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REVISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ L E V E L E V E REVISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ JUN/AGO 2017 DESCOBERTAS O ESGOTAMENTO MENTAL E AS SUAS CONSEQUêNCIAS PERIGOSAS PARA A SAúDE CONVERSA ROBERTO MENESCAL CONTA COMO AS PAIXõES O MANTêM SAUDáVEL E FELIZ AOS 79 ANOS CURADORIA AS ESCOLHAS DA CANTORA TULIPA RUIZ EM MOVIMENTO POR QUE A COLUNA VERTEBRAL MERECE TODA A SUA ATENçÃO POR QUE O NOSSO CÉREBRO AINDA REPRESENTA TANTOS DESAFIOS PARA A MEDICINA + OS AVANÇOS EM DOENÇAS NEUROLÓGICAS, COMO AVC, ESCLEROSE MÚLTIPLA E ALZHEIMER + NEUROPLASTICIDADE: VIVER NOVAS EXPERIÊNCIAS PODE PROMOVER MUDANÇAS NO CÉREBRO + A MAIS INCRÍVEL MÁQUINA HUMANA

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LEVE

LEVEREVISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ

JUN/AGO 2017

DESCOBERTASO ESGOTAMENTO MENTAL E AS SUAS CONSEqUêNCIAS PERIGOSAS PARA A SAúDE

CONVERSARObERTO MENESCAL CONTA COMO AS PAIxõES O MANTêM SAUDáVEL E fELIZ AOS 79 ANOS

CURADORIAAS ESCOLHAS DA CANTORA TULIPA RUIZ

EM MOVIMENTOPOR qUE A COLUNA VERTEbRAL MERECE TODA A SUA ATENçÃO

Por que o nosso cérebro ainda rePresenta tantos desafios Para a medicina + os avanços em doenças

neurológicas, como avc, esclerose múltiPla e alzheimer + neuroPlasticidade: viver novas exPeriências Pode

Promover mudanças no cérebro

+A MAIS INCRÍVEL

MÁQUINA HUMANA

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Editorial

astrofísico americano Neil deGrasse Tyson dedicou a maior parte da sua vida a estu-dar o universo, a única coisa mais com-plexa que o cérebro. Ainda assim, Tyson considera o órgão um dos maiores mis-térios não resolvidos pela ciência. Tema da nossa matéria de capa, a supermáqui-na que carregamos no topo da cabeça é, constantemente, alvo de descobertas surpreendentes. Paralelamente, apresen-ta grandes desafios para a medicina, que

avança nessa área em cuidadosa caminhada, principalmente no que diz respeito a doenças neurológicas, como o AVC, o Alzheimer e a esclero-se múltipla, cujos sintomas e sequelas trazem questões complexas em termos de diagnóstico, prevenção e tratamento. Ainda sobre o assunto, falamos sobre a neuroplasticidade, mudanças que ocorrem em resposta a novas experiências, que vão desde a formação de conexões cerebrais que até então não existiam até a criação de novos neurônios. Tais in-vestigações nos levam a crer que a jornada em busca do mapeamento do cérebro é longa, sinuosa e, ao mesmo tempo, muito enriquecedora.

Ainda nesta edição, dedicamos espaço a outra importante estrutura do nosso corpo: a coluna vertebral. Em um infográfico, detalhamos as funções desse conjunto de ossos, músculos, ligamentos e nervos que demanda cuidados especiais por toda a vida. Falamos também sobre a relação perigosa entre diabetes e obesidade, as diferenças entre alergia e intolerância alimentares e os efeitos do vinho no nosso corpo.

Também nestas páginas, respeitáveis nomes da música brasilei-ra de diferentes épocas marcam presença: em entrevista, Roberto Menescal, precursor da bossa nova, nos transporta aos seus anos dourados ao lado de gente como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Nara Leão, e divide seus segredos para viver bem aos 79 anos. Em Curadoria, a cantora Tulipa Ruiz assume o comando e compartilha seu bom repertório cultural. Para finalizar, o jornalista Ivan Martins nos brinda com uma crônica bem-humorada sobre os desafios de respeitar o próprio corpo e a passagem do tempo.

Boa leitura!

Um abraço,

Equipe Revista LEVE

ODiretor Geral Douglas Monteiro Editora-Chefe Alana Della Nina Editor Marcos Diego Nogueira Diretor de Arte Danilo Costabile Produção Carol Lomelino Atendimento Ana Paula Alcantara Produção Gráfica Sérgio Almeida Projeto Editorial Alana Della Nina Projeto Gráfico Danilo Costabile Realização Conteúdo Urbano

Colaboram nesta edição: Texto André Blass, André Julião, Carla Saueressig, Débora Rubin, Dunia Schneider, Ivan Martins, Lígia Nogueira, Maitê Casacchi e Rodrigo Cardoso Foto Daryan Dornelles, Gustavo Scatena, Magú Marioto, Vitor Muzzi e Zé Gabriel Ilustração Marquetto Revisão Maitê Casacchi

Tiragem 10.000 exemplaresContato: [email protected]

ConsELho DELIbERATIVo

Presidente do Conselho DeliberativoJulio Muñoz KampffVice-Presidente do Conselho DeliberativoMarcelo Lacerda Soares NetoConselheirosBernardo WolfsonEdgar Garbade Lidia GoldensteinLuis Terepins Mário ProbstMark Albrecht EssleRonald Schaffer Ronaldo Lemos

ConsELho FIsCAL

Presidente do Conselho FiscalMichael LehmannVice-Presidente do Conselho FiscalErnesto Niemeyer

ConselheirosWeber Porto Beate Chrisitne Boltz Kurt HupperichCharles Krieck

CEoPaulo Vasconcellos Bastiansuperintendente de Desenvolvimento humanoCleusa Ramos Encksuperintendente de Educação e CiênciasDr. Jefferson Gomes Fernandessuperintendente AssistencialFátima Silvana Furtado Gerolinsuperintendente MédicoDr. Antonio da Silva Bastos Netosuperintendente operacionalDr. Fabio Futoshi KatayamaDiretor ClínicoDr. Gilberto Turcato JuniorVice-Diretor ClínicoDr. Marcelo Ferraz Sampaio

CoMITê EDIToRIALCleusa Ramos EnckDr. Jefferson Gomes FernandesFátima Silvana Furtado GerolinDr. Antonio da Silva Bastos NetoDr. Fabio Futoshi Katayama

GERênCIA DE MARkETInG E CoMunICAção

Melina Beatriz GubserCoordenação Editorial Michelle Barreto

Apoio Editorial

Rafael Peciauskas e Sílvio César Carvalho

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Sumário

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6 ColunasEstar Bem Alexandre Blass ressalta a importância de praticar esportes no frio

Comer BemA especialista em chás Carla Saueressig fala sobre os benefícios e prazeres da bebida

8 Por AíDos circuitos abertos ao público às salas supertecnológicas e de alto luxo, uma seleção de cinemas na cidade para curtir bons filmes

12 InovaçãoUma câmera instantânea com ares retrô, o robô melhor amigo e uma impressora 3D para se ter em casa

14 CuradoriaA cantora Tulipa Ruiz comanda a seção com boas indicações de livros, filmes, discos e séries

18 Matéria de capaMistérios do cérebro: os desafios constantes que esse complexo órgão apresenta para a medicina

26 HorizontesQuatro pontes icônicas pelo mundo que valem a travessia

30 ConversaRoberto Menescal, um dos nomes mais importantes da bossa nova, conta como se mantém ativo, saudável e feliz chegando aos 80 anos

36 Em MovimentoEntenda o funcionamento da sua coluna vertebral e por que é essencial cuidar bem dela durante toda a vida

40 Raio XIntolerância versus alergia: conheça as diferenças entre esses dois distúrbios alimentares, suas causas e tratamentos

44 DescobertasOs exageros da vida moderna nos deixam próximos ao esgotamento mental, ocasionando doenças físicas e psíquicas. Saiba como identificar os sinais

46 Na CozinhaA famosa galinhada de Janaina Rueda, chef do Bar da Dona Onça, ganhou os toques saudáveis de Alexandre Ribeiro, chef do Hospital

48 Especial SaúdeNosso especialista do Centro de Obesidade e Diabetes fala da relação entre as duas doenças, além de causas, prevenção e tratamento

52 DestinosDos cantos inóspitos do mundo, o lago Baikal, na Sibéria, é um tesouro que merece ser descoberto

56 Mentes CuriosasPerguntas e respostas sobre o vinho

58 Experiências que TransformamNossos quatro convidados contam como superaram seus limites após passar por adversidades

62 Por Dentro do HospitalO novo presidente do Conselho Deliberativo, eventos no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a parceria com a Track&Field® Run Series

66 CrônicaNosso cronista da vez, Ivan Martins, fala das alegrias de aceitar as limitações do próprio corpo

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NO DIGITALEste ícone indica que a matéria que você está lendo também tem vídeo na LEVE digital. Baixe já! O aplicativo gratuito está disponível para iOS e Android.

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Você na LEVE

Quer comentar, opinar ou sugerir? Mande seu e-mail para: [email protected] facebook.com/hospitalalemaooswaldocruz www.hospitalalemao.org

LEIToRES DA

LEVE

Nossos leitores contam o que acharam das matérias da segunda edição da revista

Gente, todas as receitas do Hospital são maravilhosas! Os profissionais estão de parabéns.

SILvIA BeNIcheL, SOBRE O NA COzINHA, COM A CHEF ROBERTA JULIãO

Quero parabenizar o Hospital pela revista LEVE. Estratégia de comunicação muito assertiva! A proposta editorial deixa claro o posicionamento da marca.

ALeSSANDrO DA MATA LeMOS, SOBRE A REVISTA LEVE

O Dr. Sergio Roll é um excelente profissional, sempre o admirei.ANALIce PAIxãO, SOBRE O ESPECIAL SAúDE, QUE ABORDOU A HéRNIA ABDOMINAL

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LEVEREVISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ

MAR/MAI 2017

EREVISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ

NA COZINHAA CHEF ROBERTA JULIÃO, DO CAFÉ DA FEIRA AO BAILE, TRAZ UMA RECEITA DE BOLO SAUDÁVEL

MENTES CURIOSAS

TIRE SUAS DÚVIDAS SOBRE

TATUAGEM

CONVERSAO PIANISTA MARCELO BRATKE CONTA COMO FOI ENXERGAR PELA PRIMEIRA VEZ AOS 44 ANOS

EXPERIÊNCIAS QUE TRANSFORMAM

PESSOAS QUE ENFRENTARAM MOMENTOS DIFÍCEIS COM O APOIO E

O CARINHO DOS ANIMAIS

COMO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL VEM REVOLUCIONANDO NOSSAS

VIDAS E O QUE PODEMOS ESPERAR DO FUTURO DESSA TECNOLOGIA

A ERA DAS

+

SUPERMÁQUINAS

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Comer bem

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Mas há outras excelentes razões para sair do sofá: durante a atividade física, o coração aumenta o bombeamento do sangue para transportar oxigênio e nutrien-tes para todas as células, e a contração muscular contínua aumenta o diâmetro dos vasos sanguíneos, a pressão arterial, a frequência cardíaca e a produção de calor. São esses estímulos sistemáticos sobre o organismo os responsáveis pela melhora do condicionamento físico.

Treinar no inverno garante, ainda, as adaptações fisiológicas e mecânicas con-quistadas nos meses mais quentes, além de controlar as indesejadas oscilações de peso. No entanto, é importante se preparar adequadamente. Enumero, a seguir, algumas dicas essenciais para o sucesso e o conforto do seu treino:

• Procure organizar o material na véspera para decidir pelo mais adequado e otimizar o seu tempo

• Se possível, treine em horários mais quentes, como no fim da manhã e à tarde• Se aqueça por mais tempo e intensifique os exercícios progressivamente• Faça a inspiração nasal para umidificar e aquecer o ar que entra no corpo• Para manter a temperatura corporal, suamos e perdemos líquidos como em

qualquer estação do ano, portanto, não descuide da ingestão de líquidos antes e depois do exercício

• Proteja-se da perda de calor utilizando vestimentas adequadas para treinar no frio. Utilize tecidos leves que mantenham o calor e sequem rapidamente o suor

• Ao finalizar o treino, troque rapidamente a roupa úmida e vista um agasalho para manter o calor no corpo

• E lembre-se: a adaptação ao frio é mais um fator a ser ajustado na sua rotina de treino. Com tempo e disposição, é possível, mesmo durante o inverno, praticar exercícios de forma prazerosa.

A boa notícia é que, no Brasil, a oferta de chás e infusões aumen-tou muito nos últimos cinco anos. Há uma interessante variedade para todos os paladares: dos aromatizados com frutas e flores aos puros, das principais regiões produtoras, como Darjeeling e Assam, da Índia; Orange Pekoe Highgrow, do Sri Lanka, do Quênia e da Indo-nésia; Lung Ching, Chun Mee, Oolongs e Pu-Erh, da China; e infusões como camomila, hortelã, erva-mate e rooibos, da África do Sul.

Também descobrem-se, sempre, novas qualidades medicinais dos chás e infusões. A bebida tem papel anti-inflamatório e seus polifenóis fortalecem nosso sistema imunológico. Quando falamos no matchá (chá verde), chá em pó da Cerimônia do Chá, estamos nos referindo, por exemplo, a uma bebida com muitos antirradicais livres. Acredita-se que três xícaras de chá verde por dia podem re-duzir o risco de doenças degenerativas, já que funciona como um estimulante que protege as regiões do cérebro responsáveis pelo aprendizado e pela memória; a bebida é, ainda, uma rica fonte de flavonoides, antioxidantes que neutralizam os efeitos mutantes dos radicais livres. E não é só o tradicional matchá que faz bem à saúde. Os de camomila e lavanda têm propriedades relaxantes e combatem a ansiedade, os de hortelã e erva-doce auxiliam a digestão e aliviam dores de cabeça, entre muitos outros sabores e suas qualidades.

É interessante descobrir quantos benefícios o chá e as infu-sões podem trazer para nossas vidas, além de proporcionar um momento gostoso no nosso dia a dia. Que tal um chazinho para brindar à saúde?Colaboraram: Cátia Guerbali, nutricionista, e Dra. Lívia Porto, endocrinologista, ambas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

raticar exercícios físicos no frio pode não parecer fácil, mas esta época do ano é excelente para mexer o corpo, Já que se exercitar é uma boa maneira de se manter aquecido.

ada vez mais, o consumo mundial de bebidas alia prazer à saúde: o chá, por exemplo, além de agradável, traz diversos benefícios associados.

alexandre blassBacharel em esporte pela USP e mestre em esporte de alto rendimento pela Universidade do Porto, em Portugal, é coautor do livro Força Dinâmica: postura em movimento

carla saueressigÉ teablender e especialista em chás e

infusões. Professora e palestrante sobre o assunto em diversas instituições, coordena e ministra o primeiro curso de formação de

sommelier de chás no Brasil

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Por Aí

Cinépolis 4DX™ Shopping JK Iguatemi Imersão cinematográficaSe a difusão do 3D foi uma revolução no mundo do cinema nos últimos anos, uma novidade surgiu para elevar a experiência dos fãs da telona a um novo patamar: o 4D sensorial. A rede Cinépolis, do Shopping JK Iguatemi (Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041 – Itaim Bibi), ganhou destaque por suas salas 4DX™, em que, além da perfeição em som e imagem, é oferecido um ambiente diferenciado, que imerge o espectador no filme. As cadeiras vibram e se movimentam em sincronia com a ação na tela, simulando quedas, aceleração e frenagem, e há equipamentos que geram efeitos de luz, água, vento, aromas e até névoa. Um verdadeiro parque de diversões. O Shopping JK foi o pioneiro na nova tecnologia e segue como um dos melhores da cidade, com suas oito salas para 1.106 pessoas. De R$ 21,50 a R$ 78.

