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TRATA-SE DE UM TCC PARA CONCLUSÃO CDO CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO QUE ABORDA OS ASPECTO DA REAVALIAÇÃO DOS CONTRATOS DE LEASING À LUZ DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.TRANSCRIPT
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP
Bacharelado em Direito
Adilson Leite Silva
LEASING FINANCEIRO E A REVISÃO CONTRATUAL: INCIDÊNCIA DA
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS (TEORIA DA IMPREVISÃO) OU A
INCIDÊNCIA DO ART. 6º INCISOS IV E V DO CDC?
CARUARU-PE
2009
Adilson Leite Silva
LEASING FINANCEIRO E A REVISÃO CONTRATUAL: INCIDÊNCIA DA
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS (TEORIA DA IMPREVISÃO) OU A
INCIDÊNCIA DO ART. 6º INCISOS IV E V DO CDC?
CARUARU-PE
2009
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Bacharelado em
Direito da Faculdade do Vale do Ipojuca,
como exigência parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Direito.
Orientadora: Profª. Esp. Patrícia Lapa.
Adilson Leite Silva
LEASING FINANCEIRO E A REVISÃO CONTRATUAL: INCIDÊNCIA DA
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS (TEORIA DA IMPREVISÃO) OU A
INCIDÊNCIA DO ART. 6º INCISOS IV E V DO CDC?
Aprovado em ____/____/_____
_________________________________________________
Profª Patrícia Lapa (Orientadora)
_________________________________________________
Profª. Ana Júlia
_________________________________________________
Profº. Damião Severiano
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Bacharelado em
Direito da Faculdade do Vale do Ipojuca,
como exigência parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Direito.
Orientadora: Profª. Esp. Patrícia Lapa.
S586l Silva, Adilson Leite.
Leasing financeiro e a revisão contratual: incidência da
cláusula Rebus Sic Stantibus (Teoria da Imprevisão) ou a
incidência do art. 6º, incisos IV do CDC? / Adilson Leite Silva.
-- Caruaru : FAVIP, 2009.
64 f.
Orientador(a) : Maria Daniella de O. P. Silva.
Trabalho de Conclusão de Curso (Direito) -- Faculdade do
Vale do Ipojuca.
Inclui anexo.
1. Código de Defesa do Consumidor. 2. Aplicação.
3. Leasing Financeiro. 4. Teoria da Imprevisão. 4. Código Civil.
5.Cláusula abusiva. 6. Excessiva onerosidade. I. Título. CDU 34(09.2)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
Aos meus pais, irmãos e irmãs, e muito
especialmente a minha esposa Edilsa e meu
amado filho Tales Emanoel, que foram a força
motriz para a conclusão do meu sonho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que de algum modo deram sua parcela de contribuição para que
pudesse chegar até o término do curso.
Em especial, a minha mãe pela a paciência e benevolência com que me dedicava o
seu dia a dia, ao meu pai que com seu caráter rígido não me deixou se perder pelos caminhos
que a vida oferta a todos nós, me mostrando qual deles seguir. A minha amada esposa, Edilsa,
pelo apoio e crença que tem depositado em mim até agora. Ao meu amado filho, Tales
Emanoel, um pingo de gente que mudou radicalmente a minha percepção do mundo. A
Aparecido Gomes que de forma indireta foi meu exemplo de vida tendo em vista sua vida
nada fácil, mas que com bravura me mostrou que era possível dar vazão ao sonho almejado. A
Dr Lauro Pedro dos Santos Neto pelo amplo aprendizado que me propiciou durante os meus
estágios, dispensando-me total atenção, sempre pronto para tirar as minhas dúvidas. A minha
amiga Tatiane que me suportou durante muito tempo nos estágios no Núcleo Prática Jurídica,
às vezes sisuda, contudo, de um carinho e um senso de ajuda ao próximo inestimável,
inigualável.
Aos colegas de sala que fizeram com que os nossos dias de aula fossem, na
verdade, encontros prazerosos que mascaravam a dureza e o cansaço do dia-a-dia tornando o
aprendizado menos cansativo. Com certeza posso dizer que mais do que colegas de profissão,
fiz, antes de tudo, amigos eternos. Jamais os esquecerei!
Aos meus inesquecíveis professores que contribuíram com o seu saber e com sua
preciosa vivência no meio jurídico, nos mostrando em curtas aulas o que levaram meses,
talvez anos para aprender com o duro ensinamento da vida, o meu singelo, mas de coração,
muito obrigado.
A minha querida orientadora por disponibilizar suas poucas horas de folga me
dispensando sua preciosa orientação sem a qual este trabalho não seria possível.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo avaliar a possibilidade de aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas
resoluções e/ou revisões contratuais que envolvam o leasing financeiro em contraposição a Teoria da imprevisão
aplicada às relações contratuais regidas pelo Código Civil, tendo em vista a visão renovada sobre o contrato
inaugurada pela Constituição Federal 1988 redundando no modelo contratual traçado pelo CDC relativisando o
princípio do pacta sunt servanda além de outros, nas relações de consumo. O estudo pauta-se na pesquisa
bibliográfica, jurisprudencial e legal buscando o modo de como se tem comportado a doutrina bem como os
nossos tribunais a respeito do assunto. No aspecto legal avaliamos algumas inconsistências em relação ao
sistema jurídico atual, dentro de uma abordagem hermenêutica, suscitando o confronto entre o que está
estabelecido nas resoluções do Banco Central e o sistema legal do CDC. No aspecto jurisprudencial verificamos
que a aplicação do CDC ao leasing financeiro, dentro da abordagem dada neste trabalho, é possível, havendo
entendimento sumulado. Quanto à doutrina verificou-se, como é de se esperar, que o assunto é divergente,
contudo, a doutrina majoritária milita no sentido da aplicação. Finalmente, com o final do estudo, concluímos
que, embora a jurisprudência milite no sentido da aplicação do CDC, as decisões têm sido um pouco acanhadas
não explorando o CDC haja vista o seu caráter cogente. Há a necessidade de uma maior participação do
Ministério Público, com maior publicidade de sua atuação para que se crie uma política preventiva, por parte das
empresas, forçando-os adequarem suas cláusulas contratuais ao CDC. Portanto, sem a pretensão de esgotar o
tema do proposto, abordamos o que entendemos ser necessário a sua explicação, merecendo um maior
aprofundamento em face dos abusos ocorridos nesta modalidade contratual.
Palavras-chaves: Código de Defesa do Consumidor. Aplicação. Leasing Financeiro. Teoria da imprevisão.
Código Civil. Cláusula abusiva. Excessiva onerosidade.
ABSTRACT
This study aims to evaluate the possibility of implementing the Code of Consumer Protection in the resolutions
and/or contractual discussions involving the leasing as opposed to improvisation theory applied to contracts
governed by the Civil Code, in view of the renewed vision of agreement inaugurated by the Federal Constitution
in 1988, which translated the model contract drafted by the CDC relativised the principle of pacta sunt servanda
and other in consumer relations. The study is guided in the research literature, jurisprudence and legal method of
seeking has behaved as if the doctrine and our courts on the subject. In the legal aspect evaluate some
inconsistencies in the current legal system, within a hermeneutic approach, raising the confrontation between
what is established in the resolutions of the Central Bank and the legal system of the CDC. In the aspect-law
found that the application of the CDC to leasing, in the approach taken in this work, is likely, with understanding
the scoresheet. The doctrine was found, as expected, that the subject is divergent, however, the majority doctrine
militates towards implementation. Finally, with the end of the study concluded that, although the case militate
towards the implementation of the CDC, the decisions have been a bit bashful not exploring the CDC
considering his character cogent. There is need for greater involvement of prosecutors, with greater publicity of
its activities in order to create a preventive policy by businesses, forcing them to adapt their contractual terms to
the CDC. Therefore, without claiming to exhaust the subject of the proposed approach which we consider
necessary for its explanation, and merit further deepening in the face of abuses in this kind of contract.
Keywords: Code of Consumer Protection. Application. Leasing financial. Theory of improvidence. Civil Code.
Abusive clause. Excessively expensive.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ______________________________________________________ 07
2. VISÃO GERAL DOS CONTRATOS DE LEASING E SUAS ESPÉCIES
_______________________________________________________________________ 10
2.1. Leasing (arrendamento mercantil): breve abordagem ________________________ 10
2.1.1. Conceito e elementos ________________________________________________ 11
2.1.2. Breve abordagem histórica ____________________________________________ 13
2.1.3. Surgimento do leasing no Brasil _______________________________________ 15
2.1.4. Natureza jurídica ___________________________________________________ 16
2.1.5. Espécies de leasing __________________________________________________ 18
a. Leasing financeiro __________________________________________________ 18
b. Leasing operacional _______________________________________________ 20
c. Leasing back _____________________________________________________ 21
3. NOÇÕES GERAIS SOBRE CONTRATOS _______________________________ 22
3.1. Conceito de contrato __________________________________________________ 22
3.2. Princípios norteadores dos contratos ______________________________________ 23
3.3. Contrato de adesão ___________________________________________________ 26
3.4. Extinção dos contratos ________________________________________________ 28
3.5. Teoria da imprevisão no Direito do Consumidor ____________________________ 35
4. REVISÃO DOS CONTRATOS DE LEASING FINANCEIRO: APLICAÇÃO
DA TEORIA DA IMPREVISÃO OU DO CDC?
_______________________________________________________________________ 38
4.1. Aplicação do CDC aos contratos de arrendamento mercantil ___________________ 38
4.2. Conflito aparente de normas ____________________________________________ 40
4.3. Revisão e resolução do contrato de leasing financeiro à luz do CDC _____________ 44
4.3. Superendividamento sob a inteligência do art. 6º, V do CDC __________________ 50
4.4. Exegese do art. 53 do CDC aos casos leasing financeiro ______________________ 53
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________ 59
REFERÊNCIAS ________________________________________________________ 62
ANEXOS ______________________________________________________________ 65
7
1 INTRODUÇÃO
Durante muito tempo as relações comerciais ficaram sob o crivo do Código Civil,
notadamente o de 1916, haja vista que o atual Código Civil (CC) data de 2002 entrando em
vigor em 2003, portanto o CC passado surtiu efeitos até bem pouco tempo atrás.
No prosseguimento, fomos contemplados com uma nova Constituição, a de 1988,
que trouxe diferente rumo para o direito, principalmente no tratamento dispensado ao ser
humano. Dentre as mudanças mais importantes, trouxe a previsão para criação do Código de
Proteção e Defesa do Consumidor – CDC, que iria nortear as relações de consumo,
estabelecidas entre fornecedores e consumidores. Contudo, mesmo passados 19 (dezenove)
anos de sua edição, ainda nos deparamos com polêmicas envolvendo a sua aplicação, o que
certamente decorre de embargos fundados em raízes culturais do Código Civil de 1916.
Na ordem jurídica inicial, sob a égide do Diploma Civilista que regulamentava
também as relações de consumo, prevalecia o princípio do pacta sunt servanda, no qual as
cláusulas contratuais faziam a lei que regia os acordos de vontades exarados nos contratos.
Com maior ou menor aplicação do princípio, o fato era que, via de regra e observadas poucas
limitações traçadas pelo Código Civil de 1916, este princípio, aliado ao da autonomia da
vontade, regulou por muito tempo as relações oriundas de contrato firmado entre as partes.
E muito embora ainda tenham importante aplicação no mundo jurídico, tais
princípios sofreram certa mitigação quando se trata de relações de consumo. Continuam
prevalecendo no tocante às relações tratadas no bojo do CC, entretanto, quando o regime
aplicável ao caso é o Código de Defesa do Consumidor, não é possível fazer tal afirmação.
Nesse diapasão, considerando em especial o contrato de leasing financeiro, que
constantemente materializa uma relação de consumo firmada entre um banco e o consumidor
interessado em capital para aquisição de bens, o presente trabalho propõe como objetivo geral
discutir qual o regime a ser aplicado: se o consumerista ou o civilista, usando como
justificativa teórica para pesquisa os fundamentos jurídicos apontados pelos magistrados nas
decisões derivadas de inúmeras batalhas judiciais travadas nos primeiros 10 ou 15 anos de
vigência do CDC.
Os dois institutos jurídicos – Código Civil e o CDC – abordam a questão da
revisão contratual. O primeiro, tratando o assunto de modo mais reservado, permite a revisão
contratual dentro da chamada Teoria da imprevisão (rebus sic stantibus), o segundo, por sua
vez, não exige critérios tão rígidos vez que faz a proteção do consumidor por meio de normas
8
cogentes, trazendo entre o rol de direitos básicos irrenunciáveis, a proteção contratual contra
cláusulas consideradas abusivas, independente do contrato ter sido subscrito pelo consumidor.
Quando o assunto é leasing financeiro, as relações contratuais dão azo a
expressivo número de demandas ajuizadas, considerando que muitos consumidores fecham
negócio nessa modalidade contratual e só depois se deparam com uma situação negocial
insustentável, seja por não poderem mais arcar com o pagamento avençado em virtude de
atribulações financeiras responsáveis pela perda de sua capacidade econômica, ao que todos
estão sujeitos, seja porque as cláusulas são simplesmente desequilibradas na ótica do direito
do consumidor, sendo somente percebidas por este após a assinatura do termo, provocando
um desequilíbrio contratual.
E inobstante ao fato de ser impossível aqui esgotar o tema, pretende-se destacar os
pontos mais relevantes das respostas encontradas com base em análise de dados de caráter
eminentemente qualitativos, seguindo classificação doutrinária de Lakatos (2007, p. 265/267),
que assim define a metodologia empregada como aquela que “preocupa-se em analisar e
interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento
humano”.
A pesquisa baseou-se especialmente em fontes bibliográficas, utilizando como
principais teóricos Luis Antônio Rizzatto Nunes, Cláudia Lima Marques e Otávio Luis
Rodrigues Júnior, todos os autores de obras relacionadas ao direito do consumidor e aos
contratos em espécie, primordialmente o de leasing ou leasing financeiro.
Com finalidade exploratória pautada na necessidade de “esclarecer e modificar
conceitos e idéias” (GIL, 2007, p. 43), objetiva-se propiciar uma melhor compreensão e
interpretação dos regimes civilista e consumerista, tendo em mente a necessidade de
consolidar a efetiva defesa do consumidor, assegurando a todo custo o equilíbrio nas relações
por ele travadas, especialmente quando a partir de um contrato de leasing.
Por fim, importante ainda registrar como traço da metodologia de pesquisa
empregada neste trabalho, o viés intervencionista sugerido por Vergara (2004, p. 87), uma vez
que o resultado da análise dos dados coletados interfere na realidade estudada para modificá-
la, sugerindo uma melhor interpretação do texto legal para revisão dos contratos, como
condição a uma prestação jurisdicional eficiente e justa.
O tema tratado foi disposto em cinco capítulos, para uma melhor organização. No
segundo capítulo, além de uma breve abordagem dos aspectos históricos, a pesquisa expõe
conceitos basilares sobre os contratos em geral e sobre as minúcias da espécie denominada de
leasing em nosso sistema jurídico-econômico.
9
No terceiro tomo, uma panorâmica dos elementos que compõem os contratos,
princípios orientadores e aspectos legais envolvidos na extinção dos pactos, além de um
estudo comparativo entre o CDC e o CC, no que pertine ao conteúdo abordado
Na quarta parte, a discussão da problemática proposta com a exposição dos
argumentos que dão sustentação ao posicionamento adotado, passando por um estudo
hermenêutico fundado em interpretação teleológica e sistemática do CDC, e crítica a modelo
contratual contraposto a Resolução do Banco Central (Bacen) que traça exigências mínimas a
serem obedecidas em todos os contatos de arrendamento mercantil. Por fim, na última parte,
abordo, em uma análise sintética do assunto, a conclusão obtida por meio da pesquisa sobre o
tema proposto.
Com tudo isso, a pesquisa ora exposta espera apontar caminhos indicadores de
respostas efetivamente eficientes dentro do contexto de sempre garantir ao consumidor o
equilíbrio no contrato, contribuindo com uma pequena parcela de conhecimento para todos
aqueles que se interessam pelo assunto.
10
2 VISÃO GERAL DOS CONTRATOS DE LEASING E SUAS ESPÉCIES
Durante um longo tempo nossas relações civis foram reguladas sob a vigência do
Código Civil de 1916, este, por sua vez, refletia o pensamento jurídico do século que lhe
antecedeu. Assim, passamos muito tempo sob o efeito de um pensamento jurídico
ultrapassado que refletia uma realidade de comércio totalmente diversa da atual.
Embora o Código Civil atual não tenha tratado de algumas figuras contratuais já
existentes quando da elaboração de seu projeto, o legislador não descurou neste aspecto
editando leis especiais para tratar do assunto.
Estranho, a figura contratual em estudo não ter sido acrescida ao Diploma Civil
vigente, tendo em vista o projeto originário ser da mesma época do surgimento do leasing
aqui no Brasil. É por isso que alguns doutrinadores, com muita razão, dizem que o Código
Civil atual já nasceu velho. Isso é verdade, pois deixou de retratar muitos fatos de nossa atual
realidade, não só das relações negociais próprias da vida em sociedade.
No tocante a estas inovações1 contratuais não abordadas pelo Código Civil,
interessa-nos neste trabalho de pesquisa o leasing ou arrendamento mercantil, como é tratado
pela norma.
Essa espécie de contrato, bem como alguns outros, reproduzem o
desenvolvimento econômico do país, trazendo uma nova forma de contratar, coadunando-se
com as exigências e dinamismo do mercado (DINIZ, 2007).
Assim sendo, merecem novel atenção, pelo que, a partir deste ponto, um breve
estudo sobre suas características especiais.
2.1 Leasing (arrendamento mercantil): breve abordagem
Antes de qualquer aprofundamento do tema, insta trazer alguns conceitos e
elementos característicos desta espécie de contrato para só depois passar a esmiuçá-lo.
1 Não é tão novo assim, pois sua existência no Brasil – como forma de contrato atípico, se bem que há aqueles
que afirmem ser o leasing um contrato típico - conforme veremos mais adiante, data de 1967.
11
2.1.1 Conceito e elementos
É preferível a corrente que atribui aos Estados Unidos a criação do arrendamento
mercantil (leasing), muito embora sua origem seja tratada pela doutrina como palco de
divergências quanto ao seu surgimento.
A palavra leasing tem raízes no vocábulo inglês to lease, que significa “alugar”,
refletindo uma das diversas semelhanças do leasing com demais espécies contratuais, em
especial, o contrato de aluguel, com quem possui pontos de intersecção, sem, contudo, com
ele se confundir (DINIZ, 2007).
Minudenciando, explica Silvio Venosa (2006, p. 571): “O termo leasing é o
particípio substantivado do verbo to lease (alugar, arrendar), na língua inglesa. Sua derivação,
portanto, provem do sistema anglo-saxão, mais propriamente dos EUA, onde começou a ser
utilizado.”.
No Brasil, o nome adotado para esta espécie de contrato é o arrendamento
mercantil, como é denominado em todo o texto da Lei 6.099/742, não vingando o nome
originário, muito embora, não fuja ao conhecimento do senso comum o seu nome em inglês -
leasing.
O leasing é a modalidade contratual na qual o arrendador adquire o bem, objeto
do contrato, sob orientação do arrendatário, sendo este o consumidor final que, mediante o
pagamento de prestações ao arrendador, ao final do contrato, por meio de cláusula
previamente acertada, decide pela aquisição do objeto contratual, ou não. Assim, alcançado o
termo contratual, abrem-se três opções ao arrendatário: aquisição do bem mediante opção de
compra, por meio de cláusula previamente estabelecida, pagando-se, para tanto, o Valor
Residual Garantido3 (VRG); renovação do contrato e, por último, a devolução do bem.
Assim, é possível concluir que o arrendatário do bem possui sua posse resolúvel,
não sendo ele, portanto, o proprietário do bem posto a sua utilização, tanto assim é que o
arrendador se vale da ação possessória quando há atrasos no pagamento das parcelas
referentes ao seu uso.
2 Lei que regulamentou o instituto do arrendamento mercantil no Brasil.
3 É preciso ressaltar, para que o conceito de leasing fique mais completo, que nem todas as sub-modalidades
desta espécie contratual exige a cláusula contratual para aquisição do bem. Havendo, deste modo, exceção a esta
regra.
12
A Lei 6.099/744 conceituou o que seria esta espécie de contrato, definindo-o no
parágrafo único de seu art. 1°5 como o negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas ou
entre pessoas jurídicas e físicas, configurando ao menos uma delas como arrendatário e a
outra como arrendadora. Fica a cargo do arrendador, adquirir o bem objeto da relação jurídica,
por meio das especificações fornecidas pelo arrendatário.
Percebe-se, por conseguinte, no conceito dado pelo legislador, duas figuras que
caracterizam esta espécie de contrato: o arrendador e o arrendatário. E embora a lei não
mencione o terceiro de quem o bem é adquirido, mostra-se relevante falar dele, tendo em vista
que o seu papel se mostra crucial no que diz respeito aos direitos do consumidor.
Na modalidade de leasing aqui tratada – leasing financeiro – o bem é adquirido
de terceiros, o que impõe reflexos no direito consumerista, a nosso ver no que diz respeito à
garantia do bem, vício e fato do produto, quando o arrendador haja falido. Para esse estudo,
em que pese discutível a relevância, deve-se registrar a presença do terceiro, muito embora
que para a relação contratual entre as partes no contrato de leasing, ele em nada contribua ou
atrapalhe.
A primeira figura contratual tratada pela Lei é o arrendador ou arrendante. Esta é a
pessoa jurídica6 incumbida de adquirir o bem de acordo com as especificações do
arrendatário. É controlada pelo Banco Central, haja vista que a atividade que desenvolve é,
eminentemente, financeira. Trocando em miúdos, para a prática de leasing a pessoa jurídica
arrendadora do bem, é, necessariamente, instituição financeira. Na lição de Silvio Venosa
(2006, p. 572), “[...] é a empresa de leasing, de atuação financeira, com objetivo assim
expresso nos estatutos sociais, conforme nosso Direito, que se encarrega de arrendar o bem ao
arrendatário.” Vê-se, pois, que a arrendante deve ser instituição financeira sendo esta, bem
como outras, uma condition sine quo non para existência e validade do contrato de leasing,
vez que a norma traz tratamento diverso do dispensado a esta modalidade de contrato, para
àqueles que contratam de forma diferente no modelo criado pela Lei 6.099/74.
4 BRASIL. LEI No 6.099, DE 12 DE SETEMBRO DE 1974.Dispõe sobre o tratamento tributário das operações
de arrendamento mercantil e dá outras providências. Brasília, 12 de setembro de 1974. [DIÁRIO OFICIAL DA
UNIÃO] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l6099.htm> Acesso em: 17 de mar. de
2009. [art. 1° e §2° do art. 2° desta Lei]. 5 Art 1º [...]
Parágrafo único. Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado
entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que
tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e
para uso próprio desta. 6 E por expressa disposição legal, somente a pessoa jurídica pode ocupar este pólo da relação, consoante o
parágrafo único do art. 1º da Lei 6.099/74.
13
De outra banda, no pólo diverso da relação contratual em comento, encontra-se a
figura do arrendatário. Este é o consumidor final na relação, como já referido. É a pessoa
física ou jurídica que utiliza a coisa objeto do contrato, dando instruções ao arrendante, sobre
qual bem deseja adquirir. É interessante notar que nos primórdios do contrato de leasing só
foi permitida à pessoa física figurar no pólo contratual a partir de posterior alteração dada pela
Lei 7.132/83, que acresceu ao parágrafo único da Lei 6.099/74, a expressão “pessoa física”.
Quanto ao bem, objeto do contrato, este pode ser móvel ou imóvel, não havendo
objeções no que diz respeito a sua natureza, não havendo maiores digressões tendo em vista a
clareza com que este ponto é abordado pela doutrina.
Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 658), classifica o contrato de leasing da
seguinte forma:
O contrato de arrendamento mercantil é consensual, porque se aperfeiçoa com a
manifestação de vontade das partes, independentemente da entrega da coisa; solene,
porque exige a forma escrita; bilateral, uma vez que gera obrigações recíprocas;
oneroso, pois ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual corresponde um ônus
ou sacrifício; comutativo, porque as prestações são certas e as partes podem antever
as vantagens e os sacrifícios; de trato sucessivo, tendo em vista que a execução se
faz durante o prazo previsto ou renovado; de adesão, porque é inteiramente
elaborado pelo arrendador, não tendo o arrendatário possibilidade de discutir as suas
cláusulas: adere em bloco a elas ou não realiza o negócio.
Tal classificação não segue o mesmo modelo com relação a outros autores,
variando desde a nomenclatura até ao número de classificações dadas. Contudo, esta pesquisa
não tem a pretensão de exaurir o assunto, firmando o compromisso em abordar apenas o que
seja mais pontual para compreensão dos conceitos basilares envoltos no tema, deixando para
o leitor o desafio de buscar o que mais lhe instigar, de maneira aprofundada.
2.1.2 Breve abordagem histórica
Quando o assunto é abordagem histórica do contrato de Arrendamento Mercantil,
a doutrina pátria não trata o tema com segurança quanto aos aspectos do local e época de seu
surgimento.
O debate sobre a origem cronológica do contrato não chega a um consenso, como
já dito antes, entretanto, o que se mostra pacífico é que esta espécie de contrato tenha nascido
das necessidades econômicas visando atender ao dinamismo do comércio.
14
Em posição contrária, Maria Helena Diniz (2007, p. 714) afirma a autora que tem
seu delineamento em motivos políticos, senão vejamos:
Nasceu a idéia do leasing (do verbo to lease, alugar), quando Boothe, após a
segunda mundial, contratou o fornecimento de alimentos com o exército norte-
americano e, ao verificar que o volume excedia sua capacidade operacional, firmou
um contrato com um banco para que este comprasse os equipamentos que lhe eram
necessários. Ante o grande sucesso dessa operação surgiram a U. S. Leasing
Company e a Boothe leasing Corporation, às quais se seguiram outras.
Sendo assim, para a renomada autora, não foram as necessidades mercantis que
fomentaram a origem do leasing, mas as necessidades políticas, muito embora que de forma
indireta, não tendo o leasing qualquer origem em outra época ou lugar. É claro que com o
sucesso obtido pelo novo sistema adotado, a idéia ganhou conotações econômicas a partir do
fato de que empresas financeiras puderam viabilizar os sonhos expansionistas de outras
empresas menores que não tinham capital para investir em equipamentos. A nova espécie de
contrato supriu a deficiência econômica destas empresas.
Irineu Strenger (2003, p. 409) pondera dizendo que “embora se possa, com o uso
do paralelismo, remeter o leasing a um passado remoto e até mesmo dizer que tem tradição
milenar, sua forma moderna surge, pela primeira vez, nos Estados Unidos em 1950, [...]”.
Desse modo, vemos que o autor remete a existência do leasing a épocas mais remotas, além
do que não parece atribuir o surgimento do leasing aos Estados Unidos.
Já Angélica Carro7, em artigo sobre a origem histórica do arrendamento
mercantil, infere sobre o viés histórico do leasing que:
A formação histórica dos contratos de „leasing‟ busca inspirações em operações
realizadas na antigüidade, praticadas por centenas de anos. Tais operações eram
difundidas nas operações utilizadas pelo governo ateniense sobre as minas de
propriedade do Estado, onde os indivíduos pagavam ao Estado determinada quantia
em dinheiro com garantia de exploração e uma renda anual era fixada como
percentagem dos lucros. Ao arrendatário cabiam duas opções: vender o minério ou
subarrendar o direito à exploração.
Para esta autora, o leasing encontra raízes no direito ateniense, corroborando para
a existência de uma verdadeira Torre de Babel erigida pela doutrina quando o assunto é a
origem do leasing.
7 CARRO, Angélica. Contratos de leasing . Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 10, abr. 1997. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=626>. Acesso em: 17 mar. 2009.
15
O fato é que, vindo de épocas remotas ou não, o leasing tem sido amplamente
utilizado, principalmente por pessoas jurídicas, mas também por pessoas físicas visando juros
menores que os praticados em outras espécies de contratos oferecidas no mundo dos negócios.
O legislador, ao que parece, ao editar a lei que regulamenta o contrato de leasing,
dando-lhe um tratamento tributário mais ameno, quis incentivar o uso deste instituto para
fomentar o crescimento econômico do país.
2.1.3 Surgimento do leasing no Brasil
No Brasil, o leasing passou a existir formalmente em 1967, como uma modalidade
de contrato atípico, tendo em vista que só foi regulado por lei específica em 1974. A partir de
1970, quando efetivamente o leasing tomou vulto no mercado, foi criado a ABEL (Associação
Brasileira de Empresas de Leasing), um sinal claro de que esta modalidade contratual veio
para ficar (DINIZ 2007, p. 715).
Com a edição da Lei 6.099/74, o Banco Central passou a controlar e incentivar a
prática deste negócio jurídico, dando-lhe, a Lei, o nome de arrendamento mercantil. Tal Lei
trouxe a segurança legal para os negócios realizados com fulcro no leasing tendo em vista que
o contrato que era atípico passou a ser típico, merecendo tratamento próprio, não se
socorrendo, em regra, da parte geral do Código Civil relativa aos contratos (GOMES, 2008, p.
572).
Com regulamento próprio, assegurando-lhe segurança jurídica, alicerce que
precisava para ser aceito no mercado, rapidamente os setores econômicos aderiram ao
instituto, pois do ponto de vista empresarial, tornou-se bastante seguro contratar por meio do
leasing, vez que a garantia do negócio esposava no próprio bem objeto do contrato. Como
assinala Angélica Carro em artigo já mencionado antes.
A partir da sistematização do leasing em nosso ordenamento jurídico, as
regulamentações fizeram aperfeiçoar o tratamento, editando leis e resoluções
que travaram do assunto, incrementando as operações. Porém, cerca de 1975,
as operações mantiveram-se estagnadas até 1978. E em 1982 o país chegou
ao auge das operações, computando um saúdo de dois bilhões e meio de
dólares de investimentos. E em 1984, as operações foram ampliadas,
admitindo-se então o leasing para pessoas físicas, para investimentos em
setores agropecuários, agro-industriais, e demais atividades rurais, além de
firmas individuais e trabalhadores autônomos e profissionais liberais. Com a
16
universalização do instituto, uma comissão tem estudado a possibilidade de
adoção de regras uniformes internacionais para os contratos de leasing.
Vê-se, pois, que o contrato de leasing surgiu no Brasil como ferramenta capaz de
viabilizar o crescimento das empresas que, em dado momento, não dispunham de capital
suficiente para adquirir maquinários e atender a demanda comercial, assim, o leasing permitiu
que estas empresas pudessem lançar-mão desta inovação contratual para que, com os lucros
advindos do emprego dos equipamentos no atendimento à demanda, pagassem os aluguéis
oriundos do contrato, havendo ainda a possibilidade de comprar o equipamento arrendado.
Por conseguinte, o crescimento dessas empresas refletiu sobremaneira no crescimento do país,
mostrando-se o leasing um vantajoso contrato para ambas as partes (arrendador e
arrendatários).
