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ENTREVISTA EXCLUSIVA Lei de Recuperação Judicial só vai deslanchar com a implantação de varas especializadas pelo país Aniversário: CPAE comemora 22 anos presenteando colaboradores e clientes com sua nova, ampla e moderna sede - Pág. 10 Agronegócio: arrendar terras indígenas em parceria, para plantar grãos, não é crime - Pág. 12 Aduaneiro: mercadorias exportadas e depois devolvidas por motivos técnicos não recolhem tributos de importação - Pág. 14 BOLETIM DE INFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS DA CESAR PERES ADVOCACIA EMPRESARIAL EDIÇÃO 14 - SEGUNDO TRIMESTRE DE 2017 O juiz Daniel Carnio Costa, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, é um magistrado diferenciado. Profundo conhecedor da Lei de Recuperação Judicial (11.101/2005), culto e muito respeitado por operadores do Direito e por agentes públicos, Costa ‘‘mergulhou’’, literalmente, na cultura do mundo empresarial, a fim de melhorar a qualidade de suas decisões. Resultado: virou referência internacional nesta área, tanto que foi o primeiro juiz brasileiro a ministrar palestra no Congresso de Insolvência Empresarial, o mais importante do mundo, realizado em março, em Sydney (Austrália). Numa pequena brecha da sua apertadíssima agenda, ele falou à reportagem do Index. PÁGINA 3 Reprodução: http://globalrestructuringreview.com/article/1036210/top-são- paulo-judge-urges-less-procedural-approach-to-restructuring

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Page 1: Lei de Recuperação Judicial só vai deslanchar com a ... · Vale a pena conhecer as suas ideias. As decisões jurídicas sobre o mundo do traba-lho receberam especial relevância

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Lei de Recuperação Judicial só vai deslanchar com a implantação de varas especializadas pelo país

Aniversário: CPAE comemora 22 anos presenteando colaboradores e clientes com sua nova, ampla e moderna sede - Pág. 10

Agronegócio: arrendar terras indígenas em parceria, para plantar grãos, não é crime - Pág. 12

Aduaneiro: mercadorias exportadas e depois devolvidas por motivos técnicos não recolhem tributos de importação - Pág. 14

BOLETIM DE INFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS DA CESAR PERES ADVOCACIA EMPRESARIAL

EDIÇÃO 14 - SEGUNDO TRIMESTRE DE 2017

O juiz Daniel Carnio Costa, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, é um magistrado diferenciado. Profundo conhecedor da Lei de Recuperação Judicial (11.101/2005), culto e muito respeitado por operadores do Direito e por agentes públicos, Costa ‘‘mergulhou’’, literalmente, na cultura do mundo empresarial, a fim de melhorar a qualidade de suas decisões. Resultado: virou referência internacional nesta área, tanto que foi o primeiro juiz brasileiro a ministrar palestra no Congresso de Insolvência Empresarial, o mais importante do mundo, realizado em março, em Sydney (Austrália). Numa pequena brecha da sua apertadíssima agenda, ele falou à reportagem do Index.

PÁGINA 3

Reprodução: http://globalrestructuringreview.com/article/1036210/top-são-paulo-judge-urges-less-procedural-approach-to-restructuring

Page 2: Lei de Recuperação Judicial só vai deslanchar com a ... · Vale a pena conhecer as suas ideias. As decisões jurídicas sobre o mundo do traba-lho receberam especial relevância

Todo abril é momento de celebrar para a Cesar Peres Advocacia Empresarial (CPAE). No dia 15, comemoramos 22 anos de atuação no segmento do Direito Empresarial, com o desafio, renovado, de entender o que o cliente busca. Este é o norte, a motivação maior, desde que começamos a caminhada, no longínquo ano de 1995.

E esta comemoração tem um sabor todo es-pecial, pois acabamos de inaugurar a novíssima sede sem abrir mão da localização privilegiada na Zona Norte de Porto Alegre. Andamos mais 300 metros na mesma Dom Pedro II para ganhar uma nova casa – muito maior, com mais conforto e dotada da melhor estrutura disponível no mercado para abrigar advogados, colaboradores e clientes. Para o segundo semestre planejamos uma série de palestras, eventos e encontros com clientes, colaboradores e stakeholders da opera-ção da Cesar Peres Advocacia Empresarial.

A equipe que planeja e produz o Index – já em sua 14ª edição – também entrou no espírito festivo, brindando os leitores com uma edição ‘‘reforçada’’. Mais artigos e mais matérias sobre decisões jurídicas do que as edições habituais. Mas sem perder o foco: um olhar jurídico sobre o universo das empresas privadas.

Por isso, é com muito orgulho que apresen-tamos uma entrevista inédita, para este tipo de veículo corporativo, com o titular da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo. O juiz Daniel Carnio Costa é um magistrado diferenciado, na cultura, no trato e na jurisdição. Ele ‘‘mergulhou de cabeça’’ na cultura do mundo empresarial e descobriu que muito precisa ser feito para resgatar o espírito da Lei de Recuperação Judicial (11.101/2005). A sua experiência exitosa vem servindo de exemplo para o Grupo de Trabalho do Ministério da Fazenda que irá propor uma atualização da lei. Vale a pena conhecer as suas ideias.

As decisões jurídicas sobre o mundo do traba-lho receberam especial relevância nesta edição, já que a justiça laboral e a própria CLT estão no

‘‘olho do furacão’’. Uma das mais importantes, certamente, é a que mostra a relação jurídica entabulada entre empresa e vendedor externo que atua como representante comercial. Empre-gado? Autônomo? Conheça a ‘‘zona grise’’.

No segmento aduaneiro, destaque para uma decisão da 1ª Turma do Tribunal Regional Fede-ral da 4ª Região, que livrou um exportador de pagar tributos sobre oito tambores de suco de laranja, extraviados no transporte entre Argenti-na e o porto seco de Uruguaiana. A mercadoria extraviada havia sido devolvida pelo importador, mas o fisco não perdoou: queria cobrar Imposto sobre Produtos Industrializados, PIS-Importação e Cofins-Importação.

No agro, a 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul manteve a penhora de cotas de um agricultor ligado a uma coope-rativa na cidade de Tupanciretã, executado por uma revenda de insumos agrícolas. O colegiado entendeu que o cooperativado pode sofrer pe-nhora de suas cotas de capital, mesmo que haja restrição contratual para o ingresso de terceiros no quadro social da cooperativa.

E, no segmento da propriedade intelectual, luzes para um problema recorrente nos veículos de imprensa: publicar fotos sem mencionar ou pedir autorização do autor da obra intelectual, como dispõe o artigo 29 da Lei dos Direitos Autorais (9.610/98). No caso em comento, o ilícito foi cometido pelo site de uma rádio do interior gaúcho, que usou uma foto publicada no Correio do Povo.

Para fechar a edição com chave de ouro, a análise jurídica de quatro advogados sobre temas que suscitam grandes discussões nas suas respectivas áreas. Os artigos são assinados por Felipe Meneghello Machado (Cível), Geo-vane Alves Machado (Tributário), Alice Romero (Trabalhista) e Renata de Alcântara e Silva Terra (Recuperação de Crédito).

Boa leitura!!

Costa vem se notabilizando por seu esforço em dar vida e efetividade à recuperação judicial no Brasil, para que a lei não seja apenas um punhado de boas intenções, descolada da realidade. Para que tal ocorra, entende que deve haver mudanças em vários fronts. A começar por uma mudança de mentalidade na administração judicial, pois um processo de recuperação não pode ser posterga-do ad infinitum. É que isso cria despesas para a empresa recuperanda, que terá de arcar com os custos dessa manutenção por mais tempo do que o necessário. Nesses custos, está embutida a demora para a retomada empresarial, a qual não pode ficar vinculada à demora processual.

Para sanar o problema, ele implantou na sua vara uma série de medidas para impedir o prolon-gamento do processo. Ele costuma fixar a remune-ração do administrador judicial por períodos mais curtos, reavaliando a cada seis meses ou um ano. Com isso, evita o risco de o administrador ganhar mais que o limite legal – ou que tenha interesse em

prolongar o processo por tempo indeterminado. Um dado isolado mostra a eficiência do seu traba-lho: as empresas que têm seus pedidos aceitos na vara conseguem, na média, 70% de recuperação, enquanto a média nacional nem bate nos 10%. Uma avis rara no Judiciário.

