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ARTIGO ARTICLE 3191 1 Departamento de Psicologia, Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Volta Redonda. R. Desembargador Ellis Hermydio Figueira 783/Bloco A, Aterrado. 27.213-415 Volta Redonda RJ Brasil. [email protected] 2 Instituto de Psicologia, Centro de Educação e Humanidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 3 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. Ampliando o diálogo entre trabalhadores e profissionais de pesquisa: alguns métodos de pesquisa-intervenção para o campo da Saúde do Trabalhador Broadening the dialogue between workers and research professionals: some research-intervention methods for the occupational health field Resumo O artigo discute alguns métodos que enfatizam formas coletivas e compartilhadas de análise das relações que se estabelecem no e com o trabalho, em relação sinérgica com a experiência dos protagonistas do trabalho. Pode-se caracteri- zá-los como métodos de pesquisa-intervenção que apresentam contribuições importantes para o campo da Saúde do Trabalhador, alguns dos quais desenvolvidos no âmbito da Psicologia do Traba- lho. Métodos que tem como sua referência a “en- quete operária” de Karl Marx, destacando-se as contribuições de algumas das Clínicas do Traba- lho – considerando-se a presença de afinidades teórico-metodológicas e diferenças – como o Mo- delo Operário Italiano de luta pela saúde, a Ergo- nomia da Atividade e a Psicodinâmica do Traba- lho. Em seguida, discute-se a proposta avançada pela Ergologia – o Dispositivo Dinâmico de Três Polos – e uma de suas configurações que vem sen- do desenvolvida no Brasil, a Comunidade Ampli- ada de Pesquisa. Palavras-chave Saúde do trabalhador, Saúde mental e trabalho, Metodologia Abstract The paper discusses some methods that emphasize collective and shared analysis of the relationship established “at” and ‘with” work, in a synergetic relationship with the experience of the protagonists at work. They can be character- ized as research-intervention methods that make important contributions to the field of Occupa- tional Health, some of which are developed with- in the scope of the Psychology of Work. Methods that use Karl Marx’s “worker poll” as their bench- mark, highlighting contributions from some of the Work Clinics – taking the existence of theoretical and methodological affinities and differences into consideration – such as the Italian Worker Model of the quest for health, Ergonomics in the Work- place and the Psychodynamics of Work. Subse- quently, the Three-Pole Dynamic Device put for- ward by Ergology is discussed, as well as one of its configurations being developed in Brazil, namely the Extended Research Community. Key words Occupational health, Mental health and work, Methodology Tatiana Ramminger 1 Milton Raimundo Cidreira de Athayde 2 Jussara Brito 3

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1 Departamento de

Psicologia, Universidade

Federal Fluminense, Polo

Universitário de Volta

Redonda. R. Desembargador

Ellis Hermydio Figueira

783/Bloco A, Aterrado.

27.213-415 Volta Redonda

RJ Brasil.

[email protected] Instituto de Psicologia,

Centro de Educação e

Humanidades,

Universidade do Estado do

Rio de Janeiro.3 Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca,

Fundação Oswaldo Cruz.

Ampliando o diálogo entre trabalhadores e profissionaisde pesquisa: alguns métodos de pesquisa-intervençãopara o campo da Saúde do Trabalhador

Broadening the dialogue between workersand research professionals: some research-intervention methodsfor the occupational health field

Resumo O artigo discute alguns métodos que

enfatizam formas coletivas e compartilhadas de

análise das relações que se estabelecem no e com o

trabalho, em relação sinérgica com a experiência

dos protagonistas do trabalho. Pode-se caracteri-

zá-los como métodos de pesquisa-intervenção que

apresentam contribuições importantes para o

campo da Saúde do Trabalhador, alguns dos quais

desenvolvidos no âmbito da Psicologia do Traba-

lho. Métodos que tem como sua referência a “en-

quete operária” de Karl Marx, destacando-se as

contribuições de algumas das Clínicas do Traba-

lho – considerando-se a presença de afinidades

teórico-metodológicas e diferenças – como o Mo-

delo Operário Italiano de luta pela saúde, a Ergo-

nomia da Atividade e a Psicodinâmica do Traba-

lho. Em seguida, discute-se a proposta avançada

pela Ergologia – o Dispositivo Dinâmico de Três

Polos – e uma de suas configurações que vem sen-

do desenvolvida no Brasil, a Comunidade Ampli-

ada de Pesquisa.

Palavras-chave Saúde do trabalhador, Saúde

mental e trabalho, Metodologia

Abstract The paper discusses some methods that

emphasize collective and shared analysis of the

relationship established “at” and ‘with” work, in

a synergetic relationship with the experience of

the protagonists at work. They can be character-

ized as research-intervention methods that make

important contributions to the field of Occupa-

tional Health, some of which are developed with-

in the scope of the Psychology of Work. Methods

that use Karl Marx’s “worker poll” as their bench-

mark, highlighting contributions from some of the

Work Clinics – taking the existence of theoretical

and methodological affinities and differences into

consideration – such as the Italian Worker Model

of the quest for health, Ergonomics in the Work-

place and the Psychodynamics of Work. Subse-

quently, the Three-Pole Dynamic Device put for-

ward by Ergology is discussed, as well as one of its

configurations being developed in Brazil, namely

the Extended Research Community.

Key words Occupational health, Mental health

and work, Methodology

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Introdução

O campo denominado na América Latina porSaúde do Trabalhador insere-se na tradição dosestudos sobre a relação entre vida, saúde e traba-lho, produzindo-se aí um desvio, na medida emque propõe deslocar o centro da análise do indi-víduo para o processo produtivo (processo detrabalho e relações sociais)1,2.

