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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS Programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais ESTRUTURA GENÉTICA DAS POPULAÇÕES DE IRAPUCA (Podocnemis erythrocephala, PODOCNEMIDIDAE) DA AMAZÔNIA BRASILEIRA: IMPLICAÇÕES PARA A CONSERVAÇÃO RAFAELA CARDOSO DOS SANTOS Manaus, Amazonas Maio, 2008

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

Programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais

ESTRUTURA GENÉTICA DAS POPULAÇÕES DE IRAPUCA (Podocnemis

erythrocephala, PODOCNEMIDIDAE) DA AMAZÔNIA BRASILEIRA:

IMPLICAÇÕES PARA A CONSERVAÇÃO

RAFAELA CARDOSO DOS SANTOS

Manaus, Amazonas

Maio, 2008

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II

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

Programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais

ESTRUTURA GENÉTICA DAS POPULAÇÕES DE IRAPUCA (Podocnemis

erythrocephala, PODOCNEMIDIDAE) DA AMAZÔNIA BRASILEIRA:

IMPLICAÇÕES PARA A CONSERVAÇÃO

RAFAELA CARDOSO DOS SANTOS

ORIENTADORA: DRA. IZENI PIRES FARIAS

Co-orientadora: Dra. Maria das Neves Silva Viana

Dissertação apresentada ao Programa Integrado de Pós-

Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do

convênio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para

obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas,

área de concentração em Genética, Conservação e

Biologia Evolutiva.

Manaus, Amazonas

Maio, 2008

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III

FICHA CATALOGRÁFICA

Sinopse:

No intuito de determinar a diferenciação genética de Podocnemis

erythrocephala como um efeito da atuação de cachoeiras e/ou corredeiras e de

rios como barreiras geográficas, dez localidades distribuídas ao longo da

bacia Amazônica brasileira foram estudadas com o auxílio de um marcador de

linhagem materna. Duzentos e quarenta e seis espécimens foram seqüenciados

para a região controle mitocondrial e analisados quanto à diversidade gênica e

nucleotídica, análise de variância molecular, estimativas de diferenciação

genética e fluxo gênico, testes de neutralidade, teste de Mantel e análise do

agrupamento de clados. As análises indicaram que algumas localidades

mantêm elevado fluxo gênico e compõem uma grande população panmítica.

Contudo, foi detectada forte influência da estrutura da geomorfológica

(cachoeiras, corredeiras e rios como barreira ao fluxo gênico) da bacia do rio

Negro e do rio Amazonas sobre a diferenciação genética de três localidades

estudadas. Tais estruturas atuam como barreiras efetivas ao fluxo gênico e

corroboram a existência de estoques geneticamente distintos dentro da bacia

Amazônica. Estes resultados fornecem suporte para projetos que visem à

definição de planos de conservação e manejo para a espécie na Amazônia

brasileira.

Palavras-chave: Podocnemis erythrocephala, Genética de Populações, DNA

Mitocondrial, Região Controle, Amazônia brasileira.

S237 Santos, Rafaela Cardoso dos Estrutura genética das populações de irapuca (Podocnemis erythrocephala, Podocnemididae) da Amazônia brasileira: implicações para a conservação/ Rafaela Cardoso dos Santos.--- Manaus : [s.n.], 2008. xiv, 64f. : il. Dissertação (mestrado) --- INPA/UFAM, Manaus, 2008 Orientador : Izeni Pires Farias Co-orientador : Maria das Neves Silva Viana Área de concentração : Genética, Conservação e Biologia Evolutiva 1. Podocnemis erythrocephala. 2. Irapuca – Amazônia. 3. Genética de populações. 4. DNA mitocondrial. I. Título. CDD 19. ed. 597.920415

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IV

Dedico este trabalho a minha família: minha

mãe Anabia, meu padrasto Ronaldo e minha

irmã Marla, pelo amor e incentivo.

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V

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me abençoado, amparado e sempre ter me mostrado a saída

nos momentos adversos.

À Dra. Izeni Pires Farias e à Dra. Maria das Neves Silva Viana, pela amizade,

orientação, incentivo e confiança.

Ao Curso de Pós-Graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e à Universidade Federal do Amazonas, pelo

auxílio e infra-estrutura para a realização deste trabalho.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, pela concessão da bolsa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo auxílio

financeiro para o projeto.

Ao Dr. Richard Carl Vogt, por sua contribuição literária e imensurável ajuda no

trabalho de campo. Soledad Novelle, Camila Ferrara, Rafael Bernhard, Ladislau Brito, Melina

Rizzato, Ellis Perrone, Virgínia, pela ajuda no trabalho de campo.

Ao Projeto Pé-de-Pincha (UFAM), pela coleta de material. Ao Paulo Andrade, Paulo

Henrique Guimarães, Pedro Macedo, Hugo, Hellen, Elma, Carlos, Andison, Thiago, Midiam

e todos que colaboraram para a obtenção das amostras.

Ao Juarez Pezzuti e Danielly Félix, pela colaboração na coleta das amostras referentes

ao Parque Nacional do Jaú.

Ao Dr. Tomas Hrbek, por disponibilizar um de seus primers ainda não publicados e

que foi utilizado no presente trabalho, pelo apoio e sugestões para as análises genéticas.

Ao Dr. Jack Sites, pelo auxílio financeiro para a realização da excursão para a coleta

de material em São Gabriel da Cachoeira, e ao Jackson Pantoja pela coleta do material nesta

localidade.

Aos colegas do Laboratório de Evolução e Genética Animal (LEGAL) e do

Laboratório de Bioquímica, pela ajuda durante as atividades laboratoriais e pela amizade,

Luciana Viana, Cleiton Fantin, Adam Leão, William Rangel, Andréa Cantanhede, Hellen

Medeiros, Mário Nunes, Edvaldo Pereira, Waleska Gravena, Eduardo Souza, Natasha

Verdasca, Daniel Toffoli, Conceição Freitas, Themis Silva.

Aos meus amigos Paula Sant’Anna, Liene Rocha, José Vital, Loretta Ennes, Quézia

Ribeiro, Michel Martins e Elma Chips, pelo apoio, amizade e momentos de descontração.

Agradeço de forma especial ao Fabrizio Fernandes Cardoso pelo amor, carinho,

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VI

compreensão e por estar sempre me animando e apoiando nos momentos difíceis.

Aos meus pais, Anabia Cardoso e Afonso Sá, ao meu padrasto, Ronaldo Horta, a

minha irmã, Marla, e a toda a minha família paraense, pelo apoio, confiança, alegria e

maravilhosos momentos compartilhados.

A todas as pessoas e aos colegas, que de alguma forma contribuíram para a realização

deste trabalho.

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VII

RESUMO

Os quelônios do gênero Podocnemis são endêmicos das bacias do Orinoco,

Amazônica e do Araguaia, e historicamente ligados aos hábitos culturais das populações

humanas locais, que utilizam a carne, a gordura e os ovos como fontes de alimento.

Podocnemis erythrocephala, também conhecida como irapuca, apresenta distribuição restrita,

vivendo apenas em água preta e água clara. Esta espécie é classificada pela IUCN (União

Internacional para Conservação da Natureza) dentro da categoria vulnerável. Isso ocorre

devido à pressão de coleta de ovos e caça dos indivíduos adultos pelos ribeirinhos, atividade

comum em praticamente toda a bacia do rio Negro. O objetivo deste trabalho foi determinar a

estrutura genética de P. erythrocephala a partir de um marcador de linhagem materna (região

controle mitocondrial) para que os resultados provenientes deste estudo possam dar suporte a

futuros programas de manejo e conservação da espécie. Amostras de sangue foram coletadas

de cada indivíduo através da punção da veia femoral, sem que houvesse a necessidade de

sacrificar os animais. Os locais de coleta compreenderam o Parque Nacional Viruá, no estado

de Roraima, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Parque Nacional

do Jaú, Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e Oriximiná e Terra Santa, no

estado do Pará. Foram analisados 550 pares de bases de 246 indivíduos, onde foi possível

encontrar 49 haplótipos, e destes, 36 foram únicos, e apenas um haplótipo estava presente em

todas as localidades. A diversidade gênica média (H) e a diversidade nucleotídica média ( )

apresentaram valores consideráveis, 0,608 e 0,0021, respectivamente. As análises de variância

molecular revelaram alto grau de subdivisão populacional ( ST = 0,27931, P < 0,001). Os

resultados mostraram que 27,93% da variância total ocorrem entre as populações, entretanto a

maior variação genética foi atribuída à variância dentro das amostras populacionais (72,07%).

Os valores do índice de fixação ST foram significativos para as localidades do Parque

Nacional do Jaú, São Gabriel da Cachoeira e Barreirinha, que evidenciaram também limitado

fluxo gênico (Nm) em comparação com as outras localidades. Isto demonstra que estas

populações são distintas entre si, ou seja, estão diferenciadas geneticamente. No entanto, o

isolamento por distância não é o fator responsável para explicar este padrão, uma vez que não

houve correlação entre a variação genética e a distância geográfica segundo o teste de Mantel.

Neste caso, a diferenciação genética encontrada pode ser explicada pela presença de

cachoeiras e corredeiras no entorno das localidades do Parque Nacional do Jaú e São Gabriel

da Cachoeira. No caso da localidade de Barreirinha, a diferenciação genética fornece

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considerável suporte para a hipótese do rio Amazonas como barreira. Estas estruturas

geomorfológicas (cachoeiras e/ou corredeiras da bacia do rio Negro e o rio Amazonas)

parecem constituir barreiras físicas eficientes limitando o fluxo gênico de indivíduos de P.

erythrocephala entre estas e as demais localidades. Para as comparações entre as outras

localidades os valores do ST não foram significantes contrastando com os altos valores de

Nm (número de migrantes por geração). Este resultado indica que não existe estrutura

genética entre as demais localidades e que o número de migrantes estabelece elevado fluxo

gênico entre as amostras. Tais localidades compõem uma grande população panmítica e

fazem parte de um mesmo estoque que ocorre ao longo da Amazônia brasileira. Entretanto,

entre as amostras populacionais de irapuca analisadas na região Amazônica existem

subpopulações demograficamente distintas (Parque Nacional do Jaú, São Gabriel da

Cachoeira e Barreirinha) e que devem ser tratadas como unidades de manejo separadas no

intuito de monitorar as populações e designar políticas de conservação que mantenham a

viabilidade das populações e da espécie.

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IX

ABSTRACT

The chelonians of the genus Podocnemis are endemics of the Orinoco, Amazon and

Araguaia basins, and historically form an important part of the cultural habitats of the local

human populations who utilize meat, fat and eggs as sources of food. Podocnemis

erythrocephala, also known as irapuca, has a restricted distribution, and occupies only black

and clear waters. This species is classified by IUCN (International Union for the Conservation

of Nature) as vulnerable. This classification is due to hunting of adult individuals and egg

collection by the riberinhos (riverine inhabitants), a common activity practiced in practically

the whole Rio Negro basin. The objective of this study was to determine the genetic structure

of P. erythrocephala using maternal lineage markers (the mitochondrial control region) so

that the results of this study could be used for future management and conservation of this

species. Samples of blood were collected from each individual by puncturing the femoral vein

without the need to sacrifice the animal. Sampled localities included the Viruá National Park,

Roraima state, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Jaú National

Park, Barreirinha and Nhamundá, Amazonas state, and Oriximiná and Terra Santa, Pará state.

By analyzing 550 base pairs in 246 individuals it was possible to encounter 49 haplotypes of

which 36 were unique and only one haplotype was present in all localities. Gene diversity (H)

and nucleotide diversity ( ) showed considerable values, 0.608 and 0.0021, respectively. An

analysis of molecular variance revealed high levels of population subdivision ( ST = 0.27931,

P < 0.001). The results showed that 27.93% of total variance was observed between

populations, although majority of the genetic variance was attributable to variance within

populations (72.07%). Values of fixation indexes ST were significant for the localities of Jaú

National Park, São Gabriel da Cachoeira and Barreirinha, that also showed limited gene flow

(Nm) in comparison with other localities. This demonstrates that these populations are distinct

from each other, that is, they are genetically differentiated. However, isolation by distance

does not explain this pattern, because there is no association between geographic and genetic

distance using the Mantel test. In this case, the genetic differentiation is explained by the

presence of water falls and rapids that separate the Jaú National Park and São Gabriel da

Cachoeira localities from other areas. In the case of Barreirinha, genetic differentiation gives

credence to the hypothesis that the Amazon River is a barrier. These geomorphological

structures (water falls and/or rapids in the Negro River and the Amazon River) appear to be

physical barriers that efficiently limit gene flow of individuals of P. erythocephala between

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these and remaining localities. Comparisons between other localities showed low non-

significant ST values and contrasted with high Nm values. These results indicate lack of

genetic structure between these localities, and the number of migrants reveals elevated gene

flow between the localities. These localities represent one large panmictic population and

form part of a large stock that occurs in the Brazilian Amazon. However, among populations

of irapuca analyzed in the Amazonian region exist demographically distinct subpopulations

(Jaú National Park, São Gabriel da Cachoeira and Barreirinha), and these should be treated as

separate management units in the sense of monitoring of these populations and the

implementation of conservation measures that maintain the viability of these populations and

of the species.

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XI

ÍNDICE

FICHA CATALOGRÁFICA................................................................................................III

DEDICATÓRIA....................................................................................................................IV

AGRADECIMENTOS...........................................................................................................V

RESUMO............................................................................................................................IIV

ABSTRACT.........................................................................................................................IX

LISTA DE FIGURAS......................................................................................................XIII

LISTA DE TABELAS......................................................................................................XIV

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................1

1.1. Considerações gerais.............................................................................................1

1.2. Quelônios aquáticos da Amazônia.......................................................................2

1.3. Biologia de Podocnemis erythrocephala (SPIX, 1824)........................................4

1.4. Parâmetros genéticos como estimadores populacionais....................................6

1.5. O uso de DNA mitocondrial em estudos populacionais.....................................8

1.6. Justificativa..........................................................................................................11

1.7. Hipóteses..............................................................................................................12

2. OBJETIVOS....................................................................................................................13

2.1. Objetivo geral......................................................................................................13

2.2. Objetivos específicos...........................................................................................13

3. MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................13

3.1. Local de coleta e material amostrado................................................................13

3.2. Métodos laboratoriais.........................................................................................15

3.2.1. Extração de DNA......................................................................................15

3.2.2. Quantificação do DNA.............................................................................16

3.2.3. Amplificação da região controle...............................................................16

3.2.4. Purificação do produto amplificado..........................................................17

3.2.5. Reação de seqüenciamento.......................................................................18

3.2.6. Análise dos dados.....................................................................................18

3.2.6.1. Edição e alinhamento das seqüências..............................................18

3.2.6.2. Análises de diversidade...................................................................18.

3.2.6.3. A análise de clados agrupados hierarquisados.................................19

3.2.6.4. Análises de estrutura populacional.................................................20

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XII

3.2.6.5. Análise de distância genética...........................................................21

3.2.6.6 Testes de neutralidade e equilíbrio genético.....................................22

4. RESULTADOS................................................................................................................23

5. DISCUSSÃO....................................................................................................................35

5.1. Diversidade genética............................................................................................35

5.2. Estrutura populacional.......................................................................................37

5.3. Filogeografia........................................................................................................38

5.3.1. Barreiras geográficas ao fluxo gênico......................................................38

5.3.1.1. Rios como barreiras.........................................................................39

5.3.1.2. Cachoeiras e corredeiras como barreiras.........................................41

5.3.1.3. Outras barreiras geomorfológicas...................................................43

5.3.2. Controvérsias da NCA nas análises filogeográficas................................45

5.4. Unidades para a conservação e o manejo..........................................................47

6. CONCLUSÕES................................................................................................................51

REFERÊNCIAS..................................................................................................................52

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XIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Exemplar de P. erythrocephala.............................................................................5

Figura 2. Genoma mitocondrial completo de Pelomedusa subrufa......................................9

Figura 3. Mapa com as localidades amostradas. ................................................................14

Figura 4. Cladograma dos 49 haplótipos identificados em P. erythrocephala...................27

Figura 5. Árvore filogenética com base no método Neighbor Joining sem raiz utilizando o

índice de diferenciação genética ( ST) das comparações múltiplas entre os pares de

populações de P. erythrocephala........................................................................................33

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XIV

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Lista das amostras populacionais analisadas. .....................................................15

Tabela 2. Seqüência nucleotídica dos iniciadores utilizados na amplificação da região

controle........................................................... ...................................................................16

Tabela 3. Relação dos sítios polimórficos correspondentes aos 49 haplótipos de P.

erythrocephala definidos pelas localidades amostradas na Amazônia

brasileira..............................................................................................................................24

Tabela 4. Distribuição dos haplótipos de P. erythrocephala em função das

localidades...........................................................................................................................25

Tabela 5. Análises de agrupamento de clados (NCA) para P. erythrocephala, mostrando

os valores das distâncias de clados (Dc), distâncias dos clados agrupados (Dn) e distâncias

dos clados interiores versus os de ponta (IT)......................................................................28

Tabela 6. Parâmetros genéticos estimados para Podocnemis erythrocephala....................30

Tabela 7. Estimativa indireta de fluxo gênico (Nm) (acima da diagonal e à direita) e

diferenciação genética ( ST) (abaixo da diagonal e à esquerda) entre os pares de

populações de P. erythrocephala........................................................................................32

Tabela 8. Distâncias genéticas entre as populações de P. erythrocephala com base no

modelo de Kimura 2-parâmetros........................................................................................34

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações gerais

Os quelônios descobriram um modo de vida bem sucedido no Triássico e, desde então,

modificaram-se muito pouco. No mundo todo, existem cerca de 313 espécies, que habitam a

terra firme, os rios, os lagos e os mares. O casco, a chave de seu sucesso, também limitou a

diversidade do grupo, e sua morfologia reflete a ecologia da espécie: as formas mais

terrestres, os jabutis da família Testudinidae, possuem casco em forma de altas cúpulas e pés

semelhantes aos dos elefantes. As espécies menores de jabutis podem apresentar adaptações à

escavação. Outros quelônios terrestres apresentam carapaça (porção superior do casco)

moderadamente convexa. Vários tipos de quelônios desenvolveram regiões flexíveis no

plastrão (porção inferior) que permite que os lobos anterior e posterior sejam puxados para

cima, fechando as aberturas do casco. Os quelônios aquáticos possuem carapaças baixas, que

oferecem pequena resistência ao deslocamento na água (Pough et al., 2003).

As duas linhagens de quelônios atuais podem ser rastreadas por meio de fósseis até o

Mesozóico (Gaffney et al., 1987; Gaffney & Kitching, 1994). Os Cryptodira (cripto =

escondido, dire = pescoço) retraem a cabeça para dentro do casco curvando o pescoço na

forma de S vertical. Já os Pleurodira (pleuro = lado) retraem a cabeça curvando o pescoço

horizontalmente (Pough et al., 2003).

Os quelônios são animais de vida longa. Muitas espécies apresentam baixas taxas de

crescimento e requerem longos períodos para atingir a maturidade. Espécies de pequeno

porte, como a tartaruga-pintada (Chrysemys picta), não atingem a maturidade antes dos sete a

oito anos de idade e podem viver mais de 25 anos. Espécies de maior porte como jabutis e

tartarugas marinhas podem viver tanto quanto os seres humanos, e mesmo os jabutis-caixa

podem viver mais do que 50 anos (Pough et al., 2003).

Essa longevidade dificulta o estudo de sua história de vida. Um longo período de vida

geralmente está associado a uma baixa substituição de indivíduos na população, e espécies

com esta característica correm riscos de extinção quando condições variáveis como caça

(Pough et al., 2003) indiscriminada que não leva em conta estimativas de densidade ou época

de desova, e destruição do habitat, aumentam a mortalidade dos adultos ou reduzem

drasticamente a entrada de jovens na população.

Todos os quelônios são ovíparos e nenhum exibe cuidados parentais aos filhotes. Os

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filhotes, ao nascerem, sofrem séria taxa de mortalidade ao atravessar os poucos metros de

areia até a água. Os predadores se concentram nas praias de reprodução de tartarugas na época

da eclosão e aguardam seu aparecimento. Uma estratégia natural que lhes permite escapar

temporariamente dos predadores é a saída simultânea do ninho.

O sexo de algumas tartarugas não é definido na concepção, como nos mamíferos. A

temperatura, a umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de carbono podem exercer

efeitos profundos sobre o desenvolvimento embrionário dos quelônios (Packard & Packard,

1988). De maneira geral, temperaturas elevadas induzem a formação de fêmeas e

temperaturas mais baixas apenas a geração de machos (Bull, 1985). Cobertura vegetal (Vogt

& Bull, 1984; Janzen, 1994), profundidade da cova (Thompson, 1988) e a data de ovoposição

(Vogt & Bull, 1984) são outros elementos que também influenciam a determinação sexual.

Souza & Vogt (1994) e Milton et al. (1997) mostraram que a composição mineralógica e

granulométrica do substrato pode ser responsável por diferenças significativas de temperatura.

Mesmo pequena, a alteração do ambiente hídrico e termal traz conseqüências marcantes, pois

de acordo com Yntema & Mrosovsky (1980) e Alho et al. (1985) apenas 1°C de diferença na

temperatura de incubação é suficiente para alterar bruscamente a razão sexual.

O uso de informações a respeito dos aspectos básicos da biologia dos quelônios é uma

parte crucial dos esforços de manutenção das populações existentes e do restabelecimento de

populações em declínio (Pough et al., 2003).

1.2. Quelônios aquáticos da Amazônia

Os sete milhões de Km2 de Floresta Amazônica com seus numerosos igarapés, rios e

lagos, escoando uma grande variedade de formações geológicas, solos e tipos de vegetação,

oferecem muitos nichos para a vida aquática (Smith, 1979). Pelo menos 15 espécies de

quelônios de água doce têm servido o homem amazônico há muito tempo, como um

importante recurso alimentar (Vogt, 2001). Os Podocnemididae são as mais exploradas no

comércio e subsistência com cinco espécies vivendo na região.

Segundo Noonan (2000), a família Podocnemididae compreende um grupo

monofilético que reúne três gêneros de quelônios de água doce: Erymnochelis Baur, 1888;

Peltocephalus Duméril & Bibron, 1835 e Podocnemis Wagler, 1830. O gênero Erymnochelis

está representado por apenas uma espécie vivente, E. madagascariensis (Grandidier, 1867),

restrita a Madagascar (Pritchard & Trebbau, 1984). Peltocephalus, grupo-irmão de

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Podocnemis, é monoespecífico, estando Peltocephalus dumerilianus (Schweigger, 1812)

distribuída pelo leste da Colômbia, sudoeste da Venezuela e noroeste do Brasil (Pritchard &

Trebbau, 1984). O gênero Podocnemis, distribuído pela região setentrional cisandina da

América do Sul, é o mais representativo, com seis espécies viventes: P. erythrocephala (Spix,

1824), P. expansa (Schweigger, 1812), P. lewyana A. Duméril, 1852, P. sextuberculata

Cornalia, 1849, P. unifilis Troschel, 1848 e P. vogli L. Muller, 1935 (Pritchard, 1964;

Mittermeier & Wilson, 1974; Mittermeier, 1977; Pritchard & Trebbau, 1984; Moretti, 2004).

A Amazônia brasileira é o centro da diversidade do gênero Podocnemis, sendo que

quatro espécies ocorrem na região: P. expansa, P. sextuberculata e P. unifilis, amplamente

distribuídas pela bacia do rio Amazonas, e P. erythrocephala, que ocorre na bacia do rio

Negro (Mittermeier & Wilson, 1974) e tributários dos rios Nhamundá, Trombetas, Branco,

Amazonas (obs. pessoal) e Tapajós (Hoogmed & Ávila-Pires, 1990; Rebêlo, 1991). As duas

outras espécies, P. lewiana e P. vogli, ocorrem respectivamente no rio Magdalena e bacia do

rio Sinu (Colômbia) e na bacia do rio Orinoco (Colômbia e Venezuela) (Mittermeier &

Wilson, 1974; Mittermeier, 1975; Vanzolini, 2001; Moretti, 2004).

Atualmente, P. erythrocephala é popularmente conhecida como “calalumã”, “irapuca”

e “tracajá-piranga”; P. expansa é denominada “tartaruga” e “tartaruga-da-Amazônia” ou

“capitão” e “capitari” no caso dos machos; P. sextuberculata é chamada “iaçá” e “pitiú”; e P.

unifilis recebe o nome popular de “tracajá”, nome este também utilizado em algumas

localidades para designar os demais representantes do gênero, com exceção de P. expansa

(Rodrigues Ferreira, 1903; Ferreira, 1922; Luederwalt, 1926; Pereira, 1958; Medem, 1969;

Alfinito, 1980; Mittermeier et al., 1980; Rebêlo, 1991; Moretti, 2004).

Segundo Pritchard & Trebbau (1984), nenhuma espécie do gênero Podocnemis é

obrigatoriamente herbívora e todas apresentam pelo menos um mínimo de quantidade de

alimento de origem animal. Fachín-Terán (1999), estudando indivíduos de P. sextuberculata

da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, verificou que o item predominante na

alimentação desta espécie foi matéria vegetal, tendo como principal componente sementes.

Também foram encontradas quantidades mínimas de insetos e peixes.

A dieta pode variar em função do sexo e da idade do indivíduo. Fachín-Terán et al.,

(1995) comentam que, após analisar conteúdos estomacais de P. unifilis na natureza,

encontraram diferenças na dieta entre machos e fêmeas. Sementes e frutas eram mais

consumidas por fêmeas e talos e brotos pelos machos.

Diversos autores citam que a reprodução dos Podocnemididae está relacionada com o

ciclo anual de vazante e enchente, sendo que a desova e a incubação são realizadas na época

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seca, e o nascimento dos filhotes coincide com o início da enchente (Alho & Pádua, 1982a;

Fachín-Terán, 1992; Thorbjarnarson et al., 1993; Soini, 1996, 1997; Fachín-Terán & von

Müllen, 2003). Alho & Pádua (1982b) comentam que o regime de vazante com a estabilidade

do nível da água, em seu nível mais baixo, parece ser a causa que desencadeia o ritual de

comportamento de nidificação de P. expansa.

Com relação à biologia reprodutiva, P. expansa é a espécie que mais se diferencia

dentro da família. As fêmeas sobem à praia em grupos, e deixam de ser ariscas ao iniciarem a

ovipostura. Seus ovos são esféricos, os ninhos são relativamente profundos e estão

concentrados em determinada região da praia (Mittermeier, 1975; Alho & Pádua, 1982a). A

iaçá costuma nidificar nos pontos mais altos das praias que surgem na estação seca pondo, em

média, 15,8 ovos por ninho na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM)

(Pezzuti & Vogt, 1999). Os autores relatam que o período médio de incubação para esta

espécie é de 64 dias. Nesta mesma reserva, Fachín-Terán & von Müllen (2003) comentam que

a nidificação de P. unifilis ocorre quando a diminuição do nível da água expõe praias e

barrancos. As fêmeas utilizam argila, areia e folhiço como substratos na construção dos

ninhos. Os ninhos estavam concentrados na parte alta da praia e em terreno inclinado.

1.3. Biologia de Podocnemis erythrocephala (SPIX, 1824)

Das quatro espécies do gênero Podocnemis encontradas na Amazônia brasileira, a

espécie que apresenta distribuição mais restrita é a irapuca, que vive preferencialmente em

água preta (Mittermeier & Wilson 1974) e em água clara (Hoogmed & Ávila-Pires, 1990;

Rebêlo, 1991, obs. pessoal).

Podocnemis erythrocephala (Figura 1) é a menor espécie do gênero e facilmente

distinguida de suas congêneres devido ao seu pequeno tamanho (medindo menos que 32 cm,

geralmente as fêmeas medem em torno de 27 cm e os machos são menores ainda). Sua

coloração vai de marrom-escuro a preto; a carapaça é expandida na porção posterior;

apresenta um par de barbelos embaixo do queixo; e uma faixa vermelha brilhante se estende

da parte de trás da cabeça até os tímpanos (nos machos adultos este padrão persiste enquanto

que nas fêmeas torna-se marrom escuro) (Pritchard & Trebbau, 1984).

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Figura 1 - Exemplar de P. erythrocephala.

Informações sobre a dieta natural desta espécie foram descritas por Mittermeier &

Wilson (1974), que analisando o conteúdo estomacal, revelaram que os adultos são

principalmente herbívoros, se alimentando de plantas aquáticas e frutos que caem no igapó.

Contudo, eles são freqüentemente capturados com linhas de pescar, o que indubitavelmente

inclui peixe em sua dieta, ocasionalmente.

As fêmeas de P. erythrocephala utilizam substratos arenosos para depositar seus ovos

(Ernst & Barbour, 1989). Os sítios de desova estão normalmente localizados nas áreas de

Campina (Mittermeier & Wilson, 1974). A campina é uma das fitofisionomias florestais que

ocorrem nas areias brancas da bacia do rio Negro, consistindo de uma vegetação mais

arbustiva e campestre. Uma vez que não ocorre a justaposição das copas das árvores, não há a

formação de um teto ou dossel (Oliveira et al., 2001). Vogt (2001) menciona que na bacia do

rio Negro as fêmeas desta espécie desovam freqüentemente dentro da floresta, até 200 m de

distância da água.

Esta espécie coloca seus ovos no período que vai do final do mês de agosto até início

de novembro, sendo que o pico da estação de postura aparentemente ocorre entre setembro e

outubro. Em Santa Isabel do Rio Negro (Batistella, 2003) e em Barcelos (Rebelo, 1991) a

desova se estende até dezembro. Na Colômbia a postura ocorre de novembro até janeiro

(Castaño-Mora, 1997). A estação de desova está sincronizada com o regime de vazante dos

rios, e quando as primeiras praias começam a despontar, as fêmeas de irapuca começam sua

estação de ovipostura. Uma vez que o regime de vazante é dinâmico e a exposição dos sítios

de desova ocorre em épocas distintas, o início da estação de desova varia entre as bacias

hidrográficas (Pezzuti, 1998).

Mittermeier & Wilson (1974) encontraram uma variação de 5 a 14 ovos por ninho de

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P. erythrocephala, com base em dados coletados na calha do rio Negro. Batistella (2003)

encontrou uma variação de 2 a 16 ovos por ninho, na região de Santa Isabel do Rio Negro. Já

Moretti (2004) encontrou uma variação de 7 a 11 ovos por ninho, os dados foram coletados na

bacia do rio Trombetas. Os ovos são alongados podendo apresentar a casca dura ou levemente

flexível (Mittermeier & Wilson, 1974).

Vogt (2001) demonstrou que nesta espécie, assim como na maioria das espécies de

Podocnemis, a determinação sexual dá-se por meio da temperatura média à qual os ovos estão

submetidos durante o período de desenvolvimento embrionário, sendo a diferença entre a

temperatura que define machos e fêmeas da ordem de um ou dois graus.

Os ribeirinhos consomem uma grande quantidade de ovos de irapuca em praticamente

toda a bacia do rio Negro (Vogt, 2001; Novelle, 2006), apesar de ainda não existir um

programa específico para a proteção de seus locais de desova como ocorre com a tartaruga-

da-Amazônia. Como observado por Batistela (2003), na região de Santa Isabel do Rio Negro

é muito comum famílias inteiras de ribeirinhos visitarem as campinas durante o período de

desova. A coleta de ovos nestas ocasiões chega a 100% do número de posturas da noite.

Vários autores descrevem a mesma situação em diferentes regiões e para outras espécies

(Hildebrand et al., 1988; Mitchel & Quinõnes, 1994; Pezzuti, 1998).

As fêmeas de P. erythrocephala são capturadas nas campinas durante a estação

reprodutiva. Como todas as Podocnemis da América do Sul, a irapuca é altamente explorada e

nas cidades pequenas existe pouco ou nenhum controle sobre esta exploração (Mittermeier &

Wilson, 1974). Esta espécie é classificada pela IUCN (União Internacional para Conservação

da Natureza) dentro da categoria vulnerável (Hilton, 2000), devido a pressão de coleta de seus

ovos e da caça dos indivíduos adultos pelos ribeirinhos (Vogt, 2001; Novelle, 2006).

1.4. Parâmetros genéticos como estimadores populacionais

O enfoque genético pode ser usado como importante ferramenta auxiliar para

pesquisas em diferentes campos. Parâmetros ecológicos como, por exemplo, estudos

comportamentais e de ecologia populacional, têm sido estimados a partir da escolha judiciosa

de marcadores moleculares, levando-se em consideração as diferentes taxas de

substituição/evolução. Baseado nesta característica pode-se estudar desde problemas de

avaliação de parentesco genético e sistemas de acasalamento a investigações de caráter

filogeográfico e história demográfica (Hoelzel & Dover, 1991; Avise, 1994, 2000; Carvalho,

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1998; Pearse et al., 2001). Revisões recentes detalham a miríade de técnicas de análises

genéticas agora disponíveis e as questões ecológicas que podem solucionar (ver Selkoe &

Toonen, 2006 para maiores detalhes).

Em espécies cujas populações são pequenas ou experimentaram recente redução

populacional, marcadores com baixa taxa mutacional, como aloenzimas, podem ser

invariáveis e apenas loci com alta taxa de mutação podem ser informativos (Hedrick, 1999).

Um lento processo mutacional permite a suposição de eventos no passado distante que

persistem muito tempo, o que torna a seleção de loci com alta ou baixa diversidade alélica da

questão de interesse um parâmetro extremamente importante. Questões de paternidade ou

estrutura clonal são mais bem avaliados usando microssatélites com alta diversidade alélica,

que podem fornecer todos os indivíduos com um único genótipo (identification tag) usando

poucos loci (Queller et al., 1993). Em estudos de estrutura populacional e migração, que

empregam estimativas da freqüência de alelos na população, a alta diversidade alélica dos

marcadores microssatélites atua como uma réplica estatística para emprestar maior poder para

distinguir populações (Kalinowski, 2002; Wilson & Rannala, 2003; Selkoe & Toonen, 2006).

Um outro importante marcador tem se mostrado poderoso para resolver questões sobre

a possibilidade de viés sexual. Devido a seu predominante modo de herança materna

(Huntchison et al., 1974; Avise, 1986), o número efetivo de genes do genoma mitocondrial

corresponde a um quarto do nuclear, levando a mais rápida taxa de diferenciação genética

através da deriva (Birky et al., 1983). A divergência genética é também aumentada pela maior

taxa de evolução de seqüências (pelo menos em vertebrados), particularmente dentro de uma

porção hipervariável do genoma mitocondrial, a região controle, em comparação aos genes

condificantes do DNA nuclear (Brown et al., 1979; Brown, 1983; Moritz et al., 1987). Estas

propriedades também facilitam a reconstrução de relações filogenéticas entre os haplótipos do

DNA mitocondrial, que podem ser comparadas a sua atual distribuição geográfica para

identificar os processos que definem a estrutura genética entre populações (Avise et al., 1987;

O’Corry-Crowe et al., 1997).

Estas informações demonstram que a ferramenta genética pode ser usada como um

importante componente na conservação de espécies ameaçadas, pois permite a identificação

das quebras genéticas, a fronteira entre as unidades evolutivas significantes (UES) e as

unidades de manejo (UM), o problema central da genética de populações (Waples, 1995;

Crandall et al., 2000; Fraser & Bernatchez, 2001; Pearman, 2001; Moritz, 2002; Pearse et al.,

2006).

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As unidades evolutivas significantes são entendidas como uma categoria acima das

unidades de manejo, descrevendo uma população ou grupos de populações que podem

apresentar uma nova trajetória evolutiva, decorrente de um isolamento a longo prazo ou

divergência ecológica, morfológica ou genética (Waples, 1991). O conceito de UES é valioso,

pois permite aos conservacionistas uma abertura nas difíceis questões sobre conceitos

taxonômicos e de espécies, e foca na preservação de maiores subdivisões evolutivas (Bowen,

1998).

As populações isoladas ou unidades de manejo são tipicamente caracterizadas por

diferenças na freqüência genotípica, sem levar em conta a natureza filogenética dos alelos

(Moritz, 1994). Este conceito está bem inserido na biologia populacional e é importante para a

conservação, pois descreve as unidades de manejo fundamentais: as populações isoladas

reprodutivamente (Bowen, 1998).

Como as estimativas de parâmetros populacionais contêm componentes independentes

de outras espécies ou da diversidade de ecossistemas, a diversidade genética pode fornecer

uma medida pela qual se pode estimar o valor das regiões para a conservação. Em geral, o

método e o programa estatístico utilizado para responder questões sobre genética de

populações e sobre filogenética são aplicáveis para a conservação genética (Bert et al., 2002).

1.5. O uso de DNA mitocondrial em estudos populacionais

Entre os fragmentos de DNA mais usados para estudar os níveis e padrões de

distribuição da variabilidade genética entre populações de espécies animais, o DNA

mitocondrial (DNAmt) tem recebido atenção especial (Avise, 1994). O genoma mitocondrial

dos animais é uma molécula de DNA circular, fita dupla, pequena e contida em múltiplas

cópias na mitocôndria (Figura 2). Seu tamanho é relativamente estável para animais, em torno

de 16 - 21 kilobases (kb) (Ray & Densmore, 2002). Sua organização inclui 13 genes

codificadores de proteína, que representam 90% deste genoma, 22 RNAs de transferência

(tRNAs), 2 de RNAs ribossômicos (12S e 16S rRNA) e uma região não codificadora chamada

de região controle ou alça D (D-loop) (Brown et al., 1979; Anderson et al., 1981; Avise,

1986; Meyer, 1993).

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Figura 2 - Genoma mitocondrial completo de Pelomedusa subrufa [13974] gi|5835582|ref|NC_001947.1|.

FONTE: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/genomes/framik.cgi?db=genome&gi=13974, acessado em 03/03/2006.

Uma das vantagens em usar o DNAmt em estudos populacionais é que ele possui uma

taxa de evolução (mutação) de 5 a 10 vezes maior (5,7 X 10-8 substituição por sítio por

geração) do que os genes codificadores de proteínas do DNA nuclear (Brown, 1980; Perler et

al., 1980; Brown et al., 1982). Várias razões possíveis explicam o porquê dessa taxa de

mutação tão alta: 1) a exposição do DNA ao alto fluxo de radicais livres de oxigênio na cadeia

respiratória, que têm efeito mutagênico, o que não acontece com o DNA nuclear por ser

protegido pelas histonas (Cann et al., 1984; Strachan & Read, 1996; Li, 1997); 2) a falta de

um mecanismo de reparo, como o encontrado no DNA nuclear; 3) o número de replicações é

muito maior no DNA mitocondrial em relação ao nuclear, durante a vida da célula (Li, 1997).

O DNAmt é também muito utilizado devido à facilidade em isolá-lo, ao grande

número de cópias por célula, seu tamanho pequeno, sua organização simples, por não ser

recombinante (Avise et al., 1984; Hayashi et al., 1985) e por sua suposta herança materna (a

mitocôndria paternal parece ser ativamente degradada durante a fertilização) e uniclonal

(Hutchinson et al., 1974; Giles et al., 1980; Waughn et al., 1980; Avise, 1986, 1994). A

herança materna gera hipóteses que refletem a filogenia das fêmeas de uma população, sendo

útil, por exemplo, no estudo da movimentação de fêmeas em populações naturais de uma

D-Loop

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espécie (Lasman et al., 1981; Avise et al., 1984). A alta taxa de mutação ainda permite que o

DNA mitocondrial seja utilizado para inferir relações filogenéticas entre populações ou

espécies com tempos de divergência relativamente recentes entre milhares e alguns milhões

de anos (Brown et al., 1979).

A região controle é a região não codificadora do genoma mitocondrial. Apresenta em

torno de 1100 pares de bases e localiza-se entre as regiões codificadoras de dois RNAs

transportadores (tRNA), o tRNA da prolina, e o tRNA da fenilalanina. Esta região inclui um

segmento chamado D-loop (displacement loop structure) ou alça-D onde estão localizados os

sítios de iniciação da replicação da fita pesada (H) e os promotores de transcrição das fitas

leve e pesada (Brown et al., 1986; Honeycutt & Wheeler, 1990; Strachan & Read, 1996).

A extrema variabilidade encontrada na região controle, em termos de substituição de

bases, quando comparada a outras regiões do DNAmt e do DNA nuclear (Aquadro &

Greenberg, 1983; Honeycutt & Wheeler, 1990), foi descoberta há mais de duas décadas

(Fauron & Wolstenholme, 1976; Upholt & Dawid, 1977) e tem sido amplamente utilizada em

estudos populacionais. Sua taxa de evolução está entre duas a cinco vezes maior do que a de

genes mitocondriais codificadores de proteínas (Aquadro & Greenberg, 1983) e esta região é

também responsável pela variação de tamanho observada no genoma mitocondrial dos

vertebrados (Densmore et al., 1985; Harrison et al., 1985).

Alguns trabalhos já têm utilizado com sucesso a região controle para estudos

populacionais em quelônios da Amazônia. Sites et al. (1999), trabalhando com P. expansa de

duas bacias hidrográficas (Tapajós e Araguaia) da Amazônia brasileira, obtiveram seqüências

de DNA mitocondrial da extremidade 5’ da região controle (354 pb) de uma amostra de 73

tartarugas, e a estratégia amostral permitiu uma comparação entre a estrutura populacional

inter e intrabacias fluviais. Todas as amostras foram fixadas em um único haplótipo dentro do

rio Araguaia, enquanto que as amostras do rio Tapajós incluíram três haplótipos exclusivos

desta bacia fluvial e um quarto haplótipo contendo amostras do rio Araguaia. Este resultado

sugere limitado fluxo gênico interbacias fluviais, mas muito extenso intrabacia. Em um outro

estudo concentrado em praticamente toda a área de distribuição desta espécie e com suficiente

capacidade de amostragem, Pearse et al. (2006) mostraram que as populações de P. expansa

não apresentam uma longa história de diferenciação genética, mas que cada grande tributário

do rio Amazonas atualmente forma uma população parcialmente isolada reprodutivamente,

parâmetro que deve ser considerado durante as tomadas de decisões e assim conservar seu

patrimônio genético.

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1.6. Justificativa

Após mais de 36 anos de promulgada a Lei nº 5.197/67, que dispõe sobre a Proteção

da Fauna, proibindo a livre captura de animais silvestres, as comunidades ribeirinhas mantêm

o hábito cultural de alimentar-se e de comercializar quelônios (Rebelo & Lugli, 1996; Fachín-

Terán et al., 2000; Soares, 2000; Fachín-Terán & Von Mülhen, 2003; Fachín-Terán & Vogt,

2004), ocasionando, muitas vezes, repreensões pelos órgãos de fiscalização do governo.

Apesar de a irapuca não ser a mais importante na economia, ela está entre as espécies

mais consumidas nos tributários da bacia do rio Negro, devido a reduções locais nas

populações de P. expansa e P. unifilis, mais apreciadas (Vogt, 2001). Contudo, a carência de

dados populacionais sobre P. erythrocephala dificulta a determinação de sua situação e a

implantação de práticas de manejo e conservação dessa espécie na região Amazônica. Neste

sentido, as instituições de fiscalização e de pesquisa devem dar respostas para que as

populações dessa espécie sejam manejadas sustentavelmente pelas populações ribeirinhas que

participam do programa de preservação (Fachín-Terán & Vogt, 2004).

Atualmente, em relação aos quelônios da Amazônia, uma questão genética, de

conservação e manejo muito relevante a ser abordada diz respeito ao conhecimento dos níveis

e padrões de distribuição espacial da variabilidade genética, para se entender padrões

evolutivos inter e intrapopulacionais que possam fornecer subsídios na busca de melhores

estratégias para o uso racional deste recurso.

Na última década, várias classes de marcadores moleculares têm sido empregadas para

investigar os padrões de fluxo gênico e estrutura populacional, devido ao desenvolvimento de

técnicas que permitem avaliar múltiplos loci evoluindo em diferentes taxas de mutação

(Avise, 1994; Sites et al., 1999). O uso combinado de marcadores de DNA nuclear e

citoplasmático é bastante útil na determinação de fluxo gênico baseado no sexo,

particularmente em espécies que exibem um alto grau de estrutura em linhagens maternas

(Karl et al., 1992; Melnick & Hoelzer, 1992; Palumbi & Baker, 1994). O DNA mitocondrial

gera hipóteses que refletem a filogenia das fêmeas e unidades demográficas de uma população

(Moritz, 1994; Avise, 1995), enquanto o DNA microssatélite, devido a sua alta taxa de

mutação e alta diversidade alélica, é ideal para resolver muitas questões populacionais

(Ashley & Dow, 1994; Schlotterer & Pemberton, 1994), principalmente, para espécies

definidas como prioritárias para a conservação e das quais pouca informação ecológica pode

estar disponível (Sites et al., 1999).

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Baseado nas informações expostas anteriormente, este trabalho utilizará dados da

região controle mitocondrial e analisará os padrões de variabilidade desta classe de marcador

molecular em diferentes bacias fluviais na região Amazônica. Este estudo intenciona

contribuir para trabalhos que investigam questões relativas à conservação de espécies

ameaçadas de extinção, numa escala em que o fluxo gênico define populações. Os resultados

obtidos também poderão colaborar para elucidar a estrutura de metapopulação e o

comportamento migratório de P. erythrocephala, permitindo identificar unidades

demográficas independentes necessárias para a conservação e o manejo, garantindo a

sobrevida da espécie.

1.7. Hipóteses

H0= As populações de irapucas pertencentes à bacia Amazônica apresentam-se em

uma única e grande população panmítica;

H1= Existem populações na região do rio Negro e do Médio e Baixo rio Amazonas

que não são geneticamente homogêneas como um efeito da estrutura geomorfológica (isto é,

cachoeiras e corredeiras) da drenagem do rio Negro e da provável atuação do rio Amazonas

como barreiras geográficas, que contribuem para a diferenciação genética das populações

separadas por estes acidentes geográficos;

H0= Não existe correlação significativa entre divergência genética e distância

geográfica nas populações amostradas, as quais se encontram em panmixia;

H2= Existe correlação entre geografia e distribuição da variação genética e esta

correlação é devido a eventos demográficos, tais como: isolamento por distância,

fragmentação no passado, fluxo gênico restrito e colonização.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

- Determinar a estrutura genética de P. erythrocephala a partir de um marcador

de linhagem materna (região controle mitocondrial) para que os resultados provenientes deste

estudo possam dar suporte a futuros programas de manejo e conservação da espécie.

2.2. Objetivos específicos

- Caracterizar e analisar os níveis de variabilidade genética intra e

interpopulacional de P. erythrocephala ao longo dos pontos de distribuição amostrados na

bacia Amazônica;

- Determinar possíveis unidades de manejo a partir do nível de diferenciação

genética encontrado com base na freqüência dos haplótipos da região controle mitocondrial;

- Verificar se cachoeiras (ou corredeiras) localizadas na drenagem do rio Negro

e o rio Amazonas funcionam como barreiras ao fluxo gênico para as populações de irapucas;

- Inferir se há eventos históricos (colonização, fragmentação, expansão,

isolamento por distância) envolvidos no padrão de distribuição geográfica dos haplótipos do

DNA mitocondrial.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Local de coleta e material amostrado

Os locais de coleta compreenderam o Parque Nacional Viruá, no estado de Roraima,

São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Parque Nacional do Jaú

(PNJ), Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e Oriximiná e Terra Santa, no

estado do Pará, como mostrado na Figura 3. As amostras foram obtidas com a autorização de

coleta fornecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA), licença n° 113/2006. Desta forma, neste estudo foram amostradas dez

populações de irapuca, perfazendo um total de 246 espécimens analisados (indivíduos jovens

ou recém-eclodidos) (Tabela 1). Foram retiradas amostras de sangue (aproximadamente

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50µL) de cada indivíduo através da punção da veia femoral, com seringas contendo NE (NaCl

100mM e EDTA 10mM, pH 8) como anticoagulante e, em seguida, foram preservadas em

tubos com álcool etílico absoluto, rotulados com registro de campo e armazenados na

geladeira até o processamento.

Figura 3. Mapa com as localidades amostradas. 1- Parque Nacional Viruá (RR), 2- São Gabriel da Cachoeira (AM), 3- Santa Isabel do Rio Negro (AM), 4 e 5- Barcelos (AM), 6- Parque Nacional do Jaú (AM), 7- Barreirinha (AM), 8- Nhamundá (AM), 9- Oriximiná (PA) e 10- Terra Santa (PA).

Nota: Representam cachoeiras e corredeiras.

5

6

1

2

3

4

7

8

10

9

80°W 75°W 70°W 65°W 60°W 55°W 50°W 45°W 40°W

80°W 75°W 70°W 65°W 60°W 55°W 50°W 45°W 40°W

10°N

5°N

5°S

10°N

5°N

5°S

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Tabela 1. Lista das amostras populacionais analisadas.

Localidades

Amostradas

Estado Rio/Lago/

Igarapé

Bacia Ponto no

Mapa

Tamanho

Amostral

Parque Nacional Viruá RR Igarapé Iruá Rio Branco 1 10

São Gabriel da Cachoeira AM Rio Negro Rio Negro 2 18

Santa Isabel do Rio Negro AM Rio Ayuanã Rio Negro 3 34

Barcelos AM Rio Itu Rio Negro 4 29

Barcelos AM Rio Cumicuri Rio Negro 5 29

Parque Nacional do Jaú AM Rio Jaú Rio Negro 6 34

Barreirinha AM Rio Andirá Rio Amazonas

7 33

Nhamundá AM Rio Paracatu Rio Nhamundá

8 23

Oriximiná PA Lago Sapucuá Rio Trombetas

9 17

Terra Santa PA Igarapé Alema

Rio Nhamundá

10 19

Total 246

3.2. Métodos laboratoriais

3.2.1. Extração de DNA

O DNA genômico foi isolado das amostras de sangue pelo método fenol/clorofórmio

(Sambrook et al., 1989), mediante modificações, envolvendo os seguintes procedimentos

gerais: (1) rompimento da célula, (2) separação dos ácidos nucléicos pela remoção das

proteínas e de outros restos celulares, e (3) purificação final (Kreuzer & Massey, 2002). As

amostras foram submetidas a um processo de digestão por uma solução de lise – STE (EDTA

(0,5M), Tris-KCl (1M), NaCl (3M), e SDS (5%)), Proteinase K, RNAse e SDS 10%.

Visando remover as proteínas contaminantes, o DNA foi purificado por meio de

sucessivas lavagens em fenol, fenol/clorofórmio/álcool isoamílico e clorofórmio hidratado e

então submetido a uma purificação adicional compreendendo NaCl (3M) e álcool etílico a

70%. Posteriormente, o sedimento foi deixado à temperatura ambiente para secar e então

dissolvido em ddH2O.

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3.2.2. Quantificação do DNA

O DNA em solução teve sua concentração determinada por meio da visualização e

comparação de bandas através da técnica de eletroforese em gel de agarose a 0,8%. No gel,

2µL do DNA extraído de cada amostra foi misturado com 2µL de corante Bromofenol. Como

parâmetro a concentração das amostras, foram utilizados 2µL de marcadores de peso

molecular conhecido (100, 50 e 30ng). Quando necessário, as amostras foram diluídas, e

então mantidas a concentração de 10-30ng/µL.

Aproximadamente após 60 minutos de corrida eletroforética, a 100 volts, o gel foi

corado com brometo de etídio por 15 minutos e em seguida observado em um transluminador

de luz UV Image Master (Pharmacia Biotech).

3.2.3. Amplificação in vitro do DNA via reação em cadeia da polimerase

Uma das ferramentas mais poderosas em biologia molecular é a Reação em Cadeia da

Polimerase (PCR – Polymerase Chain Reaction), concebida por Kary Mullis em meados da

década de 80 (Mullis & Fallona, 1987). Esta técnica permite essencialmente que um número

ilimitado de cópias de um fragmento específico de DNA seja gerado. No presente estudo foi

utilizado, para amplificação de cada amostra, 0,8µL de DNA, 2µL de cada iniciador (primer)

(PRO e 12SR5 2mM), 2,5µL de tampão (Tris-KCl 200mM, pH 8,5), 1,5µL de MgCl (25mM),

2,5µL de dNTP (10mM), 0,2µL de enzima Taq polimerase (5U/µL) e 13,5µL de ddH2O

completando um volume final de 25µL de reação em cada tubo eppendorf de 0,2mL.

Os iniciadores utilizados para a amplificação da região controle conferem à seqüência

de bases nucleotídicas visualizadas na Tabela 2.

Tabela 2. Seqüência nucleotídica dos iniciadores utilizados na amplificação da região controle.

Iniciadores Seqüência Nucleotídica Referência

PRO 5’ - CCCATCACCCACTCCCAAAGC - 3’ Pearse et al., 2006

12SR5 5’ - GTCAGGACCATGCCTTTGTG - 3’ Tomas Hrbek com. pessoal

As reações de PCR foram realizadas em um termociclador (PCR Express – Thermo

Hybaid), programado para as seguintes condições de amplificação: o primeiro ciclo constitui-

se de dois minutos a 92°C para desnaturação das fitas complementares do DNA. Os demais 35

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17

ciclos foram constituídos de um minuto a 92°C (desnaturação), trinta e cinco segundos a 55°C

(anelamento dos primers) e um minuto a 72°C (extensão dos seguimentos amplificados de

DNA) e a extensão final a 72°C por cinco minutos.

O produto amplificado foi submetido a uma corrida eletroforética em gel de agarose a

1% para que a eficiência da reação seja constatada. Neste procedimento, foi utilizado 3µL do

produto de PCR juntamente com 2µL de Bromofenol e um marcador padrão (Ladder 1Kb)

para posterior comparação e estimativa do tamanho do fragmento amplificado em pares de

bases. O gel foi corado com brometo de etídio e então visualizado em transluminador sob luz

ultravioleta.

3.2.4. Purificação do produto amplificado

As amostras de DNA amplificadas foram submetidas à purificação por meio de

precipitação com acetato de sódio e etanol 95%. Este procedimento visa eliminar dos

produtos de PCR resíduos de baixo peso molecular, tais como sais, iniciadores e dNTPs. O

protocolo de purificação constou das seguintes etapas:

- Verificar o volume total do produto de PCR;

- Adicionar 10% deste volume com NaOAc (3M, pH 4,8);

- Multiplicar este novo volume por dois, e o valor resultante constituir a

quantidade de álcool etílico 95%;

- Vortexar as amostras para homegeneizar;

- Incubar a -20°C por 30-40 minutos;

- Centrifugar (12.000rpm) por 30 minutos;

- Descartar o sobrenadante;

- Acrescentar 250µL de etanol 70%;

- Descartar o sobrenadante;

- Deixar secar;

- Ressuspender com 20µL de água autoclavada deionizada.

A eficiência do produto purificado foi verificada em gel de agarose a 1%.

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3.2.5. Reação de seqüenciamento

As reações de seqüenciamento foram feitas em uma placa para um volume final de

10µL utilizando o kit de reação “DYEnamic™ ET dye terminator kit” (GE-Healthcare).

A mistura teve a seguinte composição: 4µL de DNA amplificado, 2 L de um dos

oligonucleotídeos (mesma concentração utilizada na reação de PCR), 2 L do ET-terminator

e 2µL de água autoclavada deionizada, para cada amostra. Em seguida as amostras foram

submetidas ao termociclador programado para 35 ciclos com o seguinte perfil de temperatura:

20 segundos a 95ºC a fim de desnaturar as fitas complementares, 15 segundos a 55ºC, para o

pareamento do iniciador e 1 minuto a 60ºC para a extensão da região a ser seqüenciada.

Ao término da reação, as amostras de DNA resultantes deste PCR foram submetidas

ao protocolo de precipitação de acordo com instruções do fabricante (GE-Helthcare).

Em seguida, a placa contendo o DNA foi submetida a eletro-injeção e as seqüências

nucleotídicas foram determinadas pelo seqüenciador automático MegaBACE 1000 DNA

Analysis System (GE-Helthcare) seguindo instruções do fabricante.

3.2.6. Análise dos dados

3.2.6.1. Edição e alinhamento das seqüências

As seqüências nucleotídicas convertidas pelo seqüenciador automático foram

conferidas no programa BIOEDIT (Hall, 1999), com auxílio da ferramenta ClustalW

(Thompson et al., 1994) que realiza o alinhamento automático. A edição final das seqüências

foi feita manualmente para minimizar o número de gaps causados pela inserção e/ou deleção

de nucleotídeos e maximizar o caráter de homologia inerente às regiões conservadas

flanqueando as àquelas mais variáveis e que estão sujeitas a inserção e/ou deleção de

nucleotídeos.

3.2.6.2. Análises de diversidade

A diversidade genética foi estimada a partir da diversidade gênica (H), que é a

probabilidade de duas seqüências, escolhidas aleatoriamente de uma população, serem

diferentes (Nei, 1987). Esta medida de polimorfismo é equivalente ao nível de heterozigose

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esperada, quando se trata de marcador com herança co-dominante (dados diplóides); da

diversidade nucleotídica ( ), que corresponde ao número de nucleotídeos diferentes por sítio

entre seqüências escolhidas ao acaso em uma população (Nei & Li, 1979); do número de

haplótipos do DNAmt; e do número de sítios segregantes (S). Estas medidas de variabilidade

genética foram estimadas no programa ARLEQUIN versão 3.1 (Schneider et al., 2006) e no

programa DNASP versão 4.0 (Rozas et al., 2003).

3.2.6.3. A análise de clados agrupados hierarquisados

Análises referentes às amostras populacionais de Podocnemis erythrocephala

produziram uma matriz de dados utilizada para estimar cladogramas intra-específicos não

enraizados de haplótipos, com base no critério da máxima parcimônia (Templeton et al.,

1992). As topologias, que representam os agrupamentos dos haplótipos foram realizadas com

o auxílio do programa TCS versão 1.18 (Clement et al., 2000). Este software agrupa

seqüências de pares de bases que diferem entre si em passos mutacionais dentro de haplótipos

e calcula a freqüência desses haplótipos na matriz, estimando relações genealógicas entre eles,

usando um algoritmo descrito por Templeton et al. (1992).

A partir das mutações ocorrentes em uma ou mais bases nucleotídicas, este programa

pode gerar haplótipos raros ou únicos além de elipses menores, que ligam os haplótipos

identificados. Estas elipses menores podem corresponder aos haplótipos não amostrados

(missing haplotypes) ou que simplesmente não foram encontrados nas amostras populacionais

examinadas e, dessa maneira, este programa os assume como haplótipos intermediários.

Para verificar se alguma significante associação entre os níveis do cladograma dos

haplótipos e sua localização geográfica resulta de algum nível de fluxo gênico restrito foi

utilizada a análise de clados agrupados (NCA) proposta por Templeton et al. (1995). A NCA

leva em consideração genealogias de DNA, a freqüência dos haplótipos e dados geográficos

para distinguir eventos históricos (tais como fragmentação ou expansão populacional) ou

atuais (como o fluxo gênico). Para utilizar a NCA, a árvore dos haplótipos foi convertida em

um agrupamento hierárquico de conexões agrupadas, ou clados, usando as regras descritas por

Templeton et al. (1987) e Templeton & Sing (1993). Para cada clado inserido em um nível

hierárquico específico, desvios da hipótese nula de não associação geográfica foram

determinados a partir de duas distâncias: (i) a distância dos clados, (Dc), que corresponde à

distância de um clado X em relação ao centro geográfico de todos os haplótipos que são

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incluídos neste clado, e (ii) a distância dos clados agrupados, (Dn), que equivale à distância de

um clado agrupado X em relação a outro. Esta análise inclui ainda outro parâmetro, o índice I-

T, que correlaciona os haplótipos do interior (mais antigos) e os de ponta (mais recentes). A

significância das distâncias (Dc e Dn) e a correlação interior-ponta foi testada usando uma

análise de contingência (Templeton & Sing, 1993) no programa GeoDis versão 2.0 (Posada et

al., 2000). A interpretação dos resultados seguiu a edição mais recente da chave de inferência

de Templeton, publicada em Novembro de 2005 (disponível em

http://darwin.uvigo.es/download/geodisKey_11Nov05.pdf).

3.2.6.4. Análises de estrutura populacional

Corroborando a importância da análise de clados agrupados para estudos de fundo

filogeográfico, os resultados deste método foram utilizados para inferir a estrutura genética

das populações de irapucas e deduzir quais clados são conectados por fluxo gênico. Os níveis

de diferenciação entre as populações foram calculados usando a análise de variância

molecular (AMOVA) (Excoffier et al., 1992), o ST que é análogo ao FST (Weir &

Cockerham, 1984), e o teste de Mantel (Mantel, 1967) a partir de ferramentas disponíveis no

software ARLEQUIN versão 3.1 (Schneider et al., 2006).

A análise de variância molecular é baseada sobre análises de variação de freqüência

gênica, mas levando em conta o número de mutações entre os haplótipos como uma medida

de divergência evolutiva, sendo que as informações contidas na freqüência destes haplótipos

apresentam panmixia como ponto de partida da análise. Após a definição dos grupos de

populações, o usuário define uma estrutura genética que será testada. Uma análise hierárquica

de variação divide a variação total em componentes covariantes devido a diferenças intra-

individuais, inter-individuais e/ou diferenças interpopulacionais (Excoffier et al., 1992).

A estimativa do fluxo gênico das fêmeas foi calculada dos valores par a par do ST

(Slatkin, 1985), que produz valores equivalentes ao FST (Hudson et al., 1992) e têm sido

usados igualmente em estudos populacionais. O ST leva em consideração a distância genética

entre haplótipos, neste caso baseada no modelo Kimura 2-parâmetros (Kimura, 1980) sem a

correção gama, assim como a frequência dos haplótipos em cada população. Já o FST

considera apenas as diferenças na freqüência dos haplótipos. Outra diferença entre os dois

métodos é que o ST pode ser usado com um número grande de tipos de marcadores

moleculares (ao contrário do FST que se aplica mais a dados de marcadores co-dominantes).

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21

Os valores de ST foram usados para estimar o número efetivo de fêmeas migrantes através da

equação Nemf ˜ 0,5 [(mtFST)-1-1] (Weir & Cockerham, 1984) para marcadores mitocondriais

(mt), onde Ne é o tamanho efetivo de fêmeas na população, e mf é a taxa individual de

migração de fêmeas. O fluxo gênico, dado pelo equivalente ao número de migrantes por

geração Nm, é uma força contrária e impõe um limite à diferenciação genética. Valores de Nm

maior do que 1 são indicativos de que a divergência genética está sendo refreada (Hartl &

Clark, 1989). Valores para o ST são inversamente proporcionais aos valores de Nm, ou seja,

quanto maior o número de migrantes, os valores de ST são menores indicando intenso fluxo

gênico entre populações e ausência de estruturação populacional. Ao passo que, quando

observado pequeno número de migrantes conclui-se estar ocorrendo pouco fluxo gênico. De

um modo geral, para estimativas de ST ou FST significativamente diferentes de zero, valores

superiores a 0,05 são considerados indicadores de alta estruturação populacional, enquanto

que valores abaixo de 0,05 indicam baixa estruturação (Wright, 1978). Baseada nos valores

do índice de diferenciação genética ST das comparações múltiplas entre os pares de

populações de P. erythrocephala foi construída uma árvore de distância de Neighbor Joining

sem raiz para as dez amostras populacionais usando-se o programa Mega versão 4 (Tamura,

Dudley, Nei & Kumar, 2007) para uma melhor visualização da relação entre as localidades.

Na área de genética de populações o teste de Mantel (Mantel, 1967) é usado para

estimar a significância da correlação entre a divergência genética (no caso deste estudo, o

índice ST) e uma distância espacial (neste caso uma matriz de distâncias geográficas

aproximadas, seguindo o curso dos rios). Neste trabalho a hipótese de isolamento por

distância foi testada via teste de Mantel e os valores de [ ST /(1 - ST )] foram adequados a

uma distância em quilômetros referente ao mais curto caminho percorrido pelos rios entre

cada par de populações (Fetzner & Crandall, 2003) e a correlação de Spearman (Spearman,

1904) com 10.000 permutações será usada para avaliar a significância no software

ARLEQUIN versão 3.1 (Schneider et al., 2006).

3.2.6.5. Análise de distância genética

A distância genética entre as populações de P. erythrocephala foi estimada segundo o

modelo de Kimura 2-parâmetros (Kimura, 1980). Este modelo assume igual freqüência de

bases (Adenina, Timina, Guanina e Citosina) e as transições e transversões tem diferentes

taxas de substituições.

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3.2.6.6. Testes de neutralidade e equilíbrio genético

Os testes D (Tajima, 1989) e Fs (Fu, 1997) foram utilizados para verificar se amostras

de diferentes localidades estão em equilíbrio com relação ao DNAmt. Valores significantes

para estes testes poderiam indicar que as seqüências nucleotídicas mitocondriais não estão

evoluindo segundo a hipótese de neutralidade seletiva (isto é, não estão em equilíbrio com

respeito à mutação e à deriva genética), ou que as populações foram anteriormente

subdivididas e/ou experimentaram flutuações no passado (ou seja, não estão em equilíbrio

quanto à migração e à deriva genética) (Hartl & Clark, 1989). A neutralidade é uma suposição

empregada em estudos moleculares de história e estrutura populacionais, logo testes

estatísticos concernentes a esta suposição são necessários (Rand, 1996; Ballard & Whitlock,

2004). O teste D se baseia no modelo dos sítios infinitos sem recombinação (Kimura, 1969),

apropriado para seqüências de DNA e leva em consideração a razão do número de sítios

segregantes e o número médio de diferenças nucleotídicas, estimado pela comparação em

pares de bases (Tajima, 1989). O teste Fs baseia-se na probabilidade de observar em uma

amostragem ao acaso um número de alelos similar ou menor do que o número observado de

diferenças par-a-par, tirados da estimativa de theta. Este teste é mais sensível para detectar

expansão populacional (Fu, 1997), e a sua significância foi testada por comparações da

estatística de Fs contra uma distribuição gerada a partir de 1000 amostras aleatórias sobre as

hipóteses de neutralidade seletiva e equilíbrio populacional (Hartl & Clark, 1989). As análises

foram implementadas com o programa ARLEQUIN versão 3.1 (Schneider et al., 2006).

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4. RESULTADOS

O banco de dados para análises de populações foi composto de 246 seqüências

nucleotídicas com um total de 550 pares de bases cada. A composição média de bases

nucleotídicas deste fragmento parcial foi de: 27,08% para Adenina, 31,83% para Timina,

27,64% para Citosina e 13,45% para Guanina. A partir de todas as seqüências analisadas

verificou-se que 510 sítios foram monomórficos e 40 foram polimórficos. Dentre os sítios

variáveis, 27 corresponderam a mutações do tipo transição e 14 do tipo transversão (Tabela

3). Nos sítios 210, 433 e 490 ocorreram duas ou mais transversões. Já o sítio 162 mostrou dois

tipos de substituição de bases: duas transições (C T) e uma transversão (C A), com a

predominância de citosina nesta posição em todos os outros haplótipos.

Considerando os 246 indivíduos obtidos de dez amostras populacionais situadas ao

longo da Amazônia brasileira, foram definidos 49 haplótipos, e destes, 36 foram únicos, e

apenas um haplótipo (H3) está presente em todas as localidades (Tabela 4). Este haplótipo

equivale a aproximadamente 62% do total de haplótipos identificados e constitui o haplótipo

de maior distribuição geográfica. Tais características estão de acordo com o critério de origem

baseado na freqüência descrito por Templeton (1998) e segundo o qual este seria o haplótipo

ancestral dos indivíduos de irapuca estudados.

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Tabela 3. Relação dos sítios polimórficos correspondentes aos 49 haplótipos de P.

erythrocephala definidos pelas localidades amostradas na Amazônia brasileira. Os polimorfismos incluem 27 transições e 14 transversões. As transversões ocorreram nos sítios 62, 162, 205, 210, 222, 244, 279, 290, 313, 342, 420, 426, 433 e 490. O sítio 162 mostrou duas transições (C T) e uma transversão (C A). N indica o número de indivíduos que compartilham o referido haplótipo.

H Posição das bases N

0

0

0

0

0

1

1

1

1

1

2

2

2

2

2

2

2

2

2 2

2

2

3

3

3

3

3 3

4

4

4

4

4

4

4

4

4

4 4

5

3

4

5

6

8

4

5

6

6

6

0

1

1

2

4

5

5

6

6 7

7

9

0

1

4

4

7 8

2

2

3

4

4

7

8

9

9

9 9

0

3

3

9

2

5

4

6

2

4

9

5

0

8

2

4

1

5

1

2 5

9

0

0

3

1

2

9 9

0

6

3

6

8

8

5

0

4

6 8

2

H1 C

A

G

C

G

A

C

C

A

T

C

A

A

C

C

C

C

C

C C

A

A

C

G

A

G

T T

A

T

A

G

G

T

A

A

A

G G

G

2 H2 . G

A

. . . . . . C

. . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H3 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 H4 . . . . A

. . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H5 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . C

. . . . . . . . . . . . 1 H6 . . A

. . . . . . C

. . . . . . . T

T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 H7 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . 1 H8 . . . . . . . . . . . . . . . . T

T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A

A

1 H9 . . . . . G

. . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H10 . . A

. . . . T

. C

. . . . . . . T

T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H11 . . . . . . . A

. . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H12 T

. . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H13 . . . . . . . . . . . . . . . . T

T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H14 . . . . . . . . . C

. . . . . . . T

. . . . . . G

. . . . . . . . . . . . . . . 3 H15 . . . . . . . . G

. . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 H16 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . T

. . . . . . . C

. . . . . . . . . 1 H17 . . . . . . . . G

. . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . C

. . A

. 1 H18 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . T

. . . . . . . C

. . . . C

. . . . 1 H19 . . . . . . . . G

. . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . . . . . . 2 H20 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . . . . . . 8 H21 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . C

. . . . 1 H22 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . C

. . . . . . 1 H23 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A

2 H24 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . A

. . . . . . . . 1 H25 . . . . . . T

. . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . . . . . A

1 H26 . . . . . . . . . . . . . . A

. . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 H27 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . C

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H28 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . G

. . . 2 H29 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . . . . . A

1 H30 . . . . . . . . . . . . . . . T

. T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 H31 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A

. 2 H32 . . . . . . . . . . A

. . . . . . T

. . . C

. . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H33 . . . . . . . . . . . . . . . T

. T

. . . . . . . . . . . . C

. . . . . . . . . 1 H34 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . C

. . . . . . . . G

. . . . . 1 H35 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . A . . 1 H36 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . C . . . . . . . . . . . . . 1 H37 . . . . . . . . . C

. . . . . . . T

T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 H38 . . . G

. . . . . C

. . . . . . . T

T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H39 . . A

. . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H40 . . A

. . . . . . C

. . . . . . . T

T T

. . . . . . . . . . C

. . . . . . . . . 1 H41 . . . . . . . . . C

. . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H42 . . A

. . . . . . C

. . . . . . . T

T . . . . . . . . . . . C

. . . . . . . . . 1 H43 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . A

. . . . . . . . . . 1 H44 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . C

. . . . . . . . . . . 1 H45 . . . . . . . . . . . . G

. . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H46 . . . . . . . . . . . C

. . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H47 . . . . . . . . . . . C

. A

. . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H48 . . . . . . . T

. . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 H49 . . . . . . . . . . . . . . . . . T

. . . . . . . . . . . . . . A

. . . . . . . 1

Nota: H = Haplótipos.

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Tabela 4. Distribuição dos 49 haplótipos de P. erythrocephala em função das localidades.

Haplótipos ITU JAÚ ALE SAP AND PAR NEG AYU CUM IRU Total H1 2 - - - - - - - - - 2 H2 1 - - - - - - - - - 1 H3 15 11 14 14 17 17 1 32 23 9 153 H4 1 - - - - - - - - - 1 H5 1 - - - - - - - - - 1 H6 2 - - - - - 7 - 1 - 10 H7 1 - - - - - - - - - 1 H8 1 - - - - - - - - - 1 H9 1 - - - - - - - - - 1 H10 1 - - - - - - - - - 1 H11 1 - - - - - - - - - 1 H12 1 - - - - - - - - - 1 H13 1 - - - - - - - - - 1 H14 - 3 - - - - - - - - 3 H15 - 9 - - - - - - - - 9 H16 - 1 - - - - - - - - 1 H17 - 1 - - - - - - - - 1 H18 - 1 - - - - - - - - 1 H19 - 2 - - - - - - - - 2 H20 - 5 - - 1 2 - - - - 8 H21 - 1 - - - - - - - - 1 H22 - - 1 - - - - - - - 1 H23 - - 1 - - 1 - - - - 2 H24 - - 1 - - - - - - - 1 H25 - - 1 - - - - - - - 1 H26 - - 1 - 1 - - - - - 2 H27 - - - 1 - - - - - - 1 H28 - - - 2 - - - - - - 2 H29 - - - - 1 - - - - - 1 H30 - - - - 10 - - - - - 10 H31 - - - - 1 - - - - 1 2 H32 - - - - 1 - - - - - 1 H33 - - - - 1 - - - - - 1 H34 - - - - - 1 - - - - 1 H35 - - - - - 1 - - - - 1 H36 - - - - - 1 - - - - 1 H37 - - - - - - 5 - - - 5 H38 - - - - - - 1 - - - 1 H39 - - - - - - 1 - - - 1 H40 - - - - - - 1 - - - 1 H41 - - - - - - 1 - - - 1 H42 - - - - - - 1 - - - 1 H43 - - - - - - - 1 - - 1 H44 - - - - - - - 1 - - 1 H45 - - - - - - - - 1 - 1 H46 - - - - - - - - 1 - 1 H47 - - - - - - - - 1 - 1 H48 - - - - - - - - 1 - 1 H49 - - - - - - - - 1 - 1 Total 29 34 19 17 33 23 18 34 29 10 246

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As análises de NCA definiram cinco níveis nos quais há a rejeição da hipótese nula da

não associação entre distância geográfica e divergência genética, foram os clados 2-3, 2-5, 3-

1, 3-3 e 4-1, mostrados na Figura 4. Os resultados da interpretação pela chave de inferência de

Templeton, indicaram, para os níveis 2-3 e 2-5, fluxo gênico restrito, mas com alguma

dispersão a longa distância. Um padrão de dispersão sobre áreas geográficas intermediárias

não ocupadas pela espécie também foi encontrado para o nível 2-3. Para os níveis 3-1 e 3-3

foi apontado fluxo gênico restrito com isolamento por distância. No nível mais elevado do

cladograma, o 4-1, a chave indicou colonização a longa distância com subseqüente

fragmentação, como mostra a Tabela 5.

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Figura 4. Cladograma dos 49 haplótipos identificados em P. erythrocephala. Cada linha corresponde a um passo mutacional. As elipses menores representam os haplótipos não detectados. * Indica correlação significativa entre distância geográfica e divergência genética identificada nas análises de NCA.

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Tabela 5. Análises de agrupamento de clados (NCA) para P. erythrocephala, mostrando os

valores das distâncias de clados (Dc), distâncias dos clados agrupados (Dn) e distâncias dos clados interiores versus os de ponta (IT). Apenas clados com permutações significantes (X2) para estrutura geográfica constam nesta tabela.

Nível

agrupado

Clados

inclusos

Localização

Dc Dn Valores

X2-P

Conclusão da chave de

inferência

118 Interior 0,0000*< 376,6667*<

1-3 Ponta 667,3333*> 605,9333*>

2-3

I-T -667,3333*<

-229,2667*<

0,0010

Fluxo gênico restrito, mas

com alguma dispersão a

longa distância sobre

áreas geográficas

intermediárias não

ocupadas pela espécie

1-7 Interior 556,6667 607,2727*>

1-6 Ponta 0,0000*< 385,3846*< 2-5

I-T 556,6667*> 221,8881*> 0,0270

Fluxo gênico restrito, mas

com alguma dispersão a

longa distância

2-1 Interior 782,3395 778,5344

2-2 Ponta 0,0000 647,7810

2-3 Ponta 534,8679*< 733,3815

2-6 Ponta 301,8182 781,6015 3-1

I-T 327,5489*> 44,2857 0,0000

Fluxo gênico restrito com

isolamento por distância

2-5 Interior 531,3636*> 398,9903

2-4 Ponta 349,4857 343,0357 3-3

I-T 181,8779 55,9546 0,0310

Fluxo gênico restrito com

isolamento por distância

3-1 Interior 782,0380 785,0721

3-2 Ponta 0,0000*< 611,6555*<

3-3 Ponta 421,3759*< 854,3398*> 4-1

I-T 522,7997 24,0725*>

0,0000

Colonização a longa

distância com

subseqüente fragmentação

Nota: Os valores significativamente menores ou maiores para Dc, Dn e I-T (Dc e Dn) estão indicados respectivamente por < (Pequeno) e > (Grande) e * indica o nível de significância P < 0,05. Os resultados foram interpretados utilizando a chave de inferências de Templeton (Templeton, 2005).

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Os níveis de variabilidade genética estimados com base nos parâmetros genéticos e na

análise de polimorfismo de DNA estão sumariados na Tabela 6. A diversidade gênica (H)

total foi estimada em 0,608. Este valor é elevado quando comparado ao valor individual

encontrado para as localidades analisadas, que variou de 0,116 no rio Ayuanã, em Santa

Isabel do Rio Negro, a 0,813 no rio Jaú, no Parque Nacional do Jaú. A diversidade

nucleotídica ( ) observada quando reunidas todas as localidades amostradas foi de 0,0021

(0,21%) e variou de 0,0002 no rio Ayuanã a 0,0030 no rio Itu, em Barcelos. Estas estimativas

de polimorfismo genético indicam diferentes níveis de variabilidade genética ao longo da área

de distribuição desta espécie.

Os valores resultantes dos testes de neutralidade seletiva de mutações indicam que

algumas localidades não estão em equilíbrio genético com relação aos haplótipos do DNA

mitocondrial (Tabela 6). O Teste D de Tajima foi significativo (P < 0,05) para a localidade do

rio Cumicuri, município de Barcelos. Enquanto que Fs de Fu mostrou desvio significativo da

expectativa neutra das mutações em cinco localidades investigadas. Contudo, quando as

localidades são consideradas conjuntamente, os dois testes estatísticos indicam um

significante desequilíbrio genético. Ambos os testes são negativos quando há um excesso de

mutações recentes e valores negativos são interpretados como evidência de crescimento

populacional e/ou seleção (Tajima, 1989; Fu, 1997). Este padrão é frequentemente observado

em populações sofrendo rápida expansão demográfica.

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Tabela 6. Parâmetros genéticos estimados para Podocnemis erythrocephala.

Populações

N S NH

H

D de

Tajima

Fs de Fu

NEG 18 6 8 0,797 ± 0,074 0,00265

-0,54150 -3,704

AYU 34 2 3 0,116 ± 0,074 0,00021

-1,49966 -2,516

CUM 29 8 7 0,377 ± 0,115 0,00112

-2,13647* -4,719*

ITU 29 14 13 0,736 ± 0,089 0,00307

-1,76555 -8,339*

IRU 10 1 2 0,200 ± 0,154 0,00036

-1,11173 -0,339

JAU 34 7 9 0,813 ± 0,041 0,00289

-0,20147 -2,824

PAR 23 6 6 0,458 ± 0,126 0,00109

-1,92926 -3,700*

AND 33 7 8 0,657 ± 0,066 0,00169

-1,32833 -4,076*

SAP 17 2 3 0,324 ± 0,136 0,00061

-1,06916 -1,038

ALE 19 6 6 0,468 ± 0,140 0,00131

-1,86971 -3,389*

Total 246

40 49 0,608 ± 0,037 0,00217

-2,34487* -28,964*

NOTA: * Nível de significância P < 0,005; N = Número de Indivíduos; S = Número de Sítios Polimórficos; NH = Número de Haplótipos; H = Diversidade Gênica; = Diversidade Nucleotídica (por sítio); ITU = Rio Itu, Barcelos; NEG = Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira; JAU = Rio Jaú, Parque Nacional do Jaú; ALE = Igarapé Alema, Terra Santa; SAP = Lago Sapucuá, Oriximiná; AND = Rio Andirá, Barreirinha; PAR = Rio Paracatu, Nhamundá; AYU = Rio Ayuanã, Santa Isabel do Rio Negro; CUM = Rio Cumicuri, Barcelos e IRU = Igarapé Iruá, Parque Nacional do Viruá.

As análises de variância molecular revelaram alto grau de subdivisão populacional

( ST = 0,27931, P < 0,001). Os resultados mostraram que 27,93% da variância total ocorrem

entre as populações, entretanto a maior variação genética foi atribuída à variância dentro das

amostras populacionais (72,07%).

Alguns trechos da bacia do rio Negro compreendem regiões rochosas, caracterizadas

por um grande número de cachoeiras e corredeiras. Dentre as áreas analisadas as localidades

do rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, e do rio Jaú, no Parque Nacional do

Jaú, estão situadas em regiões que incluem as condições ambientais descritas acima. Desta

maneira, a hipótese de isolamento por distância testada via teste de Mantel seguiu obedecendo

tal circunstância. Na primeira análise foram inseridas todas as populações amostradas. Os

valores não indicaram nenhuma correlação entre a divergência genética e a distância

geográfica das amostras populacionais (r = 0,1651, P = 0,261). Retirando as populações do rio

Negro e do rio do Jaú não foi observado um valor significativo para o coeficiente de

correlação (r = 0,0837, P = 0,325), e mesmo retirando a população do rio Andirá, município

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31

de Barreirinha, única amostra localizada na margem direita do rio Amazonas, os valores do

coeficiente de correlação indicaram que não existe relação entre a variação genética e a

distribuição geográfica entre as localidades estudadas (r = 0,0736, P = 0,425).

Os valores obtidos das comparações múltiplas entre os pares de populações através do

índice ST foram utilizados para se construir uma árvore não enraizada com o objetivo de

ilustrar a distância genética entre as localidades (Figura 5) e estimar o fluxo gênico das

fêmeas. Os resultados foram usados para estimar o número efetivo de fêmeas migrantes por

geração entre as localidades de irapuca (Tabela 7). Todas as comparações foram significantes

quando envolveram a localidade do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira. A população do

rio Jaú, no Parque Nacional do Jaú, também se encontra geneticamente estruturada em relação

às outras localidades analisadas, exceto em relação ao lago Sapucuá, município de Oriximiná.

A localidade de Barreirinha não apresentou estrutura genética apenas em relação à do Igarapé

Alema, em Terra Santa, e do Igarapé Iruá, no Parque Nacional do Viruá.

Os valores do ST para as outras comparações de populações não foram significantes

após a correção de Bonferroni (P > 0,001) contrastando com os altos valores de Nm (número

de migrantes por geração). Este resultado indica que não existe estrutura genética entre as

populações e que o número de migrantes estabelece elevado fluxo gênico entre as amostras

populacionais estudadas.

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Tabela 7. Estimativa indireta de fluxo gênico (Nm) (acima da diagonal e à direita) e diferenciação genética ( ST) (abaixo da diagonal e à esquerda) entre os pares de populações de P. erythrocephala.

NOTA: * Nível de significância P < 0,001 (após a correção de Bonferroni); ITU = Rio. Itu, Barcelos; NEG = Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira; JAU = Rio Jaú, Parque Nacional do Jaú; ALE = Igarapé Alema, Terra Santa; SAP = Lago Sapucuá, Oriximiná; AND = Rio Andirá, Barreirinha; PAR = Rio Paracatu, Nhamundá; AYU = Rio Ayuanã, Santa Isabel do Rio Negro; CUM = Rio Cumicuri, Barcelos e IRU = Igarapé Iruá, Parque Nacional do Viruá.

Populações NEG AYU CUM ITU IRU JAÚ PAR AND SAP ALE

NEG – 0.1601 0.2871 0.6732 0.2933 0.4357 0.2765 0.2982 0.2574 0.3059

AYU 0.7573*

– 46.2123

7.7026 22.7325

1.8301 20.9718

2.3520 8.8940 12.7330

CUM 0.6351*

0.0107 – 27.6710

8 2.5152 47.9897

3.5127 40.4649

35.3111

ITU 0.4261*

0.0609*

0.0177 – 8 3.1754 13.0483

4.0773 14.6338

16.3744

IRU 0.6302*

0.0215 -0.0229 -0.0049 – 3.6471 8 4.9648 32.8323

8

JAÚ 0.5343*

0.2145*

0.1658*

0.1360*

0.1205*

– 3.4330 2.2426 2.6625 3.2964

PAR 0.6438*

0.0232 0.0103 0.0369 -0.0162 0.1271*

– 4.2785 26.5339

8

AND 0.6263*

0.1753*

0.1246*

0.1092*

0.0914 0.1823*

0.1046*

– 3.3804 4.5508

SAP 0.6601*

0.0532 0.0122 0.0330 0.0150 0.1581 0.0185 0.1288*

– 22.6888

ALE 0.6204*

0.0377 0.0139 0.0296 -0.0129 0.1317*

-0.0122 0.0989 0.0215 –

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Figura 5. Árvore filogenética com base no método Neighbor Joining sem raiz utilizando o índice de diferenciação genética ( ST) das comparações múltiplas entre os pares de populações de P. erythrocephala.

NOTA: ITU = Rio Itu, Barcelos; NEG = Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira; JAU = Rio Jaú, Parque Nacional do Jaú; ALE = Igarapé Alema, Terra Santa; SAP = Lago Sapucuá, Oriximiná; AND = Rio Andirá, Barreirinha; PAR = Rio Paracatu, Nhamundá; AYU = Rio Ayuanã, Santa Isabel do Rio Negro; CUM = Rio Cumicuri, Barcelos e IRU = Igarapé Iruá, Parque Nacional do Viruá.

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As estimativas das distâncias genéticas entre os pares de populações analisados são

mostrados na Tabela 8. Os valores resultantes da análise de distância genética concordam com

a diferenciação genética da população do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, devido à

atuação de cachoeiras e corredeiras como fatores limitantes ao fluxo gênico.

Tabela 8. Distâncias genéticas entre as populações de P. erythrocephala com base no modelo de Kimura 2-parâmetros.

Populações

NEG AYU CUM

ITU IRU JAU PAR AND SAP ALE

NEG –

AYU 0,005

CUM 0,005

0,001

ITU 0,005

0,002

0,002

IRU 0,005

0,000

0,001

0,002

JAU 0,006

0,002

0,002

0,003

0,002

PAR 0,005

0,001

0,001

0,002

0,001

0,002

AND 0,006

0,001

0,002

0,003

0,002

0,003

0,002

SAP 0,005

0,000

0,001

0,002

0,001

0,002

0,001

0,002

ALE 0,005

0,001

0,001

0,002

0,001

0,002

0,001

0,002

0,001

NOTA: ITU = Rio Itu, Barcelos; NEG = Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira; JAU = Rio Jaú, Parque Nacional do Jaú; ALE = Igarapé Alema, Terra Santa; SAP = Lago Sapucuá, Oriximiná; AND = Rio Andirá, Barreirinha; PAR = Rio Paracatu, Nhamundá; AYU = Rio Ayuanã, Santa Isabel do Rio Negro; CUM = Rio Cumicuri, Barcelos e IRU = Igarapé Iruá, Parque Nacional do Viruá.

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5. DISCUSSÃO

5.1 Diversidade genética

Para responder questões ecológicas o enfoque genético tornou-se, na última década,

uma das ferramentas mais eficiente, poderosa e flexível, o que permitiu que fosse amplamente

empregado. Marcadores genéticos, tais como as aloenzimas, o DNA microssatélite e o

mitocondrial podem ser utilizados para estimar diversos parâmetros ecológicos como, por

exemplo, taxa de migração, tamanho populacional, parentesco, redução populacional, e etc.

(Selkoe & Toonen, 2006). Segmentos mitocondriais têm emergido como uma importante

escolha para estes estudos por que podem medir o atual nível de fluxo gênico entre

populações e espécies, distinguir taxas de migração através de panmixia e estimar a

variabilidade genética intra e interpopulacionais, característica de extrema importância para o

manejo e a conservação de espécies ameaçadas.

Sites et al. (1999) e Pearse et al. (2006) utilizaram o marcador microssatélite e o

mitocondrial para caracterizar geneticamente populações de P. expansa. Os resultados

indicaram elevados índices de diversidade genética com semelhantes níveis de

heterozigosidade esperada (HE) (variando de 0,65 a 0,85 e 0,62 a 0,84, respectivamente), além

de um número considerável de alelos encontrados para cada microssatélite por população (3 a

29 e 4,4 a 8,7, respectivamente). Estes níveis de variabilidade genética foram corroborados

pelos valores resultantes da análise da região controle mitocondrial. Pearse et al. (2006)

observaram diversidade haplotípica (H) média de 0,65 e diversidade nucleotídica ( ) de

0,0025 entre as populações com valores semelhantes ao encontrado por Sites et al. (1999) em

uma das duas populações investigadas ( = 0,0032).

Bock et al. (2001) utilizaram loci aloenzimáticos para estudar a variabilidade genética

das espécies P. unifilis e P. expansa em diferentes áreas de desova localizadas no Peru, na

Colômbia e no Brasil. Verificaram que as amostras populacionais de tracajá apresentam

índices mais elevados de polimorfismo genético que as amostras populacionais de tartaruga-

da-Amazônia. A alta variabilidade genética encontrada para o tracajá neste estudo, por meio

de análises eletroforéticas é congruente com os resultados encontrados por Viana (2005)

analisando seqüências da região controle do DNA mitocondrial também de P. unifilis. Viana

(2005) amostrou cinco localidades da bacia Amazônica, duas das quais foram amostradas no

presente estudo. Outros estudos em genética de populações com base em DNA mitocondrial

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mostraram baixos níveis de variabilidade genética em P. sextuberculata utilizando a região

controle (Viana, 2005) e um gene codificador de proteína (ND1) (Silva, 2002). O resultado

encontrado por Silva (2002) pode ser devido à pressão de seleção a que as regiões

codificantes estão sujeitas.

No presente trabalho, os consideráveis índices de diversidade genética encontrados em

populações de irapuca são semelhantes aos resultados de Viana (2005). Comparado ao estudo

anteriormente realizado para P. erythrocephala o padrão de polimorfismo encontrado nas

populações foi de elevada diversidade gênica e de baixa diversidade nucleotídica.

Os índices de diversidade genética e os valores significativamente negativos dos testes

estatísticos D de Tajima e Fs de Fu (P < 0,05) encontrados nas localidades dos rios Cumicuri

e Itu, em Barcelos, rio Paracatu, em Nhamundá, e no lago Sapucuá, em Oriximiná, indicam

que estas populações podem estar passando ou passaram por um recente crescimento

populacional.

A elevada diversidade gênica e baixa diversidade nucleotídica destas localidades

constituem um padrão esperado em uma população em crescimento, após um período de

pequeno tamanho efetivo populacional (Grant & Bowen, 1998). O considerável número de

haplótipos raros encontrados nestas localidades (Tabela 4) apóia esta hipótese, uma vez que

um rápido crescimento populacional aumenta a retenção de novas mutações (Avise et al.,

1984; Rogers & Harpending, 1987). Outro exemplo, segundo Grant & Bowen (1998), seria a

predominância de um haplótipo central encontrado em todas as localidades e a partir do qual

um ou mais passos mutacionais originam novos haplótipos (arranjo em estrela do cladograma

dos haplótipos) (Figura 4). Segundo Ramos-Onsins & Rosas (2002) o Teste Fs de Fu é

bastante sensível na detecção de processos históricos de expansão populacional e testa a

influência do tamanho amostral na análise. Diferenças no grau de sensibilidade destes testes

estatísticos podem ser observadas na Tabela 6. As populações que não tiveram valores

significativos para o Teste D de Tajima, tiveram sua expansão detectada pelo Fs de Fu (rio

Itu, rio Paracatu, rio Andirá e Igarapé Alema).

Uma outra explicação para estes valores significativos seria atribuir estes desvios ao

efeito da seleção. Ao analisar o conteúdo e mesmo o arranjo em termos de genes do genoma

mitocondrial, a região controle aparece fisicamente ligada a regiões codificadoras sujeitas aos

efeitos da seleção. Este fator poderia, portanto, justificar os valores significativos detectados a

partir dos Testes D de Tajima e Fs de Fu. Contudo, o fato da região controle não ser uma

região codificante atua de modo contrário e diminui consideravelmente a possibilidade destes

desvios serem atribuídos aos efeitos da seleção.

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A detecção de expansão observada em algumas populações de irapuca deve ser vista

com cautela e confirmadas através de marcadores mais sensíveis como os de microssatélites.

5.2 Estrutura populacional

Os resultados da análise de variância molecular mostraram que grande parte da

variação genética ocorre dentro das localidades amostradas. Contudo, os significantes valores

de ST de algumas comparações entre localidades e o alto grau de estrutura observada pelos

resultados de AMOVA sugerem que algumas localidades encontram-se geneticamente

diferenciadas. O valor referente ao índice de diferenciação genética entre as dez amostras

populacionais estudadas ( ST = 0,27931) pode ser comparado com outras espécies do gênero

e discutido como segue: (i) é menor que o observado entre subpopulações geograficamente

distintas de Podocnemis expansa amostradas numa ampla área ao longo de sua distribuição na

região amazônica ( ST = 0,34; Pearse et al., 2006); (ii) é similar ao encontrado entre

populações de P. unifilis por Viana (2005). Este estudo incluiu duas localidades (lago

Sapucuá, em Oriximiná, e Igarapé Alema, em Terra Santa) para as quais as análises

populacionais de irapuca também foram conduzidas ( ST variou de 0,0149 a 0,4403); (iii) é

muito maior que o obtido por Silva (2002) entre populações de P. sextuberculata provenientes

da Reserva Biológica Abufari, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Igarapé

Alema, município de Terra Santa ( ST = 0,023).

Em situações onde há estrutura filogeográfica e cada haplótipo difere muito de todos

os outros haplótipos, caso das comparações significantes envolvendo as localidades do rio

Negro, em São Gabriel da Cachoeira, do rio Jaú, no Parque Nacional do Jaú, e do rio Andirá,

em Barreirinha, a diferença média entre os haplótipos dentro das localidades difere da

diferença média entre localidades, mesmo se não existem diferenças na freqüência haplotípica

entre localidades. Sob esta circunstância a escolha de uma análise baseada na distância pode

ajudar a resolver a estrutura genética (O’Corry-Crowe et al., 1997).

Os resultados das comparações múltiplas entre os pares de populações mostraram altos

níveis de fluxo gênico, indicando um elevado número de fêmeas migrantes por geração entre

as populações de irapuca (Tabela 7). Segundo Slatkin (1987) o número de migrantes por

geração maior do que 1 indica que o fluxo gênico é suficiente para manter as freqüências

gênicas relativamente homogêneas e minimizaria a diferenciação causada pela deriva

genética. De acordo com nossas análises, algumas populações de P. erythrocephala compõem

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uma grande população panmítica e fazem parte de um mesmo estoque que ocorre ao longo da

Amazônia brasileira (Figura 5). Entretanto, nossos dados também corroboram a existência de

estoques geneticamente distintos dentro da bacia Amazônica baseado no alto grau de estrutura

genética observado nas populações do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, do rio Jaú, no

Parque Nacional do Jaú, e do rio Andirá, em Barreirinha.

5.3. Filogeografia

5.3.1. Barreiras geográficas ao fluxo gênico

Os padrões biogeográficos atuais são fenômenos biológicos históricos importantes

para suporte à construção de narrativas sobre cenários evolutivos que originaram a fauna e a

flora amazônica (Vieira et al., 2007). Várias hipóteses têm sido propostas para explicar a

diversificação na Amazônia, incluindo especiação alopátrica via barreiras fluviais (Wallace,

1852 apud Funk et al., 2007), refúgios de florestas (Haffer, 1969, 1997), incursões marinhas

(Nores, 1999; Webb, 1995), formação de cadeias de montanhas (Räsänan et al., 1990), ou

mudanças climáticas (Bush, 1994; Colinvaux et al., 1996; Colinvaux, 1998), assim como

especiação parapátrica causada por seleção divergente ao longo de gradientes ecológicos

(Endler, 1977).

O presente estudo testou a hipótese de que existem populações de P. erythrocephala

geneticamente estruturadas como um efeito da estrutura geomorfológica (isto é, cachoeiras e

corredeiras) da drenagem do rio Negro e da provável atuação do rio Amazonas como barreiras

geográficas.

Os valores do índice de diferenciação genética ST das comparações múltiplas entre as

populações do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, do rio Jaú, no Parque Nacional do

Jaú, e do rio Andirá, em Barreirinha, e os demais pares de populações, foram significativos (P

< 0,001). Isto demonstra que estas populações são distintas entre si, ou seja, estão

diferenciadas geneticamente. No entanto, o isolamento por distância não é o fator responsável

para explicar este padrão, uma vez que não houve correlação entre a variação genética e a

distância geográfica nas três situações propostas anteriormente. Neste caso, a diferenciação

genética encontrada pode ser explicada pelas características ambientais dos locais amostrados

e fornece considerável suporte para a hipótese das barreiras ao fluxo gênico.

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5.3.1.1. Rios como barreiras

A hipótese de rios como barreira sugere que os grandes rios amazônicos isolam

populações das áreas de terra firme e, desse modo, limitam o fluxo gênico e permitem que as

populações evoluam via seleção divergente/ ou deriva (Wallace, 1852; Sick, 1967;

Capparella, 1988). Quatro suposições derivadas desta hipótese podem ser testadas usando o

enfoque filogenético ou de genética de populações: (i) populações reciprocamente

monofiléticas para os haplótipos do DNA mitocondrial ocorrerão em margens opostas dos

grandes rios amazônicos após ter decorrido tempo suficiente para a separação das linhagens;

(ii) a divergência genética entre populações será positivamente correlacionada com a presença

de rios separando-as mesmo depois de removidos os efeitos da distância geográfica; (iii) a

divergência genética entre populações separadas por um rio será maior na região de

desembocadura do que na cabeceira; e (iv) os rios atuarão como áreas de diferenciação

primária ao invés de contato secundário das linhagens (Funk et al., 2007).

Evidências para a hipótese de rios como barreira são variáveis. Funk et al. (2007)

relacionam alguns estudos realizados com pássaros e borboletas cujos resultados indicam que

alguns rios da região amazônica atuam como importantes barreiras.

Os resultados encontrados no presente estudo também fornecem algum suporte à

hipótese de rios como barreiras na diferenciação genética de uma das dez amostras

populacionais de P. erythrocephala investigadas na região Amazônica. A população do rio

Andirá, município de Barreirinha, se mostrou geneticamente estruturada em relação às

amostras populacionais analisadas, exceto quando as comparações envolveram as populações

do Igarapé Alema, município de Terra Santa, e do Igarapé Iruá, no Parque Nacional do Viruá.

Esta população constitui o único local amostrado em um afluente da margem direita do rio

Amazonas e a diferenciação genética pode ser resultado da atuação do grande rio Amazonas

como barreira geográfica limitando o intercâmbio genético desta com as outras amostras

populacionais.

Funk et al. (2007) testaram duas hipóteses para explicar a distribuição biogeográfica

de uma espécie de anfíbio Physalaemus petersi em florestas de terra firme da região

Amazônica: a hipótese de rio e de gradiente altitudinal como barreiras. Pouca evidência foi

encontrada para a segunda hipótese, mas moderado suporte foi obtido para a hipótese de rio

como barreira em um dos três sistemas fluviais investigados (rio Napo, no Equador; rio Juruá,

no Brasil; e rio Madre de Dios, entre o Peru e a Bolívia). O rio Madre de Dios definiu dois

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clados divergentes: o primeiro clado consistia em uma população do Peru e outra do Brasil, e

o segundo clado incluía quatro localidades do Peru e uma da Bolívia. As análises filogenéticas

indicaram uma divergência entre as populações do Peru e da Bolívia sugerindo que o rio

Madre de Dios atua como uma barreira ao fluxo gênico entre as populações inseridas neste

clado. Segundo Lampert et al. (2003), o rio Chagres, no Panamá, também atua como barreira

ao fluxo gênico entre populações de P. pustulosus, espécie irmã de P. petersi (Ron et al.,

2006).

Em uma espécie de macaco, Saguinus niger, foi observada uma alta divergência entre

as populações situadas nas margens opostas do rio Tocantins (Valinoto et al., 2006). As

análises filogenéticas sugerem que estas populações estão isoladas há muito tempo e,

conseqüentemente, estão em processo de diferenciação devido ao isolamento geográfico

também favorecido pela atuação do rio Tocantins como barreira física.

Outros autores também observaram uma relação positiva quanto à filogeografia de

borboletas e outros mamíferos e a presença de rios entre as populações analisadas (ver Funk et

al., 2007 para maiores detalhes).

A ausência de correlação entre ST e a distância geográfica pode ser característica para

as populações de irapuca baseada nos resultados encontrados neste estudo. Isolamento por

distância também não tem sido relatado em análises populacionais para as outras espécies de

quelônios do gênero Podocnemis (Viana, 2005; Pearse et al., 2006; Vargas-Ramírez et al.,

2007). Alguns estudos sugerem uma provável influência da distância geográfica sobre o

padrão de variabilidade genética em populações de P. expansa e P. unifilis (Sites et al., 1999;

Bock et al., 2001). Contudo, este resultado pode ser devido à ausência de pontos de coleta

abrangendo uma ampla área geográfica bem como entre as principais bacias fluviais

adjacentes. Desta forma, os resultados encontrados no presente estudo são congruentes com

outros trabalhos envolvendo as demais espécies do gênero.

Esta ausência de correlação entre a divergência genética e a distância geográfica pode

ser destacada também pela diferenciação genética observada entre a população do rio Andirá,

em Barreirinha, em relação à população do rio Paracatu, em Nhamundá, e do lago Sapucuá,

em Oriximiná. Estas localidades são relativamente próximas geograficamente. O resultado

apóia a hipótese do rio Amazonas como barreira geográfica, uma vez que os resultados do

teste de Mantel não mostraram valores significativos associados à distância geográfica nestas

localidades (r = 0,0736, P = 0,425).

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5.3.1.2. Cachoeiras e corredeiras como barreiras

A Amazônia representa uma região com índice considerável de quelônios de água

doce, onde ocorrem, por exemplo, 14 das 61 espécies encontradas na América do Sul (Vogt,

2001). Diversos estudos moleculares investigando o padrão de distribuição geográfica das

espécies ao longo dos sistemas de rios têm sido desenvolvidos, principalmente para os

quelônios do gênero Podocnemis (Sites et al., 1999; Bock et al., 2001; Silva, 2002; Viana,

2005; Pearse et al., 2006; Vargas-Ramírez, 2007).

O rio Negro nasce com o nome de rio Guaínia na Serra de Tunaí, no Planalto da

Colômbia em altitudes de cerca de 1.660 metros. A maior parte do rio Negro possui areia de

sílice nas orlas e águas negras, mas mostram uma boa qualidade de nutrientes nos lagos de

floresta, com a presença abundante de algas filamentosas (Vogt, 2001). Na região do alto e

médio rio Negro encontramos numerosas cachoeiras, corredeiras e lagos com afloramentos

rochosos. Existem cachoeiras que são permanentes, com declives mais íngremes que

impedem a passagem de algumas espécies animais (Best & Da Silva, 1989a,b; Banguera-

Hinestroza et al., 2002). Outras apresentam menores declives e permanecem submersas em

épocas de cheia.

O nível das águas dos rios depende da estação do ano. Segundo Vogt (2001) entre o

ponto mais baixo da seca e o mais alto da cheia, os níveis variam de seis a oito metros.

Durante o período de águas baixas as cachoeiras e corredeiras emergem dificultando e/ou

impedindo o deslocamento da fauna aquática da região. Estas condições ambientais estão

presentes no entorno das amostras populacionais do rio Negro, município de São Gabriel da

Cachoeira, e do rio Jaú, no Parque Nacional do Jaú, e parecem constituir barreiras físicas

eficientes limitando o fluxo gênico de indivíduos de P. erythrocephala entre estas e as demais

localidades.

Diversos estudos comparativos de organismos aquáticos e terrestres têm investigado

os princípios e processos que determinam as distribuições geográficas sobre as linhagens de

genes, incluindo aquelas em nível intra-específico, o mesmo desenvolvido neste trabalho.

Recentemente foi demonstrado que a atual distribuição geográfica de alguns grupos de

organismos aquáticos na bacia Amazônica estava condicionada a paleoeventos que moldaram

a atual geomorfologia da bacia (Magalhães & Collart, 1997). Para a espécie Mylesinus

paraschomburgkii, um peixe serrasalmídeo habitante de áreas de corredeiras, foi demonstrado

que as populações dos rios Uatumã, Trombetas, Jari e Araguari estão isoladas considerando o

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conjunto de informações morfológicas (Jégu et al., 1992), parasitológicas (Belmont-Jégu,

1992; Thatcher & Jégu, 1996) e filogeográficas (Porto et al., 1997). Porém, se por um lado

detectaram-se importantes diferenças interdrenagens, pouca ou nenhuma diferença foi

encontrada entre amostras de uma mesma drenagem demonstrando que essa espécie possui

reduzido fluxo gênico apesar da sua especificidade de habitat (Porto et al., 1997).

Da Silva (1994) comenta que a distribuição de botos contrasta com uma série de

barreiras geográficas. Populações dos rios Amazonas e Beni-Mamoré (Brasil e Bolívia) são

separadas por corredeiras no alto rio Madeira entre Porto Velho e Guajará-Mirim. A conexão

entre populações do rio Amazonas e do Orinoco é facilitada durante o período de águas altas

(cheia) quando é estabelecida comunicação entre os rios Inírida e Uapues e pelo Canal do

Casiquiari, que alcança o rio Negro, um tributário do Amazonas. Contudo, o Canal do

Casiquiari é considerado uma barreira para Inia geoffrensis devido ao pH ácido da água e a

baixa produtividade de biomassa. Outras potenciais barreiras são as cachoeiras e corredeiras

do rio Negro e do rio Orinoco entre Sumariapo e Puerto Ayacucho (Best e Da Silva, 1989a,b).

Banguera-Hinestroza et al. (2002) utilizaram dados da região controle mitocondrial

para caracterizar o nível de diferenciação genética de botos da Amazônia brasileira e

boliviana e da bacia do rio Orinoco, entre a Colômbia e a Venezuela. Os resultados

suportaram a monofilia do gênero Inia na Bolívia e agruparam os haplótipos da bacia

Amazônia brasileira e do rio Orinoco. Isto indica que o trecho de 200 quilômetros de

corredeiras do rio Madeira-Mamoré forma uma barreira ao movimento de Inia da Bolívia.

Segundo os autores, especiação alopátrica seria uma explicação razoável que suporta os

resultados obtidos neste estudo e aqueles encontrados por Da Silva (1994).

O padrão encontrado nas populações de Inia foi semelhante ao observado em

populações de P. expansa por Pearse et al. (2006). Neste estudo duas amostras populacionais

do rio Madeira-Guaporé estão agrupadas com relação aos loci microssatélites e compartilham

um haplótipo que não foi encontrado fora desta bacia. As duas populações também estão

localizadas no alto rio Madeira na porção anterior às corredeiras que parecem atuar como uma

substancial barreira ao fluxo gênico para P. expansa. Todavia, estas localidades também

compartilham com outras populações amostradas na região amazônica dois haplótipos mais

freqüentes, sugerindo uma estruturação relativamente recente destas duas populações.

No presente trabalho, os resultados de NCA indicaram que uma significante

associação em quatro níveis do cladograma dos haplótipos e sua localização geográfica

resulta de fluxo gênico restrito em algum nível (níveis 2-3, 2-5, 3-1 e 3-3). Viana (2005)

também encontrou rejeição da hipótese nula da não associação entre a distância geográfica e a

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divergência genética em uma população de P. erythrocephala (rio Jaú, no Parque Nacional do

Jaú) amostrada na bacia Amazônica.

Os dados provenientes da análise de Neighbor Joining baseada nos valores do índice

de diferenciação genética ST indicam que há barreiras impedindo o fluxo gênico entre as

populações do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, e do rio Jaú, no Parque Nacional do

Jaú, e as demais amostras populacionais. A distância genética entre os pares de populações,

baseada no comprimento dos ramos da árvore, é bastante elevada, principalmente para a

população do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira. Os valores de distância genética das

comparações múltiplas envolvendo esta população também corroboram este resultado pelo

fato de apresentar maiores diferenciações genéticas, de 0,5 a 0,6 % (Tabela 8).

Esta subdivisão genética detectada por três diferentes métodos de análises, AMOVA,

ST e NCA, reforçam a importância das cachoeiras e corredeiras da bacia do rio Negro para a

estrutura genética encontrada nas duas populações citadas.

5.3.1.3. Outras barreiras geomorfológicas

Os efeitos que outras estruturas geomorfológicas exercem sobre a variabilidade

genética intrapopulacional e o fluxo gênico entre populações também têm sido relatados em

estudos envolvendo a filogeografia de inúmeras espécies animais.

Carlsson et al. (2001) investigaram a influência da estrutura geomorfológica do rio

Indalsälven, que drena para o mar Báltico, sobre a diversidade genética das populações de

Salmo trutta, a truta marrom. Os resultados indicaram que o entroncamento de vários lagos, a

presença de corredeiras e de muitos afluentes ao longo do rio têm forte influência na estrutura

genética das populações desta espécie. Contudo, as cachoeiras parecem desempenhar maior

impacto na diferenciação das populações, reduzindo o fluxo gênico intrabacia fluvial. Este

resultado é semelhante ao encontrado por Carlsson et al. (1999), onde o aparente isolamento

por distância identificado entre populações de Salmo trutta do rio Norwegian provavelmente

refletiu a presença de um tributário na porção inferior e de cachoeiras na região de cabeceira

deste rio ao invés da distância geográfica por si. Observações de Carlsson et al. (1999)

suportam estes argumentos demonstrando a importância da estrutura geomorfológica para o

fluxo gênico entre populações.

Spinks & Shaffer (2005) ao caracterizar a estrutura populacional de Emys marmorata

do sul da Califórnia, também tiveram a oportunidade de testar a hipótese de que a paisagem

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topográfica pode desempenhar um papel tão importante quanto à história de vida na

diferenciação das populações desta tartaruga. Os resultados foram congruentes ao padrão

encontrado em estudos recentes envolvendo outros grupos de organismos aquáticos e

terrestres. Os valores resultantes das comparações múltiplas entre os pares de populações

indicaram que as Montanhas Tehachapi/Transverse Range funcionam como uma importante

barreira biogeográfica ao longo da costa do Pacífico na América do Norte (Calsbeek et al.,

2003).

Na região Amazônica, Pearse et al. (2006) verificaram que cinco amostras

populacionais de P. expansa do rio Araguaia formaram um grupo diferenciado em relação às

outras populações baseado em análises do DNA microssatélite, e apresentaram um haplótipo

mitocondrial quase fixado, raramente encontrado em outro lugar. Segundo os autores a

posição do rio Araguaia próximo à foz do rio Amazonas sugere que a divergência destas

populações pode ter originado no Mioceno a partir da separação entre a pequena drenagem

proto-Amazônia, e a drenagem Amazônia-Orinoco do centro-oeste que drenava em direção ao

norte para o Caribe (Hamilton et al., submetido apud Pearse et al., 2006). A metade separando

a drenagem paleo-Amazônia do Atlântico da paleo-Caribenha centro-oeste pode ter estado

presente entre 20 a 10 milhões de anos, e ter sido quebrada há cerca de 10 a 9 milhões de anos

quando a atual drenagem transcontinental da bacia Amazônica foi estabelecida (Hamilton et

al., submetido apud Pearse et al., 2006). Por esta época, P. expansa pode ter colonizado esta

bacia e então diferenciado e isolado devido às subseqüentes incursões marinhas do Plioceno-

Pleistoceno (Nores, 2004), durante as quais o alto nível da água do mar pode ter separado o

rio Araguaia do rio Amazonas.

A origem e manutenção das sucessivas paisagens da Amazônia ao longo do tempo

geológico resultaram dos principais processos ecológicos e fatores históricos que culminaram

com o padrão atual de diversidade biológica da região (Vieira et al., 2007).

Segundo Junk (1983) e Vieira et al. (2007) sob o domínio de um sistema climático

preponderantemente tropical, desenvolveram-se sucessivas transformações de ecossistemas,

principalmente influenciadas por câmbios climáticos e, secundariamente, por eventos

geológicos; estes últimos responsáveis por rearranjos sucessivos de leitos de rios e

deslocamentos de blocos continentais.

Eventos demográficos históricos parecem ter desempenhado papel importante na

dinâmica populacional de P. erythrocephala. No complexo arranjo espacial de biomas no

domínio biogeográfico amazônico as estruturas geomorfológicas (cachoeiras e corredeiras)

dos sistemas fluviais investigados neste estudo foram inseridas. Os eventos geológicos que

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culminaram na formação destes elementos geográficos resultaram numa possível

fragmentação das populações de irapuca na região segundo a análise de NCA. Estes

acontecimentos reforçam a hipótese de que tais estruturas geomorfológicas (cachoeiras e

corredeiras da bacia do rio Negro) e o rio Amazonas representam barreiras geográficas

históricas ao fluxo gênico entre as populações de P. erythrocephala.

5.3.2. Controvérsias da NCA nas análises filogeográficas

A análise de clados agrupados (NCA) tornou-se uma das mais poderosas ferramentas

utilizadas na área da filogeografia intra-específica (Petit, 2008; Templeton, 2008). Apenas em

Agosto de 2007, houve cerca de 1600 citações do artigo original de NCA, e aproximadamente

20% dos estudos em filogeografia fizeram uso deste método, demonstrando o seu amplo

emprego neste campo (Petit, 2008). Contudo, nos últimos anos, o uso da chave de inferência

da NCA para inferir história populacional tem recebido críticas.

Em recente artigo publicado na revista Molecular Ecology, Petit (2008) especula que

três trabalhos (Knowles & Maddison, 2002; Petit & Grivet, 2002; Panchal & Beaumont,

2007) corroboram de modo concludente a baixa robustez da análise de clados agrupados para

distinguir eventos históricos.

A NCA tenta distinguir entre diferentes processos históricos que podem ter

influenciado a distribuição dos haplótipos ou linhagens relativas aos clados de nível mais alto.

Isto inclui testes de permutação da distribuição espacial dessas linhagens e um protocolo para

a inferência dos processos históricos envolvidos no estabelecimento da estrutura

filogeográfica observada (baseada em uma chave de inferência) (Petit, 2008).

Templeton (2002a) menciona que as críticas de Petit & Grivet (2002) estão

fundamentadas em erros de compreensão e representação da NCA, e que os problemas

relativos à implementação prática dos testes de permutação usados para avaliar os dados, uma

situação reconhecida como criadora de erros já havia sido identificada por Templeton (1998).

Segundo Templeton (2002a), nesta situação a chave de inferência leva a falsos negativos

(Templeton, 1998), e não a falsos positivos como levantado por Petit (2008) (Templeton,

2008).

Falsos positivos têm sido avaliados na NCA a partir de controles positivos: análises de

dados reais com um evento conhecido. Templeton (2004b) habilitou a NCA com 150

expectativas prévias; provavelmente a mais completa série de controles positivos já usados

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para validar um procedimento em genética evolutiva, e certamente em filogeografia intra-

específica (Templeton, 2008).

Os 150 controles positivos incluem elevado número de organismos, distribuição

espacial, e esquemas de amostragem, mas todos compartilham duas características: ambos são

eventos evolutivos e esquemas de amostragem reais. Para contestar a condição de análise

descrita acima, Petit (2008) cita dois trabalhos (Knowles & Maddison, 2002; Panchal &

Beaumont, 2007), que descrevem um único cenário evolutivo artificial com um esquema de

amostragem também artificial (Templeton, 2008). O primeiro cenário proposto foi de

microvicariância no qual cada deme local estaria isolada (Knowles & Maddison, 2002).

Segundo Templeton (2008) este tipo de evento foi excluído da NCA (p. 773, Templeton et al.,

1995), o que o torna irrelevante a NCA. Knowles & Maddison (2002) assumem amostragem

exaustiva de todas as populações. Contudo, nenhuma das séries de dados inseridas no robusto

estudo de validação de Templeton (2004b) requer tal amostragem exaustiva. Os resultados de

Knowles & Maddison (2002) foram novamente analisados sem a suposição desta amostragem

exaustiva. A porcentagem de falsos positivos caiu de 75-80% para 18% (Templeton, 2004b),

mostrando que a alta taxa de falsos positivos é um artefato de uma suposição irreal

(Templeton, 2008).

Panchal & Beaumont (2007) simularam uma população panmítica e encontraram 76%

de falsos positivos. A análise de clados agrupados não é aplicada a uma população panmítica,

uma vez que esta situação não é relevante para as análises de fundo filogeográfico relativas à

NCA (Templeton, dados não publicados). Templeton (2008) descrevem três potenciais fontes

da alta porcentagem de falsos positivos diagnosticada no estudo de Panchal & Beaumont

(2007): (i) suposição irreal em suas simulações (como aconteceu no trabalho de Knowles &

Maddison); (ii) falha na interpretação da NCA, e (iii) falha na versão original da NCA. O

desempenho da NCA com os 150 controles positivos envolvem apenas a terceira causa;

portanto, se a especulação feita por Petit está correta e a falha na versão original da NCA é o

único fator responsável pela alta taxa de falsos positivos observada, esta porcentagem seria

homogênea entre as duas análises (causas i e ii). Templeton (2008) demonstrou que a alta taxa

de falsos positivos identificada por Panchal & Beaumont (2007) é devido a erros durante os

procedimentos de simulação e/ ou implementação da NCA por estes autores.

Embora a taxa de falsos positivos da NCA (Templeton, 1998, 2004b) não seja tão alta

quanto àquela suposta por Petit (2008), ela ainda excede o nível nominal de 5% para pelo

menos alguns tipos de inferência, como, por exemplo, expansão geográfica (Templeton,

2004b).

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Segundo Garrick et al. (2008) o procedimento de validação cruzada desenvolvido por

Templeton (2002b, 2004a,b) para múltiplos loci independentes, somado a avaliação de

análises complementares, e/ ou expectativas prévias, deve pelo menos em parte – talvez

consideravelmente – responder a alta taxa de falsos positivos mencionada nos estudos de

Knowles & Maddison (2002) e Panchal & Beaumont (2007). Contudo, Templeton (2008)

menciona que esta validação cruzada da inferência da NCA além de reduzir a porcentagem de

falsos positivos e de falsos negativos também fornece algum suporte para testar hipóteses

filogeográficas específicas.

A NCA é o único método de análise filogeográfica que tem sido validado por uma

sólida série de dados de controles positivos que envolvem um elevado número de espécies,

escala geográfica, e esquemas de amostragem. Petit & Grivet (2002) expôs uma situação

conhecida para gerar falsos negativos, e não falsos positivos como foi mencionado. O estudo

de Knowles & Maddison (2002) gerou uma alta taxa de falsos positivos como artefato de uma

suposição de amostragem irreal para uma situação irrelevante para a NCA. Análises

estatísticas mostram que a alta taxa de falsos positivos em Panchal & Beaumont (2007) é

devido a erros de simulação e/ ou implementação da NCA. Templeton (2008) comenta ainda

que as condições alternativas mencionadas por Petit (2008) podem gerar falsos positivos com

aparentemente forte suporte. Entretanto, talvez Petit (2008) esteja certo; os artefatos de

simulação usados por Knowles & Maddison (2002) e as discrepâncias com os dados reais nas

simulações de Panchal & Beaumont (2007) foram bastante danosas à técnica filogeográfica,

mas foram erroneamente remetidas à análise de clados agrupados (NCA) (Templeton, 2008).

5.4 Unidades para a conservação e o manejo

Vogt (2001) e Batistela (2003) relatam exaustivas ações de colheita predatória de ovos

de P. erythrocephala em praticamente toda a bacia do rio Negro. Do ponto de vista da

genética da conservação conhecer a escala geográfica em que populações são

demograficamente conectadas e/ ou independentes é um fator importante para a identificação,

o monitoramento e o manejo das populações de irapuca na região amazônica, que representam

as unidades fundamentais para a conservação da espécie (Moritz, 1994; Bowen & Avise,

1996; Dethmers et al., 2006). Os resultados do presente estudo identificaram três

subpopulações demograficamente distintas de P. erythrocephala na Amazônia brasileira. Este

padrão resulta da interferência de estruturas geomorfológicas presentes numa região

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topograficamente complexa, a bacia do rio Negro, e do rio Amazonas para o fluxo gênico a

partir do regular intercâmbio de fêmeas entre as populações.

Uma vez que não existem informações sobre a dispersão de P. erythrocephala, a

inferência de migração e do fluxo gênico a partir de métodos indiretos como a análise

genética fornece algum suporte no entendimento do comportamento migratório desta espécie

numa escala interbacias fluviais (Berry et al., 2004), e nossos dados servem como base para

tais estudos futuros. A estimativa do número efetivo de fêmeas migrantes calculada a partir

dos valores par a par do ST (Slatkin, 1985) sugere que as localidades nas quais não foi

detectada influência da estrutura geomorfológica (cachoeiras, corredeiras e rios como

barreiras) sobre a distribuição da variabilidade genética devem ser tratadas como uma única e

grande população interagindo geneticamente. Esta conectividade genética é indicativo de

conectividade demográfica, e corrobora que elas sejam consideradas uma única população em

análises de viabilidade populacional (Deiner et al., (2007).

O elevado fluxo gênico de fêmeas somado aos consideráveis índices de diversidade

genética encontrados nestas populações sugere que planos de translocação de indivíduos de

irapuca interbacias fluviais na região Amazônica poderiam não resultar em incompatibilidade

genética entre as populações fonte e receptora. Esta resolução seria uma alternativa valiosa no

intuito de conservar as populações naturais desta espécie na região caso um severo declínio

populacional comprometesse a viabilidade destas populações. Contudo, esta decisão não pode

ser tomada apenas com base apenas em dados da região controle mitocondrial, pois outras

porções do genoma mitocondrial e nuclear de irapuca podem ser altamente diferenciadas

(Amato et al., 2007). Se este for o caso, o ato de misturar populações poderia causar uma

“contaminação genética”, possivelmente levando a depressão exogâmica (Meffe & Carroll,

1997). Portanto, a análise genética não pode ser o único fator a ser examinado durante as

tomadas de decisões sobre a conservação das populações. Outras considerações tais como o

valor local e o papel ecológico destas populações devem ser levados em conta (Hunter &

Hutchinson, 1994; Amato et al., 2007).

Outros resultados aqui apresentados expõem os efeitos que barreiras fluviais exercem

sobre o fluxo gênico e que desempenham um papel importante na diferenciação genética das

populações de P. erythrocephala. Tais barreiras fluviais são representadas por estruturas

geomorfológicas (cachoeiras, corredeiras e rio) que parecem limitar o intercâmbio genético

em três localidades, no rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, no rio Jaú, no Parque

Nacional do Jaú, e no rio Andirá, em Barreirinha, baseado no índice de diferenciação genética

( ST) e no alto grau de estrutura observada pelos resultados de AMOVA.

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As diferenciações microgeográficas observadas na região conhecida como alto rio

Negro, caracterizada como uma região rochosa, com um grande número de cachoeiras e

corredeiras, elementos que a tornam relativamente complexa geograficamente, enfatizam a

importância da manutenção de populações em habitats diversos, especialmente em áreas com

mosaico de topografia como a bacia do rio Negro. Contudo, igual importância deve ser dada

ao aparente isolamento geográfico favorecido pela atuação do rio Amazonas como barreira

física.

Uma vez que três localidades demonstraram forte influência da estrutura

geomorfológica e altos níveis de diferenciação genética foram observados sugerimos que as

atuais medidas de conservação, tais como a proteção de um pequeno número de praias no

entorno das regiões avaliadas e a transferência de indivíduos pertencentes a drenagens

diferentes, são inapropriadas para esta espécie (Bock et al., 2001). Sob uma perspectiva

conservacionista, estas populações representam unidades de manejo diferenciadas (Moritz,

1994), que devem ser manejadas como entidades separadas já que compreendem estoques

geneticamente distintos.

Durante o desenvolvimento e as migrações entre os locais de reprodução e

alimentação, quelônios aquáticos podem percorrer consideráveis distâncias intrabacias

fluviais, mas raramente deslocam-se entre elas, logo, a maior parte da estrutura genética pode

resultar de diferenças interdrenagens (Sites et al., 1999). Considerando que a ampla extensão

geográfica e variedade de ecossistemas são características que permitiriam a Floresta

Amazônica comportar múltiplas unidades de manejo, a delimitação das regiões prioritárias

para a conservação de quelônios aquáticos nesta região deve tomar como parâmetro

importante a delimitação da área geográfica a ser considerada. Este estudo fornece um quadro

da escala em que o movimento das fêmeas de irapuca ocorre e deve ser usado como uma linha

guia para os planos de conservação desta espécie, uma vez que identificou três subpopulações

geneticamente estruturadas em diferentes sistemas fluviais.

Segundo Dethmers et al. (2006) a caça indiscriminada de fêmeas adultas e a coleta

predatória de ovos em uma praia de desova particular podem ter impactos profundos sobre o

conjunto de indivíduos que desovam nas praias adjacentes. Portanto, o delineamento das áreas

a serem manejadas em cada unidade deveria combinar dados de marcação e recaptura,

telemetria e análise genética de todas as subpopulações que estão sob pressão humana e que

devem ser avaliadas para esta região. Batistela (2003) comenta que planos de manejo e

conservação com a participação dos moradores locais reduzem os custos com fiscalização, e

asseguram a manutenção do modo de vida local a partir de estratégias de uso sustentável do

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recurso (SCM, 1996), transformando os antigos predadores de ovos e carne em protetores da

espécie (Mo & Vargas, 1993).

De um modo geral, a partir dos resultados deste estudo podemos inferir que uma

avaliação da estrutura da geomorfológica (cachoeiras e corredeiras) em bacias fluviais e seus

impactos no fluxo gênico podem ser ferramentas poderosas, entre muitas disponíveis, para

acessar com cuidado a estrutura populacional e fornecer suporte para projetos que visem à

definição de planos de conservação (Deiner et al., 2007). Desta maneira, sugerimos que entre

as amostras populacionais de irapuca analisadas na região Amazônica existem subpopulações

demograficamente distintas e que devem ser tratadas como unidades de manejo separadas no

intuito de monitorar as populações e designar políticas de conservação que mantenham a

viabilidade das populações e da espécie (O’Corry-Crowe et al., 1997).

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6. CONCLUSÕES

A variabilidade genética encontrada para as populações estudadas foi

considerável, comparada às populações de outras espécies do gênero Podocnemis.

Os testes de neutralidade, D de Tajima e Fs de Fu, sugerem que as localidades

dos rios Cumicuri e Itu, em Barcelos, do rio Paracatu, em Nhamundá, e do lago Sapucuá, em

Oriximiná, podem estar passando ou passaram por um recente crescimento populacional.

As análises de variância molecular indicaram alto grau de subdivisão

populacional.

Os valores do índice de fixação ST foram significativos para as localidades de

São Gabriel da Cachoeira, Parque Nacional do Jaú e Barreirinha, que evidenciaram também

limitado fluxo gênico em comparação com as outras localidades. Isto indica que estas

localidades são distintas entre si, ou seja, estão diferenciadas geneticamente.

Neste caso, a presença de estruturas geomorfológicas (cachoeiras e/ou

corredeiras da bacia do rio Negro e o rio Amazonas) parece constituir uma barreira física

eficiente limitando o fluxo gênico de indivíduos de P. erythrocephala entre estas e as demais

localidades.

Para as comparações das demais localidades analisadas os valores do ST não

foram significantes contrastando com os altos valores de Nm (número de migrantes por

geração). Este resultado indica que não existe estrutura genética entre as demais localidades e

que o número de migrantes estabelece elevado fluxo gênico entre as amostras.

Tais localidades compõem uma grande população panmítica e fazem parte de

um mesmo estoque que ocorre ao longo da Amazônia brasileira.

As subpopulações demograficamente distintas (Parque Nacional do Jaú, São

Gabriel da Cachoeira e Barreirinha) devem ser tratadas como unidades de manejo separadas

no intuito de monitorar as populações e designar políticas de conservação que mantenham a

viabilidade das populações e da espécie.

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