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h ipertext o Jornal dos alunos da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, outubro 2009 – Ano 11 – Nº 75 ANO 11 Página 8 Página 5 Os seres invisíveis morrem na rua LETRA & MÚSICA Urbim, patrono da Feira A cidade entra no ritmo Sem-teto tombou durante entrevista ao Hipertexto O drama dos excluídos sociais que vivem embaixo dos viadutos de Porto Alegre Bolívar Abascal Oberto/ Hiper Bruno Todeschini/ Hiper Débora Backes/ Hiper Mariana Fontoura/ Hiper Renata Lopes/ Hiper Luiza Carmona/ Hiper O vocalista Corey Glover do Living Colour O bonde de MV Bill carrega o público no Opinião Na batida dos Paralamas há quase 30 anos, banda mostra novidades e relembra sucessos Artistas de circo nas ruas da capital Esportes radicais no Marinha Página 6 Olimpíadas: clubes gaúchos treinam Página 7 Páginas 9 a 12 “Adoro ver os olhos brilhando de uma criança quando ouve as palavras mágicas era uma vez” Lívia Stumpf/ Hiper

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hipertextoJornal dos alunos da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, outubro 2009 – Ano 11 – Nº 75

ANO11

Página 8

Página 5

Os seresinvisíveismorremna rua

LETRA & MÚSICA

Urbim, patrono da Feira A cidade entra no ritmo

Sem-teto tombou durante entrevista ao Hipertexto O drama dos excluídos sociais que vivem embaixo dos viadutos de Porto Alegre

Bolívar Abascal Oberto/ Hiper

Bruno Todeschini/ Hiper

Débora Backes/ Hiper

Mariana Fontoura/ HiperRenata Lopes/ Hiper

Luiza Carmona/ Hiper

O vocalista Corey Glover do Living Colour

O bonde de MV Bill carrega o público no Opinião

Na batida dos Paralamas há quase 30 anos, banda mostra novidades e relembra sucessos

Artistas decirco nas ruasda capital

Esportesradicais noMarinha

Página 6

Olimpíadas:clubes gaúchostreinam

Página 7

Páginas 9 a 12

“Adoro ver os olhos brilhando de uma criança quando ouve as palavras mágicas era uma vez”

Lívia Stumpf/ Hiper

Porto Alegre, outubro 20092 abertura hipertexto

Jornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora de Jornalismo: Cristiane Finger

Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).Estagiários matriculados e voluntários:Editores: Fabrício Souza de Almeida, Luana Du-arte Fuentefria, Julian Schumacher, Liza Marques de Mello, Mariana de Mattos Pires, Pedro de Souza Palaoro e Tatiany Oleques Lukrafka.Editores de Fotografia: Bruno Todeschini e

Lívia Stumpf.Redação: Bruno Pereira Goularte, Bruna Bar-bosa Griebeler, Camila Cardoso Soares, Carolina Beidacki, Giordano Benites Tronco, Fabrício Souza de Almeida, Felipe Kroner Uhr, Fernando Severo Soares Jr., Ian Correa Linck, Leonardo Serafim, Luana Duarte Fuentefria, Liza Marques de Mello, Júlia Souza Alves, Julian Schumacher, Marco Antonio Mello de Souza, Marcus Perez, Mariana de Mattos Pires, Marina Sant’Anna de Oliveira, Natália Bittencourt Otto, Pedro Henrique Arruda Faustini, Pedro de Souza Palaoro, Raquel Robaert,

Ricardo Selister Araújo, Shaysi Melate, Stéfano Aroldi Santagada, Simone Cardoso e Tatiany Oleques Lukrafka.Repórteres Fotográficos: Bruno Todeschini, Laís Cantelli, Débora Backes, Ita Pritsch, Lívia Stumpf, Felipe Dalla Valle, Guilherme Santos, Bolívar Abascal Oberto, Vanessa Freitas, Gabrielle Toson, Júlia Preis, Lívia Auler, Luiza Carmona, Mariana Moraes, Renata Lopes da Silva, Henry Soares, Jonathan Heckler, Maria Helena Sponchia-do, Mariana Gomes da Fontoura, Daniela Curtis do Lago e Camila Guimarães Cunha.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

A IMAGEMEDITORIALMaria Helena Sponchiado/ Hiper

ARTIGO

ELES ESTÃO no segundo semestre de Jornalismo. Em agosto, increveram-se para estágio voluntário no Hipertexto e foram selecionados. Marco Antônio Souza, 22 anos, e Pedro Faustini, 18, já estrearam na edição de setembro. O primeiro com uma matéria sobre o Pré-Sal e o outro cobriu os preparativos para as Olimpíadas da PUCRS. Colegas de aula no terceiro andar da Famecos, resolveram fazer juntos a próxima reportagem.

A idéia surgiu do Marco An-tônio. “Moro em Esteio e venho todas as manhãs de trem. Desço na estação do Mercado e notei que uma família morava em um pequeno vão. Todo mundo desce do metrô, apressado, e não os vê, parecem invisíveis. Contei a história à professora Ivone e ela achou que poderia render uma boa reportagem”, relatou o repórter em formação na universidade.

A pauta foi combinada. Sete horas da manhã de uma quinta-feira, na Estação Mercado. Marco Antônio desceu do trem e encontrou-se com Pedro, que mora no Menino Deus, e o aluno de fotografia Bo-lívar Abascal Oberto. Os três foram até o vão e não encontraram ninguém. Seriam, mesmo, invisíveis? Não. No local, havia rastros dos sem-tetos. Mas a matéria não podia ser perdida. Pegaram um ônibus e resolveram procurar excluídos sociais em outro local.

Os três estudantes de jornalismo desembarcaram nas proximidades do viaduto das avenidas Silva Só e Protásio Alves, bairro Santa Cecília. Encontraram um morador de rua que parecia ter recém acordado. Segurava uma panela com água. Aproximaram-se. Não sabiam se ele estaria

bêbado ou drogado. Veio a traquilidade que só o medo proporciona. Começaram a fazer perguntas e pediram permissão para fotografar. “Ele procurava escolher as palavras”, lembra Marco Antônio. A falta dos dentes da frente dificultava sua

dicção. “Suava, abria e fechava os olhos”, acrescenta Pedro. Pergun-tado como enfrentava a chuva e o frio, parou um pouco, como se pensasse, e respondeu que não se lembrava. “Nunca sofreste violên-cia?”, os universitários quiseram

saber. Disse que não. “Quando fui anotar a palavra violência, ele gemeu, bateu no meu braço, um risco desceu da letra A e ele caiu nos meus pés”, lembra Marco Antônio.

Luiz Carlos da Rosa começou a tremer, a ter convulsões. “O cara vai morrer”, apavoraram-se. Ligaram para o 190. Eram 7h32min. A Brigada Militar mandou conta-tar o Samu. Uma brigadiana que estava na parada veio até o local. Todos o conheciam. “Bebe muito e não come”, diagnosticou Bel, outra moradora do viaduto. Deitado no chão, ele vomitava sangue. Às 7h46min, chegou uma ambulância. Quando a viatura partiu com o sem-teto, os estudantes pega-ram o ônibus Carris e foram para o campus. Chegaram alguns minutos atrasados para a aula de Português Aplicado à Comuni-cação, mas a primeira grande reportagem para o Hipertexto estava pronta. “Utilizo todos os dias o D 43 para completar meu deslocamento de trem à faculdade e passo duas vezes na frente do viaduto da Silva Só. Nunca mais vi o Luiz”, impressiona-se Marco Antônio com o destino dos seres invisíveis da cidade.

Da Redação

No encalço dos seres invisíveis

Em campo: Pedro e Marco Antônio começam a ouvir o drama de vida de Luiz

Tendências do verão no Donna Fashion Iguatemi, em outubro

AOS JORNALISTAS, advogados, poe-tas e escritores, amadores ou não. A todos aqueles que escrevem, aos ourives de Olavo Bilac, eu peço: mais humanidade aos seus textos. Nas matérias, petições, cartas de amor e listas de compras: mais leveza. Que a pressa não seque a fonte das boas frases, os negócios não “vampirizem” a poesia. Palavra é arte, não importa onde escrita.

A importância da imparcialidade, da hierarquia e do cientificismo, eu compre-endo. A notícia deve ser isenta, o enten-dimento da Justiça pertence aos poucos que muito estudaram, a ciência se escreve quase em latim. Mas discordo. Menos hipocrisia por parte dos jornalistas, que separam a emoção da razão ao fazer suas reportagens – perdendo, assim, a humani-dade de seu trabalho. Menos hierarquia por parte dos advogados, que detêm o mono-pólio sobre o direito dos outros. A palavra não nasceu capitalista. Foi feita para unir,

não segregar. Proponho que os textos troquem de

roupa. Deixem os trajes sérios por algo mais confortável. Em tempos em que nada é menos confiável do que um homem en-gravatado, por que obrigar as palavras a vestirem um black-tie? A sobriedade causa desconfiança e cansa. Que os textos usem jeans rasgados e all stars velhos. Nada impõe mais respeito do que o bom humor, pouco assombra mais do que a ironia. De-satem as frases complexas, as expressões rebuscadas, amarradas feito nó de gravata.

