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1 ANUAL MATUTINO ESTADUAL CENTRO DIREITO CIVIL PROF:MARIA CRISTINA DATA: 01/02/2010 LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL 1 - Considerações Gerais A Lei de Introdução ao Código Civil é um decreto, embora esteja anexada ao Código Civil. Não se aplica apenas as leis civis, e é aplicada a todas as normas de direito, sendo uma norma de sobredireito. Sustentam alguns autores como a Professora Maria Helena Diniz, que tal nomenclatura é equivocada. Trata-se na realidade do decreto lei 4657/42. Embora a LICC esteja anexada ao Código Civil, antecedendo- o, ela não se aplica apenas as leis civis, mas sim a todos os demais ramos do direito. Isso porque esse tipo de norma é denominada pela doutrina alemã de “norma de sobredireito”, que é aquela que trata da emissão e da aplicação de todas as demais normas jurídicas. De acordo com a professora Maria Helena Diniz, a LICC, deveria denominar-se “lei de introdução as demais leis”. A lei de introdução trata dos seguintes assuntos: 1ª da vigência e da eficácia das normas jurídicas; 2ª dos conflitos da lei no tempo e no espaço; 3ª dos critérios de hermenêuticas (formas de interpretação das leis); 4ª dos mecanismos de integração do ordenamento jurídico (analogia, costumes princípios gerais do direito e equidade); 5ª normas de Direito Internacional Privado. 2 - VIGÊNCIA DA NORMA - Sistemas de vigências: dois são os sistemas de vigência: 1ª sistema do prazo de vigência única ou simultânea ou sincrônica , significa que a lei entra em vigor em todo o pais, a um só tempo.

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ANUAL MATUTINO ESTADUAL CENTRO

DIREITO CIVIL

PROF:MARIA CRISTINA

DATA: 01/02/2010

LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL 1 - Considerações Gerais A Lei de Introdução ao Código Civil é um decreto, embora

esteja anexada ao Código Civil. Não se aplica apenas as leis civis, e é aplicada a todas as normas de direito, sendo uma norma de sobredireito.

Sustentam alguns autores como a Professora Maria Helena

Diniz, que tal nomenclatura é equivocada. Trata-se na realidade do decreto lei 4657/42.

Embora a LICC esteja anexada ao Código Civil, antecedendo-

o, ela não se aplica apenas as leis civis, mas sim a todos os demais ramos do direito. Isso porque esse tipo de norma é denominada pela doutrina alemã de “norma de sobredireito”, que é aquela que trata da emissão e da aplicação de todas as demais normas jurídicas.

De acordo com a professora Maria Helena Diniz, a LICC,

deveria denominar-se “lei de introdução as demais leis”. A lei de introdução trata dos seguintes assuntos: 1ª da vigência e da eficácia das normas jurídicas; 2ª dos conflitos da lei no tempo e no espaço; 3ª dos critérios de hermenêuticas (formas de interpretação das

leis); 4ª dos mecanismos de integração do ordenamento jurídico

(analogia, costumes princípios gerais do direito e equidade); 5ª normas de Direito Internacional Privado. 2 - VIGÊNCIA DA NORMA

- Sistemas de vigências: dois são os sistemas de vigência: 1ª sistema do prazo de vigência única ou simultânea ou

sincrônica, significa que a lei entra em vigor em todo o pais, a um só tempo.

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2ª sistema do prazo de vigência progressiva ou sucessiva (era este o sistema adotado pela anterior LICC), segundo o qual a lei entra em vigor no país aos poucos.

A atual LICC adotou o primeiro sistema, conforme caput do

artigo 1º, porém nada impede a adoção do segundo, desde que haja menção expressa no texto da lei.

- Vacatio legis: é o período que medeia entre a publicação da lei e sua entrada em vigor, e tem por finalidade fazer com que os destinatários da lei a conheça e se preparem para aplicá-las.

Nem a CF/88 nem o Código Civil, e tão pouco) a LICC, exige

que todas as leis obrigatoriamente tenham período de vacatio, até porque na grande maioria das vezes a lei entra em vigor na data de sua publicação.

No entanto em duas hipóteses, a CF/88 exige vacatio: 1ª No caso que cria ou aumento contribuição social para

seguridade social artigo 195 parágrafo 6ª1; 2ª Lei que cria ou aumento tributo artigo 150 inciso III letra c

- Cláusula de Vigência: é aquela que indica a data a partir da qual a lei entra em vigor. Na ausência desta cláusula a lei entra em vigor em todo o país em 45 dias depois de oficialmente publicada.

O parágrafo 2ª do artigo 8 da lei complementar 95/98 alterada

pela lei complementar 107/2001, determina que as leis que estabelecerem período de vacância deverão mencionar o número de dias a ele correspondente.

Há entendimento no sentido de que este dispositivo teria

derrogado o artigo 1ª caput da LICC, no que tange os 45 dias.

1CF/88 Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

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Prevalece no entanto a posição de que não há derrogação,

pois ambos convivem de forma harmônica, nos seguintes termos: Se a lei estabelecer período de vacatio ela deve mencionar o número de dias. Porém se não o disser aplica-se a regra geral dos 45 dias.

- Forma de contagem do prazo da vacatio legis De acordo com o parágrafo primeiro do artigo 8 da Lei

Complementar 95/98, alterada pela lei complementar 107/2001, deve ser incluído o dia da publicação e o último dia do prazo, devendo a lei entrar em vigor, no dia imediatamente subseqüente, não importando ser dia útil ou não.

Para que se inicie o prazo da vacatio, vamos considerar a

publicação do diário oficial do executivo. - Local de publicação das lei

Para que tenha inicio a contagem do prazo da vacatio legis,

considera-se a publicação da lei no diário oficial do executivo. Nada impede que seja publicada no dia diário oficial do Judiciário, imaginando ser uma lei para o Judiciário, mas a vacatio é do diário oficial do executivo.

- Lei corretiva Nada impede que uma lei seja publicada contendo incorreções

ou erros materiais. Neste caso duas situações devem ser analisadas: 1ª a lei foi publicada com incorreção mas ainda não entrou em

vigor. Para corrigi-lá, basta a republicação dos dispositivos, sanando-se os erros. Quanto ao período de vacatio, duas são as posições:

a) deve-se reabrir novo prazo para todo texto; b) deve-se reabrir novo prazo apenas para os dispositivos que

foram republicados.

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Na segunda situação a lei foi publicada com incorreção e já

entrou em vigor, neste caso será necessária a edição de uma nova lei, denominada corretiva. Quanto ao período de vacatio, se houver, no silêncio, será de 45 dias.

- Principio da Obrigatoriedade das Leis Esta previsto no artigo 3º da LICC 2que ninguém se escusa de

cumprir a lei alegando que a não a conhece. Entretanto encontra exceção no artigo 8º da Lei de Contravenções Penais3.

Três teorias procuram justificar, a existência deste principio: 1ª Teoria da Presunção Legal: segundo a qual a lei presume

jure et jure, que todos conhecemos todos os textos legais - Presunção absoluta;

2ª Teoria da Ficção Jurídica: que traz em seu bojo a utopia de

que todos conhecemos todos os textos legais; 3ª Teoria da Necessidade Social: na qual esse princípio é

ditado por razões de ordem social e jurídica, sendo, portanto, um atributo da própria norma.

- Principio da Continuidade das Leis Esta previsto no artigo 2ª da LICC4, que a lei terá vigor até que

outra a modifique ou revogue. Portanto só lei revoga lei. Repristinação é a restauração da vigência de uma lei,

anteriormente revogada, em virtude da revogação da lei revogadora, previsto no artigo 2º parágrafo 3º da LICC5.

2LICC Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 3Lei Contravenções Penais Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusaveis, a pena pode deixar de ser aplicada. 4LICC Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 5 LICC Art.2º§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência..

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O efeito repristinatório existe no direito brasileiro, porém não é automático, devendo vir expresso no texto da lei.

3 EFICÁCIA DAS NORMAS

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DATA: 08/02/2010

3.Eficácia das Normas A norma perde a sua validade em duas hipóteses, ou seja, nos

casos de revogação e de ineficácia. a. Revogação Revogação é a cessação definitiva da vigência de uma lei em

razão da edição de uma nova lei. Pode ser: • Total ou ab rogação;

• Parcial ou derrogação. A revogação também pode ser: • Expressa ou Direta (art. 9°1, Lei Complementar 95/98,

alterada pela Lei Complementar 107/01): Ocorre quando a lei textualmente indica os dispositivos ou a lei que ela está revogando.

• Tácita ou Indireta: Ocorre quando a nova lei é incompatível com a anterior, contrariando-a de forma absoluta. Ademais, a revogação tácita não se presume, pois a incompatibilidade deve ser demonstrada.

No art. 2°, §2°2, LICC, encontra-se previsto o princípio da conciliação ou das esferas autônomas, que consiste na possibilidade da convivência harmônica das normas especiais com as gerais que versem sobre o mesmo assunto. Referido princípio, no entanto, não é absoluto.

• Global: Ocorre quando a lei revogadora disciplina

inteiramente a matéria que era tratada pela lei antiga, sendo certo que as disposições desta, não repetidas por aquela, é sinal de que foram revogadas.

1 Art. 9o A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. Parágrafo único. (VETADO) 2 Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

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DATA: 08/02/2010

b. Princípio da segurança e da estabilidade social Previsto no art. 5°, XXXVI3, CF, e segundo o qual as relações

jurídicas constituídas sob a égide da lei revogada devem ser respeitadas.

A retroatividade é possível, desde que previstos dois requisitos: • Cláusula expressa de retroatividade. Portanto, a

retroatividade não se presume e tampouco é automática. Exceção: lei penal benéfica, que tem retroação automática e atinge inclusive a coisa julgada.

• Respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada.

Três, portanto, são as situações de retroatividade: a) Lei penal benéfica; b) Lei com cláusula expressa de retroatividade, desde que não

haja ofensa ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada;

c) Lei interpretativa. É aquela que tem por finalidade única esclarecer o conteúdo de outra lei, tornando obrigatória uma interpretação que já era possível antes mesmo da sua edição. Ela não cria situação nova e trata-se de interpretação autêntica ou legislativa. Ela retroage até a data da entrada em vigor da lei interpretada e se aplica aos casos pendentes de julgamento, porém respeita a coisa julgada.

c. Ineficácia Ocorre quando a lei perde a sua validade, deixando de ser

aplicada ao caso concreto, embora ainda conserve a sua vigência, em razão de inexistir lei superveniente revogadora.

São situações de Ineficácia: a) Caducidade. Ocorre pela superveniência de uma situação

cronológica ou factual que torna a norma inválida sem que ela tenha

3 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

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DATA: 08/02/2010

sido revogada. Exemplo: leis temporárias. Observações: (1) Alguns autores denominam as leis temporárias de autorrevogáveis. (2) Alguns autores trazem a expressão "caducidade" como sinônimo de "desuso".

b) Desuso. É a cessação do pressuposto de aplicação da norma. Exemplo: Se há uma lei protegendo as tartarugas marinhas, e as mesmas deixam de existir (são todas mortas), a lei fica "dormindo". Se as tartarugas voltam a existir na costa, aquela lei que "dormia" volta a proteger as tartarugas, sem necessidade de edição de uma nova.

c) Costume contra legem. É aquele que contraria a lei. O costume não revoga a lei, mas ele pode gerar a sua ineficácia, desde que não se trate de lei de ordem pública. Por exemplo, a emissão de cheque "pré-datado", pois cheque é ordem de pagamento à vista.

d) Princípio da anterioridade da lei tributária.

e) Lei que altera o processo eleitoral.

f) Decisão do STF declarando a lei inconstitucional em ação direta de inconstitucionalidade.

g) Resolução do Senado cancelando a eficácia de lei declarada incidentalmente inconstitucional pelo STF.

Mecanismos de integração do ordenamento jurídico

Em decorrência do princípio da indeclinabilidade da jurisdição, o juiz é obrigado a decidir. Ainda que não haja lei para solucionar aquele caso concreto. Nestas hipóteses ele deve se socorrer da analogia, dos costumes, dos princípios gerais do direito e da equidade, nesta ordem.

A equidade não está prevista de forma expressa na LICC, mas, sim, implicitamente, pois ela decorre do mencionado princípio que está previsto no art. 4°4.

A Lei é lacunosa, mas, o Direito não. Pois ele não se manifesta apenas por meio dela, mas, também pelos mecanismos mencionados:

4 Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

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DATA: 08/02/2010

Analogia Analogia é a aplicação ao caso não previsto em lei de lei

reguladora de caso semelhante. Tem por fundamento o argumento pari ratione, ou seja, a lógica dedutiva, segundo o qual para a solução do caso omisso, aplica-se o mesmo raciocínio do caso semelhante.

Duas são espécies de analogia: a. Analogia Legal. É aquela que aplica ao caso omisso lei que

regula caso semelhante. b. Analogia Jurídica. É aquela que aplica ao caso omisso um

princípio geral do direito. São normas que não admitem o uso da analogia: • Leis restritivas de direito. São aquelas que proíbem

determinadas condutas. • Normas excepcionais. São aquelas que regulam de modo

contrário à regra geral. Por exemplo, os arts. 3°5 e 4°, CC. • Leis administrativas. São aquelas que regulam a atividade

administrativa do Estado.

Costumes É a repetição da conduta de maneira uniforme e constante

(requisito objetivo), com a convicção da sua obrigatoriedade (requisito subjetivo). Próxima aula: Segundo o professor Limonge são os costumes que vão nos auxiliar na análise dos standard jurídicos.

5 Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

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DATA: 22/02/2010

Para o Professor Limongi França, são os costumes que vão nos auxiliar na análise dos denominados, standard jurídicos que é o critério básico de avaliação de certos preceitos jurídicos indefinidos, variáveis no tempo e espaço, como, por exemplo, o conceito de mulher honesta e a noção de castigo imoderado ao filho.

Princípios Gerais do Direito São as premissas éticas que inspiram a elaboração das

normas jurídicas, por exemplo, ninguém pode ser condenado sem ser ouvido.

Equidade Segundo o professor Miguel Reale, a equidade é a justiça

prudentemente aplicada ao caso concreto. Para a perfeita compreensão do acima dito, devemos analisar a

equidade no mundo jurídico de acordo com suas três funções: 1ª equidade na elaboração das leis: nesta função ela é dirigida

ao legislador que ao legislar, deve inspirar-se no senso de justiça sempre atento às necessidades sociais e ao equilíbrio dos interesses.

2ª equidade na aplicação do Direito: significa a norma criada pelo juiz, como se legislador fosse, para resolver um dado caso concreto (norma de equidade não se confunde a norma legal). O juiz ao agir nesta função não viola o Princípio da Separação dos Poderes, pois, norma legal não se confunde com norma de equidade: esta é individual e específica para um dado caso concreto, enquanto aquela é geral e obriga a todos.

Ao criar a norma por equidade o juiz faz uso de um raciocínio jurídico universal, sendo ela fruto de um trabalho científico da lei.

3ª Equidade na Interpretação da Lei: nesta função cabe ao interprete amenizar “dulcificar” (palavras de Miguel Reale) o rigor excessivo da lei, visando adaptá-la às especificidades do caso concreto. Artigo 5ª da lei de introdução do Código Civil1.

5- ANTINOMIAS OU LACUNAS DE CONFLITOS DAS

NORMAS JURIDÍCAS. 1 Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

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DATA: 22/02/2010

Antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas da autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em um dado caso concreto.

Para a análise das antinomias, três metacritérios devem ser considerados:

• Metacritério cronológico: segundo o qual norma posterior

prevalece sobre a anterior. É o mais fraco dos três metacritérios.

• Metacritério da especialidade: segundo o qual norma especial prevalece sobre a geral. Trata-se de um metacritério intermediário, mas que possui base constitucional, conforme art. 5°2, CF, que prevê o princípio da isonomia ou igualdade lato sensu.

• Metacritério hierárquico: segundo o qual norma superior prevalece sobre a inferior. É o mais forte deles, em razão, inclusive, da importância do texto constitucional.

Classificação das Antinomias Quanto aos critérios que envolvem, elas podem ser: 1. Antinomia de Primeiro Grau: é a situação de conflito que

envolve apenas um dos metacritérios acima mencionados. 2. Antinomia de Segundo Grau: é a situação de conflito que

envolve dois dos metacritérios mencionados. Quanto à possibilidade, ou não, de solução do conflito, a

antinomia pode ser: 1. Antinomia Aparente: situação em que há, dentre os

metacritérios mencionados, um que solucione o conflito. 2. Antinomia Real: é a situação em que não há, inicialmente,

dentre os metacritérios mencionados, um que solucione o conflito.

2 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

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DATA: 22/02/2010

Após essas considerações, são os seguintes os casos práticos em que os conflitos poderão estar presentes:

a. Conflito entre norma posterior e anterior: prevalece a norma

posterior em razão do metacritério cronológico, e se trata de antinomia de primeiro grau aparente.

b. Conflito entre norma especial e geral: prevalece a norma

especial em razão do metacritério da especialidade, e trata-se de antinomia de primeiro grau aparente.

c. Conflito entre norma superior e inferior: prevalece a norma

superior em razão do metacritério hierárquico, e trata-se de antinomia de primeiro grau aparente.

d. Conflito entre norma especial anterior e geral posterior:

prevalece a norma especial anterior em razão do metacritério da especialidade, e trata-se de antinomia de segundo grau aparente.

e. Conflito entre norma superior anterior e norma inferior

posterior: prevalece a norma superior anterior em razão do metacritério hierárquico, e trata-se de antinomia de segundo grau aparente.

f. Conflito entre norma geral superior e norma especial inferior: Neste caso, e segundo a professora Maria Helena Diniz,

estamos diante de uma antinomia de segundo grau real. De acordo com esta professora, não há, dentre os metacritérios mencionados, um que solucione o conflito, não podendo o metacritério hierárquico prevalecer sobre o da especialidade, ou vice-versa, sob pena de se ferir o princípio da adaptabilidade do Direito. Neste caso, para a solução do conflito, dois são os caminhos:

- Pela via do Legislativo, a quem cabe a edição de uma terceira lei, que diga qual delas deverá ser aplicada;

- Pela via do Judiciário, que nada mais é do que a adoção do princípio máximo de justiça, segundo o qual o juiz, de acordo com a sua convicção, aplica a norma que melhor solucione aquele caso concreto.

Já para o professor Norberto Bobbio, nós ainda estamos diante de uma antinomia de segundo grau aparente, pois o metacritério hierárquico prevalece sobre o da especialidade.

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DATA: 22/02/2010

6- DOS SUJEITOS DE DIREITO

Sujeito de Direito é o titular de direitos e obrigações na ordem

civil. Antes: “Sujeito de direito” = pessoa, são expressões sinônimas Hoje: Sujeito de direito = gênero, sendo “pessoa” uma de suas

espécies. Sujeitos de Direito Entes personalizados = pessoa física e jurídica Entes despersonalizados a) nascituro (para o Código Civil é despersonalizado, mas há

outro entendimento). b) quase pessoas = órgãos públicos e patrimônios especiais

que são os seguintes: herança jacente, massa falida, espólio, condomínio edilício e pessoa jurídica sem registro.

