letramento literário: ensino do conto...vai além da aquisição de habilidades de ler gêneros...
TRANSCRIPT
LETRAMENTO LITERÁRIO: ENSINO DO CONTO
Marli de Fátima Monteiro de Almeida
(Professora PDE/2016)
Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira
(Professora Orientadora/Unicentro – PR.)
RESUMO
Este artigo visa socializar os resultados do projeto Letramento literário: ensino do conto, por meio das atividades propostas no Projeto de Intervenção Pedagógica, aplicado no Colégio Professor Amarílio, o qual foi desenvolvido de acordo com as atividades previstas no Plano Integrado de Formação Continuada - 2016, em conformidade com as orientações da Coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/SEED, sob a orientação da Professora Níncia Borges Teixeira da IES-UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava. Teve como objetivo geral ampliar o repertório de leitura dos alunos dos sextos anos, incentivando-os a desenvolverem suas capacidades linguísticas: falar, escutar, ler e escrever conduzindo-os ao letramento literário. Justifica-se o presente trabalho devido as dificuldades enfrentadas pelos docentes no tocante ao ensino da leitura e da interpretação de texto.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento literário. Literatura. Contos. Ensino e
Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
As atividades sobre letramento literário, que serão aqui relatadas, tiveram
como base o livro Letramento Literário: Teoria e Prática, do Rildo Cosson. Sabe-
se que se faz necessário e urgente tornar o ensino e a aprendizagem da literatura
uma prática significativa; para que isso aconteça, há que se repensar o seu
conceito, a sua função social e o seu valor. O letramento literário tem sido
apontado como uma configuração especial para desenvolver essa atividade, no
qual a literatura é compreendida de forma mais ampla. Nessa perspectiva, o foco
vai além da aquisição de habilidades de ler gêneros literários, busca o
aprendizado a compreensão e a ressignificação desses textos, por meio da
motivação de quem ensina e de quem aprende. É papel fundamental da escola
incentivar a leitura e conduzir os educandos ao letramento literário. Conforme
Cosson (2014, pag. 12): “O letramento literário possui configurações específicas,
ele se faz por meio de textos literários, vai além do uso social da escrita, é uma
forma de assegurar o efetivo domínio dela”.
A realidade brasileira nos mostra que os livros são restritos, muitas vezes
os educandos só têm contatos com eles no ambiente escolar, então cabe a
escola contribuir para mudar essa realidade. As atividades realizadas nesse
projeto buscaram colaborar para formação de um leitor literário. Um leitor que
saiba escolher suas leituras, que aprecie um bom texto, que saiba usar
estratégias de leitura adequadas aos textos literários, que faça uso desses para
seus aprendizados e seu prazer. Foi incentivado os educandos a lerem mais, a
pensarem e agirem por si próprios, assumindo suas condições de sujeitos da
aprendizagem e cidadãos atuantes no meio no qual estão inseridos.
O letramento literário é uma forma do aluno se tornar realmente um leitor,
ele “vai além das práticas usadas nas escolas; é mais que apenas ler e escreve,
é a apropriação da escrita e das práticas sociais que estão a elas relacionadas”
(COSSON 2014, pag. 12). Para incentivar o educando a tornar-se um leitor, foi
proposto o projeto “Letramento literário: ensino do conto”.
O projeto foi aplicado para os alunos dos sextos anos do colégio Estadual
Professor Amarílio Ensino Fundamental e Médio, situado a Rua Coronel Lustosa,
número 2040, CEP 85015340, no Bairro Batel, em Guarapuava, visando suprir
a defasagem de leitura, a dificuldade de interpretação e de produção oral e
escrita, que os mesmos chegam ao colégio. Eles observam que os alunos não
conseguem realizar os comandos das atividades propostas em sala de aula.
Esse problema tem norteado reflexões entre os professores em busca do que
fazer para sanar essa dificuldade.
Para resolver essa problemática, foram proposta atividades variadas com
o letramento literário, visando a melhoria do aprendizado no colégio, fazendo
com que o aluno seja capaz de entender o que lê e recontar de maneira coerente,
utilizando-se dessa leitura para seu crescimento pessoal. Segundo COSSON
(2014)
“a leitura guarda em si o presente, o passado e o futuro das palavras; que na leitura e na escrita dos textos literários encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A experiência literária não só nos permite saber da vida por meio da experiência do outro, como também vivenciar dessa experiência. O processo formativo do leitor e do escritor acontece por meio das palavras fictícias. É por possuir essa função de transformar sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas a que a literatura tem e precisa manter um lugar especial na escola” (pag17).