A excelência intelectual adquirida neste metier e a praxis administrativo-judicial o transformaram na maior referência deste tema no Brasil, sendo convi-dado a integrar o Grupo de Trabalho de Recupera-ção Judicial e Falência criado pelo Ministério da Fa-zenda pela Portaria 467/2016. Aqui, vez que outra, ele se reúne com a equipe do ministro Henrique Meirelles para discutir as mudanças na legislação. Leia os melhores momentos da entrevista e saiba, antecipadamente, o que vem por aí:

É voz corrente no empresariado que muitas decisões judiciais estão em franca dessintonia com os princípios e objetivos da Lei de Recu-peração Judicial, que é resguardar empregos

e a fonte de produção de riqueza e de reco-lhimento de impostos. Afinal, a recuperação está do ‘‘avesso’’ no Brasil, dificultando o so-erguimento empresarial? Ou a ‘‘gritaria’’ não procede?

DANIEL CARNIO COSTA – De fato, a Lei de Recuperação Judicial não vem surtindo os efeitos esperados. O índice de recuperação empresarial, na média brasileira, é muito baixo. Mas isso não se deve à lei. Ela não é ruim, embora deva ser aper-feiçoada. Isso se deve, basicamente, ao fato de que não conseguimos criar uma estrutura adequada para que a Lei possa ser aplicada de maneira cor-reta. Exemplo: nós temos pouquíssimas varas espe-cializadas em processos de falência e recuperação empresarial no Brasil. A estrutura não é adequada.

Quantas varas?

DANIEL CARNIO COSTA – Só duas em todo o Estado de São Paulo – e na Capital. Nenhuma vara especializada na Região da Grande São Paulo,

Da sede nova e do compromisso de

sempre: entender, cada vez mais, o que o cliente

buscaIndex Boletim é uma publicação da Cesar

Peres Advocacia Empresarial

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‘‘Não dá mais para trabalhar em processos de recuperação sem profissionalismo’’, reconhece Daniel Carnio Costa, juiz da Justiça Estadual de SP

Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 2 Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 3

Titular da 1ª. Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo desde 2011, Daniel Carnio Costa é doutor em direitos difusos e coletivos na PUC-SP e mestre em direito comparado pela Cumberland School of Law - Samford University (EUA). Cursa Pós-Doutorado em Direito na Universidade de Paris 1 - Panthéon/Sorbonne desde 2014. Atualmente, é professor da Pós-Graduação Lato Sensu em Recuperação de Empresas e Falências na Fadisp, no Instituto Brasileiro de Administração Judicial, professor de Direito Empresarial da PUC-SP e professor palestrante em diversos cursos de pós-graduação em nível nacional. É autor de várias obras jurídicas.

EXPEDIENTE

MANAGER

Por César PeresEDITORIAL

ENTREVISTA

Reprodução: http://globalrestructuringreview.com/article/1036210/top-são-paulo-judge-urges-less-procedural-approach-to-restructuring

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nem no interior. Então, a grande maioria dos pro-cessos é ajuizada em varas que têm ‘‘competência geral’’. Evidentemente, os juízes que se dedicam a julgar todo e qualquer processo – ações cíveis, ações criminais, processos de família, de infância etc – não têm condições de fazer uma reflexão mais adequada sobre questões muito específicas. A re-cuperação é um processo muito difícil, que envolve conhecimento multidisciplinar – exige, portanto, especializações. Portanto, não tem cabimento um processo de recuperação judicial, supercomplexo, ser gerenciado por magistrados sem familiaridade com o tema. É até desumano exigir que um juiz, lá no interior, que está julgando juizado especial, júri, processo-crime, ação de despejo, guarda, pensão de alimentos, tenha que conduzir um processo de recuperação judicial complexo.

E isso justifica, então, os resultados mo-destos da Lei?

DANIEL CARNIO COSTA – Sim. Por causa des-ta deficiência é que os resultados não são bons na média geral. E também por isso é que encon-tramos decisões que, de fato, estão dissociadas dos principais objetivos da própria recuperação judicial. Então, precisamos fazer uma análise mais adequada da estrutura de que dispomos.

Aliás, o Sr. andou propondo esta espe-cialização quando se reuniu, no final do ano passado, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, certo?

DANIEL CARNIO COSTA – Exato, esta é uma das minhas principais propostas ao Grupo de Trabalho de Recuperação Judicial e Falência, do Ministério da Fazenda, que está estudando alterações na Lei de Recuperação. Mas não basta só mudar a legislação. Precisamos de um ‘‘choque de efetividade’’. Não adianta nada mudar a legislação se a aplicação não for ade-quada.

Que propostas vêm sendo discutidas no âmbito do Ministério da Fazenda?

DANIEL CARNIO COSTA – São muitas suges-tões. A versão final do projeto a ser apresen-tado pelo Ministério da Fazenda ao Congresso Nacional ainda não está definida. Estamos ainda no terreno das discussões sobre pontos importantes, como a criação de varas especiali-zadas, a classificação dos credores, a forma de votação do plano de recuperação pela assem-bleia geral dos credores, a possível inclusão de todos os créditos no processo de recuperação – com exceção do fiscal –, e por aí vai. São diversas questões relevantes que vêm sendo debatidas. Mas ainda não chegamos a um for-mato definitivo.

Neste grupo de discussões, o Sr. também está propondo a necessidade de uma perí-cia prévia na admissibilidade do processo de recuperação. Qual a importância e o fundamento desta proposta?

DANIEL CARNIO COSTA – Veja, um dos gran-des motivos do insucesso da recuperação é o fato deste procedimento ser utilizado de ‘‘ma-neira desviada’’. Ela [a lei] não está sendo vista como uma forma de recuperar uma empresa viável, que está passando por um momento de crise superável. A recuperação vem sendo usada por devedores absolutamente inviáveis, muitas vezes sem qualquer atividade, como uma forma de protelar a sua falência. Ou como instrumento de pressão nos seus credores, para conseguir algum tipo de vantagem nalguma negociação. Ora, a lei não foi feita para fazer um acertamento de débitos. Então, na minha vara, diante do que acontecia na prática, eu

criei o expediente de promover uma verificação prévia da situação da empresa antes de me de-cidir pelo deferimento do processamento do pe-dido de recuperação judicial. Levantamos todas as informações relevantes – se a empresa está em atividade, se tem clientes, se a documentação corresponde com a realidade, dentre outras.

Deu bons frutos esta providência?

DANIEL CARNIO COSTA – Os dados são bas-tante animadores. De 2011 para cá, 30% dos pedidos de recuperação apresentados na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais foram in-deferidos de plano [de forma sumária], com base nos resultados da perícia prévia. Em compensa-ção, dos pedidos que foram aceitos – dando início à recuperação –, 70% chegaram a um bom resul-tado. Ou seja, índice de 70% de sucesso, muito maior que a média nacional, inferior a 10%.

Os empresários reclamam a falta de uma lei específica de parcelamento de débitos tributários – e não este Refis melhorado, lançado no ano passado. Isso garantiria a chance de soerguimento empresarial? Há ‘‘clima político’’ para tal avanço?

DANIEL CARNIO COSTA – Esta questão também está sendo discutida no Ministério da Fazenda. Na minha opinião, é fundamental contarmos com uma lei de parcelamento fis-cal adequada. A lei utilizada hoje cria, para as empresas em recuperação, condições piores do que as do Refis normal. A Lei de Recuperação Judicial determinou que fosse criada uma legis-lação de parcelamento fiscal para empresas em estado de recuperação; ou seja, em atenção a esta circunstância. Não tem sentido a lei criar condições mais severas para uma empresa que está em crise. Então, acho fundamental, até por que, hoje, o fisco é o maior prejudicado nas recuperações judiciais.

O fisco?

DANIEL CARNIO COSTA – É que o Judiciário, de uma maneira geral, entendeu que esta lei [do Refis] não deve ser aplicada e continua con-cedendo recuperação judicial para empresas que têm passivo fiscal não equacionado. Então, nas discussões que mantenho com o Ministério da Fazenda, sempre digo isso: nestes quase 12 anos, a Fazenda Nacional não arrecadou quase nada das empresas em recuperação. Se houvesse uma lei adequada para parcelamento de dívidas fiscais, teria arrecadado muito mais.

A maioria dos empresários em dificulda-des se queixa do privilégio dado aos ban-cos, pois seus créditos, por alienação ou cessão fiduciária, ficam de fora dos proces-sos de recuperação judicial. Não estaria na hora de rever ou flexibilizar esta garantia?

