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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA LAÍS SOARES MAIA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA: Aspectos clínicos e hematológicos de casos suspeitos e confirmados atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília em 2011. Monografia apresentada para a conclusão do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília Brasília DF 2013

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

LAÍS SOARES MAIA

LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA:

Aspectos clínicos e hematológicos de casos suspeitos e

confirmados atendidos no Hospital Veterinário da

Universidade de Brasília em 2011.

Monografia apresentada para a conclusão

do Curso de Medicina Veterinária da

Faculdade de Agronomia e Medicina

Veterinária da Universidade de Brasília

Brasília DF

2013

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

LAÍS SOARES MAIA

LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA:

Aspectos clínicos e hematológicos de casos suspeitos e

confirmados atendidos no Hospital Veterinário da

Universidade de Brasília em 2011.

Monografia apresentada para a conclusão

do Curso de Medicina Veterinária da

Faculdade de Agronomia e Medicina

Veterinária da Universidade de Brasília

Orientadora: Ligia Maria Cantarino da Costa

Brasília DF

2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

Cessão de Direitos

Nome do Autor: Laís Soares Maia

Título da Monografia de Conclusão de Curso: Leishmaniose visceral canina:

Aspectos clínicos e hematológicos de casos suspeitos e confirmados atendidos no

Hospital Veterinário da Universidade de Brasília em 2011.

Ano: 2013

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta

monografia e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos

acadêmicos e científicos. O autor reserva-se a outros direitos de publicação e

nenhuma parte desta monografia pode ser reproduzida sem a autorização por

escrito do autor.

_______________________________

Laís Soares Maia

Maia, Laís Soares Leishmaniose visceral canina: Aspectos clínicos e hematológicos de casos suspeitos e confirmados atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília em 2011. / Laís Soares Maia; orientação de Ligia Maria Cantarino da Costa. – Brasília, 2013. 23 p. Monografia – Universidade de Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2013.

1. Leishmaniose visceral. 2. Cães. 3. Aspectos clínicos. 4. Aspectos hematológicos I. Maia, L.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

LAÍS SOARES MAIA

LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA:

Aspectos clínicos e hematológicos de casos suspeitos e confirmados atendidos no

Hospital Veterinário da Universidade de Brasília em 2011.

Monografia de conclusão do Curso de Medicina

Veterinária apresentada à Faculdade de Agronomia e

Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

Aprovada em:

Banca Examinadora:

Profª. MsC. Ligia Maria Cantarino da Costa

Julgamento: ________________________

Instituição: Universidade de Brasília

Assinatura: ______________________

Profª. MsC. Christine Souza Martins

Julgamento: ________________________

Instituição: Universidade de Brasília

Assinatura: ______________________

MV. MsC. Ana Lourdes Arrais de Alencar Mota

Julgamento: _______________________

Instituição: Universidade de Brasília

Assinatura: ______________________

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos cães por seu amor incondicional.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me dar a oportunidade e força de seguir o caminho que escolhi.

À minha família que me auxiliou e deu forças para atravessar mais essa etapa da minha vida.

À professora Ligia, por aceitar o cargo de orientadora, disponibilizado seu tempo, paciência e conhecimento.

Às secretárias do HVet/UnB, Thaísa, Cíntia e Monique por me auxiliarem com os prontuários.

À Ana Lourdes, pelas horas de ajuda, analisando os dados coletados e por aceitar fazer parte da banca avaliadora.

À professora Christine por aceitar o convite para a participação da banca, disponibilizando seu tempo e conhecimento e por abrir o hospital para a realização deste estudo.

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“E Deus fez os animais selvagens, segundo suas espécies, e o gado,

segundo suas espécies, e todos os animais que rastejam segundo suas espécies. E viu Deus que tudo isso era bom.”

Gênesis 1: 25

“O justo cuida da vida dos seus animais, mas no íntimo os ímpios são cruéis.“

Provérbios 12:10

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RESUMO

MAIA, L. S. Leishmaniose visceral canina: aspectos clínicos e hematológicos de

casos suspeitos e confirmados atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de

Brasília em 2011. [Canine visceral leishmaniasis: clinical and hematological aspects

of suspected and confirmed cases seen at the Veterinary Hospital of the University of

Brasilia in 2011.]. 2013. 23 p. Monografia (Conclusão do Curso de Medicina

Veterinária) - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de

Brasília, Brasília, DF.

A leishmaniose visceral é uma zoonose causada por protozoários do gênero

Leishmania spp. em expansão por todo mundo, incluindo o Brasil e o Distrito

Federal. Foi realizado um levantamento dos prontuários de animais suspeitos e

confirmados de leishmaniose visceral atendidos no HVet/UnB em 2011. Foram

selecionados 149 prontuários e analisados quanto ao diagnóstico final, presença de

sinais dermatológicos, parâmetros hematológicos e testes diagnósticos realizados,

com o objetivo de verificar a ocorrência de casos e os achados clínicos e

hematológicos mais frequentes. Sinais dermatológicos, anemia, hiperproteinemia,

leucocitose e trombocitopenia foram apresentados pelos animais suspeitos e

confirmados. Os exames mais realizados foram RIFI, ELISA e a citologia por punção

de medula óssea.

Palavras-chave: Leishmaniose visceral. Cães. Aspectos clínicos. Parâmetros

hematológicos.

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ABSTRACT

MAIA, L. S. Canine visceral leishmaniasis: clinical and hematological aspects of

suspected and confirmed cases seen at the Veterinary Hospital of the University of

Brasilia in 2011. [Leishmaniose visceral canina: aspectos clínicos e hematológicos

de casos suspeitos e confirmados atendidos no Hospital Veterinário da Universidade

de Brasília em 2011]. 2013. 23 p. Monografia (Conclusão do Curso de Medicina

Veterinária) - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de

Brasília, Brasília, DF.

Visceral leishmaniasis is a zoonosis caused by protozoa of the genus Leishmania

spp. expanding throughout the world, including Brazil and Distrito Federal. A survey

was made of the medical charts of suspected and confirmed cases of leishmaniais

seen at HVet/UnB in 2011. 149 medical charts were selected and analyzed for final

diagnosis, presence of dermatological signs, hematological and diagnostic tests, in

order to verify the occurrence of cases and the most common clinical and

hematological findings. Animals suspected and confirmed had dermatological signs,

anemia, hyperproteinemia, leukocytosis and thrombocytopenia. The examinations

more performed were IFA, ELISA and cytology by bone marrow aspiration.