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onde fica:Av. Paulista, 1578

horários:Aos domingos, das 10h às 17h

Por Aí

“Aqui tem um pouco de tudo.” É assim que os organizadores definem o cinema do Shopping Frei Caneca (R. Frei Caneca, 569 - Consolação). E essa é, realmente, a vantagem encontrada por lá, nas nove salas com projeção digital – sendo uma com tecnologia 3D – e 1.345 lugares disponíveis para o público. O espaço já foi eleito algumas vezes o melhor de São Paulo por conta de sua programação.

Parece simples, mas a equação para chegar à mistura perfeita entre blockbusters e filmes alternativos virou um diferencial, atraindo tanto o público mais tradicional como o que está atrás de atrações “cult”. O local sempre conta com exposições de arte e ainda tem um agradável café, ótimo

para aguardar o início da sessão. De R$ 13 a R$ 35.

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• Bons programas para aproveitar o melhor de São Paulo

A arte da cidadeHá quem diga que o shopping é a praia do paulistano, mas é mesmo

o cinema que conquista o coração dos moradores da cidade. Não à toa, há opção para todos os gostos: das tradicionais salas de rua às supertecnológicas e luxuosas, passando pelo circuito gratuito

oferecido na capital. Selecionamos cinco entre os melhores cinemas de São Paulo. Confira

DA redação

Espaço Itaú de Cinema Shopping Frei Caneca

Diversidade

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Para quem quer ir além quando se fala em sofisticação, São Paulo oferece várias opções com tratamento diferenciado. Uma das principais é a do Cinemark do Shopping Cidade Jardim (Av. Magalhães de Castro, 12.000 – Cidade Jardim). O espaço conta com lounge e bomboniere especiais, poltronas de couro reclináveis e equipadas com mesa, muito espaço entre as cadeiras (e em relação à tela) e um cardápio todo diferenciado. As pipocas gourmet têm opções de temperos – de azeite especial a canela –, há salgados como queijo coalho com mel e dadinho de tapioca, e sobremesas como o churros de avelã, além de uma sofisticada carta de vinhos. E o complexo desse shopping – que totaliza sete salas para 1.064 pessoas – também já tem tecnologia semelhante ao que se vê no vizinho JK Iguatemi, com duas salas em que poltronas se movimentam conforme o filme, além da experiência sensorial com água, vento e aromas. De R$ 14 a R$ 71.

Com a ideia de propagar a cultura e a linguagem do cinema, o Spcine foi criado para exibir blockbusters

e filmes menores – com bom espaço para produções nacionais – sem custo. Para frequentar as salas dos CEUs (Centro de Educação Unificada) e centros culturais, basta chegar uma hora antes

da sessão para a retirada dos ingressos gratuitos. Atualmente, são 20 salas – todas com equipamento

de ponta em áudio e vídeo –, oferecendo cerca de 200 sessões por semana. Confira a programação

em circuitospcine.com.br. Grátis.

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ção Mesmo com as grandes empresas de cinema e seus blockbusters, São Paulo nunca deixou de lado

a rica cena dos cineclubes. Com programações voltadas a raridades e exibições de clássicos, os cinemas de rua guardam todo o charme do puro prazer de apreciar a sétima arte. Nesse sentido, o CineSesc é o espaço mais tradicional da cidade. Na Rua Augusta (altura do 2.075) desde 1979, a sala hoje comporta 273 espectadores e se destaca por aliar boa programação a uma estrutura impecável – além dos preços abaixo da média, bastante atrativos –, abrindo espaço também para sessões de debate após exibições, cursos e mostras consagradas. Há, ainda, uma bomboniere dentro da sala, caso bata aquela vontade de comer uma pipoca durante o filme. De R$ 3,50 a R$ 20.

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Spcine

Ao alcance de todos

Cinemark Cidade Jardim

Puro luxo CineSesc

O charme dos cineclubes

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Inovação

Boa impressãoQuem procura uma impressora 3D para ter em casa, com um bom custo-benefício, deve ficar de olho na Da Vinci Mini 3D da XYZPrinting. Ela prova que tamanho e preço podem ser acessíveis em um periférico desse porte e ainda promete um resultado excelente. A Da Vinci Mini vem com recursos que são frequentemente associados a impressoras 3D muito mais caras, como Wi-Fi embutido, que permite aos usuários transmitir arquivos de objetos do computador para a máquina sem precisar de conexão com fio. Professores, amantes de tecnologia e até mesmo equipes de desenvolvimento de produtos de empresas de pequeno porte não terão problemas com o manuseio totalmente intuitivo do produto.Preço: US$ 289,95us.xyzprinting.com/us_en/Product/da-Vinci-Mini

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Inovação

Seu flash em formato de anel é projetado para fotografar retratos perfeitos

Primeiro sistema de câmera projetado em mais de 20 anos para o formato de foto Polaroid original

Tecnologia Bluetooth permite que a câmera emparelhe com o telefone, possibilitando ao usuário controlá-la pelo aplicativo

Instante de charmeAs câmeras fotográficas instantâneas foram objeto de desejo de muita gente. Com a chegada das máquinas digitais, elas perderam espaço no mercado, mas mantiveram o seu charme. Porém, um de seus problemas era produzir apenas a foto impressa, e não a digital. Felizmente, para os fãs do modelo, a questão acaba de ser solucionada com a Impossible Project I-1, uma câmera fotográfica instantânea nos moldes da tradicional Polaroid que, além de imprimir as fotografias na hora, armazena e transfere as imagens para o computador. De fácil manuseio, a I-1 pode ser controlada remotamente via aplicativo de celular. E já que charme nunca é demais, seu design curioso também chama a atenção dos chegados na cultura retrô. Preço: US$ 189us.impossible-project.com

Seu aplicativo traz uma grande variedade de conteúdo e é atualizado constantemente

Sensores instalados permitem que o robô se movimente pela superfície com autonomia

Câmera com visão computadorizada

permite ao Cozmo compreender o

ambiente onde está

O Cozmo vem ainda com três

Power Cubes, que propiciam maior

interação com o usuário

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“Um robô com vida própria como o dos filmes.” Assim Cozmo é definido no site oficial da sua fabricante, a americana Anki, de São Francisco. Com design inspirado nas animações da Pixar, o robô, controlado a partir de um smartphone, é capaz de aprender e desenvolver gostos e habilidades com o passar do tempo. Uma câmera com visão computadorizada permite ao gadget reconhecer o ambiente em que está, além de seus donos, a quem pode propor jogos e atividades que os agradem. Com tanta tecnologia inovadora, o Cozmo vem sendo aclamado como um robô precursor em matéria de inteligência artificial.Preço: US$ 179,99anki.com/en-us/cozmo

Amigo robô

Possui armazenamento próprio, permitindo que se carregue um arquivo e, em

seguida, o aparelho seja desconectado mesmo com

a impressão em curso

Indicadores coloridos de LED mostram o status de cada impressão

Todas as funções são controladas a partir de seu

computador, conectado via USB ou Wi-Fi, com o uso de um software de

gerenciamento

Seu tamanho é 30% menor que o das outras impressoras 3D do mesmo fabricante

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Curadoria

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Cultura é assunto sério para a cantora e compositora Tulipa Ruiz. Em plena turnê, ela não apenas aceitou o convite da LEVE para participar desta seção, como ainda dedicou tempo a escolher todas as indicações em cada categoria, comentando uma a uma. O resultado é um mix de tesouros desconhecidos e um olhar mais apurado sobre grandes obras.

O destaque das escolhas de Tulipa fica por conta do livro Grapefruit, de Yoko Ono, que ela comenta a seguir: “Grapefruit foi lançado em 1964, época em que a artista também fazia parte do grupo/movimento Fluxus. Os artistas que se identificavam com o Fluxus se opunham aos valores burgueses e à comercialização

da arte. Grapefruit tem essa intenção em seu DNA e é o primeiro livro de Yoko. Segundo ela, trata-se de um livro de ‘instruções’. Aprendi a ler com ele e o devoro até hoje. ‘Conte todas as estrelas da noite de memória’, pedia a artista. Eu, criança, ficava enlouquecida com todos esses comandos. Na minha imaginação, seguia tudo à risca. Esse livro me empurrou para a arte e até hoje me inspira, me acalma, me faz transitar entre as linguagens. Tenho a edição em português que saiu no Brasil em 1981, com apenas 500 exemplares e com o nome dos meus pais rabiscado na primeira página. Mais tarde, já adulta, comprei a edição original americana. São meus grandes tesouros.”

Tulipa RuizVencedora do Grammy, a cantora

e compositora segue em turnê com seu disco Dancê e prepara

registros ao vivo para seu próximo trabalho.

Curadoria

O acervo de TulipaA convite de LEVE, Tulipa Ruiz foi além do pedido e fez todas as indicações dentro de cada categoria, comentando uma a uma. Confira as preferências culturais da cantora

música

NegRo leo - Água BaTizada“Negro Leo vem do improviso, do texto, das artes plásticas, do experimentalismo, do desapego da forma e faz um disco lindo,

verdadeiro e cheio de canções.”

JoNi MiTchell - couRT aNd SpaRk“Este é meu disco de cabeceira e me lembra muito o Clube da Esquina. A capa é uma aquarela da artista e o projeto gráfico é de Anthony Hudson, pai do guitarrista Slash.”

SeRgio Machado - pliM“O disco de estreia do baterista Sergio Machado reúne suas variadas parcerias e inspirações, da cena pop à música instrumental, combinando temas e paisagens sonoras, além de apresentá-lo como um excelente produtor, compositor e arranjador.”

WiNgS - Wild life“Álbum de estreia da banda inglesa formada por Paul McCartney e com um dos melhores sons de bateria que eu já ouvi na vida.”

gRupo RuMo - RuMo“Referência gráfica, musical e banda da minha cantora predileta, Ná Ozzetti.”

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uM coNTo chiNêS - Sebastián Borensztein“Este filme é uma mostra de como o cinema argentino é incrível em todos os aspectos. Como fazer um grande filme com pouco orçamento? Bom roteiro, boa direção e bons atores.”

o hoMeM ao lado - gastón duprat e Mariano cohn“Um dos meus filmes prediletos. A história se passa na única casa construída pelo arquiteto modernista Le Corbusier na América Latina, em La Plata, Argentina. Roteiro e atores impecáveis.”

dollS - Takeshi kitano“Três tristes histórias de amor e uma direção de arte incrível. Plasticamente interessantíssimo.”

uM filMe falado - Manoel de oliveira“O filme mostra um grupo de pessoas que se conhece em um cruzeiro pelo Mar Mediterrâneo. Uma verdadeira aula sobre a história das civilizações. Com Catherine Deneuve e John Malkovich no elenco.”

o Balão VeRMelho - albert lamorisse“Média-metragem francês de 1956. É a história de um menino e um balão. A beleza e a sensibilidade desse filme me comovem. Assistam.”

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oRaNge iS The NeW Black“Grandes atrizes em uma série protagonizada por mulheres trancafiadas em um sistema carcerário completamente falido.”

BReakiNg Bad“É a melhor série de todos os tempos. É impressionante ver como os atores criam cada vez mais força no decorrer das temporadas.”

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LiVrOsÉ claRo que Você SaBe do que eSTou falaNdoMiranda July“Livro de contos da diretora de cinema e performer Miranda July. As histórias parecem pequenos e malucos curtas-metragens sobre o cotidiano. Recomendo o conto ‘A Equipe de Natação’.”Editora Agir

BlueSrobert Crumb“Neste livro, o cartunista americano apresenta a história de alguns artistas da música popular dos anos 1920 e 1930. Fascinante.”Conrad Editora

liNha MPatti smith“É especial mergulhar no universo das memórias e no cotidiano de Patti Smith. Em suas reflexões solitárias, mas sem o peso da solidão. Sensível e profundo. Um aprendizado.”Ed. Companhia das Letras

capRichoS & RelaxoSPaulo leminski“Foi a primeira vez que vi em palavras algum sen-tido musical. A poesia de Leminski é pop, imagética e sonora. E pede para ser musicada.”Ed. Companhia das Letras

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The killiNg“Um lugar onde chove o tempo todo e a fotografia é bem cinza. Esses elementos harmonizam totalmente com a intrigante Sarah Linden, detetive que protagoniza a série.”

hoMelaNd“Uma agente da CIA especializada em terrorismo no Oriente Médio desconfia que um soldado americano considerado herói trabalha para uma organização terrorista. Tão real e atual quanto House of Cards.”

gRace aNd fRaNkie“Lilly Tomlin e Jane Fonda brilham absolutas nesta série que transita entre as dores e delícias da terceira idade.”

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O pOucO cOnhecimentO que ainda se tem sObre O cérebrO traz cOnstantes desafiOs para a medicina e faz cOm que tOda descOberta sObre ele seja surpreendente

Por andré julião E rodriGo CardoSo

fotos zé Gabriel

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Capa

Máquina CoMplexidade

de alta

u lembro de um jardim colorido e uma mesa posta, cheia de coisas gostosas.” Essa é a úni-ca memória que a aposentada regina Pinhel, 65 anos, tem dos cinco dias que ficou em coma, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), ocorrido em outubro de 2015. Enquanto regina tinha essa espécie de sonho,

seu cérebro, com o auxílio de poderosos medicamentos, luta-va para se recuperar do AVC hemorrágico que sofrera dias antes. No total, foram 60 dias de internação, metade deles na UtI. “os médicos disseram que nesse tipo de AVC a mortali-dade é muito alta”, diz o marido, o economista José roberto Pinhel. “A regina é um case de sucesso.”

Não é difícil concordar com ele ao ver o sorriso e ouvir a voz firme de sua esposa e associá-los aos de alguém que sofreu algo tão grave menos de dois anos antes. segundo a organização Mundial da saúde, todos os anos, 15 milhões de pessoas sofrem AVC no mundo, sendo que dois terços ficam com sequelas graves ou morrem.

os movimentos do lado direito do corpo de regina fo-ram prejudicados e às vezes é difícil controlar as emoções. Ela não lembra do momento em que ocorreu o AVC; José roberto relata que a esposa se queixava de uma dor muito forte na parte da frente da cabeça quando isso aconteceu. No entanto, um dia, durante a sua internação, rezou de cor toda a oração de santo Antônio, do qual é devota. Esses altos e baixos da memória, que parecem não seguir uma lógica, podem estar relacionados com a área do cérebro lesionada ou com o tipo de padrão da memória (visual, au-ditiva, olfativa etc.) que é afetado, assim como com o ní-vel de consciência (despertamento) em que a pessoa está quando interage com esses estímulos e informações.