As frases devem usar sapatos de dança. O bom texto é aquele que sabe dançar. Samba pelas vírgulas, valsa com os pro-nomes. Seu escritor é coreógrafo. Assim, quem sabe, salve-se não apenas o velho jornalismo, mas o mundo. Do tédio, do de-sumano. Da não-poesia que vivemos hoje.

Por Natália Otto

A coreografia do texto

Bolívar Abascal Oberto/ Hiper

Porto Alegre, outubro 2009 3tendênciahipertexto

O BRASIL, em 2010, estará envolvido nas eleições para esco-lha de presidente da República, governadores, senadores e depu-tados. Um ano antes da eleição de outubro, já se pode prever que a internet será a grande ferramenta de comunicação das candidatu-ras e dos partidos políticos. Nos últimos anos, isso ficou evidente, por exemplo, na eleição de Barak Obama nos Estados Unidos. As mudanças feitas na legislação eleitoral, em setembro, pelo Con-gresso Nacional confirmam a perspectiva por que candidatos podem, agora, criar sites em qual-quer domínio virtual.

A internet muda a maneira de comunicar e pensar a política. As redes sociais e a blogosfera são áreas onde os protestos e as discussões ideológicas ocupam cada vez mais espaço. “O protesto na web diminui o custo pessoal de comprometimento”, explica Marcelo Träsel, professor de Comunicação Digital da PUCRS. “Não é preciso faltar ao trabalho ou à escola para colaborar. Dessa forma, quem normalmente não participaria de um movimento acaba participando”.

Em setembro, o Congresso Nacional aprovou a Minirreforma Eleitoral para as eleições de 2010. Entre outras mudanças, a lei dá aos candidatos o direito de criar sites em qualquer domínio e ter perfis em redes sociais. Antes, isso era apenas permitido em domínio em particular, o can.br. Política e

web, “esse é um caminho sem vol-ta”, escreve Marcelo Tas, jornalis-ta e âncora do programa CQC, da Bandeirantes, em seu blog – um dos mais acessados do Brasil. “É bom os políticos se acostumarem a um fato novo: o público quer falar, criticar, colaborar e ser ou-vido”. E o público anda inquieto.

Sob censuraA web é livre. Nela, todos têm

vez, voz e espaço. Um verdadeiro pesadelo para os contrários à de-mocracia. Não é à toa que gover-nos autoritários tentam mantê-la a rédeas curtas. Um exemplo é o Partido Comunista Chinês, que em julho deste ano, próximo ao aniversário de 20 anos do Massa-cre da Praça Celestial (quando o exército chinês matou aproxima-damente 3000 manifestantes em um protesto estudantil, em 1989), bloqueou sites como o Youtube, o Twitter e o Hotmail. Em irônico protesto, internautas chamaram a data de Dia da Manutenção da Internet Chinesa.

O governo chinês vai mais longe e faz controle rigoroso da web, usando softwares de última geração para filtrar conteúdo considerado subversivo. A cons-trução dessa muralha da China ci-bernética não é facilmente aceita por internautas chineses. Muitos acessam servidores alternativos e e seguem protestando, bem debaixo do nariz de seus algozes.

No Irã, a web também é um meio encontrado para fugir da

repressão. Em junho deste ano, o Twitter tornou-se a principal for-ma de denúncia da suposta fraude eleitoral que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Os protestos também foram organi-zados através dos 140 caracteres do microblog, e o mundo inteiro acompanhou a tag #IranElection (#EleiçõesIranianas, no portu-guês) permanecer por dias nos tópicos mais comentados da rede. Tamanha foi a mobilização que os criadores da ferramenta adiaram uma atualização que deixaria o microblog fora do ar.

Por Natália Otto

O MOVIMENTO Fora Sarney (http://forasarney.com.br) é um expoente da mobilização via internet no Brasil. O site, criado por três amigos em junho, foi inspirado na campanha Fora Luxemburgo, que exigia a saída do então técnico do Palmeiras. Três meses depois, eles já contam com dezenas de colaboradores de diversas áreas, um perfil no Twit-ter e muita notoriedade na mídia.

“Nosso movimento é inédi-to”, diz Moah Sousa, 52 anos,

jornalista e colaborador do site. “Talvez seja a expressão de um fenômeno, já que, pela primeira vez, estamos travando uma luta social e política pela internet”.

Pessoas de diferentes cantos do Brasil reúnem-se nos fóruns do domínio para discutir a si-tuação do Senado e organizar manifestações pacíficas em suas cidades. “Aí é que reside parte da beleza da internet”, explica Sousa. “Ela permite e abriga essa mistura, cujo lema central é o

exercício da liberdade”.Paulistano que reside em

Porto Alegre há 28 anos, Moah foi ativista durante a ditadura militar. Hoje, usa novas armas para combater antigos inimigos. “Ao contrário da revolução nas ruas, as transformações na web voam, mas, muitas vezes, em velocidade bem diferente daquela projetada pela nossa mente”. Ele explica que a rede é uma bomba ideológica. Clicar no enter é como entregar um panfleto ao mundo

inteiro. “A internet é uma ferra-menta nova e precisa ser aperfei-çoada, sobretudo pra melhorar a mira”, pondera.

Todo o poderio fornecido pela web seria inútil, no entanto, não fosse o desejo de mudar a pró-pria realidade demonstra pelos internautas. “A internet é apenas um instrumento”, diz o professor Marcelo Träsel. “O que faz a dife-rença é o interesse dos cidadãos”. E nesse aspecto, pouco se diferem o século XXI e o ano de1968.

As últimas eleições america-nas provaram que internet e polí-tica já não vivem separadas. Com a ajuda da web, Barak Obama não apenas tornou-se presidente dos EUA, mas se consolidou como um ícone pop. Sua campanha eleito-ral se estendeu por todas as redes sociais, com inúmeros vídeos no Youtube e movimentos de apoio no Twitter. Dessa forma, Obama aproximou-se do público que mais representou sua campanha: os jovens, insatisfeitos com Geor-ge Bush e desejosos de mudança.

“Twittergate” é mais uma expressão da internet. Nome em homenagem ao caso Watergate, quando reporta-gens investigativas do jornal Washington Post levaram à renúncia do então presi-dente americano Richard Nixon, em 79, referem-se às gafes cometidas por polí-ticos no microblog e às suas consequências, no mínimo, desastrosas.

Menos de 140 caracte-res foram suficientes para iniciar furor no parlamen-to alemão. No dia 23 de maio, Julia Klöckner, da equipe da chanceler Angela Merkel, noticiou em seu microblog a reeleição do presidente Horst Köhler quase 15 minutos antes do resultado oficial. O mesmo ocorreu com o parlamentar Ulrich Kelber, que chegou a especificar a quantidade de votos que elegeu Köhler. O

parlamento alemão decidiu abrir inquérito a respeito do incidente, que resultou no pedido de demissão de um deputado.

Na Índia, o vice-minis-tro de Assuntos Exteriores, Shashi Tharoor, fez um co-mentário irônico que o ren-deu muito constrangimento. Um jornalista, via twitter, perguntou ao ministro se ele faria viagem de negócios na “classe do gado”, referindo-se à classe econômica. Tha-roor digitou, em resposta: “Claro, na ‘classe de gado’ e em total solidariedade as nossas vacas sagradas!”.

Os políticos e a popula-ção indignaram-se com o termo pejorativo e com a afronta às vacas, animais idolatrados pela cultura indiana. Protestos e até pe-didos de renúncia por parte de seu partido seguiram o descuido de Tharoor.

Candidatos em 2010vão enfrentar umainternet politizada

Ativista do tempo da ditadura militar aderiu à web A força de Obama

TWITTER DENUNCIAGAFES NO MUNDO

Congresso liberou a utilização da web nas eleições

Reprodução

No encalço: é possível seguir o presidente dos Estados Unidos no twitter

Porto Alegre, outubro 20094 mundo hipertexto

Crise de Honduras mostra conflitos latino-americanosHONDURAS é uma nação

apagada na política mundial, até mesmo se comparada aos demais países da América Central. Sua história é semelhante às de outras nações americanas com lutas pela independência, curtos períodos de democracia, intercalados por longos regimes ditatoriais até alcançar a democracia no final do século 20. Até junho, o país só era lembrado por ser o segundo mais pobre da América Central e por suas bananas, principal produto de exportação.

Em junho, Honduras chamou a atenção do mundo ao ter seu presidente Manuel Zelaya derru-bado pelo primeiro golpe militar americano do século 21. Expulso, voltou clandestinamente a Hon-duras em setembro e se refugiu na

embaixada brasileira em Teguci-galpa, para desgosto da elite hon-durenha e de Roberto Micheletti, presidente do Congresso e que assumiu a presidência do país.

José Manuel Zelaya Rosales é um homem atípico. Filho de um rico fazendeiro, foi eleito por um partido de direita (Liberal, o mes-mo de Micheletti), com um plano de governo de centro-direita. Ao chegar à presidência, começou uma política redistributiva que nada tinha a ver com a posição ideológica de seu partido. O resul-tado foi a perda do apoio da elite conservadora, antigos aliados.

