leishmaniose visceral canina

27
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO INSTITUTO QUALITTAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATU SENSU EM CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS Dalila de Oliveira Rodrigues LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA UBERLÂNDIA 2012

Upload: dani-abrantes

Post on 18-Dec-2015

67 views

Category:

Documents


22 download

DESCRIPTION

Leishmaniose

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

    INSTITUTO QUALITTAS DE PS-GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA CURSO DE ESPECIALIZAO LATU SENSU EM CLNICA MDICA E CIRRGICA DE PEQUENOS

    ANIMAIS

    Dalila de Oliveira Rodrigues

    LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

    UBERLNDIA 2012

  • ii

    Dalila de Oliveira Rodrigues

    LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

    Trabalho monogrfico de concluso do curso de clnica mdica e cirrgica de pequenos animais (TCC) apresentado UCB como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Clnica Mdica e Cirrgica de pequenos animais sob orientao do Prof. Dr. lvaro Ferreira Junior.

    UBERLNDIA 2012

  • iii

    LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

    Elaborado por Dalila de Oliveira Rodrigues

    Aluna do curso de ps-graduao em medicina veterinria da UCB

    Foi analisado e aprovado com

    grau.......................

    Uberlndia, ____, de _______________ de _______

    __________________________

    Membro da Banca Examinadora 1

    __________________________

    Membro da Banca Examinadora 2

    __________________________

    lvaro Ferreira Junior (Orientador)

    Uberlndia, Junho de 2012

  • iv

    Dedico esse trabalho a todos que participaram direta ou diretamente dessa etapa da minha vida profissional.

  • v

    AGRADECIMENTOS Agradeo primeiramente Deus, pela existncia e fortaleza, aos meus familiares, ao meu marido pelo auxlio e formatao, amigos, colegas de profisso, pelo apoio, companheirismo e amizade e principalmente por terem acreditado que mais essa vitria seria possvel. Aos professores pela oportunidade de adquirir parte de seus conhecimentos. Ao meu orientador pelo aceite do convite e informaes prestadas. Enfim aos animais por nos dar chances de aprender e melhorar cada dia mais, no intuito de salvar suas vidas!

  • vi

    Chegar o dia em que os homens conhecero o ntimo dos animais e neste dia, um crime contra um animal ser considerado um crime contra a humanidade". (Leonardo da Vincci)

  • vii

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ................................................................................................................. V

    SUMRIO ................................................................................................................................ VII RESUMO ................................................................................................................................ VIII

    ABSTRACT ............................................................................................................................... IX

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. X

    1. INTRODUO .................................................................................................................... 1 2. REVISO DA LITERATURA ............................................................................................... 2

    2.1 Agente Etiolgico ......................................................................................................... 2

    2.2 Patogenia ..................................................................................................................... 3

    2.3 Aspectos Clnicos ......................................................................................................... 4

    2.4 Diagnstico .................................................................................................................. 8

    2.5 Diagnstico Diferencial ............................................................................................... 11

    2.6 Tratamento ................................................................................................................. 12

    2.7 Preveno e Controle ................................................................................................. 13

    3. CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 15

  • viii

    RESUMO O presente estudo tem como objetivo descrever em sntese as principais caractersticas da Leishmaniose Viceral Canina (LVC) nos animais e correlao direta ou indiretamente com o ser humano. A Leishmaniose visceral canina - LVC, atualmente, apontada como reemergente, com incidncia crescente e em processo de urbanizao, sendo importante por causar impacto na sade pblica, devido letalidade e implicaes econmicas. causada por um protozorio pleomrfico da ordem Kinetoplastida, famlia Trypanosomatidae, gnero Leishmania. No Brasil o agente etiolgico a Leishmania Chagasi. No ambiente urbano o co considerado o principal reservatrio epidemiolgico. A transmisso do protozorio ocorre atravs da picada da fmea do vetor artrpode, denominado Lutzomya longipalpis. Os sinais clnicos dermatolgicos so muito comuns, podendo ocorrer descamao tegumentar, eczema e alopecia localizada que acomete principalmente os pavilhes auriculares e a regio periocular, ou apresenta-se na forma difusa, causando despigmentao, hiperqueratose, onicogrifose, entre outras alteraes sistmicas. O diagnstico da Leishmaniose realizado atravs dos sinais clnicos e exames complementares, como testes sorolgicos, parasitolgico, imunolgico e molecular. Dentre os testes imunolgicos oficiais, os imunoenzimticos (ELISA indireto) so indicados para triagem de ces soro negativos, enquanto que as tcnicas imunofluorescente (RIFI) para confirmao dos ces soro positivos. O Ministrio da Sade em conjunto com o Ministrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento (MAPA) proibiu o tratamento de LVC com produtos de uso humano, ou no registrados no MAPA. Os frmacos de escolha indicados para o tratamento so os antimoniais, mas o Alopurinol, a Anfotericina B, a aminosidina, pentamidina e a Miltefosina tambm podem ser utilizados. A preveno est relacionada com toda e qualquer medida que evita o contato entre o vetor infectado e o co. Mais atualmente a vacinao tem sido utilizada com essa finalidade. Para controle ainda se preconiza a eutansia de animais infectados como medida ideal.

    Palavras-Chaves: Leishmaniose Visceral Canina, Co.