Key-words: Visceral leishmaniasis. Dogs. Clinical aspects. Hematological

parameters.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores de hemácias dos animais suspeitos de LVC atendidos no

HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). .. 14

Tabela 2 – Valores de hemoglobina dos animais suspeitos de LVC atendidos no

HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). .. 14

Tabela 3 – Valores de PPT dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB

em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). ................... 15

Tabela 4 – Valores de leucócitos dos animais suspeitos de LVC atendidos no

HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). .. 15

Tabela 5 – Valores de plaquetas dos animais suspeitos de LVC atendidos no

HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Ettinger (2010). . 15

Tabela 6 – Valores de VG dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB

em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). ................... 15

Tabela 7 – Valores de VCM dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB

em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). ................... 15

Tabela 8 – Valores de CHCM dos animais suspeitos de LVC atendidos no

HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010). .. 16

Tabela 9 – do teste RIFI em relação ao diagnóstico final registrados nos

prontuários dos cães suspeitos e confirmados para LVC no HVet/UnB

em 2011.. ............................................................................................. 16

Tabela 10 – Resultados do teste citologia em relação ao diagnóstico final

registrados nos prontuários dos cães suspeitos e confirmados para

LVC no HVet/UnB em 2011.. ............................................................... 17

Tabela 11 – Resultados do teste PCR em relação ao diagnóstico final registrados

nos prontuários dos cães suspeitos e confirmados para LVC no

HVet/UnB em 2011.. ............................................................................ 17

Tabela 12 – Número de cães confirmados e suspeitos em relação à localidade de

residência. ............................................................................................ 18

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Posição taxonômica do gênero Leishmania (REYS, 1991). .................. 4

Figura 2 – Diagrama para o diagnóstico de Leishmaniose Visceral Canina .......... 9

Figura 3 – Distribuição geográfica dos cães positivos por localidade ................... 19

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

CFMV – Conselho Federal de Medicina Veterinária

CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média

DF – Distrito Federal

DPP – Dual Path Platform

ELISA – Ensaio Imunoenzimático

HE – Histoquímico

HVet/UnB – Hospital Veterinário da Universidade de Brasília

IMIQ – Imunohistoquímico

Lacen – Laboratórios centrais

LV – Leishmaniose visceral

LVC – Leishmaniose visceral canina

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MS – Ministério da Saúde

PCLV – Programa de Controle da Leishmaniose

PCR – Reação em Cadeia da Polimerase

PPT – Proteína Plasmática Total

RG – Registro geral

RIFI – Reação de Imunofluorescência Indireta

SINAN/NET – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

VCM – Volume Corpuscular Médio

VG – Volume Globular

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1. Hospital Veterinário da Universidade de Brasília ...................................... 2

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 2

2.1. Agente etiológico ......................................................................................... 3

2.2. Vetor .............................................................................................................. 4

2.3. Reservatórios ................................................................................................ 5

2.4. Ciclo biológico e transmissão ..................................................................... 5

2.5. Patogenia e anatomia patológica ................................................................ 6

2.6. Achados clínicos e laboratoriais ................................................................. 7

2.7. Diagnóstico ................................................................................................... 8

2.8. Tratamento ................................................................................................... 10

2.9. Prevenção e Controle .................................................................................. 11

2.10. Situação epidemiológica em humanos................................................... 11

2.11. Vigilância epidemiológica em cães ......................................................... 12

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 13

4. RESULTADOS .................................................................................................... 14

5. DISCUSSÃO ........................................................................................................ 19

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 21

7. REFÊRENCIAS ................................................................................................... 23

8. ANEXOS .............................................................................................................. 27

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1. INTRODUÇÃO

Dentre as doenças causadas por parasitas do gênero Leishmania a

leishmaniose visceral (LV) é considerada uma das seis doenças endêmicas de maior

relevância no mundo pela Organização Mundial da Saúde. Possui ampla distribuição

mundial e registro de casos em todos os continentes, à exceção da Oceania

(BRASIL, 2010 b). São aproximadamente 500 mil casos por ano e a doença é fatal

se não for tratada. Atualmente é considerada endêmica em 88 países, dos quais 72

são países em desenvolvimento: mais de 90% dos casos mundiais de LV ocorrem

em Bangladesh, Brasil, Índia, Nepal e Sudão. (ALVAR, 2012).

No Brasil a LV tem sendo descrita em vários municípios brasileiros,

apresentando mudanças importantes no padrão de transmissão, inicialmente

predominando em ambientes silvestres e rurais e mais recentemente em centros

urbanos. A doença atinge as cinco regiões brasileiras sendo que os casos estão

mais concentrados na região Nordeste, seguida pelas regiões Norte, Sudeste,

Centro-Oeste e Sul (BRASIL, 2010 b). Estudos apontam que a LV se tornou

endêmica em Brasília (CARRANZA-TAMAYO et al, 2010) sendo o primeiro caso

autóctone de LV em humanos registrado em setembro de 2005. Inicia-se a

realização de inquéritos sorológicos caninos, constatando cães soros-reagentes e a

presença do vetor em diversas áreas do Distrito Federal (DF). Desde 2008, foram

confirmados 207 casos humanos de LV. Em 2011 foram registrados 42 casos com 4

óbitos. Dos casos humanos diagnosticados, 81% são importados de outros estados,

12% autóctones e 7% de local não determinado (GOVERNO DO DISTRITO

FEDERAL, 2012).

A população canina do Distrito Federal é estimada em 220.500 cães e, em

2011, foram realizados 3.665 exames e 411 cães foram positivos para leishmaniose

visceral no DF (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2013). A enzootia canina tem

precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem sido mais

prevalente do que no homem. Assim, é fundamental estudar o perfil epidemiológico

da leishmaniose visceral canina (LVC) e suas características para designar políticas

públicas para o seu controle (BRASIL, 2004).

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Este trabalho teve como objetivos verificar a ocorrência de casos de

leishmaniose visceral canina atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de

Brasília durante o ano de 2011 e os achados clínicos e hematológicos mais

frequentes.