Nesta variação, encontra-se o entendimentode que analisar e intervir/interferir fazem partedo mesmo processo, sem que necessariamentehaja uma sequência linear. Pode-se então falar naderiva “compreender � transformar”3. Por ou-tro lado, considerando-se a capacidade norma-tiva dos viventes4, os humanos ao trabalhar,mesmo sob condições de exploração, não estãoexcluídos da potência afirmativa da vida. Emer-ge nesta cena o humano em atividade, frente aadversidades, com sua vitalidade, interessado emseu desenvolvimento, pessoal e coletivo (do ofí-cio). Trata-se de um enigma cuja compreensão emelhor encaminhamento passam pela experiên-cia dos protagonistas do trabalho. Assim sendo,qualquer dispositivo para compreender �transformar o trabalho em sua dinâmica com asaúde deve ser, sempre que possível, uma opera-ção de coanálise. A participação dos trabalhado-res – individual e coletivamente – na identifica-ção e enfrentamento de situações geradoras deadoecimentos e acidentes tornou-se uma marcadeste campo, denominado Saúde do Trabalha-dor, na América Latina.

Este artigo visa contribuir para a discussãometodológica (e seus pressupostos epistemológi-cos), na perspectiva de qualificar uma relação dia-lógica5,6 entre pesquisadores profissionais e pro-tagonistas do trabalho em análise. Busca-se fazê-lo a partir de uma breve apresentação de algunsdos métodos que têm orientação epistemológicarelativamente comum e dos quais temos feito uso,quais sejam, a Enquete Operária de Marx, a Aná-lise Ergonômica do Trabalho, a Enquete da Psi-codinâmica do Trabalho, as contribuições doModelo Operário Italiano de luta pela saúde e odesenvolvimento mais recente conformado pelaErgologia, com o Dispositivo Dinâmico de TrêsPolos e uma de suas configurações no Brasil: aComunidade Ampliada de Pesquisa. Com estaseleção não se ignora outras opções metodológi-cas e técnicas disponíveis, com algumas das quaishá, inclusive, significativas interfaces7,8.

O desenvolvimento destas metodologias se-gue como um desafio no campo da Saúde doTrabalhador, o que se pode perceber em disser-

tações, teses, eventos e livros recentes, como osorganizados por Minayo-Gomes et al., sobreSaúde do Trabalhador na sociedade brasileiracontemporânea1; e Assunção e Brito9, neste casotendo como foco os trabalhadores em saúde.Outros se dedicam à questão mais específica daSaúde Mental, como o organizado por Glina eRocha10 ou das Clínicas do Trabalho, como oorganizado por Bendassoli e Soboll11.

1. Marx e a “Enquete Operária”

Inicia-se por um registro histórico-genealó-gico, incontornável: as ideias que norteiam essalinhagem metodológica passam pelo processo deprodução de conhecimento encaminhado porMarx, mais explicitamente quando ele incorpo-rou, em 1880, ao seu ousado processo de análisehistórica, um empreendimento que se tornouconhecido por “Enquete Operária”. Marx, com oexercício da Enquete, revelava-se em oposição àideia de que o trabalhador ignora ou é apenaspassivo frente à realidade que vive, afirmandono texto O Questionário de 188012 que “apenaseles podem descrever, com todo conhecimentode causa, os males que suportam, e de que sóeles, e não os salvadores providenciais, podemenergicamente remediar as misérias sociais quesofrem”.

Na verdade, a forma de investigação deno-minada “enquete” fora criada nas primeiras dé-cadas do século XIX, na Europa mais industria-lizada, a partir de demandas policiais-governa-mentais, morais e religiosas, para dar conta daemergente “questão operária”, como então se de-signava a miséria e a periculosidade do trabalhooperário. Conforme Bidet e Vatin13, desde 1830desenvolveu-se uma tradição de descrição técni-ca minuciosa da indústria na Inglaterra que ali-mentaram a fascinação de Marx pelo maquinis-mo com informações decisivas para suas análi-ses sobre o sistema técnico daquele período.

Posteriormente, estas técnicas começaram aser utilizadas pelos chamados grupos socialistas(aqui entendidos como as forças que passarama se contrapor à doutrina do liberalismo econô-mico), com o objetivo de autoconhecimento daclasse operária. Temos, por exemplo, a investiga-ção realizada por Engels14, entre 1842-1844, pelasprincipais cidades industriais inglesas, publicadaem 1845 com o título “A situação da classe traba-lhadora na Inglaterra”.

Na França, o movimento de organização dostrabalhadores consegue, em 1879, realizar umCongresso Operário, em Marseille, no qual as

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teses marxistas foram vitoriosas. Foi assim que,em 1880, a pedido da Revue Socialiste, que orga-nizava uma enquete sobre a realidade operária,Marx formulou um questionário (na forma deum questionamento) direcionado a trabalhado-res do campo e da cidade, com o objetivo nãoapenas de levantar dados e características de suasituação de trabalho, como também de mobili-zar a consciência crítica do trabalhador a respei-to de sua condição de exploração. Além da pu-blicação pela Revista foram também enviadas có-pias para, nas palavras do autor, “todas as soci-edades operárias, todos os grupos ou círculossocialistas e democráticos, a todos os jornais fran-ceses”15, disponibilizando-a a todos os interessa-dos que o solicitassem.

O questionário, com 101 questões, era divi-dido em quatro partes, alinhavado por um posi-cionamento inicial de Marx sobre a exploraçãocapitalista, fruto de suas descobertas. A primeirasolicitava e orientava uma descrição da fábricaem que trabalhavam, contemplando três gruposprincipais de perguntas: composição do coletivode trabalhadores enquanto força de trabalho,estrutura da fábrica do ponto de vista técnico econdições de trabalho. A segunda parte investi-gava estes fatores, mas em sua dinâmica, consi-derando as formas de domínio e exploração; e aterceira privilegiava a questão salarial. Com estasequência, Marx pretendia – questionando – darsubsídios de economia política suficientes paraque os trabalhadores percebessem, com clareza,as formas de exploração a que estavam submeti-dos. Finalmente, a última parte do questionárioera um convite à reflexão, solicitando informa-ções sobre como eles já estariam se opondo, nocotidiano, à exploração.