À procura de crédito para financiar seus projetos sociais, aproximou-se de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Chávez cedeu 132 milhões de dólares

(122 milhões a mais que o Banco Mundial) e petróleo para Zelaya em troca de ele se filiar à Alterna-tiva Bolivariana para as Américas (Alba), bloco econômico formado por governos de esquerda da América Latina. Seguindo os passos de seus companheiros da Alba, Zelaya propôs um referendo nacional para mudar a Consti-tuição e permitir reeleições para presidente. O Exército expulsou-o imediatamente do país, alegando que Zelaya queria mexer numa cláusula pétrea da Constituição, que não poderia ser alterada sob nenhuma hipótese.

Existem argumentos con-sistentes tanto para defender a legalidade do golpe quanto a sua ilegalidade. Mas, acima dessa discussão, o golpe e o próprio

governo de Zelaya mexem com o mapa político da América Latina. “O ingresso de Honduras na Alba significa que seu alinhamento político mudou dos EUA para a Venezuela”, explica a professora de Ciências Políticas da PUCRS, Maria Izabel Mallmann. Os EUA possuem um forte receio dos go-vernos aos moldes chavistas por serem anti-capitalistas e fantas-mas do socialismo em pleno sécu-lo 21. Na opinião de Maria Izabel, os EUA poderiam, se quisessem, ter resolvido o golpe de Honduras há muito tempo. Apesar do presi-dente americano Barack Obama dizer não reconhecer o governo golpista, não é do interesse de seu país ver Zelaya de volta ao poder, pois significaria mais um governo chavista.

Populismo, golpes militares e bananas marcam o cenário político nas Américas

O POPULISMO foi muito presente nas Américas no século 20. Getúlio Vargas no Brasil e Juan Peron na Argentina são os exemplos mais eloquentes. Hoje, está presente no carisma pessoal, no discurso político e nas ações sociais de Lula no Brasil, Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bo-lívia e Rafael Correa no Equador.

A característica que os unem é o contato direto com o povo. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é assim. Seu governo é apoiado em sua imagem. Para ganhar a confiança da população venezuelana, pratica uma política de reformas distributivas, retira recursos de um segmento para distribuir a outro, no caso, as classes C, D e E. Ainda assim, seu governo, segundo a professora de Ciências Políticas da PUCRS, Ma-ria Izabel Mallmann, não poderia ser chamado de populista, pois é baseado no socialismo. “É um go-verno de aspectos personalistas e redistributivistas, porém Chávez é anticapitalista. O populismo surgiu como algo capitalista, destinado a promover a aliança de classes”, explica. Em sua opinião, seria mais correto usar o termo neopopulismo para se referir aos governos atuais.

Afinal, os governos neopopu-listas funcionam? A julgar pela aceitação popular, sim. Líderes como Chávez e o presidente bo-liviano Evo Morales possuem a aceitação da ampla maioria da população de seus países. Mo-rales está prestes a conseguir a reeleição e a maioria no Senado,

e Chávez está há vários mandatos no poder. A longo prazo, talvez a coisa não funcione tão bem. Ao focar os gastos públicos na “cari-dade para os pobres”, como diz o professor de História da Univer-sidade Estadual de Maringá, João Fábio Bertonha, o governo acaba por não investir em infraestrutura e educação. Esse sistema fun-cionará na Venezuela enquanto houver petróleo para sustentá-lo, mas e depois? “O desenvol-vimento real, com crescimento econômico e de renda, formação de cidadãos, parece não estar no horizonte”, diz Bertonha no site da revista Espaço Acadêmico (www.espacoacademico.com.br/064/64bertonha.htm).

Maria Izabel vê um caminho do meio: “A estrutura de dis-tribuição tem que estar aliada à geração de riquezas. O ideal seria apoiar as classes C, D e E, não para torná-la consumidora de supérfluos, mas para as ne-cessidades. Acompanhada a isso, políticas que desenvolvam os outros setores.” Mas aí, segundo ela, somente uma economia de mercado daria certo, pois uma estatizante afugenta investimen-tos e novas tecnologias. A chave é achar o ponto em que o Estado pode gerenciar e permitir um desenvolvimento diversificado.

Quanto à possibilidade de perpetuação no poder através de reeleições ilimitadas, causa central do golpe em Honduras, a professora acha que não signi-fica necessariamente algo ruim. Países como Honduras possuem

uma economia historicamente controlada por uma minoria que não se vê ligada ao coletivo. Uma estrutura assim não vai mudar com um governo típico. “Se for para mudar vai ser por um go-verno atípico, não é mudando (o governo) de quatro em quatro anos que vai acontecer”, diz. Uma reforma profunda precisa de tempo, e há a possibilidade de um novo governo acabar com os programas de reforma do ante-rior, o que atrasaria a evolução do

quadro. Apesar de não ser o ideal, talvez o sistema “populista” seja o que estes países precisam no momento. “Se as opções verda-deiras são um sistema econômico que mantém os pobres perma-nentemente na periferia e outro em que, ao menos, eles ganham algo, como questionar se o povo prefere a segunda?”, argumenta Bertonha.

A professora da PUCRS tam-bém aprova a decisão da embai-xada brasileira abrigar Zelaya. “O

Brasil tem uma política de não intervenção nos outros países, mas também defende a demo-cracia e os direitos humanos, o que explica a atitude de proteger um presidente, retirado ilegal-mente do poder.” Um país que tem projeto Bolsa-Família, de claro apelo às massas, não pode se dizer praticante de políticas tão diferentes das do presidente deposto em Honduras.

Giordano Benites Tronco

Nova onda de lideranças carismáticas

Os líderes Hugo Chavez, Lula e Evo Morales formam a trinca popular na América do Sul

Aizar Raldes/AFP

Aizar Raldes/AFP

Presidente deposto, Zelaya

Porto Alegre, outubro 2009 5reportagemhipertexto

BEL ACORDA cedo todos os dias debaixo do viaduto que cruza a Avenida Silva Só. Vive junto de outros dois moradores de rua, seus cachorros e dos poucos per-tences que estão guardados em um carrinho de supermercado. Luiz Carlos não sabe ao certo a hora em que levanta e nem lem-bra como faz para se proteger da chuva ou do frio. Ambos levam uma vida praticamente invisível para as pessoas que transitam pela esquina. A rua tornou-se a casa dessas pessoas, depois de rejeitarem a ideia de ficar nos albergues e abrigos públicos. Suas histórias de vida são impossíveis de ser ignoradas ou esquecidas.

Isabel Cristina Melo, ou sim-plesmente Bel, tem 54 anos de idade. Seus dois filhos também se abrigam onde a mãe enfrenta a rotina de fome e maus tratos. Mesmo dividindo o espaço, eles não se falam. O motivo da família de Bel ter perdido sua casa no bairro Cavalhada foi justamente a briga que mantêm todos sepa-rados. Ela conta que trabalhou como empregada doméstica e também em supermercados de Porto Alegre.

Foi parar nas ruas com seu marido depois que a família se di-vidiu. Bel acompanhou o processo de destruição do companheiro, que se envolveu com drogas e be-bida. Esteve ao seu lado nos mo-mentos finais da vida. Sua morte aconteceu na calçada, depois que seus pulmões não aguentaram a rotina do abandono mesmo aos olhos dos transeuntes que passa-

vam pelo viaduto e viam a mulher com seu marido moribundo.

Desde que perdeu as ligações familiares, Isabel passou a cui-dar das pessoas que dividem as angústias da vida nos viadutos. Ela conta que frequentemente moradores de rua apanham de pessoas de classes mais altas. Nas sextas-feiras, é comum que adolescentes, após saírem de casas noturnas e bares da região, agridam os sem-teto.

“Na sexta-feira passada, uns caras saíram de uma festa, as-saltaram um rapaz na parada de ônibus e levaram tudo dele. Nós pedimos para que ao menos devolvessem os tênis, mas os as-saltantes vieram destruir nossas coisas”, conta Isabel.

Ataque epiléticoLuiz Carlos da Rosa, de 34

anos, também possui uma história marcante. Após a casa que divi-dia com um primo em Gravataí ter pegado fogo, sua rotina de mudanças começou. Os bairros Cavalhada e Restinga são alguns dos lugares onde já morou. A vida nos albergues e abrigos públicos não é uma opção para ele, que prefere ficar na rua. Enquanto a entrevista era feita, os sinais de mal-estar não abandonaram a expressão de Luiz Carlos. “Ele não se alimenta direito e bebe muito”, conta Isabel.

Após responder se já havia sofrido algum tipo de violência na rua, Luiz Carlos colocou a mão direita na testa. Parecia pensar no que responder. Mas em seguida

gemeu e caiu, de costas, no chão. Deitado, se contorcia. Ele teve um ataque epilético e ficou para-lisado. Estava azul, olhos abertos, estirado. Parecia morto.

A equipe de reportagem do Hipertexto ligou para o SAMU e uma ambulância foi enviada para o local. Enquanto isso, Luiz recu-perava a consciência. Os repórte-res viraram seu corpo de lado, a fim de que não se afogasse com a saliva. Pouco depois, começou a vomitar.

Isabel não demonstrou preo-cupação com o amigo. Disse que Luiz tinha HIV e as convulsões eram normais. Também relatou que, com frequência, as pessoas dão dinheiro aos moradores de rua, sabendo que irão usá-lo para comprar drogas, mas quando

pedem alimento ou roupa, nem sempre são atendidos.