O leasing fez tanto sucesso que resolveram estendê-lo não só as classes
comerciais, mas também para as pessoas físicas, conforme se depreende do texto de CARRO,
supra transcrito.
2.1.4 Natureza jurídica
Outro ponto espinhoso relativo ao contrato de leasing é a questão de sua natureza
jurídica. A doutrina também se mostra bastante controvertida nesse ponto. A legislação que
regulamenta o leasing não tratou sobre o assunto, deixando para a doutrina estabelecê-la,
dando azo a celeuma.
Há diversas opiniões sobre o tema, entretanto três correntes merecem atenção: a
que sustenta ser o leasing um contrato atípico; a que lhe atribui natureza financeira, e a que
diz ter o leasing natureza mista.
Os que lhe atribuem caráter atípico o fazem com base no fato da lei que o instituiu
ter abordado apenas os aspectos tributários, deixando as minúcias à cargo de resoluções de
competência do Bacen. De longe e strictu sensu, uma resolução é lei em seu sentido formal,
portanto, a repulsa de alguns em admiti-lo como contrato atípico. É um posicionamento
razoável, pois, diversos outros institutos são tratados por lei ordinária, como por exemplo, o
17
contrato de compra e venda pela Lei Civilista que é lei ordinária, e o contrato de aluguel que
também é abordado em lei ordinária, de modo profundo (FRANÇA, 2009).
Ao leasing restaram apenas as resoluções que foram editadas no decorrer dos anos
que seguiram a sua regulamentação pela Lei 6.099/74.
Orlando Gomes (2008, p. 574) explica que “[...] muito embora resulte da fusão de
elementos de outros contratos, não pode ser considerado como contrato misto [...], porque tem
causa própria e já se tipicizou.”. No mais, completa que “até mesmo o leasing operacional não
deve ser enquadrado na locação, pois a prestação adicional de assistência técnica lhe modifica
a função.” E continua o autor:
Não é possível qualificar o leasing entre as modalidades de compra e venda apesar
de sua semelhança com a venda e a prestação clausulada com reserva de domínio. O
concedente do leasing não se obriga a transferir a propriedade dos bens entregues ao
tomador, como se sucede na venda com o referido pacto; tal obrigação nasce do
exercício, por este, da faculdade de opção que lhe é reservado ao contrato. [...].
Quanto ao leasing-back, a semelhança com a retrovenda não lhe atribui sua natureza
porque a finalidade do financiamento, como operação de crédito típica do contrato, o
afasta daquele pacto adjeto à compra e venda.
Como se percebe, não se sustenta o argumento de que o leasing teria natureza de
compra e venda, pois lhe falta o essencial para se configurar como tal, ou seja, a obrigação de
entregar o bem quando se verifica o seu termo. Tanto é assim que a Lei 6.099/74 prevê
tratamento diferenciado como forma punitiva, tendo em vista as benesses fiscais para àqueles
que contratam em leasing, quando celebrarem o negócio jurídico em desconformidade com o
estabelecido na norma. Ora, se o leasing tivesse natureza de compra e venda o legislador não
traria para a lei tal dispositivo, isto só firma a posição de que, embora pareça compra e venda,
com este não se confunde. Também não se sustenta a hipótese de se configurar uma
retrovenda no que concerne a espécie de leasing-back. Basta lembrar que a retrovenda só
existe em função do instituto da compra e venda, quando avençada entre as partes que
participam do contrato de compra e venda. A regra é que o acessório siga o principal, e não o
inverso.
Muito embora o leasing guarde algumas similitudes com o contrato de compra e
venda a prestação, bem como com a locação, está muito mais próximo do financiamento
creditício (GOMES, 2008, p. 574).
Veja-se, por exemplo, o que escreve Angélica Carro (2009) a respeito deste ponto:
O financiamento é o meio pelo qual a instituição financeira concede crédito à
terceiro, para aquisição de bens, recebendo deste o crédito que lhes cedeu, mediante
pagamento de taxas de juros fixadas, capaz de sustentar os lucros da instituição e
18
custos administrativos e financeiros. Assim como no financiamento estão incluídas
no valor final da operação, lucros e custos, os contratos de "leasing" também estão
compostos por tais elementos.
Para o pagamento das prestações, como já explanado alhures, tem-se o valor do
aluguel, a depreciação do bem e a essência do financiamento: lucros e custos, pois as
prestações são fixadas bem além do valor ideal para locação.
No financiamento há transferência da propriedade, muito embora alienada,
configurada no passivo do adquirente. No leasing isto não ocorre, exceto com o exercício da
opção de aquisição do bem pelo consumidor, depois de pago o Valor Residual Garantido
(VRG).
Também não se pode confundi-lo com o contrato de aluguel, tendo em vista que
as prestações, fixadas por ocasião do uso do bem, estão acrescidas de juros e taxas
administrativas que descaracterizam, por completo, o aluguel. Corroborando com o
pensamento exposto, as parcelas do leasing correspondem a quase que o valor total do bem,
ficando para o VRG valor quase que simbólico em relação ao valor do bem no mercado.
Desse modo, não é certo dizer que o leasing nada mais é que um contrato de aluguel com uma
nova roupagem, pois tem ele características próprias.
Por tudo isso, mais acertada a corrente majoritária que defende a natureza mista,
do leasing, haja vista os vários pontos de contato existente entre ele e outras modalidades
contratuais abordados pelo Regramento Civilista.
2.1.5 Espécies de leasing
Há várias espécies de arrendamento mercantil, entretanto, convém aqui destacar
apenas três delas: o leasing financeiro, o leasing back ou de retorno e, por último, o leasing
operacional ou reting. Entre elas, merece atenção especial o leasing financeiro, por ser a
espécie mais recorrente no nosso meio comercial, sendo este o enfoque desse trabalho.
a. Leasing financeiro
Como já abordado acima, é a modalidade de arrendamento mercantil mais
praticada no nosso país. Em suma, é o instituto jurídico financeiro de contração de obrigações
19
na qual uma pessoa, a pedido de outra, adquire um bem de terceiro, nas especificações
indicadas pelo primeiro. Desse modo, identificam-se, nessa modalidade de leasing, três
sujeitos que compõem a relação. O arrendatário, que indica o bem que deverá ser adquirido
pelo ente financeiro, ficando com ele caso decida pagar o Valor Residual Garantido. O
arrendador ou empresa arrendadora, que adquirirá o bem de um terceiro de acordo com as
especificações do arrendatário. E por último, a empresa fornecedora – pode este ainda ser
pessoa física - que fornecerá o bem que deverá ser adquirido pela empresa arrendadora. Note-
se, contudo, que a empresa fornecedora é um terceiro na relação existente entre arrendatário e
a empresa arrendadora. Assim, nada tem a ver com essa relação, apenas guardando vínculo
com a empresa fornecedora.
Aproveitando o que narra Irineu Strenger (2003, p. 415) sobre as características
dessa espécie, temos:
a) O arrendador não é fabricante do bem objeto do leasing, apenas entidade financeira
que irá adquiri-lo junto à outra empresa. Age como intermediário financeiro com a
única finalidade de conseguir o bem objeto do leasing;
b) Há, ainda que implicitamente, relação de mandatário entre a empresa arrendadora e o
arrendatário8 já que aquela adquire o bem de acordo com as especificações deste;
c) Não há limitações impostas ao arrendatário salvo as de utilizar o bem tal como
especificações do fabricante;
d) As taxas ou prestações cobradas pela empresa arrendadora compreendem a diferença
entre o Valor Residual Garantido e as inversões realizadas mais os encargos incidentes
próprios da operação;
e) As despesas com o bem, tal como assistência técnica, correm por conta do
arrendatário. A empresa arrendadora se compromete apenas em dispor o bem ao
arrendatário.
8 No que diz respeito ao fato de ser o arrendador mandatário do arrendatário, não é um entendimento tranqüilo.
Roberto Gonçalves (2007:660) diverge desse entendimento afirmando que, antes de adquirir o bem para o
arrendatário, o bem pertence ao fornecedor (terceiro). Nos filiamos a essa corrente haja vista que a primeira
corrente em nada tem haver com o instituto do mandato. Ora o mandato, na definição de Marcus Cláudio
Acquaviva (2003, p. 515), é: “[...] Contrato pelo qual alguém, denominado de mandante, determina que outrem,
denominado de mandatário, atue em seu nome, praticando determinados atos. [...]” não é o simples fato de agir,
mas agir em nome de alguém. Assim, quando a empresa arrendadora adquire o bem na empresa fornecedora o
faz em nome próprio e não no nome do arrendatário, adquire para si com a finalidade comercial. Não podemos
falar, desse modo, em mandato, já que o bem pertence a empresa arrendadora não havendo nenhuma relação
entre a empresa fornecedora e o arrendatário. Há, in casu, tão somente uma relação de consumo entre a
empresa arrendadora e o arrendatário consumidor.
20
As diferenças existentes entre as modalidades de leasing não possuem pontos de
contatos capazes de causar confusão nas suas definições. As diferenças são bastante
acentuadas. Deixa-se a cargo do leitor observá-las, tendo em vista a sua clareza.
b. Leasing operacional
Outra modalidade de arrendamento mercantil é o leasing renting ou leasing
operacional. Nesta modalidade, o bem adquirido pelo arrendatário compõe o patrimônio do
arrendador. Em outras palavras, o bem já pertence ao arrendador, sendo esse um dos pontos
diferenciadores desta modalidade de leasing. Entretanto, há outras diferenças como o valor
máximo aplicado não poder ser superior a 75% do valor do bem. O VRG é bastante
expressivo para aquele que opta por essa modalidade de leasing. É esta uma das melhores
modalidades de leasing para empresas, tendo em vista que, em sua grande parte, há o dever
contratual, do arrendador, de prestar assistência técnica ao bem objeto do leasing. Se
levarmos em consideração as peculiaridades de certa máquina que necessita de assistência
técnica especializada, e que boa parte dessa assistência não exista na sua região, veremos que,
essa modalidade é uma boa opção para uma empresa.
Fran Martins (2001, p 456) aponta como diferença fundamental entre o contrato
de leasing financeiro e o operacional, o seguinte:
[...] O que distingue essencialmente o leasing operacional do leasing financeiro é o
fato de que, enquanto neste há sempre a cláusula da obrigatoriedade do contrato por
todo o período do arrendamento, leasing operacional o contrato pode ser rescindido
a qualquer momento pelo arrendatário, desde que haja um aviso prévio. [...]
Não que no leasing financeiro a parte não possa desistir do avençado. O fato é
que lá há cláusula impondo o cumprimento do contrato até o seu término, ou seja, tendo em
vista o término normal do contrato, na modalidade de leasing operacional, tal cláusula não
existe, podendo qualquer das partes resilir9 o contrato quando bem entender, observando-se,
9 Embora Fran Martins tenha o usado o termo „rescindir‟ como se depreende da citação supra colacionada, o fato
é que, em nome da boa técnica jurídica, o termo seria „resilir‟ haja vista que, como se verá no capítulo posterior,
que a resilição é o meio pelo qual a parte ou as partes resolvem finalizar o contrato antes de alcançado o seu
termo normalmente, portanto, pauta-se na vontade de não contratar. A rescisão contratual, por seu turno, é o
meio pelo qual a parte termina o contrato antes do aprazado, tal como na resilição, mas que este o faz com lesão
21
contudo, o que será dito, posteriormente, no tópico referente à extinção dos contratos. São
contratos com pouca duração e os riscos da coisa correm por conta do arrendador10
, pelo fato
de que este continua no nome da empresa arrendadora, daí o porquê da assistência técnica ser
de responsabilidade do arrendador, devendo ao término do contrato ser devolvido em
condições de uso normal que permita ao arrendador continuar com a sua atividade de
arrendamento. É claro nos casos em que o arrendatário não resolva ficar com o bem, quando
assim clausulado.
Não podemos deixar de mencionar a divergência existente na nomenclatura
„reting‟. Há autores que afirmam ser o leasing renting outra modalidade contratual11
, outros
afirmam ser o leasing renting o mesmo que leasing operacional12
, ou seja, são termos
sinônimos. A divergência em nada acrescenta ao nosso estudo, entretanto fazemos a ressalva
para alertar o leitor sobre as diversidades de nomenclaturas bem como a variedade de espécies
que podem surgir de um autor para outro.
c. Leasing back
Nesta espécie, o bem pertencente a uma pessoa jurídica, é vendido à outra pessoa
também jurídica, sendo que, de forma simultânea à venda, é celebrado o contrato de leasing
entre o vendedor e comprador, passando o vendedor a ser arrendatário e o comprador a ser o
arrendador na relação contratual de leasing agora estabelecida. Veja-se, pois, que o bem nem
chegou a sair da esfera da posse do arrendatário, antigo proprietário do bem. É também
chamada de leasing de retorno tendo em vista que o bem sai da esfera da propriedade do
arrendatário, ora vendedor, passando a esfera do bem do arrendador, ora comprador, voltando
para aquele na forma da posse do bem, aliás, diga-se de passagem, nem mesmo chegou a sair
de sua posse, entretanto, só possui agora, tão somente só, a posse, não mais a propriedade.
ao direito da outra parte, por tanto os dois institutos, embora sejam indicativos de término de relação contratual
de modo anormal, são, sobretudo, diferentes em suas definições e efeitos. 10
Fran Martins, op. cit. p. 456. 11
Maria Helena op. cit., p.723). 12
Fran Martins, ibid., p. 457.
22
3 NOÇÕES GERAIS SOBRE CONTRATOS
3.1 Conceito de contrato
O contrato é o instrumento pelo qual se materializa uma avença realizada por duas
ou mais pessoas com o intuito de modificar, criar ou extinguir direitos (Gonçalves, 2007). É a
forma mais usual de realização de obrigações. Seja em sua modalidade tácita ou escrita, o
contrato está presente quase que diariamente na vida do homem moderno. Contratamos quer
quando compramos o ingresso para assistir ao jogo do nosso time favorito, quer quando
compramos o bilhete da passagem do ônibus, ou até mesmo quando casamos.
O contrato não tem como objeto apenas bens materiais, mas também imateriais.
Pode se estabelecer um contrato que disponha sobre um bem imóvel ou até sobre as próprias
condições de vida de quem contrata.
O Código Civil traz um capítulo inteiro dedicado a regular a disposição de
obrigações pela via contratual, como forma de realização do negócio jurídico havido entre as
partes. Explica Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 2), que o contrato é “[...] uma espécie de
negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas
partes.”. Assim, o negócio jurídico seria o gênero do qual o contrato encaixa-se como espécie,
o que não merece nossa inteira anuência, data vênia do entendimento do renomado autor. Na
verdade, entendemos ser o contrato apenas um instrumento no qual se assenta as diretrizes
que nortearão o negócio jurídico ali estipulado, por meio de suas cláusulas.
Há também algumas leis esparsas que regulam outras formas negociais que não
estão tratadas no Código Civil, tal com a Lei 8.245/ 91 (Lei do inquilinato). Tendo em vista as
suas peculiaridades, preferiu o legislador abordá-la em lei especial.
O fruto da vontade das partes é estipulado, então, no instrumento contratual, a
partir da disposição das cláusulas. Via de regra, as partes deveriam poder discutir as cláusulas
traçando condições que resultem em vantagens para ambos os lados, pois, parte-se do
pressuposto de que a ninguém interessaria contratar com perceptível desvantagem para si,
salvo no caso de vício de vontade. Ocorre que, com a massificação das relações, a fim de
atender a uma demanda negocial intensa, nem sempre estas cláusulas podem ser discutidas,
estando o instrumento pronto apenas para adesão ao não do interessado em contratar, sem
possibilidade de discussão do conteúdo de forma pessoal e individual. E isso não desvirtua a
23
natureza contratual, pois ainda assim haverá uma chance de uma parte anuir ou não ao que foi
disposto, unilateralmente, pela outra.
O que se vê, em suma, é que o contrato perdeu muito de suas características
originárias, tendo em vistas as exigências da sociedade moderna, principalmente no tocante à
discussão das cláusulas contratuais.
3.2 Princípios norteadores dos contratos
Há uma série de princípios norteadores dos contratos. Alguns devem ser
observados na fase de elaboração e assinatura dos contratos, enquanto outros servem como
norteadores para decisão de conflitos gerados a partir das relações neles contidas. São
divergentes as classificações doutrinárias de tais regras gerais, assim destaca-se abaixo apenas
o que é mais convergente entre os autores, e de maior relevância para o foco desta pesquisa.
Em primeiro lugar, o princípio da autonomia das vontades, segundo o qual as
partes podem estabelecer as avenças de acordo com os seus desejos, sendo estes a mola
propulsora do negócio jurídico em comento. Maria Helena Diniz (2007) vai mais além,
dizendo que este princípio se manifesta sob três formas, quais sejam: A liberdade de contratar,
a liberdade de escolher o outro contraente e a liberdade de fixar o conteúdo do contrato. Pela
liberdade de contratar, aqueles que convergiram suas vontades com o fito de estabelecer um
negócio jurídico, em regra o podem fazer como bem entenderem, entretanto, adverte a
renomada autora, que esta liberdade sofre mitigação tendo em vista que alguns produtos e
serviços impõem a contratação quase compulsória de determinadas empresas fornecedoras.
Como exemplo disso temos as concessionárias de energia elétrica e água. Nesses casos há
uma limitação da liberdade de escolha, elemento integrante do princípio da autonomia da
vontade das partes, e que incidirá sobre a pessoa com quem se contrata.
De outra banda, aproveitando o mesmo exemplo, as concessionárias de serviços
públicos também podem escolher aqueles que serão seus clientes – mesmo que só nos casos
em que a lei expressamente autorizar.
Outrossim, integra ainda o princípio da autonomia das vontades a liberdade de
fixar o conteúdo do contrato, e é neste ponto que entendemos residir a válvula de controle
para que se faça valer a função social do contrato, por meio do judiciário, nas revisões de
contratos quando reclamada a presença do Estado-juiz, para dirimir conflito, pautado no
24
desequilíbrio contratual. É por meio do dirigismo contratual que o Estado tem constantemente
interferido nas vontades das partes para atender a função social, deste instrumento. Na versão
de Maria Helena Diniz (2007, p. 26):
O princípio da autonomia da vontade sofre, portanto, restrições, trazidas pelo
dirigismo contratual, que é a intervenção estatal na economia do negócio jurídico
contratual, por entender-se que, se se deixasse o contratante estipular livremente o
contrato, ajustando qualquer cláusula sem que o magistrado pudesse interferir,
mesmo quando uma das partes ficasse em plena ruína, a ordem jurídica não estaria
assegurando a igualdade econômica. A expressão dirigismo contratual é aplicável às
medidas restritivas estatais que invocam a supremacia dos interesses coletivos sobre
os meros interesses individuais dos contraentes, com o escopo de dar execução à
política do Estado de coordenar os vários setores da vida econômica e de proteger os
economicamente mais fracos, sacrificando benefícios particulares em prol da
coletividade, mas sempre conciliando os interesses das partes e da sociedade. (grifo
nosso)
A ingerência do Estado se funda, então, no objetivo de manter a ordem social,
tendo em vista que o desequilíbrio econômico de um indivíduo a ponto de levá-lo a ruína
pessoal, certamente trará conseqüências desastrosas para a sua família e a sociedade como um
todo. Nesse desiderato, a ação estatal é preventiva, criando diretrizes legais que visam o
controle de prováveis causas que podem, se verificadas em uma relação contratual, levar uma
das partes à ruína. Age de modo curativo ao permitir, também, por meio da lei, tanto a revisão
como a declaração de nulidade das cláusulas. Portanto, há de se encarar o princípio da
autonomia da vontade sob um verdadeiro tripé: liberdade de escolher, liberdade de contratar e
liberdade de fixar o conteúdo do contrato.
Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 23), em análise diversa, atribui como causa
da mitigação sofrida pelo princípio da autonomia da vontade das partes, o princípio da
supremacia da ordem pública afirmando que:
O princípio da autonomia da vontade, como vimos, não é absoluto. É limitado pelo
princípio da supremacia da ordem pública, que resultou da constatação, feita no
início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla
liberdade de contratar provoca desequilíbrios e a exploração do economicamente
mais fraco.
O autor pondera que a liberdade contratual precisou de freios a fim de não
ocasionar desequilíbrio nas relações negociais. E outra forma de controle não se enxergou,
senão pela intervenção do Estado, como ocorreu com a edição do Código de Defesa do
Consumidor.
25
Prossegue Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 24-25) explicando que “no campo
intervencionista, destinado a coibir abusos advindos da desigualdade econômica mediante a
defesa da parte economicamente mais fraca, situa-se ainda o princípio da revisão dos
contratos ou da onerosidade excessiva, baseado na teoria da imprevisão, (...)”. Outrossim, “a
intervenção do Estado na vida contratual é, hoje, tão intensa em determinados campos
(telecomunicações, consórcios, seguros, sistema financeiro etc.) que se configura um
verdadeiro dirigismo contratual.” Destarte, o Estado se faz presente nas relações contratuais
traçando linhas-guias para servir de observação obrigatória por parte daqueles que contratam,
visando o controle dos problemas sociais que, ocasionalmente, possam surgir, limitando a
vontade das partes, submetendo-a ao interesse coletivo.
Já o princípio do consensualismo preconiza que basta apenas a convergência de
vontades para que o contrato produza seus efeitos validamente. Há contratos, no entanto, que
exigem o cumprimento de certas formalidades como condição para que o instrumento possa
ter efeito. Visa a lei, nesses casos, dar maior respaldo, prevenindo vícios que poderiam
facilmente ocorrer se o contrato pudesse ser celebrado de outro modo. Esse princípio, de certo
modo, dispensa maiores digressões, pois, os contratos são, em regra, consensuais.
O princípio da probidade e da boa-fé exige das partes, ao contratar, um agir
condizente com boa conduta, com honradez e retidão. A regra é geral para todos os contratos
e está expressamente prevista no art. 42113
do CC. A boa-fé se biparte em boa-fé subjetiva e
boa-fé objetiva. A boa-fé subjetiva já era exigida pelo antigo Código Civil, sendo aquela em
que o indivíduo age conforme seu entendimento do que seja certo ou errado, ou seja, pauta
sua conduta dentro dos conceitos que tem, em si mesmo, sobre os aspectos do bom
comportamento, do que seja moralmente correto. Para Carlos Roberto Gonçalves (2007, p.34-
35), “diz respeito ao conhecimento ou à ignorância da pessoa relativamente a certos fatos,
sendo levada em consideração pelo direito, para os fins específicos da situação regulada. [...]
diz-se „subjetiva‟ justamente porque, para sua aplicação, deve o intérprete considerar a
intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou íntima convicção”. Assim,
deve o julgador analisar a questão sub judice sob o prisma daqueles que compõem a relação
contratual, dentro do conceito que eles próprios têm no tocante ao negócio, analisando tudo
dentro do velho conceito do homem médio.
A inovação do código está, justamente, na boa-fé objetiva. É esta que determina o
comportamento que deve ser externado na relação contratual, agindo de acordo com padrões
13 Art. 421. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.
26
sociais já conhecidos, por todos seguidos. É aquela conduta que denota confiança perante os
demais que compõem a relação contratual. É o comportamento que honra a avença em todos
os seus termos.
Noutro ponto, o princípio da relatividade dos contratos informa que o mesmo só
cria laços obrigacionais entre as partes que dele participem. É diretamente ligada a autonomia
da vontade das partes, pois, se o contrato tem com marco inicial a vontade dos contratantes
em firmar obrigações entre si, não faz sentido, ressalvadas as exceções criadas por lei, que
terceiros sejam forçados a cumprir com o que não avençaram. Como toda regra de direito
possui exceções, com esta não seria diferente. Embora este princípio inspire o vínculo
somente entre as partes que anuíram ao contrato, nos termos de suas cláusulas, é preciso falar
que, por vezes, o negócio jurídico nele estabelecido surtirá efeitos contra terceiros14
. Por
exemplo, o contrato celebrado pelo de cujus será transmitido aos herdeiros universais que, não
renunciando ao seu quinhão, também herdarão as dívidas que compõem o seu patrimônio até
o limite da herança (DINIZ, 2007, p. 32).
E inobstante ao fato do que já foi advertido sobre a variedade de classificações
doutrinárias acerca dos princípios orientadores dos contratos, acredita-se serem esses os mais
importantes para a abordagem do assunto neste trabalho.
3.3 Contrato de adesão
A sociedade em que vivemos hoje, não é mais a mesma. Deixamos de ser uma
sociedade se subsistência e passamos a produzir cada vez mais. A produção que antes se dava
no próprio âmbito das casas de família, cedeu espaço para as grandes empresas que, com suas
máquinas, passaram a produzir em larga escala visando a atender a demanda crescente de
bens de consumo. O marco: a Revolução Industrial. O mundo saiu de um comércio baseado
no artesanato, na manufatura e no simples extrativismo, para galgar uma sociedade de
consumo em larga escala, dando vazão às chamadas necessidades de segunda categoria. O
homem, a partir da condição de trabalhador remunerado, passou a dispor de renda fixa que
propiciou profundas mudanças em seu comportamento.
14 Terceiros são aqueles que não guardam nenhuma relação com o negócio pelo qual foram afetados, são aqueles
que não sofreram, via de regra, os efeitos do contrato e nem os benefícios dele decorrentes.
27
Mais recentemente, novo marco: a revolução mercadológica. As formas
contratuais eletrônicas deram vazão a um grande e significante mercado de relações em
massa, atingindo um patamar tal de desenvolvimento que até mesmo as linhas limítrofes das
fronteiras geográficas foram superadas pela globalização através da internet.
O mercado encontrou um meio mais rápido e fácil de fazer circular os seus
produtos e serviços, aliados a produção acelerada das linhas industriais automatizadas,
atendendo de modo mais eficiente à demanda crescente de consumo. Nesse contexto,
imperiosa a criação ou adaptação de instrumentos jurídicos que acompanhem o ritmo da
referida evolução mercadológica. Entre os exemplos de tais instrumentos, tem-se o contrato
de adesão, facilitador de escoamento dos produtos e serviços ofertados, sem prescindir da
segurança necessária para a conclusão de seus negócios.
O contrato de adesão possui cláusulas pré-estabelecidas por uma das partes, às
quais, a outra parte, o aderente, irá tão somente anuir. Se não fosse dessa forma ficaria
praticamente impossível materializar as relações de consumo tendo em vista a velocidade com
que as vendas se realizam além de um mercado de consumo cada vez maior que, como já
falamos, não sofre mais com as questões diplomáticas relativas às fronteiras, bem como do
idioma, já que nem precisamos mesmo sair de casa para comprar algo.
Imagine-se, por exemplo, que todas as vezes que alguém fosse comprar ou
contratar algo nos dias de hoje, tivesse que discutir as cláusulas de um contrato para que, só
depois, se efetuasse a venda do produto ou serviço que se pretendesse adquirir. Certamente o
volume das vendas seria muito baixo, sem contar com o dispendioso tempo perdido para se
realizar uma simples operação.
Para resolver esse tipo de necessidade é que surgiu o contrato de adesão, e na sua
contrapartida a possibilidade da parte que dispõe seus termos, unilateralmente, praticar
abusos. Como antídoto, surge na esteira o Código de Defesa do Consumidor, com a missão
constitucional de manter o equilíbrio entre as partes contratantes, tratando de maneira desigual
os desiguais.
A Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) traz uma nova forma de ver o
contrato, diferente daquela empregada pelo regime civilista. Na lição de Otavio Luiz
Rodrigues Junior (2006, p. 159):
Após a vigência da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, criou-se um novo
sistema contratual no âmbito das relações de consumo, fundado nos seguintes
princípios: (a) socialização da teoria contratual; (b) imposição do princípio da boa-
fé; (b) intervencionismo estatal na edição de leis limitadoras do poder de auto-
28
regulação de cláusulas contratuais e a determinação do conteúdo de alguns em
atividade essenciais, além de permitir ao Poder Judiciário controlar a economia
contratual, através da proibição do cumprimento de cláusulas abusivas.
A julgar pelos princípios norteadores das relações contratuais consumeristas, o
manto protetor do CDC milita em favor do consumidor por ser este reconhecidamente o elo
mais fraco da relação contratual. E ao longo deste trabalho se verá que a onerosidade
excessiva como argumento de revisão do pacto não goza, no CDC, dos rigores ínsitos às
relações contratuais realizadas sob o regime do Diploma Civil. Embora haja limites para a
utilização deste argumento, a bem de não por em risco a segurança, abrindo uma perigosa
“brecha” para caloteiros, em nada tais exigências se aproximam das nuances do instituto no
Direito Civil.
3.4 Extinção dos Contratos
Uma vez estudado o conceito de contrato, cabe fazer um estudo das suas formas
de extinção. Considerando que o contrato se funda na convergência de vontades com o fito de
constituir direitos, podem estas também extingui-los ou mesmo modificá-los. Na verdade, as
partes assinalam no corpo do instrumento escrito, o início de uma obrigação, anuindo ao que
foi ali acordado, obrigando-se, cada um, a cumprir aquilo a que se dispôs com a avença. E é
obvio que se há a livre disposição de um termo inicial haverá também o termo final, que
poderá vir marcado ou não pela satisfação do objeto contratual.
Quando apostas as assinaturas pelas partes no corpo do contrato, sendo livre a
declaração da vontade expressa15
, mesmo no caso do contrato de adesão admite-se que houve
aceitação tácita por uma das partes, observada, é claro, a restrição legal prevista no art. 111 do
Código Civil: “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou usos o autorizarem, e
não for necessária a declaração de vontade expressa”.
Trocando em miúdos, onde a lei determina que a vontade deva ser expressa, esta
deve ocorrer da maneira tal como exigida para que se tenha uma obrigação válida. De outra
15 Segundo Silvio Venosa (2005, p. 467) há duas formas de manifestação da vontade: uma direta outra indireta.
Na direita, a manifestação da vontade é perceptível por sinais externados de modo inequívocos, por gestos, pela
fala ou escrita, quando estas atitudes revelem uma intenção. Na indireta, quando a intenção das partes, na
intenção de contratar, é inferida por meio um comportamento negocial. O comportamento do agente se manifesta
por meio de um contrato.
29
banda, quando a lei não faz restrição quanto à expressão da vontade de modo escrito, esta
pode ocorrer de forma tácita, desde que em conformidade com usos e costumes existentes ao
tempo e local do que se pretendia estabelecer como uma relação contratual tácita.
Um detalhe neste ponto da pesquisa é importante: a informalidade como regra
para os contratos de consumo. Como visto, a Lei Civil traz restrições no que diz respeito aos
contratos tácitos, que ocorrem com muito mais freqüência nas relações de consumo.
Assim esclarece Claudia Lima Marques (2006, p. 67):
Por fim cabe lembrar que nas relações de massa nem sempre os contratos serão
feitos por escrito, pois, ao lado dos contratos de adesão, expressos em formulários,
existem os contratos orais, a aceitação através da chamada condutas sociais típicas,
os simples recibos, os tickets de caixas automáticas.
