levantamento epidemiológico dos pacientes portadores de ... · compostos sulfurados voláteis...

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Carla Mendes de Magalhães Santos Luciana Vilela Alves de Castro Levantamento Epidemiológico dos Pacientes Portadores de Halitose da Clínica Oris em Brasília – DF. Brasília-DF, 2003 Curso de Especialização em Saúde Coletiva Associação Brasileira de Odontologia - Secção Distrito Federal

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Carla Mendes de Magalhães Santos

Luciana Vilela Alves de Castro

Levantamento Epidemiológico dos Pacientes Portadores de Halitose da Clínica Oris em

Brasília – DF.

Brasília-DF, 2003

Curso de Especialização em Saúde ColetivaAssociação Brasileira de Odontologia - Secção Distrito Federal

Carla Mendes de Magalhães Santos

Luciana Vilela Alves de Castro

Levantamento Epidemiológico dos Pacientes Portadores de Halitose da Clínica Oris em

Brasília – DF.

Brasília-DF, 2003

Curso de Especialização em Saúde ColetivaAssociação Brasileira de Odontologia - Secção Distrito Federal

ii

Carla Mendes de Magalhães Santos Luciana Vilela Alves de Castro

Levantamento Epidemiológico dos Pacientes Portadores de Halitose da Clínica Oris em Brasília – DF.

Monografia apresentada como

Requisito parcial para

obtenção de título de

especialista em saúde

coletiva.

Orientadoras Celi N.Vieira

Denise P. Falcão

Brasília-DF, 2003

Curso de Especialização em Saúde Coletiva

Associação Brasileira de Odontologia - Secção Distrito Federal

iii

AGRADECIMENTOS

A Ednaldo e Edson pelo apoio que nunca faltou, pela paciência, compreensão

e pelo amor.

A Celi e Denise, nossas orientadoras,

pelo constante incentivo, pelo apoio, atenção, boa vontade e amizade, conjunto

que tornou possível a construção deste trabalho.

À Deus, que iluminou os nossos passos, nos deu força nos momentos de

desânimo e nos guiou para que pudéssemos contribuir para melhorar a

qualidade de vida de vários irmãos.

DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho de pesquisa, a todas as pessoas que sofreram ou

sofrem alguma restrição psicossocial por possuírem ou acreditarem possuir

halitose.

iv

RESUMO

O levantamento epidemiológico realizado por este trabalho traçou o perfil

dos pacientes portadores de halitose atendidos pela Clínica Oris em Brasília-DF,

com base na análise dos dados relativos à faixa etária, ao gênero, ao tempo de

consciência da halitose, à alerta por pessoas íntimas, à alteração comportamental,

à procura por outros profissionais, à obstrução de vias aéreas superiores, ao

funcionamento intestinal, à ingestão diária de água, ao fluxo salivar estimulado por

minuto, ao uso de medicamentos xerogênicos, à presença de saburra lingual, à

presença de doença periodontal, e à halitometria, onde foi constatada a

multifatoriedade da halitose, a dificuldade do paciente em eleger o profissional

responsável para o diagnóstico e tratamento, o longo tempo de convívio com o

problema e as alterações psicossociais correlacionadas.

v

ÍNDICE

I – INTRODUÇÃO................................................................................................. 01 II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA II.1 – Conceitos.................................................................................................... 03 II.2 – Histórico...................................................................................................... 03 II.3 – Fundamentos Básicos da Halitose........................................................ 04 II.4 – Classificação da Halitose......................................................................... 08 II.5 – Prevalência ................................................................................................. 20 III – PROBLEMA................................................................................................... 21 IV – OBJETIVO .................................................................................................... 22 V – MATERIAIS E MÉTODO V.1 – Amostra...................................................................................................... 23 V.2 – Procedimento............................................................................................. 23 VI – RESULTADOS...............................................................................................25 VII – DISCUSSÃO.................................................................................................34 VIII – CONCLUSÃO ............................................................................................. 44 IX – REFERÊNCIAS............................................................................................. 45

vi

X – ANEXO ANEXO I – SIALOMETRIA NA CLÍNICA ORIS ................................................... 50 ANEXO II– HALITOMETRIA NA CLÍNICA ORIS ................................................ 51

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I – INTRODUÇÃO

TOMMASI (1977 apud SANTOS, 2002) afirmou que o hálito é o ar expirado

pelos pulmões, podendo ser eliminado tanto pela boca como pelas fossas nasais. O

hálito humano, sob condições normais, é inodoro ou levemente perceptível pelas

pessoas, mas, pode sofrer variações, tornando-se ofensivo ao olfato humano, o que

denomina-se, halitose.

A palavra Halitose é originária do latim (Halitus – ar expirado; Ose – alteração

patológica), mas VIEIRA & FALCÃO (2003) afirmam que não é uma doença, mas

uma manifestação de uma possível alteração patológica, de uma variação fisiológica

ou mesmo de um processo adaptativo do organismo.

De acordo com DE BOEVER (1995) e corroborado por ELI et al (2001) e

REISS & REISS (2000), a origem da halitose é multifatorial e, freqüentemente, está

associada a um somatório de fatores sistêmicos, psicogênicos e bucais. Com isso, a

interpretação clínica da halitose contribui para o diagnóstico e tratamento de

doenças subjacentes, como problemas renais, hepáticos, diabetes, entre outros.

Segundo VIEIRA & FALCÃO (2003), a halitose pode ser classificada em real

e imaginária. Na halitose real, ocorre a emanação de odorivetores ofensivos ao

olfato humano no fluxo expiratório, enquanto que na halitose imaginária, não há

emanação destes odorivetores, entretanto, existe uma alteração senso-perceptiva

gustativa e/ou olfativa que leva o indivíduo a acreditar que possui halitose.

A halitose altera drasticamente a vida de quem a possui, implicando intensas restrições sociais e emocionais. Surge, então, a necessidade do profissional da área odontológica, responsável pelo tratamento do portador da halitose, não apenas eliminá-la, mas também, promover a reintegração social deste indivíduo.

Segundo LOESCHE (1999), a American Dental Association (ADA) afirma que

41% dos dentistas americanos recebem por semana, seis ou mais pacientes

portadores de halitose crônica. Em um trabalho desenvolvido na Bélgica,

DELANGUE, et al (1999), verificaram que 87% das causas da halitose são de ordem

2

bucal. Esse trabalho confirma a necessidade do cirurgião-dentista estar preparado

para o diagnóstico e tratamento da halitose. Em contrapartida, sabe-se que tanto no

Brasil como em outros país esse tema é pouco elucidado nas Faculdades de

Odontologia.

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II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

II.1 – Conceitos

• Halitose: a palavra Halitose é originária do latim (Halitus - ar expirado;

Ose – alteração patológica), mas, VIEIRA & FALCÃO (2003), afirmaram

que não é uma doença, mas uma manifestação de uma possível alteração

patológica, de uma variação fisiológica ou mesmo de um processo

adaptativo do organismo.

• Odorivetores: são compostos de baixo peso molecular, que se dispersam

no ar e possuem a capacidade de sensibilizar o epitélio olfativo (VIEIRA &

FALCÃO, 2003).

II. 2 – Histórico

VIEIRA & FALCÃO (2002) relataram que a halitose foi estudada e descrita por

Howe, em 1874, passando a ser considerada como uma entidade clínica. Mas há

alguns relatos a respeito da halitose em obras literárias e achados bíblicos e, até

mesmo, menção ao uso de limpadores de língua pela civilização hindu em 5000 a.C.

ULIANA et al (2001) afirmaram que um dos pioneiros na pesquisa sobre

halitose foi o Dr. Joe Tonzetich (1924-2000), a quem se atribuiu-se os créditos pelos

primeiros estudos científicos buscando as causas da halitose. Nascido em 1924, na

Iugoslávia, Tonzetich graduou-se pela Universidade de British Columbia (UBC) e

completou o Ph.D em bioquímica pela Universidade de Cornell. Após trabalhar como

pesquisador nos laboratórios da Colgate, foi apontado em 1968 como professor

assistente na UBC, iniciando uma extensa carreira de pesquisas e publicações em

importantes periódicos da área. Foi ele quem inicialmente descreveu os vários fatos

clínicos relacionados com a halitose e iniciou pesquisas sobre os compostos

sulfurados voláteis (CSV).