Para tanto, precisa-se promover o letramento literário na escola , ele
precisa fazer sentido, aguçar a discussão e a promover um aprendizado
significativo para o leitor; são oportunidades e, ao mesmo tempo, desafios no
ensino e na aprendizagem da literatura levando-a a humanização, nesse projeto
procurou-se: ativar a vontade dos alunos de aprenderem e repassarem o que
aprenderam, priorizar a leitura, a interpretação e a escrita como fonte de
formação e informação, incentivar suas produções de forma espontânea, dar
oportunidades deles expressarem suas opiniões de forma oral e escrita e
aumentar a capacidade comunicativa deles.
A Literatura e a Escolarização
Rildo Cosson (2006) em seu livro Letramento Literário: teoria e prática
compara a literatura aplicada na escola a fábula do “Imperador Chinês”, a qual
conta que: O imperador da China já com uma certa idade ao voltar de uma
viagem, muito cansado, preocupado com o futuro do seu império, resolveu
escolher um de seus filhos para substitui-lo. Ele tinha dezenas de filhos.
Escolheu o que ela mais amava que era filho de uma das esposas, a favorita.
Escolheu também um outro filho, que tivera com uma concubina que ganhará de
presente e um servo. Chamou vários sábios, um de cada vez para educar seus
escolhidos, no entanto todos ao serem convocados, agradeciam e davam
desculpas, e não aceitam o trabalho de ensinar seu escolhido a ser um
imperador. O imperador revoltou-se e prometeu matar a todos os sábios
chamados caso um deles não se incumbisse da tarefa. Os sábios confabularam
entre eles; e o mais sábio resolveu explicar ao imperador o motivo pelo qual não
tinham aceitado a missão. O sábio pediu mil desculpas e explicou ao imperador
que era uma tarefa impossível, porque o filho escolhido sabia que era o favorito,
e para ser imperador só precisa da vontade do pai, por isso não precisaria de
mais nada; o filho da concubina cuja o rei não lembrava nem o nome, sabia que
em nada lhe ajudaria o aprendizado, pois sempre ficaria em segundo plano; o
servo deseja a aprender, porém nada sabe, e a quem nada sabe fica difícil
ensinar algo. Em suma disse o sábio ao imperador que realmente essa era uma
missão impossível, pois era difícil ensinar para três terríveis inimigas de qualquer
educador ao mesmo tempo: a arrogância, a indiferença e a ignorância. Falou-lhe
que quando separadas podem ser combatidas e até vencidas, mas juntas são
imbatíveis.
Rildo Cosson diz que vivemos na comunidade escolar uma situação difícil
quando se trata de literatura, acham que ela é desnecessária, consideram a
biblioteca um depósito de livros, alguns leem, no entanto usam a literatura para
reforçar as habilidades linguísticas, por isso não se incomodam que a literatura
seja usada apenas para estudar autores, características e figuras de linguagem.
São poucos os que desejam estudar literatura, pois não encontram objetivos
concretos para tais. O objetivo da literatura é enfrentar essas situações de:
arrogância, indiferença e desconhecimento dentro das escolas, é mostrar a sua
importância.
O letramento literário vai além das práticas usadas nas escolas; é mais
que apenas ler e escreve, é a apropriação da escrita e das práticas sociais que
estão a elas relacionadas. Existem várias formas de letramento, mesmo um
analfabeto participa de alguma forma de letramento, enquanto um indivíduo bem
letrado pode ser analfabeto em algumas áreas.
O letramento literário possui configurações específicas, ele se faz por
meio de textos literários, vai além do uso social da escrita, é uma forma de
assegurar o efetivo domínio dela. É um processo de escolarização de literatura,
que visa ampliar a educação literária no ensino básico, formar leitores, que vai
além da escola, pois fornece a cada aluno uma maneira própria de viver o
mundo. A literatura é o mundo.
O ser humano é uma mistura de vários corpos, e se não exercitados
atrofiam. Inclusive o da linguagem, o qual funciona de uma maneira especial: ela
é exercitada em toda nossa vida. Ela é a matéria constitutiva do mundo. Há um
ditado popular que diz que uma imagem vale por mil palavras, mas necessita da
linguagem para afirmar esse valor, quanto mais se usa a língua, maior é o corpo
da linguagem, maior é o mundo. As palavras veem de uma sociedade humana,
ao usá-las as faço minhas, como você pode fazer suas as mesmas palavras,
pelo uso individual e coletivo as palavras se modificam, se dividem e se
multiplicam vestindo de sentido o fazer humano.
Todas as transações humanas de uma forma ou outra passam pela
escrita. A literatura é plena de saberes do homem e do mundo, esses saberes
que se aprende a cada leitura não devem ser guardados dentro e sim liberado
como brilho a cada leitura.
