulco

CoculaIguala

Chilpancingo

Ayotzinapa

Morelos

EscolaNormal RuralRaúl IsidroBurgos

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Page 56: Revista Galileu Agosto 2015

mal. “Vivemos aqui porque não podemos ir embora

até que nos entreguem os meninos. Temos esperança

de que eles estejam aí em algum lugar”, afirma. O pai

diz que os meses que se passaram não aliviaram a

dor. “Estamos desesperados, queremos nossos filhos.”

As informações sobre o que de fato aconteceu na­

quela madrugada são contraditórias. A Procuradoria

Geral da República (PGR) concluiu que o incidente foi

um choque entre facções do narcotráfico da região —

com o envolvimento do prefeito de Iguala e do gover­

no estadual. A versão oficial, divulgada em janeiro de

2015, confirma a morte dos estudantes e sugere o fim

das investigações. Segundo ela, os normalistas teriam

sido detidos a mando do prefeito de Iguala, José Luis

Abarca, para evitar que fossem protestar num evento

no qual sua esposa divulgaria os resultados do Sistema

Municipal para Desenvolvimento Integral da Família.

O prefeito foi afastado do cargo e, depois de um mês

foragido, acabou sendo preso. Abarca é acusado de

integrar o cartel Guerreros Unidos. A primeira­dama,

María de los Ángeles Pineda, foi candidata à prefeitura

nas eleições deste ano. Ela é acusada de ser a tesourei­

ra do cartel. Dois irmãos de María, assassinados em

2009, eram os chefes do cartel Beltrán Leyva.

OS 43 ESTUDANTES TERIAM SIDO entregues pela polícia

municipal a Sidronio Casarrubias, líder do Guerreros Uni­

dos, sob a acusação de pertencerem ao cartel rival, Los Rojos.

Casarrubias teria ordenado a execução a três matadores. Os

jovens, colocados num caminhão para transporte de gado,

teriam sido levados ao lixão municipal de Cocula. Segundo o

relatório oficial, ao chegar lá, cerca de 15 já estavam mortos

por asfixia. Os demais desceram do caminhão e foram inter­

rogados: “Vocês são do Los Rojos?”. “Não, somos estudantes”,

foi a resposta. Mesmo assim, um a um, foram todos mortos

com tiros na cabeça. Os assassinos jogaram os corpos num

buraco, cobriram com lenha, pneus e gasolina e atearam fogo.

A fogueira ardeu da madrugada até as cinco da tarde, quando

os executores recolheram os restos e jogaram no rio.

Para os demais alunos da escola e os parentes das vítimas, o

relatório da PGR apresenta incoerências que visam a acobertar

os envolvidos no crime e colocar fim nas investigações. Para

eles, a tragédia seria mais um episódio de repressão políti­

ca à escola. Documentos fornecidos pelo próprio governo de

Guerrero e divulgados pela repórter investigativa mexicana

“Como é possívelo exército nãotenha ido verificarum tiroteioacontecendoà sua porta?”

Sobrevivente: O estudante Ernesto Guerrero foi umdos alunos da Escola Normal que escaparam damorte

— Margarito Ramirez,pai de um dos desaparecios

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Page 57: Revista Galileu Agosto 2015

FOTOS:Mila Pereira, Reprodução

que o prefeito teria pedido

a captura dos alunos para

evitar que protestassem

no evento público presi­

dido pela primeira­dama.

O evento começou às seis

da tarde, momento em

que os estudantes saíam

de Ayotzinapa, distante

125 quilômetros. Quando

os normalistas chegaram

a Iguala eram nove horas

da noite. Não haveria pos­

sibilidade de eles atrapa­

lharem o evento político,

que já havia acabado.

Para os alunos da Es­

cola Normal e seus fami­

liares, foi um desapareci­

mento político. A escola

representaria um incon­

veniente para os desman­

dos do poder local e a ne­

gligência do Estado com a

população. “Estão sempre

protestando. Se não têm

aula protestam, se não

têm ônibus protestam, se

há um crime protestam

também”, conta Margarito. A repressão é constante quando

os normalistas realizam manifestações públicas ou para arre­

cadação de fundos — em que pedem dinheiro aos passantes

utilizando potes. “Sempre chega a polícia, sempre há conflito

com a Escola Normal de Ayotzinapa”, diz Ernesto Guerrero.

Aos 47 normalistas (43 desaparecidos, três mortos e um

em coma) vitimados em Iguala somam­se outras quatro vidas

perdidas na repressão aos protestos da escola nos últimos

três anos. Nenhum caso foi a julgamento, todos os envolvi­

dos estão em liberdade. Margarito é um entre muitos que

carregam as cicatrizes do desgoverno que assola o estado de

Guerrero. “Não estamos de acordo com o que está acontecen­

do. Na verdade, o México não está bem, não está em paz.” Ele

mostra uma das 43 cadeiras vazias na quadra da escola, com

o nome do filho desaparecido. “Queremos voltar a ter uma

vida normal, e não esse pesadelo que estamos vivendo.”

Da revoluçãoà repressãoNOMEEscola Normal Rural RaúlIsidro Burgos, em homena-gem a um dos fundadores.

ANODE FUNDAÇÃO1926.

NÚMERODEALUNOS532, todos homens.

ORIGEMAs escolas normais surgiramna década de 1920, após aRevoluçãoMexicana, quandoo governo quismassificar aeducação básica. Desde o iní-cio, tiveram forte associaçãocom osmovimentos sociais etendências de esquerda.

BERÇODAGUERRILHADurante os anos 1960 sur-giram em Guerrero movi-mentos de esquerda. Muitosex-alunos da Escola Normalde Ayotzinapa juntaram-se aesses grupos, o que deu à es-cola fama de berço de guer-rilheiros. O mais célebre foiLucio Cabañas, que fundou oPartido de los Pobres.

CENÁRIO ATUALDas 36 escolas normais ruraisque existiram noMéxico, res-tam apenas 17, todas em riscode fechamento. Em 2007, ogoverno de Guerrero iniciouuma reforma educacionalque, entre outras coisas,resultaria no fim da EscolaNormal de Ayotzinapa.

Anabel Hernandez mostram que a polícia federal e o

exército estavam presentes na operação. O relatório

do órgão mexicano que reúne exército e polícias

do país registra os horários de chegada das tropas

federais e do exército ao local dos acontecimentos.

Em um dos vídeos gravados pelos estudantes no

momento do ataque, disponibilizado na internet,

um dos normalistas diz: “Os policiais já estão indo.

Vão ficar só os federais, e vão querer nos atacar”.

O 27º BATALHÃO de Infantaria do exército fica

a 300 metros de onde ocorreu o último ataque, no

qual os estudantes se dispersaram. Um dos norma­

listas, Edgar, foi levado com ferimentos ao batalhão,

em busca de atendimento médico. A versão divulga­

da pela PGR informa claramente que nem o exército

nem a polícia federal sabiam do ocorrido. “Como é

possível que o exército não tenha ido verificar um

tiroteio acontecendo à sua porta?”, pergunta Marga­

rito Ramirez. Outro ponto controverso seria a causa

da apreensão dos estudantes. A versão oficial diz

552 0 1 5 / A G O S T O

289DesaparecidosMexico.indd 55 14/07/2015 20:40:59

Page 58: Revista Galileu Agosto 2015

LABORATÓRIO TAMBÉMÉ LUGAR DE MULHER

PESQUISADORABRASILEIRA SUPERAPRECONCEITONOEXTERIOR E PEDEQUEJOVENS CIENTISTAS“NÃOSE CALEM”

TEXTO • AMARILIS LAGE

ILUSTRAÇÃO • ADAMS CARVALHO

DESIGN • GABRIELA OLIVEIRA

CIÊNCIAMULHERES TECNOLOGIA

PESQUISA

A G O S T O / 2 0 1 556

289Mulheres.indd 56 14/07/2015 18:11:09

Page 59: Revista Galileu Agosto 2015

Três coisas acontecem quando há mu-lheres no laboratório: você se apai-xona por elas, elas se apaixonam porvocê, e elas choram quando são cri-ticadas.” Bom, também podemos di-zer que três coisas acontecem quan-

do um prêmio Nobel diz uma besteira tãogrande. 1) Uma onda de protestos varre ainternet. 2) O autor da frase pede desculpas.3) Ele perde o emprego. Pelomenos foi isso queocorreu com o inglês TimHunt, prêmio Nobel defísica em 2010. Após a polêmica, ele pediu de-missão da University College London, onde eraprofessor honorário. Na verdade, mais uma coi-sa aconteceu: 4) O episódio, pormais desastradoque tenha sido, evidenciou algo geralmente ve-lado: o preconceito contra mulheres na ciência.Há muitos exemplos de pesquisadoras revo-

lucionárias, comoMarie Curie (a primeira pessoaa ganhar o Nobel em duas áreas distintas), JaneGoodall (retratada no filme Amontanha dos go-rilas) e Ada Lovelace (que, no século 19, criou oprimeiro algoritmoa serprocessadoporumamá-quina). Aindaassim, apresença femininanos labo-ratóriosnãoéestimulada.NaAcademiaBrasileirade Ciência, só 13,5% dosmembros sãomulheres.A engenheira Camila Flor, de 31 anos, conhece

bemesse cenário. Em2002, quando foi à Espanhacursar engenharia industrial, viu-senumgrupode400 alunos, dos quais apenas 13 erammulheres.A diferença não era só numérica. Seus trabalhosrecebiam mais críticas. Notas altas geravam co-mentários maliciosos. Camila monitorava até aprópria voz. Se fosse suave, ela era vista comofrágil. Se soassedura, ela parecia “descontrolada”.As 13 alunas se apoiavam,mas nunca falaram

sobre o problema. Camila só identificou o pre-conceito depois, quando estudou naUniversida-de Cornell, a primeira da Ivy League (grupo que

reúne a elite das faculdades norte-americanas,como Harvard, Yale e Princeton) a aceitar clas-ses mistas — uma verdadeira ousadia em 1872.EmCornell, umsistemapermiteadenúnciaanô-

nimadecasosde racismo, porexemplo, oque trazà tonaessasquestões.Ali, Camila viuqueodebateera crucial para conscientizar grupos discrimina-dos. “Quando acha que o problema é só seu, vocêse fecha e não questiona o que está ao redor”,disse. Foi também em Cornell que ela se apaixo-nouporum jovemda Islândia—país campeãoemigualdadedegênero, segundooFórumEconômicoMundial. O ranking avalia o acesso das mulheresà política e à educação. OBrasil está em71º lugar.Esse traço cultural se refletiu na vida do casal.