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Uma das primeiras publicações brasileiras conhecidas data de 1962, numa

separata da revista da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas – APCD

(LASCALA, 1962).

O filósofo grego Plutarco (6-12 d.C.), em sua obra “Escrevendo sobre

moralidade”, menciona que Heron de Siracussa, ao ser informado pelo médico sobre

o hálito dele, dirigiu-se à mulher dizendo: “Por que não me advertiste que o meu

hálito a fere a cada vez que te beijo?” Ao que ela respondeu altivamente: “Sempre

pensei que o hálito de todos os homens tivesse esse terrível odor.” (ULIANA et al,

2001).

FALCÃO & VIEIRA (2003) relataram que em 370 a.C., Hipócrates, o “pai da

medicina”, foi o primeiro médico a basear seu trabalho na observação detalhada dos

pacientes, registrando toda a história clínica deles. Isso respalda a importância de

uma abordagem detalhada e abrangente durante a realização da anamnese, quando

se investiga a história pessoal do paciente e a história de saúde atual e pregressa.

II.3 – Fundamentos básicos da halitose

• Tipos de halitose (VIEIRA & FALCÃO, 2003)

- Real: caracteriza-se pela presença de odorivetores no fluxo expiratório,

ofensivos ao olfato humano. Clinicamente a presença deles é confirmada

pelos testes organolépticos e/ou por aparelhos portáteis que quantificam ou

detectam os compostos sulfurados voláteis presentes no ar bucal e/ou nasal.

- Imaginária: caracteriza-se pela ausência de odorivetores, ofensivos ao

olfato humano, no fluxo expiratório. É uma alteração senso-perceptiva,

decorrente de distúrbios que modificam a percepção gustativa (disgeusia)

e/ou olfativa (cacosmia) do paciente, fazendo que ele acredite ser portador de

halitose.

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• Tipos de pacientes

- Portador consciente de halitose;

- Portador alheio à existência do problema;

- Portador de uma suposta halitose;

• Tipos de odorivetores presentes na halitose

Para VIEIRA & FALCÃO, 2003:

- À base de enxofre – conhecidos como Compostos Sulfurados Voláteis

(CVS) – são os sulfidretos (SH2), as metilmercaptanas (CH3SH) e os

dimetilsulfetos [(CH3)2 S].

- À base dos produtos usuais da putrefação – conhecidos como Compostos

Orgânicos Voláteis (COV) – são a putrescina, cadaverina, fenóis, indol,

escatol, aminas, amônia e o hidrocarboneto metano.

- À base de essências derivadas da utilização de produtos aromáticos – são

determinados pelas substâncias aromáticas contidas no produto utilizado.

- À base de subprodutos metabólicos aromáticos – são derivados da

impossibilidade ou demora da absorção destes subprodutos durante o

metabolismo sistêmico. Os metabólicos de cadeias curtas, de baixo peso

molecular, volatilizam-se e são eliminados via pulmonar. São os derivados

metabólicos das proteínas (aminoácidos), lipídeos (ácidos graxos),

compostos nitrogenados (aminas, amônia, uréia) e outros.

Já TARZIA (2003) classifica os odorivetores em:

- Odorivetores originados da saburra e doença periodontal (Compostos

Sulfurados Voláteis): sulfidreto (SH2), metilmercaptana (CH # - SH) e

dimetilsulfeto ([CH3} 2 S).

- Odorivetores de origem putrefativa (Compostos Orgânicos Voláteis): fenol,

indol, escatol, putrescina, cadaverina, aminas metano.

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- Odorivetores de origem metabólica: amônia, uréia, outros compostos

nitrogenados, cetonas, cetoácidos, alimentos de odor carregado,

medicamentos de odor carregado, trimetilamina.

• Locais de formação

Bucal, sistêmico e/ou trato respiratório superior.

• Etiopatogenia das halitose

Segundo VIEIRA & FALCÃO (2002), são cinco os principais mecanismos de

formação da halitose.

- Halitose pelo uso de produtos aromáticos

Halitose causada pela ingestão de alimentos ou uso de medicamentos

capazes de produzirem odorivetores locais e/ou sistêmicos que serão eliminados

pelo ar expirado. Como, por exemplo, a alicina (alho), o enxofre (ovo), o eucaliptol

(medicamento), entre outros.

- Halitose causada por focos de necrose tecidual

Causada pela presença de foco de necrose tecidual asséptica ou

contaminada por microorganismos patogênicos.

TONZETICH (1964 apud SANTOS, 2002) afirma que na necrose tecidual

ocorre a liberação de aminoácidos na cavidade bucal que sofrerão descarboxilização

e serão reduzidos a compostos orgânicos voláteis, capazes de sensibilizar as células

olfatórias humanas (odorivetores), denominados em putrescina, cadaverina, indol e

escatol.

- Halitose por estagnação de matéria orgânica

Na halitose causada pela presença de matéria orgânica estagnada, as

proteínas presentes são formadas por aminoácidos ricos em enxofre.

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As fontes principais são as células epiteliais que se descamam

constantemente.

MORITA & WANG (2001) afirmam que neste mecanismo, os aminoácidos

(cistina, cisteína e metionina) sofrem redução ganhando moléculas de hidrogênio,

formando os sulfidretos, metilmercaptanas e dimetilsulfetos (compostos sulfurados

voláteis).

- Halitose por lentidão no metabolismo ou falência de um órgão

Na halitose causada por lentidão do metabolismo ou falência de um órgão, os

subprodutos metabólicos odoríferos são transportados pela circulação sangüínea,

podendo ser detectados no ar expirado.

Como, por exemplo, no caso de falência renal e/ou hepática em que são

liberados odores de amônia, uréia e outros compostos nitrogenados.

- Halitose por alteração dos padrões salivares:

São várias as situações clínicas que podem promover alteração nos padrões

salivares. Devem ser considerados:

✓ as patologias sistêmicas como o estresse, os processos alérgicos, a

Síndrome de Jogrem, as deficiências vitamínicas A e D, as doenças

degenerativas e obstrutivas das glândulas salivares, o uso abusivo de

drogas lícitas (cafeína, tabaco) e ilícitas (maconha, cocaína) de ação

adrenérgica;

✓ as alterações patológicas que promovam o desequilíbrio hídrico e

distúrbios hormonais;

✓ as situações clínicas que alteram os padrões salivares como o jejum, o

sono prolongado, as dietas pastosas ou semi-sólida, o uso de

medicamentos xerogênicos;

✓ desequilíbrio hídrico adaptativo (baixa ingestão de água e atividade física

intensa).

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A redução do fluxo salivar promove diminuição de quase todos os elementos

constituintes da saliva. Nesse caso, ocorrerá queda do íon bicarbonato com

conseqüente diminuição do efeito tampão da saliva que, associada a alteração dos

fatores antimicrobianos da saliva (Ig, lisosinas, peroxidase e outros) determina

considerável queda de defesa local.

A viscosidade salivar exacerbada aumenta a concentração de mucina,

favorecendo a fixação de matéria orgânica na cavidade bucal, bem como, a

putrefação dos próprios componentes da saliva. Esta degradação terá papel

contundente na alteração do odor bucal.

II.4 - Classificação da halitose segundo KATAYAMA & WECKX

Segundo KATAYAMA & WECKX (1996), pode-se classificar genericamente a

halitose em primária e secundária: a secundária se refere à halitose com origem na

boca ou vias aéreas superiores (VAS), enquanto que a primária se refere a halitose

exalada pelos pulmões.

Em casos de halitose secundária, de origem bucal, há uma decomposição de

matéria orgânica originária das células epiteliais descamadas, que ficam retidas na

parte posterior do dorso da língua por precipitação de mucina, por redução do fluxo

salivar, e/ou por desequilíbrio hídrico, sofrendo ação microbiana, alcalinizando o

meio bucal e favorecendo o crescimento de bactérias proteolíticas. A saliva normal

usualmente apresenta um pH de 6,5. O pH levemente ácido suprime o crescimento e

a proliferação de bactérias Gram-negativas e de bactérias anaeróbicas, dificultando

a ativação de enzimas necessárias para a putrefação de aminoácidos, cujos

produtos finais são malcheirosos por se tratarem de compostos contendo enxofre

reduzido – SH2 (VIEIRA & FALCÃO, 2002).