Para melhor compreensão da forma-enqueteusada por Marx, vale ressaltar alguns pontos.Primeiro, a forma interrogativa, estimulando odiálogo crítico, algo que se vai encontrar posteri-ormente no Brasil, com Freire e Faundez16 e Boal17.A formulação das perguntas e sua ordenação re-velam a ausência de qualquer ilusão de neutrali-dade; ao contrário, busca-se o rigor pela via daclareza da posição, explicitando a problemáticaque orienta o questionário. Uma estratégia queimplica o pensamento, mobilizando o outro, exi-gindo que ele se mova em um raciocínio próprio,para além de uma resposta mecânica.

Thiollent18 destaca a presença de um tipo de“imposição de problemática” que oferece indica-ções científicas sobre o assunto e estimula o ques-tionamento, a busca por investigar o mundo emque se vive e trabalha. E mais: para além do cam-

po emocional, dos sentimentos e opiniões, naEnquete privilegia-se o processo cognitivo, ten-do como objeto a lógica do capital, buscando aruptura com o senso comum.

2. Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

Ergonomia, no imediato pós-segunda guerra,na Inglaterra, foi a denominação da primeira as-sociação (Ergonomic Research Society) que reu-nia profissionais de diversas disciplinas, sobretu-do a Psicologia, Fisiologia e Engenharias, para umempreendimento inovador: adaptar o trabalhoao homem e não o inverso, como operava a Psi-cotécnica. “Filha da guerra”, esta primeira Ergono-mia, como tantas outras inovações produzidas apartir deste trágico acontecimento histórico, foitransportada para o mundo industrial, onde sepercebiam problemas de natureza similar19.

A análise ergonômica, como nos explicamLeplat e Hoc20 e Montmollin21 tem duas grandesabordagens: uma, identificada com as experiên-cias estadunidenses e britânicas, centrado nocomponente humano (human factors) do siste-ma homem-máquina; e outra que se desenvol-veu a partir dos países francófonos, privilegian-do a análise da atividade situada, expressão dainteração dinâmica entre sujeito e tarefa. O obje-tivo da primeira abordagem é adaptar os dispo-sitivos tecnológicos às características e limites dosseres humanos e, para tanto, prioriza métodoscientíficos baseados na generalização e quantifi-cação sem, necessariamente, ter que recorrer auma observação ou discussão do trabalho comos operadores. Já a segunda, traz como uma dasprincipais contribuições a diferenciação entre tra-balho prescrito e trabalho real (avançando pos-teriormente para os conceitos de tarefa e ativida-de), sendo imprescindível a análise da situaçãoconcreta de trabalho.

Para Montmollin21 seria mais preciso falarem Ergonomias, complementares, mas não semcontradições. A Ergonomia dos componenteshumanos (Human Factors) seria uma “ergono-mia de primeiros socorros” que considera as ca-racterísticas dos postos de trabalho (iluminação,calor, umidade, ruídos, assentos, etc.), indepen-dente daqueles que os ocupam. Já a Ergonomiada Atividade (EAt) permite ao trabalhador inte-ressar-se por sua “atividade real, temporal, com-plexa, rara, aparentemente inventiva e, às vezes,imperfeita”22. Ao demonstrar que a situação realde trabalho jamais é apenas o cumprimento deregras pré-estabelecidas, conforme acreditava agerência racionalizadora taylorista, por exemplo,

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No plano metodológico, para dar sustenta-ção à ação ergonômica, desenvolveu-se a AnáliseErgonômica do Trabalho (AET), cujo princípioé “compreender para transformar”23. Inicia-sepela análise da demanda, interrogando os pro-blemas apresentados pelos contratantes, instru-indo-a e definindo os objetos da ação. O objeti-vo é dar visibilidade às dificuldades e estratégiasdesenvolvidas para gerir a distância entre a tare-fa prescrita e atividade, aí constituindo o chama-do ponto de vista da atividade24. Um ponto devista dentre outros, como o dos resultados, dascondições de produção, mas que em regra en-contra-se excluído ou inteiramente subordinadoaos demais. Constituindo-o, é preciso colocá-loem confrontação com os demais.

Como afirma Teiger19, a atividade de traba-lho não é um objeto dado para um investigadorque o coletaria, mas um objeto a ser construídoe reconstruído, em parceria com os protagonis-tas do trabalho em análise. Isto porque a ativi-dade não se limita àquilo que pode ser direta-mente observado, registrado e quantificado, sen-do essencial a confrontação e a verbalização dooperador. Conforme esclarece Botechia25:

[...] a verdadeira ruptura com a Ergonomia

britânica e americana acontece quando a palavra

passa a ser considerada como um comportamento

carregado de sentido. Nesta direção, a Análise Er-

gonômica do Trabalho deve levar em conta a ob-

servação dos comportamentos motores e também

das trocas verbais estabelecidas em uma situação

de trabalho.A AET tem como ponto de partida a existên-

cia de uma demanda, seguida por negociações,por uma análise global, pela análise da demandae sua reformulação, por focalizações e um pré-diagnóstico, contemplando observações sistemá-ticas no curso da atividade e a confrontação comos trabalhadores, buscando a elaboração conjuntade alternativas para a transformação dos proble-mas identificados na situação de trabalho anali-sada. O processo de restituição e validação dosresultados apresentados no diagnóstico prelimi-nar é fundado no diálogo construtivo da con-frontação de compreensões, o que configura umverdadeiro processo de coprodução de conheci-mentos. De fato, para Daniellou26,27, a validaçãose dá em dois atos: (a) no contexto da interven-ção, por meio de restituições sucessivas dos resul-tados aos sujeitos participantes buscando eviden-

ciar os processos subjacentes à problemática deanálise; (b) fora do contexto sociotécnico de pro-dução, ou seja, nos fóruns científicos norteadospor regras da práxis da Ergonomia. Todo esteitinerário metódico conflui para chegar a um di-agnóstico ergonômico, apresentado em um rela-tório final contendo um caderno de encargos, queconduz à negociação da implementação ergonô-mica para a transformação positiva do trabalho.