A leitura é semelhante ao mito de Proteu, ela tem o poder de se
metamorfosear em todas as formas discursivas. Ela guarda em si o presente, o
passado e o futuro das palavras. Na leitura e na escrita dos textos literários
encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos.
A experiência literária não só nos permite saber da vida por meio da
experiência do outro, como também vivenciar dessa experiência. O processo
formativo do leitor e do escritor acontece por meio das palavras fictícias. É por
possuir essa função de transformar sua materialidade em palavras de cores,
odores, sabores e formas intensamente humanas a que a literatura tem e precisa
manter um lugar especial na escola. Para tanto precisa-se promover o letramento
literário.
O uso da literatura em sala de aula tem sido questionada, por só
ensinarem as características dos períodos literários e os nomes dos autores, os
alunos dizem que essa sequência poderia ser ensinada nas aulas de História,
que da literatura eles só aprendem que o Barroco é sinônimo de antítese, que
Romantismo é tudo o que trata de amor e Naturalismo é podridão, e outros
questionamentos que deixam claro que a relação entre literatura e educação está
longe de ser pacífica. Muitos professores de literatura dizem que ela só se
mantém nos colégios por serem parte do currículo. A literatura tem uma longa
história e o que se ensina como literatura na escola costuma ter contornos muito
diversos.
No ensino médio o ensino da literatura limita-se à literatura brasileira, ou
melhor a história dela, numa forma indigente, trabalha apenas a cronologia
literária, em uma sucessão dicotômica entre estilos de época, cânones, dados
bibliográficos dos autores, acompanhados de rasgos teóricos sobre gêneros. Os
textos literários são apresentados fragmentados para comprovar as
características dos períodos literários.
No ensino fundamental predominam as interpretações trazidas nos livros
didáticos, fichas de leitura, resumos e debates em sala de aula, cujo o objetivo é
sempre recontar a história lida ou o poema. Raros são as oportunidades de
leitura de um texto integral. Vendo essas situações nota-se a falência do ensino
de literatura.
A literatura não está sendo ensinada para garantir a função essencial de
construir e reconstruir a palavra que humaniza.
É preciso permitir que a leitura literária seja exercida sem o abando do
prazer, mas com o compromisso que todo saber exige. Essa leitura não pode ser
feita de forma assistemática e somente em nome de um prazer absoluto de ler
deve ser organizada, com objetivos claros na formação do aluno leitor,
compreendendo que a literatura tem um papel a cumprir no âmbito escolar.
Deve-se compreender que o letramento literário é uma prática social e,
como tal, de responsabilidade da escola.
O Processo de Leitura
Alberto Anguel, em Uma História da Leitura (1996) Chama a atenção para
o fato de que a leitura não está restrita somente às letras impressa, em páginas
de papel. Ela está nas estrelas, nas partituras, no rosto de bebê com dor ou com
prazer, na descrição de uma doença feita para o médico, está no céu quando o
agricultor prevê chuva, nos olhos da amada ou da amante. Em todos esses
gestos estão a leitura, segundo Anguel “todas elas partilham com os leitores de
livros a arte de decifrar e traduzir signos.
Vilsom J. Leffa, em Perspectivas no Estudo da Literatura: texto, leitor e
interação social (1999) sintetizou a leitura cognitiva e social em três grupos.
O primeiro grupo está centrado no texto. O segundo grupo toma o leitor
como centro da leitura. O terceiro grupo são as teorias consideradas
conciliatórias; para ela o leitor é tão importante quanto o texto.
Aprender a ler é mais que adquirir uma habilidade, e ser leitor vai além de
possuir habilidades regulares. Aprender a ler e ser leitor são práticas sociais que
medeiam e transformam as relações humanas.
Esses três modos de ver a leitura feitas por Leffa deve ser pensado como
um processo linear. A primeira etapa chamada de antecipação, consiste nas
operações que o leitor faz antes de entrar no texto, aí começa a leitura. A
segunda etapa decifração, entra-se no texto através das letras e das palavras. A
terceira etapa da interpretação é tida como sinônimo de leitura, no entanto ela
restringe seu sentido às relações estabelecidas pelo leitor quando processa o
texto. Interpretar é dialogar com o texto tendo como limite o contexto. Com a
interpretação se fecha o primeiros e imediato ciclo da leitura, isto é, o processo
de leitura se completa quando cumpre-se essas três etapas. Essas etapas de
leitura são as guias do letramento literário.