• Tipos de halitose primárias

As principais causa da halitose primária são:

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- Halitose por variações fisiológicas ou processos adaptativos

✓ Halitose por eliminação de substâncias odoríferas

✓ Alimento de odor carregado

Como o alho, a cebola, o enxofre, entre outros.

✓ Tabagismo:

O excesso de fumo não só pode causar hálito fétido, como também, a

formação de língua pilosa que retem restos alimentares.

Para TARZIA (2003), além do próprio odor característico, o fumo

aumenta a descamação da mucosa, propiciando a deposição de matéria orgânica

estagnada no dorso lingual, além de aumentar em cerca de 10 vezes a

predisposição à doença periodontal.

✓ Uso de medicamentos

Para TARZIA (2003), vários grupos de medicamentos têm efeitos

colaterais xerostômicos. Além dos medicamentos xerostômicos, outros

medicamentos também podem provocar mau hálito: os que provocam sangramento

gengival e os que apresentam odor forte ou que formam metabólicos com odor forte.

a) Efeitos colaterais xerostômicos: antiácidos, laxantes, anticonvulsivos, atropínicos,

hipotensores, soníferos hipnóticos, diuréticos, antialérgicos, antineoplásicos,

analgésicos, narcóticos, tranqüilizantes, sedativos, antiespasmódicos, antieméticos,

anoréxicos, descongestionantes, calmantes, antidepressivos, medicamentos usados

para o Mal de Parkinson, e a quimioterapia.

b) Efeitos colaterais que provocam sangramento gengival: antineoplásicos,

anticoagulantes, imunossupressores.

c) Medicamentos com odor forte ou que geram metabólicos com odor forte: vitamina

do Complexo B, Isordil.

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✓ Menstruação

O coágulo em decomposição em contato com a mucosa uterina, é

absorvido pela corrente sangüínea e os subprodutos voláteis aromáticos são

transportados para os pulmões onde poderão ser exalado (VIEIRA & FALCÃO,

2002).

✓ Halitose por baixa glicemia

Com a baixa de glicose no sangue, o organismo começa a mobilizar

moléculas de gordura, metabolizando triglicerídeos. Os ácidos graxos de cadeias

curtas, que possuem baixo peso molecular, sendo, portanto, mais voláteis serão

liberados como corpos cetônicos pelos pulmões, podendo causar hálito cetônico

(VIEIRA & FALCÃO, 2002).

Os sintomas da hipoglicemia são boca amarga, tremores, tonturas e

suor frio, desânimo e cansaço físico. As causas principais desses sintomas são o

jejum prolongado, o metabolismo de glicídeos prejudicados, as dietas pobres em

carboidratos, os exercícios físicos em excesso e estresse (VIEIRA & FALCÃO,

2002).

Segundo TARZIA (2003), esse tipo de halitose é comum em pessoas

muito estressadas, que deixam um intervalo grande entre as refeições, que se

alimentam com dietas pobres em carboidratos, que costumam fazer exercícios

físicos intensos e nos diabéticos descompensados.

✓ Halitose por estado febril

VIEIRA & FALCÃO (2002) afirmam que halitose por estado febril

ocorre devido à desidratação e conseqüentemente alteração nos níveis salivares, e

por acelerar o metabolismo orgânico queimando gorduras e favorecendo a liberação

de ácidos graxos de cadeias curtas por via pulmonar.

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- Tipos de halitose por doenças sistêmicas

✓ Halitose por alterações intestinais

VIEIRA & FALCÃO (2003) fazem as seguintes considerações em

relação à halitose por alterações intestinais:

a) Diversos nutrientes dissolvidos no conteúdo intestinal, incluindo

carboidratos, ácidos graxos, aminoácidos e outros, são absorvidos pelo líquido

extracelular e transportados pelo sangue circulante por todo o corpo.

b) O fígado, a mucosa gastrointestinal, os rins e as glândulas

endócrinas, participam do processo de transformação de algumas destas

substâncias em formas utilizáveis pelas células.

c) No caso de lentidão intestinal ou falência de algum órgão,

subprodutos metabólicos de baixo peso molecular, odorivetores, serão formados em

maior quantidade, transportados pela corrente sangüínea e liberados durante as

trocas gasosas ocorridas nos pulmões, podendo ser detectados no ar expirado.

A diarréia promove perda de líquidos, gerand0o, assim, desidratação e

diminuição do fluxo salivar (VIEIRA & FALCÃO, 2002).

As alterações intestinais do tipo prisão de ventre com putrefação,

provocam halitose. Os odorivetores são absorvidos, passam para a corrente

circulatória e escapam através dos pulmões (TARZIA, 2003).

✓ Halitose por alterações hepáticas:

Segundo TARZIA (2003), dependendo do grau de alteração hepática,

podemos ter desde a dificuldade de metabolização de certos alimentos, que contêm

moléculas de odor carregado que podem ser eliminadas pelo ar expirado, até

alterações mais sérias, que comprometem os mecanismos de formação dos fatores

de coagulação podendo levar a hemorragias espontâneas na mucosa bucal.

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✓ Halitose por alterações pulmonares TARZIA (2003) afirmou que apesar de poderem provocar halitose, em

geral não é comum ver este tipo de casuística na clínica. Ainda relata que, por

provocarem grande desconforto pela dificuldade respiratória, o paciente com

alteração pulmonar procura primeiro ajuda médica.

✓ Halitose por alterações renais

Pacientes com problemas renais crônicos, não eliminam os compostos

nitrogenados como uréia e amônia de forma eficiente. Estes compostos são

lançados na corrente sanguínea, podendo ser eliminados por via pulmonar,

alterando o hálito do paciente (VIEIRA & FALCAO, 2003).

BOGDASARIAN (1996) afirmou que nos casos de insuficiência renal

crônica, os rins não conseguem uma adequada eliminação destas substâncias, que

são encontradas na circulação (principalmente uréia, amônia e outros compostos

nitrogenados). Vários destes compostos, se volatilizam e são eliminados por via

pulmonar. Nesses casos, o hálitos fica com cheiro de amônia ou urina, e ocorre

também o aumento de uréia na corrente circulatória. É conhecido como hálito

urêmico.

✓ Halitose por alterações estomacais

A halitose por alterações estomacais é uma situação rara, embora a

maioria dos pacientes acreditam ter halitose em decorrência de terem gastrite. É

muito comum essa associação.

Alguns autores como EPSTEIN & SCULLY, (1992) acreditam que a

gastrite por Helicobacter pylori, tenha sido precedida pela halitose com presença de

saburra lingual, local onde o microorganismo se instalaria e proliferaria até atingir a

concentração suficiente (carga viral ou dose infecciosa), para depois, se instalar no

estômago provocando gastrite.

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Normalmente o esfíncter cárdia impede a volta do material e/ou odor do

estômago, por isso não é comum halitose de origem estomacal, a não ser durante

rápidos momentos de possíveis regurgitações e arrotos (GREIN, 1982).

✓ Halitose por diabetes

BOGDASARIAN (1986 apud TARZIA 2003) relatou que a halitose por

diabetes é uma causa relativamente menos comum de halitose específica, pois o ar

expirado tem um odor cetônico. Para BOGDASARIAN (1986 apud TARZIA 2003) e

LU (1982), uma vez compensado o paciente, esse odor desaparece. Mais difícil de

controlar é a baixa de fluxo salivar e a saburra que costumam acompanhar os

quadros de diabetes devido ao desequilíbrio hídrico comum nessa doença. O

tratamento consiste em manter o paciente compensado em relação à diabetes, o

que se consegue na área médica.

• Tipos de halitose secundária

As principais causas da halitose secundária são:

- Halitose por variações fisiológicas ou processos adaptativos

✓ Halitose da manhã

TARZIA (2003) afirma que o hálito desagradável ao acordar se

deve à leve hipoglicemia por causa do longo período sem alimentação. A queda de

açúcar na corrente circulatória, tem um limite que, em condições normais, não deve

ser ultrapassado, e quando isso ocorre, o organismo lança mão da oxidação

(queima) de triglicerídeos depositados, com a finalidade de preservar a glicose que

já está atingindo concentrações baixas. Assim, o organismo consegue manter a

obtenção da energia necessária para a sobrevivência, queimando gorduras. Quando

os triglicerídeos começam a ser utilizados para a produção de energia, surgem

ácidos graxos, entre os quais os de baixo peso molecular que são voláteis. Para

COSTA (1980 apud TARZIA 2003), durante as trocas gasosas pulmonares, ácidos

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graxos voláteis, com odor desagradável de manteiga rançosa, escapam,

comprometendo a qualidade do hábito.