Quando Camila foi chamada para trabalhar noBrasil, o marido a apoiou e veio junto. “Ele meensina no dia a dia a ser mais igualitária comi-go mesma.” Chegando à L’Oréal Brasil, ela teveuma boa surpresa: as mulheres são maioria nocentro de pesquisa da companhia. Não há umplano para privilegiá-las, garante Blaise Didillon,diretor de pesquisa e inovação. Todos têm asmesmas chances, o que vale é o talento. E es-sa variedade beneficia a empresa. “O potencialcriativo é impulsionado pela diversidade dosnossos pesquisadores”, afirma Didillon.Para Camila, foi umalívio. “Pude relaxar ao ver

queas ideias sãovalorizadas independentementedogênero.”Alémdisso, elapôdeajudarnovaspes-quisadoras pormeiodoprêmioParaMulheres naCiência, daL’OréalBrasil. “Fui darumapalestra emuma universidade e vi que as alunas enfrentamquestõesparecidas.” Suadica? “Não se calem.An-tes, precisávamosnos adaptar aomeio científico.Agora, é a ciência que se adapta à presença damulher. E o caso de Tim Hunt mostra bem isso,não é mais aceitável um comportamento comoo dele. A ciência também precisa da mulher.”

O XXda questãoNúmero demulheres acada 100 pesquisadores*

Espanha 38Reino Unido 38

Estados Unidos 35França 26

Alemanha 25China 25Japão 14

Nesses países,uma jovem no ensino

médio tem

18%de chance de se graduarem um curso ligado

à ciência;

8%de chance de concluir

um mestrado nessa área;

2%de chance de se tornaruma cientista com

doutorado.

Para um rapazno ensino médio,

essas probabilidadessão, respectivamente,de 37%, 19% e 6%.

*Pesquisa do Boston ConsultingGroup, em parceria com o

programa For Women in Science.

PROMOVENDO TALENTOSPrimeiro programa dedicado a mulheres cientistas no mundo, o For Women in Science nasceuem 1998, fruto de uma parceria entre Unesco e Fundação L’Oréal. Confira alguns resultados.

Este ano o programa recebeu mais de 400 inscrições, e as vencedoras serão anunciadas em agosto.

Mais de 2 milmulheres em115 países járeceberam bolsasde pesquisa pormeio do programa.

A cada ano, cincocientistas comtrabalhos de altoimpacto na sociedaderecebem um prêmiode US$ 100 mil. Duasdelas já conquistaramo Nobel.

Seis brasileirasjá foram premiadas— este ano, umadas contempladasfoi a cientista ThaisaStorchi Bergmann,especialista emastronomia.

Há dez anos,o programa foiinstituído no Brasil.Desde então, jádistribuiu cerca deUS$ 1,2 milhão entre61 mulheres cientistascom carreiraspromissoras.

289Mulheres.indd 57 14/07/2015 18:11:11

Page 60: Revista Galileu Agosto 2015

AURORA DAO BRASIL TEM DOIS GRANDES CAÇADORES DE AURORA BOREAL — E HÁ ANOS ELES PROTAGONIZAM UMA ES

MarcoBrottojá viu a auroraem oito paísesdiferentes

A G O S T O / 2 0 1 558

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Page 61: Revista Galileu Agosto 2015

A DISCÓRDIAA ESPÉCIE DE GUERRA FRIA PART ICULAR , COM DIRE ITO A ACUSAÇÃO DE TRAIÇÃO E BRIGAS EM PÚBL ICO

TEXTO • ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA DESIGN • GABRIELA OLIVEIRAFOTOS • CAMILA FONTANA E STEFANO MARTINI

Daniel Japorleva turistasà Noruega

desde 2008

AURORA BOREALTURISMODISPUTA

FÍSICA

289AuroraBoreal.indd 59 14/07/2015 20:36:36

Page 62: Revista Galileu Agosto 2015

No passado, quando uma aurora boreal

era intensa o suficiente para chegar até os

Grandes Lagos, que separam os Estados

Unidos do Canadá, os nativos da região fi-

cavam muito assustados. Assim como nas

crenças de outros povos nórdicos, na mi-

tologia dos chamados índios Fox, as luzes

dançantes eram um presságio de guerra.

Eles acreditavam que o que viam nos céus

eram as almas dos inimigos que haviam matado tentando

se vingar. Hoje em dia, o espetáculo luminoso está longe de

insinuar qualquer conflito iminente ou causar temor. Muito

ao contrário, cada vez mais gente paga caro para realizar o

sonho de caçar auroras boreais nas gélidas regiões árticas,

no extremo norte do planeta. Mas, curiosamente, os velhos

mitos parecem ter surtido efeito séculos mais tarde, e no

lugar mais improvável possível — o Brasil. Por causa das

luzes do norte, os dois maiores caçadores brasileiros do fe-

nômeno, Daniel Japor e Marco Brotto, acabaram declarando

uma espécie de guerra fria entre si. E o embate é tão cheio

de vaivéns quanto a própria dança da aurora no céu.

OS CAÇADORESDaniel Japor viu a aurora pela primeira vez na Noruega, em

janeiro de 2006, e imediatamente decidiu que iria voltar sem-

pre que pudesse. Dois anos mais tarde, ele criou no falecido

Orkut um tópico em uma comunidade para mochileiros onde

compartilhou seu roteiro dos sonhos. Centenas de pessoas

demonstraram interesse, e foi assim que surgiu a ideia de

organizar expedições e virar um caçador de auroras profissio-

nal. Formado em direito, o carioca, pai de dois filhos, largou

a advocacia e abriu a própria agência de viagens.

DIÁRIODEVIAGEMFotógrafopreparacliquenoarquipélagodeSvalbard,naNoruega,duranteexpedição

deMarcoBrotto—muitagentefazoroteirodaauroraapenasparafotografar (1).OcuritibanoposacomorestodogruponaviagememqueparticipoucomoajudantedeDaniel,emfevereirode

2014(2).CatedraldoÁrtico,nacidadedeTromsø,clicada

porMarco(3).GrupodeDanielergueosbraçosparasaudaraaurora(4).Marcoflagraasluzesrefletidasnasnuvens

nocéudaNoruegaduranteoCarnavaldesteano(5)

Marco

2

4

A G O S T O / 2 0 1 560

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Page 63: Revista Galileu Agosto 2015

COMO SE FORMA A

AURORA BOREALAs auroras boreais são velhasconhecidas da humanidade,

já inspiraram incontáveis mitosque tentavam explicar suasorigens, cada um de um jeitomais criativo que o outro.Mas foi só nos últimos

300 anos que explicações maisracionais que “espíritos” ou“raposas árticas gigantes”começaram a surgir. Hoje ésabido que o efeito luminoso

é provocado a partir dainteração de partículas

carregadas provenientes doSol com átomos de oxigênioe nitrogênio que ficam a

uma distância média de 100a 200 quilômetros do chão.Essas partículas podem sedesprender quando ocorremgrandes erupções solares ou

então em um fluxo mais natural,chamado de vento solar.

Quando esses elétrons chegamaqui, são “arrastados” pelo

campo magnético daTerra (1), e alguns acabam

ficando presos na atmosfera.Ao se chocar com o oxigênio eo nitrogênio, essa “chuva” departículas energizadas excita(isso mesmo) os átomos (2), que,ao voltar a seu estado normal,liberam fótons com coloraçõesque variam de acordo com ogás e a quantidade de energia

envolvida no processo.

A história de Marco Brotto, naturalmente, teve outros

contornos. O primeiro contato do curitibano com a aurora

foi apenas em 2011, também na Noruega. Depois, ele am-

pliou seu repertório de roteiros e foi atrás do fenômeno

em vários países árticos, como Rússia, Islândia, Suécia e

Canadá (a Groenlândia é o único lugar da região que ele

ainda não visitou). O interesse e o entusiasmo de Marco

com relação às auroras só crescia, mas até então ele não

acompanhava grupos de turistas nem ganhava com suas

expedições, que fazia sempre sozinho ou só com amigos.

A relação entre Daniel e Marco começou de forma

amistosa pelo Facebook, entre 2011 e 2012. Daniel diz

que Marco entrou em contato para trocar ideias a res-

peito das auroras boreais, e eles passaram a conversar

esporadicamente. Como o carioca era um dos poucos

brasileiros com experiência na atividade, era comum

que outros aventureiros fossem atrás dele para tirar

dúvidas e entender melhor o assunto. “Muita gente

me procurava para fazer perguntas sobre a aurora, e

ele era só mais uma dessas pessoas”, lembra Daniel.