Para o Dr. Eli Evaristo, neurologista do Hospital Alemão oswaldo Cruz, muitas pessoas confundem memória e lingua-gem: “Às vezes, quem sofreu um AVC lembra de objetos e pessoas, mas não consegue expressar a lembrança. Aí inter-preta-se que a memória foi afetada, que não lembra o que é tal coisa ou não reconhece ninguém. Mas ela lembra. A difi-culdade é em relação à linguagem e não à memória”.

Hoje, regina segue em recuperação na rede de reabilita-ção Lucy Montoro, acompanhada por uma equipe multidisci-plinar, além de neurologista e psiquiatra. A sua jornada, com avanços notáveis, é mais uma a demonstrar as possibilidades do cérebro, órgão que corresponde a 2% do peso do corpo, mas consome 25% de toda sua energia e oxigênio.

se, por um lado, nosso cérebro representa, em sua maior parte, um grande mistério, por outro, mostra-se bastante promissor em descobertas a serem feitas. É atribuída ao as-trofísico americano Neil deGrasse tyson a seguinte afirma-ção: “tudo o que fazemos, todo pensamento que já tivemos, é produzido pelo cérebro humano. Mas exatamente como ele

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o cérebro corresponde

a 2% do peso do corpo,

mas consome 25% de toda sua energia e

oxigênio”

“luTa ConTra o aVCJosé roberto Pinhel e sua esposa, regina Pinhel, que sofreu um AVC hemorrágico há cerca de dois anos

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funciona continua sendo um dos maiores mistérios não re-solvidos, e parece que, quanto mais investigamos, mais sur-presas encontramos”. A frase parece vaga, mas é bastante precisa, considerando o lugar em que a medicina se encon-tra hoje em relação ao órgão. “A complexidade de mapear o cérebro se dá pela dificuldade de encontrar ferramentas que consigam avaliar o comporta-mento de coativação das áre-as cerebrais”, afirma o Dr. Eli. Existe uma profunda integra-ção entre diferentes regiões cerebrais para que o cérebro determine comportamentos e comande funções, motoras ou de fala, por exemplo. Nesse momento, muitas áreas – e não uma única região, como o córtex – são ativadas. “Para o cérebro ser estudado, precisamos de mais re-cursos que avaliem o seu funcionamento, e não sim-plesmente sua anatomia.”

Ao contrário do que ocorre com o coração, órgão extensamente mapeado e cuja expressão final da sua função é ser uma bomba, o cérebro tem muitas for-

mas de expressão funcional além de fenômenos mecânicos. ”As respostas do cérebro não são simplesmente do tipo liga e desliga, do sim e não. Pelo contrário, elas vêm simulta-neamente de diversas regiões associadas e geram comandos diferentes em termos de inten-sidade, frequência e precisão. Nessas coativações há uma gama de ajustes e tudo isso torna o cérebro mais complexo de ser analisado do que outros órgãos”, explica o neurologista.

aVanço a lonGo prazo

ainda que o mapea-mento cerebral tenha um extenso caminho

a percorrer, a medicina enxerga uma progressão se considerarmos a gigantesca complexidade do órgão. A década de 1990, por exemplo, ficou conhecida no meio científico como “a década do cérebro”. “Nos últimos 20 anos, muito se avançou em relação ao maior conhecimento acerca do funcionamento do órgão e de outras ciências agregadas, como a imu-nologia, fundamental quando tratamos de esclerose

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múltipla”, conta o Dr. Eli. Doença de cunho inflama-tório e autoimune, a esclerose é caracterizada pela perda de mielina – substância que reveste as fibras nervosas e contribui para que o impulso nervoso percorra os neurônios. A chamada desmielinização geralmente se apresenta na forma de surtos que acontecem de maneira recorrente. “Não sabemos to-dos os fatores que interferem na esclerose múltipla, mas existem questões genéticas”, diz o neurologista. segundo ele, a esclerose é uma doença múltipla no tempo – acontecem surtos dis-tintos em diferentes momen-tos – e no espaço, uma vez que diversas regiões do sistema nervoso central podem sofrer sucessivas ou simultâneas le-sões. “As inflamações periódi-cas levam a cicatrizes, sequelas e alterações de funcionamento em várias áreas – motora, sen-sitiva, afetiva, cognitiva – do cérebro.”

Atualmente, exames de me-dicina nuclear (PEt) têm sido desenvolvidos para a detecção da beta-amilóide, proteína re-lacionada ao aparecimento no cérebro do Alzheimer, doença caracterizada pela degenera-ção progressiva dos neurônios. Essa proteína, quando agrupa-da a outras da mesma espé-cie, forma as chamadas placas amilóides. Estas, por sua vez, se embrenham entre os neurô-nios e, assim, fazem com que o cérebro não funcione corre-tamente. funções cognitivas, como a memória, são comprometidas de maneira mais marcante. Mas a linguagem – ocorre dificul-dade de encontrar palavras e de se expressar – e a orientação espacial também sofrem danos. “o mau funcionamento de enzimas de alguma forma estaria promovendo o acúmulo da beta-amilóide. Esses acú-mulos, que começariam a acontecer no cérebro cerca de 20 anos antes dos sintomas do Alzheimer apare-cerem, seriam a causa da doença”, diz o neurologista. “Entretanto, ainda se discute a alteração inicial que

desencadeia todo o processo”, completa.É recente, no entanto, o fato de a medicina estudar

pessoas com alta taxa de beta-amilóide no cérebro, mas sem sintoma do Alzheimer, de olho em um tra-tamento eficaz. “temos dificuldade em encontrar um remédio contra o Alzheimer porque os modelos exis-tentes atualmente tratam doentes com comprometi-mento já avançado. Precisamos acionar pessoas que apresentem muita proteína beta-amilóide, com risco maior, mas muito antes de elas apresentarem sinto-

mas”, afirma o Dr. Eli.

Cérebro eláSTiCo

e não é só como uma de-fesa a um trauma que o cérebro se modifica. Uma

das descobertas mais promis-soras dos últimos tempos tal-vez seja a chamada neuroplas-ticidade, mudanças no cérebro ocorridas em resposta a novas experiências. os diferentes me-canismos de neuroplasticidade vão do crescimento de novas conexões até mesmo à criação de novos neurônios. Uma das experiências em que isso é evi-dente é a meditação, ou mind-fullness. “Por meio de estudos com ressonância magnética funcional, temos evidências de que a meditação muda a subs-tância branca do córtex cingu-lar anterior, região envolvida na regulação das emoções”, disse à LEVE Michael Posner, professor emérito de psicolo-gia da Universidade do oregon,

nos Estados Unidos. A substância branca é um con-junto de células que realiza diversas funções, como a nutrição dos neurônios.

Além disso, estudos já mostraram que a meditação pode intensificar a atividade das ondas theta, um tipo de pulsação elétrica associada ao estado de calma. Posner suspeita que o fluxo de ondas theta estimule a produção de células na substância branca. Na impos-sibilidade de examinar cérebros humanos vivos para comprovar a hipótese, seu grupo simulou a produção

para o cérebro ser estudado, precisamos

de mais recursos que avaliem o seu

funcionamento, e não

simplesmente sua anatomia”

“ o caminho das pedras da recuperação do aVC

No que diz respeito ao acidente vascular cerebral, hoje há medicamentos e técnicas avançadas de tratamento, fundamentais principalmente nas

primeiras horas depois do acidente. “Existem áreas do cérebro que chamamos de bastante eloquentes”, diz o Dr. Eli. “Quanto mais eloquente for uma área, mais chances tem o tecido prejudicado pelo AVC de se recuperar.” Isso porque, quando há um rompimento ou entupimento de uma veia do cérebro, como pode ser definido o AVC, a área que ficou sem sangue – e, portanto, sem oxigênio – “morre”. Além disso, a região em volta da lesão fica “atordoada”, como define o Dr. André sugawara, fisiatra da rede de reabilitação Lucy Montoro. “A partir daí, o próprio organismo começa a fazer a substituição da função exercida por aquela região para uma outra”, explica.

Uma das sequelas mais comuns do AVC é a perda dos movimentos de um ou mais membros. Nesse caso, a reabilitação consiste em “ensinar” o cérebro a fazer esses movimentos. A estudante Andressa soares de Carvalho sofreu um AVC no fim do ano passado, que prejudicou pernas e braços. Quem ensina seu cérebro a executar novamente os movimentos é o Lokomat, um robô sueco composto de duas pernas que são presas às do paciente, que fica vestido num colete para se manter ereto enquanto caminha por uma esteira rolante, diante de uma tela com um programa de realidade virtual que mostra um cenário a ser percorrido. “A grande vantagem é que a máquina também aprende, facilitando o movimento quando o paciente não dá conta e aumentando o grau de dificuldade conforme ele evolui”, diz sugawara.

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SORRISOPeça para a pessoa sorrir. se a boca entortar para um dos lados, pode ser um AVC.

ABRAÇOPeça para a pessoa levantar os braços. se ela tiver dificuldade em levantar um deles ou levantar os dois e um cair, pode ser um AVC.

MENSAGEMPeça para a pessoa repetir uma frase. se ela não conseguir compreender ou repetir, pode ser um AVC.

URGÊNCIAse a pessoa apresentar qualquer um dos sinais acima, chame imediatamente o sAMU (192).

Como identificar um possível aVCcOnheça O samu, série de prOcedimentOs simples em casO de suspeita de derrame

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dessas ondas em ratos de laboratório, ativando e de-sativando neurônios com uma frequência de luz igual à das ondas theta.

os ratos que receberam a luz por meia hora du-rante 20 dias – tempo que voluntários humanos meditaram em estudos anteriores – mostraram-se mais calmos em testes de comportamento: eles permaneceram em partes mais iluminadas de uma gaiola especial, enquanto os ratos que não passa-ram pela “meditação” sempre corriam para as som-bras. A ideia dos pesquisadores agora é analisar os cérebros para procurar mudanças físicas neles e, quem sabe, aproveitar esse mecanismo para de-senvolver tratamentos para ansiedade e outras de-sordens nervosas em pessoas que não conseguem meditar. “Nós já mostramos também que o treino em meditação pode reduzir o vício de tabaco, mes-mo em pessoas que não estão tentando diminuir o cigarro”, diz Posner.

Embora seu cérebro não tenha sido analisado em uma máquina, Bernardo Borges, designer e profes-sor de mindfullness, credita à prática uma grande mudança em sua vida. Em 2014, depois de uma crise profissional, Borges começou a praticar o mindfull-ness, técnica que ele define como a sabedoria orien-tal da meditação sem a conotação religiosa normal-mente atribuída a ela. “Eu não me atentava muito às coisas, não era presente ao que estava vivendo”, lembra. “Hoje tenho muito mais consciência sobre onde estou, faço as coisas com mais concentração”, conta. Ele acrescenta que a transformação é sutil, até difícil de descrever. “Você não vai virar uma pessoa perfeita, mas terá mais clareza mental.”

outro estudo que mostra os benefícios da medi-tação pode ser visto no documentário free the Mind,

de 2012, em que o psicólogo richard Davidson, fun-dador do Center for Healthy Minds da Universidade de Wisconsin-Madison, mostra a melhora de vida em veteranos de guerra com estresse pós-traumático e em crianças com déficit de atenção. Davidson é es-pecialista no assunto e parceiro do Dalai Lama, que apoia pesquisas sobre os efeitos da prática.

Uma boa ilustração de como o centro de comando do nosso corpo é desconhecido se dá nos dados sobre a relação entre o número de neurônios e o tamanho do cérebro. Assim como o mito de que só usamos 10% do cérebro – sim, isso é lenda, usamos 100% –, ainda se lê em livros escolares ou mesmo na introdução de artigos científicos que o cérebro humano tem 100 bi-lhões de neurônios, e que, quanto maior o órgão – o nosso seria desproporcionalmente grande –, maior a quantidade de neurônios.

Em 2003, a neurocientista suzana Herculano-Houzel, então professora da Universidade federal do rio de Janeiro e intrigada por não encontrar a fonte dessa informação, resolveu ela mesma contar o número de neurônios não só do cérebro humano como de outros mamíferos. realizou um procedi-mento simples: dissolveu cérebros e contou o núme-ro de núcleos que ficavam suspensos na sopa resul-tante. fez o mesmo com o cérebro de vários animais, de ratos a elefantes. Ela viu o que nenhum cientista tinha se proposto a procurar ainda: o cérebro huma-no tem 86 bilhões de neurônios enquanto o do ele-fante (que, segundo o mito, deveria ter muito mais) tem meros 6 bilhões. Como isso se reflete em trata-mentos para doenças ou desenvolvimento cerebral ainda é difícil prever, mas, certamente, avançar no conhecimento é um primeiro passo para desvendar os então obscuros caminhos do cérebro.

doenças neurológicas x psíquicas

O Alzheimer, o AVC e a esclerose são exemplos de doenças que extrapolam o espectro físico, comprometendo a qualidade de vida

emocional, uma vez que têm o poder de modificar o estado de humor do doente. Isso ocorre porque as lesões cerebrais também interferem, de fato, na parte psíquica. Há estudos pautados em exames de ressonância mostrando que, quando lesadas, algumas

áreas do cérebro geram certos comportamentos, como a depressão, por exemplo. “Modificações cerebrais fazem com que uma pessoa apresente certas sequelas emocionais. Determinados comportamentos, como depressão, ansiedade, choro repentino, podem ocorrer, não apenas pela mudança de uma rotina de vida, mas também por lesões no cérebro”, explica o Dr. Eli Evaristo, do Hospital Alemão oswaldo Cruz.

MindfullneSSo designer Bernardo Borges credita à prática da meditação uma grande mudança em sua vida

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determinados comportamentos, como depressão, ansiedade, choro repentino, podem ocorrer também por lesões no cérebro”

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Travessias

Belas, impressionantes ou históricas, quatro pontes pelo mundo onde o melhor passeio é atravessá-las

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inesquecíveis

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Por dunia schneider

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Ao chegar em Praga, você provavelmente vai olhar para o céu. Afinal, uma das mais belas cidades do Leste Europeu, tombada pela Unesco,

é conhecida por suas torres medievais que perfuram o horizonte. Mas é cruzando as águas que muito da capital tcheca se revela: são mais de 300 pontes que ajudam a desenhar a paisagem local característica, além de, claro, contar histórias. A mais antiga delas é a Charles Bridge (ou Ponte Carlos), que passa sobre o rio Vltava e conecta a Cidade Velha ao Bairro Pequeno. reservada hoje somente para pedestres, foi construída

charlesPraga, República Tcheca

em 1357 por ordem do rei Charles IV (daí veio o nome) com blocos de arenito e cimento. Sua estrutura gótica de 520 metros de comprimento, apoiada em 16 arcos, reserva muitas surpresas, mesmo antes de o visitante cruzá-la. o Lennon Wall, muro coberto por grafites criado nos anos 1980, como símbolo da liberdade de expressão, pode ser visto de longe. Já na entrada, a recepção é por conta de esculturas barrocas de santos católicos – espalhadas também por toda a ponte. Do outro lado, duas torres datadas dos séculos 12 e 15 oferecem vista panorâmica da cidade. Mas é no meio da Charles que pintores, artistas de rua, vendedores e músicos se aglomeram, enquanto os visitantes se acomodam na beirada para fotografar o rio. o melhor passeio, no entanto, é logo cedo, para ver o sol nascer. Nessa hora, a vista é deslumbrante.