DANIEL CARNIO COSTA – Em princípio, acho que não deveria haver credor fora do processo de recuperação judicial. Na medida em que há credores extraconcursais, o mercado se amolda a esta situação. Então, hoje, dificilmente um banco faz um financiamento com garantia real. Ele vai fazer um financiamento com garantia fiduciária. Na medida em que, hoje, todo o fi-nanciamento das empresas é garantido fiducia-riamente, quem está em dificuldades não tem acesso à recuperação judicial. E este crédito está todo fora. Em razão disso, os tribunais têm reconhecido, por diversas vezes, que mesmo um credor bancário, extraconcursal, pode não ter o direito de executar a sua garantia contra a recuperanda. É que aquela garantia é essencial para o funcionamento da empresa. Resultado: o banco não entra na recuperação e, portanto, não pode discutir o plano de recuperação junto

à assembleia de credores nem consegue realizar, por fora, a sua garantia. Os bancos acabam fi-cando também desprotegidos. Então, acho que deveríamos incluir todos os credores na recupe-ração. É preciso, também, criar classes específi-cas, para garantir que o plano, para ser aprovado pelos bancos, atenda minimamente as necessi-dades do setor financeiro.

O que o Sr. acha do papel do administra-dor judicial na recuperação? Cumpre bem a sua função ou precisa de mais poder ou fiscalização?

DANIEL CARNIO COSTA – Indiscutivelmente, o administrador é uma peça fundamental para o sucesso da recuperação. Ele tem de ser um pro-fissional competente e especializado. E, evidente-mente, atuando nos grandes centros e em locais onde haja varas especializadas em recuperações e falências. Fora dos grandes centros, dificilmen-te se encontra profissional com especialização adequada ou necessária para fazer este tipo de processo. A função é tão importante que deveria haver um treinamento ou uma preparação para administradores judiciais. Com isso, eles teriam uma qualificação adequada para atuar neste tipo de processo. Enfim, não dá mais para trabalhar em processos de recuperação sem profissionalis-mo.

‘‘Nestes quase 12 anos, a Fazenda

Nacional não arrecadou quase

nada das empresas em recuperação. Se houvesse uma lei adequada para parcelamento de

dívidas fiscais, teria arrecadado muito

mais.’’

Assim, a ausência de subordinação jurídi-ca é fator decisivo para não reconhecimento de vínculo de emprego. Afinal, a presença do tripé pessoalidade, habitualidade e onerosidade pode se fazer presente tanto na relação formal de emprego como no tra-balho autônomo prestado a uma empresa, ainda que por longos períodos.

Por isso, a 5ª. Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul mante-ve sentença que não reconheceu vínculo empregatício entre uma vendedora-propa-gandista e duas empresas farmacêuticas do mesmo grupo econômico. Os desembarga-dores entenderam, à unanimidade, que a relação havida entre a autora da reclamató-ria e as partes reclamadas (indústria e distri-buidora de medicamentos) era de trabalho autônomo, nos exatos termos da legislação que regula as atividades dos representantes comerciais (Lei 4.886/1965).

Para os desembargadores, o reconheci-mento da relação de emprego depende, efetivamente, do que ocorre no plano dos fatos. No caso dos autos, uma das partes reclamadas, que tinha o ônus da prova no processo, conseguiu demonstrar que a relação mantida com a parte reclamante era de prestação de serviço, de natureza civil, e não trabalhista.

Vendedor sem subordinação jurídica é prestador de serviço autônomo, decide TRT-RS

Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 4 Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 5

Na reclamatória protocolada na 23ª. Vara do Trabalho de Porto Alegre, a parte autora alega que os abatimentos e descontos efetuados sobre suas comis-sões retiram a liberdade de negociação que deve ser conferida ao representante comercial. Afirma que os documentos e a prova testemunhal carreados aos autos atestam a sua participação em reuniões, convenções e demais eventos congêneres promovidos pelas reclamadas. Portanto, apesar de ser ‘‘PJ’’ (pessoa jurídica), se subordinava às reclamadas. Diz que ven-deu os produtos do grupo, atividade que se insere no objetivo social da empresa (atividade-fim). Por fim, invoca o princípio da primazia da realidade.

A distribuidora, segunda reclama-da, explica que a sua administração é absolutamente distinta da primeira reclamada – indústria –, não se subor-dinando uma à outra nem mantendo qualquer vínculo distinto do contrato civil de prestação de serviços especializados. Afirma que possui, apenas, contrato de prestação de serviços com a primeira, sendo esta última responsável por contratar o pessoal necessário para a realização do serviço.

A juíza do trabalho Patrícia Herin-ger julgou improcedente o pedido de reconhecimento de vínculo. Ela escreveu na sentença que, além da confissão da autora, a documentação juntada compro-va que a relação jurídica não era de em-prego, mas de representação comercial. E mais: havia dois contratos distintos, um com cada uma das rés, em períodos bem definidos contratualmente. Desta decisão, a autora apelou ao TRT-RS.

Index Boletim - Segundo trimestre de 2017

A RECLAMATÓRIA

A desembargadora Karina Saraiva Cunha, relatora do recurso na corte traba-lhista, explicou no acórdão que a distinção entre a relação de representação comer-cial autônoma e a de empregado é tênue, pois há características comuns a ambos os institutos. Esclareceu que há vários artigos na Lei 4.886/1965 que podem levar à ideia de pessoalidade, habitualidade e onerosidade – essenciais para a caracteri-zação de vínculo empregatício.

Apesar desta ‘‘zona grise’’, explicou, alguns indícios podem definir o caráter jurídico da relação. Exemplos: se a parte já foi empregado vendedor da empresa, se recebeu algum tipo de punição por não atingir as metas, se era exclusiva da contratante, se tinha obrigação de comparecer diariamente na empresa, se recebia o mesmo tratamento dispensado aos outros vendedores empregados.

‘‘O que distingue, verdadeiramente, o pacto de emprego do contrato de representação comercial é o grau de subordinação, que consiste na sujeição do trabalhador às ordens do empregador, que orienta, controla e determina como o serviço deve ser prestado; subordinação esta que assume caráter jurídico, do qual decorre o poder diretivo do empregador, que legitima a imposição de roteiros, a fiscalização de horários e de visitas, as advertências, as suspensões e, até mesmo, a despedida por justo motivo’’, anotou no acórdão.

Em fecho, a magistrada observou que a reclamante arcava com os gastos decorrentes da atividade de representante comercial, o que, aliás, estava estabe-lecido no contrato de representação. A seu ver, isso caracteriza autonomia e demonstra que a recorrente assumia os riscos do próprio negócio. Como se não bastasse, citou prova de inscrição regular no Conselho Regional dos Representantes Comerciais (Core-RS).

ZONA GRISE

O artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) considera empre-gado toda a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual, mediante pagamento de salário, sob a dependência de um empregador.

TRABALHISTAENTREVISTA

Foto: acervo pessoal

Foto: Shutterstock

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Diferentemente do juízo de origem, o colegiado entendeu que trabalhar de 28 a 31 dias, de forma consecutiva, sem nenhum folga semanal, não só supera a jornada máxima permitida pela Constituição como atenta contra direitos fundamentais.

A 4ª Vara de Trabalho de Passo Fundo negou o pedido por não ver ilegalidade na conduta do empregador. A juíza do trabalho Nelsilene Leão de Carvalho Dupin afirmou que

os ilícitos trabalhistas estavam sendo resolvidos na esfera patrimonial. E isso, por si só, não tem o poder de caracterizar lesão no plano moral do autor da ação.

‘‘Não há comprovação, ainda, de que o reclamante tenha sofrido riscos ou prejuízos à saúde física e mental, ou que tenha desenvolvido algum tipo de doença ocupacional, o que afasta a existência de ambiente de trabalho nocivo à saúde’’, concluiu.

Trabalhar sem folga regular causa dano existencial, decide TRT-4

Promotor de vendas que trabalha em posto de gasolina tem direito a adicional de periculosidade

Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 6

TRABALHISTA

Extensas jornadas de trabalho acarretam dano existencial porque impedem o trabalhador de usufruir direitos como o da saúde, além de atrapalharem o convívio familiar e social. Com este argumento, a 3ª Turma do Tribunal Regio-nal do Trabalho da 4ª Região (Rio Grande do Sul) concedeu indenização no valor de R$ 10 mil a ex-empregado de frigorífico localizado na região de Pas-so Fundo.

A empresa, que administra o pagamento de pedágios por meio eletrônico, recorreu da condena-ção. No recurso ao TRT-4, susten-tou que havia impugnado o laudo técnico, por não atestar, de forma inequívoca, o exercício de atividade perigosa. Disse que a reclamante não era frentista e que fazia o ser-viço de venda na área de abasteci-mento apenas eventualmente.

O relator do recurso, desem-bargador Herbert Paulo Beck, manteve a decisão de primeiro grau. No caso, ele entendeu ser aplicável o artigo 193 da Consoli-dação das Leis do Trabalho (sobre operações perigosas, como o contato com produtos inflamáveis) e o enquadramento previsto no Anexo 2, letra ‘‘m’’, da Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego 3.214/1978 — que estabelece como área de risco toda a área de abastecimento que abrigue infla-máveis líquidos.