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PROF: CRISTIANA

DATA: 01/03/2010

Dos Sujeitos de Direito Sujeito de direito é o titular de direitos e obrigações na esfera

civil. Sujeito de direito é gênero, sendo suas espécies: 1. Os entes personalizados – que são as pessoas, físicas ou

então jurídicas, únicos entes dotados de personalidade jurídica. 2. Os entes despersonalizados – que, embora destituídos de

personalidade jurídica, titularizam alguns direitos e obrigações na esfera jurídica e podem praticar alguns atos, ou seja, aqueles que digam respeito às suas finalidades (quando tiverem uma) ou então aqueles para os quais estejam especificamente autorizados.

Questões: O nascituro pode ser titular de direitos e

obrigações? Pode ser beneficiado num testamento, pode ser beneficiado por uma doação, pode ser reconhecido pelos pais? Posso alienar ou comprar bens do nascituro?

Das pessoas Como dito, são os únicos entes dotados de personalidade

jurídica. Personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir

direitos e contrair obrigações. No que tange às pessoas naturais o registro, no cartório de

registro civil competente tem natureza declaratória, pois elas adquirem personalidade jurídica a partir do nascimento com vida.

Ao que se refere às pessoas jurídicas de direito privado, o registro do seu estatuto no órgão competente, tem natureza constitutiva, pois elas existem a partir desse registro.

De acordo com o art. 1°1 do CC, inexiste no Brasil ser humano destituído de personalidade jurídica, já que esta é inerente à natureza humana. Porém, já o tivemos, no período da escravidão. Obs.:Os escravos não eram considerados pessoas, mas, simples objetos ou menos que objetos. Chegava-se ao cúmulo de valorizar mais um cavalo fogoso do que um ser humano.

Quanto às teorias que discutem a aquisição da personalidade jurídica, temos o que segue:

1 Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

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PROF: CRISTIANA

DATA: 01/03/2010

Teoria natalista - (alguns denominam teoria da natalidade) segundo a qual, para a aquisição da personalidade é necessário o nascimento com vida. Essa foi a teoria adotada pelo Brasil.

Teoria da concepção - que defende o início da personalidade desde a concepção (desde o momento da concepção). Adotada na Argentina e no Código Civil Húngaro.

Teoria da viabilidade – que condiciona o início da personalidade à existência fisiológica de vida. E ainda, que o recém-nascido seja viável (adotada na França).

Observação: IMPORTA ANOTAR QUE NOS TERMOS DO ART. 7°2 DA LICC, A PERSONALIDADE É REGIDA PELA LEI DO DOMICÍLIO DA PESSOA.

De acordo com o art. 2°3 do CC o Brasil adotou a teoria natalista, que traz as seguintes considerações:

a) A Lei não exige que o recém-nascido tenha formato humano,

bastando que nasça de mulher. b) No Brasil para a aquisição da personalidade jurídica pouco

importa o tempo de vida, ou seja, a legislação não exige tempo mínimo de vida para a aquisição da personalidade.

Exemplo: O recém-nascido nasceu, respirou, ficou vivo por segundos, adquiriu direitos que obviamente transmitirá com a morte. A legislação espanhola exige que o nascituro viva por pelo menos 24 horas. Outras legislações exigem além de um tempo mínimo, que o nascituro seja viável.

c) Para a aquisição da personalidade basta que a criança (recém-nascido) respire o ar atmosférico, sendo, portanto, dispensável a sua separação completa no ventre materno.

Obs. Se a criança nasceu, respirou e morreu, mesmo sem que o cordão umbilical tenha sido cortado, ela já adquiriu personalidade jurídica.

d) A perícia que se faz para saber se houve ou não, o nascimento com vida, é a docimásia hidrostática de Galeno.

Atualmente, no entanto, existem perícias mais modernas. Em situações excepcionais, no entanto, a prova pericial do nascimento com vida, pode ser suprida por meio de prova testemunhal, ou seja, por

2 Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 3 Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

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pessoas que tenham presenciado os movimentos e os vagidos (choros) da criança.

No que tange ao conteúdo da personalidade que implica na

admissibilidade para a prática dos atos e negócios jurídicos em geral, quanto às pessoas físicas e quanto às pessoas jurídicas de direito privado esse conteúdo é bastante amplo, pois vige com relação a elas, o princípio da legalidade previsto no art. 5°, II4 da CF.

Porém, no que diz respeito às pessoas jurídicas de direito público, o conteúdo da sua personalidade é mais restrito, pois vige com relação a elas o princípio da legalidade estrita, ou seja, somente podem praticar os atos que estão previstos na Lei.

Do fim da personalidade A existência da pessoa natural termina com a morte, conforme

art. 6°5, primeira parte, do CC, que pode ser: morte real, presumida (art. 7°6 do CC) e ficta (ausência).

Morte real - é aquela que pressupõe a existência do cadáver.

Ela é atestada pelo médico ou, em não havendo médico, por duas pessoas qualificadas que tenham presenciado ou verificado o fato, conforme art. 777 da Lei de Registro Públicos (6015/73). Discute-se na doutrina o que seria pessoa qualificada para atestar a morte, e dois são os posicionamentos:

1°: pessoa qualificada é aquela que tem qualificação específica para o ato. Portanto, na falta do médico, poderia ser o enfermeiro. Talvez, o farmacêutico, o delegado, o padre.

2°: pessoa qualificada é aquela que foi devidamente individualizada (nome completo, com RG, CPF, domicílio, etc.) É esse posicionamento que tem prevalecido.

Com base no atestado de óbito registra-se o óbito no cartório de registro civil competente, no livro próprio e posteriormente retira-se a certidão de óbito.

Atualmente prevalece o entendimento de que a verdadeira morte é a cerebral do tipo encefálica que se caracteriza pela ausência

4 II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 5 Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; 6 Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência; 7 Art. 77 - Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.

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de impulsos cerebrais. Isso pelo fato de a morte clínica, caracterizada pela cessação das funções circulatória e respiratória, ser tida como insuficiente. Esse entendimento veio com a lei que disciplina os transplantes.

Morte Presumida (art. 7°, CC) – ocorre quando, embora o

cadáver não tenha sido encontrado, há um juízo de probabilidade muito forte a respeito de sua ocorrência, que será apurada por meio de silogismo lógico. (Lembrar do exemplo da Mariazinha que explodiu no shopping de Osasco/SP).

A morte presumida encontra-se prevista no art. 7° do CC e verifica-se em duas hipóteses:

Art. 7°, inciso I8, CC - Se for extremamente provável a morte de

quem estava em perigo de vida. Neste caso, a Lei exige apenas dois requisitos: O perigo de vida e a probabilidade da morte. A lei não exige aqui, tempo de desaparecimento para a declaração da morte. Ex: Morte de Ulisses Guimarães, Caso da Vila Socó na cidade de Cubatão/SP.

O Art. 889 da Lei 6015/73 (LRP) contém preceito similar, porém exige, que o desaparecimento da pessoa tenha se dado em situação de catástrofe.

Art. 7° inciso II10 - Se alguém desaparecido em campanha ou

feito prisioneiro não for encontrado até dois anos após, o término da guerra. Nesta hipótese, antes do prazo mencionado, a morte não pode ser declarada.

Nestas hipóteses de morte presumida, a medida cabível é a ação de justificação de óbito, que tramita pela Vara de Registros Públicos, onde houver. Nesta ação o juiz prolata uma sentença declarando o sujeito morto e com base nela (sentença), lavra-se o óbito no cartório competente e posteriormente retira-se a certidão de óbito.

Observação: também é caso de morte presumida aquela prevista na Lei 9140/95 e que se refere às pessoas que desapareceram no período de 02-09-61 a 05-10-88, acusadas de participação em atividades políticas. As pessoas cujos nomes constam no rol dessa Lei,

8 I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; 9 Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. 10 II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra;

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estão por ela reconhecidas como mortas, independentemente de sentença.

As pessoas que desapareceram nesse período, acusadas de participação em atividades políticas e cujos nomes, não estão no rol da lei (9140/95), os interessados deverão propor ação declaratória de morte presumida, que segue o rito sumário, com base na lei 6683/79, para posteriormente obter a certidão de óbito.

Morte Ficta (ausência) - que é a que se verifica com a sentença

definitiva de ausência, proferida em ação declaratória de ausência. Diversamente do que ocorre na morte presumida do art. 7° do CC aqui temos apenas suspeita de morte, ou seja, suspeita vaga.

Obs.: A morte civil que consiste na perda da personalidade ainda durante a vida, não encontra guarida, no nosso ordenamento. É apenas resquício dela, a exclusão do herdeiro em razão de indignidade e ainda o caso do militar declarado indigno do oficialato.

Da Comoriência - art. 8°11 do CC É a presunção legal de morte simultânea de duas ou mais

pessoas ligadas pelo vínculo sucessório, ou seja, elas são herdeiras entre si. Não é necessário que as mortes se dêem no mesmo evento (no mesmo acidente, por exemplo).

O principal efeito da Comoriência é que não há transmissão de bens entre os comorientes, ou seja, eles não herdam entre si.

Dos entes despersonalizados 1. Das quase pessoas jurídicas: que se subdividem em

patrimônios especiais e nos órgãos públicos, que embora destituídos de personalidade jurídica, titularizam alguns direitos e obrigações. Referidos entes, portanto, são de duas ordens:

a) Patrimônios especiais – eles assemelham-se às pessoas jurídicas de direito privado, mas, não se revestem dessa natureza jurídica porque não constam do rol do art. 4412 do CC. É o caso do 11 Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos;

12 Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos.

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espólio, da massa falida, da herança jacente, do condomínio edilício e da pessoa jurídica sem registro. Esses entes têm legitimação ad processum (legitimação para estar em juízo), pois podem ser autor e réu nas ações patrimoniais, mas, não desfrutam de capacidade aquisitiva (com algumas exceções previstas, inclusive, na lei).

Próxima aula – dos órgãos públicos, do nascituro e dos

embriões in vitro (em vidro).

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Procuração ao relativamente incapaz Observação: No que pertine ao relativamente incapaz, o

ato/negócio que é por ele praticado deve ser realizado com a assistência de seu representante legal. Em razão disso a procuração deverá ser outorgada por meio de instrumento público. Esse entendimento tem sido mitigado pela jurisprudência que sustenta que em se tratando de procuração ad judicia, ela pode ser outorgada por meio de instrumento particular, porém em se tratando de procuração ad negocia deverá ser por meio de instrumento público.

Rol dos Incapazes Rol dos Absolutamente Incapazes: Trata-se de rol taxativo por ser norma excepcional que não

admite o uso da analogia (artigo 3º do CC1). I- Menores de 16 anos denominados menores impúberes. São assim considerados porque a lei entende que eles não

ostentam ainda desenvolvimento intelectual e social para a prática dos atos da vida civil.

II – Enfermos mentais Sem discernimento e deficientes mentais Artigo 4º inciso II do CC 2 II deficientes mentais – Com discernimento, porém reduzido

1 Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 2 Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

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O enfermo mental com discernimento reduzido é plenamente capaz, pois, não está no rol e o mesmo é taxativo.

A enfermidade mental é uma doença que acomete a pessoa

mentalmente sã, retirando dela o discernimento necessário para os atos da vida civil, por exemplo, uma depressão profunda, normalmente é passageira, ou seja, transitória.

Já a deficiência mental é uma alteração na capacidade

psíquica da pessoa e que acaba por comprometer o seu consciente de inteligência, normalmente é permanente e também congênita, mas nada impede que atinja a pessoa de forma abrupta como, por exemplo, um traumatismo craniano.

No que diz respeito ao enfermo mental ele só pode ser

interditado como sendo absolutamente incapaz quando não tiver o discernimento necessário para os atos da vida civil, se o seu discernimento estiver apenas reduzido ele é plenamente capaz.

Já o deficiente mental pode ser interditado como sendo absoluta ou então relativamente incapaz, dependendo de seu discernimento estar suprimido ou apenas reduzido.

III – (inciso III do artigo 3º do CC) Por exemplo, a pessoa está

em coma. O artigo 1767 inciso II do CC3 só permite a interdição de

pessoa que por causa duradora não possa exprimir sua vontade, se a causa for transitória apesar da incapacidade absoluta prevista no artigo 3º inciso III do CC, a interdição não será possível em razão da vedação legal. No entanto em havendo necessidade da prática de atos urgentes entende a doutrina ser possível a nomeação de curador para a prática desses atos ou desse ato, por analogia ao artigo 1780 do CC4 que trata da curatela especial.

3 Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V - os pródigos. 4 Art. 1.780. A requerimento do enfermo ou portador de deficiência física, ou, na impossibilidade de fazê-lo, de qualquer das pessoas a que se refere o art. 1.768, dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou alguns de seus negócios ou bens.

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Observação: No tocante ao surdo mudo cabe à perícia dizer se é caso de incapacidade absoluta ou relativa ou então se trata-se de plena capacidade.

Rol dos relativamente incapazes Também é taxativo, pois a norma é excepcional e não admite o

uso da analogia. I – Maiores de 16 e menores de 18 anos (denominados

menores púberes) No dia do aniversário em que completa 16 anos a pessoa já é

considerada relativamente incapaz em razão da interpretação sistemática com o artigo 180 do CC5.

II- Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos os deficientes

mentais com discernimento, porém, reduzido. Ébrio habitual é o alcoólatra e para que a interdição seja

possível dois requisitos são necessários: 1ª Embriaguez habitual praticamente diária 2ª Perturbação do entendimento No que tange aos viciados em tóxicos a lei não exige

habitualidade e, portanto o uso da substância entorpecente pode ser intervalado. Para a interdição dois requisitos são necessários:

1ª o vicio, ou seja, o uso reiterado de substância entorpecente que cause dependência física ou psíquica.

2ª Perturbação do discernimento Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos são considerados

pelo atual Código relativamente incapazes, no entanto legislação especial os qualifica como absoluta ou relativamente incapazes, dependendo da gravidade e do estado mental ou ainda do grau de intoxicação, Decreto 24.559/1934 e a Lei 891/1938.

Apesar do que diz o atual Código há entendimentos no sentido que as referidas pessoas podem ser tidas como absolutamente incapazes com base no artigo 3º inciso III do CC, sem necessidade, portanto, de fazer uso da legislação especial mencionada, em torno da qual, há polêmica sobre sua atual vigência. 5 Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

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DATA: 15/03/2010

III- Excepcionais (não estamos falando de portadoras de

síndrome de Down, tal expressão não vem da área médica e sim da educação) sem desenvolvimento mental completo.

Referido dispositivo é criticado pela doutrina que o considera desnecessário, por entender que a hipótese nela tratada já está disciplinada na última parte do inciso II do artigo 4ª do Código Civil, ademais segundo esses autores, a expressão excepcional é equivocada, pois não advêm da área médica, mas sim da pedagógica e serve para indicar alunos que tenham déficit no aprendizado.

É certo que o legislador pecou pelo excesso, porém o fez com o intuito de proteger essas pessoas que são portadoras de uma deficiência mental leve e que não se enquadrariam na última parte do inciso anterior e seriam tidas como plenamente capazes.

IV- Os pródigos são indivíduos que dilapidam seu patrimônio de

maneira imoderada e habitual, colocando em risco o seu sustento e de sua família. Para que a interdição seja possível dois requisitos são necessários:

1ª gastos habituais excessivos, desenfreados, desordenados. 2ª Risco ao próprio sustento e ao de sua família. (o pródigo é

generoso). No que diz respeito ao viciado em jogo é necessário perícia

que diga se é caso de prodigalidade ou não, sem se esquecer, no entanto, que uma das principais características do pródigo é a generosidade. A interdição do pródigo restringe-se aos atos de caráter patrimonial, portanto ele pode se casar sem a necessidade da assistência, no entanto no que se diz respeito ao regime de bens o tema é polêmico.

Pelo atual Código, o pródigo está efetivamente protegido, pois

a interdição pode se dar ainda que não haja cônjuge, descendente ou ascendente, podendo ser promovida por qualquer parente ou pelo MP de forma subsidiária.

Parágrafo único do artigo 4ª do CC: de acordo com este

dispositivo a capacidade do índio está disciplinada em lei especial, ou seja, na Lei 6001/1973 também denominada Estatuto do Índio.

O atual Código faz uso da expressão correta, qual seja, índio e não silvícola, que é o habitante da selva.

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DATA: 15/03/2010

A rigor para saber se há plena integração, é necessário que o índio seja submetido a uma perícia antropológica.

Ao índio integrado a civilização serão aplicadas as mesmas normas referentes aos nãos índios. Embora seja integrado, o índio conta com a proteção do MP Federal e da FUNAI (Órgão tutelar), pois, são tidos a rigor como hipossuficientes.

No que diz respeito à incapacidade do índio não integrado ela é

sui generis, ou seja, especial, pois os aproxima dos relativamente incapazes, já que os atos por eles praticados necessitam da assistência da FUNAI, também os aproximam dos absolutamente incapazes na medida em que os atos por eles praticados sem a assistência da FUNAI são nulos desde que haja prejuízo ao índio.

A Lei de Registros Públicos assim como o estatuto do índio,

preceitua que os índios não integrados não estão obrigados ao registro de nascimento no cartório de registro civil competente, bastando o registro administrativo feito em livro próprio na FUNAI. No entanto essa legislação não condiz com a realidade atual do índio que precisa, por exemplo, de documentos para ter assistência hospitalar.

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DATA: 22/03/2010

Formas de aquisição da capacidade plena São as seguintes: I - Maioridade civil. Hoje atingida aos 18 anos completos. Importa não confundir

maioridade civil com capacidade civil. Ex: Menina com 15 anos casada com autorização judicial em

razão de gravidez. Embora capaz, pois com o casamento deu-se a emancipação ela continua menor, e, portanto, não pode, por exemplo, ter carteira de motorista.

II – Levantamento da interdição. É o cancelamento dos efeitos da sentença de interdição em

razão da cessação da causa que a determinou (ver art. 1.186 e parágrafos1 do CPC). O pedido de levantamento pode ser feito pela própria pessoa e corre em apenso aos autos principais.

O levantamento da interdição é forma de aquisição ou de reaquisição da capacidade plena.

III - Integração do indígena. É a emancipação do índio. Três são as formas: 1. Art. 9° do Estatuto do Índio - Neste caso o próprio índio

requer a sua emancipação, assistido pela FUNAI mediante pedido dirigido a um juiz federal devendo preencher os seguintes requisitos previstos no art. 9°2 do Estatuto do Índio: 1 Art. 1.186. Levantar-se-á a interdição, cessando a causa que a determinou. § 1o O pedido de levantamento poderá ser feito pelo interditado e será apensado aos autos da interdição. O juiz nomeará perito para proceder ao exame de sanidade no interditado e após a apresentação do laudo designará audiência de instrução e julgamento. § 2o Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição e mandará publicar a sentença, após o transito em julgado, pela imprensa local e órgão oficial por três vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, seguindo-se a averbação no Registro de Pessoas Naturais. 2 Art.9º Qualquer índio poderá requerer ao Juízo competente a sua liberação do regime tutelar previsto nesta Lei, investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisitos seguintes: I - idade mínima de 21 anos; II - conhecimento da língua portuguesa; III - habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; IV - razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional. Parágrafo único. O juiz decidirá após instrução sumária, ouvidos o órgão de assistência ao índio e o Ministério Público, transcrita a sentença concessiva no registro civil.