É o caso da oferta, segundo o tratamento que lhe foi dado pelo legislador no CDC,
vez que ela vincula aquele que a veicula ou faz veicular a informação precisa, de qualquer
modo feita, que passa a integrar o contrato. Quando o consumidor vai a uma loja em busca de
um produto anunciado em meios de comunicação de massa, anui o consumidor à proposta
realizada pelo fornecedor na exata medida da oferta publicitária. Isso nada mais é do que uma
forma de contrato tácito, onde a avença não foi escrita, as cláusulas estão representadas pelas
condições da oferta, e as formas de resolução encontram-se estipuladas na lei, no caso,
consumerista. A Lei Consumerista resguardou também os contratos tácitos para não deixar
sem amparo legal os contratos não escritos, aumentando, assim, a guarida ao hipossuficiente,
contra os abusos praticados com freqüência nas relações de consumo.
É preciso ter em mente que o fito do contrato é o alcance de seu objeto, tal como
firmado pelas partes quando de sua constituição. No contrato de compra e venda, por
exemplo, aquele que vende tem por objetivo auferir os dividendos decorrentes da operação de
venda, já o comprador, tem por escopo agregar ao seu patrimônio o objeto da relação
contratual. Desse modo, conclui-se que, o contrato se extingue, normalmente, com o alcance
de seus objetivos, com a realização das avenças.
Ao falar da instabilidade do contrato, Otávio Luiz (2002, p.74) nos revela a forma
normal em que se dá o termo contratual: “A estabilidade subjetiva-objetiva do contrato
somente deveria ser afetada com sua extinção normal, decorrente do cumprimento ou da
execução de suas prestações”.
De modo geral, há duas formas de extinção dos contratos: a extinção normal e a
anormal. A extinção normal se dá pela satisfação bilateral do avençado na relação contratual,
30
dizendo-se, assim, que houve a execução do contrato, que equivale a dizer que o contrato foi
cumprido na íntegra, tal como o avençado (RODRIGUES Jr., 2002, p.75).
A extinção anormal, por seu turno, é aquela em que o avençado não foi cumprido,
seja por causas intrínsecas ou extrínsecas ao contrato, concomitantes ou supervenientes, mas
que exercem tamanha influência no pactuado que impossibilita ou torna onerosa em demasia,
a sua conclusão, para uma das partes ou até mesmo para tantos quantos sejam os que
compõem o pacto contratual.
Minudenciando, é possível que fatos concomitantes ao ato de contratar resultem
na sua inexecução, não permitindo o seu desfecho normal. Fatos concomitantes são aqueles
que ocorrem no momento em que a avença está sendo estabelecida. Pode ser um fato tal como
a inobservância de norma cogente na elaboração do contrato, como é o caso da elaboração de
um contrato por um menor, sem representação ou assistência.
Por outro lado, é possível ainda a ocorrência de fatos supervenientes, ocorridos
depois de firmada a relação contratual, impossibilitando sua normal execução. Diferentemente
dos fatos concomitantes, o que impossibilita a continuidade normal do contrato está em fato
localizado na esfera extracontratual. Tais fatos podem ser classificados como resolução,
resilição e rescisão.
Resolução do contrato ocorre quando há o descumprimento de obrigação por uma
das partes. Conceituando, Orlando Gomes (apud VENOSA, 2005, p. 532) diz que “é um
remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial.” Por isso,
não cabe à parte deixar de cumprir a avença, dando o contrato por resolvido, enquanto não
houver a declaração de resolução do vínculo por meio de sentença judicial isto, é claro, que
nos casos em que a resolução se dê com base em cláusula resolutória tácita haja vista o teor
do art. 47416
do CC atual. Aquele que deu azo ao descumprimento deverá arcar com todos os
ônus decorrentes da inobservância clausular.
Segundo Maria Helena Diniz (2007, p. 162), a resolução pode ser encarada das
seguintes formas: resolução por inexecução voluntária, resolução por inexecução contratual
involuntária e resolução por onerosidade excessiva.
A resolução contratual involuntária ocorre por fato alheio a vontade dos
contratantes (DINIZ, 2002, p. 162). Sua justificativa firma-se na seara do caso fortuito e força
maior. Nessas situações, embora possa ser previsível o evento, os efeitos ocasionados pelo
surgimento não podem ser evitados. Exemplificando, é o caso em que há previsão de chuvas
16 „A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpretação judicial.‟
31
para região além do índice pluviométrico médio, mas as pessoas contrataram junto ao banco,
financiamentos para plantação, sendo depois seriamente atingidas pelas chuvas, vindo a
perder tudo que plantaram, ficando sem condições de honrar os compromissos assumidos
junto ao banco, tal como avençado no contrato de financiamento. Ora, o evento era totalmente
previsível, embora estejamos diante de um estudo meteorológico onde variações temporais
podem ocorrer, entretanto, tal previsibilidade, não tem o condão de descaracterizar o motivo
de força maior, por fugir tal previsão da razoabilidade que se espera de um homem médio.
Sabe-se que irá chover durante o ano, pois isso é natural, entretanto, fazer previsões
alarmantes, já não parece normal, assim como, não é razoável exigir que uma pessoa comum
possa prevê que tal evento ocorrerá em tão avantajadas proporções. Como asseverado por
Clóvis Beviláqua, citado por Otávio Luiz Rodrigues (2006, p. 95):
Não é, porém, a imprevisibilidade que deve, principalmente, caracterizar o caso
fortuito e, sim, a inevitabilidade. E porque a força maior também é inevitável,
juridicamente, se assimilam estas duas causas de irresponsabilidade. Uma seca
extraordinária, um incêndio, uma tempestade, uma inundação produzem danos
inevitáveis. (...) o caso fortuito ou de força maior é o fato necessário, cujos efeitos
não era possível evitar ou impedir.
Logo, percebe-se que o conceito de imprevisibilidade, embora importante na
constituição do caso fortuito e de força maior, não é conditio sine quo non para a configuração
dessas figuras jurídicas responsáveis pela resolução por inexecução contratual involuntária. É
um dos elementos que compõem essas figuras, contudo, não é o elemento essencial para a sua
ocorrência.
Já a resolução por inexecução voluntária ocorre quando uma das partes, por
liberalidade não cumpre o estabelecido no contrato, dizendo-se assim, que houve o
inadimplemento do contrato. Nesta espécie de extinção contratual há culpa por parte do
inadimplente, do devedor. Decorre que, tendo em vista a culpa, algumas conseqüências
jurídicas surgirão para o devedor.
Seguindo os ensinamentos de Maria Helena Diniz (2007, p. 161), temos:
I. O contrato será extinto com efeitos ex tunc, caso seja de prestação única, e
ex nunc, caso seja o contrato de prestações sucessivas. Em outras palavras,
sendo ex tunc os efeitos, as relações jurídicas oriundas deste contrato são
consideradas inexistentes, como se nunca tivessem existido. Para ser mais
claro, as coisas voltam ao status quo ante. Nos contratos de trato
sucessivo, como os efeitos são ex nunc, não retroagindo, assim, ao início
32
do contrato, as coisas permanecerão no estado em que se encontram, logo,
as prestações cumpridas não serão devolvidas.
II. Os créditos de terceiros serão afetados, neste caso há mitigação dos efeitos
ocorridos nos casos do primeiro efeito, havendo aquisição de direito real
por parte do terceiro. Ao credor da relação contratual inadimplida só
caberá a indenização por perdas e danos, muito embora Maria Helena
alerte sobre controvérsia existente neste ponto. Logo, aquele que ao anuir
em um negócio jurídico paralelo, a outro, pré-estabelecido entre partes
diversas, não pode ser afetado pela resolução de um contrato do qual não
participa em homenagem à segurança jurídica e ao princípio da
relatividade dos contratos aqui já estudados corolário do princípio da
autonomia da vontade.
III. Haverá o ressarcimento, a indenização por perdas e danos e lucros
cessantes, em todos os contratos cuja resolução se der por culpa de uma
das partes. Nesses casos, pode-se exigir que se paguem os prejuízos
sofridos além da resolução do contrato. Nada mais justo que seja o credor
indenizado em seus lucros cessantes, além das perdas e danos, haja vista
que, quando contratamos com alguém, criamos uma expectativa para
ambas as partes da relação, uma provisão sobre o que se pretende colher
dentro do que fora estabelecido no contrato, com a concepção de que o
contrato tenha sua normal resolução que é com a satisfação do objeto
contratual por ambas as partes.
Por fim, temos a resolução por onerosidade excessiva, que ocorre quando a
resolução normal do contrato se mostra inviável para uma das partes, posto que sua conclusão
representa onerosidade exacerbada para um e lucro absurdo para outro. Em outras palavras, o
seu término normal é impossível haja vista implicar em ruína pessoal de uma das partes,
ferindo o princípio da eqüidade contratual e a função social do contrato.
Há certa resistência da jurisprudência em acatar o argumento de excessiva
onerosidade para a resolução do contrato, quando esta tenha por base o argumento a alteração
da realidade econômica e a impossibilidade econômica pessoal. Para a maioria, as alegações
com base na ruína pessoal ou na realidade econômica não podem ser admitidas, haja vista os
riscos inerentes a liberdade de contratar. Sobre o assunto, explica Otávio Luiz Rodrigues
(2002, p. 113-117):
33
Já a impossibilidade econômica pode ser analisada sob dois aspectos: (a) o
superveniente empobrecimento do contratante; (b) a alteração da realidade
econômica. Em ambos os casos, tornar-se-ia insuportável a continuidade da
execução do contrato. Porém, nenhuma dessas hipóteses merece ser aplicada para
justificar a teoria da imprevisão no direito comum. A superveniência de condições
pessoais adversas, que dizem respeito ao patrimônio do devedor ou às condições de
sua existência material, não pode ser invocada sob o color de impossibilidade
econômica, e, com base nisso, admitir-se a imprevisão. A ruína pessoal ou societária
há de ser tratada como risco nas atividades negociais, impondo-se ao solvens
inadimplente sofrer o processo de execução forçada e, configurada a sua
incapacidade econômica, transmudar-se em procedimento de execução civil por
quantia certa contra devedor insolvente, ou mesmo mediante os instrumentos
peculiares da falência, da concordata17
ou da liquidação extrajudicial.
Em sentido oposto, há quem sustente que a excessiva onerosidade está ligada às
causas de resolução, deixando a cargo da parte, caso queira dar continuidade ao contrato após
os devidos ajustes efetuados pela interferência estatal, anuir ou não pela continuidade do
contrato, sendo este, por exemplo, o entendimento de Maria Helena Diniz (2007, p. 164):
A onerosidade excessiva está adstrita à resolução e não à revisão contratual, mas
nada obsta que o interessado (réu da ação de resolução do contrato) se ofereça, ante
o princípio da conservação do negócio jurídico, na contestação ou transação judicial,
para modificar a prestação, evitando a rescisão do contrato (CC, art. 317 c/c 479) e
restabelecendo o equilíbrio contratual.
Ao que parece, a autora tem a onerosidade em excesso como um direito subjetivo
de quem resolve o contrato, podendo, caso queira, dar continuidade a avença uma vez
afastada a condição causal.
Além da resolução, temos ainda como formas de extinção, a rescisão e resilição
contratual. A resilição pode ser uni e bilateral. Partindo do conceito genérico, resilição é a
forma de extinção contratual onde os motivos não guardam nenhuma relação com
inadimplemento ou falta contratual de qualquer natureza. Na lição de Venosa (2005, p. 529),
“a resilição é a cessação do vínculo contratual pela vontade das partes, ou, por vezes, de uma
das partes. A resilição é, portanto, termo reservado para o desfazimento voluntário do
contrato.” Há simples vontade em por fim ao contrato, efetuando-se, para tanto, a denúncia.
Na resilição bilateral, as partes, em comum acordo, resolvem por fim a relação
contratual, fazendo, para tanto, um novo contrato. Um ponto marcante, diferente de qualquer
outra forma de extinção contratual, é que na resilição não há necessidade da intervenção
17 O instituto da concordata não mais existe em nosso direito tendo sido extinto por alteração da Lei de Falência
(Lei nº 11.101/2005) em seu lugar há um novo instituto chamada de recuperação judicial e extrajudicial.
34
estatal para que seus efeitos sejam válidos. É o simples ato de declaração de vontade que criou
o pacto e, agora, põe fim a ele.
Na resilição unilateral, apenas uma das partes decide não mais manter laços
obrigacionais com a outra, fazendo a denúncia do contrato. Quanto a está espécie de extinção,
a Lei Civil atual fez uma pequena ressalva:
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o
permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito
investimentos consideráveis para sua execução, a denúncia unilateral só produzirá
efeitos depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e vulto dos
investimentos.
Desse modo, vemos que não pode uma das partes se utilizar do instrumento da
resilição unilateral sem que leve em conta os investimentos que a outra parte fez para que o
contrato se estabelecesse. Ora, se uma das partes lançou mão de investimentos para a
consecução do contrato, havendo, assim, em um primeiro momento, uma redução de seu
patrimônio, não havendo a continuidade do contrato, nada mais justo que seja ressarcido dos
investimentos que fez como condição para que o contrato tenha seu prosseguimento, em
homenagem ao princípio da boa-fé e da função social.
A rescisão, por sua vez, é a extinção do contrato fundada em lesão a direito da
outra parte por causa oriunda na formação do contrato ou antes dele. É o desfazimento do
contrato por falha anterior a sua formação, ou seja, está ligada à questão da culpa na feitura do
contrato. Embora o instituto se confunda com a resolução por inexecução voluntária o fato é
que são institutos diferentes. Enquanto na rescisão os motivos que lhes dão ensejo estão afetos
às circunstâncias relacionadas a defeitos ocorridos antes da formação do contrato, a resolução,
seja por inexecução voluntária, involuntária ou por onerosidade excessiva, se funda em
motivos supervenientes quando da realização do contrato, tal como pontuado por Arnaldo
Rizzardo (1999, p. 524,525).
Usualmente, os termos resilição e rescisão são tidos como sinônimos, entretanto,
tecnicamente falando, são institutos distintos que merecem tratamento jurídico também
distinto, quando da sua materialização (GONÇALVES, 2007, p.183). A culpa não se verifica
na resilição, embora o parágrafo único do art. 473 do CC, supra transcrito, tenha criado, de
certo modo, uma forma indireta de indenização, mas que se coaduna com os princípios
norteadores do contrato e não tem o fito de descaracterizar o instituto da resilição.
35
3.5 Teoria da imprevisão no Direito do Consumidor
A lei consumerista não se descurou do aspecto da teoria da imprevisão, também
tratada no Código Civil. Da mesma forma, não se esqueceu de tratar sobre a questão da
excessiva onerosidade. O art. 6º da Lei 8.078/90 elenca direitos básicos pertencentes ao
consumidor, dentre os quais merecem destaque, para este trabalho, dois incisos: o IV e o V.
O inciso IV traz em seu preceito a proteção, dentre outras, contra cláusulas
abusivas, sendo esta considerada toda aquela que vise minar o direito do consumidor,
tornando desvantajoso o contrato para o consumidor. São cláusulas limitadoras de direito, que
estabelecem desvantagens absurdas para o consumidor, dentre muitas outras causas. No artigo
51 do CDC, o legislador trouxe vários exemplos de cláusulas abusivas, não tendo o
dispositivo o condão de exaurir todas as hipóteses da espécie, tendo assim, um caráter
meramente exemplificativo (NUNES, 2005, p.627).
Interessante notar o sistema de nulidade disposto no CDC. Por lá, a nulidade se
opera de pleno direito por expressa disposição. Otávio Luiz Rodrigues Júnior (2006, p. 162),
citando Nelson Neri Júnior assevera:
[...] não são inteiramente aplicáveis às relações de consumo as norma sobre
nulidades inscritas no Código Civil, Código Comercial, Código de Processo Civil ou
outras leis extravagantes. Mesmo porque os sistemas de nulidade não são uniformes,
variando de acordo com a peculiaridade de cada ramo da ciência do Direito.
[...] As invalidades, modernamente, reclamam tratamento microssistêmico, o que foi
feito pelo CDC, a fim de poderem atender às peculiaridades existentes no
microssistema. O CDC afastou-se do sistema de nulidades do Código Civil,
restando, pois, superado o entendimento de que as nulidades pleno jure independem
da declaração judicial para se fazerem atuar, e de que as nulidades absolutas
precisam de sentença judicial para produzirem seus efeitos no ato do negócio
jurídico. Abandonou-se no sistema do CDC a dicotomia existente entre as nulidades
do Direito Civil (nulidades absolutas e relativas), pois o código só reconhece as
nulidades de pleno direito quando enumera as cláusulas abusivas, porque ofendem a
ordem pública de proteção ao consumidor, base normativa de todo o Código, como
se vê no art. 1º do CDC: „O presente Código estabelece normas de proteção e defesa
do consumidor, de ordem pública e interesse social [...]. A nulidade da cláusula
abusiva deve ser reconhecida judicialmente, por meio de ação direita (ou
reconvenção) a exceção substancial alegada em defesa (contestação), ou, ainda, por
ato ex officio do juiz. A sentença que reconhece a nulidade não é declaratória, mas
constitutiva negativa. Quanto à subsistência da relação jurídica de consumo
contaminada por cláusula abusiva, o efeito da sentença judicial que reconhece a
nulidade da cláusula abusiva é ex tunc, pois desde a conclusão do negócio jurídico
de consumo já preexistia essa situação de invalidade, de sorte que o magistrado
somente faz reconhecer essa circunstância fática anterior a propositura da ação.
36
Como já é sabido, o CDC milita em prol do consumidor dentro da idéia de ser este
hipossuficiente e vulnerável nas relações de consumo. Não foi diferente no que diz respeito às
nulidades, pois dentro da peculiaridade do sistema de proteção do consumidor, o legislador
tratou de modo diverso do Código Civil, acabando com a dicotomia existente entre a nulidade
relativa e absoluta, considerada por este último. O consumidor repousa sobre o manto da
nulidade absoluta, pois é esta a única tratada no CDC, fazendo com que os efeitos de uma
sentença prolatada que venha declarar a existência de cláusula abusiva, retome os seus efeitos
até o ponto de partida da avença, voltando ao status quo ante.
Três princípios permeiam o instituto da nulidade no CDC: são os princípios da
boa-fé-objetiva18
, da vulnerabilidade e, por último, o da eqüidade contratual (Rodrigues Jr,
2006, p. 163). Pelo da vulnerabilidade, o consumidor merece tratamento protetivo maior,
tendo em vista a sua condição de hipossuficiente. Esse princípio tem fundamento na eqüidade
tratada pelo texto da Carta Política nacional de 1988, impondo, por força do art. 5º, I, que
todos recebam tratamento equânime diante do ordenamento jurídico, entretanto, não dentro de
uma igualdade matemática, mas, jurídica, visando dirimir as diferenças materiais existentes
entre as pessoas. Na lição de Alexandre de Moraes (2005, p. 31), “[...] o tratamento desigual
dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio
conceito de justiça [...]”, só assim podemos entender a atitude do legislador ao mitigar o
instituto da nulidade no CDC, diminuindo as diferenças existentes entre o consumidor e o
proponente da relação contratual de consumo, por meio da lei.
A boa-fé-objetiva é o guia na aplicação hermenêutica do julgador. Ao analisar as
causas postas em juízo, deve o julgador pautar-se pela boa-fé com o fito de verificar a real
intenção por trás de quem alega causa passível de resolução ou discussão de cláusula
contratual. Ou mais além, não só nos casos daqueles que alegam motivo para discutir
cláusula, mas também do proponente quando da formulação das cláusulas postas à análise do
adquirente. Portanto, a boa-fé objetiva deve ser observada antes, durante e depois da avença.
Entretanto, é possível a revisão contratual no caso de não se verificar a boa-fé? O já
mencionando artigo 51 do CDC, em seu inciso IV, traz expressa disposição sobre a nulidade
de qualquer avença que não se coadune com os princípios da boa-fé ou da eqüidade. É
18 Interessante notar que este mesmo princípio foi adotado pelo Código Civil de 2002, constituindo um a
verdadeira inovação para o instituto civilista. Foi o CDC, em relação ao CC, quem primeiro idealizou a idéia da
boa-fé objetiva, esta, por sua vez, foi adotada, posteriormente, no CC de 2002 constituindo uma verdadeira
inovação jurídica, mas para este instituto, pois, como já mencionamos, este princípio já era adotado pelo CDC
que data de 1990.
37
verdadeira norma cogente que não admite às partes e até mesmo ao magistrado restringir o
seu alcance. Portanto, como menciona o próprio caput do artigo retro mencionado, é nulo.
É o princípio da eqüidade que permite a revisão contratual sempre que esse se
mostra oneroso, ou na dicção do preceito normativo, sempre que houver excessiva
onerosidade. Lembrando que o que foi dito a respeito da boa-fé se aplica a eqüidade no
tocante à nulidade do contrato e sua revisão. Tal princípio encontra seu fundamento nos
artigos 4º, III, e 6º, V onde o legislador abriu uma válvula de escape para os casos em que o
prosseguimento do contrato, nos moldes em foi idealizado, se mostra demasiado excessivo
ensejando a sua resolução, ou, ao menos, a revisão contratual do que couber, na esperança de
manter-se intacto naquilo onde o avençado continua em perfeita condições de ser mantido em
homenagem ao princípio da continuidade (manutenção) do contrato, ainda que este sofra certa
mitigação, haja vista, também, a incidência da função social do contrato.
Assim, pelo que se percebe, a teoria da imprevisão do Diploma Civil sofre certo
abrandamento dentro da aplicação do CDC. Enquanto nas relações regidas pelo CC a
imprevisão está afeta às regras da lei civilista, que preza pelo pacta sun servanda, pelo
princípio da continuidade dos contratos, o princípio da imprevisão é endurecido a ponto de se
tornar quase impossível a sua incidência. No CDC, este princípio não é levado ao extremo.
O CDC não obsta sua incidência, tendo em vista que estamos diante de um
instituto jurídico onde as relações estabelecidas ocorrem entre pessoas desiguais: de um lado,
o consumidor hipossuficiente, tal como definido pela lei, do outro, o fornecedor que está, na
relação jurídica, bem acima do consumidor. Já segundo o CC, as pessoas que contratam, pelo
menos na ficção jurídica estão em pé de igualdade, daí porque no CDC a teoria da imprevisão
sofre certo abrandamento, como anteriormente falado, em relação aos negócios jurídicos
contratuais realizados sob o crivo do CC. Seria um contra senso do legislador
infraconstitucional estabelecer tamanha rigidez para a incidência da teoria da imprevisão nas
relações de consumo.
38
4 REVISÃO DOS CONTRATOS DE LEASING FINANCEIRO: APLICAÇÃO DA
TEORIA DA IMPREVISÃO OU DO CDC?
4.1 Aplicação do CDC aos contratos de arrendamento mercantil
Na pesquisa para a produção deste trabalho, foi possível constatar a tendência
majoritária dos Tribunais em firmar a jurisprudência no sentido de impor a aplicação do CDC
aos contratos de Arrendamento Mercantil19
. E por suposto isso decorre da luta incessante dos
advogados das empresas arrendadoras dos bens postos a disposição do consumidor, na
tentativa de se desvencilhar da sua aplicação, tendo como resposta a escusa da justiça
impávida diante dos constantes suplícios daquelas empresas. É uma luta semelhante a que
durante muito tempo foi travada por advogados dos bancos para que o CDC não tivesse
aplicação nos contratos bancários firmados com seus clientes. Ao que parece, ao menos nas
modalidades de leasing financeiro, não se discute mais a aplicação do CDC. Nesse sentido, o
disposto por Claudia Lima Marques (2006, p. 550, 553-554), acerca das lides que envolvem o
contrato de leasing:
[...] A aplicação do contrato de leasing no campo de aplicação do CDC não é mais
polêmica. [...] O contrato de leasing massificou-se no Brasil, conquistou o mercado
de consumo, e a este leasing massificado perante os consumidores é aplicável o
CDC. [...] Importante é que, diante da massificação do leasing, a jurisprudência
majoritária brasileira, inclusive do STJ, optou claramente pela inclusão do
arrendamento mercantil no campo de aplicação do CDC. (grifo nosso)
19 Nesse sentido é o teor da ementa da decisão prolatada pelo STJ, ao julgar um Embargo Infringente: “I.
Embargos Infringentes. Arrendamento Mercantil. II. Recurso lastreado na inaplicabilidade do Código de Defesa
do Consumidor, na impossibilidade de alteração de cláusula contratual ("pacta sunt servanda"), na presunção
"juris tantum" de captação de recursos no exterior e na mora do embargado gerada por depósitos incompletos.
III. argumentos recursais improcedentes. código do consumidor aplicável ao "leasing". onerosidade excessiva
autorizadora de modificação de cláusula contratual (art. 6º, v, do cdc). ônus da arrendante de provar a captação
de recursos no exterior específica ao contrato em lide. depósito de parcela pelo índice do inpc que não configura
mora. iv. recurso desprovido.1-"O Código de Defesa do Consumidor aplica-se aos contratos de arrendamento
mercantil" - (STJ, RESP 213565/ES, 3ª TURMA, REL. MIN. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, J.
EM 1º.06.2000, DJU DE 1º.08.00). 2-O Código de Defesa do Consumidor permite, no campo dos contratos, a
ação modificadora do Judiciário, quando verificada onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de fato
superveniente. 3-No "leasing", cabe à financeira o ônus de comprovar ter captado recursos no exterior para
viabilizar especificamente o contrato em lide. 4-O depósito de parcelas de arrendamento mercantil com base em
índice diverso do pactuado, e autorizado por decisão judicial, não caracteriza mora.”
39
Pela leitura do texto, é fácil perceber que a celeuma que possa advir sobre a
aplicação ou não do CDC ao tipo de contrato em comento está fadada a morrer no STJ20
, se
antes não se nos der próprios juízos de primeiro grau. É claro que as afirmações de caráter
peremptoriais em direito são um tanto quanto perigosas haja vista que o brocardo da mihi
factum, dabo tibis jus (dá-me o fato que te darei o direito), continua mais firme do que nunca,
sendo aí, na questão factual, que o direito se revela, e não o inverso. Destarte, o fato é quem
deve dizer se é ou não cabível a aplicação do CDC. Em suma, o fato não foi feito ou criado
para o direito, mas é o direito que se amolda ao fato, por meio das técnicas de hermenêutica as
quais tantas vezes não se dispensa a devida importância.
É preciso ter em mente que com a edição do CDC deve-se fazer uma nova leitura
dos contratos. Deve-se perquirir a pertinência da aplicação do CDC ao contrato posto em
crivo, seja no deslinde de questões, seja na labuta advocatícia, tendo em mente que o CDC,
bem como demais regramentos, faz parte de um grande sistema jurídico, e juntamente com
este deve ser analisado, e não fora dele, além de sua relação com os demais ramos do Direito.
Desse modo, as normas se entrelaçam formando uma grande rede onde cada fibra é
importante e necessária para o bom desempenho da trama. O problema é que muita vezes,
tendo em vista a cultura civilista e positivista de alguns aplicadores do direito, vemos a sua
aplicação obstada em seus princípios, esquecem-se de analisar a norma dentro do contexto
histórico em que foi criada ficando presos a orientações passadas não condizentes com a
época em que vivemos, pois cabe aos aplicadores do direito lhe dar moldes para que se
20 Entendimento exarado no acórdão no sentido de aplicação do CDC aos contratos de arrendamento mercantil
de seguinte teor: “Revisão de contrato - Arrendamento mercantil (leasing) - Relação de consumo - Indexação em
moeda estrangeira (dólar) - Crise cambial de janeiro de 1999 - Plano real. Aplicabilidade do art. 6, inciso V do
CDC - Onerosidade excessiva caracterizada. Boa-fé objetiva do consumidor e direito de informação.
Necessidade de prova da captação de recurso financeiro proveniente do exterior. - O preceito insculpido no
inciso V do artigo 6º do CDC dispensa a prova do caráter imprevisível do fato superveniente, bastando a
demonstração objetiva da excessiva onerosidade advinda para o consumidor. - A desvalorização da moeda
nacional frente à moeda estrangeira que serviu de parâmetro ao reajuste contratual, por ocasião da crise cambial
de janeiro de 1999, apresentou grau expressivo de oscilação, a ponto de caracterizar a onerosidade excessiva que
impede o devedor de solver as obrigações pactuadas. - A equação econômico-financeira deixa de ser respeitada
quando o valor da parcela mensal sofre um reajuste que não é acompanhado pela correspondente valorização do
bem da vida no mercado, havendo quebra da paridade contratual, à medida que apenas a instituição financeira
está assegurada quanto aos riscos da variação cambial, pela prestação do consumidor indexada em dólar
americano. - É ilegal a transferência de risco da atividade financeira, no mercado de capitais, próprio das
instituições de crédito, ao consumidor, ainda mais que não observado o seu direito de informação (art. 6º, III, e
10, "caput", 31 e 52 do CDC). - Incumbe à arrendadora se desincumbir do ônus da prova de captação de recursos
provenientes de empréstimo em moeda estrangeira, quando impugnada a validade da cláusula de correção pela
variação cambial. Esta prova deve acompanhar a contestação (art. 297 e 396 do CPC), uma vez que os negócios
jurídicos entre a instituição financeira e o banco estrangeiro são alheios ao consumidor, que não possui meios de
averiguar as operações mercantis daquela, sob pena de violar o art. 6º da Lei n. 8.880/94.” STJ, REsp 268661/RJ
3ª turma. Rel. Min. Nancy Adrighi, J. em 15.08.2000, DJU de 24.09.2001.
40
acompanhe o dinamismo da vida em sociedade. Assim deve agir o jurista: ter na norma escrita
um norte a ser seguido, pois o direito21
quem dirá somos nós, e não a norma positivada.
4.2 Conflito aparente de normas
Um ponto importante que não se poderia deixar de frisar é o que diz respeito à
resolução de um possível conflito aparente de normas, insurgindo-se a discussão sobre a
prevalência do CDC ou da Lei de Arrendamento Mercantil, sob o argumento de que ambas
são leis especiais, por trazerem regramentos diferenciados com relação aos de caráter geral.
Não se pode começar sem antes tratar o assunto sob a égide do Direito
Constitucional, por ser este o primeiro caminho a ser percorrido por qualquer um que labore
na esfera jurídica, quando o assunto é conflito aparente de normas. Afinal, a Carta Política de
1988 traz consigo princípios que orientam o legislador infraconstitucional no processo de
produção da norma, além de auxiliar o hermeneuta na correta solução dos conflitos aparentes,
ou mesmo na busca da correta aplicação da lei, que deve ser interpretada com clareza.
O art. 1º da Constituição da República tem a livre iniciativa como um dos
fundamentos do Estado brasileiro, juntamente com o valor social do trabalho. Juntos,
respaldam o compromisso inscrito no art. 3º da Carta, no sentido de garantir o
desenvolvimento nacional. Daí decorre para nossos governantes o dever de manter traçados
em seus planos de governo, medidas que visem ao desenvolvimento da nação com
observância dos demais princípios e fundamentos constitucionais, de forma que não haja
prevalência de um sobre o outro, mas a convergência de todos para um só ponto.