1.1. Hospital Veterinário da Universidade de Brasília

O Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (HVet/UnB) é dividido em

dois setores: Hospital-Escola para Animais de Companhia e o Hospital-Escola para

Grandes Animais. O primeiro é destinado a animais de estimação, como cães e

gatos, e animais silvestres e o segundo para animais de produção e equinos.

Para os animais com suspeita de leishmaniose, o hospital oferece os exames

parasitológico e molecular (Reação em cadeia pela polimerase – PCR), realizados

pelos Laboratórios de Patologia Clínica Veterinária e de Patologia Veterinária. Os

testes sorológicos são encaminhados para laboratórios externos.

O HVet/UnB segue as recomendações do Ministério da Saúde (MS) e

Conselho Federal de Medicina Veterinària (CFMV) quanto ao tratamento de animais

e não oferece tratamento com medicamentos não registrados no Ministério de

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para os casos confirmados de LVC,

ficando a critério do proprietário do animal a decisão final quanto ao destino de seu

animal.

2. REVISÃO DE LITERATURA

Leishmanioses são zoonoses que tem como agente etiológico protozoário

intracelular obrigatório do gênero Leishmania, sendo todos os mamíferos sujeitos à

infecção. Pode se apresentar de duas formas distintas dependendo da espécie do

agente etiológico envolvido: a leishmaniose tegumentar, marcada pela afecção de

pele e mucosas, e a leishmaniose visceral, marcada pela afecção de órgãos internos

(ETTINGER, 2010). A LV é caracterizada por sua evolução crônica e envolvimento

sistêmico (MAIA-ELKHOURY, 2008).

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2.1. Agente etiológico

A leishmaniose visceral canina é causada por protozoários do gênero

Leishmania, pertencentes à família Trypanossomatidae, o qual agrupa espécies

unicelulares, digenéticos (heteróxenos) (MICHALICK, 2004).

As três principais espécies envolvidas com a infecção na leishmaniose

visceral, dependendo da região geográfica são: Leishmania (L.) donovani, na Ásia e

África; Leishmania (L.) infantum na Ásia, Europa e África, e Leishmania (L.) chagasi

nas Américas (incluindo o Brasil). Apresentam duas formas: uma flagelada ou

promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra aflagelada ou

amastigota, que é intracelular obrigatória, sendo encontrada nas células do sistema

fagocítico mononuclear do hospedeiro vertebrado (BRASIL, 2006).

À microscopia óptica as formas amastigotas, quando fixadas e coradas

(métodos de Giemsa, Leishman ou Panotico), apresentam-se como organismos

ovais, esféricos ou fusiformes, com núcleo grande e arredondado, cinetoplasto em

forma de um pequeno bastonete e vacúolos. Não há flagelo livre. Os limites

micrométricos de seus diâmetros são de aproximadamente 1,5 a 3,0 x 3,0 a 6,5 µm

(MICHALICK, 2004). As formas flageladas (promastigotas) são alongadas, com um

flagelo livre e longo, emergindo do corpo do parasito na sua porção anterior. O

núcleo é arredondado ou oval e o cinetoplasto, em forma de bastão (MICHALICK,

2004).

2.1.1. Posição taxonômica

A posição taxonômica do gênero Leishmania pode ser verificada na Figura 1.

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Figura 1 – Posição taxonômica do gênero Leishmania (REYS, 1991).

2.2. Vetor

No Brasil, a leishmaniose visceral tem como vetor duas espécies de

flebotomíneos, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, conhecidos popularmente

como mosquito palha ou birigui. A primeira espécie é a de maior importância por

estar nas cinco regiões geográficas do país, e a segunda, específica do estado do

Mato Grosso do Sul (BRASIL, 2010).

Estes flebotomíneos fazem parte da Família Psychodidae, Subfamília

Phlebotominae. Possuem ciclo de vida dividido nas fases de ovo, larva, pupa e

adulto. As formas imaturas são terrestres, desenvolvem-se em ambiente úmido e se

alimentam de matéria orgânica, principalmente vegetal, em decomposição. Os

adultos são criptozoários, apresentam pequeno porte, entre 2 e 3 mm, e têm o corpo

intensamente piloso (NOVO, 2011).

Reino: Protista (Haeckel, 1866).

Sub-reino: Protozoa (Goldfuss, 1817).

Filo: Sarcomastigophora (Honigberg & Balamuth, 1963).

Subfilo: Mastigophora (Deising, 1866).

Classe: Zoomastigophorea (Calkins, 1909).

Ordem: Kinetoplastida (Honigberg, 1963, emend. Vickerman, 1976).

Subordem: Trypanosomatina (Kent, 1880).

Família: Trypanosomatidae (Dofein, 1901, emend. Grobben 1905).

Gênero: Leishmania (Ross, 1903).

Subgênero: Leishmania (Saf ’yanova, 1982).

Espécie: chagasi (Cunha & Chagas, 1937).

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Esses insetos possuem atividade crepuscular e noturna, adaptam-se

facilmente ao ambiente peridomiciliar, abrigando-se no interior dos domicílios e em

abrigos de animais domésticos (BRASIL, 2010). Ambos os sexos se alimentam,

principalmente, de sucos vegetais oriundos de néctar de flores ou de secreções de

afídios ricos em carboidrato (NOVO, 2011). Somente as fêmeas dessas espécies

tem a hematofagia como hábito alimentar, utilizando o sangue apenas para a

maturação folicular ovariana (DIAS, 2003).

Existem pesquisas voltadas à procura de outros invertebrados agindo como

vetor da LVC devido a existência de áreas onde a doença é endêmica sem a

presença do flebótomo. Uma das hipóteses levantadas é a participação do carrapato

(Rhipicephalus sanguineus) como vetor. Estudos encontraram kDNA de Leishmania

em carrapatos retirados de cães naturalmente infectados com Leishmania porém,

sua competência como vetor e a viabilidade dos parasitas nesses artrópodes não é

conhecida (DANTAS-TORRES, 2010).

2.3. Reservatórios

Na área silvestre, os reservatórios da Leishmania (L) chagasi são raposas

(Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous) e marsupiais (Didelphis albiventris) enquanto

na área urbana esse papel é do cão doméstico (Canis familiares) (COSTA, 2005). O

papel do homem e do gato como reservatório está sendo questionado (BRASIL,

2010).