O que caracteriza essa abordagem clínica28

em relação a outros modos de analisar o traba-lho é a exigência da presença do pesquisador láonde o trabalho acontece, constituindo-se o pon-to de vista da atividade, fazendo uso da confron-tação das observações dos pesquisadores comas vivências dos trabalhadores, possibilitandotanto o diagnóstico (compreensão), como o de-senvolvimento (transformação) dos modos detrabalhar. No que diz respeito a seusresultados, Daniellou26 sinaliza que não há umarelação imediata entre conhecimento, diagnósti-co, ação e prognóstico, mas espera-se ao menostransformar as representações dos atores visan-do a transformação das situações.

3. Enquete como estratégia metódica

da Psicodinâmica do Trabalho

Junto com a Ergonomia, a Psicopatologia doTrabalho formou a base inicial mais influente datradição das clínicas do trabalho desenvolvidasna França. Emergindo no pós-segunda-guerrapor psiquiatras como Le Guillant, Sivadon, Veil eFernandez-Zöila, a Psicopatologia do Trabalho(PPT) concentrou sua atenção nos modos comoo trabalho capitalista contribuía para o adoeci-mento psíquico29-31. O projeto mais influente,inicialmente assumido por Le Guillant, era o dechegar a um mapeamento da formas de adoeci-mento ligadas ao trabalho capitalista. Seus refe-renciais teóricos e metodológicos foram se dife-renciando, da abordagem do CondicionamentoClássico pavloviano à Fenomenologia e mesmoà Gestalt32,33.

Já no final dos anos 1970, a “segunda gera-ção” da Psicopatologia do Trabalho, especialmen-te a corrente AOCIP liderada por Dejours, des-cobriu que os trabalhadores não se revelavampassivos frente aos constrangimentos organiza-cionais, desenvolvendo sistemas defensivos cole-tivos (de tipo estratégico e ideológico) para seproteger destes constrangimentos e dos riscos deadoecerem. O foco, portanto, deixa de ser a bus-ca de detecção das doenças mentais ocasionadaspelo trabalho e passa a ser o sofrimento e as de-

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fesas contra o sofrimento no trabalho, ou ainda,a normalidade e não a doença mental34. Aos pou-cos, Dejours inverte a pergunta-chave da Psico-patologia do Trabalho, questionando não maissobre como, em que medida, o trabalho “enlou-quece”, mas justamente sobre o modo como ostrabalhadores, mesmo quando sujeitos às maisdiversas pressões patogênicas no trabalho, con-seguem evitar a descompensação, os transtor-nos mentais graves, o adoecimento.

Como o próprio autor explica:Simultaneamente, era a ‘normalidade’ que sur-

gia como enigma central da investigação e da aná-

lise. Normalidade que ocorre, de saída, como equi-

líbrio instável, fundamentalmente precário, entre

o sofrimento e as defesas contra o sofrimento […].Ao operar esta passagem da patologia à normali-

dade, sou levado a propor uma nova nomenclatu-

ra para designar essas pesquisas: Psicodinâmica do

Trabalho35.Dejours35 salienta que o desenvolvimento de

seus estudos foi possível graças a um duplo diá-logo maior: com a Psicanálise e com a Ergono-mia. A partir da diferença apontada pela Ergo-nomia da Atividade, entre trabalho prescrito etrabalho real, Dejours interessou-se pelos elemen-tos organizativos e subjetivos que colaboram paraa luta pela saúde, propondo a definição de que “otrabalho é a atividade coordenada desenvolvidapor homens e mulheres para fazer face àquiloque, em uma tarefa socialmente considerada útil,não pode ser obtido pela estrita execução da or-ganização prescrita”36.

Em seu entendimento, do ponto de vista clíni-co, trabalho é aquilo que o sujeito deve agregar desi mesmo às prescrições para poder atingir osobjetivos que lhe foram determinados37. Traba-lhar, portanto, é dar conta do hiato, da lacunaque emerge em situação concreta, na medida emque o prescrito, o patrimônio de conhecimentoformalmente instituído não é suficiente, exigindoum agir em competência capaz de detectar, inter-pretar e reagir. Ou seja, este processo exige a mo-bilização da inventividade e formas de inteligênciaespecíficas, às quais Dejours denomina engenho-sidade, astúcia ou inteligência da prática, do cor-po. Toda atividade de trabalho inclui, portanto,uma forte mobilização subjetiva que, se por umlado é “espontânea”, por outro, não deixa de serextremamente frágil, dependendo da dinâmicaentre contribuição e retribuição, envolvendo ojulgamento de outrem. O trabalhador espera re-conhecimento simbólico da sua contribuição, sema qual tende a desmobilizar-se, com profundasconsequências para sua saúde mental.

Nesta leitura, se a grande contribuição daErgonomia da Atividade foi demonstrar a defa-sagem entre trabalho prescrito e trabalho real, aPsicodinâmica do Trabalho sublinhou a inteli-gência, a forma de inteligibilidade que é colocadaem ação, para dar conta deste hiato. Seu objeti-vo, entretanto, à diferença do que Dejours enten-de ser o projeto da Ergonomia, não é desvendara realidade do trabalho humano em suas dimen-sões físicas e cognitivas, mas a vivência subjetiva.