Ao estabelecer como fundamentos o valor social do trabalho e a livre iniciativa
privada, o legislador constitucional originário afirmou a priorização do crescimento
econômico nacional. Não se pode perder de vista que o trabalho não é apenas a acumulação
de capital, como pensa o explorador do mercado. Ao incentivar a produção do trabalho e a
livre iniciativa o objetivo traçado não foi outro senão o desenvolvimento da nação. Como
analisado por Walber de Moura Agra (2002, p.125), “[...] este fundamento constitucional
21 A palavra “direito” aqui deve ser lida como “justiça” sendo esta empregada no sentido de ser aquilo que se
destina a cada parte, claro que dentro do subjetivismo de quem julga.
41
enfoca que o trabalho e livre iniciativa se destinam a um engrandecimento social, e não
podem ser considerados apenas como um processo de acumulação pessoal”.
Nesse esteio a ordem constitucional vigente trouxe também outros princípios
basilares que funcionam como limites a qualquer meta traçada pelo legislador originário, a
exemplo do que está inscrito no art. 1º da Lei Maior, ao tratar o respeito à dignidade da pessoa
humana, que no dizer de Walber de Moura Agra (2002, p.124), “representa um complexo de
direitos que são apanágio da espécie humana, [...] que devem ser propiciados pelo Estado
[...]”. Além disso, o art. 5º, inc. XXXII traz ainda mais uma baliza: a aplicação do princípio
do desenvolvimento econômico, enquadrado também pelo que diz o a art. 170, inc. V. O
primeiro, no que concerne à defesa do consumidor como obrigação do Estado, o segundo,
além de outros interesses sociais que cabe ao Estado garantir, dentre eles o da defesa do
consumidor usando de coerção, se necessário.
Tal como já referido, temos na Constituição atual o delineamento principiológico
fundamental do desenvolvimento econômico, aliado ao objetivo fundamental da garantia do
desenvolvimento nacional, traçando o rumo das políticas públicas que muitas vezes lançam
mão do ordenamento jurídico para promover22
, de certo modo, este desenvolvimento.
Contudo, não são esses os únicos princípios a serem observados no caminhar do
desenvolvimento. Legislador e administrador público devem observar outros princípios
constitucionais, além de várias normas que regem a vida pública administrativa.
No que tange a lei que trata dos aspectos fiscais/tributário do arrendamento
mercantil, parece ter por intuito garantir o crescimento econômico, dando respaldo a quem
queira investir capital no mercado, utilizando uma forma contratual tão benéfica para o
arrendador quanto para o arrendatário, deixando de constituir um contrato atípico para
assumir espécie de contrato típico, com um tratamento legal diferenciado.
O leasing foi criado ainda sob o manto de outra ordem constitucional –
Constituição 1967/ 1969. O governo militar tinha entre seus propósitos o de promover o
crescimento econômico. O período correspondente a ditadura militar ainda é lembrado por
muitos como „o milagre econômico‟, com a implementação de um programa de governo
22 Na verdade, promovendo o desenvolvimento indiretamente, tendo em vista que o desenvolvimento se dará
pelas medidas adotadas pelo governo, a lei é coadjuvante neste desenvolvimento, trazendo garantia legal
necessário para a realização do negócio jurídico de modo diverso da legislação geral tendo em vista as
peculiaridades relativas ao negócio que se pretende implementar como política pública de desenvolvimento
nacional. Frise-se no que falamos a respeito da livre iniciativa como forma de desenvolvimento nacional adotada
como fundamento principiológico do Estado republicano que nascia com a Constituição de 1988.
42
visando o combate a inflação e reformas estruturais com a expansão de indústrias de base
(KOUREICHE, 2009).
Com raízes datadas de 1974, o leasing traz em seu bojo o espírito do
desenvolvimento econômico da época, observando alguns apontamentos da Lei Civil de 1916,
e com amparo numa ordem constitucional que até então desconhecia princípios como o do
respeito à dignidade da pessoa humana e da proteção ao consumidor. Somente a partir da
Carta de 88 foi possível festejar a normatização dessas garantias, além de outros princípios
jamais tratados em Cartas Políticas anteriores. Ressalte-se que a atual constituição delineou
um novo horizonte em matéria de direitos humanos, com seu belíssimo art. 5º e outras
inovações a exemplo da proteção do consumidor, como já mencionado anteriormente.
É justamente dentro do espírito estabelecido pela Constituição de 1988 que se
quer refletir sobre a aplicação da Lei 6.099/74, que por sua vez também é anterior ao Código
de Defesa do Consumidor. Entretanto, em que pese a disparidade entre as épocas de edição
das normas, é possível afirmar que a lei do leasing foi recepcionada pela Constituição atual,
contudo, é preciso frisar que a interpretação dada ao citado regramento não logrou amparo em
nossos tribunais quando se tentou afastar as relações jurídicas originadas sob seu fundamento
da aplicação do CDC.
Em suma, o que temos é o seguinte: os administradores públicos, com o fito de
produzir o desenvolvimento econômico, muitas vezes lançam mão da prática legislativa para
permear o caminho do desenvolvimento. Ainda é assim nos dias atuais, seja na edição de leis
que promovem subsídios fiscais, seja editando leis que facilitem e incentivem a prática de
crédito fácil ou na edição de leis que permitam a redução de impostos por certo período.
Entrementes, os limites impostos pela Constituição e pelo Código de Defesa do Consumidor
devem ser observados a todo custo.
O artigo7º do Diploma consumerista, por exemplo, deixa evidente ferramentas de
proteção que levam a uma interpretação sistemática de todo ordenamento jurídico. Agindo
assim, o legislador fez questão de tratar com certo cuidado a pessoa do consumidor, trouxe
previsão da sua vulnerabilidade e hipossuficiência, estabelecendo a inversão do ônus da prova
e outras providências para facilitação da defesa de seus interesses.
Por isso, nos julgamentos onde a discussão recaia sobre qual norma aplicar, não
há outra resposta mais adequada a não ser a conclusão pela aplicação da regra legal mais
favorável ao consumidor, podendo até mesmo se afastar a aplicação do próprio CDC, quando
haja previsão mais vantajosa para o consumidor, tal como poderá ocorrer em relação ao
Código Civil de 2002, a depender do caso concreto.
43
Se há dois regramentos aplicáveis às relações de consumo, que não sobre dúvida
acerca do dever de se aplicar o mais benéfico para o consumidor, como impõe o texto do
caput do art. 7º do CDC. Agir de modo diverso é transportar o risco para o consumidor, o que
é inadmissível dentro da ordem legal de que os riscos correm por conta de quem explora o
mercado.
Complementando, importante mencionar ainda a solução de conflitos pela
aplicação dos direitos humanos como balizador no desembaraçar de questões judiciais
(MARQUES, 2006, p. 605), o que é substantemente defendido por grande parte dos
doutrinadores. Nunca é demais lembrar que o CDC é de cunho eminentemente social,
encontrando suas raízes no princípio sociológico da proteção ao mais fraco nas relações
jurídicas, para dotar o consumidor de meios para superar a desigualdade material em relação
ao fornecedor de bens e produtos, equilibrando a relação contratual. Outrossim, repousa no
princípio da igualdade constitucional prevista no art. 5º.
Assim, diante do conflito aparente, deve prevalecer sempre o regramento mais
favorável ao consumidor, em regra, o CDC. Mas se preciso for, deve-se afastar até mesmo a
sua aplicação, no que se apresentar mais prejudicial in casu, colhendo-se regra mais benéfica
em outra legislação, dentro da orientação principiológica erigida pela Lei consumerista.
Cláudia Lima Marques (2006, p. 625), citando ementa da decisão prolatada pelo TJRJ onde se
discutiu a aplicação do CDC no que pertine a aplicação do art. 17 – conceito de consumidor
por equiparação - e o prazo decadencial do art. 26 da Lei 8.078/90, milita nesse sentido:
Não há relação de consumo entre vítima de ônibus abalroado e o abalroador a
justificar a incidência do Código de Defesa do Consumidor in malam partem.
Prescrição que não pode ser aplicada contra a parte a quem favorece a pretexto de
fazer incidir a lei mais favorável. Há contradition in terminis na aplicação do
Código de Defesa do Consumidor em desfavor desse beneficiário com a aplicação
de lei menos favorável e que reduz expressivamente o prazo prescricional. Nessas
hipóteses aplica-se a lei mais favorável ao lesado desprezando-se a lei maléfica.
E no mesmo contexto, explica a autora em discurso proferido no V Congresso de
Direito do Consumidor, ocorrido em Belo Horizonte, em maio de 2000:
Sendo o princípio constitucional eficaz e cogente, a defesa do consumidor deve ser
realizada não somente mediante aplicação das normas positivadas no CDC, mas,
também, mediante a interpretação direcionada ao atendimento do objetivo e da
principiologia que orienta essa codificação. Destarte, os direitos subjetivos do
consumidor devem ser assegurados da forma mais ampla possível, subsidiados pelas
normas civis, comerciais, administrativas, penais e processuais que não conflitarem
com o sistema do CDC. (grifo nosso)
44
Destarte, temos que a tendência jurisprudencial é adotar tal entendimento, e não
há que se falar em ingerência do judiciário no âmbito legislativo, por decisões como esta do
acórdão supramencionado, visto que, como já abordado nesse trabalho, encontram respaldo
no enunciado pelo caput do art. 7º do CDC.
4.3 Revisão e resolução do contrato de leasing financeiro à luz do CDC
Todos nós aprendemos, nas aulas de Direito Civil, que todo negócio jurídico é
passível de ser revisto. Até mesmo os contratos de cunho vitalício podem ser revistos, apenas
os fatos são imutáveis restando para estes (fatos) apenas sua reparação na medida do possível.
As relações jurídicas são, sem sombra de dúvidas mutáveis, passíveis de revisão.
Como outrora afirmamos no decorrer deste trabalho, todo negócio jurídico tem o
seu início e é natural que tenha seu fim, podemos ter negócios jurídicos sem data aprazada, no
entanto, não quer dizer que não terá o seu termo final. Ao estabelecermos um negócio
devemos ter em mente que seguirá o seu rumo normal ou, como falamos em outro capítulo,
terá a sua extinção normal, que ocorre com a implementação do objeto contratual. O problema
é que por vezes isto não ocorre, e é aí onde residem as celeumas judiciais no que diz respeito
à extinção contratual.
O que vimos até o momento é que o tema proposto nos leva a pensar qual dos
regimes jurídicos deve ser aplicado aos casos de revisão contratual nos deslindes das questões
referentes à revisão dos pactos firmados na espécie do leasing financeiro, ou até mesmo de
sua extinção. Esta questão resta superada, haja vista o entendimento jurisprudencial
dominante com esteio no conteúdo da súmula 297 do STJ, confirmando a aplicação do CDC
aos contratos bancários, extirpando qualquer discussão em contrário, mormente porque o
leasing é também um contrato de adesão, sendo desnecessárias maiores explicações23
.
Posto isso, nos parece que a problemática encontra-se resolvida, haja vista que a
teoria da imprevisão tal como idealizada pelo Código Civil de 2002, como vimos no capítulo
23 Embora haja quem defenda que não se trata de um contrato de adesão haja vista que a Resolução nº 2.309/96
do Banco Central assevera que algumas cláusulas sejam discutidas com o arrendatário, entretanto, esquecem os
defensores dessa tese o preconizado no art. 54, caput, e seu parágrafo 1º perfeitamente aplicável ao caso embora
fale sobre inserção de cláusula ao contrato, ora, não há como inserir cláusula alguma ao contrato sem antes
serem discutidas.
45
anterior sob o tópico Teoria da Imprevisão no CDC, se mostra um pouco rígida24
para tratar
de questões de natureza consumerista, portanto, inadequada a sua aplicação nos moldes
traçados naquele instituto jurídico (Lei 10.406/2002). Em suma, para as relações consumo se
faz necessário a observância ao CDC e aos princípios nele traçados no que diz respeito à
revisão e/ou extinção contratual.
Não se quer dizer, com isso, que o consumidor tem o direito de quando bem
quiser rescindir contratos sem sofrer nada por isso, mas que, as hipóteses elencadas pelo
consumidor para rescindir o contrato, é que deverão ser vistas com um olhar criterioso, não se
descurando do caráter consumerista da relação pactuada, por aquele que irá aplicar a solução
ao caso concreto, via de regra, é claro que com observância as nuances que só o caso concreto
pode trazer.
Dentro do aspecto da abusividade, o contrato de leasing financeiro é sem igual.
Não se pode deixar de mencionar a Resolução nº 2.309/96 do Banco Central que, ao que
parece, foi produzida ao arrepio da Lei Consumerista, não levando em consideração suas
garantias, nem havendo observância ao art. 170, caput, e seu inciso V da Constituição de
1988.
Partindo da Resolução supramencionada, vê-se que esta traz um mínimo que deve
ser observado nos contratos de leasing para que este possa ser assim caracterizado haja vista o
disposto na mesma resolução em seu art. 33 de seguinte teor: “as operações que se realizarem
em desacordo com as disposições deste Regulamento não se caracterizam como de
arrendamento mercantil.”. Logo, o disposto no art. 7º do mesmo instituto, em seus doze
incisos, traz um rol critérios mínimo a serem observados no estabelecimento das cláusulas
contratuais sob pena da incidência do art. 33. Merece atenção o preceituado na alínea „d‟ do
inciso “IX‟ do art. 7º, in verbis:
Art.7º Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por
instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especificações
abaixo relacionadas:
I - .............................................................................................................................
IX - as demais responsabilidades que vierem a ser convencionadas, em decorrência
de:
a) (omissis)
d) ônus advindos de vícios dos bens arrendados; (grifos nosso)
24 Na verdade, a Teoria da imprevisão tem tratamento mais rigoroso no Código Civil tendo em vista que este
regula relações contratuais entre iguais, no CDC as relações contratuais se dão entre desiguais daí o caráter
eminentemente de norma cogente de seus artigos, pois, visa a tutela do mais fraco, nas relações de consumo que
é o consumidor.
46
O caput do art. 7º estabelece exigências e não faculdades, haja vista que o termo
“devendo conter”, inserto no preceito do artigo, não traz, implícito em seu sentido, faculdade
alguma. Em seguida, o inciso IX do mesmo normativo estabelece, como exigência mínima,
disposição clausular que trate sobre a responsabilidade de vícios do bem arrendado. De forma
mais clara, quer a Resolução que as partes convencionem de quem será a responsabilidade
pelos vícios, que por ventura venha a surgir, sobre o objeto do arrendamento, e nesse caso,
devem as partes, no contrato, tratar a respeito.
Nesse momento, importante a consulta ao anexo „A‟ deste trabalho, para verificar
como está essa disposição clausulada no contrato, sendo possível constatar, inclusive, outros
abusos insertos no modelo de contrato colacionado no anexo citado. Ora, dúvida não há que
os contratos de leasing se submetem ao crivo do CDC, que em seu art. 51, inc. I, extirpa
qualquer possibilidade de se estabelecer cláusula nesse sentido:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por
vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor
pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; (grifo
nosso)
A norma do art. 51 é norma de natureza pública, de observância obrigatória, não
podendo ser nem mesmo objeto de renúncia ou atenuação por parte do consumidor. Aliás, o
CDC é um compêndio de artigos de natureza pública (norma cogente), haja vista o
estabelecido no art. 5º, XXXII da CF/8825
, só se podendo estabelecer convenções de vontade
(contrato) de natureza consumerista nos limites traçados no CDC. Assim, o dispositivo da
Resolução supra colacionado só terá aplicação nos casos de leasing financeiro onde não seja
possível a incidência do CDC ou após o escoamento da garantia legal/contratual do produto
objeto do contrato. Antes disso, dentro da garantia legal/contratual, a responsabilidade pelos
vícios e fatos do produto ou serviços é do fornecedor, conforme a Lei 8.078/90 que traz uma
seção inteira (art. 18 ao art. 25) abordando a questão da responsabilidade. Nos casos em que
de um lado figure um consumidor, esta disposição será eivada de nulidade absoluta, portanto,
sem valor algum, não produzindo qualquer efeito.
Desse modo, o contrato de leasing que trouxer disposição no sentido de mitigar
este direito, transferindo, dentro do prazo de garantia do produto ou serviço, a
25 “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.”
47
responsabilidade pelo vício do produto ou fato do produto para o consumidor-arrendatário,
dará ensejo à revisão contratual por se tratar de cláusula abusiva nula de pleno direito, sendo
este direto básico do consumidor conforme o estabelecido no art. 6º, IV e V do CDC.
Embora possa haver dúvidas sobre a natureza do contrato de leasing, não se pode
olvidar que os contratos de consumo são regidos pelo CDC e que, tratando-se do contrato de
leasing financeiro, estamos falando de contrato de adesão onde quem adere pode ser o
destinatário final de um bem, o que torna totalmente possível a aplicação do CDC, não
importando a natureza jurídica do contrato. Sendo assim, discussões no sentido de que a
natureza é mista em nada acrescentam ou diminuem o entendimento aqui externado tendo em
vista que o leasing é sem sombra de dúvidas, um contrato de adesão26
.
Pode ser que, em virtude de disposição existente na Resolução nº 2.309/96, se
diga que não estamos diante de um contrato de adesão, haja vista a imposição da livre
pactuação do valor relativo à opção de compra e venda caso essa venha a ser exercida. Data
vênia de opiniões em contrário, tal argumento não deve encontrar guarida diante da boa
hermenêutica. O art. 54, §1º estabelece o seguinte:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.
§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do
contrato. (grifos nosso)
Ora, para se inserir cláusula no contrato se faz necessário que haja prévio acordo,
não podendo, nem o consumidor-arrendatário, nem o fornecedor-arrendador, colocá-las por
livre arbítrio se não precedido de prévia discussão a respeito daquilo que se materializará,
posteriormente, como cláusula contratual. Logo, desde que, aquilo que se pretende acrescer
ou suprimir, não modifique substancialmente o conteúdo contratual não há que se falar de
desfiguração do contrato de adesão pelo simples fato de se discutir os valores que deverão ser
pagos durante a vigência do contrato.
Há contratos de arrendamento mercantil financeiro que estabelece cláusula
resolutória do contrato. Uma dela seria a perda total do bem estabelecendo prazo para que a
parte entregue outro em seu lugar, substituindo o outrora arrendado, além de dar continuidade
26 Lei 8.078/90, Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor
possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
48
às parcelas vincendas como forma de indenização. É simplesmente absurda tal cláusula.
Estabelece total desequilíbrio contratual entre as partes, o que fere o direito básico do
consumidor estabelecido no art. 6º, V do CDC tamanha a desproporção que causa entre as
partes, além da excessiva onerosidade que provoca a cláusula, não se esquecendo da natureza
abusiva desta disposição27
.
O consumidor-arrendatário opta pela aquisição do bem por meio do leasing tendo
em vista a facilidade é permeada pela facilidade de obtenção do crédito, então, como pode ser
justo exigir-lhe, com a eventual perda do bem, que arque com um percentual das parcelas
vincendas além da entrega de um bem no lugar do que se perdeu? Sem falar que os prazos
concedidos são exíguos, muitas vezes apenas 30 (trinta) dias para a substituição do bem.
Da mesma forma, a cláusula resolutória é permitida pelo Código de Defesa do
Consumidor, desde que o estabelecimento desta traga caráter alternativo e não imposição,
respeitando-se, de todo modo, a escolha final como prerrogativa do consumidor-arrendatário,
sobre a rescisão ou continuidade do contrato28
. Mais justa seria uma cláusula que
estabelecesse um total a ser pago, se houvesse a perda total do bem, com vistas a uma
avaliação de quanto o arrendador pagou pelo bem e qual o seu valor de mercado no momento
da ocorrência que deu causa a perda do bem. Ora, muitas vezes o que já se arrecadou com o
pagamento das parcelas, cobriu todas as despesas pagas pela aquisição do bem pelo
arrendador, até mesmo o próprio valor do bem já pode ter sido completamente coberto,
ficando apenas as despesas relativas às operações financeiras realizadas na aquisição do
objeto, é claro que tudo isso avaliado junto a outras vertentes inerentes a cada caso. Do
contrário, perfeitamente possível o ajuizamento de ação revisional de cláusula contratual pela
iniqüidade provocada pela cláusula na relação contratual. Cláudia Lima Marques (2006, p.
557), em nota de rodapé, colacionou a seguinte decisão, asseverando no mesmo sentido do
controle do lucro obtido na operação de leasing:
27 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
I - .........................................................................................................................
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; 28
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou
estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou
modificar substancialmente seu conteúdo. § 1° (omissis) § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao
consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.
49
[...] „Arrendamento mercantil – Rescisão – Lesão enorme – Cautelar para devolução
do bem - Reintegração de posse. Ajuizada pelo arrendatário ação cautelar para
devolução do bem, falece ao arrendante interesse jurídico para aforar demanda
reintegratória. Lucro bruto de 91% sobre o custo do bem, em leasing de 24 meses,
consiste em lesão enorme ao arrendatário (art. 6.º, V, CDC). Nulidade de cláusula.
Rescisão do contrato com devolução do veículo e o perdimento pelo arrendatário das
parcelas pagas‟.
Não nos esqueçamos que há também cláusulas que vedam descontos quando o
consumidor deseja antecipar no todo ou em parte as parcelas vincendas, pondo termo ao
contrato ou reduzindo os juros incidentes. Tal cláusula contratual não possui validade alguma.
O CDC expressamente assegura a redução de juros e demais acréscimos praticados na
aquisição de bens ou serviços que envolvam operações de financiamento ou crédito. O que é
perfeitamente aplicável ao leasing financeiro tendo em vista, que nessa modalidade de
contrato, o aspecto de financiamento do bem é latente, além do que, o Código Civil em seu
art. 112 nos preceitua o seguinte: „Nas declarações de vontade se atenderá mais a intenção
nelas consubstanciada do que no sentido literal da linguagem‟, assim, temos que quando o
consumidor-arrendatário procura o arrendante para „arrendar‟ um bem é porque o faz com a
finalidade de adquiri-lo, escolheu a modalidade de contrato para fazer isto porque lhes
pareceu, na ocasião da contratação, a melhor opção ou então foi a única que lhes restou. Logo,
entendo que qualquer disposição contratual no sentido de contrariar o disposto no art. 52,
§2º29
não merece guarida do nosso ordenamento jurídico por ser considerada disposição
abusiva.
E o que falar da eleição de foro freqüentemente utilizado nos contratos de leasing?
Em de regra, podemos dizer que estamos diante de uma cláusula abusiva. É claro que o
judiciário deve apreciar a questão haja vista que pode haver eleição de foro sem que incida em
uma cláusula abusiva, v.g., nos casos em que a sede do consumidor-arrendatário resida no
mesmo local estabelecido do foro de eleição, ou quando, na localidade em que resida, não
tenha foro competente para apreciar o feito, nestes casos, devem os contratos de leasing
eleger o foro mais próximo da localidade do consumidor. Melhor será não especificar foro
algum, mas caso isto seja feito, que o faça como disposição mais benéfica ao consumidor.
Rizatto Nunes (2005, p. 633) colaciona decisão judicial importante, no mesmo
sentido:
29 „É assegurada ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução
proporcional dos juros e demais acréscimos. ‟
50
Contrato de adesão – Foro de eleição – Validade. A eleição do foro em contrato de
adesão é válida, ao menos que esteja comprovadamente eivada de qualquer dos
vícios elencados no art. 51 da Lei 8.078/90 ou contravenha princípio contemplado
no mesmo diploma legal. Essa validade há de ser apreciada em cada caso particular
pelo juiz, cuja liberdade de interpretar, em face da prova colhida, é razoavelmente
ampla. Alegação, que se repele, de contrariedade às disposições legais invocadas
(Lei n.8. 078/90, citada, arts. 47 e 51, IV e XV, e § 1º, II). Dissídio pretoriano não
comprovado. Recurso especial não conhecido.
Enfim, as disposições abusivas nas relações de consumo que envolvam leasing
financeiro são inúmeras, limitando-se este trabalho a expor apenas aquelas que parecem mais
gritantes, para ilustrar o tema. É claro que as cláusulas contratuais variam de contrato para
contrato, o que impõe maior ou menor número de disposições abusivas, bastando para isso
conferir o teor da peça inaugural da ação civil pública impetrada pelo MP de São Paulo em
face de uma operadora de leasing, no anexo „B‟, para se ter noção da amplitude e variedade
de cláusulas abusivas no que diz respeito ao contrato de leasing financeiro, constituindo a
peça uma verdadeira aula de Direito do Consumidor.
4.3 Superendividamento sob a inteligência do art. 6º, V do CDC
Antes de adentrar no tema propriamente dito, é preciso lembrar os moldes em que
se encontram traçados o perfil social em que vivemos. A nossa sociedade atual migrou de
uma sociedade de produção de subsistência para outra sociedade capitalista/consumerista,
para uma sociedade de consumo em massa. Não só no Brasil, mas a nível mundial. Até
mesmo os países mais conservadores abriram suas portas para o mundo capitalista em que
vivemos.
A sociedade de consumo é uma sociedade predominantemente dominada pelo
marketing comercial que a influencia de forma bastante incisiva. As técnicas publicitárias
estão em toda parte. Seja nas ruas quando transitamos e panfletos oferecem crédito fácil, seja
por telefone onde são suprimidas informações que deveriam ser tratadas primordialmente
quando do oferecimento do serviço que se pretende vender. Abordam apenas as „vantagens‟
que serão obtidas pelo consumidor caso contratem o serviço ora oferecido.
Embora saibam as empresas que exploram o comércio, que os riscos por esta
exploração pertencem a elas, mesmo assim, oferecem seus serviços em contratos de adesão
51
que são primeiramente fechados para depois serem assinados como mera formalidade, mas,
principalmente, sabem que nós não temos a cultura de reclamar apropriadamente30
. Tudo isto
aliado ao fato de só reclamar judicialmente quando nos pareça rentável, refletindo
negativamente e enfraquecendo, de certo modo, o direito de nós, consumidores.
Não se busca a reclamação com fito de reparação do direito violado, mas na
maioria esmagadora dos casos– não querendo ser redundante, mas enfático - buscam tão
somente um valor pecuniário.
Tudo isso aliado a uma política pública de contenção de gastos que não permite a
criação de novas varas do consumidor ou adoção de meios alternativos que viabilizem o
exercício do direito de reclamação sob o fundamento de que é inviável, do ponto de vista
financeiro, a criação de novas varas nesta ou naquela cidade, contribui para o quadro de
desrespeito ao CDC, ao consumidor, por aqueles que exploram o mercado, além da
assombrosa morosidade que assola as causas consumeristas.
De um lado tenho um fornecedor que aposta em me vencer pelo temor de só ver o
meu pleito resolvido em um ou dois anos depois, quando já não me venceu pelo cansaço, do
outro, o consumidor que já traz consigo a desvantagem da informação, da falta de cultura e a
ineficácia do aparelho estatal em lhe dá uma resposta à curto prazo. São muitas as
reclamações intentadas em relação ao direito do consumidor, mas são maiores ainda as que
não são intentadas pelos motivos que já mencionados.
O resultado de todo o marketing publicitário é que o consumidor muitas vezes
acaba excedendo o seu poder de compra influenciado por estes mecanismos do mercado
moderno. Isso nos leva a refletir sobre a quebra contratual por inadimplência involuntária do
consumidor por motivos que não estão inseridos no contrato, mas que refletiram, sem sombra
de dúvidas, sobre a relação contratual ora estabelecida.
Não só nos referimos às causas em que o superendividamento ocorre por culpa do
consumidor que foi displicente, não observando seu poder de compra quando na contratação
de novas obrigações, ou seja, no exato momento em que anuiu com a nova obrigação, mas
também naqueles casos em que os compromissos foram estabelecidos no momento em que a
sua situação financeira era propícia para tanto, porém que por circunstâncias futuras se
fizeram necessárias novas dívidas e só havendo, a parti daí, reflexo sobre as obrigações
contratuais anteriormente avençadas o tornando incapacitado para adimplir com todas as suas
obrigações.
30 Refiro-me a procurar o judiciário para solução de certos problemas.
52
Antes, contudo, de abordarmos o aspecto hermenêutico do artigo, se faz
necessário tratarmos do conceito de superendividamento. Para tanto, colacionaremos a
explanação da autora Cláudia Lima Marques (2006, p. 1.236) qual seja: “[...] pode ser
definido como a impossibilidade global do devedor-pessoa física, consumidor, leigo e de boa-
fé, de pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com o
Fisco, as oriundas de delitos e as de alimentos)”. Note-se que o conceito trata daquele
indivíduo consumidor que agindo de boa-fé - vez que não podemos nos arvorar de direitos
para nos escusar vilmente dos nossos deveres – não cumpre ou não consegue cumprir com
todas as suas obrigações contraídas.
Atente-se para a relatividade do que seja a impossibilidade de honrar seus
compromissos, a impossibilidade deve ser considerada no sentido de que honrando, o devedor
consumidor, com os seus compromissos contratados o leve a ruína pessoal, do ponto de vista
das suas necessidades em geral. Veja ainda que o termo „leigo‟ nos direciona ao entendimento
de que a conduta do devedor-consumidor, quando da contração de novas obrigações, não deve
ter em mente a condução do negócio para o estado de superendividamento provocando a
rediscussão do(s) contrato(s), que o ato que o levou ao estado deplorável de dívida tenha
ocorrido sem a sua aquiescência, que a sua conduta não o tenha direcionado ao estado de
superendividamento por querer, tenha sido, v.g., ocasionada pelo cálculo errôneo sobre o
impacto econômico da nova contração obrigacional em sua renda.
A boa-fé irá refletir diretamente na relação contratual, observando-se o que foi
dito a respeito da boa-fé objetiva e subjetiva nesse trabalho muito embora se referindo ao CC,
mas que é perfeitamente aplicável ao CDC tendo em vista que a inovação trazida ao Código
Civil de 2002 em nada acrescentou ao CDC porque já era observada por este.
Feita a breve definição e comentário sobre o termo superendividamento,
passaremos agora a discorrer sobre o art. 6ª, V CDC. O artigo em comento inaugura em seu
caput os direitos básicos do consumidor tratando da matéria apenas em caráter não exaustivo
posto o teor do art. 7º, do mesmo instituto, em seu caput.
É certo que os contratos estão passíveis de serem discutidos em juízo seja com a
observância à regra mais dura como ocorre nos casos dos contratos realizados sob a luz do
Código Civil em vigor, seja pelo Regramento Consumerista um pouco mais maleável, mas
que também traz princípios a serem observados para tanto.