✓ Halitose da fome e/ou do regime

O odor da fome e do regime se deve à putrefação do suco

pancreático durante longos períodos de fome. Quando aumenta o intervalo entre as

refeições, ocorre também a diminuição do fluxo salivar, levando a maior depósito de

saburra na língua. Os pacientes enquadrados nesse caso, podem corrigir a halitose

com a alimentação, pois a mastigação leva a uma ação detergente local devido à

estimulação do fluxo salivar (VIEIRA & FALCÃO, 2002).

Os vegetarianos têm menor tendência à halitose pelo fato de

existir menor degradação de restos ou subprodutos das substâncias protéicas

oriundas dos vegetais. A carne vermelha contém gorduras, que metabolizadas,

propiciarão a formação de ácidos graxos voláteis no sistema gastrintestinal, que

passam à corrente sangüínea e poderão ser excretados pelo fluxo expiratório,

provocando a halitose. São também exemplos de alimentos causadores da halitose:

bebida alcoólica, queijo, alho, cebola, azeitona, ovo, condimentos e frios

(KATAYAMA & WECKX, 1996).

Para COSTA (1980 apud TARZIA 2003) e PASSARELLI &

GURFINKEL (1981), a halitose da fome e do regime é a mesma halitose

referenciada como halitose da hipoglicemia e, no caso do paciente estar fazendo

uso de anoréxicos, calmantes e laxantes, próprios das fórmulas para

emagrecimento, tem-se, concomitantemente, a hiposalivação e saburra.

✓ Halitose por desidratação

A halitose por desidratação pode ser causada por baixa ingestão

de água, pelo uso de medicamentos que desidratam como laxantes e diuréticos, ou

por exposição a locais muito quentes ou secos.

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A desidratação promove o desequilíbrio hídrico, aumentando a

viscosidade salivar e favorecendo a estagnação de matéria orgânica no dorso lingual

(VIEIRA & FALCÃO, 2002).

✓ Halitose por xerostomia

Discute-se o fato de que o paciente com xerostomia, boca seca,

geralmente apresenta pH bucal ácido, o qual não favorece a halitose. Enquanto na

hiposalivação, como já citado, a alteração dos padrões salivares, propicia a halitose

(VIEIRA & FALCÃO, 2002).

✓ Halitose por estresse

DOUGLAS (1998) cita que os sinalizadores bucais de estresse

promovem a liberação contínua de mediadores químicos adrenérgicos, promovendo

redução do fluxo salivar com alteração da qualidade da saliva tornando-a mais

viscosa. Conseqüentemente, a lavagem fisiológica bucal poderá ficar prejudicada,

predispondo o meio, a maior adesividade bacteriana e de matéria orgânica

favorecendo a formação de odorivetores de odor desagradável.

No estresse, não só o hálito como também o odor exalado pelo

corpo (sudorese) e o odor da urina costumam estar alterados. Em nível local, ocorre

hiposalivação e aumento do antiperistaltismo (regurgitação do material do estômago)

propiciando a formação da língua saburrosa (KATAYAMA & WECKX, 1996).

✓ Halitose devido a alterações morfológicas

TARZIA (2003) descreve os fatores predisponentes para a

formação de saburra – alterações morfológicas da língua:

a) Altura das papilas gustativas;

b) Fissuras;

c) Posicionamento da língua;

d) Língua geográfica.

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✓ Halitose por saburra lingual

VIEIRA & FALCÃO (2002) afirmaram que a saburra é formada

por mucina, células epiteliais descamadas, leucócitos, bactérias proteolíticas

anaeróbias Gram negativas, fungos.

Os microorganismos promovem a quebra destas proteínas

formando cistinas e cisteínas e, em última estância, o sulfeto de hidrogênio, a metil

mercaptana e o dimetil sulfeto.

O sulfeto de hidrogênio (SH2) e a metil mercaptana são mais

voláteis, possuindo maior capacidade de sensibilizar as células olfatórias humanas.

GREIN (1982) relatou que essa halitose, costuma ser descrita

para os casos de pessoas saudáveis, e muitas vezes com o fluxo salivar

aparentemente normal, mais que por estarem fazendo uso de dieta pastosa ou

líquida por um período prolongado, desenvolvem a saburra e halitose. Outras vezes,

ela é descrita como causa de hálito em pacientes agitados e angustiados que

apresentam antiperistaltismo esofagiano. Nestes casos a causa primária da halitose

é a saburra.

✓ Halitose por prótese

O surgimento de materiais protéticos de alta qualidade, reservou

um espaço muito pequeno para este tipo de ocorrência, que hoje, praticamente se

limita ao preparo de provisórios com resinas acrílicas de rápida polimerização e alta

porosidade (SWENSON, 1979).

• Halitose por processos patológicos da cavidade bucal

- Doença periodontal

O perfil bacteriano da doença periodontal é semelhante ao da halitose.

17

DELANGUE (1999) afirma que 32% da halitose de origem bucal são

causadas por doença periodontal.

Em sítios ativos de doença periodontal, há formação de compostos

sulfurados voláteis (CVS), comprometendo de forma acentuada, o hálito de seu

portador. Além do que restos alimentares e sangue estagnado exacerbam a

formação destes compostos (VIEIRA & FALCÃO, 2002).

- Estomatites ou neoplasias

No caso de neoplasias, a halitose pode ocorrer devido à presença de

ulcerações e de tecidos necróticos que se localizam próximo da cavidade bucal e/ou

das vias aéreas superiores. Neoplasias à distância também podem causar halitose

quando o paciente se encontra em tratamento de radioterapia, por alteração do fluxo

salivar, e/ou quimioterapia por alterações hepáticas sérias que podem comprometer

a coagulação sangüínea e, em casos extremos, desencadear hemorragias gengivais

espontâneas (TARZIA, 2000).

- Por presença de cisto dentígero

Limita-se aos casos de fístula drenando para cavidade oral, com

conseqüente putrefação de matéria orgânica (LU, 1982).

- Por cicatrização de ferida cirúrgica

É temporária, ocorrendo devido à putrefação de matéria orgânica

presente nos focos de decomposição do coágulo e de focos de material necrosado

(PASSARELLI & Gurfinkel, 1981).

- Por putrefação salivar

MCNAMARA et al (1972 apud SANTOS, 2002) pesquisaram a

influência dos microrganismos e concluíram que as bactérias, são as principais

responsáveis pela halitose, principalmente as Gram-negativas. A saliva estagnada

18

favorece a halitose por proliferação de bactérias Gram-negativas proteolíticas. A

adição de glicose na microbiota salivar inibe a halitose por promover uma

acidificação do meio. Relacionaram ainda as bactérias produtoras de halitose:

Leptrotichia sp, Fusobacterium polymorphum, Veillonella alcalescens, Bacterióides

fusiiformes, Kleibsiella pneumoniae .

TONZETICH (1977 apud SANTOS 2002) afirmou que o pH salivar

ideal está entre 6,5 e 7,0. Quando o pH bucal estiver alcalino, favorecerá a

proliferação de bactérias anaeróbias, proteolíticas e conseqüente, manifestação da

halitose.

- Por cárie

Geralmente é causada por degradação de tecidos necrosado das

lesões de cárie gerando compostos orgânicos voláteis como: a putrescina,

cadaverina, indol, escatol. Esses compostos orgânicos voláteis possuem menor

capacidade de excitar o epitélio olfativo (COSTA, 1987).

- Por higiene oral deficiente

O grande acúmulo do biofilme bacteriano dentario e lingual propicia a

proliferação de microorganismos anaeróbios e protéicos, que promovem a liberação

de compostos voláteis de enxofre (COSTA, 1987).

- Por miíase bucal

É uma doença causada por ovos de moscas atraídas pelo odor

desagradável da doença periodontal. Ocorre, geralmente em pacientes alcoólatras,

que dormem na sarjeta de boca aberta ( ERFAN, 1980).

- Por obstrução de glândulas

A obstrução de glândulas salivares resulta em queda do fluxo salivar,

podendo ocasionar halitose.

19

• Por processos patológicos das vias aéreas superiores

- Por corpos estranhos

Ocorrem mais comumente nas fossas nasais ou região aerodigestiva

de crianças ou pacientes especiais provocando a putrefação de matéria orgânica.