Ao reformar a sentença, a desembargadora Maria Madalena Telesca, relatora do recurso no TRT-4, entendeu que a reparação é a correta medida de justiça. É que, diante da jornada a que foi submetido o autor, inegável a violação dos direitos fundamentais da pessoa humana – princípio norteador de todos os direitos e garantias –, conforme o artigo 1º da Constituição. Ou seja, a vida pessoal do trabalhador foi prejudicada por esta ausência de contato social.

A relatora lembrou que o pagamento de horas extras não tem qualquer relação com a reparação dos danos existenciais sofridos pelo trabalhador. Isso porque é verba salarial, não indenizatória, pois não se destina a diminuir as consequências de qualquer tipo de dano sofrido pelo trabalhador.

A relatora também afirmou não ignorar que o crescimento profissional do trabalhador dependa de esforços ou sacrifí-cios, como abrir mão do lazer ou do convívio com a família. ‘‘E é aí que o julgador deve se nortear pela razoabilidade, como o principal elemento de distinção entre o trabalhador que efetivamente sofreu prejuízos ao seu projeto de vida, à vida de relações, que realmente experimentou dano exis-tencial, separando-o daquele que apenas realizou o esforço necessário e normal do progresso, colhendo efetivamente os resultados de seu empenho’’, explicou no voto.

APELAÇÃOCAUSAS DE PEDIR DIFERENTES

Por isso, a 11ª Turma do Tri-bunal Regional do Trabalho da 4ª Região (Rio Grande do Sul) confirmou sentença que determi-nou o acréscimo de 30% sobre o salário-base de uma vendedora, com reflexo nas demais verbas rescisórias.

A perícia concluiu que a auto-ra da reclamatória trabalhista trabalhava junto às bombas de abastecimento dos postos. Era nesse ambiente, uma área de riscos inflamáveis, que ela vendia o sistema para pagamento auto-mático de pedágios.

Na origem, a juíza Roberta Tes-tani, da 3ª Vara do Trabalho de Gravataí, disse ser inócua a dis-cussão sobre se a reclamante era

ou não frentista, assim como se a exposição era ou não permanen-te. É que a abordagem habitual de motoristas junto à bomba de abastecimento, para suas funções cotidianas de vendedora, se mos-tra suficiente para caracterizar o labor em condições periculosas, nos termos da Súmula 364 do Tribunal Superior do Trabalho.

Esta jurisprudência, em seu inci-so I, diz, literalmente: ‘‘Tem direi-to ao adicional de periculosidade o empregado exposto permanen-temente ou que, de forma inter-mitente, sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extremamente reduzido’’.

Vendedor que trabalha junto às bombas de combustível de posto de gasolina, na maior parte de sua jornada, tem o direito de receber adicional de periculosidade.

Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 7

TRABALHISTAFoto: Shutterstock

Foto: Shutterstock

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Por isso, a 4ª Turma Recursal Cível dos Juizados Espe-ciais Cíveis do Rio Grande do Sul (JECs) negou recurso de uma emissora de rádio, condenada a pagar dano moral por reproduzir fotografia sem autorização do autor. Origi-nariamente, a foto havia sido publicada no jornal Correio do Povo, com sede em Porto Alegre. O valor da reparação arbitrado na origem, de R$ 2,5 mil, foi confirmado pelo colegiado.

O juiz leigo Diogo Segala Machado, da Vara-Adjunta do JEC da Comarca de Encantado, disse que o fato de prestar serviços para o Correio do Povo não retira do fotógrafo sua condição de autor da fotografia republicada. ‘‘Não se pode dizer que a obra pertence ao Correio do Povo pelo simples fato deste ter publicado originariamente, não afastando o poder individual de criação do requerente bem como os direitos que recaem sobre essa criação’’, complementou na proposta de sentença.

Embora o site da emissora tenha identificado a autoria da foto, indicando o devido crédito, observou o julgador, o dano moral decorre da falta expressa de autorização do titular dos direitos da propriedade intelectual da obra. Afinal, o dono da obra tem de ser consultado sobre sua utilização, con-forme dispõe o artigo 33 da LDA, em razão dos interesses envolvidos — patrimonial, extrapatrimonial e social.

Machado afirmou ainda que o caso não comporta a exclu-dente prevista no artigo 46, inciso I, letra “a”, que elenca a ‘‘reprodução’’ como não ofensiva aos direitos autorais. ‘‘No caso, a fotografia foi publicada em site privado e que, ao que tudo indica, proíbe reproduções — nem ao menos a ré trouxe aos autos autorização de quem publicou ori-ginariamente para assim, quiçá, poder repro-duzir’’, finalizou.

Veículo que publica fotografia sem autorização do autor causa dano moral

Index Boletim - Segundo trimestre de 2017Pág. 8

PROPRIEDADE INTELECTUAL

A Lei dos Direitos Autorais (9.610/98), em seu artigo 7, diz que a fotografia é obra intelectual protegida. E o artigo 29 aponta que sua reprodução depende de autorização prévia e expressa do autor. Assim, quem viola esses dispositi-vos fere direitos de personalidade assegurados no artigo 5º da Constituição, atraindo o dever de indenizar na esfera cível.

‘‘A contribuição social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do empre-gado, quer anteriores ou posteriores à Emenda Constitucional 20/1998.’’ A tese de repercussão geral foi fixada pelo Plenário do Supremo Tribunal Fe-deral no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 565160, desprovido pelos ministros, por unanimidade dos votos. A matéria constitucional envolve quase 7.500 processos semelhantes, atualmente sobrestados nas demais instâncias.

Para o ministro Marco Aurélio Mello, relator do recurso, antes da EC 20/1998, o artigo 201 [então parágrafo 4º e, posteriormente, parágrafo 11] passou a sinalizar que os ganhos habituais do empregado a qualquer título serão incorporados ao salário para efeito de contri-buição previdenciária e consequente reper-cussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. ‘‘Nem se diga que esse dispositivo estaria ligado apenas à contribuição do empre-gado, porquanto não tem qualquer cláusula que assim o restrinja’’, ressaltou.

É constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei 10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de sua produção. Esta é outra tese firmada pelo Plenário do STF em março, ao reconhecer, por maioria de votos, a constitucionalidade da contribuição ao Fundo de Assistência ao Traba-lhador Rural (Funrural). A decisão foi tomada no julgamento do Recurso Extraordinário 718.874, com repercussão geral reconhecida, ajuizado pela União contra deci-são do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que afastou a incidência da contribuição após questionamento de um produtor rural.

Segundo a ministra Cármen Lúcia, 15 mil processos nas instâncias de origem aguardam a decisão do STF sobre a matéria. A contribuição é prevista no artigo 25 da Lei 8.212/1991, que teve a redação dada pela Lei 10.256/2001, que estabelece a co-brança de 2% da receita bruta proveniente da comercialização da produção.

O Instituto Nacio-nal da Propriedade Industrial pode adotar medidas de aceleração e regulação de trans-ferência tecnológica e também fixar melhores condições de negocia-ção e uso de patente. Assim entendeu a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao rejeitar recurso inter-posto por uma multina-cional.

O caso chegou à cor-te após a autarquia tirar o caráter oneroso de um contrato desse tipo, transformando-o em gratuito, firmado por grande conglomerado internacional com uma de suas subsidiárias no país. A transferência de tecnologia nesse acordo previa o pagamento de royalties.

Para o ministro-rela-tor Francisco Falcão, a lei que criou o Inpi (Lei 5.648/70) tem uma cláusula geral sobre o atendimento às funções social, econômica e jurídica que permite interpretações que preservem permanente-mente o conteúdo signi-ficativo da norma.

No último dia de março, o presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.428/2017, que reabre o prazo para a re-gularização de ativos não declarados enviados ao exterior. A norma, que al-tera a Lei 13.254/2016, aumentou o prazo para a “repatriação” de 38 para 120 dias, que serão contados a partir da data de regulamentação da Receita Federal. O patrimônio a ser declara-do será aquele em posse do declarante em 30 de junho de 2016.

A tributação total também mudou. O texto estabelece 15% de Im-posto de Renda e 20,25% de multa, enquanto o programa anterior exigia 15% de IR e 15% de multa. Além disso, a norma fixou cotação de 3,2098 para conversão de valores em dólares americanos.

Para o contribuinte que aderiu ao programa de regularização até 31 de outubro do ano passado, o texto permite comple-mentar a declaração, pa-gando os novos tributos sobre o valor adicional e convertendo os valores dos bens pela cotação do dólar do último dia de junho de 2016.