Embora o teor do referido inciso (V do art. 6º do CDC), em sua primeira parte,
diante de uma leitura apressada, nos leve a crer que tal inciso só possa ter incidência na
relação contratual que já tenha nascido com o vício da desproporcionalidade, não podemos
53
nos descurar da redação da segunda parte, qual seja: „ou sua revisão em caso de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;‟ que possibilita a sua aplicação aos
casos no qual o fato que tornou oneroso, uma ou mais cláusulas contratuais, não necessita está
ligado diretamente, a relação contratual estabelecida. Esse é também o entendimento
defendido por Rizatto Nunes (2005, p. 635) senão vejamos; “Pode acontecer de, no ato do
fechamento do pacto, a cláusula não ser abusiva, mas, posteriormente, em razão de fatos
supervenientes, vir a torna-se excessivamente onerosa.[...]”.
Contrato pode ter sido realizado em condições tal que naquele momento se
mostrou dentro dos ditames da lei consumerista, portanto, perfeitamente válido, o que mudou
foi a vida econômica do consumidor a ponto de não mais poder pagar tal como avençado no
contrato, outrora perfeitamente válido. Não me refiro aos motivos de força maior ou caso
fortuito, mas a circunstâncias extracontratuais que não mais possibilitaram o seu tramitar
normal, por exemplo, a perda do emprego, internamento de um parente em caráter
emergencial que demandará altas despesas, etc. Nunca é demais lembrar que a orientação que
deve ser dada na interpretação do CDC é sempre em defesa do consumidor.
4.4 Exegese do art. 53 do CDC aos casos de leasing financeiro
Como abordamos em curtas linhas no capítulo primeiro deste trabalho, o
legislador ao criar a lei do leasing apenas abordou o aspecto fiscal/tributário, não abordando,
assim, peculiaridades dessa espécie contratual.
O primeiro passo para que se resolva a questão do leasing seria o legislador
ordinário abordar, com maior profundidade, esta espécie contratual, assim, não haveria tantas
celeumas envolvendo o caso, mas, é claro, deverá fazê-lo com estrita observância aos
princípios norteadores do CDC. A participação do Ministério Público é também fundamental
no combate a abusividade, seria uma forma rápida de ação do Estado. Se o consumidor pode
requerer a intervenção do parquet para declarar a nulidade de cláusula abusiva garantindo-se
o justo equilíbrio contratual, com maior razão pode o MP ajuizar ação em favor do
consumidor sem a necessidade de provocação. Só para ressaltar, agora como nunca, o Estado
vem, cada vez mais, interferindo na formulação dos contratos, o exemplo claro disso é o
próprio Código de Defesa do Consumidor. Podemos até pensar no abalo econômico na
54
tentativa de frustrar qualquer ação do Estado-administração usando do argumento do
desenvolvimento econômico como empecilho para adoção de medidas prol consumidor,
entretanto, os fins não justificam os meios, se faz preciso que os fornecedores-arrendadores de
bens e serviços se adéqüem ao novo modelo de contrato traçado pelo CDC, basta, assim, que
reformulem as cláusulas dos seus contratos de adesão para um correto equilíbrio contratual.
No que tange as decisões judiciais, o que vimos é que a jurisprudência aponta
como aplicável a esta espécie de contrato, o CDC, o que não se pode constituir mais como um
ponto a ser discutido, pois, o STJ tem esse entendimento sumulado, foi o que abordamos
anteriormente. Mas o que se questiona qual seria a melhor saída para casos dessa natureza? É
claro que a resposta dada não se aplicará a todos os casos, com já mencionado antes, só as
nuances do caso concreto é que poderá apontar para essa ou aquela decisão como corretas.
No que pertine ao consumidor, é abusiva a cláusula que estabelece a perda total
das parcelas pagas bem como, à título de indenização ou mesmo a qualquer título, se pague as
vincendas. Acredito que o teor do art. 53, caput, seja perfeitamente aplicável aos contratos de
leasing a despeito da expressa previsão contida em seu preceito que se refere a duas espécies
de contrato31
. Se analisarmos o conteúdo do artigo em sintonia com todo o CDC veremos que
é possível a sua aplicação. Devemos buscar a mens legis inserida na norma para saber qual o
objeto que se quer proteger, no magistério de Alberto Marques (2003, p. 68) temos o seguinte:
Pelo argumento teleológico busco entender o significado da norma identificando
qual o valor que ela quer proteger, ou o resultado que quer produzir. O sentido, o
significado, que encontro na norma, tem que está de acordo com a razão de ser dessa
norma. Se a leitura do texto leva a uma interpretação que aniquila, ou prejudica, o
interesse ou valor a que a norma visa proteger, então essa leitura é incorreta. Para a
interpretação teleológica só é admissível o sentido que proteja o interesse a que a
norma visa proteger, que resguarde o valor que ela deve resguardar, que faça
prevalecer o objetivo que a norma tem, ínsito em seu texto. (grifos nosso)
Vemos então o quanto importante é a interpretação teleológica na busca do real
sentido traçado pela norma jurídica. Dentro do complexo emaranhado de palavras devemos
buscar o que o legislador visava proteger, aliando a interpretação sistemática, nos dando o
verdadeiro rumo perquirido pelo legislador. In casu, temos como valor, o interesse que se
31 Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem
como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a
perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução
do contrato e a retomada do produto alienado.
55
pretende proteger que é o enriquecimento sem causa, a prática de cláusulas abusivas,
cláusulas iníquas que promovam o desequilíbrio contratual, ônus excessivo, objetivando
sempre a proteção do consumidor. Temos assim que, a maestria da interpretação teleológica é
buscar o sentido axiológico inserido na norma pelo legislador.
Embora o art. 53 fale expressamente sobre as espécies de contratos de compra e
venda a prestação e da alienação fiduciária em garantia, vemos que o principal valor que se
quer coibir é o enriquecimento sem causa, e o fez protegendo o consumidor dos contratos de
trato sucessivo vez que, em algum momento da relação contratual pode ocorrer a rescisão e o
consumidor ficaria desamparado nesta situações. Ora, é um absurdo que o consumidor tenha
contratado a compra de um móvel em 12 (doze) prestações e no seu décimo mês não consiga
honrar seu compromisso, tenha, nessa hipótese, o perdimento do bem além das parcelas já
pagas em favor do fornecedor. E o que dizer do leasing onde o fornecedor-arrendador
estabelece uma série de garantias em seus contratos de adesão em face do consumidor, onde
até mesmo a Resolução nº 2.309/96 do Bacen, em seu art. 1432
permite que o arrendador
possa ficar com o bem nas hipóteses de sua retomada (recuperação)? Afinal, quem realmente
ficou no prejuízo? Há ou não enriquecimento sem causa por parte do arrendador?
A interpretação aqui defendida encontra o seu telos não só no art. 53, mas em todo
o Estatuto Consumerista. O art. 4º preconiza o seguinte:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios: I - .............................................................................................................
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a
ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; (grifos nosso)
É fundamental que a relação se estabeleça dentro de uma idéia de equilíbrio entre
fornecedores e consumidores e que ainda haja uma harmonia entre os interesses estabelecidos
na relação contratual, mas a pergunta é: qual a relação de equilíbrio na interpretação que
permite a aplicação do preceito do art. 53 só aos casos lá expressamente mencionados quando
32 „É permitida à entidade arrendadora, nas hipóteses de devolução ou recuperação dos bens arrendados:
I – conservar os bens em seu ativo mobiliário, pelo prazo máximo de 2 (dois) anos;
II – alienar ou arrendar a terceiros os referidos bens.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, também aos bens recebidos em dação em pagamento.
56
o que se quer coibir é o enriquecimento sem causa? Será que o leasing não se enquadra no
conceito de enriquecimento sem causa quando o contrato estabelece o perdimento do bem
„arrendado‟ em desfavor do arrendatário além da totalidade das parcelas pagas até o momento
da rescisão? Quero lembrar que estou falando do consumidor-arrendatário que, com muito
esforço, se dirigiu, por exemplo, a uma concessionária de veículos, optou pela aquisição de
seu veículo por meio do leasing por entender ser esta a opção mais vantajosa para ele, e que
por algum motivo, não necessariamente ligada ao contrato, não conseguiu adimplir sua
obrigação avençada. O verdadeiro interesse para que o consumidor-arrendatário do exemplo
que se dirigiu à concessionária era a aquisição do veículo e não o seu arrendamento. Portanto,
não há equilíbrio no entendimento que restringe a aplicação do artigo 53 aos casos lá
expressos. Não é esse o desejo a norma. Para nos auxiliar trazemos ainda o entendimento de
Venosa (2005, p. 480) quando abordando o aspecto da interpretação contratual, nos ensina:
Na situação contratual, cumpre sempre realçar os dois elementos que integram
qualquer relação de vontade. Há um elemento externo, palpável, material,
perceptível pelos sentidos: é a declaração contratual propriamente dita. (...) Ao lado
desse elemento externo da vontade, facilmente percebido, mas nem sempre
compreendido (daí a necessidade de estabelecer uma interpretação), posiciona-se o
elemento interno, isto é, o que foi realmente pensado, raciocinado e pretendido pelos
contratantes, qual seja, o substrato da sua declaração, sua vontade real.
A interpretação se dará do ponto de vista da vontade contratual onde se deve
analisar sob o prisma das duas vontades. Além do que, não devemos nos descurar da
aplicação do art. 11233
do CC de 2002 que traz norma de caráter interpretativo.
O art. 6º, que inaugura os direitos básicos do consumidor, estabelece em seu
inciso II, o seguinte: “A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e
serviços, asseguradas a liberdade de escolha e igualdade nas contratações.”(grifo nosso).
Mais uma vez vemos que o CDC preconiza em todo o seu sistema a igualdade entre as partes,
mas, alerte-se para o termo „igualdade‟, não a igualdade racional tal como exigidas nas
respostas das questões matemáticas, mas aquela igualdade traçada nos ditames do CDC.
Assim, mais uma vez vemos que a interpretação dada ao artigo 53 restringindo a sua
aplicação aos tipos contratuais nele expresso, não se coaduna com o „espírito da lei‟ traçado
no artigo em estudo nem muito menos com o sistema do CDC.
33„Nas declarações de vontade se atenderá mais a intenção nelas consubstanciada do que no sentido literal da
linguagem‟.
57
O art. 51 em seu inciso IV também nos ajuda na nossa linha de raciocínio:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que: I - ...................................................................................................... IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade;
Mais uma vez vemos que o que o legislador quer garantir, primordialmente, a
igualdade entre os contratantes, tentando equalizar a balança, a desigualdade entre os que são
materialmente desiguais, por meio da lei. Portanto, não há igualdade alguma na relação
contratual que estabelece a perda do bem e da totalidade de parcelas já pagas em desfavor do
outro, portanto, mister se faz a aplicação do art. 53, tendo em vista que o seu pano de fundo é
evitar o enriquecimento sem causa.
Partindo de outro prisma, para aqueles que não concordam com a aplicação do art.
53 nos moldes aqui defendidos, poderíamos dizer que o referido artigo nada mais fez que
tratar, de forma específica, a abusividade nas relações contratuais além de tratar também, da
desvantagem excessiva, que põe o consumidor em uma desvantagem exagerada, ocasionando
o ônus excessivo para uma das partes. Neste sentido é o apontado por Rizzato Nunes (2005, p.
672):
E, ainda que o art. 53 não estivesse sido escrito, é evidente que cláusula contratual
que determinasse a perda das parcelas seria nula, por ferir o princípio da cláusula
geral da boa-fé, bem como do equilíbrio contratual (arts. 4º, III, 6º, II e 51, IV), além
de implicar desvantagem exagerada (art. 51, IV e § 1º).
Assim, do ponto de vista prático, ainda que não estivesse sido estabelecido no
CDC expressamente, pelos princípios norteadores do CDC, poderíamos anular qualquer
cláusula que venha a estabelecer dispositivo contratual com previsão do perdimento total dos
valores pagos pelos argumentos aqui expostos, que ocorresse tal como acontece com os títulos
de capitalização nos quais há perda de um determinado percentual do total pago (NUNES,
2005, p. 676), entretanto, nossa jurisprudência aponta para as decisões que estabelecem o total
perdimento das parcelas pagas como forma de ressarcimento do bem com a devolução do
objeto do arrendamento. Sendo assim, é de se admitir aplicação do art. 53 aos contratos de
leasing, seja pelo argumento da cláusula abusiva, ou da excessiva onerosidade, ou ainda da
vantagem exagerada.
58
Em suma, o que quer o Código de Defesa do Consumidor é a proteção do
consumidor contra os abusos praticados por fornecedores em seus contratos de adesão
impedido o enriquecimento sem causa, além do que visa estabelecer um equilíbrio contratual
com a proteção do consumidor.
59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o término deste trabalho, algumas considerações devem ser feitas acerca do
tema proposto. O estudo aqui realizado nos mostrou que o tema é merecedor de um maior
aprofundamento diante da relevância do leasing para o setor comercial e consumerista, seja na
aquisição de bens de consumo para consumidores que não disponibilizam capital suficiente
para adquiri-lo, seja na aquisição, por outra empresa, de maquinários para atender a sua
demanda sem que esta tenha que dispor de capital suficiente para adquirir o bem, naquele
momento, podendo adquiri-lo posteriormente.
Deste modo o trabalho em nenhum aspecto procurou exaurir o tema proposto, mas
despertar naqueles que militam no ramo jurídico o senso hermenêutico na busca de novas
formas de se pensar o direito. Portanto, o tema é digno de estudos mais aprofundados com o
fito de trazer novas orientações no sentido de procurar uma solução justa que atenda as
necessidades dos consumidores-arrendatários e fornecedores-arrendadores, permitindo o
alavancamento do desenvolvimento mercantil/econômico, mas que seja feito nos justos
ditames da legislação consumerista.
Neste ínterim, nosso estudo se limitou a buscar, na doutrina e na jurisprudência, a
forma como se vem pensando este ponto melindroso do direito, que era mais controverso na
primeira década do CDC quanto a sua aplicabilidade aos contratos de leasing, ainda
encontramos decisões tímidas que pouco atende aos interesses da sociedade, não aplicando o
CDC, a rigor, em sua totalidade.
Não restou dúvida, na realização do trabalho, que o contrato de leasing nada mais
é que um contrato de adesão, portanto, independentemente de sua natureza controversa, são
aplicáveis as normas do CDC. E, é claro, na sua totalidade. Além do que o entendimento se
encontra sumulado sob o número 297 do colendo STJ. Por conseguinte, é cabível sim, a
revisão contratual dentro da ótica do CDC, afastando-se a Teoria da imprevisão do CC, e
aplicando-se o art. 6º, incs. IV e V, permitindo a simples revisão quando as cláusulas se
mostrem onerosas por fatos supervenientes, cause desproporcionalidade ou seja simplesmente
abusivas na ótica traçada pelo CDC.
A intervenção do Estado em defesa do consumidor ainda é tímida. Temos poucas
notícias de atos tal como o colacionado no anexo em que o Ministério Público tenha
intercedido em defesa do consumidor em razão dos contratos de leasing financeiro haja vista
60
o flagrante vício da abusividade constantemente inserto nesta espécie contratual. É preciso um
empenho maior vez que é dever do Estado garantir a defesa do consumidor além do que
temos uma sociedade de consumidores leigos. Talvez seja por isso que as entidades
financeiras nada fizeram para adequar a suas cláusulas contratuais ao regramento do
consumidor.
Embora exista apenas um modelo de contrato de leasing financeiro anexo a este
trabalho, outros foram examinados, mas que por questões éticas, não puderam ser aqui
expostos. Contudo, havia uma necessidade de se avaliar outros contratos para que se pudesse
verificar se as cláusulas contratuais abusivas se repetiam com freqüência, se a abusividade
tratada por mim era apenas inerente a uma entidade financeira ou se mais delas praticavam as
mesmas cláusulas. Para minha surpresa, o estudo se revelou no sentido de que a maiorias das
cláusulas abusivas são repetidas em outras entidades financeiras. Algumas extrapolam como
se nunca houvesse existido Código de Defesa do Consumidor em nosso país. Letras
pequeninas que só podiam ser lidas com a ajuda de uma lupa, cláusulas que deveriam está em
negrito haja vista o seu conteúdo limitativo do direito do consumidor, erros crassos no que diz
respeito ao CDC, mas me pergunto: será que eram erros mesmo? Agem, assim, no
fechamento do contrato com a quebra da boa-fé, em total desrespeito ao consumidor. Dentro
de uma linguagem bastante coloquial, mas que reflete de um modo muito claro o que se diz, é
o famoso „Se colar, colou‟.
A conclusão que se chega ao final do estudo é que não há mais espaço para a
discussão sobre a incidência ou não do CDC e, conseqüentemente, todo o aspecto contratual
deve ser visto à luz da Lei do Consumidor. O que não descarta a incidência de outro instituto
quando este for mais favorável ao consumidor haja vista o preceito do artigo 7º, caput, do
CDC podendo afastar até mesmo a aplicação do Instituto Consumerista quando o outro lhes
for mais benéfico. Há necessidade premente de que o Ministério Público participe mais
ativamente das relações do consumidor, principalmente quando o assunto é os contratos de
leasing financeiro, vez que as entidades financeiras lesam descaradamente e de forma abusiva
os consumidores. A idéia não é expurgar a espécie contratual em estudo do nosso sistema
econômico, mas fazer com que as empresas financeiras respeitem os direitos daqueles que
lançam mão deste instituto para a aquisição de bens. A necessidade de lei que aborde de
maneira mais profunda as relações de leasing financeiro em todos os seus aspectos,
principalmente voltado para o direito do consumidor e não só lei que abordem o seu aspecto
fiscal.
61
Ao judiciário faço minhas observações com ressalva haja vista que os juízes estão,
de certo modo, presos ao pedido contido nas petições. Sentenças que são prolatadas com o
total perdimento das parcelas pagas não se coaduna com o ideal de justiça haja vista que o
bem objeto do contrato que teve seu fim antecipado, salvos as peculiaridades de cada caso,
volta para às mãos do arrendador. Contudo, é preciso ver que o arrendador pode fazer uso do
já mencionado art. 14 da Resolução 2.309/96 do Banco Central, o que lhes permite vender o
bem, arrendá-lo novamente ou deixá-lo compor o seu patrimônio por um período máximo de
dois anos, sendo assim, não se vê como ideal de justiça a sentença que decreta total
perdimento das parcelas pagas, mas com certeza um percentual deve ser estabelecido, no
contrato, que estabeleça o quantum percentual, do que já foi pago, referente à depreciação do
bem.
Enfim, os contratos de leasing, de um modo geral, possuem aspectos instigantes
que devem ser explorados em outra oportunidade, além do que é crescente a utilização deste
instituto no meio comercial haja vista sua desburocratização na obtenção do crédito, o que faz
com que muitos o procurem se descurando das armadilhas contratuais que o cercam.
62
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com o novo Código Civil – São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 2003.
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63
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pr-embargos-infrigentes-civil-gr-cint-0149129-0-01-tjpr, pesquisa no dia 10 de novembro de
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Recurso Especial STJ, REsp 268661/RJ 3ª turma. Rel. Min. Nancy Adrighi, J. em 15.08.2000,
DJU de 24.09.2001, disponível em
http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/302821/recurso-especial-resp-268661-rj-2000-
0074504-9-stj, pesquisa realizada em 13 de novembro de 2009.
ANEXOS
A – Modelo De Contrato de leasing financeiro – Fonte:
http://www.hsbc.com.br/1/PA_1_1_S5/content/hbbr_pws/pt/para-voce/emprestimos-e-
financiamentos/financiamento-de-veiculos/financiamento-de-veiculos/docs/clausulas-
contrato-leasing.pdf em 06 (seis) laudas. Pesquisa realizada no dia 10 de novembro de 2009.
B – Exordial da Ação Civil Pública intentada pelo Ministério Público do Estado de São
Paulo em face do Banco Itaú – Fonte: http://s.conjur.com.br/dl/contrato-leasing.pdf, em 42
64
laudas. De autoria do Dr. João Lopes Guimarães Júnior – 1º Primeiro Promotor de Justiça do
Consumidor – datada de 17/02/2009. Pesquisa realizada no dia 10 de novembro de 2009.
ANEXOS
Anexo A: Modelo de contrato de leasing financeiro (Formatação do original em PDF)
Informe do Cliente
Esta via deverá ser entregue ao cliente no ato da assinatura.
Prezado(a) CLIENTE,
O HSBC agradece pela preferência e solicita a sua atenção para as informações a seguir:
• Carnê: caso não seja entregue em seu endereço em até 20 dias, pedimos que entre em contato com a Central
de Atendimento do HSBC, evitando atrasos no pagamento das prestações.
• CRV (Certificado de Registro do Veículo): é de sua responsabilidade efetuar a transferência do veículo junto
ao
Detran, com a emissão do respectivo CRV e a mantê-lo sob sua guarda até o final do contrato.
Central de Atendimento HSBC
Grande São Paulo, Regiões Metropolitanas e Capitais dos demais estados: 4004-3914
Rio de Janeiro e demais localidades: 0800-701-3914
www.hsbc.com.br
Encargos moratórios: Todos os encargos por atraso no pagamento de obrigações contratuais estão previstos em lei e constam das cláusulas contratuais, em especial Comissão de Permanência, Juros de Mora, Multa moratória.
No quadro abaixo você encontrará as cláusulas que regem o seu Contrato,
cópia fiel das três vias que você acaba de assinar.
Ouvidoria: 0800-7013904 (ligação gratuita)
HSBC
1. Por este Contrato de Arrendamento o Banco concede ao Cliente e este aceita um crédito cuja finalidade, valor, prazo,
vencimento, custos financeiros e demais condições estão dispostos no seu quadro preambular, para todos os fins e efeitos
de direito.
1.1. O prazo ajustado do arrendamento será contado a partir da data de assinatura deste Contrato ou da efetiva liberação
dos recursos ao fornecedor do bem.
2. As cláusulas dispostas neste Contrato aplicam-se às operações de Arrendamento Mercantil, tanto da modalidade
Leasing Financeiro ou LeaseBack. O Cliente e o(s) Interveniente(s) Garantidor(es) declaram que tiveram prévio
conhecimento do conteúdo deste Contrato, o qual foi redigido dentro dos princípios de boa-fé e probidade, sem nenhum
vício de consentimento, declarando ainda que (I) as obrigações aqui assumidas estão dentro de suas condições
econômico/financeiras; (II) estão habituados a esse tipo de operação; (III) o presente Contrato espelha fielmente tudo o que
for ajustado; (IV) entenderam perfeitamente todas as obrigações nele contidas e estão enquadrados nas exigências legais
quer regem este Contrato, estando, portanto, habilitados a realizá-lo, assumindo o ônus da fiscalização a que estiverem
sujeitos por força de lei ou de regulamento.
3. Sobre o arrendamento incidem os custos e encargos descritos e exigíveis de acordo com as condições estabelecidas o
quadro preambular.
3.1. O CET (Custo Efetivo Total), indicado no quadro preambular na forma de taxa percentual anual representa o custo
total da operação na data de sua contratação, sendo que para seu cálculo foram considerados os fluxos referentes às
liberações e aos pagamentos previstos.
4. O Cliente autoriza o Banco a adquirir o veículo, os serviços e os seguros identificados no preâmbulo e escolhidos
exclusivamente pelo mesmo concordando expressamente com que o Banco efetue os respectivos pagamentos devidos
diretamente aos fornecedores e seguradoras indicados no preâmbulo, sendo que estes valores comporão o valor total do
arrendamento.
4.1. O Banco não se responsabiliza por erros ou omissões nas especificações do veículo ou variação de seu preço
determinado pelo fornecedor.
5. O Cliente recebe o veículo escolhido e descrito no quadro preambular diretamente do Vendedor, portanto o aceita e
declara que está de acordo com as especificações técnicas do Vendedor e do Fabricante, sem defeitos ou vícios ou ônus,
exonerando o Banco de qualquer responsabilidade, assumindo o Cliente neste ato:
a) os riscos, despesas e encargos referentes à procedência, remessa, transporte, seguro e recebimento do veículo, bem
8como as despesas de manutenção e assistência técnica dos veículos;
b) os riscos e ônus por defeitos ou vícios que o veículo possa apresentar;
Informe do Cliente
Esta via deverá ser entregue ao cliente no ato da assinatura.
c) os riscos da evicção, ou perda do veículo para terceiro, por fato anterior à aquisição dele pelo Banco.
5.1. Na ocorrência de quaisquer dos eventos previstos na cláusula acima, ainda e mesmo que inimputáveis ao Cliente ou
decorrentes de caso fortuito ou força maior, não poderá ele pedir redução proporcional na contraprestação ou em
quaisquer outras importâncias por ele devidas ao Banco, nem pleitear a rescisão deste contrato.
6. O Cliente pagará as importâncias relativas às obrigações deste Contrato, nos vencimentos ora estabelecidos, em
moeda corrente, mediante a utilização de carnê, ficha de compensação ou outro documento equivalente emitido pelo
Banco na forma, quantidade e periodicidade previstas no quadro preambular.
7. O não recebimento do carnê ou ficha de compensação ou a sua perda não isentam o Cliente do pagamento das
contraprestações e das demais obrigações previstas neste Contrato, permanecendo o Cliente integralmente responsável
pelo cumprimento de suas obrigações.
8. O pagamento das obrigações pelo Cliente poderá ser efetuado através de débito na Conta Corrente do HSBC,
identificada no quadro preambular, ficando o Cliente obrigado a manter saldo suficiente na referida conta corrente para o
cumprimento tempestivo das obrigações ora assumidas.
9. DO VRG (Valor Residual Garantido) - O Cliente pagará ao Banco, até a data de vencimento da última contraprestação,
o VRG no montante indicado no preâmbulo contratual, podendo este ser pago antecipadamente à vista, e/ou em parcelas
periódicas e adicionais, pagas juntamente com as contraprestações e/ou final juntamente com a última contraprestação, na
forma indicada no preâmbulo.
9.1. O valor da parcela à vista do VRG será entregue pelo Cliente diretamente ao Vendedor, ficando sob sua
responsabilidade a obtenção e guarda de documento comprobatório de plena, rasa e geral quitação.
9.2. A antecipação do VRG ou o seu pagamento ao final do contrato não significará sua opção pela aquisição do veículo,
a qual deverá ser feita de conformidade com o previsto neste contrato, em sua cláusula 23.
10. O Cliente não poderá, em hipótese alguma, constituir ônus ou gravame a favor de terceiros sobre o(s) veículo(s) de
propriedade do Banco, obrigando-se a proteger e defender às suas expensas, a propriedade do Banco sobre os referidos
bens, inclusive de qualquer espécie de constrição, judicial ou extrajudicial.
10.1. O Cliente tão logo tenha conhecimento da ocorrência de qualquer dos fatos acima previstos, e sem prejuízo de sua
obrigação de tomar as providências necessárias à defesa e à proteção dos bens, deverá levá-los ao conhecimento do
Banco, por escrito e dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
10.2. O Cliente responderá por quaisquer prejuízos que o Banco venha a sofrer com relação aos bens objeto do
arrendamento ou da ocorrência de qualquer situação prevista neste contrato, inclusive turbação e esbulho.
11. Fica expressamente estipulado que o Cliente e os Intervenientes Garantidores assumem contratualmente as
responsabilidades de Fiel Depositário do veículo, ficando sujeitos às cominações decorrentes da legislação civil e penal
aplicáveis à espécie, obrigando-se ainda a permitir ao Banco, realizar exames, vistorias ou inspeções, além de manter em
perfeitas condições de uso e funcionamento, atendendo prontamente a qualquer pedido neste sentido, formulado pelo
Banco.
12. A eventual substituição do(s) veículo(s) por outro(s) da mesma natureza, que melhor atendam às conveniências e
interesses do Cliente, poderá ser feita desde que o Cliente esteja em dia com todas as obrigações decorrentes deste
Contrato, ficando, sua realização condicionada a expresso e prévio acordo entre as Partes, notadamente, quanto ao valor
mínimo dos novos veículos, que não poderá ser inferior ao valor do saldo devedor deste Contrato, na ocasião, cabendo
ao Cliente proceder o pagamento de quaisquer ônus e efeitos fiscais e financeiros resultantes da substituição efetuada.
13. O Banco fica desde já, expressamente isento e excluído de qualquer responsabilidade civil ou criminal, incluindo, mas
não se limitando a responsabilidade por danos morais, que a propriedade, posse, uso, transporte ou operação dos
veículos arrendados der causa, direta ou indiretamente.
13.1. Ocorrendo a hipótese acima mencionada, e sendo proposta por terceiros qualquer medida contra o Banco, o
Cliente concorda em assumir responsabilidade e ônus advindos de tais medidas, arcando com todas as despesas suportadas
pelo Banco, como viagens, custos, estadias, honorários dos advogados escolhidos pelo Banco para defenderem os seus
interesses, em juízo ou fora dele, devendo ser pagos pelo Cliente ao Banco no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar
da respectiva solicitação.
14. O Banco poderá exigir que os respectivos bens constitutivos das garantias sejam segurados pelo Cliente, contra todos
os riscos a que possam estar sujeitos, até a final liquidação do débito, constando o Banco como beneficiário, ficando
estabelecido que as indenizações que o Banco vier a receber, em virtude de sinistros ocorridos, serão aplicadas na
amortização ou solução integral das obrigações ora assumidas, colocando o saldo que se verificar, à disposição do
Informe do Cliente
Esta via deverá ser entregue ao cliente no ato da assinatura.
Cliente. Fica estabelecido, no entanto, que a seu exclusivo critério, o Banco poderá aceitar pedido do Cliente para
adquirir outro veículo em substituição ao sinistrado, utilizando o valor da indenização para a aquisição do referido veículo.
15. Havendo a contratação de seguro do veículo, por meio da proposta de adesão anexa e caso o Cliente tenha optado
pelo pagamento do valor do prêmio juntamente com as contraprestações do arrendamento, este comporá o custo total do
arrendamento. Caso haja o cancelamento do seguro contratado desta forma, o Cliente desde já autoriza que o valor não
utilizado do prêmio seja utilizado na amortização de prestações mensais, contraprestações e parcelas mensais de VRG, ou
de quaisquer outras obrigações deste contrato, restando ainda ao Banco a faculdade de colocar tal valor à disposição do
Cliente.
15.1. Caso o Cliente não tenha segurado o veículo por apólice, vigerão as cláusulas que se seguem:
15.1.1. O Cliente assume a responsabilidade pela substituição do veículo nos casos de destruição total, perda, furto ou
roubo.
15.1.2. Deverá o Cliente providenciar, às suas expensas e em oficinas de concessionárias autorizadas pelo fabricante,
todos os consertos ou reparos que se fizerem necessários à manutenção do veículo em perfeito estado de funcionamento,
segurança e aparência, substituindo todas as peças e partes que se danificarem ou estejam funcionando de forma
imperfeita, de modo a colocar o veículo em seu estado normal de uso.
