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PONTO 1 LDB e PCNs A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios presentes na constituição brasileira. Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, ministravam-se aulas de Ciências Naturais apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial ( 5ª a 8ª série). Essa lei estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries ginasiais, mas apenas a partir de 1971, com a Lei nº 5.692, Ciências Naturais passou a ter caráter obrigatório nas oito séries do primeiro grau. Com a nova disciplina inserida nos currículos das escolas de ensino fundamental nas décadas de 60 e 70, não havia profissional com formação pluridisciplinar para ministrá-la, uma vez que seus conteúdos envolvem temas das ciências físicas e biológicas. Para resolver o problema o então Conselho Federal de Educação (CFE), hoje Conselho Nacional de Educação, aprovou o parecer n o . 30/74 que criou os cursos de Licenciatura Curta (LC) para formação de professores. Proporcionando, entre outros, a criação do primeiro currículo de ensino superior para formar professores diretamente para a disciplina de Ciências, com aproximadamente dois anos de duração. Caso estes profissionais quisessem um título de Licenciatura Plena (LP), poderiam fazer mais um ano de complementação, que poderia ser na área de Biologia, ou Matemática, ou Física, ou Química, processo este que ficou conhecido em várias regiões como plenificação. Com esse modelo aprovado pelo CFE, pôde-se suprir boa parte da falta desses profissionais nas escolas. Entretanto, a LDB 5.692/71, que estabelecia que o profissional ganharia pelo seu nível de formação e não pelo de atuação, fez com que grande parte dos professores com licenciatura curta se plenificassem. Neste contexto, ao buscar a plenificação para a melhoria do salário, houve uma evasão desses professores do ensino fundamental para o ensino médio. A LDB 9.394/96, que começara a ser discutida desde o final da década de 80, foi desfavorável aos cursos de LC, tanto que outorgou a obrigatoriedade de cursos de LP, extinguindo os cursos de LC. Porém, mesmo buscando a melhoria da educação no Brasil, a nova LDB provocou uma reação em cadeia nas universidades brasileiras que ofertavam os cursos de licenciatura curta em Ciências, pois passaram a alterá-los para outras áreas das ciências, mas em sua maioria para Biologia. Neste contexto, o país deixou de ter cursos que formassem professores exclusivamente para trabalhar com a disciplina de ciências no ensino fundamental. A promulgação da atual LDB (Lei 9394/96), baseada no princípio do direito universal à educação para todos, trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como o estabelecimento de critérios para a seleção dos conteúdos ministrados durante o Ensino Fundamental, estando de acordo com os objetivos gerais

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PONTO 1 LDB e PCNs

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos

princípios presentes na constituição brasileira. Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de

1961, ministravam-se aulas de Ciências Naturais apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial ( 5ª a

8ª série). Essa lei estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries ginasiais, mas apenas a

partir de 1971, com a Lei nº 5.692, Ciências Naturais passou a ter caráter obrigatório nas oito séries do primeiro

grau.

Com a nova disciplina inserida nos currículos das escolas de ensino fundamental nas décadas de 60 e 70,

não havia profissional com formação pluridisciplinar para ministrá-la, uma vez que seus conteúdos envolvem

temas das ciências físicas e biológicas. Para resolver o problema o então Conselho Federal de Educação (CFE),

hoje Conselho Nacional de Educação, aprovou o parecer no. 30/74 que criou os cursos de Licenciatura Curta

(LC) para formação de professores. Proporcionando, entre outros, a criação do primeiro currículo de ensino

superior para formar professores diretamente para a disciplina de Ciências, com aproximadamente dois anos de

duração. Caso estes profissionais quisessem um título de Licenciatura Plena (LP), poderiam fazer mais um ano

de complementação, que poderia ser na área de Biologia, ou Matemática, ou Física, ou Química, processo este

que ficou conhecido em várias regiões como plenificação. Com esse modelo aprovado pelo CFE, pôde-se

suprir boa parte da falta desses profissionais nas escolas. Entretanto, a LDB 5.692/71, que estabelecia que o

profissional ganharia pelo seu nível de formação e não pelo de atuação, fez com que grande parte dos

professores com licenciatura curta se plenificassem. Neste contexto, ao buscar a plenificação para a melhoria do

salário, houve uma evasão desses professores do ensino fundamental para o ensino médio.