Se você quiser ver de perto o que a engenharia moderna é capaz de criar, vá até Singapura e atravesse a Henderson Waves, a ponte mais

elevada do país. Com 36 metros de altura, 274 de comprimento e uma forma sinuosa que imita o movimento de uma onda (por isso o nome), a ponte parece até uma ilusão de ótica. Há quem compare seu formato ao de uma serpente, já que ela emerge da selva. Feita com madeira e aço, foi inaugurada em 2008 na Southern ridges, trilha que une os principais parques da área, e termina na Avenida Henderson. Sua estrutura exótica é formada por sete volumes ondulados, que funcionam como salões de observação. Dá para sentar ali e contemplar por horas a paisagem composta pela mata e pelo mar ao fundo. Dica: experimente cruzar a Henderson Waves à noite, quando a iluminação com lâmpadas de LED define as ripas de madeira e dá um tom dourado metalizado à construção.

Henderson WavesSingapura

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Florença tem cerca de 360 mil moradores, mas sua famosa Ponte Vecchio (em português, Ponte Velha)

é atravessada por cerca de 16 milhões de visitantes por ano. Com mais de 600 anos de existência, a Vecchio segue unindo as duas margens do não menos icônico rio Arno como cartão-postal definitivo de Florença. Com seus três arcos medievais, oferece ainda uma das vistas mais lindas da cidade. Construída na roma Antiga, a estrutura, originalmente de madeira, funcionava como base de sustentação de pequenas casas. Foi destruída por uma enchente em 1333 e reconstruída em pedra em 1345. Dali em diante, se manteve intacta, sobrevivendo inclusive aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial – a única da cidade, aliás. Ao longo da Idade Média, foi ocupada por peixeiros e açougueiros e, no século 16, suas lojas passaram a ser geridas por famílias de ourives, que lá permanecem até hoje. ou seja, passeio que ainda pode ser combinado a boas compras.

vecchioFlorença, Itália

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Na região de Sanjiang, na China, você também pode conhecer uma bela ponte em estilo medieval, mas com um projeto bem mais atual e complexo.

Chamada de Chengyang (que pode ser traduzida para “ponte do vento e da chuva”), a construção, inaugurada em 1912, tem arquitetura herdada da etnia Dong, que há milênios se dedica a construir travessias cobertas na China. Sendo assim, ao cruzar o rio Linxi, o viajante pode notar que está passando, na realidade, por dentro de um pavilhão. Feita de pedra e madeira, sem usar pneus e rebites, a Chengyang conta, ainda, com três andares, 19 varandas, que funcionam como mirantes, e um típico telhado em estilo chinês. o que ver de lá? Camponeses trabalhando nos arredores e árvores de chá no topo das montanhas. E pode atravessar sem medo do trânsito chinês: para preservar sua estrutura, assim como em outras pontes históricas, o tráfego de carros é proibido.

chengyangSanjiang, China

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Conversa

LENDA VIVA Próximo de comPletar 80 anos,

o ícone da bossa nova roberto menescal conta como cultivar grandes Paixões o mantém saudável, ativo e feliz

Por AlAnA DellA ninA FoToS DARYAn DORnelleS

m meio a uma área verde em um condomínio no recreio, bairro do rio de Janeiro, a casa de roberto Menescal é um museu de relíquias de um dos movimentos musicais mais emblemáticos do Brasil: a bossa nova. Prêmios, fotos, dis-cos e instrumentos contam boa parte dos quase 80 anos do com-positor e produtor musical que foi

precursor do gênero. Amigo e parceiro de trabalho de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Marcos Valle, João Donato, João Gilberto, Nara Leão, Elis regina e ou-tros nomes memoráveis, roberto coleciona, ainda, boas histórias para contar. Do lado de fora, outra pai-xão, menos conhecida do público: um grande quintal coberto por cerca de 30 mil bromélias.

Mas não é só de memória que o músico vive. “Eu trabalho o dia inteiro, queria até trabalhar um pou-quinho menos”, diz roberto, que, atualmente, se divide entre diversos projetos: shows no Brasil e no mundo, e parcerias com músicos brasileiros da nova e da velha guardas, como Fernanda Takai, Toquinho e Marcos Valle, além de artistas internacionais, como Andy Summers, guitarrista do The Police. Menescal também está gravando um especial para o Canal Bra-sil, no qual vários artistas interpretam suas músicas, e ainda segue produzindo novos discos. “Tenho que estar sempre ligado, cada dia é uma novidade. Isso é uma forma boa de viver também, fazer as coisas que você gosta, mas, sempre que puder, dar uma mexidi-

nha, sabe? Não se aquietar muito, não”, aconselha.À reportagem de LEVE, Menescal fala sobre os se-

gredos da sua longevidade, histórias da era de ouro da bossa nova, sua amizade com Tom Jobim e a paixão de mais de 30 anos pelas bromélias. Confira a seguir.

Você vai completar 80 anos em outubro. Como você se relaciona com essa fase da vida? olha, está bom demais. Poucas vezes esteve tão gostoso como agora. Acho que a gente vai ganhando uma paz, uma tranquilidade que não tinha, sabe? Antes, tudo era es-tresse, tudo era problema. De repente, essas coisas deixam de ser importantes. Eu estou achando tudo óti-mo, fácil, a vida correndo sem grandes complicações. Quais são seus segredos para se manter assim? Você acha que está no corpo, na cabeça ou nas duas coisas? Acho que está principalmente na cabe-ça. É engraçado porque venho de uma família toda pessimista. Sou do Espírito Santo e, quando ia visi-tá-los em Vitória, perguntava como eles estavam e ninguém nunca estava muito bem (risos). Aquilo me deixava preocupado, tinha medo de ficar daquele jei-to. Aí, quando tinha uns 17 anos, comecei a refletir sobre isso, que as coisas à minha volta me puxavam para trás. Era a família, era a música da época, o sam-ba-canção, que só trazia letras tristes. E isso me im-pulsionou a buscar coisas novas, positivas, inclusive outros tipos de música. E, como não existiam muitos, eu mesmo comecei a fazer (risos). Mas é um treino diário. o mundo, a vida, traz sempre coisas que vão te

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Conversa

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Tom [Jobim] me perguntou: ‘você não quer ser músico?’;

eu: ‘quero’. ele respondeu:

‘então larga essa coisa

toda e vai ser músico, cara’. Aí eu larguei e fui”

puxar para trás, é você quem tem que vencer isso. Há uns bons anos, eu acordo, me olho no espelho, todo amarrotado mesmo, e decido ter um dia bom. Hoje, escolho viver principalmente as coisas boas, mesmo neste mundo difícil. Você é um ícone da bossa nova e trabalhou com praticamente todos os artistas do gênero. Como foi viver essa época? Você imagina eu, garoto, estar junto de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra, Nara Leão… As experiências eram diárias, né? E mes-mo que eu fosse bastante diferente deles em algumas coisas, pensava “posso não concordar com essa vida que Tom e Vinicius levam, mas o que eles produzem é uma loucura”. Então, as experiências com eles foram fantásticas, mas, ao mesmo tempo, vi que não era o que eu queria para a minha vida. E toda aquela tur-ma partiu cedo, com 60 e poucos anos. Devem estar lá em cima, fazendo uma farra danada. Mas eu estou aqui, com quase 80, ou, como gosto de dizer, com 79,99, mas estou firme, produzindo. E acho que vou ficar bastante tempo assim ainda.

Desde aqueles tempos, então, você já era cons-ciente sobre a sua saúde? Eu fui o primeiro a parar de beber. Eles cultuavam aqueles encontros nos bares e a bebida era permanente ali. Compunham bebendo, conversavam bebendo, e eu percebi que não devia fa-zer isso. Pelo menos, meu organismo me dizia isso. E sempre fui um cara muito esportista; já aquela turma não, ninguém fazia nada. Esporte, como dizia Vinicius, era levantar copo. Então, fui cuidando da saúde e isso me manteve muito bem. Hoje, não faço ginástica pro-priamente dita, mas vou para o meu jardim todo dia, às 7h da manhã, cuidar das minhas plantas. E cuidar não é só molhar, não. Pego vaso, saco de terra, levo para lá e para cá, o que é ótimo, principalmente em termos de elasticidade. ou seja, me exercito o tempo todo. E isso me mantém saudável, sem dúvida. Eu falei que vem tudo da cabeça, mas vem do físico também, claro. Você precisa estar com o físico bom. Não consi-go tirar a barriga, mas o resto está bem. e, mesmo com um estilo de vida diferente, sua carreira teve momentos bem marcantes com essa turma, certo? Dá para destacar algum? olha, foram vários. o primeiro é o meu encontro com a Sylvinha Telles, cantora que eu admirava muito e partiu cedo

em um acidente de carro. Eu tinha 17 anos e já toca-va violão. Ia toda quarta-feira na matinê de uma peça dela, ali em Copacabana, e ela já me reconhecia na plateia. Um dia, fez um sinal para mim com a cabeça e fui falar com ela depois do show. Ela perguntou “cara, o que é que você faz aqui toda semana?” (risos). Eu contei que estava começando a tocar violão e era fã dela e do marido dela [o violinista Candinho]. Aí ela me convidou para ir à casa dela para tocarmos juntos. Pô, era tudo o que eu queria! Ficamos amigos e a Sylvinha acabou me chamando para fazer uma turnê com ela pelo Norte e Nordeste do país. Ela estava grávida, en-tão tivemos esse tempo para ensaiar antes de sair em turnê. Foi demais. Quando voltamos, ela me mandou ir estudar música (risos) e me colocou com o professor Moacir Santos, que era um ícone. Isso foi uma coisa muito marcante na minha vida, estudar com um cara que eu ouvia falar e achava que nunca ia chegar perto.

e sua amizade com Tom Jobim? Ah, foi outro so-nho realizado. Tom estava no auge naquela época; aonde ele ia, eu ia atrás. Aí um dia, por volta de 1957, ele bateu na porta da minha academia de violão – que, na verdade, era um apartamento onde eu e Carlos Lyra dávamos aulas – querendo gravar a trilha do filme orfeu do Carnaval. Eu atendi e ele perguntou “você está ocupado aí?”. Eu estava dando uma aula, mas falei que não (risos). Dispensei a aluna e fui com ele. Foi demais aquilo. Gravei a noite inteira com Tom Jobim e ainda recebi cachê! Depois fomos jantar e ele perguntou o que eu andava fazendo da vida. Eu disse que estava estudando para prestar vestibular. E ele: “mas você não quer ser músico?”; eu: “quero”. Ele respondeu: “então larga essa coisa toda e vai ser músico, cara”. Aí eu larguei e fui (risos). Depois dis-so, em 1962, veio o convite para fazermos o concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York. Foi histórico. Esse talvez tenha sido o momento mais marcante da minha vida. Sobre o Carnegie Hall, alguns dos músicos que es-tiveram com você, como o próprio Tom Jobim e o Sérgio Mendes, optaram por viver nos eUA e ou-tros lugares fora do Brasil, mas você decidiu ficar no Rio. Por que essa escolha? Eles foram muito re-quisitados, nossa música estava estourando, ganhan-do o resto do mundo. Eu voltei órfão. Mas estava de casamento marcado. Casei e fui passar a lua-de-mel

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BAú De BOAS MeMóRiAS1. roberto Menescal com Agostinho dos Santos, Normando Santos e otávio Bailly embarcando para Nova York, rumo ao show no Carnegie Hall 2. Entre ronaldo Bôscoli e Elis regi-na 3. Com Sylvinha Telles, Tom Jobim e Marcos Valle4. Com Leila Pinheiro5. Com Andy Summers

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em Cabo Frio. Decidimos ficar por lá. Só que depois do verão, que foi ótimo, chegou o frio e acabou a coisa de viver como pescador em Cabo Frio (risos). Voltei para o rio, a bossa nova estava fervendo por aqui. Fiz um show com Vinicius e Caymmi em um lugar chamado Zum Zum, em Copacabana, durante dez meses. En-tão, era um campo muito fértil, tinha bastante traba-lho. Claro, o clima daqui ajuda também, as pessoas… Da turma toda, eu fui o único que ficou no Brasil. Sou muito apegado a isto aqui. Além de você, outros artistas dessa gera-ção, como Marcos Valle e João Donato, pare-cem estar saudáveis e ativos. Você acredita que a música é esse componente especial em comum que mantém o espírito jovem e a saú-de em dia? Eu acho. Pelo menos a música como a gente faz. Do nosso jeito, no nosso ritmo. Tem gente que faz 30 e poucos shows por mês, três por dia… Acho que eu não aguentaria. Fisicamen-te e mentalmente também. Você não tem chan-ce de viver outras coisas nesse ritmo, sabe? Se você olhar esses artistas ou revisitar a carreira deles, vai ver que param cedo porque não aguen-tam. o cara com 40 anos fala “não aguento mais isso, não quero mais tirar selfie com todo mun-do” (risos). Nós fazemos música de um jeito mais tranquilo, sabe? A gente se visita, conversa, toca junto. Todo dia é uma emoção nova, e não a velha emoção de sempre.

Você é um respeitável colecionador de bromélias, mas, nos anos 1970, cuidava de orquídeas. Como foi essa mudança? Eu sempre fui ligado à natureza, convivendo com ela. Desde pequeno, adorava plan-tar alguma coisa. Comecei a lidar com orquídeas e fiquei fascinado. Comprava os livros todos, ia para a mata à procura de espécies, aí, de vez em quando, via uma bromélia e pensava “bonitinha, vou pegar”. En-tão percebi que não tinha muito como eu me realizar com orquídeas, o pessoal já sabia tudo sobre elas. Eu queria mais, queria cooperar. As bromélias eram um terreno desconhecido. Fui estudando, me dedicando, descobri que a mata atlântica é a mata mais rica do mundo por causa das bromélias. o Burle Marx falava que a bromélia é um oceano ao contrário. o oceani-nho dela, interno, tem uma massa de vida fantástica. Principalmente nas épocas de seca, os animais vêm tomar água e se alimentar nelas. então os bichos que visitam seu jardim vêm por causa das bromélias? Não tenho dúvida. Aqui tem três cobras-cipó, lagarto, jacupemba e outros pássa-ros, sapinhos, miquinhos. Natural que eles venham, afi-nal, era a casa deles, a gente que invadiu. Pelo menos, a gente tem a chance de viver muito a natureza aqui.

Você parece ser muito apegado aos animais. Acha que a companhia deles também é importante para uma boa vida? Para a gente viver melhor e para eles também. Essa convivência nossa é lado a lado. Tenho

três cachorros. Já tive quatro, um partiu. Também te-nho três gatos que frequentam aqui o tempo todo, sete tartarugas, já tive 20 e poucas. Tive até uma cabra, a Violeta, xodó da família. Eu sempre quero bicho. Só não quero bicho preso. Acho assim: fica com quem quer fi-car com você. Quem não quer ficar, deixa ir embora. Voltando às bromélias. Você chegou a estudar ou ter algum tipo de formação específica ou é um autodidata? Sou mais autodidata, mas sempre procuro conhecimento. Às vezes até discutindo, por-que tenho um ponto de vista de campo um pouco diferente de alguns botânicos. Por exemplo, sou a favor do cruzamento, de experiências, testes. Acho que a gente colocou muita bromélia nova e bonita no mundo. Tenho minha experiência de vida com as plantas, que acho que é bem válida, afinal cultivo há 30 anos, mas não sou cientista nem quero os louros do mundo científico. Das 30 mil bromélias que você tem em casa, qual a mais rara ou mais especial? Não tem uma planta em si, mas a espécie. Foi o que me puxou das orquídeas para as bromélias. São muito especiais. E tem as histórias, claro. Lá por 1985, um amigo meu, bromelista danado, tinha uma planta belíssima. Aí pedi o broto para ele, queria de qualquer jeito. Ele me deu o telefone de outro amigo, o Elton Leme. Liguei no mesmo dia atrás da planta. o Elton falou para eu ir buscar as sementes em Campo Grande.

