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LEITURA: LENDAS FOLCLÓRICAS NA FORMAÇÃO DE LEITORES

Josely Cristina Ferreira – PDE1

Silvino Iagher (orientador)2

RESUMO Este estudo analisa a importância que a leitura provoca nos alunos, considerando-se que textos significativos desenvolvem e aprimoram o gosto pela leitura. A finalidade desta pesquisa é incentivar e ampliar esse significado aos alunos, envolvendo-os, no contexto educacional, em fatores que retratam o folclore, a cultura e os costumes que cada um traz, por serem, estes, detentores de experiências culturais. Esta importante inserção da leitura folclórica tem sua importância na atuação do professor e sua criatividade em buscar subsídios culturais, bem como o interesse do aluno em aprender, acaba por ser mais significativo, ao passo que o tradicionalismo é quebrado na sala de aula de uma forma positiva, interpretativa e, acima de tudo, curiosa para a criança. A escola, como espaço definido no contexto do saber para o desenvolvimento intelectual e social do aluno, deve aproveitar deste conhecimento empírico e transformá-lo em conhecimento formal e, em especial, quando se reporta às lendas folclóricas. Considerando-se que as lendas são textos que possibilitam a imaginação, estimulam a brincadeira e a interação social e, mais ainda, a busca pelo lúdico que resultará em significativas dramatizações, com as quais o aluno perceberá possibilidades para ampliar sua leitura, isso fará com que ele busque novos textos, livros e descubra a importância da leitura. PALAVRAS-CHAVES: Criança. Leitura. Lendas Folclóricas. Lúdico.

ABSTRACT

This study examines the importance that reading causes the students, considering that significant texts develop and enhance the reading habit. The purpose of this research is to encourage and extend this meaning to the student. Engage in educational factors that depict the history of folklore, culture and style, in addition to raising the Brazilian culture for the child is able to develop intelligence beyond whet the curiosity of these students with regard to these different cultures often left aside. The school , as defined in the context of space knowledge for the intellectual and social development of the student should take advantage of this empirical knowledge and transform it into knowledge and formal, especially when it relates to folk legends. Considering that legends are texts that allow the imagination, social interaction , and even more , the search for the playful , it is through this exchange that will result in significant plays, with which the student realize opportunities to increase their reading, seeking new texts, books and discovering the importance of reading . KEYWORDS: Child. Reading. Folk legends. Playful.

1 Pós-graduada em Língua Inglesa – FAFICOP e Interdisciplinaridade na Escola – Instituto Brasileiro

de Pós-Graduação e Extensão IBPEX. 2 Mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC, graduado em Letras Português/Francês pela

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) desde 1979.

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1 INTRODUÇÃO

A partir do momento em que a criança tem acesso ao mundo da leitura, ela

passa a buscar novos textos literários, novas descobertas, ampliação de

compreensão de si e do mundo, do desenvolvimento pessoal e do mundo que a

cerca.

No entanto, cabe ressaltar a necessidade da literatura ser trabalhada de

forma dinâmica na vida da criança, acreditando que, com os estímulos, a maneira

como a escola vive e convive com o mundo literário influencia muito na formação da

sensibilidade da criança, pois ao ouvir ou inventar uma história representa algo

muito significativo para ela e para as atividades pedagógicas, porque proporciona

um momento mágico com um valor educativo sem igual.

A leitura e a escrita também podem fazer parte das atividades por meio de

pinturas e colagem. Para uma boa leitura com sucesso é preciso um ambiente bem

preparado, aconchegante e com vários tipos de livros.

A leitura de histórias deve deixar de ser meramente uma distração para evitar

a dispersão do grupo. É um momento rico que deve ser explorado ao máximo por

professores de forma criativa e prazerosa para a criança.

É evidente que, em sala de aula, muitas vezes existe o fator agravante do

grande número de alunos por professor. Quanto ao espaço físico, o ambiente deve

ser previamente preparado; o mais adequado seria que o educador procurasse

encontrar a posição mais natural possível para que todas as crianças estivessem

unidas, se sentissem estimuladas para esse momento, estivessem tranquilas e

tivessem acesso visual ao livro que está sendo lido – colocando o livro no chão com

as crianças em volta dele, ou segurando-o de forma expositiva, de frente para elas,

e, se necessário, apontado para as figuras e para o texto.