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DATA: 22/03/2010

a) Idade mínima de 21 anos; b) Conhecimento da língua portuguesa; c) Habilitação para o exercício de atividade útil na comunidade

nacional; d) Razoável conhecimento dos usos e costumes da comunhão

nacional. O juiz, se entender presentes todos esses requisitos, irá

conceder a emancipação por sentença após a oitiva do (Ministério Público Federal).

2. Neste caso, previsto no art. 103 do Estatuto – A própria

FUNAI reconhece a plena integração, porém, é necessário que haja homologação judicial posterior. Os requisitos acima mencionados deverão estar presentes.

3. Neste caso, previsto no art. 114 do Estatuto – Haverá decreto

do Presidente da República de emancipação coletiva. Após requerimento da maioria dos membros da comunidade indígena e comprovação pela FUNAI da plena integração. Os requisitos acima mencionados deverão estar presentes.

IV – Emancipação. É o instituto jurídico que atribui capacidade plena aos menores

de 18 anos. É, portanto, forma de antecipação da capacidade civil. Características da emancipação: a) Irrevogabilidade – pois se validamente concedida não pode

ser revogada pelos pais ou pelo menor. No entanto, ela pode ser anulada se decorrente de erro, dolo ou coação.

b) Perpetuidade – pois ela é sempre definitiva. c) Pura e simples – pois não admite termo ou condição.

3 Art.10º Satisfeitos os requisitos do artigo anterior, e a pedido escrito do interessado, o órgão de assistência poderá reconhecer ao índio, mediante declaração formal, a condição de integrado, cessando toda restrição á capacidade, desde que, homologado juridicamente o ato, seja inscrito no registro civil. 4 Art.11º Mediante decreto do Presidente da República, poderá ser declarada a emancipação da comunidade indígena e de seus membros, quando ao regime tutelar estabelecido em lei; desde que requerida pela maioria dos membros do grupo e comprovada, em inquérito realizado pelo órgão federal competente, a sua plena integração na comunhão nacional.

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Formas de emancipação: 1. Emancipação Voluntária – é aquela concedida por ambos os

pais mediante escritura pública, que deve ser inscrita no cartório de registro civil competente devendo o menor ter 16 anos completos.

Nada impede a emancipação voluntária por apenas um dos pais quando o outro já tiver falecido, estiver interditado ou então, tenha decaído do poder familiar. Se, porventura, um dos pais estiver em local incerto e não sabido, o outro, para emancipar voluntariamente o filho, deve pedir ao juiz uma autorização para tanto. (No entanto, aqui no Estado de São Paulo, em razão da Apelação Cível 96.914-9, do Conselho Superior da Magistratura, tem-se entendido que é possível, por exemplo, que a mãe vá até o Cartório e relate o desaparecimento do marido ao Tabelião, que reduzirá a termo as declarações dela, e em seguida já procede à emancipação).

2. Emancipação judicial – é aquela concedida por sentença que

deverá ser inscrita no cartório de registro civil competente após oitiva do MP.

Esta forma de emancipação é possível em duas hipóteses: a) No caso de menor sob tutela o procedimento é de jurisdição

voluntária. b) Divergência entre os pais. Neste caso o procedimento é de

jurisdição contenciosa. 3. Emancipação legal – é aquela que se opera

automaticamente independentemente de ato dos pais ou de sentença judicial, bastando que se dê uma das hipóteses previstas em lei:

a) Casamento – a idade núbil ocorre a partir dos 16 anos

completos quando então o casamento é possível com a autorização dos pais ou tutor. Antes dessa idade o casamento só será possível mediante ordem judicial e nas duas hipóteses previstas no art. 1.5205 do CC, a saber:

- Para evitar a imposição ou o cumprimento de pena criminal nos crimes sexuais.

Obs.: Há entendimento no sentido de que esta hipótese teria sido derrogada pela lei 11.106/2005 que alterou a parte geral do Código Penal. 5 Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.

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DATA: 22/03/2010

- Em caso de gravidez, é o único caso em que o casamento pode dar-se antes que o menor tenha 16 anos completos em se entendendo que a hipótese acima mencionada foi derrogada.

Questão polêmica é a que diz respeito ao casamento nulo ou anulado por sentença judicial. Neste caso, o menor retorna ao estado de incapacidade?

R: Duas são as posições: Primeira posição - Ela continua emancipada, pois seria um

contrassenso que o próprio cônjuge pleiteasse a nulidade, já que é capaz, para depois tornar-se incapaz com a procedência da ação.

Segunda posição - Haverá sim o retorno à incapacidade, pois com o desfazimento do casamento, que é o principal, os seus efeitos secundários também desaparecerão, salvo na situação do art. 1.5616 do CC, que prevê a subsistência dos efeitos secundários do casamento anulado ou declarado nulo quando houver putatividade.

b) Pelo exercício (não basta a posse, não basta a nomeação)

de emprego público (função pública) efetivo; c) Pela colação de grau em curso de ensino superior; d) Pelo estabelecimento civil ou comercial com economia

própria; e) Existência de relação de emprego em que o menor aufira

rendimentos suficientes para a sua subsistência. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE (arts. 11 A 21 do CC) São os atributos inerentes à própria condição humana e

constituem o patrimônio mínimo da pessoa, e, portanto, não há quem não os titularize.

A pessoa jurídica conforme art. 527do CC também tem direitos da personalidade garantidos, como por exemplo, o direito ao nome e a imagem. O nascituro também os tem, como por exemplo, o direito a vida e aos alimentos.

Quanto ao natimorto ver enunciado n° 018 do Conselho da Justiça Federal (CJF) 6 Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. 7 Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 8 Enunciado n° 01 do CJF: Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura

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Classificação dos direitos da personalidade de acordo com o Professor Limongi França:

I – Direitos a integridade física, que compreendem: a) Direito a vida e aos alimentos; O direito a vida compreende também o direito a uma qualidade

saudável de vida. Ex: A questão envolvendo os transgênicos. b) Direito ao próprio corpo vivo; c) Direito ao próprio corpo morto; d) Direito ao corpo alheio vivo; e) Direito ao corpo alheio morto; f) Direito às partes separadas do corpo vivo; g) Direito às partes separadas do corpo morto. II - Direito a integridade moral, que compreende: a) Direito a liberdade civil, política e religiosa; b) Direito a honra; c) Direito a imagem; d) Direito a privacidade; e) Direito a identidade pessoal, familiar e social. III – Direito a integridade intelectual, que compreende: a) Direito a liberdade de pensamento; b) Direito pessoal do autor científico; c) Direito pessoal do autor artístico; d) Direito pessoal do inventor. Em razão da importância dos direitos da personalidade eles

têm agora dupla proteção, ou seja, na esfera do direito público onde denominam-se liberdades públicas clássicas e também na esfera do direito privado, estando o atual Código Civil em harmonia com preceito contido no pacto San Jose da Costa Rica, inserido no nosso ordenamento pelo Decreto 678/92, que determina no plano internacional que os Estados se comprometam a respeitar e a garantir os direitos da personalidade

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Características dos direitos da personalidade: 1. Tais direitos são absolutos porque são oponíveis erga

omnes, eles devem ser respeitados por todas as pessoas. Obs.: Sob a ótica do direito constitucional, no entanto, esses

direitos são limitados. Ex.: A CF/88 confere a todos, liberdade de expressão. No entanto, ela mesma limita esse direito ao vedar o anonimato e ao vedar que em nome desse direito (liberdade de expressão) a honra alheia seja violada.

Para o Professor Canotilho, no entanto, esses direitos são

sempre absolutos como é o caso, por exemplo, da vedação à tortura, sem qualquer relativização.

2. Tais direitos são extrapatrimoniais porque incidem sobre

bens insuscetíveis de mensuração (avaliação) pecuniária. Obs.: Excepcionalmente, no entanto, tais direitos podem ter

caráter patrimonial, como é o caso, por exemplo, do direito a imagem de uma pessoa famosa que pode ser mensurado inclusive por meio de critério publicitário.

3. Tais direitos são intransmissíveis porque são inerentes à

própria pessoa, ou seja, eles não podem ser destacados da pessoa do seu titular.

Obs.: Alguns autores falam da possibilidade de se transmitir um direito indisponível. Na realidade, no entanto, eles se referem à regra prevista no parágrafo único do art. 129 do CC, que trata, por exemplo, da titularidade dos filhos para defender a imagem do pai morto. Esse dispositivo trata, portanto, da legitimação para a ação.

4. Tais direitos são indisponíveis porque o seu exercício não

pode ser cedido nem limitado por vontade da própria pessoa. Neste passo, devemos ter em mente, o critério da ponderação

de valores e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 5. Tais direitos são irrenunciáveis, porque a pessoa não pode

deles abrir mão e eventual renúncia será nula. Obs.: A renúncia, no entanto, será válida quando referidos

direitos tiverem caráter patrimonial.

9 Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

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6. Tais direitos são vitalícios porque acompanham a pessoa por toda a sua vida.

Alguns desses direitos, no entanto, se projetam para além da morte, como é o caso do direito à imagem e ao corpo morto.

Segundo alguns autores eles são permanentes e inatos (adquiridos ao nascer), porém, o nascituro também os tem.

7. Tais direitos são imprescritíveis porque inexiste prazo para o

seu exercício e eles não se extinguem pelo não uso. Todavia, no que pertine ao direito de pedir indenização,

submete-se a prescrição dado o seu caráter patrimonial. DO DIREITO DA IDENTIDADE PESSOAL É aquele conferido à pessoa de ser conhecida como aquela

que realmente é, e de não ser conhecida com outrem. Referido direito compreende:

I - Direito ao nome; II - Direito ao pseudônimo; III - Direito aos títulos qualificativos; IV - Direito ao signo figurativo (direito ao uso de brasões e

insígnias). I – Do direito ao nome. Nome é o sinal que identifica a pessoa e indica a sua

procedência familiar Natureza jurídica: É direito de personalidade, pois é sinal distintivo, revelador

dela. Elementos do nome: 1. Elementos essenciais: Essenciais porque são indispensáveis para o registro da

pessoa no cartório de registro civil competente. E são os seguintes: a) Prenome ou nome próprio – tem por finalidade identificar a

pessoa dentro da família, podendo ser simples, como por exemplo, João ou composto, como por exemplo, João Carlos.

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Irmãos não podem ter prenomes idênticos, salvo em duas hipóteses previstas no p. único do art. 6310 da Lei de Registros Públicos:

- No caso de duplo prenome. Ex: João Carlos dos Santos, João Pedro dos Santos. - No caso de nome completo diverso. Ex: João Carlos dos Santos (patronímico paterno) / João Carlos de

Oliveira (patronímico materno) dos Santos (patronímico paterno). b) Patronímico ou sobrenome ou apelido de família – Tem por

finalidade indicar a procedência familiar da pessoa (próxima aula)

10 Art. 63. No caso de gêmeos, será declarada no assento especial de cada um a ordem de nascimento. Os gêmeos que tiverem o prenome igual deverão ser inscritos com duplo prenome ou nome completo diverso, de modo que possam distinguir-se.

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(CONTINUAÇÃO: ELEMENTOS ESSENCIAIS DO NOME) Pode ser o paterno ou o materno ou ambos por força do

princípio da isonomia. Cabe aos pais a indicação do nome completo do filho. Se eles não o fizerem o art. 551 da Lei de Registros Púbicos (6.015/73) determina que o oficial registre com o sobrenome paterno ou o materno ou ambos. Isso porque todos devem ter prenome e patronímico.

A única exceção diz respeito ao infante exposto, que é o recém-nascido abandonado pelos pais e que pode ser registrado apenas com o prenome sem qualquer alusão ao patronímico (art. 612 Lei de Registro Públicos - 6.015/73).

2. Elementos facultativos. Facultativos porque são dispensáveis para o registro do nome

no cartório de registro civil competente e são os seguintes: a) Agnome – é o sinal acrescentado no final do nome e que

serve para distinguir pessoas de uma mesma família. Ex.: Junior, Neto, Filho, Sobrinho (também no feminino),

Segundo e II. b) Partículas – da, das, de, do, dos, e. Ex.: Maria Lourdes ou Maria de Lourdes, João Azevedo e

Souza ou João Azevedo Souza. c) Cognome – é o apelido que, por sentença judicial passa a

integrar o nome, por exemplo, Xuxa, Lula, mas não é o caso de Pelé. Obs.: O cognome não se confunde com a regra prevista no art.

583 da Lei de Registro Púbico (6.015/73) que permite a substituição do prenome pelo apelido público e notório.

1 Art. 55. Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato. 2 Art. 61. Tratando-se de exposto, o registro será feito de acordo com as declarações que os estabelecimentos de caridade, as autoridades ou os particulares comunicarem ao oficial competente, nos prazos mencionados no artigo 51, a partir do achado ou entrega, sob a pena do artigo 46, apresentando ao oficial, salvo motivo de força maior comprovada, o exposto e os objetos a que se refere o parágrafo único deste artigo. 3 Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios.

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Princípio da imutabilidade do nome. Segundo o qual é impossível alterar-se o nome civil, pois além

de ser direito da personalidade constitui fator de segurança jurídica e social. No entanto, várias são as exceções classificadas da seguinte forma:

a) Causas comuns de alteração do prenome e do patronímico: - erro gráfico: (por exemplo, Arfredo, Nerso, Irso, “joão da silva”

em minúsculo); - erro no registro: (ex.: Cristina ao invés de Cristiana) aqui o

oficial do cartório consigna nome diverso daquele que foi declarado; - Nome ridículo: a Lei de Registros Públicos (6.015/73) no art.

554 proíbe o registro de prenome ridículo. No entanto em o havendo, permite-se a alteração quanto ao patronímico. A rigor a alteração não é possível, mas a jurisprudência já vem admitindo-a em situações excepcionais e justificadamente.

- adoção: a lei permite que a alteração do prenome seja

facultativa, no entanto no que tange ao patronímico essa alteração é obrigatória (art. 1.6275 do CC).

- vítimas e testemunhas criminais coagidas ou expostas à

grave ameaça em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal (Lei 9.807/99);

- pela vontade do titular no ano seguinte ao da maioridade civil

(art. 566 da Lei de Registros Públicos – 6.015/73). Referida alteração é procedida administrativamente, junto ao

cartório de registro civil, sendo o pedido apreciado pelo juiz corregedor. Não é necessário justificar e o prazo de 1 ano mencionado é decadencial.

4 Vide nota 1. 5 Art. 1.627. A decisão confere ao adotado o sobrenome do adotante, podendo determinar a modificação de seu prenome, se menor, a pedido do adotante ou do adotado. (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) 6 Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa.

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Após, esse prazo a alteração é possível pela via judicial e justificadamente com base no art. 577 da Lei de Registros Públicos – 6.015/73.

Na forma do art. 568 permite-se: 1. Alterar o patronímico sem que haja, no entanto, prejuízo ao

nome de família. Altera-se, portanto, para incluir o patronímico materno ou avoengo;

2. A jurisprudência tem entendido que também é possível

alterar o prenome para fazê-lo simples quando composto ou vice-versa. A supressão total do prenome para posterior aquisição de outro não é possível na forma do art. 56. A jurisprudência tem mitigado o entendimento que sustentava não ser possível a alteração de prenome celebre, como por exemplo, Júlio César.

b) Causas específicas de alteração do prenome: - Tradução, pronúncia e compreensão difíceis: dizem respeito

ao estrangeiro e estão previstas no art. 43 e 449 da Lei 6.815/80. Caso o prenome já esteja definitivamente integrado na nossa língua a tradução é vedada, por exemplo, não se pode traduzir Wiliam para Guilherme.

- a regra prevista no art. 5810 da Lei de Registros Públicos, que

permite a substituição do prenome pelo apelido público e notório. - irmãos com prenomes idênticos. - no caso do transexual submetido à cirurgia para mudança de

sexo. Permite-se a alteração tanto do prenome quanto do sexo no assento de registro civil com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana e da cidadania.

a) Causas específicas de alteração do patronímico:

7 Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. 8 Vide nota 6. 9 Art. 43. Os livros de proclamas serão escriturados cronologicamente com o resumo do que constar dos editais expedidos pelo próprio cartório ou recebidos de outros, todos assinados pelo oficial. Parágrafo único. As despesas de publicação do edital serão pagas pelo interessado. Art. 44. O registro do edital de casamento conterá todas as indicações quanto à época de publicação e aos documentos apresentados, abrangendo também o edital remetido por outro oficial processante. 10 Vide nota 3.

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- casamento, união estável, separação judicial, divórcio, viuvez, reconhecimento de filho, ação negatória de paternidade e, também, o parágrafo 8°11 do art. 57, da Lei de Registro Públicos.

Obs.: Com relação ao casamento, o §1°12 do art. 1.565 do CC, permite qualquer dos nubentes que acrescente ao seu, o sobrenome do outro.

Aqui no Estado de São Paulo, norma de serviço da corregedoria Geral de Justiça permite a supressão parcial do patronímico para posterior adoção do patronímico de casado.

No que diz respeito à viuvez, é o direito consuetudinário que permite, por exemplo, a viúva, que continue a usar o patronímico do marido morto.

É possível, no entanto, voltar ao nome civil de solteira, desde que haja autorização judicial.

11 Art. 57 (...). § 8o O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2o e 7o deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família. 12 Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. (...).

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d) nome vocatório. É aquele pelo qual a pessoa é comumente chamada,

comumente conhecida. Exemplo: “Damásio” referindo-se ao professor Damásio Evangelista de Jesus, “Grecco” referindo-se ao professor Vicente Grecco Filho.

e) Hipocorístico É o tratamento carinhoso, como por exemplo, Terezinha,

Pedrinho, Bia, Carol. Nada obsta que o hipocorístico figure como prenome. Da Proteção ao Nome Dentro do Direito Privado a proteção ao nome é garantida

pelas seguintes ações: 1ª Ação de Contestação (artigo 17 do CC)1 É cabível quando o nome de alguém é usado pessoalmente

por outrem, de forma abusiva. O desprezo público não precisa ser exarcebado.

Nesta ação o autor irá requerer a suspensão do prosseguimento da publicação ou representação, sob pena de multa diária, bem como a apreensão de livros, jornais, revistas e etc. Exemplo: é o caso do “Bráulio”.

2ª Ação de Proibição (artigo 18 do CC)2 É cabível quando o nome de alguém é usado por outrem, de

maneira não pessoal, portanto, a proibição compreende qualquer anúncio destinado a promover a venda de produtos ou serviços do anunciante.

3ª Ação de Indenização

1 Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. 2

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É cabível nas hipóteses anteriores, visando obter o ressarcimento, dos danos materiais e morais. Tem por fundamento o artigo 186 do CC3.

Obs.: A Ação de Retificação de Registro Civil tramita na Vara

de Registros Públicos, onde houver, e segue o rito sumário. Deve ser proposta no lugar em que o assento foi lavrado, ou então, no local da residência do interessado.

Obs.: (da aula anterior) a) Causas comuns de alteração do prenome e do patronímico: ... - adoção: a lei permite que a alteração do prenome seja

facultativa, no entanto no que tange ao patronímico essa alteração é obrigatória (art. 1.627 do CC). Acrescentar na fundamentação legal o artigo 47 §§ 5º e 6º do ECA4 e riscar o artigo 1627.

Dos títulos qualificativos São os seguintes: Axiônimos São os títulos nobiliários (nobreza) e os honoríficos.

3 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 4 Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão. § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes. § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do adotado. § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência. § 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro. § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome. § 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei § 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito. § 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.