Os dois se encontraram pela primeira vez na No-

ruega, em setembro de 2013, alguns anos depois da

primeira troca de mensagens. As circunstâncias foram

bastante inusitadas: por causa de um atraso na conexão

em Oslo, Daniel e boa parte da expedição que ele trazia

do Brasil ficaram presos durante a noite no aeroporto

da capital norueguesa. Enquanto isso, quatro pessoas

1

5

3

FOTOS: Daniel Japor/Divulgação;MarcoBrotto/Divulgação

1

2

elétronsatmosfera

campomagnético

oxigênioe nitrogêniopolomagnético

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Page 64: Revista Galileu Agosto 2015

do grupo já haviam chegado em Tromsø, cidade que é

considerada a capital mundial da aurora boreal e ponto de

partida de muitos roteiros, inclusive dos dois caçadores

brasileiros. Calhou de Marco estar relativamente próximo

da região naqueles dias, hospedado com um amigo em um

chalé a cerca de uma hora de carro da cidade.

Preocupado com seus clientes, que teriam de passar a noite

sozinhos, Daniel enviou uma mensagem a Marco perguntan-

do se ele poderia recepcionar os quatro. O curitibano e seu

amigo pegaram o carro e foram até o hotel onde o grupo se

instalara. Quando Daniel e o restante da trupe chegaram, no

dia seguinte, Marco continuou a acompanhar a expedição

por três dias, inclusive durante as caçadas. “Todas as noites

Marco chegava com o carro dele. Até fez churrasco de baleia

para nós na beira da praia”, conta Laura Fonseca, executiva

de uma multinacional que participou da expedição.

Depois desse primeiro encontro, Marco começou a de-

monstrar interesse em participar do próximo grupo de Daniel

como ajudante. O carioca achou a ideia meio estranha, mas

aceitou pagar a viagem do amigo. “Fiquei constrangido, não

consegui vetar, porque ele era realmente muito simpático”,

diz. “E também achei que, se quisesse ser meu concorrente,

ele não iria aprender nada que já não soubesse fazer.” Mas

os dois começaram a se estranhar ainda durante a viagem.

A BRIGANos últimos dias na Noruega, Marco se afastou e começou a

ficar mais calado. “Fiquei muito preocupado com a segurança

das pessoas que viajaram com Daniel, se tivesse pagado pelo

serviço teria ficado muito insatisfeito”, ele explica. Uma das

críticas diz respeito à questão do motorista durante os tras-

lados. Quem dirige a van é o próprio Daniel, e Marco achava

que deveria ser um motorista local, licenciado pelo Ministério

do Turismo norueguês. Outro ponto que o desagradou foi a

emissão de passagens, que ele alega ter sido desorganizada:

“Eu me sensibilizei com a situação das pessoas, por isso disse

que jamais prestaria um serviço como o dele”.

Na volta ao Brasil, veio a surpresa: Marco foi convidado

por uma agência de viagens de Curitiba para atuar como

guia na mesma região que acabara de visitar com as despe-

sas pagas por Daniel. Os dois viraram concorrentes. Hoje,

o carioca acha que desde o início a intenção de Marco era

lançar-se no mercado em que ele já atuava há anos, e con-

sidera que foi “apunhalado pelas costas”.

Quando perceberam, os dois já se evitavam tanto quanto

podiam, nutriam ressentimentos mútuos e consideravam

dar entrada em processos judiciais. Do lado de Daniel, o

principal motivo é o fato de o concorrente se vender na im-

prensa como “o” caçador de auroras brasileiro, e também

o que ele chama de uma “elasticidade moral e ética” por

parte de Marco, que teria copiado sua ideia mesmo depois

de manterem uma relação pessoal. Já Marco não vê nada

de errado na ideia de oferecer um serviço que, segundo ele,

é melhor que o de seu concorrente: “Ele não é dono

da aurora, não comprou a Finlândia nem a Noruega,

não tenho obrigação nenhuma de dar satisfação.”

CADA UM NO SEU FIORDE?Hoje, quando acontece de se trombarem no lobby de

algum hotel norueguês ou pegarem o mesmo avião

para o remoto arquipélago de Svalbard, o desconforto

entre eles paira no ar e é impossível que passe desper-

cebido. Um pouco como a própria aurora que tanto

caçam. Mas parece que existe espaço para uma trégua.

“Gostaria muito de usar energia para acrescentar

as coisas positivamente no assunto aurora, e não

ficar de briguinhas”, confessa Marco. Mas será que

Daniel Japor, que é quem realmente ficou ofendido

com essa história toda, consegue se imaginar atuan-

do pacificamente no mesmo ramo que o atual desa-

feto? “É lógico que sim, não tenho essa vaidade de

dizer que sou o patrão da aurora, que se dane”, diz.

É certo que a caça às auroras é sua única fonte de

renda, ao contrário do curitibano, que vem de família

tradicional e tem outro negócio. Mas Daniel reconhe-

ce que o mercado é grande e há turistas para todo

mundo: “O que eu queria é que ele seguisse o próprio

caminho, se for para outro lugar vou bater palmas, é

outro cara aventureiro que gosta e faz por paixão”.

Daniel diz que tanto isso é verdade que, quando ficou

sabendo que Marco começaria a levar grupos para o

Alasca, por pouco não contatou o colega em um tom

mais amigável. “Quase mandei e-mail para ficarmos

na paz, não quero criar úlcera e câncer por causa

disso — a vida é curta.” Quase, mas desistiu.

O ROTEIRO DEMARCO BROTTOOnde:Oslo, Tromsø eSommarøy, na Noruega,e Kilpisjarvi, na Finlândia.Também oferece viagenspara o Alasca.Duração: nove dias.Saídas em: abril de 2016(Noruega) e setembro efevereiro de 2016 (Alasca)Preço: R$ 16,6 mil(Noruega e Finlândia)ou R$ 17,8 mil (Alasca).Site: insight.tur.br

O ROTEIRO DEDANIEL JAPOROnde:Oslo, SvolværTromsø, Grøtfjord e Som-marøy, na Noruega,e Kilpisjarvi, na Finlândia.Duração: 13 dias.Saídas em: setembro,outubro, novembro edezembro (roteiro deoutono), ou janeiro,fevereiro e março(roteiro de inverno).Preço: R$ 15 mil.Site: geotrip.com.br

O INVERNO

ESTÁ CHEGANDO...no hemisfério norte. Veja os roteiros dos doisguias para conhecer a aurora nos próximosmeses

FOTO: Daniel Japor/DivulgaçãoA G O S T O / 2 0 1 562

289AuroraBoreal.indd 62 14/07/2015 20:37:26

Page 65: Revista Galileu Agosto 2015

Oslo

Kilpisjarvi

NORUEGA

SUÉCIA

FINLÂNDIA

Grøtfjord

Sommarøy

Svolvær(Ilhas Lofoten)

A VIAGEM PARA

ALÉM DA MURALHADANIELACHAQUEOROTEIRODEMARCONOÁRTICOÉMUITOPARECIDOCOMODELE—MASOCURITIBANOSEDEFENDEEDIZ

QUESUAAGÊNCIA JÁUSAVAOMESMOTRAJETOCOMOUTROGUIA

289AuroraBoreal.indd 63 14/07/2015 20:37:28

Page 66: Revista Galileu Agosto 2015

A V ERDADE H I S T ÓR IC A SOBRE

289jesusCIENTIFICO.indd 64 14/07/2015 20:48:00

Page 67: Revista Galileu Agosto 2015

utridas por boatos e muitos fãs, al-

gumas figuras públicas continuam

notórias com o passar dos anos.

Mas existe um personagem que,

mesmo após mais de dois milênios,

continua encantando o público. Você já

ouviu seu nome antes: de uma forma ou

de outra, todos já foram apresentados a Je-

sus de Nazaré. Mas descrever seu passado

em detalhes é um desafio que também re-

siste ao tempo. Recém-lançado no Brasil,

o livroEmbusca de Jesus (Objetiva) reúne

as mais recentes tentativas de reconsti-

tuir a vida do famoso filho de Deus e

mostra que esse ainda é um tema

bem popular. A partir de seis relí-

quias encontradas nos últimos anos, os

autores David Gibson e Michael McKinley

analisaram pesquisas e argumentos de

profissionais envolvidos na busca pelo

misterioso homem nascido em Nazaré e

crucificado na província romana da Ju-

deia, região da atual Cisjordânia.

A história de Jesus é formada por pou-

quíssimas informações comprovadas

por cientistas ou especialistas, mas já

existem algumas certezas. “Acredita-se

que Jesus só sabia falar aramaico e muito

provavelmente era analfabeto”, diz André

Chevitarese, professor do Instituto de

História da Universidade Federal

do Rio de Janeiro e autor de Jesus

N

R E L Í Q U I A S E M A N U S C R I T O SE N C O N T R A D O S N O S Ú L T I M O S A N O ST Ê M A J U D A D O A R Q U E Ó L O G O S EC I E N T I S T A S A C O M P R E E N D E R C O MM A I S D E T A L H E S A S P E S S O A S C O MQ U E M O M E S S I A S D O S C R I S T Ã O SV I V E U E R E V I G O R A M A B U S C A P O RE V I D Ê N C I A S S O B R E S E U P A S S A D O

TEXTO . HUMBERTO ABDO . DESIGN . RAFAEL QUICK

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Page 68: Revista Galileu Agosto 2015

DIFERENTEMENTEDO HOMEM BRANCO,ALTO E DE OLHOSAZUIS IDEALIZADOPELOS ARTISTAS...