Em casos de emergência, a falta de atendimento aos mora-dores de rua é comum. Quando o pedido de ajuda é feito por um deles dificilmente são assistidos e que os órgãos públicos sabem das precárias condições dessas pesso-as (ao ligar para o SAMU, o aten-dente perguntou como o repórter sabia que Luiz convulsionava. Afinal, os trotes, infelizmente, também são comuns).

Enquanto tudo isso acontecia, as pessoas cruzavam pelo local sem mostrar qualquer reação ao que ocorria debaixo da ele-vada. Somente um transeunte que passava pelas proximidades perguntou se a SAMU já havia sido chamada, e após receber a

resposta, continuou seu caminho. A ambulância chegou pouco

mais de dez minutos depois da ligação. Ao avistar o veículo, Luiz Carlos tentou se erguer, mas apenas conseguiu sentar e seguiu vomitando (agora, com sangue). Os paramédicos o colocaram na ambulância e começaram os exames. O paramédico Zé Carlos relatou que pessoas que moram nas ruas têm todo tipo de doença e atendimentos semelhantes são realizados de 20 a 30 vezes por dia pelo SAMU. A ambulância partiu para o hospital poucos momen-tos depois, mas Luiz repetia aos paramédicos: “Não quero ir para albergues”.

Por Marco Antonio Souza e Pedro Faustini

Sem-teto sofrem com indiferença Em Porto Alegre, a história de duas pessoas marcadas pelas drogas e pela falta de tudo

A Fundação de Assistência Social e Cidadania têm a função de realizar uma avaliação dos pacientes após sua entrada no hospital e fazer o encaminha-mento, desde que o mesmo esteja de acordo, a um dos abrigos ou albergues com va-gas disponíveis. Segundo Luiz Eduardo Barbosa, coordenador da Assessoria de Comunicação Social da Fasc, não existe fer-ramenta legal que obrigue ao paciente aceitar a transferência para um dos locais que o muni-

cípio oferece às pessoas que não tem para onde ir.

Os repórteres do Hiper-texto foram até o Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre para saber com a equipe de assistentes sociais qual foi o procedimento adotado neste caso. A assistente social não estava de plantão no horário e a atendente que cuidava do guichê não quis se identificar ou dar qualquer esclarecimento. O que terá acontecido com Luiz Carlos?

É COMUM A RESISTÊNCIA AOS ALBERGUES

Fotos Bolívar Abascal Oberto/Hiper

Sem compaixão: durante entrevista, quando contava seu drama de vida, Luiz Carlos passou mal, teve convulsões e foi socorrido por uma ambulância do SAMU

Destino incerto de Luiz

Porto Alegre, outubro 20096 esporte hipertexto

A PISTA é puro cimento. Nos pés para amenizar o impacto, eles têm apenas a prancha de skate. Sem medo, os atletas deslizam, saltam e dão show no Parque Marinha do Brasil. “O skate me tornou uma pessoa melhor, es-tava meio perdida na vida e me encontrei aqui”, declara Chrys Fernandes, paulista de 25 anos que perdeu o pai há 10 e buscou no esporte uma saída para fase ruim de sua vida.

Oscar “Mad” Edinger, 36 anos, é outro paulista que vê no skate um refúgio. “O esporte só me acrescentou coisas boas, me tirou da rua e das más companhias, me apresentou lugares e pessoas”. A importância do esporte na vida dos seus praticantes pode ser comprovada no Parque Marinha do Brasil nos dias 10, 11 e 12 de outubro, quando iniciaram os Jogos Radicais de 2009.

“Não tem nada igual a isso aqui em lugar nenhum do Brasil, essa pista é única”, elogia César Lufti, paulista de 28 anos, skatista pé-no-chão, que prioriza a família e o trabalho acima do esporte. Mad também exalta as condições da pista do Parque Marinha e destaca que os Jogos Radicais incentivam o esporte e propor-cionam espaço na mídia. Sérgio Marreta, o sábio das pistas, vê o evento como oportunidade para melhorar a imagem do esporte, “dá chance aos skatistas de alma, como eu, provarem que é um esporte digno”.

“Marreta”, como é conhecido entre skatistas, tem 54 anos e traz em suas rodinhas uma história de dedicação e perseverança. Ele ‘culpa’ sua mãe pela paixão. “Sabe como é, o embalo do carrinho de nenê vicia, daí a gente evolui pro carrinho de mão, depois pro de fricção. Então só queremos saber de ficar em cima do carrinho, foi aí que descobri o skate”.

A carreira do figurão das pis-tas começou cedo, participou de equipes como a Surf no Asfalto e criou a Skator, que ele considera “uma união, não um contrato”. Apaixonado pelo esporte, confes-sa: “Nunca venci uma competi-ção, participei pela alegria”.

Em 2007, Marreta sofreu um grave acidente enquanto treinava para o mundial de skate. Ele esta-va em alta velocidade quando um carro invadiu a rua de maneira indevida. O choque com o veículo foi tão forte que quebrou mãos, pés, a boca e a coluna. Uma esta-tística nada esperançosa atraves-sou a carreira do skatista: apenas 5% de chance de voltar a cami-nhar. Marreta, apavorado com a probabilidade de ser impedido de praticar o esporte, se dedicou intensamente ao tratamento e, um ano e meio depois, conseguiu caminhar de muletas. De imedia-to, recorreu à skateterapia, pois o skate exige trabalho de músculos importantes para a recuperação.

Agora, em outubro de 2009, lá estava Sérgio, com um equi-pamento para a sustentação de sua coluna, desafiando os perigos do esporte. Marreta é exemplo de superação e um ídolo para a nova geração de skatistas que o chamam de pai do skate. Não importa que as manobras já não sejam as mesmas e a agilidade está comprometida, o que inte-ressa é seu amor pelo esporte. De muleta na mão e skate no pé, uma inspiração.

Por Carolina Beidacki

A 4ª EDIÇÃO dos Jogos Ra-dicais é um projeto da Prefeitura de Porto Alegre, com apoio de empresas materiais esportivos. A realização é feita pela X3 – Marketing Esportivo, que dedica um ano de preparação para o evento. As atrações vão do skate ao wakeboard em competições de nível nacional.

A primeira fase foi a do skate em 10, 11 e 12 de outubro. Cente-nas de pessoas compareceram ao Parque Marinha do Brasil, para torcer ou apenas observar os atle-tas que desafiavam a gravidade a todo segundo. As provas eram organizadas em categorias de idade e sexo. Iniciantes, meninas e profissionais dividiam a pista.

Os jogos também serviram como ação solidária: a taxa de inscrição era a doação de dois brinquedos à instituições de caridade. A ideia veio ao encontro da datas dos jogos, no Dia das Crianças.

Qualquer pessoa poderia par-ticipar, sob a condição de uso do capacete em todas as provas. A segurança foi prioridade número um dos organizadores. Para aten-der às emergências, uma equipe de profissionais e ambulância estavam de prontidão. Também participaram da segurança a Polícia Civil, Brigada Militar e a guarda municipal.

Snake e surf style eram as principais modalidades da com-petição. Snake consiste em per-

correr uma pista, passando de uma borda à outra, fazendo o movimento semelhante ao de uma cobra, daí o nome da prova. O snake se divide em duas catego-rias, com e sem cones, conhecidas como slalom e speed. Em ambas o vencedor é o que concluir a prova em menor tempo.

O surf style foi a saída encon-trada pelos surfistas frustrados da cidade. Longe das ondas, os porto-alegrenses recorreram à modalidade que compreende a realização de manobras do surf no skate. Nessa prova não basta executar os movimentos com perfeição, a ousadia e o estilo são traços extremamente valorizados pelos juízes.

Mesmo quem tinha pouco co-nhecimento sobre o esporte pôde prestigiar o evento sem preocupa-ções. Os juízes e apresentadores da competição faziam questão de esclarecer e traduzir cada prova e termo utilizado. Talentos do skate circulavam pelo evento, conversando e respondendo a perguntas lançadas. Também surgiram alguns novos destaques nas pistas que farão o futuro do skate do país. Os Jogos Radicais foram muito mais do que um en-contro de skatistas, fortaleceram o esporte que vinha perdendo espaço. “No Brasil, ainda estamos engatinhando, mas já se percebe os avanços que fizemos”, observa Kako Max, grande nome do skate.

Jogos reúnem atletas radicais no Parque Marinha

Manobras e aéreos decoram asbordas da pista nos Jogos Radicaisde Porto Alegre em outubro

Eles saltam edançam numapista de skate

Muito irado: público acompanha movimentos do skatista e aguarda o momento dos aéreos

Bruno Todeschini/ Hiper

Porto Alegre, outubro 2009 7esportehipertexto

Clubes da Capital preparam atletas que são aposta nas Olimpíadas no Brasil

Porto Alegre rumo a 2016O ANÚNCIO do Rio de Janei-

ro como sede das Olimpíadas em 2016 desencadeou uma corrida para a preparação da Cidade Maravilhosa para o evento. No entanto, não é somente o Rio que se organiza para o aconte-cimento. Em muitas cidades, os preparativos de atletas que pos-sam representar o país já iniciou.