Para tanto Dejours desenvolveu a estratégiade investigação denominada “Enquete”. É inte-ressante assinalar que a respeito do método daPsicodinâmica do Trabalho (PDT), apenas seteanos depois da publicação de seu primeiro livrona França, em 1980, é que encontramos um tex-to de Dejours sobre o tema. E assim tem sidodesde então, é sempre a partir de cobranças dacomunidade científica, com quem dialoga e seconfronta, que Dejours vem esclarecendo a pro-posição metodológica de sua corrente, mas sem-pre o fazendo à distância do gênero manual demétodo.

Não obstante, no Brasil, por parte de muitosprofissionais que se referem ao campo da PDT,raramente encontramos o uso efetivo de suaabordagem metodológica. Justo o contrário, es-pecialmente quanto ao uso de questionários. Oque seria legítimo, desde que precedido por umaanálise crítica da proposta do autor, argumen-tando pela dissociação operada entre a teoria e ométodo da PDT.

Ao aproximar-se de sua proposição meto-dológica verifica-se que ela tem como ponto departida uma demanda. Antes de seguir adiante,vale registrar que encontra-se aqui um pontonevrálgico de discordâncias no Brasil, pois paramuitos, esperar que uma demanda chegue a serformulada ao especialista, não permite enfrentara gravidade dos problemas em curso na realida-de brasileira.

Por outro lado, pode-se assinalar aqui umponto comum de interesse com a Ergonomia e,principalmente, com a corrente da Análise Insti-tucional38. Trata-se do primado do trabalho dademanda. A demanda – quem a formula, qualseu conteúdo – passa por uma análise. A análiseda demanda é fundamental e integra a fase de-nominada por Dejours de Pré-enquete.

Nunca se vai só para este tipo de empreendi-mento. Define-se uma equipe de intervenção, for-mada ad hoc por profissionais de pesquisa (umgrupo interdisciplinar, contando com dois ou trêspesquisadores, ao menos um com formação ex-traPDT) que participará diretamente. A esta equi-

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pe se agrega outra, também profissional, de apoioexterno (ou de fora), que confere um olhar par-ticular, pela sua exterioridade, à dinâmica emcurso. Uma terceira equipe de enquete incorpo-ra, do interior da empresa/empreendimento, osprotagonistas daquele meio, voluntários para aoperação da enquete. Este coletivo de pilotageminterna é, com frequência, composto por traba-lhadores que participam de dispositivos já exis-tentes no trabalho (no Brasil seriam, por exem-plo, membros da Comissão Interna de Preven-ção de Acidentes – CIPA). Dejours37 consideratratar-se de um coletivo da maior importância,pois deve construir condições para prosseguir aação com autonomia, independente dos especia-listas contratados.

No momento inicial busca-se informaçõessobre o processo de trabalho, suas transforma-ções, o que supõe acesso a documentos de diver-sos tipos, referentes à empresa/empreendimen-to. Em seguida, é preciso ter acesso ao meio detrabalho, visitar a empresa/empreendimentoacompanhados por diferentes guias (gerentes,engenheiros e médicos, sindicalistas, trabalhado-res de base). Enfim, trata-se de abordar a orga-nização (real) do trabalho, assim como conhe-cer a história de tensões e conflitos neste meio detrabalho, chegando a compreender sua dinâmi-ca. Pode-se registrar também aqui a existência depontos em comum com a análise global da AET,mas Dejours incide uma diferença, pois seu obje-tivo não seria:

chegar a uma descrição objetiva da relação

homem-trabalho [...] (mas) obter a base concreta

necessária para compreender do que falam os tra-

balhadores que participam da pesquisa e ter uma

representação, em imagens, das condições ambi-

entais do sofrimento34.O momento da Enquete propriamente dita

desenvolve-se em um local identificado com o tra-balho, reunindo o coletivo de pesquisa em tornodas relações entre organização do trabalho e so-frimento psíquico, tendo já passado por uma re-formulação da demanda inicial. Pede-se então aostrabalhadores que deem suas próprias explica-ções e interpretações dos fatos que levaram à de-manda. A ênfase encontra-se na linguagem, nasfalas, nos comentários verbais sobre o conteúdode sua demanda e não na objetividade dos fatos.

Destaca-se aqui um ponto em comum com oMovimento Operário Italiano – MOI: o créditona importância do caráter homogêneo do grupode trabalho, “que compartilham as mesmas con-dições de trabalho e têm laços orgânicos entresi”2, bem como em tudo aquilo que é objeto de

consenso (o MOI entende que os resultados de-vem passar por validação consensual, a fim deque reflitam a experiência coletiva).

Finalmente, a validação e a refutação estãorelacionadas ao que emerge com caráter de co-mentário (entendendo-o como a forma de pen-sar dos trabalhadores sobre sua situação, atra-vés dos quais se tem contato com seus processosde subjetivação) e interpretações (justas ou não,que fazem ou não avançar o debate). O cuidadocom que deve ser conduzido este debate, paraque não se cometa nenhuma violência simbólica,chama a atenção do quanto a subjetividade dopesquisador encontra-se engajada na técnica,aproximando-se do que se entende por “impli-cação” na Análise Institucional39,40.

Outro ponto destacado refere-se à definiçãodo que constitui o material da enquete, conside-rado por Dejours a parte mais difícil. Ele é resul-tado de uma exploração realizada no interior doque foi antes discutido pelo coletivo. Para De-jours35, poder falar com alguém é a forma maispotente de pensar a experiência vivida subjetiva-mente e, no caso do grupo, um meio de elabora-ção coletiva das experiências e ainda um “opera-dor de construção do próprio coletivo”.