  • ix

    ABSTRACT The present study aims to describe in brief the main features of Canine Visceral Leishmaniasis (CVL) in animals and correlated directly or indirectly with human beings. Canine Visceral Leishmaniasis - LVC is currently appointed as reemerging, with increasing incidence and in the process of urbanization, it is important to cause public health impact due to mortality and economic implications. It is caused by a protozoan pleomorphic order Kinetoplastida, family Trypanosomatidae, genus Leishmania. In Brazil, the etiologic agent is Leishmania chagasi. In urban environment the dog is considered the main reservoir epidemiology. The transmission of the parasite occurs through the bite of female arthropod vector, named Lutzomyia longipalpis. Clinical signs are very common dermatological, occurring cutaneous peeling, eczema and localized alopecia that primarily affects the ears and the periocular region, or presents itself in the diffuse form, causing depigmentation, hyperkeratosis, onychogryphosis, among other systemic changes. The diagnosis of leishmaniasis is made by clinical signs and laboratory tests such as serology, parasitological, immunological and molecular. Among the immunological tests officers, immunoenzymatics (ELISA) are indicated for screening dogs serum negative, whereas the techniques immunofluorescent antibody (IFA) for confirmation of positive serum dogs. The Ministry of Health in conjunction with the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply (original MAPA) has banned the treatment of CVL with products for human use, or not recorded in the Ministry. The drugs of choice for the treatment indicated antimony are, but Allopurinol, amphotericin B, aminosidine, pentamidine and Miltefosine can also be used. Prevention is related to any measure which prevents contact between the vector and the infected dog. More currently, vaccination has been used for this purpose. To control still advocates the euthanasia of infected animals such as ideal.

    Key Words: Canine Visceral Leishmaniasis, Dog

  • x

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 - Descamao de orelha e face. ................................................................................. 5

    Figura 02 - Ulceraes mucocutnea ......................................................................................... 5

    Figura 03 - Caquexia e emaciao em co com leishmaniose visceral canina. .......................... 6

    Figura 04 - Epistaxe em So Bernardo com leishmaniose e sem leses drmicas. ................... 7

    Figura 05 Uvete em co com leishmaniose ............................................................................ 8

    Figura 06 e 07 Formas promastigotas de Leishmania sp ...................................................... 10

  • 1

    1. INTRODUO

    A Leishmaniose visceral canina (LVC), inicialmente descrita como doena de ambiente silvestre ou rural, na atualidade apontada como reemergente, com incidncia crescente e em processo de urbanizao (BORASHI & NUNES, 2007).

    Tambm denominada Leishmaniose Visceral Americana ou Calazar (REICHMANN, 2006), uma enfermidade infecciosa de carter crnico, zoontico e de distribuio mundial causada por um protozorio pleomrfico da ordem Kinetoplastida, famlia Trypanosomatidae, gnero Leishmania. Possuem um ciclo biolgico heteroxnico, necessitando assim de dois hospedeiros, um vertebrado, representado por candeos silvestres e domsticos, alm de roedores e humanos, e de um invertebrado, representado pelo inseto vetor (SONODA, 2007; SILVA, 2007).

    Os hospedeiros vertebrados so animais silvestres como gambs, roedores, tamandus, tatus, candeos silvestres, primatas e preguias, co, gato, eqino e o homem (FEITOSA, 2006; COELHO et al, 2011). No ambiente domstico o co considerado o principal reservatrio epidemiolgico, devido alta suscetibilidade infeco, maior proximidade com os seres humanos, alm do parasitismo na pele observado nesse animal, o que gera dificuldades no controle da doena (SONODA, 2007; SILVA et al., 2011).

    No grupo das leishmanias que causam a Leishmaniose Visceral encontram-se as leishmanias do complexo donovani, na sia e frica, infantum, na sia, Europa e frica e chagasi nas Amricas (FEITOSA, 2006; COELHO et al, 2011).

    No Brasil, os primeiros possveis relatos ocorreram em 1911 quando Carlos Chagas suspeitou da ocorrncia dessa doena na regio do rio Amazonas (CHAGAS, 1937). Em 1934 Penna, a pesquisa sobre a febre amarela em Salvador detectou a presena de parasitos de Leishmania donovani em preparados histolgicos de fgado (PENNA, 1934). Posteriormente, atravs de estudos sobre a morfologia do parasita em cultura e no hospedeiro vertebrado, bem como de sua patognese, foi sugerido tratar-se de uma nova espcie do gnero Leishmania, sendo ento denominada de Leishmania chagasi, em homenagem Carlos Chagas (CHAGAS, 1937).

    Os fatores que favorecem a incidncia de LVC e expanso para diversas regies do Brasil esto relacionados ao uso e ocupao desordenada de reas de transio entre as zonas urbanas e rurais, promovendo o desequilbrio ambiental e consequente entrada do vetor e mamferos infectados em reas endenes (REICHMANN, 2006). Segundo Silva et al (2011) esse fato ocorre devido a dificuldade de eliminao rpida do reservatrio, diversidade epidemiolgicas das regies afetadas, capacidade

  • 2

    adaptativa do vetor, medidas insuficientes para o controle vetorial, custo financeiro e social elevados, alm de outros fatores at ento desconhecidos.

    No h evidncia de predisposio racial, sexual ou etria (FEITOSA, 2006; MEDLEAU & HNILICA, 2003). Geralmente causa uma infeco sistmica crnica, podendo ocorrer tambm de forma aguda levando o animal bito rapidamente de acordo com imunocompetncia do mesmo (FEITOSA, 2006). O perodo de incubao varia entre 1 ms vrios anos (BARR, 2005; FEITOSA, 2006), podendo evoluir para cura espontnea desse hospedeiro (FEITOSA, 2006).