A G O S T O / 2 0 1 566

289jesusCIENTIFICO.indd 66 14/07/2015 20:48:05

Page 69: Revista Galileu Agosto 2015

lhos foram encontrados em péssimas

condições, e hoje são considerados tex-

tos gnósticos. A primeira aparição do

Evangelho de Maria foi registrada em

1896, mas uma sequência de atrasos —

incluindo um cano de água estourado na

casa de uma editora e a eclosão da Pri-

meira Guerra Mundial — fez que ele só

fosse publicado em 1955, com algumas

páginas perdidas e bastante deteriora-

do. Assim como certos textos de Nag

Hammadi, esses fragmentos apresenta-

vam Maria como grande seguidora dos

ensinamentos de Jesus. “O conceito de

Maria Madalena como a discípula ama-

da indica que um grupo de cristãos do

primeiro século a considerava uma das

líderes desse movimento”, disse Paulo

Roberto Garcia, professor de teologia e

ciências da religião na Universidade Me-

todista de São Paulo. Não existe, contu-

do, confirmação de que os manuscritos

se refiram a Maria Madalena no lugar

da própria mãe de Jesus.

Já o Evangelho de Judas, identificado

nos anos 1970 por dois agricultores, foi

recuperado após um roubo repentino e

examinado pela primeira vez em 1983.

Nos anos 2000, passou por um proces-

so de restauração, e 85% do material

foi preservado. De início, o documento

foi divulgado como um plot twist, isto

é, uma reviravolta na história. O texto

conta a redenção de Judas, afirmando

que teria sido o mais fiel dos seguidores

e que cumprira ordens de Jesus para

ajudá-lo a livrar-se de seu corpo após

a morte. “O problema foi todo o sen-

sacionalismo empregado na tradução,

trabalhada com a expectativa de mudar

o papel de Judas”, disse Garcia. “Um

dos textos diz que ele subiria aos céus

pelo que fez, sendo que dois dos tradu-

tores concordaram que a versão correta

teria sido ‘não subiria’, por exemplo.”

Para muitos dos arqueólogos e his-

toriadores envolvidos na busca por

evidências que remontem, de alguma

forma, ao passado de Jesus, é pouco

provável que objetos relacionados a

sua história continuem a aparecer nos

próximos anos. “Hoje as pesquisas não

se concentram tanto em itens que per-

tenceram a Jesus”, diz Chevitarese. “O

objetivo maior é conhecer o ambiente

físico, geográfico e político dele, além

de suas crenças, seus amigos, inimigos

e, sobretudo, quem foi ele.”

APP EMNOMEDE JESUSA suposta urna funerária com os ossos

de Tiago, um dos 12 apóstolos, desperta

algumas dessas características. “Tiago,

filho de José, irmão de Jesus”, diziam as

inscrições do ossuário, em aramaico.

Oded Golan, colecionador de antigui-

dades pouco familiarizado com religião,

afirma ter comprado o objeto em Israel,

nos anos 1970, no início sem assimilar seu

verdadeiro significado. Uma análise de es-

crita feita em 2002 sugeriu que a segunda

parte das inscrições teria sido gravada

pelas mãos de outro escriba. “Supondo

que Tiago tenha morrido na década de 40

do século 1, Jesus já teria de ser uma figura

reconhecida em todo o ambiente da Judeia

para que seu nome fosse agregado como

forma de distinção, mas Jesus de Nazaré

só se torna amplamente conhecido um

século e meio depois”, disse Chevitare-

se. “A frase gravada refere-se a Jesus de

Nazaré? Tiago foi seu irmão? Maria foi,

como dizem, virgem a vida inteira, ou

teve outros filhos?”, pergunta McKinley

no livro. Sem a chance de confirmar se o

artefato é genuíno, essas dúvidas devem

continuar sem respostas.

Objetos que um dia estiveram em

contato com Jesus até hoje provocam

fascinação. Nos tempos da Idade Mé-

dia, eles movimentaram um comércio

histórico: umabrevíssima introdução. “Ele

viveu e morreu como judeu de origem

campesina; o cristianismo que conhece-

mos hoje é um movimento posterior àque-

la época.” Através da reconstrução facial

de crânios encontrados perto de Jerusa-

lém, especialistas estabeleceram como

seria a verdadeira aparência física de um

morador típico da região. Diferentemente

do homem branco, alto e de olhos azuis

idealizado pelos artistas, é mais prová-

vel que Jesus tenha sido moreno, de olhos

castanhos, cabelo curto e estatura baixa:

um judeu comum nascido no Oriente Mé-

dio. Sobre seu local de nascimento, os te-

ólogos insistem em Belém, terra natal de

Davi, um dos antigos reis de Israel. “Mas

nada favorece essa versão, e do ponto de

vista histórico não há dúvidas: Jesus é

nazareno”, afirma Chevitarese.

PLOT TWISTBÍBLICOEnquanto o mundo se concentrava nos

momentos finais da Segunda Guerra

Mundial, em 1945, um camponês foi res-

ponsável pela descoberta de 13 manuscri-

tos encontrados no Egito. Eles ficariam

conhecidos mais tarde como Biblioteca

de Nag Hammadi, nome da cidade onde

foram localizados. Historiadores confir-

maram que a data estimada dos textos

corresponde ao século 4 e que são tradu-

ções de originais em grego. “São achados

cruciais para a compreensão do cristia-

nismo em seu período de formação e de-

monstram a existência dessa pluralidade

de manifestações religiosas nos quatro

primeiros séculos”, explica Vagner Porto,

professor de arqueologia clássica da USP.

Boa parte desses papiros, escritos em

copta (mistura dos idiomas grego e egíp-

cio), estava ligada ao movimento cristão

conhecido por gnosticismo. “Os ensina-

mentos gnósticos diferem na crença de

que cada um é responsável por seus atos

e por sua própria salvação espiritual”,

explica Karlos Bunn, presidente da Igreja

Gnóstica do Brasil.

Judas Iscariotes e Maria Madalena

exerceram papéis decisivos na traje-

tória de Jesus. Seus possíveis Evange-

A S P E SQU I S A S BUS CAM

C O N H E C E R O A MB I E N T E

F Í S I C O , G E O G R Á F I C O E

POL ÍTICO ONDE VIVEU JESUS

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Page 70: Revista Galileu Agosto 2015

...É MAIS PROVÁVEL QUEJESUS TENHA SIDO MORENO,DE OLHOS CASTANHOSE CABELO CURTO

ILUSTRAÇÃO: AndréToma/EditoraGloboA G O S T O / 2 0 1 568

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Page 71: Revista Galileu Agosto 2015

interminável a possíveis referências de

Jesus como figura histórica. “Resultado

de uma percepção sustentada exclusi-

vamente pelo ponto de vista científico,

com análises da história, arqueologia e

sociologia”, explica Chevitarese.

Talvez o discernimento científico ex-

plique a desconfiança inicial de Karen

King, professora da Universidade Har-

vard, quando um colecionador anônimo

resolveu entrar em contato, convencido

de que havia encontrado o papiro do

Evangelho da Esposa de Jesus, como

seria chamado mais tarde. Apesar do

nome chamativo, o achado — um pe-

queno fragmento bastante deteriora-

do — não tem qualquer relação com

o Evangelho de Maria, texto gnóstico

encontrado décadas antes, e tampouco

reforça hipóteses de que Jesus tivesse

sido casado. Em 14 linhas, o manuscrito

parece debater a real necessidade do ce-

libato na religião cristã, reflexão inédita

nos demais Evangelhos canônicos.

RESISTENTESAO TEMPO“A questão principal do papiro é as-

segurar que mulheres casadas e com

filhos também possam ser discípulas

de Jesus — uma discussão frequente

nos tempos do cristianismo primiti-

vo, conforme a virgindade celibatária

passava a ser mais valorizada”, disse

Karen em relatório divulgado pela

Harvard Divinity School.

Após a publicação de sua análise ter

sido desconsiderada por uma porção de

estudiosos, Karen reforçou a veracidade

do documento com o resultado de exa-

mes feitos ao longo de dois anos, até a

confirmação em abril de 2014: o mate-

rial não era uma imitação moderna e foi

escrito entre os séculos 6 e 9. Entretan-

to, não existe consenso sobre os signifi-

cados desse pequeno pedaço de história,

talvez pelo seu estado de conservação ou

pelo conteúdo incompleto do texto. Mas

todas as características são compatíveis

com a longa e constante busca por Jesus:

fragmentadas, ambíguas e, ainda assim,

resistentes ao tempo.

bem incomum. Imitações de artefatos

eram fabricadas com mais frequência

do que os arqueólogos contemporâ-

neos gostariam de admitir. “Para ex-

plorar a crença popular, encorajava-

-se a ideia de que possuir uma relíquia

traria bênçãos e também serviria como

amuleto”, diz Garcia.

Um deles é o Sudário de Turim, o

manto que teria envolvido o corpo de

Jesus. Atualmente, o objeto descansa

numa capela no norte da Itália, equi-

pada com controle de temperatura e

vidro à prova de balas. A peça de linho

retangular exibe manchas de sangue

e vincos equivalentes a um rosto. É o

artefato mais bem documentado de

todos, mencionado nos quatro Evan-

gelhos e nos Livros Apócrifos (relatos

de Cristo não reconhecidos pela Igre-

ja). A relíquia também repousa em mi-

lhões de celulares e tablets espalhados

pelo planeta: embora o Vaticano não

tenha se posicionado enfaticamente

sobre o assunto, aproveitou para lan-

çar, em 2013, o primeiro aplicativo

dedicado ao Santo Sudário. O Shroud

2.0 permite ampliar a imagem para

uma análise mais detalhada do pano

— sem ter de viajar até a Itália.