Em Porto Alegre dois clubes de alto nível fazem projeções para 2016: Grêmio Náutico União e Sogipa. Nestes clubes são formados atletas destaca-dos como João Derly (Sogipa), Daiane dos Santos (ex-União) e Mosiah Rodrigues (ex-União) que representaram o Brasil em Olimpíadas. Quem serão as re-velações para o Rio Olímpico?

Sem tradiçãoEsgrima e ginástica rítmica

são algumas das apostas do Grê-mio Náutico União, que investe pesado em seus atletas. Com uma das melhores estruturas do Brasil, o clube tem mais de 50 mil alunos nas atividades esportivas e 144 profissionais (competição, formação e apoio) que ajudam 571 atletas federados distribuídos em nove modalidades esportivas: remo, natação, vôlei, basquete, judô, ginástica artística, ginástica rítmica, tênis e esgrima.

Esporte pouco difundido no Brasil, o esgrima recebe especial atenção no União, com o objetivo de que os atletas estejam aptos a conquistar medalhas. O clube levou João Souza, campeão do Pan-Americano no Rio, para as Olimpíadas de Pequim, e já planeja ampliar esse número de participantes nos jogos. Para isso, o clube oferece todo o mate-rial necessário para os 110 alunos que praticam esgrima. O profes-sor Alexandre Teixeira explica que esgrima não é um esporte somente para a elite. Destaca que o clube possui uma boa estrutu-ra e vários atletas com grande potencial. “Esperamos que eles cheguem (no Rio, em 2016) aptos a ganhar uma medalha olímpica, o que seria inédito para o Brasil”, comenta Teixeira.

Uma das grandes promessas é Eduardo Rufino, 12 anos, es-grimista desde os sete. Eduardo começou vendo o pai praticar e tomou gostou pela esgrima. Hoje é campeão brasileiro da sua categoria e vice-campeão sul-americano. “Disputar as Olimpí-adas de 2016 é o meu objetivo”, conta o garoto que treina todos os dias, no mínimo, uma hora.

Outra modalidade é a ginásti-

ca rítmica. Por não ter muita tra-dição, a expectativa de medalha em 2016 ainda é mais pessimista. Segundo a treinadora da equipe do União, Patrícia Fontana, o Brasil tem muito a melhorar no esporte, apesar do crescimento nos resultados. O clube conta com uma equipe de meninas que disputa campeonatos nacionais e internacionais e está entre as cinco melhores do Brasil.

Para Patrícia, conquistar medalha é um sonho e só poderá acontecer do nascimento de um talento. Dedicação e força de vontade fazem parte do dia-a-dia da equipe principal do União. Diariamente, durante cinco ho-ras, os movimentos são repetidos exaustivamente até que sejam executados perfeitamente. Isso já rendeu muitos títulos nacionais e individuais e um campeonato brasileiro em equipe.

O destaque atual da equipe feminina do União é a jovem Eliane Sampaio. A garota de 17 anos treina desde os sete e está entre as três melhores ginas-tas do Brasil. Eliane é campeã regional, bicampeã brasileira e participou do último campeonato mundial da categoria onde só participam atletas ranqueados. Para ela, participar das Olimpí-adas é uma meta, para isso se dedica ao máximo. “É preciso paciência, dedicação e respon-sabilidade”, reconhece a atleta que, em 2016, pode conquistar a primeira medalha olímpica na ginástica rítmica.

O golfe e o rúgbi, as duas no-vas modalidades esportivas que estarão nas Olimpíadas de 2016

no Rio de Janeiro, são pouco praticadas no Brasil. A aprovação destes esportes, no entanto, não desanimou o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), nem os brasi-

leiros para que o país aumente o número de medalhas em partici-pação nos jogos.

Por Felipe Uhr

O primeiro passo

Treino: atletas do União buscam aumentar o número de medalhas do clube daqui a sete anos

“AS OLIMPÍADAS podem ser um ponto de virada na história do Rio de Janeiro”. Com essas palavras, o prefeito da capital carioca Eduardo Paes mostrou seu contentamento com escolha da Cidade Maravilhosa como sede dos Jogos Olímpicos. O anúncio ocorreu em Copenha-gue, na Dinamarca, no dia 2 de outubro. Porém, após algumas semanas de deslumbramento, o governo federal começa a pensar nos investimentos necessários até 2016 para criar uma atmosfera agradável para os turistas.

Estima-se que mais de um milhão de estrangeiros irão de-sembarcar em terras tupiniquins para apreciar a maior competi-ção do planeta. Sejam japoneses ou americanos, espanhóis ou latino-americanos, o governo quer estar preparado para re-ceber todos de braços abertos, fornecendo-lhes segurança e infra-estrutura. Mas isso será possível? Será que, em apenas sete anos, a caótica Rio de Janeiro vai ser capaz de virar referência mundial?

Segundo o ministro do Turis-mo, Luiz Barreto, as Olimpíadas são a oportunidade perfeita para mudar a imagem do país e, a longo prazo, a população só tem a ganhar. Ela deixará uma boa herança não só para cidade, mas para todas as regiões brasileiras. O dinheiro que for aplicado pode-rá promover a reestruturação da economia nacional.

Investimentos não faltarão. A iniciar pela segurança. Para não ter mais aviões abatidos e ônibus carbonizados, R$ 3 bilhões serão repassados para compra de novos equipamentos para a polícia local.

Os setores hoteleiro e de ser-viços também receberão forte ajuda. Para abrigar esse mar de gente, na Copa do Mundo e nos Jogos de 2016, serão necessários mais de 48 mil quartos – quase metades deles ainda não existem.

Outro desafio será expandir e aperfeiçoar o sistema de trans-porte de massa, hoje baseado no uso de ônibus. Estão previstos investimentos de US$ 5,5 bilhões, incluindo ferrovias, metrô, ônibus e aeroportos.

Somente o tempo dirá se as Olimpíadas trarão reais benefí-cios ao Brasil. Esforços não estão sendo medidos. Enquanto 2016 não chega, o melhor é torcer para que as futuras medalhas de ouro brasileiras não sejam ofuscadas pela plata dos cofres públicos.

Por Leonardo Serafim

ARTIGO

Expectativa para a Ginástica Rítmica ainda é pessimista

Fotos Bruno Todeschini/ Hiper

Porto Alegre, outubro 20098 cidade hipertexto

O SEMÁFORO da rua José Bonifácio fica vermelho e os car-ros param. Um homem de cerca de 25 anos, de alargador nas ore-lhas e uma longa franja se põe à frente dos carros. Cumprimenta os motoristas com um sorriso e um polegar em sinal de positivo. Equilibra uma bola de borracha na parte de cima do pé. Após, lança-a para cima. A bola pousa em sua nuca. Ele gira a cabeça, jogando a franja de um lado para o outro, de forma que a bola role sobre seu rosto, depois passa-a para seus ombros e braços, tudo isso sem derrubá-la. Da calçada, sua mulher o observa. Perto dela, equipamentos: malabares, bolas, um monociclo. O homem termina a apresentação e começa a reco-lher dinheiro dos carros. O semá-foro fica verde. Os carros avançam e o homem junta-se a sua mulher, até o sinal fechar de novo.

Eles são Pablo Pichacha e Kaká, artistas de circo. Juntos, percorrem cidades se apresentan-do em espaços apropriados ou, na falta deles, na rua. “Aqui em Porto Alegre, só tem a Redenção pra se apresentar”, reclama Kaká, “fora isso, tem o Cabaré Valentim umas duas vezes por ano”. Apesar disso,

diz que gosta de trabalhar na rua. “Na rua a gente tem contato com as pessoas, e tem que conquistar o público. As pessoas que vão no circo já estão dispostas a aceitar o espetáculo. As pessoas na rua têm que ser conquistadas.”

Kaká diz que há mais de 50 artistas em Porto Alegre traba-lhando nas ruas. Juntos, eles criam uma rede de ajuda mú-tua, principalmente através da internet. Grande parte deles se reúne para trei-nar no Parque da Redenção, perto da fonte. “Conhe-ço muita gente de circo. É uma rede, eles te indicam lu-gares”, diz ela.

Kaká faz circo desde os 16 anos. Aprendeu numa oficina a fazer malabarismo e andar de monociclo. Trabalhou em telemarketing e como aten-dente de lojas antes de se dedicar exclusivamente à sua arte. Um artista viaja muito: Kaká rodou o Brasil de norte a sul junto com um grupo. Conheceu o argentino Pablo quando foi à Argentina para um encontro de artistas circen-ses. Os dois passaram os últimos

dez meses viajando pela terra de Pablo. Ela relata as diferenças da Argentina e do Brasil: “Lá eles ensinam circo nas escolas. Há uma cultura de artistas de rua muito maior. Eles têm espaços, há mais oportunidades. Por isso fiquei por lá.”

Pablo é natural de Neuquen, uma cidade argentina. Iniciou-se na arte um pouco mais cedo que a mulher, que é brasileira. “Comecei com 12 anos. Aprendi

com outros artistas mais experientes. À partir dos 14 anos, o negócio ficou mais profissional”, conta ele, em espanhol. Sabe muito pouco portu-guês. O casal chegou à Porto Alegre há um

mês. Motivo: Kaká está grávida e voltou para a cidade dos pais para ficar um tempo com eles.