    2. REVISO DA LITERATURA

    2.1 AGENTE ETIOLGICO

    No Brasil o agente etiolgico a Leishmania Chagasi. (GARCIA & MARCONDES, 2007). Inclui vrias espcies que so subdividas em duas formas: leishmaniose tegumentar (LT) que apresenta manifestaes cutneas, mucocutnea ou cutnea tegumentar e leishmaniose visceral (LV) que apresentam manifestaes viscerais e s vezes cutneas, comum no homem e nos ces. (SONODA, 2007; BANETH, 2006)

    Os parasitos, que so intracelulares obrigatrios, apresentam-se sob duas formas: a amastigota, presente nos vertebrados, aflagelar, contendo ncleo e cinetoplasto, que encontrada no interior de clulas do sistema mononuclear fagocitrio e pele; e a forma promastigota que possui ncleo, cinetoplasto, um flagelo livre e encontrada no tubo digestrio do inseto vetor (SONODA, 2007, SILVA, 2007; RIBEIRO, 2007). Sua multiplicao em ambos os hospedeiros ocorre por diviso binria (COELHO et al. 2011). Esse vetor denominado flebotomneo, conhecido popularmente como mosquito palha, birigui ou tatuquiras", que consistem de vrias espcies do gnero Lutzomya dentre as quais longipalpis e cruzi so encontradas no Brasil (FEITOSA, 2006).

    As formas amastigotas so reconhecidas pela sua forma esfrica ovide, medem 2 5 m e contm ncleo arredondado e um cinetoplasto alongado (FIG 01) (GARCIA & MARCONDES, 2007). A visualizao desse parasita depende do nmero de campos investigados sendo de fcil identificaa principalmente quando se apresentam em grande quantidade. Contudo em casos de animais assintomticos nos quais poucas formas amastigotas esto presentes ou em amostras diludas, podem ocorrer resultado falso negativo, podendo lanar mo de tcnicas mais sensveis e especfica como a imunohistoqumica, que consiste na utilizao de imunoglobulinas conjugadas a enzimas para identificar

  • 3

    antgenos em cortes histolgicos, citologia e esfregao sanguneo. Essa tcnica permite rpido diagnstico da infeco mesmo quando o nmero de parasitas baixo, utilizando principalmente tecidos como a pele, fgado e rgos linfides. Possui alta especificidade e sensibilidade variando entre 60 70% e permite detectar material gentico do antgeno no local da leso e alteraes anatomopatolgica (SONODA, 2007, GARCIA & MARCONDES, 2007).

    2.2 PATOGENIA

    A transmisso ocorre atravs da picada da fmea do vetor (SONODA, 2007) podendo ocorrer tambm atravs da picada de carrapato por contato direto entre o material infectado (lceras e secrees) e membranas mucosas ou pele lesionadas ou transfuses sanguneas (COELHO et al. 2011). O flebotomneo ingere junto com o sangue clulas do sistema mononuclear fagoctico, macrfagos e leuccitos parasitados pelas formas amastigotas presentes no local da picada. No tubo digestrio do mosquito, tais formas amastigotas transformam em promastigotas metacclica (infectantes), que se multiplicam e so inoculadas em outro hospedeiro no infectado. No vertebrado, transformam em amastigotas, ocorrendo disseminao linftica para outros tecidos ricos em clulas do sistema mononuclear fagocitrio. Dissemina-se ento, para os linfonodos, bao e medula ssea, fechando assim o ciclo da transmisso. Dependendo das propriedades do parasito e do hospedeiro, a leishmaniose visceral canina pode desenvolver-se sob a forma de infeco aguda ou crnica e latente ou auto-limitante (SONODA, 2007).

    Caractersticas genticas podem determinar diferentes respostas imunolgicas na espcie canina, sendo que alguns animais ou raas podem apresentar resposta mais efetiva que outros. O principal fator que influencia a evoluo da enfermidade a resposta das clulas T pelo hospedeiro Em camundongos demonstrou-se que os macrfagos, as clulas dendrticas e as clulas de Langerhans, infectadas por parasitas, atuam como clulas apresentadoras de antgenos ativando linfcitos (CD4+) Th1 e Th2. Caso sejam ativadas preferencialmente as clulas Th1 ocorrer produo de citocinas pr - inflamatrias, tais como interleucina-2 (IL-2), interferon gama (IFN-) e fator de necrose tumoral (FNT) os quais aumentaro a eficincia das clulas fagocticas e de linfonodos citotxicos, desencadeando uma reposta imune celular protetora, podendo haver controle do parasitismo com eliminao da infeco. (BANETH, 2006; SONODA, 2007). Em contraste, quando a infeco estiver associada com induo de linfcitos Th2, ocorrer a produo de citocinas antiinflamatrias, dentre elas as interleucinas 4, 5, 6,10 e 13, as quais desencadearo proliferao de clulas B com subseqente produo de imunoglobulinas e desenvolvimento da infeco, ou seja,uma resposta imune humoral no protetora. Est resposta humoral poder causar a exacerbao da infeco, sendo demostrada em muitos casos, uma hipergamaglobulinemia e altos ttulos de anticorpo produzidos pelos ces infectados. Com a regulao de linfcitos T prejudicada e aumento das atividades do B poder ocorrer formao de imunocomplexos circulantes, podendo causar vasculites, uvetes, glomerulonefrites e artrites. Os imunocomplexos podem tambm ligar os seus complementos s clulas sanguneas acarretando uma

  • 4

    diminuio de sua meia vida e evoluindo a quadros de anemia e trombocitopenia imunomediadas. Pelo fato da Leishmania ser parasita intracelular obrigatrio, as defesas do hospedeiro so extremamente dependentes da atividade dos linfcitos T. Caso os linfcitos T dos rgos linfides estejam depletados haver uma proliferao das clulas B, em resposta infeco e conseqentemente sem o suporte das clulas T, os macrfagos no sero capazes de eliminar as formas amastigotas, evoluindo para uma disseminao dos parasitas por todo o corpo. Em uma infeco natural, poder haver ativao tanto dos subtipos Th1 quanto Th2, sendo que a variedade dos sinais clnicos e a gravidade da doena dependero do equilbrio entre esses dois sistemas (SONODA, 2007).