HAUMANN & KNEEPKENS (2000) relacionam corpos estranhos em

região nasal com halitose persistente em crianças.

Para TARZIA (2003), a localização e os procedimentos de remoção

se acham restritos ao otorrinolaringologista ou gastroenterogista.

- Por tonsilite ou amigdalite

Para TARZIA (2003), é mais comum a hiposalivação provocar

amigdalite do que a amigdalite provocar halitose.

- Por cáseos

Segundo FALCÃO & VIEIRA (2003), cáseo é o acúmulo de células

epiteliais descamadas, resíduos alimentares, bactérias e mucina. Caracteriza-se por

uma massa viscosa de odor extremamente desagradável que se acumula nas

criptas amigdalianas.

TARZIA (2003) afirma que os cáseos alojam grande quantidade de

massa bacteriana, células descamadas e material de restos alimentares. Têm um

aspecto semelhante a um grão de arroz cozido, de cor amarelada ou esbranquiçada.

Carregam consigo um odor muito forte.

20

- Por faringites, sinusites, adenóides e/ou rinites

Para TARZIA (2003), nesses casos podem ocorrer obstruções das

fossas nasais podendo acarretar a respiração bucal, e, em alguns casos à halitose.

A respiração bucal costuma ocorrer durante o sono por simples relaxamento,

por obstrução nasal mecânica ou por razões alérgicas, favorecendo o ressecamento

da mucosa local, aumentando a descamação epitelial e criando maior substrato para

as bactérias proteolíticas (VIEIRA & FALCÃO, 2002).

II.5 – Prevalência

MENINGAUD et al (1999) afirmaram que 50 a 60% da população sofre de

halitose crônica e que isso pode ter conseqüências para a vida íntima e a

profissional e que 85% das halitoses são de origem estomatognáticas.

Já BOLLEN et al (1999) afirmaram que afeta 50 a 65% da população, 8%

estão associados a problemas respiratórios e 90% a problemas bucais.

TOGASHI et al (1998) calcularam a prevalência na população de Bauru em

30%.

21

III - PROBLEMA

No Brasil, são poucos os trabalhos científicos publicados sobre halitose. Não

se sabe ainda o perfil do paciente portador de halitose e nem a incidência das

possíveis causas mais freqüentes envolvidas.

22

IV - OBJETIVOS

A elaboração desse trabalho teve como objetivo principal traçar o perfil

epidemiológico dos pacientes portadores de halitose atendidos pela Clínica Oris, no

Distrito Federal, e elucidar os fatores predisponentes por meio de levantamento e

análise de dados obtidos nas 100 fichas clínicas selecionadas.

23

V - MATERIAIS E MÉTODO

V. 1 - Amostra

A amostra deste trabalho foram dados contidos em fichas clínicas de

pacientes atendidos pela Clínica Oris, no Distrito Federal, que realiza o tratamento

de halitose.

A amostra do trabalho foi determinada aplicando-se a seguinte fórmula

sugerida para estudos epidemiológicos:

N = X (1-X) / e, em que:

- N = tamanho da amostra

- X = prevalência da doença na população (30% segundo TOGASHI

(1998)

- E = erro padrão requerido ( e = 0.05, resultado ao acaso de 5% ou

menos dos casos)

Então:

N = 0,3 (1- 0,3) / 0,0025 N = 84

Aplicando a fórmula anteriormente descrita para o cálculo da amostra ideal,

obteve-se o resultado de 84 fichas. A amostra foi aumentada para o número de 100

fichas objetivando melhor visualização dos resultados.

As fichas foram escolhidas de forma aleatória simples entre pacientes de

ambos os sexos da Clínica Oris, no Distrito Federal.

V. 2 - Procedimentos

Foram levantados os seguintes aspectos para análise:

- Idade;

- Gênero;

- Há quanto tempo tem consciência da sua halitose?;

24

- Alguém já lhe alertou para o problema?;

- Você acha que alterou seu comportamento nos relacionamentos devido à

halitose?;

- Você já procurou outros profissionais para tratamento?; Se já, qual (is)?;

- Obstrução do trato respiratório superior;

- Funcionamento intestinal (menor ou igual a 3 vezes por semana);

- Ingestão de água (menor ou igual a 3 copos ao dia);

- Fluxo salivar estimulado (menor igual a 1 ml/min);

- Uso de medicamentos xerogênicos;

- Presença de saburra;

- Presença de doença periodontal, e,

- Halitometria.

Os dados obtidos foram lançados em tabelas comparativas e analisados para

traçar o perfil dos pacientes portadores de halitose da Clínica Oris.

25

VI - RESULTADOS

• Distribuição por faixa etária

Dos pacientes examinados, apenas 1% possuía idade na faixa etária de 0 a

10 anos; 6%, de 11 a 20 anos; 29%, de 21 a 30 anos; 25%, de 31 a 40 anos; 31%,

de 41 a 50 anos; 5%, de 51 a 60 anos e 3%, com mais de 60 anos (gráfico 1).

Gráfico 1

Distribução por Faixa Etária

1% 6%

29%

25%

31%

5%

3% 0 a 10 anos11 a 20 anos21 a30 anos31 a 40 anos41 a 50 anos51 a 60 anosmais de 60

• Distribuição por gênero

Quanto ao sexo, 59% das pessoas eram do sexo masculino e 41% do

feminino (gráfico 2).

Gráfico 2

Distribuição por Sexo

41%

59%

femininomasculino

26

• Quanto ao tempo de consciência da halitose

Quando questionadas sobre o tempo que possuíam consciência da halitose,

6%, relataram a 6 meses ou menos; 9%, de 6 meses a 1 ano; 27%, entre 1 e 5 anos;

11%, entre 5 anos e 10 anos; e 33%, a mais de 10 anos. Dos pacientes que

responderam a essa pergunta, 14%, não souberam precisar o tempo de consciência

(gráfico 3).

Gráfico 3

Tempo de Consciência da Halitose

6% 9%

27%

11%

33%

14% 6 meses6 meses a 1 anode 1 a 5 anosde 5 a 10 anosmais de 10 anosnão determinaram

• Alguém já lhe alertou sobre o problema?

Em relação a ser alertado sobre o problema, 75%, foram alertadas; 17%,

não foram; e 08% não responderam (gráfico 4).

Gráfico 4

Já foi Alertado por Alguém

75%

17%8%

simnão não responderam

27

• Quanto à alteração comportamental

A alteração de comportamento foi relatada por 68% das pessoas; 13%, não

tiveram alteração de comportamento;19% deixaram em branco.(gráfico 5).

Gráfico 5

Alteração Comportamental

68%13%

19%simnãonão responderam

• Quanto à procura por outros profissionais

O número de pacientes que procuraram outros profissionais foi o equivalente

a 52%; enquanto 41% não procuraram; e 7%, não responderam (gráfico 6a).

Grande parte procurou mais de uma especialidade. Dos 52 pacientes que

relataram ter procurado outros profissionais, 73,07%, procuraram o

gastroenterologista; 50%, o otorrinolaringologista; 13,46%, o clínico geral; 5,76%, o

alergista; 3,84%, o homeopata; 46,1%, o cirurgião-dentista; 3,84%, o

endocrinologista; 1,92%, o proctologista; 1,92%, o dermatologista; e 1,92%, o

nefrologista (gráfico 6b).

28

Gráfico 6a

Procura por Outros Profissionais

52%41%

7%

simnãonão respondeu

Gráfico 6b

Profissionais Procurados

35%

25%7%

3%

23%

2%

2%

1%

1%

1%GastroOtorrinoClínico GeralAlergistaDentistaHomeopataEndócrinoProctodermatoNefro

• Quanto à obstrução do trato respiratório superior

Das fichas examinadas, 45% apresentavam dados referentes à obstrução do

trato respiratório superior e 55%, não apresentavam (gráfico 07).

29

Gráfico 7

Obstrução de Vias Aéreas Superiores

45%

55%

simnão

• Quanto ao funcionamento intestinal

Em relação à freqüência do funcionamento do intestino, 14% pessoas

relataram ser menor ou igual a 3 vezes por semana, 12% das fichas encontravam-se

em branco (gráfico 8).