É muito importante que o educador fique atento para garantir que todas as

crianças (até aquelas mais tímidas, que têm vergonha de reclamar) possam

visualizar o livro. As imagens exercem maior fascínio sobre elas, e na prática pode-

se notar a ansiedade que experimentam quando não enxergam o que está sendo

explorado na leitura , assim como, para lendas folclóricas, histórias e fatos.

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2 A IMPORTANCIA DA LEITURA

A aprendizagem da leitura constitui uma tarefa permanente que se enriquece

com as novas habilidades na medida em que se manejam adequadamente textos

cada vez mais complexos. A aprendizagem da leitura não se restringe ao primeiro

ano de vida escolar. Aprender a ler é um processo que se desenvolve ao longo de

toda a escolaridade.

Segundo Amarilha (2009, p. 09)

Trabalhar a promoção da leitura, inevitavelmente, passa pela formação do leitor, com uma pedagogia e uma teoria renovadas à luz da interdisciplinaridade e do resgate do homem, indivíduo, cidadão que precisa sentir-se sujeito histórico para interagir no ato de ler. E não apenas livros, mas imagens e outras linguagens com o repertório de sua vivência e como o acervo cultural que lhe sustenta uma visão de mundo.

Ao se diferenciar os processos de aprendizagem dos de ensino, foi se

percebendo com mais exatidão suas profundas interações. (Barbosa 1990, p. 71)

afirma a este respeito que:

[...] que toda criança tem um repertório de conhecimentos acumulados e organizados no decorrer de sua experiência de vida. E esse acervo de conhecimento funciona como um esquema de assimilação, como uma teoria explicativa do mundo. É a sua estrutura cognitiva. Diante de um objetivo, a criança se mobiliza, estabelecendo uma relação entre o seu acervo de conhecimentos – a estrutura cognitiva e o novo estímulo a ser aprendido.

Um estudo longitudinal conduzido em Bristol (Wells, 1986) mostrou, de forma

contundente, a importância das experiências com a leitura de histórias para crianças

na fase pré-escolar para o posterior sucesso escolar das crianças com a leitura e a

escrita. Aquelas crianças, cujos pais liam regularmente e exploravam conjuntamente

com elas os textos narrativos, não só aprenderam a ler com mais facilidade como se

revelaram excelentes escritores no término do ensino fundamental.

Nesse período emergiu também um vasto corpo de pesquisas que

investigavam a relação entre o desenvolvimento de uma capacidade para refletir

sobre as unidades sonoras das palavras e as diferenças individuais na

aprendizagem inicial da leitura e da escrita em sistemas alfabéticos de escrita

(PIMENTA, 2002).

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Aprender a ler não é apenas uma experiência da vida escolar. É um

complemento obrigatório para uma boa aprendizagem. E aprender a ler é habilidade

que exige da escola uma concepção nova de leitura. Nessa nova percepção de

aprendizagem, Ferreiro (2003, p. 21) afirma que geralmente “as escolas têm

operado com o princípio de que a leitura e a escrita devem ser ali ensinadas.” A

instrução tradicional de leitura se baseia no ensino de sinais ortográficos, nomes de

letras, relações letra-som, e assim sucessivamente.

Aprender a ler começa com o desenvolvimento do sentido das funções da

linguagem escrita. Ler é buscar significado e o leitor deve ter um propósito para

buscar significado no texto.

A formação social da mente enfoca a importância da interação social no

desenvolvimento e no aprendizado da criança ao apresentar o conceito de “zona de

desenvolvimento proximal”. É necessário que a criança sinta-se como parte do

mundo e que dele participe ativamente, vivenciando o processo de aprendizagem

independente de problemas e o nível de desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1991, p.

97).

O aluno inicia seu interesse pela leitura desde um nome de rua, cartaz,

embalagem, jornal, panfleto, até chegar ao livro. É lendo de verdade, desde o início,

que alguém se torna leitor e não aprendendo primeiro a ler. Segundo Ezequiel

Theodoro da Silva (2003, p. 49):

Ler em si não é viver. Ler é conseguir o devido combustível de ideias para viver em sociedade. E essa conquista passa necessariamente pela objetividade do ensino e da qualidade da escola. Isso não é uma interferência, mas um fato real ou no mínimo uma previsão mais do que acertada.

A leitura e a escrita não podem ser consideradas atividades isoladas no

processo de desenvolvimento da criança. Estes dois processos gráficos fazem parte

da evolução da linguagem que se inicia logo nos primeiros dias de vida da criança.

A este respeito, Perrenoud (2002, p. 20-21) afirma que “a leitura envolve,

primeiramente, a identificação dos símbolos impressos – letras, palavras – e o

relacionamento destes símbolos com os sons que eles representam”.