2.4. Ciclo Biológico e Transmissão

Os hospedeiros vertebrados e reservatórios são infectados quando formas

promastigotas são inoculadas pelas fêmeas dos insetos vetores durante o repasto

sanguíneo. Ao se alimentar, o inseto inocula sua saliva que exerce o papel de

anticoagulante, causa vasodilatação e antiagregação plaquetária além de efeitos

quimiotáticos para monócitos e imunorreguladores com capacidade de interagir com

os macrófagos, aumentando sua proliferação e impedindo a ação efetiva destas

células na destruição dos parasitos (MICHALICK, 2004).

A internalização da Leishmania ocorre através do processo de endocitose

mediado por receptores na superfície do macrófago. Já dentro do vacúolo

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parasitóforo dessas células, a promastigota transforma-se em amastigota e entra em

multiplicação intensa até provocar a lise do macrófago. Os amastigotas liberados

serão internalizados por outros macrófagos e dar sequência ao processo de

multiplicação (MICHALICK, 2004).

A infecção do hospedeiro invertebrado ocorre quando ele ingere as formas

amastigotas no momento do repasto em um indivíduo infectado. Ao chegarem ao

intestino do vetor, as formas amastigotas sofrem intensa multiplicação e

transformação até a sua forma infectante, promastigosta metacíclica. Os parasitas

migram para as porções anteriores do aparelho digestivo do inseto comprometendo

a válvula estomadeu, seguida da invasão da faringe, cibário e probócide, reiniciando

o ciclo de transmissão (MICHALICK, 2004).

Outras vias de transmissão já foram determinadas, como a transmissão

transplacentária e a transmissão venérea (BOGGIATTO et al, 2011) (NAUCKE,

2012). A transmissão iatrogênica também pode ocorrer pela transfusão de sangue

contaminado (SHERDING, 2006).

2.5. Patogenia e anatomia patológica

Em geral, o dano tecidual na LVC é causado por inflamação granulomatosa e

deposição de imunocomplexos (MULLER, 2001). Como tem um caráter sistêmico,

todos os órgãos podem ser afetados dependendo da resposta imune do hospedeiro

e da evolução da doença (LUVIZOTTO, 2006).

O primeiro sistema envolvido é o hemolinfático, caracterizado por

linfadenomegalia com aspecto inicial exsudativo evoluindo para poliferativo-

hiperplásico (LUVIZOTTO, 2006). Os linfonodos podem apresentar alterações

hipertróficas nas regiões corticais e medulares (SILVA, 2007). A esplenomegalia é

um achado comum, apresentando consistência firme, cápsula espessa e rugosa,

parênquima granular e grosseiro em casos sintomáticos e crônicos. Em outros

casos, o órgão está aumentado de volume, cápsula tensa, deixando transparecer a

hiperplasia da polpa branca como pontos brancacentos difusamente distribuídos e

identificados na superfície de corte do órgão (LUVIZOTTO, 2006). Dependendo da

fase da doença, a medula óssea pode apresentar hipertofia e hiperplasia da série

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leucocitária ou hipocelularidade das linhagens eritrocitárias e leucocitárias,

resultando em anemia e trombocitopenia (LUVIZOTTO, 2006; SILVA, 2007).

No fígado é possível observar palidez extrema, consistência firme ou

nodulações de tamanhos variados. Microscopicamente é possível observar reação

linfohistioplasmocitária periportal com infiltrado de neutrófilos e eosinófilos e

proliferação fibroblástica. A reação inflamatória crônica apresenta distribuição focal

disseminada e subcapsular, caracterizada por aglomerados de macrófagos,

linfócitos, plasmócitos, células com morfologia epitelióide e multinucleadas, com

semelhança morfológica a dos granulomas (LUVIZOTTO, 2006).

A progressão da doença depende do tipo de resposta imunológica que ela

provoca no indivíduo. A resistência à doença está associada à ativação da resposta

Th1 mediada por células (CD4+) e produção de interferon gama, fator de necrose

tumoral e IL-2 e IL-12. Enquanto o indivíduo suscetível é aquele que apresenta,

durante a progressão da doença, ativação da resposta Th2 com a expansão e

proliferação de células B e produção de IL-4, IL-6 e IL-10 Essa resposta humoral é

responsável pelo aumento dos níveis séricos de imunoglobulinas, contribuindo para

a formação de imunocomplexos cuja deposição em diferentes órgãos, especialmente

nos rins, causa danos teciduais graves. (LUVIZOTTO, 2006).

2.6. Achados clínicos e laboratoriais

A LV é uma doença de caráter sistêmico e crônico, afetando tecido cutâneo e

vísceras. Os cães podem não apresentar sinal aparente, contudo quando

sintomáticos, comumente apresentam mais de um sinal clínico (FREITAS, 2012).

2.6.1. Alterações Dermatológicas

Dentre os sinais clínicos dermatológicos, o principal é a dermatite esfoliativa

com descamação branca prateada, podendo ser generalizada, porém mais comum

na cabeça, orelhas e extremidades. Pode haver hiperqueratose nasodigital com

hipotricose ou alopecia na região e alopecia periocular. Outros achados

dermatológicos incluem a onicogrifose, dermatite ulcerativa, paroníquia, dermatite

pustular estéril, despigmentação nasal com erosões e ulcerações, dermatite nodular

e piodermite bactéria secundária. Os sinais de LVC devem ser diferenciados de

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pênfigo foliáceo, lúpus eritematoso sistêmico, dermatose responsiva ao zinco,

eritema migratório necrolítico, adenite sebácea e linfoma (MULLER, 2001).

2.6.2. Alterações Sistêmicas

Dentre as alterações sistêmicas é possível encontrar: hepatomegalia,

esplenomegalia, linfadenopatia generalizada, uveíte anterior, conjuntivite, blefarite,

pneumonia intersticial, rinite, poliartrite neutrofílica e glomerulonefrite. Essas

alterações causam sinais clínicos como secreção ocular, tosse, epistaxe

poliúria/polidipsia, icterícia, letargia, intolerância a exercícios, febre, perda de peso

progressiva, caquexia, perda muscular, vômito, diarréia, melena (DUARTE, 1986;

SHERDING, 2006; LAPPIN, 2009).