Gráfico 8

Funcionamento Intestinal

14%

74%

12%

menor ou igual 3 X+ que 3 XNão responderam

30

• Quanto a ingestão de água diária

Das 100 fichas examinadas, 21% das pessoas relataram ingerir 3 ou menos

copos de água (250ml) ao dia; 12% não quantificaram (gráfico 9).

Gráfico 9

Ingestão Diária de Água

21%

67%

12%

Até 3 coposMais de 3Não Quantificou

• Quanto ao fluxo salivar estimulado por minuto

Neste item, foi usado como parâmetro a quantidade menor ou igual a 1

ml/minuto. Das 100 fichas examinadas, 63%, apresentavam dados referentes ao

fluxo salivar estimulado menor ou igual a 1ml/min, e 1% das fichas encontrava-se

em branco (gráfico 10a).

Foi calculada, também, a média do fluxo salivar estimulado de acordo com a

faixa etária sendo o resultado 0,8 ml/min de 0 a 10 anos; 1,12 ml/min de 11 a 20

anos; 0,73 ml/min de 21 a 30; 1,17 ml/min de 31 a 40; 0,93 ml/min de 41 a 50; 1,2

ml/min de 51 a 60; 1,0 ml/min para a faixa etária de mais de 60 anos (gráfico 10b).

31

Gráfico 10 a

Fluxo Salivar Estimulado por Minuto

63%

36%

1%

< ou = 1ml> que 1mlEm branco

Gráfico 10b

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

Fluxo Salivar Estimulado por Faixa Etária

0 à 10 anos11 à 20 anos21 à 30 anos31 à 40 anos41 à 50 anos51 à 60 anos+ de 60 anos

32

• Quanto ao uso de medicamentos xerogênicos

Quanto ao uso de medicamentos xerogênicos, 31% das pessoas utilizavam

e 69%, não (gráfico 11).

Gráfico 11

Medicamentos Xerogênicos

31%

69%

simNão

• Quanto à presença de saburra

Nas fichas avaliadas 74% das pessoas apresentavam saburra, e 15%, não.

As demais fichas, 11%, estavam em branco (gráfico 12).

Gráfico 12

Presença de Saburra

74%

15%

11%

simnãoem branco

33

• Presença de doença periodontal

Nas fichas avaliadas, 41% das pessoas apresentavam doença periodontal e

59%, não (gráfico 13).

Gráfico 13

Presença de Doença Periodontal

41%

59%

SimNão

• Halitometria em ppb

Na avaliação das fichas, foram constatadas 37% pessoas com até 80 ppb;

9%, entre 80 e 100 ppb; 3%, entre 100 e 120 ppb; 15%, entre 120 e 150 ppb; e 30%,

acima de 150 ppb. 6 fichas encontravam-se em branco.

Gráfico 14

Halitometria em ppb

37%

9%3%15%

30%

6% até 80de 80 à 100de 100 à 120de 120à 150acima de 150em branco

34

VII - DISCUSSÃO

• Idade

A qualidade e a intensidade do hálito se modificam com a idade. O hálito do

bebê e da criança é dito como doce; na adolescência se torna um pouco

desagradável. Entretanto, na meia-idade o hálito se torna incômodo, mesmo

mantendo-se um bom hábito de higiene oral. Na velhice, torna-se pesado, algo

azedo e de uma intensidade tal que se torna pungente. A exata causa dessas

mudanças é desconhecida, mas pode estar relacionada com fatores locais e

sistêmicos. (KATAYAMA & WECKX, 1996).

A causa mais freqüente de halitose em crianças com menos de cinco anos é

representada pela patologia aerodigestivas superiores: adenóide, sinusite, amidalites

e corpos estranhos. (MENINGAUD et al, 1999).

BENNET (1988) descreveu o caso de uma criança de 6 anos de idade,

portadora de uma halitose há 5 anos. Ao ser submetida a uma difícil remoção de

corpo estranho firmemente encravado no lado esquerdo do nariz (uma arruela

arredondada, radiopaca, muito corroída), houve uma tranqüila recuperação pós-

operatória com completo desaparecimento da halitose. O interessante foi que, neste

caso, o paciente nunca foi portador de obstrução nasal ou rinite, nem antes e nem

após a remoção da arruela.

Entre cinco e catorze anos, a halitose é essencialmente de origem bucal

devido à placa bacteriana dental, retida na região interdentária e à matéria orgânica

estagnada no dorso posterior da língua. No adolescente, na maioria das vezes,

deve-se à falta de higienização adequada (MENINGAUD et al, 1999).

No levantamento realizado, foi constatado que 75% dos pacientes se

enquadravam na faixa etária de 21 a 50 anos. Este fato pode estar relacionado ao

aumento das responsabilidades e, portanto, do estresse por estarem cursando a

Universidade, ou tentando se posicionar no mercado de trabalho, ou assumindo

35

seus lares, cônjuges e filhos podendo levar a alterações alimentares como dietas e

jejuns prolongados e ao baixo consumo de água. Pode ainda estar relacionado ao

consumo de bebidas alcoólicas e cigarros.

• Gênero

O resultado obtido neste levantamento foi que 41% dos pacientes eram do sexo masculino e 59% do sexo feminino. Esta diferença não foi significativa.

• Aspectos Psicológicos

Segundo DUARTE (2002), quem sofre de halitose tem como conseqüência

grandes transformações no seu contato social. Muitas vezes, acaba sendo isolado

no meio em que vive, afetando suas relações íntimas (família, casamento, namoro) e

até seu desempenho profissional. Surge, então, a necessidade do tratamento não

apenas para eliminar a halitose do paciente, mas também para reintegrá-lo à

sociedade devolvendo-lhe a auto-estima minada por tanto tempo de convívio com o

problema.

Algumas das alterações psicológicas relacionadas à halitose, apesar de não

existir um consenso internacional a respeito, são definidas como: halitose

psicogênica ou imaginária, halitofobia, pseudo-halitose, síndrome de referência

olfatória e disfunção quimiosensorial (DUARTE, 2003).

Na halitose psicogênica ou imaginária, o paciente acredita que possui

halitose mas não existe a comprovação desta por exames de halitometria ou

organoléptico e nem sinais de disfunções orgânicas que possam levar a este

sintoma, o que caracteriza uma disfunção senso perceptiva (DUARTE, 2003).

A halitofobia caracteriza o pânico em ter o mau hálito. O indivíduo pode

apresentar sinais de agressividade quando questionado a respeito do “seu”

diagnóstico (DUARTE, 2003).

36

A pseudo-halitose é caracterizada por indivíduos que já eliminaram total ou

parcialmente o problema, mas continuam acreditando que ainda o possuem

(DUARTE, 2003).

A disfunção quimiosensitiva é caracterizada por desordens relacionadas com

a gustação e o olfato que geram no paciente a sensação de possuir mau hálito.

Estes distúrbios são a saber: xerostomia, deficiência de zinco, deficiências

vitamínicas, exposição a irritantes químicos, uso de medicamentos, doenças

sistêmicas, senilidade.

Todas estas alterações levam os pacientes a desenvolverem uma postura

de autoproteção, evitando o expressar de idéias importantes e de sentimentos

importantes impulsionados por um forte sentimento de inferioridade.

ELI et al (2001) afirmaram que os profissionais responsáveis pelos pacientes

portadores de halitose devem ser capazes de diagnosticar e propor tratamento,

sempre considerando os fatores psicológicos e psicossociais.

Corroborando estes aspectos psicológicos, VIEIRA & FALCÃO (2003)

afirmaram que o portador de halitose encontra-se comumente com o seu emocional

abalado. Observa-se uma certa “prepotência” em alguns pacientes, pois esta é a

maneira que encontram para manter distância das pessoas, evitando que elas

percebam a halitose deles. Outros, por sua vez, apresentam-se deprimidos, não

direcionam seu olhar para o profissional e muitas vezes choram durante a consulta.

Percebe-se, também, um certo pessimismo devido a tratamentos anteriores

malsucedido. Portanto, é muito importante a adoção de uma postura amigável e bem

positiva por parte do profissional da área de saúde e de toda a equipe para que o

paciente sinta-se à vontade para colaborar durante os exames como também,

motivado para seguir as orientações que lhe forem passadas.

KATAYAMA & WECKX (1996) relataram que a halitose implica intensas

restrições sociais e emocionais para aqueles que a possuem. Quantas vezes nos

deparamos nos consultórios com pacientes que se queixam que seus companheiros

não mais suportam o hálito deles. Ou, o que é pior, existem aqueles que ignoram

37

totalmente o sintoma e se perguntam por que as pessoas mantêm certa distância ou

viram o rosto ou, então, encontram uma desculpa para ir embora logo.