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Os primeiros serviam para distinguir as classes sociais, na seguinte ordem de importância: Príncipe, Duque, Marquez, Conde, Visconde e Barão. Ainda hoje, eles podem ser adquiridos por meio de sucessão hereditária.

Os honoríficos são personalíssimos, pois é uma distinção

honrosa, concedida à pessoa, por exemplo: Comendador. Títulos Eclesiásticos São aqueles concedidos pela Igreja. Exemplo: Cardeal, Padre,

Arcebispo, Pastor, Missionário, Bispa, entre outros. Títulos de Identidade Oficial Por exemplo: Senador, Marechal, Brigadeiro, Procurador,

Desembargador. Títulos Acadêmicos e Científicos Por exemplo: Mestre, Doutor, Engenheiro, etc. Esses títulos quando apostos antes do prenome, não integram

o nome civil, pois a Lei de Registros Públicos é de ordem pública e não prevê a hipótese. Há, no entanto entendimento no sentido contrário, sustentado inclusive, pelo professor Limongi França.

DO DIREITO SOBRE O CORPO Que compreende dentre outros, os seguintes assuntos: 1. Da disposição do corpo Como a vida se desenvolve no corpo, qualquer lesão a ele,

implica em ofensa à vida, portanto, é nulo o negócio jurídico que tenha por objeto a mutilação do corpo da pessoa.

Com efeito, o artigo 13 do CC5 proíbe a disposição do corpo, salvo por exigência médica, em duas situações: 5 Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

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a) quando importar em diminuição permanente da integridade

física. b) quando contrariar os bons costumes. Pequenas lesões, no entanto são aceitas em razão dos

costumes, como por exemplo, furar a orelha para colocar brinco, pequenas tatuagens, o pagamento de algumas promessas, etc.

É ainda com base nesse dispositivo que se entende que, a

pedido do MP ou de algum parente possa o juiz impedir que o sujeito se automutile em um espetáculo público (esse tema é polêmico).

É certo, no entanto, que a primeira parte do artigo 13 do CC,

permite a disposição do corpo, ainda que haja diminuição permanente da integridade física, quando houver exigência médica.

É o caso da cirurgia para mudança de sexo, em se tratando de

transexual, que é o individuo com indicação psicossexual oposta, aos seus órgãos genitais externos e com desejo compulsivo de mudança deles. Sua verdadeira ânsia é a modificação de seus genitais, e a substituição, se possível, pelos genitais do sexo oposto.

A exigência médica a que se refere a lei, deve estar

corroborada por meio de atestados clínicos, psiquiátricos e psicológicos robustos, que certifiquem tratar-se de transexual.

2. Transplantes (lei 9434/97 alterada pela 10.211/2001) O que é o transplante? R: É a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo, para ser

introduzido em outra pessoa. Na expressão tecidos, não estão compreendidos: o sangue, o

óvulo e o esperma.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

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PROF: CRISTIANA

DATA: 05/04/10

A CF/88 no artigo 199, § 4º6, o CC no artigo 147 e a Lei 9434/97 no artigo 1º8 proíbem de qualquer forma, a comercialização de tecidos, órgãos e partes do corpo.

A doação para a retirada post mortem está disciplinada no

artigo 14 do CC e também nos artigos 3º à 8º da Lei 9434/97. Referida doação pode ser feita: a) pela própria pessoa antes de morrer. b) pelas pessoas mencionadas, no artigo 4º da Lei 9434/979.

6 Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. § 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. § 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. 7 Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. 8 Art. 1° A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a que se refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo. 9 Art. 4° Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta Lei, presume-se autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de transplantes ou terapêutica post mortem. § 1° A expressão “não-doador de órgãos e tecidos” deverá ser gravada, de forma indelével e inviolável, na Carteira de Identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação da pessoa que optar por essa condição. § 2° A gravação de que trata este artigo será obrigatória em todo o território nacional a todos os órgãos de identificação civil e departamentos de trânsito, decorridos trinta dias da publicação desta Lei. § 3° O portador de Carteira de Identidade Civil ou de Carteira Nacional de Habilitação emitidas até a data a que se refere o parágrafo anterior poderá manifestar sua vontade de não doar tecidos, órgãos ou partes do corpo após a morte, comparecendo ao órgão oficial de identificação civil ou departamento de trânsito e procedendo à gravação da expressão “não-doador de órgãos e tecidos”. § 4° A manifestação de vontade feita na Carteira de Identidade Civil ou na Carteira Nacional de Habilitação poderá ser reformulada a qualquer momento, registrando-se, no documento, a nova declaração de vontade. § 5° No caso de dois ou mais documentos legalmente válidos com opções diferentes, quanto à condição de doador ou não, do morto, prevalecerá aquele cuja emissão for mais recente. § 6o Na ausência de manifestação de vontade do potencial doador, o pai, a mãe, o filho ou o cônjuge poderá manifestar-se contrariamente à doação, o que será obrigatoriamente acatado pelas equipes de transplante e remoção.

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PROF: CRISTIANA DATA: 12/04/10

O mencionado art. 4º1 não menciona o companheiro, porém o entendimento que prevalece é de que ele pode autorizar a retirada de órgãos, tecidos e parte do corpo do companheiro morto, para doação ainda que a união não esteja reconhecida judicialmente.

Questão polemica é a que diz respeito à autorização do “companheiro homossexual”.

Se a pessoa em vida manifestou o desejo de não ser doadora impõem-se a proibição da doação. Importa anotar ainda que no p. único2 do art. 14 do CC encontra-se previsto o princípio do consenso afirmativo segundo o qual o ato de disposição pode ser revogado a qualquer tempo.

Obs.: De acordo com o art. 6º3 da Lei 9.434/97 é proibida a

remoção post mortem de órgãos, tecidos e parte do corpo de pessoas não identificadas.

A doação para retirada em vida está prevista no art. 9º4 e parágrafos da Lei 9.434/97 e exige os seguintes requisitos:

1 Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. 2 Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. 3 Art. 6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas. 4 Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. § 1º (VETADO) § 2º (VETADO) § 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora. § 4º O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada. § 5º A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização. § 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde. § 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto quando se tratar de doação de tecido para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua saúde ou ao feto. § 8º O auto-transplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.

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a) Capacidade do doador. As pessoas absolutas e as relativamente incapazes podem

fazer doação para retirada em vida desde que preenchidos os requisitos do § 6º do art. 9º da Lei 9.434/97.

Importa anotar que o menor emancipado pode figurar como doador com base no caput do art. 9º.

b) Autorização judicial. Autorização judicial na forma prevista no art. 9º caput. A lei

nada fala com relação ao companheiro, mas a doutrina entende que também é possível, havendo necessidade aqui do reconhecimento judicial da união estável segundo alguns autores.

Quanto “ao companheiro homossexual” há necessidade de autorização judicial.

A lei tem por finalidade em todos esses casos evitar o comércio de tecidos, órgãos e partes do corpo.

c) Justificativa médica. Pois é vedada a doação que seja prejudicial à saúde do doador

ou então que não seja indispensável ao receptor. d) Vínculo familiar específico entre doador e receptor. Em não havendo a lei exige autorização judicial com o objetivo

de evitar o comércio.

3. Da Esterilização (art. 105 da Lei 9.263/96).

5 Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situações: (Artigo vetado e mantido pelo Congresso Nacional - Mensagem nº 928, de 19.8.1997) I - em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce; II - risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos. § 1º É condição para que se realize a esterilização o registro de expressa manifestação da vontade em documento escrito e firmado, após a informação a respeito dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reversão e opções de contracepção reversíveis existentes. § 2º É vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante os períodos de parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores.

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A esterilização voluntária masculina denomina-se vasectomia a feminina laqueadura tubária.

A esterilização é permitida aos homens às mulheres com plena capacidade e que tenham mais de 25 anos. Ou então pessoas com plena capacidade civil e que tenham pelo menos dois filhos vivos.

Entre a data da manifestação de vontade e a concretização do ato cirúrgico é necessário que decorra período mínimo de 60 dias, prazo em que a pessoa será acompanhada por uma equipe multidisciplinar que irá desaconselhar à esterilização precoce.

Se na vigência do casamento é necessária anuência do cônjuge, tem-se entendido o mesmo com relação à união estável.

Os incapazes podem ser esterilizados desde que haja autorização judicial.

A lei veda para fins de esterilização a extirpação do útero (histerectomia) e a extirpação dos ovários (ooforectomia).

4. DA intervenção médica e cirúrgica. Pela regra do art. 156 do CC a anuência do paciente à

intervenção cirúrgica só será necessária quando o perigo causado pela doença for futuro. Em contrapartida se a pessoa estiver em iminente perigo de vida a intervenção do médico é lícita ainda que sem o consentimento do paciente conforme autoriza o art. 146, § 3º, I7 do CP.

Esse mesmo raciocínio deve ser utilizado no tocante à transfusão de sangue rejeitada pela convicção religiosa do paciente ou

§ 3º Não será considerada a manifestação de vontade, na forma do § 1º, expressa durante ocorrência de alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou permanente. § 4º A esterilização cirúrgica como método contraceptivo somente será executada através da laqueadura tubária, vasectomia ou de outro método cientificamente aceito, sendo vedada através da histerectomia e ooforectomia. § 5º Na vigência de sociedade conjugal, a esterilização depende do consentimento expresso de ambos os cônjuges. § 6º A esterilização cirúrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poderá ocorrer mediante autorização judicial, regulamentada na forma da Lei. 6 Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. 7Constrangimento ilegal Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio.

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de seus familiares, isso porque, não pode a liberdade religiosa sobrepor-se ao direito a vida.

DA AUSÊNCIA (arts. 22 a 39 do CC). Obs.: O atual Código excluiu o ausente do rol dos

absolutamente incapazes, portanto, agora a prescrição corre contra o ausente.

Verifica-se a ausência quando a pessoa desaparece do seu domicílio e não dá notícias do seu paradeiro. Ver ainda as regras previstas nos arts. 22 e 238 do CC.

O procedimento de ausência se desenvolve em três fases, ou seja, curadoria do ausente, sucessão provisória e sucessão definitiva.

E está disciplinado nos arts. 1.159 a 1.169 do CPC. Referido procedimento é instaurado no último domicílio do ausente e trata-se de procedimento de jurisdição voluntária. Qualquer interessado pode requerer a sua instauração inclusive o MP.

Só há interesse na instauração do procedimento de ausência na hipótese do ausente ter deixado bens. Se a intenção é a obtenção de pensão previdenciária não há necessidade da sua instauração, pois a ausência pode ser demonstrada na própria ação previdenciária, bastando que os dependentes demonstrem o desaparecimento da pessoa por mais de 6 meses, conforme art. 789 da Lei 8.213/91

1ª Fase – Da curadoria do ausente. Nesta fase o juiz convencendo-se de que a pessoa encontra-se

desaparecida, após análise da inicial declarará a sua ausência nomeando-lhe um curador (art. 2410). Importa anotar que a lei não exige prazo mínimo de desaparecimento para instauração do procedimento.

8 Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. 9 Art. 78. Por morte presumida do segurado, declarada pela autoridade judicial competente, depois de 6 (seis) meses de ausência, será concedida pensão provisória, na forma desta Subseção. (...). 10 Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.

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Quanto à nomeação do curador deve-se seguir a ordem prevista no art. 2511 do CC, esclarecendo, no entanto, que o MP não deve ser nomeado curador do ausente.

Nesta primeira fase o juiz ainda determinará a arrecadação dos bens do ausente que ficarão sobre a administração do curador nomeado e em seguida determinará a publicação de editais.

Passado 1 ano da publicação do primeiro edital uma de três situações poderão ocorrer:

1. Retorno do ausente – neste caso ele assume seus bens

extinguindo-se o procedimento. O ausente terá direito de receber todos os frutos e rendimentos dos seus bens deduzindo-se apenas as despesas com a administração.

2. Certeza da morte do ausente – provado o óbito o

procedimento é convertido em inventário. 3. Persistência da ausência – neste caso o procedimento

avança para a segunda fase, ou seja, da sucessão provisória. 2ª Fase – Da sucessão provisória. Os interessados poderão requerer que se abra provisoriamente

a sucessão após o decurso do prazo de 1 ano da publicação do primeiro edital ou então no prazo de 3 anos se o ausente houver deixado procurador ou representante legal (art. 2612).

Somente são interessados na abertura da segunda fase as pessoas mencionadas no art. 2713 do CC, a lei nada fala a respeito do companheiro, mas tem-se entendido que ele também possa requerer a sua abertura. O MP também pode requerer a sucessão provisória em duas hipóteses, a saber:

11 Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. § 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. § 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. § 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz à escolha do curador. 12 Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. 13 Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

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a) Se não houver nenhuma das pessoas mencionadas no art. 27;

b) Em havendo, nenhuma delas fizer o requerimento de abertura. (§ 1º do art. 2814).

No requerimento de abertura da sucessão provisória o requerente pedirá a citação do curador e dos herdeiros, sendo certo que estes deverão providenciar as respectivas habilitações.

Após o julgamento das habilitações o juiz proferirá sentença determinando a abertura da sucessão provisória.

14 Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. § 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente. (...).

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Referida sentença somente produzirá efeitos após, decorridos 180 dias da sua publicação pela imprensa. No entanto, assim que houver o seu trânsito, já será possível aos herdeiros entrarem na posse dos bens do ausente.

Nos termos do art. 30, §2º1 do CC, os descendentes, ascendentes e cônjuges não precisam prestar caução de restituição desses bens, caso o ausente retorne. Os demais herdeiros deverão prestá-la, mediante garantia pignoratícia ou hipotecária, conforme caput do art. 302 CC.

Aquele herdeiro que não se imitiu na posse dos bens porque não tinha como prestar a mencionada caução, terá o seu quinhão administrado por outro herdeiro que tenha se imitido na posse dos bens, porque prestou caução, ou então referidos bens serão administrados por um curador nomeado pelo juiz.

Nos termos do art. 343 do CC, aquele que não se imitiu na posse porque não tinha condições de prestar caução, pode pedir ao juiz que lhe seja entregue a metade dos rendimentos referente a quinhão, que lhe tocaria (ele terá direito dependendo da situação concreta apenas a metade dos bens, pois a outra metade será capitalizada em títulos da dívida pública ou em imóveis para a hipótese do ausente retornar e justificar a sua ausência – art. 29, e p. único do art. 334 ambos do CC).

Nesta fase não é possível a alienação de bens imóveis, salvo se houver autorização judicial. Em se tratando de bens móveis dependendo da situação concreta a alienação será possível se houver autorização judicial.

Importa notar que nesta fase os herdeiros ainda não têm a propriedade dos bens do ausente, mas apenas posse. E quanto aos frutos e rendimentos dos quinhões que lhes tocam, encontra-se em situação similar ao do usufrutuário.

1 Art. 30. (...). § 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente. 2 Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. (...). 3 Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. 4 Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União. ,Art. 33. Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.

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Os ascendentes, descendentes e cônjuges, farão seus todos os frutos e rendimentos dos bens do ausente (art. 335 do CC, caso o ausente retorne, referidas pessoas não precisam devolver os frutos e rendimentos dos bens que lhe tocavam).

Os demais herdeiros deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, conforme determinação judicial, após oitiva do MP, em imóveis ou títulos da Dívida Pública conforme art. 296 do CC, isso para a hipótese do ausente retornar e justificar a sua ausência (art. 33 2ª parte e p. único do CC).

Dentro do prazo de 10 anos da abertura da Sucessão Provisória, uma das seguintes hipóteses poderá ocorrer:

1. Certeza da morte - neste caso o procedimento converte-se

em inventário (neste momento, os herdeiros passarão a ter a propriedade definitiva dos bens do ausente).

2. Retorno do ausente - ele terá de volta os seus bens, no que

diz respeito, no entanto, aos frutos e rendimentos desses bens, ver regra do art. 33.

3. Persistência da Ausência - neste caso ingressa-se na

terceira fase, ou seja, da sucessão definitiva. Nos termos do art. 387 do CC é possível requerer-se abertura

da sucessão definitiva, em se provando que o ausente conta com 80 anos de idade e que de cinco datam as suas últimas noticiais.

3ª Fase – Da sucessão definitiva. Os interessados poderão requerer a sucessão definitiva em

três hipóteses: 1. Em 10 anos depois do trânsito em julgado da sentença que

concedeu a abertura da sucessão provisória (art. 378 do CC).

5 Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente. (...). 6 Vide nota 4. 7 Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele. 8 Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.

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2. Em 5 anos a contar de suas últimas notícias, se o ausente contava com 80 anos (art. 38 do CC).

3. Certeza da morte do ausente. A sentença de sucessão definitiva produz os seguintes efeitos: a) Presunção de morte do ausente é a denominada morte ficta. b) Averbação dessa sentença no cartório de registro civil. c) Dissolução do casamento (§1º9 do art. 1.571 do CC) o

cônjuge do ausente pelo novo Código é considerado viúvo. d) Extinção do poder familiar. e) Levantamento das cauções prestadas pelos herdeiros que

se imitiram na posse dos bens. f) Imissão na posse dos herdeiros que não haviam tomado

posse por falta de caução. g) Aquisição da propriedade resolúvel dos bens, por parte dos

herdeiros. Importa notar que dentro de 10 anos a contar da sentença de

sucessão definitiva, uma das seguintes hipóteses pode ocorrer: 1. Retorno do ausente ou de algum herdeiro mais próximo -

neste caso o ausente ou o herdeiro, terá direito aos bens no estado em que se encontram, conforme regra prevista no art. 3910 do CC. Eles não

9 Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cônjuges; II - pela nulidade ou anulação do casamento; III - pela separação judicial; IV - pelo divórcio. § 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente. § 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial. 10 Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.

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terão direitos aos frutos e rendimentos de nenhum dos bens, durante o período de ausência.

2. Persistência da Ausência - neste caso a propriedade

resolúvel dos bens pelos herdeiros passa a ser definitiva. Se o ausente retorna 10 anos depois da sentença de sucessão

definitiva, ele não tem direito de reaver nenhum de seus bens. DAS PESSOAS JURÍDICAS Elas podem ser definidas como sendo as associações ou

instituições formadas para a realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como sujeitos de direito.

1. Classificação. Quanto às suas funções e capacidades elas podem ser: a) Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno ou Externo b) Pessoas Jurídicas de Direito Privado. Quanto a Nacionalidade elas podem ser: a) Brasileiras, são aquelas constituídas de acordo com a lei

brasileira, tendo sede e administração no Brasil, pouco importando a nacionalidade dos seus integrantes.

b) Estrangeiras, são aquelas constituídas de acordo com a lei

de seu país de origem, e para funcionarem no Brasil depende de autorização especial do Governo Brasileiro e ainda a nomeação de um representante que responda pelos atos, aqui praticados.

Quanto à estrutura elas podem ser: a) Corporação ou universitas personarum (que é a união de

duas ou mais pessoas para através da constituição de uma pessoa

Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.

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jurídica atingirem um dado fim comum é o caso das sociedades e associações).

b) Fundação ou Universitas bonorum, consiste num patrimônio

que se personaliza em atenção ao fim a que se destina. 2. Das pessoas Jurídicas de Direito Privado (art. 4411 do

CC). Distinção entre Associação e Fundação. a) Associação é uma corporação, enquanto que a Fundação é

um patrimônio que se personaliza. b) A finalidade da associação pode ser alterada pelos

associados; a finalidade da Fundação não pode ser alterada. c) A Fundação é fiscalizada pelo MP, a associação não. Importa notar, no entanto, tanto a associação quanto a

fundação não tem finalidade lucrativa e neste passo, distinguem-se das sociedades. Isso não significa, no entanto, que elas não possam auferir lucros, porém esses são meios para que elas atinjam os seus fins.