Cheguei lá, fui recebido por um garoto de 21 anos. Era o próprio. Achei esquisito um moço tão novo ter tanto conhecimento sobre bromélia, mas era isso mesmo, ele começou cedo. Somos grandes amigos até hoje. Aquilo foi muito especial. Tenho outro ami-go, de São Paulo, que tem estufas e cultiva as bro-mélias de forma profissional. Um dia, ele me ligou e disse: “roberto, tem uma planta aqui, daquela es-pécie que você gosta, e saiu totalmente diferente. Verde, vermelha, preta e amarela”. Peguei um avião e fui a São Paulo. E ele botou meu nome na planta: Aechmea Chantinii roberto Menescal.

Você é, então, um grande apaixonado por bromélias e música. Acredita que ter e manter essas paixões é uma forma de cultivar uma vida mais significa-tiva e melhor? Sim, melhor em qualquer idade. Acho que um hobby é vital. E gostar de mais de uma coisa também. o único cara que eu conheço que consegue viver muito bem fazendo uma coisa só é o Paulo Coe-lho. o Paulo é literatura, é o livro, é aquele negócio, só vive naquilo. Eu não sei viver assim. Às vezes, fico dias trancado no estúdio, nem sei se está chovendo ou não, chego em casa e preciso respirar. Aí eu vou, mesmo à noite, ando um pouco no meu jardim. E vou dormir quase em paz. Em paz total ninguém dorme, né? Eu só consigo viver bem se tiver pelo menos duas coisas. Eu tenho quatro. Tenho a família, os bichos, as bromélias e a música. Então, acho que sou muito feliz de ter tudo isso.

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Em Movimento

EQUILÍBRIOCENTRO DE

Por RodRigo CaRdoso

Líder de recLamações em consuLtórios de ortopedia, a coLuna vertebraL é, de fato, uma estrutura que merece atenção especiaL. conheça meLhor esse compLexo conjunto e entenda como exercitá-Lo de forma adequada

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organização Mundial da Saúde (oMS) não deixa dúvida do mal que, pro-vavelmente, se apresen-tará diante de todos nós em algum momento. Se-

gundo a agência, cerca de 80% da população teve ou terá algum problema de coluna na vida. Mais: nos últimos três meses, 25% dos adultos sofreram com dor nas costas e 10% estão com alguma quei-xa do tipo no instante em que você lê este texto. Emaranhado de ossos, músculos, ligamentos e ner-vos, a coluna vertebral, ainda que quase inquebran-tável, sofre frequentemente abalos em sua estrutu-ra pela maneira como a tratamos com o passar dos anos. Claro, há a questão intrínseca do tempo: ao envelhecermos, sofremos um processo degenera-tivo no disco intervertebral.

Ainda em condições normais, a dor na região lombar não precisa de quase nada para dar as caras. Um esforço além dos limites ou uma mal-dormida noite de sono pode ser suficiente para causar o incômodo. Aquele que prefere se man-ter longe desse infortúnio deve, portanto, ouvir o que preconiza a medicina: atenção com a postura corporal, fique longe do cigarro, jogue no time da dieta balanceada e pratique exercícios físicos de modo regular e sem exageros. “Uma musculatura tonificada abraça e estabiliza a coluna e poupa o risco de lesões nos discos e ligamentos”, afirma o médico ortopedista Dr. Marcelo risso, especialis-ta em coluna do Hospital Alemão oswaldo Cruz.

Coluna foRte e Resistente

o exercício abdominal é o maior parceiro da musculatura da coluna, já que o abdome funciona como um colete. rígido, contém

as vísceras, apoia o diafragma e dá suporte à região. “o abdominal é altamente recomendado para deixar a coluna saudável”, diz o ortopedis-ta. Na outra ponta, o agachamento, comum em salões de academias, é o grande vilão. “Provoca

muita lesão de disco na região lombar por cau-sa da alta pressão”, completa ele, que ressalta, ainda, que a realização de alongamentos antes de atividades físicas evita dores nas costas. É sau-dável esclarecer também, aproveitando o gancho, que é falacioso o “vou treinar apenas braço na academia hoje”. Um peso de dez quilos, por exem-plo, levantado pelo membro superior de uma pes-soa incide até 30 vezes mais na região inferior das costas. “A coluna nunca está isenta de parti-cipar do exercício”, ratifica risso.

A hidroginástica, a natação, a caminhada e o pilates são exercícios aeróbicos moderados bons para a coluna, uma vez que trabalham e melho-ram a estrutura de estabilização da musculatura dela e não lesam os discos. “A natação e o pilates trabalham a coluna e a musculatura dos membros superiores e inferiores de forma harmônica”, ex-plica o especialista. Quem tem lesão pregressa na coluna ou antecedente de dor crônica, recorren-te, em episódios distantes, deve passar por ava-liação médica antes da elaboração de um plano de exercício para se condicionar. E os que dese-jam se exercitar após um período inativo devem iniciar com atividades físicas sem impacto, com supervisão e aumento gradativo da intensidade. “A pessoa obesa, sedentária, há 20 anos sem se exercitar, que decide encarar o desafio de correr cinco, dez quilômetros sem preparo, por exemplo, vai machucar a coluna”, alerta o especialista. Em qualquer um dos casos, o indicado é ficar atento aos hábitos inadequados de vida. o cigarro, pou-ca gente sabe, aumenta o risco de se desenvolver hérnia de disco ao entupir os canais que permi-tem que o sangue chegue aos ossos. Sem receber nutrientes, o disco, portanto, sofre uma acelera-ção do processo degenerativo.

No geral, os cuidados com a coluna passam pela adoção de atitudes saudáveis para toda a vida, res-peitando sempre os limites do corpo. E, para con-trariar de vez a estatística da oMS, vale tornar ati-vidade corriqueira a atenção com a postura.

Em Movimento

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Por dentro da coluna vertebralO conjunto de vértebras, além de abrigar e proteger a medula, dá estrutura e sustentação à cabeça e ao tronco (tórax e abdome) e conecta os membros inferiores (bacia) aos membros superiores. Entenda o seu funcionamento

7 CeRviCais (logo abaixo do crânio, começo da coluna)

• Os discos C4C5, C5C6 e C6C7 são os que têm mais movimento na cervical. Neles, há maior incidência de hérnia• Cervicais altas (C1 e C2) não possuem disco entre elas. Metade do movimento cervical está nas duas primeiras vértebras e o restante, dividido nas outras cinco • Têm grande movimento, sendo responsáveis pela rotação, flexão e extensão da cabeça• Os movimentos de rotação, extensão e flexão entre as vértebras cervicais colaboram com o posicionamento da cabeça em relação ao ambiente. Conjugados, eles adaptam a cabeça para a leitura de livro, revista, celular e computador• São pontos de inserção do trapézio, músculo que sustenta a escápula e todo o peso dos membros superiores• Os esforços do membro superior são transferidos para a coluna a partir da vértebra cervical. Assim, é ela quem sofre com exercícios dos membros superiores

12 toRáCiCas (meio da coluna)

• Feita para trabalhar em cifose (curva com concavidade anterior)• Articulações na região diminuem a movimentação e a ocorrência de hérnia de disco, que são raras. Apenas 1% das doenças degenerativas de disco sintomáticas ocorre nessa região• Têm algum movimento de flexão e extensão, mas mais de rotação• São articuladas com duas costelas ou arcos costais

5 lombaRes (fim da coluna móvel)

• Feita para trabalhar em lordose• L4L5 e L5S1: região onde há mais impacto e movimento, são mais suscetíveis a lesões degenerativas, como hérnias de disco e artrose • Região que suporta mais impacto• Sofre mais com exercícios• Onde estão as maiores vértebras e os maiores discos• Vértebras com grande movimento de extensão e flexão• Musculatura lombar bem robusta

5 saCRais (vértebras fundidas)

• Unem a coluna e a bacia• Uma articulação (sacroilíaca) faz a junção do sacro com a bacia, foco também de dor, doenças e processo degenerativo• Região fixa da coluna e não móvel. Por isso, não desenvolve doenças degenerativas de disco• Ponto final da musculatura da coluna e o inicial do glúteo e quadril 4 CoCCígeas

• Vértebras rudimentares do ser humano, ponto de intersecção de ligamentos pélvicos• Em outras espécies de mamíferos, são os elementos que formam a cauda

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Raio X

TOLERâNCIA

ZEROPor que nosso corPo rejeita alguns tiPos de alimento? entenda o que há Por trás de alergias e intolerâncias alimentaresPor Dunia SchneiDer

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or de cabeça, inchaço, manchas pelo corpo, incômodos abdominais, proble-mas respiratórios… A rejeição a um determinado alimento pode provocar várias reações desagradáveis. Aler-

gias e intolerâncias alimentares são males que acometem muita gente e nem sempre é fácil iden-tificar de onde vêm. No entanto, mesmo comuns, os dois problemas são bastante confundidos. Por

isso, vale saber que, apesar de apresentarem sin-tomas parecidos, alergias e intolerâncias têm ori-gens diferentes, níveis de gravidade distintos e de-mandam cuidados específicos. Conversamos com o alergista Dr. Marcelo Vivo Aun e com a nutricio-nista Fernanda Maluhy, ambos do Hospital Alemão oswaldo Cruz, para ajudar você a diferenciar uma da outra e entender melhor causas e tratamentos. Confira a seguir.

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Raio X

O que é Basicamente, tudo acontece porque o organismo não responde de forma amigável a alguma substân-cia de um determinado alimento. Daí uma célula de defesa é enviada para barrá-la e um ataque alérgico começa. “É uma reação de hipersensibilidade carac-terizada por sintomas e sinais variados, desencade-ados pelo contato com algum alimento”, explica Dr. Marcelo. Sintomas esses que podem aparecer tanto na pele – em forma de coceira ou inchaço – como nos sistemas gastrointestinal e respiratório. Em ce-nários mais graves, a crise se manifesta seguida do choque anafilático, que pode ser letal. Por isso, é im-portante consultar um médico, principalmente por-que a tendência, segundo o alergista, é que o ataque continue ou até piore. “No caso de nova exposição ao alimento rejeitado, os sintomas serão reproduzi-dos, mas com risco de maior gravidade que na pri-meira vez”, diz Dr. Marcelo. cauSaQualquer alimento pode desencadear uma reação alérgica, mas, na prática, há alguns vilões mais co-muns. Leite de vaca, ovo, soja, trigo, peixe e crustá-ceos são os principais candidatos. E mais: é preciso tomar cuidado porque, muitas vezes, outros alimen-tos “da família” podem desencadear os mesmos sin-tomas. “o paciente alérgico ao camarão, por exem-plo, pode ter alergia a outros crustáceos. Da mesma forma, nada impede que os alérgicos ao amendoim apresentem reações ao comer soja, ervilha e outros grãos”, diz Fernanda. Entre os alimentos mais letais para os alérgicos estão os crustáceos, o leite de vaca e as nozes, campeões na causa de choque anafilático. DiagnóSticO“Estudos indicam que entre 50% e 70% dos pacien-tes com alergia alimentar apresentam algum históri-co familiar. Se o pai e a mãe são alérgicos, a probabili-dade de os filhos também serem é de 75%”, explica a

O que é A intolerância alimentar, que, segundo estimativas, atinge 70% das pessoas em algum momento da vida, não tem nada a ver com a alergia. Primeiro porque o sistema imune não é envolvido. Segundo porque uma intolerância, em geral, é causada por problemas enzi-máticos e nem sempre acontece de novo, já que de-pende da dose do alimento ingerido. “o problema tan-to pode persistir, com a ingestão elevada do alimento, como desaparecer, se o consumo for reduzido”, diz a nutricionista. os efeitos da intolerância geralmente não são imediatos, costumam demorar horas (ou dias) para se manifestar, e ficam quase sempre restritos ao aparelho digestivo – diarreia, gases, náusea, vômito etc. “Na deficiência da enzima lactase (que digere o açúcar), por exemplo, a lactose não é digerida, perma-necendo no intestino e causando desconforto abdomi-nal”, explica Dr. Marcelo. DiagnóSticOo diagnóstico pode ser realizado por meio da investi-gação de inúmeros sintomas clínicos, como distensão

INTOLERâNCIA ALIMENTAR

ALERGIA ALIMENTAR

abdominal, náuseas, dores de barriga, inflamações articulares, enxaqueca, entre outros. “Vai depen-der muito da história clínica minuciosa associada a dados dos exames físicos que podem ser comple-mentados por testes alérgicos”, conta Fernanda. Exames para detectar a sensibilidade alimentar – que incluem questionário feito com o paciente para identificar quais alimentos fazem mal – também são aplicados atualmente.

cauSaSegundo a nutricionista, qualquer tipo de alimento pode desencadear a intolerância. No entanto, exis-tem alguns, como o leite e o glúten, que já assumi-ram o posto dos maiores causadores. “No caso do leite, a intolerância é provocada pela falta da enzima lactase, responsável pela digestão do açúcar conti-do nele. Já no caso do glúten, proteína presente em pães, biscoitos, bolachas e outras massas à base de trigo, os sintomas ocorrem quando o organismo não consegue digeri-lo”, explica Fernanda. tratamentODiferente da alergia, a intolerância alimentar não é uma doença grave e nem letal. No entanto, o trata-mento mais eficaz ainda é o mesmo: banir da mesa ou reduzir o consumo do agente causador do pro-blema. “Fazendo isso, se tem a chance de amenizar os sintomas ou até acabar com eles”, indica a nutri-cionista. Mesmo que deixar de consumir certos ali-mentos exija algum sacrifício, pode ser uma solução melhor a curto e médio prazo. “Se a pessoa insistir na ingestão, o desconforto e a má qualidade de vida vão predominar, podendo causar algum tipo de infla-mação no organismo, que se manifesta de diversas maneiras, até mesmo na pele, em forma de manchas, acnes etc.”, diz Fernanda.

nutricionista. Além desse fator como forte indicador, o diagnóstico também vai depender de uma pesqui-sa minuciosa feita pelo médico e de exames físicos, como o de sangue e testes na pele. Se o resultado ain-da não for preciso, o passo seguinte é expor a pessoa novamente ao alimento rejeitado, procedimento que é realizado no hospital, com supervisão médica.

tratamentOEntre os tratamentos mais recentes está a imunotera-pia oral, que prevê o uso do extrato do alimento que provocou a alergia em doses crescentes para induzir uma tolerância. Ainda assim, o mais recomendado é a restrição alimentar. “o tratamento mais comum é a exclusão do alimento envolvido e de seus similares da dieta”, diz o alergista. Em alguns casos, como o do lei-te, por exemplo, é importante ficar atento para substi-tuir o que foi retirado por outro fornecedor do mesmo nutriente. Ler os rótulos dos produtos para identificar o que tem neles é outro cuidado essencial. Às vezes, o alimento que causa alergia está ali, mascarado. “Em todos os casos, é importante saber que, por envolver o sistema imune, que tem memória, a alergia alimen-tar é para sempre”, conclui Dr. Marcelo.