O levantamento dos dados obtidos neste estudo vem confirmar os artigos

anteriormente citados uma vez que, na amostra estudada, dos 81 pacientes que

responderam à pergunta “Há quanto tempo têm consciência da halitose?”, 47,12%

possuíam consciência a mais de 5 anos.

Quanto ao fato de alguém ter alertado sobre o problema, das 92 pessoas

que responderam à questão, 75 pessoas (81,50%) foram alertadas por pessoas

íntimas, como marido ou esposa, namorado ou namorada, filhos ou pais.

Das 81 pessoas que responderam à questão de alteração comportamental,

68 pessoas (83,95%) relataram que mudaram seu comportamento em função da

descoberta ou desconfiança da halitose.

• Profissionais

Um conceito errôneo que precisa ser corrigido e que infelizmente ainda se

observa nos dias atuais é o que atribui ao estômago a causa da alteração do hálito.

Pode-se dizer, com segurança, que do estômago só haverá saída de hálito

agressivo em casos de eructações gástricas. É um erro também acreditar que todo

hálito desagradável seja anormal ou indicativo de alterações orgânicas (KATAYAMA

& WECKX, 1996).

Segundo pesquisa realizada por DELANG et al (1999), na Bélgica, 87% das

causas da halitose são de ordem bucal, cabendo, portanto, ao cirurgião-dentista o

diagnóstico e a formulação do tratamento adequado a essa afecção.

ELI et al (2001) afirmaram que a halitose é responsabilidade do profissional

de saúde bucal cabendo a ele a coleta de dados necessários ao seu diagnóstico e

tratamento.

38

O tempo despendido durante a consulta inicial geralmente é escasso,

podendo comprometer os resultados finais almejados. Essa é uma realidade que já

vem sendo questionada pela sociedade e que vem alertar os profissionais da saúde

quanto ao tempo dedicado à coleta de dados durante a consulta (FALCÃO &

VIEIRA, 2003).

O exame clínico deverá ser abrangente para permitir uma pesquisa

multidisciplinar. Durante a avaliação, faz-se oportuno que o profissional marque ao

lado de cada questão da anamnese do paciente os possíveis fatores etiológicos.

Assim, ao terminar a consulta, ele já terá mapeado as possíveis causas envolvidas

no processo da halitose em estudo (FALCÃO & VIEIRA, 2003).

No levantamento realizado, 52 pacientes (55,91%) procuraram outros

profissionais. Apesar de 73,07% dos pacientes terem feito consultas com

gastroenterogista e 46,1% terem procurado o dentista, DEBATY & ROMPEN (2002)

relatam que menos de 1% das causas de halitose são por disfunções gástricas.

• Trato Respiratório Superior

Como explicitado anteriormente na revisão bibliográfica, vários autores

associam alterações no trato respiratório superior com a halitose, o que foi

comprovado neste levantamento uma vez que em 45% das fichas avaliadas foram

constatadas estas alterações.

• Intestino

Segundo GUYTON & HALL (1997) em condições normais as fezes

consistem em cerca de ¾ de água e ¼ de substâncias sólidas e o odor é devido

principalmente aos produtos de ação bacteriana que se altera de acordo com a

microbiota bacteriana e o tipo de alimento ingerido. Os produtos odoríferos incluem o

indol, escatol, mercaptanos e sulfeto de hidrogênio.

O bolo fecal retido por mais tempo no intestino entra em putrefação

avançada por ação microbiana, propiciando a absorção de moléculas de baixo peso

39

molecular pela corrente sangüínea com posterior eliminação por via pulmonar

(TARZIA, 2002).

No levantamento realizado, das 88 pessoas que responderam à questão

referente ao funcionamento intestinal, foi constatado que em 14 pessoas há

freqüência intestinal menor ou igual a 3 vezes por semana.

• Água

Conforme GUYTON & HALL (1997), é essencial que o volume e a

composição dos líquidos corporais permaneçam relativamente constantes para que

a homeostasia seja mantida.

Afirmaram, ainda, que a ingestão de água é altamente variável de pessoa

para pessoa e, também, em uma pessoa, em diferentes situações como clima,

hábitos individuais e atividade física. Esta água provém de duas fontes principais: (1)

da ingestão de líquidos e da água contida nos alimentos, o que normalmente

adiciona 2.100 ml/dia aos líquidos corporais; (2) da síntese que ocorre no corpo

como resultado da oxidação de carboidratos, o que acrescenta cerca de 200 ml por

dia. Assim a ingestão ideal de água ao dia é de aproximadamente 2.300 ml.

Na elaboração desse trabalho, foram levantados a critério dos autores, os

pacientes que ingeriam quantidade menor ou igual a 3 copos de água ao dia,

consumo considerado baixíssimo. O resultado encontrado revelou que dos 88

pacientes que responderam à pergunta, 21 (23,86%) tinham consumo de água

menor ou igual a 3 copos por dia.

• Fluxo salivar estimulado

Alterações de fluxo salivar muitas vezes são encontradas em pacientes

portadores de halitose.

40

Considerando que funções da saliva como a limpeza fisiológica da cavidade

bucal, o equilíbrio do pH e, conseqüentemente, da microbiota, podem ser afetadas

por queda do fluxo slivar, torna-se importante uma análise mais detalhada sobre este

tema.

A sialometria é o exame utilizado para determinação do fluxo salivar

estimulado em repouso, cuja medida se dá em ml/min. Durante este exame, avalia-

se a quantidade (sialometria), viscosidade, cor e pH da saliva no momento da coleta

(FALCÃO & VIEIRA, 2003).

A quantidade e viscosidade salivar são fatores importantes no processo de

formação de halitose. Um fluxo salivar reduzido prejudica a autolimpeza bucal e, em

situações críticas de redução, pode causar alterações senso-perceptivas gustativas.

Uma saliva muito viscosa apresenta grande concentração de glicoproteínas que

sofrerão atuação de uma série de enzimas, como por exemplo a B-galactosidase,

que promove a quebra das cadeias laterais dos carboidratos da glicoproteína

(deglicolização). Conseqüentemente, existe maior crescimento bacteriano no meio

salivar, pois as bactérias se utilizam desse carboidrato liberado para crescerem e,

posteriormente, degradarem a saliva, gerando compostos sulfurados voláteis

(FALCÃO & VIEIRA, 2003).

Segundo VIEIRA & FALCÃO (2003), ainda não foi encontrado na literatura

científica trabalhos que correlacionem a viscosidade salivar ideal.

A hipossalivação, qualquer que seja a causa, favorece a halitose pela

diminuição da ação detergente e a ocorrência de fissuras propícias à colonização

por bactérias anaeróbicas (MENINGAUD et al, 1999).

Em um levantamento epidemiológico realizado por TARZIA et al (1999), na

faixa etária de 20 a 40 anos, 30% da população apresentava queda de fluxo salivar

de leve a moderada e presença de saburra lingual.

Os padrões definidos para sialometria (estimulada) são: leve, de 1,0 a 1,4

ml/min; moderada, de 0,7 a 0,9 ml/min, e, severa, de 0,4 a 0,6 e, no caso de menor

41

ou igual a 0,3, xerostomia. Volumes de 1,5 a 2,0 ml/min são considerados normais e

acima destes considerados sialorréia (TARZIA, 2000).

As orientações da Clínica Oris para o exame de sialometria encontram-se no

Anexo I.

Neste levantamento, 63 pacientes apresentavam um fluxo salivar estimulado

menor ou igual a 1 ml por minuto. • Medicamentos Xerogênicos

Conforme visto anteriormente, os medicamentos xerogênicos reduzem o

fluxo salivar e desta forma a limpeza fisiológica bucal, tendo como conseqüência a

proliferação bacteriana o que pode levar à halitose.

Os dados levantados neste trabalho demonstram que 31 pacientes (31%)

faziam uso de algum medicamento xerostômico.

• Saburra

Na maioria dos pacientes que sofria de halitose, a carga bacteriana da

língua foi o maior reservatório bacteriano para a formação de saburra, e nestes

casos o tratamento deveria atacar a microbiota formadora do odor na língua (DE

BOEVER & LOESCHE, 1995).