No que diz respeito ao início da personalidade jurídica, conforme art. 4512 do CC se dará com a inscrição do estatuto no órgão competente (nos cartórios de registro civil das pessoas jurídicas ou então nas juntas comerciais quando se tratar de sociedade empresarial).

11 Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado, I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos. § 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. § 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. § 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. 12 Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

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Ainda nos termos desse dispositivo se percebe que algumas entidades dependem antes do registro, de autorização do Governo para funcionarem, é o caso, por exemplo, das instituições financeiras, dos administradores de consórcio de bens duráveis, as seguradoras entre outros.

São algumas das consequências da aquisição da personalidade jurídica:

1. O poder da pessoa jurídica de praticar todos os atos e

negócios jurídicos, exceto aqueles que lhe são vedados de forma expressa ou tácita pela lei.

2. O poder da pessoa jurídica em figurar como parte nas

relações jurídicas materiais e nas processuais. 3. A autonomia patrimonial, pois o patrimônio delas não se

confunde com o patrimônio pessoal de seus integrantes. Associações. Associação é uma corporação sem fins lucrativos, a

Constituição assegura a liberdade de associação que deve ser entendida da seguinte forma:

1. Direito de criar a associação, independentemente de

autorização.

2. Direito de não ser compelido a aderir à determinada associação.

3. Direito de desligar-se da associação a qualquer tempo. Percebe-se que é vedada a interferência estatal no

funcionamento das associações e em havendo interferência arbitrária a mesma, constitui crime de responsabilidade e abuso de poder.

O início da personalidade se dá com o registro de seu estatuto no cartório de registro civil de pessoas jurídicas, referido estatuto deverá conter sob pena de nulidade os requisitos previstos no art. 5413 do CC.

13 Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I - a denominação, os fins e a sede da associação; II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

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DATA: 19/04/10

Os deveres e os direitos dos associados encontram-se previstos nos arts. 55, 56 e 58 do CC14.

A exclusão do associado é possível desde que na forma do art.

5715 do CC. A Assembléia Geral é órgão de deliberação máxima das entidades associativas e a sua convocação se faz na forma do art. 6016 do CC. É certo ainda que as matérias previstas no art. 5917 do CC são de atribuições privativas das Assembléias, não podendo o estatuto dispor de forma contrária.

A dissolução da Associação pode ser: 1. Espontânea - quando deliberada pelos associados reunidos

em Assembléia geral especialmente convocada para esse fim e observando-se o quorum do estatuto.

2. Dissolução judicial - que se dará por meio de sentença,

quando a associação tiver finalidade ilícita ou caráter paramilitar. Dissolvida a associação, o seu patrimônio será destinado à

outra associação que esteja prevista no estatuto. Se omisso o seu patrimônio será destinado à outra associação, federal, estadual ou municipal, que tenha finalidade idêntica ou semelhante. Em não

III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. 14 Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário. Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto. Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto. 15 Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto 16 Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la. 17 Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: I – destituir os administradores; II – alterar o estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.

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DATA: 19/04/10

havendo, o patrimônio será destinado às Fazendas dos Estados, do Distrito Federal ou da União, nos termos do §2º18 do art. 61 do CC.

Fundações. Fundação é um patrimônio que se personaliza em atenção ao

fim a que se destina. Dois, portanto são os seus elementos: a) O patrimônio; b) Fim específico, que nos termos do p. único19 do art. 62 só

pode ser: religioso, moral, cultural ou de assistência. Para se criar uma fundação, o seu instituidor a constituirá por

meio de escritura pública ou então por meio de testamento. Trata-se, portanto, de ato solene, que deverá conter:

1. A dotação de bens alodiais (que são aqueles livres e

desembaraçados, ou seja, não sejam prejudiciais aos credores nem à legitima dos herdeiros necessários).

2. Fim a que se destina. Quanto à maneira de administrá-la pode ou não estar

especificada, a critério do instituidor. Após a lavratura da escritura pública ou então após a morte do

testador, quando instituída por meio de testamento. O próximo passo é a elaboração do estatuto e sob este aspecto a fundação pode ser:

1. Direta - quando o estatuto é elaborado pelo próprio fundador. 2. Indireta ou fiduciária - quando o estatuto é elaborado por

terceira pessoa, a quem o instituidor, atribuiu esse encargo.

18 Art. 61. (...). § 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União. 19 Art. 62. (...). Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.

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DATA: 19/04/10

Elaborado o estatuto ele segue para a aprovação pelo MP. Se aprovado ele vai para o cartório de registro civil de pessoas jurídicas para registro, ganhando a partir deste, personalidade jurídica (art. 62 do CC).

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DATA: 26/04/10

Elaborado o estatuto ele segue para a aprovação pelo MP. Se aprovado ele vai para o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas para registro, ganhando a partir deste, personalidade jurídica (art. 62 do CC).

Conforme art. 62 do CC1 quando a fundação for instituída por meio de escritura pública, o ato é irrevogável e, portanto, lavrada a escritura o instituidor é obrigado a transferir os bens, sob pena de adjudicação compulsória.

A fundação instituída por testamento pode ser revogada a

qualquer tempo pelo testador, com a sua morte, no entanto, o ato é irrevogável.

O estatuto é aprovado pelo MP que no momento da aprovação, deve verificar:

1. Se as bases da fundação estão sendo observadas. 2. Se o patrimônio é suficiente ao fim da fundação. Se

insuficientes os bens, eles serão incorporados a outra fundação que tenha finalidade idêntica ou semelhante se outro destino não lhe deu o fundador.

O prazo para deliberação do MP é de 15 dias. Em havendo a aprovação, o estatuto é levado a registro, não

havendo, portanto, intervenção judicial. Pode ocorrer, no entanto que o MP denegue de pronto a aprovação ou então que determine modificações no estatuto. Neste caso o interessado pode requerer ao Judiciário que supra a aprovação do MP. O juiz por sua vez, pode aprová-lo ou então determinar que as modificações, estabelecidas pelo MP sejam cumpridas.

Pode acontecer do MP elaborar o estatuto e isso se dará em

duas hipóteses: 1. Quando o instituidor não o elaborar e nem indicar pessoa

que o faça. 2. Se a pessoa nomeada não elaborar o estatuto no prazo

dado pelo instituidor ou em não havendo prazo, em 180 dias.

1 Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.

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DATA: 26/04/10

Nessas duas hipóteses, a aprovação do estatuto competirá à autoridade judiciária.

A alteração do estatuto é possível na forma do art. 67 do CC2, é certo, no entanto, que a finalidade de uma fundação é inalterável.

A extinção da Fundação, conforme art. 69 do CC3 depende de sentença judicial.

Qualquer interessado ou então o MP, poderá requerer a extinção quando a sua finalidade torna-se ilícita, impossível ou inútil e ainda se vencido o prazo de sua existência.

Decretada por sentença o fim da fundação o seu patrimônio será incorporado em primeiro lugar a entidade designada no testamento ou na escritura pública; em segundo lugar a entidade designada no estatuto; se omisso, em terceiro lugar cabe ao juiz decidir em beneficio de outra entidade de finalidade idêntica ou semelhante. Se inexistir, aplica-se por analogia a regra prevista no parágrafo 2º do artigo 61 do CC4.

DOMICÍLIO Domicílio é a residência com ânimo definitivo, ou seja, com a

intenção de tê-la por tempo indeterminado. Residência por sua vez é o lugar onde a pessoa habita, com

estabilidade relativa. Exemplo: o estudante do interior que vem para São Paulo,

fazer o curso FMB. O domicílio apresenta duas características:

2 Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma: I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. 3 Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. 4 Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. § 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação. § 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.

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DATA: 26/04/10

1. A necessidade de tê-lo. 2. Fixidez, ou seja, ele é fixo, porém não é imutável. De acordo com o art. 70 do CC5 dois são os elementos que

caracterizam o domicílio da pessoa natural: 1. Objetivo: que é a residência. 2. Subjetivo: que é o ânimo, ou seja, a intenção de aí fixar-se

por tempo indeterminado. É certo conforme art. 71 do CC6 que o atual Código adotou o

sistema da pluralidade de domicílios (de acordo com o Código Civil de Napoleão a pessoa natural só podia ter um domicilio, pois adotava o sistema da unidade de domicílios).

De acordo com o artigo 72 do CC,7 no que tange as relações

profissionais o domicilio pode ser tanto a residência definitiva, quanto o lugar onde a profissão é exercida.

Obs.: No Código de 1916 se a pessoa tinha a residência

definitiva numa cidade e exercia a profissão em outra, o seu domicílio era no local da residência definitiva. Pelo atual Código, ambos os lugares são considerados domicílio.

O artigo 73 do CC8 trata do domicilio ocasional ou aparente,

referido dispositivo, no entanto, deve ser interpretado restritivamente, isso porque, para caracterizar-se o domicilio ocasional dois requisitos são necessários, quais sejam: ausência de Residência e Ausência Central de Negócios. A lei, no entanto, refere-se apenas a ausência de residência.

De acordo com o art. 74 do CC9 é possível a mudança de

domicílio, desde que presentes dois requisitos ou elementos:

5 Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. 6Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. 7 Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. 8Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada 9 Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

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DATA: 26/04/10

1. – Requisito objetivo Que é a transferência efetiva da residência 2. – Requisito Subjetivo Que é a vontade de deixar definitivamente a residência

anterior. Pela legislação brasileira é possível mudar-se o domicílio sem

que se adquira outro, pois a lei prevê o domicilio ocasional. É o que se dá, por exemplo, quando a pessoa passa a ser andarilha.

No que diz respeito ao domicílio da Pessoa Jurídica, a regra

encontra-se prevista no art. 75 do CC10. No que pertine a pessoa jurídica de direito privado, o seu domicílio é tanto aquele onde funciona a sua diretoria e administração, como também aquele lugar que foi eleito no ato de constituição da mesma.

O domicílio pode ser classificado da seguinte forma: 1. Quanto a origem: a) voluntário, que é aquele escolhido livremente pela pessoa. b) Necessário ou coativo, que é aquele imposto pela lei,

referido domicílio se subdivide em: I. Original, que é aquele adquirido ao nascer, por exemplo, o

domicílio do recém nascido é o dos seus pais. II. Legal, que é aquele fixado em lei, cuja as hipóteses estão

previstas no art. 76 parágrafo unico do CC11, tais hipóteses são exemplificativas e não taxativas.

10Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: I - da União, o Distrito Federal; II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. § 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. § 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder. 11Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

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DATA: 26/04/10

2. Quanto a Natureza o domicílio pode ser: a) Geral, que é aquele fixado para todos os atos e negócios

jurídicos em geral e compreende o domicilio voluntário e o necessário b) Domicilio contratual ou foro de eleição ou especial, que é

aquele fixado pelas partes, visando o cumprimento de certos direitos e obrigações.

Referido domicílio apresenta as seguintes características: I. Ele deve ser fixado, por escrito e não verbalmente. II. Normalmente é fictício, pois pode não corresponder ao

domicílio dos contratantes. III. Ele é temporário, porque a sua duração está condicionada

ao inadimplemento da obrigação. IV. Ele é limitado, porque diz respeito a certos atos e negócios

jurídicos, expressamente determinados pelas partes. DOS BENS Bens são os valores materiais e imateriais, que tenham

conotação econômica e que, portanto, podem ser objetos de uma relação jurídica.

Assim, os bens podem ser: 1. Corpóreos ou coisas Que são os valores materiais, ou seja, dotados de existência

física, como por exemplo, o dinheiro, o automóvel. 2. Incorpóreos ou direitos Que são os valores imateriais, ou seja, aqueles que somente

podem ser compreendidos em razão da inteligência do homem, pois eles não têm estrutura física, por exemplo, o crédito, o ponto comercial, etc.

Percebe-se, portanto pela lei que bem é gênero, enquanto que coisa é uma das suas espécies.

Já para o Professor Silvio Rodrigues, coisa é gênero, sendo o bem, uma das suas espécies.

Para ambas as classificações o bem (ou coisa) para ter relevância no mundo jurídico, necessariamente deve ter conotação econômica.

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DATA: 26/04/10

Classificação Legal dos Bens 1. Dos Bens considerados em si mesmo São aqueles examinados individualmente, tendo em vista uma

característica que lhes é peculiar, compreende a seguinte classificação: a) Dos Bens Imóveis São aqueles que não se pode transportar de um lugar para

outro, sem destruição (ver art. 82 do CC12). Podem ser por: I. Por Natureza Compreende o solo e tudo quanto nele se lhe incorpora

naturalmente. Por exemplo: árvore que nasceu sozinha, tendo suas sementes tendo sido trazidas pelo vento; água engarrafada (bem móvel) água que mina do solo (bem imóvel).

12Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

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DATA: 03/05/10

Importa anotar que as coisas naturalmente incorporadas ao solo ou ao subsolo somente são consideradas imóveis enquanto estiverem aderentes a eles, pois depois de retiradas tornam-se bens móveis.

Ex.: A água que corre no solo ou subsolo, porém com o seu engarrafamento passa a ser considerada bem móvel.

II – Bens imóveis por acessão física ou bens imóveis por

acessão física artificial (art. 791 2ª parte do CC). Compreende tudo aquilo que o homem incorpora artificialmente

ao solo a ponto de não poder ser removido sem destruição da sua substância ou da sua destinação econômico-social.

O Código de 1.916 exigia que a incorporação ao solo fosse permanente. Pelo atual a incorporação pode ser tanto permanente quanto temporária, pois o que importa para classificar o bem como imóvel é o fato da sua remoção ser inviável, ou seja, sem que haja alteração na sua substância ou na sua destinação econômico-social.

III – Bens imóveis por força da lei ou por disposição legal (art.

802 do CC). A razão da imobilização é a segurança das relações jurídicas,

pois o regime jurídico de proteção aos bens imóveis é muito mais rígido do que aquele atinente aos móveis.

Obs.: Os bens imóveis por acessão intelectual que estavam

previstos no Código de 1.916 não encontram mais guarida no atual diploma.

b) Bens móveis. O conceito encontra-se previsto no art. 823 do CC (devemos

interpretar o art. 82 a contrario sensu). Obs.: Os navios e as aeronaves são bens móveis por natureza,

todavia para fins de hipoteca são considerados bens imóveis, portanto,

1 Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. 2 Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta. 3 Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

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DATA: 03/05/10

referidas hipotecas dependem de escritura pública e autorização do cônjuge sob pena de nulidade, e devem ser inscritas no Tribunal Marítimo e no registro aeronáutico brasileiro respectivamente.

Os móveis podem ser: I – Bens móveis por natureza. São aqueles suscetíveis de movimento próprio como, por

exemplo, os semoventes, e os suscetíveis de remoção por força alheia sem que haja alteração da sua substância como, por exemplo, as mercadorias e os automóveis.

II – Bens móveis por antecipação. São aqueles incorporados temporariamente ao solo, para

depois serem removidos a fim de cumprirem com a sua destinação econômico-social.

Ex.: As árvores destinadas ao corte para posterior transformação em papel.

III – Bens móveis por força de lei. Encontram-se previstos no art. 834 do CC. c) Bens fungíveis (somente móveis). O conceito encontra-se no art. 855 do CC. d) Bens infungíveis. São aqueles que não podem substituir-se por outro da mesma

espécie, qualidade e quantidade – art. 85 a contrario senso. A infungíbilidade dos bens móveis pode resultar:

4 Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. 5 Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

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DATA: 03/05/10

I – Da própria natureza da coisa. Que apresenta uma característica física que a torna

insubstituível. Ex.: capacete do Airton Senna quando ele foi campeão. II – Infungível por vontade das partes. Que consideram uma coisa fungível, infungível, por convenção

entre elas. III – Da vontade do dono. Ex.: O do fusca WV cor de rosa. e) Bens consumíveis (somente móveis). O conceito encontra-se no art. 866 do CC. De acordo com este dispositivo a consuntibilidade (qualidade

daquilo que é consumível) pode ser: I – De fato. Que ocorre com os bens que se destroem com o primeiro uso

como, por exemplo, cigarros, bebidas, alimentos, etc. II – Jurídica ou de direito. Que se dá com os bens que estão expostos à venda, ou seja,

que estão destinados à alienação. Ex.: um livro exposto à venda. f) Bens inconsumíveis. São aqueles que comportam o uso reiterado sem que haja

destruição imediata de sua substância. Ex.: um livro.

6 Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

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DATA: 03/05/10

Referida classificação é aplicável exclusivamente aos bens móveis, pois os imóveis são sempre inconsumíveis.

g) Bens divisíveis. O conceito encontra-se previsto no art. 877 do CC. h) Bens indivisíveis. São aqueles cujo fracionamento implica em destruição da sua

substância, ou na diminuição considerável do seu valor, ou do uso a que se destinam. A indivisibilidade, portanto, pode ser:

I – Física. Quando o fracionamento implicar na perda da sua substância. Ex.: o boi em pé (vivo), uma cadeira são bens materialmente

indivisível. II – Econômica. Quando o fracionamento implicar em perda considerável do

valor do bem. Ex.: Diamante “grande” – pedra rara em razão de seu tamanho. III – Intelectual ou jurídica. Quando o fracionamento é vedado pela lei. IV – Voluntária. Quando o fracionamento é vedado por vontade das partes. V – Finalística. Quando o fracionamento implicar na alteração do uso a que a

coisa se destina. Ex.: as peças componentes de um jogo de xadrez.

7 Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

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DATA: 03/05/10

Obs.: Importa anotar que a indivisibilidade pode atingir também os bens incorpóreos como, por exemplo, o direito a herança, a hipoteca, servidão predial e etc..

i) Bens singulares. O conceito encontra-se no art. 898 do CC. j) Bens coletivos. São aqueles que constituídos de duas ou mais coisas

singulares que, no entanto, consideram-se agregadas num todo único. Os bens coletivos compreendem:

I – As universalidades de fato. É o conjunto de duas ou mais coisas corpóreas que se

encontram agregadas num todo, Ex.: um rebanho, uma biblioteca. De acordo com o art. 90, p. único9 do CC os bens que formam

essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias. II – As universalidades de direito conforme art. 9110 do CC. Ex.: A herança e o patrimônio. Obs.¹: Quanto ao par de sapatos prevalece o entendimento de

que se trata de bem naturalmente coletivo, pois os sapatos somente são fabricados aos pares.

Obs.²: O Código de 1.916 no seu art. 5511 dispunha que nas

coisas coletivas em desaparecendo todos os indivíduos, menos um, tinha-se por extinta a coletividade. Assim o legado de uma coleção de moedas caducava quando o testador em vida alienasse todos os indivíduos, remanescendo apenas um.

8 Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. 9 Art. 90. (...). Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias. 10 Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico. 11 Art. 55. Nas coisas coletivas, em desaparecendo todos os indivíduos, menos um, se tem por extinta a coletividade.

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DATA: 03/05/10

O atual Código não reproduziu essa regra e, portanto, no exemplo dado o legado permanece eficaz em ralação ao único indivíduo remanescente.