Estratégias para o Ensino de Literatura: a sistematização necessária dentro
do Letramento Literário
Há várias décadas vem-se fazendo pesquisa sobre as estratégias usada
no ensino de literatura em vários colégios de diferentes níveis. O que se verificou
nas pesquisas foram as semelhanças nas atividades aplicadas: apresentações
e discussões em sala de aula das leituras feitas, o estudo temático,
apresentações em grupos, a escrita de ensaio, comparações de livros por temas,
a dramatização, a crítica literária e o diário de leitura.
Essas atividades estão corretas, mas precisam ser organizadas. É
necessário que sejam sistematizadas em todo que permita ao professor e ao
aluno fazer da leitura literária uma prática significativa; uma prática que tenha
como sustentação a própria força da literatura. Uma prática que tenha como
princípio e fim o letramento literário.
O letramento literário precisa acompanhar as três etapas do processo de
leitura e saber literário. M. A. K. Halliday diz que a literatura é uma linguagem
que compreende três tipos de aprendizagem. A aprendizagem da literatura que
consiste fundamentalmente em experienciar o mundo por meio da palavra.
A aprendizagem sobre a literatura é o que envolve o conhecimento da
história, teoria e crítica, por meio dela são apresentados os saberes e as
habilidades que a prática da literatura proporciona a seus usuários.
As aulas de literatura tradicionais ignoram a aprendizagem da literatura, a
qual deveria ser o ponto central das atividades literárias na escola. Para
redimensionar essas aprendizagens de maneira que conduzam a uma forma
satisfatória o processo de letramento literário, é preciso que o ensino de literatura
tenha como centro a experiência do literário. O processo de letramento literário
deve ser contemplado em sala de aula e não apenas a mera leitura das obras.
A Sequência Básica
A sequência básica para se trabalhar o letramento literário na escola é
constituída por quatro passos: motivação, introdução, leitura e interpretação.
A motivação consiste em preparar o aluno para entrar no texto, é o
primeiro passo para que a sequência básica do letramento literário aconteça. O
sucesso inicial do leitor com a obra depende de uma boa motivação.
As mais bem sucedidas práticas de motivação são aquelas que
estabelecem laços estreitos com o texto que vai ler.
A motivação exerce uma influência sobre as expectativas do leitor, mas
não tem o poder de determinar sua leitura.
Um ponto relevante motivação é praticar conjuntamente atividade de
leitura, escrita e oralidade. Essas atividades integradas de motivação tornam
evidente que não há sentido em separar o ensino de literatura do ensino de
língua portuguesa, porque um está contido no outro.
Chamamos de introdução a apresentação do autor e da obra. O professor
precisa tomar alguns cuidados, não demorar muito na apresentação do autor, é
suficiente que se forneçam informações básicas sobre a obra que será lida.
Outro cuidado é evitar a síntese da história para não eliminar o prazer da
descoberta. O professor deve apresentar a parte física da obra: leitura da capa,
das orelhas, de elementos paratextuais que introduzem uma obra, prefácio.
A introdução não pode se estender muito, pois sua função é apenas
permitir que o aluno receba a obra de uma maneira positiva.
Leitura no processo de letramento literário faz-se necessário o
acompanhamento dela de perto por parte do professor. A leitura escolar deve ter
um objetivo a cumprir, o qual não deve ser perdido de vista. Não se pode
confundir acompanhamento com policiamento. O professor deve acompanhar o
processo de leitura para auxiliar o educando leitor em suas dificuldades, inclusive
aquelas relativas ao ritmo da leitura.
A leitura do texto literário, é uma experiência única, como tal, não pode
ser vivida vicariamente.
Durante a leitura o professor deve fazer os intervalos, que constituem em
atividades específicas, essas podem ser variadas: leituras de textos de textos
menores com ligações ao que está sendo lido; leitura conjuntas em capítulos ou
trechos do livro. Os intervalos auxiliam no processo de letramento literário.
Nos intervalos o professor perceberá as dificuldades de leitura dos alunos.
Eles são considerados diagnósticos da etapa da decifração no processo
da leitura. Por meio dele pode-se resolver problemas ligados ao vocabulário, à
estrutura composicional do texto, essas observações podem ser o início de uma
intervenção eficiente na formação de leitor dos alunos.
A interpretação parte do entretenimento dos enunciados, que constituem
as inferências, para chegar a construção do sentido do texto, dentro de um
diálogo que envolve autor, leitor e comunidade. Para se trabalhar interpretação
no cenário do letramento literário deve-se observar dois momentos: um interior
e outro exterior.
O momento interior é aquele que acompanha a decifração, palavra por
palavra, página por página, capitulo por capitulo, e tem se ápice na
aprendizagem global da obra que realiza-se logo após ao termino da leitura.
Esse é o encontro do leitor com a obra. Esse encontro é individual leva o leitor a
encontrar-se (ou perder-se) no labirinto das palavras.