Segundo Olinda Tarzia, a saburra é encontrada em aproximadamente 95%

dos portadores de halitose. No estudo em questão foi encontrada em 83,14% dos

pacientes analisados.

• Periodontia MORITA & WANG (2001) relacionaram periodontite no adulto com halitose.

42

YAEGAKI & SANADA (1992) estudaram os fatores bioquímicos e clínicos

que influenciam o mau hálito em pacientes portadores de doença periodontal. As

quantidades de compostos de sulfeto e a proporção de sulfetos de metil

mescaptana/hidrogênio no ar bucal de pacientes com envolvimento periodontal

foram 3 vezes maiores que aquelas dos indivíduos controle.

MORITA & WANG (2001), após um estudo minucioso da relação entre fluído

sulcular, doença periodontal e halitose, concluíram que a halitose foi associada com

bolsas periodontais moderadas. Com bolsas periodontais severas e com a perda

óssea não se conseguiu fazer essa relação, provavelmente porque o fluido sulcular

volátil dentro da bolsa profunda não é liberado na cavidade bucal. Mostraram que ia

halitose se relaciona com a camada de impurezas da língua, com a doença

periodontal e com o índice de sangramento gengival, independentemente do

tamanho da bolsa. Sugeriram que a atividade da doença periodontal é mais

importante na produção da halitose do que a presença de bolsas periodontais.

Neste estudo, 41% dos pacientes apresentavam doença periodontal

• Halitometria É a mensuração do hálito do paciente em relação aos Compostos Voláteis

Sulfurados – CVS (FALCÃO & VIEIRA, 2003).

Na Clínica Oris, a halitometria é realizada por meio do Halimeter, aparelho

que atualmente é o mais utilizado nas pesquisas científicas da halitose.

O Halimeter (Intercan Corp, Chastsworth, Ca) é um monitor portátil, que

quantifica partículas por bilhão de enxofre pela ativação de um sensor eletroquímico

pelos CSV. Durante esta ativação eletroquímica os CSV se ionizam e liberam

elétrons que vão sensibilizar o circuito elétrico, gerando corrente elétrica diretamente

proporcional à concentração do gás ionizado (FALCÃO & VIEIRA,2003).

Entretanto, embora este monitor seja portátil e de fácil utilização, ele

apresenta algumas limitações de uso, pois não identifica os compostos orgânicos

43

voláteis, exceção feita aos tióis. Segundo YAEGAKI & COIL (2002), apresenta,

também, baixa sensibilidade para as mercaptanas. Porém, seu uso é indicado para

monitoramento do tratamento por quantificar os sulfidretos e dimetilsulfetos, que são

os maiores vilões da halitose.

É muito interessante também usá-lo para os casos de halitose imaginária,

por permitir ao paciente “visualizar” que os compostos mais agressivos da halitose

estão ausentes.

Existem controvérsias quanto aos valores obtidos para se considerar o

resultado positivo para halitose. HALL et al (1999) consideram o hálito normal

quando o resultado obtido for entre 80 e 160 ppb, halitose da intimidade, quando o

resultado ficar entre 160 a 250 ppb, e halitose exacerbada, com valores maiores que

250ppb.

Porém, de acordo com o fabricante os resultados obtidos deverão ser

interpretados de acordo com o seguinte quadro:

CSV (ppb) Considerações

80 Sem odor perceptível

80 a 100 Odor perceptível, às vezes considerado como halitose

100 a 120 Halitose moderada

120 a 150 Halitose mais pronunciada

Acima de 150 Halitose severa

Fonte: Halimeter (Interscan Corp, Chatsworth, Ca)

Nas fichas avaliadas, foi constatada halitose acima de 100 ppb em 48

pacientes, o que corresponde a 51,06% dos pacientes analisados.

As orientações para o exame de halitometria da Clínica Oris encontram-se

no Anexo II.

44

VIII – CONCLUSÃO

Através dos dados observados, constatou-se que:

• A maior prevalência foi encontrada na faixa etária de 21 a 50 anos

(75%);

• Quanto ao gênero, não houve diferença significativa;

• O tempo de consciência da halitose acima de 01(um) ano foi verificado

em 71% das fichas analisadas, sendo que 75% dos pacientes haviam sido alertados

por pessoas do convívio íntimo;

• A alteração comportamental foi observada em 68% dos casos;

• A procura por outros profissionais foi relatada por 52% dos pacientes,

sendo o profissional mais procurado o gastroenterologista, seguido pelo

otorrinolaringologista e o próprio cirurgião dentista;

• A obstrução de vias aéreas superiores foi verificada em 55% das ficha

levantadas;

• O funcionamento intestinal abaixo de três vezes na semana foi

encontrado em apenas 14% da amostra;

• Na maior parte da amostra (67%), a ingestão diária de água foi superior

a três copos/dia;

• Quanto ao fluxo salivar estimulado, 63% apresentaram valor menor ou

igual a 1 ml/min, não havendo diferença significativa por faixa etária;

• O uso de medicamentos xerogênicos foi observado em 31% da

amostra;

• Em 83% das fichas, observou-se presença de saburra lingual e em

41%, de doença periodontal.

• Quanto à halitometria, em 61% da amostra constatou-se presença de

halitose de leve a severa.

O objetivo proposto por este trabalho foi alcançado uma vez que os dados

obtidos comprovam a multifatoriedade da halitose, a alteração comportamental de

seus portadores e a busca por diversos profissionais de áreas distintas para

tratamento.

45

A elucidação de fatores predisponentes de halitose feita por este estudo

poderá subsidiar o diagnóstico e tratamento deste sintoma.

Cabe ao profissional responsável pelo tratamento da halitose não apenas

eliminá-la como também promover a reintegração social desse indivíduo por meio do

restabelecimento de sua auto-estima.

O levantamento epidemiológico realizado e discutido neste trabalho, veio

enriquecer a literatura sobre halitose, mas há muito ainda o que se pesquisar.

46

IX – REFERÊNCIAS

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50

X – ANEXOS

ANEXO I - SIALOMETRIA DA CLÍNICA ORIS

A Clínica realiza 3 coletas diárias por 3 dias: antes do café-da-manhã, antes

do almoço e antes do jantar.

Instrução para a coleta:

• Coloque o dispositivo de silicone dentro da boca segurando-o pelo fio.

• Mastigue por 5 minutos sem soltar o fio.

• Conforme for salivando cuspa no copinho.

• Tome cuidado para não engolir a saliva que se formar, cuspa sempre que

quiser durante esses 5 minutos de coleta.

• Aspire toda a saliva do copinho com a seringa que recebeu e anote na

ficha o valor encontrado e a hora.

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ANEXO II – HALITOMETRIA DA CLÍNICA ORIS

Orientações pré-halitometria:

• Não ter usado antibiótico nas últimas 03 semanas.

• Nas 24 horas antes do exame:

- Não ingerir alho, cebola e/ou comida com temperos fortes,

- Não usar cosméticos aromáticos (perfumes, loção pós-barba, cremes

hidratantes, etc.)

- Não usar soluções para bochechos e/ou gargarejos,

- Não fazer uso de bebidas alcoólicas.

• Não fumar nas últimas 12 horas.

• Não tomar café e/ou chá aromatizado nas 3 horas que antecedem a

avaliação.

• Comer 2 horas antes de exame e higienizar os dentes imediatamente

após.

A halitometria com o Halimeter será realizada através da introdução do

canudo descartável conectado no aparelho e levado na região posterior da boca

(aproximadamente 4 cm).

O paciente ficará com os lábios entreabertos, sem respirar por 15

segundos e será anotado na ficha o valor apresentado no mostrador do

equipamento durante seu pico máximo. Esta tomada registra a concentração de

compostos sulfurados voláteis bucal.

Em seguida, solicita-se ao paciente exalar o ar pulmonar para que seja

detectada a presença de compostos sulfurados voláteis sistêmico.

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Logo após realiza-se a tomada nasal introduzindo-se o canudo 1 cm no

interior da fossa nasal direita, obstruindo-se a saída do ar da narina esquerda e

solicita-se ao paciente exalar o ar vagarosamente durante 10 segundos. Repete-

se este procedimento na outra narina. Assim, quando alterado, verifica-se a

possibilidade de existência de patologias em cada seio maxilar e encaminha-se o

paciente para o otorrinolaringologista para confirmação do diagnóstico.