A rotina de um artista de rua é bem livre. Pablo levanta, treina, depois se apresenta por algumas horas. Normalmente não mais que cinco. O monociclo exige muito, fisicamente. Com quatro horas já se está esgotado. O lucro de cada dia é incerto, depende de vários fatores. “Varia muito, se é

início do mês, final do mês, pode-se ganhar muito numa semana e pouco na outra”, explica Kaká. No dia da entrevista, Pablo estava se apresentando pela primeira vez depois de uma semana de chuvas. Quando chove, não há o que fazer: o jeito é ficar treinando, enquanto se espera o tempo melhorar. De-pois, corre-se atrás do prejuízo. “A gente joga com a rotina”, brinca Kaká.

Apesar de reclamar da falta de apoio, Kaká diz que não espera nada do governo. “Tem gente que ganha apoio da Funarte, que ago-ra começou a aprovar projetos de circo, mas é a mínima ajuda possí-vel. Não sei dizer se vai melhorar. Falta espaço, mas falta também reconhecimento cultural da arte circense, diferenciar um artista de um cara que pede dinheiro na rua. As pessoas não têm que pagar, mas retornar de alguma forma. Não precisa de um apoio necessariamente do governo. Eles não se importam tanto com a arte e sim com a política”. E completa: “A gente tá na rua justamente pra mostrar que a nossa arte é livre e independente”.

Por Giordano Benites Tronco

Artistas de circo levam arte às ruas de Porto Alegre

Argentino e sua mulher se apresentam nos semáforos da Cidade Baixa

Pablo e Kaká se conheceram na Argentina durante um encontro de artistas circenses, e hoje viajam juntos se apresentando

Ita Pritsch/ Hiper

“O lucro de cada dia

é incerto.“

Os delegados e as teses que representarão o Rio Grande do Sul na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) serão definidos no encontro estadual que será realizada nos dias 3 e 4 de novembro, no Teatro Dante Barone da Assembléia Legisla-tiva. A Conferência Estadual de Comunicação foi convocada pelo mesa diretora do Parlamento gaúcho, presidida pelo deputado Ivar Pavan (PT), em função da falta de iniciativa do Governo do Estado.

Os delegados indicados re-presentarão o poder público, setor empresarial e movimentos sociais. A Conferência Nacional de Comunicação está marcada para os dias 1 e 3 de dezembro, em Brasília.No dia 21 de outubro foi realizada a Conferência Livre de Comunicação de Porto Alegre, na Casa dos Bancários, sendo uma preparatória para a 1ª Con-fecom. A Conferência Livre teve como tema Comunicação: meios para construção de direitos e de cidadania na era digital.

Encontro deComunicação

Nos dias 5 e 6 de dezembro, estudantes do ensino médio deverão fazer a prova do Exame Nacional (Enem), aquela que foi adiada em virtude do roubo de alguns exemplares em São Paulo no final de setembro. Por causa da nova data do Enem, em dezembro, várias universidades tiveram que alterar os dias das provas do vestibular de verão, caso da PUCRS que remarcou para 12 e 13 de dezembro.

Depois de roubarem parte das questões em 21 de setembro, os dois funcionários do consór-cio Connasel, contratado pelo governo federal para elaborar as provas do Enem, tentaram vender as mesmas para diversos meios de comunicação em São Paulo. Complicando ainda mais o processo, o Connasel havia vencido a licitação no valor de R$ 116 milhões, dos quais R$ 38 milhões, referentes aos custos de impressão, já haviam sido pagos pelo governo.

Cerca de 4,1 milhões de es-tudantes se inscreveram para participar da prova. Os alunos de escolas particulares que desisti-rem de fazer o Enem poderão ter o dinheiro da inscrição devolvido. Para isso, terão que encaminhar ao Inep a solicitação, os demais estudantes não precisam pagar novamente a inscrição, e recebem em casa todos os dados para a realização da nova prova.

Prova do ENEM em dezembro

CURTAS

Porto Alegre, outubro 2009 9letra & músicahipertexto

COMO DESCREVERIA a Feira do Livro, o que chama atenção nessa 55ª edição e o que poderia mudar?

A Feira de Porto Alegre, que chega a 55ª edição, está de bom tamanho. Conta com uma estru-tura complexa, que a cada ano se aperfeiçoa. Chama atenção o fato de o evento ter se tornado um dos mais populares e amados pelos gaúchos. É cartão postal da nossa cultura. São poucas as ci-dades no mundo que adquiriram o direito de, todos os anos, abrir um espaço no Centro Histórico para festejar os livros, os autores, a leitura. Vale a pena viver isso, ver a Praça da Alfândega e o Cais do Porto povoados de leitores em uma espécie de quermesse que, em 2009, tem 17 dias de duração.

Nesta quermesse, como o senhor qualificou, a litera-tura não corre risco diante da expansão de fenômenos como os livros de auto-ajuda, gastronomia, dietas e outras praticidades, mais o desfile de celebridades promovido por meios de comunicação e empresas de marketing?

Não, a festa é dos livros. A grande motivação dos que fre-quentam a Feira é a leitura. O evento está a cada ano maior, com uma programação intensa todos os dias, mas tudo gira em torno do livro. Claro que existem os fenômenos, modismos, desfi-les. Mas a gente sabe que está ali porque gosta de ler.

Como jornalista e escritor, com experiência em jornal e TV, mídias de interação e retorno rápido, como o livro – que exige mais tempo para ser produzido e chegar ao leitor – pode garantir seu lugar entre jovens e inquietos leitores?

Esse é o maior desafio de quem escreve. Precisamos apren-der a usar tudo o que a tecnolo-gia oferece. Gosto de pensar no futuro: em breve, teremos textos em minilaptop ou algo mais avançado ainda, capaz de tornar o livro virtual tão portátil quanto o de papel. A vontade de ler pode começar em tenra idade, de ma-neira alegre e prazerosa. Ficará ainda mais divertido quando a gente puder ver holografias em terceira dimensão nas páginas.

Sua experiência em TV inclui roteiros para vários programas, há alguma rela-ção com a literatura infantil ou são coisas completamente diferentes? O senhor ainda trabalha em veículo de comu-nicação?

Estou aposentado das reda-ções, mas continuo trabalhando. Com o salário do INSS, serei obrigado a complementar o orça-mento pelo resto da vida. Redijo em casa, envio textos por e-mail. Sou escritor em tempo integral: produzo argumentos para TV, livros infantis e obras que me encomendam, como a mais re-cente em que conto a história da Metalúrgica Zamprogna, lançada em fevereiro de 2009. O ofício de jornalista me deu instrumentos para escrever conforme cada momento ou projeto. Confesso que estou sempre feliz quando o texto é para crianças.

Qual seria o melhor cami-nho para mobilizar crianças e jovens a entender a importân-cia e poder da leitura?

O melhor caminho é pais e mães estarem atentos e espertos nos momentos em que o melhor para repassar aos filhos é o prazer da leitura. Desde o comecinho dá para botar livros duráveis e laváveis até na banheira do bebê. É preciso também ter disponibi-lidade e carinho para valorizar a literatura oral, contar histórias, atiçar a imaginação dos pimpo-lhos. Foi conversando com meus dois guris que me tornei escritor. Desde a estreia na Feira, em 1984, passei a frequentar escolas, bater papo com estudantes, prestar atenção nos interesses da meni-nada de agora. Jornalista profis-sional, exerço o ofício de escrever para ser avô, pai, tio, padrinho que adora ver olhos brilhando sempre que se pronuncia a frase mágica “era uma vez...”

Quais as leituras que o se-nhor recomenda aos jovens universitários hoje?

Para começar não precisa ir longe. No Rio Grande do Sul temos excelentes autores. Re-comendo toda a obra de Erico Verissimo e Mario Quintana. E há os belos livros de Josué Gui-marães e Cyro Martins. Entre os contemporâneos, está aí o Mo-

acyr Scliar, Luis Antonio de Assis Brasil, Luis Fernando Verissimo, Lya Luft, Tabajara Ruas, Cíntia Moscovitch, Fabrício Carpinejar, Leonardo Brasiliense, Ricardo Silvestrin. Todos eles compõem um painel da cultura rio-gran-dense, cada um a seu modo.

O escritor Carlos Urbim surgiu como contador de histórias infantis. Depois de escrever roteiros sobre histó-ria do RS, não teve vontade de escrever para adultos?

Quando é para criar ficção, por enquanto ainda me ocor-rem livros em linguagem bem simples, próxima das crianças. A série de TV “Os Farrapos” me permitiu publicar os textos como uma reportagem para leitores de qualquer idade. A partir do que estudei e pesquisei, também escrevi “Pia Farroupilha”, sobre um guri no tempo da Guerra dos Farrapos. Aproveito o que me acontece para escrever.

O que pretende acrescen-tar este ano na Feira?

Tenho convicção de que fui eleito patrono como represen-tante dos autores do Rio Grande do Sul que produzem livros para crianças. Somos um time, uma seleção rio-grandense que se destaca na literatura do Brasil. Escritor que procura se aproxi-mar dos que começam a gostar de ler, venho acompanhado de artistas que enriquecem meu trabalho. Eles são parceiros e co-autores que recriam personagens, cenários, lembranças, em cores que nem sei identificar por ser daltônico. Quero que meus livros cheguem aos leitores como se fossem brinquedos, bem diverti-dos. Por isso sonho me tornar o homenageado que leva à Feira só alegria e sorrisos.