Alguns estudos também relatam o envolvimento do sistema nervoso central

acarretando sinais neurológicos como convulsão generalizada, alterações visuais,

sinais de paresia de nervos cranianos, sinais de envolvimento vestibular e cerebelar,

tetraparesia e tetraplegia, mioclonias, vocalização, andar em círculos e episódios de

perseguição à cauda (FEITOSA, 2005).

2.6.3. Alterações hematológicas e bioquímicas

No hemograma, as alterações encontradas são trombocitopenia, anemia,

linfopenia, leucocitose com desvio à esquerda e teste de Coombs positivo. No

exame bioquímico pode apresentar níveis aumentados de uréia, creatina normal ou

aumentada e baixa concentração de albumina (SHERDING, 2006).

Achados laboratoriais de hiperproteinemia, leucopenia associada a linfopenia

ou leucocitose também são descritos (SONODA, 2007).

2.7. Diagnóstico

O diagnóstico da LVC é complexo devido ao caráter sistêmico da doença, sua

gama de sinais clínicos inespecíficos e os custos dos exames. A combinação dos

diferentes exames e a observação dos sinais clínicos é recomendada para a

obtenção do diagnóstico mais seguro possível.

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Os testes disponíveis para o diagnóstico da LVC são os exames sorológicos

(ensaio imunoenzimático – ELISA e reação de imunofluorescência indireta - RIFI),

cultura do parasita, exames parasitológicos (histoquímico - HE e imunohistoquímico -

IMIQ), exame molecular (PCR) e o xenodiagnóstico. Sendo mais utilizados os

exames sorológicos combinados. O uso conjunto dos exames é mostrado na Figura

2. A partir de março de 2012, foi introduzido novo método de diagnóstico rápido,

Dual Path Platform (DPP®) baseado na imunocromatografia.

Figura 2. Diagrama para o diagnóstico de Leishmaniose Visceral Canina (QUEIROZ, et al. 2010).

Por seu aspecto sistêmico e sinais inespecíficos, a anamnese do paciente

quanto à região e condições ambientais do local de moradia, uso de repelentes e

outros métodos de prevenção devem ser considerados e analisados de forma

minuciosa, sendo pontos importantes para a suspeita e o diagnóstico de LVC.

Cão suspeito

Exames sorológicos

(RIFI e ELISA)

RIFI e ELISA positivo

Caso confirmado

positivo

RIFI e ELISA negativos ou discordantes

IMIQ positivo

Caso confirmado

positivo

IMIQ negativo

PCR positivo

Caso confirmado

positivo

PCR negativo

Caso confirmado

negativo

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2.8. Tratamento

O tratamento de animais positivos para leishmaniose visceral é controverso,

já que os quimioterápicos utilizados não são capazes de retirar completamente o

protozoário do organismo, resultando em animais persistentemente infectados, o que

pode representar risco para a saúde animal e humana (TROY, 2009).

Nos locais onde o tratamento é permitido o protocolo de tratamento da LVC é

baseado no uso de antimoniais pentavalentes como o Antimoniato de Meglumina

(Glucantime® – 100 mg intravenoso ou subcutâneo a cada 24 horas por 3 a 4

semanas) e o Estibogluconato de Sódio (Pentosan® – 30 a 50 mg/kg subcutâneo, a

cada 24 horas por 3 a 4 semanas). Como efeitos adversos comuns desse tratamento

o cão pode apresentar vômito, diarréia, dor e fibrose muscular, formação de

abscessos, tromboflebite e insuficiência renal. Concomitante ao antimônico

pentavalente, o Alupurinol (20 mg/kg, via oral, a cada 12 ou 24 horas) pode ser

usado como fármaco de manutenção (TROY, 2009; PAPICH, 2009). Outros

fármacos utilizados são a Anfotericina B, Miltefosina pentamidina, amonosidina

(TROY, 2009).

Cães submetidos a esses protocolos devem ser monitorados frequentemente,

especialmente sua função renal por causa do alto potencial nefrotóxico dessas

fármacos em animais que podem já apresentar afecção renal.

Esses protocolos levam ao controle da infecção, podendo acarretar na cura

clínica do animal, ou seja, o animal deixa de apresentar sinais clínicos. Porém,

recidivas dentro de meses ou anos após o final do tratamento são comuns

(SHERDING, 2006).

Em 17 de janeiro de 2013 foi publicado, pelo Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, o Acórdão 8268/2013, que considerou ilegal a Portaria n.º 1.426

Interministerial de 11 de julho de 2008 - MAPA e MS – cujo texto “proíbe o

tratamento de leishmaniose visceral canina com produtos de uso humano ou não

registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (BRASIL, 2013).

No entanto, por outros motivos como as regulamentações sobre e fiscalização de

produtos veterinários pelo MAPA, dispositivos legais impedem o tratamento canino

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(BRASIL, 1969 e 2004). O tratamento de escolha para humanos é o Desoxicolato de

Anfotericina B e, como alternativas, podem ser usados: Antimoniato de N-metil

Glucamina, Isotionato de Pentamidina e Anfotericina B Lipossomal (BRASIL, 2010).

Os medicamentos de uso humano para LV não são comercializados e são

distribuídos gratuitamente pelo MS.

2.9. Prevenção e controle

A prevenção da leishmaniose nos cães é feita pelo controle da população

canina errante, doação de animais somente após o exame para leishmaniose

negativo, uso de telas em canis individuais ou coletivos e uso de coleiras

impregnadas com deltametrina a 4% (BRASIL, 2010). Também existem produtos

spot-on a base de permetrina com ação repente.

Uma prevenção e controle mais eficaz seriam alcançados com o uso da

imunoprofilaxia dos cães. Atualmente, há no mercado duas vacinas contra

leishmaniose canina, Leishtec® e Leishimune®, que possuem registro no MAPA.

Seu uso como medida de controle em Saúde Pública não é recomendado pelo MS.

(GONTIJO, 2004; BRASIL, 2009).

O controle da endemia é centrado no diagnóstico e tratamento precoce de

casos humanos, redução da população de flebotomíneos, eliminação dos

reservatórios (diagnóstico e eutanásia dos animais positivos) e atividades de

educação em saúde (BRASIL, 2010).