Segundo Freire (1998), a leitura do mundo precede sempre a leitura da

palavra. O ato de ler ocorre por meio de experiência existencial. Primeiro, a “leitura”

do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que

nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi à leitura da “palavra mundo”.

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2.1 O FOLCLORE BRASILEIRO

O folclore brasileiro é algo muitíssimo rico, cheio de lendas, cantigas,

brincadeiras, danças, festas, ritmos e vários outros elementos de valor inestimável.

Ele nos oferece a oportunidade de conhecer a cultura espontânea de determinada

coletividade, a sua psicologia, o seu comportamento. “As manifestações dessa

cultura nos vêm através da linguagem, da criação e da expressão do povo”,segundo

Custódio (1983). No entanto, toda essa riqueza cultural é muito pouco usada nas

salas de aula do Brasil e o pior, muitas vezes é completamente desprezada ou

simplesmente substituída por contextos culturais de outros países. “Folclore

significa, basicamente, sabedoria popular. Fatos folclóricos são as maneiras de

pensar, agir e sentir de um povo. Quase sempre são transmitidas oralmente e pela

imitação.” (PEREIRA e PRADO, 2000, p. 4) “como temos no Brasil, a mistura de

vários povos (africanos europeus e indígenas). Os usos e costumes de todos se

entrelaçam, aumentam ou diminuem e, muitas vezes, mesmo com características

diferentes, têm a mesma origem.”

É muito interessante olharmos para o povo brasileiro e vermos que dentro de

um mesmo país há vários grupos étnicos juntos, que ao longo da história foram

formando um único povo, o povo brasileiro. Essa junção não originou somente um

povo com fisionomias distintas. Gerou também um emaranhado de costumes e usos

que, na sua mais pura essência, caracteriza e define o que é ser brasileiro ou

brasileira.

Segundo Pereira e Prado (2000), os fatos folclóricos estão em todos os

lugares e se manifestam das mais variadas maneiras.

O estudo aprofundado do folclore nacional proporciona aos alunos e

professores enormes conhecimentos. Segundo Araujo (2004), o folclore é a mais

pura essência do espírito do povo mais simples.

O povo se reconhece nas mais variadas manifestações folclóricas e assim,

consequentemente, também se reconhece como povo de enorme valor e sabedoria.

Segundo dados do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular antes de

tudo folclore é um campo de estudos, ou seja, a noção de folclore não está na

realidade das coisas. Essa noção é construída historicamente, variando ao longo do

tempo. (PEREIRA e PRADO, 2000)

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Segundo Bosi (2001), aculturar um povo seria sujeitar esse mesmo povo a

adaptar-se tecnologicamente a um determinado padrão, entendido como superior.

Apesar da imposição, os índios brasileiros sempre lutaram para manter vivas

suas raízes culturais e com eles temos as primeiras manifestações folclóricas desse

país com seus ritmos, lendas, danças, comidas, e tantas outras coisas. Exemplo

claro disso são as lendas que até hoje ouvimos e são heranças dos povos

indígenas, transmitidas oralmente como afirma Pereira e Prado (2000, p.14):

Iara é uma linda moça que mora no fundo das águas. À tardinha vem colher flores aquáticas e brincar com os peixinhos à tona d’água e quase sempre, transforma-se em flor e depois em moça novamente. As índias velhas dizem aos filhos que não aproximem da Iara, pois ela gosta de afogá-los.

A história do nosso folclore também está diretamente ligada à história do povo

negro que chegou a esse país na condição de escravo, trazido pelos europeus

algum tempo depois da “descoberta”. (BOSI, 2001)

Manter as tradições culturais vivas era uma questão muito importante para os

negros que aqui chegaram, embora isso não fosse tarefa fácil como afirma Piletti e

Piletti, (2002, p.133)

Nos dias de festas dedicadas aos santos católicos, os africanos relembravam suas tradições nativas por meio da música e da dança. Dessa maneira, conseguiam manter parte de sua cultura. As cerimônias de enterros eram também momentos em que os escravos expressavam suas tradições.

Buscar maneiras de preservar as raízes culturais foi uma forma sábia dos

negros resistirem e manterem viva sua cultura. Muito de tudo aquilo que temos de

belo no folclore brasileiro é fruto da resistência do povo negro. (HERSKOVITS,

1954)

Até hoje, muitas das nossas práticas, costumes, palavras usadas, entre

outras coisas, têm origem nos povos vindos da África, Europa e indígenas.