HOMEMPROCURADOVárias análises do manto foram realiza-

das e comprovaram que o material real-

mente cobriu o corpo de um ser humano

e que as manchas de sangue eram de fato

compostas por hemoglobina. O estudo

mais recente, publicado em 2014 na re-

vista científica Injury, também aponta

que os ferimentos sofridos por esse in-

divíduo correspondem aos de uma cru-

cificação. Apesar dos resultados, a data

do manto — muito distante dos anos

vividos por Jesus Cristo — ainda é um

contra-argumento forte. “O maior de-

safio é conseguir permissão para novos

testes”, explica McKinley. “O Sudário

provavelmente permanecerá atrás de um

vidro blindado para sempre.” A apari-

ção desses objetos, relacionados a perí-

odos tão distantes, simboliza a caçada

EVANGELHO DAESPOSA DE JESUS

Escrito em copta,questiona a necessi-dade do celibato no

cristianismo.

COMO FOI ACHADOColecionador

anônimo comproudasmãos de um

negociante alemão.

EVANGELHODE MARIA

Publicado em 1955,o texto gnóstico

reforça a presençada discípula em

vários momentosda vida de Jesus.

COMO FOI ACHADOOestudioso alemão

Karl Reinhardtcomprou em 1986 odocumento original,que encontrou na

aldeia de Akhmin, noAlto Egito, no Cairo.

RELICÁRIODE MÁRMORE

DE JOÃO BATISTAFragmentos deossos de um

homemque viveunoOrienteMédio,

semprovasde que eram

de João Batista.

COMO FOI ACHADOEm 2010, durantebuscas nas ruínasde uma basílica

do século 5,na Bulgária.

URNA FUNERÁRIACOM OSSUÁRIO DE

TIAGOUrna onde se lê“Tiago, filho deJosé, irmão de

Jesus” significariaque o messiasteve um irmão.

COMO FOI ACHADOFoi comprada emHaifa, em Israel,nos anos 1970.

SANTO SUDÁRIOOmanto sagradopode ter sidousado para cobriro corpo de Jesus— ou para colocaressa ideia nacabeça de fiéis.

COMO FOI ACHADOAs referênciassão antigas emuito vagas, maso manto voltou aaparecer na Fran-ça no século 14.

PEDAÇO DA CRUZComo o próprionome diz, seriaum pedaço dacruz em que Jesusfoi crucificado.

COMO FOI ACHADOEm 2013, arque-ólogos alegaramter encontrado opedaço duranteuma escavaçãono norte daTurquia.

BIBLIOTECA DENAG HAMMADIA coleção depapiros incluiEvangelhos, comoos deTomé e de Filipe.

COMO FOI ACHADOPor um campo-nês egípcio quefazia escavaçõesnos arredores àbeira do rio Nilo.

EVANGELHODE JUDASA descobertade seu Evange-lho continua aconfundir:Judas traiumesmo Jesus?

COMO FOI ACHADODois agricultoresencontraram omanuscrito nofinal dos anos1970, no sul dacidade do Cairo.

AS OITO RELÍQUIASOS ARTEFATOS QUE AJUDAM A ENTENDER

O QUE ERA A JUDEIA NO SÉCULO 1

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Page 72: Revista Galileu Agosto 2015

• V A I C N B ! •AescalaçãodoCNBE-SportsClub. Empé (daesq. paraadir.): Yoda,

Skyer,WoseNappon.Agachados:PBOeAoshi

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Page 73: Revista Galileu Agosto 2015

TREINOSDIÁRIOS, PARTIDAS TRANSMITIDASPARAMILHARESDE ESPECTADORES,PRESSÃODATORCIDA, CAMPEONATOS INTERNACIONAIS E POPULARIDADEDE FAZER

INVEJAANEYMARECRISTIANORONALDO. GAMERSBRASILEIROS SE PROFISSIONALIZAME LUTAMPARAQUEOS JOGOSVIRTUAIS SEJAMRECONHECIDOS COMOUMESPORTE

TEXTO • THIAGO TANJI FOTOS • SÉRGIO ZACCHI DESIGN • FEU

E-SPORTS

GAMES

TECNOLOGIA

712 0 1 5 / A G O S T O

E - SPORTS CLUBE

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Page 74: Revista Galileu Agosto 2015

A competitividade promovida por games jogados

na internet está longe de ser uma novidade para os

brasileiros — os corujões nas lan houses e as con-

sequentes broncas de mães e pais indignados com

o tiroteio de Counter Strike estão aí para provar.

Acontece que as batalhas entre clãs evoluíram e hoje

contam com uma estrutura profissional graças à

entrada de empresas como a norte-americana Riot

Games, desenvolvedora de League of Legends — LoL

para os íntimos. Com mais de 67 milhões de joga-

dores ativos mensais no mundo, o jogo de batalha

com elementos de RPG e estratégia é a principal refe-

rência do público brasileiro em relação aos e-sports,

nome dado às competições profissionais de games.

Criado em 2012, o campeonato brasileiro de LoL

reúne em sua divisão principal as oito equipes mais

bem classificadas após uma fase preliminar de elimi-

natórias que teve a participação de aproximadamente

mil times. Como no futebol, não há muitas firulas

na hora de entender o jogo: duas equipes formadas

por cinco jogadores de cada lado se confrontam com

o objetivo de destruir a base inimiga e, para isso,

contam com personagens que possuem diferentes

características. Neste ano, os times iNTZ, Keyd Stars,

paiN Gaming, CNB, g3X, iNTZ Red, KaBuM Orange

e KaBuM Black formaram o seleto grupo que se en-

frentou em sete rodadas preliminares e em uma fase

de mata-matas para chegar à grande decisão. Além

do prêmio de R$ 60 mil, a equipe que sair vencedo-

ra do confronto do Allianz Parque terá o direito de

participar do torneio internacional de League of Le-

gends — no ano passado, a equipe sul-coreana Sam-

sung Galaxy White sagrou-se campeã e conquistou

o prêmio de US$ 1 milhão, após a final realizada em

casa para um público de 40 mil pessoas no estádio de

Sangam, uma das sedes da Copa do Mundo de 2002.

Com rostos jovens e nicknames indecifráveis, os

jogadores que fazem parte desse cenário deixam o

hobby de lado para encarar um nova realidade, com

direito a receber um salário, dedicar-se a uma rotina

diária de treinos e ser o centro das atenções de 145 mil

“ B E M A M I G O S D A G A L I L E U . . .Falamos emdefinitivo domapa de Summoner’s Rift para a grande decisão de LoL. A equipegostou do jogo e agora passeia na defesa do inimigo. E eles vão destruir o Nexus! Acabooou,acabooou!” Apesar da licença poética, nenhum narrador de Copa do Mundo emprestousua voz ainda para transmitir as partidas do campeonato brasileiro de League of Legends.Mas isso não é problema para os 12 mil torcedores que ocuparão as cadeiras do AllianzParque, a arena do Palmeiras, para a grande final do torneio, em 8 de agosto. Haja coração!

• O S N O M E S D O J O G O •

Aescalaçãoda iNTZRed,umdos timesquedisputamo campeonatobrasileiro de2015de LoL.Oito equipes

lutampor umavagano torneiointernacional da categoria

A G O S T O / 2 0 1 572

• M Á R C I O “ E R Y O N ” •

• L E O N A R D O “ R O B O ” •

• J O N A S “ C A O S ” •

• G U S T A V O “ S A C Y R ” • • B R U N O “ B R U C E R ” •

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Page 75: Revista Galileu Agosto 2015

0 6

espectadores que compõem a audiência média das par-

tidas do campeonato brasileiro de LoL transmitidas

pela internet. “A profissionalização faz que os times se

organizem como empresas, recebendo patrocínios e

contratando jogadores. Como qualquer esportista, os

jogadores profissionais respiram League of Legends”,

afirma Fábio Massuda, gerente de e-sports da Riot

Games. Chegou a hora de a pátria de chuteiras — e do

infame 7 a 1 — dar espaço para o mouse e o teclado?

CARTOLASE BOLEIROS(DOMOUSE)Para ganhar a condição de atletas, os jogadores

têm uma estrutura de fazer inveja a muitos clubes

profissionais de futebol. Sediado em um sobrado azul

próximo ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo,

o centro de treinamento do CNB e-Sports Club

tem uma sala de computadores de última geração,

dois quartos limpos e organizados com beliches e

armários para os jogadores que não moram em São

Paulo e, claro, a comida de dona Sônia, que também

cumpre o papel de roupeira e mãezona da equipe.

“Sabe como o adolescente é às vezes, né? Mas eles são

bons meninos”, ela diz com um sorriso no rosto. Com

idades entre 19 e 22 anos, os meninos de dona Sônia

vieram de diferentes cidades do país, como Goiânia

e Rio de Janeiro, após receber o convite dos irmãos

Carlos e Cléber Fonseca, donos da equipe fundada

em 2001 inicialmente como um clã de Counter

Strike. “Fizemos uma peneira para montar o time

atual com jogadores até então desconhecidos no

cenário, mas que hoje brigam de igual para igual

com as outras equipes”, diz Cléber, 24 anos.

Como bons cartolas, além de formar uma equipe

competitiva, os dirigentes são responsáveis por man-

ter a saúde financeira da equipe em dia — em média,

um jogador profissional de League of Legends recebe

uma remuneração de R$ 3 mil a R$ 4 mil. Para os atle-

tas não recorrerem às lições do ex-jogador Vampeta,

que resumiu a situação dos recorrentes atrasos de

salário no futebol brasileiro com a frase “o Flamengo

finge que me paga, e eu finjo que jogo”, os irmãos

fecham parcerias com empresas e estabelecem cotas

de patrocínio, além de vender uma linha de produtos

para os fãs, com direito a uniforme de jogo, camisa

de treino, pulseiras e mousepads. Com as contas em

dia, cobranças por bons resultados estão liberadas.