2.10. Situação epidemiológica em humanos

A LV é uma zoonose com ampla distribuição mundial com registro de casos

em todos os continentes, à exceção da Oceania. A cada ano, ocorrem 500.000

casos sendo que 90% deles localizados no Afeganistão, Argélia, Brasil, Irã, Peru,

Arábia Saudita, Índia, Nepal e Sudão. A taxa de mortalidade global é apenas

estimada, por causa da falta de notificação e diagnóstico em alguns países (WHO,

2007).

No Brasil, a leishmaniose visceral é uma doença endêmica, no entanto têm

sido registrados surtos frequentes. Historicamente, os casos estavam restritos a

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zonas rurais, hoje, encontra-se em expansão para regiões urbanas. Atinge as cinco

regiões brasileiras. Nos últimos dez anos, a média anual de casos de LV foi de 3.379

casos e a incidência de 1,9 casos por 100.000 habitantes. (BRASIL, 2010).

No Distrito Federal, em 2011, foram notificadas 94 pessoas com LV tendo

sido 42 casos humanos confirmados e 4 óbitos. Em 2012 foram notificados 70 casos

e confirmadas 36 pessoas com LV. (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2011;

2012).

2.11. Vigilância epidemiológica em cães

A vigilância epidemiológica em cães é um dos componentes do Programa

de Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV), cujos objetivos são reduzir as taxas

de letalidade e grau de morbidade pelo diagnóstico e tratamento precoces dos casos

humanos e diminuir os riscos de transmissão, mediante o controle da população de

reservatórios e do agente transmissor (BRASIL, 2010).

As ações de vigilância epidemiológica voltadas aos cães incluem: alertar os

serviços e a classe médica veterinária quanto ao risco da transmissão da LVC;

conscientizar a população sobre a ocorrência da doença na região, os sinais clínicos

e os métodos para o diagnóstico, bem como as medidas preventivas para eliminação

dos prováveis criadouros do vetor (BRASIL, 2010).

O poder público deverá desencadear e implementar as ações de limpeza

urbana em terrenos, praças públicas, jardins, logradouros, entre outros, destinando

de maneira adequada a matéria orgânica recolhida e, na suspeita clínica de cão,

delimitar a área para investigação do foco. Nessa área, deverá ser desencadeada a

busca ativa de cães com sinais clínicos, visando a coleta de amostras para exame

parasitológico e identificação da espécie de Leishmania. Uma vez confirmada a L.

chagasi, deverá ser coletado material para testes sorológicos de todos os cães da

área, a fim de avaliar a prevalência canina e desencadear as demais medidas

(BRASIL, 2010).

O monitoramento é feito por inquérito sorológico amostral ou inquérito

sorológico censitário, com a utilização das técnicas ELISA e imunofluorescência

indireta (RIFI), realizados pelos Laboratórios Centrais e Saúde Pública (Lacen) ou

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laboratórios dos centros de controle de zoonose (BRASIL, 2010). zoonoses A

amostra é considerada reagente (ou positiva) quando forem obtidos títulos iguais ou

maiores a 1:40 na RIFI. O ELISA é considerado reagente (ou positivo) quando

apresentar densidade óptica maior que o ponto de corte (cut off) referente ao

intervalo preconizado pelo “kit” utilizado (BRASIL, 2010).

Recentemente, em dezembro de 2011, o MS publicou a Nota Técnica

Conjunta 1/2011, substituindo o protocolo de diagnóstico da LVC com a introdução

do método de diagnóstico rápido Dual Path Platform (DPP®) como teste de triagem

e o ELISA como teste confirmatório (BRASIL, 2011).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Para este trabalho foram selecionados 149 prontuários de caninos atendidos

no HVet/UnB em 2011. A seleção foi feita em etapas. Na primeira etapa, entre todos

os prontuários de animais atendidos no HVet/UnB em 2011, foram escolhidos os

atendimentos em cães que tiveram o registro feito em 2011. Nesta primeira seleção,

foram separados 2.400 prontuários cujos registros estavam entre os números de

registro geral 117.000 e 119.483. Numa segunda etapa de seleção, foram separados

os prontuários dos cães com a primeira consulta realizada entre 10 de janeiro e 21

de dezembro de 2011. Para a última etapa da seleção dos prontuários para este

estudo, foi verificado em cada prontuário se atendia aos critérios: 1) suspeita clínica

de leishmaniose descrita na ficha clínica ou ficha de retorno; 2) solicitação de

exames de rotina com essa suspeita (exemplo: hemograma com LVC como parte da

suspeita clínica); e 3) solicitação de exames específicos para a LVC.

Os prontuários selecionados para o estudo foram os que atenderam a uma ou

mais dos três critérios acima. Deles foram retirados os seguintes dados: número do

registro no HVet/UnB (RG), nome do animal, raça, sexo, ano de nascimento, dados

do proprietário, região de moradia, data da consulta, peso, motivo da consulta,

exame dermatológico, outros sinais, suspeita clínica, hemograma, [volume globular

(VG), hemácias, hemoglobina, leucócitos, volume corpuscular médio (VCM),

concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), proteína plasmática total

(PPT), plaquetas, pesquisa de hemoparasitas, metarrubricitos], exames específicos

para leishmaniose (citopatologia, ELISA, RIFI, PCR) e diagnóstico final.

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Os dados foram organizados em um banco de dados no programa EXCEL e

analisados com o programa StataCorp. 2011.

4. RESULTADOS

Dos 149 prontuários selecionados, 106 tiveram um diagnóstico final definido,

sendo 72 animais (68%) com diagnóstico de LVC descartado e 34 (32%) com o

diagnóstico confirmado.

A porcentagem de animais suspeitos com algum sinal dermatológico foi de

53,8% (57 animais) sendo que, desses 57 animais, 61,4% (35 animais) tiveram o

diagnóstico de LVC confirmado. E, 35,29% (12 animais) dos animais confirmados

para LVC não apresentavam sinal dermatológico.