Herdamos inúmeras práticas e costumes dos índios, por exemplo. (PILETTI, 2002, p.

85) “a maior parte dos povos indígenas vive da coleta de frutos da floresta (cacau,

maracujá, jabuticaba, araçá, etc.)” da agricultura (mandioca, milho, batata-doce,

abóbora, amendoim, etc.), da caça (anta, tatu, veado, paca, etc.) e da pesca (traíra,

pacu, piava, etc.)”.

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Folclore é um conjunto de manifestações populares de um determinado povo;

podemos dizer que é, na sua essência, um conjunto de elementos artísticos feitos,

realizados e concretizados pelo próprio povo para o povo, transmitido de geração

para geração. As cantigas de roda são um belíssimo exemplo disso. (LIMA, 2003)

Segundo Lima (2003, p.100), a história de vida de cada indivíduo é um

pequeno relatório de lembranças ditas como folclóricas; para ele, são como marcas

folclóricas da personalidade do aluno desde os tempos de criança até a atualidade.

É muito importante orientar os alunos em trabalhos relativos ao folclore do lugar em que existe a escola – todos os lugares têm folclore, porque este faz parte integrante de nossa personalidade cultural. Ao lado da cultura erudita, dirigida, cosmopolita de cada um de nós há também a cultura folclórica, que recebemos no trato espontâneo que temos, com nossos semelhantes, no grupo em que nascemos e vivemos.

Não há sentido algum ampliar os horizontes em termos de conhecimento

sobre o folclore das regiões distantes do país se antes não tiver sido feita uma

intensa e prazerosa pesquisa do folclore da região onde estuda e mora. Sem dúvida,

a lenda brasileira mais conhecida é a lenda do Saci-Pererê. A esse respeito, Pereira

e Prado (2000, p. 25) assim se expressam:

A lenda de que o Saci é um negrinho de uma perna só, muito esperto e malandrinho, é muito antiga. Ela diz que o Saci-Pererê nasce de um gomo de taquara numa moita de bambu onde esteve guardado por sete anos. Depois desse tempo, ele sai pelo mundo afora, fazendo suas traquinagens e vive durante setenta e sete anos. Durante o dia só aparece para fazer rodamoinhos quando há ventania. O resto do tempo fica escondido na moita e de lá só sai de noitinha para aprontar estripulias.

É inegável dizer que o Saci é um dos principais símbolos do nosso folclore,

principalmente para as crianças.

2.2 O FOLCLORE COMO FORMA DE SUBSIDIAR A ALFABETIZAÇÃO E A

LEITURA

O conceito de leitura pode ser ampliado para um processo de decodificação e

compreensão de expressões formais e simbólicas que envolvem tanto componentes

sensoriais, emocionais, intelectuais, neurológicos e culturais. Os nossos cinco

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sentidos estão na base desse processo que inicia muito cedo com a leitura

sensorial, passa pela leitura emocional quando, por exemplo, ficamos tristes, alegres

ou nos lembramos de algo que afeta nossa sensibilidade e, depois, desemboca na

leitura racional. Mais adiante a autora, completando seu pensamento, conclui: “ela

não é importante por ser racional, mas por aquilo que seu processo permite,

alargando os horizontes da expectativa do leitor” e ampliando as possibilidades de

leitura do texto e da própria realidade social (MARTINS, 1992, p. 45)

Conforme a apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997):

A educação em artes propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade e percepção e a imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. (PCN, Arte, 1997).

Para Ribeiro (1991, p. 11), todos nós somos parte de folclore em maior ou

menor intensidade e isto pode ser aproveitado pelo educador “no sentido de motivar

a criança para os conteúdos programados a partir de fatos que ela já conhece,

vivenciou ou ouviu falar”.

Paulo Freire (1993) nos falava da necessidade de aprender a fazer a leitura do

mundo, não mecanicamente, mas vinculando linguagem e realidade, e usava o

termo como visão ao referir-se a esse alargamento do olhar.

