lei nacional de aprendizagem uma abordagem crítica dos projetos de formação de aprendizes

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Lei Nacional de Aprendizagem Uma abordagem crítica dos projetos de formação de aprendizes Paulo Bastos Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação LIEAS - Laboratório de Investigações em Educação, Ambiente e Sociedade Resumo A precariedade observada na inserção de jovens no mercado de trabalho foi um fator relevante para que nos anos 80 e 90 fossem elaboradas estratégias focadas na juventude com o objetivo de reverter esta situação. O presente trabalho propõe uma análise preliminar de uma dessas iniciativas, a Lei Nacional de Aprendizagem. Criada pela Lei 10097 de 2000, durante o governo Cardoso, e modificada até o Decreto 5595 de 2005, já no Governo Lula, a referida Lei garante a contratação de jovens na forma de aprendizes, obrigando que grandes empresas devam contratar de 5 a 15% de seu efetivo de jovens incluídos nesta modalidade. Também está presente na legislação a condição de que os jovens contratados devem freqüentar, ou terem frequentados cursos de aprendizagem realizados por instituições do Sistema S, ou organizações da sociedade civil que tenham experiência comprovada na área de atuação do aprendiz. È neste ponto que surgem as inquietações que motivaram este trabalho, pois apesar de citar a necessidade deste processo de formação, a presente Lei não faz referência ao conteúdo, a ser disponibilizado aos participantes, somente no site do Ministério do trabalho aparecem sugestões para a formulação de conteúdos de formação humana para cursos de aprendizagem. Esta não definição de conteúdos interessa a quem ? Ela está relacionada a flexibilização? Liberalização da formação? Essas condições podem estar relacionadas a uma precarização do trabalho jovem? E como são operadas essas parcerias entre Estado, Sociedade civil, e empresas? Estas questões nos parecem pertinentes para compreender as políticas voltadas para a formação/ qualificação profissionais, neste caso com foco na juventude. O presente trabalho apresenta, de forma inicial, questões que pretendem colaborar com uma reflexão crítica das políticas públicas orientadas para este público. Palavras chaves: aprendizagem- políticas de qualificação- trabalho- Sociedade Civil

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Lei Nacional de AprendizagemUma abordagem crtica dos projetos de formao de aprendizesPaulo BastosUniversidade Federal do Rio de JaneiroCentro de Filosofia e Cincias HumanasFaculdade de EducaoPrograma de Ps-Graduao em Educao!E"# - a$oratrio de !nvestiga%es em Educao& "m$iente e #ociedadeResumo" 'recariedade o$servada na insero de (ovens no mercado de tra$al)o foi um fator relevante 'ara *ue nos anos +, e -, fossem ela$oradas estrat.gias focadas na(uventudecomoo$(etivodereverter estasituao/ 0'resentetra$al)o 'ro'%eumaan1lise'reliminar deumadessasiniciativas& aei 2acional de "'rendi3agem/Criada 'ela ei 4,,-5 de 6,,,& durante o governo Cardoso& e modificadaat.o7ecreto88-8de6,,8& (1noGovernoula& areferidaei garante a contratao de (ovens na forma de a'rendi3es& o$rigando *ue grandes em'resas devam contratar de 8 a 489 de seu efetivo de (ovens inclu:dos nesta modalidade/ ;am$.m est1 'resente na legislao a condio de *ue os (ovens contratados devemfre*im'ortantefrisar*uetodososcursosde"'rendi3agemdevemser cadastrados no site do @inist.rio do ;ra$al)o& 'ara fins de monitoramento& e fiscali3ao/50utro fator im'ortante& tema ver comesta fiscali3ao/ @uitas ve3es os a'rendi3es so contratados 'ara servirem de mo de o$ra mais $arata&e desta forma aca$amocu'ando cargos& e fun%es *ue deveriamser ocu'ados 'or 'rofissionais devidamente remunerados& e 're'aradas 'ara tal& uma fala Ilevantada em 'es*uisa feita 'elo autor& 6,,-J *ue materiali3a esta situao . a do administrador de o$ras de uma em'resa de grande 'orte na 1rea de Engen)aria com o$ra na cidade do Rio de Janeiro& *ue di3Cestamosmuitoimpressionadoscomotrabalhodosaprendizes, elessoto bons no $ue fazem, $ue %! no preciso mais contratar outro funcion!rio para fazer um trabalho$ueoaprendizfaz&&&ali!sestamospensandoemcontratarmaisaprendizes para diminuir o custo da obraFiscali3ar 'ol:ticas '?$licas nunca.f1cil& segundodadosdo@;E& )o(eno Drasil so4F-/HH,a'rendi3es& somentenoRiodeJaneiroso-,8F& es'al)adosem 445+ entidades a n:vel nacional& e -H na ca'ital Fluminense/ ;odos estes (ovens so de res'onsa$ilidade das 7elegacias Regionais do ;ra$al)o& *ue contamcomefetivo redu3ido na maioria das ve3es 'ara garantir a fiscali3ao desta 'ol:tica/Em ;ra$al)o e Con)ecimento C 7ilemas na Educao do ;ra$al)ador I4-+5J& Frigotto afirma *ue 'arece ser dif:cil 'ensar em um tra$al)o educativo *ue& efetivamentesearticuleaosinteressesdostra$al)adores& dasclasses'o'ulares/ Esta afirmao nos 'arece ser 'ertinente no desenvolvimento desta an1lise/ Contratados de forma 'rec1ria& I$ai=a remunerao& contrato 'r. S determinadoJ& os (ovens so muitas ve3es orientados a res'onder as e=igncias do mercado& treinados 'ara ad*uirir com'etncias& e )a$ilidades *ue so condi%es 'ara uma carreira de sucesso no mercado/ Palavrascomo'r-atividade& em'reendedorismo& 'osturaemam$ientesde tra$al)o& coo'erao& tra$al)odee*ui'esocomumenteo$servadas emcursos de a'rendi3agem/ 2oCadernodo"'rendi3doPrograma"'rendi3egal daFundao Ro$erto @arin)o& na '1gina 6E 'odemos lerC' incerteza e a inse(uran)a frente ao desafio de conse(uir $ualificar*se para o trabalhoestopresentesnafalade(randepartedos%o+ens&&&'participa)onestepro(rama intensifica, de modo concreto, suas chances de inserir*se e desen+ol+er*se no mundo do trabalho&6"citao acima mostra *ue a 'artici'ao em'rocessos de a'rendi3agem conferemaoseu'artici'anteac)ancedeinseri-senomundodotra$al)o& emoutra 'assagem& o manual garante *ue o a'rendi3 'ossuiu autonomia 'ara criar sua carreira/ 7e*ueforma'odemos entender essasfalas AEmres'ostas aosnovos'aradigmas surgidos no mundo do tra$al)o& os governos de orienta%es li$erais& vem e=ecutando 'ol:ticas de formao& na crena de *ue a *ualificao . a sa:da 'ara o enfrentamento da *uesto do desem'rego& Horta& mostra *ue a funo manifesta de formao 'rofissional corres'onde a funo no manifesta de re'roduoB *ualificao da fora de tra$al)o& e *ue a interveno do Estado nas forma%es sociais visa garantir a re'roduo das foras 'rodutivas& e das rela%es de 'roduo atrav.s do sistema educacional/Finalmente.im'ortanteinvestigar asinten%es 'resentes natr:adeEstados- 0rgani3a%esnogovernamentais- Em'resas/ Evidentementecadaumdessesatores 'ossuem interesses em 'rocessos de formao/ Ca I6,,5J& coloca *ue os em'res1rios al.mdedefender seusinteressesIre'roduodoca'italismoB $uscademais valiaJ& 'recisam demonstrar *ue o'eram em uma lgica de mel)oria da *ualidade de vida dos cidados& e dessa forma vo aceitar com satisfao a mediao 'resente na legislao da lei nacional de "'rendi3agem& seguindo este racioc:nio as ongs atuam de acordo com uma 'r1tica de terceiri3ao& onde elas devem ser as res'ons1veis 'ela *uest%es sociais&e *ue estas no 'odem ser uma 'rioridade do Estado& e finalmente o Estado *ue deve estar focado em ela$orar& e financiar& e fiscali3ar 'ol:ticas '?$licas/Finalmente 'odemos analisar esta relao& 'resente na im'lantao desta 'ol:tica 'ara (uventude& onde as entidades da sociedade civil se a'resentamcomo atores diferenciados do Estado& a'tas a oferecerem servios antes oferecidos 'or este& como a formaodeuma(uventudedevidamente're'arada'araserinseridanomercadode tra$al)o/"*ui ca$e uma im'ortante indagao levantada ao longo deste tra$al)o 'odemos 'ensar em uma sociedade civil descolada do Estado& nos 'arece *ue no& como 'odemos ler em Gramsci& *uando nos mostra *ue Estado . a sociedade civil mais a sociedade 'ol:tica& e *ue a 'rimeira& longe de ser um cam'o de coeso& . (ustamente o cam'o das dis'utas *ue devem ser travadas 'ara convergir em uma )egemonia/ #endo assim nos 'areceevidente*ueasociedadecivil .a'r'riare'resentaoda)egemoniadas classes dominantes& e& 'ortanto os 'rocessos de formao oferecidos 'or esta entidades 7so muitas ve3es guiadas 'or uma lgica de 'er'etuao da dominao& e e='lorao do tra$al)ador/Conclus%es finaisFinalmente nos 'arece *ue os 'rocessos deformaoestoinseridos numa lgica de 'recari3ao das condi%es dotra$al)ador& como e='lica e)er I4-++J& *uandonosdi3*ueaeducaoea*ualificaotransitamda'ol:tica'?$lica'ara assistncia& evidenciandoSsecomoumaestrat.giadeal:vioda'o$re3a& e*ueestas conce'%es e 'ol:ticas 'oderiam estar formando cidados 'assivos& no mais tra$al)adores& mas cola$oradores& d.s'otas de si mesmo em nome de 'rodutividade e com'etitividade/IFrigotto& 4--+J2aturalmente no'odemos negar aeducao'rofissional& ea*ualificao& como Tuen3er I4--+J di3& em$ora o modelo se(a cada ve3 mais e=cludente e o 'ro(eto 'ol:tico nacional reforce este car1ter& em face do modo como se insere no 'rocesso de glo$ali3ao& no . negando a educao ou a formao 'rofissional a esta 'arcela da 'o'ulao a mel)or forma de lutar 'ela construo de um outro ti'o de sociedade/0*ue'retendemos neste'e*uenoensaio.reali3ar uma leitura cr:tica dos 'rocessosdeformaocontidosnaei2acional de"'rendi3agem& edeumaforma geral eminiciativas de*ualificao'araomercadodetra$al)o& 'oiscomomostra @attos I6,,-J& o tra$al)ador se torna mais 'o$re *uanto mais ri*ue3a 'rodu3/ 7esta forma . 'rimordial discutir a intencionalidade 'osta nos 'ro(etos de formao 'ara o tra$al)o& ou estamos formando o (ovem 'ara viver como tra$al)ador consciente de sua realidade& ou torn1-lo mais K*ualificadoL 'ara gerar mais ca'ital/ > necess1rio com'reender o 'artici'ante destes 'ro(etos no como um mero rece'tor de conte?dos& a sertreinadode formaacr:tica& eledeve sim&ser 'erce$ido comoum tra$al)adorem formao& cientedeseusdireitosedeveres& ca'a3dedarsentidoaoseutra$al)o& e 'artici'ante da sociedade onde vive/ 8Di$liografiaD0RGE#& 7elaneUHes'an)ol&@/#/',ila-.e/zabel e.rumonda0oel/ Riode Janeiro&4-+5/CV"& Georgia #o$reira dos #antos/1undamentos da id2ia do empreendedorismo e a forma)o dos trabalhadores& !nC0 Estado da "rte da formao do tra$al)ador no DrasilC 'ressu'ostos e a%esgovernamentais a'artirdos anos noventa/ Edaguimar 0r*ui3as Niriato et al/W0rgani3ao de Georgia #o$reira dos #antos Ca- CascavelC E7U2!0E#;E& 6,,5 F02;E#& Nirginia/' sociedade ci+ilno rasil contemporneo- "utas sociais e luta terica na d2cada de 1384&Fundamentos da Educao Escolar do Drasil Contem'orXneo/ JulioCesarFranaimae?cia@ariaManderleQ2evesIorg/JEd/ Fiocru3 FR!G0;;0& Gaudncio/ IorgJ/5duca)o e crise do trabalho- perspecti+a de final de s2culo& Petr'olisC No3es& 4--+/YYYYY/6rabalho, conhecimento, consci7ncia e a educa)o do trabalhador- /mpasses tericos e pr!ticos& !nC ;ra$al)o e Con)ecimentoC 7ilemas na educao do tra$al)ador/ Carlos @inaQo Gomes///Zet/ "l[/-#o PauloCCorte3C "utores "ssociados& 4-+5/GR"@#C!& "/8adernos do 8!rcere& Nol/ H/ Rio de JaneiroC Civili3ao DrasileiraTUE2\ER& "c1cia/ .esafios tericos 9 metodol(icos da rela)o trabalho 9 educa)o e o papel da escola& /n- 5duca)o e crise do trabalho- perspecti+a de final de s2culo& Petr'olisC No3es& 4--+/EHER& Ro$erto/'ideolo(iada:lobaliza)onapol#ticadeforma)oprofissionalbrasileira&;ra$al)o e Educao- Revista da 2E;E/ Delo Hori3onteCFae B UF@G& n/E& ago/Bde3/&4--+/YYYYY/Florestan Fernandes e a universidade no ca'italismo ide'endente/!nC7emocracia e educao em Florestan Fernandes/ B0smar F1veroIorgJ/Cam'inas& #PC"utores "ssociadosW2iteri& RJCUniversidade Federal Fluminense IE7 UFFJ& 6,,8/9@";;0#& @arcelo Dadar/;eor(anizando em meio ao refluxo- ensaios de inter+en)osobreaclassetrabalhadoranorasil atual& ;iode