Os parâmetros hematológicos estão representados nas Tabelas 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Tabela 1 – Valores de hemácias dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

Hemácias (x103/µl) Diagnóstico de LVC Total Descartado Confirmado

Menor que 5,5 29 (%) 17 (%) 46 Entre 5,5 e 8,5* 32 (%) 14 (%) 46 Maior que 8,5 11 (%) 3 (%) 14

Total 72 34 106 Tabela 2 – Valores de hemoglobina dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

Hemoglobina (g/dl) Diagnóstico de LVC

Total Descartado Confirmado

Menor 12 29 (%) 15 (%) 44 Entre 12 e 18* 33 (%) 16 (%) 49 Maior que 18 10 (%) 3 (%) 13

Total 72 34 106

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Tabela 3 – Valores de PPT dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

PPT (g/dl) Diagnóstico de LVC Total Descartado Confirmado

Menor que 6 1 (%) 0 1 Entre 6 e 8* 33 (%) 13 (%) 46 Maior que 8 38 (%) 21 (%) 59

Total 72 34 106 Tabela 4 – Valores de leucócitos dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

Leucócitos (x103/ µl) Diagnóstico de LVC Total Descartado Confirmado

Menor que 6 11 (%) 3 (%) 14 Entre 6 e 17* 42 (%) 25 (%) 67 Maior que 17 19 (%) 6 (%) 25

Total 72 34 106 Tabela 5 – Valores de plaquetas dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Ettinger (2010).

Plaquetas (x103) Diagnóstico de LVC

Total Descartado Confirmado

Menor que 186 15 (%) 11 (%) 26 Entre 186 e 545* 44 (%) 20 (%) 64 Maior que 545 13 (%) 3 (%) 16

Total 72 34 106 Tabela 6 – Valores de VG dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

VG (%) Diagnóstico de LVC Total Descartado Confirmado

Menor que 36 37 (%) 20 (%) 57

Entre 37 e 55* 25 (%) 11 (%) 36

Maior que 55 10 (%) 3 (%) 13

Total 72 34 106 Tabela 7 – Valores de VCM dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

VCM (fl) Diagnóstico de LVC Total Descartado Confirmado

Menor que 60 1 (%) 1 (%) 2 Entre 60 e 77 60 (%) 31 (%) 91 Maior que 77 11 (%) 2 (%) 13

Total 72 (%) 34 (%) 106

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Tabela 8 – Valores de CHCM dos animais suspeitos de LVC atendidos no HVet/UnB em 2011. *Valores de referência segundo Raskin (2010).

CHCM (g/dl) Diagnóstico de LVC Total

Descartado Confirmado Menor que 32 5 (%) 6 (%) 11 Entre 32 e 36* 56 (%) 26 (%) 82 Maior que 36 11 (%) 2 (%) 13

Total 72 (%) 34 (%) 106

No teste ELISA, 26 dos 45 animais com amostras submetidas ao exame

tiveram resultado de Não Reagente. Um desses animais teve o diagnóstico final de

LVC confirmado. Dos 19 que tiveram o resultado Reagente, um animal teve o seu

resultado de leishmaniose descartado. Esse mesmo animal foi reagente ao RIFI com

titulação 1:80. A provável razão para esse descarte foi o fato desse animal possuir

teste para erlichiose com Score 3 (médio-positivo).

Os resultados encontrados no RIFI, exame geralmente feito em conjunto com

o ELISA, estão na Tabela 9. Das 47 amostras processadas, 27 foram negativas no

RIFI e das 20 Reagentes, sendo 9 amostras na titulação 1:40, 9 reagentes a 1:80 e

2 amostras reagentes a 1:160.

Tabela 9. Resultados do teste RIFI em relação ao diagnóstico final registrados nos prontuários dos cães suspeitos e confirmados para LVC no HVet/UnB em 2011.

RIFI Diagnóstico LVC Total

Descartado Confirmado Negativo 26 (96,3%) 1 (3,7%) 27

Regente 1:40 0 (0%) 9 (100%) 9 Reagente 1:80 1 (11,1%) 8 (88,9%) 9

Reagente 1:160 0 (0%) 2 (100%) 2 Total 27 (57,45%) 20 (42,55%) 47

Foram realizadas 46 citologias com os resultados de 31 animais negativos, 15

animais positivos. Dentre os positivos, 12 amostras foram obtidas por punção de

medula óssea, 2 por punção de linfonodo e 1 por Imprint de lesão cutânea (Tabela

10).

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Tabela 10. Resultados do teste citologia em relação ao diagnóstico final registrados nos prontuários dos cães suspeitos e confirmados para LVC no HVet/UnB em 2011.

Citologia Diagnóstico LVC

Total Descartado Confirmado

Negativo 21 10 31 Positivo na medula óssea 0 12 12

Positivo na punção de linfonodo 0 2 2 Positivo no Imprint de lesão cutânea 0 1 1

Total 21 25 46

No diagnóstico pela técnica de PCR, das nove amostras submetidas ao

exame duas foram positivas, conforme pode ser visualizado na Tabela 11. Nota-se

na tabela que um dos animais que foi negativo no PCR foi considerado positivo para

LVC. Este animal também teve amostras encaminhadas para RIFI e ELISA com

resultado reagente nos dois exames, com titulação 1:80 no RIFI.

Tabela 11. Resultados do teste PCR em relação ao diagnóstico final registrados nos prontuários dos cães suspeitos e confirmados para LVC no HVet/UnB em 2011.

PCR Diagnóstico LVC

Total Descartado Confirmado

Negativo 6 1 7 Positivo 0 2 2

Total 6 3 9

Dos 106 animais com diagnóstico final estabelecido, apenas 64 possuíam a

informação acerca da região onde moravam. A distribuição geográfica dos casos

confirmados para LVC foi dispersa no território do DF. Os animais com diagnóstico

confirmado eram da seguintes localidades: Águas Claras, Lago Norte, Lago Sul,

Paranoá, Santa Maria, Sobradinho, Sobradinho II, Taguatinga, Varjão, Vicente Pires

e Vila Planalto e está representada na Tabela 12 e na Figura 3.

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Tabela 12 – Número de cães confirmados e suspeitos em relação à localidade de residência.

Localidades Número de cães

confirmados Número de animais

suspeitos

Águas Claras 2 4 Lago Norte 6 19 Lago Sul 7 13 Paranoá 1 4

Santa Maria 1 1 Sobradinho 5 9

Sobradinho II 1 1 Taguatinga 2 4

Vicente Pires 1 5 Vila Planalto 1 2

Varjão 2 2

Total 29 64

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Figura 3 – Distribuição geográfica dos cães confirmados no HVet/UnB no ano de 2011 por localidade

* Cada ponto vermelho representa um caso de LVC confirmado.