2. Bens reciprocamente considerados. Neste caso os bens são analisados uns em face dos outros e

sob esse aspecto eles podem ser principais e acessórios conforme disposto art. 9212 do CC.

Referida classificação atinge também os bens incorpóreos como, por exemplo, o crédito e a cláusula penal.

Os bens acessórios corpóreos podem ser classificados em: I – Frutos; II – Produtos; III – Benfeitorias; IV – Acessões; V – Pertenças. Dos Frutos. (próxima aula).

12 Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

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Dos Frutos Frutos são as produções normais e periódicas, cuja percepção

deixa intacta a coisa que os produziu. Os frutos quanto a sua origem podem ser: I – Naturais - são aqueles que se reproduzem periodicamente

pela própria força orgânica da coisa. Ex: As frutas e as crias dos animais.

II – Industriais – são os que se reproduzem periodicamente em virtude do trabalho do homem. Ex: A produção de uma fábrica.

III – Civis – são os rendimentos produzidos pó um bem. Ex: Os juros, os aluguéis, etc.

Quanto ao estado em que se encontram, os frutos podem ser: I - Pendentes – são aqueles que estão unidos à coisa que os

produziu. II – Percebidos – são os já colhidos. III – Estantes – são aqueles que já foram colhidos e encontram-

se armazenados para a venda. IV – Percipiendos – são aqueles que já deviam ter sido

colhidos, mas, ainda não foram. V – Consumidos – são aqueles que não mais existem porque já

foram utilizados. Dos produtos São as utilidades que se extraem de uma coisa com dispêndio

de sua substância. Ex: O ouro extraído da mina. Os produtos diferentemente dos frutos não se reproduzem

periodicamente e uma vez destacado do principal, acarretam a destruição deste, ainda que de forma paulatina.

Obs. Nos termos do art. 951, CC, os frutos e os produtos, ainda que ligados ao principal, podem ser objeto de relação jurídica autônoma e independente deixando nesse caso de serem tidos como bens acessórios.

1 Art. 95 - Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.

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Das benfeitorias Benfeitorias são as obras ou despesas efetuadas numa coisa

para conservá-la, melhorá-la ou então, embelezá-la. As benfeitorias, portanto, podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias (art. 962, CC)

No que tange as benfeitorias necessárias, têm direito a sua indenização tanto os possuidores de boa-fé, como também os de má-fé.

Quanto às úteis, apenas o possuidor de boa-fé, tem direito à sua indenização.

No que toca às voluptuárias, o possuidor de boa-fé tem o direito de levantá-las (jus tollendi), desde que isso seja possível, ou seja, sem que haja dano ou destruição da coisa. Se o levantamento não for possível, o possuidor de boa fé as perde sem qualquer indenização. Se o levantamento for possível, mas, se o proprietário quiser ficar com ela, ele fica, mas, deverá indenizar o possuidor de boa fé.

Já o possuidor de má fé, não tem direito a indenização pelas benfeitorias úteis, e nem tem direito de levantar as voluptuárias, ele simplesmente as perde.

Observação ao art. 973, CC: Os melhoramentos ou acréscimos decorrentes da natureza, não são benfeitorias, mas, sim acessões, como é o caso, por exemplo, da avulsão.

Das acessões Acessão é a junção de uma coisa a outra, em razão de força

externa. As acessões podem ser: I - Naturais - quando a união provier de força da natureza. Ex:

aluvião, avulsão, abandono de álveo e a formação de ilhas; II - Acessão industrial ou artificial – quando a união provier da

intervenção do homem Ex: A construção de uma dada obra; III - Acessão mista - quando a união decorrer da força da

natureza e da intervenção do homem. Ex: As plantações. Obs.: Importa não confundir benfeitoria com acessão industrial.

Com efeito, as benfeitorias são melhoramentos feitos em coisa já

2 Art. 96 - As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. § 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável, ou sejam, de elevado valor. § 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. § 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. 3 Art. 97 - Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.

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existente, como por exemplo, a reforma de uma casa ou a construção de uma garagem. Já a acessão industrial é obra que cria coisa nova, como por exemplo, a construção de uma casa feita num terreno vazio.

Das pertenças (art. 934, CC) Pertenças são os bens que embora não constituam as partes

integrantes, se destinam de modo duradouro, ao uso, ao serviço, ou ao aformoseamento de outro bem.

A regra de que o acessório segue o principal não se aplica às pertenças (aplicam-se aos demais bens acessórios). No entanto, elas seguirão a sorte do principal nas três hipóteses mencionadas no art. 945, CC. Ex. Toca Cd de um automóvel.

As pertenças embora sejam coisas acessórias, conservam a sua identidade, pois não se incorporam à coisa a que se juntam. Ademais a separação das pertenças não altera a coisa principal que permanece intacta.

3. Bens públicos Bens públicos são aqueles pertencentes a uma pessoa jurídica

de direito público, qualquer que seja a sua afetação, bem como aqueles pertencentes a uma pessoa jurídica de direito privado quando afetados à prestação de um serviço público.

Os bens públicos podem ser: I – De uso comum do povo – art. 99, I6, CC. São aqueles que em razão da sua própria natureza (ex. rios

mares) ou então da lei (ex. ruas, praças, estradas, etc.), têm o acesso permitido a todos.

Nos termos do art. 1037, o uso desses bens pode ser gratuito ou retribuído.

4 Art. 93- São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. 5 Art. 94- Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. 6 Art. 99 - São bens públicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; 7 Art. 103 - O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.

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II – Bens de uso especial – art. 99, II8, CC. São aqueles utilizados pela Administração Pública para atingir

seus fins. Ex: edifícios públicos, cemitérios públicos, carros oficiais, terra dos índios, etc.

III – Bens dominiais ou dominicais – art. 99, III9, CC. São aqueles que não têm destinação pública e integram,

portanto, o patrimônio disponível do poder público. Ex: Os terrenos de Marinha, as terras devolutas (salvo aquelas necessárias à proteção dos ecossistemas) que são consideradas bens de uso especial.

Os bens públicos apresentam as seguintes características: I – Inalienabilidade: Os bens de uso comum do povo por sua própria natureza são

absolutamente inalienáveis, pois são insuscetíveis de mensuração pecuniária.

Já os bens de uso comum do povo em razão da lei e os bens de uso especial são relativamente inalienáveis conforme disposto no art. 10010, CC.

Já os bens dominiais, são alienáveis, desde que preenchidos os requisitos exigidos pelo art. 17 da Lei 8666/93.

II – Imprescritibilidade: Pois os bens públicos são insuscetíveis de serem usucapidos,

art. 10211, CC. III – Impenhorabilidade: Pois a execução contra a Fazenda Pública deve ser feita por

meio de precatório, conforme o art. 10012, da CF e processada na forma do art. 73013, CPC, sendo proibida a penhora dos seus bens.

8 Art. 99 (…) II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; 9 Art. 99 (…) III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. 10 Art. 100 - Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. 11 Art. 102 - Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. 12 Art. 100 - Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos

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IV – Impossibilidade de oneração: Pois os bens públicos não podem ser empenhados,

hipotecados, dados em anticrese, etc. DOS FATOS JURÍDICOS Fatos jurídicos em sentido amplo compreendem os

acontecimentos naturais e voluntários, em virtude dos quais, nascem, se modificam e se extinguem os direitos e as obrigações.

Os fatos jurídicos em sentido amplo se subdividem em: I - Fato jurídico em sentido estrito. São os acontecimentos naturais (alheios, portanto, a vontade

do homem), em razão dos quais, os direitos nascem, se modificam ou se extinguem. Ex: Aluvião, avulsão, nascimento, maioridade, a morte natural.

II – Atos e negócios jurídicos. São os acontecimentos emanados da vontade lícita do homem

em razão dos quais os direitos nascem, se modificam, ou se extinguem. Ex: Casamento, contratos, testamento, etc.

III – Atos ilícitos. São os acontecimentos emanados de dolo ou culpa e que são

lesivos aos interesses alheios. Ex: A reparação num caso de dano. Os atos e os negócios jurídicos produzem efeitos voluntários,

de acordo com a vontade do agente. Já os atos ilícitos compreendem as ações humanas, cujos efeitos, são involuntários, como é o caso, por exemplo, da obrigação de indenizar.

Da aquisição dos direitos O direito nasce a partir de um fato jurídico e não da lei, esta,

apenas cria a possibilidade do direito vir a nascer mediante a ocorrência de um fato gerador.

respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 13 Art. 730 - Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal, observar-se-ão as seguintes regras: I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal competente; II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito.

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Os direitos podem ser adquiridos: I – Por ato do próprio adquirente; II – Por intermédio de outrem, como no caso do mandato. II – Por força da natureza, como por exemplo, nos casos de

avulsão e de aluvião. Quanto aos modos de aquisição, eles podem ser: I – Modo originário - São as aquisições dos direitos, sem que

haja qualquer relação jurídica entre o adquirente e o seu antecessor. Ex: A usucapião.

II – Modo derivado - Que compreende as transmissões de direitos em que há vinculo jurídico entre o adquirente e o seu antecessor.

Ex: A compra e venda, a herança, o legado, etc. Dos direitos atuais e dos direitos futuros Direitos atuais ou adquiridos são aqueles que podem ser

exercidos desde já, pois já se incorporaram ao patrimônio da pessoa, por exemplo, o funcionário público que já completou o tempo necessário para a sua aposentadoria.

Direito futuro é aquele que não pode ainda ser exercido porque não reúne todos os fatos geradores necessários a sua aquisição.

Os direitos futuros se subdividem em: I - Direito futuro deferido - É aquele que para ser adquirido

basta a vontade do seu titular. II – Direito futuro não deferido - É aquele cuja aquisição

depende de fatos falíveis, isto é, futuros e incertos. É o que se dá nos casos dos direitos condicionais, eventuais e na expectativa de direito.

Direito condicional: Nele, as bases necessárias para a

aquisição do direito, já estão formadas, dependendo, no entanto, para a efetiva aquisição, apenas de um acontecimento externo a ele. Ex: A escritura de doação já foi lavrada, dependendo a aquisição, no entanto, de uma determinada condição, qual seja, se chover no dia 25 de dezembro de 2010.

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Direito Eventual: Nele, as bases necessárias para a aquisição do direito, também já estão formadas, dependendo apenas de um acontecimento interno, que é inerente ao próprio negócio.

Expectativa de Direito: Aqui as bases estruturais para a aquisição não estão sequer formadas. Por exemplo, o direito de herança de uma pessoa viva.

Do negócio jurídico Tanto o ato jurídico como o negócio jurídico, caracterizam-se

como sendo, comportamento humano voluntário em razão dos quais os direitos nascem, se modificam ou se extinguem.

A distinção entre eles, no entanto, deve ser analisada de

acordo com as seguintes correntes: Primeira corrente: Distingue o ato do negócio jurídico quanto à

formação. Ato é aquele que se forma com uma só vontade, ou seja, é

unilateral. Ex: Testamento. Negócio é o acordo de vontades, ou seja, é bilateral. Ex: O contrato, o casamento. Porém, e o reconhecimento de filhos? Em se tratando de

pessoa menor ou incapaz, é ato, pois é unilateral. Porém, em se tratando de pessoa maior e capaz, é negócio, pois depende de consentimento. Essa corrente, portanto, está superada.

Segunda corrente (mais moderna): Distingue o ato do negócio

jurídico quanto aos efeitos. Aqui a vontade das partes pode determinar os efeitos, ou seja,

o negócio só produz as consequências que a parte desejou. Aqui a vontade é qualificada.

Ex: Os contratos, o testamento. O ato é aquele em que os efeitos emanam da lei, ou seja, a

vontade do homem não controla os efeitos. Aqui, a vontade é simples, por exemplo, casamento, reconhecimento de filhos.

Ato-fato jurídico: Nele não existe sequer vontade inicial de praticá-lo, mas, uma vez, ocorrido, os efeitos decorrem da lei. A vontade aqui é irrelevante, por exemplo, a descoberta ocasional de um tesouro e os atos socialmente aceitos, praticados por uma criança.

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Obs.: A lei exige para a prática do negócio jurídico, capacidade do agente.

No que diz respeito ao ato jurídico só se exige capacidade nos casos em que a lei o disse expressamente.

Assim, se o absolutamente incapaz descobre ocasionalmente um tesouro, adquire a metade.

Se fosse exigida capacidade do agente, neste caso, o ato seria nulo.

Da existência, validade e eficácia do ato e do negócio

jurídico:

ESCADA PONTEANA Eficácia

Validade

Existência

Requisitos de existência são aqueles necessários para a

formação do ato/negócio jurídico. O CC não os disciplina, pois o legislador parte do pressuposto de que eles já existem.

De acordo com o Prof. Orlando Gomes, no entanto, são requisitos de existência, a declaração de vontade e o objeto.

Outros autores exigem ainda, a forma como requisito de existência.

Ato/negócio jurídico inexistente é aquele que não reúne os elementos necessários para sua formação. Ex: O casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O ato/negócio inexistente não produz qualquer efeito jurídico e nunca poderá convalidar-se.

Ato/negócio jurídico nulo é aquele constituído em desacordo com a lei (ver artigos 1041, 1662, e 1853 do CC).

1 Art. 104 - A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. 2Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

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O ato/negócio jurídico nulo, diferentemente do inexistente, pode produzir efeitos quando putativo em homenagem a boa-fé de uma ou de ambas as partes. Nunca, no entanto, poderá convalidar-se.

Já o ato/negócio jurídico eficaz é aquele que está apto, ou seja, pronto a produzir efeitos.

Após essas considerações é necessário lembrar que o ato/negócio pode ser:

I – Válido e eficaz; II – Válido e ineficaz; Por exemplo, se pendente uma condição

suspensiva. III – Inválido e eficaz; Como por exemplo, nos casos de

nulidade relativa, ainda não pronunciada judicialmente. Modalidades dos atos e dos negócios jurídicos: Os elementos dos atos/negócios jurídicos podem ser: I – Elementos essenciais; São aqueles, sem os quais, o ato/negócio não existe. Ex: Na

compra e venda, são elementos essenciais, a coisa, o preço e o consentimento.

II – Elementos naturais do ato e do negócio jurídico: São as consequências automáticas do ato/negócio, e, por isso

mesmo, não exigem menção expressa. Ex: Na compra e venda, a obrigação do vendedor de entregar a

coisa devida, e do comprador de pagar o preço que foi convencionado. III – Elementos acidentais:

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 3Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior.

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São as cláusulas apresentadas no ato/negócio destinadas a modificar as suas consequências naturais. É o caso da condição, do termo e do encargo.

Referidos elementos não se presumem, pois dependem de menção expressa, no ato/negócio.

Referidos elementos não afetam a existência do ato, mas, apenas a sua eficácia.

Em regra, todo ato/negócio admite condição, termo e encargo. A inclusão deles nos atos/negócios de caráter patrimonial é sempre possível, salvo nos casos de aceitação e renúncia da herança (art. 18084, CC).

É certo, no entanto, que os atos referentes ao estado das pessoas e ao direito de família puro, não admitem elementos acidentais.

Ex: Casamento, emancipação, reconhecimento de filhos e etc. Da condição: O art. 1215, CC trata tão somente da condição que deriva da

vontade das partes, não disciplinando a denominada condição legal ou necessária, que é aquela inerente à natureza do ato/negócio, e, que, portanto, torna inócua a sua inclusão nele.

Por exemplo, o testador diz que “A” será o seu herdeiro se sobrevir a ele (testador). Trata-se de condição desnecessária, pois é obvio que “A” somente será herdeiro se sobreviver ao testador.

A condição exige dois requisitos: I - Futuridade do evento: É aquele que ainda não aconteceu. Se já aconteceu, não é condição, mas, ato puro e simples,

ainda que a parte ignore sua ocorrência, que, porém, só surtirá efeito se o fato realmente se verificou.

II - Incerteza do Evento

4 Art. 1808 - Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo. § 1o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. § 2o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. 5 Art. 121 - Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

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Evento incerto é aquele que pode ou não acontecer, devendo essa incerteza ser, objetiva, real e não meramente subjetiva, ou seja, decorrente da ignorância do agente.

O fato, em se tratando de condição, deve ser futuro e incerto. Se o evento for futuro e incerto, portanto, temos condição. Se futuro e certo, haverá termo, como por exemplo, a morte.

No entanto, se digo, “deixo minha herança para Antônio desde que ele sobreviva a Pedro”, trata-se neste caso de condição e não de termo.

Classificação das condições: Quanto à participação do sujeito a condição pode ser: I – Casual - É aquela que depende de um acontecimento

fortuito, ou seja, que independe da vontade da parte. Ex.: “Te dou R$ 1.000,00 (mil reais), se amanhã chover”. II – Condição Potestativa - É subordinada a uma das partes e

se subdivide em: a) Condição puramente potestativa: É aquela submetida ao arbítrio exclusivo de uma das partes,

independentemente de qualquer fator externo. Ex.: “Te dou R$ 1.000,00 (mil reais), se colocar meu vestido vermelho” (art. 123, II6 CC).

b) Condição meramente potestativa: É aquela que se sujeita ao arbítrio de uma das partes, mas

também de fatores externos que escapam do controle do sujeito. Referidas condições são lícitas, de modo que, o negócio

praticado é válido. Ex.: “Te dou R$ 1.000,00 (mil reais) quando puder viajar para o Japão”.

c) Condições mistas: São aquelas que dependem da vontade de uma das partes e

de um fato casual ou então dependem da vontade de uma das partes, juntamente com a vontade de uma terceira pessoa.

6 Art. 123 - Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: (...) II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

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Referidas condições são válidas. Ex: “Te dou R$ 1.000,00 (mil reais) se amanhã chover e você caminhar na chuva”, ou; “Te dou R$ 1.000,00 (mil reais) se você se casar com Maria”.

d) Condição promissária ou promiscua: É aquela que de início é potestativa, mas acaba se tornando

dificultosa em decorrência de circunstâncias supervenientes que independem da vontade do sujeito.

Ex.”Te dou R$ 1.000,00 (mil reais) se você amanhã ficar com o braço levantado”. No entanto, o sujeito sofre uma queda e quebra o braço.

III – Das condições suspensivas e resolutivas: 1. Condições suspensivas: Condição suspensiva é aquela que impede a eficácia do

negócio jurídico até a realização do evento futuro e incerto. Ex.: “Te dou meu carro se você passar no concurso do MP”,

ou; “Te dou minha casa se o Brasil for campeão na Copa de 2010”. A condição suspensiva deve ser analisada sob três estados

diferentes: a) Estado de pendência: É aquele que perdura enquanto não se verifica o evento futuro

e incerto. Nos termos do artigo 1257 do CC, neste estado, não há direito adquirido. Todavia, e nos termos do artigo 1308, CC, o titular do direito condicional, pode praticar ato condicional a conservá-lo.

b) Estado de implemento da condição: Neste caso, há aquisição do direito, que passa de condicional a

adquirido. c) Estado de frustração: Que se dá, quando a condição imposta não se verificar.

Dependendo da situação concreta, é como se nunca houvesse existido

7 Art. 125 - Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa 8 Art. 130 - Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo

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DATA: 17/05/10

estipulação (art.1299 do CC). Portanto, com a frustração da condição, não se adquire o direito, salvo se a parte a quem ela desfavorecer, dolosamente impedir a sua realização.

Com o implemento da condição a parte passa a ter o direito adquirido e nos termos do art. 12610 do CC, prevalece o entendimento de que a aquisição opera-se ex tunc, ou seja, retroativamente, desde o inicio, portanto, da celebração do negócio.