    A resistncia infeco associada ativao de clulas TCD4 + th1 especficas para Leishmania spp, que produzem IFN- e, desse modo, ativam os macrfagos para destrurem as amastigotas intracelulares (MACHADO et al., 2007).

    2.3 ASPECTOS CLNICOS

    O quadro clnico varivel, condicionada a imunocompetncia individual do co, da cepa do parasito inoculado e dos rgos acometidos (SONODA, 2007; SILVA, 2007; ALBUQUERQUE et al., 2007; SILVA et al.,2011).

    Os ces positivos podem ser classificados clinicamente como assintomticos, oligossintomticos e sintomticos, sendo essa classificao ligada diretamente reposta imunolgica dos animais acometidos. Na forma assintomtica os animais no apresentam sinais clnicos de infeco por se encontrar em fase inicial (COELHO et al, 2011) e ocorre principalmente em reas endmicas (SONODA, 2007), podendo representar cerca de 40 60% da populao soropositiva (SILVA et al., 2011). Na forma oligossintomtica, podem apresentar sinais clnicos leves e/ou tegumentar, com at trs tipos de manifestaes. Por fim a sintomtica, onde os acometidos apresentam mais de trs manifestaes clnicas caractersticas da doena com ou sem comprometimento tegumentar. (SONODA, 2007, ALBUQUERQUE et al., 2007).

    Os quadros dermatolgicos so muito comuns na LVC, podendo estar presente de forma isolada ou concomitante a outros sinais clnicos. Geralmente as leses so representadas por excessiva descamao tegumentar localizada, acometendo principalmente pavilhes auriculares e regio periocular (Fig 01), eczema, alopecia, ou difusa, causando dispigmentao, hiperqueratose, rarefao pilosa, lceras (Fig 02), ndulos intradrmicos na mufla, pina, orelha e coxins, onicocrifose sendo este ltimo decorrente da presena do parasita na matriz ungueal. (SONODA, 2007, ALBUQUERQUE et al., 2007, NELSON & COUTO, 2006; BREITSCHWERDT, 1997; TILEY & JUNIOR, 2003).

  • 5

    Figura 01 - Descamao de orelha e face.

    Fonte: Baneth, 2006.

    Figura 02 - Ulceraes mucocutnea

    Fonte: Baneth, 2006.

  • 6

    Animais com sinais dermatolgicos certamente vo apresentar quadros sistmicos, sendo que os parasitos esto disseminados por todo o corpo antes do aparecimento das leses cutneas (FEITOSA, 2006; BREITSCHWERDT, 1997).

    Os sinais clnicos comumente observados, porm inespecficos so descritos como febre irregular, anemia, perda progressiva de peso e caquexia (fig 03.) no estgio final (BANETH, 2006). A anemia pode ocorrer devido perda de sangue, lise das hemcias ou diminuio da eritropoiese decorrente da hipoplasia ou aplasia medular (FEITOSA, 2006; RASKIN, 2003).

    Figura 03 - Caquexia e emaciao em co com leishmaniose visceral canina.

    Fonte: Baneth, 2006.

    Nos rgos linfides facilmente notvel a linfoadenomegalia e hepatoesplenomegalia (FEITOSA, 2006).

    Animais com leishmaniose podem apresentar glomerulonefrite e nefrite intersticial levando uma insuficincia renal decorrente da deposio de imunocomplexos nos rins, sendo considerada uma importante causa de morte em ces doentes (FEITOSA, 2006; TILEY & JUNIOR, 2003).

    Decorrente da multiplicao do parasita em macrfagos do fgado pode desenvolver uma hepatite ativa crnica, e ocasionalmente, vmito, poliria, polidpsia, anorexia e perda de peso (FEITOSA, 2006). A ictercia tambm pode ser identificada no exame clnico (NELSON & COUTO, 2006; BREITSCHWERDT, 1997).

  • 7

    Alguns animais apresentam diarria e melena devido presena de ulceraes de mucosa gastroentrica, pneumonia interticial, miocardite aguda e pericardite. Outros ces apresentam diteses hemorrgicas observadas clinicamente na forma de hematria, petquias e sufuses e principalmente epistaxe (Fig 04). Outras causas para ocorrncia de hemorragia incluem: vasculites, hiperglobulinemia, uremia, seqestro esplnico de plaquetas, trombocitopenia e anemia. (FEITOSA, 2006).

    Figura 04 - Epistaxe em So Bernardo com leishmaniose e sem leses drmicas.

    Fonte: Baneth, 2006.

    As leses oculares mais comuns so as blefarites seguidas de ceratoconjuntivite bilateral. Uvete (figura 5) bilateral associada um edema de crnea e formao de sinquia tambm pode ser encontrada (FEITOSA, 2006; BREITSCHWERDT, 1997).

  • 8

    Figura 05 Uvete em co com leishmaniose

    Fonte: Baneth, 2006.

    Dentre as alteraes neurolgicas em ces com leishmaniose destacam-se tetraparesia, convulso, mioclonias, andar em crculos, nistagmo, tremor de intenso, alteraes em nervos cranianos, decorrente da deposio de imunocomplexos em sistema nervoso ou infeco secundria (FEITOSA, 2006).

    No sistema musculoesqueltico as leishmanias podem desenvolver mioatrofia inicialmente nos msculos da fossas temporais, poliartrite, sinovite, polimiosite, osteomielite (FEITOSA, 2006; BREITSCHWERDT, 1997).

    A imunossupresso pode desencadear infeces oportunistas secundrias, como cistite, pneumonias bacterianas, piodermites, malassezase, dermatofitose e demodicidose, alm de infeces parasitrias concomitantes com Erliquiose, Babesiose, Hepatozoones e Dirofilariose em reas endmicas (FEITOSA, 2006; BANETH, 2006).