15.1.3. Ocorrendo o sinistro do veículo, poderá o Cliente:
a) proceder, às suas expensas, a substituição do veículo, por outros de mesma natureza, aceito pelo Banco, hipótese em
que as contraprestações continuarão a ser devidas normalmente, até o término deste Contrato, ou,
b) optar pela rescisão deste Contrato, hipótese em que o Cliente se obriga a pagar ao Banco o VEP, definido no item
15.3, vigente na data do pagamento, acrescido dos encargos gerados em decorrência da rescisão.
c) Se a perda for parcial, o Cliente pagará o valor estipulado de perda de forma proporcional à parte perdida, hipótese em
que este contrato será alterado automaticamente em razão da dedução do valor da parte perdida, ficando o valor das
contraprestações, VRG e prestações do VRG alterados por via de conseqüência.
15.2. Na hipótese de sinistro, se o Banco, após ter recebido do Cliente a indenização devida, vier a recebê-la, também,
parcial ou totalmente da Companhia Seguradora, repassará ao Cliente as importâncias que tiver recebido da mesma,
desde que não existam débitos em aberto de responsabilidade do Cliente junto ao Banco. Existindo débitos pendentes, as
importâncias recebidas serão aplicadas na amortização e/ou liquidação de tais débitos.
15.3. O valor estipulado de perda (VEP) corresponde ao saldo devedor do arrendamento e será composto, em cada
momento, pela soma das contraprestações vincendas com as vencidas e não pagas, mais o VRG, deduzido o montante até
então já antecipado. Ao VEP serão acrescidos, se for o caso, os encargos de atraso no pagamento.
16. O Cliente poderá liquidar, total ou parcialmente, a operação, hipótese em que, para pessoas físicas, o cálculo do valor
presente das parcelas objeto da liquidação observará as seguintes taxas de desconto:
16.1. Contrato com prazo a decorrer de até 12 meses: a taxa de desconto será igual à Taxa Interna de Retorno do
contrato, apurada considerando o total dos pagamentos mensais, composto das contraprestações, valor residual garantido,
valor total arrendado e demais obrigações e despesas incorridas, descontado do VRG pago antecipadamente.
16.2. Contrato com prazo a decorrer superior a 12 meses:
16.2.1. Se a liquidação ocorrer total ou parcial, solicitada no prazo de até 7 (sete) dias contados da celebração do
contrato, a taxa de desconto será igual a da cláusula 16.1. supra.
16.2.2. Se a liquidação ocorrer total ou parcial, após decorrido o prazo previsto no item 16.2.1., a taxa de desconto será
equivalente a diferença entre a taxa interna apurada no item 16.1. e a taxa Selic apurada na data da contratação, somando-
se a essa diferença a taxa Selic vigente na data da liquidação antecipada.
16.3. A liquidação antecipada deve observar a ocorrência do prazo mínimo contratual estabelecido para o tipo de bem
arrendado, sob pena deste Contrato ser descaracterizado para operação de compra e venda a prazo, tendo o Cliente que
arcar com os valores decorrentes de tal operação, incluindo-se, mas não se limitando, aos valores exigíveis a título de
impostos.
17. O Banco poderá considerar antecipadamente vencido este Contrato, sendo exigível o imediato pagamento pelo
Cliente do VEP, acrescido dos juros e demais encargos calculados na data deste vencimento, independentemente de
aviso, interpelação ou notificação judicial ou extrajudicial, na ocorrência de qualquer uma das seguintes hipóteses:
a) Se o Cliente e/ou Devedores Solidários descumprirem qualquer das obrigações assumidas neste Contrato ou naqueles
celebrados ao seu amparo;
b) Se o cliente não comparecer ao Departamento de Trânsito onde se encontra licenciado o veículo, dentro do prazo
máximo de 30 (trinta) dias a partir da assinatura do contrato de arrendamento, para requerer a expedição de novo
Certificado de Registro do Veículo, em atendimento ao disposto nos artigos 123 e 134 do Código de Trânsito Brasileiro
- CTB (Lei n°. 9.503, de 23.09.1997), sob pena de em não o fazendo, sujeitar-se também às infrações e penalidades
previstas nos artigos 233, 241, 259 e 273 do referido Código de Trânsito Brasileiro. Fica o Cliente responsável pela
guarda do DUT original durante toda a vigência contratual. O Cliente deverá encaminhar o CRV ao Banco quando
solicitado ou na data de encerramento do arrendamento;
Informe do Cliente
Esta via deverá ser entregue ao cliente no ato da assinatura.
c) Se o Cliente deixar de reforçar a(s) garantia(s), dentro do prazo estabelecido para tal fim, a partir da comunicação que
lhe fizer o Banco;
d) Se contra o Cliente e/ou Devedores Solidários for tirado protesto de título cambiário ou distribuída ação de execução
por título judicial ou extrajudicial;
e) Se o Cliente e/ou Devedores Solidários tiverem o nome incluído no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos ou
se tiverem emitido cheques sem suficiente provisão de fundos, sacado contra qualquer Agência do Banco;
f) Se o Cliente ceder ou por qualquer forma transferir os direitos e/ou obrigações decorrentes deste Contrato, sem prévia
e expressa autorização do Banco;
g) Se o Cliente deixar de pagar as despesas de emplacamento e licenciamento periódico do veículo, multas, IPVA,
Seguro Obrigatório ou qualquer outro tributo ou imposto incidente sobre o veículo;
h) Nos demais casos previstos nos artigos 1425 e 333 do Código Civil Brasileiro.
17.1. Rescindido este contrato, por qualquer causa, e sem prejuízo das penalidades estipuladas na cláusula anterior,
deverá o Cliente restituir os veículos ao Banco, dentro do prazo de 24 horas do aviso que para tanto lhe for expedido, em
perfeito estado de uso e conservação, salvo o desgaste pelo uso normal, sob pena das medidas judiciais cabíveis.
17.2. Realizado o pagamento do saldo devedor, o Banco transferirá ao Cliente o domínio, posse, direito e ação sobre o(s)
veículo(s).
17.3. Caso o Cliente, após a devolução do(s) veículo(s) deixe de efetuar o pagamento do saldo devedor, será facultado
o seguinte:
(a) Promover a venda dos veículos, estado em que tiverem sido devolvidos, pela melhor oferta obtida;
(b) Promover novo arrendamento dos bens.
17.4. Se o produto líquido com a venda dos bens ou com o novo arrendamento não for suficiente para a liquidação do
saldo devedor, o Banco cobrará do Cliente, a diferença apurada. Se a diferença for a maior, o Banco a devolverá ao
Cliente.
17.5. No caso de rescisão deste Contrato, o Banco poderá a seu critério, ao invés de reaver os veículos, cobrar do
Cliente o saldo devedor.
18. O atraso ou falta de pagamento de qualquer valor devido nos termos deste Contrato, além de ensejar o seu vencimento
antecipado, sujeitará o Cliente ao pagamento de comissão de permanência conforme disciplinada pelo Banco Central do
Brasil, calculada à taxa máxima do mercado do dia do pagamento adotada pelo Banco em suas operações ativas, acrescida
de juros moratórios de 1 % (um por cento) ao mês, calculado pro-rata temporis desde a data de vencimento até a data do
respectivo pagamento, além de multa convencional e irredutível, de caráter indenizatório, no percentual de 2% (dois por
cento), bem como ter seu nome incluso nos cadastros de proteção ao crédito, sem prejuízo do disposto nas Cláusulas 19
e 21 deste Contrato.
18.1. No caso de descumprimento de obrigação não pecuniária será devida multa de 10% (dez por cento) calculada
sobre o saldo devedor deste contrato.
19. Se eventualmente, o Banco tiver que recorrer a procedimento administrativo ou judicial para defesa de seus direitos
ou para recebimento do que lhe for devido, de principal e/ou encargos, responderá diretamente o Cliente pelas despesas,
custas judiciais e extrajudiciais e pelos honorários advocatícios que forem fixados judicialmente.
20. Iguais direitos caberão ao Cliente, caso a cobrança do Banco na esfera administrativa oujudicial venha a ser
considerada indevida.
21. Para assegurar o cumprimento de todas as obrigações, principais e acessórias, decorrentes deste Contrato, o Cliente
emite neste ato uma nota promissória em favor do Banco, com vencimento à vista e valor correspondente ao somatório
das contraprestações mensais acrescidas da importância correspondente ao VRG (valor residual garantido) total.
22. Os Intervenientes Garantidores, avalistas da Nota Promissória emitida de acordo com a cláusula anterior, anuem
expressamente com o convencionado neste Contrato, responsabilizando-se ilimitada e solidariamente pelo fiel e cabal
cumprimento de todas as obrigações dele decorrentes, assumidas pelo Cliente, seja de principal, encargos financeiros
compensatórios e moratórios abrangendo juros, comissão de permanência, tributos, multa contratual, honorários
advocatícios e demais despesas devidos exclusivamente em razão das condições pactuadas contratualmente, ainda que não
contidos na referida Nota Promissória.
23. Fica assegurado ao Cliente, desde que tenha cumprido todas as obrigações contratuais e comunique sua intenção ao
Banco, por escrito, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, no mínimo, anteriores ao término do arrendamento, optar:
(a) Pela compra dos veículos, utilizando os recursos do Fundo de Resgate representado pelo VRG para o pagamento do
preço para exercício da opção de compra, hipótese em que deverá ao Cliente fornecer ao Banco os comprovantes de
pagamento dos IPVAs e dos DPVATs, bem como de todas as multas pagas nas esferas Federais, Estaduais e Municipais,
documentos estes acompanhados de Carta manifestando formalmente a Opção de Compra.
Informe do Cliente
Esta via deverá ser entregue ao cliente no ato da assinatura.
(b) Pela renovação do arrendamento, pelo prazo e nas condições que, à época, forem avençados, considerando para
cálculo das novas contraprestações, o Valor Residual Garantido;
(c) Pela devolução do veículo, ficando o Cliente, neste caso, obrigado a devolver ao Banco, no dia do término do prazo
do leasing, às suas expensas, o(s) referido(s) veículo(s). Nesta hipótese, o procedimento adotado pelo Banco será o
mesmo quando da devolução dos veículos por rescisão contratual.
23.1. Decorrido o prazo estabelecido acima e não tendo o Cliente se manifestado na forma acordada, prevalecerá a
opção constante da alínea "a" desta cláusula.
23.2. Em tendo sido efetuada a venda dos veículos ao Cliente:
23.2.1. Caberá ao Banco enviar no prazo máximo de 30 dias ÚTEIS, a contar do recebimento da documentação prevista
na cláusula acima, remeter ao Cliente: o DUT devidamente assinado, a Nota Promissória com carimbo de liquidado/sem
efeito e o Termo de Quitação do Leasing.
23.2.2. O Cliente deverá obter às suas próprias expensas todos os documentos e autorizações legais que possam ser
necessárias para a transferência de propriedade dos veículos.
23.2.3. O Cliente pagará à vista e imediatamente, as despesas de transferência da propriedade, bem como todos os
impostos, taxas, multas e tributos de qualquer natureza que forem necessários para que a transferência de propriedade
seja feita, assim como as despesas incorridas pelo Banco com a guarda, transporte, reparos ou manutenção do(s)
veículo(s).
24. Poderá o Banco a todo tempo empenhar este Contrato ou os direitos de crédito dele emergentes ao Banco Central do
Brasil, cedê-lo ou aliená-lo a outras instituições de acordo com a legislação aplicável.
25. Quaisquer tolerâncias ou concessões do Banco para com o Cliente não importarão em alteração ou novação das
cláusulas e condições deste Contrato e nem criarão direitos em favor do Cliente e/ou dos Intervenientes Garantidores.
26. Para tornar viável o pagamento de qualquer obrigação inadimplida pelo Cliente, com fulcro no artigo 368 e seguintes
do Código Civil Brasileiro e demais normas do Banco Central do Brasil aplicáveis à matéria, bem como para evitar uso de
medidas judiciais, o Banco e o Cliente concordam em proceder a compensação entre créditos e débitos que possuam um
frente o outro, na forma prevista pela lei, relativamente a todas as operações em aberto entre o Banco e o Cliente, por
aceleração de suas respectivas datas de vencimento.
26.1. Fica o Banco, também, desde já autorizado expressamente pelo Cliente a se utilizar, mediante débito, de qualquer
saldo, crédito ou aplicação porventura existente em favor do Cliente, em qualquer agência do Banco ou suas empresas,
para amortização ou liquidação de qualquer obrigação pecuniária do Cliente decorrente deste Contrato, efetuando, assim,
a compensação entre créditos e débitos, com fundamento na legislação citada no "caput".
27. O Cliente autoriza que as empresas do Banco no país e no exterior tenham acesso aos seus dados cadastrais e
obtenham informações referentes a transações realizadas em qualquer uma das empresas do Banco, com a finalidade de:
(i) processar tais informações em sistemas operacionais, de acordo com a legislação da localidade em que venham a ser
processadas; (ii) realizar o intercâmbio de informações com sistemas positivos e negativos de crédito junto a entidades
externas que disponibilizem registros de informações / restrições de crédito; (iii) obter maior agilidade e facilidade para as
operações ativas, passivas e de prestação de serviços nos mercados financeiros, de capitais, de câmbio, de seguros e de
consumo.
28. O Cliente autoriza, ainda, o Banco, em caráter irrevogável e irretratável, a ter acesso às informações sobre débitos e
responsabilidades por garantias constantes em seu nome, perante instituições de crédito e registradas no Sistema de
Informações de Crédito do Banco Central do Brasil, bem como a efetuar a troca de informações a respeito do Cliente
com sistemas positivos e negativos de crédito externos, junto a entidades que procedam registros de informações/restrições
de crédito, inclusive junto à SERASA - Centralização de Serviços de Bancos S/A,conforme normas em vigor.
29. Considerando que o Cliente é o possuidor direto do veículo, e que dele usa com exclusividade, constituem-se
obrigações do Cliente: 1) Fazer constar do certificado de registro de veículo sua qualificação como arrendatário e a do
veículo como sendo de propriedade do Banco; 2) Enviar ao Banco a cópia do DUT "Documento Único de Transferência"
devidamente gravado em nome deste no prazo máximo e improrrogável de 15 (quinze) dias a contar da assinatura do
Contrato; 3) pagar todos os tributos, taxas, tarifas e impostos que venham a incidir sobre o veículo ou sobre esta operação
de Leasing, inclusive IPVA, seguro obrigatório, ISS e ICMS; 4) pagar todas as multas, despesas de licenciamento e custos
decorrentes da utilização do veículo; 5) pagar todas as despesas com registro contratual e/ou das garantias, bem como
quaisquer outras que sejam necessárias a regular formalização e execução de garantias correrão por conta exclusiva do
Cliente, ficando o Banco, desde já, autorizado a praticar todos os atos necessários para os fins ora previstos.
29.1. As despesas com registro do Contrato e garantias, bem como as despesas com registro no sistema Nacional de
Gravames - SNG/Megadata poderão ser incluídas pelo Banco no custo do arrendamento, conforme descrito no preâmbulo,
sendo que os respectivos valores comporão o valor do arrendamento.
Informe do Cliente
Esta via deverá ser entregue ao cliente no ato da assinatura.
29.2. Ocorrendo pagamentos pelo Banco dos tributos e obrigações acima mencionados estes deverão ser reembolsados
pelo Cliente em até 24 horas da solicitação, sem prejuízo do previsto nas Cláusulas 18 e 26.
30. Caso o Cliente tenha optado por contratar seguro de proteção financeira em benefício do Banco com a finalidade de
pagamento das obrigações pecuniárias do arrendamento e incluir no arrendamento o valor total do prêmio, este estará
previsto no quadro preambular e comporá o custo do arrendamento. Havendo a opção pela contratação do seguro de
proteção financeira, na hipótese de ocorrência de sinistro, o Cliente autoriza o Banco a receber a indenização da
Seguradora e utilizá-la na liquidação ou amortização de obrigações pecuniárias do arrendamento.
31. As partes elegem o foro da Comarca de Curitiba, Estado do Paraná, para a solução dos conflitos relativos ao
Contrato, salvo o direito do Banco de optar pelo foro do domicílio do Cliente ou dos Intervenientes Garantidores.
E, por estarem assim certos e ajustados, as Partes assinaram as três vias do Contrato, de igual teor e para um só efeito,
juntamente com as duas testemunhas, obrigando-se, por si, seus herdeiros e/ou sucessores, pelo fiel e cabal cumprimento
de todos os seus termos e condições.
Anexo B: Exordial da ação civil pública intentada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em
face do Banco Itaú. (Formatação do original em PDF)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA a
VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,
por meio do 1° Promotor de Justiça do Consumidor da Capital
signatário, vem, perante Vossa Excelência, para, com fundamento
no art. 129, inc. III, da Constituição Federal, nos arts. 81, § único,
incs. I e III, e 82, inc. I, ambos do Código de Defesa do Consumi-
dor (CDC), no art. 5°, caput, da Lei Federal n° 7.347/85, e no art.
25, inc. IV, a, da Lei Federal n° 8.625/93, propor AÇÃO CIVIL
PÚBLICA, a ser processada pelo rito ordinário, contra
BANCO ITAÚ S/A, pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob
n° 60.701.190/0001-04, com endereço na Praça Alfredo
Egydio de Souza Aranha, 100, Torre Itaúsa, Parque Ja-
baquara, São Paulo-SP, CEP 04344-902;
ITAÚ UNIBANCO BANCO MÚLTIPLO S. A. pessoa jurídi-
ca inscrita no CNPJ sob n° 60.872.504/0001-23, com
endereço na Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha, 100,
Torre Itaúsa, Parque Jabaquara, São Paulo-SP, CEP
04344-902,
a fim de que sejam acolhidos os pedidos ao final formulados em
razão dos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.
SINOPSE: Ação civil pública ajuizada contra instituição
financeira. Contrato padrão de adesão. Arrendamento
mercantil. Contrato que, por sua própria regulamenta-
ção legal, já confere garantias razoáveis à instituição fi-
nanceira. Cláusulas que impõem garantias extras exces-
sivas e abusivas. Disponibilidade sobre recursos deposi-
tados e aplicados para débito. Emissão de título de cré-
dito. Violação dos princípios da boa-fé e da proporciona-
lidade. Contratação de seguro como exigência abusiva.
Omissão de cláusula dispondo sobre restituição do VRG
na hipótese de rescisão.
DOS FATOS
O BANCO ITAÚ S.A. integra a holding Banco Itaú
Holding Financeira S.A., que recentemente se uniu ao Unibanco -
União de Bancos Brasileiros S.A. para formar o ITAÚ UNIBANCO
BANCO MÚLTIPLO S.A., maior banco do hemisfério sul. É institu-
ição financeira que mantém contrato com 24 milhões de clientes
no Brasil, entre correntistas e não-correntistas.34 Atua como banco
múltiplo e, através das entidades que integram seu conglomerado
financeiro, fornece, entre outros, serviços que envolvem outorga de
crédito ou concessão de financiamento ao consumidor.
A contratação de arrendamento mercantil, ou lea-
sing, é oferecida no mercado de consumo diretamente pelo BANCO
ITAÚ S.A. e por bancos que integram sua holding (Banco Itaulea-
sing S.A., Banco Itaucard S.A., Banco Itaú BBA S.A., BFB Leasing S.A.
Arrendamento Mercantil. Itaubank Leasing S.A. Arrendamen-
to Mercantil, Fiat S/A).
O Juízo da Primeira Vara Cível de São Miguel Pau-
lista, da Comarca da Capital, encaminhou ao Ministério Público,
nos termos do art. 6° da Lei Federal n° 7.347/85, cópia de peças
dos autos do Processo n° 583.05.2008-113371/6, que cuida de
ação ajuizada por consumidora contra empresa comerciante de
veículos, BANCO ITAÚ S.A. e seguradora, em razão de inadim-
plência contratual decorrente da não-entrega de produto que fora
adquirido perante a primeira mediante financiamento concedido
pela segunda, em contrato de arrendamento mercantil.
O exame do contrato padrão de adesão de arren-
damento mercantil utilizado pelo BANCO ITAÚ S.A. levou à cons-
tatação de que diversas cláusulas não se compatibilizam com as
normas de direito material de proteção e defesa do consumidor,
por ferir direitos e criar situações iníquas e desequilibradas.
A presente ação civil pública, portanto, pretende
denunciar, remediar e impedir as avenças juridicamente inaceitá-
veis a que os réus sujeitam os consumidores através de seu contra-
to padrão de adesão de arrendamento mercantil.
Fonte: Perfil do Banco Itaú Holding Financeira
(http://ww13.itau.com.br/portalri/index.aspx?modo=full&idioma=port&Url=http://ww13.itau.com.br/Port alRI/HTML/port/infofinan/demon/Dcc_e_MDA/df311207/template_2frameset.htm&AspxAutoDetectCook
ieSupport=1 ) Acesso aos 11.03.08.
Conforme ficará demonstrado, as cláusulas do
contrato padrão de adesão que conferem ao banco disponibilidade
sobre recursos depositados e aplicados para efetuar débitos e a-
quelas que possibilitam a emissão de título de crédito, também em
favor do banco, importam em excesso abusivo de garantias em fa-
vor do fornecedor, especialmente por tratar-se de contrato que,
por sua própria natureza, já confere garantias razoáveis à institui-
ção financeira. Do mesmo modo, pretende-se também apontar a abusividade
da exigência de contratação de seguro para o veículo.
Ficará ainda demonstrada, por fim, a necessidade de previsão
contratual garantindo expressamente o direito do consumidor à
restituição das parcelas pagas a título de valor residual garantido
(VRG) devidamente corrigidas e acrescidas de juros.
DO DIREITO
Características do contrato de arrendamento mercantil e suas garantias
inerentes em favor da instituição financeira
Embora, na prática, muitos consumidores vejam o
arrendamento mercantil como alternativa para a compra de pro-
dutos mediante financiamento, o certo é que, juridicamente, tal
contrato reveste-se de características peculiares.
No site do Banco Central, encontramos à pergunta
"O que é uma operação de leasing?" a seguinte resposta:
As empresas vendedoras de bens costumam apresentar o leasing
como mais uma forma de financiamento, mas o contrato deve
ser lido com atenção, pois trata-se de operação com característi-
cas próprias.
O leasing, também denominado arrendamento mercantil, é uma
operação em que o proprietário (arrendador, empresa de arren-
damento mercantil) de um bem móvel ou imóvel cede a terceiro
(arrendatário, cliente, "comprador") o uso desse bem por prazo
determinado, recebendo em troca uma contraprestação.
Esta operação se assemelha, no sentido financeiro, a um finan-
ciamento que utilize o bem como garantia e que pode ser amorti-
zado num determinado número de "aluguéis" (prestações) periódicos,
acrescidos do valor residual garantido e do valor devido
pela opção de compra.
Ao final do contrato de arrendamento, o arrendatário tem as se-
guintes opções:
- comprar o bem por valor previamente contratado;
- renovar o contrato por um novo prazo, tendo como principal o
valor residual;
- devolver o bem ao arrendador.
A Lei Federal n° 6.099/74, em seu art. 1°, parágra-
fo único, considera arrendamento mercantil "o negócio jurídico
realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e
pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que te-
nha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrenda-
dora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio
desta". O art. 5° impõe as seguintes características ao contrato:
Art 5° - Os contratos de arrendamento mercantil conterão as se-
guintes disposições:
a) prazo do contrato;
b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não
superiores a um semestre;
c) opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do
arrendatário;
d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação,
quando for estipulada esta cláusula.
Como explica ARNALDO RIZZARDO, "contrato essen-
cialmente complexo, visto encerrar uma promessa unilateral de
venda, um mandato, uma promessa sinalagmática de locação de coisa, uma
opção de compra ... como partes essenciais do negó-
cios ... Não se trata de uma simples locação com promessa de
compra, como à primeira vista pode parecer, mas cuida-se de uma
locação com uma consignação de uma promessa de compra, tra-
zendo, porém, um elemento novo, que é o financiamento, numa
operação específica que consiste na simbiose da locação, do finan-
ciamento e da venda".35
Característica essencial do arrendamento mercan-
til, portanto, relaciona-se à propriedade do bem, que não é trans-
ferida ao consumidor-arrendatário enquanto não pagos o preço
Acidentes de trânsito e responsabilidade civil no arrendamento mercantil. Revista da AJURIS, n° 35, p.
140.
fixado na opção de compra e as prestações periódicas, permane-
cendo a instituição financeira, arrendadora, na condição de pro-
prietária durante todo o contrato. O réu, em seu sítio na Internet,
assim explica o leasing: "operação de arrendamento mercantil (le-
asing), com planos de 24 a 60 meses para pagamento e sem inci-
dência de IOF. O veículo arrendado é de propriedade da Institui-
ção Financeira até que você termine de pagar as parcelas do con-
trato".36
E por que tal característica é importante?
Nas palavras do Banco Central, "esta operação se
assemelha, no sentido financeiro, a um financiamento que utilize
o bem como garantia". Desse modo, na condição de proprietário
do bem, que conserva durante todo o curso do contrato, pode o
banco a qualquer momento, diante de eventual inadimplência, re-
tomar sua posse. E a correspondência que o réu encaminhou à consumidora
(fls. 24), no caso que ensejou a instauração do in-
quérito civil, é bastante significativa:
Caso não efetue o pagamento no prazo acima especificado, fica
V.Sa. ciente, desde já, que estará sujeita à medida judicial cabí-
vel (Busca e Apreensão pelo Decreto-Lei 911/69 alterado pe-
la Lei 10.931/2004, Reintegração de Posse, Execução pelo
Código de Processo Civil etc.), a qual a Itaucred já nos autori-
zou a providenciar em razão do inadimplemento contratual.
Com efeito, a incidência da regra do art. 3° do De-
creto-lei n° 911/6937 torna confortável a situação do banco arren-
dador, que goza, sempre, por força de lei, da faculdade de pedir
em juízo a reintegração de posse no caso de mora. E o contrato
padrão de adesão prevê na Cláusula 30.3.1 que
NA HIPÓTESE DE VENCIMENTO ANTECIPADO O ARRENDA-
TÁRIO RESTITUIRÁ O VEÍCULO À ARRENDADORA NO PRAZO
DE 5 (CINCO) DIAS.
O arrendamento mercantil, portanto, por sua na-
tureza, como contrato típico que é, já propicia ao fornecedor ga-
rantia significativa - o próprio bem - do qual não deixa de ser pro-
prietário durante toda duração do contrato. Os meios judiciais
36 Conheça nossos produtos http://www.itau.com.br/ Acesso aos 12.12.08. 37 "Art. 3°. - O Proprietário Fiduciário ou credor, poderá requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciàriamente, a qual será concedida Iiminarmente, desde que comprovada a
mora ou o inadimplemento do devedor."
postos à disposição do banco pela lei em caso de inadimplência
para recuperar sua posse nesse caso são bastante efetivos e céle-
res, pois "comprovada a mora decorrente da falta de pagamento
das prestações avençadas, operando-se a resolução do contrato de
arrendamento mercantil entabulado entre as partes, nos termos
da cláusula resolutiva expressa, configurado está o esbulho, sendo de rigor a
concessão da liminar de reintegração de posse" (TJSP, Agravo de Instrumento
n° 1.200.045.0-0/2, 26a Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Felipe Ferreira,
11/08/2008).
A retomada do bem, sem dúvida, reduz drastica-
mente a possibilidade de prejuízo para o banco.
No entanto, não satisfeito com essa importante ga-
rantia, o réu, ao elaborar seu contrato padrão de adesão, denomi-
nado CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL, arrogou-se
abusivamente diversas outras garantias, ignorando prescrições do
CDC que proíbem cláusulas iníquas e desproporcionais.
Conforme ficará demonstrado a seguir, a cumula-
ção de garantias, até a demasia, viola o princípio da proporciona-
lidade e desequilibra o contrato em prejuízo do consumidor.
Boa-fé e confiança
Relevantes razões recomendam o respeito ao prin-
cípio da boa-fé nas relações contratuais, como a constatação de
que o contrato se presta a finalidades sociais e morais - e não a-
penas econômicas e individuais - e a necessidade de enfatizar, va-
lorizar e tornar juridicamente protegido o elemento "confiança",
sem o qual nenhum contrato pode operar.38 Se a economia movi-
menta-se através de contratos, é desejável que estes tenham sua
existência pautada por parâmetros éticos. Os economistas já cons-
tataram o importante papel da ética como fator de produção: "a
presença de valores morais e a adesão a normas de conduta são requisitos
indispensáveis para que o mercado se firme como regra
de convivência civilizada e se torne, alimentado pelo desejo de ca-
da indivíduo de viver melhor, uma interação construtiva na cria-
ção de riqueza".39
38 Cf. RONALDO PORTO MACEDO JR., Contratos Relacionais e Defesa do Consumidor. São Paulo: Max
Limonad. 1998, pp. 228-235, passim. 39 EDUARDO GIANNETTI, Vícios Privados, Benefícios Públicos? A ética na riqueza das nações. São Paulo:
Cia. das Letras. 6a reimpressão, 2002, p. 154. GIANNETTI reproduz as seguintes palavras do economista
O ordenamento jurídico não é indiferente a essas
razões. O Código Civil, no seu art. 422, proclama que "os contra-
tantes são obrigados a guardar, assim na conclusão, como em sua
execução, os princípios da probidade e boa-fé". Nas relações de
consumo, do mesmo modo, a presença da boa-fé é exigência ex-
pressa nos arts. 4°, inc. III e 51, inc. IV do CDC.
Vale dizer, pois, que a premissa a prevalecer é a de
que as partes, quando contratam, agem de boa-fé, na expectativa
de adimplir as obrigações assumidas. Nesse contexto, a exigência
de garantias descabidas e exageradas implica na presunção anta-
gônica, ou seja, de que um dos contratantes pretende descumprir
aquilo que contratou.
Mas pode o fornecedor moldar seu contrato padrão
de adesão a partir da premissa, marcada pela desconfiança, de
que todo consumidor é mau pagador e pretende esquivar-se da
retribuição pecuniária, para assim impor garantias exageradas?
Razoabilidade das garantias
Banqueiro é esse cara que só se arrisca quando não há o menor
perigo. MILLÔR FERNANDES
É verdade que o princípio da boa-fé não impede
que as partes queiram cercar-se de certas garantias quando con-
tratam. Ninguém ignora que um elevado grau de inadimplência
pode levar o fornecedor à ruína e, para que qualquer negócio se
mantenha estável, é preciso que as expectativas de receita que os
contratos criam sejam confirmadas. Por outro lado, na sociedade
de consumo de massa atual, os fornecedores contratam com pes-
soas desconhecidas, circunstância que atua como fator de impre-
visão e, conseqüentemente, de maior risco.40
KENNETH ARROW: "Praticamente toda transação comercial encerra um elemento de confiança; segura-
mente qualquer transação que se prolonga ao longo do tempo (... ) Durante a sua evolução, as sociedades
desenvolveram acordos implícitos de certos tipos de consideração pelos outros, acordos que são essenci-
ais para a sobrevivência da sociedade ou ao menos contribuem enormemente para a eficiência do seu funcionamento. Empreendimentos coletivos de qualquer tipo, não apenas governamental, tornam-se difí-
ceis ou impossíveis não apenas porque A pode trair B, mas porque mesmo se A deseja confiar em B ele
sabe que é improvável que B confie nele. É claro que esta falta de consciência social representa de fato uma perda econômica definida em sentido muito concreto, além de ser uma perda do ponto de vista do
bom andamento do sistema político" (op. cit., p.171). É preciso entender o principio da boa-fé por esse
ângulo, afinal "a validade de um preceito não decorre do fato de ter sido emanado de um órgão competen-
te, nem tampouco do assentimento dado ao seu conteúdo, mas resulta de um complexo de motivos, e, em última análise, de sua correspondência racional com o valor-fim do Direito em função de condições obje-
tivas de ordem cultural" (MIGUEL REALE, Fundamentos do Direito, São Paulo: RT, 3a ed., 1998, p. 316). 40 Em determinadas situações, a própria lei cria mecanismo para assegurar uma dívida, como é o caso, por
exemplo, do penhor legal estabelecido em favor dos hospedeiros, estalajadeiros ou fornecedores de pou-
sada ou alimento sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos como garantia pelas despesas ou consumo (art.