EMPREGADOR TEM DE RECOLHER CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE TODAS AS REMUNERAÇÕES DO EMPREGADO

STF TORNA VÁLIDA A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DE PESSOA FÍSICA AO FUNRURAL

INPI TEM COMPETÊNCIA PARA ALTERAR A REDAÇÃO DO CONTRATO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

GOVERNO REABRE PRAZO PARA A REPATRIAÇÃO DE ATIVOS NO EXTERIOR

NOTAS

A relatora do recurso inominado na 4ª Turma Recursal Cível, juíza Gláucia Dipp Dreher, manteve os termos da senten-ça. A seu ver, ainda que se entenda que a imagem seja parte integrante da notícia reproduzida pela ré, esta deveria, no mínimo, ter indicado o nome completo da fonte — Correio do Povo —, disponibilizado o link de acesso e informado a data da publicação da notícia original. É que a simples menção da sigla ‘‘CP’’ não se presta a indicar a origem da notícia e da imagem reproduzida. Logo, não se poderia falar em ‘‘excludente de responsabilidade’’, com base no artigo 46.

‘‘No que tange aos danos morais, esta Turma Recursal já reconheceu excepcionalmente a sua configuração, sob a justi-ficativa de que o trabalho que o autor desenvolve exige tempo, dedicação e sensibilidade, causando grande frustração e revolta presenciar o seu trabalho sendo utilizado de forma gratuita e sem, nem mesmo, pedido de autorização, ainda que identificada a autoria’’, escreveu no acórdão.

SEM EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE

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Espaço, tecnologia, conforto e requinte não faltam na nova sede. A casa, toda remodelada, conta com uma sala de reuniões para 16 pessoas, outra para 12, além da biblioteca, que também pode servir como sala de reuniões para quatro pessoas. O auditório acomoda 25 pessoas. Há 29 vagas de estaciona-mento. Todo o mobiliário foi feito sob medida (linha Idélli Corporativo), e os móveis de varejo (linha Kappes-berg Premium) foram pensados nas boas práticas, respeitando os mais exigentes padrões de ergonomia. Para isso, o escritório foi assessorado por um de seus clientes, o Grupo K1, de Tupandi (RS). A iluminação seguiu o mesmo modelo. Há ainda o ‘‘espaço gourmet’’ e o ‘‘espaço de descompressão’’. Luciano acredita que oferecer conforto no espaço de trabalho estimula os colaboradores a se dedicar mais, melhorando a produtividade do trabalho.

A equipe busca com todo esse investimento estar mais próxima do cliente. “Pretendemos realizar eventos de discussão, troca de ideias,

incluindo assuntos de interesse coletivo e outros temas mais setori-zados, contando com a participação de representantes do escritório e de convidados. Queremos aliar o conhecimento e a prática do meio empresarial com a técnica jurídica. Temos uma cafeteria instalada ao lado do auditório para nos dar supor-te e tornar os encontros mais agra-dáveis”, comenta o sócio de CPAE. Os clientes também poderão usar as instalações do escritório para realizar seus próprios negócios, usufruindo da boa localização do empreendimento, próximo do Aeroporto Salgado Filho e das rodovias de acesso à Capital.

Atualmente, a CPAE tem 35 profis-sionais, e a organização interna do imóvel permite que mais 25 pessoas trabalhem no local. O projeto de remodelação da nova casa é assina-do pela Lisete Jardim e Carlos Jardim Arquitetura, que também realizaram a reforma da antiga sede, cedida para a Mirar Gestão Empresarial, parceira do escritório. A identidade visual criada pela Ícono Comunicação foi mantida no novo endereço.

INFRAESTRUTURA MODERNA E ACOLHEDORA

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Nova e ampla sede marca os 22 anos de atuação de CPAE no Direito Empresarial

NOVA SEDE

Fundada em 1995, a sociedade de advogados se especializou em três nichos: Assessoria Empresarial, que inclui os segmentos administrativo, comercial, contencioso, societário, tra-balhista, tributário e de propriedade industrial; Assessoria do Agronegócio, que envolve os segmentos agrário, ambiental, gestão de investimentos e negócios e planejamento empresarial e patrimonial; e Assessoria Estratégi-ca, que compreende a recuperação judicial, gestão de passivos tributários e proteção patrimonial.

Pela relevância que o tema merece, o escritório jurídico mantém uma divisão especializada na proteção e gerenciamento dos ativos intelectuais de seus clientes junto aos órgãos de proteção de marcas, patentes, desenhos industriais, indicações ge-ográficas, entre outras. Por todo este desempenho, a Cesar Peres se tornou um dos mais admirados escritórios full service do Rio Grande do Sul, posição confirmada, desde 2010, pelo anuário Análise Advocacia 500, por meio de pesquisa realizada junto às 1.500 maiores empresas do país.

UM DOS ESCRITÓRIOS MAIS ADMIRADOS

O escritório Cesar Peres Advocacia Empresarial (CPAE) está de casa nova. Mudou-se do número 882 para o 568 da Rua Dom Pedro II, permanecendo em pleno centro financeiro e empresarial de Porto Alegre, com o compromisso de oferecer uma infraestrutura mais moderna para seus colaboradores e clientes. Em termos físicos, o salto, na verdade, foi gigante: a antiga sede tem 350 metros quadrados de área construída; a nova, 1050. Triplicou.

Os 22 anos de trabalho jurídico do es-critório exigiram essa mudança. De 1995 para cá, quando de seu surgimento, sua

atuação foi se ampliando e se consoli-dando gradativamente. Hoje, atua com destacada expertise no direito empresarial e econômico.

“Sentimos a necessidade de expansão física de nossas instalações, a fim de acomodar todas essas áreas de atuação, para oferecer mais espaço e conforto para os nossos advogados, pessoal adminis-trativo e estagiários. Outra preocupação que pesou na troca de endereço foi a de propiciar aos clientes um ponto de apoio quando estiverem na cidade, já que mui-tos deles não são daqui”, salienta um dos sócios de CPAE, Luciano Becker Soares.

A nova casa será ponto de encontro de empresários e palco de discussões jurídicas e de gestão sobre os grandes riscos que ameaçam a indústria, o comércio, a área de serviços, as finanças e o agronegócio.

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Fotos: Lisete Jardim e Carlos Jardim Arquitetura

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AGRONEGÓCIO

Arrendar terra indígena para fins agrícolas não é crime

O ato de arrendar terras sob o domínio de indígenas fere o artigo 18 do Estatuto do Índio (Lei

6.001/73), e não o artigo 2º da Lei 8.176/91, que define os crimes contra a ordem econômica e cria o Sistema de Estoques de Combustíveis. Logo, manter atividades agropecuárias nessas áreas, por con-trato de arrendamento, se revela conduta ilícita, mas penalmente atípica.

Por isso, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região manteve sentença que absolveu um indígena e três agricultores denunciados pelo Ministério Público Federal por formalizarem um contrato de arrendamento na Terra Indígena de Ivaí, município de Manoel Ribas (PR). A área, com cerca de 650 hectares, abrigava cultivos de soja, milho e trigo, cuja produção era vendida a uma grande cooperativa agropecuária.

Segundo a inicial do MPF, a instrumentalização do arrendamen-

to ilícito deu-se por intermédio da Associação Caingang Indígena de Ivaí (Aciva), representada pelo ‘‘Cacique Dirceu’’, vereador na região. Ele e os demais agricultores foram denunciados pela violação do artigo 2º, parágrafo 1º, da Lei 8.176/91 — produzir bens ou explorar matéria-prima em áreas da União sem autori-zação legal. Na apresentação da denúncia, em 21 de janeiro de 2013, foi decretada a prisão dos agricultores. O líder indígena já estava cumprindo pena de prisão preventiva, depois de ser preso pela Polícia Federal.

O titular da 1ª Vara Federal de Guarapuava (PR), juiz Marcelo Adriano Micheloti, constatou que o dispositivo que proíbe o arrendamento de terras, no Estatuto do Índio, não inclui pena criminal. Ou seja, não criminaliza essa conduta ilícita.

Já o referido dispositivo da Lei 8.176/91, discorreu o juiz federal, não tem por objetivo proteger o meio ambiente. O que ele persegue é o controle da exploração de riquezas minerais, bens da União, conforme sinalizam os artigos 20, inciso IX, parágrafo 1º; 176; e 177 — todos da Constituição. E não só: também o pagamento de compensação financeira decorrente dessa exploração. Com isso, a conduta é atípica, pois arrendar terras é algo bem diferente de explorar bens minerais da União.