A LDB 9.394/96, que começara a ser discutida desde o final da década de 80, foi desfavorável aos

cursos de LC, tanto que outorgou a obrigatoriedade de cursos de LP, extinguindo os cursos de LC. Porém,

mesmo buscando a melhoria da educação no Brasil, a nova LDB provocou uma reação em cadeia nas

universidades brasileiras que ofertavam os cursos de licenciatura curta em Ciências, pois passaram a alterá-los

para outras áreas das ciências, mas em sua maioria para Biologia. Neste contexto, o país deixou de ter cursos

que formassem professores exclusivamente para trabalhar com a disciplina de ciências no ensino fundamental.

A promulgação da atual LDB (Lei 9394/96), baseada no princípio do direito universal à educação para todos,

trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como o estabelecimento de critérios para a seleção dos

conteúdos ministrados durante o Ensino Fundamental, estando de acordo com os objetivos gerais de cada área

e com os fundamentos apresentados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Os conteúdos são

apresentados em blocos temáticos e temas transversais, para que não sejam tratados como assuntos isolados.

Em cada bloco temático são apontados conceitos, procedimentos e atitudes centrais para a compreensão da

temática em foco. O bloco de ciências naturais para o ensino fundamental compreende Ambiente; Ser humano e

saúde; Recursos tecnológicos, que são abordados ao longo de todo ensino fundamental (1º, 2º,3º e 4º ciclo) e

Terra e Universo, abordado somente a partir do terceiro ciclo. Esses blocos devem compreender os Temas

Transversais: Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Orientação Sexual, e Trabalho e Consumo, que

estão incluídos no currículo e objetivam a educação para a cidadania dentro de uma realidade social, sendo

assim é relevante ressaltar a flexibilidade do currículo quanto à abordagem de questões locais e regionais.

O bloco Ambiente está inter-relacionado com o tema transversal Meio Ambiente, que traz a discussão a

respeito da relação entre os problemas ambientais e fatores econômicos, políticos, sociais e históricos. São

problemas que acarretam discussões sobre responsabilidades humanas voltadas ao bem-estar comum e ao

desenvolvimento sustentável, na perspectiva da reversão da crise socioambiental planetária. A Ecologia, que

estuda as relações de interdependência entre os organismos vivos e não vivos do ambiente, tratada com ciência

interdisciplinar, deve ser vista como o principal referencia teórico para os estudos ambientais. Entretanto, um

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conhecimento profundo dessas relações só é possível mediante sucessivas aproximações dos conceitos,

procedimentos e atitudes relativos à temática ambiental, observando-se as possibilidades intelectuais dos

docentes, de modo que, ao longo do ensino fundamental, o tratamento dos conceitos de interesse geral ganhe

profundidade.

O bloco Ser Humano e Saúde propõe conhecimentos sobre o corpo humano, ressaltando que o mesmo

deve ser visto com um “sistema integrado, que interage com o ambiente e reflete a história de vida do sujeito”.

Fazendo um paralelo com a natureza o ser humano deve ser encarado como um todo que possui as suas partes

articuladas entre si. Problemas de carência alimentar, afetiva e social devem ser tratados como elementos que

interferem no bom funcionamento do organismo. Apesar do corpo humano possuir um padrão comum cada

pessoa deve ter sua individualidade valorizada e respeitada. O professor deve buscar o desenvolvimento de

atitudes que visem aumentar o respeito e apreço pelo próprio corpo e pelas diferenças individuais. Analisar a

questão da saúde (equilíbrio dinâmico) tanto física, quanto psíquica e social. Retrabalhar noções historicamente

concebidas dos alunos. Informar quanto ao perigo do consumo excessivo e dos objetivos das propagandas

alimentares e farmacêuticas. Desenvolver nos alunos hábitos considerados sadios como questões de higiene

pessoal e social. Trabalhar a sexualidade humana de forma respeitosa ao aluno e em concordância com os

temas transversais Saúde e Orientação Sexual.