“Queremos uma postura profissional dos jogadores”,

afirma Cléber. “O cara pode ser o melhor jogador do

mundo, mas, caso ele não tenha a postura que a gente

espera, não jogará conosco.” Nesta temporada, o CNB

foi eliminado nas quartas de final para a equipe da

g3X e terminou o campeonato em quinto lugar.

Além de conciliar os treinamentos diários para as

rodadas semanais de competição, os atletas virtuais

também lidam com os milhares de torcedores, que

• O C T D A S E Q U I P E S •

Os times profissionais deLoLmontam centros de

treinamentos que também sãodormitórios para os jogadoresquemoramemoutras cidades.A rotina de treinos é diária

• P L A Y ! •

D O T A I ISemelhante a LoL,é desenvolvido pelanorte-americana

Valve, dona do Steam.

C O U N T E R - S T R I K E

Velho conhecido dopúblico brasileiro,ainda conta com

torneios internacionais.

H E R O E S O F T H E S T O R M

Lançado este ano, éo competidor de LoLfeito pela Blizzard.

S T A R C R A F T I I

O jogo de estratégiafoi o primeiro a ganharpopularidade comoe-sport no mundo.

CONHEÇAOUTROSGAMESDECOMPETIÇÃO

732 0 1 5 / A G O S T O

• O T R E I N A M E N T O •

• O C A R T O L A •

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Page 76: Revista Galileu Agosto 2015

não dispensam elogios e cornetadas às equipes.

“Quando vamos para um evento presencial, como a

final que acontecerá no Allianz Parque, não consegui-

mos sair do lugar por causa das filas de fãs que nos

param para tirar fotos e dar autógrafos”, afirma Mu-

rilo “Takeshi” Alves, da Keyd Stars. Entre os atletas

mais conhecidos no cenário nacional, Felipe “brTT”

Gonçalves tem uma legião de fãs digna de boleiro do

futebol europeu. Com quase 380 mil seguidores em

sua página no Facebook, o atleta da paiN Gaming

também tem uma marca própria de roupas, a Rexpei-

ta. Após uma derrota no campeonato e a inevitável

pressão dos torcedores, brTT desabafou no Facebook,

em um post com mais de 11 mil curtidas. “CHEGA

de achar que eu não tenho direito a ter UM DIA de

folga durante a semana, eu sou HUMANO”, disse o

jogador de 24 anos. Antes de entrar em uma partida,

o atleta foi abordado pela reportagem de GALILEU,

mas, como bom astro, disse que precisava se preparar

para o jogo e deixou a imprensa na saudade.

Para que o assédio e eventuais comentários de

haters virtuais não sejam prejudiciais ao desempe-

nho e ao bem-estar dos jogadores, algumas equipes

contratam psicólogos especializados em esportes.

“Realizamos o acompanhamento para a melhora

das habilidades cognitivas e também estabelece-

mos uma rotina com atividades físicas”, diz Ra-

fael Pereira, que trabalha com os atletas do CNB

e é pesquisador da Universidade Federal de San-

ta Catarina (UFSC). Para Felipe “Yoda” Noronha,

de 19 anos, quanto maior a fama do jogador, maiores

são as cobranças da torcida. “É necessário saber lidar

com essa pressão, lemos os comentários, mas isso

não nos afeta”, afirma o jogador do CNB.

ÉJOGODECAMPEONATOAs rodadas do campeonato brasileiro, que acontecem

nos finais de semana, são transmitidas na internet em

serviços como o YouTube e o Twitch, site especializa-

do em exibir streaming de games. Desde janeiro deste

ano a Riot Games realiza os jogos em um estúdio de

televisão na zona oeste da cidade de São Paulo, com

direito a apresentadores, narradores e comentaristas.

“Com a evolução do cenário de e-sports no país, temos

o objetivo de fazer que a transmissão seja consumida

como a experiência de um esporte tradicional”, afirma

Philipe Monteiro, gerente da empresa.

“O topo, o meio e a rota inferior foram devasta-

dos pela equipe da Red, mas eles não querem parar,

eles querem acabar com o jogo, sabem que precisam

lutar. Olha só como a torre derrete, está elimina-

do o Killing Spree. É para acabar, não tem como

segurar!” A narração de uma partida de League of

Legends pode ter o mesmo efeito de incompreensão

para quem não conhece o game da mesma maneira

M A N U A L D E L E A G U EO F L E G E N D S

• A F I F A D E L O L •

Ocampeonatobrasileiro éorganizadopelaRiot Games,desenvolvedora do jogo. Em2015, a empresamontouumestúdio emSãoPaulo paratransmitir os jogos do torneio

MILHÕESMENSAIS NO MUNDODE JOGADORES ATIVOS

67

MAPA DA COMPETIÇÃO:SUMMONER’S RIFT

O PRÊMIO PARA O TIME CAMPEÃO FOI DE

US$ 1 MILHÃO

NO MUNDIAL DE 2014,

PERSONAGENS JOGÁVEIS125

145 MILESPECTADORES SIMULTÂNEOS

POR PARTIDA

MÉDIA DE

A G O S T O / 2 0 1 574

• O E S T Ú D I O •

• O S B A S T I D O R E S •

• O E S T Á D I O •

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Page 77: Revista Galileu Agosto 2015

1 3

A Coreia doSul está pa-ra o e-sportscomo o Brasilpara o futebol

(ou pelo menos até antes do 7 a1). O governo do país, por exem-plo, criou em 2000 uma agênciapara estimular a profissionaliza-ção de equipes. No ano passado,o estádio Sangam, sede da Copado Mundo de futebol de 2002,abrigouafinaldocampeonato in-ternacional de LoL e recebeu umpúblico de40mil torcedores.

Em 2013, ogoverno nor-te-americanoreconheceuos jogadores

profissionais de League of Le-gends comoatletas, oque facilitaa emissão de vistos de trabalho.Desde o ano passado a Univer-sidade Robert Morris, localiza-da na cidade de Chicago, oferecebolsas de estudos para gamers.Eles disputam um campeonatooficial de LoL comoutras univer-sidades dopaís e doCanadá.

como se um incauto torcedor russo decidisse ouvir

uma partida de futebol brasileiro transmitida pelo

rádio. Mas, para os milhares de fãs que se conectam

semanalmente, a voz do narrador Tácio Schaeppi,

de 28 anos, soa tão familiar como a de um Galvão

Bueno. Formado em direito e jogador de League of

Legends desde 2011, ele foi contratado pela Riot no

final do ano passado. “Faço exercícios vocais todos

os dias, vou ao fonoaudiólogo e fico atento a esses

pequenos detalhes para melhorar a narração”, diz.

E, como todo locutor também precisa de um comen-

tarista responsável por analisar as jogadas, Schae-

ppi conta com a parceria de Flávio “P3po” da Silva.

“É necessário ver muitos jogos para entender o es-

tilo de cada país, já que os brasileiros têm chances

de lutar contra as equipes dessas regiões”, afirma

o analista. Assim como os jogadores profissionais,

a equipe de comunicação não dispensa seu próprio

fã-clube de jogadores amadores. “Você está no shop-

ping e alguém chega tremendo, chorando, para pedir

uma foto. Mas isso é legal porque demonstra essa

paixão que é o esporte eletrônico”, afirma Schaeppi.

Após a final no Allianz Parque, uma das equipes

terá a oportunidade de enfrentar adversários de paí-

ses tradicionais no cenário de e-sports, como Coreia

do Sul, China e Estados Unidos. Enquanto isso, os

outros times continuarão na briga para aumentar o

profissionalismo e investir na formação de uma no-

va leva de atletas. “Uma final de LoL acontecer em

um estádio de futebol é um choque cultural muito

grande”, diz Cléber Fonseca. “Para quem achava que

os jogadores eram gordinhos trancados em um po-

rão e não faziam outra coisa além de ficar na frente

do computador, essa é uma boa hora para mudar

de ideia.” Se levarmos em conta as últimas notícias

que vêm da FIFA, da CBF e da Seleção Brasileira,

é provável que as conquistas virtuais cheguem bem

antes do nosso hexacampeonato mundial.

• E - S P O R T S P E L O M U N D O •

• É T E T R A ! •

OlocutorTácioSchaeppieocomentaristaFlávio“P3po”daSilvafazempartedaequipedenarraçãodocampeonatobrasileirodeLoL,quetemseusjogostransmitidospela internet

0 0

1 6

1 7

752 0 1 5 / A G O S T O

• O L O C U T O R •

• O C O M E N T A R I S T A •

• E M C A M P O •

• Z O N A D E G U E R R A •

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Page 78: Revista Galileu Agosto 2015

Os agentes FoxMulder e Dana Scullyestão de volta à ativa. Uma mesaabarrotada de casos insólitos e apa-rentemente sem solução aguardapor eles na nova fase de Arquivo X.Mas eles não estão sozinhos. Outro

implacável agente está prestes a retomarsuas diligências. “Melhor ligar a cafeteirae encontrar o meu terno preto”, sinalizouo ator Kyle MacLachlan no Twitter. Vintee cinco anos depois, Dale Cooper é esca-lado para reabrir o caso que investiga oassassinato de Laura Palmer, numa bu-cólica cidadezinha chamada... Twin Peaks.“David Lynch criou umverdadeiromarco

das séries americanas. Twin Peaks impor-tou a estética cinematográfica para a TV,aboliu os limitesmorais entreobemeomale utilizou o sonho como recurso narrativo.Não por acaso, foi aclamada por público e

crítica”, analisa Helen Suzuki, doutorandaem ciências da comunicação na USP.Das duas, a primeira a ter seu retorno

anunciado foi Twin Peaks. A ideia de produ-zir novos episódios partiu de David Nevins,presidente do Showtime. Fã declarado, eleencomendou nove episódios à dupla DavidLynch-Mark Frost. Após ameaçar abando-nar o projeto por falta de investimento,David Lynch voltou atrás e anunciou nãonove, mas 18 episódios novos.“Os estúdios não fazem nada por nos-

talgia. O que eles queremmesmo é lucro eaudiência. Pensando nisso, a estratégia deresgatar séries do passado chama a aten-ção do público antesmesmo da estreia. Asredes sociais ajudam os produtores a teruma ideia da repercussão dos episódiosinéditos”, observa a jornalista Priscila Ha-rumi, coautora do livro Guia das séries.