1.467 do Código Civil).
A exigência de garantias, portanto, não deve, em
princípio, causar indignação, desde que limites proporcionais e
razoáveis não sejam ultrapassados; desde que parâmetros de co-
medimento sejam atendidos.
O princípio da proporcionalidade exige relação de
compatibilidade entre determinados objetivos e os meios eleitos
para sua consecução, a fim de evitar sacrifícios desnecessários de
direitos. Segundo FÁBIO MEDINA OSÓRIO, "a proporcionalidade, jun-
tamente com o preceito da proibição de excesso, é resultante da
essência dos direitos fundamentais e do caráter aberto dos siste-
mas jurídicos, que demandam processos decisórios repletos de
ponderações e raciocínios fundamentados. Proíbem-se intervenções
desnecessárias e excessivas, apesar do fato de que o excesso
ou a desnecessidade nem sempre resultam claramente definidos
em leis ou nas Constituições".41
No âmbito das relações de consumo, o princípio da
proporcionalidade incide para impedir os abusos que, impostos
pela parte economicamente mais forte, geram situação de injustiça
e iniqüidade em prejuízo do contratante considerado vulnerável.
Fruto de uma noção de eqüidade, condena qualquer imposição
que resulte em ônus excessivo, em sacrifício imoderado ou desne-
cessário ao direito alheio; propõe que os meios eleitos devem
guardar proporção com os fins desejados, possuindo a justa me-
dida, pois todo excesso é vedado.42 Exemplo de aplicação do prin-
cípio da proporcionalidade no CDC é a proibição de que o consu-
midor inadimplente seja exposto a ridículo, ou submetido a qual-
quer tipo de constrangimento ou ameaça na cobrança de débitos,
prevista no art. 42.
Assim, o direito de buscar garantias contra deter-
minados riscos não é ilimitado; não é o contratante livre para im-
por à outra parte as exigências que lhe parecerem convenientes
para sua segurança. A legitimidade do objetivo (prevenir-se contra
eventual inadimplência ou mora, ou diminuir sua exposição a ris-
cos) não justifica a sobreposição de diversas e quaisquer medidas
41 Direito Administrativo Sancionador. São Paulo: RT. 2005, n° 3.3.1, p. 226, apud MS 10827/DF, Rel.
Ministro Hélio Quaglia Barbosa, Terceira Seção, julgado em 14/12/2005, DJ 06/02/2006 p. 195) 42 V. LUÍS AFONSO HECK, O Tribunal Constitucional Federal e o Desenvolvimento dos Princípios Consti-
tucionais, Porto Alegre: Fabris. 1995, p. 177.
protetoras, menos ainda quando essas são impostas à parte vul-
nerável em contrato padrão de adesão.
Cumpre lembrar que determinado nível de risco é
inerente, afinal, a toda atividade econômica capitalista; que todos
os produtores e fornecedores devem suportá-lo sem ver aí pretexto
para a imposição de exigências descabidas. Segundo SÍLVIO RO-
DRIGUES, "em regra, o contratante que se propõe a fornecer sua
prestação em primeiro lugar, como o comerciante que vende a
prazo ou o empreiteiro que constrói para a final receber o preço,
assume espontaneamente um risco. Mas a assunção de tal risco é
consciente, tendo em vista as condições de solvabilidade do con-
tratante".43 Como entoa o brocardo lembrado por CARLOS MAXIMI-
LIANO, os que têm direito ao cômodo devem sofrer o incômodo.44 Não
é concebível a existência de atividade lucrativa sem exposição a
riscos, que são próprios do Capitalismo.
No que toca ao contrato de arrendamento mercan-
til, vimos que o próprio ordenamento jurídico já municia o banco
de garantia, conferindo-lhe o significativo poder de obter liminar-
mente em juízo a reintegração de posse do bem, de sua proprieda-
de, em caso de simples mora.
Mas não é só. Outras garantias atuam em prol da
instituição financeira. A própria formalização do contrato, em do-
cumento escrito e instrumentalizado, já constitui uma garantia
para si, que na hipótese de inadimplência têm esse meio de provar
a existência da obrigação e compelir o inadimplente a cumprir
com o pactuado, inclusive através de ação monitória.45 Além disso, há
pesquisas em bancos de dados e cadastros relativos a con-
sumidores, consultas a serviços de proteção ao crédito e congêne-
res (SPC, Serasa, etc.) e outras providências acautelatórias, como
a instituição de devedores solidários. 46
Não se pode esquecer, ainda, o valor elevado das
taxas de juros, em razão do spread fixado pelos bancos levando
43 Direito Civil — Dos Contratos e das Declarações Unilaterais da Vontade. São Paulo: Saraiva. 25 ed.,111997, p. 77. 44 Hermenêutica e Aplicação do Direito. Rio de Janeiro: Forense. 9a. ed., 1980. p. 250. 45 "O contrato de arrendamento, o termo de restituição do bem e a nota fiscal de venda, preenchem, em
conjunto, os atributos da certeza da obrigação, sem que tenha força executiva, sendo cabível a ação moni-
toria." (TJSP, Apelação com Revisão n° 1.066.795.00/9, 34a. Câmara de Direito Privado, Relator Emanu-
el Oliveira, j. 01/12/2008) 46 Nos termos da Cláusula 22, "As pessoas ao final nomeadas, designadas Devedores Solidários, decla-
ram-se solidariamente responsáveis por todas as obrigações assumidas pelo Arrendatário e assinam este
contrato concordando com os seus termos."
em conta o risco de inadimplência. Segundo documento do Banco
Central, "o risco de crédito tem sido um fator determinante do ele-
vado custo das operações de empréstimo ... os bancos sempre co-
bram um adicional a título de risco de crédito, ou seja, um valor
associado à probabilidade de não receber o valor emprestado".47 E,
como é sabido, os juros cobrados pelos bancos no Brasil têm sido
altíssimos, e seu negócios no país, apesar dos riscos, têm sido
bastante lucrativos.48
Passaremos, a seguir, a demonstrar, de modo es-
pecífico, as cláusulas que abusivamente criam garantias indevidas
em favor do réu no contrato padrão de adesão do réu e como o e-
xagero do fornecedor na busca de segurança encontra obstáculo
nas regras jurídicas que pautam a relação de consumo.
Primeira ilegalidade: Cláusulas 26.3.1, 13.1.2.1 e 13.1.2.1.1
Disponibilidade do banco sobre recursos financeiros depositados de
propriedade do consumidor-arrendatário
é inaceitável o costumeiro procedimento dos Bancos de fazer "jus-
tiça pelas próprias mãos", utilizando-se do expediente de inserir
em seus contratos cláusulas que lhes autorizam realizar débitos
em conta-corrente
Desembargador RIZZATTO NUNES, TJSP
As estipulações das Cláusulas 13.1.2.1, 13.1.2.1.1
e 26.3.1 do contrato padrão de adesão incorrem em ilegalidade
flagrante ao ensejar disponibilidade do banco, para efeito de débi-
tos, sobre recursos financeiros em seu poder que são de proprie-
47 Juros e Spread Bancário no Brasil - Publicação do Departamento de Estudos e Pesquisas do Banco
Central do Brasil - Outubro de 1999. (http://www.bcb.gov.br/ftp/juros-spread1.pdf) Acesso em 1°..07.08. 48 Estamos acostumamos com manchetes como "Brasil ainda terá juros mais altos do mundo mesmo após
corte do Copom" (Folha Online - Dinheiro - 30/08/2006 - 10h15
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u110630.shtml, acesso aos 09.10.07) ou "Bancos do
país cobram maior juro do planeta" (Folha Online - Dinheiro - 16/02/2006 - 09h06
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u105279.shtml, acesso aos 09.10.07).
"O lucro dos cinco maiores bancos brasileiros --Bradesco, itaú, Unibanco, Banco do Brasil e Caixa-- atingiu o volume recorde de R$ 18,4 bilhões em 2005, maior resultado da história do sistema bancário
brasileiro, segundo dados da consultoria Economática". (22/02/2006 - 19h04 - Falta de concorrência
"turbina" lucro de bancos - ivone Portes da Folha Online - Dinheiro -
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u105488.shtml) Acesso aos 07.10.07. "Até agora, os
três maiores bancos que já publicaram seus números dos nove meses de 2007 (itaú, Bradesco e Santan- der) já ultrapassam o lucro anual de 2006. O Bradesco teve lucro de R$ 5,817 bilhões em 2007, ante R$
5,205 bilhões (janeiro a dezembro de 2006 ajustado pelo IPCA). O Santander anotou R$ 1,309 bilhões
nos nove meses de 2007 contra R$ 828 milhões." (Lucro do Itaú em 9 meses supera lucro anual de qual-
quer banco no Brasil - Folha Online - Dinheiro - 06/11/2007 - 10h09
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u343036.shtml) Acesso aos 14.11.07.
dade do consumidor-arrendatário ou dos devedores solidários. Se-
gundo suas redações:
Cláusula 13.1.2.1 Na hipótese de atraso no pagamento, o débi-
to poderá ocorrer em qualquer conta de titularidade do Arrenda-
tário mantida no Banco Itaú S.A., que apresentar saldo disponí-
vel suficiente.
Cláusula 13.1.2.1.1 Se não houver saldo disponível em qual-
quer das contas referidas no subitem 13.1.2.1, os Devedores
Solidários autorizam o Banco Itaú S.A. a debitar os valores de-
vidos em qualquer de suas contas correntes mantidas no Banco
Itaú S.A. que apresentar saldo disponível suficiente. Se a Arren-
dadora indicada no item 1 não for o Banco Itaú S.A., os Devedo-
res Solidários autorizam o Banco Itaú S.A. a entregar os valores
debitados à Arrendadora.
Cláusula 26.3.1 SE O ARRENDATÁRIO NÃO CUMPRIR QUAL-
QUER DE SUAS OBRIGAÇÕES OU OCORRER O VENCIMENTO
ANTECIPADO, A ARRENDADORA PODERÁ UTILIZAR, PARA
PAGAMENTO POR COMPENSAÇÃO DO DÉBITO, VALORES QUE
O ARRENDATÁRIO OU OS DEVEDORES SOLIDÁRIOS MANTI-
VEREM NA ARRENDADORA E DE QUE A ARRENDADORA SE-
JA DEVEDORA.
Através desses dispositivos o réu arroga-se o direi-
to de dispor do dinheiro dos consumidores e dos devedores solidá-
rios, em caso de impontualidade no pagamento de prestação pe-
cuniária. Trata-se de direito potestativo atribuído unilateralmente
a si por fornecedor, em seu próprio interesse, em contrato padrão
de adesão, e que resulta, nada mais, nada menos, em autorização
compulsória para que o Banco Itaú S.A. "debite os valores devidos
em qualquer de suas contas correntes mantidas no Banco Itaú
S.A., que apresentar saldo disponível suficiente".
A abusividade aqui é evidente, uma vez que, como
mero depositário, não pode o banco apropriar-se dos recursos fi-
nanceiros de propriedade do cliente. Nem mesmo a condição de
credor legitima tal estipulação, que "autoriza" a instituição finan-
ceira a avançar sobre o patrimônio do devedor, sem aviso prévio, sem direito
de defesa, sem discussão sobre o cálculo da dívida e
sem verificar se os valores são penhoráveis.49
49 Nos termos do art. 649, IV, do CPC:
"Art. 649 - São absolutamente impenhoráveis: ( ... )
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do deve-
dor e sua família,"
O contrato de depósito e a excepcionalidade do desconto em conta
corrente
Embora, por ser o dinheiro bem fungível, muitos
vejam nesse contrato as características do mútuo50, parece correto
afirmar que, ao abrir uma conta corrente, o consumidor contrata
com o banco a prestação onerosa de serviços de depósito51, na
medida em que jamais perde a propriedade sobre aquele montan-
te, cuja restituição poderá reclamar para si a qualquer momento.
Segundo voto proferido pelo Ministro CARLOS AL-
BERTO MENEZES DIREITO, quando integrava o Superior Tribunal de
Justiça, "O que se verifica é que o sistema do contrato de depósito
bancário autoriza tanto a transferência do dinheiro depositado ao
controle do depositário como o direito do depositante de pedir a
restituição do que depositou, no todo ou em parte. Guarda, por-
tanto, elementos do depósito irregular e do mútuo, mas, repita-se,
é um contrato com características próprias e, por isso, não pode
ser enquadrado nem naquele nem neste, pura e simplesmente, embora seja,
essencialmente, um contrato de depósito, não de mútuo".52
Assim, ao receber do correntista-depositante seu
dinheiro, a instituição financeira assume a condição de depositá-
ria, obrigando-se a guardar e conservar o montante depositado.
Ou seja, "O depósito em conta corrente bancária é mero prolon-
gamento do caixa da empresa, disponível por esta sem que ao
banco caiba qualquer direito de compensação por dívidas. São re-
lações diferentes o dever de guarda, inerente ao depósito, e o direi-
to de crédito, decorrente do desconto de título bancário; incom-
pensáveis, portanto".53
É importante considerar precedentes do Superior
Tribunal de Justiça a reconhecem que, em regra, não possuem os
bancos disponibilidade sobre o saldo na conta corrente dos clien-
tes:
COMERCIAL. SALDO EM CONTA CORRENTE. COMPENSA-
ÇÃO COM TÍTULO DESCONTADO. INVIABILIDADE.
50 Código Civil, art. 586: "O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir
ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade." 51 Código Civil, art. 627: "Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar,
até que o depositante o reclame." 52 STJ, REsp 501401/MG, Segunda Seção, julgado em 14.04.2004, DJ 03.11.2004 p. 130. Destaques não originais. 53 STJ, REsp 88293/AM, Terceira Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, 14/12/1999.
O saldo em conta corrente bancária não pode, sem autoriza-
ção do depositante, ser compensado com créditos do banco,
decorrentes de título, que descontou, emitido por terceiro.
(REsp 88293/AM - Terceira Turma - Rel. Min. Ari Pargendler -
14/12/1999)
CONTRATO DE DEPÓSITO. DÉBITO EM CONTA-CORRENTE.
INADMISSIBILIDADE DA COMPENSAÇÃO UNILATERAL PRA-
TICADA PELO BANCO.
Não se pode considerar como exercício regular de um direito
o ato do banco de debitar, sem autorização do correntista, a
quantia que afirma lhe ter sido paga por equívoco.
(AgRg no Ag 83545/DF - Rel. Ministro Barros Monteiro - Quarta
Turma - 22/04/1996)
Se imprescindível a autorização do correntista, es-
ta não pode vir imposta de forma ampla e genérica, em contrato
padrão de adesão, sem que se lhe dê a opção de não autorizar.
Com efeito, as cláusulas impugnadas são redigidas com caráter
peremptório, implicam em "autorização compulsória", em manifes-
to desrespeito à vontade do consumidor.
E seu conteúdo resulta em inadmissível disponibi-
lidade plena do banco sobre o patrimônio alheio, com a possibili-
dade de apropriar-se do montante que desejar (pois o valor é cal-
culado unilateralmente), no momento em que desejar, à revelia do
consumidor-depositante, sem indagar o motivo - eventualmente
até legítimo - da mora (como no caso da consumidora Neide Soa-
res Souza, que não pagou as prestações simplesmente porque não
recebera o veículo!).
Deve-se considerar, ademais, a possibilidade cria-
da de que a apropriação recaía eventualmente sobre valores de na-
tureza alimentar que estejam na conta do consumidor, o que a-
grava a ilegalidade.54
54 O Superior Tribunal de Justiça já manifestou em diversos julgados seu repúdio à apropriação de valores
que compõe o salário do correntista pelos bancos: "BANCO. Cobrança. Apropriação de depósitos do devedor.
O banco não pode apropriar-se da integralidade dos depósitos feitos a título de salários, na conta do seu
cliente, para cobrar-se de débito decorrente de contrato bancário, ainda que para isso haja cláusula per-
missiva no contrato de adesão." (STJ, REsp 492.777/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, Quarta Turma,
julgado em 05.06.2003, DJ 01.09.2003, p. 298) "CONTA CORRENTE. Apropriação do saldo pelo banco credor. Numerário destinado ao pagamento de salários. Abuso de direito. Boa-fé.
Age com abuso de direito e viola a boa-fé o banco que, invocando cláusula contratual constante do con-
trato de financiamento, cobra-se lançando mão do numerário depositado pela correntista em conta desti- nada ao pagamento dos salários de seus empregados, cujo numerário teria sido obtido junto ao BNDES.
"A cláusula que permite esse procedimento é mais abusiva do que a cláusula mandato, pois, enquanto esta
autoriza apenas a constituição do título, aquela permite a cobrança pelos próprios meios do credor, nos
valores e no momento por ele escolhidos." (STJ, REsp 250523/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,
Quarta Turma, julgado em 19.10.2000, DJ 18.12.2000, p. 203, RSTJ145/446) "Não pode o banco se valer da apropriação de salário do cliente depositado em sua conta corrente, como forma de compensar-se da dívida deste em face de contrato de empréstimo inadimplido, eis que a remune-
ração, por ter caráter alimentar, é imune a constrições dessa espécie, ao teor do disposto no art. 649, IV,
da lei adjetiva civil, por analogia corretamente aplicado à espécie pelo Tribunal a quo." (STJ, AgRg no Ag
A abusividade das Cláusulas 13.1.2.1, 13.1.2.1.1 e
26.3.1 do contrato de arrendamento mercantil é manifesta porque
impõem mecanismo de autotutela: o consumidor não tem sequer a
oportunidade de contestar a suposta mora ou inadimplência, ou
ainda o valor do débito. Provoca-se assim um desequilíbrio no
contrato, justamente em prejuízo da parte mais vulnerável, que
não dispõe de nenhum recurso semelhante em seu favor. A propó-
sito, o seguinte precedente do Tribunal de Justiça de São Paulo:
trata-se de ação revisional de contrato bancário fundada na
alegação de onerosidade excessiva de suas cláusulas que a-
carreta o desequilíbrio entre as partes.
Como expresso no voto vencedor, não havendo dúvida de
que o contrato bancário está submisso às regras do Código
de Defesa do Consumidor, é inaceitável o costumeiro proce-
dimento dos Bancos de fazer "justiça pelas próprias mãos",
utilizando-se do expediente de inserir em seus contratos
cláusulas que lhes autorizam realizar débitos em conta-
corrente ou, como na hipótese dos autos, permitem a trans-
ferência de valores, a aplicação de recursos e a compra de
ativos, como, por exemplo, debêntures.
O importante é que o abuso praticado pelo banco ficou in-
conteste. (Embargos Infringentes n° 946.263-1/01, 23a. Câmara
de Direito Privado, Rel. Des, Rizzatto Nunes, 09.06.06)
Os dispositivos legais que o Ministério Público in-
voca, como fundamentos de direito material, estão no CDC. São
diversas prescrições que procuram assegurar a boa-fé e o equilí-
brio contratual, impedindo a exacerbação da vulnerabilidade do
consumidor. Reconhecem a abusividade e apontam as conseqüên-
cias:
• São direitos básicos do consumidor a proteção contra
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como
contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços (art. 6°, IV);
• São direitos básicos do consumidor a modificação das
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações des-
proporcionais (art. 6°, V);
• É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços exigir
do consumidor vantagem manifestamente excessiva
(art. 39, V);
• São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais re-
353291/RS, Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, Quarta Turma, julgado em 28.06.2001, DJ
19.11.2001, p. 286, RT 798/240)
lativas ao fornecimento de produtos e serviços que es-
tabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,
que coloquem o consumidor em desvantagem exagera-
da, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade
(art. 51, IV);
• São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais re-
lativas ao fornecimento de produtos e serviços que es-
tejam em desacordo com o sistema de proteção ao
consumidor (art. 51, XV);
• Presume-se exagerada a vontade que ofende os princí-
pios fundamentais do sistema jurídico a que pertence
(art. 51, § 1°, I);
• Presume-se exagerada a vontade que se mostra exces-
sivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso (art.
51, § 1°, III);
• É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o
represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a
competente ação para ser declarada a nulidade de
cláusula contratual que contrarie o disposto neste có-
digo ou de qualquer forma não assegure o justo equilí-
brio entre direitos e obrigações das partes (art. 51, §
4°).
Todos esses dispositivos, de uma ou de outra for-
ma, direta ou indiretamente, atuam em prol do consumidor a fim
de prevenir ou remediar seus direitos perante abusos cometidos
pelo fornecedor.
Por essas razões, espera-se o reconhecimento, nos
termos dos pedidos abaixo formulados, da abusividade das Cláu-
sulas 13.1.2.1, 13.1.2.1.1 e 26.3.1 do contrato padrão de arren-
damento mercantil.
Segunda ilegalidade: Cláusula 23 Possibilidade de emissão de título de
crédito
O contrato padrão de adesão contempla o réu ain-
da com a possibilidade de exigir do consumidor a emissão de nota
promissória:
23. Garantia - A Arrendadora poderá exigir, no ato de assinatu-
ra deste contrato, que o Arrendatário lhe entregue nota promis-
sória de sua emissão, não endossável, com prazo de apresenta-
ção dentro de 10 (dez) anos no valor total das contraprestações
do arrendamento, acrescido do VGR, sem vencimento expresso.
Eis outra imposição cuja abusividade é facilmente
perceptível no contexto do excesso de garantias que o réu, insaci-
ável, se arroga. Não contente com a propriedade do bem financia-
do, insatisfeito com os instrumentos processuais que propiciam
rapidez e efetividade em sua retomada, inseguro mesmo com a
formalização do contrato em instrumento, quer ainda um título de
crédito "com prazo de apresentação dentro de 10 (dez) anos no va-
lor total das contraprestações do arrendamento, acrescido do V-
GR, sem vencimento expresso".
A ilegalidade de semelhante avença foi recente-
mente pronunciada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo na se-
guinte decisão:
CONSUMIDOR. GARANTIA CONTRATUAL. NOTA PROMISSÓ-
RIA EMITIDA EM BRANCO PELO CONSUMIDOR. ILEGALIDA-
DE RECONHECIDA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROCEDENTE.
Primeiro, o contrato bancário funciona como instrumento
jurídico apto e suficiente a gerar as obrigações para o con-
sumidor. Nas operações de mútuo ou crédito em geral, inte-
ressa ao banco viabilizar o recebimento do capital emprega-
do em favor do consumidor.
Segundo, tem-se a criação de um titulo de crédito para faci-
litar o protesto traduz uma medida que desvirtua a cambial
e a própria relação de consumo. A interpretação da validade
da cláusula contratual não pode desconhecer a mudança so-
cial e jurídica verificada no Brasil. Agora, temos normas pro-
tetivas do consumidor que impõem, dentre outras conse-
qüências: a) a necessidade do Estado proteger o consumidor, b) a
atividade econômica (leia-se a sociedade empresarial
como um todo e as instituições financeiras em especial) de-
ve respeitar a defesa do consumidor e c) o consumidor me-
rece uma proteção contratual capaz de reduzir os efeitos ne-
gativos de sua vulnerabilidade. E terceiro, nem se diga que a
nota promissória viabiliza a criação de um título executivo
em favor da instituição financeira, porquanto reconhecido
na jurisprudência que o contrato de "cheque especial" não
possui aquele atributo processual (súmula 233 do Superior
Tribunal de Justiça: "O contrato de abertura de crédito, ain-
da que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é tí-
tulo executivo"). O reconhecimento da iliquidez do contrato
de abertura de crédito em conta corrente ("cheque especial")
traduz a conclusão da jurisprudência sobre a necessidade de
discussão - maior cognição - sobre a existência e a determi-
nação do saldo devedor exigido do consumidor.
Declaração de nulidade da disposição contratual que alcança
todos os contratos bancários colocados no mercado de con-
sumo, passado (direitos coletivos) e futuro (direitos difusos),
no âmbito do território nacional. (TJSP, Apelação n°
1.008.071-2, 19a Câmara de Direito Privado "E", Rel. Des. Ale-
xandre David Malfatti, j. 28.11.08)
O v. acórdão adota o entendimento externado na
doutrina de FREDERICO DA COSTA CARVALHO NETO (in Nulidade da
Nota Promissória dada em Garantia nos Contratos Bancários, Jua-
rez de Oliveira, 2.003, p. 130-131), da qual cita as seguintes pas-
sagens:
Mas os fornecedores de crédito não se acanharam e ao invés
de receber os mandatos nos contratos, estabeleceram uma
cláusula em que o consumidor para garantir o cumprimento do
contrato, assina uma nota promissória, como se o contra-
to não gerasse a obrigação.
Essa nota ou é assinada em branco ou pelo valor total do dé-
bito com a inclusão de todos os encargos vincendos. Serve a
cambial para o fornecedor, na hipótese do não pagamento pelo
devedor, enviá-la a protesto pelo valor que entender de-
vido. "E aí temos mais uma desigualdade da contratação e
uma violação ao disposto no inciso IV do art. 51 do Código
de Defesa do Consumidor que diz: "estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a equidade".
Já vimos que o credor não fica a descoberto, sem garantia,
se não recebesse a nota promissória, já que não só o contra-
to de crédito gera ao consumidor a obrigação de pagar, pelo
princípio da obrigatoriedade do contrato, como a legislação
processual lhe dá o caráter de título executivo como já ob-
servamos.
E invertendo a questão, para melhor enfatizar a excessiva
vantagem- Qual a desvantagem para o Consumidor? Todas. A
começar pelo fato de que a cambial é emitida quando não em
branco em decorrência da celeridade da contratação imposta
pelos fornecedores, pelo valor total não do crédito, mas do
preço do crédito com todos os juros vincendos.
Poder-se-ia dizer que o Código de Defesa do Consumidor pro-
tege o consumidor ao estabelecer no art. 52 a possibilidade
de pagamento total ou parcial com correspondente abati-
mento dos juros. Mas efetivamente não é o que ocorre, por-
que os agentes financeiros não respeitam a lei.
Assim a nota promissória dada em garantia nos contratos
bancários constitui vantagem manifestamente excessiva
sendo nula de pleno direito.
E se é nula de pleno direito comporta qualquer medida para
declará-la como tal, devendo o julgador ter em conta dois
princípios, o da efetividade e do acesso à Justiça.
Cumpre considerar, ainda, que o Superior Tribu-
nal de Justiça editou a Súmula 258, proclamando que "A nota
promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza
de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou". As cláusulas
contratuais que prevêem a possibilidade de emissão de
nota promissória têm merecido o repúdio da jurisprudência:
A orientação desta Corte é no sentido de que a cláusula con-
tratual que permite a emissão da nota promissória em favor
do banco caracteriza-se como abusiva, porque violadora do
princípio da boa-fé, consagrado no artigo 51, inciso IV, do
Código de Defesa do Consumidor. Aplicação da Súmula
60/STJ. (STJ, AgRg no REsp 1025797/RS, Rel. Ministro Sidnei
Beneti, Terceira Turma, julgado em 10/06/2008, DJe
20/06/2008)
O contrato de abertura de crédito não é hábil para ensejar a
execução, não gozando a nota promissória vinculada de au-
tonomia em razão da iliquidez do título que a originou, nos
termos das Súmulas n°s 233 e 258 da Corte. (STJ, REsp
271.214/RS, Rel. p/ Acórdão Ministro Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, Segunda Seção, julgado em 12/03/2003, DJ
04/08/2003 p. 216)
A cláusula em exame comete ainda o exagero de
possibilitar a exigência de nota promissória "no valor total das
contraprestações do arrendamento, acrescido do VGR, sem venci-
mento expresso". Como justificar a imposição de emitir título no
valor total de uma dívida que tende a decrescer com o tempo na
medida em que as prestações vão sendo pagas? Como justificar a
inclusão do VGR que, como ficará a seguir demonstrado, é devido
apenas quando houver opção de compra pelo arrendatário?
Lembremos aqui que a recente Lei Federal n°
11.649/08, que dispõe sobre procedimento na operação de arren-
damento mercantil de veículo automotivo, em seu art. 1°, exige
manifestação formal da arrendatária, através de carta, sobre sua opção pela
compra do bem.55 Ora, como exigir, em nota promissó-
55 "Art. 1o Nos contratos de arrendamento mercantil de veículos automotivos, após a quitação de todas as
parcelas vencidas e vincendas, das obrigações pecuniárias previstas em contrato, e do envio ao arrendador de comprovante de pagamento dos IPVAs e dos DPVATs, bem como das multas pagas nas esferas Fede-
ral, Estaduais e Municipais, documentos esses acompanhados de carta na qual a arrendatária manifesta
formalmente sua opção pela compra do bem, exigida pela Lei no 6.099, de 12 de setembro de 1974, a sociedade de arrendamento mercantil, na qualidade de arrendadora, deverá, no prazo de até trinta dias
úteis, após recebimento destes documentos, remeter ao arrendatário:
ria, a assunção de uma dívida antes mesmo que a respectiva op-
ção tenha sido formalizada pelo consumidor?
Os fundamentos de direito material que indicam a
abusividade dessa cláusula são os mesmos acima indicados para
as cláusulas que permitem disponibilidade sobre os recursos de-
positados no banco. A imposição unilateral, pelo fornecedor, de
vantagem excessiva e desproporcional, que cria obrigação iníqua e
abusiva, que coloca o consumidor em desvantagem exagerada e
que é incompatível com a boa-fé e a eqüidade está expressamente
vedada pelo art. 51, inc. IV, do CDC.
Terceira ilegalidade:
Contratação obrigatória de seguro do veículo arrendado contra roubo,
furto, incêndio, danos materiais e responsabilidade civil perante
terceiros
A Cláusula 17 do contrato padrão de adesão de
rrendamento mercantil é também abusiva por obrigar o consumidor a
contratar seguro do veículo arrendado contra roubo, furto, incêndio, danos
materiais e responsabilidade civil perante terceiros. Eis sua redação:
17. Seguro do Veículo - Durante a vigência deste
contrato, o Arrendatário manterá o veículo arrendado
segurado contra roubo, furto, incêndio, danos materiais e
responsabilidade civil perante terceiros, sem prejuízo da
contratação dos seguros obrigatórios. O Arrendatário fará
os seguros em favor da Arrendadora, exceto o de
responsabilidade civil, e se obriga a lhe entregar a
respectiva apólice imediatamente após solicitação.