2. Condições Resolutivas: Condição resolutiva é o evento futuro e incerto que uma vez

ocorrido provoca a extinção do Direito. Ex.: “Dou a Maria, a minha casa em comodato, mas, esclareço

que o direito dela se extinguirá, no momento em que ela passar no concurso do MP”.

Próxima aula: Continuação de Condição Resolutiva.

9 Art. 129 - Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. 10 Art. 126 - Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.

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DATA: 24/05/10

A condição resolutiva também poder ser considerada sob três aspectos:

1. Estado de pendência. Nele a parte desfruta do direito adquirido, que no, entanto, está

ameaçado de extinção. 2. Estado de implemento da condição. O negócio é desfeito automaticamente, extinguindo-se o direito

anteriormente adquirido. 3. Estado de frustração. Aqui o direito continua sendo adquirido sendo certo que diante

a inocorrência da condição cessa a ameaça de extinção. Nos termos da primeira parte do art. 1281 do CC, sobrevindo a

condição resolutiva extingue-se para todos os efeitos o direito a que ela se opõe. Dessa forma na condição resolutiva o negócio aperfeiçoa-se desde logo, mas a sua eficácia fica ameaçada pelo acontecimento futuro e incerto.

No que diz respeito à retroatividade ou não da extinção do negócio com o implemento da condição resolutiva, a segunda parte do art. 128 solucionou a questão ao dispor que nos negócios de execução continuada ou periódica a extinção produz efeitos ex nunc, salvo se houver disposição em contrário.

Do termo. É o acontecimento futuro e certo em que começa ou termina a

eficácia do negócio jurídico. Importa não confundir termo com prazo, pois o termo corresponde a uma data certa, enquanto que o prazo é o

1 Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

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lapso de tempo entre o termo inicial e o final. (ver arts. 132 a 1342 do CC).

Classificação do termo. O termo pode ser: a) Termo inicial ou suspensivo – que é aquele que suspende o

exercício do direito. Ex.: a doação da casa terá inicio no dia 1º de janeiro de 2.011. O direito sob termo é considerado direito adquirido conforme

art. 1313 do CC. b) Termo final ou resolutivo – é aquele que extingue o direito,

por exemplo, o comodato se extinguirá no dia 1 º de janeiro de 2.011. O temor ainda pode ser: a) Termo certo – é aquele que se reporta a um fato certo e com

data certa. Ex.: a doação terá inicio no dia 1º de janeiro de 2.011; no inicio

da primavera. b) Termo incerto – é aquele que se refere a um fato certo, mas

cuja data de ocorrência não se pode precisar. O fato é certo, porém a data é incerta.

Ex.: eu vou te dar esta casa no dia em que Antônio morrer. Atos e negócios jurídicos que não admitem termo.

2 Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. § 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes. Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. 3 Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

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Os atos e os negócios que não admitem termo nem condição são aqueles relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, emancipação; os relativos ao direito de família puro como, por exemplo, e ainda aceitação e a renúncia da herança.

Obs.: No tocante a instituição de legatário, admite termo e

condição. No tocante ao herdeiro testamentário, ou seja, a sua instituição a lei só admite condição, vedando o termo.

Nos termos do art. 1354 o titular da relação jurídica sujeita a

termo inicial pode praticar atos destinados a conservá-la. Do encargo ou modo (art. 1365 do CC). Modo ou encargo é a cláusula imposta nos negócios gratuitos

que acaba por restringir a vantagem do beneficiado. Ex.: dou um terreno a Antônio para que nele seja construído

um asilo. Obs.: Nos negócios onerosos não haverá encargo no sentido

técnico do termo, pois o encargo não pode ser entendido como sendo a contraprestação da prestação recebida. Alguns autores no, entanto, nesta situação o denomina encargo impróprio.

Nos termos do art. 1376 considera-se não escrito o encargo

ilícito ou impossível. O negócio jurídico no, entanto, é válido. Porém, se o encargo foi o motivo determinante para a prática do negócio e se ele for ilícito ou impossível, ele invalida o negócio jurídico.

DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Defeito do negócio jurídico é a sua imperfeição, oriunda de um

vício do consentimento do agente ou de um vício social. Duas, portanto, são as categorias de defeitos:

a) Defeito ou vício do consentimento ou da vontade do agente.

4 Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva. 5 Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. 6 Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.

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Ocorre quando a vontade declarada não coincide perfeitamente com a vontade interna do agente. É o caso do erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão.

b) Defeitos ou vícios sociais. Neste caso a vontade interna coincide perfeitamente com a

vontade declarada. Porém esta é manifestada com a intenção de fraudar a lei ou prejudicar terceiro é o caso da simulação e da fraude contra credores.

A simulação pela atual sistemática dá causa a nulidade absoluta do negócio praticado. Trata-se, portanto de vício imprescritível e que pode ser arguido pelo próprio simulador. Todos os demais vícios dão causa a nulidade relativa do negócio devendo a ação ser proposta no prazo decadencial de 4 anos conforme art. 1787 do CC.

DO ERRO O erro é a falsa percepção da realidade que influi na vontade

declarada, ou seja, é a noção falsa acerca de determinada pessoa ou de determinado objeto. Não se confunde com a ignorância que é a ausência completa de conhecimento a respeito de determinado fato ou objeto e determinada pessoa.

Embora os institutos sejam distintos a lei dá a ele o mesmo tratamento jurídico, ou seja, ocorrendo um ou outro a consequência é a nulidade relativa do negócio.

7 Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

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Distinção do erro e dolo civil.

Erro Dolo 1- O erro é espontâneo, pois quem erra, erra sozinho. 2- O erro substancial anula o negócio praticado, mas não cabe indenização por perdas e danos. É o único dos vícios em que não há indenização por perdas e danos. 3- O erro acidental não anula e não incide indenização por perdas e danos.

1- Já o dolo é o erro provocado pela má-fé alheia, ainda que seja pelo silêncio. 2- O dolo principal anula o negócio e incide indenização por perdas e danos. 3- O dolo acidental não anula, mas cabe indenização por perdas e danos.

Porém, o erro provocado pela boa-fé alheia é erro ou dolo? É erro, pois para ser dolo deve haver má-fé. No entanto, é um

erro que quanto aos seus efeitos é tratado como se dolo fosse, pois incide em indenização por perdas e danos.

Requisitos: O erro para anular o negócio praticado deve ser substancial,

escusável e real. 1. Erro substancial. É aquele que foi a razão determinante para a prática do

negócio jurídico. Sem o erro o negócio não teria sido realizado. Por outro lado erro acidental é aquele que apenas influenciou em alguns aspectos do negócio tornando-o mais oneroso, mas não foi a razão determinante para a sua prática.

As hipóteses de erro substancial estão previstas taxativamente no art. 1398 do CC, e dizem respeito: 8 Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

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I – A natureza do negócio. Ocorre quando o sujeito quer praticar um negócio, mas acaba

realizando outro. Ex.: o sujeito lavra uma escritura pública de doação pensando

tratar-se de dação em pagamento. II – Erro sobre o objeto principal da declaração. Neste caso o negócio praticado faz menção a uma coisa ao

invés de outra. Ex.: o sujeito compra um apartamento em São Vicente

pensando que ele se localiza em Santos. ☻☻☻Obs.: Nas duas hipóteses acima mencionadas nós

estamos diante do erro impróprio ou erro obstáculo que é aquele que impede a formação do negócio jurídico, que a rigor é inexistente em razão da falta do consentimento recíproco. No entanto, o Código disciplina essas duas hipóteses como sendo simples caso de erro a ensejar a nulidade relativa do negócio.

III – Erro sobre a qualidade essencial do objeto, ou seja,

sobre a qualidade fundamental do mesmo. Ex.: o sujeito compra um relógio dourado pensando que ele é

de ouro. IV – Erro sobre a pessoa. Que pode se referir a sua identidade que pode ser física ou

então civil, podendo ainda recair sobre as qualidades essenciais da pessoa.

física identidade Pessoa civil qualidades essenciais

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V – Erro de direito. É o desconhecimento da lei ou a sua interpretação equivocada.

Para fins de anulação do negócio é equiparável ao erro de fato desde que tenha influenciado na manifestação de vontade e preencha dois requisitos:

1. Que não implique em recusa a aplicação da lei; 2. Que tenha sido o motivo único ou principal do negócio

jurídico. O disposto no art. 139, III do CC, harmoniza-se perfeitamente

com o princípio contido no art. 3º9 da LICC, isto porque, na hipótese do primeiro a lei admite a arguição do erro de direito se a intenção da parte é a de cumprir a lei, ou seja, de obedecê-la.

2. Escusável. É o erro desculpável, ou seja, é aquele em que em face das

circunstâncias do negócio não poderia ser percebido por pessoa de diligência normal.

De acordo com a doutrina o juiz ao aferir se o erro é escusável ou não deve fazer uso do critério do homem médio (há entendimento, no entanto no sentido de que ele deve considerar as condições pessoais de quem errou).

3. Real. É aquele que causa prejuízo efetivo para o sujeito. DO DOLO Dolo é o erro provocado pela má-fé alheia, ou seja, é todo o

artifício empregado para enganar alguém, induzindo à prática de um negócio jurídico. No dolo uma das partes é enganada pela outra ou por terceiro.

Espécies de dolo.

9 Art. 3o. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

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O dolo para anular o negócio deve ser principal e malus. I – Dolo principal. É aquele que foi a razão determinante para a sua prática, sem

ele o negócio não teria sido praticado (art. 14510 do CC). Ele anula o negócio e dá causa a indenização por perdas e danos.

II – Dolo acidental. É aquele que onera o negócio, mas não foi a razão

determinante para a sua prática (art. 14611 do CC). Ele não anula o negócio, mas dá causa a indenização por perdas e danos.

III – Dolo positivo. É aquele que resulta de uma ação. Pode ser principal ou então

acidental com as consequências pertinentes. IV – Dolo negativo ou por omissão. É o silêncio intencional sobre determinada coisa, fato ou

pessoa (art. 14712 do CC). Ex.: o sujeito vende o seu pomar de laranjas silenciando sobre

praga que o atinge. O dolo negativo poder ser principal ou então acidental com as

consequências pertinentes. V – Dolus bonus. É a conversa enganosa normal aceita no mundo dos negócios,

pois a outra parte desde logo percebe “o engodo”. Não dá causa a anulação do negócio e não gera indenização por perdas e danos.

VI – Dolus malus.

10 Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 11 Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. 12 Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.

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É o artifício empregado para enganar o homem médio. Pode ser principal ou acidental com as consequências pertinentes.

O juiz ao aferir se o dolo é malus deve considerar o critério do homem médio. Há entendimento, porém, no sentido de que ele deva considerar as condições pessoais de quem foi ludibriado.

VII – Dolo bilateral ou recíproco (art. 15013 do CC). Ocorre quando ambas as partes estão de má-fé uma querendo

enganar a outra. O negócio praticado é válido. VIII – Dolo de terceiro (art. 148 do CC). (próxima aula).

13 Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

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VIII – Dolo de terceiro (art. 1481 do CC). Dolo direto é aquele emanado por uma das partes. Dolo de

terceiro é aquele causado por quem não é parte no negócio. O dolo de terceiro só anula o negócio quando a parte beneficiada sabia ou tinha a possibilidade de saber do engodo, ainda que não tenha cooperado para o artifício fraudulento. Ainda neste caso além da anulação, parte beneficiada e terceiro respondem pelas perdas e danos.

Em contrapartida se a parte beneficiada não sabia nem tinha possibilidade de saber do engodo o negócio praticado é válido, mas o terceiro responde pelas perdas e danos frente ao ludibriado.

IX – Dolo do representante (art. 1492 do CC). Legal (pais, tutores e curadores). Representação Convencional (mandato).

Em se tratando de representação legal, o representado

responde, pelo ato doloso praticado pelo seu representante lesivo ao interesse de terceiro, até o limite do proveito que teve (a responsabilidade do representado é limitada porque ninguém escolhe o pai). Já em se tratando de representação convencional o representado responde solidariamente com o representante pelo ato doloso praticado por este lesivo ao interesse de terceiro. Isso em razão da presunção absoluta de culpa in eligendo.

Nada impede no, entanto, que o representado proponha ação regressiva em face do representante, salvo se com este estava manconomunado.

X – Dolo quanto à idade (art. 1803 do CC).

1 Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. 2 Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. 3 Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

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O negócio praticado pelo menor púbere desassistido do seu representante legal será válido se ele dolosamente omitiu a sua idade ou declarou-se maior. É necessário no, entanto, que a outra parte esteja de boa-fé e incida em erro escusável.

DA COAÇÃO (arts. 151 a 155 do CC). Obs.: Nesta seção o Código trata apenas da coação moral e

não da coação física irresistível, pois esta acarreta a inexistência do negócio praticado.

Coação é a ameaça de dano grave, iminente e injusto, contra o coagido, seus bens ou pessoa de sua família e que funciona como sendo a causa determinante para a prática do negócio jurídico.

Requisitos. 1. A coação deve consistir numa ameaça, que é a promessa de

um malefício. 2. A ameaça deve ser grave, ou seja, capaz de intimidar a

vítima e não o homem médio. (Ver art. 1524 do CC) aqui o juiz tem que analisar o caso concreto.

3. A ameaça deve referir-se ao coagido, aos seus bens (e não

aos bens de sua família) ou então a pessoa de sua família. Se recair sobre pessoa não pertencente à família o juiz julga

por equidade, analisando o caso concreto e considerando, por exemplo, a afetividade, a amizade próxima e etc. (p.u.5 do art. 151 do CC).

4. A ameaça deve ser injusta, ou seja, contrária ao direito. Se

justa, não há coação, mas sim exercício normal de um direito (art. 153 1ª parte6 do CC).

Obs.: Há, porém, caso de coação com ameaça justa e se dá quando a vantagem visada for injusta.

4 Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. 5 Art. 151. (...). Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 6 Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.

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Ex.: policial ameaça prender em flagrante traficante de drogas (ameaça justa), caso este não lhe faça a doação de um automóvel (a vantagem visada é injusta).

5. O mal prometido deve ser iminente e inevitável. Se futuro,

que de alguma forma possa ser evitado não há que se falar em coação. 6. A ameaça deve funcionar como sendo a razão determinante

para a prática do negócio jurídico. Em se provando no, entanto, que o negócio teria sido praticado

apesar da coação, não se anula, mas dá causa a indenização por perdas e danos com base no art. 1867 do CC.

Presentes todos esses requisitos anula-se o negócio praticado e incide indenização por perdas e danos, sem prejuízo das consequências na esfera penal.

Obs.: O que não caracteriza coação é o simples temor

reverencial, pois se ele vier no, entanto, acompanhado de uma ameaça, ainda que velada, ele caracteriza sim coação.

Temor reverencial é o receio de desagradar pessoa a quem se

deve respeito ou obediência. Da coação de terceiro. É aquele emanado de pessoa que não figura com parte no

negócio. Ex.: “A” coage “B” a vender sua casa para “C”. Coação de terceiro só anula o negócio se a parte beneficiada

sabia ou tinha a possibilidade de saber da coação. Neste caso, além da anulação, parte beneficiada e terceiro respondem solidariamente pelas perdas e danos (art. 1548 do CC).

A solução dada pela lei neste dispositivo decorre do fato do atual Código ter adotado a teoria da confiança que exige para a anulação do negócio dolo ou culpa da parte beneficiada. Pelo CC/16 a

7 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 8 Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.

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coação de terceiro sempre anulava o negócio ainda que a parte beneficiada estivesse de boa-fé.

Coforme art. 1559 do CC se a parte beneficiada não sabia, nem tinha a possibilidade de saber da coação o negócio praticado é válido, mas o coator responde por todas as perdas e danos frente ao coacto.

DO ESTADO DE PERIGO (art. 15610 do CC). Ocorre quando o agente realiza negócio jurídico, assumindo

obrigação excessivamente onerosa, para evitar ou tentar evitar um dano de caráter pessoal, que é do conhecimento da outra parte.

Requisitos: 1. Situação de perigo atual que ameaça causar um grave dano

pessoal. O perigo pode ter sido causado pela natureza, pela ação do

homem ou então por ato da própria vítima. Ex.: de evento causado pela natureza – o da onda gigante. Ex.: de evento causado por terceiro – o sequestro do filho com

promessa de recompensa. Ex.: de evento causado pela própria vítima – rapaz que se deu

um tiro ouvido e precisa de um médico

9 Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 10 Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

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PROF: CRISTIANA DATA: 31/05/10

O perigo deve ser atual, ou seja, presente, pois se futuro, o negócio praticado é válido.

A ameaça advinda da situação de perigo deve ser grave a ponto de figurar como sendo a razão determinante para a prática do negócio jurídico.

Ameaça grave é aquela capaz de intimidar a vítima, e, portanto, o juiz ao analisar a gravidade dessa ameaça, deve considerar o caso concreto por analogia ao art. 1521 do CC (há entendimento, no entanto, no sentido de que o Juiz deve fazer uso do critério do homem médio).

A ameaça deve referir-se a um dano de caráter pessoal, seja de ordem física ou moral, ou seja, ameaça à vida ou à integridade física ou à honra. Ademais essa ameaça deve referir-se ao próprio declarante ou a pessoa de sua família.

Se a ameaça recair sobre pessoa não pertencente à família do declarante, cabe ao Juiz decidir conforme p.u.2 do art. 156 do CC.

II – Conhecimento do perigo pela outra parte. A lei exige,

portanto, dolo de aproveitamento que consiste na má-fé da parte contrária que realiza o negócio jurídico sabedora da situação de perigo.

III – Assunção de obrigação excessivamente onerosa. É

necessário que a desproporção entre as prestações seja considerável, acentuada, devendo analisar-se o caso concreto.

Presentes todos esses requisitos anula-se o negócio praticado

devendo as partes retornar ao status quo ante. Em algumas situações, no entanto, o retorno ao estado anterior

com a devolução das prestações não será mais possível. Em razão disso, há entendimento, no sentido de que a parte

prejudicada pela anulação do negócio, possa propor ação de in rem verso que é aquela que veda o enriquecimento sem causa obtido pela parte que se favoreceu com a anulação do negócio.

Outros autores sustentam que nesta hipótese, possa aplicar-se ao estado de perigo a regra prevista no art.157, § 2°3 do CC que trata da lesão. 1 Art. 152 - No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. 2 Art. 156 - Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

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PROF: CRISTIANA DATA: 31/05/10

Esse entendimento, inclusive, está consubstanciado no enunciado 1484 do Conselho da Justiça Federal e tem por fundamento o princípio da conservação dos contratos.

DA LESÃO (art. 1575 do CC) No nosso direito anterior a 1916 já havia lesão, porém

caracterizada apenas pela desproporção entre o valor do bem e o preço pelo qual era vendido.

O Código de 1916 a ela não se referiu. Porém, ela estava tratada na legislação extravagante, ou seja,

na Lei dos Crimes contra a Economia Popular (lei 1521/51) e no Código de Defesa do Consumidor.

Conceito geral: Segundo o Prof. Carlos Alberto Bittar a lesão representa um

vício consistente na deformação da declaração de vontade, por fatores pessoais do contratante diante de sua inexperiência ou necessidade, explorados indevidamente, pelo locupletante.