Feldman (citado por Barbosa, 1991, p. 20) aponta quatro estágios a serem

seguidos para a leitura da imagem que são distintos, mas interligados entre si e não

ocorrem necessariamente nessa ordem. São eles: descrição, análise, interpretação

e julgamento:

1- Descrição – Indica o que é perceptível na imagem: prestar atenção ao que se vê, é a partir da observação listar, apenas o que esta evidente. Exemplo: tipos de linhas e formas utilizadas pelo autor, cores, elementos e demais propriedades da obra, o título da obra, o artista que a fez, o lugar, época, material utilizado, técnica, estilo ou sistema de representação, ser figurativo ou abstrato... 2- Análise – Diz respeito aos aspectos formais da obra: ao comportamento dos elementos entre si, como se influenciam e se relacionam. Exemplo: os espaços, os volumes, as cores. As texturas e a disposição na obra criam contrastes, semelhanças e combinações diferentes que neste momento serão analisadas. 3- Interpretação – Hipóteses sobre o significado: este estágio é o mais gratificante, é quando se procura dar sentido ao que se observou, tentando identificar sensações e sentimentos experimentados, buscando estabelecer relações entre a imagem e a realidade no sentido de apropriar-se da mesma.

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4- Julgamento – neste estágio emitimos um juízo de valor a respeito da qualidade de uma imagem, decidindo se ela merece ou não atenção. Nesta etapa as opiniões são muito divergentes, pois algumas obras têm um significado especial para algumas pessoas e nenhum valor para outras. Mas é senso comum que um bom trabalho é o que tem o poder de encantar muitas pessoas por um longo tempo.

Dessa forma, proporcionar o fazer artístico deve favorecer também a criação

de desenhos e pinturas que expressem de forma espontânea a interiorização de

conteúdos aprendidos, maximizando a habilidade de um novo hábito de

comunicação.

Conforme Buoro (1996), a arte reapresenta o mundo, o indivíduo e as práticas

sociais, segundo uma forma particular e subjetiva. Ao reapresentar as ideias, o

indivíduo o faz por meio de uma simbologia muito pessoal e que caracteriza as

diferentes linguagens artísticas: ora nos valemos dos símbolos linguísticos, ora dos

códigos corporais, ora dos musicais ou plásticos.

Frente à diversidade cultural que permeia o mundo contemporâneo, é

necessário repensar em um ensino voltado para a linguagem plástica, promovendo

um pensamento reflexivo, compreendendo assim as relações sociais do ser em ação

(DEMO, 1996).

Assim, as aprendizagens em arte ocorrerão não só na sala de aula, mas em

museus, exposições, oficinas e lojas de artesanato, no contato com artistas da

região e familiares ou conhecidos dos alunos que executem um ofício ligado à arte,

seja popular ou decorativa, e que possam dar depoimentos e mostrar seus trabalhos

na escola. Dessa forma, será mais fácil para o aluno o entendimento de que arte é

um trabalho como tantos outros e não um passatempo, ainda que se possa entender

a arte como um passatempo produtivo (DAVIS, 2005).

De acordo com Barbosa (1999), a arte relacionada à educação é uma

expressão de identificação por meio do ambiente e do desenvolvimento da

capacidade crítica e criativa do aluno sendo importante para seu desenvolvimento

cognitivo.

A leitura nos possibilita tudo isso e muito mais, como tornar um indivíduo

crítico, possibilitando-lhe ter condições de fazer distinção do que lê e a

intencionalidade textual, examinar pontos implícitos e explícitos, principalmente

perceber-se como sujeito participativo e evolutivo.

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Fatos e histórias vindas do meio de convivência familiar do aluno facilitam a

comunicação e a reprodução, sejam elas pela leitura ou escrita.

“Quando o aluno portador de textos está ligado ao cotidiano, seu interesse é

estimulado, pois entende que a língua escrita tem significado na sua realidade

imediata.” (Doro, Fernanda Gonçalves, 2000). Principalmente no que diz respeito à

dramatização, uma vez que os gestos constituem-se em escrita. E é na leitura, na

escrita e na dramatização que se busca a interação com o conhecimento trazido

pelo aluno, resgatando lembranças especiais que fazem parte de nossa cultura. Por

isso a importância do incentivo ao estudo do Folclore na sala de aula. Observa-se

que nas séries iniciais, do Ensino Fundamental, há uma resistência com relação à

leitura, por isso é que o professor deve ser um mediador, provocador, levando os

educando a buscar formas interessantes de leitura (DAVIS 2005, p.11).

2.3 CAMPOS DE AÇÃO DO FOLCLORE

Os professores podem explorar textos folclóricos ao preparar, seu material

didático, já que estes, por serem do conhecimento dos alunos contribuem na

alfabetização, na construção textual, na imaginação e acima de tudo, no lúdico.

Quando falamos de usos e costumes, incluímos itens a respeito da

alimentação, cultivo, vestuário, valores e comportamento de um povo de uma região.