    A Leishmaniose pode estar associada a causas primrias de supresso do sistema imunolgico do hospedeiro; Dentre elas podemos citar doenas parasitrias, infecciosas, neoplsica, imunomediada e uso de alguns frmacos (FEITOSA, 2006; (NELSON & COUTO, 2006; SONODA, 2007).

    2.4 DIAGNSTICO

    Devido os sinais clnicos serem muito variados e pouco especfico, de extrema importncia e necessrio a utilizao de exames laboratoriais complementares, como testes sorolgicos,

  • 9

    parasitolgico, imunohistoqumico e moleculares para diagnstico dessa enfermidade, assim como levantamento epidemiolgico regional. (SONODA, 2007; SILVA, 2007).

    Em infeces naturais se torna importante reunir mltiplos mtodos diagnsticos, sendo que o uso isolado de uma determinada tcnica pode no constatar todos os animais infectados (GARCIA & MARCONDES, 2007)

    importante levar em considerao que enquanto a prevalncia de sinais clnicos de ces em reas endmicas pode chegar 50% ou mais, a prevalncia da doena clnica ocorre entre 3 e 10%, demonstrando que a maioria dos ces infectados no manifestam sinais clnicos o que dificulta o diagnstico (GARCIA & MARCONDES, 2007).

    As alteraes laboratoriais encontradas no hemograma, ou nos exames de funo renal e/ou heptica so inespecficas; As alteraes hematolgicas se caracterizam pela presena de anemia, geralmente normoctica normocrmica, podendo ser regenerativa ou arregenerativa, hiperproteinemia com hiperglobulinemia e hipoalbuminemia, trombocitopenia, linfopenia ou panleucopenia onde todos os leuccitos esto reduzidos em numero, ou leucocitose com desvio esquerda. Pode ocorrer ainda azotemia e aumento das atividades das enzimas hepticas (SONODA, 2007; GARCIA & MARCONDES, 2007; BUSH, 2004; NELSON & COUTO, 2006; TILEY & JUNIOR, 2003; BARR, 2005) e proteinria. Animais acometidos podem tambm apresentar positividade para teste de Coombs, anticorpos antinucleares e teste para avaliar a presena de clulas de lpus eritematoso (LAPPIN, 2004; TILEY & JUNIOR, 2003; BARR, 2005).

    Em virtude da necessidade de notificao compulsria da doena o diagnstico deve ser realizado de forma mais precisa possvel. At o momento no est disponvel um teste diagnstico que apresente 100% de especificidade e sensibilidade para a doena, sendo assim muito importante que se conhea o mtodo a ser utilizado e sua interpretao assim como suas limitaes (GARCIA & MARCONDES, 2007).

    O parasitolgico o mtodo de eleio, e consiste na visualizao de formas amastigotas de Leishmania (Fig 06 e 07) livres ou no interior de macrfagos (LAPPIN, 2004). Podem estar presente em linfonodos, medula ssea, bao ou fgado, que so os rgos mais parasitados, e ndulos cutneos, realizados atravs de puno aspirativa (SONODA, 2007; NELSON & COUTO, 2006; RASKIN, 2003). Pode ser realizado atravs da citologia aspirativa e corados com Giensa, Wright e Pantico. A especificidade desse mtodo elevada podendo ser reduzida de acordo com o tempo despendido para encontrar o parasita podendo chegar no mximo 80% em ces sintomticos e menores ainda em ces assintomticos. A sensibilidade depende do grau de parasitemia, tipo de material biolgico coletado e tempo de leitura da lmina (GARCIA & MARCONDES, 2007).

  • 10

    Figura 06 e 07 Formas promastigotas de Leishmania sp

    Fonte: Baneth, 2006.

    Dentre as tcnicas sorolgicas atualmente empregadas para a deteco de anticorpos anti-Leishmania esto o ensaio imunoenzimtico (ELISA) e a reao de imunofluorescncia indireta (RIFI). Essas duas tcnicas sorolgicas so recomendadas pelo Ministrio da Sade para avaliao da soroprevalncia em inquritos caninos amostrais e censitrios, o ELISA por estar em fase de implantao, inicialmente est sendo recomendado para a triagem de ces sorologicamente negativos e a RIFI para a confirmao dos ces sororreagentes ao teste ELISA ou como uma tcnica diagnstica de rotina. (MINISTRIO DA SADE, 2006, GARCIA & MARCONDES, 2007; SILVA et al., 2011).

    De acordo com ministrio da sade (2006) animais com titulao maior ou igual 40 no teste RIFI possuem indicao de eutansia visando interrupo do ciclo de transmisso (MINISTRIO DA SADE, 2006; SILVA et al., 2011).

    Em reas endmicas, a positividade no suficiente, embora demonstrem sensibilidade e especificidade adequadas, podem apresentar reaes falso positivas ou falso negativas. Animais doentes desenvolvem principalmente uma resposta imune humoral e produzem altos ttulos de anticorpos IgG anti-Leihmania sp. A soroconverso pode ocorrer trs meses aps infeco e os ttulos podem permanecer elevados por pelo menos dois anos. (SONODA, 2007). Entretanto os testes podem falhar por no serem 100% sensveis em detectar ces infectados no perodo pr - patentes e antes da soroconverso, em animais que nunca faro a soroconverso e ainda em ces soropositivos que se convertem em soro negativos, mas ainda permanecem infectados. Animais com menos de trs meses de idade no deve ser avaliados por mtodos sorolgicos, pois podem apresentar resultados positivos pela presena de anticorpos maternos (GARCIA & MARCONDES, 2007).