Ressurreiçãoem sérieESPECIALISTASDISCUTEMAESTRATÉGIADERESSUSCITARANTIGOSSUCESSOSDATV, COMOTWINPEAKS,ARQUIVOX,PRISONBREAKEHEROES

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ETCEDIÇÃO • NATHAN FERNANDES

THEWALKINGSÉRIEArquivo X retorna dosmortos e,ao lado de Twin Peaks, lidera alista de sériesmais aguardadas

IMAGEM : Reprodução

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TVFICÇÃO

SÉRIE

MORTOS-VIVOS

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Page 80: Revista Galileu Agosto 2015

A VERDADE CONTINUA LÁ FORA“Atribuo esse fenômeno à falta de criatividade. Ninguém quer

arriscar. Se a série fez sucesso no passado, por que não tentar denovo?Mas, atualmente, nada é garantia de sucesso. O ideal é adaptaro conteúdo antigo para o público novo”, palpita o jornalista PauloGustavo Pereira, autor de Almanaque dos seriados.Para o roteirista Newton Cannito, autor de séries como Cidade

dos homens e 9MM: São Paulo, quem consolidou essa tendência foia Netflix. Em 2013, a empresa resolveu apostar numa nova tempo-rada deArrested Development, cancelada pela Fox sete anos antes.A iniciativa fez tanto sucesso entre os fãs que Brian Grazer, um dosprodutores executivos, já dá como certa uma quinta temporada de17 episódios. A Netflix, por enquanto, não confirma.“Hoje em dia, agradar realmente a alguns é mais importante do

que tentar não desagradar ninguém. Antes de decidir por essa ouaquela série, os executivos da Netflix pesquisam qual delas tem opúblico mais fiel, cativo, apaixonado. Afinal, ninguém perde tempoassistindo a algo de que gosta mais ou menos. Na TV do século 21,as pessoas só veem o que realmente amam!”, afirma Cannito.Depois deArrested Development, a Netflix já reavivou The Killing,

em 2014, e anunciou o regresso de Três é demais, em 2016. Outrasérie que deve ganhar uma segunda chance é Jericho, defenestradada grade da CBS em 2008 após duas temporadas.

FIM DO CICLO?Diante da volta de séries que já estavam sepultadas, uma pergunta(quase) inconveniente: por que ressuscitar uma obra que já não fa-zia tanto sucesso? Bruno Carvalho, editor-chefe do site Ligado emSérie, é da opinião de que a retomada de uma série só se justificaquando a versão original saiu do ar sem desfecho apropriado. Ouquandomodernos avanços tecnológicos permitem recontar aquelahistória com maior apuro visual. “A nona temporada de 24 horas,por exemplo, foi boa, mas totalmente desnecessária. A temporadaanterior já dava um desfecho satisfatório à trama”, justifica Bruno.Já Thaís Britto, editora da coluna Seriais, do jornalOGlobo, defen-

de a tese de que um seriado só deve ser revisitado “se suas tramasainda não tiverem se esgotado ou se ainda for possível dar uma rou-pagem diferente à história”. E alerta: “Dasminhas favoritas, Friendsfechou completamente o ciclo, Seinfeld terminou no auge, e Lost teveatémais temporadas do que deveria. As chances de estragar sériesmuito boas com esses resgates são grandes”. Por essas e outras,Bruno e Thaís concordam que o melhor que diretores, roteiristas eexecutivos têm a fazer é deixá-las descansar em paz. Amém!“Série é personagem. Por isso sempre pergunto: o que esse per-

sonagem tanto tem, a ponto de o público voltar a acompanhar suahistória? Se o apelo dele não é forte o bastante, não adianta o rotei-rista inserir personagens novos ou explorar tramas secundárias. Ahistória vai ficar com gosto de café requentado”, aponta a jornalistaVana Medeiros, coautora de Guia das séries. ANDRÉ BERNARDO

JÁ VIMOSESSE FILMEESTÁABERTAATEMPORADADEREESTREIASNATV

PRISON BREAKCANAL FoxCRIADOR Paul T. ScheuringTEMPORADAS Quatro (2005 a 2009)OQUEVEMPORAÍ Sem data de

estreia, ao que tudo indica WentworthMiller e Dominic Purcell vão retomarseus personagens, os irmãos MichaelScofield e Lincoln Burrows, em uma novatemporada, de 12 episódios.

HEROES: REBORNCANAL NBCCRIADOR Tim KringTEMPORADAS Quatro (2006 a 2010)OQUEVEMPORAÍ Com estreia em

setembro, a ideia era contar a históriade um novo grupo que descobre tersuperpoderes. Mas atores do elencooriginal confirmaram presença na quintatemporada, como Masi Oka, o Hiro.

TRÊS É DEMAISCANAL NetflixCRIADOR Jeff FranklinTEMPORADAS Oito (1987 a 1995)OQUEVEMPORAÍDo elenco original,

só as gêmeas Mary-Kate e AshleyOlsen não toparam voltar à série. BobSaget (Danny), Dave Coulier (Joey) eJohn Stamos (Jesse) farão participaçõesespeciais. Estreia prevista para 2016.

ARQUIVO XCANAL FoxCRIADOR Chris CarterTEMPORADAS Nove (1993 a 2002)OQUEVEMPORAÍA série estreia em

janeiro de 2016. Além de Duchovny eAnderson, estão de volta Mitch Pileggi(Walter Skinner) e William B. Davis (OCanceroso). Dois roteiristas originaistambém fecharam contrato.

TWIN PEAKSCANAL ShowtimeCRIADORESDavid Lynch e Mark FrostTEMPORADASDuas (de 1990 a 1991)OQUEVEMPORAÍCom estreia

prevista para 2017, o que se sabe é que aterceira temporada vai retomar a históriada segunda nos dias de hoje. As atrizesSheryl Lee (Laura Palmer) e Sherilyn Fenn(Audrey Horne) confirmaram presença.

A G O S T O / 2 0 1 578

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TravestiquarentãoFENÔMENO CULT, ROCKY HORRORPICTURE SHOW COMPLETA 40 ANOSE AINDA LEVA FÃS PARA O CINEMA

OSHOWNÃOPODEPARARMarcio Paes, cineastae ilustrador queapresenta, emagosto, o workshopSanguecine, sobrecinema de horror,recomenda outrostítulos dedicados aogênero HUMBERTO ABDO

Um doce travesti quarentão da Transilvânia.A louca mistura de comédia, musical, terrore ficção científica Rocky Horror Picture Showcompleta 40 anos animando — e confundin-do — plateias por todo o mundo com suasmúsicas viciantes e seu humor nonsense. A

história do casal Brad e Janet, que passa a noite nobizarro castelo do Dr. Frank-N-Furter, numa jornadademuito sexo, dança e bizarrices, não fez sucesso deimediato. O filme foi um fiasco nas bilheterias duran-te as primeiras semanas, e só ficou famoso nos anos1970, quando começou a ser exibido nas sessões demadrugada nos cinemas norte-americanos.A mistura da propaganda boca a boca com um

público que já era fã da peça original fez a fita virarum fenômeno cult. Os espectadores abraçaram todaa insanidade vista no filme e a trouxeram para forada tela do cinema. Não é raro ver até hoje sessõescom gente fantasiada, que leva arroz e jornais, soltabolhas e usa acessórios para interagir com algumasdas cenas mais famosas do clássico.

E é bem possível que alguém aindaesteja vendo o filme em alguma sala decinema neste exato momento. Além desessões comemorativas, Rocky HorrorPicture Show carrega o título de filme queficou mais tempo em exibição na históriado cinema. Ele nunca foi tirado de cartazpela Fox, sua distribuidora. Um cinemaem Munique exibe a fita todas as sema-nas desde 1977, oferecendo à plateia umkit com acessórios para aproveitar me-lhor a louca noite ao lado de Riff Raff,Magenta, Columbia e, claro, o estranhoDr. Frank-N-Furter. EVANDRO FURONI

TIMCURRYBateuMickJaggernopapelprincipaleéacaradofilme.

FórmulamágicaPor queoRockyHorrorPicture Show faztanto sucesso até hoje

COMÉDIAOfilmenão se leva a sério,por isso é tão viciante.

TERRORÉuma sátiradosfilmesde terror queinundaramos cinemas.

FICÇÃOCIENTÍFICATemalienígenasetestesbizarrosnatrama.

Repo! The GeneticOpera (2008)

“Entre os mais recentes,existe Repo!, essa tentativadeliberada de criar um novofilme cult, alimentado pela

vontade de se tornar o ‘RockyHorror dos anos 2000’,

apesar do estilo futurista.”

Monty Python em buscado cálice sagrado (1975)“A história de Rocky Horror édifícil de ser repetida, mas setivesse que apostar em algocom potencial para conquistaromesmo nível de rebeldia eirreverência que omusical,com certeza apostaria neste.”