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TransbordandoO esgOtamentO mental causadO pelO excessO de afazeres atinge cada vez mais pessOas e pOde levar a patOlOgias cOmO síndrOme dO pânicO e síndrOme de burnOut; saiba cOmO evitar chegar à fadiga extrema e ter uma vida mais levePor Débora rubin

paulistana Carol Signorini tinha uma meta profissional definida: trabalhar como figurinista na maior emissora do país. Quando voltou de uma longa tem-porada em Paris, onde fez um curso na

área, o trabalho sonhado caiu em seu colo e, meses depois, lá estava ela em uma nova cidade, pronta para começar a tão esperada etapa de sua carrei-ra. Mal imaginava que, quatro meses depois, voltaria correndo para São Paulo – e com uma crise de pânico de brinde. A jornada exaustiva de trabalho, a busca

incessante por uma moradia e as longas distâncias percorridas até a emissora, somadas à solidão na cidade nova, transformaram o sonho em pesadelo. Carol estava à beira de um colapso. “No dia em que minha chefe gritou comigo sem nenhuma razão gra-ve, tive uma descarga de adrenalina tão forte que saí andando e até esqueci a bolsa em cima da mesa”, recorda, sete anos depois.

Carol ultrapassou todos os limites do seu corpo. “Todo mundo suporta cargas e tem a capacidade de dar algo a mais de si ao outro ou ao mundo. o que

a

descobertas

machuca é quando passa desse ponto: aí o corpo adoece”, explica o psicólogo Danilo Faleiros, do Hos-pital Alemão oswaldo Cruz. Isso acontece, segundo o especialista, tanto pela sobrecarga maior que uma pessoa coloca em seu dia a dia como pela durabi-lidade daquilo que a estressa – no caso de Carol, o principal fator era o excesso de trabalho.

Muita inforMação, pouca Diversão

As longas horas despendidas trabalhando já são, por si só, cada vez mais estressantes. o problema é que, junto do personagem profis-

sional, cada um vai somando outros papéis sociais, o que gera uma vida multitarefas. Quando vê, após o expediente, se passou o que restava do dia cumprin-do tarefas domésticas e burocracias ou resolvendo a vida dos filhos e outros parentes. “Até pouco tempo atrás, o dia se dividia perfeitamente em três partes: oito horas para dormir, oito para trabalhar, oito para fazer o que quisesse. o problema é que essas últimas oito horas estão sendo gastas em trabalho, trânsito, coisas da casa. E sempre com aquele sentimento de que não se fez tudo o que precisava”, diz Faleiros.

Para piorar o cenário, as redes sociais geram uma pressão pela vida feliz e perfeita, o que só rende mais ansiedade e depressão. “Vivemos em uma sociedade parametrizada demais, na qual perdemos a capacida-de de pensar no que é bom para nós mesmos, acha-mos que o bom é aquilo que o outro tem”, comenta o psicólogo. Além de provocar essa sensação de que a grama do vizinho é sempre mais verde, a vida digi-tal não nos deixa desconectar, parece que nunca nos desligamos daquilo completamente.

Não é à toa que os diagnósticos de ansiedade e depressão têm aumentado. Segundo relatório da or-ganização Mundial da Saúde, o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo – e a depressão é a se-gunda causa de afastamento do trabalho. No geral, a pessoa só se dá conta do problema quando já está

com alguma doença, sejam as psiquiátricas, como de-pressão, síndrome do pânico, síndrome de burnout (ver quadro), ansiedade generalizada ou até doenças físicas. A gerente administrativa Ana*, 40 anos, pas-sou uma semana internada por causa de um herpes zoster que estourou no olho – doença que gera dores intensas em nervos e que surge em quem teve cata-pora. Zoster é mais comum em idosos ou pacientes com baixa imunidade. Trabalhando cerca de 12 horas por dia e com dois filhos pequenos, Ana acumulou ta-refas, cansaço e deixou o corpo indefeso.

Tanto Carol como Ana ignoraram todos os es-tágios anteriores. Quando o corpo sente que está passando do ponto, se manifesta de alguma forma, seja com crises frequentes de enxaqueca, gastrite, intestino preso ou solto demais, distúrbios do sono, da alimentação, alergias e até sintomas mais graves, como uma úlcera. É nesse momento que se deve prestar atenção aos sinais e buscar ajuda profissio-nal. “Se a pessoa consegue identificar o que a está colocando nesse estado e mudar de direção, ótimo. Ela ataca as causas em vez de ter que, posterior-mente, tratar os sintomas”, diz Faleiros.

Ana tratou o zoster, a ansiedade e o medo de pas-sar por aquilo de novo. Como Carol, procurou abor-dagem psiquiátrica, psicoterapêutica e espiritual. Ca-rol, hoje com 35 anos e esperando a primeira filha, vê tudo o que passou como um grande aprendizado e sabe as ferramentas que tem para não reviver a ex-periência – por exemplo, mudou de profissão. Já Ana revisou a vida toda e mudou de rumo: pediu demissão e está de malas prontas para migrar para o interior de São Paulo com o marido e os dois filhos, em busca de todas as horas de lazer e ócio perdidas nos últimos anos. “A vida é maior que o trabalho. Tem tantas coi-sas que eu ainda quero aprender, fazer e descobrir. Mas é preciso ter tempo para tudo isso”, diz. “Parece uma mudança radical, mas radical é viver essa vida que vivi até agora.”

Entenda as diferenças• sínDroMe De burnout – quando há um esgotamento físico e mental que prejudica o sono, a concentração nas tarefas e a memória.• ansieDaDe generalizaDa – quando há preocupação e expectativa excessivas em relação a tudo. Também afeta sono e concentração.• sínDroMe Do pânico – extremo de uma ansiedade que seria normal. o corpo reage como se estivesse se defendendo de uma grande ameaça e coloca a pessoa o tempo todo em estado de alerta. Tremedeira, boca seca, falta de ar e taquicardia são algumas das reações. Muito comum a pessoa com pânico achar que está tendo um enfarte.

Quatro dicas para evitar o esgotamento1. reflita se você está indo além do que aguenta. Detecte o que lhe causa esgotamento e tente eliminar ou atenuar o que está ruim.2. reconecte-se com o que é importante para você. Mas lembre-se: tudo tem o lado bom e o ruim – ajuste as expectativas.3. Tenha um espaço de conversa, pode ser com amigos, família, apoio espiritual ou com um psicólogo profissional.4. Faça exercício físico: além de liberar endorfina, hormônio do bem-estar, é um tempo com você mesmo (importante: desligue o celular).

*Nome fictício. A entrevistada prefere não ser identificadaIlust

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Na Cozinha

Janaina Rueda, 42 anos, esbanjava empolgação ao receber a equipe da revista LEVE em seu apartamento localizado no Edifício Copan, no

centro de São Paulo. A renomada chef de cozinha – que já deu aulas de culinária para menores infratores e, atualmente, é voluntária em um projeto em que vem reformulando o cardápio de escolas estaduais de São Paulo – se disse honrada em alterar a The Modernist Galinhada, uma de suas receitas mais famosas, para deixá-la mais saudável. “Gostei demais das alterações propostas por você. Talvez eu até mude a minha re-

ceita original”, disse para o chef Alexandre Ribeiro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, responsável pelas substituições saudáveis. Alexandre, que a auxiliava no preparo, retribuiu: “A galinhada ficou bastante sabo-rosa mesmo servida sem a pele da galinha, que tem muito colesterol ruim”.

A The Modernist Galinhada é o prato mais ven-dido do Bar da Dona Onça, restaurante no pé do Co-pan que Janaina toca. Por mês, são servidas ali cerca de 3.500 galinhadas, a primeira receita a constar no cardápio do restaurante, que nasceu com a ideia de

RETIRAR A PELE DA GALINHA AO DESFIÁ-LA“A pele é rica em colesterol ruim (LDL), que aumenta as chances de problemas cardíacos. A indicação de consumo dessa gordura é de, no máximo, 2 gramas por dia, o que equivale à pele de uma coxa de frango. O consumo da coxa e sobrecoxa de frango com pele pode aumentar em até 35% a quantidade de calorias do prato.”

SUBSTITUIR O ARROZ AGULHINHA PELO VERMELHO“O arroz vermelho possui uma grande quantidade de fibras e de carboidratos complexos. As fibras ajudam a melhorar o trânsito intestinal e proporcionam uma absorção mais lenta das gorduras. Outros benefícios do arroz vermelho: contém antioxidantes e é rico em zinco e vitamina B6.”

TROCAR O SAL GROSSO PELO NEGRO“Contém até 20% menos sódio do que o sal refinado. É produzido na Índia e no Paquistão por meio da combinação de sal do Himalaia e de ervas e frutos da região. É rico em minerais como potássio e enxofre, além de apresentar alguns efeitos terapêuticos das três frutas tradicionais da medicina Ayurveda que o compõem: a Amla, a Baheda e a Harad.”

As dicas do chef Alexandre Ribeiro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

servir comida feita em panela de pressão, utensílio do qual Janaina é fã declarada. Ex-vendedora de sapato que atuou, ainda, como recepcionista, garota-propa-ganda, hostess e corretora de imóveis, ela admite que fazia tudo errado na cozinha até conhecer o chef Jef-ferson Rueda, hoje seu marido e sócio tanto no Bar da Dona Onça como n’A Casa do Porco. “Ele foi o meu mentor; só me profissionalizei quando o conheci”, afirma. A primeira lição que aprendeu com o pai de seus dois filhos, João e Joaquim, foi selar a carne e extrair cor e sabor, para poder fazer os caldos. “Des-de então, nunca mais usei nada industrializado.”

Inaugurado pela chef nove anos atrás, o Bar da Dona Onça é um dos restaurantes mais badalados de São Paulo, mesmo contra todos os prognósticos. “As pessoas diziam que eu seria louca em alugar um espa-ço no centro, em uma região com fama de perigosa”, lembra ela. Hoje, o restaurante recebe 11 mil pessoas por mês e se tornou referência em alta gastronomia. Ano que vem, terá sua história contada em detalhes em um livro que irá marcar os seus dez anos.

moderNae saudávelA chef do BAr dA donA onçA, JAnAinA ruedA, receBeu o chef do hospitAl Alemão oswAldo cruz, AlexAndre riBeiro, pArA trAnsformAr seu prAto mAis fAmoso, A the modernist GAlinhAdA

POR RODRIGO CARDOSO fOTOS MAGú MARIOTO

The modernist GalinhadaIngredientes

modo de preparo

Galinha caipira1,2kg de galinha caipira picada em pedaços120g de cebola picada50g de cenoura picada50g de salsão picado15g de ervas frescas picadas (alecrim e tomilho)30g de alho picado80ml de azeite40ml de azeite de urucum200ml de águaSal a gostoPimenta-do-reino a gosto

Decoração do pratoErvas frescas (cerefólio, cebolinha-francesa, poejo e salsinha), flores e farinha de mandioca flocada

Arroz tostado300g de arroz agulhinha50g de cebola picada20g de alho picadinho1 folha de louro80ml de azeite30ml de cachaça400g da galinha picada (do início da receita)1l do caldo de galinha (do início da receita)300g de abóbora30g de cebolinha-francesa (também conhecida como ciboulette)Sal a gosto

• Cortar a galinha caipira inteira em pedaços• Marinar a galinha por 24 horas com cenoura, cebola, salsão, sal grosso e alho• Em uma panela, separar a galinha da marinada e fazer dourar a carne com azeite• Quando acabar de dourar, adicionar mirepoix (salsão, cenoura etc.)• Adicionar um pouco de extrato de tomate caseiro• Misturar a galinha (com o mirepoix

e o extrato) com caldo de legumes• Cozinhar a galinha por 40 a 50 minutos, ou por 20 minutos na panela de pressão• Desfiar a galinha• fazer o arroz em outra panela com o caldo de legumes preservado• Numa panela, misturar uma cebola julienne com a galinha desfiada, o caldo e o arroz• Para finalizar, tomate casse, salsinha, cebolinha, azeite e quiabo

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Especial Saúde

na balançaObesidade e diabetes sãO duas cOndições assOciadas: quem tem prOpensãO genética para se tOrnar diabéticO aumenta muitO essas chances se estiver cOm uns bOns quilOs a mais

Por Maitê CasaCChi

excesso de peso não é, por si só, uma doença, mas pode tornar-se um agrava-dor – em especial quando a gordura se acumula ao redor da cintura. “Quem tem obesidade visceral, ou abdominal, é o candidato

ideal a ter alguma doença relacionada ao ga-nho de peso, como hipertensão, alteração no triglicérides ou diabetes tipo 2”, explica o Dr. ricardo Cohen, coordenador do Centro de obe-sidade e Diabetes do Hospital Alemão oswaldo Cruz. Isso porque a gordura visceral aumenta a concentração de glicemia, insulina, colesterol ruim e diversos outros marcadores hormonais e bioquímicos que levam às indesejáveis conse-quências da obesidade. Assim, se há histórico de diabetes tipo 2 na sua família e você ganha peso – em especial ao redor da cintura –, suas chances de se tornar também um diabético passam a ser bem maiores.

A relação ajuda a explicar por que as duas condições – a obesidade e o diabetes – têm crescido em paralelo, no Brasil e no mundo, e já são consideradas epidemias globais pela organização Mundial da Saúde. os mais re-centes dados nacionais, coletados pelo Mi-nistério da Saúde em 2016, revelam que 53% dos brasileiros estão acima do peso, 19% são obesos (ou um em cada cinco brasileiros), e que os diabéticos, que há dez anos eram 5,5% da população, hoje são 8,9%. A pes-quisa apontou, também, entre as causas, o consumo de alimentos ultraprocessados e o sedentarismo. “Um estilo de vida saudável,

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Não existe obeso saudável.

a pessoa com obesidade pode

não ter nenhuma doença hoje, mas sua saúde é uma bomba-relógio”

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Especial Saúde

com alimentação adequada e a prática de ativida-des físicas, pode retardar a evolução do diabetes até mesmo para quem tem propensão genética”, afirma o Dr. Cohen.

Remédios e ciRuRgia como aliados

Para pacientes já diabéticos, o tratamento in-clui diferentes classes de medicamentos, orais ou injetáveis, que melhoram a sensibili-

dade da célula à entrada de glicose, estimulam hor-mônios que “acordam” o pâncreas e aumentam a excreção de glicose pelo rim. Quando o tratamento clínico não dá conta de manter o diabetes sob con-trole, a cirurgia metabólica pode ser uma opção.

“A cirurgia metabólica é uma intervenção no tubo

digestivo que melhora o quadro de diabetes por dois motivos: pela perda de peso e por fatores que pro-vocam alterações hormonais. Estes últimos são a principal indicação de cirurgia para um diabético não controlado”, esclarece o especialista.

o Dr. Cohen explica que o índice de massa cor-poral (IMC) costumava ser o fator determinante na decisão de se fazer ou não uma cirurgia metabólica. “Hoje, a operação é uma opção que está na diretriz do tratamento da doença. No diabetes não controla-do, pode-se aliar cirurgia metabólica a medicamen-tos, com ótimos resultados, independentemente do peso do paciente.”