    A colheita do material biolgico pode ser realizada utilizando soro sanguneo ou ainda por meio da obteno de um eluato (sangue eludo), que consiste na coleta de amostras de sangue atravs da puno da veia marginal auricular do co com auxlio de microlancetas e transferidas por capilares para

  • 11

    papel filtro padronizado, porm menos sensvel quando comparado ao soro GARCIA & MARCONDES, 2007).

    A RIFI tem demonstrado sensibilidade que varia entre 68 e 100% e especificidade entre 74 e 100%, sendo que est ltima prejudicada devido ocorrncia de reaes cruzadas com doenas causadas por outros tripanosomatdeos e outros microorganismo (GARCIA & MARCONDES, 2007).

    O teste de ELISA tambm um dos testes utilizados, sendo bastante sensvel detectando baixos ttulos de anticorpos, mas pouco preciso na deteco de casos pr-clnicos ou assintomticos. A sensibilidade pode variar entre 71% e 99,5% e especificidade entre 85% e 100% (GARCIA & MARCONDES, 2007); dependendo do antgeno utilizado que so na maioria das vezes derivados de promastigotas de cultura, parasitas totais, lisados ou recombinantes e de mudana no protocolo experimental padro (tempo de incubao ou tipo de microplacas utilizadas). (SONODA, 2007, GARCIA & MARCONDES, 2007).

    Existem ainda testes comerciais de imunocromatografia, que consiste de mtodos que empregam anticorpos monoclonais anti-IgG de co e antgenos de Leishmania de diferentes fontes, so de fcil manuseio e rpido resultado e possuem especificidade entre 61% e 100% e sensibilidade variando de 35% 100% (GARCIA & MARCONDES, 2007).

    Dentre os mtodos de diagnsticos moleculares a reao em cadeia da polimerase (PCR), que permite identificar e amplificar seletivamente sequncias de DNA do parasito em medula ssea, bipsia cutnea, aspirados de linfonodos, sangue, cortes histolgicos de tecidos e tambm do vetor (GARCIA & MARCONDES, 2007).

    O histopatolgico pouco especfico caracteriza uma reao inflamatria granulomatosa com presena de clulas mononucleares, comuns vrias dermatoses, sendo assim quando h poucas formas de amastigotas nos tecidos pode tornar-se difcil o diagnstico somente pela histopatologia. (SONODA, 2007).

    Os achados patolgicos mais comuns so infiltrao celular (principalmente histicitos e macrofgos) e formas amastigotas intracelulares caractersticas identificadas em muitos tecidos como: pele, linfonodo, fgado, bao e rim. lceraes em estmago, intestino e coln tambm podem ser encontrados, porm mais raro (BARR, 2005).

    2.5 DIAGNSTICO DIFERENCIAL Poder ter o diagnstico diferencial com micoses (blastomicoses, histoplasmose), Lpus

    eritematoso sistmico, neoplasia metasttica, cinomose e vasculite (BARR, 2006). Pode se assemelhar tambm com doenas cutneas seborricas, nodulares e erosivas/ulcerativas (MEDLEAU & HNILICA, 2003).

  • 12

    2.6 TRATAMENTO De acordo com a portaria do ministrio da sade est proibido o tratamento de LVC com produto de uso humano, ou no registrados no ministrio da agricultura, pecuria e abastecimento. (MINISTRIO DA SADE, 2006).

    Dentre os frmacos que atuam contra a leishmaniose podemos citar os antimoniais como sendo o de melhor eficcia e primria droga utilizada para tratmento de ces e humanos (BREITSCHWERDT, 1997; BANETH,2006). Seu mecanismo de ao se baseia no bloqueio do metabolismo do parasito por meio da inibio da enzima fosfofrutoquinase, enzima da gluconeognese, que leva o parasita morte; proibido o uso desse medicamento para tratamento de LVC no Brasil, devido a distribuio no pas exclusivamente para o Ministrio da Sade (RIBEIRO, 2007). contra indicado para animais nefropatas, pois nefrotxico e a eliminao renal (RIBEIRO, 2007; BARR, 2005).

    O Alopurinol um frmaco leishmaniosttico, de baixa toxicidade, que atua na incorporao ao RNA do parasita, alternando sua sntese protica, inibindo sua multiplicao, e posteriormente, levando morte (RIBEIRO, 2007). um frmaco muito eficaz no tratamento de ces com LVC (BARR, 2005). A associao do alopurinol com um composto antimnio pode proporcionar melhor resposta que quando utilizados separadamente (MEDLEAU & HNILICA, 2003).

    A Anfotericina B um antibitico que atua ligando aos esteris da membrana das leishmanias, alterando sua permeabilidade, levando perda de potssio, aminocido e purinas provocando morte (RIBEIRO, 2007). Devido seu efeito vasoconstritor renal, diminuindo a taxa de filtrao glomerular, tambm considerado um frmaco nefrotxico (RIBEIRO, 2007). O cetoconazol e itraconazol tambm podem ser utilizados com eficcia varivel (MEDLEAU & HNILICA, 2003).

    A aminosidina uma antibitico pertecente ao grupo dos aminoglicosdeos, que atua inibindo sntese protica, provocando alteraes de permeabilidade da membrana plasmtica do parasito. uma frmaco nefrotxico e ototoxico,no comercializado no Brasil (RIBEIRO, 2007).

    O grupo dos imidazis composto pelo cetoconazol e miconazol e os triazis composto pelo fluconazol e itraconazol possuem o mecanismo de ao baseado na inibio da sntese do ergosterol, componente da membrana celular de fungos e Leishmania. So frmacos de uso restrito para o tratamento de LVC, embora apresente perspectiva na terapia de manuteno (RIBEIRO, 2007).

    A pentamidina uma frmaco considerado de segunda escolha,devido sua toxicidade ser considerada maior quando comparada a outros frmacos, menor eficcia e maior tempo de durao do tratamento. Seu mecanismo de ao est baseado na inibio da sntese de poliamina e do DNA do cinetoplasto do parasita embora no esteja totalmente elucidado (RIBEIRO, 2007).