A motivação, a introdução e a leitura, são os elementos de inferência da
escola no letramento literário. A interpretação é feita com o que somos na hora
da leitura. Por isso por mais pessoal e íntimo que seja esse momento interno de
cada leitor, ele continua sendo um ato social.
O momento externo é a concretização, a materialização da interpretação
como ato de construção de sentido em uma determinada comunidade, é nesse
momento que o letramento literário se distingue com clareza da leitura literária.
Quando interpreta-se uma obra, quando após a leitura sente-se tocado
por ela, pelo mundo que ela revelou, quando consegue-se conversar com amigos
sobre a leitura e aconselhá-los a ler, ou guardar o mundo feito de palavra na
memória, melhora-se o potencial do leitor; pois quando se compartilha a leitura
e a interpretação do que se leu, ganha-se consciências e amplia-se os
horizontes.
As atividades de interpretação, devem ter como princípio a externalização
da leitura, isto é seu registro.
Para fazer o registro da interpretação não precisa grandes eventos, o
importante é oportunizar a reflexão, a externalização e o diálogo sobre a leitura.
Existem muitas possibilidades de registro da interpretação depende do professor
ter claro os seus objetivos e da turma. Essas particularidades precisam ser
consideradas ao planejar a sequência básica e também as características de
cada etapa.
Segundo Cosson, para se ler a obra de maneira explicita em seu contexto,
pode- se usar sete formas de contextualizações: teórica, histórica, estilística,
poética, critica, presentificadora e temática.
Contextualização Teórica procura tornar explicita as ideias que
sustentam ou estão encenadas na obra, pode-se explorar as relações
com outras matérias, tornando a atividade interdisciplinar.
Contextualização Histórica abre a obra para a época que ela encena
ou o período de sua publicação. Essa contextualização visa relacionar
o texto com a sociedade que gerou ou com a qual se propõe a abordar
internamente. Ela pode desdobrar-se em várias outras segundo o
interesse dos alunos como: contextualização biográfica, que tratará da
vida do escritor; contextualização editorial, que abordará as publicação
da obra na época.
Contextualização Estilística está centrada nos estilos de época ou
períodos literários, mas precisa-se ir além. Ela deverá buscar analisar
o diálogo entre obras e período, mostrando como uma alimenta a
outra.
Contextualização Poética responde pela estruturação ou composição
da obra; busca-se observar a economia da obra, como ela está
estruturada, quais os princípios de sua organização. É a leitura da obra
de dentro para fora, do modo como foi constituída em termos de sua
tessitura verbal.
Contextualização Crítica trata da recepção de texto literário. Ela pode
se ocupar da crítica em suas diversas vertentes ou da história da
edição da obra. O confronto de leituras no tempo e no espaço é um
diálogo poderoso no processo de letramento literário. Ele nos dá a
dimensão do tempo e do leitor que as obras carregam consigo no
universo da cultura. São elos de uma corrente que vai se ampliando e
se transformando a cada novo leitor. A contextualização Crítica é a
análise de leituras que tem por objetivos contribuir para a ampliação
do horizonte de leitura da turma.
Contextualização Presentificadora é uma prática usual nas aulas de
literatura, assim como a contextualização temática. Ela busca a
correspondência da obra com o presente da leitura e também pode
trilhar a busca da mesma diferença.
Contextualização Temática é o modo mais familiar de tratar uma obra
para qualquer leitor. Pra se trabalhar essa contextualização é preciso
observar algumas orientações no que diz respeito a contextualização
como etapa do letramento literário. (COSSON, 2006).
Com base na sequência básica, a leitura literária deve ser avaliada nos
intervalos em primeiro lugar; devem ser checados o andamento da leitura,
compartilhado impressão rever hipóteses, é bom lembrar que nesse primeiro
passo a leitura é subjetiva e impressionista. O segundo e terceiro pontos de
apoio são discussão e registro da interpretação. Na sequência expandida, além
dos pontos, destacados na sequência básica, destacam-se mais três: os dois
primeiros acontecem na segunda leitura e o terceiro localiza-se no registro de
expansão, aí os alunos devem incorporar o que já realizaram antes. Esses
pontos da avaliação serão feitos por registros escritos e por discussões.
Na verdade, devemos ter sempre em mente que a leitura literária é um processo que vai se aprofundando à medida que ampliamos nosso repertório de leitura e a avaliação deve acompanhar esse processo sem lhe impor constrangimento e empecilhos (COSSON, 2006, p. 115).
IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES PROPOSTAS
As contribuições do professor e pesquisador Rildo Cosson (2014) bem
como seus aparatos teóricos, suas estratégias metodológicas e suas sugestões
de práticas, foram de grande utilidade para o desenvolvimento das atividades do
projeto “Letramento literário: ensino do conto”.
As atividades foram trabalhadas buscando o ensino-aprendizagem da
literatura, por meio da Sequência Básica proposta por Cosson (2014) para o
letramento literário, a qual é composta por quatro etapas: motivação (preparação
dos educandos para entrarem no texto), introdução (apresentação do autor e do
texto), leitura (conhecimento do enredo do texto) e interpretação (compreensão
por inferências para construir os sentidos do texto), foram usados também os
intervalos, nos quais foram explorados muitos textos e feito o aprofundamento
da leitura em sala de aula e fora dela. Segundo Cosson (2014, pág, 64) com os
intervalos o professor consegue perceber as dificuldades que os alunos
apresentam em relação à leitura, que eles são considerados os diagnósticos da
etapa de decifração no processo da leitura.
Os contos foram escolhidos para realização desse projeto por serem
narrativas originárias da oralidade, serem de fácil entendimento. Eles encantam,
alegram, ativam a imaginação, despertam a curiosidade, o interesse pelas
ciências humanas, motivam a criação, possibilitam o despertar de diferentes
emoções e a ampliação de visões de mundo do leitor.
Por esses motivos, eles foram usados para ajudar a melhorar a leitura, a
produção escrita, a oralidade dos educandos e a compreensão, possibilitando-
lhes uma melhor interpretação sobre a vida e o desenvolvimento da história da
humanidade, ajudando-os sua formação de alunos leitores, estimulando-os a
usarem mais a linguagem e a criarem pela fala e pela escrita. E nesse encontro
com a fantasia, que o leitor entra em contato com seu mundo interior, dialoga
com seus sentimentos mais secretos, confronta seus medos e desejos
escondidos,
Para a implementação do projeto, foram usadas cinquenta e duas aulas,
foram feitas diferentes motivações, introduções, leitura e interpretações a cada
atividade aplicada.
Sequências utilizadas na implementação da proposta
Primeira atividade: A árvore dos desejos
Motivação
As atividades para contemplar a oralidade, foram realizadas uma roda de
conversas, na qual os alunos falaram o que sabiam sobre contos, relataram
alguns para os colegas. Depois usaram papeis coloridos, recortados em
formatos de folhas, nos quais escreveram o que eles pediriam: para eles; para a
família; para o mundo, caso se deparassem com “a árvore dos desejos”. Após a
escrita e a leitura dos desejos os alunos montaram uma árvore, formando um
painel na sala.
Introdução
Foi apresentada autora Rosana Pamplona,o conto está no livro “Outras
Novas Histórias Antigas”, foi mostrado o livro, e também o site da autora.
Leitura
Os educandos fizeram a leitura dos desejos escritos e comentários sobre
eles. Foi realizada a leitura do contos pela professora depois pelos alunos, cada
um lendo um parágrafo do conto. Também foram feitas leitura em tiras
Interpretação
Os alunos aprenderam a fazer textura, usando folhas de árvores grande
parte da turma precisou de ajuda para realizar a atividade. Não foi possível
realizá-la em uma aula. Foi discutido o texto, cada um pensou no que pedir se
tivessem a oportunidade de encontrar com o seu destino.
A professora falou da importância de pensar e pedir coisa boas, falou
sobre o poder da mente. Disse-lhes que ao ouvir a si mesmo, a sua mente
obedece seus comandos, que sempre tenham pensamentos positivos, assim
perceberão o poder da sua mente, dos pensamentos positivos e o seu papel
deles na vida deles e na vida das pessoas que convivem com você.
A chave secreta é falar de você para você, é estar bem consigo mesmo.
Palavras negativas e pensamentos negativos empobrecem os pensamentos
humanos, diminuem a felicidade, o estar e a satisfação com a vida. Quando você
fala ou pensa em palavras negativas dispara a ansiedade e diminui o humor.
Fizeram uma tempestade de ideias. Os alunos desenharam uma árvore e
envolta dela foram colocadas palavras importantes do texto, produção individual,
notou-se nessa atividade que os alunos tem desejos positivos, reais, muitos até
se emocionaram em falar o que para seu futuro.
Foram resgatados os conhecimentos prévios dos alunos sobre “contos,
em seguida foram exibidos: os tipos de contos; as características deles; os
elementos da narrativa; resumo em rede sobre a explanação da professora;
entregue material impresso para pesquisarem os elementos da narrativa, esses
foram explorados em várias atividades durante a implementação do projeto
“Letramento literário: ensino do conto”.