A realização do tratamento com uma equipe mul-tidisciplinar é fundamental nesse caso, e é isso o que

acontece no Centro de obesidade e Diabetes do Hos-pital Alemão oswaldo Cruz, que reúne endocrinolo-gistas, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas. “o diálogo entre os profissionais é constante e o paciente é tratado de forma completamente integrada”, confir-ma o coordenador do Centro.

o céRebRo obeso

cada vez mais, se relaciona diabetes e obesi-dade a depressão. Além das dificuldades que essas doenças trazem, que acabam refletin-

do na saúde emocional, há também uma explicação científica que embasa a conexão entre as patologias físicas e psicológicas. “A obesidade é uma inflama-ção crônica. ou seja, no sangue do obeso circulam

diversas substâncias que levam a mais fome, me-nos saciedade, menor gasto calórico e resistência à ação da insulina”, esclarece o cirurgião. os media-dores cerebrais – como, por exemplo, os que regu-lam o humor – não ficam de fora: a inflamação crô-nica os deixa descompassados. “obesos têm maior chance de desenvolver depressão e outras doenças psiquiátricas. É o chamado cérebro obeso.”

o Dr. Cohen explica que, quando o obeso ema-grece, essa inflamação melhora muito. Com a redu-ção das substâncias inflamatórias, ele passa a gastar mais calorias espontaneamente, tem mais sacieda-de e, também, maior regulação da química cerebral. “Mas é preciso sempre vigiar e estar atento a recaí-das, como uma doença crônica mesmo”, alerta.

Fique de olho

Índice de Massa Corporal

o diabetes, em geral, não apresenta sintomas (e, quando eles aparecem, a situação já está fora de controle). Se você tem casos da doença na família e/ou teve diabetes durante a gravidez, consulte seu médico, faça os exames de sangue capazes de detectar a doença (glicose em jejum e hemoglobina glicada) e redobre a atenção com a manutenção do peso, a alimentação e a prática de atividades físicas.

o IMC mostra se você está dentro da sua faixa ideal de peso.

iMC = peso/altura x altura

imc até 25 – saudávelde 25,1 a 29,9 – sobrepesode 30 a 34,9 – obesidade grau Ide 35 a 39,9 – obesidade grau IIacima de 40 – obesidade severa

Acesse e calcule o seu IMC: centrodeobesidadeediabetes.org.br/tudo-sobre-obesidade/calculadora-de-imc/

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o diabetes é uma doença silenciosa e progressiva”

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Destinos

a joia DaSiBÉRiaSeja Selado por uma camada de gelo eSpeSSa no

inverno ou revelando Sua natureza intocada no

verão, o lago Baikal aBriga algumaS daS paiSagenS

naturaiS maiS eSpetaculareS da rúSSia

Por Dunia SchneiDer

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Mergulho milagrosoreza a lenda que as águas do Baikal têm propriedades

rejuvenescedoras e que nadar por ali pode garantir um aumento da perspectiva de vida em cinco anos. Verdade ou não, os melhores lugares para mergulhar incluem as praias

de areia dourada ao longo da costa norte da ilha olkhon, onde a água do estreito de Maloye Morye é mais rasa e quente. Listvyanka também é um dos pontos mais populares para

explorar as profundezas do lago.

Destinos

rincipalmente para quem tem sangue tropical, é impossível pensar na Sibéria e não imaginar, de cara, o frio implacável. No entanto, na região do lago Baikal, a 4 mil quilômetros de Moscou, o inverno rigoroso vira detalhe. Nos meses mais

frios, sobretudo entre janeiro e abril, a superfície do lago congela totalmente, com camadas que podem chegar a um metro de espessura. Dali, os muitos tons de azul surgem escuros, transparentes, cintilantes, com manchas que parecem pinturas. Blocos enormes fazem as vezes de rochas de cristais, e esculturas na-turais com diferentes formatos se tornam atrações ao lado das fendas que atingem até 30 quilômetros de comprimento – em formação, emitem um barulho es-trondoso que pode ser ouvido por toda a região. Para completar o espetáculo, cavernas de gelo com estalac-tites e estalagmites, formadas a partir do gotejamento da água da chuva e da neve derretida, completam a beleza estranha e arrebatadora do lugar. Nos meses mais quentes, a paisagem muda completamente, mas também impressiona com novas cores e toda a sua rica biodiversidade à mostra: a área abriga 1.100 espé-cies de plantas e 1.550 de animais, com alguns exem-plares bem exóticos, como o nerpa, um tipo raro de foca nativo da região. Não por acaso, o Baikal ganhou o apelido de “Galápagos russa.”

Considerado o lago mais antigo do mundo, geolo-gicamente falando – sua formação data de 25 milhões de anos –, o Baikal tem uma superfície maior que a da Bélgica e contém 20% da reserva natural de água doce do mundo, o que lhe concede mais um título: o de lago mais profundo, atingindo 1.600 metros. Turis-tas, geralmente europeus e japoneses, visitam o lugar o ano inteiro. No inverno, dá para esquiar, pescar no gelo ou andar de trenó puxado por cães. No verão, os dias mais ensolarados permitem passear de bicicle-ta, acampar e até nadar em suas águas cristalinas. Mesmo com esse movimento todo, aliado às ameaças dos oleodutos e outras atividades humanas, esse lo-cal, que também é considerado Patrimônio Mundial da Unesco desde 1996, tem águas ainda considera-das puras e grande parte dele permanece isolada da degradação ambiental. Nesse lugar de superlativos, pincelado por tons de azul e branco impressionantes, o que não faltam são atrações. Descubra algumas de-las a seguir.

Parte e cultura em irkutsk

aventuras no lago

Retiro na ilha olkhon

Considerada a capital do leste da Sibéria, essa cidade é a porta de entrada para o Baikal, já que a maioria dos visitantes parte de trem de Moscou e chega ali pela ferrovia Transiberiana. Mas, como muitos deles vão direto para o povoado de Listvyanka (a 65 quilômetros, às margens do lago), acabam não se dando conta de que a cidade tem atrações bem interessantes. Uma delas é Taltsy, um dos cinco maiores museus arquitetônicos e étnicos russos a céu aberto, que abriga, em seus 67 hectares, uma coleção com mais de 40 monumentos do século 17 ao 20. outra é a rua do filósofo Karl Marx, a Dekabrskikh Sobíti, que reserva bons restaurantes. ou, ainda, a praça principal, que mantém uma estátua de Lênin, fundador da União Soviética.

Na primavera e no verão, o Baikal é o lugar ideal para ecoturismo e caminhadas, rafting, natação, canoagem e outros esportes do gênero. Mas, quando congela, é hora de passear por cima dele. Para os fãs do pedal, nos dias frios os passeios de bike são possíveis com pneus especiais. Quem busca uma experiência diferente pode, em Listvyanka, tentar os trenós puxados por cães. Do continente, dá para estender a programação e caminhar até a ilha olkhon. São 20 quilômetros, mas, como os moradores montam tendas ao longo do caminho, é possível fazer algumas paradas para se aquecer e descansar.

A 350 quilômetros dali fica a pacata ilha olkhon, a maior dentre as 27 que pontuam o lago. A paisagem dramática é um espetáculo à parte, já que mistura montanhas íngremes, praias, estepes, pinheiros e um

pequeno deserto. os seus cerca de 1,5 mil habitantes, a maioria de tribos nômades da região da Buryatia e siberianos típicos, também vivem em harmonia com a natureza, mantendo suas tradições. os

povos buriates, por exemplo, cultuam a pedra Shamanka, que fica na costa oeste da ilha, região considerada sagrada, por isso muito visitada

por turistas, pesquisadores e místicos. Khuzhir, o pequeno povoado no centro de olkhon, é um local bastante procurado tanto para se

hospedar como para alugar bicicletas, cavalos, participar de rituais xamânicos com os nativos ou contemplar a natureza. Fo

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Rota TransiberianaA rússia não tem ônibus de longas distâncias, mas possui um serviço de trem bastante abrangente. Com mais de 9 mil quilômetros de extensão, cruza sete fusos horários e sua travessia, sem paradas, pode ser feita em até oito dias de viagem. A aventura toda acontece nos trens que seguem a ferrovia Transiberiana. Criada no século 19, a famosa estrada de trilhos vai de Moscou a Vladivostok. Hoje, diversas agências oferecem o passeio, sendo a Transiberiana a atração principal, com suas muitas paisagens deslumbrantes. rumo ao Baikal, a recomendação é ir parando pelo caminho para conhecer lugares emblemáticos da rússia: você pode participar de uma visita guiada ao Kremlin de Kazan, explorar a bela Novosibirsk, no coração da Sibéria, e provar o tradicional pão e sal, além de, claro, ser recebido no trem com um tradicional banquete dos czares.

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EntEnda os bEnEfícios quE o vinho podE proporcionar à saúdE E saiba por quE é importantE não ultrapassar a dosE rEcomEndada da bEbida

Por Marcos Diego Nogueira

ilustração Marquetto

á uma crença que diz que uma taça de vinho por dia mantém o médico longe (do ditado adaptado em inglês: a glass of wine a day keeps the doctor

away). Para a alegria dos apreciadores da bebida, há alguma verdade em dizer que o vinho traz benefícios à saúde, mas é preciso tomar cuidado para não levar a expressão totalmente ao pé da letra e ignorar os seus efeitos negativos. segun-do o Dr. Gustavo arruda Braga, cardiolo-gista do Centro de obesidade e Diabetes do Hospital alemão oswaldo Cruz, o se-gredo está na moderação. “o que temos de evidência em estudos observacionais é que, desde que em doses moderadas, o vinho e outras bebidas alcoólicas trazem algum benefício em termos cardiovascu-lares. De maneira geral, podem aumen-tar o bom colesterol (HDl), em torno de 10% a 12% em média, e também reduzir discretamente o colesterol ruim (lDl)”, diz. No entanto, o especialista atenta para o fato de que, mesmo com os bene-fícios comprovados, estudos com pacien-tes ainda não demonstraram de forma satisfatória a relevância desses para a saúde. “É um assunto que desperta mui-ta controvérsia entre os médicos. o ideal é que seja tratado pelo médico com cada paciente, caso a caso”, diz, ressaltando a dificuldade de estabelecer o que seria uma dose segura. “a recomendação ge-ral mais aceita é de uma dose diária para a mulher e duas para o homem, mas é preciso analisar as condições de cada indivíduo.” importante observar ainda que, ultrapassada a dose recomendada, os riscos para a saúde aumentam bas-tante. “acima de três unidades por dia, já se observa aumento de pressão ar-terial, risco de aVC, arritmia cardíaca e outros problemas”, alerta o Dr. Gustavo. a seguir, o especialista esclarece outras dúvidas sobre a bebida.

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coMo o viNho atua Na circulação saNguíNea? alguns estudos sugerem que a bebida alcoólica em doses moderadas possui efeitos anti-inflamatórios e antitrombóticos, tornando o sangue um pouco mais fino e evitando a formação de trombo na circulação. o vinho, especificamente, possui flavonoides e resveratrol, substâncias que podem atuar aumentando os agentes antioxidantes, como o ácido nítrico, o que colabora com a circulação. Vale lembrar, no entanto, que esses benefícios ainda são especulativos, já que os estudos até hoje ainda não conseguiram comprová-los.

Por que a bochecha fica averMelhaDa? ao beber vinho, há uma dilatação dos vasos, principalmente dos pequenos, chamados de capilares, que causa esse rubor.

qual é a Dose Diária recoMeNDável? a quantidade que se supõe benéfica é de uma dose por dia, que equivale a 80ml de vinho. Vale ressaltar, no entanto, que o ideal é conversar sempre com o seu médico para estabelecer uma dose segura, de acordo com as características do paciente, predisposição genética e histórico de doenças graves, entre elas o alcoolismo, no qual não se deve, de forma alguma, ingerir bebida alcoólica.

Por que as Mulheres DeveM coNsuMir o viNho eM MeNor quaNtiDaDe? É tudo questão de peso e metabolismo. o metabolismo feminino é diferente do masculino, e as mulheres também possuem massa corporal distinta. sendo assim, a carga de álcool que elas podem tolerar, no geral, é menor.

o que Diz a MeDiciNa sobre o viNho coMo aliaDo Do coração? apesar dos estudos observacionais que apontam para os benefícios do vinho em doses moderadas para o coração, documentos da sociedade Europeia de Cardiologia e da associação americana de Cardiologia não endossam a recomendação populacional do consumo de álcool – incluindo o vinho – como estratégia cardioprotetora.

o que é o ParaDoxo fraNcês? É o resultado de estudos que indicam que a mortalidade cardiovascular na França é quase a metade da dos Estados unidos, acreditando-se que isso possa se dever, em parte, ao consumo moderado de vinho pelos franceses. ao mesmo tempo, esse estudo é contrariado pela informação de que, entre os países desenvolvidos, o Japão tem a menor mortalidade cardiovascular. lá, o consumo per capita de vinho é equivalente a um sexto do da França.

quais são os PriNciPais Malefícios Do viNho? acima de três doses por dia, já se observa aumento de pressão arterial, risco de aVC, arritmia cardíaca e insuficiência cardíaca. além da parte cardiovascular, álcool em excesso está ligado a câncer, doença hepática, renal, aumento do risco de traumas, violência, depressão e outros distúrbios físicos e mentais.

o viNho eNgorDa? Em doses pequenas, o vinho pode contribuir para reduzir a resistência a insulina ou aumentar a sua sensibilidade, o que é considerado bom. Já em doses maiores, pode engordar, já que a carga de glicose elevada pode alterar os índices glicêmicos e também os triglicerídeos.

o que Difere o viNho Das outras bebiDas No que Diz resPeito à saúDe? o diferencial do vinho sobre outras bebidas alcoólicas são os compostos polifenólicos (resveratrol e flavonoides), que também podem ser encontrados em outros alimentos: o resveratrol, em suco de uva; e o flavonoide, na cerveja escura, por exemplo.

viNho ajuDa a fortalecer os ossos? Não há comprovação sobre isso. Componentes presentes no vinho, como flavonoides, não têm impacto bem estabelecido sobre o metabolismo ósseo. Por outro lado, doses acima do recomendado têm efeito prejudicial, aumentando o risco de fratura, por exemplo.