4. O Modelo Operário Italiano de luta

pela saúde (MOI) e o dispositivo

Comunidade Científica Ampliada (CCA)

Na Itália, nas décadas de 1960 e 1970, no con-texto da emergência e afirmação do movimentosindical como principal protagonista na trans-formação social, com a contribuição significati-va de Ivar Oddone e Alessandra Re, construiu-seuma proposta de análise-intervenção ancoradaem um modelo operário de conhecimento e emoutra psicologia do trabalho, centrados na valo-rização da experiência dos trabalhadores.

Comentando um livro de Oddone et al.41, ain-da não publicado no Brasil (“Experiência operá-ria, consciência de classe e psicologia do traba-lho”), Clot42 afirma que o que chamou atençãodos pesquisadores italianos foi o fato de que,paradoxalmente, os operários em geral referiam-se ao seu trabalho como algo que os estimulavae desafiava. Assim, mais do que destacar a alie-nação, constrangimentos, impossibilidades oulimitações dos trabalhadores, a equipe lideradapor Oddone preocupou-se em compreender asperspectivas que os trabalhadores criavam parasi, procurando subsidiar os coletivos de traba-lho em suas tentativas de manter e, sobretudo,alargar seu campo de ação.

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Eles consideraram duas vias para reduzir anocividade do ambiente de trabalho: a modifica-ção do papel do especialista em saúde assalaria-do da empresa e/ou novos critérios de definiçãodos índices de nocividade e de formas de partici-pação operária. Se antes estes critérios tinham apretensão de neutralidade científica, desenvolvi-dos por técnicos qualificados, mas “estrangeiros”ao trabalho, Oddone introduziu a percepção sub-jetiva do trabalhador em relação aos riscos deseu próprio trabalho, rompendo tanto com aconcepção marxista de alienação como com aPsicologia do Trabalho subordinada ao taylo-rismo. Com a primeira por esta entender que aconscientização do trabalhador vem de fora; coma segunda por negar que os trabalhadores te-nham quaisquer capacidades de aprendizagem.

Como nos coloca Vicenti43:Para I. Oddone trata-se de travar um duplo

combate, ideológico, no campo da política, e disci-

plinar, no campo científico, pois ele desejava reno-

var a psicologia do trabalho no sentido de uma

psicologia concreta, fundada sobre a noção de ex-

periência.Para fazer do conceito de experiência um ins-

trumento-chave, Oddone seguiu uma aborda-gem teórica e outra experimental. Do lado teóri-co privilegiou os estudos da Psicologia histórico-cultural dita soviética (Bassine e Leontiev) na-quele período disponível, concomitante à cons-trução com os trabalhadores de um método quelhes permitissem a tomada de consciência de suasexperiências, visando uma maior autonomia notrabalho43.

O método desenvolvido por Oddone et al.44,conhecido por “modelo operário de conhecimen-to”, ou método de produção de conhecimentopara a ação dos trabalhadores em uma socieda-de capitalista, tem como base quatro pressupos-tos, na forma de conceitos: o grupo homogêneo,a experiência (ou subjetividade) do trabalhador,a validação consensual e a não delegação.

O grupo tem um caráter homogêneo na me-dida em que vive submetido à mesma nocivida-de, acumulando um saber epidemiológico leigosobre seu ambiente de trabalho. Assim, o pontode partida é a observação espontânea operadapelos trabalhadores sobre as relações entre ascondições e as formas de organização do traba-lho e a saúde coletiva, o que se patrimonializa naforma de uma experiência, contudo não estrutu-rada, para o que a pesquisa poderia contribuir. Avalidação consensual é o julgamento coletivo peloqual o grupo valida a experiência de cada traba-lhador em relação às condições e formas de or-

ganização do trabalho, sendo que o conjunto dejulgamentos subjetivos e qualitativos dos traba-lhadores é transformado em critério de avalia-ção quantitativa e científica. O conceito de nãodelegação exprime a recusa em deixar exclusiva-mente na mão dos gerentes, especialistas, oumesmo representantes sindicais, o julgamentosobre a nocividade das condições de trabalho dogrupo e a fixação dos padrões e limites de nocivi-dade. Isto não significa que o ponto de vista cien-tífico, dos saberes disciplinares, não merece im-portância. Ao contrário, ele é fundamental comosaber a ser partilhado com os trabalhadores paraque eles possam guiar suas ações na defesa e pro-dução de (mais) saúde no trabalho44.

O objetivo metodológico fundamental destaproposta é introduzir a percepção subjetiva dotrabalhador como critério de avaliação da nocivi-dade, sem delegar estes critérios exclusivamente aespecialistas45. No livro em que apresenta estaproposta metodológica, amplamente difundidono Brasil em um dado momento histórico, Oddo-ne et al.44 propõem, com os materiais da pesqui-sa, a elaboração de mapas de risco, o que dariabase para a construção de uma pauta de reivindi-cações concreta e sistematicamente sustentada.

Classificam os fatores de nocividade em qua-tro grupos de risco. O Grupo 1 integra os riscosfísicos, que estão presentes onde o homem vive,seja sua casa ou trabalho (luz, ruído, temperatu-ra). O Grupo 2 engloba os riscos químicos, pre-sentes apenas na fábrica (poeira, gás, vapores).Já o Grupo 3 está relacionado à fadiga, aos esfor-ços muscular e físico, enquanto o Grupo 4 dizrespeito aos fatores estressantes ou psicossoci-ais, associados ao trabalho. Considerando estesquatro grupos, a pesquisa protagonizada pelostrabalhadores, passa por três etapas: observa-ção espontânea do ambiente de trabalho; quan-tificação dos riscos (mapa de risco); e pauta dereivindicações.