Segunda atividade: O Bicho Manjaléu
Motivação
Foi aplicada a técnica do avental literário. É um avental cheio de bolsos,
nos quais coloca-se objetos referentes aos contos para chamar a atenção dos
educandos. Para esse conto, foram retirados dos bolsos: touca, chave, lã,
escamas, penas, pedras.
Leitura
Foi dividido o conto em tiras para que os alunos fizessem a leitura. Depois foi
realizada a roda de leitura. Leitura jogral.
Interpretação
Com o conto do “BICHO MANJALÉU” foram realizadas as seguintes
atividades: trabalho de pesquisa e produção feito em trio; confecção de cartazes,
e registro no diário do letramento de “coisas” que aparecem em três no conto; a
importância do três nos textos literários; Interpretação oral; questões para debate
e para interpretação escrita; exploração dos elementos da narrativa; trabalho em
grupo: carneiros; peixes; pássaros e o filho mais novo; valorização da leitura;
produção escrita: bilhetes, convites.
Os alunos participaram de uma exposição de convites feita pela
professora, com base no que viram na exposição eles confeccionaram um
convite para a feira do “Bicho Manjaléu”.
O objetivo foi o aluno aprender a reconhecer a função social de um
convite, ler e interpretar convites diversos; identificar o objetivo de cada convite,
por meio de modelos diversos; produzir um convite de acordo com a função
social proposta; convidar as pessoas para visitarem a feira do bicho Manjaléu.
Os participantes organizaram um mural com os convites produzidos pela
turma. Os convites também foram usados para desenvolver habilidades de
escrita; explorar as características dos gêneros estudado.
Os alunos produziram envelopes utilizando técnicas de arte e fizeram o
preenchimento dos mesmos; realizaram resumos, resenha. Desenharam
autorretratos imaginários; foi explorado a ampliação da capacidade comunicativa
com recontos e dramatizações. Fizeram caça-palavras; apresentações para os
demais alunos do colégio; confecção do bicho com materiais diversos, cada um
construiu um “bicho Manjaléu” segundo a sua criatividade ou da cada equipe.
A confecção do Bicho Manjaléu em tamanho grande foi ideia da Laís,
pedagoga do período da tarde, a qual observou o entusiasmo e agitação em
torno do Bicho, personagem principal do conto em estudos.
Em seguida foi feita uma exposição para os alunos do colégio, para os
pais, professores e funcionários; produziram cartazes usando colagens com
penas para confeccionar o rei dos pássaros, com lã para confecção do rei dos
carneiros, produção de mosaicos para construção do rei dos peixes. Cabe aqui
ressaltar que para esse trabalho a ampliação dos desenhos foram realizados
pela Érica pedagoga da noite.
Essas atividades com o conto do bicho Manjaléu foram bem satisfatórias,
fizeram com que os educandos participassem de forma bem ativa, eles
conseguiram se organizar sozinhos ou em equipes, realizaram as atividades
sempre com entusiasmo, buscando aprofundamento no conto e nos exercícios,
pôde-se notar que quando eles realizam atividades significativas seus
rendimentos são maiores.
Terceira atividade: Sacolateca
Motivação
A motivação foi feita com apresentações de alguns contos, dramatizados
pela professora e por alguns aluno caracterizados, em seguida os educandos
relataram contos que lembraram que tinham relações com os apresentados.
Num segundo momento os alunos foram divididos em grupos, escolheram um
conto e apresentaram, ao contá-lo tinham que introduzir neles as mídias
modernas. Com essa atitude, o trabalho dos alunos é valorizado, o que é
importante para a construção da identidade de cada um. A maioria dos grupos,
colocaram celular, computador
Introdução
A sacolateca é uma coletânea de contos variados, selecionados pela
professora. Foram feitas propagandas dos contos contidos na sacola aos alunos,
em seguida, foram listados no quadro de giz, os nomes dos contos presentes na
sacolateca, os nomes dos autores, foram feitos comentários sobre alguns
autores (principalmente aqueles que as crianças perguntavam).
Leitura
A leitura foi bem explorada com os diferentes gêneros textuais e tipologias,
permitiu aos alunos trabalharem em duplas, exercitarem a leitura silenciosa,
jogral, e interpretação oral.
Interpretação
Diferentes atividades foram usadas para realizar a interpretação da
SACOLATECA: pesquisas, confecção de um glossário, com as palavras que os
alunos desconheciam os significados, reconto escrito dos contos lidos,
diagrama, questões para debate e para interpretação oral e escrita,
dramatizações, produção de textos trocando o narrador, de observador para
narrador personagem e vice-versa. Os textos da sacolateca foram usados como
intervalos para o do conto “O Bicho Manjaléo”.