Mentes Curiosas

uM brinde àModeração

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Experiências que Transformam

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a força quE lEva alémElEs supEraram condiçõEs físicas quE parEciam irrEvErsívEis E dEsafiaram os próprios limitEs, conquistando novos objEtivosPor Lígia Nogueira

Danilo Sverzut, 38 anosgerente de Project Management OfficeAtleta nas horas vagas, o executivo teve um diagnóstico tardio de hérnia inguinal, também conhecida como hérnia do desportista. Enfrentou a cirurgia e, em poucos meses, participou de uma maratona e de um Ironman

“eu já tinha participado de três maratonas e estava começando a me preparar para uma prova de

Ironman quando comecei a sentir uma dor incômoda. Iniciei, então, a fisioterapia, com exercícios e estímulos elétricos. Funcionou por um tempo, mas a intensidade da dor aumentou e passei a não conseguir correr mais tão bem, até praticamente parar. Busquei opiniões de diferentes profissionais e, depois de vários diagnósticos equivocados, fui atendido pelo Dr. Sergio roll, coordenador do Centro de Hérnia do Hospital Alemão oswaldo Cruz, e descobri que tinha hérnia inguinal. Para mim, até então, fazer cirurgia era um bicho de sete cabeças. Mas eu não podia ficar sem praticar meus esportes e estava determinado a participar do Ironman, por isso decidi seguir adiante. Fui operado em outubro de 2012, obedeci rigorosamente as recomendações médicas e, na primeira semana de janeiro de 2013, corri uma maratona. Continuei firme nos treinos e, em maio daquele ano, completei meu primeiro Ironman, em 12 horas e 25 minutos. Ainda me lembro nitidamente do momento em que coloquei minha filha nos ombros quando atravessei a linha de chegada. Meu caso comprova que não é preciso ter medo da cirurgia. Além de corrigir um problema grave, com disciplina e empenho, é possível superar as limitações do pós-operatório e voltar a ter uma vida normal – e até melhor que antes, como foi o meu caso.”

maria Eugênia Bispo, 31 anosjornalista

Depois de uma lesão medular grave em decorrência de uma queda, Maria Eugênia viu sua história transformada em tema de palestra no TEDxUFPE e, hoje, se prepara para ser a primeira pessoa com deficiência de Pernambuco a ter permissão para ingressar na Academia de Polícia Civil do estado

“eu tinha 27 anos e não me sentia bem no meu corpo. Queria superar meus limites na academia e

fiz um exercício que não deveria. Sofri uma queda e, com isso, tive uma fratura na vértebra L1. Minha medula foi reduzida a 50%. Fiquei paraplégica e, pela gravidade da lesão, os médicos foram unânimes em dizer que eu nunca mais andaria. Na primeira operação, foram colocados 12 parafusos, duas hastes e uma ponte de titânio ao redor da minha coluna. No dia seguinte, o cirurgião disse que

estava surpreso, porque meus ossos, de tão rígidos, haviam protegido a minha medula. Era uma esperança de voltar a andar, mas não antes de dois anos ou mais. Passei um mês no hospital. De volta para casa, o fisioterapeuta me ajudou a mentalizar o movimento que eu queria fazer. Depois de muito tentar, consegui fazer movimentos voluntários. Foi o suficiente para me dar forças para lutar e ressurgir determinada. Poucos meses depois, de tanto querer e tentar, consegui levantar da cadeira e dar os primeiros passos. Em seguida, veio a luta psicológica: eu tive de parar de tentar encontrar um sentido naquilo, eu tinha de me aceitar e ser feliz independentemente da minha condição. Um ano depois do acidente, acompanhada da família e dos amigos, comemorei com uma caminhada de um quilômetro. Hoje, faço uma reabilitação para movimentos finos com dois educadores físicos. Nunca me canso de tentar melhorar.”

NO DIGITALEste ícone indica que a matéria que você está lendo também tem vídeo na LEVE digital. Baixe já! o aplicativo gratuito está disponível para ioS e Android. Fo

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Experiências que Transformam

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lucas andrade, 19 anosatleta e secretário na Prefeitura de Ilhabela (SP)

rafa Borges, 30 anosfotógrafo e proprietário de uma marca de roupas para crossfit

Uma infecção nos ossos do quadril deixou rafa sem andar por meses. Mas a rotina de cuidados intensos, incluindo exercícios e força de vontade, fez com que o fotógrafo contrariasse as estimativas

“aos 6 anos de idade, tive uma osteomielite crônica no ílio pélvico esquerdo. o diagnóstico

foi demorado e a infecção necrosou todo o osso do quadril. Durante um bom período, fiquei paralítico; passei meses sem andar e perdi completamente a sensibilidade das pernas. Depois de um tempo, precisei fazer uma cirurgia para retirar o osso necrosado. Era um corte enorme e profundo, com cerca de 30 centímetros. Não colocaram nada no lugar. Eu teria que ficar engessado da cintura para baixo por seis meses, fazer fisioterapia o resto da vida e conviver com as sequelas da operação. Fui proibido de praticar qualquer esporte. Mas, contrariando todas as expectativas, algumas semanas após a operação, já estava engatinhando. Logo reaprendi a andar e ganhei força nos músculos das pernas. Passaram-se os anos, me formei em circo, acrobacia de solo e aéreo, e atualmente pratico crossfit e halterofilismo. Mesmo com um ‘buraco’ sem osso na minha região pélvica, consigo fazer tudo o que quero. Por exemplo, agachamentos com mais de 200 quilos.”

Complicações após uma cirurgia para retirada de um tumor ósseo em 2013 levaram o estudante a tomar a decisão mais importante de sua vida: amputar uma perna. Hoje, além de praticar esportes, ele é criador do Iron Leg, um canal multimídia para motivar pessoas

“em 2013, aos 15 anos, uma dor na tíbia esquerda me levou para o hospital. A causa? Um

tumor ósseo de 22 centímetros. Fiz 14 sessões de quimioterapia e uma cirurgia em que os médicos retiraram o osso afetado e colocaram uma prótese de titânio no lugar, mas uma infecção em um ponto mal cicatrizado fez com que eu retornasse ao hospital. A cada semana eu fazia uma cirurgia nova – foram

três ao todo. Em 2014, com algumas sessões de fisioterapia, pude voltar à rotina. Mas não tinha mobilidade no pé, pois havia perdido o tendão e muita musculatura. Eu adorava esportes e estava sempre em movimento; só que aquela perna impossibilitava qualquer atividade física. Dois anos se passaram e a infecção voltou. Foi quando decidi amputar. A superação começou uma semana após a cirurgia: o crossfit e as artes marciais me ajudaram a dar a volta por cima. Segui em frente e, atualmente, pratico jiu-jitsu e muay thai, pedalo cerca de 30 quilômetros por dia e remo de canoa havaiana. Hoje, posso dizer que vivo livre de qualquer medo ou anseio. Eu me aceito na condição que estou.”Fo

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Julio Muñoz Kampff é o novo presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Com formação acadêmica

em engenharia econômica na Alemanha, o execu-tivo consolidou uma ampla trajetória profissional no Grupo Henkel, onde concluiu sua atuação como presidente da Henkel Mercosul e vice-presiden-te de Adesivos Industriais para América Latina. Atualmente, Julio Muñoz Kampff é diretor-pre-sidente da Afinitica Ltda., vice-presidente da Sociedade Beneficente Alemã, diretor da Câ-mara de Comércio Brasil-Alemanha e diretor do Club Transatlântico.

Julio Muñoz Kampff direcionará a Instituição para o crescimento com foco na implementação

do planejamento estratégico, investindo no de-senvolvimento humano, otimizando a eficiência operacional, aprimorando o relacionamento com médicos e operadoras, fortalecendo a marca e a comunicação digital e assegurando a expansão e capilaridade nos pilares da Instituição: saúde pri-vada, responsabilidade social, assim como educa-ção e pesquisa.

A vice-presidência do Conselho Deliberativo da Instituição será liderada por Marcelo Lacerda, administrador de empresas, advogado e presi-dente do Conselho até 22 de maio de 2017. Até então, essa posição era exercida por Edgar Gar-bade, que continua atuando como membro do Conselho Deliberativo.

Por Dentro do HospitalPor Dentro do Hospital

LEVE 03 . JUN/AGO 2017

Novo presidente do Conselho DeliberativoColaboradores em foco

Hospital Alemão Oswaldo Cruz apresenta Julio Muñoz Kampff

Semana Bem-Estar valoriza a saúde e o reconhecimento dos profissionais do Hospital

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Entre os dias 29 e 31 de maio, cerca de 600 colaboradores do Hospital Alemão Oswal-do Cruz participaram da quarta edição

da Semana Bem-Estar. A celebração acontece como parte do Programa Bem-Estar, projeto co-mandado pelo CASSC (Centro de Atenção à Saú-de e Segurança do Colaborador) que tem como foco a qualidade de vida do colaborador.

“Criamos o evento, em 2014, com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da qualidade de vida, da promoção da saúde e da prevenção de doenças, que já são ações do Programa Bem-Estar, criado em 2011”, detalha Juliana Dogue Dicezare, coordenadora de Qua-lidade de Vida do CASSC.

Este ano, o tema foi “Reconhecer, sua atitude pode fazer a diferença”, e contou, entre diver-

sas atividades, com o workshop Reconhecendo o Valor do Outro, sobre a importância do feedback positivo na equipe profissional; com o banner A Árvore do Reconhecimento, no qual os colabo-radores foram convidados a deixar mensagens reconhecendo um colega de trabalho que faz a diferença no seu dia a dia; e com uma exposição de cartazes com depoimentos de sete profissio-nais do Hospital que mudaram algum hábito ou realizam alguma ação e, por conta disso, tiveram uma transformação positiva em suas vidas. Hou-ve, também, a entrega dos troféus do Programa Bem-Estar. Cleusa Ramos Enck, superintendente de Desenvolvimento Humano, destaca que esta Semana já faz parte do calendário anual e que objetiva destacar as melhores práticas em bem-estar e saúde integral.

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Parceria e conscientização

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz está marcando presença nas etapas de São Paulo do circuito Track&Field® Run Series com o Centro de Obesidade e Diabetes, que oferece um espa-ço exclusivo para os atletas inscritos realizarem avaliação de glicemia e composição corporal. A seleção se deu dentro do perfil de pessoas com 45 anos ou mais, de ambos os sexos – faixa com maior risco de desenvolvimento do diabetes.

Além das avaliações, o público conta com uma equi-pe de fisioterapeutas e preparadores físicos, que atua na recuperação muscular após a corrida. Nos aulões de ioga e funcional – com datas a serem definidas –, o Hospital levará uma equipe com endocrinologistas e nutricionistas para esclarecer e orientar as pessoas sobre obesidade e diabetes. O objetivo da ação é promover a vida saudável e incentivar a prática esportiva como meio de prevenção

e controle da obesidade e do diabetes.São dez etapas da corrida em São Paulo, que começa-

ram em abril deste ano e vão até dezembro. Saiba mais em www.tfrunseries.com.br.

Por Dentro do Hospital Por Dentro do Hospital

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“Uma maneira de valorizar a equipe.” Assim, Fátima Silvana Furtado Gero-lin, superintendente Assistencial do

Hospital Alemão Oswaldo Cruz, definiu a 41ª Se-mana de Enfermagem, que aconteceu entre 10 e 12 de maio.

Este ano, o tema central foi “Experiência do pa-ciente: transformando a estratégia em prática”. E, como todas as etapas do atendimento ao paciente devem ter o mesmo nível de excelência, todos os colaboradores do Hospital foram convidados a par-ticipar. “São temas mais conhecidos pela equipe de

enfermagem, mas que também beneficiam os de-mais”, explica Fátima.

A edição 2017 teve, ainda, uma atração diferen-te: um talk show com a participação de familiares de pacientes, que falaram sobre como viam o mo-delo de assistência do Hospital, quais expectativas tinham e como enxergavam os profissionais de saú-de após a experiência de ter um parente em uma internação longa.

Outro tema abordado foi a inovação: é possível aproveitar a tecnologia para levar mais informação e melhorar ainda mais a comunicação na saúde.

Equipe assistencial em destaqueA 41ª Semana de Enfermagem do Hospital Alemão Oswaldo Cruz teve foco no time assistencial e ressaltou a importância do atendimento de excelência e da clareza na comunicação

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Etapas paulistanas do circuito Track&Field® Run Series contam com apoio do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Tecnologia a favor da saúde

Para ampliar o conhecimento e aperfeiçoar novas soluções no setor hospitalar, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz partici-pou da 24ª Feira Hospitalar, que aconteceu em São Paulo. O Hospital atuou em dois estandes no evento. Um deles foi o do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde, o Proadi-SUS. Com a presença de seis hospitais considerados de excelência pelo Ministério da Saúde, o espaço permitiu aos visitantes conhecerem todos os projetos do Hospital contemplados nas categorias Ges-tão, Tecnologia, Inovação e Assistencial.

O outro espaço foi na Estação de Inovação Tecnológica,

que contou com a presença da Faculdade de Educação em Ciências da Saúde (FECS) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. De acordo com o superintendente de Educação e Ciências do Hospital, Prof. Dr. Jefferson Gomes Fernandes, essa foi uma oportunidade de mostrar ao público a importância das solu-ções tecnológicas aplicadas à medicina. “A tecnologia aliada à saúde é uma questão de necessidade para cuidados aos pacientes e no apoio aos médicos e profissionais da saúde”, diz. No estande Inovação Tecnológica, foram apresentados projetos de impressão 3D que ajudam médicos, por exemplo, a planejar e estudar procedimentos.

A atuação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz na 24ª Feira Hospitalar, em São Paulo

Page 34: LEVE · A famosa galinhada de Janaina Rueda, ... a adaptação ao frio é mais um fator a ser ajustado na sua rotina de treino. ... em esporte de alto rendimento pela

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Depois dos 50, é o corpo quem nos controla, e de forma cada vez mais caprichosa.

Para mim, que logo farei 57, essas mudanças são claras, mas é difícil explicá-las ao meu jovem personal trainer. Cheio de en-tusiasmo, ele traça metas ambiciosas de evolução física, que eu sou obrigado a frustrar regularmente. Uma hora, porque me dói a panturrilha, paro de correr. Na outra, porque me incomoda a lombar, cessam todos os exercícios, por vários dias.

Como Sísifo, aquele pobre-diabo da mitologia grega que ti-nha de empurrar a mesma pedra todos os dias para o topo da montanha, tento atingir inutilmente o auge da minha forma, e a cada momento, lesionado, volto para trás e recomeço.

Uma alma melancólica poderia se abater e maldizer a idade e o tempo. Eu não. Acho um privilégio me exercitar com regula-ridade, e me parece natural que meu corpo, quase sexagenário, faça exigências. Ao contrário do meu personal, que ainda não fez 30 anos, sei que a perfeição não existe em área alguma da vida. O que existe é o processo de tentar chegar a ela, e o prazer que isso nos causa. Então, sigo tentando me manter em forma. Se não puder correr, ando. Se andar me causar dor, eu sento e leio. É o que há para hoje, e está ótimo.

o passar dos 50 anos, a gente descobre que o corpo é rebelde. aos 30 e aos 40, tínhamos um controle quase arrogante sobre ele. as ressacas eram breves e as ladeiras pareciam curtas. A

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ivan martins Jornalista e escritor paulistano, além de corintiano quase sensato. Publicou dois livros, casou três vezes, tem dois filhos adultos e cria duas gatas adolescentes. Adora comer, beber e se exer-citar. Espera viver muito.

O CORPO MANDA

LEVE 03 . JUN/AGO 2017

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O balé faz a Sofia sonhar. E conhecer todos os limites

do seu corpo, do qual não pode descuidar. A Sofia

venceu um câncer de mama. No Centro de Oncologia

do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, encontrou o apoio

de grandes médicos e profissionais da saúde e foi

acolhida com dedicação e precisão. Hoje, ela aplaude

o grande time que esteve ao seu lado em uma batalha

tão importante. E é aplaudida de volta por todos nós.

A vocação da Sofia é a dança. A nossa é cuidar para queo corpo dela nunca saia do ritmo.

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