Segundo Pereira e Prado (2000), as comidas brasileiras ou com herança de

algumas raças que formaram nosso povo, fazem parte das comidas típicas do nosso

folclore.

Podemos citar como exemplos dessas comidas a paçoca de carne seca, bolo

de fubá, farofa d’água, bolinho de chuva, doce de batata doce, arroz doce, feijoada,

acarajé entre outros.

Outro campo belíssimo do folclore brasileiro são os brinquedos e brincadeiras.

De acordo com as mesmas autoras mencionadas no parágrafo anterior, os

brinquedos são artefatos para serem usados sozinhos, como a boneca de pano, o

papagaio (pipa), o estilingue, o pião, a arapuca, etc. Já as brincadeiras envolvem

disputa, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha de gude, esconde-

esconde, amarelinha, pula corda, entre outras.

Tanto os brinquedos quanto as brincadeiras do nosso folclore ajudam de uma

forma muito divertida e prazerosa no desenvolvimento das crianças.

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Algo que também faz parte das manifestações folclóricas são as lendas, mitos

e contos de acordo com Pereira e Prado (2000, p.13)

[...] a lenda é uma história que relata acontecimentos geralmente fantásticos que se passaram em certo tempo e lugar com pessoas, animais, seres sobrenaturais ou mitos. Parte de um fato concreto ou não. Geralmente o real e o fantástico se misturam.

Podemos citar como lendas brasileiras: Negrinho do Pastoreio, Uirapuru, Iara,

Mãe de ouro, Saci, Boitatá, Mula-sem-cabeça, Boto cor-de-rosa. Pelo seu caráter

fantasioso, essas lendas são bastante apreciadas pelas crianças, mexendo com o

imaginário delas.

Mitos e assombrações também fazem parte desse contexto. Pereira e Prado

(2000) afirmam que mitos e assombrações são seres e ocorrências que exercem

influências nas pessoas e nos ambientes em que aparecem.

São exemplos de mitos e assombrações: o Lobisomem, Mãe -de- ouro, Mula-

sem-cabeça, Saci-Pererê, Curupira, Caipora, Comadre Florzinha, Iara, Bicho-tutu,

Cuca, Boitatá.

Crenças e superstições também o artesanato são, aspectos presentes como

fatos folclóricos. “consideramos artesanato o fato folclórico feito por uma pessoa ou

por um pequeno grupo, sempre com características domésticas feitas à mão ou com

o auxílio de instrumentos simples.” (PEREIRA e PRADO, 2000, p. 69)

As superstições aparecem bastante fortes no imaginário popular,

principalmente das pessoas mais simples do interior. Algumas acreditam, por

exemplo, que colocar a vassoura atrás da porta para que uma visita indesejável vá

embora é de muita eficiência, ou que morder a barra da saia faz parar o soluço, ou

até mesmo que o número 13 dá azar e o 7,dá sorte (BARBOSA, 1999).

3 CONCLUSÃO

Conclui-se com esta pesquisa que o folclore tem grande importância na vida

de todos nós, pois nele estão contidas as mais variadas manifestações de beleza,

arte e simplicidade, simplicidade essa que é a essência da sabedoria popular.

As instituições educacionais pensam numa visão tradicional de ensino onde

há práticas com poucas experiências inovadoras e que a música possivelmente é

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uma metodologia interessante na conquista do universo do aprendizado,

funcionando também como entrosamento definitivo do estudante com a sociedade.

O resgate das tradições folclóricas do nosso país pode contribuir tanto no

processo de aprendizagem dos alunos quanto na conscientização de que o respeito

à diversidade cultural é extremamente necessário.

Mostrar aos nossos alunos que o Brasil foi formado por vários grupos étnicos

e que a junção desses grupos originou um povo bem diferente dos demais povos do

mundo é algo muito importante, e mais importante ainda é apontar a eles que temos

nesse país um rico folclore que é nada mais nada menos que o resultado de tantas

culturas juntas.

Apontar às crianças e jovens tais aspectos pode ser um primeiro passo para

maior valorização da nossa cultura e também para a busca de um mundo diferente,

onde possa reinar a paz e o respeito à diversidade.

O papel de conduzir esses alunos a uma maior conscientização é nosso,

educadores e educadoras dentro e fora da escola.

REFERÊNCIAS

AMARILHA. Marly. Estão mortas as fadas? Petrópolis, Vozes, 2009.

BARBOSA. José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990. BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. SP: Companhia das Letras, 2001.

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