Para Oddone, estava claro que os trabalha-dores desenvolvem um saber a partir da experi-ência de trabalho sem, muitas vezes, sequer per-ceber, valorizar, potencializar ou conseguir trans-mitir esta experiência. Assim, procurou desen-volver métodos que pudessem auxiliar tanto naformalização, como na transmissão da chama-da experiência operária. É neste sentido que in-troduz a ideia de uma “comunidade científicaampliada”, onde o objetivo é colocar em diálogoos saberes da experiência dos trabalhadores e ossaberes científicos.

Outra contribuição importante do grupo deOddone, diz respeito aos métodos indiretos de

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investigação. Impedidos de entrar na fábrica, emuma intervenção conduzida nos anos 1970, jun-to aos trabalhadores da Fiat, os pesquisadoresinovaram, criando o dispositivo de “instruçãoao sósia”. Como nos explica Clot46:

[...] o exercício de ‘instrução ao sósia’ implica

um trabalho de grupo no curso do qual um sujeito

voluntário recebe a seguinte tarefa: ‘Suponha que

eu seja seu sósia e que amanhã eu deva substituir

você em seu trabalho. Que instruções você deveria

me transmitir para que ninguém perceba a substi-

tuição?

A função do sósia, nesta técnica, é o de “resis-tir à atividade”, ou seja, colocar-se enquanto lei-go, questionando e colocando em foco o “comofazer”, para além das prescrições. Com isso, otrabalhador é convidado a pensar sobre aquiloque é executado de maneira automática e habi-tual, que parece simples, mas que ao ser detalha-do, permite vislumbrar o quanto de inédito, cri-ativo e específico há em cada atividade de traba-lho. Além disso, ao tentar colocar em palavrassua experiência, o trabalhador pode se dar contade saberes insuspeitados, alargando seu poderde ação sobre o trabalho42.

Cabe ressaltar a forte influência deste mode-lo na constituição do campo da Saúde do Traba-lhador na América Latina e no Brasil, sobretudoem relação ao “mapa de risco”, que alcançou ta-manha popularidade no meio acadêmico e sin-dical que hoje está incluído na legislação regula-mentadora da saúde no trabalho (NR). Já noBrasil, a outra contribuição – o dispositivo Co-munidade Científica Ampliada (CCA), especial-mente a técnica de “instrução ao sósia” – que semantém até hoje operante na França, com de-senvolvimentos (como a autoconfrontação cru-zada, formulada por Faïta e Clot) só tem tidoalgum destaque posteriormente, quando a car-tografia de risco já perdera a memória da contri-buição italiana47.

5. O paradigma ergológico, com o

Dispositivo Dinâmico de Três Polos

(DD3P) e uma de suas configurações

no Brasil: a “Comunidade Ampliada

de Pesquisa” (CAP)

No sudeste da França, até hoje se desenvolveuma importante experiência na região de Bou-ches du Rhône, na tradição mutualista do campoda saúde, sob direção de M. Andéol e G. Igonet48,com a permanente supervisão de Oddone, até seufalecimento em 2011. Exatamente nesta linhagemque vai de G. Canguilhem a A. Wisner, I. Oddone

e P. Freire, é que na Universidade de Aix-en-Pro-vence – com a liderança de Y. Schwartz, D. Faïta eB. Vuillon, na companhia de J. Duraffourg e umgrupo de trabalhadores industriais da região –foi sendo engendrado, desde o final dos anos197049, aquilo que, posteriormente, configurou-se como o paradigma ergológico50.

Especialmente, o dispositivo por Oddone de-signado Comunidade Científica Ampliada (CCA)foi inspirador dos primeiros desenvolvimentos.Não obstante a percepção de sua enorme rele-vância, a análise por que passou com Schwartz51

levou a identificar limitações na proposta e notermo CCA, conduzindo-os a construírem ou-tra proposta. Primeiro, o campo dos atores, aler-tando que “os parceiros não são mais somentemilitantes operários como no início, são tam-bém desempregados, agentes de serviços, funci-onários especializados, consultores e profissio-nais de diversos ramos”50. Assim, amplia-se aideia de “trabalho operário” para a concepçãomais geral de trabalho, atividade humana dentreoutras. Segundo, apontando a contradição con-ceitual presente na denominação comunidade ci-entífica ampliada que, ao querer incluir os traba-lhadores na produção de saberes sobre o traba-lho, permaneceu vinculando o conhecimento àciência (inclusive em sua insígnia). Schwartz en-tende que encontra-se aí presente uma ideia fra-ca de ciência, como se fosse o caso de ampliarseus produtores, como se os trabalhadores, comoiguais, pudessem fazer parte de uma comunida-de cientifica. Enfim, se para Oddone, quem po-dia fazer a “costura” entre os saberes científicos eos saberes da experiência, seria a “consciência declasse”, representada pelo sindicato, paraSchwartz, não necessariamente. O que importa-va era a descoberta que haviam feito de uma tri-polaridade.

A partir destas considerações, Schwartz50 pro-põe o Dispositivo Dinâmico de Três Polos(DD3P), como uma perspectiva epistemológica,com implicações metodológicas, não se caracte-rizando estritamente como método de pesqui-sa33. O DD3P pode ser referido como um espaçode encontros, que coloca (ou dispara) um movi-mento, sempre dinâmico (posto que não é está-tico ou estável, tampouco visa ao equilíbrio), entreos saberes disciplinares das ciências (polo 1) e osque se sustentam e desenvolvem na experiência(polo 2), costurados por um terceiro, fundamen-tal, o das exigências éticas e epistemológicas –que exige e permite exercitar uma certa humilda-de epistemológica necessária, tanto por parte dospesquisadores, como dos trabalhadores, para

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aprender uns com os outros. Uma aprendiza-gem que se faz também na forma de uma(in)prendizagem50.