Em apoio ao seu entendimento, citou precedente da 1ª Vara Federal de São Carlos (SP). Segundo a sentença da Ação Penal 0000451-52.2004.4.03.6115, a fruição, inconfundível com a usurpação, não envolve a produção; isto é, o esgota-mento de recursos. ‘‘Pela fruição se dá o aproveitamento de frutos, civis ou naturais, que não esgotam o bem. Em razão desta fundamental diferença, não se pode dizer que a fruição de bens da União se amolda ao restrito limite do art. 2º da Lei 8.176/91, que se refere ao aproveitamento de recursos não renováveis. A proteção, neste caso, é apenas civil (Código Civil, art. 1.216). As plantações (frutos naturais), arrendamento (que rende frutos civis) e a abertura de estradas internas não envolvem aproveitamento de bens esgotáveis. Atípica, portanto, a conduta dos acusados.’’

BENS MINERAIS DA UNIÃO

Sócio de cooperativa pode ter cota social executada por dívidas pessoais

César Peres presente na Conferência de Recuperação Judicial na Sorbonne

Associado de cooperativa agrícola, executado por dívidas particulares, pode sofrer penhora de suas cotas de capital, mesmo que haja restrição contratual para o ingresso de terceiros no quadro social. Por isso, a 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul manteve a penhora de cotas de um agricultor ligado a uma cooperativa na cidade de Tupanciretã, executado por uma revenda de insumos agrícolas.

A cooperativa, autora da ação, opôs Embargos de Terceiro contra a revenda, sustentando que o ato de penhora contra seu associado fere os artigos 1.094, inciso IV, do Código Civil, e o 4º, inciso IV, da Lei do Cooperativismo (5.764/1971), que vedam a transferência e a venda de cotas a estranhos à sociedade cooperativa. A entidade pediu ainda o afastamento de qualquer possibilidade de constri-ção da cota social.

Em primeiro grau, a vara judicial da comarca julgou os embargos improcedentes, já que a possibilidade de penhora de cotas predomina na jurisprudência do Tribunal de Justiça e do Superior Tribunal de Justiça. Além disso, o Código de Proces-so Civil de 1973 já trazia esta previsão, inserida no artigo 655.

“Na ação de execução, o executado não ofere-

ceu bens à penhora suficientes para garantir a exe-cução; assim, não havendo possibilidade de se dar cumprimento à execução de forma menos gravosa, deve ser mantida a constrição nas cotas capitais que o executado detém junto à embargante para satisfação, mesmo que parcial, do credor”, escreveu na sentença a juíza Fernanda de Melo Abicht.

Já o relator no TJ-RS, desembargador Marco Antonio Angelo, entendeu que, mesmo diante dos argumentos levantados pela embargante, a penho-ra de cotas do associado executado é juridicamente possível. Afinal, a cooperativa de crédito, como terceira interessada, tem a faculdade de remir a execução, o próprio bem ou, até mesmo, conceder a cota aos demais cooperativados — conforme os artigos 651; 685-A, parágrafo 2º; e 685-A, parágrafo 4º, do CPC/1973.

O relator citou precedente do Superior Tribunal de Justiça que autorizou a penhora de cotas de uma sociedade cooperativa em favor de terceiro estranho ao quadro societário. Diz a ementa do acórdão (REsp 1.278.715/PR): “É possível a penho-ra de cotas pertencentes a sócio de cooperativa, por dívida particular deste, pois responde o devedor, para o cumprimento de suas obrigações, com todos seus bens presentes e futuros (art. 591, CPC)”.

O advogado César Augusto da Silva Peres, Chief Executive Officer do escritório, participou da ‘‘1ª Conferência - Sorbonne Turnaround School’’, que aconteceu em novembro passado na Universidade de Paris 1, Panthéon Sorbonne. Durante três dias, foram debatidos temas relevantes para o atual contexto socioeconômico da realidade brasileira: Crise empresarial – A necessidade da reestruturação das empresas e o papel dos profissionais da recuperação na superação da crise; O sistema jurídico de insolvência francês e europeu em comparação à lei de recuperação de empresas e falências brasileira; Estruturas financeiras de reestruturação de empresas em distress; Alterações necessárias das leis; Condução jurídica do processo de reestruturação de empresas e gestão de ambiente de transparência e segurança jurídica neste processo.

O evento foi promovido pela TMA Turnaround Management Association do Brasil, que reuniu grandes expoentes da legislação recuperacional e de falências. Dentre os palestrantes brasileiros, destaque para as presenças do juiz da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo, Daniel Carnio Costa (entrevistado especial nesta edição do Index); do promotor do Ministério Público de São Paulo, Eronides Aparecido Rodrigues dos Santos, da Promotoria de Falências; e do advogado, professor e consultor em recuperação judicial Cássio Cavalli. Os professores da Sorbonne foram responsáveis pela formatação e condução dos painéis.

A Universidade de Paris 1, Panthéon Sorbonne, conta com oito séculos de existência. Caracteriza-se por unir cultura, tradição e excelência, sendo mundialmente reconhecida por sua reputação científica e acadêmica. É um dos grandes centros de pesquisa e conhecimento do século XXI na Europa. Oferece uma gama de cursos no campo de Ciências Jurídico-Políticas, Econômicas e Gestão, Artes e Ciências Humanas.

CONFERÊNCIA

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AGRONEGÓCIO

Foto: Shutterstock

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Assim, o Fisco não pode cobrar tributos das merca-dorias que, nessa condição, acabaram extraviadas no trajeto de retorno ao país.

Amparada nesse fundamento, a 1ª Turma do Tribu-nal Regional Federal da 4ª Região manteve sentença que livrou um exportador de pagar tributos sobre oito tambores de suco de laranja, extraviados no transporte entre Argentina e o porto seco de Uruguaiana (RS). A Receita Federal que atua naquela aduana contabilizou a volta de apenas 45 tambores, em vez dos 53 origi-nalmente exportados, passando a exigir o pagamento de tributos decorrentes do lote extraviado — declara-do, mas não encontrado pela fiscalização aduaneira durante a conferência física.

No mandado de segurança impetrado contra o ato do delegado da Receita Federal em Uruguaiana, a parte autora sustenta que o extravio não representa prejuízo à Fazenda Nacional. Afinal, em se tratando de merca-doria nacional que retorna ao país por desacordo de qualidade, não há razão para ser tributada. Em con-testação, o Fisco alega que o lançamento do tributo é legal, pela impossibilidade de se verificar se realmente a mercadoria extraviada foi aquela originalmente exportada, para que usufruísse da não-incidência.

Carga devolvida e extraviada não paga taxa de importação

O juiz Adérito Martins Nogueira Júnior, da 2ª Vara Federal de Uruguaiana, explicou que as mercadorias nacionais ou nacionalizadas que retornam ao país sofrem a incidência do Imposto de Importação, do Imposto sobre Produtos Industrializados, do PIS-Importação e da Cofins--Importação, por força da legislação. É que, nesses casos, como regra, essa mercadoria é tida como estrangeira. Sua entrada em território nacional, assim, se transforma em fato gerador desses tributos.

Conforme o juiz, essa mesma legislação lista exceções para recolhi-mento desses tributos e contribuições, sendo o caso daquelas mercado-rias que, devido a problemas técnicos que impedem seu aproveitamento pelo importador, retornam ao país de origem. E esse é o caso dos autos, pois a tributação questionada recaiu sobre mercadoria exportada para a Argentina e que não retornou ao Brasil, o que atraiu a aplicação da norma do artigo 60 do Decreto-Lei 37/66. O dispositivo, além de conceituar como extravio toda e qualquer falta de mercadoria, especifica que os tributos e direitos correspondentes às mercadorias extraviadas na importação serão exigidos do responsável mediante lançamento de ofício.

‘‘Ocorre que (...) inexiste incidência de tributos sobre as mercadorias que estão a retornar ao país, dado que se trata de mercadorias brasi-leiras que voltam ao Brasil por fatores alheios à vontade do exportador. Logo, ainda que corretamente se entenda por extraviados os oito tambores de suco de laranja outrora exportados pela impetrante, não há tributos ou direitos correspondentes a eles, o que arreda a exigência fei-ta pela autoridade impetrada’’, anotou na sentença. Em outras palavras, complementou mais diante: ‘‘Se sobre as mercadorias que efetivamente estão retornando ao território pátrio não incidem tributos de importação, o mesmo deve ocorrer em relação àquelas que, após serem exportadas, não retornaram ao Brasil’’.

Entendimento em sentido contrário, arrematou, acarretaria a ocorrência de situação contrária ao princípio da razoabilidade. É que não incidiriam tributos de importação sobre os tambores de suco de laranja que de fato estão ingressando no Brasil e, ao mesmo tempo, haveria a cobrança daqueles tributos sobre os tambores que não estão voltando para o Brasil. Ou seja, que foram exportados e permaneceram na Argentina. ‘‘Ainda que se entendesse cabível a tributação combatida, a responsabilidade pelo extravio seria do transportador, nos termos do artigo 60, parágrafo 2º, inciso I, do Decreto-Lei 37/66, o que igualmen-te afastaria a possibilidade de cobrança junto à ora impetrante [autora do mandado de segurança]’’, concluiu.