Além das atividades dessas atividades descritas, O Tesouro Literário
coletivo também fez parte das atividades desenvolvidas pelos alunos dos sextos
anos, foram surpreendentes os resultados obtidos com ele.
Cada dia um aluno levava para casa o caderno, anotava nele um conto,
esse poderia ser colado, copiado, xerocado, em seguida ilustrado, em sala de
aula os educandos apresentavam o texto escolhido sem ler. Eles contavam os
contos.
Essas apresentações foram ótimas; todos os alunos fizeram o trabalho,
pesquisaram um conto, registraram no caderno, desenharam, foi combinado que
não podem repetir as histórias, eles têm que ler os contos que os demais colegas
fizeram, a professora os colegas fazem algumas perguntas sobre o texto que
está sendo exposto; isso está sendo visto como um ponto bem positivo. Os
colegas têm escutado com atenção e sempre querem ver as ilustrações.
Os educandos têm emprestado livros de contos na biblioteca para lerem
em casa, para poderem fazer a atividade bem feita. Uma aluna fez a história do
“balãozinho azul”, trouxe um balão com carinha triste e do outro lado alegre;
dramatizou a história.
As alunas Ana e Gabriela deram uma verdadeira aula, leram e depois
contaram o mito da Pandora e a caixinha de maldades, para os seus colegas,
trouxeram uma caixinha preta toda decorada com pedrinhas brilhantes, dentro
dela várias maldades ( que elas consideravam como maldades), chamavam os
colegas para abrir a caixa e pegar uma maldade escrita no papelzinho (
exemplos de maldades que colocaram: homicídio, Coulrofobia, homofobia...)
cada um tinha que ler e tentar conceituá-la, cada acerto ganhavam um pirulito,
caso não soubessem a resposta tinham que procurar no dicionário ou ir até o
laboratório de informática buscá-la. Envolveu todos os alunos, a professora
regente e a professora que cuida do nosso aluno autista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As descrições relatadas neste artigo são apresentadas com base nas
atividades aplicadas em sala de aula, as quais objetivaram possibilitar encontros
significativos com a literatura, proporcionar aos educandos por meio da leitura
de contos, a oportunidade de alargamento dos horizontes pessoais e culturais,
garantindo a sua formação crítica.
Acredita-se que esses objetivos foram alcançados por meio dos
resultados obtidos nos trabalhos apresentados, pelas dramatizações, pela
organização da feira do Bicho Manjaléu e participação nela, pelos depoimentos
dos alunos, pela participação dos pais, dos alunos dos sétimos anos, professores
e funcionários do colégio, pelos envelopes feitos pelas mães costureiras para
convidar as diretora e o pessoal do Núcleo de Ensino para visitarem a feira.
O Letramento literário foi o eixo deste trabalho, a importância dele no
ensino-aprendizagem ficou claro para alunos e professores. É do conhecimento
de todos a dificuldade de fazer com que o aluno goste e entenda a necessidade
de ser um leitor eficiente, que pratique leitura de boa qualidade, que conduza-os
ao letramento literário e auxilie-os no ensino-aprendizagem, nesse projeto os
alunos foram oportunizados por meio das atividades desenvolvidas a interagirem
de forma significativa, isso auxiliou-os a se perceberem como leitores.
A intenção é que os alunos escutem e leiam diferentes textos, que sejam
despertados de maneira prazerosa e lúdica, que eles ampliem seus
conhecimentos, tenham uma aprendizagem que realmente seja significativa, que
eles aprendam a ser pessoas reflexivas, críticas, eficazes, capazes de sentir a
sensibilidade e a emoção presentes nos textos literários tomando-se leitores
autônomos; pois só assim poderá haver melhorias na aprendizagem e
consequentemente refletir positivamente nos resultados do IDEB e da vida
cidadã de cada aluno.
REFERÊNCIAS
COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. 2 ed. Sao Paulo: Contexto, 2014. DELVAL, J. Aprender a aprender. 7 ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. KLEIMAN, A. B. (org). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995. MANGUEL, A. Uma história da leitura. Curitiba: Companhia das Letras, 1996. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica. Curitiba, 2006. SCHOLZE, L. ROSING, T. M. K. (orgs.) Teorias e práticas do letramento. Brasília, INEP, 2007.
COSSON, R. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto,
2014.
Disponível em: <http://www.abralic.org.br/anais/arquivos/2014_1434479140.pdf
(Acessado dia 23/09/2017)
Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pde
_roteiros/2016/trabalho_final_pde.pdf (acessado em 25/09/2017)
Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/
1843/BUBD-A4LJK2/virginia_tese.pdf? sequence=1%20 (acessado em
01/10/2017)