    A Miltefosina, cujo mecanismo de ao se baseia na inibio da biosntese dos fosfolipdeos da Leishmania, possui ao antimetablica e promove alterao da biossntese de glicolipdeos e

  • 13

    glicoprotenas da membrana do parasito. Sua eficcia est sendo comparada aos antimoniais (RIBEIRO, 2007).

    Medicamentos alternativos podem ser associados juntamente com os protocolos usuais especficos para o parasita, como caso dos imunomoduladores. Dentre eles os corticosterides, principalmente a prednisona e prednisolona, tem sido usada como drogas imunossupressora com o objetivo de suprimir a imunidade humoral, diminuindo a produo de anticorpo e consequentemente a formao de imunocomplexos. J os imunoestimulantes, como o Levamisol e mais recentemente a Domperidona, ativam os linfcitos T que secundariamente ativam os macrfagos melhorando a resposta imune celular (RIBEIRO, 2007).

    Tratamento de suporte pode ser necessrio, de acordo com o estado clnico e efeitos colaterais que podem ocorrer dependendo do protocolo de tratamento estabelecido. Devido imunossupresso os animais podem apresentar infeces bacterianas secundrias, sendo de extrema importncia o uso de antibiticos, assim como de renoprotetores (cetoanlogos, dietas teraputicas direcionadas para nefropatas, fluidoterapia, acidificantes urinrios, complexos vitamnicos), evitando um quadro urmico, e acaricidas que podem dificultar a recuperao do paciente principalmente a demodicose pelo seu aspecto imunomediado. A anemia s vezes precisa se corrigida com transfuses sanguneas (RIBEIRO, 2007; TILEY & JUNIOR, 2003; BARR, 2005).

    Ainda no existe protocolo teraputico altamente efetivo, que permita a reintroduo segura dos animais no domiclio, sem riscos de infeco para os proprietrios e contactantes. Recomenda-se o uso de medidas de segurana contra os vetores, direcionadas para o co e ambiente (RIBEIRO, 2007). Embora o tratamento muitas vezes conseguir cura clnica dos ces acometidos, raramente produz a eliminao completa do parasita e as recidivas so freqentes (COELHO et al, 2011).

    Animais emaciados, cronicamente infectados considerar eutansia (BARR, 2005). Assim como aqueles com insuficincias renal crnica que possuem mal prognstico (BARR, 2005; FEITOSA, 2006; MEDLEAU & HNILICA, 2003).

    2.7 PREVENO E CONTROLE

    Um princpio bsico para a preveno evitar o contato entre o vetor infectado e o co. Dessa forma medidas contra o vetor deve ser adotadas no ambiente e centradas no co. Outras prticas como a vacinao e o uso de inseticidas tpicos em forma de loes ou coleiras tem sido cogitadas como medidas preventivas (RIBEIRO, 2007).

  • 14

    Vrios autores, como Medleau &Hnilica(2004), Borashi & Nunes(2007) e Ribeiro (2007), citam como medidas preventivas relacionadas ao vetor:

    Utilizar telas de malhas finas nos canis e residncia/ mosquiteiros e repelentes; Cuidado de limpeza do ambiente, como retirada de matria orgnica, aplicao

    de inseticidas ambientais, base de deltametrina e cipermetrina, em aplicaes semestrais; Uso de plantas repelentes de insetos, como a citronela; No viajar com ces em reas endmicas; Manter os ces em ambientes fechados um hora antes do pr do sol at uma

    hora depois do amanhecer; Usar repelentes e inseticidas tpicos; Utilizao permanente de colar inseticida base de deltametrina 4%, substitudo

    a cada 6 meses; Aplicao tpica de permetrina a cada 15 a 30 dias como alternativa para

    animais que apresentem reao alrgica ou submetidos a banhos freqentes; No realizao de passeios crepusculares, horrio de maior atividade dos

    flebotomneos, privilegiando os passeios diurnos.

    A vacinao outro mtodo destinado a preveno da doena em ces. A vacina formulada pelo laboratrio Fort Dodge denominada Leishmune composta pelo antgeno complexo glicoprotico ligante de fucose e manose (FML) de Leishmania donovani e o adjuvante saponina, cuja eficcia varia de 76 80%. Possue ao bloqueadora de transmisso, protegendo os ces da incidncia e morbidade. A Leish-tec vacina produzida pelo laboratrio Hertape Calier originada da protena recombinate A2 associada saponina, sendo nica vacina recombinante contra Leishamniose no mundo.

    O protocolo de vacinao dever seguir o esquema de 3 doses de 1 ml por via subcutnea com intervalo mnimo de 21 dias cada, repetido anualmente. Somente animais assintomticos e soronegativos devem ser vacinados.

    Embora o homem tambm possa atuar como reservatrio do agente, os ces so mais importantes na cadeia epidemiolgica da doena, por ser a principal fonte de infeco do vetor. Sendo assim os ces tem sido alvo dos programas de controle no Brasil, sendo recomendada a eliminao de animais doentes e de soropositivos Diante desse fato, surge outro grande problema relacionado ao aspecto emocional dos proprietrios desses animais, visto que cada vez mais os ces esto freqentando ambientes familiares e a doena se urbanizando (RIBEIRO, 2007).