5. DISCUSSÃO

É importante ressaltar que todos os animais deste estudo descritivo foram

atendidos em um serviço veterinário, logo é esperado que apresentassem alterações

clínicas e hematológicas.

Os sinais dermatológicos estavam presentes em 53,8% dos animais

considerados suspeitos e, dentre os confirmados, apenas 35,29% apresentavam

sinal dermatológico. Esses dados foram semelhantes aos encontrados nos trabalhos

de Mattos e colaboradores (2004) e Freitas (2012). O número elevado de animais

suspeitos que apresentavam sinais clínicos dermatológicos é evidência que estes

sinais são considerados pelos veterinários fortes indícios dessa doença. A maioria

dos animais suspeitos de LVC do estudo apresentou anemia, sendo esta uma das

alterações mais comuns em cães infectados pela leishmaniose (SONODA, 2007;

FREITAS, 2012). Porém, entre os animais com diagnóstico confirmado para a

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doença, a frequência de anemia foi menor do que o relatado por Freitas (2012).

Pode ser que essa discrepância esteja relacionada com a fase da doença em curso.

Outra alteração laboratorial comum na leishmaniose é o aumento da

concentração de proteína plasmática (PPT). A maioria dos animais confirmados

(61%) apresentava essa alteração, conforme a literatura (SHERDING, 2006;

SONODA, 2007; FREITAS, 2010). O aumento da PPT está associado com

processos inflamatórios, como o causado pela LVC.

A leucocitose estava presente em 23% dos animais suspeitos, sendo que

entre os confirmados, 17% apresentaram essa alteração. No estudo de Sonoda

(2007) a leucocitose foi observada em somente 4,3%. A leucocitose é esperada em

qualquer afecção que cause uma resposta inflamatória aguda, como a leishmaniose

e outras doenças. O valor leucocitário normal dos animais confirmados para LVC

pode estar relacionado ao estágio da doença em que se encontravam..

A trombocitopenia estava presente em 24% dos animais suspeitos. Entre os

confirmados, apenas 32% apresentavam essa alteração, que é considerada por

alguns autores um sinal comum da doença (SHERDING, 2006; SONODA, 2007;

FREITAS, 2010).

No atendimento do HVet/UnB os exames mais frequentes realizados em

animais com suspeita de leishmaniose foram os exames sorológicos RIFI/ELISA e o

de citologia por punção de medula óssea, como o recomendado na literatura

(QUEIROZ, 2010; BRASIL, 2006).

Em 2011, os métodos diagnósticos sorológicos da LVC, recomendados pelo

Programa de Vigilância e Controle das Leishmanioses, eram o Ensaio

Imunoenzimático (ELISA) como método de triagem e a Reação de

Imunofluorescência Indireta (RIFI), (titulação > 1:40) como confirmatório, utilizados

na rotina e nos inquéritos caninos em municípios onde já houve registro da doença.

Os resultados das avaliações realizadas pela Fundação Ezequiel Dias (Funed/MG)

demonstram que todos os lotes de ELISA liberados para o uso na rede pública, em

2011, tiveram sensibilidade média acima de 95% e a especificidade de 100%. Já a

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RIFI demonstrou sensibilidade acima de 98,3% e especificidade acima de 94,1%

(BRASIL, 2011).

O animal que apresentou os exames sorológicos para LVC reagentes e teve o

diagnóstico descartado também possuía exame sorológico para erlichiose positivo. A

erlichiose é uma doença com sinais clínicos similares a LVC, principalmente por

causar alterações no organismo pela deposição de imunocomplexos. Alguns testes

sorológicos, como o RIFI, podem apresentar resultado falso-positivo para LVC

quando o animal possui erlichiose (ZANETTE, 2006). O diagnóstico conclusivo

deste animal não estava esclarecido em seu prontuário, apenas que LVC fora

descartado.

As localidades com cães confirmados tinham registro de casos humanos

conforme a notificação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação –

SINAN/NET, ou seja, já eram conhecidas por serem áreas de transmissão da LV.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do trabalho de levantamento dos dados foi verificado

dificuldades na busca dos prontuários, pois para não atrapalhar o movimentos do

HVet/UnB a pesquisa nos prontuários era em espaço de tempo delimitado. Muitos

prontuários estavam com informações incompletas ou ausentes, principalmente em

relação ao diagnóstico conclusivo dos pacientes. Notou-se diferença no

preenchimento entre os diferentes profissionais. É importante reforçar a

necessidade de melhorar o registro e as informações dos pacientes com a utilização

de um sistema informatizado para que pesquisas futuras possam ser executadas de

forma mais ágil e com uma menor margem de erro.

Nos prontuários analisados não foi observada nenhuma menção em relação à

origem e ou história de deslocamento dos animais, não sendo possível afirmar que

os animais adquiriram a doença no endereço fornecido pelo prontuário. Também

não foi possível identificar se o caso teria sido ou não notificado.

Nos prontuários foi observada a preocupação de alguns proprietários de

animais hígidos em fazer o teste diagnóstico para LVC como forma de prevenção da

doença.

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Como a LVC tem diversos métodos diagnósticos, é importante reforçar os

critérios de diagnóstico clínico, epidemiológico e, principalmente, o laboratorial com

relação à interpretação dos resultados.

O Médico Veterinário deve ter duas perspectivas diferentes desta doença: a

visão clínica, individual, na qual o paciente é o mais importante e o diagnóstico falso

positivo é um prognóstico ruim, pois aquele indivíduo é parte de uma família. Mas

também deve ter a visão de saúde pública, na qual o bem-estar da maioria, incluindo

animais e seres humanos, é a meta final e, por essa perspectiva, o diagnóstico falso

negativo é o mais crítico, pois o cão poderá constituir uma fonte potencial de

propagação deste protozoário. Cada profissional de saúde deve ter consciência da

importância do seu papel perante o seu paciente e perante a sociedade, desde sua

influência na proteção e prevenção individual até na decisão de que tratamento

aquele animal deva receber.

A leishmaniose visceral é uma doença em expansão no tanto no DF como em

outros estados do Brasil. Ainda há muito a ser feito para que o controle possa ser

alcançado tanto em cães como em humanos.

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8. ANEXOS

8.1. Ficha clínica utilizada no Hvet/UnB

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