Espécies de lesão: I - Lesão enorme. Basta a desproporção entre as prestações (art. 39, V6 do CDC); II – Lesão especial. Não exige dolo de aproveitamento.

3Art. 157 (...) § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito 4 Art. 148 - Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. 5 Da Lesão Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 6 Art. 39 - É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

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Exige dois requisitos: a) Desproporção entre as prestações; b) Situação de inexperiência ou de necessidade da parte lesada

(art. 157, CC); III - Lesão usuária ou usura real. Essa vai exigir três requisitos: a) Desproporção entre as prestações. Se o lucro for superior a 1/5 do valor das prestações

caracteriza crime contra a economia popular; b) Situação de inexperiência ou de necessidade da parte

lesada; c) Dolo de aproveitamento (art. 4°7 da Lei 1521/51); Requisitos da lesão especial: 1. Desproporção manifesta entre as prestações;

Essa desproporção deve ser considerável, significativa e nos

termos do § 1°8 do art. 157 do CC, deve existir ao tempo da celebração do negócio, isso nos contratos de trato sucessivo e de execução diferida.

A lesão somente pode ser alegada nos contratos comutativos, que são aqueles em que as prestações se equivalem. Ela não pode ser alegada nos contratos aleatórios emptio spei speratae, pois nestes, o desequilíbrio entre as prestações é inerente ao próprio negócio.

7 Art. 4° - Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando: a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito; b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de cinco mil a vinte mil cruzeiros. (...) 8 Art. 157 (...) § 1°Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

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Se a desproporção for posterior a celebração do negócio, não caracteriza lesão, mas, pode caracterizar onerosidade excessiva, se presentes os seus requisitos.

2. Situação de inexperiência ou de necessidade da parte

lesada; A necessidade significa a indispensabilidade do contrato, ou

seja, é a necessidade econômica de contratar. A inexperiência não significa incultura da parte lesada, mas,

sim, inexperiência contratual (aquela em que até mesmo o mais culto pode incidir).

Presentes todos esses requisitos, anula-se o negócio

praticado. A lei, no entanto, faculta a parte favorecida que ofereça

suplemento suficiente para o reequilíbrio das prestações, evitando, dessa forma, a anulação do contrato.

Obs. De acordo com o enunciado 1499 do CJF, a verificação da

lesão deve conduzir sempre à revisão do contrato e não à sua anulação, devendo o Juiz incitar as partes nesse sentido. Tem por fundamento o princípio da conservação dos contratos.

DA SIMULAÇÃO (art. 16710 do CC) A simulação é o acordo feito entre as partes para dar existência

real a um negócio jurídico fictício ou então para ocultar negócio realmente realizado com a finalidade de fraudar a lei ou de prejudicar terceiro.

9 Enunciado 149 – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002. 10 Art. 167 - É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou se válido for, na substância e na

forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

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Obs.: Não é possível a coexistência do dolo com a simulação. No dolo uma das partes é enganada pela outra ou por terceiro, enquanto que na simulação nenhuma das partes é enganada, ambas têm ciência do engodo, o que elas querem é fraudar a lei ou prejudicar terceiro.

Requisitos da simulação: 1. Acordo, ou seja, conluio entre as partes ou com a pessoa a

quem se destina; Nos atos jurídicos unilaterais também é possível a simulação.

Desde que haja conluio. Ex: Homem casado que promete recompensa a quem

encontrar o seu relógio que, no entanto, ele deixou com a amante. 2. Declaração enganosa da vontade; (Essa declaração é

intencional). 3. Intenção de fraudar a lei ou de prejudicar terceiro; Espécies de simulação: 1. Simulação absoluta;

Ocorre quando as partes não têm intenção se praticar negócio

algum. É tudo uma grande farsa (mentira). Ex: Homem casado que simula dívidas com o amigo, para prejudicar a mulher quando da separação.

2. Simulação relativa ou dissimulação:

Ocorre quando o negócio jurídico aparente (simulado) visa

esconder o negócio jurídico verdadeiro (dissimulado). Ex: Doação de um imóvel que o homem casado faz a sua

amante, mascarada de compra e venda. 3. Subjetiva ou dissimulação. Ocorre quando o negócio jurídico transmite direito a

determinada pessoa (intermediário). Para que esta o repasse a quem aquele quer realmente beneficiar. Enquanto não houver o repasse do bem pelo intermediário essa simulação não se concretiza.

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Ex: Homem casado que faz a doação de um imóvel a um amigo para que este transmita o bem para a amante daquele.

O intermediário também se denomina testa de ferro ou homem

palha ou prestanome. 4. Simulação objetiva.

Ocorre quando o negócio jurídico contém declaração não

verdadeira. Ex: Escritura de compra e venda lavrada por preço inferior ao real.

5. Simulação inocente.

É aquela em que não há intenção de fraudar a lei, nem prejudicar terceiro.

Ex: Homem solteiro que faz a doação de um imóvel à namorada, mascarada de compra e venda.

Pergunta: A simulação inocente gera a nulidade do negócio

praticado? Resposta: Duas são as posições: - Gera, sim, pois o atual código não distingue como fazia o

Código de 1916 no art. 10311. E, portanto, se a atual lei não distingue, não cabe ao intérprete distinguir.

- Não gera, o negócio praticado é válido, pois não houve a

intenção de fraudar a lei nem de prejudicar terceiro. Tem por fundamento o princípio da conservação dos contratos.

6. Simulação fraudulenta ou maliciosa. É aquela em que há intenção de fraudar a lei ou prejudicar

terceiro. A simulação fraudulenta, seja ela absoluta, relativa, subjetiva

ou objetiva, gera a nulidade absoluta do negócio praticado, e, portanto pode ser decretada de ofício pelo juiz.

Trata-se de vício imprescritível, sendo certo que o negócio não pode ser ratificado pelas partes (art. 16912 do CC).

11 Art. 103 - A simulação não se considerará defeito em qualquer dos casos do artigo antecedente, quando não houver intenção de prejudicar a terceiros, ou de violar disposição de lei.

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Pela atual sistemática ela pode ser arguida pelo próprio simulador.

Apesar de fraudulenta a simulação, a 2° parte13 do caput do art. 167 do CC diz que o negócio será válido se ele tiver preenchido os seus requisitos formais e substanciais.

Ex¹: Escritura de compra e venda lavrada por preço inferior ao

real. Não se decreta a nulidade, pois a lei permite a cobrança do imposto sobre o valor real da venda.

Ex²: Na doação de imóvel que homem solteiro faz à namorada,

mascarada de compra e venda, a Fazenda Pública Estadual tem interesse em propor ação de nulidade do negócio, visando obter o imposto referente à doação, já que aquele devido em razão de compra e venda, é recolhido pelo Município. Decretada a nulidade da compra e venda subsiste a doação, se presentes os seus requisitos formais e substanciais.

DA FRAUDE CONTRA CREDORES A fraude contra credores é o negócio jurídico realizado pelo

devedor insolvente, ou que esteja na iminência de tornar-se insolvente, capaz de reduzir ainda mais o seu patrimônio.

Requisitos para caracterizar a fraude contra credores: - Consilium fraudis; - Insolvência; - Eventus damni; Obs.: Se o negócio praticado pelo insolvente for gratuito basta

que se comprove a insolvência e o eventus damni, pois o consilium fraudis é presumido de forma absoluta pela lei. Se oneroso, a lei exige a comprovação dos três requisitos.

-Do Consilium fraudis;

12 Art. 169 - O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. 13 Ver nota 10.

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Essa expressão é equivocada, pois atualmente não se exige conluio entre devedor alienante e terceiro adquirente, com o propósito de prejudicar credor, como acontecia no Direito Romano antigo.

No Direito Romano antigo exigia-se animus nocendi (próxima aula)

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DATA: 07/06/10

Atualmente o consilium fraudis se caracteriza pelo simples fato do terceiro adquirente ter conhecimento ou possibilidade de saber do estado de insolvência do alienante. O consilium, portanto é a má-fé do adquirente e essa má-fé ocorre quando a insolvência do devedor for notória ou então presumida.

Será notória quando for do conhecimento de todos, por exemplo, se já houver sentença de insolvência civil; publicações pela imprensa; inúmeros protestos.

Será presumida quando o adquirente tinha motivos para saber do estado de insolvência do alienante como, por exemplo, parentesco próximo; amizade íntima, etc.

O ônus da prova do consilium fraudis cabe ao credor, autor da ação pauliana (art. 333, I1 do CPC).

Observação ao art. 1602 do CC: O adquirente (de boa ou de

má-fé) pode ajuizar ação de consignação em pagamento, depositando em juízo o preço justo, citando os credores e o devedor alienante. Em sendo julgada procedente ele inibe a decretação da fraude contra credores e preserva a validade do negócio praticado. Se o preço for inferior, aplica-se o parágrafo único3 co art. 160 do CC.

Observação ao art. 1644 do CC: Existem negócios que o

insolvente pode validamente praticar e são aqueles negócios ordinários indispensáveis, por exemplo, a manutenção do seu estabelecimento comercial, como a reposição de estoque e ainda os necessários a sua subsistência e de sua família como, por exemplo, a compra de gêneros alimentícios. A presunção de boa-fé, no entanto, é relativa e cede diante de prova em sentido contrário.

- Insolvência. A insolvência ocorre quando o patrimônio passivo for superior

ao ativo. A insolvência não se confunde com a inadimplência que é o não cumprimento da obrigação no tempo, lugar e forma devidos.

1 Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; (...). 2 Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. 3 Art. 160. (...). Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. 4 Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.

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DATA: 07/06/10

Quanto ao ônus da prova da insolvência duas são as posições: 1ª posição: Cabe ao credor, autor da ação pauliana (art. 333, I5

do CPC) – Dinamarco, não é a prevalente. 2ª posição: Que defende que neste caso haverá a inversão do

ônus da prova, ou seja, se o autor a alega ela se presume, cabendo ao réu provar em sentido contrário. Essa posição faz uso por analogia da regra prevista no art. 750, I6 do CPC que trata da fraude a execução.

- Eventus damini (evento danoso). Consiste no prejuízo efetivo causado ao credor em razão da

prática do negócio considerado fraudulento. Dos negócios suscetíveis de fraude contra credores. 1. Os negócios de transmissão gratuita de bens, como por

exemplo, doação e testamento. 2. A remissão de dívidas. 3. Outorga de garantia real a credor quirografário. A invalidade

(ou ineficácia segundo alguns autores) recai apenas sobre a garantia dada, voltando o credor à condição de quirografário (art. 165, p.u.7 do CC).

4. Pagamento de dívida vincenda, ou seja, ainda não vencida (art. 1628 do CC).

5. Contratos onerosos como, por exemplo, a compra e venda. Observação ao art. 1.8139 do CC: Permite a lei que os credores

do devedor insolvente aceitem herança renunciada por ele, desde que haja autorização judicial.

5 Vide nota 1. 6 Art. 750. Presume-se a insolvência quando: I - o devedor não possuir outros bens livres e desembaraçados para nomear à penhora; (...). 7 Art. 165. (...). Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. 8 Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

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O credor pode aceitar legado renunciado pelo legatário que é devedor insolvente, com autorização judicial?

Duas são as posições: 1ª posição: Não pode por falta de previsão legal. 2ª posição: Pode sim, fazendo-se uso da analogia. DA AÇÃO PAULIANA Trata-se de uma ação necessária, sendo proposta para obter-

se o reconhecimento da fraude contra credores. Legitimidade ativa. Somente o credor quirografário, isto é, destituído de garantia

real é que pode propô-la. É necessário, no entanto, que o credor reúna essa qualidade de quirografário ao tempo da prática do negócio fraudulento (§ 2º10 do art. 158 do CC).

O credor com garantia real não pode propô-la, pois lhe falta interesse de agir. Se o faz o processo será julgado extinto sem análise do mérito por carência da ação.

Excepcionalmente, no entanto, o credor com garantia real poderá propor a paulinana, quando a garantia real dada tornar-se insuficiente (§ 1º11 do art. 158 do CC).

Legitimidade passiva. Diversamente do que diz o art. 16112 do CC, na ação pauliana

há um litisconsórcio passivo necessário, pois a ação deverá ser proposta em face do devedor insolvente e do terceiro adquirente, sendo certo ainda que se este já alienou o bem a um subadquirente que procedeu de má-fé a ação também deverá ser proposta em face deste.

9 Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. (...). 10 Art. 158. (...). § 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. 11 Art. 158. (...). § 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. (...). 12 Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.

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DATA: 07/06/10

Trata-se de ação de natureza pessoal que dispensa, portanto, a outorga do cônjuge, devendo ser proposta no prazo decadencial de 4 anos contados do dia em que o negócio se realizou.

Obs.: De acordo com o Código Civil os negócios praticados em

fraude contra credores são anuláveis. Posicionamento doutrinário e jurisprudencial, no entanto, sustenta que os negócios praticados em fraude contra credores são apenas ineficazes. Isto porque, segundo eles, é incoerente que um ato mais grave e que caracteriza crime (fraude a execução) seja apenado de forma mais branda (com simples ineficácia), que outro menos grave (fraude contra credores), porém apenado de forma muito mais severa (com a anulação do negócio).

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DATA: 06/07/10

Prescrição e decadência Prescrição. Prescrição extintiva é a perda do direito de ação e de toda a

sua capacidade defensiva em razão do seu não exercício no tempo. Com a prescrição opera-se não apenas a perda do direito de ação, mas também a perda do direito de exceção, ou seja, defesa conforme art. 1901 do CC. É sob esse aspecto que a prescrição se distingue da perempção que inviabiliza apenas o direito de ação, podendo a matéria ser discutida em sede de exceção.

Modernamente a prescrição vem sendo conceituada como sendo a perda da pretensão, que consiste no poder de exigir o direito, em razão do seu não exercício no tempo. Importa lembrar que a prescrição atinge o direito de ação e de exceção, mas o direito material permanece intacto. Tanto isso é real que o pagamento de dívida prescrita é válido não podendo ser objeto de repetição.

A prescrição tem por fundamento a paz social, pois ordem pública estaria irremediavelmente comprometida se a ação tivesse prazo indeterminado para ser ajuizada.

Decadência. Já a decadência é a perda do direito material, em razão do seu

não exercício no tempo, eliminando-se por consequência o direito de ação e demais pretensões.

Do regime jurídico prescricional e decadencial:

Prescrição

Decadência

1. Os prazos prescricionais podem ser impedidos suspensos e interrompidos coforme arts. 197 a 202 do CC.

1. Regra geral – conforme 2ª parte do art. 2072 não se aplica à decadência as normas que impedem, suspendem e interrompem a prescrição.

1 Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão. 2 Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

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Exceção legal – conforme 1ª parte do art. 207 referidas normas serão aplicadas à decadência em havendo disposição legal, conforme prevê o art. 2083, portanto a decadência não corre contra o absolutamente incapaz.

2. Os prazos prescricionais somente podem advir da lei. É sempre legal.

2. A decadência, ou seja, o seu prazo também pode advir da lei, porém nada impede que advenha da vontade das partes. Portanto o prazo decadencial pode ser legal ou então convencional.

3. Com a revogação do art. 194 do CC, o juiz pode agora conhecer de ofício da prescrição.

3. Em se tratando de decadência legal o juiz deve conhecê-la de ofício conforme art. 2104. Se convencional não pode.

4. De acordo com art. 1925 do CC os prazos prescricionais não podem ser alterados pelas partes.

4. Em se tratando de decadência legal os prazos não podem ser alterados pelas partes. Se convencional sim.

5. A renúncia à prescrição é possível nos termos do art. 1916 do CC.

5. Em se tratando de decadência legal nula será a renúncia conforme art. 2097 do CC. Se convencional a renúncia é possível pouco importando se o prazo já se consumou ou se está em curso.

Renúncia à prescrição. É o ato pelo qual o devedor abre mão do seu direito de arguir a prescrição. Conforme art. 191 a renúncia é possível desde que o prazo já tenha se consumado e desde que não haja prejuízo a

3 Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I. 4 Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei. 5 Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes. 6 Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição. 7 Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

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DATA: 06/07/10

terceiro. Das disposições gerais quanto à prescrição Observação ao art. 1958 do CC (também se aplica a

decadência por força do art. 2089 do CC). A prescrição corre contra o relativamente incapaz, mas ele terá

direito de propor ação de indenização em face do seu representante legal que deu causa à prescrição ou não a alegou quando não deveria, porém o incapaz somente poderá propor referida ação se o seu representante agiu com dolo ou culpa devendo, portanto o art. 195 ser interpretado em conjunto com o art. 18610 do CC.

Pergunta: A morte influencia na prescrição? R: Não, pois ela continua a correr contra o sucessor, salvo se

houver uma causa que a suspenda como, por exemplo, herdeiro absolutamente incapaz. Importa anotar que a expressão, sucessor compreende os sucessores causa mortis (herdeiros e legatários) e também os sucessores inter vivos.

Observação ao art. 2.02811 do CC. De acordo com regra de hermenêutica os prazos prescricionais

em curso podem ser alterados por lei superveniente cuja aplicação é imediata, pois se o prazo está em curso não há que se falar em direito adquirido, mas em simples expectativa de direito. Apesar dessa regra o Código no art. 2.028 dispôs de forma diversa, assim os prazos em curso que foram reduzidos, continuam regidos pelo Código de 1916 desde que na data da entrada em vigor do novo código já tenha transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

Os prazos em curso, que foram reduzidos, mas que ainda não tenham transcorrido mais da metade do tempo estabelecido pela lei revogada regem-se pelo novo Código Civil. Neste caso, no entanto pode

8 Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. 9 Vide nota 3. 10 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 11 Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

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DATA: 06/07/10

ocorrer do prazo já ter sido atingido pela prescrição e em razão disso duas posições se formaram:

1ª posição: Já está prescrito e ponto. 2ª posição: De acordo com esse entendimento o novo prazo

reduzido deve ser contado a partir da data da entrada em vigor do novo Código Civil.

Do impedimento da suspensão e da interrupção da

prescrição No impedimento o prazo prescricional não chega a iniciar-se. Na suspensão, o prazo prescricional em curso sofre uma

parada temporária, continuando de onde havia parado após a cessação do obstáculo.

Já na interrupção o prazo prescricional em curso reinicia-se por inteiro, desconsiderando-se, portanto o período anteriormente transcorrido.

Importa anotar que as causas de impedimento e suspensão da prescrição são as mesmas. O que as distingue é o momento em que elas ocorrerem. Haverá impedimento se o obstáculo surgir antes do início do prazo; suspensão, se surgir durante o prazo em curso.

Pergunta: As causas de impedimento e suspensão da

prescrição são taxativas? R: Duas são as posições: 1ª posição: São taxativas sim e não admitem o uso da

analogia, porque restringem direitos. 2ª posição: Encabeçada pelo professor Serpa Lopes que

sustentava que essas causas não são taxativas e admitem o uso da analogia por razões de equidade, já que “contra o incapaz de agir não corre a prescrição”.

Ex.: nos casos de guerra, greve, caso fortuito e força maior. É com base nesse raciocínio que os civilistas têm entendido

que a prescrição não corre entre os companheiros na vigência da união

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ANUAL ESTADUAL MATUTINO CENTRO

DIREITO CIVIL

PROF: MARIA CRISTIANA

DATA: 06/07/10

estável por analogia ao art. 197, 12I do CC. Ademais, entendimento diverso violaria princípio constitucional que protege a entidade familiar.

12 Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; (...).