Assim como os blocos anteriores, o bloco Recursos Tecnológicos é contemplado durante todos os ciclos

do Ensino fundamental, e enfoca as transformações dos recursos materiais e energéticos em produtos

necessários à vida humana, aparelhos, máquinas, instrumentos e processos que possibilitam essas

transformações e as implicações sociais do desenvolvimento e do uso de tecnologias. Neste bloco é interessante

lembrar que o conhecimento da história da humanidade, da pré-história aos dias atuais, nas diferentes culturas,

tem como referência importante a tecnologia. Aceita-se amplamente que o desenvolvimento e especialização

das populações humanas, ao longo dos tempos, se deu em conexão com o desenvolvimento tecnológico que foi

sendo refinado e aumentado. No presente, assiste-se à convivência da utilização de técnicas antigas e

artesanais com aplicações tecnológicas que se desenvolveram em íntima relação com as ciências modernas e

contemporâneas. Assiste-se, também, ao crescimento de problemas sociais graves, como a desnutrição e a

mortalidade infantil num momento em que o desenvolvimento tecnológico se faz marcante na produção de

alimentos, na indústria farmacêutica e na medicina.

A origem e o destino social dos recursos tecnológicos, as consequências para a saúde pessoal e ambiental

e as vantagens sociais do emprego de determinadas tecnologias são exemplos de aspectos a serem

investigados. Do ponto de vista dos conceitos, este bloco reúne estudos sobre matéria, energia, espaço, tempo,

transformação e sistema aplicados às tecnologias que medeiam as relações do ser humano com o seu meio. Os

conteúdos deste bloco temático estão estreitamente ligados aos estudos sobre Ambiente, Ser humano e saúde e

aos temas transversais Meio Ambiente, Saúde, Ética e Pluralidade Cultural.

O bloco Terra e Universo é contemplado somente no terceiro e quarto ciclo, onde o aluno vive a juventude,

podendo ampliar a participação em seu meio social e desenvolvendo uma atitude crítica que dirige tanto às

relações pessoais como a outros aspectos de sua vida cultural e afetiva. No terceiro ciclo, os estudos do bloco

temático ampliam a orientação espaço-temporal do aluno, a conscientização dos ritmos de vida, e propõem a

elaboração de uma concepção do Universo, com especial enfoque no Sistema Terra-Sol-Lua. À medida que

incorporam novos dados, novas informações, novos enfoques, os alunos incrementam seu próprio modelo de

Universo, dentro de suas possibilidades de compreensão de espaço e tempo. Os estudos nesse bloco podem

proporcionar ao estudante a ampliação de conhecimentos sobre os ambientes e seus problemas, sobre os seres

vivos, entre eles os seres humanos, e as condições para a vida. Busca-se uma melhor compreensão do estudos

do tema transversal Meio Ambiente, como os ciclos naturais e o manejo ambiental, além de permitir deduzir que

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em todos os ambientes há relações entre os seres vivos, inclusive o homem, e destes com os demais

componentes (água, luz, solo, ar etc.).

A escolha de conteúdos, em todos os blocos temáticos deve ser cuidadosa, para que seja estimulante e de

real interesse dos alunos, para que sirva à sua aprendizagem, respeitando o amadurecimento correspondente a

cada faixa etária e levando à aprendizagem de procedimentos, ao desenvolvimento de valores, à construção da

cidadania. O ensino de ciências naturais ao longo do ensino fundamental, deverá se organizar de forma que, ao

final os alunos tenham capacidade de:

compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive; identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica; formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elementos das Ciências Naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar; saber utilizar conceitos científicos básicos, associados à energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida; saber combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para coleta, organização e discussão de fatos e informações; valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para construção coletiva do conhecimento; compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido pela ação coletiva; compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem.