lev vigotski por janette friedrich

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Uma leitura filosófica e epistemológica Janette Friedrich Lev Vigotski: mediação, aprendizagem e desenvolvimento

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Lev Vigotski Por Janette Friedrich

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Uma leitura filosófica e epistemológicaJanette Friedrich

Lev Vigotski: mediação, aprendizagem e desenvolvimento

Métodos diretos e indiretosPara Vigotski, é necessário um método que possa

produzir a correspondência entre o conhecimento e a

realidade (p. 41).

Com o método direto, apenas é possível estudar o

que nos é dado pela experiência imediata (p. 41),

porém, determinados domínios da psicologia não

podem ser investigados com o método direto (p. 42).

A psicologia necessita então de um método indireto,

ou seja, um método que não se baseie na percepção

sensorial (p. 47).

O psiquismoVigotski propõe que o conceito de base da

psicologia deve ser o psiquismo, para substituir aos conceitos de consciência e de comportamento, estudados por métodos diretos.

Para ele, o psiquismo pode ser comparado a um instrumento que isola, separa, abstrai, faz escolhas dos fatos da realidade (p. 47).

É o órgão que escolhe “o filtro” que filtra o mundo e o transforma de um modo que seja possível agir (p. 48).

O psiquismo não representa o mundo, mas, metaforicamente falando, ele “trabalha o mundo” (p.49).

O psiquismoNossos sentimentos, nos fazem ver, de modo mais

preciso, prioritariamente, as partes da realidade que são importantes para nós. Não vemos tudo, nossa consciencia não se dá conta de tudo. “olho que visse tudo, não veria nada”.

A consciência de tudo o que nos diz respeito (as opiniões dos colegas, as próprias fraquezas, a finitude de ser) provavelmente acabaria por nos separar do mundo (p.48).

“o filtro” e o “funil: instrumentos que tem a função em comum de escolher, de selecionar, de deixar passar determinados elementos da realidade e de reter outros.

O psiquismoO psiquismo nunca reflete a realidade, seu papel

positivo consiste justamente no fato de que “distorce subjetivamente a realidade em favor do organismo”.

Função primeira do psiquismo é de ilhotas de segurança, de transformar nossa percepção do mundo de modo que seja possível continuar a agir a viver, estamos confrontados com a ideia de uma distancia entre o psiquismo e o mundo.

filtra o mundo e também” É o órgão que escolhe e o transforma de um modo que seja possível agir (p. 48).

O psiquismo não representa o mundo, mas, metaforicamente falando, ele “trabalha o mundo” (p.49).

O psiquismoO psiquismo mediatiza a relação do sujeito com o

mundo, assim a percepção e o conhecimento do mundo são sempre trabalhados e o que se apresenta imediatamente ao pesquisador é apenas a parte selecionada, parte finita da série psíquica.

Porém, para analisar um “instrumento” que funciona como filtro, não é suficiente conhecer os resultados da filtragem, o que “sai”; também é preciso saber o que foi filtrado, o que não passou, o que foi posto de lado, o que não foi selecionado (p. 49).

Portanto, o psiquismo só pode ser definido por meio de métodos indiretos de construção de hipóteses, de reconstrução e de interpretação dos traços da filtragem (p. 50).

Exemplo Aplicação do conceito vigostkiano no quadro

da psicologia do trabalho, apresentado por Yves Clot (1999): em cada atividade, há uma parte que ele chama de ação realizada e outra, que ele nomeia de ação real ou real da atividade.

O real da atividade contém tudo o que não foi feito, mas que poderia ter sido para a realização da atividade.

Clot propõe levar em conta essas atividades suspensas, contrariada, impedidas... Pois são elas que “explicam “ a ação realizada (p. 50).

Resumindo Para apreender o real da ação, o pesquisador só

tem um meio à sua disposição: uma reconstrução hipotética do real da ação. Tanto o real da ação quanto o funcionamento do psiquismo são inacessíveis, tanto para o ator quanto para o pesquisador, por meio de métodos diretos.

O objetivo é conhecer o que não aparece nem na ação realizada nem na percepção da realidade pelo sujeito.

É somente de um modo mediatizado, por meio de conceitos, das reconstruções e dos instrumentos comparáveis ao termômetro, que uma produção de conhecimento científico é possível (p. 51).

Funcionamento do Instrumento psicológico

Todas as funções psíquicas superiores, como a atenção voluntária ou a memória lógica, surgem com o auxílio dos instrumentos psicológicos e, consequentemente, se constituem como fenômenos psíquicos mediatizados (p. 53).

Memória natural = vínculo direto e associativo entre A e B.

A B

Funcionamento do Instrumento psicológico

Memória artificial = a tarefa de memorização se realiza com o auxílio de um instrumento psicológico, que transforma o vínculo entre A e B em um vínculo indireto ou mediatizado.

A B

Tarefa (a memorizar) Realização da Tarefa (memorizar)

Instrumento Psicológico

I

estímulo reação

Instrumento psicológicoAssim, os processos superiores são, sempre e

necessariamente, compostos de três elementos: a tarefa [A], o instrumento [I] e o processo psíquico necessário para resolver a tarefa [B].

O instrumento psicológico [I] utilizado tem por função fazer com que os fenômenos psíquicos necessários para se realizar a tarefa [B] se desenvolvam de uma forma melhor (p. 56).

Processo de memorização artificial (equivalente a memória natural): novidade é a direção artificial que é imposta, pelo instrumento, ao processo natural.

Instrumento psicológicoO instrumento psicológico é orientado para os

processo psíquicos do sujeito [B], espontaneamente mobilizados, em primeiro momento para resolver a tarefa.

São esse processos (naturais) que são atingidos pela introdução do instrumento psicológico e são eles que se tornam ‘objeto’ de controle e de domínio por parte do homem.

O objeto do instrumento psicológico não está no mundo exterior, mas na atividade psíquica do sujeito, sendo esse instrumento um meio de autorregulação e de autocontrole (p. 57)

sujeito Realização da tarefa

Processo psiquico natural

instrumento

Influenciar e controlar

= Transformação em processo psíquico artificial

Instrumento psicológicoTrês características do instrumento

psicológico:1.É uma adaptação artificial;2.Tem uma natureza não orgânica, ou, em

outras palavras, tem uma natureza social3.É destinado ao controle dos próprios

comportamentos psíquicos e dos outros.

Natural / artificialOs processos psíquicos que são dominados,

regulados e controlados por meio dos instrumentos psicológicos [I] são sempre naturais.

O objetivo da utilização dos instrumentos psicológicos consiste então em “um uso ativo que se faz das propriedades naturais do tecido cerebral”.

Assim, a função dos instrumentos psicológicos é de uma intervenção artificial sobre os fenômenos psíquicos, que são caracterizados pelo termo natural (p. 59).

Natural / artificialO que se deve analisar, segundo Vigotski, são os

instrumentos, os meios que têm como objetivo controlar e desenvolver os processos psíquicos. Estes continuam sendo, a despeito de sua mediação por instrumentos, processos naturais ou orgânicos, com a diferença de que seus desenvolvimentos espontâneos sofrem uma intervenção e trona-se, nesse sentido, “artificiais”.

É essa lógica de intervenção que caracteriza a psicologia de Vigotski e determina suas questões de pesquisa: de que modo, com quais meios, o homem se serve das propriedades de seu tecido cerebral e controla os processos psíquicos que ele produz? (p. 62)

Natural / artificialÉ o controle artificial dos fenômenos

psíquicos-naturais produzido e desenvolvido pelo homem com o auxílio dos instrumentos psicológicos que se encontra no centro de suas preocupações e é também esse controle que constitui, segundo o autor, a essência do processo de desenvolvimento (p. 63).

Astúcia da razão – conceito de atividade mediatizanteParticularidade da atividade mediatizante = a

astúcia da razão (Hegel). A astúcia da razão aparece no fato de que o

homem deixa os objetos do mundo trabalharem uns sobre os outros, em função de sua natureza, visando a um objetivo determinado, que é atingido por meio dessa atividade, à qual ele não tem necessidade de se misturar (p. 64).

Nessa atividade mediatizante, o sujeito não age fisicamente sobre a natureza, não utiliza um instrumento para ele mesmo mudar a natureza. Ao contrário, o homem deixa a natureza agir sobre a natureza (p. 65).

Atividade mediatizanteA atividade realizada pelo homem com o

instrumento psicológico é portadora dessas mesmas características?

O sujeito que utiliza um instrumento psicológico se transforma, ao mesmo tempo, em um “objeto”, sobre o qual o instrumento age. O fato de que o sujeito se desdobra quer dizer que, sendo ele, de um lado, o sujeito da ação, de outro, a ação desencadeada pelo sujeito transforma o sujeito em “objeto” de sua própria ação.

Atividade mediatizanteCom a ajuda dos instrumentos psicológicos,

o sujeito faz com que se produza em si mesmo determinados efeitos desejados, do qual é o objeto. Poder-se-ia dizer também que o sujeito é, ao mesmo tempo, ativo e passivo, o que justamente constitui a especificidade da atividade mediatizante no plano psicológico.