Hedwig: rock, amore traição (2001)

“Hedwig faz parte daquelacategoria de filmes que,quando começaram a ser

idealizados, não se sabia ondeiriam parar nem como seriamfeitos, mas omusical acabourecebendo vários prêmios.”

40%

30%

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CINEMATERROR

RHPS

IMAGENS: Reprodução

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IDEIASQUEMERECEMSERDISSEMINADASA série TED compartilhandoideias parte de umainspiradora palestra do TEDpara abordar questões quetêm a ver com a realidadedo Brasil. A neurocientistaSuzana Herculano-Houzel équem conduz a série de 26episódios e recebe sempreum convidado para umbate-papo sobre ciência,tecnologia, mente humana,comunidade emeio ambiente.Entre os convidados, BelPesce, jovem paulistaempreendedora que foi eleitauma das “100 pessoas maisinfluentes do Brasil” pelarevista Época e um dos “30jovensmais promissores doBrasil” pela revista Forbes;Eliane Brum, jornalista,autora e documentarista; eCharlesWatson, educador epalestrante especializadoem processo criativo.

TEDCOMPARTILHANDOIDEIASEstreia: 20deagosto.Horários: quinta, 23h (inédito);sexta, 3h; segunda, 13h;edomingo, 17h (reprises).

Conteúdo fornecidopeloFutura, “o canal que liga você!”.www.canalfutura.org.br

P: Você hesitou em aceitar o papelpor causa das críticas que o primeirofilmeQuarteto Fantástico recebeu?Miles Teller, o Senhor Fantástico —

Não. Desde que Josh me convidou para

participar do filme, estava claro que a

concepção aqui seria diferente. Esta-

mos distantes até mesmo dos outros

filmes de super-heróis atuais. Levamos

muito a sério os aspectos da física e

também os do gênero ficção científica,

o que muitos filmes baseados em he-

róis de quadrinhos não fazem.

P: Você é fã de quadrinhos?Kate Mara, a Mulher Invisível — Não

sou tão apaixonada por histórias em

quadrinhos. Prefiro o conceito de

super-herói quando ele é explorado

nos cinemas. Costumo correr para ver

todas as adaptações de comics logo no

primeiro final de semana.

P: O que você sentiu quando vestiu aroupa de super-herói pela primeira vez?Michael B. Jordan, a Tocha Humana —

A minha roupa era ótima. Pelo menos

bem no início do trabalho. Assim que

comecei a ganhar músculos para inter-

pretar o personagem, ela foi ficando ca-

da vez mais apertada [risos].

P: Precisou aprender algumahabilidade para o papel?Jamie Bell, o Coisa — Precisei apren-

der a andar com uma espécie de perna

de pau por ser mais baixo que o per-

sonagem, quando ele se transforma

no Coisa. Usei principalmente quando

aparecia ao lado dos outros integrantes

do Quarteto e tinha de aparentar ser

muito mais alto. Tenho 1,70 metro, e

passava dos dois metros com a ajuda

do adereço. Foi intenso ter de aprender

a me equilibrar naquilo.

RETORNOFANTÁSTICO—OUNÃOO diretor Josh Trank tentará fazer com Quarteto Fantástico,que estreia dia 13 de agosto, o que Chris Nolan fez comBatman. Ou seja, dar uma aura artística e uma abordagemmais obscura ao filme. Em entrevista a GALILEU, os quatroatores principais falam sobre o projeto ELAINE GUERINI, DE LAS VEGAS

IMAGENS: DivulgaçãoA G O S T O / 2 0 1 580

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ETC INSTAGRAMINDIE

APP

#InstaBilionárioNA BIOGRAFIA O CLIQUE DE 1 BILHÃO DEDÓLARES, O JORNALISTA FILIPE VILICICCONTA A VALIOSA HISTÓRIA DE MIKEKRIEGER, O BRASILEIRO QUE AJUDOU AFUNDAR O INSTAGRAM EVANDRO FURONI

FORADACURVAAUgra Press ganhouuma loja* em SãoPaulo quemantém oconceito do site, um dosmaiores do Brasil naárea de HQs indies. Osidealizadores Douglase Daniela Utescher dãosuas indicações

AokigaharaAndré Turtelli PoleseRenatoQuirino

Em sua primeira HQ, adupla aborda o tema dosuicídio. O roteiro sutil ea arte detalhada garan-tem uma grande história,sem sensacionalismo.

Dedos mágicosMarcatti

e LaudoFerreiraO resultado do trabalhodestes veteranos é um

álbum divertido,com um pé no dramalhão

e outro no humorgrotesco.

LavagemShiko

A história criada peloparaibano transpira

tensão, violência e con-flitos psicológicos.Sem dúvida um dospontos altos dasHQs em 2015.

Chuva de merdaLuiz Berger

Herdeiro direto do un-derground norte-ameri-cano e de europeus mal--educados, o paulistanoconduz o leitor a umaviagem escatológica,bizarra e hilária.

Em 2004,MichelKrieger chegou aosEstados Unidos paraestudar em Stanford.O jovem, educado eminglês, surpreende

pela fluência na línguae a capacidade de

programação. Muda onome paraMike parafacilitar a pronúnciados norte-americanos.

1

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Krieger conhece onorte-americanoKevin Systrom

durante uma festa.Tempos depois, oamigo o convidapara participar de

um projeto para criarum site focado no

compartilhamento defotos. É o nascimento

do Instagram.

3

3

Depois de apenas trêsdias de negociaçõescomMark Zucker-berg, o Instagram écomprado pelo Fa-cebook por incríveisUS$ 1 bilhão. Kriegere seus sócios recebema garantia de que oInstagram poderiaseguir seu própriomodelo de negócio.

5

5

Antes do Instagram,Krieger ajuda adesenvolver umprojeto junto comJulio Vasconcellospara criar um site decompras coletivas noBrasil. Ele desiste doprojeto, mas mesmoassim Vasconcellosvai em frente e fundao Peixe Urbano.

2

2

Com gente poderosacomo Jack Dorsey,fundador do Twitter,divulgando o apli-cativo antes mesmodo lançamento, oInstagram atingiu25 mil usuários nosprimeiros dias no ar.Um mês depois, jácontava quase

1 milhão de usuários.

4

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Com o Facebook, oInstagram ganha re-cursos, como vídeos.Hoje a rede já contacom 200 milhões deusuários, mas temcomo grande desafionão ser engolidapelos adversários

similares que surgema todo momento,como o Snapchat.

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*Rua Augusta, 1371, loja 116, São Paulo, SP.

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NÃO

SIM

TED

BRINQUEDOINTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

POR • DANIEL TELLES MARQUESFLUXOS

INFOGRÁFICO: NatanaSousa/EditoraGlobo

O Google está usando inteligênciaartificial para criar uma versãodo Ted, o simpático (e desbocado)urso de pelúcia que ganha vidanuma comédia de Hollywood. Valea pena ter um desse em casa?

TEM FILHOS?

OS AMIGOSDE TROVÃO

Confiarnosfilhoséumótimo indício

deboaeducação

Umafrustra-çãoparavocê:modoespiãodoChrome

Chucky foipossuído.Es-teursinhosóécapazdeco-letardados

Seestesursosse rebelarem,sóconseguemumarevolu-çãodosewoks

Umvírus da inte-ligência artificialda zoeira podegerar bullyingdoméstico

OTeddyBeardoGooglepodeatédizerverdades,masserãopré--programadas

Esperamosqueelenãofiqueentedia-doevireumaver-sãodeLotsocomacessoaoGoogle

Agenteadoraser lidoporprodutoresfamosos=)

Temalergiaapelúcia?

Você tambémachaqueoGoogleéaAcmedoséculo21?

Éumanoçãoqueestá

abaladaporcausadas

redessociais?

Privacidadeéumconceitoemdecadênciaparavocê?

Temmuitosamigoson-line,massente

faltadecontatofísico?

Maselenemprecisa falar, sóassentir ou

negarbalançandoacabeça?

Algumvídeoviralizoueficou famosona internet?

Vêohistóricodenavegaçãodosfilhos?

JásuperouoprimeiroChucky?

Temmedodebrinquedoscom inteligên-ciaartificial?DESCULPE, ESTA

PÁGINA NÃO SEAUTODESTRUIRÁ

Quer respeitoporsuapriva-cidadeeporisso respeitaaalheia?

Umursoquefilmaeescutatudoaoredorfazsuacar-teiravibrar?

VOCÊ É UMESPIÃO?

Quer respon-sabilidades?Umobjetivodevida?

Esseursonãoéum

tamagotchi.É sócarregarnabateria

Entãodesligueascâmeras

Estánahoradesuperaresse trauma

Rolaumaver-sãoemvinil?Ursosadoma-sôquesódizverdades

Temumamigozoeirãoquetecolocaemaltasaventuras?

Umamigodepelúciaqueesteja sempreaoseu lado?

Sorte.Podeserpublicitá-rioeseacharengraçado

Compreumcachorrinhodaquelesde

taxista, eele se-rá seuoráculo

VaiproEllo.Sozinho, vocêterádesairde

casa

Quer terum(a)amigo(a)noquartoparaconversar?

Escondeucâmerasemcasaparavercomoseusfilhossecomportam

quandosozinhos?

Bom,confiançanãodeveria ser.Não façadesuafamíliaumBBB

Façaumafotodoursousan-dooGlasseolhandoositedeGALILEU

Entãomonteseuplanoinfa-líveldecuidar

bemdosfilhos—espionando-os

VocêcomprouumGoogleGlassou

Chromebook?

Nãotrabalhamoscomprivacidadedesdequefize-ramaprimeiraultrassonografia

SeusaroGlassparacontro-larourso,podedizerqueéumwargdo futuro

A G O S T O / 2 0 1 482

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