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

Mercadorias exportadas e depois devol-vidas por motivos técnicos não precisam pagar tributos de importação, quando do seu retorno ao Brasil, conforme os artigos 1º, parágrafo 1º, do Decreto-Lei 37/66; 70, caput, do Decreto 6.759/09; 2º, inciso I, da Lei 4.502/64; e 1º, parágrafo 2º, inciso I, da Lei 10.865/04

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ADUANEIRO

Atentar contra a qualidade de vida do

empregado causa dano existencial

O papel do investidor-anjo no desenvolvimento

do empreendedorismo no Brasil

Com a publicação da Emenda Constitucional 45, em 31 de dezembro de 2004, a Justiça do Trabalho passou a ser competente para julgar ações de indenização por dano moral decorrente da relação empregatícia. Está lá, expresso, no artigo 114, inciso VI, da Consti-tuição da República. Até então, a ‘‘justiça obreira’’ cuidava apenas de reparação material, originada pelo descumprimento das leis trabalhistas.

Desde então, verdade seja dita, a relação entre empregado e empregador nunca mais foi a mesma, porque o primeiro sempre tem a possibilidade de se sentir lesado nos seus di-reitos de personalidade (intimidade, honra e imagem, assegurados no artigo 5º. da mesma Carta) por ordens e comandos do segundo, que tem o chamado ‘‘poder potestativo’’. Em termos simples, a alteração constitucional deu amparo a inúmeras demandas com pedidos de danos morais, aumentando o risco jurídico nas relações trabalhistas.

Observa-se que, de lá para cá, o Poder Judiciário foi sendo abarrotado de ações indeni-zatórias, pois qualquer conduta, em tese, pode ferir os chamados ‘‘direitos fundamentais’’ e atentar contra a ‘‘dignidade da pessoa humana’’. Embora as coisas não se deem assim, muitos aventureiros se arriscam em lides temerárias. É o chamado ‘‘se colar, colou’’.

Assim, desembocamos no que já ficou conhecido por ‘‘indústria do dano moral’’. Com os inegáveis custos sociais, financeiros e econômicos. Fazer o quê? É a tentação do lucro fácil...

Entretanto, atualmente, outro instituto vem chamando a atenção das empresas e do meio jurídico trabalhista brasileiro: o dano existencial.

Enquanto o dano moral consiste na lesão sofrida pela pessoa no tocante à sua personali-dade, ou seja, lesão na esfera subjetiva de um indivíduo, o dano existencial, também chamado de dano à existência do trabalhador, decorre da conduta patronal. O dano impossibilita o empregado de se relacionar e de conviver em sociedade por meio de ativi-dades recreativas, afetivas, espirituais, culturais, esportivas, sociais e de descanso, que lhe trarão bem-estar físico e psíquico e, por consequência, felicidade. Ou o impede de executar, de prosseguir ou mesmo de recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua vez, responsáveis pelo seu crescimento ou realização profissional, social e pessoal.

Entretanto, insta deixar claro, os respectivos institutos não se confundem, embora haja a possibilidade de condenação em danos morais e existenciais cumulativamente, desde que sejam derivados do mesmo fato.

Neste passo, é preciso reconhecer que certas práticas de gestão têm o poder, efetivamente, de lesar os trabalhadores, seja na sua esfera psíquica, seja impedindo suas realizações pessoais, dando ensejo a processos de reparação de tais danos.

É comum nas ações trabalhistas, para fundamentar o dano existencial, a alegação de que os empregados são submetidos a longas e penosas jornadas de trabalho, por anos a fio, muitas vezes sem intervalos definidos de folgas.

Majoritariamente, os Tribunais Regionais do Trabalho entendem que o empregado, trabalhando em excesso de jornada, mesmo que remunerado adequadamente, conforme reza a lei, acaba se afastando das atividades que lhe proporcionariam bem-estar físico e psíquico. E não só: acaba impedido de programar o transcorrer da sua vida da forma que lhe convém.

A boa notícia é que, embora os TRTs reconheçam que a alegação de dano existencial prescinde de comprovação para caracterizar ato ilícito – ou seja, seria presumido, na qualidade in re ipsa –, tal percepção não tem encontrado guarida automática no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Felizmente, aquela corte superior adota o entendimento de que a parte autora deve fazer prova da afetação ao seu projeto de vida, para que haja o dever de indenizar por danos existenciais.

A 4ª. Turma, sob a relatoria do ministro João Oreste Dalazen, afastou o pagamento de indenização a uma ex-empregada do grupo Walmart no RS. O TRT gaúcho decidiu que ela deveria ganhar R$ 8,1 mil por excesso de jornada, o que teria comprometido o seu casamento, culminando na separação.

Dalazen disse que a autora não comprovou que seu projeto de vida – casamento – foi prejudicado pelo tempo que passava em serviço. Além disso, ele afirmou que o dano existencial devido ao excesso de serviço só ocorre quando a pessoa fica tanto tempo à disposição do empregador que acaba prejudicando de forma irreversível suas relações com familiares e amigos, seu descanso, seus hobbies e seus sonhos. Em socorro de seu entendi-mento, o ministro-relator citou diversos precedentes do TST que consideram que extensas jornadas de trabalho não geram, por si só, indenização por danos existenciais e morais.

Apesar deste desfecho favorável, as empresas devem ficar alertas, e talvez rever suas políticas de horas extras. Fica a dica.

Não há dúvidas de que o Brasil vive hoje uma das mais agudas crises eco-nômicas de sua história. Nunca se noticiaram tantos números negativos e fatos controversos, como nos últimos três anos. Contudo, apesar de todo o contra-tempo existente no cenário político-econômico, há uma conjugação de fatores internos, como a massificação da internet móvel e seus aplicativos e as mudanças nos meios de pagamentos e na relação do brasileiro com o dinheiro, que vem contribuindo para o surgimento de uma verdadeira onda de empreendedorismo digital no país.

Segundo reportagem recente da Revista Exame (Edição nº 1132, Ano 51, nº 4, 1º/3/2017), nos últimos anos, houve uma multiplicação de startups no Brasil. Hoje, existem 4.200, que realizam dezenas de apresentações atrás de recursos financeiros. Os principais fundos especializados em startups captaram quase RS 2 bilhões para investir no país. O objetivo destes fundos é encontrar o “unicórnio”, jargão hoje em voga no Vale do Silício, para identificar as empresas de tecnolo-gia que valem mais de US$ 1 bilhão.

Nunca tanto dinheiro esteve à disposição dos empreendedores brasileiros. De acordo com um levantamento realizado pela ABStartups, que reúne dados do setor, o número de startups de tecnologia no país cresce 30% ao ano.

Neste contexto, tornou-se cada vez mais comum a figura do chamado investi-dor-anjo. O termo “anjo” surgiu na primeira metade do século XX para identificar indivíduos que financiavam produções teatrais na Broadway, de maneira seme-lhante aos patronos e mecenas que apoiavam artistas nos séculos anteriores.

Atualmente, pode-se dizer que investidores-anjo são pessoas físicas ou jurídicas que fazem investimentos com o seu próprio capital em empresas de estágio inicial. Geralmente, são profissionais, executivos e empreendedores experientes que investem recursos e conhecimento em novos negócios, em busca de retornos financeiros significativos. O montante investido por investidores-anjo varia bastante, ficando entre R$ 50 mil e R$ 500 mil, sendo R$ 97,5 mil a média investida por empresa, podendo exceder esses valores no caso de um investimen-to em grupo.

Objetivando regulamentar o papel do investidor-anjo no Brasil, em 27 de outubro de 2016, foi editada a Lei Complementar 155, que alterou importantes dispositivos (artigos 61-A a 61-D) do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006).

De acordo com o novo regime, as startups poderão receber contribuições financeiras (chamadas pela lei de “aportes de capital”) de pessoas físicas e jurídi-cas ou de fundos de investimento por meio de um “contrato de participação”, que deverá especificar o propósito da contribuição e possuir prazo máximo de sete anos. Além disso, a atividade constitutiva do objeto social deverá ser exercida unicamente por sócios regulares, em seu nome individual e sob sua exclusiva responsabilidade.

Já o investidor-anjo não será considerado sócio nem terá qualquer direito a gerência ou voto na administração da empresa. De igual forma, não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial e na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, sendo remunerado por seus aportes, pelo prazo máximo de cinco anos. Caso os sócios decidam pela venda da empresa, o investidor-anjo terá direito de preferência na aquisição, bem como direito de venda conjunta da titularidade do aporte de capital, nos mesmos termos e condições que forem ofertados aos sócios regulares.