Apresentando didaticamente estes três polos,poderíamos assim defini-los:

. Polo dos saberes organizados e disponíveis:é o dos saberes disciplinares das ciências que aju-dam a compreender transformar o trabalho.Ciências Econômicas e Políticas, Humanas e daLinguagem, Jurídicas e Sociais, Ciências da Saúdee das Engenharias, Filosofia, todas podendo sermobilizadas e mobilizar-se, contribuindo comconceitos e métodos para a análise do trabalho,do ponto de vista da atividade.

. Polo dos saberes investidos na atividade: sãoos que se (re)produzem na e a partir da experiên-cia direta cotidiana, alimentando-se muito como que é gerado na atividade. Aí se encontram asforças de convocação dos saberes disciplinarespara o diálogo, assim como as forças de valida-ção. É neste diálogo sinérgico que os saberes dis-ciplinares são colocados à prova em outro labo-ratório, mediante a confrontação metódica comas situações concretas em que se dão as ativida-des, podendo ou não ser validados e, quiçá, de-senvolvidos.

. Polo das exigências éticas e epistemológicas:é a abertura e a disponibilidade, tanto ética comoepistemológica, de cada participante do proces-so, para realizar esta troca.

O DD3P colabora para permitir o vaivémentre o conhecimento e a experiência, entre a ge-neralização e a singularização. Parte-se da expe-riência singular dos protagonistas do trabalhoem foco “para, ao longo do tempo, extrair ossaberes gerais formalizados nas disciplinas”, emum entendimento de que “todo conhecimentotem vocação para ser generalizado”52. Ao mes-mo tempo, um modelo só é válido quando en-carnado, aplicado no aqui e agora, de acordocom a especificidade de cada situação de traba-lho. A experiência ou atividade de trabalho, as-sim, singulariza e atualiza o modelo, conformenos aponta Durrive52:

Falamos de dispositivo dinâmico de três polos,

quando um movimento é articulado, é uma espi-

ral que leva de uma experiência com um nível de

antecipação cada vez melhor a um conhecimento

cada vez mais ligado à realidade.No entanto, o risco presente quando nos pro-

pomos a este tipo de diálogo sinérgico é cair emum confronto do tipo teoria X prática, em umatendência de que os saberes da experiência sejam“engolidos” pelos acadêmico-científicos consti-tuídos, mais valorizados, autorizados e disponí-

veis. Assim, a primeira exigência é a humildadeepistemológica diante da complexidade que en-volve os mundos do trabalho e das atividadesque os constituem e desenvolvem. Em seguida, énecessário rigor para poder dar corpo (e voz) àsexperiências de trabalho. Isto porque a finalida-de deste diálogo não é apenas constatar a com-plexidade e a singularidade que cada um vivenciaem sua situação de trabalho, mas também reali-zar um esforço de verbalização e possível genera-lização da experiência. As exigências éticas e epis-temológicas, imprescindíveis para este diálogo,portanto, dizem respeito à humildade, diante dacomplexidade das experiências; e ao rigor, dianteda exigência de verbalizar o trabalho52.

Considerando este debate e as contribuiçõesjá apresentadas, em especial a proposição deOddone atravessada pelas considerações críticasde Schwartz, somadas ao patrimônio da Educa-ção Popular referida em Paulo Freire, pesquisa-dores brasileiros45 no final dos anos 1990 suge-rem um dispositivo denominado de Comunida-de Ampliada de Pesquisa – CAP (aqui o campoampliado é o da pesquisa e não o científico), pen-sada enquanto uma rede de encontros de sabe-res, reunindo pesquisadores e trabalhadores,onde circula uma comunidade dialógica53, emuma coanálise sobre os processos de trabalho,subjetivação e saúde.

Concluindo

Para Dejours54, o termo clínica designa “uma dé-

marche que parte do campo, se desdobra no cam-po e retorna constantemente ao campo”. Já deacordo com Clot e Leplat55, as características es-senciais do método clínico envolvem considerarseu objeto de estudo em sua globalidade, exami-ná-lo em profundidade e em toda sua complexi-dade, conferindo uma importância particular aopapel do(s) sujeito(s).

Representa uma forma de produção de co-nhecimento pertinente ao caráter enigmático dotrabalho contribuindo, portanto, com análise dasdiferentes formas de mobilização dos trabalha-dores. Um recurso metodológico utilizado am-plamente, como mostramos aqui, é a constitui-ção de grupos ou comunidades de pesquisa-in-tervenção, como estratégia de coanálise e de diá-logo sinérgico entre saberes.

A dinâmica da confrontação (não se trata aquide comparação ou oposição, conforme enfatizamFaïta e Maggi56) já faz parte da tradição da AET,presente também no MOI e desenvolvendo-se com

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Colaboradores

T Ramminger, M Athayde e J Brito participaramigualmente da concepção e redação do artigo.

Clot e Faïta na abordagem da Clínica da Ativida-de (com a autoconfrontação cruzada, o que de-verá ser apresentada em outro artigo). Trata-sede um conjunto de técnicas que contribuem, in-clusive, para a operacionalidade de métodos indi-retos. Propostas coerentes com o que a perspecti-va ergológica vem procurando dar maior visibili-dade e desenvolver, permitindo chegar a algo queas entrevistas em geral não acessam.

Sinalizamos, por fim, que as metodologiasaqui analisadas apresentam também o interessede buscar o desenvolvimento dos possíveis indi-viduais e coletivos. É nesse sentido que observara atividade do outro para compreendê-la impli-ca em transformá-la, incitando o(s) próprio(s)sujeito(s) a uma atividade interior específica.

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Artigo apresentado em 15/01/2012Aprovado em 20/02/2012Versão final apresentada em 15/03/2012

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