Como o senhor se prepara para a maratona que é ser patrono? Faz dieta especial e comprou roupas novas, sapa-tos confortáveis e resistentes para aguentar as caminhadas no Centro, recomendado por patronos anteriores?

Assim que meu nome foi anunciado, passei a viver a ma-ratona prevista. Não parei mais. Como sou um senhor de 61 anos, tenho que me cuidar, me ali-mentar regularmente, para ter resistência e não deixar a peteca cair. Ainda não comprei sapatos novos, estou usando os antigos, principalmente tênis, que não são apertados nem criam calos. Ah, vou ver se descolo umas camisas espertas.

Por Bruna Griebeler

SERÃO 17 DIAS para estar bem próximo a uma infinidade e variedade de livros, além do acesso a escritores e diversas personalidades da cultura que estarão na 55ª Feira do Livro, que começa dia 30 de outubro e vai até dia 17 de novembro. A programa-ção infantil ganha destaque com a escolha de Carlos Urbim como patrono, mas todas as idades se-rão contempladas.

Durante duas semanas, quem passar pela Praça da Alfândega, Cais do Porto, Avenida Sepúlveda, Casa de Cultura Mario Quintana, Centro Cultural CEEE Erico Ve-ríssimo, Memorial do Rio Grande do Sul e Santander Cultural po-derá conferir a estrutura erguida para receber os livros, escritores, palestras, seminários e oficinas oferecidos.

O seminário “Por um Espaço Especial para a Literatura na Es-cola” será realizado em parceria com a Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, cuja sede fica no Rio de Janeiro, e terá participação de grandes nomes da literatura como os dos escritores Ignácio de Loyola Brandão e Bartolomeu Campos de Queirós. Além disso, terá cerca de 180 autores que se dedicam aos pequenos leitores, dentre eles está Ana Maria Ma-chado que receberá às 15h30min do dia 3 de novembro cerca de mil

crianças no Teatro Sancho Pança.Nem por isso a programação

adulta deixa a desejar, e uma das novidades é a nova roupagem do Território de Pasárgada, em localização privilegiada na Praça da Alfândega. É lá que esse pú-blico receberá as programações ligadas à literatura. A França, país homenageado, traz um grupo de pensadores de primeira linha como Michel Maffesoli (Sorbon-ne), Stephane Hugon (Sorbonne), Patrick Tacussel (Montpellier), Patrick Watier (Estrasburgo), Pierre Le Quéau (Grenoble) e Martine Xiberras (Montpellier). Eles estarão participando de um seminário chamado “O Brasil no Imaginário Francês”.

As atividades da Feira terão novos temas para a terceira ida-de, para leitores mais exigentes, acadêmicos, curiosos e bem in-formados que estão em busca de novos livros para preencher suas prateleiras e pensamentos. Os lançamentos irão proporcionar a aproximação com escritores do Brasil, Alemanha, Itália, França, Bélgica, Argentina, Angola, Bós-nia, Uruguai, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Chile e México. As ofi-cinas dirigidas ao público adulto são nas áreas de criação literária, cuidados com livros, organização de espaços de leitura e usos da lin-guagem. Para mais informações: www.feiradolivro-poa.com.br.

‘Feira é o cartão postal da nossa cultura’ O patrono Carlos Urbim considera a promoção uma espécie de quermesse do livro

Um evento dos mais populares e estimados pelos gaúchos, assim o patrono Carlos Urbim vê a promoção anual da Feira do Livro de Porto Alegre. Feliz por, enfim, receber a distinção – ele não aguenta-va mais estar na fila – o jornalista que se especializou na literatura infantil alega “escrever para ser avô, pai, tio, padrinho que adora ver olhos brilhando sempre que se pronuncia a frase mágica “era uma vez...” Pronto para se dedicar às tarefas de patrono, ele separou “camisas espertas” para esses dias.

Evento contempla todas idades“Quero que meus livros sejam vistos como brinquedos”

Renata Lopes/ Hiper

Porto Alegre, outubro 200910 letra & música hipertexto

VOZEIRÃO, agilidade nos dedos e presença de palco fize-ram do show da banda Living Colour uma verdadeira aula de rock. Os nova-iorquinos se apre-sentaram no Bar Opinião, em Porto Alegre em 14 de outubro e deixaram os fãs em êxtase. A casa não lotou, mas a sintonia do público com a banda fez a noite inesquecível.

Com voz capaz de evoluir da suavidade das baladas para o mais agudo rock’n roll, o vo-calista Corey Glover conven-ceu. Já Vernon Reid desfilava talento nas cordas da guitarra,

com competência e sentimento. Mas quem dominou o palco foi o baixista Doug Wimbish. Não parava um segundo sequer: ia de um canto a outro do palco, descia até o meio da pista e, para delírio dos fãs, tocou o instrumento com a boca. Will Calhoun proporcio-nou 20 minutos de folga para seus colegas, enquanto entreti-nha o público com um genial e ininterrupto solo de bateria.

A banda, com mais de 25 anos de estrada, iniciou o show com alguns dos primeiros su-cessos, e seguiu intercalando canções antigas com músicas do

novo álbum, The Chair in The Doorway. Baquetas iluminadas e sons eletrônicos compunham um espetáculo inesquecível. Para completar a noite, uma sessão de autógrafos e fotos com os fãs.

Os porto-alegrenses con-quistaram os músicos da Living Colour e o tour pela América do Sul continua até novembro. Will Calhoun elogia: “Já tocamos em vários lugares da Argentina e do Brasil, e, até agora, o melhor público foi o de Porto Alegre. As vibrações aqui são muito boas”.

Por Carolina Beidacki

Living Colour empolga público no Opinião

Bruno Todeschini/Hiper

O vocalista Corey Glover mostrou toda a seu talento

CENTENAS DE FÃS lotaram o bar Opinião. Quem não pôde entrar ficou na rua escutando o som, e congestionou parte da José do Patrocínio, na Cidade Baixa. O rapper MV Bill agradeceu a euforia da plateia e logo avisou que as fotos estavam liberadas. “Podem tirar fotos, filmar com as câmeras digitais, postar em perfis de Internet, façam o que quiserem”, disse ele. Além de criticar grandes artistas que proíbem fotografias, deixou todos ensan-decidos com a apresentação na noite de 15 de outubro em Porto Alegre.

No repertório, músicas do seu próximo álbum, previsto para novembro, e sucessos de três discos anteriores. O show, que esta-va marcado para 23h começou à 0h30min, mas não decepcionou o público que o saudou do início ao fim. O rapper vive seu momento mais popular como artista. Re-centemente, lançou Despacho Urbano, o primeiro DVD de sua carreira, e ganhou o VMB (Vídeo Music Brasil) de melhor artis-ta na categoria Rap. Seu novo CD, Causa e efeito, ainda não foi lançado oficialmente, mas já possui algumas músicas na Internet e um clip da canção O bonde não para. O vídeo é dirigido por ele mesmo, e foi um dos mais assistidos no site da MTV poucos dias após ser lançado. Além desta música, carro chefe de seu novo trabalho, o disco conta com a participação de artistas como Chorão, da banda Charlie Brown Jr, e do grupo estrangeiro Public Enemy.

Seu grupo, formado por um baterista, um DJ nas pick-ups, uma backing vocal e um violinista, já aquecia no palco quando ele entrou. Parecia um jogador de basque-te, devido à sua altura e vestimenta. Com uma camiseta branca larga, bermudão amarelo, par de tênis e meiões. Sem muito jeito para dançar, o que o diferenciava de todos era o microfone na mão. Isto é que MV Bill sabe fazer de melhor. Logo de cara, fez um improviso e emendou com a música

Emivi, um hit do Declarações de Guerra, de 2002, seu segundo trabalho em estúdio.

Marcante no palco, e muito carismá-tico, soube incendiar ainda mais a galera. Falou que iria tocar tudo o que quisessem, porque ninguém tinha hora para sair dali. Extasiados, os porto alegrenses que foram prestigiar o cantor, sabiam todas as letras complicadas e longas do rapper, mesmo as mais recentes, encontradas apenas no MySpace. O bonde não para foi a escolhida do artista para seguir o espetáculo. Fez até os espectadores mais dispersos grita-rem um refrão pegajoso, que repete mais de 20 vezes a mesma frase até o final da música: “o bonde não para, o bonde não para, só quem tá formado, no bonde que bota a cara”.

Com quase dez anos de carreira mu-sical, MV Bill alcança uma qualidade de áudio pouco comum na música de periferia nacional. Detalhes eletrônicos e instru-mentais enriquecem cada canção. Assim, fazem com que o hip hop brasileiro, ca-racterizado mais pelas letras do que pelos arranjos, ganhe uma densidade sonora peculiar. Músicas famosas pelo texto de crítica social, como O bagulho é doido, Só mais um maluco e Livre pra voar, agora chamam atenção pelo que soam. Os arranjos se tornam mais característicos com um violino acrescentado em todo o set list. O som do instrumento ganha destaque notável na música Falcão.

A apresentação do rapper mais famoso do Brasil na capital gaúcha teve duração de quase duas horas. Músicas consagradas forma aplaudidas pelo público do inicio ao fim. MV Bill prova que, desde seu primeiro disco Traficando a informação, de 2000, não perdeu a contundência política, nem a particularidade de levá-la para ser cantada pelos jovens.