Deveras, se a arrendadora mantém a propriedade
do veículo, durante o contrato, o risco resultante dessa condição
de proprietária deverá recair sobre si, pois, como indica a máxima
"I - o documento único de transferência (DUT) do veículo devidamente assinado pela arrendadora, a fim
de possibilitar que o arrendatário providencie a respectiva transferência de propriedade do veículo junto
ao departamento de trânsito do Estado;
"II - a nota promissória vinculada ao contrato e emitida pelo arrendatário, se houver, com o devido carim- bo de "liquidada" ou "sem efeito", bem como o termo de quitação do respectivo contrato de arrendamento
mercantil (leasing).
"Parágrafo único. Considerar-se-á como nula de pleno direito qualquer cláusula contratual relativa à operação de arrendamento mercantil de veículo automotivo que disponha de modo contrário ao disposto
neste artigo."
já lembrada, os que têm direito ao cômodo devem sofrer o incômo-
do.56
Uma analogia com o contrato de locação de veícu-
los ajuda a entender essa lógica. A Súmula n° 492 do Supremo
Tribunal Federal prevê que "A empresa locadora de veículos res-
ponde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este
causados a terceiro, no uso do carro locado". Com fundamento
nesse enunciado, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça
sobre a matéria (REsp n° 33.055RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ
de 059/94; REsp n° 90.143PR, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de
21/0200 e REsp n° 302.462/ES, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ
de 04/02/02). No julgamento do REsp n° 33.055, o Ministro BARROS MONTEIRO
apresentou os seguintes fundamentos:
Maria Helena Diniz, por sinal, ressalta ainda que "a co-
responsabilidade da empresa locadora de carros, ou seja, a
solidariedade passiva na composição do prejuízo causado pe-
lo locatário a terceiro não se liga à idéia de culpa". Assim
sendo - prossegue - "consagrada está, em nossa jurisprudên-
cia, a responsabilidade objetiva do locador, tenha ele agido
com culpa ou não (Julgado dos TJRS, Jurisprudência,
33:414)" (Curso de Direito Civil Brasileiro, 7o. vol. Responsa-
bilidade Civil, pág. 362, 4a ed.)". (...)
Ganha terreno, portanto, a doutrina objetiva, arrimada no
risco: aquele que aufere proveito com uma situação deve
responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes
(ubi emolumentum, ibi onus; ubi commoda, ibi incommoda).
Na hipótese de arrendamento mercantil, ainda que
se reconheça a responsabilidade do arrendatário24, como possui-
dor direto da coisa, não há fundamento legal para exigir que ele
celebre contrato de seguro: a decisão de garantir-se, ou não, con-
tra os riscos, deve ser tomada, de modo soberano, pelo consumi-
dor, e não imposta externamente pela instituição financeira. O banco não
pode, em contrato de adesão, impor ao consumidor uma outra contratação
como condição para o arrendamento mercantil. Como é sabido, um contrato
se caracteriza por ser um acordo entre as partes, um entendimento, um
concerto de intenções. Como todo negócio jurídico, baseia-se na vontade
dos contratantes. Nas palavras de ORLANDO GOMES, "A obrigação
proveniente de negócio jurídico é querida pelo obrigado. Ele a con-
trai intencionalmente, agindo na esfera de sua autonomia priva-
da'.'25 CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA entende o negócio jurídico como "fenômeno
de fundo volitivo", afirmando que "a vontade interna ou real é que (lhe) traz a
força jurígena".57 Ao lançar a exigência de seguro, o banco interfere
abusivamente na esfera de decisão do consumidor, impondo-lhe uma
contratação compulsória, que pode não ser desejada.
56 CARLOS MAXIMILIANO, Hermenêutica e Aplicação do Direito. Rio de Janeiro: Forense. 9a. ed., 1980. p.250. 57 Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense. 19a ed., 1999, vol. I, p. 307.
É certo que o consumidor, como arrendatário, deve
responsabilizar-se pelo veículo enquanto estiver em seu poder, e
poderá ser obrigado a indenizar a arrendadora na hipótese de da-
nos a que tenha dado causa. No entanto, devemos insistir, a deci-
são sobre contratar ou não um seguro para esse risco não lhe po-
de ser imposta pelo fornecedor.
O CDC veda expressamente, ao fornecedor de pro-
dutos ou serviços, "condicionar o fornecimento de produto ou de
serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço" (art. 39, inc.
I). Inúmeros precedentes reconhecem a venda casada quando se
condiciona a concessão de empréstimo à contratação de seguro:58
58 "CONTRATO. - Seguro - "Operação casada". - Celebração de contratos de mútuo condicionados à
adesão da mutuária a contratos de seguro com instituição financeira do mesmo grupo econômico. - Exis- tência de um seguro para cada mútuo realizado entre as partes, nas mesmas datas, com prêmios equiva-
lentes a 1% da quantia liberada respectivamente em cada empréstimo. - 'Venda casada' caracterizada. -
Vedação. - CODECON, art. 39, I. - Procedência em parte da ação, para declarar a nulidade dos contratos
de seguro em causa e condenar o banco fornecedor de serviços à repetição de indébito em dobro dos valo- res recebidos a título de prêmio. - Acórdão embargado mantido. - Recurso rejeitado" (Embargos Infrin-
gentes n° 1028853/0-01 - 23a Câmara de Direito Privado - Oséas Davi Viana - 04/06/2008) "CONTRATO -
Financiamento pelo SFH - (...) Vedação à imposição de contrato de seguro - Venda casada - Art. 39, I do CDC - Recurso do banco réu não provido e pedido dos autores acolhido." (Apelação
7065977/1-00 - 18a Câmara de Direito Privado - Relator Rubens Cury - 08/03/2007) "SEGURO - Cláusula restritiva
- Configuração de "venda casada", obstada pela legislação consumerista (art 39, inciso I), aplicável à espécie - Cláusula anulada - Recurso parcialmente provido." (Apelação 71254125-00 - 14a Câmara de Direito Privado -
Relator Melo Colombi - 28/11/2007) "INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - Responsabilidade objetiva - Relação de consumo -
Caráter público dos serviços prestados - Consumidor que é obrigado a abrir conta corrente e celebrar contratos de cheque especial e seguro para que, figurando como avalista, a empresa de seu pai pudesse obter financiamento -
Fato não impugnado de forma específica e reforçado pela inexistência de movimentação bancária - Caracterização de
'venda casada' - Prática abusiva, nos termos do artigo 39, inciso I, do Código de Defesa do
Consumidor - Contratos reputados nulos de pleno direito e, conseqüentemente, inexigíveis as dividas deles oriundas" (Apelação 71341105-00 - 16a Câmara de Direito Privado - Luís Eduardo Scarabelli -24/09/2007)
"(...) não obstante a pactuação, a venda casada do seguro habitacional também não pode ser admitida.
Dispõe o art. 39, I do Diploma Consumerista que "é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços (...) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço...". Ao
compelir os mutuários à celebração de contrato de seguro, o banco requerido ofendeu o dispositivo legal
supra e, portanto, por abusividade e ilegalidade, referido dispositivo contratual deve ser declarado nulo. Saliente-se que, ao comentar o art. 39, I, primeira parte do CDC em sua obra, o douto professor e desem-
bargador Luiz Antônio Rizzatto Nunes, mencionou exatamente o caso em comento como exemplo.
Veja-se: 'No primeiro caso, existem exemplos bem conhecidos da prática abusiva. É o caso do banco que, para abrira conta corrente do consumidor, impõe a manutenção de saldo médio ou, para conceder um emprés-
timo, exige a feitura de um seguro de vida'. ( g . n . ) (in Comentários ao Código de Defesa do Consumi-
dor - Ed. Saraiva, 2000). (Apelação 7192164300 - 18a Câmara de Direito Privado - Rel. Rubens Cury - 27/05/2008)
"Contrato - Consórcio - Veículo - Demanda ajuizada por esposa e filhos de consorciado falecido - Cláu- sula que obriga a contratação de seguro de vida sem indicação do respectivo valor - Demonstração pela
Administradora dos valores separados da contribuição mensal e do seguro de vida, a revelar que somente
a primeira foi paga - Seguro de vida não expressamente contratado - Proibição de venda casada pelo Có- digo de Defesa do Consumidor - Valor do seguro que não foi incluído no valor da contribuição mensal - Ação de
obrigação de fazer improcedente - Recurso improvido." (Apelação 7104808/1-00 - 21a Câmara de Direito Privado -
Rel. Antonio Marson - 13/02/2008) "SEGURO. CLÁUSULA CONTRATUAL QUE PREVÊ A DENOMINADA VENDA CASADA. Havendo, no contrato entabulado entre as partes, cláusula que obriga ao consumidor a contratação de
seguro do bem que está sendo financiado ou adquirido, não há dúvida de que tal prática revela-se abusiva, em
face das regras previstas no CDC, impondo-se a declaração de nulidade dessa cláusula." (Apelação Cível N° 70004935151, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga,
Julgado em 14/12/2004) "SEGURO. VENDA CASADA. Na espécie, existente cláusula contratual que prevê a venda
casada de seguro, prática considerada abusiva diante das disposições do Código de Defesa do Consumidor, merece
ser reconhecida a sua invalidade." (Apelação Cível N° 70006897342, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Laís Rogéria Alves Barbosa, Julgado em 30/03/2004) "Impossibilidade da
imposição da contratação de seguro de vida quando o autor fora realizar o emprésti-
mo para saldar sua dívida - Configuração da chamada "venda casada ", vedada pela legislação consume- rista em seu art. 39, inciso I" (TJSP, Apelação 7240864700, 17a Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Tersio Negrato,
30/06/2008)
CONTRATO BANCÁRIO - Mútuo - Desconto em folha de pa-
gamento de funcionário público das prestações do financia-
mento - Contratação de seguro - Pactuação iníqua e abusiva,
que se mostra excessivamente onerosa ao consumidor, colo-
cando-o em desvantagem exagerada (CDC, 51, IV, e seu § 1o,
I e III) - Caracterização de venda casada vedada pelo CDC
(art. 39, I) - Abusividade consistente em superfetação na
constituição das garantias pelo banco - Nulidade da cláusula em
que pactuado o seguro reconhecida, determinada a resti-
tuição dos valores pagos a este título (...) (Apelação
12334979-00 - 19a Câmara de Direito Privado - Relator João Ca-
millo de Almeida Prado Costa - 13/05/2008)
Ainda que o seguro seja contratado com outro for-
necedor, ou seja, seguradora pertencente a outro grupo econômi-
co, a venda casada fica caracterizada, eis que o dispositivo do
CDC, quando veda que o fornecimento de produto ou de serviço
seja condicionado ao fornecimento de outro produto ou serviço,
não faz qualquer exigência acerca da diversidade de fornecedores.
Mister, portanto, o reconhecimento do abuso da
exigência e da nulidade da cláusula, pelos fundamentos já apre-
sentados acima para outras cláusulas abusivas.
Quarta ilegalidade:
Ausência de previsão de restituição do VRG na hipótese de rescisão
A questão, aqui, não se relaciona com o excesso de
garantias, mas com omissão, no contrato de adesão, acerca de di-
reito do consumidor consagrado pela jurisprudência.
Nos termos da Lei Federal n° 6.099/74, os contra-
tos de arrendamento mercantil deverão conter disposição sobre o
"preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando
for estipulada esta cláusula" (art. 5°, alínea d).
A Portaria MF n° 564, do Ministério da Fazenda,
de 03 de novembro de 1978, considera Valor Residual Garantido o
"preço contratualmente estipulado para exercício da opção de
compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária
como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a ter-
ceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção
de compra".
O contrato padrão de adesão do réu admite o pa-
gamento antecipado do VGR nos seguintes termos:
Cláusula 11. Valor residual garantido - O Arrendatário paga-
rá à Arrendadora, até a data do vencimento da última parcela, o
Valor Residual Garantido (VGR), no montante indicado no subi-
tem 3.20.
11.1 Se o Arrendatário optar por antecipar o pagamento do VGR
em prestação única (subitem 3.7.1) o seu valor corresponderá àquele
indicado no subitem 3.20.
11.2 Se o Arrendatário optar por antecipar o pagamento do VGR
em prestação periódicas e adicionais (subitem 3.7.2) a primeira
restação vencerá à vista e as demais vencerão juntamente com as
contraprestações periódicas e adicionais do arrendamento.
11.2.1 O valor da prestação à vista do VGR é o indicado no
subitem 3.16 e deverá ser entregue pelo Arrendatário direta-
mente ao fornecedor.
11.2.2 O valor das prestações periódicas do VGR é o indicado
no subitem 3.9 e o das prestações adicionais do VGR é o indica-
do no subitem 3.15.
11.3 Se o Arrendatário optar por pagar o VGR ao final do con-
trato (subitem 3.7.2), o seu valor corresponderá àquele indicado
no subitem 3.20, hipótese em que o pagamento do VGR será rea-
lizado na data do vencimento da última contraprestação do ar-
rendamento (subitem 3.5).
11.4 A ANTECIPAÇÃO DO VGR, OU O SEU PAGAMENTO AO
FINAL DO CONTRATO NÃO SIGNIFICARÁ A OPÇÃO DO AR-
RENDATÁRIO PELA AQUISIÇÃO DO BEM, QUE DEVERÁ SER
FEITA DE CONFORMIDADE COM O ITEM 32 DESSE CONTRA-
TO.
Ora, se o VGR é preço contratualmente estipulado
para exercício da opção de compra, é óbvio que, caso essa opção
não se concretize diante de resolução do contrato por inadimple-
mento do arrendatário, seu valor deverá ser restituído ao consu-
midor. Nesse sentido o entendimento do Superior Tribunal de Jus-
tiça, reiterado em inúmeros julgados:
É possível a devolução do VRG, pago antecipadamente, após
a resolução do contrato de arrendamento mercantil e desde
que restituído o bem na posse da arrendante. Precedentes. (AgRg
no REsp 960.532/RJ, Rel. Ministra Rel. Min. Nancy Andri-
ghi, Terceira Turma, julgado em 14/11/2007, DJ 26/11/2007p.
191 )
Ocorrida a resolução do contrato, com a reintegração do
bem na posse da arrendadora, possível a devolução ao arren-
datário dos valores pagos a título de VRG. (AgRg no Ag
549.567SP, 3a Turma, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Di-
reito, DJ de 30.8.2004).
Diante da resolução do contrato de arrendamento mercantil
por inadimplemento do arrendatário, é possível a devolução
do chamado VRG, pago antecipadamente, à conta de ser uma
conseqüência de reintegração do bem na posse da arrendan-
te. (Recurso Especial n° 470.512/DF, Terceira Turma, Rel. Min.
Castro Filho, j. 17.11.2003).
Com a resolução do contrato e a reintegração do bem na
posse da arrendadora, possível a devolução dos valores pagos
a título de VRG à arrendatária. Precedentes. (AgRg no
Ag923.321/RS, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Tur-
ma, julgado em 13/11/2007, DJ 17/12/2007p. 201)
Ocorrendo a rescisão do contrato de arrendamento mercan-
til, com a reintegração do bem à arrendadora, é cabível a
restituição ao arrendatário dos valores pagos a título de
VRG. (AgRg no Ag 599.625/SC, Rel. Ministro Barros Monteiro,
Quarta Turma, julgado em 15/12/2005, DJ 03/04/2006 p. 348)
Entendida como conseqüência da reintegração do bem à
posse do arrendante, diante da resolução do contrato de ar-
rendamento mercantil por inadimplemento do arrendatário, o
acórdão que determina a devolução do valor residual ga-
rantido, pago antecipadamente, não extrapola os limites a-
ção de reintegração de posse. (REsp 445954/SP, Rel. Ministro
Antônio de Pádua Ribeiro, Terceira Turma, julgado em
04/09/2003, DJ 29/09/2003 p. 242)
Ocorrida a resolução do contrato, com a reintegração do
bem na posse da arrendadora, possível a devolução ao arren-
datário dos valores pagos a título de VGR. (AgRg no Ag
899822/SP, Rel. Ministro Rel. Min. Humberto Gomes de Barros,
Terceira Turma julgado em 18/10/2007, DJ 29/10/2007p. 226)
1
2 No Tribunal de Justiça de São Paulo predomina o
mesmo entendimento.59 Ao Julgar a Apelação Com Revisão 1.065.073-
0/860, o relator, Desembargador EMANUEL OLIVEIRA, concluiu que "A devolução
do valor residual garantido pago antecipadamente decorre da
impossibilidade da prerrogativa da opção de compra". Segundo o v. acórdão,
No caso "sub judice", foi retomada a posse direta do bem
pela arrendadora, em razão do inadimplemento do
arrendatário.
Desta forma, diante da rescisão do contrato de
arrendamento mercantil por inadimplemento do
arrendatário e a conseqüente reintegração na posse do
bem arrendado, justifica-se o pedido de restituição do
valor residual garantido (VRG), por se tratar de
conseqüência lógica da retomada do bem pe-
la instituição financeira, além de vedar o
enriquecimento sem causa da arrendante.
Ademais, o VRG se destina a garantir o futuro exercício
do direito de opção de compra. Não exercida esta na
hipótese em que já antecipada parcelas a esse título,
como é o caso, justo que se assegura ao arrendatário a
devolução do que pagou, atualizado desde o desembolso
pelo mesmo indexador do contrato e acrescido de juros
de mora contados do cumprimento da liminar de
retomada do bem (26/09/2003). Todavia, o percentual
dos juros moratórios será de 1% (um por cento) ao mês,
nos termos do artigo 406, do Código Civil, merecendo
reparo nesse sentido a r. sentença.
Não obstante a clareza e a lógica jurídica do en-
tendimento jurisprudencial, o contrato padrão de adesão do BAN-
CO ITAÚ S.A. não possui nenhuma cláusula que garanta ao con-
sumidor a restituição dos valores pagos a título de VRG, na hipó-
tese de resolução por inadimplemento, ou por qualquer outro mo-
tivo que implique na reintegração do bem na posse da arrendadora.
Tratando-se de direito incontestável do consumidor, a obriga-
ção do banco de restituir esse valor, atualizado e acrescido de ju-
59 "ARRENDAMENTO MERCANTIL Leasing - REINTEGRAÇÃO DE POSSE - Valor residual garan-
tido (VRG) - Contrato não descaracterizado - Opção de compra - Não efetivação - Devolução do VRG
corrigido - Recurso parcialmente provido." (Apelação Com Revisão 1051122004, 35a Câmara de Direito
Privado, Relator Melo Bueno, 10/11/2008) "ARRENDAMENTO MERCANTIL - COBRANÇA - RESILIÇÃO
CONTRATUAL POR CULPA DO ARRENDATÁRIO. Rescindido o contrato, as parcelas pagas a título de valor residual garantido (VRG)
devem ser devolvidas devidamente corrigidas e com juros" (Apelação Com Revisão 1091571004, 29a
Câmara de Direito Privado, Relator Des. Francisco Thomaz, 05/11/2008) "Arrendamento mercantil - Ação de
reintegração de posse - Liminar defenda e veiculo apreendido - Determinação de restituição do VGR pago
antecipadamente - Jurisprudência pacificada acerca desse tema, ou seja, rescindido o contrato de arrendamento
mercantil e devolvido o veiculo à arrendadora, deve a arrendante devolver o valor referente ao VGR pago
adiantadamente, já que não haverá exercício da opção de compra - Apelação não provida" (Apelação Com Revisão
1158693000, 36a Câmara de Direito Privado, Relator Des. Romeu Ricupero, 06/11/2008) 60 34a Câmara de Direito Privado, 17/11/2008.
ros, deverá vir expressa no respectivo contrato padrão, garantin-
do-se-lhe assim o pleno conhecimento a seu respeito.
Nos termos do art. 6° do CDC, são direitos básicos
do consumidor a informação adequada e clara sobre os serviços
(inc. III), a efetiva prevenção de danos patrimoniais (inc. VI) e a fa-
cilitação da defesa de seus direitos (inc. VIII).
O contrato padrão de adesão não pode ser conce-
bido de modo desequilibrado, a assegurar apenas os direitos do
fornecedor. Os direitos do consumidor - mormente aqueles ampa-
rados pela lei e já reconhecidos pela jurisprudência - devem tam-
bém gozar de reconhecimento expresso, para que o direito à in-
formação seja pleno.
Deveras, se o banco deixar de restituir um valor
que recebeu a título de "preço para opção de compra", quando a
respectiva compra não se concretizou, ficará caracterizado o enri-
quecimento sem causa.
Considerações finais: A necessidade de coibir os abusos em contratos
bancários através da tutela coletiva
A oportunidade de elaborar unilateralmente um
contrato padronizado para ser apresentado pronto para adesão de
um consumidor impossibilitado de discutir suas cláusulas, enseja
ao fornecedor a estipulação dos mais diversos abusos. CLÁUDIA LiMA MARQUES
adverte que "o fenômeno da elaboração prévia e uni-
lateral, pelos fornecedores, das cláusulas dos contratos possibilita
aos empresários direcionar o conteúdo de suas futuras relações
contratuais como melhor lhes convém". Em suas palavras, "a con-
cepção e a redação unilateral pelo fornecedor do conteúdo do con-
trato como que convidam à elaboração de cláusulas que primam
pela unilateralidade dos direitos que asseguram, garantindo van-
tagens somente para o fornecedor de bens e serviços, quebrando o
equilíbrio do contrato e enfraquecendo ainda mais a posição con-
tratual do consumidor".61
Seria deveras inócuo o trabalho do legislador de
proteger o consumidor caso pudesse o fornecedor estipular e im-
por regras contratuais capazes de suprimir as mesmas proteções
legais. Ou seja, aquilo que a lei dá com uma mão, não pode ser
retirado, com outra, pelo contrato. Lembremos que o CDC "estabe-
lece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem públi-
ca e interesse social" (art. 1°) e que portanto não podem ser derro-
gados pelo fornecedor.
E no art. 51 do CDC encontramos preceitos formulados
justamente para remediar situações de desequilíbrio provocadas
maliciosamente pelos fornecedores. "Basta, assim, a ameaça do desequilíbrio
para ensejar a correção das cláusulas do contrato, devendo sempre vigorar a
interpretação mais favorável ao consumidor, que não participou da
elaboração do contrato, consideradas a imperatividade e a indisponibilidade
das normas do CDC" (STJ, REsp 436853, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy
Andrighi, 04/05/2006).
Ademais, porque o consumidor que procura o ar-
rendamento mercantil muitas vezes pode se encontra em situação
especialmente vulnerável em razão de dificuldades econômicas
(que lhe impedem a opção de comprar o veículo à vista), e porque
possivelmente desconhece aspectos jurídicos do contrato, torna-se
presa fácil dos mais diversos abusos:
É de conhecimento notório que os mutuários não tem liber-
dade contratual para negociar as melhores taxas e rejeitar
alguns encargos quando contratando financiamento.
(TJSP, Apelação n° 7103258-7, 18a. Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Rubens Cury, 16.06.08)
A questão da hipossuficiência nos chamados contratos ban-
cários é matéria pacificada na doutrina e na jurisprudência
pátria, sendo certo que os usuários de tais serviços, enquan-
to consumidores, não possuem conhecimento técnico e in-
formativo do produto e/ou do serviço oferecido, de suas
propriedades, de seu funcionamento vital e/ou intrínseco,
Contratos no Código de Defesa do Consumidor, São Paulo: RT. 5a ed., 2006, pp. 159-160. Destaques
não originais.
etc. (TJSP, Apelação Cível n° 589.930.4/5-00, Sétima Câmara de
Direito Privado, Rel. Des. Luiz Antônio Costa, 08.10.08)
A doutrina reconhece que, "em negócio jurídico bilateral,
uma das partes, levada pela necessidade, ou pela inexperi-
ência, ou pela irreflexão, diante de pressão do momento, assume
obrigações excessivamente onerosas, que escapam à normalida-
de". Bem por isso, a revisão das obrigações assumidas nessas circunstâncias
é inspirada em "noção de eqüidade", e possui "fundo moral".62
Segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça,
o art. 39, I, do CDC "condena qualquer tentativa do fornecedor de
se beneficiar de sua superioridade econômica ou técnica para es-
tipular condições negociais desfavoráveis ao consumidor, cercean-
do-lhe a liberdade de escolha" (REsp 804.202/MG, Rel. Ministra
Nancy Andrighi, Terceira Turma, 19/08/2008, DJe 03/09/2008).
Para proteger o consumidor das cláusulas contra-
tuais abusivas relativas ao fornecimento de produtos e serviços, o
CDC, em seu art. 51, determina que são elas "nulas de pleno di-
reito". A presente ação civil pública, portanto, tem por finalidade
defender interesses individuais homogêneos dos milhares de con-
sumidores que contrataram com o réu e interesses difusos daque-
les que virão a contratar. A preocupação em remediar judicialmen-
te essas situações vem revelada no § 4° do mesmo art. 51, que fa-
culta "a qualquer consumidor ou entidade que o represente, re-
querer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para
ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o
disposto neste Código, ou de qualquer forma não assegure o justo
equilíbrio entre direitos e obrigações das partes".
OS PEDIDOS
Pelo exposto, requer o Ministério Público a prolação
de sentença que julgue integralmente procedente a presente ação ci-
vil pública, para acolher todos os seguintes pedidos cumulativos:
1- Declaração de nulidade de pleno direito, por abusivi-
62 CARLOS ALBERTO BITTAR, Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994, vol. 1,
p. 155.
dade, das cláusulas 13.1.2.1, 13.1.2.1.1 e 26.3.1, ou
de
todas semelhantes, inseridas no contrato padrão de
adesão de arrendamento mercantil dos Réus, que de
qualquer maneira disponham sobre autorização gené-
rica para débito de valores, na hipótese de atraso no
pagamento, em quaisquer contas mantidas no Banco,
pelo consumidor-arrendatário e/ou pelos devedores
so-
lidários;
2- Declaração de nulidade de pleno direito, por abusivi-
dade, da cláusula 23, ou de todas semelhantes, inseri-
das no contrato padrão de adesão de arrendamento
mercantil dos Réus, que disponham sobre a possibi-
lidade de exigir do consumidor a entrega de nota pro-
missória de sua emissão, não endossável, com prazo
de apresentação de 10 (dez) anos, no valor total das
contraprestações do arrendamento, acrescido do
VGR,
sem vencimento expresso;
3- Condenação dos Réus à obrigação de não fazer,
consistente em abster-se de inserir, em seu contrato
padrão de adesão, cláusulas cuja nulidade tenham
sido declaradas nos termos dos pedidos formulados
nos itens 1 e 2 acima;
4- Condenação dos Réus à obrigação de fazer,
consistente
em inserir, em seu contrato padrão de adesão de
arrendamento mercantil, cláusula expressa prevendo
que, na hipótese de rescisão do contrato, com
reintegração de posse do bem pela arrendadora, todo
o montante pago a título de valor residual garantido
(VRG) deve ser restituído ao consumidor-arrendatário
devidamente corrigido e acrescido de juros;
5- As declarações e as condenações pedidas deverão
valer
em todo o território nacional63, para todos os
contratos de arrendamento mercantil em vigor
firmados pelo réu BANCO ITAÚ S.A. e pelas
instituições que integram a holding ITAÚ UNIBANCO
BANCO MÚLTIPLO S.A.64 (Banco Itauleasing S.A.,
Banco Itaucard S.A.,
63 Sobre a regra do art. 16 da Lei Federal n° 7.347/85, ADA PELLEGRINI GRINOVER explica que "o que determina o âmbito de abrangência da coisa julgada é o pedido e não a competência. Esta, nada mais é doque uma
relação de adequação entre o processo e o juiz. Sendo o pedido amplo (erga omnes), o juiz competente o será para
julgar a respeito de todo objeto do processo" (A aparente restrição da coisa julgada na ação civil pública:Ineficácia da
modificação no art. 16pela Lei 9.494/97, in ESMP - Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, Boletim
Informativo - Ano 2 n° 11 - Fevereiro/1998 – Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional). Com base nesse
entendimento, segundo recente decisão do Superior Tribunal de Justiça "os efeitos da sentença produzem-se erga
omnes, para além dos limites da competência territorial do órgão julgador" (REsp 411.529/SP, Rel. Ministra Rel.
Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/06/2008, DJe 05/08/2008). Nesse sentido, ainda: TJSP,
Apelação n° 1.008.071-2,19a Câmara de Direito Privado "E", Rel. Des. Alexandre David Malfatti, j. 28.11.08. 64 Cf. CDC, art. 28, § 2°: "As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código."
Banco Itaú BBA S.A., BFB Leasing S.A. Arrendamento
Mercantil, Banco Itaucred Financiamentos S.A.,
Itaubank Leasing S.A. Arrendamento Mercantil e
outras);
6- Condenação dos Réus à obrigação de fazer,
consistente em dar ampla divulgação da decisão pelos
meios de comunicação social, a fim de garantir a
efetividade da tutela.
O Autor requer ainda:
a) seja determinada as citações e intimações postais dos Réus no
endereço acima fornecido, a fim de que, advertidos da sujeição aos
efeitos da revelia, nos termos do art. 285 do Código de Processo
Civil, apresentem, querendo, resposta aos pedidos ora deduzidos,
no prazo de 15 (quinze) dias;
b) publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessa-
dos possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo
de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte
dos órgãos de defesa do consumidor, nos termos do art. 94 do
CDC;
c) condenação dos Requeridos ao pagamento das custas processuais, com
as devidas atualizações monetárias;
d) dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encar-
gos, desde logo, em face do previsto no artigo 18 da Lei n°
7.347/85 e do art. 87 da Lei n° 8.078/90;
e) sejam as intimações do Autor feitas pessoalmente, mediante en-
trega dos autos com vista na Promotoria de Justiça do Consumi-
dor, situada na Rua Riachuelo, 115, 1° andar, Sala 130, Centro,
nesta Capital, em razão do disposto no art. 236, § 2°, do Código de
Processo Civil e no art. 224, inc. XI, da Lei Complementar Estadual n° 734,
de 26.11.93 (Lei Orgânica do Ministério Público de São Paulo).
Protesta provar o alegado por todos os meios de
prova admitidos em direito, especialmente pela produção de prova
testemunhal e pericial, e, caso necessário, pela juntada de docu-
mentos, e por tudo o mais que se fizer indispensável à cabal de-
monstração dos fatos articulados na presente inicial, bem ainda
pelo benefício previsto no art. 6°, inc. VIII, do Código de Defesa do
Consumidor, no que tange à inversão do ônus da prova, em favor
da coletividade de consumidores substituída pelo Autor.
Acompanham esta petição inicial os autos do Inqué-
rito Civil n° 14.161.457/08-6.
Atribui à causa, para fins de alçada, o valor de R$
200.000,00 (duzentos mil reais).
Termos em que,
P. Deferimento.
São Paulo, 17 de fevereiro de 2009
João Lopes Guimarães Júnior 1° Promotor de Justiça do Consumidor