    Segundo Ribeiro (2007) a Organizao Mundial de Sade preconiza a eutansia de animais infectados como medida ideal de controle, mas reconhece as limitaes dessa prtica em ces de alto valor efetivo e econmico, enquanto que estudo recente tem mostrado que essa medida no est alando resultados que justifiquem esse mtodo drstico; Acreditava-se que a ineficincia desse mtodo

  • 15

    em questo, poderia estar relacionada com a alta incidncia da infeco e transmissibilidade desses animais, insensibilidade dos testes diagnsticos para detectar ces infecciosos e do tempo entre o diagnstico e a eliminao dos animais; E mesmo com a implantao de protocolos mais otimizados, testes sorolgicos mais sensveis, diminuio do tempo entre diagnstico e remoo de ces soropositivos, alm de seleo de ces expostos infeco a situao se repete, no reduzindo de forma significativa a incidncia de LVC, provando mais uma vez que o sacrifcio desses animais no o melhor mtodo de controle dessa enfermidade. Esse fato pode estar relacionado com o fato dos mtodos diagnsticos no identificar todos os ces infectados, reposio dos ces por filhotes susceptveis ou por ces j infectados e a possvel existncia de outros reservatrios.

    3. CONSIDERAES FINAIS

    Enfim, o trabalho buscou demonstrar que a Leishmaniose Visceral Canina uma enfermidade de grande importncia em sade pblica, devido seu potencial zoontico e crescente incidncia nvel mundial. Portanto, de extrema importncia obter um diagnstico preciso para ces positivos, pois a eutansia desses animais no se comprovou como sendo um mtodo muito eficaz, alm da necessidade de exercer as diversas medidas de preveno e controle adicionais.

  • 16

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BANETH, G. Leishmaniasis. In: GREENE, C.E. Infectious diseases of the dog and cat. 3a ed. Canada: Saunders Elsever, 2006, cap.73, p.685-698.

    BIRCHARD, S; SHERDING, R. Manual Saunders: clnica de pequenos animais. 2 ed. So Paulo: Roca, 2003. p.176 -177.

    BORASCHI, C. S. S; NUNES, C. M. Aspectos epidemiolgicos da leishmaniose visceral canina urbana no Brasil. Revista clnica veterinria. n.71 p. 44 - 48 nov./ dez. 2007.

    CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINRIA DE MINAS GERAIS. Portaria do Ministrio da Sade sobre Leishmaniose. CRMV-MG Belo Horizonte: 2008. Disponvel em: . Acesso em: 14 de mai. 2012.

    ETTINGER, S. J; FELDMAN, E.C. Tratado de medicina interna veterinria: Doenas do co e do gato. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan V 01. p 437-438, 2004.

    EUSTQUIO, H.C; CARVALHO, T. F; ALBERTO. H; FERNANDES, J.M; SOUZA, K. B; MAGALHES, A. O. C; BARBOSA, C. H. G. Ocorrncia de leishmaniose visceral em um co em Uberaba-Minas Gerais. Revista cientfica eletrnica de medicina veterinria ISSN: 1679 7353. Ano IX n 16/janeiro de 2011. Peridicos semestrais.

    FEITOSA, M.M. Alteraes clnicas de animais naturalmente infectados. Anais... Primeiro Frum sobre Leishmaniose Visceral Canina. Jaboticabal: Faculdade de Cincias Agrrias e Veterinrias Universidade Estadual Paulista, p 9-14, 2006.

    GARCIA, F.A. I; MARCONDES, M. Mtodos de diagnstico da leishmaniose visceral canina. Revista clnica veterinria. n.71, p. 34-42, nov./ dez. 2007.

    HERTAPE CALIER SAUDE ANIMAL. Leish-tec. Hertape Calier Saude Animal S/A 2010. Disponvel em: . Acesso em: 15 de mai. 2012.

    LUVIZOTTO, M. C. R. Alteraes patolgicas em animais naturalmente infectados. Anais: Primeiro Frum sobre Leishmaniose Visceral Canina. Jaboticabal: Faculdade de Cincias Agrrias e Veterinrias Universidade Estadual Paulista, p 15-22, 2006.

    MACHADO, J. G; HOFFMAN, J. L; LANGONI, H. Imunopatologia da leishmaniose visceral canina. Revista clnica veterinria. n.71, p. 50-58, nov./ dez. 2007.

    MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de pequenos animais: Atlas Colorido e Guia Teraputico. So Paulo: Roca. 200. p. 99-100.

  • 17

    MINISTRIO DA SADE. Manual de vigilncia e controle da leishmaniose visceral. Srie: normas e manuais tcnicos. Braslia, 120p. 2006.

    NELSON, R. W; COUTO. C.G. Medicina Interna de pequenos animais. 2ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2001, p.1037-1038.

    REICHMANN, M.T. A. B. Leishmaniose Visceral Canina Uma zoonose emergente. Anais: Primeiro Frum sobre Leishmaniose Visceral Canina. Jaboticabal: Faculdade de Cincias Agrrias e Veterinrias Universidade Estadual Paulista, p 7 e 8, 2006.

    RHODES, K. H. Dermatologia de pequenos animais: Consulta em 5 minutos. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. p. 346 - 349.

    RIBEIRO, V. M. Leishmaniose visceral canina: aspecto de tratamento e controle. Revista clnica veterinria. n71 p. 66-76 nov./ dez. 2007.

    SILVA, D. A; PERI, C. F. D; JUNIOR, A. A. V. M.; MADEIRA, M. F; FIGUEIREDO, F. BO. Leishmaniose visceral canina em Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro Relato de caso. Revista clnica veterinria. n. 95 p. 65-68 nov./ dez. 2011.

    SONODA, M. C. Leishmaniose visceral canina: aspectos clnicos epidemiolgicos de casos atendidos no perodo de 1997 2007, no Hospital Veterinrio da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo. 2007. Dissertao de mestrado. Universidade de So Paulo, So Paulo.

    TILEY, P.L; JUNIOR, F.W.K.S. Consulta veterinria em 5 minutos: Espcies canina e felina vol. 2 ed 2003 892p. Editora Manole.