Bruno Goularte

MV Bill apavora e o bonde não para

O artista enlouqueceu centenas de fãs em única apresentação na capital

Luiza Carmona/Hiper

Repertório traz à tona crítica social e política

Porto Alegre, outubro 2009 11letra & músicahipertexto

Paralamas quebram barreira do tempo Banda dos anos 70 impressiona fãs, relembra sucessos e apresenta novo álbum na capital

Fotos: Mariana Fontoura/Hiper

GUITARRA RASGADA, per-cussão forte e o inconfundível naipe de metais. O som dos Pa-ralamas do Sucesso atravessa o tempo sem perder um decibel da força original. Uma década e meia mais velhos, a energia do som de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, nada perde para o de 15 anos atrás.

Em Porto Alegre, apresenta-ram o álbum Brasil Afora, lança-do em 2009. O show foi no teatro do Bourbon Country, dia 9 de ou-tubro. Com mais de duas décadas de carreira, a banda relembrou hits de todas as épocas, a uma plateia de diferentes gerações. Os cariocas encantaram pessoas das mais variadas faixas etárias. Quanto aos jovens, a maioria herdou o gosto musical de seus pais e, por isso os acompanhavam ao show.

Yasmin Ramos, 14 anos, as-sistiu ao espetáculo junto com a mãe e a amiga Ana Alves, também 14. “Foi com ela que descobri Pa-ralamas”, conta. A mãe, Cristina Hemelino, 39 anos, é uma fã das antigas, diz Yasmin. Para Cristina, o show de hoje foi o melhor: “este foi mais olho no olho”.

O fato de ter sido mais intimis-ta não quer dizer menos empol-gante. No início, o público parecia acanhado, mas a energia de Ela Disse Adeus e Uma Brasileira, essa última numa versão mais rock do que a original, desarmou a multidão. Quando tocaram Alagados, não havia uma única pessoa parada.

Alguns imprevistos causaram

surpresa: a pele de um dos tam-bores da bateria rasgou, e obrigou Herbert a distrair os presentes com uma piada durante os repa-ros. “O João (Barone) soltou um pum, todo mundo sentiu, ai ele fingiu que tinha sido um problema na bateria”, brincou. Além disso, o plano de fundo do cenário trocou antes da hora. “São os shows que

dão esses problemas que ficam gravados na memória”, disse o baterista João Barone, antes de sua performance vocal num cover de O Vencedor, de Los Hermanos.

Outro momento inesperado foi um acústico de quatro músicas, em que os clássicos Caleidoscópio e Uns Dias, além da nova Mor-maço, foram executados somente

com violões e percussão.

Bate coraçãoPara os entrevistados, o mo-

mento de maior impacto foi o bis. A banda voltou ao palco com tanta energia quanto no início do show. Após Lanterna dos Afogados, o grupo emendou a cover dos Titãs, Sonífera Ilha.

Durante a execução de Óculos, Herbert mudou um dos versos da música. “Em cima dessas rodas também bate um coração!”, bra-dou, ao que foi aplaudido por to-dos os presentes. Fazia referência ao acidente com o ultraleve, que o deixou em uma cadeira de rodas, em 2001.

“Existe o Paralamas antes do acidente e depois do acidente”, declara Jeferson Bittencourt, 25 anos, que acompanha o grupo ao vivo desde 1993. “Antes, os shows eram mais agitados, bem dançan-tes e fortes. Depois, ficaram com um clima mais nostálgico.” Sobre o a turnê atual, Bittencourt só tem elogios: “Eles estão numa crescen-te. Cada vez mais o Herbert volta a ser ele mesmo. O show estava tecnicamente tão bom quanto antes do acidente. Não é à toa que foi eleito (pela MTV) como o melhor do ano”.

Para encerrar a noite, Vital e sua Moto, primeiro sucesso dos Paralamas. A música é cantada em coro por milhares de pessoas, para quem o som dos Paralamas continua tão atual quanto nos anos 70. Eles tiveram a chance de sentir novamente a canção pela primeira vez. Com sorte, poderão reviver o momento. Barone decla-rou, num breve intervalo entre duas músicas, que a apresentação de Porto Alegre é candidata a aparecer no DVD da turnê Brasil Afora, que será lançado ao térmi-no desta. Agora é torcer para ser a escolhida.

Por Giordano Benites Tronco

Energia de sempre: Bi Ribeiro, baixista, e Herbert Vianna, vocal e guitarra, mantêm a força do grupo formado há quase 30 anos no Rio de Janeiro

No ritmo dos anos: o baterista João Barone é outro dos formadores originais do grupo

Porto Alegre, outubro 200912 ponto final hipertexto

NO PALCO, 50 músicos, um coral com 80 vozes e um grupo de baile composto por 20 dançarinos exibiram o resultado de cinco meses de esforço coletivo. Após quase três anos sem apresentar uma ópera, Coral e Orquestra Filarmônica da PUCRS mostraram o espetáculo “II Trovatore”, dias 3 e 4 de outubro, no Salão de Atos da Universidade.

A montagem da obra mais conhecida do composi-tor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) começou a ser planejada em maio deste ano. De lá pra cá, “o grupo trabalhou, de domingo a domingo, com hora certa para entrar, mas nunca com hora para sair”, conta Adriana de Almeida, solista e diretora de produção do projeto Concertos Comunitários Zaffari 2009.

A preparação de “um espetáculo complexo que en-volve muitas pessoas é um desafio”, constata Adriana, que justifica a escolha da ópera pelo apelo junto ao público e a participação constante do coral. “Nós que-ríamos valorizar o belíssimo coral que a Universidade tem”, diz a diretora. Em torno de 150 artistas atuaram no espetáculo, sem contar a equipe que trabalhou nos bastidores. A mezzosoprana Alejandra Malvino e o ba-rítono Luis Gaeta, vindos da Argentina, participaram do elenco de solistas junto com o tenor Marcelo Vannucci e o baixo Sávio Sperandio, ambos de São Paulo. As gaú-chas Adriana de Almeida, soprano, e Luciana Bottona, mezzosoprana, completaram o time.

Pedro Spohr foi quem preparou as vozes, junto com o pianista Paulo Bergmann. Para ser fiel à época represen-tada, os homens do coro não podiam cortar os cabelos nem aparar a barba. Para Adriana, o estresse de uma apresentação existe e existirá sempre. “A diferença entre um espetáculo comum e uma ópera é o fato de que esta envolve muita gente, tem que ensaiar coral, orquestra, escolher elenco, fazer figurinos, confeccionar cenário”, contextualiza a diretora.

Três horas de músicaPor volta de 3,8 mil pessoas assistiram aos dois dias

de espetáculo, apresentados com duração de aproxima-damente três horas. Trinta minutos de intervalo sepa-

ravam os dois blocos de música, de uma hora cada. A maratona pode parecer cansativa, não fosse pela magni-tude e raridade do evento. “Em outros teatros do mundo a ópera é apresentada com intervalo de uma semana, para os artistas poderem descansar”, conta Adriana. “Aqui, porém, apresentamos direto, pois o nosso custo de montagem é alto, então não podemos nos dar ao luxo de descansar uma semana para na outra apresentar a segunda parte do espetáculo”, confessa.

A cigana AzucenaCom direção cênica de Victória Milanez, contada

em quatro atos, a apresentação mostrou a história de Trovatore. Juntamente com Rigoletto e La Traviata, compõe a chamada “trilogia verdiana”, formada pelas óperas mais populares de Verdi. A ópera conta a história de uma cigana, que é queimada viva ao ser surpreendida ao lado do berço do filho do Conde de Luna. A filha da cigana, Azucena, sequestra a criança e se vinga, dando à ela a mesma morte da mãe. Mais tarde, Leonora, dama cortejada pelo herdeiro do velho conde, apaixona-se pelo trovador Manrico. O trovador crê ser filho de Azucena. O que ele não sabe é que ela queimou o próprio filho por engano. O enredo do espetáculo acaba em tragé-dia.

Rochelle Fernanda da Silva, estudante de Cinema da PUCRS e integrante do coral, considera ter realizado um sonho. A jovem de 21 anos, que há três participa do coro, cita a emoção ao ver o maestro Frederico Gerling Junior reger novamente, após 60 anos, “II Trovatore”.

Depois de os ensaios terem sido suspensos em função da gripe A, o grupo teve somente três meses para afinar os últimos detalhes. E foi com grande euforia que os espectadores receberam o espetáculo. “O gaúcho gosta de ópera, é um público culto que não tem medo de co-nhecer o novo”, comemora Adriana. Famílias inteiras, pais, mães e filhos prestigiaram e puderam acompanhar através de legendas o que era cantado e encenado, em italiano. E assim, compreender a música erudita e se emocionar.

Por Raquel Robaert

150 artistas encenam tragédia de Verdi na PUCRS

A emoção da ópera Il Trovatore

Trilogia: obra é uma das mais conhecidas de Verdi

Lívia Auler/Hiper

Mariana Fontoura/Hiper

Tragédia: apresentação conta a história de Azucena, uma cigana que é queimada viva ao ser surpreendida ao lado do berço do filho do conde da cidade