A lei determina, ainda, que o aporte de capital não deverá ser considerado receita da startup, para fins de enquadramento desta no Simples Nacional; tampouco, parte integrante do capital social. Ao final de cada período, o inves-tidor-anjo fará jus à remuneração correspondente aos resultados distribuídos, conforme contrato de participação, não superior a 50% dos lucros da sociedade, enquadrada como microempresa ou empresa de pequeno porte.

Como se observa, portanto, a nova regulamentação traz algumas importantes inovações que têm sido recebidas com bons olhos pelo mercado, em que pese haver diversas lacunas legais que deverão ser sanadas pela legislação e pela jurisprudência dos tribunais. A generalidade dos dispositivos da lei significa, por outro lado, uma abertura para que as partes possam acomodar mais livremente seus interesses no contrato de participação, o que tende a produzir bons resulta-dos para o fomento deste universo, cada vez mais expressivo, do empreendedo-rismo em nosso país.

ARTIGOS

Por Alice Romero

Advogada especializada em Processo e em Direito do Trabalho

Por Geovane Machado Alves

Advogado especializado em Direito Tributário

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Page 9: Lei de Recuperação Judicial só vai deslanchar com a ... · Vale a pena conhecer as suas ideias. As decisões jurídicas sobre o mundo do traba-lho receberam especial relevância

A possibilidade de extinção das execuções

pela imobilidade do credor

As novas regras das averbações premonitórias: limites impostos pelo novo

Código de Processo Civil

A averbação premonitória é velha conhecida dos credores que buscam a satisfação de seus créditos por meio de processos judiciais. Trata-se de uma medida na qual se anota nos registros dos bens – junto aos Departamentos de Trânsito e nos cartórios de registros de imóveis, prin-cipalmente – a existência de um processo de execução. O objetivo é dar conhecimento, a terceiros, de que aquele proprietário sofre um processo e que aquele bem é passível de ser penhorado e, logicamente, trocar de titularidade.

No antigo Código de Processo Civil (CPC), publicado em 1973, a possibilidade da averbação constava no artigo 615-A e veio após algumas reformas importantes para diminuir as ocorrências de fraude à execução, bem como para prestigiar o princípio da boa-fé objetiva, às vezes, tão alegado e tão difícil de verificar. Contudo, a previsão dessas averbações premonitórias no artigo 828 do novíssimo CPC – publicado em março de 2015 – possui agora um limite que, caso ultrapassado, trará consequências relevantes.

Com o advento do novo Código, o exequente – o que promove a exe-cução – só poderá requerer a certidão para as averbações premonitórias quando o processo for admitido pelo magistrado; ou seja, somente após verificar que as condições da ação estão preenchidas – possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade das partes – é que o juiz irá determinar a citação. Anteriormente, era possível obter essa certidão após ter o carimbo da distribuição do processo, o que poderia gerar inúmeras irregularidades e averbações irresponsáveis.

Também consta na nova legislação, de forma expressa, que o exe-quente deve estar atento ao valor da causa e a quantidade de averba-ções que irá providenciar, para não se exceder. Não é possível averbar o imóvel de residência do devedor e o seu veículo de trabalho, por exemplo.

É o cuidado para não ser excedido o número de averbações, indis-ponibilizando mais bens do que o necessário para garantir a execução, que o limite se tornou expresso no novo Código para as averbações premonitórias.

O artigo 828, parágrafo 5º, do CPC/2015 (Lei 13.105/15), é muito claro. O dispositivo deixa expresso que o credor que exagerar nas aver-bações – promovendo averbação manifestamente indevida ou não can-celando as averbações desnecessárias ou sem proveito, dentro do prazo previsto – indenizará a parte contrária em incidente manejado em autos apartados. Verifica-se que a palavra usada pelo legislador – indenizará – impede qualquer discussão sobre a existência dessa ordem.

O que se via antes nos processos executivos, em caso de excesso de averbação, era apenas uma manifestação da parte executada, esclare-cendo e comprovando que o exequente havia extrapolado esse direito. E requerendo que o juízo expedisse ordem de desaverbação do excedente.

Atualmente, o executado que verificar o excesso de averbação em seus bens, por parte de um credor exequente, terá direito a indenização em caso de dano. Em outras palavras, está expresso na nova legislação que o abuso do direito de averbar não será tolerado pelo Poder Judiciário. Afinal, todo o abuso, devidamente comprovado, gera algum dano passí-vel de reparação.

Diante deste novo quadro, se percebe o cuidado que o credor exequente deve ter ao promover atos possíveis de garantir seu direito à satisfação do crédito. Caso se exceda, o exequente não terá argumentos e base legal para fugir da indenização requerida pelo devedor. Assim, nunca é demais lembrar que há excesso de execução quando se preten-de executar quantia superior àquela constante do título.

ARTIGOS

Por Renata de Alcântara e Silva Terra

Advogada especializada em Recuperação de Crédito e Ativos e em Direito do Consumidor

Sempre que se verifica a hipótese de “prescrição intercorrente” na deno-minada fase de “cumprimento de sentença” ou do processo de execução, o juiz deve extinguir o respectivo processo. E não poderia ser diferente, a princípio. Afinal, a “prescrição intercorrente” nada mais é do que o reco-nhecimento da perda do direito de ação no curso do processo, em razão da inércia do autor, que não praticou os atos necessários para seu prossegui-mento. Em síntese: ele deixou a ação paralisada por tempo superior ao máximo previsto em lei para a prescrição do direito discutido. Como se vê, o direito não socorre aos que dormem – dormientibus non sucurrit Ius.

No entanto, o reconhecimento da perda deste direito de ação não é tão ‘‘automático’’ assim, tanto que a discussão ganha os tribunais superiores. Para definir os requisitos que devem ser observados para a aplicação da prescrição intercorrente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em fevereiro último, acolheu o primeiro Incidente de Assunção de Competência (IAC) desde que esse instituto foi fortalecido pelo Código de Processo Civil - CPC de 2015 (Lei 13.105).

Com a aprovação do Incidente, a Segunda Seção do STJ julgará um Recurso Especial – inicialmente distribuído à Terceira Turma – que discute os seguintes temas: cabimento da prescrição intercorrente e a eventual imprescindibilidade de intimação prévia do credor; e a necessidade de oportunidade para o autor dar andamento ao processo paralisado por prazo superior àquele previsto para a prescrição da pretensão veiculada na demanda.

O Incidente foi proposto para afastar a divergência de entendimento entre as duas turmas de Direito Privado do Tribunal, sendo previsto para processos que envolvem relevante questão de direito, com grande repercus-são social e sem repetição em diversos processos – situação em que o caso poderia ser submetido ao rito dos chamados recursos repetitivos. No caso concreto, apenas a título de registro, o Recurso Especial foi interposto por uma cooperativa agroindustrial do Estado de Santa Catarina, que teve a execução extinta na primeira instância da Justiça.

É importante destacar que as decisões proferidas em julgamento de IAC agora são identificadas como “precedentes qualificados”, o que significa que as teses lançadas devem ser observadas de forma estrita por juízes e tribunais.

Em resumo, o que deve ser definido é se, para o reconhecimento da prescrição intercorrente, seria indispensável a intimação do credor, bem como se deve ser garantida oportunidade para que o autor dê andamento ao processo paralisado por prazo superior àquele previsto para a prescrição da pretensão executiva.

Atualmente, existem decisões no sentido da ocorrência de prescrição intercorrente quando o exequente – aquele que promove a execução – de dívida permanece inerte por prazo superior ao de prescrição do direito ma-terial pleiteado. Por outro lado, a maioria das decisões consigna que, para o reconhecimento da prescrição intercorrente, é imprescindível a compro-vação da inércia do exequente, mediante intimação pessoal do autor para diligenciar nos autos.

Vale mencionar que o novo CPC estabelece de forma expressa, em seu artigo 926, que “os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e man-tê-la estável, íntegra e coerente”. Em outras palavras, os tribunais devem afastar divergências internas sobre questões jurídicas idênticas, justamente por fazerem parte de um sistema que deve se revelar, primordialmente, coerente, a fim de promover a almejada segurança jurídica.

Isso significa que a interpretação judicial do direito deve ser segura – cognoscível, estável e confiável –, para que seja viável a realização dos princípios da liberdade e da igualdade.

Ninguém pode negar que o que se espera de nossos tribunais é seguran-ça jurídica. Assim, que seja recebido com esperanças o novo Incidente de Assunção de Competência.

Por Felipe Meneghello Machado

Advogado especializado em Direito Cível

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